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História do Brasil História do Brasil Prof. Lamarão A vida cultural do Brasil colonial- 1. A importância da Igreja católica. A religiosidade e a fé cristã sempre foram traços marcantes da cul- tura lusitana. A própria formação do Reino Português se deu através de uma guerra religiosa: a reconquista católica frente aos mouros (mulçumanos) que ocupavam a Península Ibérica. O engaja- mento e a fidelidade ao catolicismo tan- to do Rei de Portugal quanto do Rei de Espanha conferiram-lhes o apelido de Reis Católicos. Enquanto diversos países passavam pelos processos conhecidos como Reforma Religiosa e muitos Reis acabam se convertendo as nascentes religiões protestantes, em Portugal e Espanha a força da Igreja Católica só aumentava. Durante mesmo o próprio perío- do das grandes navegações a Igreja ca- tólica teve um importante papel. Não só como incenvadora, na medida em que lhes possibilitava a conversão ao catoli- cismo a novos povos, mas também co- mo parcipante. A presença de clérigos nos navios era constante. Serviam não só para celebrarem missas, comemora- rem dias santos, ou protegerem as em- barcações das forças malignas, como para regular a vida dos marinheiros con- denando certos pos de jogos, a pros- tuição, as leituras proibidas, etc. Reafir- mavam o caráter divino que nha as grandes navegações. Além disso, alguns marcos náucos eram comemorados, como a passagem pela linha do Equa- dor, mantendo o clérigo importante função no imaginário acerca destes fei- tos. Não obstante, a visão religiosa também marcou o contato do homem branco com os indígenas americanos e o Novo Mundo, contribuindo, em um pri- meiro momento, para a ideia de visão do paraíso que mannha as novas ter- ras. Assim sendo, os índios eram pági- nas em branco onde deveriam ser escri- tos as palavras e os ensinamentos cris- tãos, seja pelo aprendizado, seja pela punição, pois eram tal e qual crianças (já que se encontravam na infância da humanidade). Neste discurso, a cate- quese se auto jusficava. Dentre as Or- dens religiosas que veram importância no processo colonizador do Brasil desta- ca-se, acima de todas, a Companhia de Jesus, ou jesuítas. Isto não significa que outras irmandades como os Benedi- nos e os franciscanos não tenham do importância no Brasil, mas nenhuma delas se compara aos jesuítas. Os jesuítas Os jesuítas veram presentes em disn- tos campos de atuação na sociedade colonial: na relação com os povos na- vos, na oferta de educação e na produ- ção de disntos aspectos arscos. Con- tudo, embora fosse uma importante peça na engrenagem colonial e na afir- mação do poder Metropolitano, os jesu- ítas agiam, também, movidos por obje- vos da própria irmandade que vez ou outras se punham em conflito com ou- tros interesses presentes na sociedade colonial, o maior exemplo disso é a questão indígena. O primeiro contato dos jesuítas com os navos brasileiros foi marcado pelo entusiasmo dos primeiros em rela- ção aos segundos, ainda marcados pela visão do paraíso. Não passado muito tempo, os jesuítas passaram a defender a punição a determinados hábitos indí- genas e os aldeamentos como a única forma viável de salvação daquelas al- mas, esta visão foi aumentando na me- dida em que os colonos senam as agruras da vida nos trópicos e iam, pou- co a pouco, substuindo a visão do pa- raíso pela do inferno tropical. A práca dos aldeamentos e reduções indígenas entrou em choque com interesses de colonos que visavam escravizar os ín- dios e incorporá-lo ao circuito açucarei- ro. Devido a sua grandiosidade e impor- tância, os jesuítas despertavam, mesmo em outras irmandades, rivalidades. To- davia, o êxito do projeto jesuíta contava com dois importantes fatores: de um lado as conquistas materiais empreendi- das pela Ordem. De outro, uma estraté- gia evangelizadora que preconizava a disciplina e rigidez com os seus noviços, nisto se disnguiam das demais ordena- ções atuantes no Brasil, caracterizado pelo Padre Manoel da Nóbrega como permissivos. O método de aprendizado era calcado na disciplina férrea e repe- ção dos conteúdos, era terminantemen- te proibido qualquer ensinamento que não fosse autorizado pelos seus superi- ores. Ainda hoje, esta herança jesuíca pesa sobre o ensino e a educação brasi- leira. Para a formação de uma vasta base material e patrimônio, contribuí- ram diversos fatores: as sesmarias rece- bidas, o redizimo era desnado exclusi- vamente aos colégios jesuítas que por isso, gastavam mais da Coroa do que todas as demais irmandades juntas, diversas concessões régias, ulizava a mão-de-obra indígena para produzir cana ou extrair drogas do sertão, por exemplo. Somente os jesuítas eram responsáveis pela educação na colônia e mannham uma rede de escolas que chegou a contar com 21 unidades no Brasil, públicas e gratuitas. Todavia, a principal missão educava dos jesuítas era em sua rela- ção com os índios. A catequese e o alde- amento serão as prácas privilegiadas desta relação, já influenciada – a visão do jesuíta- pelo senmento do inferno tropical. Entendia-se que deveria se

