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O fim da 4ª Conferên- cia Municipal de Políti- cas Urbanas foi adia- do para depois da Co- pa do Mundo. Com is- so, a revisão do Plano Diretor de Belo Hori- zonte, que fixa as nor- mas para uso e ocupa- ção do solo, será con- cluída em 2 de agosto. No calendário ante- rior, os trabalhos se- riam encerrados em 31 de maio. Nem todos os envol- vidos no processo fica- ram satisfeitos com o adiamento. O setor empresarial, principal- mente o da constru- ção civil, defende a suspensão dos traba- lhos enquanto estudos de viabilidade finan- ceira são concluídos. O secretário-adjunto de Planejamento Urba- no, Leonardo Castro, afirma porém que todos os estudos necessários estão disponíveis. MAIS TEMPO O novo cronograma foi aprovado ontem, em reunião extraordi- nária do Conselho Mu- nicipal de Políticas Ur- banas. Com a mudan- ça, as plenárias finais serão em 19 e 26 de julho e 2 de agosto. Amanhã não haverá a atividade anterior- mente programada e, para o dia 24, está pre- vista uma integração téc- nica das propostas. No dia 31, quando seria en- cerrada a conferência, ainda haverá a apresen- tação de proposições. Uma das principais quei- xas é em relação à Outor- ga Onerosa do Direito de Construir (ODC). A pro- posta da Prefeitura de Be- lo Horizonte é a de que em toda a cidade seja aplica- do o coeficiente básico 1,0, ou seja, será possível erguer uma obra com área equivalente à do terreno. Se o empreendedor quiser mais, terá que pagar. DEBATE Para o secretário-adjun- to, o ideal é que a am- pliação da conferência leve ao aprimoramento das proposições. “É um tempo a mais pa- ra melhorarmos as pro- postas e construirmos jun- to com a equipe técnica da prefeitura uma forma de viabilizar a transição da legislação de modo que seja adequada para to- do mundo”. Já o presidente da Câ- mara da Indústria da Construção da Fiemg, Teodomiro Diniz Ca- margos, esperava outro encaminhamento. “Queríamos marcar com número as etapas, mas sem colocar data, até termos condição de fazer estudos profun- dos sobre o impacto eco- nômico que a proposta da prefeitura impõe à ci- dade”, afirmou. LeonardoCastro “A mudança no cronograma nos dá um tempoamaispara melhorarmos as propostas”. Falta política nacional para minimizar impacto social Bruno Moreno [email protected] Assim como nos em- preendimentos com sig- nificativo dano ambien- tal, para os quais a legis- lação exige um estudo de impacto no entorno, deveria ser obrigatório o levantamento do possí- vel prejuízo social causa- do por obras que deman- dam desapropriações em áreas urbanas, como as que estão em curso no Brasil em função de megaeventos. A opinião é do advogado Ariel de Castro Alves, membro da Comissão Especial da Criança e do Adoles- cente da Ordem dos Ad- vogados do Brasil (OAB) em nível federal. “Nãotemosumalegis- laçãodeprevisãodeim- pacto social. Deveria existir para evitar a des- continuidade na presta- ção de políticas públi- cas, como a educação. A partir desse estudo, os conselhos poderiam su- gerir medidas para plane- jar ações, como, por exemplo,asseguraroses- tudos de crianças e ado- lescentes”, diz. O Estatuto da Criança edoAdolescente(ECA) apontaquenãopodeha- ver ruptura nos servi- çospúblicosemprogra- mas de atendimento, como as escolas. “Uma interrupção,mesmo que de alguns meses, ou um ano, tem um im- pacto imenso na vida dessas crianças”, argu- menta o advogado. Desdesegunda-feira,o HojeemDia mostraque obrasligadasdiretaouindi- retamente aos megaeven- tos(CopadoMundoeOlim- píadas) têm prejudicado a vida escolar de jovens em váriascapitaisdopaís. PORTARIA 317 Para a defensora pública Cleide Aparecida Nepo- muceno, a Portaria 317 do Ministério das Cidades já indica um direciona- mento no sentido de se prevenir prejuízos sociais. Entretanto, a norma só se aplica às obras que têm financiamento federal. Cleide relata que, em Minas,nãorecebeuqual- quer denúncia em rela- çãoàdificuldadedeconti- nuidade dos estudos de pessoas desapropriadas. Apesardisso,nememBe- loHorizontenemnas seis cidades visitadas pe- lo Hoje em Dia – Cuiabá, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo – os morado- res removidos relataram a existência de estudos de impacto social. INEGOCIÁVEL Para a socióloga Graça Ga- delha, a educação é um di- reito inegociável. “Pela edu- cação se prepara para o exer- cício da cidadania. É funda- mental, também, para se qualificar, desenvolver para o mercado de trabalho”. Hámaisde20anos acompanhando as ques- tões ligadas ao ECA, ela aponta que os megaeven- tosestãocontradizendoo estatuto e a Constituição. “Apesardetantosinves- timentos,nunca,como agora, tantos direitos fo- ramdescumpridos.No ECAháamençãodequeé obrigatório que o poder público forneça acesso à escola gratuita e próxima àresidência.Oquevimos, nessas reportagens, é que isso não ocorreu em mui- tos casos”, lamenta. Mudança nas normas para uso e ocupação do solo de BH deverá ser concluída em 2 de agosto “Queríamos marcar as etapas, mas sem datas. O ideal seria termos um estudo como foi feito para a Operação Nova BH”. Pres.daCâmaradaIndústria daConstruçãodaFiemg TeodomiroDiniz > Membro da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB sugere estudo preventivo Conferência de Política Urbana só termina após a Copa CONTRA Secretário-adjunto de Planejamento Urbano SOLIDARIEDADE – Forçada a se mudar da avenida Pedro I, em BH, adolescente contou com a ajuda de amigos e até de estranhos para conseguir vaga em uma escola pública de Confins, na região metropolitana > DEBATE – Uma das polêmicas está na cobrança para construção de obras maiores que a área do terreno AFAVOR ÚLTIMADASÉRIE SAMUEL COSTA ARQUIVO HOJE EM DIA COPA SEM ESCOLA COPA SEM ESCOLA O artigo 53 do ECA assegura à criança e ao adolescente o acesso à escola pública e gratuita próxima de casa, para seu pleno desenvolvimento, exercício da cidadania e qualificação para o trabalho > hojeemdia.com.br 31 BeloHorizonte,sexta-feira,16.5.2014 HOJEEMDIA Minas

