144
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES Mestrado Profissional em Saúde Pública Maria Auxiliadora de Sá Magalhães EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA: UM ESTUDO DE PERCEPÇÃO DE RISCOS Á SAÚDE DOS TRABALHADORES RURAIS NO DISTRITO DE PAU FERRO – SALGUEIRO-PE RECIFE 2010

Exposição a agrotóxicos na atividade

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A maioria dos trabalhadores rurais desconhece os riscos que os agrotóxicos podem ocasionar na saúde humana; misturam mais de um produto, utilizando as próprias mãos, sem proteção para manipular os produtos; adquirem os produtos sem orientações técnica qualificada e em locais não autorizados para comercializar; guarda incorretamente os produtos, normalmente em sua residência, junto com objetos pessoais e com acesso facilitado ou expostos nas propriedades, nas áreas de aplicação; não utilizam equipamentos de proteção individual durante a aplicação dos agrotóxicos e na presença de pessoas próximas. É possível verificar a participação de toda a família no trabalho rural, incluindo marido, esposa e filhos Procurando analisar a percepção dos trabalhadores rurais acerca dos riscos e danos à saúde decorrentes da exposição a agrotóxicos, esse estudo será conduzido procurando responder as seguintes questões: Qual a percepção dos trabalhadores rurais sobre os riscos à saúde decorrentes da exposição a agrotóxicos? Como os riscos decorrentes da exposição a agrotóxicos, no processo de trabalho agrícola, comprometem a saúde dos trabalhadores?

Citation preview

Page 1: Exposição a agrotóxicos na atividade

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES

Mestrado Profissional em Saúde Pública

Maria Auxiliadora de Sá Magalhães

EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS NA ATIVIDADE

AGRÍCOLA: UM ESTUDO DE PERCEPÇÃO DE RISCOS Á

SAÚDE DOS TRABALHADORES RURAIS NO DISTRITO DE

PAU FERRO – SALGUEIRO-PE

RECIFE

2010

Page 2: Exposição a agrotóxicos na atividade

MARIA AUXILIADORA DE SÁ MAGALHÃES

EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA: UM E STUDO

DE PERCEPÇÃO DE RISCOS Á SAÚDE DOS TRABALHADORES RURAIS NO

DISTRITO DE PAU FERRO – SALGUEIRO-PE

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Saúde Pública do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Osvaldo Cruz para obtenção do grau de mestre em Ciências.

ORIENTADORA: IDÊ GOMES DANTAS GURGEL

RECIFE

2010

Page 3: Exposição a agrotóxicos na atividade

Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

M188e

Magalhães, Maria Auxiliadora de Sá.

Exposição a agrotóxicos na atividade agrícola: um estudo de percepção de riscos á saúde dos trabalhadores rurais no Distrito de Pau Ferro – Salgueiro/PE/ Maria Auxiliadora de Sá Magalhães. — Recife: M. A. S. Magalhães, 2010.

146 f.: il. Dissertação (Mestrado profissional em saúde pública) - Centro

de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, 2010. Orientadora: Idê Gomes Dantas Gurgel. 1. Percepção. 2. Riscos Ocupacionais. 3. Trabalhadores Rurais.

4. Exposição a Praguicidas. 5. Vigilância em Saúde do Trabalhador. I. Gurgel, Idê Gomes Dantas. II. Título.

CDU 331.47

Page 4: Exposição a agrotóxicos na atividade

MARIA AUXILIADORA DE SÁ MAGALHÃES

EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA: UM E STUDO

DE PERCEPÇÃO DE RISCOS Á SAÚDE DOS TRABALHADORES RU RAIS NO

DISTRITO DE PAU FERRO – SALGUEIRO-PE

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Saúde Pública do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Osvaldo Cruz para obtenção do grau de mestre em Ciências.

Aprovado em: ____ / ____/ ____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Dr. Ronaldo Faustino da Silva

IFPE – Departamento Acadêmico de Infra Estrutura e Construção

________________________________________________

Profª Drª Lia Giraldo S. Augusto

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ

_________________________________________________

Profª Drª. Idê Gomes Dantas Gurgel

Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães/FIOCRUZ

Page 5: Exposição a agrotóxicos na atividade

AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as coisas boas que tenho o prazer de alcançar nessa vida.

Aos meus pais, Ulisses e Maria, por me prepararem para sempre seguir em frente,

apesar das dificuldades encontradas durante os caminhos percorridos.

A professora e orientadora Dra. Idê Gurgel, pelos ensinamentos, paciência,

disponibilidade e apoio dedicado durante a realização do estudo.

Ao corpo docente do Mestrado Profissional em Saúde Pública, pelas aulas proferidas,

pela experiência repassada aos alunos e a ajuda nos diversos momentos.

Ao meu marido Doriedson, pela paciência de saber esperar a passagem dessa

importante etapa da minha vida, pela compreensão nos momentos de ausência em nossa casa

e palavras de força recebidas nas horas em que o cansaço já não permitia continuar

trabalhando.

Ao Gerente Geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária - APEVISA, Sr.

Jaime Brito, por acreditar na realização desse trabalho e dar condições para que eu pudesse

me deslocar e participar das várias atividades contempladas durante a realização do curso.

A Gerente Regional da VII GERES, Maria do Carmo por ter permitido ausentar-me do

serviço por várias vezes para dedicar-me ao mestrado profissional em saúde publica.

Aos colegas da Vigilância em Saúde da VII GERES, em especial a Amâncio, David e

Auxiliadora Veras, pelo companheirismo e coleguismo obtidos em horas de trabalho e ajuda

prestada nos momentos de dúvida.

A minha irmã, Graça pela amizade e hospitalidade com que me acolheu no transcorrer

do mestrado.

Aos colegas do curso, pela amizade adquirida e pelos vários momentos vivenciados no

decorrer das atividades.

A Secretaria de Saúde do município de Salgueiro, pelo apoio e confiança recebida.

A colega Gertrudes Monteiro, pela ajuda recebida na estruturação do questionário e

analise dos dados no EPI INFO.

A equipe de Unidade de Saúde da Família do Distrito do Pau Ferro, em especial a

enfermeira Marcela e aos agentes comunitários de saúde Willian, Albertina, Márcia, Geruza,

Page 6: Exposição a agrotóxicos na atividade

Joaquina, Edite, Sandra e Francisca Rosa, pela disponibilidade e vontade com que ajudaram

na coleta de dados desse estudo.

Aos trabalhadores rurais do Distrito de Pau Ferro, Salgueiro-PE, sem os quais este

trabalho não seria possível.

Aos amigos, que souberam compreender e respeitar este meu momento de estudante.

Page 7: Exposição a agrotóxicos na atividade

"[...] meu papel no mundo não é só o de quem constata o

que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito

de ocorrências. [...]. No mundo da História, da cultura, da

política, constato não para me adaptar, mas para mudar."

Paulo Freire

Page 8: Exposição a agrotóxicos na atividade

__________________________________________________________________________

MAGALHÃES, Maria Auxiliadora de Sá. Exposição a agrotóxicos na atividade agrícola: um estudo de percepção de risco à saúde dos trabalhadores rurais no Distrito de Pau Ferro – Salgueiro/PE. 2010. Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde Pública) - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2010. ___________________________________________________________________

RESUMO

O objetivo deste estudo e analisar a percepção dos trabalhadores rurais a cerca dos riscos e danos à saúde decorrentes da exposição a agrotóxicos. O estudo foi realizado no Distrito de Pau Ferro, município de Salgueiro-PE e os sujeitos da pesquisa foram os trabalhadores rurais cadastrados na Associação dos Trabalhadores Rurais do Pau Ferro. A condução da pesquisa se deu em dois momentos, sendo o primeiro preliminar e de caráter quantitativo. Etapa que teve como finalidade realizar um diagnóstico inicial da situação de utilização e exposição aos agrotóxicos e caracterizar o perfil sócio-econômico dos trabalhadores rurais. O segundo momento do estudo teve caráter qualitativo, tendo a finalidade de entender o processo de produção agrícola, as práticas e atitudes dos trabalhadores durante a utilização de agrotóxicos, identificando a percepção desses trabalhadores rurais quanto aos riscos e danos à saúde decorrente da exposição a agrotóxicos. Os dados quantitativos foram coletados através de questionário e para a abordagem qualitativa utilizou-se técnicas de entrevistas e observação participante. Os resultados mais significativos demonstraram que as praticas e atitudes dos trabalhadores rurais se configuram por representarem riscos potenciais à saúde. Em geral os riscos e danos a saúde decorrentes a exposição a agrotóxicos é identificado pelos trabalhadores rurais, mas existe uma longa distância entre os riscos que eles consideram reais e os riscos por eles percebidos. Essa distância é preenchida por crenças e ou costumes que influenciam o comportamento dos trabalhadores em relação ao seu convívio com os agrotóxicos. Os agravos a saúde referidos pelos sujeitos da pesquisa tem relação com a exposição a agrotóxicos. O estudo, ao articular a experiência no manejo do agrotóxico e seu contexto de produção, revela para a necessidade de implementação de programas de vigilância e promoção da saúde que reconheçam a natureza simbólica das práticas dos sujeitos sociais. Palavras chaves: Percepção. Riscos Ocupacionais. Trabalhadores Rurais. Exposição a Praguicidas. Vigilância em Saúde do Trabalhador

Page 9: Exposição a agrotóxicos na atividade

__________________________________________________________________________

MAGALHÃES, Maria Auxiliadora de Sá. Exposure to pesticides in agriculture: a study of perceived risk to the health of rural workers in the district of Pau Ferro-Salgueiro/PE. 2010. Dissertação (Mestrado Profissional em Saúde Pública) - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2010 ___________________________________________________________________________

ABSTRACT

This study aims to analyze the rural workers perception regarding health risks and hazard due to pesticide exposition. The study was carried out in the district of Pau Ferro, Municipality of Salgueiro- PE, and the subjects were the rural workers enrolled in the Rural Workers Association of Pau Ferro. The work was done in two phases, being the first one preliminary and of quantitative character. This phase aimed to make an initial diagnosis of the pesticide usage and exposition situation, and to characterize the socio-economical profile of the rural workers. The second phase had a qualitative character, aiming to understand the agricultural production process, practices and attitudes of the workers regarding health risk and hazard due to the pesticide exposition. The quantitative data were collected through a questionnaire and qualitative approach interview techniques and participative observation were used. The most significant findings show that the practices and attitudes of the workers are characterized by representing potential risks to their health, many of them identified by the rural workers; however there is a gap between the real risks, and the ones which are perceived by them. This gap is fulfilled by beliefs and habits which influence the rural workers behaviors regarding their livelihood with the pesticide. The study, articulating the pesticide handling and its production context, reveals the necessity of the implementation of surveillance programs and health promotion which recognize the symbolic nature of these practices and the social subjects. Key words: Perception. Occupational Risks. Rural Workers. Pesticide Exposure. Surveillance of the Workers Health.

Page 10: Exposição a agrotóxicos na atividade

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 01: Condensação de Significados com Unidades Naturais de Análise, seus

Temas Centrais e a Descrição Essencial 64

Figura 01 - Localização do município de Salgueiro no mapa de Pernambuco. 66

Figura 02 - Mapa do município de Salgueiro-PE 67

Figura 03 - Vila Pau Ferro - Salgueiro-PE 69

Figura 04 - Cultura de cebola 69

Figura 05 - Plantações próximas as residências 69

Figura 06 - Trabalhadores rurais em momento de descontração sentado no meio das

plantações de cebola 70

Figura 07- Proximidades dos lotes de plantação 70

Quadro 02- Características Pessoais dos Trabalhadores Rurais do Distrito De Pau

Ferro- Salgueiro-PE , Ano 2009. 71

Quadro 03 – Condições Gerais de Vida dos Trabalhadores Rurais do Distrito De Pau

Ferro- Salgueiro-PE, Ano 2009. 72

Quadro 04 – Condições de Atividade agrícola - Processo de Produção dos

Trabalhadores Rurais do Distrito de Pau Ferro, Salgueiro-PE, ano 2009 74

Gráfico 01 – Função exercida pelos trabalhadores rurais do Distrito de Pau Ferro,

Salgueiro-PE, ano 2009. 75

Figura 08 - Equipamento utilizado para aplicar agrotóxico armazenado no campo 76

Figura 09 - Preparação de agrotóxicos 77

Figura 10 - Aplicação de agrotóxicos sem EPI 77

Figura 11- Objetos pessoais e água de consumo armazenados próximo aos agrotóxicos 79

Gráfico 02 - Tempo de carência adotada pelos trabalhadores rurais entre a ultima

aplicação de agrotóxicos e a colheita. Distrito de Pau Ferro- Salgueiro-PE, Ano 2009. 79

Quadro 05 - Morbidade\sintomas referidos pelos trabalhadores rurais do Distrito do

Pau Ferro, Salgueiro-PE, ano de 2009 81

Gráfico 03 - Morbidade da população da comunidade do Pau Ferro percebida pelos

trabalhadores rural.

82

Page 11: Exposição a agrotóxicos na atividade

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo a DL 50 e cores dos

rótulos das embalagens

29

Tabela 02 - Relação entre Risco, Toxicidade e Exposição 41

Tabela 03 - Distribuição do número de casos de intoxicações por agrotóxicos,

período de 1999-2007, no Brasil, segundo dados do SINITOX (Série 1999- 2007)

43

Tabela 04 - Distribuição do número de casos de intoxicações por agrotóxicos de uso

agrícola, em circunstâncias ocupacionais e tentativa de suicídio, no período de 1997-

2007, em Pernambuco, segundo dados do SINITOX (Série 1999- 2007)

43

Tabela 05 – Relação de tipos de exposição a agrotóxicos, sinais e sintomas clínicos

que podem ocorrer 45

Tabela 06 - Práticas de trabalho e medidas de segurança adotadas pelos trabalhadores

rurais durante a utilização de agrotóxicos. Distrito de Pau Ferro, Salgueiro-PE, Ano

2009

77

Tabela 07 - Agrotóxicos mais utilizados pelos trabalhadores rurais do Distrito de Pau

Ferro, Salgueiro- PE, Ano de 2009

79

Page 12: Exposição a agrotóxicos na atividade

SUMÀRIO

1INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................... 23

2.1 Agrotóxicos: uma abordagem da sua história, conceitos, classificação e usos..... 23

2.1.1 Conceitos, terminologias e finalidades .................................................................... 23

2.1.2 História dos agrotóxicos........................................................................................... 25

2.1.3 Classificação dos agrotóxicos................................................................................... 27

2.1.3.1 Classificação dos agrotóxicos quanto a sua ação e grupo químico...................... 27

2.1.3.2 Classificação dos agrotóxicos quanto a sua toxicidade........................................ 29

2.2 Exposição a agrotóxicos............................................................................................. 30

2.2.1 Processo de produção rural e impactos na saúde do trabalhador.............................. 30

2.3 Percepção de riscos à saúde no uso de agrotóxicos................................................. 34

2.3.1 Entendendo o que é risco ......................................................................................... 35

2.3.2 Do risco real ao risco percebido............................................................................... 37

2.3.3 Riscos à saúde e sua relação com a exposição a agrotóxicos no trabalho rural...... 40

2.4 A construção do campo de saúde do trabalhador no Brasil e a Implantação da

Vigilância em Saúde do Trabalhador: desafios para o SUS........................................ 45

3 OBJETIVOS ................................................................................................................. 56

3.1 Objetivo Geral ........................................................................................................... 56

3.2 Objetivos Específicos................................................................................................. 56

4 MATERIAL E MÉTODO............................................................................................ 57

4.1 Desenho do estudo...................................................................................................... 57

4.2 Área do Estudo........................................................................................................... 57

4.3 População do Estudo................................................................................................. 58

4.4 Período do Estudo..................................................................................................... 59

4.5 Fontes de Dados e Instrumentos de Coleta............................................................. 59

4.6 Analise dos dados ..................................................................................................... 62

4.7 Considerações Éticas ................................................................................................ 65

Page 13: Exposição a agrotóxicos na atividade

5 RESULTADOS... ......................................................................................................... 66

5.1 Aspectos históricos, econômico e territorial do Município de Salgueiro-PE....... 66

5.2 Conhecendo o Distrito de Pau Ferro – Salgueiro-PE............................................. 67

5.3 Características da População do estudo ................................................................. 70

5.3.1 Características individuais........................................................................................ 70

5.3.2 Condições Gerais de Vida......................................................................................... 71

5.3.3 Condições de Atividade Agrícola e Processo de produção...................................... 73

5.3.3.1 Caracterização do uso de agrotóxicos pelos trabalhadores rurais: Práticas e

atitudes adotadas na utilização de agrotóxicos ................................................................

75

5.3.4 Aspectos de Saúde.................................................................................................... 80

5.3.4.1 Condições de saúde referida pelos trabalhadores rurais ..................................... 82

5.3.4.2 Morbidade da população da comunidade do Pau Ferro referida pelos

trabalhadores rurais.......................................................................................................... 81

5.4. Trabalho agrícola, uso de agrotóxicos e riscos à saúde: a percepção dos

trabalhadores rurais ....................................................................................................... 83

5.4.1.1 Influências na escolha da profissão e a satisfação com o trabalho rural............. 83

5.4.2. A incorporação da tecnologia do uso de agrotóxicos na cultura da cebola e a

resistência para adotar novas tecnologias.......................................................................... 83

5.4.3. O manejo com agrotóxicos na rotina dos trabalhadores rurais................................ 87

5.4.4. Exposição a agrotóxicos na atividade agrícola e riscos à saúde: a percepção dos

trabalhadores rurais............................................................................................................ 94

6 DISCUSSÃO.................................................................................................................. 98

7 CONCLUSÃO............................................................................................................... 112

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 114

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 115

Page 14: Exposição a agrotóxicos na atividade

APÊNDICES.................................................................................................................... 125

APÊNDICE A – Questionário aplicado entre os trabalhadores rurais........................... 126

APÊNDICE B – Modelo do termo de Consentimento Livre e Esclarecido utilizado

para os questionários....................................................................................................... 138

APÊNDICE C – Modelo do termo de Consentimento Livre e Esclarecido utilizado

para as entrevistas............................................................................................................ 140

APÊNDICE D – Roteiro para as entrevistas................................................................ 142

...ANEXOS........................................................................................................................ 143

...ANEXO A – Carta de Anuência VII GERES................................................................ 144

...ANEXO B – Carta de Anuência Secretaria de Saúde de Salgueiro............................... 145

...ANEXO C – Parecer do CEP-CPQAM.......................................................................... 146

Page 15: Exposição a agrotóxicos na atividade

15

1 INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo tem se percebido inúmeras mudanças nas formas, processos e

relações de trabalho. A incorporação de novas descobertas tecnológicas e organizacionais

vem contribuindo para a efetivação dessas mudanças (SILVA et al., 2005).

A atividade agrícola é sem dúvida uma das mais antigas e se configura como uma

maneira de atender as necessidades do homem, supondo uma interação de equilíbrio com o

ambiente (ELHERS, 1999). Tal atividade que por séculos se constitui o meio de vida dos

agricultores e suas famílias passam a ser orientada para uma atividade comercial, onde o

objeto finalista é o aumento da produtividade.

Elhers (1999) descreve que entre os séculos XVIII e XIX, ocorre na Europa a Primeira

Revolução Agrícola. Essa Revolução vem marcar o início das mudanças no processo

produtivo. É nesse momento que ocorrem mudanças tecnológicas, provocando um

crescimento considerável na agricultura, o que a torna bem mais lucrativa.

No século XX, continua intenso o processo de mudança, com destaque para as

descobertas da ciência que vem favorecer a introdução dos agroquímicos no campo, em

especial os agrotóxicos e a introdução das biotecnologias, destacando-se os organismos

geneticamente modificados (SILVA et al., 2005). Esses fatores dão início ao que se chamou

Segunda Revolução Agrícola (ELHER, 1999).

A Segunda Revolução Agrícola traz algumas conseqüências para a produção agrícola,

uma vez que provocou o abandono das técnicas de sistemas rotacionais de produção e

desvincula a produção agrícola da pecuária. A utilização de animais passa a não ser mais

necessária para fertilizar o solo, sendo esse procedimento substituído pela aplicação de

produtos industrializados (MACARIO, 2001).

A partir da Segunda Guerra Mundial observa-se que a utilização de substâncias

organossintéticas que tem como objetivo controlar a infestação de pragas e doenças na

produção agrícola passa a ser largamente utilizadas (GARCIA, 2001). A agricultura

convencional se expande nos países desenvolvidos, principalmente com o aumento da

produtividade agrícola. As crescentes inovações e o aprimoramento do pacote tecnológico

com a entrada definitiva da indústria no campo trazem para ele uma característica mais

moderna. O pico máximo desse modelo tecnológico ocorre na década de 70 e é chamado de

Revolução Verde (MACARIO, 2001).

Page 16: Exposição a agrotóxicos na atividade

16

A Revolução Verde é o mais conhecido dispositivo de política agrícola posto em ação,

sob inspiração dos EUA, em vários países pobre, cujo resultado foi à dependência ainda mais

acentuada de suas agriculturas em relação ao capital externo (ABRAMOVAY, 1989).

Os lucros com a agricultura mostram-se crescentes, gerando entusiasmo pelo mundo,

buscando aumentar ainda mais a produtividade. Em contra partida, apesar dos rendimentos e

produtividade crescentes, a fome e o subdesenvolvimento aumentaram, fato que ocorre em

virtude das safras agrícolas, no capitalismo, que são destinados aos que tem melhores

condições de pagar em detrimento aos que necessitam para sobreviver. Isso ocorre

principalmente nos países subdesenvolvidos, local em que o mercado interno na sua maioria é

pobre. A produção passa a ser exportada, agravando a pobreza e a fome (ABRAMOVAY,

1989).

Veiga, Abramovay e Elhers (2003) citam que a agricultura no Brasil passa por

mudanças radicais de transformação a partir de 1964, momento em que foi favorecido por

uma grande ampliação do crédito rural subsidiado, conseqüência da internacionalização do

pacote tecnológico e pela melhora dos preços internacionais dos produtos agrícolas. A

distribuição espacial, setorial e principalmente social desses incentivos foi muito desigual,

acentuando ainda mais a concentração da propriedade da terra.

A ação do Estado brasileiro na implantação da Revolução Verde, também chamada

modernização da agricultura foi intensa e direta. Além de serem implementadas políticas

agrícolas, especialmente através de concessão de crédito rural, onde os agricultores eram

obrigados a adquirir insumos e equipamentos agrícolas, dentre os insumos estariam os

agrotóxicos para controle de pragas e doenças, conseqüentemente garantindo a produção,

foram também implementadas programas de pesquisa agropecuária e extensão rural.

A agricultura familiar se fortalece e se percebe nas relações de trabalho das unidades

produtivas familiares a parceria do tipo meagem, o trabalho temporário na forma de diarista, o

arrendamento e o proprietário produtor. Tais relações não se apresentam de forma isolada e

nem estanques, encontrando o proprietário que é também o arrendatário e/ou meeiro, entre

outras combinações. Já na área da agroindústria ou grandes produtores agrícolas, prevalece à

relação de trabalho do tipo assalariado ou contratação (SILVA et al., 2005).

As características do processo de produção agrícola dificultam a classificação das

relações de trabalho nesse setor. Observa-se que os trabalhadores estabelecem relações de

trabalho em função de suas necessidades e de suas possibilidades econômicas. No entanto

esse processo tem como conseqüência a chamada modernização da agricultura. Se por um

lado gera aumento da produtividade, por outro provoca a exclusão social, migração rural,

Page 17: Exposição a agrotóxicos na atividade

17

desemprego, concentração de renda, empobrecimento da população rural e danos a saúde e ao

meio ambiente (SILVA et al., 2005).

Buscando garantir a produção agrícola e conseqüentemente o sustento da família, os

agricultores têm cada vez mais utilizado agrotóxicos nas suas plantações. Essa utilização vem

ocorrendo de maneira indiscriminada, onde na maioria das vezes não se tem conhecimento

dos danos a saúde e ao ambiente que esses produtos podem ocasionar.

Com o processo de modernização da agricultura e incorporação de novas tecnologias,

dentre elas a utilização de agrotóxicos surge uma nova categoria de agravos à saúde

denominada “intoxicações por agrotóxicos”.

As “intoxicações por agrotóxicos” aparecem como um grave problema de saúde

pública. O impacto do uso de agrotóxicos na saúde humana tem se constituído como uma das

prioridades no meio científico, principalmente nos países subdesenvolvidos (PERES et al.,

2007).

Os agrotóxicos estão entre os principais fatores de risco para a saúde dos trabalhadores

e para o meio ambiente. Dentre os trabalhadores expostos, merecem destaque os trabalhadores

rurais, de saúde pública, de firmas desinsetizadoras, de transporte e comércio de agrotóxicos e

de indústrias de formulação de agrotóxicos, sendo os trabalhadores rurais os que mais

apresentam conseqüências na saúde.

A avaliação e análise das condições de exposição aos produtos químicos em geral, e

aos agrotóxicos em particular, ainda é um grande desafio aos estudiosos da relação

saúde/trabalho/exposição a substâncias químicas. Vários são os aspectos que contribuem

como dificultadores da avaliação da exposição e dos efeitos sobre a saúde humana causados

pelos produtos em questão, com destaque entre esses para o numero de substâncias e produtos

que são agrupados sob o termo agrotóxico (SILVA et al., 2005). Só no Brasil, de acordo com

o SIDAG, em 2003, existiam 648 produtos sendo comercializados, sendo 34,4% de

inseticidas, 30,8% de herbicidas, 22,8% de fungicidas, 4,9% de acaricidas e 7,1% de outros

grupos químicos (BRASIL, 2006).

De acordo com Meirelles (2005), atualmente existem no Brasil, 470 ingredientes

ativos de agrotóxicos, 572 produtos técnicos e 1079 produtos formulados no mercado

nacional, sendo 45% herbicidas, 27% de inseticidas e 28% de herbicidas (BRASIL, 2006).

O impacto do uso de agrotóxico sobra à saúde humana é hoje uma das principais

prioridades de toda comunidade científica do mundo, particularmente nos países em

desenvolvimento onde essas substâncias têm sido amplamente utilizadas. Os países em

Page 18: Exposição a agrotóxicos na atividade

18

desenvolvimento representam 30% de todo o mercado global consumidor de agrotóxicos,

sendo o Brasil o maior mercado consumidor individual dentre estes (PERES et al, 2007).

A Organização Mundial de Saúde (1990) estima que ocorram 3 milhões de

intoxicações agudas por agrotóxicos com 220 mil mortes por ano. Além da intoxicação de

trabalhadores que tem contato direto ou indireto com esses produtos, a contaminação de

alimentos tem levado a grande número de intoxicações e mortes (ORGANIZAÇÃO

PANAMERICANA DA SAÚDE, 1996).

Para Peres (2005) o uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil resulta em níveis

graves de poluição ambiental e intoxicação humana, uma vez que grande parte dos

agricultores desconhece os riscos a que se expõem e, conseqüentemente, negligenciam

algumas normas básicas de saúde e segurança no trabalho. Alguns estudos que avaliaram a

exposição ocupacional e ambiental a agrotóxicos no Brasil registraram índices de intoxicação

que variam de 3% a 23% das populações estudadas. Se aplicarmos o menor percentual

encontrado (3%) ao número de trabalhadores rurais registrados no país – aproximadamente 18

milhões, dados de 1996 – o número aproximado de indivíduos contaminados por agrotóxicos

no desenvolvimento de atividades de trabalho no país seria de 540.000 trabalhadores ano, com

4.000 mortes.

Além das intoxicações agudas, a exposição ocupacional também pode causar outros

problemas de saúde, como as intoxicações crônicas. Tais intoxicações podem se manifestar de

diferentes formas como: problemas ligados à fertilidade, indução de defeitos teratogênicos e

genéticos, câncer, efeitos deletérios sobre os sistemas nervosos, respiratórios, genito-urinário,

gastro intestinal, pele, olhos, alterações hematológicas e reações alérgicas (BRASIL, 2006).

Alguns autores têm se preocupado com a alta incidência de suicídios em trabalhadores

rurais e vêm estudando a relação da utilização de agrotóxicos com o suicídio e outros

sintomas como: depressão, ansiedade e nervosíssimo. De acordo com esses estudos, os

agrotóxicos podem causar “síndromes cerebrais orgânicas ou doenças mentais de origem não

psicológicas” (FALK et al., 1996).

Pesquisas indicam que a maioria dos casos de intoxicação por agrotóxicos ocorrem em

virtude de um descumprimento das normas de segurança para a sua aplicação, a

irregularidades no armazenamento e na distribuição dos produtos, assim como à ausência de

políticas públicas de controle (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE, 1996). A

solução para esse problema seria “educar” o usuário de agrotóxicos para o uso adequado e

seguro. Evidentemente que o uso inadequado dos produtos pode ocasionar diversos problemas

e ser a causa imediata de agravos à saúde e a educação dos trabalhadores que utilizam as

Page 19: Exposição a agrotóxicos na atividade

19

substâncias deve ser fundamental para a minimização dos problemas. No entanto, a utilização

inadequada e as dificuldades que existem para se obter mudanças nas práticas de utilização

dos agrotóxicos são conseqüências de diversos outros fatores nas condições e no ambiente de

trabalho. Esses fatores estão intimamente ligados com o modelo de produção adotado, o qual

não aborda riscos, não considera a preparação dos usuários para aplicação dos produtos, não

detém de recursos materiais e humanos para o controle dessas substâncias. Há ainda o fato de

existirem grande disponibilidade de produtos e fácil acesso aos mais perigosos, o uso

excessivo de produtos sendo induzido através de vendedores e propagandas, dos usuários dos

produtos dificilmente terem acesso às informações técnicas, das condições de trabalho nas

pequenas propriedades que em geral são precárias, da instabilidade da política agrícola e em

especial dos determinantes socioeconômicos dos trabalhadores rurais que normalmente

possuem deficientes condições de educação, moradia e relações de trabalho (GARCIA, 2005).

Assim sendo, não se pode responsabilizar apenas os usuários dos agrotóxicos pelos problemas

ocasionados a saúde da população e aos danos provocados ao meio ambiente. Faz necessárias

a adoção de medidas coletivas e a instituição de políticas que incorporem a visão abrangente

da situação, buscando minimizar os problemas decorrentes da utilização dos agrotóxicos.

Também não se pode considerar que os riscos no trabalho com agrotóxicos sejam

decorrente apenas a inadequação da utilização dos produtos, do ponto de vista do seu

manuseio e aplicação, fatores importantes na determinação da exposição. Deve-se levar em

consideração a questão da toxicidade dos produtos, pois a capacidade dos agrotóxicos

produzirem efeitos sobre organismos vivos é específica dessas substâncias (GARCIA, 2005).

Sob o aspecto de controle dos riscos decorrentes da exposição a agrotóxicos, é

fundamental que os trabalhadores rurais tenham conhecimento desses riscos, o que nem

sempre acontece ou na maioria das vezes é negligenciado. Os estudos de percepção dos

trabalhadores rurais acerca dos riscos decorrentes da exposição a agrotóxicos têm sido

utilizados como ferramenta para o planejamento de ações na área de saúde pública que

buscam compreender e implementar ações para minimizar os danos à saúde e ao meio

ambiente provocados pela utilização de agrotóxicos.

Há o entendimento de que as análises de percepção e risco são determinantes para

entendimento das situações da exposição e da contaminação humana e ambiental por

agrotóxicos (PERES, 2000).

Segundo Wiedemann (1993), a percepção de riscos é definida como sendo “a

habilidade de interpretar uma situação de potencial dano à saúde ou à vida da pessoa, ou de

terceiros, baseada em experiências anteriores e sua extrapolação para um momento futuro,

Page 20: Exposição a agrotóxicos na atividade

20

habilidade esta que varia de uma vaga opinião a uma firme convicção”. Para o autor, a

percepção de riscos é baseada principalmente em imagens, crenças e tem raízes, em uma

menor extensão, em alguma experiência anterior como, por exemplo, acidentes que um

motorista já teve, o conhecimento de desastres anteriores e a relação com informações sobre a

probabilidade de um desastre ocorrer.

No processo de produção rural, o entendimento de “riscos” se confunde com “perigo”.

De acordo com Peres (2000), “é muito mais difícil obter uma definição do que é o

risco por parte de uma população ‘leiga’(cujos saberes diferem em sua origem e construção,

daqueles dos avaliadores técnicos que trabalham o conceito de risco)”. Continua o autor

afirmando que risco, para esse grupo, é sinônimo de perigo, daí, os riscos, para os usuários,

podem passar despercebidos pelos mesmos.

O município de Salgueiro está localizado na mesorregião Sertão e na Microrregião

Médio Capibaribe do Estado de Pernambuco, limitando-se a norte com Estado do Ceará, a sul

com Belém do São Francisco, a leste com Verdejante, Mirandiba e Carnaubeira Penha, e a

oeste com Cabrobó, Terra Nova, Serrita e Cedro. Possui população de 51 571 habitantes

(IBGE, 2000), onde aproximadamente 80% reside na zona urbana (BRASIL, 2005). Está

dividido administrativamente em 05 distritos, assim denominados: Sede, Conceição das

Crioulas, Umãs, Vasques e Pau Ferro. Este último passou a ser distrito em 1998, através da

Emenda Aditiva de 18 de dezembro de 1197, aprovada pela Câmara Municipal em 27 de

março de 2008, a qual altera a Lei Orgânica do Município de Salgueiro, instituindo o novo

distrito.

O município tem como atividades econômicas predominantes, a agricultura, com

cultivo de cebola, tomate, algodão herbáceo, milho, banana, feijão, arroz e manga e o

comércio varejista.

A utilização de agrotóxicos de se dá indiscriminadamente, com produtos que variam

na sua classificação toxicológica do extremamente tóxico a pouco tóxico.

A maioria dos trabalhadores rurais desconhece os riscos que os agrotóxicos podem

ocasionar na saúde humana; misturam mais de um produto, utilizando as próprias mãos, sem

proteção para manipular os produtos; adquirem os produtos sem orientações técnica

qualificada e em locais não autorizados para comercializar; guarda incorretamente os

produtos, normalmente em sua residência, junto com objetos pessoais e com acesso facilitado

ou expostos nas propriedades, nas áreas de aplicação; não utilizam equipamentos de proteção

individual durante a aplicação dos agrotóxicos e na presença de pessoas próximas. É possível

verificar a participação de toda a família no trabalho rural, incluindo marido, esposa e filhos.

Page 21: Exposição a agrotóxicos na atividade

21

Procurando analisar a percepção dos trabalhadores rurais acerca dos riscos e danos à

saúde decorrentes da exposição a agrotóxicos, esse estudo será conduzido procurando

responder as seguintes questões: Qual a percepção dos trabalhadores rurais sobre os riscos à

saúde decorrentes da exposição a agrotóxicos? Como os riscos decorrentes da exposição a

agrotóxicos, no processo de trabalho agrícola, comprometem a saúde dos trabalhadores?

Para isso traz como hipótese:

a) O processo de produção, as práticas e atitudes dos trabalhadores

rurais durante a utilização dos agrotóxicos se caracterizam por apresentar

riscos potencias a saúde da população. Esses riscos e danos à saúde

decorrentes da exposição a agrotóxicos não são percebidos pelos

trabalhadores rurais que manipulam os produtos

b) Os principais problemas de saúde que acometem a população

local e são percebidos pelos trabalhadores rurais guardam relação com a

utilização de agrotóxicos.