Cultura e religião no brasil colônia

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Um breve debate sobre cultura e religiosidade no Brasil colonial.

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Page 1: Cultura e religião no brasil colônia

História do BrasilHistória do Brasil Prof. Lamarão

A vida cultural do Brasil colonial-

1. A importância da Igreja católica.

A religiosidade e a fé cristã

sempre foram traços marcantes da cul-

tura lusitana. A própria formação do

Reino Português se deu através de uma

guerra religiosa: a reconquista católica

frente aos mouros (mulçumanos) que

ocupavam a Península Ibérica. O engaja-

mento e a fidelidade ao catolicismo tan-

to do Rei de Portugal quanto do Rei de

Espanha conferiram-lhes o apelido de

Reis Católicos. Enquanto diversos países

passavam pelos processos conhecidos

como Reforma Religiosa e muitos Reis

acabam se convertendo as nascentes

religiões protestantes, em Portugal e

Espanha a força da Igreja Católica só

aumentava.

Durante mesmo o próprio perío-

do das grandes navegações a Igreja ca-

tólica teve um importante papel. Não só

como incentivadora, na medida em que

lhes possibilitava a conversão ao catoli-

cismo a novos povos, mas também co-

mo participante. A presença de clérigos

nos navios era constante. Serviam não

só para celebrarem missas, comemora-

rem dias santos, ou protegerem as em-

barcações das forças malignas, como

para regular a vida dos marinheiros con-

denando certos tipos de jogos, a prosti-

tuição, as leituras proibidas, etc. Reafir-

mavam o caráter divino que tinha as

grandes navegações. Além disso, alguns

marcos náuticos eram comemorados,

como a passagem pela linha do Equa-

dor, mantendo o clérigo importante

função no imaginário acerca destes fei-

tos.

Não obstante, a visão religiosa

também marcou o contato do homem

branco com os indígenas americanos e o

Novo Mundo, contribuindo, em um pri-

meiro momento, para a ideia de visão

do paraíso que mantinha as novas ter-

ras. Assim sendo, os índios eram pági-

nas em branco onde deveriam ser escri-

tos as palavras e os ensinamentos cris-

tãos, seja pelo aprendizado, seja pela

punição, pois eram tal e qual crianças

(já que se encontravam na infância da

humanidade). Neste discurso, a cate-

quese se auto justificava. Dentre as Or-

dens religiosas que tiveram importância

no processo colonizador do Brasil desta-

ca-se, acima de todas, a Companhia de

Jesus, ou jesuítas. Isto não significa que

outras irmandades como os Benediti-

nos e os franciscanos não tenham tido

importância no Brasil, mas nenhuma

delas se compara aos jesuítas.

Os jesuítas

Os jesuítas tiveram presentes em distin-

tos campos de atuação na sociedade

colonial: na relação com os povos nati-

vos, na oferta de educação e na produ-

ção de distintos aspectos artísticos. Con-

tudo, embora fosse uma importante

peça na engrenagem colonial e na afir-

mação do poder Metropolitano, os jesu-

ítas agiam, também, movidos por obje-

tivos da própria irmandade que vez ou

outras se punham em conflito com ou-

tros interesses presentes na sociedade

colonial, o maior exemplo disso é a

questão indígena.

