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Anexo 3 EXCERTOS Excerto 1 A velha bordadeira No olhar fios de lua No rosto a ruga a crescer E na mão curvada e nua Jeito de flor a nascer. No dorso o monte dos anos Recorta a forma da terra. Toalha de finos panos Prolonga as noites da serra. (…) Teu destino bordadeira É de mulher, deusa ou fada? (…) ANDRADE, Irene Lucília, Ilha que é Gente Excerto 2 Testemunho Cada ruga que trago No meu rosto Conta a história Da lágrima que a sulcou Do sorriso que a beijou Dos amores que então floriram Das carícias que lhe sorriram Do destino que a traçou Mil experiências vividas Mil sensações No meu rosto reflectidas Agosto 97 SOUTO, Teresa, Um olhar além de mim

Excertos

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Page 1: Excertos

Anexo 3 EXCERTOS Excerto 1

A velha bordadeira

No olhar fios de luaNo rosto a ruga a crescerE na mão curvada e nuaJeito de flor a nascer.

No dorso o monte dos anosRecorta a forma da terra.Toalha de finos panosProlonga as noites da serra.(…)Teu destino bordadeiraÉ de mulher, deusa ou fada?(…)

ANDRADE, Irene Lucília, Ilha que é Gente

Excerto 2

Testemunho

Cada ruga que tragoNo meu rostoConta a históriaDa lágrima que a sulcouDo sorriso que a beijouDos amores que então floriramDas carícias que lhe sorriram Do destino que a traçou

Mil experiências vividasMil sensaçõesNo meu rosto reflectidas

Agosto 97SOUTO, Teresa, Um olhar além de mim

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Regulamento Passatempo Flashes Literários 2.º, 3.º Ciclos do Ensino Básico e Secundário

Excerto 3

Animais domésticos

(…) As nuvens ficam-se pelo azuldo céu, debruçadas sobre as asas dos ventos,e, na sua renúncia ao alarido das cidades,regressam em silêncioao topo das montanhas.

Levam consigo o reflexo do mundo.Isto é, um pedaço de luz, uma mão de sombrase o registo calado das vidas passadasde todas as multidões.

GONÇALVES, José António, Memórias da casa de Pedra

Excerto 4

A casa

“Era uma vez uma casa que vivia sozinha no meio do campo de uma ilha tão bonita que parecia impossível existir. Era uma casa simples, pintada de branco e com flores vermelhas e violeta que cresciam nos canteiros em redor, ou que trepavam pelas paredes da casa como se a estivessem a abraçar.

A casa tinha um alpendre de onde se via o mar e alcançava outras ilhas que por ali existiam em redor. Era um mar muito azul e bonito, que parecia viver em alegre amizade com o céu onde sorria quase permanentemente um sol muito simpático e amarelo.

Nessa casa simples não havia luz elétrica e por isso, à noite, aparecia a lua para vir iluminar os jardins da casa e entrar pelas janelas para, junto com a luz das velas e dos candeeiros a petróleo, fazer com que as pessoas que lá viviam pudessem estar sem ser às escuras.”

CRUZ, António, Sopa de Letras

Excerto 5

De caminho para a sua aldeia, Luís e Marta, seus filhos, olhavam boquiabertos para as serras verdejantes com variadas árvores que pareciam cumprimentá-los e espreitavam os rochedos clarificados pelo sol, imitando barreiras de luz que, vistas à distância, se confundiam com o céu azul. Entusiasmados com a paisagem, os pequenos sentiam crescer dentro do peito uma força apelativa que os atraía, convidando-os a saltar e a correr através desse tapete de verdura que pisavam e lhes apresentava mil e uma descobertas.

Maria Gizela Dias – “Saudade dum emigrante” in Ao compasso da vida (verdade e sonho), pp.

23-24

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Excerto 6

O pequeno avião começou a descer para a pista. Mónica fechou os olhos mas abriu-os logo a seguir. Não queria perder nada.

Durante o verão lera dois romances policiais escritos pela tia. Lembrou-se de uma frase de um dos livros, que não entendera na altura mas que agora começava a fazer sentido. Tinha a ver com paisagens. Com a necessidade de sonhar com uma paisagem antes de vê-la.

Nas últimas noites sonhara com a ilha do Porto Santo.Imaginara-a muitas vezes, uma ilha dourada e plana, com uma longa praia de areia. E

aquilo que via pela janela do avião não era muito diferente da sua ilha imaginária.O céu estava ligeiramente nublado mas não havia sinais de chuva. Um pouco de vento. Mónica sentiu-se contente ao pôr de novo os pés em terra firme. Era inquietante viajar

num avião tão pequeno. Mas a viagem entre a Madeira e o Porto Santo durava apenas uns quinze minutos. […]

Ana Teresa Pereira – A Casa da Areia¸ pp. 13 e 14

Excerto 7

[…] A Margarida, a Becas, o JP e o Rodrigo precipitaram-se para a água. Encontraram-na límpida e morna.Mergulhos e braçadas, muitas respingas e gargalhadas, animaram os quatro amigos

durante alguns minutos, após o que decidiram regressar e estender-se nas toalhas espalhadas no areal.

[…] Os quatro amigos, estendidos nas toalhas, não deixavam de apreciar tudo o que os rodeava e a exuberância com que a natureza dotara aquela enseada.

À sua volta, muitos veraneantes, locais e estrangeiros, não fosse aquela praia um dos destinos diários mais apetecidos dos madeirenses e dos visitantes.

Estendendo a vista até mais longe, no sentido Oeste, era possível descortinar um elevado promontório […]

Francisco Fernandes – O Enigma da Casa das Mudas¸ p. 47 à 49

Excerto 8

[…]Tinham chegado na manhã do dia anterior e passaram a tarde desse dia a visitar os

lugares do interior, parando o carro e fazendo longos percursos a pé. Se não fossem as casas, aquela paisagem não seria muito diferente do tempo da formação da ilha. Havia algo profundo e misterioso naqueles lugares, como se toda a natureza fosse um único ser vivo pulsando em silêncio. Dava a sensação de estar dentro de um sonho antigo, […]

António Fournier - A barreira coralina, p. 11

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Excerto 9

Se reparares bem

Se reparares bemVais ver que o solPara além de te iluminarTambém sorri para ti

Aproxima-te do marSaboreia pelo menos Uma das suas gotasSente como ele te falaE as coisas bonitas que diz

E a beleza das montanhasCom esse cheiroTão característicoEsse verdeE essa humidadeAcariciaCada palmo de terra E deixa-te envolverEm toda essa magia

E à noiteOlha para o céuAprecia O encanto do universoDescobre a sua sabedoriaA sua alegriaE verásQue todos os astrosDançam para ti.

Policarpo Nóbrega - Abre-te ao mundo, p. 27