Como justificativa para a realização do estudo, destaca-se a necessidade da

implementação de ações de vigilância em saúde para os trabalhadores expostos a agrotóxicos,

envolvendo os diferentes enfoques da vigilância, quer seja, epidemiológico, ambiental,

trabalhador e sanitário. No campo da vigilância em saúde merece ser colocado que esta vêm

se consolidando como ações de promoção e recuperação da saúde e prevenção das doenças,

tendo evoluído nas diversas áreas, com exceção da área de saúde do trabalhador que não tem

acompanhado o mesmo ritmo. Esse fato talvez possa está relacionado à necessidade de

realização de ações intersetoriais para a garantia de resultados satisfatórios na área de saúde

do trabalhador, bem como ainda não têm sido objeto de prioridade nessa área, fatores que

dificultam a implementação de ações. A realização de estudos que possam favorecer o

conhecimento da real situação dos trabalhadores expostos a agrotóxicos são essenciais. Nesse

campo os estudos de percepção de risco constituem um grande aliado para o entendimento da

situação de exposição e contaminação por agrotóxicos, compreensão das motivações que

levam os trabalhadores a agirem de forma tão insalubre, sendo ainda de grande valia para

planejamento de ações e estratégias no campo da saúde.

De acordo com Salim (2002), existe a necessidade de se realizarem estudos gerais e

em caráter de urgência e análises específicas para a delimitação de cenários que visem à

definição de ações preventivas capazes de minimizar os danos dos agrotóxicos obre a saúde

do trabalhador.

Page 22: Exposição a agrotóxicos na atividade

22

A equipe da Unidade de Saúde da Família do Distrito de Pau Ferro vem se

preocupando quanto aos problemas de saúde que tem acometido a população, tendo solicitado

apoio da VII GERES para intervir em parceria com a secretaria municipal de saúde na

implementação de ações de vigilância em saúde que possam minimizar os riscos e danos a

população.

Há registros verbais da equipe que referem ser uma população em que muitos usuários

buscam a unidade de saúde a procura de medicamentos controlados, principalmente os

antidepressivos; apresentam casos descamação da pele, reclamações constantes de dores de

cabeça, visão turva, vômitos, consumo de álcool principalmente durante o trabalho, falta de

apetite, náuseas, e o fato que chama mais atenção são as tentativas de suicídio que ocorrem

com freqüência.

A observação de altos índices de tentativas de suicídio no Distrito de Pau Ferro, tendo

ocorrido três tentativas, com dois óbitos em menos de 30 (trinta) dias no ano de 2004, chegou

a provocar a realização de audiência pública no município de Salgueiro. A audiência pública

contou com a participação de diversos segmentos e teve como objetivo obter informações e

propostas para o enfrentamento do uso abusivo de agrotóxico nas culturas desenvolvidas nos

municípios de Salgueiro, Cabrobó, Terra Nova, Orocó e Pamamirim.

Page 23: Exposição a agrotóxicos na atividade

23

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Agrotóxicos: Uma abordagem abrangente da sua história, conceitos, classificação e

usos

Este Capítulo se propõe a apresentar uma abordagem do produto químico denominado

agrotóxico, detalhando desde o início da sua utilização, como um dos pilares da modernização

da agricultura até os dias de hoje.

Na primeira parte será apresentada a origem do nome agrotóxico, aprofundando sobre

seu conceito e as finalidades a que se propõe.

Na seqüência, será abordada a história dos agrotóxicos no mundo e no Brasil,

discorrendo para facilitar o entendimento sobre sua utilização.

Finalizando o capítulo será apresentada a classificação dos agrotóxicos, enfocando as

características das diferentes classes.

2.1.1 Conceitos, terminologias e finalidades

A origem da denominação agrotóxicos ocorreu nos anos 80 entre ambientalistas e

pesquisadores críticos deste insumo agrícola, mas oficialmente esta denominação só se deu

com a aprovação da Lei n° 7.802/1989, regulamentada pelo Decreto n° 4.074/2002,

apresentando a seguinte definição:

Agrotóxicos e afins – produtos e agentes de processo físico, químico ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantações, de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, afim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento (BRASIL, 1989).

Page 24: Exposição a agrotóxicos na atividade

24

Em 1934, através do Decreto n° 24.114/1934 é aprovado o Regulamento de Defesa

Vegetal, sendo considerado o primeiro regulamento nacional sobre agrotóxicos. Neste

regulamento encontram-se as palavras inseticidas e fungicidas e a denominação genérica de

produtos químicos (GELMINI, 1991).

De 1934 a 1989, período transcorrido entre a primeira lei dos agrotóxicos e a atual,

houve atualizações da regulamentação do uso de inseticidas através de adendos legais

complementares nas formas de decreto Leis, Decretos, resoluções, portarias e outros.

Entretanto, o uso oficial do termo defensivo só foi encontrado no Decreto n° 917/1969.

(GELMINI, 1991).

Em 1974, a Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA)

através da Resolução CNNPA n° 12/1974 traz mudanças no conceito, substituindo as palavras

fungicidas e inseticidas para denominação genérica pesticidas. Pesticida é então definido

como:

Pesticida - A substância ou mistura de substâncias destinadas a prevenir a ação ou destruir direta ou indiretamente insetos, ácaros, roedores, fungos, nematóides, ervas daninhas, bactérias e outras formas de vida animal ou vegetal prejudiciais a lavoura, a pecuária, seus produtos e outras matérias primas alimentares [...] Incluem-se neste item os desfolhantes, os descorantes e as substâncias reguladoras do crescimento vegetal (BRASIL, 1974).

A definição de Pesticidas demonstra a incorporação de outras funções agronômicas

além das de controlar insetos e fundos. Entretanto, o termo “defensivo” continua sendo

utilizado no campo, prevalecendo tecnicamente e comercialmente o nome defensivo agrícola.

O Ministério da Agricultura e o Ministério da Saúde acentuam conflitos entre as

denominações usadas para os insumos. A Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do

Ministério da Saúde, na publicação da Portaria SNVS n° 01/1985, usa o termo “produtos

fitossanitários ou defensivos agrícolas” e na Portaria n° 329/1985 do Ministério da

Agricultura traz a denominação agrotóxicos.

A palavra agrotóxico, considerada mais abrangente, não no sentido de sua função, mas

em sua essencial ação. O termo agro vem do latim agru e significa campo ou terra lavradia

(AURÉLIO, 2002), e tóxico vem do grego tóxikos que significa ter propriedade de envenenar

(AURÉLIO, 2002). Dessa forma agrotóxicos são substâncias de uso agrícola com o objetivo

de envenenar.

Page 25: Exposição a agrotóxicos na atividade

25

A Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), programa da

Organização das Nações Unidas responsável pelas áreas de agricultura e alimentação, define

os agrotóxicos como sendo: “Qualquer substância, ou mistura de substâncias, usadas para

prevenir, destruir ou controlar qualquer praga, incluindo vetores de doenças humanas e

animais, espécies indesejadas de plantas e animais, causadoras de danos durante (ou

interferindo na) a produção, processamento, estocagem, transporte ou distribuição de

alimentos, produtos agrícolas, madeiras e derivados – ou que deva ser administrada para

controle de insetos, aracnídeos e outras pestes que acometem os corpos de animais de criação”

(FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION, 2003).

O Decreto do estado de Pernambuco Nº 31.246/2007 traz a seguinte definição para os

agrotóxicos:

Agrotóxicos: os produtos químicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimulantes e inibidores de crescimento (PERNAMBUCO, 2007).

2.1.2 História dos Agrotóxicos

Os agrotóxicos começaram a ser utilizados na década de 1920 e surgiram com a

necessidade de se protegerem as colheitas dos ataques dos insetos que a cada ano

comprometiam uma parcela maior da produção. Com o passar dos anos cada vez mais foi

aumentando a necessidade de sua utilização, cuja finalidade única era atender a demanda

crescente de alimentos, (SILVA et al., 2005).

A partir da Segunda Guerra Mundial ocorre a expansão da utilização dos agrotóxicos,

tendo este sido utilizado como uma arma química durante a guerra (MACARIO, 2001).

Coma evolução da ciência surgiram os primeiros produtos sintéticos e a partir da

década de 1940 aparece a primeira classe dos produtos, reunindo características inovadoras e

cujos resultados eram bastante satisfatórios, os organoclorados. O lançamento do Dicloro

Difenil Tricloroetano (DDT) significava uma revolução no controle de pragas e somando os

adubos químicos, seriam responsáveis pelo milagre na agricultura com safras recordes e

Page 26: Exposição a agrotóxicos na atividade

26

produção em solos praticamente estéreis. Baixas doses resultavam em ação rápida e longo

efeito residual, além de apresentarem a vantagem de ser menos tóxico para o homem que os

demais produtos existentes.

O DDT usado como arma química durante a guerra, utilizado como agrotóxicos na

agricultura, foi introduzido nas campanhas de saúde pública para combate a vetores

transmissores de doenças endêmicas (MACARIO, 2001). A partir desse momento os

agrotóxicos passam a ser amplamente divulgados, aumenta cada vez mais a sua utilização.

Com a utilização do DDT nos programas de governo de vários países da Europa e

Américas para controle de vetores, surge o termo chamado dedetização, tornando-se popular,

criando empresas particulares para oferecer o serviço (MACARIO, 2001). Quanto mais se

ampliava o uso do DDT, outros produtos surgiram cada vez mais eficientes, de longo efeito

residual e com doses ainda menores de aplicação.

Nos anos de 1950, surgem outras classes de agrotóxicos, ocupando o lugar dos

organoclorados, uma vez que estes produtos já não apresentavam os resultados obtidos no

início de sua utilização. A resistência a determinados produtos começa a ser observada,

provocando a necessidade de utilização de outros produtos, mais fortes para se obter o

resultado desejado (SILVA et al., 2005).

As pesquisas continuam e na década de 1970 outros produtos foram produzidos.

Surgem os piretroides, produtos análogos aos produtos obtidos a partir de substâncias

vegetais.

Somente a partir da década de 1970 tem início a preocupação em adotar práticas que

visassem preservar o ambiente e a saúde das pessoas expostas a agrotóxicos (SILVA et al.,

2005).

No Brasil, a introdução dos agrotóxicos ocorreu através de programas de saúde

pública, no combate a vetores e controle de parasitos. Na agricultura seu uso foi ampliado nos

anos sessenta, mais precisamente a partir de 1964 após o Golpe Militar, contando com o apoio

do governo. O governo militar criou em 1975 o Plano Nacional de Desenvolvimento Agrícola

(PNDA), trazendo incentivos para o comércio de agrotóxicos no Brasil, criando reserva de

mercado para os produtos. Condicionou o crédito rural com a obrigatoriedade de uma cota

para aquisição de agrotóxicos (15%) para cada financiamento requerido (BRASIL, 1997). O

seguro agrícola também obrigava a compra de agrotóxicos. No caso de perca da safra por

pragas, o seguro não seria pago nos casos em que o agricultor não comprovasse a compra de

agrotóxicos.

Page 27: Exposição a agrotóxicos na atividade

27

Essa estratégia utilizada pelo governo para garantir e/ou aumentar a produção, em

momento algum teve a preocupação divulgar os riscos que esses produtos poderiam

representar para a saúde humana e o meio ambiente (ERLERS, 1999).

Apesar da grande importância das atividades agrícolas, há pouco interesse nos estudos

de aspectos de saúde e da segurança na agricultura. Há um interesse maior em desenvolver

tecnologias para o aumento da produção na agropecuária, geralmente sem levar em

consideração os impactos à saúde q a segurança no trabalho (FRANK et al., 2004).

2.1.3 Classificação dos agrotóxicos

Em virtude da grande quantidade de produtos existentes, cerca de 300 princípios

ativos em 2 mil formulações comerciais diferentes no Brasil, é importante conhecer a

classificação dos agrotóxicos quanto à sua ação e ao grupo químico a que pertencem. Essa

classificação também é importante, podendo ser útil para o diagnóstico das intoxicações e

instituição de tratamento específico (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE,

1996).

2.1.3.1 Classificação dos agrotóxicos quanto a sua ação e grupo químico

A) lnseticidas: possuem ação de combate a insetos, larvas e formigas. Os inseticidas

pertencem a quatro grupos químicos distintos:

a) organofasforados: são compostos orgânicos derivados do ácido fosfórico, do

ácido tiofosfórico ou do ácido ditofosfórico. Ex.: Folidol, Azodrin, Malation,

Diazinon, Nuvacron, Tantaron, Rhodìatox.

b) carbonatos: são derivados do ácido carbâmico.

1. Ex.: Carbaril, Tentfk, Zeclram, Furadan

c) organoclorados: são compostos à base de carbono, com radicais de cloro. São

derivados do clorobenzeno, do ciclo-hexano ou do ciclodieno. Foram muito utilizados

Page 28: Exposição a agrotóxicos na atividade

28

na agricultura, como inseticidas, porém seu emprego tem sido progressivamente

restringido ou mesmo proibido. Ex.: Aldrin, Endrin, MtIC, DUr, Endossulfan,

Heptacloro, Lindane, Mirex

d) piretróides: são compostos sintéticos que apresentam estruturas semelhantes à

piretrina, substâncìa existente nas flores do Chrysanthmum (pyrethrum)

cinenariaefolium. Alguns desses compostos são: aletrina, resmetrina, decametrina,

cipermetrina e

B) Fungicidas: combatem fungos. Os principais grupos químicos são:

a) etileno-bis-ditiocarbonatos: Maneb, Mancozeb, Dithane, Zineb,Tiram

b) trifenil estânico: Duter e Brestan

c) captan:Ortocide a Merpan

d) hexaclorobenzeno.

C) Herbicidas: combatem ervas daninhas. Nas últimas duas décadas, este grupo tem tido uma

utilização crescente na agricultura. Seus principais representantes são:

a) paraguat: comencializado com o nome de Gramoxone

b) glifosato: Round-up

c) pentacloofenol

d) derivados do ácido fenoxiacético: 2,4 diclorofenoxiacético (2,4 D) a 2,4,5

triclorofenoxiacético (2,4,5 T). A mistura de 2,4 D com 2,4,5 T representa o principal

componente do agente laranja, utilizado como desfolhante na Guerra do Vietnã. O

nome comercial dessa mistura é Tordon

e) dinitrofenóis: Dinoseb a DNOC.

Outros grupos importantes compreendem:

a) raticidas ( dicumarínicos ): utilizados no combate a roedores

b) acaricidas:ação de combate a ácaros diversos

c) nematicidas: ação de combate a nematóides

d) molusquicidas: ação de combate a moluscos, basicamente contra o caramujo da

esquistossomose

e) fundgantes: ação de combate a insetos, bactérias: fosfetos metálicos (fosfina) brometo

de metila.

Page 29: Exposição a agrotóxicos na atividade

29

2.1.3.2 Classificação dos agrotóxicos quanto a sua toxicidade

Os agrotóxicos são classificados, ainda, segundo seu poder tóxico. Esta classificação é

fundamental para o conhecimento da toxicidade de um produto, do ponto de vista de seus

efeitos agudos. No Brasil, a classificação toxicológica está a cargo do Ministério da Saúde

(ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE, 1996).

A classificação dos agrotóxicos é estabelecida pela Portaria nº. 04 da Divisão Nacional

de Vigilância de Produtos Domissanitários de 30 de abril de 1980, por meio do Anexo I. Foi

criada com intuito de identificar as características de natureza tóxica desses produtos e

também de tornar conhecido os seus efeitos agudos sobre a saúde. Esta classificação é feita

com base na Dose Letal Média ou DL 50 (GOLÇALVES, 2008).

Para o bioensaio da DL50, pelo menos 4 doses crescentes do produto químico são

selecionadas, de tal maneira que a menor dose não provoque mortes e a maior provoque 100%

de mortalidade na amostra examinada. Assim, quanto mais alta é a DL50 de um determinado

agrotóxico, menor será o risco de intoxicação.

A medida da toxidade desses produtos é obtida a partir de estudos experimentais em

ratos e camundongos. De acordo com Gurgel (1998) a DL 50 representa uma estimativa

estatística referente à menor dose da substância capaz de matar num período de 14 dias a

metade de uma população de animais, podendo ser por meio da ingestão, contato com a pele

ou inalação. Esta é utilizada como um instrumento de segurança para a saúde dos expostos,

como também, para classificar os agrotóxicos nas seguintes categorias de risco: extremamente

tóxicos, altamente tóxicos, medianamente tóxicos e pouco tóxicos.

A Legislação Federal regulamenta que esteja presente, nos rótulos das embalagens,

uma faixa colorida indicando o grupo toxicológico de cada produto, com vistas a promover

uma identificação adequada dos mesmos (MACÁRIO, 2001).

A tabela 01 apresenta a classificação toxicológica empregada para os agrotóxicos pela

Organização Mundial da Saúde (OMS) e adotada no país, explicitando a classificação

química, conforme as substâncias abaixo relacionadas e cores dos rótulos das embalagens:

Page 30: Exposição a agrotóxicos na atividade

30

Tabela 01 - Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo a DL 50 e cores dos rótulos das embalagens

DL 50(mg/kg de peso vivo)

Classe Oral Dérmica

I- Extremamente Tóxico 5 ou menos 10 ou menos

II-Altamente Tóxico 5 -50 10 - 100

III- Medianamente Tóxico 50 – 500 100 - 1000

IV- Pouco Tóxico Acima de 500 Acima de 1000

Fonte: Organização Mundial da Saúde (2005).

2.2 Exposição a agrotóxicos

Este Capítulo busca caracterizar a evolução do processo de produção rural com a

incorporação das novas tecnologias para acompanhar o processo de modernização de

agricultura, trazendo informações sobre os riscos decorrentes da exposição aos agrotóxicos e

os impactos à saúde que podem ocorrem em virtude das práticas cotidianas do trabalho

agrícola.

2.2.1 Processo de produção rural e os impactos na saúde do trabalhador

Os estudos dos impactos negativos à saúde humana, advindos da relação trabalho,

saúde e ambiente são produto de uma evolução cumulativa que contou com a colaboração dos

diversos campos do conhecimento ao longo do tempo. O tema é de natureza sistêmica e

interdisciplinar e, por isso, mesmo, inesgotável e ainda se apresenta como verdadeiro desafio

a ser interpretado.

Dentro dessa linha de estudos, os levantamentos e as relações dos fatores de risco

associados ao regime de uso e agrotóxicos e saúde do trabalhador rural, são da maior

importância para a saúde pública, uma vez que, a aplicação indiscriminada desses produtos

vem afetando tanto a saúde humana quanto os ecossistemas naturais.

O processo de modernização tecnológica que teve início na década de 50 com a

chamada “Revolução Verde” (BRUM, 1988), favoreceu profundas mudanças nas práticas do

Page 31: Exposição a agrotóxicos na atividade

31

trabalho agrícola, gerou mudanças ambientais, provocou efeitos á saúde e colocou os

trabalhadores rurais expostos a uma grande variedade de riscos (FARIA et al,. 2000).

No trabalho agrícola, o trabalhador está exposto a diversos riscos que diferem

daqueles existentes em uma unidade de produção fabril, onde o ambiente é em geral fechado e

assim diversas condições podem ser controladas (como ventilação, temperatura, iluminação).

No ambiente de produção agrícola, a maioria das atividades acontece a céu aberto,

impossibilitando o controle direto deste e conseqüentemente dos fatores que podem trazer

prejuízo à saúde do trabalhador (GARCIA, 2005).

Os agricultores em sua grande maioria estão submetidos ao pacote tecnológico das

empresas multinacionais, que traz a obrigatoriedade do crédito, dos insumos químicos, da

comercialização dirigida aos grandes centros e a comercialização dos produtos é estabelecida

mediante os interesses momentâneos de mercado e venda compulsória. O produtor rural

muitas vezes é submetido, juntamente com sua família e com suas organizações, aos

interesses dessas empresas, deixando-os totalmente dependentes (FALK et al., 1996).

Fato que merece ser destacado é que no Brasil, a organização do trabalho agrícola

baseia-se ainda numa estrutura fundiária altamente concentrada, onde cerca de 94% do

número de propriedades rurais respondem por 30% da área ocupada, gerando consequências

marcantes no desenvolvimento do setor agrícola brasileiro (IBGE, 2000, 1996).

Em 2000, o Brasil possuía uma população de 169.872.856 habitantes, com taxa de

urbanização de 81,2%. A população rural correspondia a quase 32 milhões de pessoas em

número absoluto e a população e a população rural economicamente ativa era de 12.152.979

habitantes (SILVA et al., 2005).

Outro aspecto considerado extremamente importante no trabalho rural brasileiro é a

participação de crianças e adolescentes nas atividades de trabalho agropecuário. O Censo

Agropecuário (1996) traz a informação de que existiam 2.435.678 trabalhadores menores de

14 anos de idade atuando no setor, correspondendo a 18,6% da população rural ocupada.

Peses; Rosemberg (2000) colocam que a agricultura próxima aos grandes centros, por

ser considerada de pequeno porte e predominantemente familiar, cria nas relações sociais do

campo uma ajuda mútua entre adultos e crianças, expondo crianças e jovens a uma condição

de sujeição a elevados riscos de contaminação.

Para Alessi e Navarro (1997), o trabalho infanto juvenil consiste em uma atividade

insalubre, prejudicando o desenvolvimento físico, psicológico e social dessas pessoas, além

de torná-las vulneráveis a acidentes, inclusive com mortes e mutilações, entre outros agravos,

como por exemplo, os ocasionados pela exposição a agrotóxicos.

Page 32: Exposição a agrotóxicos na atividade

32

A extensiva utilização dos agrotóxicos vem representando um grave problema de

saúde pública nos países em desenvolvimento, especialmente aqueles que possuem economia

baseada em agronegócio, como é o caso do Brasil (ARAUJO et al., 2007) ). Cada dia cresce

mais o número de trabalhadores que apresentam agravos à saúde decorrentes da utilização de

agrotóxicos.

Os danos à saúde decorrentes da utilização de agrotóxicos podem atingir os

trabalhadores que aplicam o produto. Entretanto, outras pessoas podem ser afetadas, como é

caso dos membros da comunidade e dos consumidores dos alimentos contaminados com os

resíduos dos produtos. Os trabalhadores rurais são os mais acometidos pelos problemas de

saúde (SOARES et al., 2003).

Os agrotóxicos podem causar diversos efeitos sobre a saúde humana, sendo muitas

vezes fatais. Esses efeitos têm sido classicamente divididos em intoxicações agudas e

intoxicações crônicas. Essas intoxicações podem se manifestar desde a forma leve, moderada

até a grave, variando em função da toxicidade dos produtos, tempo e forma de exposição. As

diferenças entre as formas de intoxicação podem ser entendidas conforme definições, sendo:

INTOXICAÇÃO AGUDA: é uma alteração no estado de saúde de um indivíduo ou de um grupo de pessoas, que resulta da interação nociva de uma substância com o organismo vivo. Pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave, a depender da quantidade de veneno absorvido, do tempo de absorção, da toxicidade do produto e do tempo decorrido entre a exposição e o atendimento médico. Manifesta-se através de um conjunto de sinais e sintomas, que se apresenta de forma súbita, alguns minutos ou algumas horas após a exposição excessiva de um indivíduo ou de um grupo de pessoas a um toxicante, entre eles os agrotóxicos. Tal exposição geralmente é única e ocorre num período de até 24 horas, acarretando efeitos rápidos sobre a saúde (BRASIL, 2006). INTOXICAÇÃO CRONICA: são alterações no estado de saúde de um indivíduo ou de um grupo de pessoas que também resultam da interação nociva de uma substância com o organismo vivo. Aqui, porém, os efeitos danosos sobre a saúde humana, incluindo a acumulação de danos genéticos, surgem no decorrer de repetidas exposições ao toxicante, que normalmente ocorrem durante longos períodos de tempo. Nestas condições os quadros clínicos são indefinidos, confusos e muitas vezes irreversíveis. Os diagnósticos são difíceis de serem estabelecidos e há uma maior dificuldade na associação causa/efeito, principalmente quando há exposição a múltiplos produtos, situação muito comum na agricultura brasileira. A intoxicação crônica manifesta-se através de inúmeras patologias, que atingem vários órgãos e sistemas, com destaque para os problemas imunológicos, hematológicos, hepáticos, neurológicos, malformações congênitas e tumores (BRASIL, 2006).

Page 33: Exposição a agrotóxicos na atividade

33

Apesar das intoxicações agudas serem mais perceptíveis e mais rapidamente

associadas à exposição a substâncias químicas como os agrotóxicos, as intoxicações crônicas

também ocorrem e merecem atenção especial. A reversibilidade do quadro clínico, em geral é

muito difícil e pouco de conhece a respeito dos efeitos de longo tempo de exposição a

agrotóxico. Esses efeitos não têm sido caracterizados adequadamente, visto que podem se

tornar aparentes somente após anos de exposição (SOARES et al., 2003). Matos e

colaboradores, em 1987 relatam que a exposição a agrotóxicos pode ocasionar problemas

ligados a fertilidade, a indução de efeitos teratogênicos e genéticos e câncer

As estimativas de problemas de saúde humana relacionados com a utilização de

agrotóxicos é muito variável. Os danos para a saúde humana só começaram a ser divulgados a

partir dos anos sessenta, com relatos de casos de intoxicação por organoclorados entre os

trabalhadores rurais. Nos dias atuais, a estimativa aponta que entre 500 mil e 2,9 milhões de

pessoas são envenenadas anualmente no mundo. A maioria dos agravos de saúde relacionados

à exposição a agrotóxicos envolve o uso de organoclorados e organofosforados que possuem

atividade neurotóxica (ARAUJO et al., 2007).

A organização Mundial de Saúde (OMS), em 1999 estimava que os casos de

intoxicação não intencionais fossem de 1 milhão, com 20 mil mortes, onde a exposição

ocupacional era responsável por 70% dos casos de intoxicação. Em 2005, juntamente com a

Organização Internacional do Trabalho (OIT), passou a estimar 7 milhões de casos de

intoxicação aguda e 70 mil óbitos (GARCIA, 2005).

Atualmente o Brasil é considerado como o países que mais consume agrotóxicos e que

possui um quantitativo relativamente alto de trabalhadores rurais potencialmente expostos.

Entretanto, as informações sobre o emprego dessas substâncias ainda é muito deficiente. A

estimativa é de que existam 15 milhões de pessoas expostas pelo trabalho rural e que ocorram

150 mil a 200 mil intoxicações agudas por ano (GARCIA, 2005).

Entre os anos de 1991 e 1992, um estudo realizado de investigação clínica em

plantações de tomate no Equador, diagnosticou 50 casos de intoxicações por agrotóxicos. A

maior parte (33/50) ocorreu devido a exposição ocupacional, seguida de exposição acidental

(9/50) e intenção suicida (8/50) (CRISSMAN et al.,1994).

Meyer et al. (2007), realizaram um estudo na cidade de Luz/MG, tendo constatado que

o índice de suicídio no município era muito alto entre os trabalhadores rurais, totalizando

94%. Destes 57,9% ocorreu por ingestão de agrotóxico.

Schmidt e Godinho (2006) estudaram o cotidiano de trabalhadores rurais,

identificaram que os principais sintomas apontados pelos trabalhadores entrevistados quando

Page 34: Exposição a agrotóxicos na atividade

34

sofreram intoxicações foram: dores de cabeça, irritação nos olhos, náuseas, excesso de saliva,

desatenção.

Embora as pesquisas sobre os impactos do uso dos agrotóxicos na saúde tenham

crescido nos últimos anos, ainda é insuficiente para se conhecer a extensão da carga química

de exposição ocupacional e a dimensão dos danos à saúde decorrentes da exposição a

agrotóxicos. Um dos problemas que contribui para isso é a falta de informações sobre o

consumo de agrotóxicos e a insuficiência de dados sobre intoxicações por esses produtos

(FARIA et al., 2007).

Entre as causas que favorecem os problemas de saúde relacionados aos agrotóxicos,

tem sido atribuído o fato do trabalhador descumprir normas de segurança para a aplicação,

distribuição e armazenamento dos produtos. È importante considerar que as causas descritas

nem sempre ocorrem devido à negligência do trabalhador. A questão é muito mais abrangente

e envolve uma série de outros fatores. O modelo de produção agrícola adotado e a estratégia

de introdução da tecnologia não abordam os riscos a que os trabalhadores estão expostos. Os

usuários dos produtos não são preparados para utilizar essas substâncias e inexistem recursos

materiais e humanos para controle desses produtos. Muitas vezes os trabalhadores rurais não

têm acesso às informações técnicas sobre os produtos e as condições de trabalho são

precárias. Residem em locais com infra estrutura mínima, onde as condições de educação,

saúde e moradia são bastante deficientes.

2.3 Percepção de riscos à saúde no uso de agrotóxicos

Nesse capitulo buscou-se fazer uma abordagem sobre as diversas vertentes do conceito

de risco, visto que trata-se de um conceito amplo, facilitando assim o seu entendimento.

Posteriormente faz-se uma discussão sobre os riscos reais e os riscos que são percebidos pelos

trabalhadores rurais no contexto da exposição a agrotóxicos. Na seqüência traz uma

abordagem de riscos, exposição, toxicidade e segurança na utilização de agrotóxicos durante

as práticas do trabalho rural.

Page 35: Exposição a agrotóxicos na atividade

35

2.3.1 Entendendo o significado de “risco”

O conceito de riscos tem sido tratado por diferentes dimensões e sob várias

abordagens. Tais abordagens variam das fortemente marcadas por uma leitura objetivista da

realidade, encarando o risco num sentido probabilístico, até outras que se orientam por uma

abordagem subjetivista, onde o risco só existe a partir das interações sociais. Entre estas duas

posturas opostas, desenvolvem-se outras tendências com diferentes graus de objetivismo e

subjetivismo (ROMANO; LIEBER, 2002).

A definição de risco mais amplamente utilizado se aproxima a um perigo mais ou

amenos definido (PERES, 2002), ou a probabilidade de perigo, geralmente como uma ameaça

física para o homem e/ou para o ambiente (HOUAISS, 2001). Sua acepção mais fortemente

aceita na literatura que trata dos problemas delimitados pelos campos da saúde, trabalho e

ambiente é a composição de pelo menos dois dos três seguintes componentes (YATES;

STONE, 1992): a) potencial de perdas e danos; b) incerteza da perda/dano; e/ou c) relevância

da perda/dano.

Segundo Porto (2000), o risco, de maneira genérica, pode ser entendido como “Toda e

qualquer possibilidade de que algum elemento ou circunstância existente num dado processo

e ambiente de trabalho possa causar dano à saúde, seja através de acidentes, doenças ou do

sofrimento dos trabalhadores, ou ainda através da poluição ambiental”.

Garcia (2005) define risco como “a probabilidade de que uma substância produza um

dano em condições específicas de uso”. Esse conceito guarda relação com a utilização de

substâncias químicas.

Para o autor o risco associado a uma substância tem relação direta com dois fatores: a

capacidade de produzir danos a saúde e ao meio ambiente, ou seja, a toxicidade e as

condições que determinam a exposição a essa mesma substância.

O risco não existe independentemente de nossas mentes e culturas, esperando para ser mensurável. Os seres humanos criaram o conceito de risco para ajudá-los a entender os perigos e a conviver com os mesmos e as incertezas da vida. Embora esses perigos sejam reais, não há “risco real” ou “risco objetivo (SLOVIC, 1999).

É comum ocorrer confusão sobre os conceitos utilizados para a definição de risco e

perigo, geralmente tais conceitos são empregados para representar algo que pode ocasionar

Page 36: Exposição a agrotóxicos na atividade

36

algum tipo de dano. Contudo, seus significados são completamente distintos. Perigo é uma

fonte potencial de dano. O risco é um valor estimado que leva em consideração a

probabilidade de ocorrência de um dano e a gravidade de tal dano.

Embora a análise de riscos tenha desenvolvida na prática epidemiológica

especialmente para estudar fatores que condicionam a ocorrência e evolução de doenças

crônicas, essa abordagem nos dias de hoje tem aplicação ampla, consagrando como fatores de

risco. Os processos de saúde e doença de uma população obedecem a múltiplas causas e estas

têm origem tanto das condições culturais, sociais e econômicas quanto das características

físicas e biológicas dos indivíduos e seu ambiente (LIEBER; ROMANO, 2002). A saúde,

portanto deve ser entendida em sua dimensão global, cujo enfoque é o da pluricausalidade,

onde os elementos “bio-sócio-ambientais e produtivos relacionam-se de maneira “

independente e interdefinível” tendo portanto um caráter complexo (AUGUSTO et al., 2002).

O risco enquanto ameaça à saúde humana e ao meio ambiente, tem sido estudado

intensamente e sob diversas perspectivas, tanto do ponto de vista de sua avaliação e

caracterização quanto de seu gerenciamento (SLOVIC, 2002).

Para Covello e Merkhofer (1993), risco consiste na “possibilidade de perda ou dano e

a probabilidade de que tal perda ou dano aconteça.” Assim sendo, implica a presença da

possibilidade de um dano ocorrer e na probabilidade de ocorrência de um efeito adverso, isto

é, situação ou fator de risco que se referem a “uma condição ou um conjunto de circunstâncias

que tem o potencial de causar um efeito adverso”. Portanto, risco é um conceito abstrato, não

observável.

Ainda para os autores reconhecer os riscos significa identificar, nos locais de trabalho,

fatores ou situações com potencial de dano.

O risco pode também ser abordado de formas diferentes. Renn (1992) distingue sete

abordagens de risco baseadas em diferentes disciplinas, variando quanto à seleção da unidade

de análise, escolha das metodologias, medidas de risco e função instrumental de risco

(abordagem atuarial, toxicológica, epidemiológica, da engenharia, econômica, psicológica,

social e cultural). As abordagens técnicas baseiam-se em um consenso de que “o risco é a

combinação da probabilidade da ocorrência de um evento e a magnitude das conseqüências”

(HARDING, 1998).

Como diz Slovic (1999), não há risco real, ou seja, o risco não existe enquanto

realidade independente de nossas mentes e culturas. Ele só é possível de ser observado e

mensurado dentro de um contexto. Em trabalho realizado nas últimas décadas, Slovic (1997)

reconhece o risco e as respostas ao risco como construtos sociais. Smithson (1989) coloca que

Page 37: Exposição a agrotóxicos na atividade

37

as teorias das probabilidades são criações mentais e sociais. Segundo ele, a visão alternativa é

a que define a probabilidade em termos de graus de crença.

(EVERS; NOWOTNY, 1987; MARKOWITZ, 1991) observam, que há um elemento

comum a todas estas abordagens, ou seja, a distinção entre realidade e possibilidade. Em

trabalhos realizados nas últimas décadas, Spangler, (1984) Garvin, (2001), Douglas, (1992) e

Slovic (1997) reconhecem o risco e as respostas ao risco como construtos sociais. Smithson já

dizia em 1989 que as teorias das probabilidades são criações mentais e sociais. Segundo ele, a

visão alternativa é a que define a probabilidade em termos de graus de crença (SMITHSON,

1989). Esta perspectiva foi mais tarde adotada por Slovic em seus estudos sobre percepção de

risco. Slovic (1999) estabelece uma distinção entre a probabilidade de risco e a percepção do

risco, partindo da perspectiva de que risco “real” e risco percebido são duas dimensões

diferentes. Em um de seus estudos, ele afirma textualmente que o risco é socialmente

construído (SLOVIC, 1997). Esse autor reconhece que a equação risco/resposta ao risco é

mediada por valores, tornando claro que outros fatores, além de uma avaliação técnica do

risco, são nitidamente importantes

2.3.2 Do risco real ao risco percebido no contexto da exposição a agrotóxicos

Para Wiedmann (1993) a percepção de risco é definida como sendo a “habilidade de

interpretar uma situação de potencial dano à saúde ou à vida da pessoa, ou de terceiros,

baseada em experiências anteriores e sua extrapolação para um momento futuro, habilidade

esta que varia de uma vaga opinião a uma firme convicção”.