O primeiro contato dos jesuítas

com os nativos brasileiros foi marcado

pelo entusiasmo dos primeiros em rela-

ção aos segundos, ainda marcados pela

visão do paraíso. Não passado muito

tempo, os jesuítas passaram a defender

a punição a determinados hábitos indí-

genas e os aldeamentos como a única

forma viável de salvação daquelas al-

mas, esta visão foi aumentando na me-

dida em que os colonos sentiam as

agruras da vida nos trópicos e iam, pou-

co a pouco, substituindo a visão do pa-

raíso pela do inferno tropical. A prática

dos aldeamentos e reduções indígenas

entrou em choque com interesses de

colonos que visavam escravizar os ín-

dios e incorporá-lo ao circuito açucarei-

ro. Devido a sua grandiosidade e impor-

tância, os jesuítas despertavam, mesmo

em outras irmandades, rivalidades. To-

davia, o êxito do projeto jesuíta contava

com dois importantes fatores: de um

lado as conquistas materiais empreendi-

das pela Ordem. De outro, uma estraté-

gia evangelizadora que preconizava a

disciplina e rigidez com os seus noviços,

nisto se distinguiam das demais ordena-

ções atuantes no Brasil, caracterizado

pelo Padre Manoel da Nóbrega como

permissivos. O método de aprendizado

era calcado na disciplina férrea e repeti-

ção dos conteúdos, era terminantemen-

te proibido qualquer ensinamento que

não fosse autorizado pelos seus superi-

ores. Ainda hoje, esta herança jesuítica

pesa sobre o ensino e a educação brasi-

leira. Para a formação de uma vasta

base material e patrimônio, contribuí-

ram diversos fatores: as sesmarias rece-

bidas, o redizimo era destinado exclusi-

vamente aos colégios jesuítas que por

isso, gastavam mais da Coroa do que

todas as demais irmandades juntas,

diversas concessões régias, utilizava a

mão-de-obra indígena para produzir

cana ou extrair drogas do sertão, por

exemplo. Somente os jesuítas eram

responsáveis pela educação na colônia e

mantinham uma rede de escolas que

chegou a contar com 21 unidades no

Brasil, públicas e gratuitas.

Todavia, a principal missão

educativa dos jesuítas era em sua rela-

ção com os índios. A catequese e o alde-

amento serão as práticas privilegiadas

desta relação, já influenciada – a visão

do jesuíta- pelo sentimento do inferno

tropical. Entendia-se que deveria se

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combater determinadas práticas consi-

deradas abomináveis, no caso dos indí-

genas o incesto e a antropofagia, práti-

cas comuns das sociedades indígenas.

As autoridades colônias eram mais rígi-

das quando se tratava da antropofagia:

puniram primeiro com a destruição e

depois com a escravidão.

O engajamento dos jesuítas

envolvia um grande esforço de assimila-

ção da cultura indígena. José de Anchi-

eta, padre jesuíta, será o primeiro a

propor a absorção de vocabulários tupi-

guarani para a explicação da religião

católica. Os usos de imagens, da música

e do teatro foram importantes formas

de pedagogia jesuítica. O uso de homo-

logias entre a mitologia indígena e a

cristão também fora outro recurso utili-

zado. Neste esforço de sistematização

de conhecimentos sobre a sociedade

Tupi, sistematizou uma gramática desta

língua.

Era fundamental introduzir no

cotidiano dos índios outra racionalida-

de, distinta da habitual. Racionalizações

do tempo, do espaço, do próprio corpo,

do corpo alheio, das relações familiares

e da própria natureza foram introduzi-

das com o objetivo de facilitar este pro-

cesso de “introdução” do índio na socie-

dade colonial. Duas eram as principais

regiões das reduções indígenas: A colô-

nia dos Sete Povos das Missões (atual

região sul e parte do centro oeste) e a

região Amazônica.

Os poderes angariados pelos

jesuítas eram tão grandes que não fo-

ram poucos os momentos de tensão

entre estes e outros elementos da colo-

nização. A revolta dos Beckman, por

exemplo, tem a Cia. De Jesus como alvo.

