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Introdução. Depois de 2 anos de estudo, o grupo de trabalho da CNBB elaborou o Texto base, em 3 partes:
* VER: Amazônia, uma realidade complexa e ameaçada;
* JULGAR: discernimento, responsabilidade e esperança;
* AGIR: Amazônia, chão fraterno de povos e culturas.
CF 2007 – O Texto base
A Amazônia, desde 1945, é assunto de interesse mundial. Mas, nós
brasileiros, pouco a conhecemos e valorizamos.
E, com exceção de missionários estrangeiros proféticos,
nós, Igreja Católica, demoramos para perceber a urgência da Amazônia, como um campo
missionário especial.
a) conhecer os povos da Amazônia, seus valores, sua maneira secular e criativa de viver e de se organizar e sua história de resistência, frente
às agressões dos modelos políticos, econômicos e culturais que lhes foram e são impostos.
A CF 2007 quer ser um fórum para envolver a todos os brasileiros
com o forte clamor da Amazônia
b) ajudar a viver o caminho quaresmal em clima de conversão, que nos leve a optar por um novo
estilo de vida, austero, acolhedor e solidário com os pequenos,
próprio dos discípulos de Jesus, o modelo perfeito de solidariedade...
c) e a CF 2007 deseja também impulsionar a todos
a optar por um modelo de desenvolvimento humano,
construído no respeito e no diálogo com todas as culturas e
na convivência carinhosa e cuidadosa com a natureza.
1.1. A Amazônia é um dos maiores, diversos, complexos e ricos domínios
do mundo. Situada na América Sul (Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru), nela vivem vários povos originários com sua diversidade sócio-cultural
e onde estão muitas e diversas formas de vida, ainda, intactas.
I. O que é a AMAZÔNIA?
Vista a partir do cosmo, a Amazônia pan-americana
corresponde a 5% da superfície da terra, 40% da América do Sul, 60% do Brasil. Contém 20% da
disponibilidade mundial de água doce e 34% das reservas mundiais de florestas.
Sua diversidade biológica de ecossistemas, espécies e germo-plasma (manejo da variabilidade
genética entre e dentro da espécie, com fins de utilização
para a pesquisa em geral) é a mais intensa e rica do planeta: cerca de
30% do todas as espécies de fauna e flora do mundo
encontram-se nesta região.
O sistema fluvial Amazonas-Solimões-Ucayalli representa o mais extenso rio
do mundo com 6.671 km; a Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas é
constituída por mais de 1.000 rios, e o Rio Amazonas joga no Oceano Atlântico
entre 200 e 220 mil metros cúbicos de água por segundo, o que representa 15,5% de toda a água doce que entra
diariamente nos oceanos.
O rio Amazonas leva para o Oceano uma gigantesca
quantidade de sedimentos, calculada em 1 bilhão de
toneladas por ano. As correntes do Atlântico Norte distribuem
estes sedimentos férteis ao longo da costa até a Venezuela e algumas ilhas do Caribe.
Esta riquíssima “sócio-bio-diversidade” nos interpela,
bem como à sociedade e à humanidade toda, a amar este
verdadeiro dom de Deus, presença de seu imenso amor...
e nos interpela a defender este imenso dom
contra todas as formas de devastação, para que não seja submetido aos interesses de pessoas e grupos, ávidos de
lucros enormes e rápidos e que não se importam com a
sobrevivência da humanidade.
E é um chamado à responsabilidade do Estado, e da sociedade para que não
continuem financiando ou tolerando um modelo de
desenvolvimento depredador, que está destruindo rapidamente este
tesouro indispensável para a qualidade da vida na terra.
É, também, um convite especial para que o Brasil, repense, com urgência, a partir
da Amazônia, o modelo de desenvolvimento que ele quer para si
mesmo, como um todo, e busque construir relação de acolhimento, respeito e cuidado com todas as
pessoas e com a natureza privilegiada quem tem, lutando com firmeza contra
todas as formas da morte, em defesa da vida, sobretudo, dos mais fracos.