Copa sem escola_16-5-14

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Série de reportagens "Copa sem escola", produzida pelo jornalista Bruno Moreno e o fotojornalista Samuel Costa. Segunda da série.

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O fim da 4ª Conferên-cia Municipal de Políti-cas Urbanas foi adia-do para depois da Co-pa do Mundo. Com is-so, a revisão do PlanoDiretor de Belo Hori-zonte, que fixa as nor-mas para uso e ocupa-ção do solo, será con-cluída em 2 de agosto.No calendário ante-rior, os trabalhos se-riam encerrados em31 de maio.Nem todos os envol-

vidos no processo fica-ram satisfeitos com oadiamento. O setorempresarial, principal-mente o da constru-ção civil, defende asuspensão dos traba-lhos enquanto estudosde viabilidade finan-ceira são concluídos.O secretário-adjunto

de Planejamento Urba-no, Leonardo Castro,afirma porémque todosos estudos necessáriosestão disponíveis.

MAISTEMPOO novo cronogramafoi aprovado ontem,em reunião extraordi-nária do Conselho Mu-nicipal de Políticas Ur-banas. Com a mudan-ça, as plenárias finaisserão em 19 e 26 dejulho e 2 de agosto.Amanhã não haverá

a atividade anterior-mente programada e,

para o dia 24, está pre-vista uma integração téc-nica das propostas. Nodia 31, quando seria en-cerrada a conferência,ainda haverá a apresen-tação de proposições.Umadasprincipaisquei-

xas é em relação à Outor-ga Onerosa do Direito deConstruir (ODC). A pro-posta da Prefeitura de Be-loHorizonteéadequeemtoda a cidade seja aplica-do o coeficiente básico1,0, ou seja, será possívelerguerumaobra comáreaequivalente à do terreno.Seoempreendedor quisermais, terá que pagar.

DEBATEPara o secretário-adjun-to, o ideal é que a am-pliação da conferêncialeve ao aprimoramentodas proposições.“É um tempo amais pa-

ra melhorarmos as pro-postase construirmos jun-to com a equipe técnicada prefeitura uma formade viabilizar a transiçãoda legislação de modoquesejaadequadapara to-do mundo”.Já o presidente da Câ-

mara da Indústria daConstrução da Fiemg,Teodomiro Diniz Ca-margos, esperava outroencaminhamento.“Queríamos marcar

com número as etapas,mas sem colocar data,até termos condição defazer estudos profun-dos sobre o impacto eco-nômico que a propostada prefeitura impõe à ci-dade”, afirmou. l

LeonardoCastro

“Amudançanocronogramanosdáumtempoamaisparamelhorarmosaspropostas”.

