11

Click here to load reader

Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O papel da escola na formação de leitores críticos.

Citation preview

Page 1: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

1

O PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DE LEITORES CRÍTICOS1

Lucimeire Cavalcanti Dias2

Resumo

O presente artigo tem como objetivo enfocar a prática pedagógica do professor diante da formação de leitores críticos. Buscou-se então identificar os problemas encontrados na aprendizagem, identificar as dificuldades que o professor encontra para estimular o aluno a praticar o ato de ler, compreender como se dá o possesso de ensino-aprendizagem da leitura na escola e verificar se a falta de estímulo à leitura provoca no aluno a visão de que se deve

ler apenas por dever. A pesquisa é do tipo quanti/qualitativa, com abordagem exploratória,

descritiva. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi uma observação diária e uma

entrevista oral e escrita. Os sujeitos da pesquisa serão constituídos pelos docentes do Ensino

Fundamental I que lecionam o 4º ano (02 professores) e pelos discentes que compreendem o

ano em questão (60 alunos) na

Escola Estadual de Ensino Infantil e Fundamental Santa Maria Gorete. Os dados coletados apontam que existe uma deficiência por parte dos professores, pois, na maioria das vezes estes não utilizam um dos instrumentos imprescindíveis para uma formação geral e que possibilite cidadãos críticos, autônomos e atuantes, no caso o ato de ler. No âmbito escolar percebemos que os alunos cada vez mais se afastam e desinteressam pela leitura e é aí que se questiona a prática pedagógica, o ensino e o incentivo da leitura em sala de aula e as propostas de ação que podem levar as crianças a se tornarem "Leitores críticos". É preciso apostar que é possível ir muito além da alfabetização e que sujeitos leitores são capazes de olhar reflexivamente a realidade à sua volta, e capazes de fazer a opção de mudá-la de alguma forma.Palavras-chave: Aprendizagem. Metodologia. Leitores críticos.

Summary

This article aims to focus on the pedagogical practice of teacher's training of critical readers. Sought then to identify the problems encountered in learning, identify the difficulties that the teacher is to stimulate the student practicing the Act of reading, understand how the possessed the teaching of reading in the school and check whether the lack of stimulating reading causes the student to view that should be read only by duty. The search is of type quanti/qualitative, with the exploratory, descriptive approach. The instrument used for collecting data was a daily observation and an oral interview and writing. The subject of the survey will be formed by teachers in elementary school I teach 4th year (2 teachers) and by students who understand the year in question (60 students) in the State school education of children and Fundamental Santa Maria Gorete. The data collected suggest that there is a deficiency on the part of teachers, because often they do not use one of the indispensable instruments for general training and enabling citizens and vocal critics, freelance, in case the Act of reading. In school

1 Trabalho apresentado a Faculdade Integrada de Patos, como pré-requisito parcial de Conclusão do curso de Pós Graduação em Língua, Linguística e Literatura.2 Professora Graduada em Língua Portuguesa e Língua Inglesa pela URCA, Professora do Ensino Infantil e Fundamental I Fase pela Escola Normal em Nível Médio são José e Coordenadora Pedagógica do Projovem Adolescente.

Page 2: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

2

we realize that students increasingly alienated and losing by reading and questioned the pedagogical practice, teaching and encouragement of reading in the classroom and the proposals for action that can lead children to become "critical". You must bet that you can go far beyond literacy and that subject readers are able to look reflexively reality around them, and capable of making the option to change it somehow. Keywords: learning. Methodology. Critical readers.

Introdução

A alfabetização, a leitura e a produção textual têm sido alvo de grandes discussões por

parte dos estudiosos da Educação, já que há muitos anos se observam algumas dificuldades de

aprendizagem e altos índices de reprovação e evasão escolar. Dentre as questões mais

focalizadas, destaca-se o ensino da língua materna. A dificuldade, após anos de escola, de o

aluno escrever um texto coeso e coerente culminando na insegurança linguística demonstra o

fracasso das práticas linguísticas das aulas. Partindo deste princípio, julguei oportuno

desenvolver este tema.

A pesquisa é do tipo quanti/qualitativa, com abordagem exploratória, descritiva. O

instrumento utilizado para a coleta de dados foi uma observação diária e uma entrevista oral e

escrita.