1.2. O que está em jogo?
As riquezas da Amazônia e os interesses internacionais
A riqueza da biodiversidade, a abundância de águas, a grande
quantidade de terras, a fartura de madeira e o incalculável volume de
minérios estratégicos no subsolo da Amazônia são a causa do interesse e
da cobiça internacional.
1.3. Mas também está em jogo:
a) A qualidade de vida do planeta Terra. É consenso entre
muitos estudiosos e, em grande parte da população: a Amazônia é
um fator de equilíbrio essencial para todo o planeta e que a vida
da Amazônia tem a ver com a qualidade de vida global da Terra.
b) A qualidade de vida dos povos da Amazônia.
Os filhos e as filhas da Amazônia, guardiões deste
patrimônio da humanidade, têm o direito de poder viver
dignamente e com qualidade, superando todas as formas
de exclusão.
1.4. Conhecimento e valorização da Amazônia
Pouco se sabe dos muitos saberes que os povos tradicionais e as
populações ribeirinhas acumularam e que ajudaram na sua sobrevivência. Ainda, quase
nada se sabe dos segredos de sua biodiversidade.
Conversão significa superar preconceitos e mudar de mentalidade
e de atitudes. Superar o preconceito dominante que
só é civilizado: quem vive no e do mercado, quem pensa como querem
os mais fortes, os mais ricos e os inescrupulosos no uso dos meios de
comunicação.
1.5. Amazônia, Quaresma e Conversão?
Todos e cada um de nós devemos nos converter a um
estilo de vida baseado na simplicidade e na sobriedade,
no respeito e no cuidado à natureza e na valorização do
outro como parte imperativa da nossa existência
e a das futuras gerações.
1.6. E a Amazônia Brasileira?
A Amazônia Legal Brasileira está formada por nove Estados: Acre,
Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Maranhão e
Mato Grosso. O território compreende cerca de 5.030.730 km², 59% do território nacional e 65% da
Amazônia pan-americana.
A Amazônia brasileira tem 11.248 km de fronteiras internacionais, 1.482 km de costa atlântica, 22 mil km de rios navegáveis; com 23 milhões de
habitantes, dentre os quais 163 povos indígenas, que totalizam
208.000 pessoas, ou 60% da população indígena brasileira.
a) A realidade geográfica e social da Amazônia nos leva a pensá-la como um todo: uma pan-amazônia na qual
os sistemas estão interligados. O que acontece num lugar tem reflexos
imediatos no outro. Os problemas são semelhantes e precisam ser
resolvidos no seu conjunto.
1.7. A Amazônia no enfoque da CF
Assim, a defesa dos direitos dos povos indígenas, a
preservação do meio ambiente, o serviço pastoral, a
luta contra o crime organizado, por exemplo,
exigem atitudes e soluções conjuntas para que posam ter
a devida eficácia.
b) Trabalhar em favor da Amazônia nos desafia a pensá-
la a partir dos povos da Amazônia, que há séculos
vivem e convivem neste mundo de águas, florestas, cerrados, lagos e campos inundáveis.
c) Pôr a Amazônia no centro de nossas atenções fraternas
significa aceitar o desafio de nos deixar questionar, de nos deixar
surpreender, de nos deixar envolver numa outra maneira de enxergar as pessoas e povos, a
natureza, a vida e nossas relações com eles e entre nós.
1.8. Amazônia: seus povos e seus valores
A Amazônia, como, aliás, todo o Brasil, é pluriétnica, pluricultural e plurireligiosa. Diferentes povos,
culturas e religiões diferentes, convivem, às vezes em conflito,
nesta imensa região.
1.8.1. Os Povos IndígenasMais de 270 mil indígenas: 208 mil em
suas aldeias e mais de 61 mil nas cidades, moram na Amazônia há mais de 12 mil anos. Os povos de hoje são descendentes e remanescentes dos
que, ao longo dos séculos, foram dizimados em perseguições
implacáveis, guerras de extermínio ou através de doenças
criminosamente introduzidas.
