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2015 HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL Rayanne Silva

Historia Geral e do Brasil

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Page 1: Historia Geral e do Brasil

2015

HISTÓRIA GERAL

E DO BRASIL

Rayanne Silva

Page 2: Historia Geral e do Brasil

3

SUMÁRIO

1 A crise do Feudalismo na Europa ocidental....................................4

2 A expansão marítima e a formação de Portugal............................7 3 O Estado Moderno: o Absolutismo e o Mercantilismo...................10

4 O Renascimento e o Humanismo.................................................14 5 As Reformas religiosas................................................................18 6 A colonização da América............................................................23

7 A Revolução Inglesa...................................................................27 8 A Revolução Científica e o iluminismo.........................................30

9 O Absolutismo Ilustrado ou Despotismo Esclarecido...................34 10 A Revolução Industrial..............................................................37 11 A Independência dos Estados Unidos........................................40

12 A Revolução Francesa...............................................................45 13 O Império Napoleônico e o Congresso de Viena.........................50

14 A Independência dos países latino-americanos.........................53 15 Doutrinas Sociais e Revoluções Liberais na Europa do século XIX................................................................................................57

16 A Guerra de Secessão e o expansionismo norte-americano.......62 17 A industrialização no século XIX e as Unificações italiana e

alemã.............................................................................................65 18 O Imperialismo na África e na Ásia...........................................70 19 A América Latina no século XIX e a Revolução Mexicana...........75

20 A Primeira Guerra Mundial........................................................80 21 A Revolução Russa e a Formação da União Soviética.................85

22 O Período Entreguerras e a Crise de 29.....................................95 23 A Segunda Guerra Mundial......................................................101

24 A Guerra Fria...........................................................................108 25 A América latina contemporânea.............................................121 26 O Oriente Médio Contemporâneo.............................................124

27 A Queda do Muro de Berlim, o fim da URSS e a Nova Ordem Mundial........................................................................................130

Gabaritos.....................................................................................134

Page 3: Historia Geral e do Brasil

4

Capítulo 1. A crise do

Feudalismo na Europa ocidental

Apresentação - O feudalismo foi o

modelo sócio-político que caracterizou

a maior parte da sociedade ocidental

durante a Idade Média (séculos V ao

XV). Sua principal característica é o

regime de servidão: uma relação

social de produção na qual ocorre

dependência e exploração entre um

indivíduo considerado o senhor e

outro, considerado seu servo. Nesse

sistema, o servo trabalhava nas terras

do senhor e este, em troca, lhe

promete proteção e lhe permite uma

pequena parcela de terra para cultivo

próprio.

Outras características do

Feudalismo

Descentralização política - Apesar

de terem se formado diversos reinos –

alguns com grandes extensões de

terras – boa parte do poder era

exercido pelos muitos senhores

feudais. Cada um desses senhores

detinha sob seu controle um pequeno

senhorio ou feudo (como eram

chamados os domínios do senhor).

Para todos os efeitos, o rei costumava

ser o principal senhor feudal do Reino,

ao qual todos os senhores feudais

prestavam vassalagem (ver abaixo).

Suserania e Vassalagem – A relação

entre os diversos senhores feudais

europeus se dava através de

complexas relações de suserania e

vassalagem. Estas relações são

basicamente alianças, nas quais os

vassalos prestam lealdade aos

suseranos, e os apóiam em caso de

necessidade. O suserano, por sua vez,

se compromete a defender seus

vassalos – que geralmente são mais

fracos que o suserano – na

eventualidade de um ataque ao

vassalo por um inimigo. Esta é uma

hierarquia vertical, na qual muitos

senhores eram suseranos de alguns

senhores feudais e vassalos de outros,

mais fortes. Como regra, no topo

desta hierarquia estava o rei,

geralmente o senhor feudal de mais

posses e poder militar, ao qual deviam

prestar vassalagem todos os senhores

feudais de um dado reino.

Produção para o consumo -

Diferentemente do capitalismo, no

regime feudal produziam-se bens

principalmente para o consumo dos

habitantes do próprio senhorio. Dessa

forma, buscava-se produzir

essencialmente aquilo que iria ser

consumido e apenas o excedente de

produção era comercializado.

Comércio reduzido – Na maioria das

regiões da Europa da época, o

comércio era uma atividade pouco

desenvolvida, assim como era

pequena a movimentação das

populações. O comércio e a

urbanização só conheceram um maior

desenvolvimento a partir da chamada

Baixa Idade Média, entre os séculos

XI e XV.

Sociedade Estamental - A

sociedade medieval era, de modo

geral, dividida em três ordens ou

estados sociais: os que cultivavam a

terra, ou seja, os camponeses que

eram também os servos; os que

guerreavam, que compunham a

nobreza feudal e lutavam nas guerras,

e os que oravam, aqueles que

formavam o clero, membros da Igreja

que nesse período possuíam grande

poder e prestígio. Tanto a nobreza –

os cavaleiros – quanto o clero eram

proprietários de terra e, portanto,

senhores feudais.

Predomínio da Igreja romana e

teocentrismo - No período feudal, a

Igreja católica detinha muito poder e

é considerada a maior força política e

religiosa da Idade Média, até mesmo

se comparada ao poder dos reis e dos

senhores feudais. Durante o

Feudalismo, a Igreja possuía o

monopólio da intermediação entre os

homens e Deus, além disso, todos os

acontecimentos eram explicados

através da religião.

Condenação do lucro e da usura -

A doutrina católica do período

condenava o lucro e a usura. Essa

condenação se tornou um empecilho

para o crescimento da produção

artesanal e do comércio, tornando-se

assim um importante ponto de

conflito entre a Igreja e a burguesia.

Essa última começava a ganhar força

Page 4: Historia Geral e do Brasil

5

nos centros urbanos da Baixa Idade

Média e a tal condenação se constituía

em um obstáculo ao desenvolvimento

das suas atividades. Outros dois

entraves aos interesses comerciais

burgueses eram: a necessidade de

criação e circulação de moedas, já

que a economia feudal baseava-se

principalmente no sistema de trocas,

e a descentralização política que

permitia uma grande diversidade de

moedas, pesos e medidas de um

feudo para outro.

A Baixa Idade Média (XI-XV) e o

aumento populacional - Após o fim

das invasões bárbaras da Alta Idade

Média, por volta do século IX, a

população da Europa voltou a crescer,

levando em seguida à expansão do

comércio e ao ressurgimento das

cidades. Por outro lado, o crescimento

populacional agravou outro grande

problema: como aumentar a produção

de alimentos para atender as

necessidades da população se a

Europa já vivia uma crise de

abastecimento?

Expansão do feudalismo - As

inovações técnicas, o aumento da

mão de obra e o fim das invasões

bárbaras permitiram a geração de um

excedente de produção nos senhorios

que passou a ser comercializado. Isso

impulsionou o comércio e a formação

de uma classe mercantil, que

transportava e comercializava essa

produção. Novas terras começaram a

ser exploradas e o feudalismo se

expandiu, surgindo grandes

movimentos mercantis como o

comércio marítimo e as Cruzadas, que

pode ser entendida como a expansão

do feudalismo europeu para o Oriente.

Surgimento das feiras e burgos -

Com o aumento do comércio,

surgiram as feiras (lugar onde se

vendia o excedente de produção dos

senhorios), que logo cresceram e

deixaram de ser temporárias para

serem permanentes. Em seguida, os

locais das feiras deram origem as

cidades ou burgos, onde comerciantes

e artesãos se estabeleceram

comprando as terras dos senhores e

formando burgos livres da autoridade

senhorial. Obtinham permissão real e

pagavam tributos diretamente ao rei,

sendo portanto livres de

constrangimentos de senhores

feudais. Para lá começariam a fugir

muitos servos, reforçando a produção

urbana.

A burguesia - A produção artesanal

nas cidades se organizava através das

corporações de ofício (uniões

hierarquizadas de artesãos) que

fabricavam um mesmo produto. Os

chefes dessas corporações, chamados

mestres de ofício, e os comerciantes

eram os principais representantes da

nova classe social que estava

surgindo, a burguesia.

A crise do século XIV - Nesse

século, uma população debilitada pela

fome teve que enfrentar uma terrível

epidemia: a Peste Negra. Associada

às guerras que assolaram a Europa, a

Peste dizimou um terço da sua

população. Essa crise acentuou as

modificações que já vinham ocorrendo

no campo e, principalmente,

intensificou a fuga de camponeses

para as cidades em busca de

melhores condições de vida. O

resultado foi uma devastadora

escassez de mão-de-obra no campo,

exatamente quando a economia

medieval tinha sido atingida por

graves contradições.

A escassez de alimentos - A baixa

capacidade de produção agrícola foi

um grave problema atravessado pela

população européia no período,

principalmente para os mais pobres. O

problema se agravou ainda mais

durante o século XIV.

A crise geral do Feudalismo - Foi

basicamente causada pela saturação

da exploração dos nobres sobre os

camponeses, em curso desde o século

XI. Contudo, o fator que mais

contribuiu para o declínio do sistema

feudal foi o ressurgimento das cidades

e do comércio. Com isso, os

camponeses passaram a vender mais

produtos e, em troca, conseguir mais

dinheiro. Dessa forma, alguns servos

puderam comprar a própria liberdade,

outros, para alcançá-la, promoveram

contínuas rebeliões. Estabelecendo-se

o colapso da velha ordem, a partir de

então, as relações de trabalho no

campo na Europa ocidental,

abandonaram a servidão. Essa crise

Page 5: Historia Geral e do Brasil

6

foi o ponto de partida para se

compreender o fim da Idade Média e

o processo de transição do feudalismo

para o capitalismo.

Questões de Vestibular

1. UNIRIO 2006. A transição do

feudalismo para capitalismo, entre os

séculos XIV e XVI, caracterizou-se por

apresentar um conjunto de mudanças

estruturais que atingiram a sociedade

européia entre o final da Idade Média

e o início dos tempos

modernos.Dentre estas

transformações podemos identificar

corretamente:

a) A concessão dos privilégios feudais

usufruídos pela nobreza fundiária

medieval a outros segmentos sociais,

destacadamente a burguesia

comercial que ascendia politicamente

à condição de ordem privilegiada.

b) O fortalecimento da economia

comercial das cidades italianas em

virtude do incremento do comércio de

especiarias e têxteis orientais

luxuosos na Europa.

c) A busca de novas áreas econômicas

para a aplicação dos capitais

excedentes acumulados com a

excessiva monetarização da economia

européia decorrente do crescimento

das cidades ao final da Idade Média.

d) A expansão econômica européia

articulada sobre outros continentes a

partir do controle da navegação em

rotas comerciais marítimas atlânticas

abertas com o périplo africano

realizado pelos portugueses.

e) O fim da sociedade estamental

decorrente da difusão do trabalho

assalariado em virtude da devastação

da população européia pela peste

negra.

2. ENEM 2006. Os cruzados

avançavam em silêncio, encontrando

por todas as partes ossadas humanas,

trapos e bandeiras. No meio desse

quadro sinistro, não puderam ver, sem

estremecer de dor, o acampamento

onde Gauthier havia deixado as

mulheres e crianças. La, os cristãos

tinham sido surpreendidos pelos

muçulmanos, mesmo no momento em

que os sacerdotes celebravam o

sacrifício da Missa. As mulheres, as

crianças, os velhos, todos os que a

fraqueza ou a doença conservava sob

as tendas, perseguidos ate os altares,

tinham sido levados para a escravidão

ou imolados por um inimigo cruel. A

multidão dos cristãos, massacrada

naquele lugar, tinha ficado sem

sepultura. J. F. Michaud. História das

cruzadas. São Paulo: Editora das Américas, 1956 (com adaptações).

Foi, de fato, na sexta-feira 22 do

tempo de Chaaban, do ano de 492 da

Hegira, que os franj* se apossaram

da Cidade Santa, apos um sitio de 40

dias. Os exilados ainda tremem cada

vez que falam nisso, seu olhar se

esfria como se eles ainda tivessem

diante dos olhos aqueles guerreiros

louros, protegidos de armaduras, que

espelham pelas ruas o sabre cortante,

desembainhado, degolando homens,

mulheres e crianças, pilhando as

casas, saqueando as mesquitas.

*franj = cruzados. Amin Maalouf. As

Cruzadas vistas pelos árabes. 2.ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1989 (com adaptações).

Avalie as seguintes afirmações a

respeito dos textos acima, que tratam

das Cruzadas.

I Os textos referem-se ao mesmo

assunto — as Cruzadas, ocorridas no

período medieval —, mas apresentam

visões distintas sobre a realidade dos

conflitos religiosos desse período

histórico.

II Ambos os textos narram partes de

conflitos ocorridos entre cristãos e

muçulmanos durante a Idade Media e

revelam como a violência contra

mulheres e crianças era pratica

comum entre adversários.

III Ambos narram conflitos ocorridos

durante as Cruzadas medievais e

revelam como as disputas dessa

época, apesar de ter havido alguns

confrontos militares, foram resolvidas

com base na idéia do respeito e da

tolerância cultural e religiosa.

É correto apenas o que se afirma em:

A I. D I e II.

B II. E II e III.

C III.

Page 6: Historia Geral e do Brasil

7

Capítulo 2. A expansão

marítima e a formação de Portugal

Apresentação - Após a crise do

século XIV, a Europa necessitava

eliminar as barreiras feudais para

desenvolver o comércio através da

conquista de novos mercados.

Entretanto, alguns obstáculos se

interpunham sobre tais interesses,

como por exemplo, o monopólio

árabe-veneziano sobre o comércio de

produtos orientais, sobretudo, das

especiarias. Em vista de tal situação,

se apresentou em Portugal a

possibilidade de encontrar um

caminho alternativo para se chegar ao

Oriente e, desse modo, comprar

diretamente os produtos orientais e

assim aumentar os lucros,

contornando a África pelo Atlântico e,

conseqüentemente, evitando o

Mediterrâneo. O ambicioso objetivo

exigiria uma ampla mobilização de

recursos, pois implicaria em altos

investimentos. Para isso era preciso

uma acumulação prévia de capital e

uma liberdade em aplicá-lo que só

seria possível através da centralização

do poder político.

Características gerais da formação dos estados nacionais

Acordo entre Rei, nobreza, clero e

burguesia - Com o paulatino

enfraquecimento da nobreza feudal,

as monarquias conseguiram se

fortalecer no panorama europeu. As

novas monarquias foram chamadas de

nacionais ou absolutas e se

mantiveram por toda a Era Moderna

européia, entre os séculos XV-XVIII.

Na monarquia absoluta,

aparentemente, o rei detém todo o

poder do Estado em suas mãos.

Entretanto, este nível de centralização

de poder pôde ser alcançado apenas

mediante uma união de forças com

segmentos eclesiásticos e burgueses.

Portanto, para uma harmoniosa

política absolutista, o rei deveria

tentar não alienar suas bases de

sustentação, especialmente a

burguesia que o financiava e a Igreja

que o legitimava.

Mercado nacional unificado -

Interessava ao comércio e à produção

dos burgos um estado nacional para o

qual não era necessário pagar taxas

alfandegárias para atravessar os

senhorios (como acontecia na Idade

Média) e que mantivesse a unidade

dos pesos, medidas e da moeda em

todo o reino. Tudo isso foi

estabelecido pelo novo estado

absolutista. Dessa forma, o mercado

nacional foi unificado pelos interesses

do comércio e da produção burguesa.

Em conseqüência disso, na época

moderna apareceram novidades nas

técnicas de comércio como as bolsas

de valores, os bancos e as sociedades

anônimas que favoreciam a

acumulação de capitais.

Língua nacional – Em 1500, o

imperador do Sacro-Império Romano

Germânico, Carlos V, disse: ―Eu falo

espanhol com Deus, italiano com as

mulheres, francês com os homens, e

alemão com o meu cavalo‖. É nesse

mesmo período que a multiplicidade

de línguas dá lugar à imposição de

línguas nacionais européias. Elas

foram importantes para que num

mesmo país todos se entendessem na

fala e na escrita e o Estado se fizesse

presente em todo o território com

uma língua comum, e para que o

membro de dada nação se

diferenciasse do que era estrangeiro,

visto que os estados nacionais

favoreciam aqueles que

compartilhavam sua nacionalidade. A

emergência das línguas nacionais foi

marcada pela publicação de

importantes obras literárias nacionais.

Diminuição do poder da Igreja e

do papado - Se durante a Idade

Média, o poder do papa se fazia

presente em toda a Europa

(fragmentada em pequenos

senhorios), na Era Moderna, o poder

papal encontrou muitas dificuldades

para se impor diante dos poderosos

estados nacionais, o que acarretou

diversos conflitos entre a Igreja e os

Estados recém-surgidos. Outros

desenvolvimentos do período,como o

Renascimento e a Reforma

Protestante, contribuíram ainda mais

para a difícil situação da Igreja.

Page 7: Historia Geral e do Brasil

8

Os casos particulares - Apesar das

características comuns ao surgimento

dos estados nacionais, cada país se

unificou em condições específicas: A

Espanha se unificou pelo esforço

empreendido por várias casas nobres

contra os muçulmanos na Península

Ibérica, na chamada Guerra de

Reconquista; a França fortaleceu a

sua monarquia e o seu exército na

Guerra dos Cem Anos contra a

Inglaterra; a Inglaterra teve a

especificidade de manter forte os

poderes regionais, através do

parlamento, durante a Idade Média; a

Itália e Alemanha mantiveram-se

fragmentadas no período, alcançando

suas unificações somente no século

XIX, já no contexto das revoluções

burguesas.

A unificação de Portugal

Um feudalismo diferente,

centralizado - Assim como na

Espanha, também ocupada pelos

mouros (muçulmanos ibéricos), a

unificação portuguesa tem origem na

luta de Reconquista. No entanto,

diferente da Espanha, que só

conseguiu concluir a expulsão dos

mouros do seu território em 1492, a

região de Portugal conseguiu se

organizar e empreender a expulsão

dos mouros ainda no século XII.