O estudo foi realizado na Escola Estadual de Ensino Infantil e Fundamental Santa

Maria Gorete localizada a rua Inácio Lira, centro, São José de Piranhas-PB.

Os sujeitos da pesquisa serão constituídos pelos docentes do Ensino Fundamental I

que lecionam o 4º ano (02 professores) e pelos discentes que compreendem o ano em questão

( 60 alunos) na

Escola Estadual de Ensino Infantil e Fundamental Santa Maria Gorete.

A falta de estímulo à leitura, por parte dos educadores observados e entrevistados, na

E.E.E.I. F Santa Maria Gorete, na cidade de São José de Piranhas – PB colabora para que o

aluno conceitue a leitura apenas como objeto de ensino e não de aprendizado, partindo do

problema exposto, objetivo com este trabalho científico, provar que é preciso haver estímulo

por parte dos educadores para que seja desenvolvido o gosto pela leitura em seus alunos;

identificar as dificuldades que o professor encontra para estimular o aluno a praticar o ato de

Page 3: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

3

ler e verificar se a falta de estímulo à leitura provoca no aluno um retardamento em seu

aprendizado.

Sobre este prisma, torna-se oportuna a discussão sobre as formas de lidar com os

novos tempos e, portanto, emergir o discurso sobre a qualidade de ensino nas escolas,

atentando para a ascensão no nível de educação de toda população e detectando os fatores que

possam atender às novas exigências educativas que a própria vida cotidiana impõe de maneira

crescente no meio social.

Neste sentido, um dos instrumentos imprescindíveis para uma formação geral e que

possibilite cidadãos críticos, autônomos e atuantes, nesta sociedade em constante mutação,

seria a prática de leituras variadas que promovam, de maneira direta ou indireta, uma reflexão

sobre o contexto social em que estão inseridas, uma vez que o movimento dialético da leitura

deve inserir o leitor na história deste milênio e o constituir como agente produtor de seu

próprio futuro.

Formar um leitor crítico não é tarefa fácil, entretanto fica claro que se trata de algo

extremamente significativo para o aluno. Na verdade, o que almejo, é analisar a participação

da escola na formação de leitores críticos, já que acredito na hipótese de que é preciso haver

estímulo por parte dos educadores aos seus alunos para que seja efetivada a formação de

leitores críticos e que a leitura não deve ser encarada nem pelo professor nem pelo aluno

como uma obrigação, um dever, e sim como uma atividade prazerosa. Para tanto, o professor

deve demonstrar paixão pela mesma e apresentá-la como fundamental para a formação

intelectual dos educandos.

Assim, é essencial para o sucesso com o trabalho da leitura em sala de aula, a utilização

de um universo textual amplo e diversificado, fazendo-se necessário que o aluno entre em

contato com os vários tipos de textos que circulam socialmente, para adquirir autonomia e

escolher o tipo de texto que mais se encaixa com o seu gosto ou com as suas necessidades.

Por isso, é importante proporcionar aos alunos diversificadas situações nas quais a leitura

esteja em foco, pois se aprende a ler lendo e a interpretar o que leu interpretando. As

estratégias de leitura envolvem vários tipos de conhecimentos e várias habilidades do leitor ao

manusear o texto.

A leitura é uma atividade que está presente na escola em todas as atividades que

envolvem as disciplinas do currículo. Lê-se para ampliar os limites do próprio conhecimento.

Por isso, precisa se fazer presente na vida do estudante, não como algo paralelo do seu ensino-

Page 4: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

4

aprendizagem, mais como alguma coisa essencial para o desenvolvimento cognitivo e

principalmente dentro de um contexto real de leitura e análise de textos, para que o ato de ler

possa passar a fazer sentido para os alunos.

O texto se modifica a cada leitura que se realiza, porque o leitor coloca nele suas

experiências, seus conhecimentos, aspectos da sua cultura, sua visão de mundo e também a

sua opinião a respeito do tema exposto e à medida que lê o texto, vai ampliando os seus

horizontes a respeito do tema que nele está exposto. Por isso, trabalhar com a leitura na sala

de aula é necessário que se crie situações com as quais os alunos possam ler os textos, não só

uma, mas várias vezes, para perceber que seu conteúdo é uma fonte inesgotável de

informação e de criação de novos conceitos.