1.8.2. Os povos afro-descendentes
Diante da resistência dos indígenas ao trabalho forçado e escravo, também na Amazônia, os negros trazidos da África
foram submetidos à escravidão. Trabalharam como escravos nos
empreendimentos voltados para a exportação, servindo às elites ligadas
ao comércio internacional.
1.8.3. Migrantes nos ciclos da borracha
No século XIX e na Segunda Guerra Mundial, empresas norte-americanas e
européias, necessitando borracha e interessadas na mão-de-obra barata,
forçaram um processo migratório que atraiu dezenas de milhares de migrantes do nordeste brasileiro, que sofriam por
causa da forte estiagem de 1877.
1.8.4. Os Ribeirinhos Núcleos familiares deixaram as antigas cidades da Amazônia adentrando-se no
sertão e sobrevivendo graças à suas roças, caça e pesca.
1.8.5. Os Posseiros Sua tradição é a de que a terra é um presente de Deus dado a todas as
pessoas e povos para que nela possam viver e trabalhar.
1.8.6. A população urbanaDois movimentos da população
marcam a Amazônia, desde os anos setenta do século passado: um aumento geral de população da
região, que, de início, se destina a iniciativas agrícolas; e um aumento expressivo do número de cidades e
de população vivendo nelas.
Ano Total Urbana %1940 1.627,6 425,5 27,7%
1950 2.048,7 607,2 29,7%
1960 2.930,0 1.041,2 37,7%
1970 4.188,3 1.784,2 42,6%
1980 6.767,2 3.398,9 51,6%
1991 10.257,3 5.931,6 57,8%
2000 12.900,7 9.014,3 69,83%
2005* 23.610,0 17.000,0 72,00%
* Estimada.Fonte: Censos do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE). Organização de José Aldemir de Oliveira
Nas grandes cidades, como Belém, Manaus, Cuiabá, São Luis, Porto
Velho, Rio Branco, Macapá, Santarém e Boa Vista a população sofre os efeitos de uma migração desordenada, mas provocada, e
vive em situações precárias. Muitas pessoas nem casa têm.
As várias formas que tomam essas ocupações – loteamentos,
empreendimentos imobiliários, lojas, fábricas, feiras, favelas e as demais –
não consideram os riscos socio-ambientais e provocam os mais diversos tipos de impactos sem que nem o poder
público nem a sociedade civil tenham competência efetiva para intervir,
restringir e controlar as ocupações.
1.8.7. ExportaçãoA Zona Franca de Manaus e as
indústrias das demais cidades estão voltadas pra a exportação: são ligadas
aos portos e aeroportos. O maior empregador é o Estado, seguido pelo
comércio e serviços. É grande o desemprego, a insegurança no
emprego, a desvalorização e super-exploração do trabalho. Cresce o empobrecimento, a insegurança.
1.9. Os desafios da atualidade
1.9.1. O desenvolvimento e o progresso são identificados com a exploração dos recursos naturais e com o avanço do capital nacional e
internacional nas terras da Amazônia.
É comum ouvir de empresários, que investem ou querem
investir na Amazônia, que seus empreendimentos vão trazer
grandes benefícios para o povo que não pode continuar condenado ao atraso.
1.9.2. O controle do território e modelo de desenvolvimento
O capital não se contenta com a ocupação do território, muitas
vezes às custas das populações tradicionais. Ele transforma a terra do povo, terra de sua vida e de seu
trabalho, em terra de negócio para o lucro de poucos.
1.9.3. O desmatamento para o agronegócio.
O desmatamento está sendo empurrado pelo agronegócio que
vem sendo divulgado como a salvação do campo brasileiro A
floresta transforma-se, assim, em grandes extensões de espécies
exóticas, como o eucalipto, ou em grandes plantações de grãos, de
cana e de algodão.
O prejuízo para as populações tradicionais é imenso. Privados
de seu território, muitos se sujeitam a trabalhos aviltantes, em condições de escravos, nas
fazendas dos grileiros, nas carvoarias e nos processos ilegais de desmatamento.