Para o autor, a percepção de riscos é baseada principalmente em imagens e crenças e

tem raízes, em uma menor extensão, em alguma experiência anterior como, por exemplo,

acidentes que um motorista já teve o conhecimento de desastres anteriores e a relação com

informações sobre a probabilidade de um desastre ocorrer.

Relativamente na percepção do risco, há que considerar um grande número de fatores

na decisão de um indivíduo aceitar um risco ou rejeitá-lo. As pessoas normalmente

classificam os riscos como neglicenciáveis, aceitáveis, toleráveis ou inaceitáveis e comparam-

nos com os benefícios. Estas valorizações dependem, entre outros, da idade dos indivíduos, do

sexo, da cultura e dos antecedentes educacionais. O fato de a exposição ser ou não

involuntária também influencia a percepção do risco, assim como a falta de controle

Page 38: Exposição a agrotóxicos na atividade

38

individual da situação. Além disso, a percepção do risco também pode ser significativamente

aumentada se houver, como já foi referido, uma insuficiente compreensão científica sobre os

potenciais efeitos sobre a saúde resultantes da implementação de um determinado trabalho.

Esses autores constatam que os agricultores são mais propensos a aceitar a inovação

quando eles não compreendem a natureza do risco e as circunstancias associadas, quando não

podem comparar as novas alternativas às práticas tradicionais, quando não tem controle sobre

a produção e quando tem experiências passadas negativas (GEURIN, 1994). Já, Barr e Cary

(1992) observam que as novas práticas são aceitas mais rapidamente quando elas são

percebidas como lucrativas, apropriadas, consistentes com os objetivos e podem ser

integradas facilmente a práticas já existentes. Monteiro (2002) associa a percepção do risco e

seu controle às mediações culturais, considera que esta associação gera ações específicas e

que a resistência em se adotar novas práticas reside no plano simbólico.

Segundo Slovic et al. (1979) e Gomez (1997), os estudos de percepção de riscos

surgiram só a partir da década de 1970 e 80 como um importante contraponto à perspectiva da

análise técnica de risco, que é baseada nos saberes das engenharias, toxicologia, economia e

ciências naturais, e não considera a influência de crenças, receios e inquietações das

comunidades envolvidas.

Em estudos recentes sobre o impacto do agrotóxico sobre a saúde humana, Peres

(2003) constata o papel importante da percepção individual e coletiva dos riscos na

determinação da exposição a produtos químicos perigosos, sobretudo os agrotóxicos. Wejnert

(2002) já havia dito que três aspectos da realidade atuam como mediadores entre a percepção

do risco e o comportamento – as características individuais e sócio-culturais e as

características das práticas.

Peres (2005) observa que, ao deparar-se frente a um determinado perigo, advindo do

processo de trabalho, um agricultor responde de acordo com suas crenças, experiências,

imagens e informações construídas ao longo de sua trajetória de vida. Para o autor, não há

como conceber uma avaliação de riscos desconexa das crenças, interpretações e reações dos

sujeitos envolvidos. Isto quer dizer que para o autor, a experiência, a informação e o

"background" cultural são determinantes na percepção de riscos, somados ao grau de

escolaridade e a especificidade de tarefas realizadas. Neste sentido, vale relembrar que a

formação do habitus, para Bourdieu, se dá, fundamentalmente, pela família e pela escola, a

partir de processos culturais e das relações sociais dela existentes. Esta visão de percepção de

risco corrobora a importância dos habitus dos agricultores, e demonstra como os mesmos são

os propulsores de suas percepções e de suas ações referentes à aplicação de agrotóxico.

Page 39: Exposição a agrotóxicos na atividade

39

Na problemática da contaminação rural por agrotóxicos no Brasil, Peres (2005) afirma

que a grande maioria dos estudos acerca da contaminação rural por agrotóxicos no Brasil não

leva em consideração a dimensão social do risco representado pela exposição a estes

produtos, focalizando suas investigações nas análises técnicas do risco, baseadas nos

conhecimentos da toxicologia.

O autor ainda observa que na grande maioria das vezes, os trabalhadores reconhecem

que a aplicação de agrotóxicos pode ser perigosa, mas desconhecem os limites deste risco em

função da invisibilidade do problema.

O medo relativo ao risco pode ficar sensivelmente amplificado pelo desconhecimento dos limites deste risco, ou pela ignorância dos métodos de prevenção eficazes. Além de ser um coeficiente de multiplicação do medo, a ignorância aumenta também o custo mental ou psíquico do trabalho. (DEJOURS, 1994))

De acordo com Peres (2005), pelo fato de os pequenos produtores rurais escolherem o

agrotóxico que utilizam eles costumam enxergam esta prática como voluntária e familiar (no

sentido de ser comum ao seu cotidiano). Segundo os autores, esta familiaridade, contribui

para que eles tendam a atribuir níveis relativamente baixos de risco ao uso desses agentes.

Outra questão observada por Almeida (2003) é que o uso de agrotóxicos, parece

constituir um campo em que os agricultores preferem resguardar sua autonomia, o seu

“direito” de decidir, ao seu próprio modo, o que, como e quando fazer. Todas as informações

e orientações recebidas constituem apenas elementos secundários que serão reelaborados e

submetidos a uma lógica técnica e prática própria que orienta as decisões. Esta lógica

constitui-se de parâmetros que com freqüência são distintos das referências racionais para uso

de agrotóxicos.

As estratégias dos agricultores, embora coerentes com sua lógica e objetivos, não são

imutáveis, nem inteiramente lógicas, nem necessariamente as mais adequadas. O agricultor

decide com os elementos que dispõe. À medida que mais informação entra em suas

ponderações, a decisão pode ser diferente. A inserção de elementos externos na reflexão sobre

o sistema pode abrir caminhos para sua evolução (KHATOUNIAN, 2001).

Peres (2005) afirma que no caso dos trabalhadores rurais, é comum observar, em seus

relatos e falas, a alusão a determinadas pessoas que são "fracas para o veneno", em

contraposição ao próprio narrador que ressalta que ele está "acostumado a lidar com o

veneno" ou "preparado" para aquela situação. O autor também observou que o risco era

Page 40: Exposição a agrotóxicos na atividade

40

tangível somente às outras pessoas, visto que, segundo os relatos, eles eram "fortes" e que o

veneno não lhes causava nenhum "problema sério".

Peres (2005) também observou que existe uma tendência por parte dos agricultores em

isentar os agrotóxicos de riscos. Assim eles responsabilizam o próprio usuário pela

intoxicação. A fraqueza dos indivíduos também é apontada por eles como uma das causas das

intoxicações e, mostrar-se resistente a problemas de saúde, é demonstrar força e

masculinidade, que, por sua vez, reforça a necessidade de não demonstrar medo.

2.3.3 Riscos à saúde e sua relação com a exposição a agrotóxicos no trabalho rural.

Os problemas de saúde decorrentes da utilização de agrotóxicos não estão

relacionados simplesmente entre a pessoa e o produto exposto. Vários outros fatores

interferem nesse processo e não devem ser desconsiderados. Tais fatores, como as

características químicas e toxicológicas dos produtos, a concentração ambiental, a dose de

exposição do agente químico, vias de absorção, o grau de exposição, tempo e a freqüência da

exposição, susceptibilidade individual e se a exposição se dá a um único produto ou a vários

(GARCIA, 2005).

Os efeitos para a saúde humana decorrentes da exposição aos agrotóxicos não são

reflexos de uma relação simples e direta entre o produto e a pessoa exposta, mas de distintos

fatores e variáveis, como as características físico-químicas dos produtos (estabilidade,

solubilidade, presença de contaminantes, formulação da apresentação); toxicidade de cada

produto; os indivíduos expostos (idade, sexo, peso, estado nutricional), e as condições de

exposição (freqüência, dose, formas de exposição) (GRISOLIA, 2005).

Considerando as colocações anteriores, os riscos no trabalho com agrotóxicos não

estão associados apenas com o manuseio e aplicação dos produtos, também deve ser

considerado a questão da toxicidade das substâncias.

O controle dos riscos na utilização de agrotóxicos, procura trabalhar com esses fatores,

onde diminuído a toxicidade e/ou a exposição ao produto o risco também cairia. A eliminação

de um dos fatores traria controle total dos riscos.

A toxicidade dos produtos pode ter interferência de fatores existentes no ambiente de

trabalho e também do indivíduo exposto. A temperatura e a umidade podem interferir nas

propriedades físico-químicas das substâncias, favorecendo maior ou menos absorção. Com

Page 41: Exposição a agrotóxicos na atividade

41

relação às propriedades dos indivíduos, fatores como sexo, peso, estado nutricional e

condições metabólicas podem potencializar os efeitos dos agrotóxicos (GARCIA, 2005).

O mesmo autor relata que o fator exposição pode ter relação com outros aspectos

como a as quantidades de produtos aplicadas, formulação e concentração dos produtos, a

metodologia de aplicação, o tempo e a freqüência com que os produtos são aplicados, a

adoção de medidas de proteção como o uso de equipamentos de proteção individual, as

condições ambientais, como o vento, temperatura, ambientes abertos ou fechados, tipo de

vegetação e também o comportamento das substâncias onde estas estão sendo aplicadas.

O perigo da intoxicação será maior ou menor conforme a proteção utilizada pelo

agricultor. Para Daldin e Santiago (2003), o risco é a probabilidade de um evento causar efeito

adverso à saúde, e sua intensidade depende da interação entre a toxicidade do produto

químico e a quantidade e tipo de exposição do indivíduo a este produto. Assim, numa

classificação genérica entre risco baixo e alto, ele estaria classificado conforme descrito na

tabela 02.

Tabela 02 – Relação entre Risco, Toxicidade e Exposição

Risco = Toxicidade x Exposição

Alto Alta Alta

Baixo Alta Baixa

Alto Baixa Alta

Baixo Baixa Baixa

Fonte: Daldin e Santiago (2003)

Pode-se observar que o fator mais importante é a exposição, tornando-se crucial a

proteção do indivíduo quando exposto ao produto.

As intoxicações por exposição aos agrotóxicos resultam de uma interação complexa

entre as características do agrotóxico e as características da exposição do trabalhador ao

produto, incluindo a adoção de medidas e equipamentos de proteção.

Esse contexto explicita a importância da classificação toxicológica, devido às

condições reais de uso, a mistura de produtos e a aplicação em períodos quentes modificarem

os graus de toxidade de cada substância (MORAES, 2007).

A Food Agricultural Organization (2004) reconhece que o risco no uso de agrotóxicos

decorre não só da probabilidade de um produto causar um efeito adverso à saúde ou ao

Page 42: Exposição a agrotóxicos na atividade

42

ambiente, mas também da severidade deste efeito. A severidade do efeito está relacionada às

características da exposição a estes produtos, isto é, à natureza da atividade exercida pelo

indivíduo exposto, ao grau e à freqüência da exposição ao agente químico. Dada à intensidade

e à freqüência do contato com tais agentes químicos, a contaminação de trabalhadores que

manipulam estas substâncias, é responsável por 80% dos casos de intoxicação no meio rural

(PERES, 2003). A Organização Mundial de Saúde estima que, no mundo, 150 milhões de

pessoas são intoxicadas anualmente e mais de 20 mil morrem em conseqüência da exposição

a agrotóxicos, a maioria dos casos ocorrendo em países em desenvolvimento

(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1996).

Em busca de registros de casos de intoxicações por agrotóxicos nos bancos de dados

nacionais, foram constatados, no período de 1997 a 2007, 63.303 casos de intoxicação por

agrotóxicos, destes 17.840 ocorreram em circunstâncias ocupacionais número que

corresponde a 28,2% do total de intoxicações notificadas no período (SISTEMA NACIONAL

DE INTOXICAÇAO POR AGROTÓXICO, 2007).

De acordo com Peres et al. (2001), os registros encontrados nos bancos de dados

nacionais não refletem a realidade brasileira, pois para cada evento notificado correspondem

outros cinqüenta não notificados. Em um estudo realizado na região de Dourados no Estado

de Mato Grosso, durante o período de 1992 a 2002, constatou-se que somente nesta região e

durante este período ocorreram 475 intoxicações pelo uso de agrotóxicos; destas, 261

intoxicações foram do tipo acidental ou ocupacional (PIRES et al., 2005). Ainda segundo

Pires (2005), os inseticidas seriam responsáveis por 71,2% das intoxicações.

A tabela 03 ilustra bem o quantitativo de casos de intoxicação por agrotóxicos no

período entre 1997 e 2007, trazendo informações quanto os casos de intoxicações em

circunstâncias ocupacionais e tentativas de suicídio. As intoxicações ocorridas nessas

circunstâncias chamam atenção principalmente quando analisamos os dados registrados para

o Estado de Pernambuco, onde a maioria dos registros de intoxicação por inseticidas de uso

agrícola se dá por tentativa de suicídio, conforme pode ser visualizado na tabela 04.

Page 43: Exposição a agrotóxicos na atividade

43

Tabela 03: Distribuição do número de casos de intoxicações por agrotóxicos, período de 1999-2007, no Brasil, segundo dados do SINITOX (Série 1999- 2007)

Ano Casos de intoxicação

humana por agrotóxicos Casos em circunstâncias

ocupacionais Tentativa de

suicídio

2007 6.179 1.514 2.899

2006 6.757 1.926 2.710

2005 6.870 1.745 2.696

2004 6.034 1.744 2.504

2003 5.945 1.748 2.281

2002 5.591 1.788 2.095

2001 5.384 1.378 2.019

2000 5.127 1.378 1.933

1999 4.674 1.499 1.673

Fonte: Série SINITOX, 1999 -2007

Tabela 04: Distribuição do número de casos de intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola, em circunstâncias ocupacionais e tentativas de suicídio, no período de 1997-2007, em Pernambuco

Ano Casos de intoxicação humana

por agrotóxicos Nº

Casos em circunstâncias ocupacionais

Tentativa de suicídio Nº

2007 538 5 444

2006 450 2 361

2005 605 29 478

2004 627 1 518

2003 540 4 279

2002 ** ** **

2001 ** ** **

2000 237 5 183

1999 - 10 15

Fonte: Série SINITOX, 1999 -2007 Nota: **Dados não disponível

- Dado numérico igual a zero

As vias de absorção dos agrotóxicos no organismo humano são, sobretudo, a dérmica

e a respiratória, podendo, ainda, em escala bem menor, ser a via digestiva. O índice de

ingestão dos agrotóxicos pela derme é o resultado da combinação entre a natureza do

composto, a condição da pele e fatores externos, como a temperatura. A aderência será mais

rápida e completa para produtos solúveis em água e gordura e sua intensidade será maior se a

pele estiver lesada ou em situações de aumento da circulação sangüínea, como ocorre quando

Page 44: Exposição a agrotóxicos na atividade

44

a temperatura ambiente está elevada e/ou quando o trabalhador está realizando atividade física

(MORAES, 2007).

Os inseticidas piretróides são compostos neurotóxicos que afetam o sistema nervoso

central, produzindo tremores e convulsões crônicas e o principal efeito sobre a saúde humana

são as alergias, cujos sintomas clínicos predominam na face, caracterizados por

entorpecimento, formigamento, prurido e sensação de queimação. Nos casos mais graves,

identificam-se cefaléia intensa, tonturas, sensação de fadiga, perda da consciência,

fasciculação, cãibras musculares generalizadas e convulsões, podendo afetar, ainda, a função

vital de vários órgãos, causando cirrose, arritmia cardíaca, problemas orgânicos e funcionais

para os olhos.

Grisolia (2005) manifesta preocupação quanto aos efeitos sobre a saúde humana

relacionados à mutagenicidade, carcinogenicidade e teratogenicidade causados pelos

fungicidas Etilenobistidiocarbamatos (EBDC), que são utilizados há mais de 40 anos,

principalmente nas culturas de cereais, frutas, hortaliças e legumes. O referido autor concorda

com a classificação da Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana (US-EPA), que

qualifica os EBDC como carcinógenos do tipo B2 – comprovadamente carcinogênicos para

animais de laboratório e suspeito para o homem. Este efeito é atribuído principalmente ao

Metabólito Etilenotiouréia (ETU), além de salientar a grande preocupação da comunidade

científica internacional com os efeitos dos agrotóxicos sobre o patrimônio genético das

populações, com implicações para o câncer e as malformações congênitas, ao verificar-se a

mutagenicidade em diferentes microorganismos, provocada pelos produtos: maneb, mancozeb

e zineb.

Na Tabela 05 observa-se a relação entre o tipo de exposição aos agrotóxicos e os

sinais e sintomas verificados.

Page 45: Exposição a agrotóxicos na atividade

45

Tabela 05 – Relação de tipos de exposição a agrotóxicos, sinais e sintomas clínicos que podem ocorrer

Exposição

Única ou por período Curto

Continuada por Longo Período

Sinais e sintomas agudos

Intoxicações agudas; náusea; cefaléia; tontura; vômito; parestesia; fasciculação muscular; desonrientação; dificuldade respiratória; coma; morte.

Hemorragia; hipersensibilidade; teratogênese e morte fetal

Sinais e Sintomas crônicos

Paresia e paralisia reversíveis; ação neurotóxica retardada irrversível; pancitopenia.

Lesão cerebral irreversível; tumores malignos. Atrofia testicular; esterilidade masculina; alterações comportamentais; neurites periféricas; dermatites de contato; formação de catarata; atrofia do nervo ótico; lesões hepáticas, etc

Fonte: Organização Pan Americana de Saúde (1996)

Vários estudos demonstram que a utilização de medidas e equipamentos de proteção

não é uma conseqüência direta do conhecimento dos riscos associados ao manejo do

agrotóxico, mas depende da maneira como, individual e coletivamente, os trabalhadores

percebem o risco no uso destes produtos tóxicos (PERES, 2007)

O fator exposição, no entanto, não está relacionado apenas à manipulação e aplicação

do produto. O controle da exposição deve ser exercido no ambiente onde o trabalho ocorre e

não exclusivamente sobre o indivíduo exposto (GARCIA, 2005).

2.4 A construção do campo de saúde do trabalhador e Implantação da Vigilância em

Saúde do Trabalhador: desafios para o SUS

Conceitualmente, trabalhadores são todos os homens e mulheres que exercem

atividades para sustento próprio e ou de seus dependentes, qualquer que seja sua forma de

inserção no mercado de trabalho nos setores formais ou informais da economia. Estão

incluídos nesse grupo todos os indivíduos que trabalharam ou trabalham como: empregados

assalariados; trabalhadores domésticos; trabalhadores avulsos; trabalhadores agrícolas;

autônomos; servidores públicos; trabalhadores cooperativados; e empregadores,

particularmente os proprietários de micro e pequenas unidades de produção. Consideram-se

Page 46: Exposição a agrotóxicos na atividade

46

também trabalhadores aqueles que exercem atividades não remuneradas habitualmente, em

ajuda a membro da unidade domiciliar que tem uma atividade econômica; como aprendiz ou

estagiário; e aqueles temporária ou definitivamente afastados do mercado de trabalho por

doença, aposentadoria ou desemprego (BRASIL, 2004).

A área de Saúde do Trabalhador, no Brasil, tem uma conotação própria que se

configura como reflexo da trajetória que lhe deu origem e vem constituindo seu marco

referencial, seu corpo conceitual e metodológico. A princípio é “uma meta, um horizonte,

uma vontade” que entrelaça trabalhadores, profissionais de serviços, técnicos e pesquisadores

sob premissas nem sempre explicitadas. O compromisso com a mudança do que concerne ao

quadro de saúde da população trabalhadora é seu pilar fundamental, o que supõe desde o agir

político, jurídico e técnico ao posicionamento ético, obrigando a definições claras diante de

um longo e, presumidamente, conturbado percurso a seguir. Um percurso próprio dos

movimentos sociais, marcado por resistência, conquistas e limitações nas lutas coletivas por

melhores condições de vida e de trabalho; pelo respeito/desrespeito das empresas à mesmo

que questionável legislação existente e ou mesmo pela omissão do Estado na definição e

implementação de políticas nesse campo (MINAYO-GOMES; COSTA, 1997).

A saúde dos trabalhadores na medida em que outras questões são colocadas no País.

Manifesta-se no âmago da construção de uma sociedade democrática, da conquista de direitos

elementares de cidadania, da consolidação do direito à livre organização dos trabalhadores.

Envolve, especificamente, o empenho tanto de setores sindicais atuantes frente a determinadas

situações mais problemáticas das suas categorias, quanto ações institucionais em instâncias

diversas conduzidas por profissionais seriamente comprometidos em sua opção pelo pólo

trabalho (MINAYO-GOMES, 1999).

No Brasil, o primeiro projeto de lei que tinha como fundamento o risco profissional foi

criado em 1904 (Projeto nº. 169/1904), porém somente em 1919 é que um outro projeto de lei,

este elaborado por técnicos do Departamento Estadual do Trabalho, foi finalmente aprovado

em forma de lei. Nesse ano ocorreu a criação da Organização Internacional do Trabalho. Essa

lei tinha como pano de fundo as numerosas greves no país, incluindo a greve geral de 1917 e

também o final da Primeira Guerra Mundial, apresentando uma necessidade de mudanças que

auxiliassem na manutenção da paz, além de um cenário internacional de países que adotavam

legislações trabalhistas com vantagens em relação àqueles países que não o faziam (MAENO;

CARMO, 2005).

Os autores chamam-nos a atenção para o fato de que a Lei de Acidentes de Trabalho

de 1919, embora tenha significado um avanço jurídico, particularmente porque se baseava na

Page 47: Exposição a agrotóxicos na atividade

47

responsabilidade objetiva do empregador, sem necessidade de se comprovar sua culpa,

colocou embutido no conceito de risco profissional a sua inerência à atividade profissional, a

“indissociabilidade de fatores de risco de determinadas atividades, e que é natural e aceitável

que os trabalhadores sejam expostos a eles” (MAENO; CARMO, 2005). Desse período até o

início da década de 1920, o principal alvo das práticas sanitárias era o controle de doenças

infecto-contagiosas (a chamada era bacteriológica), para o qual se obteve relativo sucesso.

(MERHY, 1985).

A evolução histórica da legislação e normatização sobre as questões saúde e trabalho é

originalmente da área da Previdência ou Seguridade Social; posteriormente do Ministério do

Trabalho (1930), com a Consolidação das Leis do Trabalho (MENDES; DIAS, 1993). A

tensão entre essas diferentes instituições e o setor saúde influenciará a organização e a atuação

dos serviços de saúde do trabalhador (LACAZ, 2005).

A segunda Lei de Acidentes do Trabalho é de 1934, no contexto do primeiro governo

Vargas, momento onde a política estatal para a área social se concentrava no Ministério do

Trabalho, Indústria e Comércio, que passou a se chamar Ministério da Revolução. O

movimento sindical se caracterizava por uma prática assistencialista médica, jurídica e

cultural e pouco reivindicatória e passou a ser controlado pelo Estado. Neste período foram

criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões para as categorias profissionais, também

controlados pelo governo e que representavam um novo mecanismo de prestação direta de

serviços a determinadas categorias de trabalhadores. Nesta segunda lei, institui-se a

obrigatoriedade da comunicação à autoridade policial em caso de acidente de trabalho com

afastamento; porém, a prevenção do acidente continuava sem ser mencionada. A terceira Lei

de Acidente de Trabalho data de 1944, nela foi criada a figura do acidente de trajeto. Nesse

período são criadas as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes de Trabalho (CIPAs),

para as empresas com mais de cem trabalhadores, com a função de realizar ações de educação

dos trabalhadores em relação a hábitos de higiene e à prevenção do alcoolismo; quanto à

prevenção e fiscalização do trabalho, cabia-lhe dar sugestões. A assistência médica era

assegurada ao trabalhador por um ano; depois desse período, cabia à rede pública o seu

cuidado (MAENO; CARMO, 2005).

Na década de 70 houve um crescimento da produção científica e de serviços que

resultou na ampliação do reconhecimento dos riscos presentes nos ambientes de trabalho,

colocando os trabalhadores como uma população vulnerável a eles. Os danos à saúde

decorrentes do trabalho em ambientes insalubres começa a se tornar uma preocupação na

comunidade científica (CÂMARA et al., 2003).

Page 48: Exposição a agrotóxicos na atividade

48

Diferentemente da medicina do trabalho e da saúde ocupacional, a saúde do

trabalhador traz a necessidade de integração entre diferentes saberes e práticas de caráter

técnico, social e humano, dos profissionais da saúde, da engenharia, do planejamento, das

ciências sociais, dos políticos e dos trabalhadores e seus organismos de representação; tem

como objetivo a compreensão da integração, cada vez mais complexa, dos elementos do

processo de trabalho “que interatuam dinamicamente entre si e com o corpo do trabalhador,

gerando aqueles processos de adaptação que se traduzem em desgaste, entendido como perda

da capacidade potencial e/ou efetiva corporal e psíquica” (LAURELL; NORIEGA, 1989), e

com isso, obter as mudanças necessárias nos processos de trabalho, com destaque para a

importância da socialização das informações entre a classe operária, os técnicos da produção e

os de saúde, para poder interferir na carga de trabalho a que os trabalhadores são expostos. A

saúde do trabalhador é, portanto, um campo interdisciplinar, multiprofissional e intersetorial,

que busca superar as concepções “tecnicistas hegemônicas”, buscando outros parâmetros de

vigilância em saúde do trabalhador (MINAYO-GOMES; 1999).

A Saúde do Trabalhador traz a particularidade de ser uma área que institui práticas

potencialmente transformadoras, que perseguem a integralidade da atenção à saúde buscando

a superação da dicotomia existente entre assistência individual e coletiva, entre a vigilância

epidemiológica e a vigilância sanitária, entre ações preventivas e curativas. Além disso, traz

em sua trajetória a busca da participação e do controle social por parte dos trabalhadores e

suas organizações. Na realidade, é uma área que se instaura desde o início a partir da

mobilização e luta dos trabalhadores pela saúde no trabalho. O exercício da intersetorialidade

é também uma característica fundamental de práticas efetivas em Saúde do Trabalhador.

(AIRES; NOBRE, 1999).

No final da década de 70, cresce o Movimento Sindical, como por exemplo a exemplo

a realização das greves dos metalúrgicos no ABC paulista. Junto com as greves se dá a

articulação de vários setores ao movimento sindical, proporcionando a criação da Comissão

Intersindical de Saúde e Trabalho (CISAT) (LACAZ, 1997).

O período da década de 80 se dá a conhecida construção da proposta da Reforma

Sanitária Brasileira, momento marcado por vários movimentos populares como: a campanha

pelas eleições diretas para presidente da república, a instalação da Assembléia Nacional

Constituinte, a criação de órgãos estatais e da sociedade civil como os Conselhos de Defesa

do Consumidor (PROCON) e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC). Esses

movimentos marcam a história da Saúde Pública no Brasil, e faz com que o governo busque

trabalhar mais em favor do cidadão (COSTA; ROSENFELD, 2000; LACAZ, 2005).

Page 49: Exposição a agrotóxicos na atividade

49

A saúde pública passa a se inserir na área de saúde do trabalhador com participação

no movimento chamado de “Programas de Saúde do Trabalhador (PST)”, com os serviços de

saúde articulando setores como as Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs), a Fundação

Centro Nacional Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho

(FUNDACENTRO) e Universidades. Os Programas de Saúde do trabalhador foram criados

em consonância com as recomendações da Organização Mundial de Saúde e da Organização

Internacional do Trabalho. Esse movimento deixou clara a diferença entre as práticas do

Programa de Saúde do Trabalhador e dos Serviços Especializados de Segurança e Medicina

do Trabalho (SESMET), que foram criados pelo Ministério do Trabalho, com forte

alinhamento com o controle da força de trabalho em favor da produtividade e do lucro,

selecionando os mais sadios e promovendo a adaptação do homem ao trabalho.

Os movimentos sociais culminam com a VIII Conferência Nacional de Saúde em

março de 1986. Nesse mesmo ano é realizada a Conferência Nacional de Saúde do

Trabalhador. Esses dois movimentos são marcantes para a história da Saúde do Trabalhador,

uma vez que influenciaram fortemente a Assembléia Nacional Constituinte, em 1987, e,

conseqüentemente, a Constituição Federal de 1988, seguida dos textos legais da Lei da Saúde

8080/90, Lei da Previdência em 1991 e as alterações do capítulo V da CLT, no campo do

trabalho (LACAZ, 2005; MENDES; DIAS, 1993).

A Constituição Brasileira de 1988 garantiu o direito à saúde para todos os brasileiros e

instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS). A concepção ampliada de saúde expressa na Constituição

também assegura a toda população – incluídos os trabalhadores – a universalidade, a igualdade e a

integralidade no acesso às ações e serviços de saúde, para promoção, prevenção e recuperação da

saúde. Também expressa que as ações e serviços de saúde integram uma rede regionalizada e

hierarquizada e constituem um sistema único da saúde, além de se organizarem de acordo com as

diretrizes de descentralização, atendimento integral e participação da comunidade, com uma

responsabilidade constitucional que não se limita à assistência médico-hospitalar, e que deve dar

prioridade às ações preventivas, sem prejuízo das ações assistenciais (LOURENÇO; BERTANI, 2007;

MENDES; DIAS, 1993).

As ações de Saúde do Trabalhador passaram a ser competência do SUS em 1988, com

a promulgação da Constituição Federal do Brasil (art. 200). Posteriormente, em 1990,

segundo o regulamento da Constituição, foi sancionada a Lei Orgânica da Saúde nº 8080 de

19/09/1990, que dispõe em seu artigo 6º a atuação do SUS na área de Saúde do Trabalhador,

sendo entendida como:

Page 50: Exposição a agrotóxicos na atividade

50

Um conjunto de atividades que se destinam, por meio das ações de vigilância epidemiológica e sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como a recuperação e reabilitação daqueles submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho (BRASIL, 1990).

Uma vez estabelecida na Lei Orgânica da Saúde, a Saúde do Trabalhador deve

envolver toda a rede de serviços de saúde, desde o mais simples até o serviço de mais alta

complexidade (SANCHEZ et al., 2009).

A Saúde do Trabalhador é definida como um campo da saúde pública ou da saúde

coletiva que aborda e intervém nos determinantes do processo de saúde e doença nos

ambientes de trabalho, bem como cuida da atenção e assistência integral dos trabalhadores

expostos ou acometidos por doenças relacionadas ao trabalho. No entanto, a ênfase da Saúde

do Trabalhador concentra-se nos aspectos de promoção da saúde e prevenção das doenças

(PINHEIRO et al., 2005).

No final de 1990, em cumprimento a Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990), que

delega ao SUS a revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de

trabalho, foi editada a nova Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (BRASIL, 1999).

Ressalta-se que, ao estabelecer a relação entre doenças e trabalho num conceito mais amplo e

prever a sua revisão anualmente com vistas à inclusão de novas doenças, propiciou um avanço

para novas práticas e políticas no campo saúde do trabalhador. Outro aspecto positivo

possibilitado pela edição da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho é o fato de ter sido

adotada também “pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, regulamentando o

conceito de Doença Profissional e de Doença Adquirida pelas condições em que o trabalho é

realizado [...]” (DIAS, 2001, p. 20).

A incorporação da saúde do trabalhador pelo SUS reconhece, nos ambientes e

processos de trabalho, as condições para os eventos agressivos à saúde “de quem trabalha” na

perspectiva epidemiológica. Não se restringe a atender o lesionado individualmente, mas

busca quantificar o número de pessoas expostas à insegurança e qualificar essas condições

para posteriores mudanças. (LOURENÇO; BERTANI, 2007).

Aliado a todos esses aspectos anteriormente citados, a implantação do SUS faz trazer

a necessidade da fiscalização das condições e ambientes de trabalho para o setor saúde, e dar

aos seus profissionais a responsabilidade da execução de ações de vigilância em locais de

trabalho, com enfoque de forma multidisciplinar e interinstitucional, com o objetivo de atingir

a integralidade e a eficiência nas suas ações .A Vigilância em Saúde deve ter uma visão ampla

e buscar direcionar suas ações garantindo saúde e cidadania, fundamentar suas ações do ponto

Page 51: Exposição a agrotóxicos na atividade

51

de vista da epidemiologia e no enfoque de risco, com base na epidemiologia social. Há que se

considerar que a expressão” vigilância à saúde, ou vigilância em saúde ou ainda, vigilância da

saúde” tem merecido a reflexão de vários autores sobre seus objetos, metodologia de trabalho,

objetivos da ação (VILELA, 2005).

Waldman (1998) fala da Vigilância em Saúde Pública como equivalente à vigilância

epidemiológica e destaca a importância da coleta sistemática de dados, sua análise contínua e

a disseminação da informação, porém não considera a realização das medidas de controle

como responsabilidade do profissional que atua na vigilância em saúde pública, mas a atribui

à autoridade sanitária, que, no seu entender, devem ser profissionais de serviços distintos.

Para Silva-Júnior (2004), a vigilância sanitária não faria parte integrante da Vigilância

em Saúde, mas se constituiria em “território de práticas vizinho”, pelo seu caráter pontual de

normatização, fiscalização e controle, e sem ter como objeto a monitorização permanente de

agravos.

A proposta da vigilância da saúde faz uma analogia com o processo da História

Natural da Doença proposto por Leavell e Clarck, ao propor, de forma articulada, o enfoque

populacional para as ações de promoção e controle das causas, o enfoque de risco para as

ações de prevenção e controle dos riscos, e o enfoque clínico para as ações de assistência e

controle dos danos (TEIXEIRA, 2001).

A vigilância em saúde do trabalhador é uma prática social que requer “uma

compreensão transdisciplinar e uma ação transversal inter e intra-setorial”, ou seja, que deve

ser exercida por muitos, pelos diferentes atores que tenham envolvimento com a questão,

extrapolando o setor saúde. A vigilância em saúde do trabalhador congrega diferentes

componentes estruturais para a abordagem interdisciplinar da relação processo de trabalho e

saúde: os componentes tecnológicos utilizados em determinado processo de produção;

epidemiológicos para a avaliação de risco; e sociais, como as condições econômicas e de

organização dos trabalhadores, incorporando o processo de trabalho como categoria e objeto

fundamentais para sua análise e intervenção. Busca o conhecimento para a ação e, com isso,

também gera novos conhecimentos (MACHADO, 2005).

A Portaria MS/GM Nº 3.120, de 1° de julho de 1998, que aprovou a Instrução

Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador no SUS, define a Vigilância em Saúde

do Trabalhador como:

Uma atuação contínua e sistemática, ao longo do tempo, no sentido de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e

Page 52: Exposição a agrotóxicos na atividade

52

condicionantes dos agravos à saúde relacionados aos processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social, organizacional e epidemiológico, com a finalidade de planejar, executar e avaliar intervenções sobre esses aspectos, de forma a eliminá-los ou controlá-los (BRASIL, 1998).