Aprender a ler e se tornar um leitor crítico que além de realizar leitura compreende o

texto, exige empenho, tanto por parte do aluno quanto por parte de quem propõe o trabalho

com a leitura, no caso a escola. É preciso que ambos entendam que não se lê só para aprender

a ler, mas sim para responder as suas necessidades pessoais.

O aprendizado inicial da leitura e suas concepções

É preciso superar algumas concepções sobre o aprendizado inicial da leitura. A

principal delas é a de que ler é simplesmente decodificar, converter letras em sons, sendo a

compreensão consequência natural dessa ação. Por conta desta concepção equivocada a escola

vem produzindo grande quantidade de “leitores” capazes de decodificar qualquer texto, mas

com enormes dificuldades para compreender o que tentem ler.

O conhecimento atualmente disponível a respeito do processo de leitura indica que

não se deve ensinar a ler por meio de práticas concentradas na decodificação. Ao contrário é

preciso oferecer aos alunos inúmeras oportunidades de aprenderem a ler usando os

procedimentos que os bons leitores utilizam. É preciso que antecipem, que façam inferências

a partir do contexto ou do conhecimento prévio que possuem, que verifiquem suas suposições.

É disso que se está falando quando se diz que é preciso “aprender a ler, lendo”.

A escola, espaço que convencionamos como sendo específico e privilegiado do saber,

no que concerne à leitura, precisa rever suas práticas, principalmente diante de leituras

impostas em salas de aulas onde faz imperar um dualismo: de um lado algumas escolas que,

Page 5: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

5

ao pretenderem uma rápida atualização com o presente, assimilam o novo sem a devida

reflexão utilizando inadequadamente instrumentos modernos de ensino e tornando seus

leitores passivos diante de imagens efêmeras. Em contraposição, outras escolas utilizam

textos fragmentados de manuais didáticos como único meio auxiliar para a leitura,

objetivando o trabalho de unidades curriculares como mera fixação e memorização de

conteúdos, quase sempre aleatórias à realidade dos alunos.

Neste sentido, esta ambiguidade da prática educativa tornam os alunos alheios a

realidade que os circundam, tornando-os vulneráveis a dominação de uma minoria que pensa

e se mantêm bem informados. Parte-se então do pressuposto que a prática da leitura significa

a possibilidade de domínio através de um instrumento de poder, chamado linguagem formal,

pois é desta forma que estão escritas as leis que regem nosso país, e assim perceber os direitos

que se tem, o direito das elites que, com um discurso ideológico em prol da liberdade e da

justiça, os mantêm na condição de detentores do Poder.

Práticas de leitura para as crianças têm um grande valor em si mesmas, não sendo

sempre necessárias atividades subsequentes, como o desenho dos personagens, a resposta de

perguntas sobre a leitura, dramatização das histórias etc. Tais atividades só devem se realizar

quando fizerem sentido e como parte de um projeto mais amplo. Caso contrário, pudesse

oferecer uma idéia distorcida do que é ler.

A criança que ainda não sabe ler convencionalmente pode fazê-lo por meio da escuta da

leitura do professor, ainda que não possa decifrar todas e cada uma das palavras. Ouvir um

texto já é uma forma de leitura.

É de grande importância o acesso, por meio da leitura pelo professor, a diversos tipos

de materiais escritos, uma vez que isso possibilita às crianças o contato com práticas culturais

mediadas pela escrita. Comunicar práticas de leitura permite colocar as crianças no papel de

“leitoras”, que podem relacionar a linguagem com os textos, os gêneros e os portadores sobre

os quais eles se apresentam: livros, bilhetes, revistas, cartas, jornais etc.

As poesias, parlendas, trava-línguas, os jogos de palavras, memorizados e repetidos,

possibilitam às crianças atentarem não só aos conteúdos, mas também à forma, aos aspectos

sonoros da linguagem, como ritmo e rimas, além das questões culturais e afetivas envolvidas.

Manter grande parte da população escolar perto do alcance desta linguagem formal, este

é o grande desafio, a fim de que, com uma visão crítica e reflexiva e através do discernimento,

não se permita a perpetuação de sua condição de dominados.