1.9.4. A mineração São raros os casos em que os “superficiários”, posseiros ou
pequenos garimpeiros, obrigados a deixar para as mineradoras a terra
em que viviam e trabalhavam, conseguem receber tudo a que têm direito pela lei. E os funcionários do
DNPM pouco ou nada fazem para que isso aconteça.
1.9.5. As siderúrgicas e o carvão vegetal
As carvoarias, além dos impactos ambientais provocados, utilizam-
se, muitas vezes, de trabalho superexplorado ou escravo,
multiplicando, assim, seus crimes.
1.9.6. O programa energético. Na Amazônia quase todas as barragens alagam grandes áreas de floresta, com
um enorme impacto ambiental. Os efeitos são graves não só na
localidade atingida, mas na grande bacia amazônica que é uma realidade
complexa e interligada. Urge pensar em formas alternativas de produção de
energia sem tanta agressão ambiental e penalizaçãp das populações da região
1.9.7. O controle da biodiversidade
Outro interesses do capital. A riquíssima biodiversidade da
Amazônia está sendo cobiçada por indústrias, laboratórios e centros de
pesquisa, que não hesitam em fomentar uma verdadeira
“biopirataria” das nossas riquezas que nós mesmos pouco
conhecemos.
O relatório da “comissão da biopirataria da Amazônia” (1998)
revelou que a quantidade de material genético roubado e de amostras de diversas espécies,
nos últimos anos havia chegado a 20.000 exemplares/ano.
A maioria do material recolhido vai para os laboratórios dos países do
G-7, sobretudo dos EUA, que possuem mais de 1300 empresas
de biotecnologia, 200 delas voltadas, principalmente para a
exploração das florestas tropicais, que representam uma reserva de
matéria prima da ordem de 43 bilhões de dólares
1.10. O desafio da internacionalização
Após a Segunda Guerra Mundial, a Amazônia tornou-se um dos centros dos interesses internacionais. Vários projetos internacionais se voltaram para
a Amazônia, utilizando pretextos diferentes:
a) um grande vazio demográfico que precisava ser ocupado;
b) os fantásticos recursos naturais que deveriam ser colocados à disposição da humanidade;
c) recursos naturais e rica biodiversidade como objeto de pesquisas científicas, que os países amazônicos não tinham condições de fazer.
1.11.1. O ano de 1972 foi marcado por três acontecimentos importantes para
as igrejas da Amazônia:
a) Em 23 de abril de 1972, foi fundado o CIMI (...intensificar a
presença e apoio junto às comunidades, povos e
organizações indígenas...)
1.11. A IGREJA NA AMAZÔNIA
b) Os dois regionais amazônicos da CNBB realizaram uma Assembléia
em SANTARÉM, para pensar e concretizar “uma Igreja com rosto amazônico”. Desse encontro saiu
o documento: LINHAS PRIORITÁRIAS DA PASTORAL DA AMAZÔNIA, que foi determinante
para orientar a caminhada da Igreja de 1972 em diante.
1.11.2. O início do Projeto Igrejas-irmãs, alimentado pela
solidariedade entre as dioceses do sul do País com as das outras
regiões, sobretudo, do Norte e Nordeste: envio de recursos
humanos, financeiros, materiais e ajudas em projetos.
1.11.3. Em 1975, foi criada a CPT (Comissão Pastoral da Terra) para atender a preocupação das Igrejas
da Amazônia com a violência sofrida pelos posseiros por causa dos
conflitos pela terra e com o avanço dos grandes projetos e da nova
fronteira agropecuária.
1.11.4. Religiosas e religiosos da Amazônia passaram a refletir sobre estes desafios e como enfrentá-los.
Isto levou ao surgimento de comunidades inseridas nas situações
de exclusão, no interior e nas periferias das cidades, numa atitude
missionária e profética de convivência e de serviço.