Desse feito, surgiu o Condado

Portucalense como um estado vassalo

de Castela, tornando-se independente

em 1139. Nesse ano, um nobre

chamado Afonso Henriques proclamou

a independência do condado e iniciou

a dinastia de Borgonha. Desde o

início, Portugal se caracterizou por

instituir um feudalismo centralizado,

diferente do resto da Europa. Seu rei

tinha mais poder do que em outras

regiões européias. O feudalismo

português acabaria, em 1385, com a

Revolução de Avis.

O fim do feudalismo português -

Opondo-se ao poder dos senhores

feudais, o rei de Portugal concedeu

um amplo incentivo à fuga dos servos

e também a criação das feiras de

comércio. Diante de tal situação, os

senhores feudais se enfraqueceram e

tentaram se aliar a Castela para

manter o poder sobre os senhorios.

Tal aliança ocasionou uma guerra que

acabou precipitando a formação do

moderno estado português.

A Revolução de Avis (1383-1385)

- Em uma disputa dinástica, dois

postulantes ao trono português se

confrontaram numa guerra. À casa de

Borgonha, aliada aos senhores feudais

portugueses e ao poderoso reino de

Castela se opôs a Dom João, da casa

de Avis e aliado dos comerciantes

portugueses. A vitória de Dom João I

(elevado ao trono português em

1385) marcou o fim do feudalismo em

Portugal e o início do estado nacional

monárquico português. Com essa

unificação precoce, os lusitanos se

tornaram o primeiro povo a navegar

pelos oceanos em busca de riqueza.

Portugal sempre demonstrou uma

vocação natural para a navegação,

facilitada pela sua privilegiada posição

geográfica que permitia o acesso aos

mares do Norte e Mediterrâneo, e pelo

conhecimento naval adquirido a partir

da longa convivência com os mouros,

experientes navegadores. No início do

século XV, o infante dom Henrique

promoveu a reunião de vários

cartógrafos, navegadores, estudiosos

e construtores, fundando a Escola de

Sagres, que permitiu o

desenvolvimento de várias técnicas e

tecnologias de navegação.

Questões de Vestibular

1. UFRJ 2005. ―Entre 1450 e 1620 a

Europa testemunhou a onda mais

carregada de energia intelectual e

criativa [a cultura do renascimento]

que jamais passara pelo continente.

Foi igualmente um período em que se

deram mudanças tão extraordinárias

– religiosas, políticas, econômicas e,

em conseqüência das descobertas

ultramarinas, globais – que nunca

anteriormente tantas pessoas haviam

visto o seu tempo como único,

referindo-se a ‗esta nova época‘, ‗à

presente época‘, ‗a nossa época‘. Para

um observador era uma ‗época

abençoada‘, para outro ‗a pior época

da História‘.‖ Fonte: adaptado de HALE,

John. A Civilização européia no Renascimento. Lisboa, Editorial Presença, 2000, p. 19.

Page 8: Historia Geral e do Brasil

9

No período considerado aprimorou-se

o conhecimento do mundo, tanto na

geografia quanto na zoologia e na

botânica. A partir do texto, identifique

dois processos cuja combinação

permitiu semelhante aprimoramento.

2. UERJ 2001. ―O cristão-novo foi o

elemento que, mais do que qualquer

outro, tinha razões imperativas para

permanecer na colônia. Os fidalgos e

funcionários reais aqui pouco se

demoravam, e os cristãos velhos, que

conseguiam enriquecer, procuravam

retornar à pátria. Os cristãos-novos

não tinham razões muito convidativas

para voltar.‖ (Adaptado de NOVINSKY, Anita.

Cristãos-novos na Bahia: 1624-1654. São Paulo: Perspectiva, 1972.).

a) Defina o termo cristão-novo.

b) Cite uma razão para a permanência

dos cristãos-novos na colônia.

3. UNIRIO 2007. ―Um conhecido

provérbio chinês diz que uma viagem

de mil léguas começa com um curto

passo. Portugal deu esse pequeno

passo em 1415, quando D. João I e

seus filhos conquistaram Ceuta, praça

forte mourisca do lado sul do estreito

de Gibraltar. Dentro de um século,

esse pequeno passo abria o caminho

até a China.‖ (MISKIMIN, Harry. A Economia

do Renascimento Europeu, 1300 – 1600. Lisboa: Editorial Estampa, 1984, p. 159.).

A expansão ultramarina européia,

desenvolvida pelos portugueses ao

longo do século XV, permitiu a

superação das limitações da economia

comercial do continental europeu. A

área de atuação econômica dos

europeus foi nesse período

transformada e ampliada em uma

escala maior que aquela de seu

continente de origem. Incluiu,

também, o continente africano e, ao

final do século, o asiático. Dentre tais

transformações, podemos apontar,

corretamente,

a) o estabelecimento de rotas

comerciais lucrativas através do

Atlântico sul viabilizadas com o tráfico

de escravos.

b) a concorrência comercial

promovida contra Portugal por

diversas cidades européias que

mobilizaram os recursos necessários a

sua expansão ultramarina.

c) a fixação dos interesses

econômicos dos portugueses no rico

comércio da China transformada em

principal entreposto no ultramar.

d) a ocupação e colonização

preferencialmente das regiões do

interior da África pelos portugueses

devido à abundância de marfim e de

ouro.

e) o abandono do interesse no

continente africano pelos portugueses

em decorrência da descoberta de

vastas extensões de terras na

América.

4. UERJ 2008.

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães

choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa. Seleção poética. Rio de Janeiro. João Aguilar, 1972.

O poema de Fernando Pessoa

descreve aspectos da expansão

marítima portuguesa no século XV,

dando início a um movimento que

alguns estudiosos consideram um

primeiro processo de globalização.

Identifique duas motivações para a

expansão portuguesa e explique por

que essa fase de expansão pode ser

considerada um primeiro processo de

globalização.

Page 9: Historia Geral e do Brasil

10

Capítulo 3. O Estado Moderno:

o Absolutismo e o Mercantilismo

Apresentação – Apesar dos

acalorados debates sobre o que

definiria a denominada Idade

Moderna, essa é localizada entre o

final da Idade Média (meados do

século XV) e a eclosão da Revolução

Francesa, em 1789, e é considerada,

em linhas gerais, como uma época

identificada com os múltiplos

processos que envolveram a transição

do feudalismo para o capitalismo.

Apesar de formas de trabalho

semelhantes a servidão continuarem

ocorrendo no campo, na Europa

ocidental, nessa época, cresce e se

desenvolve gradualmente uma

burguesia mercantil e manufatureira

que concentra cada vez mais poder

econômico em suas mãos. Além desse

quadro social complexo, em que

coexistiam populares, burguesia e

nobreza, hierarquicamente

organizados na sociedade, existiu

nesse período uma forma própria de

organização do Estado (o

absolutismo) e uma teoria político-

econômica que permitia uma forte

intervenção do Estado na economia, o

mercantilismo.

O Absolutismo - O Absolutismo é

uma teoria política que defende que

um monarca ou principe deve deter

um poder absoluto, independente de

outros poderes como o judiciário, o

legislativo, o religioso ou eleitoral.

Dentre os teóricos que mais

contribuiram para o absolutismo se

incluem autores como Thomas

Hobbes, Nicolau Maquiavel, Jean

Bodin e Bossuet. Alguns associaram

essa teoria política a doutrina religiosa

do direito divino, que defende que a

autoridade do governante emana

diretamente de Deus, e por isso, não

pode ser destituída a não ser pela

vontade divina.

O Estado absolutista surgiu

como resultado do processo de

desagregação do feudalismo, no

período final da Idade Média. Nessa

época, os laços de servidão que

mantinham os trabalhadores rurais

nos feudos estavam gradualmente se

desfazendo e o aumento da produção

e das trocas mercantis, ameaçava por

fim ao poder da nobreza feudal. Essa

por sua vez, reagiu transferindo seu

poder político e militar para um poder

centralizado, comandado por um

único senhor, o monarca. Dessa

forma, acabou por se formar o que

hoje chamamos de Estado absolutista,

cuja principal função política era

conter as massas camponesas

rebeladas, sujeitando-as a novas

formas de dependência e exploração.

Por outro lado, a burguesia

despontava como um grupo social

importante estimulando o

aparecimento de um novo modo de

produção, o capitalismo mercantil. Os

Estados absolutistas organizaram

exércitos permanentes, a burocracia

administrativa e os sistemas tributário

e jurídico modernos. O termo

absolutismo dá a falsa idéia de que na

prática o rei possuía poderes

absolutos totais. Na verdade, nessa

forma de organização do Estado o rei

servia como um ponto de equilíbrio

entre os conflitos existentes entre as

classes sociais daquela sociedade –

burguesia, nobreza, clero e

campesinato. Em função desse quadro

contrastante, o rei representava o

poder que, em tese, acabaria com os

conflitos jogando com as pressões

desses grupos sociais.

Luis XIV: o rei sol, o maior símbolo do

absolutismo francês.

O Antigo Regime - É a denominação

de um novo sistema formado a partir

das tensões oriundas da

desintegração do feudalismo e que

deu condições para a formação do

sistema capitalista de produção. Este

sistema era composto pelos seguintes

elementos: Estado absolutista;

Page 10: Historia Geral e do Brasil

11

sociedade estamental; mercantilismo;

expansão ultramarina e comercial.

O Direito divino dos reis - O poder

absoluto era legitimado através de

algumas teorias. Essas foram

fundamentais para que o regime se

consolidasse. Uma das principais

teorias que contribuíram para a

formação do absolutismo foi a do

Direito Divino dos Reis. Le Bret, Bodin

e Bossuet são teóricos franceses que

afirmaram que os reis possuíam uma

origem divina e por isso tinham

legitimidade para governar. Essa é a

principal base de sustentação teórica

do regime absolutista, uma vez que,

tornava sagrada a figura do rei.

O mercantilismo – O mercantilismo

foi um conjunto de práticas

econômicas postas em prática pelos

estados modernos. Tem como

característica fundamental a

intervenção do Estado na economia

para o fomento da riqueza nacional.

Pressupõe que a riqueza não se

reproduz, que é limitada na natureza,

e por isso os estados europeus

tiveram longas e numerosas guerras

em busca dessa riqueza. Essas

medidas tinham como objetivo

fortalecer o poder econômico dos

novos Estados. Podemos citar como

principais características do sistema

econômico mercantilista: o

metalismo ou bulionismo, teoria

segundo a qual a riqueza de um país

era medida pela quantidade de ouro e

prata que havia em seu território ou

em seu poder. Com base nessa teoria,

os países europeus restringiam a

saída de ouro e prata dos seus

territórios, tentando trazer o máximo

desses metais para dentro se suas

fronteiras; a Balança comercial

favorável trata-se do esforço para

exportar mais do que importar

produtos, permitindo que a entrada

de moedas fosse maior do que a

saída, e assim tentar manter o saldo

positivo na balança comercial; o

Colonialismo, política de dominar e

exercer o controle sobre um território

ocupado, contrariando a vontade de

seus habitantes nativos, passando

esse domínio a ser governado pelos

representantes do país ao qual esse

território passava a pertencer. O

objetivo do país colonizador era a

exploração de matérias-primas de alto

valor comercial, como ouro e prata e

a venda de produtos manufaturados

para essas regiões; o

Industrialismo, fomento da

produção de manufaturas,

principalmente para exportação,

objetivando manter a balança

comercial favorável (essa foi uma

característica mais tardia do

mercantilismo, dos séculos XVII e

XVIII). As unidades fabris desse

período (manufaturas) ainda são

pouco desenvolvidas e se diferenciam

daquelas da futura Revolução

Industrial; o contraste com o

liberalismo, teoria econômica que

surgiu no final do século XVIII e se

consolidou no século XIX. O

liberalismo nasceu da crítica das

práticas mercantilistas e defendia a

não intervenção do Estado na

economia, já que, segundo essa

teoria, as leis naturais do mercado

regulariam automaticamente a

mesma.

Questões de Vestibular

1. UFRJ 2005. ―Dois acontecimentos

que fizeram época marcam o início e o

fim do absolutismo clássico. Seu

ponto de partida foi a guerra civil

religiosa. O Estado moderno ergue-se

desses conflitos religiosos mediante

lutas penosas, e só alcançou sua

forma e fisionomia plenas ao superá-

los. Outra guerra civil - A Revolução

Francesa – preparou seu fim brusco.‖ Fonte: KOSELLECK, Reinhart. Crítica e crise. Rio de Janeiro, Eduerj & Contraponto, 1999, p. 19.

a) Identifique dois aspectos que

caracterizavam o exercício da

autoridade pelo Estado Absolutista.

b) Em 1651, em meio às guerras

religiosas que assolavam a Europa, o

filósofo inglês Thomas Hobbes

defendia a necessidade de um Estado

forte como forma de controlar os

sentimentos anti-sociais do homem.

Pouco mais de um século depois, o

filósofo J.J. Rousseau, em sua obra

Contrato Social (1762), apresentou

uma outra visão sobre o mesmo

Page 11: Historia Geral e do Brasil

12

problema. Comente uma

característica da concepção de Estado

presente em Rousseau.

2. UFRJ 2006. “Quando Nosso

Senhor Deus fez as criaturas, não quis

que todas fossem iguais, mas

estabeleceu e ordenou a cada um a

sua virtude. Quanto aos reis, estes

foram postos na terra para reger e

governar o povo, de acordo com o

exemplo de Deus, dando e

distribuindo não a todos

indiscriminadamente, mas a cada um

separadamente, segundo o grau e o

estado a que pertencerem”. Fonte:

Adaptado das Ordenações Afonsinas II, 48, In:

HESPANHA, António Manuel e XAVIER, Ângela Barreto

(coords.). História de Portugal - O Antigo Regime.

Lisboa: Estampa, 1998, p. 120.

A citação acima remete à organização

social existente em Portugal na época

do Antigo Regime, bem como à forma

pela qual se pautavam as relações

entre reis e

súditos.

a) Tendo por base essas

considerações, explique um dos traços

da estratificação social da Península

Ibérica nos séculos XVI e XVII.

b) A partir dessa concepção de

sociedade, identifique uma

característica do papel da aristocracia

agrária e outra do campesinato

3. ENEM 2006. O que chamamos de

corte principesca era, essencialmente,

o palácio do príncipe. Os músicos

eram tão indispensáveis nesses

grandes palácios quanto os

pasteleiros, os cozinheiros e os

criados. Eles eram o que se chamava,

um tanto pejorativamente, de criados

de libré A maior parte dos músicos

ficava satisfeita quando tinha

garantida a subsistência, como

acontecia com as outras pessoas de

classe média na corte; entre os que

não se satisfaziam, estava o pai de

Mozart. Mas ele também se curvou às

circunstâncias a que não podia

escapar. Norbert Elias. Mozart: sociologia de

um gênio. Ed. Jorge Zahar, 1995, p. 18 (com adaptações).

Considerando-se que a sociedade do

Antigo Regime dividia-se

tradicionalmente em estamentos:

nobreza, clero e 3º. Estado, é correto

afirmar que o autor do texto, ao fazer

referência a ―classe média‖, descreve

a sociedade utilizando a noção

posterior de classe social a fim de

A) aproximar da nobreza cortesã a

condição de classe dos músicos, que

pertenciam ao 3º. Estado.

B) destacar a consciência de classe

que possuíam os músicos, ao

contrário dos demais trabalhadores

manuais.

C) indicar que os músicos se

encontravam na mesma situação que

os demais membros do 3º. Estado.

D) distinguir, dentro do 3º. Estado, as

condições em que viviam os ―criados

de libré‖ e os camponeses.

E) comprovar a existência, no interior

da corte, de uma luta de classes entre

os trabalhadores manuais.

4. UERJ 2009. (...) Minuciosas até o

exagero são as descrições das

operações manuais de Robinson:

como ele escava a casa na rocha,

cerca-a com uma paliçada, constrói

um barco (...) aprende a modelar e a

cozer vasos e tijolos. Por esse

empenho e prazer em descrever as

técnicas de Robinson, Defoe chegou

até nós como o poeta da paciente luta

do homem com a matéria, da

humildade e grandeza

do fazer, da alegria de ver nascer as

coisas de nossas mãos. (...) A

conduta de Defoe é, em Crusoé (...),

bastante similar à do homem de

negócios respeitador das normas que

na hora do culto vai à igreja e bate no

peito, e logo se apressa em sair para

não perder tempo no trabalho. Daniel

Defoe, no romance Robinson Crusoé,

deixa transparecer a influência que as

idéias liberais passaram a exercer

sobre o comportamento de parcela da

sociedade européia ainda no século

XVIII.

Com base no fragmento citado,

identifique um ideal liberal expresso

nas ações do personagem Robinson

Crusoé. Em seguida, explicite como

Page 12: Historia Geral e do Brasil

13

esse ideal se opunha à organização da

sociedade do Antigo Regime.

5. UFRJ 2009. Durante a Guerra dos

Trinta Anos (1618-1648), o atual

território da Alemanha perdeu cerca

de 40% de sua população, algo

comparável, na Europa, apenas às

perdas demográficas decorrentes das

ondas de fome e de epidemias do

século XIV. No século XVII, tal

catástrofe populacional abarcou

apenas a Europa Central. Para o

historiador francês Emmanuel Le Roy

Ladurie, isso se deveu ao fato de a

Germânia desconhecer o fenômeno do

Estado Moderno.

Explique um aspecto político-militar,

próprio do Estado Moderno, cuja

ausência contribuiu para a catástrofe

demográfica ocorrida na Germânia no

século XVII.

6. UFRJ 2009. ―A sociedade feudal

era uma estrutura hierárquica: alguns

eram senhores, outros, seus

servidores. Numa peça teatral da

época, um personagem indagava:

‗- De quem és homem?

- Sou um servidor, porém não tenho

senhor ou cavaleiro.

- Como pode ser isto?‘ Retrucava o

personagem.‖ Fonte: Adaptado de HILL,

Christopher. O mundo de ponta-cabeça. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 55.