A Vigilância em Saúde do Trabalhador compõe, portanto, um conjunto de práticas

sanitárias, vinculadas à vigilância em saúde como um todo, devendo estar articulada às ações

da atenção básica, da atenção especializada e hospitalar, às práticas das vigilâncias

epidemiológica, sanitária e ambiental, bem como às práticas de programas específicos ou

estruturantes como saúde da mulher, saúde da criança e do adolescente, do idoso, saúde

mental, redução da violência, Programa de Agentes Comunitários de Saúde, Programa de

Saúde da Família etc. Além desses, deve se articular com os demais setores, externos à saúde,

de interesse à área, a exemplo do Trabalho, Previdência, Meio Ambiente, Agricultura,

Educação, Ministério Público, entre outros. (TEIXEIRA, 2001).

O processo de implantação do SUS promoveu a descentralização da vigilância em

saúde para os municípios, entretanto a heterogeneidade epidemiológica e sanitária dos

municípios brasileiros e as diferentes capacidades municipais de gerenciarem seus sistemas

locais fazem com que essa implantação se dê de forma diferenciada. A organização dos

sistemas locais de vigilância da saúde deve permitir a flexibilidade necessária à realidade

local (TEIXEIRA et al., 2002).

Em 1995, o Ministério da Saúde publicou o “Manual de Normas e Procedimentos para

a Vigilância em Saúde do Trabalhador no Sistema Único de Saúde – SUS” que relatava os

avanços obtidos pelos Programas de Saúde dos Trabalhadores e recomendava que fossem

incorporados “elementos de vigilância em saúde ocupacional tradicionais, da vigilância à

saúde e da epidemiologia social”, além de articular com outras áreas, por exemplo, o meio

ambiente, como modo de executar a vigilância em saúde do trabalhador (VILELA, 2003).

São reconhecidas as dificuldades que o SUS enfrentou para a sua implantação,

entretanto foram elaboradas as constituições estaduais e as leis orgânicas dos municípios,

foram experimentados modelos assistenciais e de organização de serviços, através dos

distritos sanitários, em vários municípios, e foi realizada a IX Conferência Nacional de Saúde.

Tal conferência, além de denunciar o não cumprimento da legislação sanitária, defendeu a

municipalização da saúde (VILELA, 2003)

Nos anos 90 a Saúde Ambiental passou a ocupar lugar nas questões prioritárias no

campo da Saúde Coletiva, na medida em que problemas de saúde são relacionados ao

Page 53: Exposição a agrotóxicos na atividade

53

ambiente, incluídos aí o ambiente natural e o de trabalho. Reforça-se ai ligação entre as

práticas de saúde do trabalhador e de saúde ambiental, representada pelos processos

produtivos (CÂMARA et al., 2003)

Em 2002, foi publicada a Portaria 1.697 do Ministério da Saúde que instituiu a Rede

Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador no SUS, (RENAST). Essa Norma faz

uma abordagem dos aspectos de assistência e vigilância, no entanto dá maior ênfase para as

questões relacionadas à assistência à saúde dos trabalhadores, reforçando as diretrizes de

descentralização, hierarquização e controle social, além de ressaltar a importância da

estruturação das ações na rede de atenção básica, de média e alta complexidade, no Programa

de Saúde da Família e na rede de centros de referência de saúde do trabalhador (LACAZ,

1996)

A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST), por meio

dos CRST, vem implantando uma nova lógica de trabalho nos vários municípios brasileiros

baseada na construção de ações intersetoriais entre os serviços de saúde, como a rede básica e

as vigilâncias epidemiológica, ambiental e sanitária, e prevê ações coordenadas com os órgãos

de atuação nos ambientes de trabalho (Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT),

Delegacia Regional do Trabalho (DRT), Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e

Medicina do Trabalho (Fundacentro), Ministério Público (MP), Instituto Nacional de

Previdência Social (INSS) e outros). (LACAZ, 1996)

Contudo, na prática, há uma enorme contradição entre ações assistenciais aos(às)

trabalhadores(as) que sofreram acidentes de trabalho e a nova proposta da RENAST. Isto é, a

discussão sobre a responsabilidade do SUS na intervenção sobre os processos de trabalho,

debatida na II CNST (1994) e ampliada na III CNST (2005), ainda não foi esgotada,

especialmente no que tange à inspeção, o que não pode ser tratado como algo desprezível na

efetivação do campo saúde do trabalhador. (LOURENÇO; BERTANI, 2007)

Minayo-Gomez e Thedim-Costa (1997) também advertem que a Saúde do Trabalhador

não tem sido preocupação central da Saúde Pública, e que as dificuldades financeiras e de

recursos humanos que o SUS enfrenta contribuem para que não seja estruturada uma ação

integral e ao mesmo tempo diferenciada para os trabalhadores.

No ano de 2003, em substituição ao antigo Centro Nacional de Eidemiologia, foi

criada a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, com uma estrutura que

procurava facilitar a integração interna de áreas da própria vigilância, como as doenças

transmissíveis, as não transmissíveis, a análise de situação de saúde e a vigilância ambiental

em saúde (BRASIL, 2006). Porém, as ações de saúde do trabalhador e de vigilância sanitária

Page 54: Exposição a agrotóxicos na atividade

54

ficaram excluídas dessa nova estrutura e permaneceram, respectivamente, sob

responsabilidade da Coordenadoria de Saúde do Trabalhador (COSAT) da Secretaria de

Assistência do Ministério da Saúde e da ANVISA, reforçando a fragmentação estrutural das

práticas de vigilância (VILELA, 2005).

Em 2005, ocorreu a III Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, com o tema

“Trabalhar sim. Adoecer não”, que procurou chamar a atenção para o adoecimento

específico e desigual que o trabalhador sofre em decorrência do trabalho, abordando o tema

em três eixos de discussão: a integralidade da atenção, a política de desenvolvimento

sustentável e o controle social (BRASIL, 2005; MAENO; CARMO, 2005).

No ano de 2007, a Coordenadoria de Saúde do Trabalhador (COSAT) deixou de estar

vinculada administrativamente à Secretaria de Assistência e passou a ligar-se à Secretaria de

Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde.

Coma as mudanças ocorridas de forma a reorganizar o Ministério da Saúde, definidas

no Decreto nº 6860 de 28 de maio de 2009, a Coordenação Geral de Vigilância em Saúde

Ambiental (CGVAM) e a Coordenação de Vigilância em Saúde do Trabalhador (CGSAT)

juntaram-se e fazem parte do Departamento de Vigilância em Saúde ambiental e Saúde do

Trabalhador na SVS (DIAS et al., 2009).

Refletir sobre a saúde do trabalhador no SUS significa sublinhar uma área de

conhecimento em construção e que se propõe a compreender as manifestações das condições

de trabalho para a saúde não apenas na esfera dos acidentes de trabalho no âmbito industrial,

mas também a sua repercussão, do ponto de vista da saúde, no campo da agricultura e dos

serviços (MINAYO- GOMES; LACAZ, 2005).

A vigilância em saúde do trabalhador, enquanto campo de atuação, distingue-se da

vigilância em saúde em geral e de outras disciplinas no campo das relações entre saúde e

trabalho por delimitar como seu objeto específico a investigação e intervenção na relação do

processo de trabalho com a saúde. Na prática, entretanto, essa concepção não está ainda

incorporada em seu sentido amplo, dados sua fragmentação e o pequeno grau de articulação

existente entre os componentes diretamente envolvidos nessa relação (TAMBELLINI, 1986).

A produção de normas e protocolos próprios para o SUS, na perspectiva da qualidade

técnico científica, inclusive na área de Saúde do Trabalhador, ainda é escassa. Pouco se

trabalha na visão da vigilância em saúde e da qualidade da atenção à saúde, em seu sentido

amplo, e não apenas assistencial. Persiste a necessidade de melhor definir conceitos e

concepções, especialmente aqueles de vigilância, de educação e promoção em saúde aplicada

às intervenções em saúde do trabalhador. A despeito de importantes contribuições

Page 55: Exposição a agrotóxicos na atividade

55

(PINHEIRO, 1996; MACHADO, 1996), pode-se afirmar que a construção do processo de

vigilância em saúde do trabalhador ainda ressente-se de maior reflexão, tanto nesta dimensão

teórico-conceitual quanto tático-operativa.

Page 56: Exposição a agrotóxicos na atividade

56

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Analisar a percepção dos trabalhadores rurais acerca dos riscos e danos à saúde

decorrentes da exposição a agrotóxicos.

3.2 Objetivos específicos

a) Caracterizar o perfil sócio-econômico dos trabalhadores rurais;

b) Compreender o processo de produção agrícola e as práticas e atitudes

dos trabalhadores rurais na utilização de agrotóxicos

c) Identificar a percepções dos trabalhadores sobre os riscos e danos à

saúde decorrentes do uso de agrotóxicos

d) Analisar a relação dos problemas de saúde percebidos pelos

trabalhadores rurais com a exposição a agrotóxicos.

Page 57: Exposição a agrotóxicos na atividade

57

4 MATERIAL E MÉTODO

4.1 Desenho do Estudo

Trata-se de um estudo caso descritivo, com utilização de técnicas qualitativas e

quantitativas de coleta e análises de dados.

O estudo foi conduzido em dois momentos: no primeiro momento foi realizado um

estudo preliminar de caráter quantitativo. Essa etapa teve como finalidade realizar um

diagnóstico inicial da situação de utilização e exposição aos agrotóxicos e caracterizar o perfil

sócio-econômico dos trabalhadores rurais. Nesse momento os dados foram coletados através

da aplicação de um questionário. Ao término do estudo selecionou-se os “informantes chaves”

os quais foram entrevistados no segundo momento.

O segundo momento do estudo teve caráter qualitativo, tendo a finalidade de entender

o processo de produção agrícola, as práticas e atitudes dos trabalhadores durante a utilização

de agrotóxicos, identificando a percepção desses trabalhadores rurais quanto aos riscos e

danos à saúde decorrente da exposição a agrotóxicos. Nesse momento os dados foram

coletados a partir de entrevistas e da observação participante.

4.2 Área do Estudo

O estudo foi realizado no Distrito de Pau Ferro, município de Salgueiro/PE.

O Distrito de Pau Ferro se destaca por apresentar como atividade econômica

exclusivamente a agricultura e por ser onde se encontra o maior cultivo de cebola e tomate da

região. Os produtos são cultivados durante todo o ano, principalmente a cebola, com garantia

de venda da produção para compradores de diversos municípios.

Para seleção do local do estudo considerou-se:

a) Apresentar como atividade econômica exclusivamente a agricultura,

sendo o local onde se encontra o maior cultivo de cebola e tomate da região,

cultivando esses produtos durante todos os meses do ano, com garantia de venda

da produção para compradores de diversos municípios.

Page 58: Exposição a agrotóxicos na atividade

58

b) Possui população de 2240 habitantes (SISTEMA DE INFORMAÇÃO

DA ATENÇÃO BÁSICA, 2008), onde praticamente 100% sobrevivem da

produção rural.

c) A utilização de agrotóxicos de se dá indiscriminadamente, com

produtos que variam na sua classificação toxicológica do extremamente tóxico a

pouco tóxico.

d) Ser objeto de estudo da VII GERES pelo fato da população do distrito

apresentar graves problemas de saúde.

4.3 População do Estudo

No primeiro momento do estudo a população foi constituída de 96 trabalhadores rurais

inscritos na Associação dos Trabalhadores rurais do Distrito de Pau Ferro, município de

Salgueiro –PE. Levou-se em consideração que o fato desses trabalhadores se organizarem

através de associações rurais traz relação com a incorporação da atividade de “Trabalhador

Rural” como sua profissão.

Como critério para a definição da amostra, considerou-se uma amostra finalística ou

intencional, em que trabalhador rural foi considerado como “população sentinela”, ou seja,

uma amostra representativa de um tipo de unidade espaço-populacional relevante para o

monitoramento dos ambientes de desenvolvimento humano (SAMAJA, 2000). É importante

destacar que qualquer análise de risco à saúde a partir de processos produtivos, os

trabalhadores são os mais afetados através da exposição direta. Portanto representam o grupo

populacional prioritário a ser investigado (TAMBELLINI; CAMARA, 1998).

Apesar da Associação dos Trabalhadores Rurais do Distrito de Pau Ferro apresentar

um total de 255 trabalhadores associados, optou-se por selecionar apenas os trabalhadores

rurais que no período do estudo encontravam-se na ativa e desenvolviam a atividade de

aplicação de agrotóxicos. Com base nesse critério, foram excluídas as mulheres por ter sido

verificado que essas não exercem tal atividade. Foram também excluídos da amostra os

aposentados que não exercem mais atividade agrícola. Com a utilização dos critérios, chegou-

se a 96 trabalhadores para ponderem aos questionários.

Page 59: Exposição a agrotóxicos na atividade

59

Após a conclusão do estudo preliminar, foram definidos os informantes chaves para

compor a amostra do estudo qualitativo da pesquisa (segundo momento). Para a seleção

destes foram utilizados os seguintes critérios:

a) Trabalhar exclusivamente na produção rural

b) Utilizar agrotóxicos

Realizar atividades de preparação e aplicação dos produtos

c) Trabalhar mais de 10 anos na atividade agrícola

d) Trabalhar mais de 06 horas de trabalho diário e mais de 05 dias de

trabalho por semana.

A amostra final foi definida considerando a saturação da informação obtida nas

entrevistas com os sujeitos, tendo sido selecionados nove informantes chaves para serem

entrevistados.

4.4 Período do Estudo

Os dados referentes à observação participante, aplicação de questionários e realização

de entrevistas foram coletados no ano de 2009.

4.5 Fontes de Dados e Instrumentos de Coleta

Os dados foram coletados através de aplicação de questionário, realização de

entrevistas e observação participante.

A. Questionário

Também chamados de survey (pesquisa ampla), o questionário é um dos

procedimentos mais utilizados para obter informações. É uma técnica de custo razoável,

apresenta as mesmas questões para todas as pessoas, garante o anonimato e pode conter

questões para atender a finalidades específicas de uma pesquisa. Aplicada com critérios, esta

técnica apresenta alta confiabilidade. Podem ser desenvolvidos para medir atitudes, opiniões,

comportamento, circunstâncias da vida do cidadão, e outras questões. Podem ser aplicados

Page 60: Exposição a agrotóxicos na atividade

60

individualmente ou em grupos, por telefone, ou mesmo pelo correio. Pode incluir questões

abertas, fechadas, de múltipla escolha, de resposta numérica, ou do tipo sim ou não

No presente estudo o questionário teve a finalidade de coletar dados que possibilitasse

caracterizar o perfil sócio econômico da população em estudo, suas práticas e atitudes diante

da utilização de agrotóxicos e as condições de saúde dessa população.

Para atingir a finalidade a que se propõe o instrumento, o questionário foi estruturado

em 04 (quatro) eixos, contendo as seguintes variáveis (Apêndice A):

a) Dados Pessoais: nome, idade, endereço, estado civil, possui filhos e

escolaridade;

b) Condições de vida: tipo de abastecimento de água, coleta, destino e

tratamento dos resíduos, renda, tipo de moradia, residência própria,

exerce outra atividade, numero de pessoas que trabalham na

família.

c) Processo de produção agrícola: tempo de profissão, horas de

trabalho diárias, função atual, dias de trabalho semanal, descanso

semanal, tipo de plantação; membros da família que trabalham na

lavoura, horário de trabalho, renda mensal; propriedade da terra,

instrumentos utilizados no trabalho, presença de irrigação, tipo de

contrato de trabalho, produtos químicos que utiliza no preparo da

terra, na sementeira, durante a cultura, na colheita, como é feita a

compra dos agrotóxicos, onde compra os agrotóxicos, orientação de

uso, como prepara a calda, onde prepara a calda, utilização de

receituário agronômico, forma de aplicação, frequência que trabalha

com os agrotóxicos; horário da aplicação, obedece ao tempo de

carência após a última aplicação, uso de Equipamento de Proteção

Individual (EPI), observa a direção do vento durante a aplicação do

produto, destino das embalagens, local de lavagem dos

equipamentos de aplicação e da roupa de trabalho, pessoa que lava

as roupas de trabalho, local que guarda o agrotóxico, compreensão

da leitura dos rótulos/símbolos das embalagens dos agrotóxicos,

presença de rio na propriedade, presença de animais; os animais

circulam nas plantações, ocorrência de morte de animais após o uso

de agrotóxicos, proximidade de outras pessoas quando aplica

Page 61: Exposição a agrotóxicos na atividade

61

agrotóxicos; realização da tríplice lavagem; realização da refeição

próximo ao local da aplicação, se é fumante, se fuma durante a

aplicação dos agrotóxicos.

d) Condições de saúde dos trabalhadores: identificação dos casos de

pessoas intoxicadas pelos agrotóxicos, conhecimento dos sintomas

de intoxicação, se já foi intoxicado, se tem algum problema de

saúde, realiza tratamento, presença de sintomas quando aplicam os

agrotóxicos e quanto tempo depois, queixas de saúde.

O questionário proposto foi adaptado de estudo anterior desenvolvido por Gonçalves

(2008). A sua aplicação foi realizada por uma equipe de campo constituída por oito ACS da

equipe de unidade de saúde da família localizada no Distrito de Pau Ferro, Salgueiro-PE após

treinamento e aplicação de piloto pela pesquisadora responsável pelo estudo (Anexo B).

A participação dos sujeitos envolvidos foi voluntária e se deu após a assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice B).

B. Entrevistas

A entrevista consiste em uma conversação em que se exercita a arte de formular

perguntas e escutar respostas. Busca compreender as perspectivas que tem os entrevistados

sobre suas idéias, valores, práticas, situações que tem vivido, entre outras (PEREZ et al,

2006).

Tem adquirido um papel importante na investigação em saúde, principalmente nos

estudos que se pretende conhecer percepções, atitudes, valores e opiniões dos diferentes

atores que intervém na prestação de serviços de saúde.

Nesse estudo, a entrevista teve a finalidade de identificar a percepção dos

trabalhadores rurais sobre o uso de agrotóxicos e os riscos e danos à saúde, além de conhecer

o comportamento, práticas e atitudes desses trabalhadores.

A entrevista foi realizada acompanhada de roteiro semi estruturado, contendo os temas

relevantes a serem abordados, com isso buscava facilitar a coleta de dados e garantir

abordagens dentro do objeto a ser estudado, conforme consta nos apêndices deste documento.

O roteiro da entrevista considerou como temas relevantes a serem abordados: o que

leva o trabalhador a exercer a atividade; sua rotina de atividades no campo; se recebe ajuda de

outros membros da família; o que representa o trabalho na agricultura; quando iniciou suas

atividades no campo; com quem aprendeu a lidar com a terra; utilização de agrotóxicos;

Page 62: Exposição a agrotóxicos na atividade

62

formas de preparação, aplicação e acondicionamento; utilização de EPI; como escolhe o dia e

hora de aplicar os agrotóxicos; importância dos agrotóxicos na atividade agrícola; definição

para os agrotóxicos e a Percepção dos trabalhadores quanto à relação entre exposição a

agrotóxicos e riscos à saúde (Apêndice D).

A participação dos sujeitos foi voluntária e realizou-se após a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice C). As entrevistas foram gravadas

através de gravador digital de voz, tendo sido realizada pela pesquisadora principal do estudo

e contou com o apoio de um técnico da vigilância em saúde da VII GERES (Anexo A).

C. Observação Participante:

A observação participante consiste em um processo que contempla sistematicamente

o desenvolvimento da vida social, onde não se manipula nem modifica nada. Busca observar

uma situação com a finalidade de obter o máximo de informações possíveis das pessoas e do

contexto onde vivem (PEREZ et al., 2006).

Implica num encontro entre o observador e as pessoas a ser observada, encontro esse

mediado pela percepção de quem observa e o desejo de obter informações sobre um

determinado tema. Esse processo de observação deve ser realizado acompanhado de registro

sistemático, descrição detalhada e interpretação de um acontecimento de interesse (PEREZ et

al., 2006).

A observação participante teve a finalidade de visualizar e entender o processo de

produção rural e as práticas e atitudes dos trabalhadores rurais durante a aplicação de

agrotóxicos. Os dados observados foram registrados em diário de campo. Foi utilizada câmara

fotográfica pra registro de situações de interesse do estudo.

4.6 Analise dos dados

A análise dos dados se deu através de estatística descritiva, análise descritiva e análise

de discurso.

A) Estatística descritiva:

A estatística descritiva consiste em descrever e avaliar certo grupo, sem tirar quaisquer

conclusões ou inferências de um grupo maior. Essa técnica será utilizada para analisar os

Page 63: Exposição a agrotóxicos na atividade

63

dados obtidos dos questionários, os quais serão digitados no EPI INFO, sendo os resultados

organizados em tabelas, gráficos e quadros.

Para análise das variáveis qualitativas e quantitativas, a medida de ocorrência foi

definida através da média/freqüência e a medida de associação será razão de

médias/correlação. Também foram realizadas análises comparativas de variáveis, por meio de

correlação entre indicadores de condições gerais de vida, processo produção agrícola e

condições de saúde dos trabalhadores rurais.

B) Análise de discurso:

De acordo com Minayo (2004) a análise de discurso consiste numa abordagem que

tem como objetivo compreender o modo de funcionamento, os princípios de organização e as

formas de produção social do sentido. Realiza uma ponderação geral sobre as “condições de

produção e apreensão da significação de textos produzidos nos mais diferentes campos, a

exemplo do sócio-político”.

A técnica de análise de discurso foi aplicada aos dados qualitativos coletados a partir

da realização das entrevistas.

A sistematização e análise dos dados foi realizada de acordo com os modelos de

análise de entrevistas construídos por Kvale (1996). Este autor destaca cinco principais tipos:

a condensação de significados, a categorização de significados, a estrutura de significados

através da narrativa, a interpretação de significados e o método ad hoc de geração de

significados.

Foi escolhido o tipo Condensação de Significados por se apresentar apropriado para o

desenho do estudo.

Com base no estudo desenvolvido por Gurgel (2007), nesse tipo de análise, são

elaboradas formulações das falas obtidas durante as entrevistas. As passagens da entrevista

que se relacionam a uma questão específica do estudo são cotadas e condensadas num quadro

constituído pelas unidades naturais dos significados das respostas dos sujeitos, na coluna da

esquerda, e os temas centrais relacionados a estes, que são categorias conceituais, na coluna

da direita, seguidos abaixo de ambas, pela descrição essencial da questão relacionada ao

estudo (Quadro 04)

Page 64: Exposição a agrotóxicos na atividade

64

Questão de Pesquisa

Unidades Naturais de Análise Temas Centrais

1. Trechos da entrevista relacionados à

pergunta da pesquisa

2. Idem

3. Idem

1. Apresentação do tema que domina a

unidade natural, conforme a compreensão do

pesquisador, e da forma mais simples possível.

2. Idem

3. Idem

Descrição Essencial da questão de pesquisa

Quadro 01: Condensação de Significados com Unidades Naturais de Análise, seus Temas Centrais e a Descrição Essencial.

Fonte: Adaptado de Kvale (1996).

A organização e análise das entrevistas se darão conforme as orientações fornecidas

pelo autor, sendo obedecidos os seguintes passos:

a) Leitura cuidadosa das entrevistas com a finalidade de compreender o

pensamento dos trabalhadores rurais;

b) Determinação das unidades de significados naturais conforme expressas pelo

sujeito;

c) Definição dos temas centrais relacionados às unidades naturais da maneira

mais simples possível.

d) Questionamento quanto à relação entre as unidades de significados e os

objetivos propostos pelo estudo; e

e) Descrição essencial dos temas identificados na entrevista e relacionados aos

objetivos da pesquisa.

Após a realização de todos os passos para organizar e analisar os iniciou-se com a

descrição dos resultados obtidos. Buscou-se respeitar os critérios científicos e os preceitos

éticos definidos, na perspectiva de transformar as informações coletadas em linguagem clara

e de fácil entendimento. O anonimato dos sujeitos entrevistados foram garantidos através da

utilização de códigos de identificação diferentes para os trabalhadores rurais que

participarão das entrevistas (E -01, E-02, E-03, E-04, E-05, E-06, E-07, E-08 e E-09).

C) Análise descritiva:

Essa técnica foi aplicada para os dados coletados na observação participante. Os dados

obtidos foram anotados no diário de campo e posteriormente organizados em questões

Page 65: Exposição a agrotóxicos na atividade

65

relevantes ou subtemas. Os resultados obtidos foram apresentados em formato tipo narrativo

de citações e sentenças completas dos participantes.

4.7 Considerações Éticas

Este estudo foi realizado segundo a Resolução do Conselho Nacional de Saúde/ CNS

número 196/96 (2002). A referida Resolução estabelece diretrizes e normas reguladoras de

pesquisas envolvendo seres humanos. O presente projeto de pesquisa foi aprovado pelo

Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

(CPqAM/FIOCRUZ) com parecer nº 31/2009 (ANEXO C). Os trabalhadores rurais

participaram da pesquisa voluntariamente. Foram esclarecidos acerca da finalidade dos

estudo; que sua recusa não traria prejuízos para os pesquisadores e a instituição responsável

pela realização da pesquisa. Os trabalhadores rurais também foram esclarecidos que poderiam

desistir de participar e retirar o seu consentimento a qualquer momento. Foi garantido o

anonimato com relação à divulgação dos resultados da pesquisa. A participação foi

condicionada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde todos

assinaram.

Page 66: Exposição a agrotóxicos na atividade

66

5 RESULTADOS

5.1 Aspectos históricos, econômico e territorial do Município de Salgueiro-PE

O município de Salgueiro está localizado no estado de Pernambuco e faz parte do

semi-árido (Figura 01) Foi criado através da lei nº 580 de 30 de abril de 1864, tendo sua área

proveniente do município de Cabrobó. Esta dividido administrativamente em cinco distritos,

assim descritos: Salgueiro, Conceição da Crioulas, Umãs, Vasques e Pau Ferro.

Figura 01- Localização do município de Salgueiro no mapa de Pernambuco. Fonte: IBGE (2009).

Possui uma área territorial de 1.638,09Km2. Limitando-se ao norte com o município

de Penaforte-CE, ao sul com Belém do São Francisco-PE, a leste com Verdejante-PE,

Mirandiba-PE e Carnaubeira da Penha-PE e a oeste com Cabrobó-PE, Terra Nova-PE,

Serrita-PE e Cedro-PE.

Com 53.167 habitantes em 2007, sua taxa de crescimento populacional foi de 0,46%

ao ano entre 2000 e 2007, menor que a estadual (1,04%) e menor que a nacional (1,21%). A

população na sua maioria (80%) encontra-se residindo na área urbana, conforme demonstra o

gráfico 01 (IBGE, 2007).

Page 67: Exposição a agrotóxicos na atividade

67

Em 2005 os setores mais expressivos para a economia municipal foram os serviços e

comercio local com 45,58%, seguidos da administração pública com 34,59%, a indústria com

13,95% e a agricultura com 5,88%. (IBGE, 2005)

As principais culturas cultivadas na zona rural do município são a cebola, o tomate, o

milho, o feijão, o arroz, a banana e a manga.

5.2 Conhecendo o Distrito de Pau Ferro – Salgueiro-PE

A importância da explicitação da história e das características do distrito de Pau Ferro,

Salgueiro- PE centra-se na necessidade de conhecer a realidade do espaço territorial onde se

insere a pesquisa desta dissertação.

A comunidade de Pau Ferro teve origem por volta do século XIX, quando casal de

moradores advindos do Sítio Riacho Verde em Bezerros, hoje município de Verdejante-PE

acompanhados de irmãos chegou à localidade a margem do riacho do Salgueiro, com a

intenção de fixarem residência e produzirem naquelas terras. Uma das características da

vegetação da área era a existência de arvores de nome Pau Ferro, o que deu nome a

comunidade. O casal que ali firmou residência teve 13 filhos, os quais posteriormente vieram

a constituir família e assim povoar a comunidade (SALGUEIRO, 2007).

A comunidade de Pau Ferro foi elevada a condição de Distrito no ano de 1998 através

da Emenda Aditiva à Lei Orgânica Municipal em 15 de dezembro de 1997. A partir de 2009

foi legalmente instituído a delimitação do território do Distrito de Pau Ferro através da Lei

municipal nº 1.733. O espaço territorial do Distrito compreende uma área extensa da zona

rural e pode ser visualizado na figura 02.

A atividade econômica predominante na área é a produção de cebola, seguida de

produção de tomate, maracujá e pimentão (SALGUEIRO, 2007).

Page 68: Exposição a agrotóxicos na atividade

68

Figura 02: Mapa do município de Salgueiro-PE.

Fonte : IBGE (em fase de elaboração)1

Possui população de 2240 habitantes (Sistema de Atenção Básica, 2009), desta

população praticamente 100% sobrevive da produção rural. Os trabalhadores rurais na

maioria são os proprietários da terra, os quais se organizam reconhecendo sua atividade como

profissão, vinculando-se na associação de trabalhadores rurais do Pau Ferro.

A infra estrutura é bastante deficiente, apresentando abastecimento de água público,

porém sem tratamento; 1,67% da população com coleta de lixo e 0,67% com sistema de

esgoto. Existem apenas 02 escolas públicas, 01 igreja, 01 posto de saúde da ESF e 598

domicílios (SIAB 2009). Fica a uma distância de 18 km da sede do município. O acesso se dá

por via terrestre, através de estrada vicinal, sem pavimentação.

Fato que chama atenção no Distrito do Pau Ferro é a inserção da vila de moradores no

meio das plantações de cebola (figura 03), os quintais das residências na sua maioria

constituem cultivos de cebola (Figuras 04 e 05).

1 Trabalho em fase de elaboração pelo IBGE para o Censo 2010.

Distrito de Pau Ferro

Page 69: Exposição a agrotóxicos na atividade

69

Figura 03- Vila Pau Ferro - Salgueiro-PE

Fonte: observação participante

Figura 04 – Cultura de cebola Figura 05 – Plantações próximas as residências

Fonte: observação participante Fonte: observação participante

A população tem o hábito de sentar-se no meio das culturas em momentos de lazer ou

estabelecer conversas informais entre as plantações, como mostra a figura 06.

Os lotes de plantação, praticamente não terem divisórias, fazendo com que qualquer

atividade realizada em determinado lote, provoque conseqüências nas populações vizinhas

conforme pode ser visualizado na figura 07.

Page 70: Exposição a agrotóxicos na atividade

70

Figura 06: trabalhadores sentados Figura 07 - Proximidades dos lotes no meio das plantações de cebola Fonte: observação participante Fonte: observação participante

5.3 Características da População do estudo

5.3.1 Características individuais

O Quadro 01 mostra a caracterização individual dos sujeitos da pesquisa, sob o ponto

de vista dos principais dados demográficos incluídos na pesquisa. A faixa etária que

contempla o maior número de trabalhadores foi de 26 a 35 anos, representando 36,4% da

amostra. A idade média observada foi de 44 anos e o desvio padrão de 15,2.

O estado civil evidenciou que 75% da população estudada eram trabalhadores rurais

casados ou que tinham companheira. Esse mesmo percentual foi verificado quando

questionado sobre possuir filhos.

Quanto ao grau de escolaridade, observou-se que 12,5% não sabem ler; 39,6% sabem

escrever o nome; 31,2% têm o ensino fundamental incompleto e 10,4% tem o ensino

fundamental incompleto; 2,1% possuem o segundo grau completo, o mesmo percentual foi

verificado entre os que possuem segundo grau incompleto, sendo ainda observado que

nenhum trabalhador possui curso superior completo.

Page 71: Exposição a agrotóxicos na atividade

71

Variáveis sócio Demográficas

Categoria Frequencia

relativa N=96

Frequencia absoluta

Estado Civil

Solteiro Casado Viúvo

20 72 04

0.8% 75% 4.2%

Faixa Etária (em anos)

19-25 26-35 36-45 46-55 56-65 66 e mais Ignorado

08 35 06 20 21 06 0

8.4% 36.4% 6.2% 20.8% 21.9% 6.3% 0

Escolaridade

Não sabe ler Escreve o nome Ensino fund. Inc. Ensino. Fund. Comp. Segundo grau inc. Segundo grau comp Terceiro grau inc Terceiro grau compl

12 38 30 10 02 02 02 0

12.5% 39.6% 31.2% 10.4% 2.1% 2.1% 2.1% 0

Filho Sim 72 75% Quadro 02- Características Pessoais dos Trabalhadores Rurais do Distrito De Pau Ferro- Salgueiro-PE , Ano 2009.

Fonte: Elaborado pelo autor

5.3.2 Condições Gerais de Vida

As condições gerais de vida dos trabalhadores rurais da comunidade estudada

encontram-se descritas no Quadro 02.

Os dados evidenciaram que 93,7% da amostra residem em casa própria, às condições

gerais de vida são bastante insalubre. A situação de saneamento básico é precária,

apresentando 98,9% da população estudada tendo abastecimento de água através sistema de

abastecimento, entretanto a água fornecida chega bruta, ou seja, sem tratamento ate as

residências. Os Agentes Comunitários de Saúde tentam através de suas ações conscientizarem

a população a realizar o tratamento no domicílio, seja por meio do uso do hipoclorito de sódio

a 2,5% por eles distribuído ou através da fervura. Não existe rede coletora de esgotos, 91,6%

dos trabalhadores informaram que os resíduos domiciliares escorrem a céu aberto; 15,6% têm

destino adequado para o lixo, 75% informou que queima o lixo produzido, tendo ainda 9,4%

que joga a céu aberto.

Quanto à existência de banheiros, 64,6% dos sujeitos da pesquisa possuem banheiro na

residência. Os banheiros, quando existentes, foram instalados por agentes de saúde pública da

Page 72: Exposição a agrotóxicos na atividade

72

Fundação Nacional de Saúde, através do programa do Ministério da Saúde destinado a

melhoria sanitária.

Sob o ponto de vista do uso da energia elétrica, a situação já é bastante diferenciada,

com 90,2% dos trabalhadores que participaram do estudo possuindo rede de energia elétrica

em seus domicílios.

Os rendimentos básicos das famílias rurais também são bem baixos, principalmente se

levarmos em consideração o quantitativo de habitantes por domicílio. Os dados coletados

evidenciaram que 50% da amostra estudada recebem menos de 01(um) salário mínimo. Se

somarmos aos trabalhadores que recebem entre 1 e 2 salários teremos um total de 92,7% da

população estudada recebendo até dois salários mínimos.Com relação ao total de habitantes

no domicílio, 72% dos trabalhadores possuem entre 1 e 7 pessoas no interior de suas casas.

Variáveis de Condições Gerais de Vida Categoria

Frequencia Absoluta N=96

Frequenci Relativa

Casa própria Sim 89 93,7%

Forma de abastecimento de água

SAA1

Chafariz Riacho, rio ou açude Cisterna Poço Caminhão pipa Outros

95 0 1 0 0 0 0

98,9% 0%

1,5% 0% 0% 0% 0%

Água tratada Sim 0 0% Luz elétrica no Domicílio Sim 87 90.2%

Esgoto

Rede coletora de esgoto Fossa séptica Fossa seca Corre a céu aberto Outros

0 4 4 88 0

0% 4.2% 4.2% 91.6%

0%

Banheiro no domicílio Sim 62 64.6%

Destino do Lixo

Coleta municipal Queima Enterra Joga céu aberto Outros

15 72 0 9 0

15.6% 75% 0%

9.4% 0%

Renda mensal da família

< 1 salario 1-2 salários 3-4 Salários Mais de 4 salários

48 41 6 1

50% 42.7% 6.2% 1.1%

Total de pessoas no Domicílio

De 1 a 4 pessoas De 5 a 7 pessoas De 8 a 10 pessoas + de 10 pessoas

27 45 11 13

28.1% 46.9% 11.5% 13.5%

Quadro 03 – Condições Gerais de Vida dos Trabalhadores Rurais do Distrito De Pau Ferro- Salgueiro-PE, Ano 2009. Fonte: Elaborado pelo autor

Page 73: Exposição a agrotóxicos na atividade

73

5.3.3 Condições de Atividade Agrícola e Processo de produção

O quadro 03 apresenta as condições de atividade agrícola dos trabalhadores rurais,

como se dá o processo de produção, as práticas e atitudes dos trabalhadores na localidade

estudada.

