Assegurar os Direitos Fundiários em Moçambique: Poderá a iniciativa de delimitação da terra comunitária em Moçambique ser uma alternativa inclusiva e rentável?

Assegurar os Direitos Fundiários em

Moçambique: Poderá a iniciativa de delimitação da

terra comunitária em Moçambique ser uma alternativa

inclusiva e rentável?

Hosaena Ghebru (Ph.D)

Apresentado num Seminário “IFPRI-MSU Policy Workshop”

20 de Novembro de 2014

Maputo, Moçambique

INTERNATIONAL FOOD POLICY RESEARCH INSTITUTE

Introdução

• Novas reformas agrárias em alta na agenda de desenvolvimento:

• Comissão (de Alto Nível) de Capacitação Legal dos Pobres - LPI

• USAID, Banco Mundial, DFID (financiamento alargado de projetos de reforma agrária)

• Controlo da terra – componente integral da aliança do G-8 para a segurança alimentar

• ODMs: Abordagens baseadas em direitos


Os três pontos cruciais neoclássicos

da reforma agrária• Segurança da propriedade fundiária

• Aumentar o investimento

• Transferibilidade

• Lucros do comércio

• Realocar terra para utilizadores mais eficazes

• Acesso a crédito

• Terra como garantia

Quão importante é cada um destes fatores e serão sempre alcançáveis?


Histórias diversas: reformas falhadas

• Titularização de terra no Quénia e Madagáscar

• Não melhorou a segurança da propriedade fundiária, não

promoveu investimento, nem mercados fundiários e de crédito

(ex. Place and Migot-Adholla 1998, Jacoby and Minten

2006,2008)

• Reformas bem sucedidas:

• Etiópia: Registo e certificação de terra de baixo custo

• China: Sistema doméstico de responsabilidade familiar

• Índia: Sistema de registo computorizado, baseado em impostos

• Reformas inovadoras recentes:

• Iniciativa de delimitação da terra comunitária –

Moçambique

• Secretariado consuetudinário agrário – Gana


Novas abordagens da reforma da terra: A abordagem de

posse contínua

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Enfoque do estudo e principais temas de

investigação

• Avaliar os fatores que explicam a insegurança de posse de terra percecionada

pelas famílias e as implicações de tal segurança de posse no seu comportamento

procurando a formalização dos direitos fundiários no país.

• Numa tentativa de investigar os fatores que explicam a insegurança de posse

percecionada pelas famílias, é feita uma distinção entre a origem do risco de

insegurança de posse como:

1. riscos de posse privados ou idiossincráticos (tais como disputas relacionadas

com propriedade ou heranças) ; e

2. riscos de posse coletivos/sistemáticos (tais como aquisições de terra em larga

escala pelo sector privado ou expropriação pelo governo)

• Investigar como a fonte/tipo de riscos de posse que as famílias enfrentam ao

proteger os seus direitos fundiários afeta a procura de formalização de direitos

fundiários individuais (DUAT)


Hipóteses e Dados

1. A insegurança de posse é tanto maior quanto maior a escassez da terra.

2. A procura por parte das famílias de melhores direitos fundiários é maior em

áreas de maior potencial

3. Quanto maiores os riscos de posse privados ou idiossincráticos (tais como

disputas relacionadas com propriedade ou heranças) tanto maior a procura de

DUAT individual; enquanto

4. Quanto maiores os riscos de posse coletivos/sistemáticos (tais como

aquisições de terra em larga escala pelo sector privado ou expropriação pelo

governo) tanto menor a procura de DUAT individual

Dados usados:

• Dados do inquérito às famílias TIA-2008 : conjuntos de dados a nível de famílias

e de parcelas

• Dados geo-espaciais sobre potencial agrícola, acesso ao mercado, utilização da

terra e densidade populacional


Variáveis de interesse

Variável de procuração de segurança de propriedade

fundiária

• Posse de DUAT

• Posse de outras documentações de direitos fundiários

• Conhecimento da legislação fundiária

• Disponibilidade para pagar DUAT

• Experiência de disputa relacionada com a terra

• Antecipação de disputa relacionada com a terra – privada

• Antecipação de disputa relacionada com a terra – pública


Resultados: Análise descritiva


Resultados: Análise descritiva


Resultados da regressão: Determinantes da insegurança

percecionada de posse de terra


Resultados da regressão: Determinantes da procura de

DUAT


Resultados da regressão: Determinantes da procura de

DUAT


Conclusão

• O nível de insegurança de posse de terra sentido pelas famílias e a procura de

melhores direitos fundiários são maiores em áreas de relativamente maior escassez

de terra e potencial agrícola

• Os resultados mostram que o tipo de insegurança de posse de terra percecionada

(quer sejam riscos de posse privada ou coletiva) com que as famílias se deparam

dita a sua exigência e a disponibilidade para pagar pela formalização dos seus

direitos fundiários individuais (DUAT).

• O estudo também revelou que a maioria das famílias (independentemente do género

do chefe ou da estrutura familiar) tem demonstrado uma significativa procura de

documentação para salvaguardar os seus direitos à sua terra.

• Disponibilidade para pagar pela documentação legal dos seus direitos (DUAT) sobre

o tipo de insegurança de posse de terra com que as famílias rurais se deparam, tais

como:

• Parcelas com mais elevada perceção de insegurança de posse de terra de natureza

privada têm maior procura de DUAT individual; enquanto

• Parcelas com mais elevada perceção de insegurança de posse de terra de natureza

coletiva têm maior procura de DUAT individual

• Tais resultados implicam a necessidade de evitar uma abordagem que tente

solucionar todos os problemas da política agrária


Implicações políticas

Assim, pode não ser imprudente o governo de Moçambique adotar

uma abordagem mais pragmática intensificando/priorizando a

abordagem DUAT em áreas onde a insegurança de posse de terra

esteja associada a riscos de posse privados ou idiossincráticos (tais

como disputas relacionadas com propriedade ou heranças);

ao passo que o reconhecimento/proteção de direitos fundiários de

grupo (na forma de delimitação de terra comunitária) poderia ser

suficiente e mais rentável para responder à insegurança de posse de

terra associada a riscos de posse coletivos/sistemáticos (tais como

aquisições de terra em larga escala pelo sector privado/empresa ou

expropriação pelo governo).


Obrigado!

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