13
A L D E I A D A B O R D E I R A A R Q U I T E C T U R A P O P U L A R

Bordeira final

Embed Size (px)

Citation preview

ALDEIA DA BORDEIRA

ARQUITECTURA POPULAR

2

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ————————————————————————–———p.3

METODOLOGIA ——————————————————————————-p.4

ENQUADRAMENTO DA ALDEIA DA BORDEIRA———-p.5

CARACTERIZAÇÃO ARQUITECTÓNICA ————————-p.6

CASO - QUARTEIRÕES COMPACTOS —————————-p.10

SÍNTESE ARQUITECTÓNICA DAS TIPOLOGIAS DAS

HABITAÇÕES DA EXISTENTES NA ALDEIA ———-p.11

BIBLIOGRAFIA —————————————————————————-p.12

2

3

Introdução

A Arquitectura Vernacular apresenta-se como um

legado do homem e das comunidades, pois caracteri-

zam de forma particular como cada comunidade ocu-

pava e intervia no território onde estas se inse-

riam. Esta manifestava-se de acordo com os mais

diversos condicionalismos, sejam estes económicos,

geográficos, orográficos, sociais e culturais que

se adaptavam a cada especificidade de cada comuni-

dade.

Ao longo dos últimos tempos, a Arquitectura no

Algarve tem-se vindo a alterar, desenraizando do

seu passado, dos seus costumes em detrimento de

outras abordagens arquitectónicas, que privilegiam

outras formas e outros materiais, que têm vindo

gradualmente a apagar as características arquitec-

tónicas tradicionais.

Como consequência do detrimento da Arquitectura

Vernacular em prol de uma Arquitectura Globaliza-

da, surgiu a ideia de elaborar um trabalho acadé-

mico em que pudéssemos identificar a arquitectura

vernacular e a sua evolução numa aldeia, caracte-

rizando-a pela sua diferenciação, pela utilização

de materiais e técnicas locais adequados aos seus

costumes e actividades económicas.

A escolha surgiu pela Bordeira, no Concelho de

Aljezur, pois ainda apresenta algumas das suas

características originais devido ao seu

“esquecimento” e isolamento, apesar de se encon-

trar próximo do litoral.

3

4

Metodologia

Sendo a intenção principal, identificar,

caracterizar os padrões arquitectónicos e principais

técnicas, métodos e materiais associadas aos

diferentes tipos de construção, a metodologia deste

trabalho, passou essencialmente por 3 linhas

orientadoras:

Caracterização através de Bibliográfia adequada

(Ver Bibliografia)

Trabalho de campo, onde foi necessário

deslocarmo-nos à aldeia para a compreendermos

melhor e conseguirmos elaborar uma leitura

sobre a sua arquitectura.

Análise e conclusão síntese da informação

recolhida.

Durante o processo de trabalho de Campo, para além

da observação in situ, foi efectuado as seguintes

acções:

Fotografias de cada uma das fachadas

existentes,

Levantamento fotográfico de pormenores

arquitectónicos mais salientes e de algumas

ruinas,

Registos do interior de habitações que

apresentassem as suas características

tradicionais.

Testemunho de habitantes que participaram ou

observaram a construção de algumas daquelas

edificações.

4

5

Enquadramento da Aldeia da Bordeira

A Aldeia da Bordeira localiza-se no Concelho de Aljezur,

no Oeste da Região do Algarve. É sede de freguesia que

apresenta o mesmo nome, tendo 432 habitantes e uma densi-

dade de 5,4 habitantes por Km2

.

A estrutura urbana da Aldeia da Bordeira encontra-se num

enclave marcado pelo vale da Ribeira da Bordeira e os 5

cerros (Cabecinho, Coval, Moinho, Lugar e Selões) que a

emuralham, sendo acessível por um caminho municipal que

liga a EN268, encontra-se geograficamente entre o Parque

Natural da Costa Vicentina e Sudoeste Alentejano e a Serra

do Espinhaço de Cão, dista apenas da sua vizinha Carrapa-

teira, aldeia com características muito idênticas a Bor-

deira embora hoje em dia um pouco mais alterada, resultan-

te da sua maior popularidade entre os turistas e amantes

de Desporto de Aventura.

Apresenta uma estrutura urbana bastante consolidada, mar-

cada ainda pelo seu traçado original, fortemente condicio-

nada pela morfologia declivosa e acidentada do terreno,

onde os principais eixos acompanham as curvas de nível.

Ainda se encontra preservado algumas características ori-

ginais no edificado, tais como a tipologia de edificação,

técnicas construtivas, materiais apesar de muitos dos edi-

fícios tenham sofrido alterações e modificações nas últi-

mas décadas, fruto de uma crescente aquisição destes por

residentes estrangeiros que sentem a necessidade de as

adaptar de acordo com as suas necessidades e gosto pes-

soal.