Este profetismo a favor da da justiça e da vida, suscitou a perseguição e o martírio. Assim deram a vida pelo
Evangelho na Amazônia: João Bosco Burnier, Josimo Tavares, Ezequiel Ramin, Adelaide Molinari, Dorothy
Stang e outros. Elas e eles derramaram seu sangue, somando-se
aos muitos e muitas que, ao longo destes séculos, ofereceram suas
vidas pelo projeto do Reino.
1.11.5. Em 1990, num encontro de bispos e coordenadores de pastoral
das dioceses e Prelazias, em Icoaraci, (Belém,PR) a ecologia começou a fazer parte da pauta dos assuntos
eclesiais da Amazônia. O tema do encontro foi: “Em defesa
da vida na Amazônia”. A novidade foi priorizar a defesa da vida nas
discussões e medidas em relação ao tema do meio ambiente.
1.11.6. Em 1997, (25 anos depois da assembléia de Santarém), os dois
regionais amazônicos em novo encontro em Manaus, avaliaram a caminhada e a
realidade da região. Do encontro surgiu o documento: A IGREJA SE FAZ CARNE E
ARMA SUA TENDA NA AMAZÔNIA. Confirmou-se a opção por uma pastoral evangelizadora e libertadora e por uma
mística amazônica diante de uma realidade que, em muitos aspectos, era de maior
exclusão e violência.
1.11.7. Em 1999, durante a assembléia nacional da CNBB, a partir de um apelo dramático de D. Erwin Kräutler, Bispo Prelado do Xingu, os bispos da Amazônia
assinaram uma mensagem ao Povo de Deus assumindo, uma
vez mais, seu compromisso com a questão amazônica.
Foi constituída a Comissão Episcopal para a Amazônia. Entre seus objetivos está a revitalização do Projeto Igrejas-
Irmãs, envolvendo os regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRBG), reforçando a suas
dimensões da fraternidade missionária. Esta CF 2007 é, também, fruto e sinal desta nova preocupação.
1.12. Falta muito por fazer
1.12.1. Apesar das solicitações e das iniciativas pastorais, a opção pelos pobres, as Comunidades de Base, a
ética ambiental e o diálogo intercultural e inter-religioso ainda
não foram totalmente assumida como elementos essenciais da
evangelização, da pastoral e da catequese eclesial.
1.12.2. Uma religiosidade cristã minimalista, emocional e sem
compromisso social é estimulada pelo pentecostalismo católico e
evangélico, que avançam no meio da população mais pobre, abrindo espaço para outras denominações religiosas, que prometem soluções
fáceis e milagrosas.
1.12.3. As CEBs e as Pastorais Sociais perdem vigor. Bispos, religiosos, religiosas, padres e leigos/as comprometidos são
criticados, perseguidos e ameaçados de morte... Cresce a
dificuldade de se encontrar respostas para a realidade, mais e
mais desfavorável aos pobres;
1.12.4. Ainda há muito clericalismo. Para os leigos,
sobretudo as mulheres, sobra só o ônus do serviço pastoral mais
dedicado e, na maioria das vezes, voluntário, sem que sua
experiência seja levada em conta, na hora de decidir. Ainda não há vez para leigos/as nos espaços
eclesiásticos decisionais;
1.12.5. Ainda é muito reduzido o testemunho evangélico e fraterno da
solidariedade de todas as Dioceses com as da Amazônia. Elas continuam
precisando da presença de um maior número de agentes de pastoral,
leigos/as, religiosos/as, que possam prestar um serviço pastoral e social qualificado a fim de contribuir para enfrentar os grandes e crescentes desafios presentes nesta região.
1.12.6. A ação pastoral, em muitos casos, nem sempre se dá de maneira
articulada e orgânica: os movimentos leigos, as
congregações religiosas, as prioridades pastorais nas paróquias, que poderiam ser sinal da fecunda
criatividade do Espírito, podem também provocar, como já
aconteceu, divisões e equívocos.