Durante o governo de Marquês de Pom-

bal, que visava centralizar o poder Me-

tropolitano, os jesuítas foram expulsos

de Portugal e colônias, tendo sido acu-

sados de conspirarem pela morte do rei

José I e de instigarem os índios a resisti-

rem contra a dominação portuguesa em

Sete Povos das Missões.

A Inquisição

Outro importante instrumento

de normatização e controle da Igreja

sobre a vida na colônia foi a Inquisição

(Tribunal do Santo Ofício). Esta consistia

em um tribunal religioso- bastante ativo

na Europa- cuja missão era investigar os

acusados de desvios à fé cristã. No terri-

tório europeu, servia de controle a uma

camada social específica: os cristãos-

novos que eram os judeus que foram

forçadamente convertidos ao cristianis-

mo para poderem permanecer vivendo

na Europa, em especial, na Espanha e

Portugal, países extremamente católi-

cos. Estes judeus que assumia publica-

mente o cristianismo, em sua intimida-

de, praticava, muitas das vezes, rituais

de sua religião original. Contudo, devido

ao importante papel que os judeus

exerciam no comércio, a Inquisição, ao

promover a expulsão de perseguição de

parte destes judeus, acabou sendo um

obstáculo econômico ao desenvolvi-

mento comercial português.

Algumas fases principais com-

punham o procedimento inquisitorial.

Iniciava-se pela denúncia, que podia ser

realizada por qualquer um a qualquer

outra pessoa ( indiferentemente de suas

classes sociais, contudo, esta certa

“democracia da denúncia” era somente

aparente sendo os acusados das classes

populares muito mais numerosos do

que os das elites). Caso a acusação fosse

considerada legítima, procedia-se a pri-

são do acusado, que passaria, posterior-

mente, por um interrogatório sendo

nelas utilizadas diversas técnicas de

tortura para a obtenção de informa-

ções. Por último, se procedia a aplicação

da sentença. Tudo que corria no proces-

so inquisitorial era considerado secreto,

não podendo ser revelado nunca. As

penalidades variavam desde penitencias

espirituais, passando por açoites e che-

gando a morte na fogueira. Aos clérigos

do Tribunal do Santo Ofício, no entanto,

não cabia à execução da pena, sendo

isto delegado à justiça secular.

Embora o Tribunal do Santo

Ofício tenha estado esporadicamente

no Brasil, seus efeitos sobre a popula-

ção colonial não foram poucos. O pri-

meiro “visitador” foi Heitor Furtado de

Mendonça que chegou ao Brasil em

1591 e visitou as capitanias de Bahia,

Pernambuco, Itamaracá e Paraíba. A

prática da delação era estimulada trans-

formando o espaço colonial, neste perí-

odo, um lugar de medo e desconfiança.

Até mesmo os escravos poderiam fazer

denúncias contra os seus senhores!

Contudo, evitavam fazê-lo com medo

de represálias. Contudo, o auge da In-

quisição no Brasil ocorreu ao longo do

período minerador quando 300 pessoas,

dentre elas inúmeros cristãos-novos,

que viviam na colônia, foram parar nos

cárceres de Lisboa. Assumindo para si o

papel de justiça realizado pela Inquisi-

ção, o Marques de Pombal redefine este

instrumento, incorporando-o ao Estado

Português. A ação inquisitorial foi, efeti-

vamente, abolida no território colonial

com o Tratado de Aliança e Amizade

assinado entre Portugal e Inglaterra.

Outras ordens religiosas no

Brasil colônia.

As demais Ordens Religiosas

que atuavam na Colônia, embora de

orientações distintas, tinham um traço

em comum, distinto dos jesuítas: a for-

mação eclesiástica deficitária. Isto influ-

enciava diretamente no chamado clero

secular, a saber, o baixo Desta maneira,

não era incomum que padres vivessem

tal e qual os leigos, não respeitando o

celibato e mantendo, por vezes, casa-

mentos públicos.