No século XVI, a sociedade rural

inglesa, até então relativamente

estática, estava se desagregando.

Apresente um processo sócio-

econômico que tenha contribuído para

essa desagregação.

Page 13: Historia Geral e do Brasil

14

Capítulo 4. O Renascimento e o

Humanismo

Apresentação - O Renascimento foi

um movimento cultural dos séculos

XV e XVI na Europa Ocidental, e um

dos pontos de referência para o

estudo do início da era moderna.

Nesse período, os renascentistas

buscaram reformular os pontos de

referência e as bases sustentadoras

da arte e a ciência, anteriormente

sujeitas a uma influência julgada

excessiva da doutrina da Igreja.

Esperava-se com essa mudança

promover um "renascer" das artes,

letras e ciências pautada pelos

critérios racionais da antiguidade

clássica. A proposta do Renascimento

pretendia que a arte e a ciência

abandonassem o estudo do Divino

para se aprofundar no conhecimento

do homem. Um de seus subprodutos

foi a formação de uma corrente

intelectual, denominada Humanismo,

que pretendia o retorno aos valores

da Antigüidade Clássica (Grécia e

Roma) ao mesmo tempo em que

promovia o surgimento de novos

valores (individualismo, hedonismo,

racionalismo e cientificismo). O

Renascimento teve início nas cidades

italianas, a partir das quais se

espalhou para o resto da Europa. Foi,

sobretudo, a exposição do universo e

dos valores de um novo grupo social

emergente, a burguesia.

Itália: o "berço" do Renascimento

- O grande desenvolvimento urbano e

comercial, iniciado no século XII,

viabilizou a ascensão pioneira da

burguesia italiana. Nela surgiram os

grandes patrocinadores culturais, os

mecenas, com interesses econômicos

e intelectuais. No âmbito cultural, a

Itália possuía uma vasta herança

cultural oriunda do antigo Império

Romano, além de ser o principal pólo

de atração dos sábios bizantinos, que

abandonaram Constantinopla, no

século XV, sitiada pelos turcos. Ainda

na Itália, a não-existência de um

Estado centralizado possibilitou o

deslocamento dos lucros da

aristocracia para a cultura.

Características do

Renascimento

Estudo dos clássicos greco-

romanos - Um dos elementos que

marcam o afastamento do período

com a Idade Média é o retorno aos

textos clássicos da Antiga Grécia e do

Império Romano. Os letrados italianos

buscaram aprender as línguas

clássicas e estudar os textos políticos

e filosóficos dos antigos, admirava-se

as artes e os conhecimentos sobre o

homem e a natureza produzidos por

aquela sociedades.

Humanismo - O Humanismo foi um

movimento intelectual difundido na

Europa durante o Renascimento,

fortemente inspirado nos ideais da

Antiguidade Clássica, que valorizava o

saber crítico voltado para um maior

conhecimento do homem e o

desenvolvimento de uma cultura

capaz de desenvolver as

potencialidades da condição humana.

Nascido na Itália, no final do século

XIII, seu desenvolvimento foi

acelerado a partir do século XIV e se

espalhou por toda Europa ao longo do

século XV. O Humanismo criticou os

grandes eixos do pensamento

medieval, que viam em Deus, seu

centro primordial (teocentrismo), e

propunham a exaltação do homem

(antropocentrismo - o homem no

centro de tudo) e cultivar suas

faculdades (racionalismo), mediante o

ensino dos conhecimentos da cultura

greco-romana. As idéias humanistas

transformaram o homem no novo

centro da reflexão intelectual. Erasmo

de Roterdã (1466-1536), foi o mais

destacado humanista do norte

europeu, tornou-se conhecido por

seus escritos e por ironizar, no seio

das reformas religiosas, tanto o

dogma católico como algumas

doutrinações protestantes, além de

criticar publicamente Lutero. Entre

suas obras, destaca-se o Elogio da

loucura (1509), que defendia a

tolerância e a liberdade de

pensamento, além de denunciar

algumas ações da Igreja Católica e a

imoralidade do clero.

O desenvolvimento da ciência

experimental - A nova ciência

Page 14: Historia Geral e do Brasil

15

baseava-se na razão e na

experimentação. A razão passou a ser

valorizada, mas, em princípio, não

chegou a ocupar o lugar da fé. O

conhecimento racional das coisas

começou a ganhar corpo para

posteriormente triunfar no Iluminismo

no XVIII. Durante o Renascimento e

os séculos seguintes, constata-se um

grande avanço em muitos campos do

conhecimento e da tecnologia. O lema

científico da época era "ver para crer".

O pensamento renascentista buscou a

exatidão mediante a observação e a

experimentação. Em anatomia, por

exemplo, enquanto a Igreja ainda

proibia a dissecação do corpo

humano, alguns médicos como André

Vesálio passaram a fazer dissecações

de cadáveres e a produzirem estudos

sobre suas experiências. Alguns

desses homens foram denunciados

como hereges e queimados na

fogueira da Inquisição. Leonardo da

Vinci destacou-se como inventor,

engenheiro, matemático e pintor. Ao

longo de sua vida, realizou uma

grande produção artística, sendo suas

obras mais famosas a Gioconda (Mona

Lisa), e o mural Última Ceia. Escreveu

também apontamentos científicos,

profusamente ilustrados, sobre

anatomia, botânica, geofísica,

aeronáutica e hidrologia, além de

tratados de pintura, arquitetura e

mecânica. A figura central da arte

moderna, entretanto, foi Descartes.

Seu método científico, pautado na

elaboração de uma hipótese e em sua

racional experimentação a fim de

testar sua validade, é uma base

fundamental da ciência até os dias

atuais.

As artes - Novas técnicas, novas

formas de se fazer arte e também

novos elementos artísticos foram

introduzidos renovando, enriquecendo

e diversificando a produção artística

na Europa. Durante o período

renascentista, muitos artistas foram

beneficiados pelo patrocínio dos

mecenas (homens ricos – burgueses

ou nobres – que encomendavam e

financiavam as obras de vários

artistas).

A nova astronomia - Desde a

Antigüidade prevalecia a teoria

geocêntrica proposta pelo astrônomo

grego Ptolomeu (século II d.C.)

segundo a qual a Terra era o centro

do universo e o Sol, a Lua e as

estrelas giravam ao seu redor. Essa

teoria, apoiada por Aristóteles, era a

única aceita pela Igreja. Os estudos

de astronomia do matemático Nicolau

Copérnico colocavam o Sol, e não a

Terra, como o centro do universo, e

provocaram uma revolução na

astronomia. Sua teoria heliocêntrica

foi depois confirmada pelos estudos

de Johannes Kepler e as observações

de Galileu Galilei. Iniciou-se assim,

uma batalha entre a ciência e a

religião que durou mais de um século,

até o triunfo dos partidários da teoria

heliocêntrica – possível apenas em

decorrência da crescente aceitação

social às premissas da ciência racional

moderna.

A imprensa, as línguas e as

grandes obras literárias - As idéias

humanistas e a cultura do

Renascimento como um todo tiveram

uma notável expansão graças a um

grande avanço técnico: a invenção da

imprensa. Durante a Idade Média, os

livros eram copiados à mão sobre

pergaminho e destinavam-se, quase

sempre, somente aos eruditos.

Capa da primeira edição de Os Lusíadas, em

1572.

Com o desenvolvimento da imprensa,

foi possível produzir em série

exemplares da mesma obra, atingindo

assim um número muito maior de

leitores. Os primeiros livros,

chamados incunábulos, como a Bíblia

de Gutenberg, reproduziam a letra

manuscrita e tinham formato grande.

Em pouco tempo, a imprensa revelou-

se uma ferramenta valiosa para fazer

Page 15: Historia Geral e do Brasil

16

circular as informações. Cada Estado

unificado consolida sua língua própria,

tendo também a sua própria obra-

mãe. Assim, Os Lusíadas de Luís de

Camões é considerado a ―certidão de

nascimento‖ da língua portuguesa,

junto com outros escritos do mesmo

período. Dom Quixote, do espanhol

Miguel de Cervantes, é a principal

obra espanhola do período e é um

marco para a fundação do idioma

castelhano. A Utopia, de Thomas

Morus e as obras de Shakespeare são

marcos fundadores da língua inglesa e

assim por diante.

Questões de Vestibular

1. UFF 2000. Na cultura barroca do

século XVII observam-se, entre

outras, as características:

I) Crise da vontade humana e

constatação da dúvida em torno do

melhor caminho para se obter a

salvação.

II) Presença de valores políticos que

orientavam a subordinação da

sociedade ao rei e efetivavam a

monarquia constitucional.

III) Ambiente social envolvido pelas

dúvidas acerca do futuro,

transformando o homem barroco em

melancólico, cético e místico.

A frase ―Ser ou não ser, eis a questão‖

de William Shakespeare é mais bem

interpretada pelas características:

(A) I e III, apenas

(B) I e II, apenas

(C) II e III, apenas

(D) I, apenas

(E) II, apenas

2. Uerj 2001. Leia o texto escrito por

Marsílio Ficino no século XV:

―Quem poderia negar que o homem

possui quase o mesmo gênio que o

Autor dos céus? E quem pode negar

que o homem também poderia de

algum modo criar os céus, obtivesse

ele os instrumentos e o material

celeste, pois até agora o faz, se bem

que com um material diferente mas

ainda segundo uma mesma ordem?‖ (HELLER, Agnes. O homem do Renascimento. Lisboa: Presença, 1982.)

Explique uma característica da

civilização do Renascimento

evidenciada no texto.

3. UFF 2002. “O Renascimento

europeu retirou o véu que encobria o

espírito e o fazer humanos na Idade

Média. Sem esse véu, o homem pôde

respirar um novo tempo e se

aventurar na descoberta de si mesmo

e do mundo que o rodeava. Pôde

olhar as estrelas, percorrer os mares-

oceanos, descobrir novas terras e

gentes, observar seu corpo e

debruçar-se sobre a natureza,

percebendo suas forças físicas e

químicas. A cada passo, o novo

homem saía do mundo fechado

medieval em direção ao universo

infinito moderno. Aos poucos, novas

formas de comunicação foram

surgindo, engrandecendo as artes, as

ciências e as literaturas. Galileu

fechou com chave de ouro esse

período quando disse que o livro da

natureza estava escrito em caracteres

matemáticos” (Adaptado de RODRIGUES,

Antonio E.M. e FALCON, Francisco. Tempos Modernos. RJ: Civilização Brasileira, 2000.)

Assinale a opção que melhor

interpreta as bases culturais do

Renascimento europeu.

(A) O Renascimento não é devedor de

nenhuma cultura da Antigüidade. Sua

base cultural foi a escolástica

medieval que lhe forneceu condições

transformadoras, elevando o

pensamento renascentista aos cumes

da teologia católica.

(B) Um dos pilares das

transformações renascentistas foi a

Antigüidade Clássica que, com sua

sabedoria sobre o ser humano e a

natureza, criou condições para a

descoberta do homem como sujeito

de ações e realizador de

transformações, ao contrário do

homem medieval, que se via apenas

como extensão de Deus.

(C) As artes, as ciências e as

literaturas, evidências mais

significativas da explosão criativa do

Renascimento, só avançaram porque

tinham, como única base cultural e

filosófica, a sabedoria oriental trazida

para a Europa, a partir do século XV,

Page 16: Historia Geral e do Brasil

17

nos contatos entre as cidades

italianas e Bizâncio.

(D) O Renascimento é herdeiro da

filosofia agostiniana, que deu como

lema aos representantes desse novo

tempo a célebre frase de Galileu ―é

dando que se recebe‖, origem das

famosas academias renascentistas.

(E) A cultura renascentista não

conseguiu retirar, totalmente, o véu

que cegava o homem medieval, que

continuou a considerar-se mero

realizador de um plano idealizado por

Deus e a pensar que o universo, todo,

era obra d‘Ele.

4. UFF 2006. O início dos tempos

modernos é associado ao

Renascimento, no qual se

destacavam, entre outras

características, a descoberta do

homem e do mundo.

Considerando essa afirmação, assinale

a opção que melhor interpreta o

espírito moderno da Renascença em

sua relação com a expansão marítima

e as grandes descobertas do período.

(A) O fato de Galileu, no século XV,

descobrir a ―luneta‖, propiciando um

novo olhar sobre o mundo e

denominando a América de Novo

Mundo.

(B) A combinação entre os

conhecimentos da cosmologia do

século XII com a ciência da

astronomia renascentista que

denominou de Novo Mundo ao

conjunto formado pela América, África

e Ásia.

(C) A renovação sobre o

conhecimento da natureza e o cosmos

realizada no Renascimento e que

atribui à América a denominação de

Novo Mundo.

(D) A reunião dos novos

conhecimentos da Renascença com a

cosmologia oriental, explicando o

porquê da América e da Ásia serem os

continentes denominados de Novo

Mundo.

(E) Os movimentos de circulação de

trocas, estruturados a partir das

necessidades que o Renascimento

tinha de aumentar a sua influência

sobre o mundo oriental, fazendo da

Ásia o Novo Mundo.

5. Unirio 2006. ―À descoberta do

mundo, a cultura do Renascimento

acrescenta um feito ainda maior, na

medida em que é a primeira a

descobrir e trazer à luz, em sua

totalidade, a substância humana.‖ (BURCKHARDT, Jacob. A Cultura do Renascimento na Itália. SP: Cia.das Letras, 1991, p. 226.)

O Renascimento - definição de um

conjunto de crenças e valores -

apresentou características culturais

comuns nas áreas européias, nas

quais se manifestou, entre os séculos

XIV e XVI. Identifique uma

característica do Renascimento

europeu neste período e explique-a.

Page 17: Historia Geral e do Brasil

18

Capítulo 5. As Reformas

religiosas

Apresentação - Nas primeiras

décadas do século XVI a Europa

ocidental conheceu uma série de

contestações das práticas da Igreja

Católica, que deram início a um

processo que acabaria por resultar no

que hoje chamamos reformas

religiosas. Tais reformas seriam

responsáveis pela quebra do

monopólio espiritual exercido pela

Igreja Católica na Europa sobre a

intermediação entre o homem e Deus

e pelo nascimento de uma série de

novas doutrinas que, apesar de

cristãs, em muito se difeririam dos

padrões estabelecidos pela Igreja

romana. As novas religiões ficaram

conhecidas como religiões

protestantes, em decorrência do tom

de protesto destas novas vertentes.

Para além do campo religioso, as

reformas protestantes expressavam

também o contexto da Europa da

época e a superação das estruturas

feudais em seus aspectos político-

sociais. Da mesma forma, elas

representavam a crise que já vinha se

manifestando desde os finais da Idade

Média, demonstrando a inadequação

da Igreja à nova realidade,

caracterizada pela decadências do

feudalismo, pelo renascimento das

cidades e do comércio, pela

centralização do poder político nas

mãos dos reis e pela ascensão da

burguesia. Outro fator preponderante

na eclosão das reformas foi o

Renascimento, e suas investidas

contrárias ao monopólio cultural

exercido pela Igreja Católica. O

Renascimento possibilitou a discussão

de novas visões de mundo diferentes

daquelas impostas pela Igreja até

então. As relações entre o

Renascimento e o advento das

reformas são estreitas, pois assim

como o primeiro, elas também

representaram uma adequação de

novos valores e concepções espirituais

às transformações econômicas, sociais

e culturais as quais a Europa do

Ocidente passava na época.

As motivações - As contestações ao

poder, aos dogmas e a algumas

práticas cometidas pela Igreja

Católica, como a venda de

indulgências (absolvição dos pecados)

e a simonia (realização de favores

divinos e venda de relíquias sagradas

por dinheiro), não eram raras na

Europa do século XVI. As

universidades, atuantes na Europa

desde o século XII, tornaram-se

meios para a difusão do pensamento

racional e de crítica à Igreja. Além

disso, no seio da própria instituição

católica, o desvirtuamento das regras

de vida religiosa era amplamente

percebido entre os eclesiásticos. Outra

questão remete ao papel

desempenhado pela Igreja como

grande detentora de terras e como a

instituição mais poderosa

politicamente e beneficiária da

decadente estrutura feudal. A prática

das chamadas investiduras leigas (a

investidura de cargos eclesiásticos por

determinação de um leigo,

normalmente um rei) acabou

acarretando sérios problemas à Igreja

que acabava, com esta prática,

gerando um clero despreparado para

exercer as suas funções religiosas e

incapaz de responder às necessidades

espirituais dos fiéis.

Erasmo de Roterdã: um dos maiores críticos das práticas da Igreja Católica no século XVI. Retrato pintado por Hans Holbeins, o Jovem.

O Humanismo e a Igreja – Nesse

panorama, cresciam as críticas

pronunciadas pelos humanistas

dirigidas à Igreja. No entanto, o

humanismo renascentista foi mais do

que o ressurgir das letras greco-

latinas, o movimento formulou um

Page 18: Historia Geral e do Brasil

19

novo conceito de homem e de mundo,

diferente daquele preconizado pela

Igreja e desenvolveu um agudo

espírito crítico, sobretudo em relação

aos problemas da sociedade. Nos

círculos humanistas, dentre outros,

filósofos Erasmo de Roterdã e Thomas

Morus criticavam o excessivo apego

aos bens materiais por parte da Igreja

e propunham a reforma da mesma,

defendendo um retorno às antigas

origens do cristianismo. Tais críticas

não eram novas, na Inglaterra, desde

o final do século XIV, John Wycliff

pregava o confisco dos bens da

Igreja, o voto de pobreza para os

membros do clero e um retorno às

Sagradas Escrituras como única fonte

da fé. No entanto, tais manifestações

não representavam uma falta de fé,

ao contrário, evidenciavam os anseios

de uma população insatisfeita com os

dogmas e o materialismo da Igreja.