1.12.7. As dificuldades de comunicação e as grandes
distâncias a serem percorridas tornam necessário um maior
volume de recursos financeiros para desenvolver a contento as
atividades pastorais. A generosidade da população
local ainda não consegue suprir estas necessidades.
II. Novo impulso missionário
2.1. A CF 2007 é estímulo para as Igrejas da Amazônia e do Brasil reverem com
ousadia e confiança, a sua ação pastoral, de modo a ser sinal sempre vivo da presença do Reino de Deus
nesta região: “nossa esperança não se baseia apenas na realidade da história, mas na promessa de Deus e nos sinais de futuro que acompanham as palavras
que nos manda proclamar”.
2.1. Retomar, na ótica do clamor da Amazônia, a ética, os Direitos
Humanas, a Palavra de Deus, os ensinamentos da Igreja, constitui um caminho urgente para fundamentar ações corajosas e proféticas, bem
articuladas, em busca do bem comum dos povos e da natureza da Amazônia
e, conseqüentemente, de toda a humanidade e do planeta terra.
2.3. Fraternidade e amor ao próximo não são idéias a serem
discutidas teoricamente. São sinais concretos do Reino anunciado por
Jesus Cristo, que declarou: “todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são
meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 40), e que
precisamos tornar visíveis.
2.4. Sensíveis ao chamado de Deus e comprometidos com as propostas da Igreja, seremos motivados a pensar e a agir solidariamente e a educar
gerações para a solidariedade, com muitos de nossos irmãos
da Amazônia.
2.5. Uma relação sadia entre o ser humano e a terra
Na Bíblia encontramos as orientações sobre a relação do ser humano com a natureza; posto por Deus no meio da
criação, o homem não é senhor absoluto do mundo, mas tem a missão de dele cuidar e de o preservar (cf Gn 1, 26;
2,15). Deus projeta para a humanidade um caminho de felicidade.
2.6. “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31)
Desde o princípio, nos diz o livro de Gênesis, Deus se manifesta na história
com sua força e seu poder criador e vivificador (cf. Gn 1,1). Ao organizar o universo, Deus deu a tudo o seu lugar,
numa ordem dinâmica e harmônica, e viu que tudo o que havia criado era muito
bom (cf. Gn 1, 31)
2.7. Cuidar da criaçãoA criação do ser humano – homem e
mulher – feito à imagem e semelhança de Deus, é apresentada como o
coroamento de toda a obra criadora. O que Deus pede ao homem e à mulher é preservar o nosso planeta, cuidar e zelar por esta nossa casa comum e por tudo que nela habita com a mesma paixão
amorosa de Deus Criador, em vista da felicidade de todas as pessoas e de
todos os seres vivos.
2.8. Priorizar os pequenos Mesmo que seja um problema em todo o País, na Amazônia, é mais evidente
que os recursos legais beneficiam muito mais os ricos e poderosos do
que os posseiros, pobres e trabalhadores. É fundamental rejeitar a corrupção e educar as novas gerações
para a dignidade e uma postura honesta, protestando contra tudo o que
desfavorece os indefesos.
2.9. Fugir da idolatriaA soberba do ser humano, ao não respeitar a lei de Deus na criação,
introduz a desordem, a destruição e a morte no mundo. Isaías clama: Quem foi que criou tudo isso? Quem foi capaz de
fazer o mundo e a natureza com harmonia e ordem? (cf Is 40,12-26). A
idolatria da riqueza, do poder e do prestígio colocam em risco a obra de
Deus, que é um bem para todas as pessoas e todas as criaturas.
Contemplar a criação, vendo nela a ação amorosa do Pai, nos convoca a
crer que tudo foi feito para todos, que a grande conquista não é acumular, mas
é ser capaz de crescer produzindo frutos na construção da justiça do
Reinado de Deus. “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e
todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33).