Neste sentido torna-se oportuno citar Foucambert :

Page 6: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

6

a leitura aparece também como um instrumento de conquista de poder por outros atores, antes de ser meio de lazer ou evasão. O acesso a leitura de novas camadas sociais implica que leitura e produção de texto se tornem ferramentas de pensamento de uma experiência social renovada; ela supõe a busca de novos pontos de vista sobre uma realidade mais ampla, que a escrita ajuda a conceber e a mudar, a invenção simultânea e recíproca de novas relações, novos escritos e novos leitores. Nesse sentido torna-se leitor pela transformação da situação que faz que não se o seja. (1994, p. 121)

Assim, a leitura como prática social faz a diferença para aqueles que dominam,

tornando-os distintos cultural e socialmente.

Faz-se necessário que as escolas revejam as condições restritas impostas ao ensino da

leitura. Entretanto mudar as condições de produção da leitura na escola não significa apenas

alterar os instrumentos de sua codificação e decodificação, vai muito mais além. Conforme

Paulo Freire:

o ato de ler não se esgota da decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra linguagem e realidade se prendem dinamicamente. (2003, p. 11)

Exige-se da escola, principalmente, o redimensionamento de todo o trabalho educativo

que engloba: ousadia, seleção de materiais variados, espaço para socialização, respeito a

opiniões divergentes, enfim novas propostas de trabalhos pedagógicos com leituras críticas e

variadas.

Reafirmamos que o exercício e prática da leitura transcendem ao uso de materiais como

meios auxiliares de ensino, empregados como modismos em sala de aula ou como atividade

ligada a lição e a intenção didática instrucional.

Além da leitura como informação e, consequentemente, como fonte de acesso ao

conhecimento e ao poder, o mais importante é a capacidade de se aliar isso ao prazer e

entretenimento, pois é de se deduzir, por essa linha de pensamento que, a contrário senso, o

prazer na prática da leitura levará automaticamente o leitor ao conhecimento.

Assim, a leitura singular dos livros didáticos deve ceder espaço aos livros de literatura

infantil, jornais, revistas, gibis, bulas de remédios, receitas caseiras, etc., que fazem parte dos

Page 7: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

7

objetos de uso cotidiano, articulado a uma leitura significativa e, portanto, compreensiva e

mais agradável como processo pedagógico.

Leitura é conhecimento, e o conhecimento é um processo de construção em que o

protagonista é o aluno, e respaldando tal assertiva é oportuno citar Paulo Freire:

Uma educação que procura desenvolver a tomada de consciências e a atitude crítica, graças à qual o homem escolhe e decide, liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo, como faz com muita frequência a educação em vigor num grande número de países do mundo, educação que tende a ajustar o indivíduo à sociedade em lugar de promovê-lo em sua própria linha .(1994, p. 37)

O professor-leitor e sua implicação na formação do aluno-leitor

Aprender a ler e se tornar um leitor crítico que além de realizar leitura compreende o

texto, exige empenho, tanto por parte do aluno quanto por parte de quem propõe o trabalho

com a leitura. É preciso que ambos entendam que não se lê só para aprender a ler, mas sim

para responder as suas necessidades pessoais. Faz-se necessário prosseguir com Solé (1998,

p.58-59), ao afirmar que “os alunos devem ver na leitura algo interessante e desafiador, uma

conquista capaz de dar autonomia e independência. E devem estar confiantes, condição esta

para enfrentar o desafio e aprender fazendo”. O estudante precisa sentir-se estimulado para

desenvolver uma prática constante de leitura, precisa deparar-se com situações com as quais

possa raciocinar, refletir e progredir cognitivamente precisa esforçar-se para se encaixar no

perfil do leitor crítico e para isso, dois pontos são de suma importância: o tipo de material

utilizado e a proposta pedagógica que se realiza dentro da instituição de ensino investigada.

Assim, as professoras entrevistadas afirmam que: “

Primeiramente, utilizo o livro didático

adotado pelo colégio, mas também livros, revistas, jornais, vídeo”. (professora 1, entrevista

em 10/04/2011). “Utilizo diversos materiais, desde o livro didático adotado como outras

fontes: jornal, revista, livros de literatura, telas, vídeos, rádio, entre outros”. (Professora 2,

entrevista em 10/04/2011).