Se os dízimos permitiam uma

vida razoavelmente confortável, estes

eram direcionados pela Coroa, que pou-

co fazia sobrar para o chamado clero

secular (baixo clero). As condições eco-

nômicas de muitos destes padres tam-

bém não eram das mais abastadas ten-

do que, em muitos casos, o clérigo ter

que se ocupar de outras funções econô-

micas seculares como o cultivo da terra

Page 3: Cultura e religião no brasil colônia

e/ou exploração de metais preciosos.

Estas práticas eram alvos de críticas de

muitos colonos. Além disso, a influência

da Igreja sobre o trabalho na colônia era

direto, através da instituição de diversos

feriados e dias santos que chegaram,

presume-se, a um quarto dos dias do

ano.

2. A literatura no Brasil.

Durante o período colonial,

devido a falta de universidades no Brasil

e de uma Imprensa, a literatura colonial

foi produzida, majoritariamente por

autores cuja influência da Metrópole

corria desde sua nascença ou de quan-

do foram se educar em Portugal. Dife-

rentemente da Colônia espanhola na

América que, desde muito cedo, tratou

de espalhar Universidades pelo seu ter-

ritório colonial, bem como certo funcio-

namento da imprensa. Adiciona-se a

este quadro o fato de parcela majoritá-

ria da população brasileira ser, á época

e por durante muito tempo, analfabeta.

Somente no século XVIII têm-se notícias

da organização de expressivas bibliote-

cas particulares. Quanto a autores brasi-

leiros, que produzem e são lidos no Bra-

sil, isto se dará, com mais fôlego, a par-

tir do século XIX.

Portanto, grande parte daquilo

que era escrito no e sobre o Brasil, inici-

almente, se deu através dos cronistas

de viagem, sendo este conjunto de tex-

tos, ainda hoje, expressiva fonte de pes-

quisa e informação por parte de histori-

adores e outros pesquisadores sociais.

Além disso, havia as obras com cunho

religioso.

Nem tudo era religião. Muitas

vezes, havia a literatura que era crítica a

ela. Era o caso de Gregório de Matos

(1633-1695) que foi, através de sua poe-

sia, de estilo barroco, um crítico ferre-

nho da Igreja na colônia tendo, por isso,

ganhado o apelido de Boca do Inferno e

sido degredado para a Angola. Já no

século seguinte (XVIII), o desenvolvi-

mento literário manterá intima relação

com o surgimento das Academias Lite-

rárias, tendo isto contribuído para o

desenvolvimento de um novo estilo

literário; o Arcadismo. Representava

uma reação ao barroco e já adiantava

uma transição a outro estilo: o roman-

tismo presente na chamada segunda

fase do arcadismo. Esta virada do arca-

dismo tem como contexto de fundo o

crescimento do antilusitanismo e coinci-

de com a instalação das Cortes no Bra-

sil, em 1808. A partir de 1808, com a

vinda da Corte e de literatos e outros

artistas, as fundações de importantes

Escolas superiores e a permissão do

funcionamento da Imprensa no Brasil,

permitirá certo desenvolvimento das

letras ainda no final do período colonial.

3. As raízes da música

No que diz respeito às origens indígenas

de nossa música, pesa sobre o tema um

paradoxo: ao mesmo tempo que não

podemos deixar de considerar sua influ-

encia, a ausência de vestígios desta mu-

sicalidade, impede um aprofundamento

mais apurado desta origem. Todavia, é

sabido desde a chegada dos portugue-

ses e a Carta de Caminha que havia den-

tre os índios o hábito do canto e da

dança. A musicalidade está presente nas

festas, enterros e diversos rituais, com

predominância dos instrumentos de

sopro e de percussão. As flautas, em

alguns casos, eram produzidas com osso

e, por isso, foram rejeitadas pelos jesuí-

tas, bem como os instrumentos de per-

cussão indígena, ainda mais quando

passaram a compor a visão de que estas

eram manifestações demoníacas. É sabi-

do o papel que a música exerce na cate-

quese indígena.