A questão política - Outro fator que

contribuiu com a irrupção das

reformas foi a questão política. Com o

processo de centralização do poder,

alguns monarcas, na tentativa de se

fortalecerem politicamente, romperam

com a Igreja fundando uma nova

(como no caso de Henrique VIII na

Inglaterra) ou colocando novas igrejas

protestantes sob sua proteção, como

fizeram alguns príncipes alemães –

tanto para o rei inglês quanto para os

nobres alemães, muito agradava o

prospecto de confisco das amplas

posses de terra eclesiásticas e a

diminuição de interferências de ordem

religiosa na política que lhes dizia

respeito.

A posição da burguesia - Em

desacordo com o desenvolvimento do

comércio, os dogmas mantidos pela

Igreja, de condenação à usura e ao

lucro excessivo, representavam um

forte obstáculo às transações

comerciais burguesas. Dessa forma,

esse novo grupo social ascendente se

engajou no movimento reformista

buscando romper com os entraves

impostos pelo cristianismo romano,

adotando uma nova religião, na qual

suas práticas comerciais não se

constituíssem em pecados e fossem

consideradas como dignificantes do

homem. No Calvinismo,

especialmente, pode-se ver como as

reformas adquiriram um tom muito

mais amigável aos interesses

burgueses do que a tradicional

doutrina católica.

As reformas

A Reforma luterana – Martinho

Lutero era monge agostiniano e

professor de teologia na Universidade

de Wittenberg. Em 1517, Lutero fixou

na porta da catedral de sua cidade um

documento intitulado 95 Teses Contra

as Indulgências. Nele, Lutero criticava

não somente a venda de indulgências

(denunciando que o dinheiro das

indulgências era usado para financiar

o luxo do clero) mas também os

dogmas da Igreja. Ao afirmar que as

indulgências eram incorretas, pois o

fiel se salvaria não pelos atos que

praticava, mas somente pela fé,

Lutero incorria numa negação à

doutrina católica e praticava uma

heresia do ponto de vista da Igreja,

expondo-se assim à ação da

Inquisição. Defendia que a bíblia

deveria ser traduzida para os idiomas

vulgares – deixando, portanto, de ser

exclusiva sua leitura àqueles que

dominam o latim –, a relação direta

entre o homem e Deus e a diminuição

da importância da Igreja como uma

intermediária à salvação.

Excomungado pelo papa como herege

em 1520, foram os príncipes e a alta

nobreza alemã que ocultaram Lutero

num castelo da Saxônia, impedindo

sua execução. Fugindo da condenação

da Igreja, Lutero permaneceu

escondido por três anos traduzindo a

Bíblia do latim para o alemão, numa

forma de tornar seu conhecimento

mais difundido entre a população. Em

sua maioria, os príncipes alemães

declararam-se adeptos da nova

religião proposta por Lutero, dando

início a um longo processo de guerras

de religião na Alemanha. O

luteranismo triunfou na Alemanha, em

seguida passou a ser adotado

também na Suécia, em 1527, e na

Dinamarca e Noruega, em 1536,

como forma de afirmação dos poderes

reais contra a interferência da Igreja

de Roma

Page 19: Historia Geral e do Brasil

20

A reforma calvinista - Fugindo da

perseguição aos protestantes na

França, João Calvino refugiou-se na

Suíça. Em 1536, publicou sua obra

Instituição da Religião Cristã, na qual

apresentava uma ruptura bem mais

sensível com os dogmas católicos do

que as idéias de Lutero. Segundo as

formulações de Calvino, a salvação só

se alcançava pela fé, todavia, ela

poderia ser concedida por Deus a

alguns eleitos (teoria da

predestinação), uma vez que, o

homem era pecador por natureza e só

Deus poderia livrá-lo dessa condição.

A exemplo do luteranismo, dos

sacramentos católicos somente o

batismo e a eucaristia foram

conservados, e as prerrogativas da

igreja foram amplamente reduzidas.

As concepções religiosas de Calvino

iam diretamente ao encontro das

aspirações da sociedade burguesa de

Genebra, por exaltar as qualidades do

trabalho e o sucesso econômico como

práticas bem vistas aos olhos de

Deus. As idéias de Calvino difundiram-

se rapidamente, muito mais do que as

idéias luteranas, o que é outra mostra

de sua consonância com a sociedade

urbana da época. Na França, os

calvinistas foram chamados de

huguenotes. Na Inglaterra, pelo tipo

de comportamento preconizado pelos

calvinistas, marcado pela austeridade,

inclusive no vestir e pela dedicação

fundamental ao trabalho, eles foram

chamados de puritanos. Na Escócia,

onde as idéias calvinistas foram

introduzidas por John Knox, a Igreja

calvinista foi organizada a partir de

conselhos de pastores, os presbíteros,

daí a designação de presbiterianos.

Tanto no Calvinismo quanto no

Luteranismo predomina a idéia de que

o livre-arbítrio e a razão foram

concedidos aos homens por Deus,

tornando ilógica a premissa de que

Deus fosse condená-lo por agir

racionalmente e livremente, desde

que não ferisse o próximo ou violasse

seus ensinamentos.

A reforma anglicana – A razão

principal o confronto entre a

monarquia inglesa e a Igreja Católica

está relacionada a uma questão

política e dinástica. Casado com a

nobre espanhola, Catarina de Aragão,

Henrique VIII tivera com ela uma

filha, Maria. Impossibilitada de ter

outros filhos, Catarina criava uma

situação potencialmente perigosa para

a monarquia inglesa. Sem filhos

homens (o trono inglês jamais fora

ocupado até então por uma mulher),

o rei queixava-se do risco de morrer

sem um herdeiro, o que tornaria o rei

da Espanha e Imperador do Sacro

Império, Carlos V, sobrinho de

Catarina, um dos pretendentes ao

trono inglês. Prevendo a negativa da

Igreja, Henrique VIII, alegando a

necessidade de um herdeiro, solicitou

ao papa a anulação de seu casamento

com Catarina. Ante a recusa papal, o

rei inglês anulou por conta própria seu

casamento, desposando, em seguida,

Ana Bolena. Excomungado pelo papa,

em 1534, Henrique VIII decretou o

Ato de Supremacia, por meio do qual

ele criou uma Igreja nacional

chamada Igreja Anglicana e tornara-

se seu único chefe. Além disso,

confiscou os bens do clero católico na

Inglaterra, distribuindo-os

especialmente entre a gentry, a

camada de pequenos e médios

proprietários rurais, o que lhe

assegurou uma ampla base de apoio.

Henrique VIII o fundador da Igreja Anglicana na

Inglaterra.

A Reforma anglicana completou-se no

reinado de Elizabeth I (1558-1603)

com a Lei dos 39 Artigos de 1563.

Adotou-se o calvinismo como

conteúdo doutrinário, mas manteve-

se a forma católica, preservando-se a

hierarquia episcopal e parte da

Page 20: Historia Geral e do Brasil

21

liturgia.

A Contra-Reforma Católica – A

contínua expansão do protestantismo

por toda Europa colocou a Igreja

Católica em uma situação crítica. Por

isso, a Igreja reagiu impondo uma

reforma para moralizar o clero e

intensificar com novos métodos, o

combate às novas religiões. A

fundação por Ignácio de Loyola, em

1534, da Companhia de Jesus

revelou-se fundamental para a

realização da Reforma católica. Os

Jesuítas ou Soldados de Cristo, como

ficaram conhecidos, devotavam uma

cega obediência ao papa e, visando a

reforma da Igreja, encarregaram-se

de organizar um concílio, o Concílio de

Trento (1545-1563).

Ignácio de Loyola: fundador da Companhia de

Jesus.

O Concílio de Trento – Esse concílio

reuniu-se, em três diferentes sessões

ao longo de 18 anos, entre 1545 e

1563, reuniu representantes de toda

Igreja e teve como objetivo reformar

a mesma. Embora os dogmas

católicos não sofressem alteração, de

acordo com os decretos desse

concílio: o princípio da salvação pelas

boas obras foi confirmado; o culto à

Virgem e aos santos foi reafirmado; a

infalibilidade papal e o celibato clerical

e a indissolubilidade do casamento

foram mantidos. Com a Igreja

revigorada, os católicos dedicaram-se

à Contra-Reforma com o sistemático

combate às religiões protestantes. A

Igreja buscou reconquistar, por meio

da educação, as áreas perdidas para o

protestantismo, com a coordenação

dos jesuítas, vários colégios fundados

na Europa ficaram encarregados do

ensino primário. Mas, o maior êxito da

Contra-Reforma se deu pela difusão

do catolicismo entre os povos pagãos,

por meio da catequese. Graças ao

controle ibérico sobre a maior parte

da América, as populações indígenas

foram convertidas, e os esforços,

especialmente dos jesuítas,

conseguiram novas conversões na

China e no Japão, embora com

resultados mais modestos e

passageiros.

O Tribunal da Santa Inquisição -

Visando combater o protestantismo,

em 1542, o papa Paulo III (1534-

1549) reativou a Inquisição (ou

Tribunal do Santo Ofício). Dominada

pelos dominicanos, ela conseguiu,

utilizando-se de métodos violentos,

conter o avanço protestante na Itália,

na Espanha e em Portugal. Nos países

ibéricos, o apoio das casas reais foi

fundamental para conter o avanço do

protestantismo. Em 1543, foi

elaborado o Index Librorum

Prohibitorum, um catálogo que

descriminava obras de leitura proibida

aos católicos – entre estas muitos

livros de autores clássicos como

Aristóteles e Platão, muito valorizados

pelos humanistas do Renascimento.

Questões de Vestibular 1. UFF 2000. As reformas religiosas,

protestante e católica, indicaram,

simbolicamente, a vitória da

quaresma sobre o carnaval, pois:

(A) apontavam uma nova ordem

social apoiada no projeto de

eliminação da miséria, da implantação

da tolerância e da afirmação dos

valores burgueses;

(B) acentuavam o caráter de

reerguimento moral oriundo das

críticas ao mundanismo do clero

católico e às desordens sociais

decorrentes das disputas teológicas,

do medo do diabo e das atitudes

místicas que rompiam com os

procedimentos hierárquicos da Igreja

Católica;

(C) praticavam a repressão à cultura

popular, proibindo qualquer

Page 21: Historia Geral e do Brasil

22

manifestação cultural que pudesse

ridicularizar a Igreja e introduziam o

carnaval no calendário oficial da vida

civil;

(D) reproduziam o novo pensamento

religioso, mais aberto para as

reivindicações sociais e preocupado

com a formação dos estados

estamentais;

(E) reivindicavam um modo de vida

contemplativa, no qual o exame de

consciência e o livre arbítrio adquiriam

um lugar central na formação da

vocação religiosa.

2. UNIRIO 2007. O movimento de

reforma da religião católica surgido na

Europa, ao longo do século XVI,

buscou alterar o catolicismo medieval

em virtude das mudanças culturais

decorrentes da nova visão de mundo

surgida e consolidada com o

renascimento. Uma característica do

movimento reformista desse período é

identificada em

a) a reforma luterana significou uma

ruptura com os valores da cultura

religiosa medieval, dentre os quais

destacamos a utilização do alemão em

lugar do latim nos cultos religiosos.

b) o calvinismo representou uma

crítica moderada à Igreja de Roma,

pois condenou o lucro obtido com as

atividades comerciais, mas manteve o

dogma medieval da predestinação.

c) a reação reformista da Igreja, ou

Contra-Reforma, se manifestou na

convocação do Concílio de Trento, a

partir de 1545, que modernizou suas

práticas e doutrinas, destacadamente

com o reconhecimento da livre

interpretação da Bíblia.

d) a Reforma anglicana,

desencadeada na Inglaterra por

Henrique VIII, permitiu ao rei inglês

renovar a fé puritana sem romper

com o papado.

e) a criação da Companhia de Jesus,

em 1534, significou o retorno do

catolicismo à reclusão monástica e ao

ensino religioso, conforme os

princípios do catolicismo defendidos

pelo Vaticano.

3. UERJ 2009. As relações entre a

pregação protestante e as estruturas

políticas então existentes foram

muitas vezes decisivas tanto para os

destinos da pregação em si quanto

para os rumos afinal tomados pela

organização das novas Igrejas.

O texto acima se refere a processos

da Reforma Religiosa ocorridos na

Europa. O movimento reformista,

entretanto, conheceu diferentes

reações em distintas áreas.

Indique duas causas para a Reforma

Religiosa na Inglaterra e uma

conseqüência econômica desse

movimento.

Page 22: Historia Geral e do Brasil

23

Capítulo 6. A colonização da

América A América Pré-colombiana -

Estima-se entre 80 a 100 milhões o

número de habitantes do continente

americano no momento da chegada

dos europeus a partir de 1492. Havia

grupos em vários estágios de

desenvolvimento, desde grupos

seminômades – que usavam a

agricultura de maneira não

generalizada, como os índios

encontrados no Brasil – até as

grandes civilizações Inca e Asteca. Os

maias tinham como organização a

cidade-estado e desapareceram como

civilização antes da chegada dos

europeus. Os incas e astecas se

organizavam em grandiosos impérios

onde hoje ficam os territórios do Peru

e do México, respectivamente. Ambas

as civilizações foram conquistadas

pelos espanhóis.

A conquista e a colonização

A Conquista - Se no final do século

XV existiam por volta de 100 milhões

de habitantes na América, no final do

século XVI, em virtude das

consequências da conquista europeia,

os indígenas não passavam de 10

milhões. As duas grandes civilizações

foram dominadas e seus complexos

sistemas produtivos e políticos foram

apropriados pelos espanhóis. Milhões

de índios foram escravizados pelos

conquistadores. A violência da invasão

fez também minguar e até

desaparecer as culturas de alguns

desses povos, na medida em que se

impunham, pela força, os valores

europeus.

Ilustração de Theodore de Bry, composta para a

obra do Frei Bartolomeu de Las Casas, escrita no século XVI. O monge dominicano denunciara na época à monarquia espanhola, a violência dos colonizadores espanhóis contra os

ameríndios.

O Colonialismo - A colonização da

América se deu dentro do quadro do

mercantilismo europeu e buscava o

enriquecimento da nação

metropolitana. De acordo com a

política colonialista vigente, a colônia

deveria se especializar na produção

de produtos primários de alto valor no

mercado europeu, como ouro, prata,

açúcar, tabaco, algodão, cacau, etc.

Através do exclusivo comercial esses

produtos só podiam ser vendidos a

baixos preços para a metrópole

colonizadora, que revenderia os

mesmos no mercado europeu. A

metrópole vendia também seus

produtos manufaturados para as

colônias e estas eram proibidas de

produzir qualquer artigo que

concorresse com a produção da

metrópole. De igual importância era o

lucrativo comércio de mão-de-obra, o

tráfico de escravos africanos e

indígenas que beneficiava

comerciantes metropolitanos e locais.

Esses princípios norteavam todas as

colonizações na América, com a

exceção de regiões conquistadas, mas

não colonizadas, como o Norte das

Treze Colônias inglesas e outras

poucas regiões da América.

A Colonização portuguesa - Um

pouco mais tardia que a espanhola, se

especializou nos primeiros séculos da

colonização, na produção de produtos

agrícolas, como a cana-de-açúcar e

derivados na costa Nordeste do Brasil,

utilizando-se do trabalho escravo

indígena e africano. No XVIII, foi a

atividade mineradora de ouro e

diamante no interior do território, que

caracterizou a principal atividade

econômica do pacto colonial na

América portuguesa.

A Colonização francesa - Iniciada

desde o século XVI, aconteceu em

regiões teoricamente já dominadas

pelas potências ibéricas, como Quebec

(leste do atual Canadá), Louisiana

(atual região dos EUA), na costa

portuguesa (fundando cidades como

Rio de Janeiro e São Luiz, depois

Page 23: Historia Geral e do Brasil

24

reconquistadas pelos portugueses), no

Haiti e outras localidades. No século

XVIII, desenvolveu uma poderosa

produção açucareira, com mão-de-

obra escrava no atual Haiti.

A Colonização inglesa – Iniciada

somente no século XVII,

majoritariamente na costa leste da

América do Norte. Na parte mais ao

sul do território se desenvolveu a

colonização moldes tradicionais com

grandes latifúndios, trabalho escravo

e a produção, principalmente de

monoculturas, para exportação. No

norte do território se estabeleceu

outro tipo de colonização na qual não

vigorava o exclusivo comercial e não

havia um rígido controle

metropolitano, nessa região

vigoraram as pequenas propriedades

com o cultivo da policultura para o

mercado interno, e a utilização de

mão-de-obra livre.

A Colonização holandesa -

Conquistou territórios nas Antilhas e

no norte da América do Sul (atual

Suriname), e nessas regiões

implementou o cultivo da cana-de-

açúcar. Fora dessas regiões, ocupou o

Nordeste da América portuguesa

entre 1630 e 1654.

A colonização espanhola - Segundo

o Tratado de Tordesilhas de 1494 a

Espanha ficaria com a maior parte do

continente americano. A viagem de

Colombo à América em 1492 trouxe à

Espanha perspectivas de

enriquecimento, já que Colombo

acreditava ter encontrado um novo

caminho para as Índias. Nas

expedições seguintes, o navegador

manteve a mesma crença e conforme

procurava as riquezas orientais

fundou vilas e povoados, iniciando a

ocupação da América. Os espanhóis

foram o primeiro povo europeu a

chegar às novas terras, o primeiro a

achar grandes riquezas e a dar início à

colonização no início do XVI. Ao

chegarem, logo descobriram ouro (no

México asteca) e prata, no Império

Inca, regiões do atual Peru e Bolívia.

A metrópole espanhola organizou uma

grande empreitada mineradora,

usando a mão-de-obra compulsória

indígena, seguindo formas de trabalho

que já existiam na região antes da

chegada dos europeus. Outras áreas

da América hispânica se

especializaram na pecuária,

agricultura e atividade portuária em

função das áreas mineradoras. Logo

após empreenderem um sangrento

processo de dominação das

populações ameríndias, os espanhóis

efetivaram o seu projeto colonial nas

terras a oeste do Tratado de

Tordesilhas. Para isso montaram um

complexo sistema administrativo

responsável por gerenciar os

interesses da Coroa espanhola em

terras americanas.