Com relação ao segundo ponto a professora 1 e professora 2 deixaram claro

respectivamente que: “Conhecer novas palavras, como são escritas e também a informação

Page 8: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

8

que é de suma importância.” (entrevista em 10/04/2011). “Ajudar o educando a formar seu

senso crítico, como também compreender melhor o mundo onde está inserido, desenvolver a

capacidade de interpretação e produção de texto, ampliar o vocabulário”. (entrevista em

10/a4/2011).

Não se pode negligenciar que o livro didático exerce uma grande influência nas

escolhas do professor nas práticas de leitura, o que pode ser explicado pelo fato de muitas

vezes ser este o material de leitura mais acessível ao professor. Não se pretende aqui fazer a

condenação sumária do livro didático, apesar de vários estudos já terem apontados os

malefícios que os mesmos podem trazer ao processo de ensino-aprendizagem. Entendemos

que o grande perigo ocorre quando o professor se deixa dominar pelo livro didático,

abandonando o caráter polissêmico da atividade de leitura para legitimar a sua autoridade a

partir dos modelos prontos veiculados na material didático.

Os professores em questão parecem ter por consenso da necessidade do uso de textos

variados e relacionados a realidade do educando. Quando temos em mente que uma leitura

crítica, deve além de gerar conhecimentos, propor atitudes e analisar valores, de forma a

tornar mais aguçada a percepção do leitor diante da vida, devemos também ter claro que não

basta ficarmos restritos à realidade local do educando. Sem sombra de dúvidas, esse é o

primeiro passo para a produção de sentidos, porém a formação do leitor crítico pressupõe o

acesso ao conhecimento de forma globalizada que permita ao leitor reorganizar o seu contexto

imediato, mas também interagir com realidades mais amplas da sociedade organizada.

Em relação à questão de como poderia descrever, resumidamente, a maneira que se

desenvolve as atividades de leitura com seus alunos, o que se observou foi a confusão nas

etapas para o processamento da leitura por parte dos professores. De acordo com o

depoimento da professora 2 quando diz:

Deixo que cada aluno escolha o que quer ler, claro que dou as informações necessárias para cada aluno. Depois peço a eles que façam um resumo e apresente aos colegas de sala, dando a liberdade para perguntas sobre o livro. Esse trabalho é feito individualmente. (entrevista em 10/04/2011).

. Os professores não estão preocupados com o ambiente e com o prazer proporcionado

pela leitura ao aluno, como também desconhecem as etapas do processamento da leitura pelos

leitores e não levam em conta, segundo seus próprios depoimentos, o conhecimento prévio do

Page 9: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

9

aluno ou seu entendimento com relação ao texto lido. Ficando evidente que não haverá

compreensão, não haverá criticidade, pois o leitor não será capaz de questionar, discutir,

aquilo que não compreendeu. Entendemos que o ambiente é importante e que a leitura deve

nas devidas proporções, ser uma fonte de prazer para o leitor. Nossa sociedade, carece de

leitores que investiguem, desconfiem e busquem reorganizar a realidade.

Os professores pesquisados são unânimes em definir a sala de aula, como ambiente

mais utilizado para se desenvolver as aulas de leitura. Nesse sentido, a professora 1 diz que:

“A sala de aula é o ambiente onde sempre desenvolvo as aulas de leitura e algumas vezes fora,

como em casa, por exemplo, pois, não temos uma boa biblioteca para desenvolver essas

atividades”. (entrevista em 10/04/2011).

No que se refere às dificuldades, muitas vezes o professor exclui sua parcela de

responsabilidade, como se tudo na sala de aula girasse em torno do leitor e do texto, sem que

este tivesse sua parcela de participação no fracasso ou sucesso das práticas de leitura. Como

ficou claro em depoimentos coletados durante este trabalho de pesquisa, feitos pelas

professoras 1e 2 sequencialmente: “Há uma grande dificuldade de ler com compreensão, o

mais comum é o aluno fazer a decodificação do código escrito.” (entrevista em

10/04/2011)..”Os alunos em geral, com raras exceções gostam de ler, pois não tem o hábito de

leitura e consequentemente sentem-se desmotivados diante do ato de ler.” (entrevista em

10/04/2011).