Pode-se observar que 46,9% eram proprietários das terras que trabalham; 3.1% são

assalariados; 15,6% trabalham de meeiros; 13,5% são diaristas e 20.8% ganham alguma renda

apenas em virtude da produção que conseguem.

A filiação ao sindicato dos trabalhadores rurais esteve presente em todos os sujeitos da

pesquisa. Pode-se constatar que 32,3% dos trabalhadores estão filiados a menos de 1(um) ano

ao sindicato, entretanto, 11,4% tem entre 1a 3 anos, 19,8% de 4 a 6 anos e 37, 5% possui

mais de 6(seis) anos de filiação.

Em geral, o tempo de início das atividades na agricultura é bem precoce na maioria

das comunidades rurais brasileiras. Nesta comunidade o trabalho de campo evidenciou que a

idade de ingresso nas atividades era em torno dos 10 anos, porém em alguns casos, mais

precoce, entre 6-7 anos, período esse em que a criança deveria estar na escola. Tal fato pode

explicar o motivo da população estudada apresentar baixa escolaridade. Os pais na maioria

das vezes julgavam desnecessária a freqüência dos filhos na escola, priorizando o trabalho

agrícola e conseqüentemente levando os filhos consigo para o campo.

O tempo médio estimado de exposição dos trabalhadores rurais girou em torno de

trinta anos, ressalvando-se que a amostra era constituída, em grande parte, por um grupo de

agricultores jovens. Em 100% da amostra o trabalho agrícola ocorre a mais de 10 anos e se

deu principalmente pela falta e de oportunidade em realizar outras atividades e em levar

adiante o conhecimento que herdou dos antepassados.

A maioria dos trabalhadores costuma trabalhar durante o dia inteiro. 48.9% trabalham

em média 6 a 8 horas diárias; 41,7% informou trabalhar mais de 8(oito) horas por dia. No

tocante a quantidade de dias que trabalha durante a semana, 42,7% trabalha entre a e 5 dias

por semana; 55,2% trabalha todos os dias da semana.

A agricultura familiar também marca presença entre os trabalhadores rurais do Distrito

de Pau Ferro, Salgueiro-PE, onde se verifica que 69,9% dos trabalhadores rurais integrantes

da pesquisam afirmam ter a presença de outros membros da família na atividade agrícola. Tal

fato é reforçado quando destacamos que grande parte dos trabalhadores rurais são também

proprietários das localidades de cultivo e recebem ajuda da família na rotina de trabalho.

Page 74: Exposição a agrotóxicos na atividade

74

Dentre os principais produtos cultivados a cebola esteve presente em 84.3%, seguido

do maracujá com 9.4%; 4.2% para o tomate e 2.1% cultivam alface. Esses produtos em 89.6%

são comercializados e 10.4% são exclusivamente para consumo. Produtos como arroz, milho

e feijão foram citados em alguns momentos, no entanto o seu cultivo é feito apenas para

consumo da população estudada.

Em relação ao armazenamento dos produtos cultivados pode-se verificar que existe

uma variação entre as diferentes formas por eles adotadas. 8.3% dispõe de armazém próprio;

10,4% armazena em local de terceiros; 36.4% armazena em casa; 41,7% deixa os produtos no

campo até sua comercialização; 2.1% busca a associação rural para armazenar.

Variáveis o Condições de Atividade Agrícola - Processo

Produtivo Categoria

Freqüência Absoluta

N=96

Freqüência Relativa

Tipo de contrato de trabalho

Proprietário Assalariado Meeiro Diarista Por Produção Outros

45 3 15 13 20 0

46.9% 3.1% 15.6% 13.5% 20.8% 0%

Tempo de filiação ao sindicato rural

- 1 ano De 1 a 3 anos Da 4 a 6anos + de 6 anos

31 11 19 36

32.3% 11.4% 19.8% 37.5%

Tempo de trabalho na agricultura De 1 a 5 anos De 6 a 10 anos + de 10 anos

0 0 96

0% 0% 100%

Horas de trabalho diária

De 1 a 3 horas De 4 a 5 horas De 6 a 8 horas + de 8 horas

1 8 47 40

1% 8.4% 48.9% 41.7%

Dias de trabalho por semana

1 dia De 2 a 3 dias De 4 a 5 dias Todos os dias

0 2 41 53

0% 2.1% 42.7% 55.2%

Outros membros da família trabalham na agricultura

Sim 65 69,9%

Principais produtos cultivados na propriedade

Cebola Tomate Maracujá Alface

81 4 9 2

84.3% 4.2% 9.4% 2.1%

Armazenamento da Produção agrícola

Armazém próprio Armazém terceiros Em casa No campo Na associação Outros

8 10 35 40 2 0

8.3% 10.4% 36.4% 41.7% 2.1% 0%

Destino dos produtos Cultivados

Venda Consumo

86 10

89.6% 10.4%

Quadro 04 – Condições de Atividade agrícola - Processo de Produção dos Trabalhadores Rurais do Distrito de Pau Ferro, Salgueiro-PE, ano 2009 Fonte: Elaborado pelo autor

Page 75: Exposição a agrotóxicos na atividade

75

Os trabalhadores atuavam nas mais diversas atividades existentes na atividade

agrícola. A preparação do solo, o plantio, controle das pragas e a colheita, são atividades por

eles desenvolvidas, muitas vezes concomitantemente. Participam em todas as fases do

processo de produção sem interrupção sazonal. As atividades de mistura e aplicação e de

agrotóxicos praticamente a todos envolvia. O gráfico 01 ilustra bem as atividades realizadas

pelos trabalhadores rurais, podendo ser visualizado as informações acima descritas.

Grafico 01 – Função exercida pelos trabalhadores rurais do Distrito de Pau Ferro, Salgueiro-PE, ano 2009.

Fonte: Elaborado pelo autor

5.3.3.1 Caracterização do uso de agrotóxicos pelos trabalhadores rurais: práticas e atitudes adotadas na utilização de agrotóxicos

O uso de agrotóxicos na localidade ocorre indiscriminadamente, podendo ser

constatado através do percentual de trabalhadores rurais que fazem uso dessa tecnologia.

Houve afirmação de 96.9% dos trabalhadores em utilizarem os produtos nas suas plantações.

Questionado sobre o local de aquisição dos produtos 92,7% informou comprar em

lojas de produtos agrícolas localizada na zona urbana do município de Salgueiro-PE,

entretanto o receituário agronômico não é solicitado no momento da compra. As embalagens

em 95,7% vêem lacradas.

Page 76: Exposição a agrotóxicos na atividade

76

Quanto ao recebimento de orientações sobre como usar os agrotóxicos e os cuidados

necessários, 52,1% recebeu essas orientações. Tais orientações são fornecidas quase que na

sua totalidade por vendedores das lojas de insumos agrícolas e resume-se as quantidades dos

produtos que deve ser aplicado nas culturas. Não existe agrônomo prestando assistência

técnica a essa comunidade. Alguns sujeitos informaram sobre a realização de palestras pela

Secretaria de Agricultura do Estado de Pernambuco, através do Instituto de Pesquisa

Agropecuária (IPA) e Agência de Desenvolvimento Agropecuário (ADAGRO), entretanto

tais eventos ocorrem esporadicamente.

No tocante a freqüência de exposição a agrotóxicos 21,9% informou aplicar

semanalmente e 75% aplica entre 2 e 3 dias por semana. O horário do início da manhã para a

aplicação foi o mais utilizado, tendo sido verificado em 82,3% da amostra.

Quanto à prática de ler os rótulos das embalagens, apenas 52,2% realizam esse

procedimento; 21.9% sabem o significado das cores existentes nos rótulos das embalagens.

Há que se considerar que o nível de escolaridade é baixo e que existem informações nos

rótulos de difícil assimilação.

A lavagem das bombas de pulverização só se dá se o produto a ser aplicado diferir do

anteriormente utilizado. Não há guarda dos equipamentos utilizados na aplicação dos

agrotóxicos, estes ficas expostos nos lotes de plantação, sem nenhuma segurança

Figura 08 – Equipamento utilizado para aplicar agrotóxico armazenado no campo. Fonte: observação participante

Um dado que chama atenção no estudo é a percepção dos trabalhadores acerca da

proteção que o uso do Equipamento de Proteção Individual (EPI) pode trazer para o

trabalhador rural, tendo sido colocado por 83,4% dos trabalhadores, entretanto, quando

questionado sobre o uso do EPI , apenas 20.7% faz uso de alguma proteção. Sobre quais

Page 77: Exposição a agrotóxicos na atividade

77

equipamentos de proteção são utilizados, foram referidos: mascara descartável, pano no nariz,

chapéu e botas. Nenhum trabalhador relatou usar o equipamento completo de proteção.

Normalmente a aplicação se dá sem nenhuma proteção, como mostra a figura 10. Houve

relatos de ingestão de leite e chá de erva cidreira após aplicação de agrotóxicos para “tirar o

efeito do veneno do organismo”. Houve ainda relato de um trabalhador que informou

mastigar uma folha verde durante a aplicação do agrotóxico, dizendo ele que o amargo da

folha mascara o cheiro do veneno e conseqüentemente não irá lhe trazer nenhum dano.

Figura 09- Preparação de agrotóxicos Figura 10- Aplicação de agrotóxicos sem EPI Fonte: observação participante Fonte: observação participante

Quanto ao armazenamento dos produtos, 54, 2% se faz em local de fácil acesso da

população, provocando o contato fácil da população da comunidade com as substâncias

tóxicas (figura 09). Fato que também ocorre durante a aplicação dos agrotóxicos na lavoura.

57,3% dos trabalhadores admitem aplicar os agrotóxicos próximo a outras pessoas, sendo

estas outros trabalhadores, vizinhos ou membros da família que estejam nas proximidades.

(figura 10).

Os cuidas com as embalagens dos produtos também requer atenção especial. De

acordo com as normas deve ser realizada a tríplice lavagem das embalagens e estas

devolvidas ao fabricante. Durante o estudo constatou-se que 14,5% dos sujeitos do estudo

realizam a tríplice lavagem; 3,1% reaproveita as embalagens para alguma finalidade e 19,8%

devolve as embalagens para a loja de produtos agrícolas onde procedeu a compra.

Page 78: Exposição a agrotóxicos na atividade

78

Tabela 06- Práticas de trabalho e medidas de segurança adotadas pelos trabalhadores rurais durante a utilização de agrotóxicos. Distrito de Pau Ferro, Salgueiro-PE, Ano 2009

Variáveis de Praticas de Trabalho e Medidas de Segurança adotadas durante a aplicação de agrotóxicos

Freqüência Absoluta

N=96

Freqüência Relativa

Utiliza de agrotóxicos 93 96,9%

Aquisição dos agrotóxicos em lojas agrícolas 89 92,7%

Receituário agronômico 0 0%

Compra embalagens Lacradas 92 95,8%

Recebeu orientações sobre como usar agrotóxicos 50 52,1%

Aplica agrotóxicos semanalmente 21 21,9%

Aplica agrotóxicos 02 a 03 dias por semana 72 75,0%

Aplica agrotóxicos no início do dia 79 82,3%

Lê os rótulos das embalagens 53 52,2%

Sabe o significado das Cores e símbolos dos rótulos 21 21,9%

Crê que o EPI protege o trabalhador 83 83,4%

Utiliza alguma proteção durante o trabalho com agrotóxico 19 20,7%

Armazena os produtos em local de fácil acesso para população 52 54,2%

plicam agrotóxicos nas proximidades de pessoas 55 57,3%

Realiza a Tríplice lavagem 14 14,5%

Reaproveita as embalagens 3 3,1%

Devolve as embalagens ao vendedor de agrotóxicos 19 19,8%

Toma banho após aplicar 86 89,6%

Alimenta durante a aplicação 39 40,6%

Fuma durante a aplicação 22 23,0%

Bebe bebida alcoólica durante a aplicação 11 11,5%

Fonte: Elaborado pelo autor

Os hábitos higiênicos dos trabalhadores rurais demonstram que 89,6% tomam banho

após a aplicação de agrotóxicos; 40,6% se alimentam ou ingerem água durante a aplicação;

23% fazem uso de cigarro ao aplicar os produtos e 11,5% ingere bebida alcoólica durante o

trabalho com agrotóxicos. Tal prática pode ser visualizada na figura 11 onde é possível

observar objetos pessoais, como sandálias e um recipiente com água para consumo humano

próximo as embalagens de agrotóxicos e ao local onde é realizada a preparação da calda a ser

aplicada.

Page 79: Exposição a agrotóxicos na atividade

79

Figura 11- Objetos pessoais e água de consumo Armazenados próximo aos agrotóxicos Fonte: Observação participante Quanto ao tempo de carência adotado entre a última aplicação de agrotóxicos e a

colheita, verificou-se que existia uma variação muito grande entre os trabalhadores rurais,

onde 34,8% informaram adotar em média 15 dias; 20,8% adotam o prazo de oito dias e 14,6%

20 dias.

Grafico 02- Tempo de carência adotada pelos trabalhadores rurais entre a ultima aplicação de agrotóxicos e a colheita. Distrito de Pau Ferro- Salgueiro-PE, Ano 2009.

Fonte: Elaborado pelo autor

Page 80: Exposição a agrotóxicos na atividade

80

Em relação aos agrotóxicos utilizados, foram citadas diferentes formulações, incluindo

todas as classes de agrotóxicos (inseticidas, fungicidas, herbicidas, inorgânicos e antibióticos).

As substâncias utilizadas que foram mais citadas encontram-se descritas na Tabela 07.

Tabela 07: Agrotóxicos mais utilizados pelos trabalhadores rurais do Distrito de Pau Ferro, Salgueiro- PE, Ano de 2009

Nome Comercial

Princípio ativo

Grupo Químico

Classe Toxicológica

Lannate BR Metomil Metil carbamato de oxima

I

Decis Ultra CE Deltametrina Pitertroide I

Endossulfan 350 CE Endossulfan Clorociclodieno I

Rostar 250 BR Oxadiazona Oxadiazolona I

Targa 50 CE Quizalofope-P- Etílico

Acido Ariloxifenoxipropriênico I

Trotil Ioxinil Benzonitrila I

Estron Metamidofós Organofosforado I

Tamaron BR Metamildofós Organofosforado II

Curacron 500 Profenofós Organofosforado II

Thiodan CE Endossulfan Clorociclodieno II

Orthene 750 BR Acefato Organofosforado IV

Assefat Fersol 750 PS

Acefato Organofosforado IV

Fonte: Elaborado pelo autor SIA- Sistema de Informação em Agrotóxicos

5.3.4 Aspectos de Saúde 5.3.4.1 Condições de saúde referida pelos trabalhadores rurais

No quadro é possível verificar a morbidade\ sintomas referidos pelos trabalhadores

rurais integrantes da pesquisa.

Um percentual de 55,2% relatou ter sentido algum problema de saúde durante a

aplicação de agrotóxicos. Destes 52,8% informou ter sentido mais de duas vezes e 22, 6% já

necessitou de assistência hospitalar, precisando ser internado.

Page 81: Exposição a agrotóxicos na atividade

81

Questionados sobre os sinais e sintomas mais freqüentes na rotina desses

trabalhadores, constatou-se que 47,9% deles queixam-se de dores de cabeça; 38,5% sentem

falta de apetite; 33,3% tem dificuldades para dormir; 50,0% consideram-se nervosos; 52,1%

sentem tonturas constantemente; 26,0% cansam com facilidade; 19,8% dos trabalhadores

rurais que participaram do estudo disseram sentir vontade de chorar com freqüência; 17,7%

apresentam lesões na pele; 44,7% tem alteração na visão e 13,5% tem tremores nas mãos.

Variáveis de Condições de Saúde Frequencia

Absoluta N=96

Frequencia Relativa

Sentiu Algum Problema de Saúde durante a aplicação de Agrotóxicos

Quantas Vezes já Apresentou Problemas após ou durante a aplicação de agrotóxicos?

Uma Vez, Duas Vezes,

Mais De Duas Vezes)

Já precisou ser internado após o uso do agrotóxico

53

12 12 28

12

55,2%

22,6% 22,6% 52,8%

22,6%

Dores de Cabeça freqüente 46 47,9%

Alergia a Produtos Químicos 12 12,5%

Sangue na Urina 5 5,2%

Falta de Apetite 37 38,5%

Insônia 32 33,3%

Sente-se Nervoso 48 50,0%

Tontura constante 50 52,1%

Cansa com Facilidade 25 26,0%

Tem vontade de chorar com freqüência 19 19,8%

Lesão na Pele 17 17,7%

Alteração na Visão 43 44,7%

Tremores nas mãos 13 13,5%

Quadro 05 – Morbidade\sintomas referidos pelos trabalhadores rurais do Distrito do Pau Ferro, Salgueiro-PE, ano de 2009 Fonte: Elaborado pelo autor

Page 82: Exposição a agrotóxicos na atividade

82

5.3.4.2 Morbidade da população da comunidade do Pau Ferro referida pelos trabalhadores rurais

Na pesquisa dentre as diversas informações coletadas chamou a atenção a morbidade

da população residente no Distrito de Pau Ferro que é percebida pelos trabalhadores rurais

participantes do estudo. A morbidade foi analisada conforme lista de categorias dos Capítulos

do Código Internacional de Doenças (CID-10). Dentre os vários agravos, os transtornos

depressivos recorrentes foram referidos em 22.4%, seguidos pela auto intoxicação por

exposição a pesticidas com 18,7%; intoxicação ocupacional com 16.4% e transtornos mentais

e comportamentais devido ao uso do álcool com 15%.

Outros agravos que merecem destaque foram às doenças do aparelho circulatório com

9.5%, com destaque para a hipertensão arterial; as doenças do aparelho respiratório com

5.4%, sendo informado nesta categoria a falta de ar e a gripe; as doenças do aparelho

digestivo com 4.8%, referindo-se a gastrite e ulceras; neoplasias em 2.7%; as doenças

endócrinas, nutricionais e metabólicas, sendo citada a diabetes. Dentre os sujeitos da pesquisa

5.4% não soube informar sobre os principais agravos que acometem a população da área.

Gráfico 03 - Morbidade da população da comunidade do Pau Ferro percebida pelos trabalhadores rurais

Fonte: Elaborado pelo autor

Page 83: Exposição a agrotóxicos na atividade

83

5.4 Trabalho agrícola, uso de agrotóxicos e riscos à saúde: a percepção dos trabalhadores rurais

A análise de conteúdo do conjunto de entrevistas permitiu a identificação de quatro

grandes temas centrais. O primeiro se refere aos elementos que influenciaram na escolha da

profissão e a satisfação com o trabalho rural, incluindo as dificuldades inerentes a atividade.

O segundo refere-se à incorporação da tecnologia do uso de agrotóxicos na cultura da cebola e

a resistência para adotar novas tecnologias. O terceiro tema central faz referência às praticas e

atitudes dos trabalhadores rurais adotadas no manejo com os agrotóxicos, incluindo as

capacitações, recebimento de orientações técnicas quanto ao uso de agrotóxicos, cuidados

necessários e as medidas de segurança adotadas. O quarto tema central se refere à percepção

dos trabalhadores rurais a cerca dos riscos e danos à saúde associados à utilização de

agrotóxicos, incluindo os principais problemas de saúde percebidos pelos sujeitos da pesquisa

e sua relação com a exposição a agrotóxicos.

5.4.1 Influências na escolha da profissão e a satisfação com o trabalho rural

Analisando os fatores que influenciaram na escolha da profissão, pode observar nos

relatos coletados no momento da realização das entrevistas, que as atividades exercidas pelas

gerações anteriores, principalmente pelos pais, onde a grande maioria era agricultor, foi de

fundamental importância para os trabalhadores rurais integrantes da pesquisa na escolha dessa

profissão.

Há que se considerar ainda que muitos deles não tiveram outra opção para escolha,

visto que as condições da localidade estudada não oferecia outras oportunidades de trabalho.

[...] Bom, que meu pai trabalhava de agricultor e era muito trabalhador e eu comecei a trabalhar com seis anos eu já trabalhava na roça e toda a vida eu gostei de trabalhar (informação verbal2)

[...] é porque meus pais são agricultor né, filho de agricultores também, aí é uma hierarquia, fica passando de pai pra filho, as condições ainda não deram pra mudar (Informação verbal3)

2 Entrevista com E-04 3 Entrevista com E-06

Page 84: Exposição a agrotóxicos na atividade

84

[...] A profissão foi essa, porque a gente não teve a oportunidade de estudar e teve que fazer alguma coisa pra sobreviver [...]. (informação verbal4)

[...] Em primeiro lugar, essa profissão veio de muito longe, desde criança, logo assim, aos cinco anos de idade meu pai que sempre trabalhava com cebola, ele trabalhava nesse ramo e aí ele numa certa vez me chamou assim e aí me disse que ia me dá certa quantia de cebola pra mim plantar e daí eu comecei a plantar que dessa cebola, ela traria o meu próprio sustento [...]. (informação verbal5)

[...] o que me fez mesmo trabalhar na roça foi duma experiência do mais velho [...] é porque agente tem esse costume por aqui, é por isso daí né, agente cresce e vai fazendo aquilo que o lugar oferece, porque nós todos não somos iguais né, mas agente tem que fazer aquilo que pode e a gente leva a vida assim quem pode ajudar oferece mais trabalho, e agente vai aprendendo através de conhecimento de outras pessoas, dos mais velhos [...]. Esses costumes, a maneira de trabalhar tudo isso agente vê desde pequeno. Quando agente começar a andar e aprender com eles e vai levando, porque na frente tudo é igual [...] (informação verbal6)

[...] Eu nasci aqui, gosto da agricultura, sou filho de agricultor. Já conheci isso de passado. Aprendi um pouco com meu pai, mas eu busquei mais saber lá fora [...] participei de algumas palestras, né, juntei com o pouco que eu conhecia né, e fui tirando algumas dúvidas e através e trabalho também com outras coisas [...]. (informação verbal7)

A satisfação dos trabalhadores com a profissão que exerce fica clara quando estes

afirmam nas suas falas o prazer em exercer tal atividade e em muitas vezes não buscarem

encontrar outra profissão. Todos os sujeitos da pesquisa afirmaram gostar da atividade

executada e estarem satisfeitos com a profissão, apesar das dificuldades por eles vivenciadas.

[...] Eu tenho o maior prazer de trabalhar, já tô quase cego, mais eu acho bom e trabalhar [...]. Agricultura, eu nunca, eu nunca deixei ou sai pra vê se pegava outra profissão não, toda a vida eu gostei da roça [...]. (Informação verbal8).

[...] Uma coisa que eu mais gosto é trabalhar em agricultura, é muito bom. Que isso é o que importa. Na minha região, aqui no Pau Ferro a agricultura é um sucesso. Já que melhor trabalhar na roça que ta com a pá virada, né? [...] (Informação verbal9).

[...] Olhe o trabalho na agricultura pra mim me representa muito, porque ele nos dá a possibilidade de expressar a nossa vida aqui no campo de vê as coisas de maneira mais simples, mais inocente, porque o agricultor hoje em

4 Entrevista com E-05 5 Entrevista com E-09 6 Entrevista com E-01 7 Entrevista com E-02 8 Entrevista com E-03 9 Entrevista com E-04

Page 85: Exposição a agrotóxicos na atividade

85

si, ele passa por dificuldade sim, mas a agricultura nos leva mais a vê a inocência, a ter um trabalho mais dialogado, um trabalho que a gente pensa no próximo, onde a gente vê que necessita um do outro [...]. A agricultura eu hoje defino isso, nós não somos patrões, né, somos amigos, agricultores e trabalhares são amigos [...] (Informação verbal10).

Com relação ao aspecto do que a agricultura representa para os trabalhadores rurais,

todos os sujeitos integrantes da pesquisa afirmaram que tiram o sustento da família através

dessas atividades, sendo, portanto a forma de sobrevivência para eles.

[...] a agricultura tira agente da família, mas é o que abastece o mercado. Agente vive do comercio que essa cultura produz [...] (Informação verbal11)

[...] Da agricultura eu tiro meu sustento. [...] (Informação verbal12) [...]

[...] Representa muita coisa, quer dizer que a gente arruma o que comer da roça, se sobra um pouco à gente vende, apura um trocadozinho. [...](Informação verbal13)

[...] Representa muito, porque ela me criou e aos meus pais também e assim sucessivamente, então é uma forma de cultura que eu tenho que diz quem eu sou. Eu sou agricultor [...]. (Informação verbal14)

5.4.2 A incorporação da tecnologia do uso de agrotóxicos na cultura da cebola e a resistência para adotar novas tecnologias

Essa prática vem sendo adotada desde as gerações passadas desses trabalhadores e faz

parte do cotidiano de suas atividades. De acordo com os relatos obtidos com as entrevistas

realizadas, a utilização de agrotóxicos se faz necessária, sendo considerada praticamente

obrigatória, uma vez que os trabalhadores rurais afirmam que sem o uso dessa tecnologia é

impossível garantir a produção.

Relato que chama atenção no trabalho refere-se à percepção que o trabalhador tem que

o fato de fabricar o agrotóxico é uma justificativa para seu uso, sendo colocado por eles que

se os produtos estão expostos para venda é pra ser usado.

10 Entrevista com E-09 11 Entrevista com E-01 12 Entrevista com E-02 13 Entrevista com E-04 14 Entrevista com E-05

Page 86: Exposição a agrotóxicos na atividade

86

Outra informação importante para justificar a utilização de agrotóxico foi o relato de

um trabalhador que coloca desconhecer outra alternativa para garantir a produção.

[...] É, porque as lavouras hoje em dia só saem se a gente pulverizar, esse ano eu não pulverizei, o milho dá até dó na roça, faz pena do jeito que tá. [...]. Aí a gente se obriga a usar, às vezes a gente não quer usar e é obrigado a usar. Se não fabricasse a gente não usava, mas logo que fabricam pra vender é pra gente usa. [...]. (informação verbal15)

[...] Enquanto não desenvolverem alternativa diferente pra acabar com as doenças dos insetos tem que usar o agrotóxico porque se não você não tem produção nenhuma na roça [...]. (informação verbal16)

[...] Ele é muito importante, primeiro porque na nossa região aparecem pragas, doenças que atingem as nossas lavouras. Como por exemplo, na cebola, que é muito comercializada por aqui, diariamente acontece esse tipo de pragas que vêem a atacar e o único meio que a gente tem hoje no nosso conhecimento é o agrotóxico [...]. (informação verbal17)

Dentre os entrevistados, ficou claro que eles consideram que os agrotóxicos são

importantes, sendo considerado como necessário para evitar o aparecimento de insetos ou fungos que venham prejudicar a produção. Para eles o agrotóxico quando usado torna visível a “melhora” na plantação.

[...] Ele é importante assim, porque ele limpa a praga de lavoura, né. A gente vê que ela vai melhorar se ele for aplicado, não tem jeito, é um negócio obrigado mesmo, você tem que usar esse veneno. Eu não engano, não nasci pra enganar...a gente precisa dele. (informação verbal18)

[...] Não vai produzir nada, nem feijão, nem milho, nem tomate, nem cebola, nada sai. Você bota a máquina na lavoura, a gente planta de novo o feijão, no outro dia amanhece com a folha mais bonita, se deixar ele sem veneno, se enrola todinho. (informação verbal19)

Há que se destacar que os trabalhadores rurais apresentaram resistência quando

interrogados sobre mudança na tecnologia de produção agrícola, ou seja, a incorporação de

tecnologia diferente da aplicação de agrotóxicos no processo de produção. A grande maioria

dos trabalhadores relatou desconhecer outras alternativas ou tecnologias diferentes da hoje por

eles adotada, bem como houve relatos quanto a dificuldades para adaptar-se a novas

tecnologias em virtude da certeza de que a forma como se trabalha atualmente garantir a

produção desejada. A proximidade dos lotes foi citada por um trabalhador rural como um

15 Entrevista com E-04 16 Entrevista com E-02 17 Entrevista com E-09 18 Entrevista com E-07 19 Entrevista com E-06

Page 87: Exposição a agrotóxicos na atividade

87

fator que dificulta a inserção de outra tecnologia no processo de produção agrícola. Para ele

não adianta adotar outra tecnologia quando o vizinho continua a “aplicar o veneno”.

[...] É um pouco de ignorância nossa, que pra nós aqui nem tudo que se ensina dá certo. Então agente prefere continuar com nossas atividades do jeito que se sabe que dá certo. [...].(informação verbal20)

[...] Eu confesso que não conheço outra maneira de trabalhar com cebola. Toda vida eu vi aplicar veneno e isso faz parte do nosso trabalho diário. [...].(informação verbal21)

[...] o produto orgânico pra gente estabelecer aqui na nossa região é muito difícil se adaptar. Eu conheci uma comunidade que trabalha com orgânico e vi que essa forma não dá certo pra gente aqui. Não tem como a gente garantir a mesma produção trabalhando com o orgânico. [...].(informação verbal22)

[...]. Porque o nosso clima não é muito bom e ainda tem o vizinho que não respeita, continua passando agrotóxico, o vizinho do outro lado também não respeita. Aí a gente que tem a nossa propriedade fica no meio só agüenta as conseqüências. Quando ocorre de a gente passar, quando ocorre alguma doença das nossas lavouras que geralmente vem das outras roças vizinhas é quando a gente sente a necessidade de fazer aplicação e a importância desses venenos é de aplicar e vê a cura [...]. (informação verbal23)

5.4.3 O manejo com agrotóxicos na rotina dos trabalhadores rurais

A utilização de agrotóxicos nas culturas existentes na localidade estudada se dá

indiscriminadamente e é uma prática adotada por quase a totalidade dos trabalhadores rurais

participantes da pesquisa.

De uma maneira geral os trabalhadores rurais enfatizam que o uso de agrotóxicos

representa riscos para a saúde e deve se “ter cuidados durante sua aplicação”.

Com relação à forma como os trabalhadores rurais conceituam os agrotóxicos, pode-se

verificar que esse conceito varia entre medicamento, necessidade e veneno. Há um

entendimento comum de que os agrotóxicos apesar de trazerem danos à saúde de quem

aplicam os produtos, fazem o bem para as culturas por eles produzidas.

20 Entrevista com E-03 21 Entrevista com E-02 22 Entrevista com E-04 23 Entrevista com E-09

Page 88: Exposição a agrotóxicos na atividade

88

[...] E assim, graças a Deus por uma parte ele é bom, mas por outra parte ele é muito ruim porque afinal de contas a gente pode se intoxicar. [...]. (informação verbal24)

[...]Eu acho uma coisa muito triste o agrotóxico [...]. (informação verbal25)

[...] Um produto muito perigoso que deve ser aplicado com muita cautela. Deve se antes de aplicar ler sempre a bula. É um produto também que ao invés de trazer saúde ao agricultor, traz doenças, se ele não se cuidar tem com certeza ou vai ter a sua doença ou daqui a cinco anos ou a dez anos ou até talvez daqui a vinte anos. Vou definir como algo perigoso. [...]. (informação verbal26)

[...] Significa um produto que faz com que a pessoa proteja a lavoura [...]. (informação verbal27)

[...] é, pra lavoura ele é muito utilizado né, pra combater alguma praga que tiver, mas que pra saúde humana é muita contaminação né, tanto pra quem tá usando como pra quem ta consumindo a lavoura [...]. (informação verbal28)

Para a preparação dos agrotóxicos pode-se verificar que existe uma prática comum

entre os trabalhadores de prepararem o produto direto no equipamento que vai ser utilizado

para aplicação, ou seja, na bomba costal.

[...] Coloca a bomba costal perto do riacho, ai agente coloca as quantidades de veneno que o vendedor da loja ensina dentro da bomba, joga um baldinho d´água e enche a bomba [...].(informação verbal29)

[...] A gente coloca o inseticida na bomba, depois a gente completa com a água, só a água e depois fecha e depois vai aplicar.[...]. (informação verbal30)

Não existe assistência técnica que preste orientações aos trabalhadores rurais sobre o

uso dos agrotóxicos, enfocando a dose de aplicação, a forma de preparação dos produtos,

cuidados necessários durante o manuseio e os danos á saúde que podem ocorrer em virtude da

exposição aos agrotóxicos. Muitos dos trabalhadores rurais aprenderam a usar os produtos

vendo outras pessoas aplicarem. Há relatos de trabalhadores que diz ler os rótulos dos

produtos e assim preparar conforme as orientações neles contida. As orientações recebidas

24 Entrevista com E-02 25 Entrevista com E-05 26 Entrevista com E-09 27 Entrevista com E-03 28 Entrevista com E-09 29 Entrevista com E-05 30 Entrevista com E-09

Page 89: Exposição a agrotóxicos na atividade

89

pelos trabalhadores rurais sobre a utilização de agrotóxicos quando ocorrem, são realizadas

pelos funcionários da loja de produtos agrícolas onde são adquiridos os agrotóxicos.

Eu aprendi com os outros, vendo os outros trabalhando que aplicava o veneno na lavoura aí eu aprendi vendo os outro como era pra aplicar. [...]. (informação verbal31)

[...] a orientação tem, na hora que a gente vai comprar na loja aí sim, lá tem um rapaz que é técnico agrícola e aí a gente pergunta como deve ser aplicado e lá repassa a forma de como deve ser aplicado. E a gente vai lá aplicando [...] acho que deveria ter um agrônomo aqui pra orientar esses agricultores. [...]. (informação verbal32)

[...] A gente aplica por nossa conta. Às vezes aparece um técnico do governo. Vem aqui conversa com um e com outro. Marca uma palestra, convida umas pessoas. Depois vai embora e tudo continua igual. No dia a dia não chega ninguém pra orientar. Cada um por si [...]. (informação verbal33)

[...] Vai vendo as recomendações da dosagem que tá indicado no rótulo [...] mas isso só é possível se souber ler. Aqui muita gente não sabe ler. Ai fica difícil. [...]. (informação verbal34)

Uma prática comum entre os trabalhadores rurais é a mistura de vários produtos

formando um “coquetel”. Para eles essa prática não precisa de orientações e normalmente

ocorre para potencializar os efeitos dos agrotóxicos ou evitar a aplicação de outros produtos

nos dias seguintes. Tal procedimento é realizado sem levar em consideração os riscos que a

mistura dessas substâncias possa ocasionar.