É um aglomerado de ruas estreitas e casas térreas e chami-

nés rendilhadas onde a população se encontra envelhecida,

marcado pela carência de serviços e infra-estruturas, onde

as suas principais actividades económicas são a Agricultu-

ra, Apicultura e a Pesca.

5

6

Caracterização Arquitectónica

Ao chegarmos à Aldeia da Bordeira procu-

ramos ler as características dominantes

e originais da sua arquitectura, apesar

de um grande número de habitações terem

vindo a ser remodeladas, expandidas,

rejeitando ou simplesmente esquecendo as

técnicas e materiais tradicionais que

são gradualmente substituídos por mate-

riais modernos.

Através do seu traçado urbano e pitores-

co é possível compreender que são singe-

las construções que se apresentam hoje

em dia como um precioso legado , dis-

tinto e original, onde os seus habitan-

tes tentaram tirar o melhor partido das

matérias –primas disponíveis articulando

-as ao acentuado declive da encosta.

O Património edificado vale pelo seu

conjunto , pois apresenta uma arquitec-

tura com carácter próprio que se encon-

tra harmoniosamente articulado e inte-

grado na morfologia do terreno.

A tipologia e a organização espacial do

casario é determinado pelo relevo e

pelas características climáticas do

local.

6

7

É frequente a implementação nos aflora-

mentos rochosos, ou o embasamento sob

alvenaria argamassada de pedras de xisto,

sendo comum a utilização de poiais para

vencer os desníveis, criando espaços

semipúblicos antes das construções.

Os principais eixos acompanham o relevo,

ou seja, as curvas de nível, formando

entre eles pequenos quarteirões de ocupa-

ção total, sendo mais notório na envol-

vência do Largo 1º Maio.

Separando os pequenos quarteirões existem

estreitas travessas de acentuada inclina-

ção que permitem o acesso entre os prin-

cipais eixos.Nas áreas de cota inferior,

onde outrora se reuniam as águas pluviais

que escorriam das colinas alimentando a

Ribeira, é hoje em dia, onde se encontra

implantado os edifícios mais “recentes”

devido as suas características, técnicas

construtivas e pormenores que visualmente

destoam do conjunto que se encontram as

únicas infra-estruturas da Aldeia, como

a Junta de Freguesia, o Café, a Mercearia

e a Escola.

Nas construções originais destacam-se as

suas fachadas de decoração simples, pé

direito baixo, com a presença de uma

entrada e uma ou duas janelas em madeira,

onde a presença de postigos é notória, e

em alguns casos até prima pela ausência

de janelas. A presença do número de vãos

é determinada pelo declive, largura da

fachada e pela orientação desta na encos-

ta, devido aos fortes ventos predo-

minantes nesta região. 7

8

É frequente o uso de coberturas em telha

de canudo de uma só água, com beirado

simples ou duplo, onde a chaminé apresen-

ta-se como um elemento decorativo por

excelência. São assentes em suportes des-

contínuos e possuem remates especiais

para evitar inflintrações. O assentamento

inicia-se pelas telhas inferiores para

formar um canal de escoamento das águas,

onde as fiadas superiores são assentes

sobre 2 telhas infereiores, sendo fixadas

por pregos, argamassa para evitar a acção

dos ventos.

Nos quarteirões compactados a opção pas-

sava por uma cobertura única que alberga

vários corpos, sendo distinguível pelo

número de chaminés.

É frequente o uso da “cal” nestas cons-

truções, especialmente nos rebocos e na

pintura.

As paredes exteriores eram construídas

por vários métodos ou processos, sendo na

maioria dos casos encontrados uma solução

mista onde a utilização de materiais como

a argila, areia e pedras de xisto frag-

mentadas seriam mais comuns. Foi também

encontrado casos onde foi utilizada alve-

naria ordinária argamassada em pedra de

xisto, outras uma mistura na técnica de

construção, onde o embasamento era efec-

tuado com alvenaria de xisto argamassada

e na restante estrutura era utilizado a

alvenaria em Taipa que assentava

sobre a alvenaria de xisto.

8

9

O Sr. Joaquim Rosa, de 78 anos, natural

da Bordeira, contou-nos que era comum

montarem o Taipal com 70 cm de largura e

neste juntarem areia, barro e pedras de

xisto e compactarem bem, sendo que nas

“Mieiras” estas atingiam o dobro da lar-

gura, no final era rebocadas a argamassa

de cal e revestidas com tinta de cal. No

seu interior as paredes eram construídas

com alvenaria de tijolo de burro, sendo

posteriormente rebocadas e pintadas,

enquanto o pavimento poderia ser em terra

batida ou em pavimento de cerâmica

(tijoleira).