Por isso, entendemos que é uma necessidade formar o leitor crítico e argumentamos

também que fazer do aluno um leitor com este perfil é uma urgência dentro das instituições

escolares, pois o rendimento escolar de determinados alunos é marcado pelo fracasso, em

virtude de não serem bons leitores e também, bons interpretadores de textos e/ou enunciados,

que não estão presentes só em Língua Portuguesa, mas em todas as disciplinas do currículo

escolar. Desenvolvendo habilidades de leitura crítica, certamente este aluno passará a ter

desempenho melhor nas demais disciplinas com as quais tem contato na escola. Para Solé :

o leque de objetivos e finalidades que faz com que o leitor se situe perante um texto é amplo e variado: devanear, preencher um momento de lazer e desfrutar, procurar uma informação concreta; seguir uma pauta ou instruções para realizar uma determinada atividade (cozinhar, conhecer as regras de um jogo); informar sobre um determinado fato (ler o jornal, ler um livro de consulta sobre a Revolução Francesa); confirmar ou refutar um conhecimento prévio; ampliar a informação obtida com a leitura de um texto na realização de um trabalho, etc. (1998, p.22)

Page 10: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

10

É importante que o leitor perceba que existem várias possibilidades de se transmitir

uma informação através de um texto e que o mesmo varia à medida que muda o conteúdo que

está exposto, mas não é só isso, muda também a estrutura do texto. Um texto informativo tem

uma linguagem objetiva e não se confunde com os textos de natureza literária ou artística, que

utiliza a subjetividade, e a criatividade prevalece para encantar o leitor. Que por sua vez

difere-se do texto narrativo, uma vez que relata fatos e acontecimentos e do texto descritivo,

que representam objetos e personagens que participam do texto narrativo. Já o texto

argumentativo, procura convencer o leitor, propondo ou impondo uma interpretação.

Conclusão

Conforme atesta a análise desenvolvida ao longo deste trabalho, os professores da

escola em questão, em grau maior ou menor, não têm total conhecimento das práticas

necessárias a formação de leitores críticos. Embora essa urgência esteja marcada em muitas de

suas colocações, as ações pedagógicas por eles desenvolvidas, segundo seus relatos, nos

permitem afirmar que não é possível alcançar plenamente a formação desse tipo ideal de

leitor. Não se trata, entretanto, de fazer a condenação pública do professor, imputando-lhe

toda a culpa pelo insucesso de uma prática que não depende exclusivamente de seu trabalho,

já envolve outras instâncias da ordem social estabelecida.

Percebe-se, portanto, que é urgente a implementação de um processo de formação

continuada que assegure ao professor a reparação das eventuais lacunas deixadas ao longo de

seu processo de formação, principalmente considerando o contexto específico e as

peculiaridades do estabelecimento em questão, que impõem desafios maiores aos professores,

enquanto mediadores do processo de leitura. Dessa forma, a formação de leitores críticos,

nessa realidade, pressupõe a reação às formas de dominação a uma ideologia que, tanto

quanto aquela representada pela escola, pode também levar a alienação e ao conformismo.

Há muito a se discutir, refletir e pesquisar para que se consiga concretizar de maneira

efetiva, nas salas de aula, esta audaciosa proposta. E foi com esse intuito, que a questão do

papel da escola na formação de leitores críticos, tornou-se foco deste estudo, pois se trata de

um primeiro passo e de um grande desafio: romper barreiras para melhor ensinar, visando,

sobretudo, uma educação que permita ao aluno o exercício pleno de sua cidadania e o seu

desenvolvimento como pessoa humana através do hábito de ler, não apenas como fonte de

conhecimento, mas também como informação e prazer!

Page 11: Formação de leitores críticos lucimeire cavalcanti dias.docx

11

Referências

FOUCAMBERT, J. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

FREIRE, Paulo. Professor sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. 2ed. São Paulo: Olho

d’água, 1994.

______. A importância do ato d ler: em três artigos que se completam. 45ed. São Paulo:

Cortez, 2003.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6 ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998.