A estrututa política metropolitana

- O processo de exploração da

América colonial foi marcado pela

pequena participação da Coroa,

devido a preocupação espanhola com

os problemas europeus, fazendo com

que a conquista fosse comandada pela

iniciativa particular, mediante o

sistema de capitulações. As

capitulações eram contratos em que a

Coroa concedia permissão para

explorar, conquistar e povoar terras,

fixando direitos e deveres recíprocos.

Surgiram assim os adelantados, que

eram os responsáveis pela colonização

e que acabaram exercendo o poder de

fato nas terras coloniais. No entanto,

à medida que se revelavam as

riquezas do Novo Mundo, a Coroa

passou a centralizar o processo de

colonização, anulando as concessões

feitas aos particulares. A partir de

então as regiões exploradas foram

divididas em quatro grandes vice-

reinados:

Nova Espanha: México – mineração

de ouro e prata.

Nova Granada: América Central –

economia baseada na agricultura.

Peru: Peru e Bolívia – mineração de

ouro e prata.

Rio da Prata: Paraguai, parte do

Uruguai e Argentina – economia

baseada na pecuária e controle do

escoamento das demais regiões para

a metrópole.

Além dessas grandes regiões, havia

outras quatro capitanias: Chile, Cuba,

Guatemala e Venezuela. Dentro de

cada uma delas, havia um corpo

Page 24: Historia Geral e do Brasil

25

administrativo comandado por um

vice-rei e um capitão-geral

designados pela Coroa. No topo da

administração colonial havia um órgão

dedicado somente às questões

coloniais: o Conselho Real e Supremo

das Índias. O Conselho das Índias

deliberava sobre as decisões políticas

em relação às colônias, nomeando

vice-reis e capitães gerais,

autoridades militares, e judiciais.

Foram criados ainda os cargos de

juízes de residência e de visitador. O

Primeiro, responsável por apurar

irregularidades na gestão da colônia;

o segundo, por fiscalizar um vice-

reino, para apurar abusos cometidos.

A estrututa econômica

metropolitana - Todos os colonos

que transitavam entre a colônia e a

metrópole deviam prestar contas à

Casa de Contratação, que recolhia

os impostos sob toda riqueza

produzida. Sediada em Sevilha, ela

era responsável pelo controle de todo

o comércio realizado com as colônias

da América e foi responsável pelo

estabelecimento do regime de Porto

Único, ou seja, apenas um porto na

metrópole, a princípio Sevilha e

depois Cadiz, poderia realizar o

comércio com as colônias, enquanto

na América destacou-se o porto de

Havana, com permissão para o

comércio metropolitano e anos depois

os portos de Vera Cruz (México) ,

Porto Belo (Panamá) e Cartagena

(Colômbia). Foi desenvolveu ainda

pela administração metropolitana o

sistema de frotas anuais (duas);

desde 1526 havia a proibição dos

barcos navegarem isoladamente.

Estrutura social na América Espanhola

Chapetones - Eram os responsáveis

pelo cumprimento dos interesses da

metrópole na colônia, eram todos

espanhóis e compunham a elite

colonial.

Criollos - Eram os filhos de espanhóis

nascidos na América. Dedicavam-se à

grande agricultura e ao comércio

colonial. Sua esfera de poder político

era limitada à atuação junto às

câmaras municipais, mais conhecidas

como cabildos. Os cabildos ou

ayuntamientos eram equivalentes às

câmaras municipais do Brasil. Eram

formadas por elementos da elite

colonial, subordinados as leis da

Espanha, mas com autonomia para

promover a adminisrtração local.

Mestiços, índios e escravos -

Encontravam-se na base da sociedade

colonial espanhola. Os primeiros

realizavam atividades auxiliares na

exploração colonial e, em alguns

casos, exerciam as mesmas tarefas

que índios e escravos. Os escravos

africanos eram minoria,

concentrando-se nas regiões centro-

americanas. A população indígena foi

responsável por grande parte da mão-

de-obra empregada nas colônias

espanholas.

Alguns pesquisadores apontam que a

relação de trabalho na América

Espanhola era escravista. Para burlar

a proibição eclesiástica a respeito da

escravização do índio, os espanhóis

adotavam a mita e a encomienda. A

mita era o trabalho compulsório em

que parcelas das populações

indígenas eram utilizadas para uma

temporada de serviços prestados. Já a

encomienda funcionava como uma

―troca‖ na qual os índios recebiam em

catequese e alimentos por sua mão-

de-obra. No final do século XVIII, com

a disseminação do ideário iluminista e

a crise da Coroa Espanhola (devido às

invasões napoleônicas) iniciou-se o

processo de independência que poria

fim ao pacto colonial.

Questões de Vestibular

1. UFF 2002. Durante o

Renascimento, o Mundo Ibérico

caracterizou-se por sua política de

descobrimentos e de colonização do

Novo Mundo. Sobre as relações

coloniais na área de expansão

espanhola no Novo Mundo, afirma-se:

I) A Casa de Contratación era uma

entidade com sede em Sevilha que se

encarregava de organizar o comércio

na América e cobrar a parte real nas

Page 25: Historia Geral e do Brasil

26

transações com metais preciosos (o

quinto).

II) O domínio espanhol sobre Portugal

foi parte da política expansionista de

Felipe II.

III) A criação dos vice-reinos teve

como um dos objetivos manter os

colonizadores sob a direção

metropolitana.

IV) A enorme extensão dos domínios

da Espanha na América e a força dos

interesses particulares dos colonos

prejudicaram a política

descentralizadora de Castela.

As afirmativas que estão corretas são

as indicadas por:

(A) I, II e III

(B) I e III

(C) I, III e IV

(D) I e IV

(E) II, III e IV

2. Unirio 2006. A colonização

européia sobre o continente

americano ao longo dos séculos XVI,

XVII e XVIII, manifestou-se em

formas variadas de ocupação da terra

e de exploração do trabalho que

criaram uma diversidade sócio-

econômica na América Colonial. A

alternativa que apresenta

corretamente uma afirmativa sobre a

colonização européia no continente

americano é:

a) Na América espanhola, a extração

nas minas de ouro e prata utilizou o

trabalho indígena forçado e de baixa

remuneração através da ―mita‖, o que

favoreceu o extermínio da população

indígena, enquanto a ―encomienda‖

utilizava escravos de origem africana

nas fazendas.

b) Na América inglesa, as colônias de

povoamento constituíram-se a partir

de latifúndios exportadores que

incrementaram as práticas comerciais

livres desenvolvidas a partir do

extrativismo de produtos locais

altamente rentáveis no comércio

europeu, tais como madeira e peles.

c) Na América inglesa, as colônias de

exploração favoreceram o

desenvolvimento de atividades

econômicas, baseadas no trabalho

livre, que forneciam produtos

manufaturados para o mercado

interno americano e caribenho.

d) Na América portuguesa, a

ocupação e o povoamento da terra

baseou-se no estabelecimento de

monopólios metropolitanos exercidos

por um grupo mercantil dedicado

à exploração econômica e

administrativa da colônia.

e) Na América francesa, a ocupação

territorial foi promovida a partir de

pequenas e médias propriedades

agrícolas, exploradas com base no

trabalho de escravos e colonos,

controladas pelas Companhias de

Comércio e Navegação

francesas e holandesas.

3. UFRJ 2007.

Período Km2

conquistados

1493-1515 300.000

1520-1540 2.000.000

1540-1600 500.000 Chaunu, Pierre. Conquista y explotación de los nuevos mundos (siglo XVI). Barcelona:Editorial Labor, 1973, p. 15.

Embora represente um dos traços

mais característicos da Conquista

espanhola do Novo Mundo, a rapidez

com que tal processo ocorreu variou

muito, em etapas bem diferenciadas,

como mostram os dados da tabela.

Cite uma região americana

incorporada à Coroa espanhola

durante a etapa inicial da Conquista e

outra, importante área mineradora, a

ela reunida ao longo do estágio mais

veloz da ocupação espanhola. A

Europa da passagem do século XVII

para o XVIII.

Page 26: Historia Geral e do Brasil

27

Capítulo 7. A Revolução

Inglesa

Apresentação - A partir do século

XVII, a burguesia européia passou a

comandar movimentos radicais que

buscavam superar as últimas bases do

feudalismo e construir um novo

modelo de Estado e uma nova

sociedade — a capitalista. Esses

movimentos ficaram conhecidos como

Revoluções Burguesas. Os dois

principais exemplos de Revoluções

Burguesas são a Inglesa (século XVII)

e a Francesa (século XVIII). O avanço

das forças capitalistas na Inglaterra,

as limitações político-econômicas

impostas à burguesia, a associação de

interesses entre a burguesia e a nova

nobreza (gentry), além do

absolutismo dos reis Stuart,

representam algumas razões que

propiciaram a eclosão das Revoluções

Inglesas do século XVII.

A Revolução (ou revoluções) Inglesa

do século XVII se deu entre 1640 e

1688 e marca o fim do regime

absolutista na Inglaterra – que foi o

primeiro grande país europeu a por

fim à monarquia absoluta. Não à toa,

foi também o primeiro país

industrializado do mundo e a maior

potência do século XIX. Vejamos

através do desenvolvimento do país

desde o fim da Idade Média porque

isso ocorreu primeiramente na Grã-

Bretanha.

Os antecedentes

A Magna Carta e o parlamento -

Desde a Baixa Idade Média, a nobreza

britânica não aceitava facilmente a

centralização do poder nas mãos da

Coroa. Através da Magna Carta de

1215, os nobres ingleses exigiram a

criação de um parlamento – que no

século XIV seria dividido entre

Câmara dos Lordes e Câmara dos

Comuns – para limitar o poder real.

O cercamento dos campos - A

partir do século XIV, a Inglaterra

passou a ser um grande criadouro de

ovelhas para exportação de lã para a

Holanda. Para potencializar esse

comércio, expulsaram-se os

camponeses de suas terras e

transformaram-se antigas

propriedades coletivas em privadas

(pertencentes aos nobres), formando

os chamados cercamentos dos

campos - enclousures. Os

camponeses sem terra passam a

trabalhar por salários ou a arrendar

terras dos novos proprietários. É

importante ressaltar a violência dessa

política que gerou inúmeras revoltas

no campo e a dura repressão do

Estado sobre as mesmas.

As manufaturas - Aos poucos se

desenvolveram também nessas áreas

rurais diversas manufaturas de lã e,

em menor escala, de outros produtos.

A mão-de-obra ―desocupada‖ dos

camponeses expropriados de suas

terras foi largamente utilizada nessas

manufaturas, existindo, inclusive, leis

que obrigavam esses indivíduos a

trabalhar em regime de semi-

escravidão.

A Guerra das Duas Rosas e o

absolutismo – Foi uma guerra civil,

travada entre 1453-1485, pela

disputa do trono inglês entre duas

casas reais: a de Lancaster, cujo

brasão tem uma rosa vermelha, e a

de York, que tem como símbolo uma

rosa branca. Ao final da guerra, a

nobreza estava enfraquecida e

Henrique Tudor assumiu o trono

inglês com o nome de Henrique VII, o

novo rei deu início a dinastia Tudor

(1485-1603) e implantou o

absolutismo na Inglaterra.

A questão religiosa - As tensões

sociais e a situação da monarquia

inglesa se agravaram quando, em

1603, a dinastia Stuart chegou ao

poder. De forte tradição católica e

empenhada em reforçar as bases do

regime absolutista, a família Stuart

acabou alimentando disputas de

caráter econômico e religioso. Desse

modo, as questões religiosas entre

católicos e protestantes se

intensificaram dando início às disputas

entre o Parlamento (defensor de uma

política liberal e composto

majoritariamente por burgueses

Page 27: Historia Geral e do Brasil

28

protestantes) e os reis da Dinastia

Stuart (católicos conservadores que

procuravam ampliar seu poder

político). O autoritarismo dos Stuart

contribuiu para que novos conflitos

surgissem na Inglaterra. Diante de tal

situação, o parlamento (não

conseguindo empreender reformas

que acabassem com os conflitos

religiosos e minimizar o problemas

econômicos) buscou o apoio popular

para travar uma guerra civil que

marcou as primeiras etapas do

processo revolucionário inglês.

As Revoluções inglesas

A Revolução puritana (1642-49) -

A Inglaterra foi o primeiro país a

promover uma revolução burguesa.

No início do século XVII, a burguesia

opôs-se aos reis da dinastia Stuart

devido à tentativa de legitimação do

absolutismo real, as perseguições

religiosas e ao controle da economia.

O reinado de Carlos I (1625-49) foi de

forte perseguição aos puritanos e

concentração do poder real. A

Revolução Puritana consiste, desse

modo, no confronto entre o

Parlamento (dominado pela burguesia

puritana e pela gentry - a nova

nobreza) e o rei Carlos I, esse último,

apoiado pelos cavaleiros. A guerra

civil, iniciada em 1642, e as

divergências entre o exército e alguns

setores do Parlamento culminaram na

proclamação da República em 1649.

Protetorado (ou República) de

Cromwell (1649-1658) - A curta

fase republicana da Inglaterra

consiste numa ditadura controlada

pelo líder do exército, Oliver

Cromwell. Durante a República,

Cromwell baixou os Atos de

Navegação, que nada mais eram do

que a instituição de práticas

mercantilistas que favoreceram a

indústria naval e o comércio marítimo

inglês, atingindo diretamente a

Holanda e a Espanha. Além disso, no

governo de Cromwell colonizou-se a

Jamaica e incentivou-se a marinha

mercante, dando grande força ao

comércio britânico.

A restauração monárquica (1660-

1688) e a Revolução Gloriosa

(1688-1689) - Com a morte de

Cromwell, Em 1659, a monarquia foi

restaurada a ―convite‖ do Parlamento

que conduziu ao trono o rei Carlos II.

Inicialmente, o governo de Carlos II

expandiu as atividades comerciais e

industriais inglesas, no entanto, as

velhas rixas entre o rei e o

Parlamento reapareceram. Em 1685,

com a morte de Carlos II, assumiu o

trono seu irmão Jaime II. Católico,

Jaime tentou ampliar seus poderes e

beneficiar a população católica da

Inglaterra. Organizando um golpe

contra o rei, em 1688, o parlamento

convocou sua filha Maria Stuart com o

intuito de fazer ascender ao trono

inglês seu marido, Guilherme de

Orange, governador das Províncias

Unidas (Holanda). Encurralado, o rei

Jaime II buscou refúgio na França.

Sem recorrer à violência, tal

transformação política passou a ser

chamada Revolução Gloriosa. O novo

rei teve que reconhecer diante do

parlamento o Ato de Tolerância

(Toleration Act) e a Declaração dos

Direitos (Bill of Rights). De acordo

com a Declaração dos Direitos, as

eleições parlamentares aconteceriam

regularmente e nenhuma lei

parlamentar poderia mais ser vetada

pela autoridade real. Definia-se assim

a supremacia do Parlamento sobre o

poder real, acabava-se com o

absolutismo inglês e lançava-se a

base da monarquia parlamentar.

Questões de Vestibular 1. UERJ 2009. O rei é vencido e

preso. O Parlamento tenta negociar

com ele, dispondo-se a sacrificar o

Exército. A intransigência de Carlos, a

radicalização do Exército, a inépcia do

Parlamento somam-se para impedir

essa saída ―moderada‖; o rei foge do

cativeiro, afinal, e uma nova guerra

civil termina com a sua prisão pela

segunda vez. O resultado será uma

solução, por assim dizer,

moderadamente radical (1649): os

presbiterianos são excluídos do

Parlamento, a Câmara dos Lordes é

extinta, o rei decapitado por traição

Page 28: Historia Geral e do Brasil

29

ao seu povo após um julgamento

solene sem precedentes, proclamada

a República; mas essas bandeiras

radicais são tomadas por generais

independentes, Cromwell à testa, que

as esvaziam de seu conteúdo social.

O texto faz menção a um dos

acontecimentos mais importantes da

Europa no século XVII: a Revolução

Puritana (1642-1649). A partir

daquele acontecimento, a Inglaterra

viveu uma breve experiência

republicana, sob a liderança de Oliver

Cromwell. Dentre suas realizações

mais importantes, destaca-se a

decretação do primeiro Ato de

Navegação.

Explique a importância do Ato de

Navegação para a economia inglesa e

aponte duas ações políticas da

República Puritana.

2. UFRJ 2009. “Quando o amor-

próprio [egoísmo] começou a crescer

na terra, então começou o Homem a

decair. Quando a humanidade

começou a brigar sobre a terra, e

alguns quiseram ter tudo e excluir os

demais, forçando-os a serem seus

servos: foi essa a Queda de Adão”. (Adaptado de HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 169)

a) Explique por que podemos associar

o texto acima às correntes mais

radicais que atuaram na Revolução

Inglesa de 1640.

b) O texto acima pretende, à luz da

Bíblia, discutir algumas tensões

próprias da sociedade inglesa do

século XVII. Cem anos antes, o

mesmo procedimento esteve presente

nas rebeliões dos camponeses

anabatistas alemães. Analise uma

diferença entre o ideário anabatista e

o luterano no que se refere à

autoridade dos príncipes.

Page 29: Historia Geral e do Brasil

30

Capítulo 8. A Revolução

Científica e o Iluminismo

Apresentação - Na história da

ciência encontram-se muitas teorias

que diferem na intensidade com que

influenciaram o pensamento humano.

Algumas representaram profundas

modificações na forma humana de

pensar e experimentar a natureza.

Chamamos de Revolução Científica

o período que se inicia a partir do

século XVII, quando alguns

pensadores, como Galileu Galilei,

divulgaram suas descobertas

cientificas e, com seus estudos,

contribuíram para separar a ciência da

filosofia e dar à primeira um

tratamento empírico.