2.11. Trabalho no Plano de DeusO ser humano é chamado a cuidar e cultivar a terra com o seu trabalho,
feito com alegria e esperança. “Trabalharás durante seis dias..., mas o
sétimo dia é sábado, descanso dedicado ao Senhor teu Deus. (Ex 20,
9-10). O trabalho, no Plano de Deus, faz parte da realização humana e não pode
ser realizado como uma escravidão.
2.13. Encarnar-se para libertarCom São Paulo poderíamos dizer:
Fiz-me índio com os índios, caboclo com os caboclos, negro
com os negros, ribeirinho com os ribeirinhos, seringueiro com os
seringueiros. Para todos eu me fiz tudo, para certamente salvar
alguns (cf 1Cor 9, 20-22).
2.14. Levar a Boa Notícia aos pobres (cf. Lc 4, 18)
14.1. Evangelizar é missão da Igreja, portanto, de todo batizado.
O anúncio do Evangelho é uma dívida que a Igreja tem para com o Povo de Deus (cf. DGAE p. 7).
2.15. Evangelizar é descobrir e valorizar todos os sinais de vida na cultura de cada povo, e revelar-lhe que Deus é Pai e Criador de todos. Para isso cada fiel tem o direito de
receber da Igreja o preparo necessário para ter a alegria de se sentir capaz, competente, eficiente
instrumento do Evangelho.
2.16. Por meio da CF, com o tema “fraternidade e a Amazônia”,
Deus certamente nos desperta para a urgência missionária neste
chão tão precioso para toda a humanidade. “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a
toda criatura!” (Mc 16,15).
2.17. A necessidade de evangelizar. Chegar a uma mística da
evangelização que nos faça sentir a necessidade de anunciar a Boa
Notícia: “Pois, anunciar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade que se me
impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!” (1 Cor 9, 16).
2.18. O chamado da Igreja é para abrirmos os caminhos para que
Cristo seja tudo em todos e todas e os povos amazônicos possam
proclamar, em suas próprias línguas e culturas, que Jesus é o Senhor para a glória do Pai (cf. Fl
2,11) e possam se tornar membros vivos do único corpo do Senhor
que é a Igreja (cf. Cl 1,24).
III. É preciso agirO tema: Fraternidade e Amazônia e o lema: Vida a Missão neste chão
exigem ação para apoiar o que deve ser apoiado, denunciar o que
impede ou cria dificuldades para a vida, e para criar novas iniciativas
em favor de uma Amazônia e de um Brasil para e com todos os brasileiros e brasileiras.
3.1. Conhecer para amar e fazer para expressar o amor.
Esta Campanha é uma oportunidade para que o Brasil conheça melhor os povos e a
realidade da Amazônia. Para isso a Campanha da
Fraternidade propõe:
3.1.1 Criar nas paróquias, nas escolas, nos diversos grupos, espaços de
divulgação da realidade da Amazônia, dando a conhecer as mais variadas
expressões da cultura e saberes regionais.
3.1.2. Estimular as paróquias, as escolas, as comunidades e os
movimentos a promover seminários, simpósios, fóruns de debates, estudos sobre os grandes desafios da região
amazônica.
3.1.3. Incentivar, no trabalho de planejamento das escolas cristãs em
particular, através da AEC, e das escolas particulares e públicas em
geral, a inserção da temática da Amazônia como eixo transversal do
currículo, de modo que todas as disciplinas trabalhem, ao seu modo e
segundo a sua área de competência, o tema da CF 2007.
3.1.4. Gerar iniciativas que criem oportunidades para que as
populações da Amazônia tenham as informações corretas sobre a
importância de valorizar suas culturas, para poder fortalecer sua maneira de
viver e de se organizar, como uma alternativa verdadeira ao modelo
egoísta e consumista que impera nas regiões mais abastadas e superar,
assim, preconceitos e discriminações.
3.1.5. Estimular ações que levem a uma mudança de mentalidade
A Campanha da Fraternidade quer levar as comunidades e a sociedade
a olhar, ao mesmo tempo, para a própria realidade local, para a
realidade da Amazônia e para a realidade nacional.