Faltapolíticanacional paraminimizarimpacto social

BrunoMoreno

[email protected]

Assim como nos em-preendimentos com sig-nificativo dano ambien-tal, para os quais a legis-lação exige um estudode impacto no entorno,deveria ser obrigatórioo levantamentodopossí-vel prejuízo social causa-doporobrasquedeman-dam desapropriaçõesemáreas urbanas, comoas que estão em cursono Brasil em função demegaeventos. A opiniãoé do advogado Ariel deCastro Alves, membroda Comissão Especialda Criança e do Adoles-cente da Ordemdos Ad-v o g a d o s d o B r a s i l(OAB) em nível federal.“Nãotemosumalegis-

laçãodeprevisãodeim-pacto social. Deveria

existir para evitar a des-continuidade na presta-ção de políticas públi-cas, como a educação. Apartir desse estudo, osconselhos poderiam su-gerirmedidasparaplane-jar ações, como, porexemplo,asseguraroses-tudos de crianças e ado-lescentes”,diz.OEstatuto da Criança

edoAdolescente (ECA)apontaquenãopodeha-ver ruptura nos servi-çospúblicosemprogra-mas de atendimento,como as escolas. “Umain te r rupção ,mesmoque de alguns meses,ou um ano, tem um im-pacto imenso na vidadessas crianças”, argu-menta o advogado.Desdesegunda-feira,o

HojeemDiamostraqueobrasligadasdiretaouindi-retamente aosmegaeven-tos(CopadoMundoeOlim-píadas)têmprejudicadoa

vidaescolardejovensemváriascapitaisdopaís.

PORTARIA317Para a defensora públicaCleide Aparecida Nepo-muceno, a Portaria 317doMinistério das Cidadesjá indica um direciona-mento no sentido de seprevenir prejuízos sociais.Entretanto, a norma só seaplica às obras que têm

financiamento federal.Cleide relata que, em

Minas,nãorecebeuqual-quer denúncia em rela-çãoàdificuldadedeconti-nuidade dos estudos depessoas desapropriadas.Apesardisso,nememBe-

lo Horizonte nem nasseis cidades visitadaspe-loHojeemDia–Cuiabá,Fortaleza, Recife, Rio deJaneiro, Porto Alegre eSão Paulo – os morado-res removidos relatarama existência de estudosdeimpactosocial.

INEGOCIÁVELPara a socióloga Graça Ga-delha, a educação é um di-reito inegociável. “Pela edu-caçãosepreparaparaoexer-cício da cidadania. É funda-mental, também, para sequalificar, desenvolver parao mercado de trabalho”.Há ma i s d e 20 ano s

acompanhando as ques-tões ligadas ao ECA, elaapontaqueosmegaeven-tosestãocontradizendooestatutoeaConstituição.“Apesardetantosinves-

timentos,nunca, comoagora, tantos direitos fo-ramdescumpridos.NoECAháamençãodequeéobrigatório que o poderpúblico forneça acesso àescolagratuita epróximaàresidência.Oquevimos,nessasreportagens,équeisso não ocorreu emmui-toscasos”,lamenta.l

Mudançanasnormasparausoeocupaçãodo solodeBHdeverá ser concluídaem2deagosto

“Queríamosmarcarasetapas,massemdatas.Oidealseriatermosumestudocomofoi feitoparaaOperaçãoNovaBH”.

Pres.daCâmaradaIndústriadaConstruçãodaFiemg

TeodomiroDiniz

l> Membro da Comissão daCriança e doAdolescente daOAB sugere estudo preventivo

Conferência dePolíticaUrbana sótermina após a Copa

CONTRA

Secretário-adjuntodePlanejamentoUrbano

SOLIDARIEDADE–ForçadaasemudardaavenidaPedroI, emBH,adolescentecontoucomaajudadeamigose

atédeestranhosparaconseguir vagaemumaescolapúblicadeConfins,naregiãometropolitana

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DEBATE–Umadaspolêmicasestánacobrançapara

construçãodeobrasmaioresqueaáreado terreno

AFAVOR

ÚLTIMADASÉRIE

SAMUEL COSTA

ARQUIVO HOJE EM DIA

COPA SEM ESCOLACOPA SEM ESCOLA

O artigo 53 do ECAassegura à criança eao adolescente oacesso à escolapública e gratuitapróxima de casa,para seu plenodesenvolvimento,exercício dacidadania equalificação para otrabalho

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