Já no campo político, na Europa do

século XVIII, predominavam as

monarquias absolutistas e apenas a

Inglaterra era regida por uma

monarquia constitucional. Apesar da

grande difusão das idéias iluministas,

inclusive nos projetos políticos de

alguns governos (despotismo

esclarecido), esse século foi marcado

por grandes contrastes sociais que

culminariam, na França, com a

Revolução de 1789.

A ciência moderna O método científico – Desde o

século XVI, novas descobertas vinham

modificando significativamente o

campo da ciência. Algumas teorias,

até então aceitas (como a teoria

geocêntrica), começaram a ser

questionadas e abandonadas. O

século XVII foi marcado pelo

aparecimento do método científico

moderno, com o qual condenava-se a

tradição e todas as formas de

conhecimento não racionais. O filosofo

francês René Descartes foi um dos

precursores desse novo movimento

cientifico, que considera a razão a

única via segura para a construção do

conhecimento do mundo.

O avanço científico - Estudos

produzidos entre os séculos XVI e

XVII ajudaram a institucionalizar essa

nova forma de conhecimento. Durante

esse período foram realizados

importantes avanços científicos em

vários campos. Os trabalhos de

Copérnico, Galileu e Kepler

revolucionaram a astronomia; os de

Descartes a matemática e os de

Newton, a física. O aparecimento de

instrumentos técnicos como o

telescópio e o microscópio

contribuíram para novas descobertas

e o desenvolvimento das ciências.

Graças a esse movimento, foram

lançadas as bases do método

científico moderno. A partir dos

estudos de Descartes, o empirismo

(doutrina segundo a qual todo

conhecimento provém unicamente da

experimentação), e a sistematização

passaram a ser considerados os

pilares da ciência moderna.

A Ilustração

O Iluminismo ou Ilustração - Foi

um movimento que reuniu um grupo

de pensadores do século XVIII, que

começaram a se mobilizar em torno

da defesa de idéias que pautavam a

renovação de práticas e instituições

vigentes na Europa. Refletindo sobre

questões filosóficas que pensavam a

condição humana, o movimento

iluminista defendeu a liberdade do

indivíduo, o racionalismo, o progresso

do homem, o fim do Antigo Regime e

o anticlericalismo. Desse modo, os

pensadores ilustrados denunciaram a

injustiça social, a doutrinação

religiosa, o estado absolutista e todos

os artifícios e vícios de uma sociedade

corrompida que não reconhecia o

―direito natural‖ do homem à

felicidade. Destacam-se ainda como

valores morais do Iluminismo a

tolerância, o humanismo, a ênfase no

livre-arbítrio do homem e a

valorização da natureza.

Quadro geral - O Iluminismo foi um

movimento político, cultural e

filosófico fortemente marcado pela

postura crítica e o racionalismo, que

defendia a razão único caminho para

trazer "luz" e conhecimento à

sociedade moderna. Alguns de seus

idealizadores, como Rousseau,

pleiteavam a propagação do

conhecimento e da educação a todas

as camadas sociais como o meio ideal

para construir uma sociedade melhor.

Page 30: Historia Geral e do Brasil

31

Nessa empreitada, o desenvolvimento

da ciência deveria garantir o

desvelamento dos mistérios do

mundo. O Iluminismo é considerado

também uma visão burguesa da

realidade, uma vez que, dentre suas

obras destacam-se muitos escritos

sobre política e discussões sobre a

existência de uma forma ideal de

governo. Dentre suas principais

reivindicações, encontra-se o fim do

absolutismo na França assim como

tinha ocorrido na Inglaterra. Essa

corrente de pensadores ficou

conhecida como iluministas e o século

XVIII, como o "Século das Luzes".

Locke (1632-1704) e a Revolução

Gloriosa - John Locke, que pode ser

considerado um precursor da

Ilustração no século XVII, foi um

pensador inglês que escreveu seu

principal livro (Tratado do Governo

Civil) logo após a Revolução Gloriosa

na Inglaterra de 1688, legitimando-a.

Segundo Locke, todo povo tinha o

direito de escolher seu governante,

sendo conseqüentemente a revolução

legítima em casos de mau governo, e

as principais funções do Estado

deveriam ser a defesa da propriedade

privada e das liberdades individuais.

Foi esse liberalismo político que mais

influenciou os iluministas franceses.

François-Marie Arouet (1694-1778), conhecido

pelo pseudônimo Voltaire, retratado aos 24

anos, por Nicolas de Largillière.

Voltaire (1694-1778) - Escreveu as

Cartas Inglesas, obra que não pode

ser chamada de um estudo teórico,

mas um panfleto contra o absolutismo

francês. Em seus escritos

apresentam-se sua postura

profundamente anticlerical,

antiabsolutista e sua admiração pela

monarquia liberal inglesa.

Montesquieu (1689-1755) - Para

esse filósofo, cada povo tem o

governo que lhe cabe, escreveu isso

em sua obra O Espírito das Leis. Dizia

que o absolutismo na França não

condizia com o anseio do povo

francês, que queria um regime

constitucional. Sua grande

contribuição encontra na defesa da

divisão de poderes como recurso para

evitar o autoritarismo. Defendia,

baseando-se em Locke, o Estado em

três esferas: Executivo, Legislativo e

Judiciário, de modo que cada poder

limitaria o outro para que assim não

houvesse tirania de um desses

poderes.

Rousseau (1712-1778) - Diferente

dos outros filósofos, não há consenso

de que se trata de um pensador

iluminista, muitos o situam na

corrente do Romantismo. Diferente

dos outros pensadores da Ilustração,

defendia a democracia total com

sufrágio universal. Dizia que a

propriedade era a origem de toda a

desigualdade e sofrimento dos

homens. Em seu livro O Contrato

Social, Voltaire afirma que é dever

dos governantes estabelecer um

contrato com seus súditos que

garanta a justiça e o bom governo.

Para ele, foi a propriedade que acabou

com o estado de natureza humana no

qual reinaria a paz e a solidariedade.

Afirmava que as artes e as ciências

tinham contribuído para o progresso

da humanidade, mas também a

tinham corrompido. Foi defensor da

natureza virgem e admirador do

homem selvagem.

O Enciclopedismo - Entre 1751 e

1780, foi publicada na França a

Enciclopédia das Ciências, das Artes e

dos Ofícios. O objetivo era reunir e

difundir todo o saber humano,

baseando-se em princípios

racionalistas. Um filósofo, Denis

Diderot, e um matemático, Jean

D'Alembert, dirigiram a edição.

Colaboraram filósofos como Voltaire,

Montesquieu e Rousseau. A atitude

crítica do conteúdo da obra gerou o

Enciclopedismo (conjunto de idéias

racionais, críticas e progressistas que

Page 31: Historia Geral e do Brasil

32

derivaram da “Enciclopédia”).

Fisiocratas - São teóricos da

economia que questionam o

mercantilismo, defendendo a não

interferência do Estado na economia

(laissez-faire, laissez-passer). Para

esses pensadores, sobretudo

franceses, só gerava valor aquilo que

era produzido na agropecuária.

Defenderam que a economia deveria

ser regida por leis naturais.

Adam Smith e os liberais - Adam

Smith foi um pensador iluminista e é

também considerado o ―pai‖ fundador

do liberalismo econômico. Assim como

os fisiocratas, Smith era crítico do

mercantilismo e favorável à não-

intervenção estatal na economia

nacional. Para Smith, toda riqueza

provinha do trabalho e não dos metais

preciosos ou da agricultura. Defendia

a auto-regulação da economia pela lei

da oferta e da demanda.

La Fontaine (1621-1695) - Publicou

uma compilação de fábulas em 1668,

com o título de Fábulas Escolhidas

Feitas em Verso. Protagonizadas por

animais, as fábulas de La Fontaine

denunciam o egoísmo, a hipocrisia e a

malícia do ser humano.

Questões de Vestibulares

1. UFRJ 2002. Entendeis por

selvagens certos camponeses que

vivem em cabanas (...) que não

conhecem nada além da terra que os

nutre, e o mercado aonde às vezes

vão vender seus produtos (...), que

falam um linguajar que nas cidades

não se entende, que têm poucas

idéias, e por conseguinte, poucos

instrumentos para expressá-las. De

selvagens como esses a Europa está

cheia. É preciso reconhecer que [as

populações indígenas da América] e

os cafres [africanos], que nos

comprazemos em chamar de

selvagens, são infinitamente

superiores aos nossos. Fonte: Apud

GINZBURG, Carlo. Olhos de madeira. São Paulo, Companhia das Letras 2001 pp31-32

Este texto foi escrito por Voltaire, um

dos maiores pensadores da Ilustração.

Normalmente se associa o Iluminismo

a um movimento filosófico marcado

pela

defesa da crítica, da ciência e da

liberdade de expressão, que chegou,

inclusive, a influenciar a própria

Revolução Francesa.

Com base no texto de Voltaire,

explique um ou outro aspecto do

Iluminismo.

2. UFF 2004. O Iluminismo do século

XVIII abrigava, dentre seus valores, o

racionalismo. Tal perspectiva

confrontava-se com as visões

religiosas do século anterior. Esse

confronto anunciava que o homem

das luzes encarava de frente o mundo

e tudo nele contido: o Homem e a

Natureza. O iluminismo era claro, com

relação ao homem: um indivíduo

capaz de realizar intervenções e

mudanças na natureza para que essa

lhe proporcionasse conforto e prazer.

Seguindo esse raciocínio, pode-se

dizer que, para o Homem das Luzes, a

Natureza era:

(A) misteriosa e incalculável, sendo a

base da religiosidade do período, o

lugar onde os homens reconheciam a

presença física de Deus e sua obra de

criação;

(B) infinita e inesgotável,

constituindo-se um campo privilegiado

da ação do homem, dando em troca

condição de sobrevivência,

principalmente no que se refere ao

seu sustento econômico;

(C) apenas reflexo do

desenvolvimento da capacidade

artística do homem, pois ajudava-o a

criar a idéia de um progresso ilimitado

relacionado à indústria;

(D) um laboratório para os

experimentos humanos, pois era

reconhecida pelo homem como a base

do progresso e entendimento do

mundo; daí a fisiocracia ser a principal

representante da industrialização

iluminista;

(E) a base do progresso material e

técnico, fundamento das fábricas, sem

a qual as indústrias não teriam

condições de desenvolver a idéia de

mercado.

3. UFF 2008. A consolidação da

industrialização como característica do

Page 32: Historia Geral e do Brasil

33

mundo moderno não foi tarefa fácil.

Foram os pensadores do século XVIII

e do século XIX que forneceram os

principais argumentos para legitimar a

combinação entre indústria e

modernização. Uma das alternativas

abaixo associa, corretamente, um

pensador ao sistema de idéias.

Assinale-a.

(A) Marquês de Pombal/Positivismo

(B) Thomas Jefferson/Socialismo

Utópico

(C) Voltaire/Evolucionismo

(D) Adam Smith/Liberalismo

(E) Descartes/Existencialismo

4. UFF 2008. O fracasso estrondoso

de ―O Contrato Social‖, o livro menos

popular de Rousseau antes da

Revolução, levanta um problema para

os estudiosos que investigam o

espírito radical na década de 1780: se

o maior tratado político da época não

conseguiu despertar interesse entre

muitos franceses cultos, qual foi a

forma das idéias radicais que

efetivamente se adaptou aos seus

gostos? (Darnton, Robert. O Lado Oculto da

Revolução. São Paulo, Companhia das Letras, 1988, p.130) Assinale a resposta que está mais

de acordo com as colocações do autor.

(A) A literatura clandestina que

circulava na França no século XVIII foi

um empreendimento econômico e

uma força ideológica que legitimou o

poder de Luis XV e o Antigo Regime.

(B) Ao contrário da afirmativa acima,

O Contrato Social de Rousseau foi um

best seller da época, pois traduzia os

anseios e expectativas da nobreza

francesa em crise.

(C) A progressiva separação entre

ciência e teologia no século XVIII não

liberou a ciência da ficção. Neste

sentido, a idéia mística sobre a

natureza e seu poder transformador

traduzia-se numa visão radical que

alimentou o espírito revolucionário

dos franceses às vésperas da

revolução.

(D) As idéias radicais que

alimentaram o espírito revolucionário

dos franceses não eram tributárias da

literatura da época, pois a população

francesa era majoritariamente

analfabeta.

(E) A Revolução Francesa

representou o fim dos privilégios da

nobreza e a consagração dos

interesses burgueses. Neste sentido, a

literatura da época expressou tão

somente a tensão entre a nobreza e a

burguesia.

Page 33: Historia Geral e do Brasil

34

Capítulo 9. O Absolutismo

Ilustrado ou Despotismo

Esclarecido

Apresentação - É considerado

Despotismo Esclarecido a prática

política de alguns governantes

europeus que ao longo do século

XVIII, realizaram amplas reformas em

seus Estados, procurando racionalizar

e modernizar seus governos,

baseando-se em princípios

iluministas, no entanto, sem abrir

mão do poder absoluto. O objetivo de

tais reformas era dinamizar e

modernizar a estrutura administrativa

do Estado, acrescentando ainda uma

imagem mais progressista ao mesmo.

Esses monarcas receberam a

denominação de déspotas

esclarecidos. Esta designação se

refere a estrutura absolutista de seus

governos que permaneceu inalterada.

Da mesma forma, não houve

mudança significativa na estrutura

social, que manteve os antigos

privilégios da nobreza. Entretanto,

foram chamados de ―esclarecidos‖ por

se diferenciarem dos típicos reis

absolutistas, ao conduzirem reformas

que aumentaram a eficiência da

administração pública de seus países.

Os objetivos gerais - O principal

objetivo dessa prática era tornar

esses Estados tão desenvolvidos

economicamente quanto as maiores

potências européias do período:

Inglaterra e França. Ao mesmo

tempo, os déspotas esclarecidos

pretendiam impulsionar as atividades

da burguesia nacional e reafirmar o

poder monárquico. Apesar de lançar

mão de algumas idéias iluministas,

nesses governos manteve-se o

absolutismo como modelo de governo,

o que comprometeu a realização dos

objetivos que muitas vezes não foram

alcançados.

A política econômica – A política

econômica empregada para se atingir

esse fim era o reforço do

mercantilismo. Dessa forma, o

fiscalismo, a balança comercial

favorável, o metalismo e o fomento

do comércio nacional são as principais

características das práticas

econômicas do Despotismo

Esclarecido.

Características gerais - Apesar de

algumas diferenças de um país para

outro, o absolutismo ilustrado tinha

como principais características: a

racionalização da administração

pública; os conflitos com a Igreja

Católica – no caso da Rússia com a

Igreja Ortodoxa –; a modernização do

exército; o fomento da economia

através de práticas mercantilistas e o

aumento das liberdades individuais,

apesar dos limites impostos.

Casos particulares

Prússia - As reformas ocorreram,

sobretudo, no governo de Frederico II

(1740-1786), que concedeu liberdade

de expressão à população, liberdade

religiosa e, principalmente, instituiu

uma ampla rede escolar, tornando

obrigatório o ensino básico, que

tornou o país um dos mais

desenvolvidos do mundo em termos

de educação básica. Essa

escolarização foi fundamental no

período da industrialização alemã, que

contou com uma mão-de-obra

educacionalmente mais bem

preparada. A escolarização também

foi de grande relevância para o

exército prussiano – o mais

organizado e nacionalista da Europa –

que ao longo do século XIX iria

conduzir a unificação alemã. Sobre a

medida que instituiu a liberdade de

expressão, vale salientar que essa

poderia ser e foi revogada sempre que

―necessário‖, de acordo com o

interesse do monarca. Outra medida

desse monarca foi abolir a tortura,

organizando um novo código de

justiça. Além disso, estimulou o

desenvolvimento econômico nacional,

buscando implementar a

modernização da economia. Todavia,

em virtude de seus vínculos com a

nobreza, não aboliu a servidão, e

manteve grande parte da população

submetida a obrigações ainda de

origem feudal.

Áustria - José II (1780-90) da

Áustria foi um dos considerados

déspotas esclarecidos que mais

realizou reformas em seu país. Em

Page 34: Historia Geral e do Brasil

35

seu governo, impôs uma forte

centralização administrativa,

uniformizando a administração do

império; aboliu a servidão; concedeu

liberdade religiosa e igualdade jurídica

aos cidadãos e expulsou os jesuítas

do território austríaco. O resultado

dessas reformas foi um grande

fortalecimento do poder real. Todavia,

como nos outros Estados onde eram

praticadas as teorias do despotismo

esclarecido, as reformas de José II

também eram revogáveis, não se

perpetuando como conquistas da

população.

Rússia - Catarina II (1762-94) foi a

governante russa que empreendeu as

maiores reformas iluministas no

império russo. Ao contrário de José II,

ela reafirmou a servidão (abolida

somente em 1861); nacionalizou e

doou as terras da Igreja ortodoxa

russa aos nobres e os incentivou a

manter o trabalho servil; sobretaxou

os servos e camponeses livres e

expandiu territorialmente o Império

Russo que passou a se estender da

Polônia ao Alasca. Assim como

ocorrera na Prússia de Frederico II,

Catarina atraiu para a sua corte

muitos filósofos e, assim, contribuiu

para a divulgação das idéias

ilustradas.

Espanha: No reinado de Carlos III

(1759-1788), o conde de Aranda um

de seus ministros, teve grande

relevância no que ficaram conhecidas

como as Reformas Bourbônicas. Assim

como ocorrera em Portugal, na

Espanha o grande foco das reformas

era a colonização na América, que foi

completamente reformulada. Aranda

estimulou o desenvolvimento das

manufaturas de tecidos e de artigos

de luxo e dinamizou a administração

visando fortalecer o poder real. As

reformas bourbônicas na Espanha

foram de grande importância para

abrir caminho ao processo de

independência das colônias hispano-

americanas. Outras ações desse

governo foram a expulsão dos jesuítas

da Espanha e da América espanhola e

a formulação de novas medidas

fiscalistas, visando a diminuição do

contrabando nas colônias. Essas

reformas desagradaram as elites

criollas no Novo mundo, já

acostumadas com as vantagens em

comerciar ilegalmente com os

britânicos, o que acarretará nas

revoltas que darão início a

organização do processo de

independência.