[...] a gente vai até a casa de produtos agrícolas, consulta chega com o determinado medicamento, muitas vezes a gente é obrigado a fazer como se chama, coquetel, aí a gente mistura vários produtos [...].(informação verbal35)

[...] a gente prepara dependendo da necessidade de matar o inseto. Às vezes agente mistura mais de um produto porque um veneno sozinho não tá mais resolvendo. Todo mundo aqui faz isso. Já é natural da gente mesmo. Nem precisa ninguém orientar. A gente apreende com a nossa prática. [...] Por exemplo, tem gente que vai aplicar o fungicida aí não quer no outro dia aplicar o inseticida, aí faz aquela faz aquela misturada toda, como é que chama? coquetel né, aquela misturada toda e aplica logo tudo no mesmo dia.(... ). (informação verbal36)

31 Entrevista com E-04 32 Entrevista com E-09 33 Entrevista com E-03 34 Entrevista com E-02 35 Entrevista com E-07 36 Entrevista com E-01

Page 90: Exposição a agrotóxicos na atividade

90

O equipamento de proteção individual que deve ser utilizado pelos trabalhadores

rurais durante a aplicação de agrotóxicos para minimizar os riscos à saúde praticamente não é

utilizado. Há um entendimento entre eles que o EPI não é necessário, que o fato deles nunca

usarem e imaginarem não ter nenhum problema de saúde faz com que ocorra uma auto

proteção e acreditam que nada vai acontecer. Também ficou claro entre eles que a utilização

do EPI só se faz necessária quando a aplicação de agrotóxicos se der em longo período de

tempo, ou seja, por várias horas seguidas, defendendo que só a exposição por longo período

acarretará algum tipo de risco, implicando nesse caso que o risco a saúde vai depender apenas

do tempo de aplicação sem levar em consideração a freqüência de aplicação dos agrotóxicos e

a toxicidade do produto que está sendo utilizado.

[...] Eu, eu penso isso que eu toda vida eu vivi assim, imagino assim, acho que não é preciso usar esse EPI [...]. (informação verbal37)

[...] a gente também não gosta desse EPI [...] EPI você não vai se vestir pra aplicar uma bomba de veneno não. Só compensa quando a gente vai trabalhar muitas horas, vai dar muitas bombas de veneno. Pouco tempo de aplicação não vai matar ninguém. [...]. (informação verbal38)

[...] sinceramente esse EPI pode até proteger quem aplica o dia todo, mas agente que vai todo dia aplicar um pouquinho. Duas horas no dia não é tão grave assim. E depois a gente não tem dinheiro pra comprar. Eu mesmo nunca vi ninguém com esse EPI aqui na região [...]. (informação verbal39)

Outro fator importante a ser considerado foi observado com relato de um trabalhador

rural entrevistado, onde ele coloca que o custo com a aquisição dos EPIs traz relação com a

não utilização dos equipamentos de proteção, justificando ser alto para a renda que eles

recebem, mesmo reconhecendo que se ocorrer algum dano a saúde vai acarretar mais gastos,

principalmente com medicamentos.

[...] O agricultor não quer perder muito dinheiro assim não compra o EPI porque e caro, eu digo assim, mas se ele se der mal só vai lascar a saúde dele e ai vai gastar mais dinheiro com remédio. [...]. (informação verbal40)

Um trabalhador relatou que existem ainda as situações em que os trabalhadores muitas

vezes são “desleixados”, acreditando que nada vai lhe acontecer, imaginando sempre que

37 Entrevista com E-04 38 Entrevista com E-05 39 Entrevista com E-03 40 Entrevista com E-05

Page 91: Exposição a agrotóxicos na atividade

91

qualquer dano só ocorrerá com outras pessoas, refletindo sempre na negação do risco, mesmo

que este seja percebido.

[...] a gente é desleixado, a gente acha que só acontece com os outros [...]. (informação verbal41)

O horário de aplicação dos agrotóxicos é definido de acordo com o tamanho da

propriedade e não guarda relação com os riscos a saúde que esses produtos possam ocasionar

principalmente em horários de temperatura mais elevada em que a absorção das substâncias

pode ser mais acentuada. Apenas dois entrevistados informaram aplicar os produtos no início

do dia, acrescentando que “só o calor faz com que se sintam mal”, entretanto não sabem

informar se a aplicação de agrotóxicos durante os horários mais quentes do dia pode aumentar

o risco a saúde de quem está aplicando.

[...] É o dia todo que às vezes acontece de ter muita lavoura pra pulverizar e a gente pulveriza o dia todo. [...]. (informação verbal42)

[...] é bem cedinho, quase de madrugada. [...]. (informação verbal43)

[...] Eu acho melhor de manha cedo. Só o calor já faz agente passar mal [...]. (informação verbal44)

[...] Vai de acordo com a cultura que a gente ta plantando, pode ser tomate ou cebola a gente planta, a gente, costuma fazer de acordo com a doença, porque se a doença vier muito forte a gente aplica dia todo, dia após dia. [...] Normalmente o horário é indiferente [...]. (informação verbal45)

[...] Aqui o horário se escolhe dependendo do tamanho da propriedade. Se for pequena agente vai cedinho e aplica. Se for grande agente fica o tempo que precisa. Até o dia todo. [...]. (informação verbal46)

Com relação à guarda de agrotóxicos pode-se verificar que os agricultores costumam

deixar os produtos direto no campo ou nas próprias residências, em locais de fácil acesso da

população. Entre os agricultores também há o entendimento de que os adultos já conhecem

sobre o risco de exposição aos agrotóxicos, mas que é necessário proteger as crianças.

[...] A gente guarda na roça. Faz uma moita e esconde nela [...] o que sobra na bomba agente deixa lá na roça mesmo. No outro dia já tá pronto pra usar. É só completar o que faltar. [...]. (informação verbal47)

41 Entrevista com E-05 42 Entrevista com E-04 43 Entrevista com E-07 44 Entrevista com E-05 45 Entrevista com E-09 46 Entrevista com E-03

Page 92: Exposição a agrotóxicos na atividade

92

[...] Eu levo pra casa, como agora eu tô com um bocado de veneno guardado em casa, no quintal. As pessoas têm que entender que aquilo é veneno, não é pra pegar. Lá em casa eu digo não é pra ninguém mexer neles. [...]. (informação verbal48)

[...] Muitas vezes eu cavo um buraco, aí boto o vidro do veneno dentro, aí boto uns matinho pra disfarçar. Na verdade a gente faz isso mais por causa das crianças, mas adultos já estão acostumados com os venenos nas roças. [...]. (informação verbal49)

Apesar de conhecerem a forma correta de descarte das embalagens, a maioria dos

trabalhadores relatou que faz o descarte através da incineração ou mesmo joga a céu aberto

direto no campo. Em tempos anteriores a Secretaria Municipal de Saúde em conjunto a

Secretaria de Infra Estrutura colocou alguns depósitos espalhados pela área de abrangência do

Distrito para que fossem colocadas as embalagens vazias, sendo posteriormente recolhidas.

Atualmente, após visitas de técnicos da Agência de Fiscalização Agropecuária (ADAGRO),

onde foi orientado a forma correta de descarte das embalagens, essa prática deixou de existir,

no entanto forma correta de descarte não foi adotada. Segundo os trabalhadores é muito

difícil devolver as embalagens ao fabricante e não existe fiscalização com relação a esse

procedimento.

[...] Normalmente a gente joga no campo. Dizem que não serve pra gente aproveitar, então melhor não guardar. [...]. (informação verbal50)

[...] Olha, por aqui não tem essa coisa de os fabricantes ou as lojas receberem as embalagens. Eu até já ouvi nas palestras que é pra devolver pra loja, mas aqui ninguém faz isso não. A gente vê muito é embalagem boiando no riacho. [...]. (informação verbal51)

[...] Eu mesmo prefiro queimar as embalagens quando acaba os produtos. È muito difícil devolver pras fábricas e as lojas dizem que nem tem lugar pra guardar. Então agente não vai ficar andando de um lado pra outro com essas embalagens. Antes eu colocava nos depósitos que tinha aqui, mas agora acabou. [...]. (informação verbal52)

Uma prática que chama a atenção entre os trabalhadores rurais é a reutilização das

roupas usadas no processo de pulverização com agrotóxicos sem serem lavadas após a

aplicação anterior. Há relatos de trabalhadores que nunca lavaram suas roupas, deixando-as

47 Entrevista com E-05 48 Entrevista com E-06 49 Entrevista com E-03 50 Entrevista com E-06 51 Entrevista com E-07 52 Entrevista com E-08

Page 93: Exposição a agrotóxicos na atividade

93

no campo para serem usadas nos momentos de aplicação das substâncias. Para eles o fato de

fazerem uso dessa roupa somente durante a aplicação de agrotóxicos justifica não realizarem a

lavagem, não consideram como fator de risco à sua saúde.

[...] a minha roupa eu deixo lá na roça. Geralmente eu uso até rasgar e não ter mais como usar. Não acredito que precise lavar já que vai ser usada de novo para aplicar os venenos. Também eu só uso essa roupa na hora de dar veneno. [...]. (informação verbal53)

[...] eu uso a roupa de aplicar veneno, depois coloco num saco de plástico e guardo junto com os venenos na roça. Quando preciso eu visto de novo. [...]. (informação verbal54)

5.4.4 Exposição a agrotóxicos na atividade agrícola e riscos à saúde: a percepção dos trabalhadores rurais

Quando questionados sobre a forma como os agrotóxicos podem ocasionar agravos à

saúde, ficou claro que existe um dimensionamento diferente entre os trabalhadores com

relação aos riscos e danos à saúde que a exposição a agrotóxicos pode provocar.

As entrevistas evidenciaram que os trabalhadores rurais acreditam que a via de

absorção de agrotóxicos pelo organismo que representa risco à saúde é a inalação. Apenas um

entrevistado reconheceu o contato do agrotóxico com a pele como fator de risco.

[...] eu acredito que seja pela respiração [...]. (informação verbal55)

[...] Só o cheiro, só me sinto mal por causa do cheiro [...] eu costumava aplicar o tal do decis, ele não tem cheiro forte, já, eu não posso botar na bomba o tamaron esse tira até mofo. Eu não consigo passar [...]. (informação verbal56)

[...] É respiratória e também através de derramamento d’água no corpo com agrotóxico em si. Quando às vezes a gente ta passando com a máquina, às vezes na máquina surge algum problema aí é obrigado a gente mexer com as próprias mãos e aquelas mãos que a gente mexe ficam intoxicadas, passam dias com mau cheiro nas mãos. Eu acredito que tanto pode vim do pulmão, respiratório, do estômago também eu acho. [...]. (informação verbal57)

53 Entrevista com E-06 54 Entrevista com E-08 55 Entrevista com E-04 56 Entrevista com E-06 57 Entrevista com E-09

Page 94: Exposição a agrotóxicos na atividade

94

Com relação à adoção de ações que possam minimizar os riscos à saúde que a

exposição a agrotóxicos pode provocar, percebeu-se que os trabalhadores adotam certas

práticas que estão muito relacionadas com as crenças e hábitos culturais existente na

localidade. Eles acreditam que a ingestão de leite ou chá de erva cidreira irá “cortar o efeito

do veneno no seu organismo”.

[...] quando chegava em casa tinha que tomar leite, chá de erva cidreira até melhorar. [...] ele combate o veneno, o leite, a erva cidreira tem o efeito de combater o veneno [...]. (informação verbal58)

[...] Agora outra coisa: não absorvo veneno não. Também aplico só uma bombinha por dia. [...]. (informação verbal59)

[...] aqui a gente tem uma cultura de tomar o chá de erva cidreira. Dizem que ele é muito bom pra cortar o efeito do veneno no nosso organismo. O leite também é muito usado por aqui. [...]. (informação verbal60)

O estudo evidenciou que os trabalhadores rurais reconhecem que a exposição a

agrotóxicos traz risco a outras pessoas, independente delas aplicarem os produtos. Fica claro

que a população exposta a agrotóxicos não se resume apenas aos trabalhadores rurais que

aplicam os agrotóxicos direto nas lavouras, mas toda a população que se encontra nas

proximidades dos locais de aplicação das substâncias e os consumidores dos produtos por eles

produzidos.

[...] faz mal aos outro também. Até o cheiro dele pra quem passa perto...o fruto, a lavoura, a pessoa comer ele estando intoxicado de veneno... faz mal a qualquer um.[...]. (informação verbal61)

[...] A pessoa que tá assim por perto ou então as pessoa que ingere os alimentos que são produzidos naquele determinado lugar. [...]. (informação verbal62)

[...] acontece com qualquer um, agora nem todo mundo é igual, tem gente que sente tontura, tem outro já sente outra coisa. [...]. (informação verbal63)

[...] ele faz mal também pra quem está próximo também, trabalhando próximo. [...] quem se alimenta dessa cebola que são os consumidores, geralmente eles devem tomar muito cuidado porque são muitos os venenos

58 Entrevista com E-04 59 Entrevista com E-05 60 Entrevista com E-08 61 Entrevista com E-04 62 Entrevista com E-08 63 Entrevista com E-07

Page 95: Exposição a agrotóxicos na atividade

95

que são aplicados. Esses venenos que são aplicados, são venenos fortíssimos, não são venenos fracos. [...]. (informação verbal64)

Dentre os entrevistados houve relatos de que o agrotóxico só é um risco para quem

está na atividade agrícola de aplicação na lavoura.

[...] O agrotóxico faz mal desde que esteja aplicando o veneno. Quem não aplica não vai sofre nada não. [...]. (informação verbal65)

Quando abordado sobre os riscos e danos à saúde que a exposição aos agrotóxicos

pode acarretar, ficou evidente que os trabalhadores rurais percebem que os agrotóxicos podem

trazer prejuízos a sua saúde.

[...] Que eu sei que o agrotóxico provoca muitas doenças, inclusive, câncer de pele, pode causar intoxicamento, pode intoxicar pessoa, pode causar cegueira também, que até quem come os alimentos produzidos com ele pode adoecer [...]. (informação verbal66)

[...] em excesso o veneno pode intoxicar a pessoa. [...]. (informação verbal67)

As entrevistas demonstraram que a percepção dos trabalhadores rurais é bastante

diferenciada, sugerindo desde a intoxicação aguda até os distúrbios mentais, sendo citadas

ainda as neoplasias, doenças do aparelho digestivo e principalmente as doenças relacionadas

ao aparelho respiratório.

[...] É que assim, parece que o agrotóxico também pode causar distúrbios mentais. [...]. (informação verbal68)

[...] ele mexe com o psicológico [...]. (informação verbal69)

[...] pode causar diversas doenças nas pessoas como câncer de pele né, é... infecção respiratória que é que rola aqui, mas aqui existem vários problemas, ainda tem gente que acha que é brincadeira, mas aqui mesmo tem muito problema de infecção respiratória. [...]. (informação verbal70)

[...] é a que fica no sangue da pessoa, pode intoxicar o sangue da pessoa, problema no estômago também e dá essa tontice na gente [...]. (informação verbal71)

64 Entrevista com E-09 65 Entrevista com E-06 66 Entrevista com E-08 67 Entrevista com E-01 68 Entrevista com E-06 69 Entrevista com E-03 70 Entrevista com E-02 71 Entrevista com E-07

Page 96: Exposição a agrotóxicos na atividade

96

[...] No próprio pulmão que é onde leva mais agrotóxico [...]. (informação verbal72)

Dois trabalhadores relataram saber que os agrotóxicos podem provocar algum tipo de

risco ou dano a sua saúde, entretanto não sabem informar a que tipo de dano ele está

susceptível.

[...] Não, não entendo, não sei não. Sei que pode provocar qualquer doença, mas não sei dizer qual. [...]. (informação verbal73)

[...] Eu não posso afirmar, não. Sei só que me sinto mal quando eu tô laborando com ele. [...]. (informação verbal74)

Importante destacar que quando questionados especificamente sobre a relação entre os

casos de transtornos mentais e comportamentais e as lesões auto-provocadas intencionalmente

(suicídios) identificados pelo inquérito, os trabalhadores referiram a inexistência dessa relação

com a exposição aos agrotóxicos. Para esse grupo de entrevistados esses agravos estariam

relacionados a outras causas, como outros problemas pessoais a que as pessoas estariam sendo

acometidas.

[...] Esses problemas não tem relação com o veneno. Acontece porque eles têm problemas em casa. [...] a pessoa só adoece quando chega o dia [...] No momento em que ele bebe veneno é porque fica é nervoso porque qualquer coisa aí ele bebe veneno [...]. (informação verbal75)

[...] desespero e fraqueza fazem a pessoa fazer isso com a vida. Aqui não tem trabalho pra isso [...] quem bebe veneno é porque dá a loucura. Nada tem a ver com a aplicação [...]. (informação verbal76)

[...] a tentativa de suicídio só ocorre em quem tem depressão. Nada disso tem relação com o veneno. [...] nem sempre quem toma veneno aplica. Tem mulher também que faz isso. [...]. (informação verbal77)

[...] a depressão vem de problemas pessoais. Às vezes a gente tem problema em casa. A pessoa fica sem serventia e ai dá desgosto na vida mesmo. [...]. (informação verbal78)

[...] Essa coisa de sentir tristeza, ter vontade de morrer só acontece em quem tem desgosto na vida. Tem muita gente aqui que sente essas coisas, mas nem todo mundo aplica veneno. [...]. (informação verbal79)

72 Entrevista com E-09 73 Entrevista com E-05 74 Entrevista com E-07 75 Entrevista com E-04 76 Entrevista com E-08 77 Entrevista com E-03 78 Entrevista com E-04 79 Entrevista com E-03

Page 97: Exposição a agrotóxicos na atividade

97

Houve relatos ainda de que esses agravos trariam relação com a ingestão de álcool,

sendo este um problema que acomete um grande número de pessoas residentes na área

estudada.

[...] só bebe veneno quem não acredita em Deus. [...] A cachaça é que faz essas coisas. (informação verbal80)

[...] Eu acho também que tem um grande número de bebida alcoólica ingerida. É terrível esse lugar, aqui é o terreno do mal, você pode ver que aqui a realidade só tem roça de cebola, o veneno tá infestado aqui. Mas eles só bebem porque é fácil, todo mundo sabe onde encontrar. [...].(informação verbal81)

[...] Aqui mesmo tem uma branquinha né, aí vocês sabem, por qualquer coisa, qualquer problema eles começam com a branquinha mas terminam com o veneno. Já começa a tomar a branquinha pensando no que vai fazer depois que é beber o veneno. Mas isso só acontece por desgosto na vida. [...] (informação verbal82).

Com relação aos demais agravos a saúde por eles percebidos, como os agravos

relacionados ao aparelho circulatório, respiratório, digestivo e as neoplasias ficou evidente

que acreditam que podem está relacionadas à aplicação de agrotóxicos.

[...] eu acredito que esses problemas respiratórios que acontecem aqui é por causa dos agrotóxicos. Quando tem uma pessoa que tá aplicando o veneno à vila inteira fica sentindo aquele cheiro forte. Isso deve fazer as pessoas adoecerem. [...]. (informação verbal83)

[...] aqui tem muita gente que reclama da gastrite, eu acho ate que pode ser da aplicação do veneno, mas pode ser também da cebola que tá contaminada com o veneno e as pessoas comem. (informação verbal84)

[...] essa coisa de sentir dor cabeça, tontice, gastura, ardor nos olhos eu até acredito que pode do veneno. Até porque quando a gente para de aplicar melhora [...].(informação verbal85)

[...] o veneno só faz mal na hora que aplica. [...].(informação verbal86)

80 Entrevista com E-02 81 Entrevista com E-08 82 Entrevista com E-06 83 Entrevista com E-04 84 Entrevista com E-06 85 Entrevista com E-03 86 Entrevista com E-02

Page 98: Exposição a agrotóxicos na atividade

98

6 DISCUSSÃO

As condições gerais de vida dos trabalhadores rurais da comunidade estudada refletem

resultados semelhantes a outros estudos rurais realizados no país. As condições de moradia

são precárias. Os resultados evidenciaram que a maioria reside em casa própria, recebe água

sem tratamento, os resíduos líquidos domiciliares escorrem a céu aberto. O lixo também é um

problema, uma vez que poucos têm destino adequado, a maioria queima ou joga a céu aberto.

Em geral a renda da família dos trabalhadores integrantes da pesquisa é baixa, com

grande parte recebendo menos de um salário mínimo. O grau de escolaridade apresenta bem

baixo onde a maioria informou saber apenas assinar o nome ou ter o ensino fundamental

incompleto.

Pode-se assim observar que realidades semelhantes são encontradas em diferentes

regiões do país, contribuindo para uma dificuldade de entendimento das estratégias de

comunicação de risco e com a exposição em grande escala destes indivíduos aos agrotóxicos.

Um estudo realizado por Brito et al. (2006) na comunidade de Serrinha do Mendanha,

no município de Campo Grande-RJ demonstrou que os trabalhadores rurais dessa comunidade

convivem com uma relativa deficiência de acesso ao transporte urbano, a educação, com falta

de rede de esgoto e coleta de lixo insuficiente, além de baixa renda e escolaridade.

Outros estudos realizados encontraram resultados semelhantes, como em estudo no

município de Cachoeiras de Macau (RJ), cerca de 23% dos agricultores eram analfabetos e

25% estudaram até a 4ª série do 1º grau (CASTRO, 1999). No Mato Grosso do Sul

(GONZAGA; SANTOS, 1992), a maioria dos entrevistados possuía até o 1º grau completo,

mas o analfabetismo se apresentava em 17% dos trabalhadores rurais. Faria et al. (2000)

realizaram um estudo na região serrana do Rio Grande do Sul, onde a escolaridade média

encontrada foi de cinco anos. Em Minas Gerais, uma pesquisa mostrou que em um dos

municípios estudados 34% dos agricultores eram analfabetos (SOARES et al., 2003). Na

região nordeste, agreste pernambucano, foi observado que 41% dos entrevistados eram

analfabetos e 41% possuíam o primário incompleto (ARAÚJO et al., 2000).

O uso de agrotóxicos na comunidade estudada é uma prática freqüente no trabalho.

Quase a totalidade dos trabalhadores afirmou utilizarem os produtos nas suas plantações. Para

eles o trabalho na agricultura representa a forma de sobrevivência e o uso de agrotóxicos

torna-se obrigatório quando relatam que seu uso garante a produção desejada.

Page 99: Exposição a agrotóxicos na atividade

99

Outro fator a ser considerado foi o relato de trabalhador que atribui à fabricação ou a

quantidade de produtos existentes no mercado com a necessidade de seu uso. Para ele se o

produto está no mercado é pra ser vendido, ou seja, é pra ser usado.

Levigard (2001) enfoca em seu estudo que a questão do uso de agrotóxicos na agricultura

brasileira insere-se em uma discussão mais ampla, relativa à necessidade de mudanças nas

políticas agrícolas. A industrialização da agricultura no Brasil foi forjada, dentre outras coisas, a

partir da utilização em grande escala de insumos químicos, sob a pressão econômica de poderosos

grupos multinacionais, que têm no país um de seus maiores mercados consumidores. Segundo

Benjamin et al. (1998), “a agricultura moderna brasileira é, ao mesmo tempo, muito produtiva e

muito vulnerável. Pressionada pelos custos dos insumos que adquire no mercado, dependente do

cálculo capitalista e integrada em complexos agroindustriais.”

As práticas e atitudes dos trabalhadores rurais com relação à aplicação de agrotóxicos

estão muito relacionadas à forma como eles vêem outros trabalhadores aplicando ou a forma

como aprenderam ainda na infância, com os pais ou parentes. A maioria dos sujeitos da

pesquisa reconhecem que a vivência com o trabalho no campo em virtude da experiência das

gerações passadas, que segundo eles “passa de pai pra filho” é fator fundamental na escolha

da profissão de trabalhador rural e principal fonte de informação sobre o manejo com

agrotóxicos, somando-se a isso as experiências vivenciadas no próprio campo com outros

trabalhadores mais “velhos”. Rosemberg e Peres (2003) consideram que o trabalhador tende a

perceber e reagir ao agrotóxico a partir de fatos vividos e na sua rotina diária. Fica claro que

as informações que esses trabalhadores têm são adquiridas pelas experiências por eles

vivenciadas e são transformadas por elas. Peres (2003) observa que experiência, informação e

background cultural são determinantes indissociáveis da percepção do risco.

Observa-se na análise dos relatos que os trabalhadores são, de maneira geral, alertados

sobre os riscos associados ao agrotóxico e sobre os cuidados que devem ser tomados. Todos

afirmam que o uso de agrotóxicos compreende perigos para a saúde, embora muitas vezes

estes riscos não sejam percebidos de imediato. Isto se confirma nos trabalhos de Peres (1999,

2001, 2002).

A percepção de nocividade do homem, sua adaptação as situações perigosas e as

soluções aos conflitos entre “riscos e benefícios” decorrem de nexo de fatores sociais e suas

relações complexas com o ambiente, sendo estes mediados pelos processos produtivos, pela

cultura, pela religião e pela história (ALGUSTO et al., 2002).

A maioria dos sujeitos da pesquisa referiu ler a bula dos agrotóxicos. No entanto há de

se relativizar este dado, uma vez que a maioria dos trabalhadores tinha como grau de

Page 100: Exposição a agrotóxicos na atividade

100

escolaridade o ensino fundamental incompleto ou informaram que apenas sabem escrever o

nome. No que se refere às dificuldades dos agricultores rurais em compreender as

especificações presentes nos rótulos dos produtos de agrotóxicos, Gomide (2005), em seu

estudo, observou a presença de baixa escolaridade, porém mesmo os alfabetizados que

conseguem ler os rótulos têm dificuldades na compreensão do significado das cores, símbolos

e demais informações neles presentes.

Os trabalhadores rurais relataram não receberem orientações técnicas sobre o manejo

com agrotóxicos. Na maioria das vezes, essas orientações são recebidas no momento da

compra e é fornecida por funcionários das lojas de produtos agrícolas. Situação semelhante

foi observada no estudo realizado no agreste do Estado de Pernambuco, que observou que a

maioria dos trabalhadores não tem acesso a orientações técnica, ficando essa a cargo dos

vendedores das cooperativas agropecuária (SILVA, 2000). Esse fato vem justificar a compra

de agrotóxicos sem o receituário agronômico, o que pode corroborar para a sua utilização de

maneira massiva, sem observar a indicação ao tipo de cultura e praga predominante, a dose

correta, assim como os riscos e danos para a saúde. Esta é uma realidade preocupante, pois

além de não exigir a necessidade de receituário agronômico, previsto na legislação brasileira

para compra de produtos (BRASIL, 2002; PERNAMBUCO, 2007), o que demonstra uma

facilidade de aquisição sem que exista um controle e orientação adequados. Se desconhece a

qualidade da informação recebida por estes trabalhadores, tendo em vista que a orientação é

feita por profissionais vinculados às lojas e comprometidos com o lucro na negociação. A

pressão da indústria/comércio para venda de agrotóxicos através de um discurso que

“legitimaria” o uso dos mesmos e sua conseqüente influência nas práticas adotadas por

pequenos agricultores é descrita por Peres et al. (2001).

A falta de orientações técnicas também justifica a não uniformidade do tempo de

carência de aplicação dos produtos adotados pelos trabalhadores rurais. Pode-se observar

nesse estudo que não existe uniformidade entre o tempo de carência que deve ser adotado no

processo produtivo com a aplicação de agrotóxicos. Essa carência varia de dois a quarenta

dias, com maior prevalência entre oito e quinze dias entre a última aplicação de agrotóxicos e

a colheita da produção. Fato que demonstra claramente que as práticas dos trabalhadores

rurais frente ao uso de agrotóxicos são reflexos de falta de conhecimentos técnicos seguros,

facilidade de aquisição de produtos em virtude da insuficiente fiscalização dos órgãos

competentes.

Embora em cada fase do plantio haja indicações bem definidas para a escolha da

substância, entre eles observa-se a existência de certos costumes, como: ao aplicar vários

Page 101: Exposição a agrotóxicos na atividade

101

produtos de modo simultâneo, isto levaria a um menor risco de perda da safra. Outros fatores

certamente contribuíram para esta atitude, como a pressão exercida pelos vendedores de

pesticidas e dos patrões que querem a qualquer custo aumentar a sua produção.

A falta de utilização de EPI é fato que chama a atenção quando se observa que a

maioria dos trabalhadores rurais acreditam que o EPI protege o trabalhador dos riscos à saúde

ocasionados pela exposição a agrotóxicos, entretanto um quantitativo relativamente baixo

utilizam alguma proteção durante a aplicação. Em geral essa proteção se resume a um pano

amarrado ao nariz. Há que se considerar que essa “proteção” está relacionada com a forma

como esses trabalhadores percebem o risco para sua saúde, acreditando estes que a via de

absorção dos agrotóxicos pelo organismo se dá apenas pela inalação, ou seja, para os produtos

que não tem odor não é necessário adotar nenhuma proteção. Como explicação para esse fato

alegam que o EPI acarreta custo, é desconfortável para o clima da região e não conhecerem

ninguém entre eles que faz uso desses equipamento, enfocando ainda que esse EPI só se faz

necessário diante de aplicações de agrotóxicos em tempo prolongado, acreditando esses

trabalhadores que aplicações entre dois e três dias por semana, por um tempo médio de duas

horas diárias não faz necessário o seu uso.

Estas controvérsias indicam que existe entre estes agricultores uma fluidez na

percepção de limites dos riscos no manejo do agrotóxico, o que, segundo Slovic (1999),

colocaria o agrotóxico na dimensão dos riscos desconhecidos. Uma das conseqüências deste

desconhecimento de limites poderia ser a ampliação do medo relativo a este risco (DEJOURS,

1992). Em termos lógicos a reação esperada decorrente da ampliação deste medo seria a

adoção de comportamentos adequados a um manejo seguro dos agrotóxicos, os quais

incluiriam a utilização do equipamento de proteção individual. Brito e Porto (1992)

consideram que o não uso de EPIs pelos trabalhadores rurais está relacionado à falta de

conhecimento e de “percepção cognitiva’’ dos riscos presentes na prática de trabalho. No

entanto, a análise do conjunto dos dados esclarece que esta negligência observada no manejo

do agrotóxico não ocorre necessariamente por falta de conhecimento sobre os perigos e a

necessidade de cuidados. O estudo de Silva et al. (2001) também revelou que os agricultores

rurais, em sua maioria (90%), consideram importante o uso dos EPIs, mas que somente 70%

usavam.

Vários estudos demonstram que a utilização de medidas e equipamentos de proteção

não é uma conseqüência direta do conhecimento dos riscos associados ao manejo do

agrotóxico, mas depende da maneira como, individual e coletivamente, os trabalhadores

percebem o risco no uso destes produtos tóxicos (PERES, 2007).

Page 102: Exposição a agrotóxicos na atividade

102

Veiga (2007) em estudo realizado sobre a contaminação por agrotóxicos e o uso de

equipamentos de proteção individual, concluiu que os EPIs não eliminaram nem

neutralizaram a insalubridade, conforme determina a legislação, e ainda aumentaram a

probabilidade de contaminação dos trabalhadores rurais durante a realização de algumas

atividades. Para o autor os equipamentos utilizados na agricultura, além de não protegerem

integralmente o trabalhador, ainda agravaram os riscos e perigos, uma vez que tornaram-se

fontes de contaminação por agrotóxicos. Os métodos de limpeza expuseram os trabalhadores

rurais a contaminações imediatas, para aqueles que fizeram a limpeza, e mediatas, para

aqueles que tiveram contato com a área onde foi realizada a limpeza.

As roupas utilizadas na aplicação de agrotóxicos normalmente é deixada no campo

para uso em aplicações futuras. Não há uma prática de lavagens das roupas após cada

aplicação dos produtos. Tal procedimento deixa claro a negligência dos trabalhadores quanto

aos riscos e danos a saúde impostos pelo uso de agrotóxicos, onde um procedimento básico de

minimização desses riscos deixa de ser realizado.

Conhecer a necessidade de se proteger não implica necessariamente que isto seja feito,

torna evidente que não há uma relação direta entre o conhecimento dos riscos e perigos

associados ao manejo do agrotóxico e a utilização de medidas de proteção efetivas. Esta

relação é mediada por crenças que correspondem a construções elaboradas por estes

trabalhadores para permitir a sua convivência com o agrotóxico. Normalmente esses

trabalhadores tendem a se auto protegerem desses riscos, acreditando que danos a saúde

podem ocorrer, mas nem sempre sabendo identificar quais poderiam acontecer com eles.

A negligência é uma idéia expressa em vários relatos. Esta idéia evidencia uma prática

já mencionada e identificada por outros autores na qual o próprio indivíduo é responsabilizado

pelos riscos do uso dos agrotóxicos (PERES, 1999, 2003; PERES et al., 2001; MOREIRA et

al., 2002). Segundo Peres (2003), o trabalhador passa a crer que a possibilidade de um

acidente seguida a um manejo inadequado do agrotóxico é problema exclusivo seu. Este autor

esclarece que esta ênfase na responsabilidade individual aparece no discurso técnico e nas

instruções de uso do produto.

Ao estudar a percepção sobre os riscos do uso de agrotóxicos de olericultores em

Santa Catarina, Guivant (1994) classificou este conhecimento dos trabalhadores frente aos

riscos em três níveis de compreensão, sendo: 1. recomendações técnicas que os agricultores

conhecem e respeitam; 2. recomendações técnicas que os agricultores conhecem, mas não

respeitam (como uso de EPI e descarte de embalagens) e 3. recomendações técnicas que os

agricultores desconhecem. A autora observa que, se os problemas relacionados ao uso de

Page 103: Exposição a agrotóxicos na atividade

103

agrotóxico se enquadrassem somente na terceira categoria, seria suficiente se propor

simplesmente a comunicação como meio de resolver a questão.

Entretanto, o mesmo não é observado para as duas outras categorias. Os agricultores

dispõem de informações, embora estas sejam insuficientes. Além do baixo nível educacional

observado, fator contributivo para esta situação, a autora ressalta que, para este grupo de

agricultores, faltariam evidências para confirmar o risco. Os sintomas de intoxicação não

seriam suficientes para esta confirmação: “os riscos assim são descartados como abstratos e

distantes. Se o agricultor tem manipulado até o presente os agrotóxicos sem que aconteça para

ele nada de negativo [...], extrai a conclusão de que efetivamente não são perigosos à saúde”

Guivant (1994). Pode-se dizer que, quando é o próprio indivíduo que se expõe ao agrotóxico,

os riscos são percebidos dentro de um limite definido como controlável, não ameaçador, de

conseqüências não fatais, voluntário e conhecido (SLOVIC, 2002).

Dentre as práticas com o manejo com agrotóxicos percebe-se ainda que a destinação

das embalagens vazias de agrotóxicos não ocorre de forma correta, sendo na maioria das

vezes queimada, enterrada, jogada direto no campo ou mesmo nas margens do riacho.

Somente 19,8% informaram entregar as embalagens vazias aos fabricantes. Tal prática

contraria a Lei Nº 12.753, de 21 de janeiro de 2005 que dispõe sobre o comércio, o transporte,

o armazenamento, o uso e aplicação, o destino final dos resíduos e embalagens vazias, o

controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como o

monitoramento de seus resíduos em produtos vegetais, e dá outras providências.

Muitos dos trabalhadores relataram saber que essas embalagens deveriam ser

devolvidas ao fabricante, entretanto, colocou que esse procedimento é difícil em virtude do

não recolhimento pelos fabricantes, colocando ser difícil devolver a própria loja onde o

produto foi adquirido. Gonçalves (2008) em estudo realizados em comunidade indígena no

estado de Pernambuco também evidenciou que a pratica relacionada à destinação final das

embalagens também se da de forma inadequada, sendo principalmente queimadas ou

enterradas.

O horário de aplicação dos agrotóxicos se dá normalmente no início do dia, entretanto,

as entrevistas evidenciaram que esse horário é escolhido com base na temperatura elevada no

restante do dia, tendo sido informado que “o calor faz com que eles se sintam mal” e não por

reconhecer que esse horário diminuiria o risco a saúde em virtude de diminuir a absorção das

substâncias pelo organismo, uma vez que a temperatura eleva é fator de risco em potencial

durante as aplicações de agrotóxicos. Houve ainda relatos que o horário e tempo de aplicação

Page 104: Exposição a agrotóxicos na atividade

104

são definidos principalmente em função do tamanho da propriedade, sendo muitas vezes

realizado durante doto o dia.