3.1.6. Trabalhos educativos, religiosos e culturais em âmbito popular para
sensibilização e para ações solidárias em relação à Amazônia.
1. Festival de música; 2. Festival de teatro; 3. Passeatas; 4. Panfletagens;
5. Caminhadas; 6. Romarias;7. Celebrações Ecumênicas; 8. Via Sacra
nas ruas; 9. Atos Públicos; 10. Exposições sobre a Amazônia; 11. Apadrinhamento de paróquias,
comunidades, missões...
3.1.7. Cooperar no apoio econômico a projetos e a
atividades pastorais e sociais na Amazônia.
Participar do FUNDO DIOCESANO DE SOLIDARIEDADE, em favor
de iniciativas populares na Amazônia, sobretudo,
educacionalmente:
a) povos ribeirinhos – preservação de “Lagos Santuário” para reprodução do peixe;
b) povos indígenas
c) migrantes
d) quilombolas
e) agricultores/as camponeses/as
f) pescadores
g) mulheres:
- indígenas
- da área Rural
- quebradeiras de coco
- mulheres que trabalham com pequenas iniciativas de saúde, economia solidária, geração de renda no interior e na área urbana.
3.1.8. reforçar e ampliar Projetos Alternativos de produção, geração de renda, que estão dando certo.
3.1.9. apoiar projetos populares de plantio ou reflorestamento de
plantas da Amazônia que produzam: frutas; cocos;
castanhas; plantas medicinais (para recompor a floresta, também com o
objetivo econômico);
3.1.10. projetos de apoio a iniciativas de pequena
industrialização (polpa de frutas, doces...), conservação de peixes;
3.1.11 formação de lideranças e agentes de pastoral para a cidadania e organização
comunitária.
3.1.12 – Combate à exploração sexual infanto-juvenil, muito comum na região, sobretudo, com índios que saem migram para a cidade. Fazer cumprir o
programa Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, da Secretaria de Direitos Humanos
do Governo Federal.
Junto com a reflexão, o estudo, a oração e mudanças de atitudes em favor da ecologia e, especialmente
dos povos e da rica biodiversidade de Amazônia, colaborar com o gesto
concreto de solidariedade, durante todo o tempo da Campanha, que vai
do inicio da Quaresma até o Domingo de Ramos que antecede a Páscoa.
GESTO CONCRETO: A COLETA
É importante que bispos, padres, religiosos(as), lideranças leigas,
agentes de pastoral, colégios católicos e movimentos eclesiais
motivem e animem todos os fiéis e pessoas sensibilizadas pela causa, a
participarem, oferecendo a alegria de sua solidariedade - que é a
melhor forma de sacrifício quaresmal - em favor de projetos relacionados com o tema do ano.
A Cáritas Brasileira é o organismo da CNBB responsável pela
administração do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS). A gestão e
aprovação dos projetos estarão a cargo do Conselho Gestor do Fundo Nacional de Solidariedade, nomeado
pela Presidência e Conselho Episcopal de Pastoral da CNBB, com aprovação do Conselho Permanente.
Oração da CF 2007Deus criador, Pai da
família humana,Vós formastes a
Amazônia, maravilha da vida, bênção para o
Brasil e para o mundo. Despertai em nós o
respeito e a admiração pela obra que vossa mão
entregou aos nossos cuidados.
Ensinai-nos a reconhecer o valor de cada criatura que vive na terra, cruza os ares ou se move nas águas.
Perdoai, Senhor, a ganância, e o egoísmo
destruidor; moderai nossa sede de posse e
poder.
Que a Amazônia, berço acolhedor de
tanta vida,seja também o chão da partilha fraterna,pátria solidária de povos e culturas, casa de muitos irmãos e irmãs.
Enviai-nos todos em missão!
O Evangelho da vida, luz e graça para o mundo,
fazendo-nos discípulos e missionários de Jesus
Cristo, indique o caminho da justiça e do amor; e
seja anúncio de esperança e de paz para os povos da Amazônia e
de todo o Brasil.Amém.