Portugal: Durante o reinado de José

I (1750-77), um de seus ministros, o

Marquês de Pombal, se tornou uma

figura central na administração do

Estado. Sob seu governo, a produção

manufatureira cresceu, foram criadas

companhias monopolistas de comércio

com o objetivo de controlar o

comércio colonial, a agricultura foi

estimulada e o clero e a nobreza

foram submetidos ao poder do rei. Por

essas medidas, teve como principais

adversários políticos os jesuítas –

organização religiosa considerada ―um

Estado dentro do Estado‖ – que

reagiram juntando-se às elites

portuguesas para compor uma força

contrária ao seu projeto

modernizador. Assim como Aranda,

Pombal reformulou a colonização

portuguesa no ultramar. Seu objetivo

era modernizar a administração do

Império e diminuir a sua dependência

econômica. Para isso, reformulou as

formas de arrecadação no Brasil,

reforçou o fiscalismo e instituiu a

derrama que viria ser o motivo maior

para a eclosão da Inconfidência

mineira, além disso, expulsou os

jesuítas da metrópole e das colônias,

em 1759. Com a morte de José I,

Pombal foi afastado do governo e

Portugal retomou as antigas políticas

do período anterior. Durante seu

mandato, a capital do Brasil foi levada

de Salvador para o Rio de Janeiro, em

1763, já que o Rio de Janeiro era mais

próximo da região das minas de ouro.

Questões de Vestibulares

1. Fuvest 1997. Sobre o chamado

despotismo esclarecido é correto

afirmar que:

A) foi um fenômeno comum a todas

as monarquias européias, tendo por

característica a utilização dos

princípios do Iluminismo.

B) foram os déspotas esclarecidos os

Page 35: Historia Geral e do Brasil

36

responsáveis pela sustentação e

difusão das idéias iluministas

elaboradas pelos filósofos da época.

C) foi uma tentativa bem

intencionada, embora fracassada, das

monarquias européias reformarem

estruturalmente seus estados.

D) foram os burgueses europeu s que

convenceram os reis a adotarem o

programa de modernização proposto

pelos filósofos iluministas.

E) foi uma tentativa, mais ou menos

bem-sucedida, de algumas

monarquias reformarem, sem alterá-

las, as estruturas vigentes.

2. UFF. Sobre o Despotismo

Esclarecido, é correto afirmar que:

1) foi a adoção dos princípios

filosóficos de Locke, Adam Smith e

Proudhon, ao final do século XIX, por

monarcas esclarecidos como Catarina

II, da Rússia, e Frederico II, da

Prússia.

2) foi a adoção dos princípios da

Aufklärung ou Ilustração por

monarcas europeus, visando ao

aumento do poderio do Estado, ao

bem-estar material dos povos e à sua

elevação cultural, dentro dos limites

do Estado Absoluto.

3) entre os principais pensadores

vinculados às "Luzes", estavam

Voltaire e Diderot que se

correspondiam com os principais

monarcas europeus visando

influenciar a atuação destes no

sentido de promover reformas,

principalmente contra o excessivo

clericalismo.

4) a adoção das idéias ilustradas pelos

monarcas europeus originou inúmeras

reformas liberalizantes, como a

adoção do constitucionalismo na

Inglaterra, Holanda e Suécia,

conforme as idéias básicas de Hobbes

e Descartes.

5) um dos instrumentos básicos da

difusão das idéias iluministas foi a

Enciclopédia, na qual escreveram os

filósofos e que representou

importante papel na preparação da

Revolução Francesa, chegando a

influenciar também a Inconfidência

Mineira

Assinale:

A) se somente as afirmativas 1, 2 e 3

estiverem corretas.

B) se somente as afirmativas 1, 3 e 5

estiverem corretas.

C) se somente as afirmativas 2, 3 e 5

estiverem corretas.

D) se somente as afirmativas 2, 4 e 5

estiverem corretas.

E) se somente as afirmativas 3, 4 e 5

estiverem corretas.

Page 36: Historia Geral e do Brasil

37

Capítulo 10. A Revolução

Industrial

Apresentação - Chamamos de

Revolução Industrial um conjunto de

transformações técnicas e econômicas

no modo de fabricação dos produtos

consumidos pelo homem, tendo como

principais características, o

surgimento das fábricas (em lugar das

antigas manufaturas); a produção em

série e o trabalho assalariado. Essa

mudança alterou profundamente as

relações econômicas, sociais e a

paisagem geográfica que passou por

um novo desenvolvimento urbano. A

Revolução industrial foi a

disseminação do modelo fabril pela

Inglaterra durante o período que

abrange aproximadamente os anos

entre 1780 a 1840. Esse modelo fabril

é constituído pelo uso conjugado da

mão-de-obra humana (assalariada)

associada ao uso de máquinas. A

industrialização pode ser considerada

uma etapa mais elaborada da

produção artesanal nas manufaturas,

já que a utilização das novas

descobertas tecnológicas como a

máquina a vapor, dinamizaram a

velocidade e diminuíram os custos da

produção.

A Primeira Revolução Industrial -

É denominada Primeira Revolução

Industrial, o processo de organização

da produção fabril que teve início na

Inglaterra, em finais do século XVIII e

início do século XIX, e que se

difundiu, no decorrer do século XIX,

por outros países da Europa -

principalmente, França, Alemanha,

Itália, Holanda e a Bélgica –, Estados

Unidos e Japão. As principais fontes

de energia utilizadas nessa primeira

fase da industrialização foram o ferro,

o carvão e a máquina a vapor.

Os desdobramentos da

industrialização - Um dos principais

efeitos da Revolução Industrial foi o

surgimento de um grupo social

específico, mais conhecido como

classe operária. Formado

principalmente por ex-camponeses e

ex-artesãos, esse novo grupo não

dispõe mais de recursos próprios para

trabalhar, pois foram expropriados das

suas terras ou não podiam mais

competir, com produtos artesanais,

contra a produção das nascentes

indústrias. Em conseqüência de tal

situação, passam a vender sua força

de trabalho em troca de um salário

tornando-se assalariados. Segundo o

filosofo alemão Karl Marx, mesmo

recebendo um salário, resta uma

parcela do trabalho dos operários que

não era remunerada: a mais-valia.

Resumidamente, a teoria marxista da

mais-valia consiste na diferença

existente entre o valor produzido pelo

trabalho do operário e o salário que

esse recebe do empregador, segundo

Marx, essa diferença seria a base da

exploração do sistema capitalista.

Fatores que fizeram da Inglaterra

a precursora da Revolução

Industrial

As transformações no campo - As

mudanças que vinham ocorrendo no

campo na Inglaterra desde o século

XVI, como por exemplo, os

cercamentos, geraram uma

concentração das propriedades rurais

e à consolidação das figuras do

arrendatário e do assalariado rural

que seriam determinantes para a

realização da Revolução Industrial. Os

cercamentos (em inglês, enclousures)

promoveram a unificação dos lotes de

terras dos camponeses, num imenso

campo cercado, usado na criação

intensiva de ovelhas ou nas

plantações de maior interesse

econômico do proprietário. Essa

medida, aliada às novas técnicas

agrícolas permitiram um crescimento

na oferta de mercadorias, gerando

uma diminuição nos preços. Essa

prática era permitida pelo parlamento

inglês desde o século XVI e, no século

XVIII, culminou na extinção dos

trabalhadores arrendatários. Uma

conseqüência dos cercamentos foi o

crescimento no número de

desempregados no campo, que

acabou liberando mão-de-obra das

áreas rurais para as cidades na

Inglaterra.

O Mercado – A principal condição

para o sucesso e a expansão da

Revolução Industrial foi a existência

na época de uma forte demanda pelos

Page 37: Historia Geral e do Brasil

38

nascentes produtos industrializados

tanto no mercado interno como no

mercado externo. Os tecidos de

algodão eram amplamente procurados

na sociedade européia e também em

algumas colônias, como as da

América. Os tecidos de algodão

produzidos industrialmente tinham

preços relativamente baixos, o que

possibilitava o consumo de tais

produtos pelas camadas assalariadas.

As repercussões da Revolução

Industrial

A emergência do capital industrial

- Com o desenvolvimento das

fábricas, ocorreu o fortalecimento de

um novo grupo social, a burguesia

industrial, que logo superou em poder

econômico a velha aristocracia agrária

e os grandes comerciantes. A

burguesia industrial tornou-se o grupo

social hegemônico na sociedade

inglesa, rapidamente ascendo à elite

política daquele país.

A resistência dos trabalhadores –

Muitos camponeses, expulsos do

campo pelos cercamentos, migraram

para as cidades em busca de

ocupação. Desempregados, acabavam

aceitando o regime desumano de

trabalho nas fábricas. Recebendo

baixos salários e enfrentando

péssimas condições de trabalho,

homens, mulheres e crianças eram

obrigados a cumprir jornadas de

trabalho que muitas vezes

ultrapassavam 16 horas diárias, num

ambiente quente e insalubre. Como

era de se esperar, tal situação

produziu conflitos e gerou vários

movimentos de resistência operária.

Primeiramente, alegando a culpa das

máquinas (que executavam o trabalho

do homem com mais rapidez) na

situação do trabalhador, muitos

operários invadiram as fábricas e

quebraram seu maquinário, eram os

chamados luditas, o termo deriva de

Ned Ludd, um dos líderes desse

movimento. Em seguida, os

trabalhadores ingleses reunidos em

grupos começaram a organizar as

primeiras paralisações do trabalho, as

greves, e redigiram uma carta com

reivindicações trabalhistas. Esses

passaram a ser chamados cartistas, e

assim como os luditas, também

sofreram uma forte repressão policial.

Esses movimentos inspiraram o futuro

sindicalismo.

Questões de Vestibulares

1. UFRJ 2005. A industrialização

desencadeou diversas mudanças,

econômicas e políticas na Europa de

1780 em diante.

a) Identifique duas características da

produção fabril no século XIX.

b) No plano político, a industrialização

contribuiu para o fortalecimento das

idéias e práticas liberais. Cite duas

características do liberalismo no

século XIX.

2. UERJ 2006. O jovem operário

entra então de vez na idade adulta?

Seguramente não. Ele requer

proteção e controle. Proteção:

segundo a lei de 1841 (na Inglaterra),

até os dezesseis anos é proibido fazê-

lo trabalhar aos domingos e mais de

doze horas por dia. (PERROT, M. In:

LEVI, G. & SCHMITT, J. C. História dos

jovens. São Paulo: Companhia das

Letras, 1996.).

No Brasil, o artigo 67 do Estatuto da

Criança e do Adolescente proíbe a

contratação de menores para trabalho

noturno, perigoso, insalubre e penoso.

O Estatuto também proíbe que os

adolescentes trabalhem em locais

prejudiciais à sua formação e ao seu

desenvolvimento físico, psíquico,

moral e social. (MOTA, M. B. e

BRAICK, P. R. História: das cavernas

ao terceiro milênio. São Paulo:

Moderna, 1997.).

Apesar da existência de leis e

estatutos que impedem a exploração

do trabalho de crianças e

adolescentes, essa é ainda uma

realidade do mundo contemporâneo.

O emprego das mãos-de-obra infantil

e adolescente, tanto na época da

Revolução Industrial inglesa como nos

dias atuais, tem raízes comuns, como:

Page 38: Historia Geral e do Brasil

39

(A) êxodo rural e industrialização

tardia

(B) retraimento demográfico e baixa

escolaridade

(C) desvalorização salarial e

concentração fundiária

(D) excesso de leis trabalhistas e

desigualdade socioeconômica

3. UFF 2008. Para que o

conhecimento tecnológico tivesse o

êxito de hoje foi preciso que

ocorressem, no tempo, alterações

radicais que abriram caminho para a

introdução de novas relações de

mercado e novas formas de

transportes. Assinale a alternativa que

melhor identifica o momento inicial da

Revolução Industrial:

(A) a utilização da máquina a vapor

que propiciou o desenvolvimento das

ferrovias, integrando áreas de

produção aos mercados, aumentando

o consumo e gerando lucros;

(B) a revolução política de 1688, que

garantiu a vitória dos interesses dos

proprietários agrícolas em aliança com

os trabalhadores urbanos que

controlavam as manufaturas;

(C) os cercamentos que modificaram

as relações sociais no campo, gerando

novas formas de organização da

produção rural e mantendo os

vínculos tradicionais de servidão;

(D) o desenvolvimento da energia

eólica, produzindo um crescimento

industrial que manteve as cidades

afastadas do fantasma das doenças

provocadas pelo uso do carvão;

(E) a máquina a vapor que promoveu

o desenvolvimento de novas formas

de organização da produção agrícola e

levou ao crescimento dos transportes

marítimos na Europa Ocidental,

através de investimentos estatais.

Page 39: Historia Geral e do Brasil

40

Capítulo 11. A Independência dos

Estados Unidos

Apresentação - Ao quebrar a

unidade do sistema colonial, a

Independência dos Estados Unidos

contribuiu fortemente para o

desmoronamento do Antigo Regime.

Vivendo em pequenas propriedades,

nas Treze Colônias americanas, nas

últimas décadas do século XVIII,

existiam mais de 2 milhões de

colonizadores. Eram principalmente

europeus exilados por motivos

políticos ou religiosos e estavam

estabelecidos desde o século XVII no

território norte-americano. O evento

que acarretou na independência

norte-americana foi uma guerra de

independência travada contra o

domínio colonial inglês que tentou

estabelecer tardiamente um pacto

colonial. Após tornar-se independente,

criou-se no novo país e uma nova

forma de organização política baseada

nos ideais iluministas. Dessa forma,

os Estados Unidos da América se

tornaram a primeira nação a

implantar um sistema democrático

moderno, definitivamente

consolidado. No entanto, tal

democracia restringia-se a alguns

grupos sociais, privilegiando dentre

eles, os grandes proprietários de

terras, permanecendo proibido o

direito de voto às mulheres e aos

escravos, além disso, os últimos se

mantiveram na condição de cativos

até meados do século XIX.

A situação da Inglaterra e das

colônias inglesas na América

A colonização inglesa na América

- A Inglaterra se estabeleceu

tardiamente na América se

comparada aos projetos coloniais da

Espanha e Portugal. Somente no

século XVII foram fundadas as Treze

Colônias no território norte-americano

e a colonização na América Central. A

parte Sul das Treze Colônias e a

Jamaica foram colonizadas nos

moldes do colonialismo moderno, ao

contrário da região norte do território

norte-americano habitada em sua

maioria por perseguidos políticos e

religiosos ingleses e europeus. Nessa

região, ficou estabelecida com a

metrópole uma relação diferenciada e

mais livre, sem um controle rígido da

coroa britânica sobre suas atividades

– conhecida como Negligência Salutar.

Enquanto as colônias do Sul seguiam

o modelo colonial, com grandes

plantations escravistas, produzindo

tabaco, arroz e açúcar para o mercado

externo, nas do Norte prevaleciam as

pequenas propriedades policultoras,

com trabalho livre, relativa

urbanização e comércio. Embora a

Inglaterra proibisse oficialmente o

estabelecimento de manufaturas nas

colônias, uma incipiente indústria na

região centro-norte começou a se

desenvolver sem ser incomodada

pelas autoridades inglesas, a razão

disso era o fato de seus produtos não

competirem com o comércio inglês. Já

nas colônias do Sul predominava a

grande propriedade rural, no regime

de monocultura para exportação,

cultivada pela mão-de-obra escrava.

Os nortistas, no entanto, começaram

a atravessar as fronteiras do Sul para

comerciar seus produtos e assim

passaram a concorrer com o comércio

metropolitano, levando a coroa

britânica a rever sua política de

relacionamento com as colônias da

América do Norte.

A Guerra dos Sete Anos - Travada

entre os anos de 1756 a 1763, a

guerra entre Inglaterra e França foi

vencida pelos ingleses e transferiu

para o domínio britânico a maioria das

possessões francesas situadas a oeste

das Treze Colônias. Alegando que os

colonos norte-americanos não haviam

contribuído com o esforço de guerra

militar inglês, o Parlamento

determinou que esses deveriam arcar

com os custos da guerra, instituindo

novos impostos e reforçando os

direitos coloniais da Coroa britânica

no continente.

A inflexão na política

metropolitana – Até meados do

século XVIII, não havia por parte da

Inglaterra uma fiscalização colonial

rigorosa dirigida às colônias norte-

americanas, além disso, os impostos

cobrados eram pouco numerosos e

relativamente baixos. Todavia, com o

Page 40: Historia Geral e do Brasil

41

término da Guerra dos Sete Anos,

entre Inglaterra e França, a Coroa

britânica fortemente endividada

organizou um novo aparato fiscalista

rompendo a antiga política colonial

dirigida às Treze Colônias, gerando

insatisfação e revoltas. Foram

elaboradas leis coercitivas como a Lei

do Selo, que impôs o uso do selo real

em todos os documentos que

transitassem na colônia; a Lei do

Açúcar, que proibia a importação de

rum estrangeiro e taxava o comércio

de açúcar das colônias norte-

americanas com outras colônias não-

britânicas; a Lei dos Alojamentos, que

exigia dos colonos norte-americanos

alojamentos e alimentação para as

tropas inglesas na colônia, e outras

leis que coibiam o contrabando e

interditavam a expansão das

pequenas propriedades rurais do

norte em direção ao oeste do

território e ao Canadá.

A Lei do Chá (Tea Act) - Em 1773,

a decretação da Lei do Chá foi o

estopim da crise entre a colônia e a

metrópole. De acordo com essa lei,

passava para as mãos da Companhia

das Índias Orientais o monopólio do

comércio do chá, que passou a ser

importado diretamente das Índias

para a América, prejudicando os

interesses dos intermediários desse

comércio, residentes na colônia. Em

retaliação, comerciantes disfarçados

de índios invadiram o porto de Boston

e destruíram centenas de caixas de

chá, no episódio que ficou conhecido

como a Festa do Chá de Boston.