O cheiro é entendido por estes trabalhadores rurais entrevistados como elemento

tóxico. É interessante observar que Peres (2003) relata que o que confere odor à mistura

aplicada não é o agrotóxico em si que é inodoro, mas um outro produto utilizado no preparo

do agrotóxico para a aplicação.

As vias de absorção dos agrotóxicos no organismo humano são, sobretudo, a dérmica

e a respiratória, podendo, ainda, em escala bem menor, ser a via digestiva. O índice de

ingestão dos agrotóxicos pela derme é o resultado da combinação entre a natureza do

composto, a condição da pele e fatores externos, como a temperatura (MORAES, 2007).

Os efeitos para a saúde humana decorrentes da exposição aos agrotóxicos não são

reflexos de uma relação simples e direta entre o produto e a pessoa exposta, mas de distintos

fatores e variáveis, como as características físico-químicas dos produtos (estabilidade,

solubilidade, presença de contaminantes, formulação da apresentação); toxicidade de cada

produto; os indivíduos expostos (idade, sexo, peso, estado nutricional), e as condições de

exposição (freqüência, dose, formas de exposição) (GRISOLIA, 2005).

A toxicidade dos produtos pode ter interferência de fatores existentes no ambiente de

trabalho e também do indivíduo exposto. A temperatura e a umidade podem interferir nas

propriedades físico-químicas das substâncias, favorecendo maior ou menor absorção. Com

relação às propriedades dos indivíduos, fatores como sexo, peso, estado nutricional e

condições metabólicas podem potencializar os efeitos dos agrotóxicos (GARCIA, 2005).

A respeito do uso intensivo de agrotóxicos na agricultura familiar, Brito et al. (2005),

consideram que: “O consumo destes insumos parece ser a única alternativa conhecida – ou

reconhecida – por estas populações, o único meio capaz de garantir a produtividade nas

lavouras”. Este cenário é resultado de muitos fatores estruturais, incluindo: a condição

socioeconômica precária, a falta de orientação adequada e sistemática para esta comunidade

sobre o trabalho agrícola e manejo da terra, a pressão exercida pela indústria de produtos

químicos, a precarização das relações de trabalho.

Com relação à incorporação de tecnologias alternativas no processo produtivo em

substituição aos agrotóxicos os trabalhadores foram unanimes nas colocações de que não tem

interesse em adotar outra tecnologia. Dentre os motivos citados foram colocados: desconhecer

outras alternativas; dificuldades na adoção de tecnologias alternativas como, por exemplo, o

“orgânico”; que não há como garantir a mesma produção sem o uso de agrotóxicos.

Page 105: Exposição a agrotóxicos na atividade

105

Tucker e Napier (2001) consideram que esta atribuição de familiaridade pelos

trabalhadores rurais aos agrotóxicos está relacionada à experiência adquirida por eles no

extenso uso destes produtos. De acordo com estes mesmos autores, esta característica de

familiaridade atribuída à prática tem como conseqüência uma avaliação da mesma como de

baixo risco. Neste caso, as inovações que se referem à proteção são vistas como

desnecessárias. A literatura esclarece que a aceitação das novas práticas depende de sua

possibilidade de integração às práticas vigentes (BARR; CARY, 1992). Segundo Douglas

(1991), as sugestões de mudança tendem a ser mais aceitas quando se ajustam mais facilmente

a construções simbólicas já existentes.

Dentre as formas como os agrotóxicos são percebidos naquela comunidade pode-se

enfatizar que existem duas concepções antagônicas, ou seja, como remédio e como veneno, o

que corrobora os estudos de Castro (1999) e de Peres (1999). De modo geral, a justificativa

para o uso destes produtos baseia-se no estado de esgotamento em que se encontram os solos

locais, segundo eles “nosso solo é encharcado de veneno” e na suscetibilidade cada vez maior

à proliferação de pragas.

Com relação aos agravos a saúde sugeridos pelos trabalhadores rurais da localidade

estudada, foi observado que 55,3% refere ter sentido algum problema relacionado a aplicação

de agrotóxicos. Destes, 52,8% informou ter ocorrido por mais de duas vezes e 22,6%

necessitou de assistência hospitalar. Dentre os principais agravos sugeridos pelos

trabalhadores rurais as tonturas, nervosíssimo, anorexia, dor de cabeça, insônia e náuseas

aparecem com maior freqüência. Esses dados corroboram com Schmidt e Godinho (2006), os

quais estudaram o cotidiano de trabalhadores rurais, identificando que os principais sintomas

apontados pelos trabalhadores entrevistados quando sofreram intoxicações foram: dores de

cabeça, irritação nos olhos, náuseas, excesso de saliva, desatenção.

Apesar das intoxicações agudas serem mais perceptíveis e mais rapidamente

associadas à exposição a substâncias químicas como os agrotóxicos, as intoxicações crônicas

também ocorrem e merecem atenção especial. A reversibilidade do quadro clínico, em geral é

muito difícil e pouco de conhece a respeito dos efeitos de longo tempo de exposição a

agrotóxico. Esses efeitos não têm sido caracterizados adequadamente, visto que podem se

tornar aparentes somente após anos de exposição (SOARES et al., 2003). Matos e

colaboradores, em 1987 relatam que a exposição a agrotóxicos pode ocasionar problemas

ligados a fertilidade, a indução de efeitos teratogênicos e genéticos e câncer. No estudo de

Delgado e Paumgartten (2004) foi evidenciado a presença de sintomas como a cefaléia,

náuseas, tremores, perda de apetite e alterações visuais.

Page 106: Exposição a agrotóxicos na atividade

106

O uso de agrotóxicos aparece sempre associado a problemas de saúde. Peres (2003)

observa que cada vez mais o homem se expõe ao agrotóxico e tem sua saúde deteriorada.

Observa-se também que diferentes sintomas são associados a diferentes tipos de agrotóxico e

que existe uma predisposição dos trabalhadores a avaliar o risco em função do tipo de produto

utilizado. A análise dos relatos deixa, entretanto, transparecer que muitos trabalhadores

minimizam a relação do agrotóxico com os sintomas, encarando dor de cabeça e problemas de

estômago como processos naturais decorrentes do seu manejo.

Uma reflexão a ser considerado no estudo é que os riscos decorrentes da exposição a

agrotóxicos não esta relacionado apenas aos trabalhadores rurais que realização aplicação dos

produtos, mas a população em geral da área do estudo que encontra-se próxima aos locais de

aplicação das substâncias e os consumidores que adquirem e consomem os produtos em se faz

uso de agrotóxicos. Essa reflexão corrobora com Soares et al. (2003), onde o autor enfatiza

que os danos à saúde decorrentes da utilização de agrotóxicos podem atingir os trabalhadores

que aplicam o produto. Entretanto, outras pessoas podem ser afetadas, como é caso dos

membros da comunidade e dos consumidores dos alimentos contaminados com os resíduos

dos produtos. Os trabalhadores rurais os mais acometidos pelos problemas de saúde.

Nos relatos obtidos com as entrevistas fica claro que a percepção de riscos dos

trabalhadores rurais se restringe aos agravos que acontecem imediatamente com a aplicação

dos agrotóxicos, como é o caso das intoxicações agudas. Há uma certa resistência desses

trabalhadores em aceitarem que agravos a saúde que aconteçam após anos de trabalho com

agrotóxicos seja por eles causados.

O fator exposição, no entanto, não está relacionado apenas à manipulação e aplicação

do produto. O controle da exposição deve ser exercido no ambiente onde o trabalho ocorre e

não exclusivamente sobre o indivíduo exposto (GARCIA, 2005).

Sob o ponto de vista de danos a saúde da população local do Distrito do Pau Ferro que

também encontram-se exposta a agrotóxicos os trabalhadores rurais identificaram os

transtornos depressivos recorrentes como o agravo mais freqüente na localidade, seguidos de

auto intoxicação por exposição intencional a pesticidas (tentativas de suicídio), os transtornos

mentais e comportamentais devido ao uso do álcool, as intoxicações ocupacionais, e as

doenças do aparelho circulatório com ênfase para a hipertensão, as doenças do aparelho

respiratório, as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas como o diabetes e as

neoplasias ocorrendo em menor proporção.

Esses dados retratam que além das intoxicações agudas, a exposição ocupacional

também pode causar outros problemas de saúde, como as intoxicações crônicas. Tais

Page 107: Exposição a agrotóxicos na atividade

107

intoxicações podem se manifestar de diferentes formas como: problemas ligados à fertilidade,

indução de defeitos teratogênicos e genéticos, câncer, efeitos deletérios sobre os sistemas

nervosos, respiratórios, genito-urinário, gastro intestinal, pele, olhos, alterações hematológicas

e reações alérgicas (BRASIL, 2006).

Nos casos mais graves, identificam-se cefaléia intensa, tonturas, sensação de fadiga,

perda da consciência, fasciculação, cãibras musculares generalizadas e convulsões, podendo

afetar, ainda, a função vital de vários órgãos, causando cirrose, arritmia cardíaca, problemas

orgânicos e funcionais para os olhos. Grisolia (2005), manifesta preocupação quanto aos

efeitos sobre a saúde humana relacionados à mutagenicidade, carcinogenicidade e

teratogenicidade causados pelos fungicidas Etilenobistidiocarbamatos (EBDC), que são

utilizados há mais de 40 anos, principalmente nas culturas de cereais, frutas, hortaliças e

legumes. A maioria dos agravos de saúde relacionados à exposição a agrotóxicos envolve o

uso de organoclorados e organofosforados que possuem atividade neurotóxica (ARAUJO et

al., 2007).

Para Rozemberg (1994) e suas referências a outros estudos que apresentavam quadros

contendo sinais e sintomas atribuídos ao nervoso por parte de trabalhadores, em especial o de

Duarte (1988), permitiu encontrar grande semelhança entre os sinais e sintomas descritos para

“nervosos” com aqueles da intoxicação por agrotóxicos descritos tanto no trabalho de campo

de Castro (1999), quanto nos informes oficiais sobre o problema, como o manual da

Organização Pan Americana de Saúde (1996).

Alguns autores têm se preocupado com a alta incidência de suicídios em trabalhadores

rurais e vêm estudando a relação da utilização de agrotóxicos com o suicídio e outros

sintomas como: depressão, ansiedade e nervosíssimo. De acordo com esses estudos, os

agrotóxicos podem causar “síndromes cerebrais orgânicas ou doenças mentais de origem não

psicológicas” (FALK et al., 1996).

Faria et al. (2000) em um amplo estudo epidemiológico com trabalhadores rurais na

Serra Gaúcha conseguiram demonstrar quantitativamente que “a intoxicação por agrotóxicos

apresentou uma forte associação com transtornos psiquiátricos menores”, denominação dada

aos “problemas de nervosismo” ou “problemas de tristeza e desânimo” em algum momento da

vida”. Este estudo revela especial relevância porque estabelece o nexo associativo entre a

exposição ocupacional aos agrotóxicos e as perturbações mentais em agricultores.

O SINITOX registrou no ano 2007 um número elevado de intoxicações por

agrotóxicos no Brasil com 6.179 casos. Destes 1514 intoxicações ocorreram em

circunstâncias ocupacionais e 2899 foram teve como circunstância a tentativa de suicídio.

Page 108: Exposição a agrotóxicos na atividade

108

Trazendo esses dados para o estado de Pernambuco há registros na mesma base de dados de

538 intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola, sendo cinco em circunstâncias ocupacionais

e 444 casos decorrentes de tentativas de suicídio.

Em relação aos casos de suicídio, foi reiteradamente expresso pelos entrevistados que

as pessoas tomam agrotóxicos para suicidar-se, o que se confirma nos dados estatísticos do

SINITOX do ano de 2007. Embora se reconheça que o uso do aldicarb ou temik,

popularmente conhecido como "chumbinho", que é um agrotóxico inseticida do grupo dos

carbamatos, de alta toxicidade é muito utilizado entre as substâncias escolhidas nas tentativas

de suicídio, conforme mostram os estudos de Meirelles (1995) e de Levigard et al. (1998),

especificamente nessa comunidade, os agrotóxicos utilizados para essa finalidade não são os a

cima citados, mas produtos encontrados no campo e que são utilizados nas culturas por eles

produzidas. Suas falam demonstram que se sabe qual o produto que deve ser ingerido para

obter o resultado esperado. Para as tentativas de suicídio os trabalhadores rurais informaram

que a substância Lannate BR, pertencente ao grupo químico dos Metil carbamato de oxima e

classe toxicológica I, ou seja, extremamente tóxico é a escolhida na maioria das vezes.

Meyer et al. (2007), realizaram um estudo na cidade de Luz/MG, tendo constatado que

o índice de suicídio no município era muito alto entre os trabalhadores rurais, totalizando 94%

dos casos existentes. Destes 57,9% ocorreu por ingestão de agrotóxico.

Furtado (1998) em reportagem, trata da possível relação entre a exposição a

agrotóxicos e o alto número de suicídios entre fumicultores de Venâncio Aires, no Rio Grande

do Sul, cidade que detém um dos maiores índices mundiais de suicídio. Segundo a jornalista,

em 1995, ano em que houve um uso intensificado de agrotóxicos para combater o aumento de

pragas nas plantações de fumo, ocorreu um recorde de suicídios na região. Preocupação

semelhante com relação à exposição ocupacional a agrotóxicos e o alto número de suicídios

entre agricultores canadenses é expressa no estudo de Pickett et al. (1998).

Estudo realizado por Levigard (2001) em Nova Friburgo-RJ demonstra que há uma

nítida percepção dos profissionais de saúde dá área onde o estudo se inseriu relacionando os

sinais e sintomas nervosos presentes na população com a exposição a agrotóxicos.

Nesse estudo basicamente, apesar dos profissionais de saúde reconhecerem que os

agravos a saúde presentes na comunidade estudada são basicamente sinais de intoxicação

aguda e estarem presentes agravos relacionados ao sistema nervoso, como a depressão, o

alcoolismo e mesmo as tentativas de suicídio que chamam a atenção na localidade, inexistem

registros de notificação dos agravos.

Page 109: Exposição a agrotóxicos na atividade

109

As entrevistas evidenciaram que os trabalhadores rurais costumam não aceitar que os

danos a saúde por eles percebidos guardam relação com a exposição aos agrotóxicos,

principalmente nos agravos considerados crônicos, ou seja, decorrentes de exposição a longo

prazo. Para eles os transtornos depressivos, as tentativas de suicídio e o uso abusivo de álcool

guardam relação entre si e ocorrem em virtude de outras causas não relacionadas à exposição

aos agrotóxicos e enfatizam que esses agravos a saúde não ocorrem apenas com quem aplica

agrotóxico, mas com pessoas que nunca fizeram aplicação dos produtos como as mulheres.

Sobre as dores de cabeça, náuseas, anorexia e insônia ficam mais evidentes que estes

trabalhadores entrevistados fazem possíveis associações com a exposição e admitem que esses

sinais e sintomas ocorrem principalmente quando o tempo de exposição aos agrotóxicos se

prolonga por várias horas.

Apesar de considerarem que muitos dos trabalhadores rurais ingerem álcool antes de

aplicarem agrotóxicos, tendem a admitir que essa prática se dá para contribuir no processo de

trabalho deixando-os com mais disposição, entretanto, admitem que quem ingere o agrotóxico

intencionalmente também faz uso do álcool anteriormente.

Estudo realizado com indígenas em Pernambuco também demonstrou que o uso do

álcool se dá com freqüência (GONÇALVES, 2008).

Embora as pesquisas sobre os impactos do uso dos agrotóxicos na saúde tenham

crescido nos últimos anos, ainda é insuficiente para se conhecer a extensão da carga química

de exposição ocupacional e a dimensão dos danos à saúde decorrentes da exposição a

agrotóxicos. Um dos problemas que contribui para isso é a falta de informações sobre o

consumo de agrotóxicos e a insuficiência de dados sobre intoxicações por esses produtos

(FARIA et al., 2007).

Sob o aspecto de controle dos riscos decorrentes da exposição a agrotóxicos, é

fundamental que os trabalhadores rurais tenham conhecimento desses riscos, o que nem

sempre acontece ou na maioria das vezes é negligenciado. Os estudos de percepção dos

trabalhadores rurais acerca dos riscos decorrentes da exposição a agrotóxicos têm sido

utilizados como ferramenta para o planejamento de ações na área de saúde pública que

buscam compreender e implementar ações para minimizar os danos à saúde e ao meio

ambiente provocados pela utilização de agrotóxicos.

Há o entendimento de que as análises de percepção de risco são determinantes para

entendimento das situações da exposição e da contaminação humana e ambiental por

agrotóxicos (PERES, 2000).

Page 110: Exposição a agrotóxicos na atividade

110

De acordo com Salim (2002), existe a necessidade de se realizarem estudos gerais e

em caráter de urgência e análises específicas para a delimitação de cenários que visem à

definição de ações preventivas capazes de minimizar os danos dos agrotóxicos obre a saúde

do trabalhador.

Nesse campo os estudos de percepção de risco constituem um grande aliado para o

entendimento da situação de exposição e contaminação por agrotóxicos, compreensão das

motivações que levam os trabalhadores a agirem de forma tão insalubre, sendo ainda de

grande valia para planejamento de ações e estratégias no campo da saúde.

Conforme assinalam Augusto et al. (2002) “Compreender a percepção social dos

riscos permite construir a Vigilância em Saúde pela via social e cultural que inclui o sujeito.”

Com base nas reflexões anteriores, pode-se considerar que a primeira hipótese

construída ao longo desse estudo, sendo: O processo de produção, as práticas e atitudes dos

trabalhadores rurais durante a utilização dos agrotóxicos se caracterizam por apresentar riscos

potencias a saúde da população. Esses riscos e danos à saúde decorrentes da exposição a

agrotóxicos não são percebidos pelos trabalhadores rurais que manipulam os produtos foi

parcialmente comprovada, visto que os trabalhadores rurais reconhecem os agrotóxicos como

produtos perigosos que podem trazer danos a saúde, no entanto, muitos desconhecem quais

são esses danos. Resultado semelhante foi encontrado por Fonseca et al. (2007), cujo estudo

destaca que todos os trabalhadores apontam as implicações negativas dos agrotóxicos sobre a

saúde, embora os mesmos, muitas vezes, não percebam os riscos de imediato. Suas práticas

diárias, seus costumes e auto confiança depositadas em si mesmo, fazem com que acreditem

estarem imunes aos riscos provocados pela exposição aos agrotóxicos, sendo relatados que o

“veneno só prejudica que é fraco pra ele”.

A segunda hipótese construída foi a de os principais problemas de saúde que

acometem a população local e são percebidos pelos trabalhadores rurais guardam relação com

a utilização de agrotóxicos. Essa hipótese foi comprovada, fazendo um busca na literatura que

trata sobre o assunto, sendo considerado os principais riscos e danos que podem acometer a

população que se encontra exposta aos agrotóxicos. Os danos a saúde percebidos pelos

trabalhadores corroboram com outros estudos realizados por diversos autores como Peres e

Moreira (2003), Meyer et al. (2007), Falk et al. (1996), Levigard (2001) e Gonçalves (2008).

Finalmente, devemos ressaltar que o presente estudo, ao articular a experiência no

manejo do agrotóxico e seu contexto de produção cultural, revela um universo particular de

práticas e atitudes de um grupo no enfoque dos perigos e a percepção sobre os riscos e danos

a saúde decorrentes da exposição a agrotóxicos, apontando para a necessidade de

Page 111: Exposição a agrotóxicos na atividade

111

implementação programas de vigilância e promoção da saúde que reconheçam a natureza

simbólica das práticas dos sujeitos sociais.

Page 112: Exposição a agrotóxicos na atividade

112

7 CONCLUSÕES

1. A precariedade nas condições gerais de vida da população estudada refletem a

necessidade de implementação de ações por parte dos gestores municipais que visem

garantir o bem estar físico, mental e social, atribuído melhores condições de vida,

tomando por base os determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença e

garantindo os direitos sociais estabelecidos na Constituição Federal de 1988;

2. O processo de produção, as práticas e atitudes dos trabalhadores rurais no manejo com

agrotóxicos se configuram por tornar os agricultores uma população vulnerável aos riscos

de intoxicação aguda e crônica decorrentes da exposição aos agrotóxicos;

3. A resistência na adoção de outras tecnologias é baseada na falta de experiência com

tecnologias diferente, com o desconhecimento com relação a outras alternativas e

principalmente pelo medo de não garantir a produção desejada, aliada a expectativa de

que o uso de agrotóxico traz resultados satisfatórios e renda garantida;

4. Os agrotóxicos recebem denominações diferentes e contraditórias entre os trabalhadores

rurais: há os que consideram os agrotóxicos como um veneno, em virtude de trazer

prejuízos à saúde; e aqueles que o tratam como remédio, uma vez que,em razão de sua

ação biocida, garantem as produções das lavouras. Esses últimos os definem como uma

necessidade, considerando imprescindível para garantir a sua sobrevivência e de sua

família uma vez que desconhece outra alternativa a ser utilizada no processo de produção;

5. Os trabalhadores rurais tendem a acreditar que estão protegidos dos riscos a saúde por se

considerarem “experientes” no assunto. Essa crença de que a experiência protege, parece

ser negada pela crença de que a exposição prolongada é que traz riscos a saúde. Há que se

considerar que estas crenças, mesmo aparentemente opostas, são historicamente

construídas, validadas e revalidadas intersubjetivamente, oferecendo aos indivíduos e ao

grupo social um quadro para interpretar e guiar experiências no manejo do agrotóxico;

6. Os dados sobre danos a saúde referidos pelos trabalhadores retratam o contexto da atenção

à saúde garantida a esses trabalhadores, especificamente com relação a exposição a

agrotóxicos, particularmente no que concerne a inexistência de notificações de

intoxicações por agrotóxicos na unidade de saúde existente na comunidade. Essa situação

Page 113: Exposição a agrotóxicos na atividade

113

coloca em discussão a necessidade de implementação de ações de vigilância em saúde,

assistência e promoção da saúde dos trabalhadores;

7. Os trabalhadores rurais envolvidos nesse estudo identificam os riscos e danos à saúde

decorrentes da exposição a agrotóxicos, mas existe uma longa distância entre os riscos que

eles consideram reais e os riscos por eles percebidos. Geralmente tendem a “negar” os

riscos em virtude de “não apresentarem doenças aparentes”, mas reconhecem que os

agrotóxicos são perigosos e podem trazer danos a saúde e ao ambiente;

8. Os sujeitos da pesquisa não conseguem estabelecer relação entre os agravos relacionados

ao sistema nervoso e a exposição a agrotóxicos. Eles reconhecem que a depressão, o

suicídio e o alcoolismo chamam a atenção na comunidade estudada, mas relatam que se

deve a outras causas como problemas familiares, fraqueza e falta de vontade de viver;

9. A percepção de risco desses trabalhadores rurais, enquanto fenômeno culturalmente

construído e interpretado se revela permeada por crenças/costumes que se constituem no

eixo organizador das práticas, atitudes e comportamentos dos trabalhadores entrevistados

com relação aos agrotóxicos.

Page 114: Exposição a agrotóxicos na atividade

114

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

A falta de uma política efetiva de fiscalização no acompanhamento técnico e no

controle de agrotóxicos nessa comunidade revela que o parâmetro de interesse dos tomadores

de decisão é apenas o da produção. A saúde está longe de uma atenção adequada, sendo

necessário a priorização de ações que visem promover, controlar e recuperar essa população

garantindo seus direitos a saúde e condições de vida com qualidade.

É necessário a inserção de ações de acompanhamento e orientações técnicas aos

trabalhadores rurais através de profissionais qualificados, subsidiando a rotina de trabalho no

campo e adoção de práticas seguras nas atividades profissionais;

A implantação de ações de vigilância a saúde do trabalhador torna-se necessária e

requer a integração de diferentes áreas da saúde, da agricultura, do meio ambiente, infra

estrutura, governo e principalmente da sociedade civil para que medidas eficazes sejam

realizadas buscando mudar o cenário que hoje se apresenta.

Como recomendação sugere-se que seja dada especial atenção ao problema da

subnotificação de casos de intoxicação em trabalhadores expostos a agrotóxicos, com a efetiva

utilização por parte dos profissionais de saúde que atendem população rural de instrumentos de

notificação, conforme especificado pelo Manual de Vigilância da Saúde de Populações Expostas a

Agrotóxicos (ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SAÚDE, 1996).

A implantação de programas que inclua a alfabetização dos trabalhadores, a sua formação

para o trabalho com agrotóxicos, a assistência técnica, o financiamento das medidas e

equipamentos de proteção, a estrutura necessária para o monitoramento, a vigilância e assistência

pelos órgãos públicos, as formas de participação dos atores sociais no processo de tomada de

decisões, são essenciais para que ocorram mudanças no panorama que hoje se observa.

Page 115: Exposição a agrotóxicos na atividade

115

REFERÊNCIAS

ABROMOVAC, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. 2. ed. São Paulo: HUCITEC, 1998. AUGUSTO, L. G. S. et al. Exposição ocupacional aos agrotóxicos e riscos sócio-ambientais: subsídios para ações integradas no estado de Pernambuco. In: AUGUSTO L. A., FLORENCIO L. CARNEIRO R. M. Pesquisa (ação) em saúde ambiental: contexto-complexidade-compromisso social. Recife: Ed.Universitária, 2001. p.41-45. ALMEIDA, J. A construção social de uma nova agricultura: tecnologia agrícola e movimentos sociais no sul do Brasil. Porto Alegre: UFRGS, 1999. ARAÚJO, A. C. P.; NOGUEIRA, D. P.; AUGUSTO, L. G. S. Impacto dos praguicidas na saúde: estudo da cultura de tomate. Revista de saúde pública, São Paulo, v. 34, n. 3, p. 309- 13, 2000. BRASIL. Lei nº 7802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências. Brasília, DF, 1989. Disponível em: <http://www.agrisustentavel.com/doc/lei7802.htm>. Acesso em: 20 jan. 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental. Informe unificado das informações sobre agrotóxicos existentes no SUS. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=23400>. Acesso em: 16 jan. 2009. ______. Protocolo de Atenção à Saúde dos Trabalhadores Expostos a agrotóxicos. Brasília, DF, 2006. Disponível em: <portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/integra_agrotoxicos.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2009. BRITO, P. F. Uso de agrotóxicos em uma comunidade agrícola do Município do Rio de Janeiro. 2006. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. BRITO, P. F.; MELLO, M. G. S.; CÂMARA, V. M. Trabalho e exposição aos agrotóxicos em uma pequena comunidade agrícola no Município do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p.531-548, 2006.

Page 116: Exposição a agrotóxicos na atividade

116

CASTRO, J. S. M. Práticas de uso de agrotóxicos no município de Cachoeiras de Macacu, RJ: um estudo de saúde ambiental. 1999. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Geociências, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1999. CRISSMAN, C. C.; COLE, C. D.; CARPIO, F. Pesticide use and farm worker helatch in Equadorian Potato Producion. Americam Agricultural economics association, Revista Panamericana Salud Publica. Washington, DC, v.8, n.3, p. 593-597, 2000. DALDIN, C. A. M.; SANTIAGO, T. Equipamentos de Proteção Individual na Segurança do Trabalhador Rural. In: ZAMBOLIM, L.; CONCEIÇÃO, M. Z.; SANTIAGO, T. (Coord.) O que os engenheiros agrônomos devem saber para orientar o uso de produtos fitossanitários. Viçosa: Suprema Gráfica e Editora, 2003. DEJOURS, C. A loucura do trabalho. São Paulo: Cortez, 1992. DEJOURS, C. et al. 1994. A Psicodinâmica do Trabalho. São Paulo: Atlas. DELGADO, I. F.; PAUMGARTTEN, F. JR. Intoxicações e uso de pesticidas por agricultores do Município de Paty do Alferes. Caderno de saúde publica, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p 180-186, 2004. DIAS, E. C. et al,. Saúde ambiental e saúde do trabalhador na atenção primária à saúde, no SUS: oportunidades e desafios. Ciência saúde coletiva, Rio de Janeiro. v.14, n.6, p. 2061-2070, 2009 EHLERS, E. Agricultura sustentável: Origens e perspectivas de um novo paradigma. 2. ed. Guaíba: Agropecuária, 1999. FOOD AGRICULTURAL ORGANIZATION (USA). Agricultural Database. 2004. Disponível em: <http:/www.fao.org>. Acesso em: 25 jan. 2010. FALK , J. W, et al. Suicídio e doença mental em Venâncio Aires: conseqüências do uso de agrotóxicos organofosforados? [relatório de pesquisa]. Porto Alegre: UFRJGS, 1996. Disponível em:<http://www.galileu.globo.com/ edic/133/agro2.doc. Acesso em: 23 jan. 2010 FARIA, N. M. X.; FASSA, A. G.; FACCHINI, L. A. Intoxicação por agrotóxicos no Brasil: os sistemas oficiais de informação e desafios para realização de estudos epidemiológicos. Ciência & saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 25-38, 2007.

Page 117: Exposição a agrotóxicos na atividade

117

FARIA, X. et al. Processo de produção rural e saúde na serra gaúcha: um estudo descritivo. Cadernos de saúde pública, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 115-128, jan./mar. 2000. FARIA, N. M. X. et al. Processo de produção rural e saúde na serra gaúcha: um estudo descritivo. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, p. 115-128, 2000. FARIA, N. M. X; et al. Estudo transversal sobre saúde mental de agricultores da Serra Gaúcha. Cadernos de saúde pública, Rio de Janeiro, v. 33, n. 4, p. 391-400, 1999. FONSECA, M. G. U. et al. Percepção de risco: maneiras de pensar e agir no manejo de agrotóxicos. Ciência & saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 39-50, 2007. GARCÍA, R. O conhecimento em construção: das formulações de Jean Piaget à teoria de sistemas complexos. Porto Alegre: Artmed, 2002. GARCIA, E. G. Segurança e saúde no trabalho rural: a questão dos agrotóxicos. São Paulo: Fundacentro, 2001. GARCIA, E. G. Aspectos de prevenção e controle de acidentes no trabalho com agrotóxicos. São Paulo: Fundacentro, 2005. GOMEZ, C. M.; COSTA, S. M. F. T. A construção do campo da saúde do trabalhador: percurso e dilemas. Cadernos de Saúde pública, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 21-32, 1997. GOMEZ, C. M.; COSTA, S. M. F. T. Incorporação das ciências sociais na produção de conhecimentos sobre trabalho e saúde. Rio de Janeiro. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1. p. 125-136, 2003. GOMIDE, M. Agrotóxico: que nome dar? Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 1047-1054, 2005. GOMIDE, M. et al., Trabalho e Exposição Aos Agrotóxicos Em Uma Pequena Comunidade Agrícola no Município do Rio de Janeiro. Cadernos de saúde publica. Rio de Janeiro, v. 14, n.3, p. 531-548, 2006. GRISÓLIA, K. C. Estudos da mutagênicidade dos agrotóxicos. In: GRISOLIA, K. C. (Org.). Agrotóxicos: mutações, reprodução e câncer. Brasília, DF: Ed. UnB, 2005. cap. 1.

Page 118: Exposição a agrotóxicos na atividade

118

GOMEZ, C. M.; FREITAS, C. M. Análise de riscos tecnológicos na perspectiva das ciências sociais. Cadernos de Saúde publica, Rio de janeiro, v. 3, n. 3, p. 485-504, 1997. GUIVANT, J. S. Percepção dos olericultores da Grande Florianópolis (SC) sobre os riscos decorrentes do uso de agrotóxicos. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 82, n. 22, p. 47–57, 1994. GURGEL, I. G. D. Repercussão dos agrotóxicos na saúde dos agentes de saúde pública em Pernambuco.1998. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 1998. ______. A pesquisa científica na condução de políticas de controle de doenças transmitidas por vetores. 2007. Tese (Doutorado em Saúde Pública). Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Osvaldo Cruz, Recife, 2007. IBGE. Censo Agropecuário 1995-1996, Rio de Janeiro: Ed. IBGE, 1998. ______. Contagem da População 2007. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 12 jan. 2010 KVALE, S. Interviews: an introduction to qualitative research interviewing. London: Sage Publications, 1996. LACAZ, F. A. C. Saúde do trabalhador: um estudo sobre as formações discursivas da academia, dos serviços e do movimento sindical. 1996. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996. LACAZ, F. A. C. O campo saúde do trabalhador: resgatando conhecimentos e práticas sobreas relações trabalho-saúde. Cadernos de saúde pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 4, p. 757-766, 2007. LACAZ, F. A. C. Saúde dos trabalhadores: cenários e desafios. Cadernos de saúde pública, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 7-19, 1997. LAMAMOTO, A. T. V. Agroecologia e desenvolvimento rural. 2005. Dissertação (Mestrado em recursos Florestais) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, 2005.

Page 119: Exposição a agrotóxicos na atividade

119

LAURELL, A. C.; NORIEGA, M. Processo de Produção e Saúde: Trabalho e Desgaste Operário. São Paulo: Hucitec, 1989 LEVIGARD, Y. E.; ROZEMBERG, B. A interpretação dos profissionais de saúde acerca das queixas de “nervos”no meio rural: uma aproximação ao problema das intoxicações por agrotóxicos. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeira, v. 20, n. 6, p. 1.515-1.524, 2004. LEAVELL, H.; CLARK, E. G. Medicina preventiva. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil,1976. LEVIGARD, Y. E. A interpretação dos profissionais de saúde acerca das queixas do nervoso no meio rural: uma aproximação ao problema das intoxicações por agrotóxicos. Dissertação (Mestrado em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana), Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2001. MACÁRIO, E. M. Complexidade e riscos no uso de agrotóxicos na agricultura: novas perguntas para velhas questões. 2001. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Recife, 2001. MACHADO, J. M. H.; MINAYO-GOMEZ, C. Acidentes de Trabalho: Concepções e Dados. In: MINAYO, M. C. S. Os muitos Brasis: saúde e populaçäo na década de 80. Säo Paulo: HUCITEC, 1995. p.117-142. MACHADO, J. M. H. Processo de vigilância em saúde do trabalhador. Cadernos de saúde pública, Rio de janeiro, v.13, n. 2, p.33-45, 1997. MENDES, R. O impacto dos efeitos da ocupação sobre a saúde de trabalhadores. Revista de saúde pública, São Paulo, v. 22, n. 4, p.311-326, 1988. MENDES, R.; DIAS, E. C. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.25, n. 5, p.341-349, 1991. MEYER, T. N.; RESENDE, I. L. C; ABREU, J. C. Incidência de suicídios e uso de agrotóxicos por trabalhadores rurais em Luz (MG), Brasil. Revista brasileira de saúde ocupacional, São Paulo, v. 32.n, 116, p. 24-31, 2007. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 2 ed. São Paulo: HUCITEC, 1992.