As coberturas em telha de canudo assenta-

vam num ripado de madeira, sendo o forro

constituído por caniço, que provinha da

Ribeira, em que a estrutura depois

assentava em dormentes, normalmente de

madeira de carvalho.

A organização espacial era bastante sim-

ples, de formas simples e de leitura

fácil, sendo que a entrada se fazia pela

sala, que ocupava uma posição central,

sendo os quartos situados nas laterais e

a cozinha na traseira da casa. Poderiam

existir prolongamentos com entradas que

se faziam pelo exterior que correspondiam

a galinheiros, estábulos ou com funções

de armazenagem das culturas e ferramen-

tas.

9

10

Devido ao relevo declivoso onde a aldeia se encontra implan-

tada, surgem quarteirões compactados, ou seja um conjunto de

habitações independentes mas que de um modo geral formam uma

unidade. Este conjunto de habitações foi construído de forma

articulada e harmoniosa e apresenta-se como uma solução

engenhosa de urbanismo para vencer a “irregularidade do ter-

reno” e ao mesmo tempo aproveitar o pouco área disponível.

Estes conjuntos chegam a albergar 5 habitações, sendo os de

maiores dimensões implantados entre a Rua do Castelinho, Rua

do Castelo, Rua Casa Fidalga e o Largo 1º de Maio.Algumas

particularidades destes conjuntos, é de um modo geral apre-

sentam uma cobertura de uma só água que abrange mais que uma

habitação, dependendo da cota de implantação do edifica-

do.Devido a se apresentarem compactas em redor das vias que

acompanham as curvas de nível, cada habitação apresenta a

sua fachada na parede disponível, podendo surgir nas paredes

frontais, nas paredes laterais e nas paredes traseiras. Sen-

do que as divisões situadas no interior possuíam clarabóias

nas coberturas para permitir a entrada de luz natural.Nas

figuras à esquerda, apresentamos um caracterização de um

conjunto que forma um quarteirão situado entre a Rua do Cas-

telinho (na cota à nível superior), Rua da Fidalga (na cota

à nível inferior) e ladeado a Este pelo Largo 1º de Maio e a

Oeste por uma estreita travessa.Este conjunto é constituído

por 4 habitações, duas com a fachada na parede frontal e

cobertura de uma só água comum, virada para a Rua da Fidal-

ga. Nos patamares superiores surgem outras duas habitações

que possuem a cobertura de uma só água na mesma pendente das

outras no patamar inferior mas com a diferença na localiza-

ção das suas fachadas, sendo que uma apresenta uma fachada

lateral, virada para o Largo 1º de Maio e a outra apresenta

uma fachada tardoz virada para a Rua do Castelinho. Outra

curiosidade é que a cota de soleira da habitação na Rua do

Castelinho encontra-se ao nível da cobertura das habitações

com fachada virada para Rua da Fidalga.

10

Caso dos Quarteirões Compactos

11

SÍNTESE ARQUITECTÓNICA DAS HABITAÇÕES POPULARES DA ALDEIA DA BORDEIRA

11

12

Bibliografia e Páginas Web Consultadas:

AA .ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL:

SINDICATO NACIONAL DOS ARQUITECTOS—

ZONA 6—ALGARVE E ALENTEJO LITORAL,POR

ARTUR PIRES MARTINS.1961.

PLANOS DE INTERVENÇÃO DAS ALDEIAS DO

ALGARVE-VOL.4. CCDR,2003.

FERNANDES, JOSÉ E ANA JANEIRO, ARQUI-

TECTURA NO ALGARVE, UMA LEITURA DE

SÍNTESE.2005.

MOUTINHO, MÁRIO. ARQUITECTURA POPULAR

PORTUGUESA, LISBOA 1979.

APONTAMENTOS FORNECIDOS P/ ARQUITECTA

MARIA TERESA VALENTE

WWW.CM-ALJEZUR.PT

Trabalho elaborado para a Disciplina de Materiais e Téc-

nicas de Construção Tradicionais, no âmbito do Curso de

Arquitectura Paisagista, da Faculdade de Ciências e Tec-

nologias da Universidade do Algarve.

Autor: Vitor Alexandre Da Silva, aluno nº37473

Sob orientação da Professora Arquitecta Maria Teresa

Valente

Fotografias, Desenhos e Layout da autoria do Autor, à excepção

dos dois mapas ilustrativos e da imagem aérea que ilustram a

página nº 4, que foram recolhidas no Google Images.

12

13