Fortuitamente e por outro la-

do, elementos da musica vinda da África

ainda se fazem presentes em nossa mú-

sica, em especial no seu aspecto percus-

sivo. Para que isto ocorresse contribuiu

o fato de que os negros foram bastante

habilidosos em associar seus orixás aos

santos católicos, introduzindo, desta e

de outras formas, diversos ritmos afros

na cultura brasileira, é o caso de ritmos

como o maracatu, a umbigada, o ca-

xambu, entre tantas. Os negros também

mostravam suas habilidades em instru-

mentos europeus, participando de ban-

das militares. Assim, a influencia negra

na criação de ritmos, melodias, harmo-

nias, danças e instrumentos para a mú-

sica brasileira é bastante significativa,

diferente dos índios. Esta diferença se

explica, sobretudo, ao fato de o negro

ter sido submetido a integração com-

pulsória a sociedade colonial, através da

escravidão.

A música erudita era também

praticada no Brasil colonial e tinham

como público alvo as elites coloniais. Já

os setores populares tinham no fado a

sua expressão musical mais significativa.

Em um processo conhecido como circu-

laridade cultural, é possível afirmar que

a música erudita também chegava a

setores populares dos colonos, como a

música popular também atingia as elites

coloniais.

A mineração do ouro permitiu

à região mineira a proliferação de espa-

ços musicais. A cidade de Vila Rica

(Ouro Preto) viu surgir uma Casa da

Ópera onde, atualmente, se encontra o

Teatro Municipal. Também São João del

Rey serviu de sede a existência de duas

orquestras até hoje em atividade: a Or-

questra Lira Sanjoanense, fundada em

1776; e a Orquestra Ribeiro bastos, fun-

dada em 1790.

4. As artes plásticas

As primeiras manifestações de escultu-

ras e pinturas no Brasil eram comple-

mentares a decoração de Igrejas e edifí-

cios e, em geral, muitos destes artistas

permaneceram no anonimato. Contudo,

em determinadas localidades não só é

possível identificar a autoria de distintas

obras de arte, como traços em comum

entre os diversos artistas naquela regi-

ão. Neste sentido, é possível falar em

uma escola baiana de artes plásticas

que teve em Francisco Chagas- o Cabra-

o seu principal representante. È de sua

autoria a obra denominada o Cristo da

Page 4: Cultura e religião no brasil colônia

Coluna. Por ser negro, contudo, era des-

prezado pela elite branca.

Novamente será a região das

minas o principal espaço de produção

das artes plásticas. Estimulou este pro-

cesso a profusão de majestosas Igrejas

na região que requeria destes artistas

muitas obras sacras. O pintor português

Antônio Francisco Pombal foi o respon-

sável pela pintura interna da Matriz

Nossa Senhora do Pilar.

O mais notório artista plásti-

co da região fora, contudo, Antônio

Francisco Lisboa, mais conhecido como

Aleijadinho. Conhecido por obras como

os Doze apóstolos. Importante notar

que Aleijadinho mantinha uma oficina

de artes onde, com ele, trabalhavam

alguns escravos.

5. A arquitetura no Brasil

A arquitetura colonial segui-

rá, por bastante tempo, modelos bas-

tante rústicos. Na cidade de Salvador,

tem-se registro de quatro tipos de edifi-

cações: as casas de moradia, os edifí-

cios públicos, as fortificações e os pré-

dios religiosos. Sem dúvida alguma, so-

brepujavam-se neste cenário os prédios

religiosos, mais preocupados com a os-

tentação do que os demais. Na cidade

do Rio de Janeiro, destaca-se a Igreja de

São Bento, obra de peculiar trato artísti-

co, tendo sua parte interna toda traba-

lhada em ouro.

Já as fortificações militares

seguiam um padrão defensivo contra

invasores, indígenas e corsários, em

geral, representada por fortificações de

pedras. As casas eram simples, em geral

térreas, com espaços indivisos, ausência

de portas. Havia também o caso de fa-

zendeiros que praticavam a dupla mora-

dia, ou seja, mantinham uma casa na

cidade, para o trato do comércio, casas

altivas, decoradas com pedras importa-

das, enquanto suas edificações rurais

seguiam um padrão mais simples. A

chegada da Corte portuguesa, em 1808,

modificará, substancialmente, este ce-

nário.