Page 120: Exposição a agrotóxicos na atividade

120

MINAYO GOMEZ, C.; LACAZ, F. A. C. Saúde do trabalhador: novas e velhas questões. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p 797-807, 2005. MINAYO, G. C; THEDIM, C, S. M. F. A construção do campo da saúde do trabalhador: percurso e dilemas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.13, n. 2, p. 21-32, 1997 MOREIRA, J. C. et al. Avaliação integrada do impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana em uma comunidade agrícola de Nova Friburgo, RJ. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 299-311, 2002 NORIEGA, M. Organización Laboral, Exigencias y Enfermidad. In LAURELl, A. C. (org.) Para la Investigación de la Salud de los Trabajadores. Washington, DC: OPS, 1993. PERES, F.; MOREIRA, J. C; DUBOIS, G. S. Agrotóxicos, saúde e ambiente: uma introdução ao tema.In.: PERRES, F.;MOREIRA,J.C. (Orgs.). È veneno ou remédio? Agrotóxicos, saúde e ambiente, Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2003. PERES, F. et al. Percepção das condições de trabalho em uma tradicional comunidade agrícola em Boa Esperança, Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Brasil. Caderno de saúde pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 4, p. 1.059-1.068, 2004. PERES, F. Desafios ao estudo da contaminação humana e ambiental por agrotóxicos. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, p. 27-37, 2005. PERES, F.; MOREIRA, J. C.; DUBOIS, G. S. Agrotóxicos, saúde e ambiente: uma introdução ao tema In: PERES, F.; MOREIRA J. C. (Org.). É veneno ou é remédio. Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ, 2003. PERES, F.; MOREIRA, J. C.; LUZ, C. Os impactos dos agrotóxicos sobre a saúde e o ambiente. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 4, 2007. PERES, F.; ROZEMBERG, B.; LUCCA, S. R. Percepção de riscos no trabalho rural em uma região agrícola do estado do Rio de janeiro, Brasil: agrotóxicos, saúde e ambiente. Caderno de saúde pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 6, p. 1836-1844, 2005. PEREZ, A. S. M.; NAVARRETE, M. L. V. Tema 3: Técnicas cualitativas aplicadas en salud. In: NAVARRETE. M. L. V. et al. Introducion a las técnicas cualitativas de investigacion aplicadas en salud. Barcelona: Universitat Autônoma de Barcelona,2006. p. 53-81.

Page 121: Exposição a agrotóxicos na atividade

121

PEREZ, A. S. M.; NAVARRETE, M. L. V. Tema 5: Analisis de los datos cualitativos, NAVARRETE, M. L. V. et al. Introducion a las técnicas cualitativas de investigacion aplicadas en salud. Barcelona: Universitat Autônoma de Barcelona.2006. p. 97-110. PERNAMBUCO. Decreto nº 31.246, de 28 de dezembro de 2007. Regulamenta a Lei Nº 12.753, de 21 de janeiro de 2005, que dispõe, no âmbito do Estado de Pernambuco, sobre o comércio, o transporte, o armazenamento, o uso e aplicação, o destino final dos resíduos e embalagens vazias, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como o monitoramento de seus resíduos em produtos vegetais, e dá outras providências. Recife, 2008. Disponível em:< http://www.cprh.pe.gov.br/downloads/dec-31246.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2010. PERNAMBUCO. Lei Nº 12.753, de 21 de janeiro de 2005. Dispõe sobre o comércio, o transporte, o armazenamento, o uso e aplicação, o destino final dos resíduos e embalagens vazias, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como o monitoramento de seus resíduos em produtos vegetais, e dá outras providências. Disponível em:< www.cprh.pe.gov.br/inhaltnav.asp?>, acesso em: 28 jun. 2010. PIMENTA, A. L.; CAPISTRANO FILHO, D. Saúde do Trabalhador. São Paulo: Hucitec, 1988. PIRES D. X.; CALDAS, E. D.;, RECENA, M. C. P. Intoxicações provocadas por agrotóxicos de uso agrícola na microrregião de Dourados, Mato Grosso do Sul, no Brasil, no período de 1992 a 2002. Caderno de saúde coletiva, Rio de janeiro, v. 21, p.804-814, 2005. PIRES D. X.;CALDAS, E. D.; RECENA, M.C.P. Uso de agrotóxicos e suicídio em Mato Grosso do Sul. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p.598-605, ,2005. PORTO, M. F. Saúde do trabalhador e o desafio ambiental: contribuições do enfoque ecossocial, da ecologia política e do movimento pela justiça ambiental. Ciência & Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 829-839, 2005.

POSSAS, C. A. Avaliação da Situação Atual do Sistema de Informação sobre Doenças e Acidentes do Trabalho no Âmbito da Previdência Social Brasileira e Propostas para sua Reformulação. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. São Paulo, v. 15. n. 60, p.43-65, 1987.

SALGUEIRO. Secretaria Municipal de Educação. Agenda do professor. Salgueiro, 2007.

Page 122: Exposição a agrotóxicos na atividade

122

SALGUEIRO. Lei nº 1733 de 31 de setembro de 2009. Aprova a delimitação territorial do Distrito de Pau Ferro. ; Salgueiro: Prefeitura Municipal de Salgueiro, 2009.

SILVA, J. J. O.; ALVES, S. R.; ROSA, H. V. D. Avaliação da exposição humana a agrotóxicos. In: PERES, F.; MOREIRA J. C. (Org.). É veneno ou é remédio?. 2º. ed. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2003. cap. 6, p. 121-136. SILVA, J. M. et al. Agrotóxico e trabalho: uma combinação perigosa para a saúde do trabalhador rural. Ciência & saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 10, n. 4, p. 891-903, 2005 SILVA, R. F. Avaliação do Uso de Agrotóxicos Na Cultura da Cenoura no Município de Brejo da Madre de Deus: Subsídios para a Gestão Ambiental, 2000. Dissertação (Mestrado de Gestão e Política Ambientais) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2000. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TÓXICO-FARMACOLÓGICAS Casos de Intoxicação por Agrotóxico de Uso Agrícola por Unidade Federada (Brasil), Segundo Circunstância Registrado em 2007. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/sinitox/2003/tab11_brasil2003.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2010. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES TÓXICO-FARMACOLÓGICAS. Estatística Anual de Casos de Intoxicação e Envenenamento (Brasil), segundo registros em 2007. Disponível em:< Acesso em: 10 fev. 2010. SLOVIC P. The Perception of Risk. London: Earthscan Publications, 2000. SOARES, W.; ALMEIDA, R. M. V.R; MORO, S. Trabalho rural e fatores de risco associado ao regime de uso de agrotóxicos em Minas Gerais, Brasil. Caderno de Saúde Publica, Rio de Janeiro, v.19, n.4, p. 1117-1127, 2003 SOARES, L.; PORTO, M. F. Atividade agrícola e externalidade ambiental: uma análise a partir do uso de agrotóxicos no cerrado brasileiro. Ciência & saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 131-143, 2007. SOARES, W. L.; FREITAS, E. A. V.; COUTINHO, J. A. G. Trabalho rural e saúde: intoxicações por agrotóxicos no município de Teresópolis – RJ. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, DF, v. 43, n. 4, p. 685-701, 2005. SOBREIRA, A. E, G. Agrotóxicos: o fatalismo químico em questão: estudo de caso de Boqueirão e Lagoa Seca/PB. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2003.

Page 123: Exposição a agrotóxicos na atividade

123

TAMBELLINI, A. T. Política nacional de saúde do trabalhador: análises e perspectivas. In: CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE DO TRABALHADOR, 1, 1986, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: Abrasco, 1986. TAMBELLINI, A. M. T.; CAMARA,V.A. A temática de saúde e ambiente no processo de desenvolvimento do campo da saúde coletiva: aspectos conceituais e metodológico. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de janeiro, v. 3, n. 2, p. 47-59, 1998. TEIXEIRA, C. F.; PAIM, J. S; VILASBOAS, A. L. SUS, modelos assistenciais e vigilância da saúde. Informe Epidemiológico do SUS, Brasília, v. 7, p. 8-28, 1998. TRAPÉ, A. Z. Doenças relacionadas a agrotóxicos: um problema de saúde pública. 1995. Tese (Doutorado em Saúde Coletiva) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 1995. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Manual de vigilância da saúde de populações expostas a agrotóxicos. Brasília, DF: OMS, 1996. VEIGA, J. E. A Agricultura no mundo moderno: diagnóstico e perspectivas. In: TRIGUEIRO, A. (Coord.) Meio Ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento. Rio de Janeiro: Sextante, 2003. p.198 – 213. VEIGA, J. E.; ABRAMOVAY, R.; EHLERS, E. História do Sistema Agrícola Brasileiro In: RIBEIRO, W. (Org.). Patrimônio Ambiental Brasileiro. São Paulo: Ed: Universidade de São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2003. VEIGA, M. M. et al. A contaminação por agrotóxicos e os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 32, n.116, p.57-68, 2007.

Page 124: Exposição a agrotóxicos na atividade

124

APÊNDICES

Page 125: Exposição a agrotóxicos na atividade

125

APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO APLICADO ENTRE OS TRABALHADORES RURAIS

QUESTIONÁRIO APLICADO ENTRE OS TRABALHADORES RURAIS

LEVANTAMENTO DAS CONDIÇÕES SÓCIO ECONÔMICAS, SAÚDE E ATIVIDADE AGRÍCOLA DOS TRABALHADORES RURAIS DO DISTRITO DE PAU

FERRO, SALGUEIRO-PE

DADOS PESSOAIS 1 Nome:________________________________________________________ 2 Apelido:_______________________________________________________ 3 Idade:_____________ 4 Endereço:_____________________________________________________ 5 Ponto de Referência:____________________________________________

6 Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

7 Estado Civil ( ) Solteiro ( ) Casado ou que tem companheiro(a) ( ) Viúvo ( ) Divorciado ou separado ( ) Outros, ___________________ 8 Tem filhos? ( ) Sim, quantos?____________ ( ) Não 9 Qual a sua escolaridade? ( Quantos anos freqüentou a escola?) ( ) Não sabe ler ( ) Escreve o nome ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Segundo grau incompleto ( ) Segundo grau completo ( ) Terceiro grau incompleto ( ) Terceiro grau completo 10 Qual a última série que completou? ___________________________________________________________________________

CONDIÇÕES GERAIS DE VIDA 11 A casa em que vocês moram é própria? ( ) Sim ( ) Não 12 Qual a forma de abastecimento de água de sua casa? ( ) Sistema de abastecimento público ( ) Chafariz

Page 126: Exposição a agrotóxicos na atividade

126

( ) Riacho, rio ou açude ( ) Cisterna ( ) Poço artesiano ( ) Caminhão pipa ( ) Outros,Especificar: ________________________________________________________ 13 Á água que é utilizada para beber para consumo (beber, cozinhar, tomar banho) é tratada? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe informar 14 Caso a água não seja tratada, você faz algum tratamento no domicílio? ( ) Sim. Especificar ____________________________________________ ( ) Não 15 Sua casa tem luz elétrica? ( ) Sim ( ) Não 16 Na sua casa o esgoto vai para onde? ( ) Rede coletora de esgotos ( ) Fossa séptica ( ) Fossa seca ( ) Corre a céu aberto ( ) Outra. Especificar: ________________________________________________________ 17 Sua casa tem banheiro? ( ) Sim ( ) Não 18 Existe coleta, destinação e tratamento de lixo dado pelo município? ( ) Sim ( ) Não, qual o destino do lixo produzido? ___________________________________________________________________________ 19 Quantas pessoas moram na sua casa? ___________________________________________________________________________ 20 Quantas pessoas da sua casa trabalham? ___________________________________________________________________________ 21 Qual a renda total que sua família ganha por mês? ___________________________________________________________________________ 22 Exerce outra atividade além do trabalho agrícola? ( ) Sim, Qual?________________________________ ( ) Não 23 Qual o destino dos produtos produzidos (cultivadas)? ( ) venda ( ) Consumo ( ) Outros. Especificar: _______________________________________________________ 25 Quando não está trabalhando qual a forma de lazer ou distração? ___________________________________________________________________________

Page 127: Exposição a agrotóxicos na atividade

127

PROCESSO DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA 26 A propriedade em que você trabalha é própria? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe 27 Qual o tipo de contrato de trabalho? ( ) Assalariado/carteira assinada ( ) Meeiro ( ) Diarista ( ) Por produção ( ) Outro. Especificar: ________________________________________________________ 8 Paga previdência? ( ) Sim ( ) Não ( ) não sabe 29 Desde quando você está filiado a Associação dos Trabalhadores Rurais de Pau Ferro?_____________________________________________________________________ 30 Há quanto tempo você trabalha na agricultura?________________________________ 31 Quantas horas você trabalha por dia? ( ) de 01 a 03 horas/dia ( ) de 04 a 05 horas/dia ( ) de 06 a 08 horas/dia ( ) mais 08 horas/dia 32 Quantos dias você trabalha por semana? ( ) 01 dia/semana ( ) de 02 a 03 dias/semana ( ) de 04 a 05 dias/semana ( ) todos os dias da semana 33 Você tem descanso semanal? ( ) Sim. Quanto tempo?______________________ ( ) Não 34 Qual a sua função atual? Se preciso marcar mais de uma opção? ( ) Construção de sulcos (canteiros) ( ) Diluição de venenos ( ) Adubação ( ) Capina ( ) Irrigação ( ) Transporte de produtos ( ) Preparação de solo ( ) Aplicação de veneno ( ) Tratamento de sementes ( ) Colheita ( ) Armazenamento ( ) Outros. Especificar: ______________________________________________________

Page 128: Exposição a agrotóxicos na atividade

128

35 Outras pessoas da sua casa trabalham na atividade agrícola? ( ) Sim, quem?_____________________________________________________________ ( ) Não 36 A propriedade que você trabalha cultiva (planta) o que?(Descrever todos os produtos que são plantados na propriedade? (Marcar mais de uma opção se necessário) ( ) Cebola ( ) Tomate ( ) Maracujá ( ) Alface ( ) Outros: Especificar: _______________________________________________________ 37 Qual o principal produto cultivado (plantado) na propriedade? ( ) Cebola ( ) Tomate ( ) Maracujá ( ) Alface ( ) Outros: Especificar: _______________________________________________________ 38 Qual o tamanho da propriedade? ___________________________________________________________________________ 39 Qual o período de plantio, período de colheita e quantidade média produzida no último ano para as diferentes plantações? Tipos de cultivo (Plantação)

Período de Plantio Período de colheita

Quantidade média produzida no último ano

40 Como você faz para vender seu produto? ( ) Procura o comercio local ( ) Vende nas cidades vizinhas ( ) Parceria com a associação de trabalhadores rurais ( ) Já tem comprador fixo para a produção ( ) Outros: Especificar:________________________________________________________ 41 Onde os produtos ficam armazenados depois de colhidos até que sejam vendidos? ( ) Armazém de sua propriedade ( ) Armazém de terceiros ( ) Em casa ( ) No campo ( ) Na associação ( ) Outros: Especificar:________________________________________________________

Page 129: Exposição a agrotóxicos na atividade

129

42 Como é feito o processo de agoar (molhar) as plantações? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 43 Faz uso de algum equipamento agrícola? ( )Sim. Especificar:__________________________________________________________ ( ) Não 44 Você utiliza produtos químicos na agricultura? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe Se sim. Quais produtos são utilizados e em que plantações? Plantações Produtos químicos Se não, porque não utiliza e qual outra alternativa que utiliza? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 45 Onde são comprados os produtos químicos? ( ) Comercio local ( ) Loja de produtos agrícolas ( ) Atravessador ( ) Vendedor de agrotóxicos ( ) Recebe direto do patrão ( ) Cooperativa ( ) Outros: Especificar:________________________________________________________ 46 Quando você compra o produto químico (agrotóxicos) é pedido o receituário agronômico? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe 47 Quando você compra o produto químico (agrotóxico) as embalagens vêm lacrada e contendo instruções de uso? ( ) Sim ( ) Não. Como vem a embalagem?______________________________________ ( ) Não sabe 48 Você já recebeu alguma orientação de como utilizar o agrotóxico? ( ) Sim.De Quem? ___________________________________________________________ Que tipo de orientação?________________________________________________________ ( ) Não

Page 130: Exposição a agrotóxicos na atividade

130

49 Antes de utilizar o produto, você ler o rótulo do produto químico ou pede para alguém ler? ( ) Sim ( ) Não 50 Você já notou que no rótulo dos agrotóxicos vem cores diferenciando os produtos? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe 51 Você sabe o significado das cores e símbolos presentes no rótulo dos agrotóxicos? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe 52 Como você prepara os produtos para aplicar? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Onde prepara? _____________________________________________________________ 53 Descreva as quantidades de agrotóxicos que você usa: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 54 No momento da preparação do produto você usa alguma proteção? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe Se sim, porque você usa?______________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 55 Alguém já lhe orientou sobre como se proteger do agrotóxico? ( ) Sim. Quem? _____________________________________________________________ ( ) Não 56 Você acredita que utilizar proteção durante a manipulação vai lhe proteger? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe 57 Qual a forma de aplicação de agrotóxico que você utiliza? ( ) Pulverização costal ( ) Com motor e mangueiras (capeta) ( ) Outro. Especificar: ________________________________________________________ 58 Com que freqüência você trabalha com agrotóxicos? ( ) Diariamente ( ) Semanalmente ( ) Alguns dias da semana. Quantos dias? _________________________________________ ( ) Outros. Especificar: _______________________________________________________

Page 131: Exposição a agrotóxicos na atividade

131

59 Normalmente qual o horário do dia que você aplica os agrotóxicos? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 60 Após a aplicação dos agrotóxicos o que você faz? ( ) Toma banho ( ) Lava as mãos ( ) Lava o rosto ( ) Troca de roupa ( ) Continua o serviço ( ) Outros. Especificar: ______________________________________________________ 60.1 Onde você se lava ou toma banho? ( ) No Riacho ( ) Balde ( ) Banheiro ( ) Outros: Especificar: _______________________________________________________ 61 Após a última aplicação de agrotóxico, quanto tempo se espera para colher a produção? ___________________________________________________________________________ 62 No momento da aplicação do agrotóxico você usa alguma proteção? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe Se sim, o que você usa? ( ) Luvas ( ) Botas ( ) Máscara ( ) Capa ( ) Máscara com filtro de carvão ( ) Chapéu (destinado apenas a aplicação) ( ) Peneira ( ) Outros: Especificar: _______________________________________________________ Se não, porque não usa? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 63 Se usa máscara com filtro de carvão, troca o filtro? ( ) Sim.Com que freqüência? __________________________________________________ ( ) Não ( ) Não sabe 64 Onde realiza a lavagem das bombas de aplicação dos agrotóxicos? ( ) No campo ( ) No rio, riacho, açude

Page 132: Exposição a agrotóxicos na atividade

132

( ) Em casa ( ) Outros. Especificar: _______________________________________________________ 65 Onde realiza a lavagem dos equipamentos usados para proteção individual- EPI? ( ) No campo ( ) No rio, riacho, açude ( ) Em casa ( ) Outros. Especificar: _______________________________________________________ 66 Quem lava suas roupas usadas durante a aplicação dos agrotóxicos? ( ) Você ( ) Sua mãe ( ) Sua esposa ( ) Filhas ( ) Outros: Especificar: _______________________________________________________ 66.1 Onde são lavadas? ( ) No tanque ( ) No rio, riacho, açude ( ) No campo ( lavoura) ( ) Outros. Especificar: _______________________________________________________ 67 Onde são guardados os agrotóxicos? ( ) Dentro de casa ( ) Fora de casa (quintal, muro) ( ) Galpão ( ) No campo ( ) Outros. Especificar: _______________________________________________________ 67.1 Outras pessoas têm acesso fácil ao local onde ficam armazenados os agrotóxicos? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe 68 Passa algum rio ou riacho perto da propriedade onde trabalha? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe 68.1 Se sim. Fazem uso da água desse rio ou riacho em alguma atividade em casa? ( ) Sim. Quais? _____________________________________________________________ ( ) Não ( ) Não sabe 69 Tem criação de animais na propriedade onde trabalha? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe 69.1 Os animais circulam pelas plantações? ( ) Sim.Que animais? _________________________________________________________ ( ) Não ( ) Não sabe 69.2 Já notou morte de algum animal (peixe, pássaro, caprinos, suínos,outros animais) após a aplicação de agrotóxicos? ( ) Sim. Que animal? _________________________________________________________ ( ) Não ( ) Não sabe

Page 133: Exposição a agrotóxicos na atividade

133

70 No momento da aplicação outras pessoas ficam próximas ao local? ( ) Sim. Quem? _____________________________________________________________ ( ) Não ( ) Não sabe 71 Após acabar o produto químico o que você faz com as embalagens: ( ) Venda ( ) Jogado no campo ( ) Queima ( ) Reaproveitamento ( ) Enterra ( ) Devolve para o vendedor ( ) Recolhido pelo fabricante ( ) Outros. Especificar: _______________________________________________________ 71.1 No caso de reaproveitamento das embalagens, como utiliza? ( ) Guardar água ( ) Para dar água/alimentos ao animais ( ) Guardar alimentos ( ) Outros. Especificar: _______________________________________________________ 71.2 antes de reaproveitar as embalagens, realiza alguma lavagem? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe 71.3 Você faz a tríplice lavagem? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sabe Se sim, como você faz?________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 72 Durante a aplicação dos agrotóxicos você se alimenta ou bebe água? ( ) Sim ( ) Não 73 Você faz uso de algum tipo de cigarro ou fumo? ( ) Sim ( ) Não 73.1 Fuma durante aplicação dos agrotóxicos? ( ) Sim ( ) Não 74 Você bebe bebida alcoolica? ( ) Sim ( ) Não 74.1 Que tipo de bebida? ___________________________________________________________________________ 74.2 Qual a freqüência que você bebe? ( ) Diariamente ( ) Uma vez na semana ( ) Duas vezes na semana ( ) Três vezes por semana

Page 134: Exposição a agrotóxicos na atividade

134

74.3 Costuma beber durante o trabalho com agrotóxico? ( ) Sim ( ) Não 75 Como você classificaria os agrotóxicos? ( ) Como um remédio ( ) Como um veneno ( ) Outro. Especificar? ________________________________________________________ Explique: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

CONDIÇÕES DE SAÚDE DOS TRABALHADORES 76 Você tem algum problema de saúde? ( ) Sim. Qual(is): ____________________________________________________________ ( ) Não ( ) Não sabe 76.1 Faz acompanhamento médico: ( ) Sim. Onde?______________________________________________________________ ( ) Não 76.2 Toma remédio? ( ) Sim. Qual(is)?____________________________________________________________ ( ) Não 77 Você já sentiu algum problema quando aplicou agrotóxicos? ( ) Sim. Qual(is)?____________________________________________________________ ( ) Não ( ) Não sabe 77.1 Quanto tempo após a aplicação dos agrotóxicos? ( ) Imediatamente ( ) Minutos após ( ) Algumas horas após ( ) alguns dias após ( ) Outros. Especificar: _______________________________________________________ 77.2 Quantas vezes já apresentou problemas após ou durante a aplicação de agrotóxicos? ( ) 1 vez ( ) 2 vezes ( ) mais de duas vezes Já Precisou ser internado após o uso do agrotóxico? ( ) Sim. Quantas vezes?_______________________________________________________ ( ) Não

Page 135: Exposição a agrotóxicos na atividade

135

78 Aponte as principais queixas de saúde: 78.1 Dores de cabeça freqüente? ( ) Sim ( ) Não 78.2 Lesão na pele? ( ) Sim ( ) Não 78.3 Alteração de visão? ( ) Sim ( ) Não 78.4 Alteração na audição? ( ) Sim ( ) Não 78.5 Dormência (Formigamento) em alguma região do corpo freqüentemente? ( ) Sim ( ) Não 78.6 Falta de sensibilidade em alguma região do corpo? ( ) Sim ( ) Não 78.7 Percebe ter infecções com mais freqüência que outras pessoas próximas (na pele, garganta, aparelho respiratório, outras)? ( ) Sim ( ) Não 78.8 Apresenta alergias a produtos químicos? ( ) Sim ( ) Não 78.9 Tem apresentado edema (inchaço) nos pés, pernas, coxas, abdômen, mãos, outros? ( ) Sim ( ) Não 78.10 Apresentou ou ainda apresenta sangue na urina? ( ) Sim ( ) Não 78.11 Sente náuseas? ( ) Sim ( ) Não 78.12 Tem falta de apetite? ( ) Sim ( ) Não 78.13 Dorme mal? ( ) Sim ( ) Não 78.14 Tem tremores nas mãos? ( ) Sim ( ) Não 78.15 Sente-se nervoso, tenso ou preocupado? ( ) Sim ( ) Não 81.16 Tem tonturas? ( ) Sim ( ) Não

Page 136: Exposição a agrotóxicos na atividade

136

78.17 Você se cansa facilmente? ( ) Sim ( ) Não 78.18 Tem vontade de chorar com freqüência? ( ) Sim ( ) Não 79 Você procurou o serviço de saúde em virtude de ter se sentido mal durante ou após aplicar agrotóxico? ( ) Sim ( ) Não 80 Conhece alguém que já apresentou intoxicação durante ou após aplicar agrotóxicos? ( ) Sim ( ) Não 81 Conhece alguém que morreu durante ou após aplicar agrotóxicos? ( ) Sim ( ) Não 82 Quais são os principais problemas de saúde que você tem conhecimento que ocorre aqui na comunidade do Pau Ferro,? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 83 Você acha que esses problemas de saúde têm relação com a utilização de agrotóxicos? ( ) Sim ( ) Não Porque? __________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Observações: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Page 137: Exposição a agrotóxicos na atividade

137

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARE CIDO

APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do Projeto: Exposição a agrotóxico na atividade agrícola: um estudo de percepção dos

riscos a saúde dos trabalhadores rurais no Distrito de Pau Ferro – Salgueiro-PE

Instituição Proponente: NESC/CPqAM/FIOCRUZ

Pesquisador Responsável: Maria Auxiliadora de Sá Magalhães

O senhor (a) está sendo convidado (a) a participar dessa pesquisa que tem como

objetivo analisar como os trabalhadores rurais percebem os riscos e os danos à saúde

provocada pela exposição a agrotóxicos.

Esta pesquisa será realizada com trabalhadores rurais do Distrito de Pau Ferro-

Salgueiro –PE integrantes da Associação dos Trabalhadores Rurais do Pau Ferro e procurará

compreender como ocorre o processo de produção agrícola e quais as práticas e atitudes

desses trabalhadores em relação ao manejo de agrotóxicos, identificando os principais

problemas de saúde percebidos e sua relação com a exposição a agrotóxicos.

A sua participação se dará respondendo a um questionário com duração aproximada de

meia hora. Sua participação não é obrigatória, como também a recusa em participar não lhe

trará nenhum prejuízo. A qualquer momento da pesquisa o senhor (a) poderá desistir de

participar e retirar o seu consentimento.

Os benefícios com a participação na pesquisa são o de contribuir para o conhecimento

sobre a compreensão dos riscos e danos à saúde ocasionados pela exposição a agrotóxicos.

Essa atitude contribuirá para o desenvolvimento de ações em saúde. Os resultados dessa

pesquisa podem também servir para os demais trabalhadores rurais do país.

Os riscos relacionados com sua participação seriam constrangimento perante alguma

pergunta que lhe for feita ou no caso de sua identidade vir a publico. Entretanto, podemos

garantir que tal atitude não ocorrerá em hipótese alguma. As informações obtidas só poderão

ser publicadas em revistas, seminários, congressos ou outros eventos de interesse da saúde, no

entanto sua identidade/participação será mantida sempre sob sigilo.

FIOCRUZ

Ministério da SaúdeCentro de Pesquisas

AGGEU MAGALHÃES

Page 138: Exposição a agrotóxicos na atividade

138

Para qualquer esclarecimento sobre a pesquisa que o senhor (a) venha necessitar, deve

entrar em contato com Maria Auxiliadora de Sá Magalhães, pelo endereço: Rua Des. Silva

Barros 1138, Nossa Senhora Aparecida, Salgueiro-PE. Telefone: 87 38718346 ou pelo email:

[email protected].

_______________________________________________________________

Maria Auxiliadora de Sá Magalhães

Coordenadora da Pesquisa

Após esses esclarecimentos, concordo participar de forma voluntária da pesquisa,

assinando esse termo em duas vias. Uma via ficará comigo e a outra com a pesquisadora.

Nome do participante:

___________________________________________________________________________

Assinatura do participante:

___________________________________________________________________________

Endereço do Participante:

___________________________________________________________________________

Salgueiro, ________/________/2009

Page 139: Exposição a agrotóxicos na atividade

139

APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLAR ECIDO

APÊNDICE C

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do Projeto: Exposição a agrotóxico na atividade agrícola: um estudo de percepção dos

riscos a saúde dos trabalhadores rurais no Distrito de Pau Ferro – Salgueiro-PE

Instituição Proponente: NESC/CPqAM/FIOCRUZ

Pesquisador Responsável: Maria Auxiliadora de Sá Magalhães

O senhor (a) está sendo convidado (a) a participar dessa pesquisa que tem como

objetivo analisar como os trabalhadores rurais percebem os riscos e os danos à saúde

provocada pela exposição a agrotóxicos.

Esta pesquisa será realizada com trabalhadores rurais do Distrito de Pau Ferro-

Salgueiro –PE integrantes da Associação dos Trabalhadores Rurais do Pau Ferro e procurará

compreender como ocorre o processo de produção agrícola e quais as práticas e atitudes

desses trabalhadores em relação ao manejo de agrotóxicos, identificando os principais

problemas de saúde percebidos e sua relação com a exposição a agrotóxicos.

A sua participação se dará respondendo a uma entrevista com duração aproximada de

uma hora. Nas entrevistas serão feitas algumas perguntas e o senhor (a) poderá responder da

forma que achar melhor. Sua participação não é obrigatória, como também a recusa em

participar não lhe trará nenhum prejuízo. A qualquer momento da pesquisa o senhor (a)

poderá desistir de participar e retirar o seu consentimento. Caso o senhor (a) concorde, as

entrevistas serão gravadas.

Os benefícios com a participação na pesquisa são o de contribuir para o conhecimento

sobre a compreensão dos riscos e danos à saúde ocasionados pela exposição a agrotóxicos.

FIOCRUZ

Ministério da SaúdeCentro de Pesquisas

AGGEU MAGALHÃES

Page 140: Exposição a agrotóxicos na atividade

140

Essa atitude contribuirá para o desenvolvimento de ações em saúde. Os resultados dessa

pesquisa podem também servir para os demais trabalhadores rurais do país.

Os riscos relacionados com sua participação seriam constrangimento perante alguma

pergunta que lhe for feita ou no caso de sua identidade vir a publico. Entretanto, podemos

garantir que tal atitude não ocorrerá em hipótese alguma. As informações obtidas só poderão

ser publicadas em revistas, seminários, congressos ou outros eventos de interesse da saúde, no

entanto sua identidade/participação será mantida sempre sob sigilo.

Para qualquer esclarecimento sobre a pesquisa que o senhor (a) venha necessitar, deve

entrar em contato com Maria Auxiliadora de Sá Magalhães, pelo endereço: Rua Des. Silva

Barros 1138, Nossa Senhora Aparecida, Salgueiro-PE. Telefone: 87 38718346 ou pelo email:

[email protected].

_______________________________________________________________

Maria Auxiliadora de Sá Magalhães

Coordenadora da Pesquisa

Após esses esclarecimentos, concordo participar de forma voluntária da pesquisa,

assinando esse termo em duas vias. Uma via ficará comigo e a outra com a pesquisadora.

Nome do participante:

___________________________________________________________________________

Assinatura do participante:

___________________________________________________________________________

Endereço do Participante:

___________________________________________________________________________

Salgueiro, ________/________/2009

Page 141: Exposição a agrotóxicos na atividade

141

APÊNDICE D - ROTERIO PARA ENTREVISTAS SEMI ESTRUTUR ADAS

APÊNDICE D

ROTERIO PARA ENTREVISTAS SEMI ESTRUTURADAS

Título do Projeto: Exposição a agrotóxico na atividade agrícola: um estudo de percepção dos

riscos a saúde dos trabalhadores rurais no Distrito de Pau Ferro – Salgueiro-PE

Instituição Proponente: NESC/CPqAM/FIOCRUZ

Pesquisador Responsável: Maria Auxiliadora de Sá Magalhães

IDENTIFICAÇÃO 1 Nome:_____________________________________________________________ 2 Sexo:____________________ 3 Idade:_______________ 4 Local da entrevista___________________________________________________ 5 Hora de início:_____________ 6 Hora final: __________

TEMAS A SEREM ABORDADOS

1- O que leva o trabalhador a exercer essa atividade;

2- Sua rotina de atividades no campo;

3- Se recebe ajuda de outros membros da família;

4- O que representa o trabalho na agricultura;

5- Quando iniciou suas atividades no campo;

6- Com quem aprendeu a lidar com a terra;

7- Utilização de agrotóxicos;

8- Formas de preparação, aplicação e acondicionamento dos agrotóxicos;

9- Utilização de EPI;

10- Como escolhe o dia e hora de aplicar os agrotóxicos;

11- Importância dos agrotóxicos na atividade agrícola;

12- Definição para os agrotóxicos;

13- Percepção da relação entre exposição a agrotóxicos e riscos à saúde.

Page 142: Exposição a agrotóxicos na atividade

142

ANEXOS

Page 143: Exposição a agrotóxicos na atividade

143

ANEXO A – CARTA DE ANUÊNCIA VII REGIONAL DE SAÚDE

ANEXO A

CARTA DE ANUÊNCIA VII REGIONAL DE SAÚDE

Salgueiro, 04 de junho de 2009.

Declaro, para os devidos fins, que autorizo a pesquisa que será realizada no

projeto intitulado “EXPOSIÇÃO À AGROTÓXICOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA: UM

ESTUDO DE PERCEPÇÃO DE RISCOS Á SAÚDE DOS TRABALHADORES RURAIS

NO DISTRITO DE PAU FERRO – SALGUEIRO-PE” a ser executada no CURSO DE

MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA, pela aluna MARIA

AUXILIADORA DE SÁ MAGALHÃES.

Autorizo ainda a participação de técnicos da equipe da vigilância em Saúde da VII

GERES para apoiar a pesquisadora na realização de coleta de dados para a pesquisa.

Atenciosamente,

Maria do Carmo de Jesus Santos Diretora Regional

Page 144: Exposição a agrotóxicos na atividade

144

ANEXO B – CARTA DE ANUÊNCIA SECRETARIA DE SAÚDE DE SALGUEIRO

ANEXO B

CARTA DE ANUÊNCIA SMS SALGUEIRO - PE

Secretaria Municipal de Saúde do Salgueiro

Av. Aurora de Carvalho Rosa, 2240. – CEP: 56.000-000 Fone: 3871.7030. Fax: 3871.7030

Salgueiro, 04 de junho de 2009.

Declaro, para os devidos fins, que autorizo a realização da pesquisa constante

no projeto intitulado “EXPOSIÇÃO À AGROTÓXICOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA:

UM ESTUDO DE PERCEPÇÃO DE RISCOS Á SAÚDE DOS TRABALHADORES

RURAIS NO DISTRITO DE PAU FERRO – SALGUEIRO-PE” a ser executada no CURSO

DE MESTRADO PROFISSIONAL EM SAÚDE COLETIVA, pela aluna MARIA

AUXILIADORA DE SÁ MAGALHÃES.

Autorizo ainda a participação dos agentes comunitários de saúde, integrantes da

equipe de saúde da família do Distrito de Pau Ferro - Salgueiro/PE para apoiar a pesquisadora

na realização de coleta de dados para a pesquisa.

Atenciosamente,

Maria Gorete Coelho Secretária Municipal de Saúde