As Leis Intoleráveis - Foram as leis

promulgadas pelo Parlamento inglês,

em 1774, como represália à revolta

da Festa do chá de Boston e tinham

como objetivo conter o clima de

insubordinação nas colônias. Como

resposta às Leis Intoleráveis, os

colonos convocaram o Primeiro

Congresso Continental de Filadélfia

(1774), ainda não-separatista, no

qual foi solicitado à coroa e ao

Parlamento a revogação da legislação

autoritária e a igualdade dos direitos

dos colonos e dos cidadãos da

metrópole.

A independência

A resistência - Desde as primeiras

décadas da colonização, as questões

públicas dos cidadãos – homens livres

– da colônia eram decididas em

assembléias, fato de fundamental

relevância para a posterior

organização do regime republicano. A

partir da década de 1760, passaram a

ser organizados os Congressos

Continentais, que eram reuniões com

representantes de cada uma das

Treze Colônias para discutir seus

problemas comuns. Com o

estabelecimento das leis coercitivas,

os colonos passam a discutir sobre a

ruptura com a Inglaterra. Em 1776,

foi declarada a independência dos

Estados Unidos da América, dando

início à guerra de independência.

A Guerra de Independência

(1775-1783) – Teve início em 1775

(com a Batalha de Lexington) e se

estendeu até 1783, com a derrota da

Inglaterra. Em 1776, a Virgínia

declarou-se independente e o

Segundo Congresso da Filadélfia,

reunido desde 1775, nomeou George

Washington comandante geral das

tropas norte-americanas contra a

coroa britânica. Fornecendo o capital

necessário para manter os colonos na

guerra, a participação de tropas

francesas foi decisiva na vitória

americana. Finalmente, em 1781, o

Exército inglês foi derrotado. Em

1783, foi assinado o Tratado de Paris

(também conhecido como Tratado de

Versalhes) no qual a Grã-Bretanha

reconheceu a independência das suas

antigas colônias norte-americanas.

George Washington atravessando o Rio Delaware,1851. Pintura de Emanuel Leutze (general de George Washington durante a Guerra da Independência dos EUA).

A formação do novo governo - A

independência não pôs fim aos

conflitos internos entre sulistas e

Page 41: Historia Geral e do Brasil

42

nortistas. Na formação do novo

governo, os nortistas pretendiam que

fosse implantado um governo

centralizado, enquanto os sulistas

desejavam uma confederação. Como

resultado, baseando-se nas idéias de

Montesquieu, organizou-se uma

federação presidencialista na qual

cada Estado teria a sua própria

Constituição, subordinada a uma

Constituição Nacional, liderada pelo

presidente da República.

A Primeira Constituição dos

Estados Unidos - Proclamada em

1787, a primeira constituição

americana representou um

compromisso firmado entre as

tendências republicana e federalista.

Até os dias atuais, de maneira geral,

os princípios constitucionais de 1787

continuam em vigor, mantendo-se a

república federativa presidencialista

como forma de governo; a separação

entre os poderes Executivo,

Legislativo e Judiciário; o

reconhecimento dos direitos civis e

políticos dos indivíduos (na época,

com exceção das mulheres e dos

escravos); as liberdades de

expressão, de imprensa, de crença

religiosa e de reunião; a

inviolabilidade de domicílio e de

correspondência e o direito a

julgamento.

Questões de Vestibulares

1. Puc 2005. Assinale a opção

correta a respeito das lutas de

independência no Haiti (1791-1804) e

nas Treze Colônias Inglesas (EUA:

1776-1783).

(A) Ambas promoveram a instalação

de governos republicanos e a imediata

abolição do trabalho escravo.

(B) O ideal federalista conformou a

implantação do regime republicano no

Haiti e nos EUA no momento

imediatamente posterior à

independência.

(C) As pressões dos grandes

proprietários de terras, tanto no Haiti

quanto nas Treze Colônias Inglesas,

resultaram na manutenção do

trabalho escravo.

(D) Diferentemente do que ocorreu

nas Treze Colônias, as lutas de

independência no Haiti estiveram

associadas a uma série de rebeliões

escravas que conduziram à abolição

da escravidão.

(E) Tanto no Haiti quanto nas Treze

Colônias Inglesas, facções da

burguesia comercial, na defesa de

seus monopólios junto às antigas

metrópoles, tentaram impedir a

proclamação da independência

política.

2. UNIRIO 2006. ―Muitos volumes já

foram escritos sobre o assunto das

lutas entre a Inglaterra e a América...

No entanto, todos foram ineficazes e o

período de debate está encerrado. As

armas, como último recurso, decidem

a contenda; o apelo foi a escolha do

rei e o continente aceitou o desafio ...

O sol nunca brilhou sobre causa de

maior valor. Não é uma questão de

uma cidade, de um município, de uma

província ou de um reino, mas sim de

um continente ... Não é uma

preocupação de um dia, de um ano,

ou de uma era; a posteridade está

virtualmente envolvida na contenda, e

será mais ou menos afetada, até os

fins dos tempos, pelos

acontecimentos de hoje. Agora é a

hora da semeadura da união

continental, de sua fé e honra ...

Passando-se à questão da

argumentação para as armas, abriu-

se uma nova era para a política, um

novo método de pensar apareceu.‖ (PAINE, Thomas. O Senso Comum e a Crise. Brasília: Ed. UnB, 1982, p. 23.).

O processo de independência dos

Estados Unidos significou o início da

derrocada dos Estados Absolutos

comprometidos com o colonialismo e

as práticas mercantilistas. Os colonos

das 13 Colônias da América do Norte,

ao defenderem a liberdade e o direito

de resistência a uma monarquia

opressiva, influenciaram outros

movimentos políticos contrários às

monarquias absolutas.

Cite um aspecto histórico da luta dos

colonos americanos, referidos acima,

que contribuiu para a independência

dos Estados Unidos e explique-o.

Page 42: Historia Geral e do Brasil

43

3. UFRJ 2007. ―Na realidade, a

prudência recomenda que não se

mudem os governos instituídos há

muito tempo por motivos leves e

passageiros; e, assim sendo, toda

experiência tem mostrado que os

homens estão mais dispostos a sofrer,

enquanto os males são suportáveis,

do que a se desagravar, abolindo as

formas a que se acostumaram. Mas

quando uma longa série de abusos e

usurpações, perseguindo

invariavelmente o mesmo objeto,

indica o desígnio de reduzi-los ao

despotismo absoluto, assistem-lhes o

direito, bem como o dever, de abolir

tais governos e instituir novos-

Guardas para sua futura segurança‖.

Declaração de Independência dos

Estados Unidos da América (4 de

julho de 1776).

O fragmento faz menção a medidas

de natureza coercitiva impostas pela

Inglaterra às Treze Colônias após a

Guerra dos Sete Anos (1756-1763).

a) Cite e explique uma destas

medidas.

b) Identifique e explique um princípio,

presente no texto, derivado da

mentalidade democrática e liberal da

época.

4. ENEM 2007. Em 4 de julho de

1776, as treze colônias que vieram

inicialmente a constituir os Estados

Unidos da América (EUA) declaravam

sua independência e justificavam a

ruptura do Pacto Colonial. Em

palavras profundamente subversivas

para a época, afirmavam a igualdade

dos homens e apregoavam como seus

direitos inalienáveis: o direito à vida,

à liberdade e à busca da felicidade.

Afirmavam que o poder dos

governantes, aos quais cabia a defesa

daqueles direitos, derivava dos

governados. Esses conceitos

revolucionários que ecoavam o

Iluminismo foram retomados com

maior vigor e amplitude treze anos

mais tarde, em 1789, na França.

Emília Viotti da Costa. Apresentação

da coleção. In: Wladimir Pomar.

Revolução Chinesa. São Paulo:

UNESP, 2003 (com adaptações).

Considerando o texto acima, acerca

da independência dos EUA e da

Revolução Francesa, assinale a opção

correta.

a) A independência dos EUA e a

Revolução Francesa integravam o

mesmo contexto histórico, mas se

baseavam em princípios e ideais

opostos.

b) O processo revolucionário francês

identificou-se com o movimento de

independência norte-americana no

apoio ao absolutismo esclarecido.

c) Tanto nos EUA quanto na França,

as teses iluministas sustentavam a

luta pelo reconhecimento dos direitos

considerados essenciais à dignidade

humana.

d) Por ter sido pioneira, a Revolução

Francesa exerceu forte influência no

desencadeamento da independência

norte-americana.

e) Ao romper o Pacto Colonial, a

Revolução Francesa abriu o caminho

para as independências das colônias

ibéricas situadas na América.

5. PUC 2009. Sobre os movimentos

de independência ocorridos na

América inglesa, em 1776, e na

América hispânica nas primeiras

décadas do século XIX, estão corretas

as alternativas, À EXCEÇÃO de uma.

Indique-a.

(A) Em meados do século XVIII, nas

treze colônias inglesas, os colonos

americanos reagiram contra as leis

impostas pelo Parlamento britânico e

organizaram-se para defender a sua

autonomia político-administrativa, a

liberdade de comércio e a igualdade

de direitos entre os habitantes do

Reino e das colônias.

(B) Em 1776, as colônias inglesas

votaram a Declaração de

Independência, que defendia

princípios fundamentais do Iluminismo

como a igualdade, o direito à

liberdade e a instituição de governos

fundados no consentimento dos

governados.

(C) Os movimentos de independência

na América hispânica estão

diretamente relacionados à invasão

Page 43: Historia Geral e do Brasil

44

napoleônica da Espanha em 1808 e à

deposição do rei Fernando VII, que

resultaram no estabelecimento de

juntas de governos locais na América,

iniciando um intenso e amplo período

revolucionário.

(D) Assim como ocorreu com as treze

colônias inglesas, todas as colônias

espanholas na América tornaram-se

independentes ao mesmo tempo,

apesar de não terem mantido a

unidade territorial existente e terem

se dividido em vários estados

nacionais independentes.

(E) A revolução de independência das

treze colônias inglesas e também os

ideais iluministas depositários de

novos princípios de organização

política e social, contrários à

monarquia, ao direito divino dos reis e

a favor da soberania popular, tiveram

uma enorme influência nos

movimentos de independência da

América hispânica.

Page 44: Historia Geral e do Brasil

45

Capítulo 12. A Revolução Francesa

Apresentação - A Revolução

Francesa é considerada uma

revolução burguesa (apesar de ter

contado com a participação direta das

camadas médias e populares

francesas) que pôs fim ao Antigo

Regime na França, transformando

suas antigas estruturas sociais e

levando a burguesia ao poder. Em

1789, essa revolução destituiu o

poder da nobreza e da monarquia

absoluta francesa, então representada

por Luís XVI.

Retrato de Louis XVI, produzido por Antoine-

François Callet, 1788. Musée National du Château, Versailles.

Durante dez anos (1789-1799), os

revolucionários tentaram consolidar

um novo regime político inspirado nos

princípios iluministas. No entanto,

diversos governos se sucederam sem

que esses princípios fossem

consolidados plenamente. A

Revolução Francesa conseguiu

difundir pelo mundo seus ideais, que

permanecem até os dias atuais como

base das democracias modernas.

A estrutura social francesa - No

final do século XVIII, no estado

monárquico francês (como é

característico do Antigo Regime)

vigorava a sociedade estamental

dividida em três estados, o clero, a

nobreza e o restante da sociedade,

composta principalmente por

burgueses, camponeses e artesãos.

Este último estado era o único

responsável pelo pagamento dos

impostos que sustentavam os custos

da corte e das ações do governo.

Os antecedentes da Revolução -

Apesar do crescimento da economia

francesa no século XVIII, nos anos

anteriores à Revolução, a França

enfrentou uma terrível seca no campo

gerando a escassez de alimentos e

alastrando a fome pelo país. Sem

alternativa, parte da população rural

migrou para as cidades em busca de

trabalho, onde encontraram péssimas

condições de vida tornando-se cada

vez mais miseráveis. No campo

político-econômico, as freqüentes

guerras nas quais a França havia de

envolvido e a extravagância da

luxuosa corte encheram de dívidas o

Estado francês, instalando uma séria

crise financeira. Diante de tal

situação, o rei francês Luís XVI tentou

implementar uma reforma tributária

na qual o Primeiro e Segundo estados

passariam a pagar impostos. Essa

tentativa de reforma instaurou mais

uma crise, desta vez política, que

obrigou o rei a convocar os Estados

Gerais (Conselho consultivo da coroa,

dividido entre os três estados).

Acrescentando-se ao cenário de crise,

existia ainda o problema da má

distribuicao da riqueza e a falta de

participação política do Terceiro

estado, o que acabou contribuindo

para a eclosao da revolução, já que

provocava grande insatisfação na

burguesia.

O processo revolucionário

A primeira fase: A Assembléia

Constituinte ou a Era das

Instituições - Em maio de 1789,

com a convocação dos Estados Gerais,

todas as propostas do Terceiro estado

foram barradas pelo grupo formado

entre o clero e a nobreza. Isolado, o

Terceiro estado se reuniu e declarou-

se Assembléia Constituinte, exigindo a

elaboração de uma constituição para a

França. Na assembléia, encontravam-

se posicionados no lado esquerdo do

recinto, o partido liderado por

Robespierre, os Jacobinos; no

centro, encontravam-se os

constitucionalistas, defensores da alta

burguesia e a nobreza liberal,

conhecidos como planície, e no lado

Page 45: Historia Geral e do Brasil

46

direito, os Girondinos, defensores

dos interesses da burguesia francesa.

Em represália a formação da

Assembléia, o rei colocou o exército

de prontidão e a população de Paris,

colocando-se a favor da mesma, se

rebelou e promoveu a Tomada da

Bastilha, uma antiga fortaleza

transformada em prisão política e

símbolo do absolutismo francês. No

campo, muitos camponeses ocuparam

as terras dos senhores (clero e

nobreza), queimaram seus títulos de

propriedade e promoveram entre eles

uma divisão das terras ocupadas,

gerando no Primeiro e Segundo

estados o chamado Grande Medo. Em

agosto do mesmo ano, foi elaborada a

Declaração dos Direitos do Homem e

do Cidadão. Os bens da Igreja foram

confiscados e, no final do ano, foi

institucionalizada a monarquia

constitucional, com a promulgação de

uma Constituição a qual o rei foi

obrigado acatar.

Declaracão dos Direitos do Homem e do Cidadão, 1789 - França. Um dos diversos documentos políticos redigidos no século XVIII sob inspiração iluminista. Fonte: Chronique Les Grandes journées de la Révolution, Larousse.

A Assembléia Legislativa francesa

exigiu da Áustria e da Prússia um

compromisso de não invasão. Mesmo

assim, temendo os efeitos das

agitações na França, essas

monarquias formaram uma coalizão

de forças e invadiram o território

francês com o objetivo de restituir

Luís XVI ao trono. Como não foi

atendida, a França declarou guerra a

Áustria e a Prússia em abril de 1792.

Nas ruas de Paris e das grandes

cidades, os sans culottes (como eram

chamados os pobres nas cidades) se

mobilizavam exigindo a prisão dos

responsáveis pelas derrotas da França

diante dos exércitos inimigos.

A segunda fase: A Convenção

Nacional e a época do Terror ou a

Era das Antecipações - Em

setembro de 1792, chegou a Paris a

notícia da vitória dos exércitos

franceses sobre os exércitos

estrangeiros e, no mesmo dia, foi

oficializada a proclamação da

República, a primeira da França. A

partir de então, um novo órgão, eleito

pelo sufrágio universal, intitulado a

Convenção passou a governar a

França. Ao descobrir o acordo

estabelecido entre o rei francês e os

exércitos estrangeiros, os

revolucionários condenaram Luís XVI

à morte na guilhotina, em 1792, com

isso, chegou ao fim o período da

monarquia constitucional. Nesse

período, os jacobinos tornaram-se

cada vez mais populares e

conquistaram o apoio popular. O novo

governo revolucionário implementou

reformas moderadas, enquanto nas

ruas de Paris o povo exigia reformas

mais efetivas como o controle dos

preços dos alimentos. Nesse

momento, os jacobinos começaram a

liderar as reivindicações populares e

conseguiram formar a Comissão de

Salvação Publica, com o objetivo de

estabelecer o controle dos preços e

denunciar os abusos comerciantes

(girondinos). Entre maio e junho de

1793, o povo cercou o prédio da

Convenção exigindo a prisão dos

girondinos, e os jacobinos

responderam com deposição

daqueles, instaurando um novo

governo: a ditadura jacobina (ou

fase do Terror). Sucedem-se a esse

episódio uma série de execuções

comandadas por julgamentos

populares. No governo dos jacobinos,

foram realizadas muitas reformas, a

principal delas redistribuiu a

propriedade da terra dando origem ao

surgimento milhares de pequenas

propriedades na França. Outra de

suas reformas atingiu o calendário

Page 46: Historia Geral e do Brasil

47

oficial atacado por ser considerado um

calendário de festas religiosas.

No comando do novo governo,

Robespierre começou a atacar seus

próprios aliados da esquerda e, por

isso, perdeu parte do apoio popular

que detinha. A alta burguesia

financeira (planície) que conseguira

sobreviver ao período do terror

encontrou nessa situação a

oportunidade para derrubar o governo

jacobino. Acuado, Robespierre apelou

para os sans culottes, mas os líderes

que podiam socorrê-lo tinha sido

executados.

O golpe do 9 do Termidor - Em

julho de 1794, no dia 9 do Termidor,

pelo novo calendário revolucionário,

foi decretada a prisão de Robespierre

e de seus partidários. Sem o apoio

popular, a alta burguesia tomou o

controle revolucionário e mandou

executar, sem julgamento,

Robespierre e todos os seus aliados.

Buscando salvaguardar seus

interesses, o novo governo se

apressou em tomar uma série de

medidas como a restauração da

escravidão nas colônias e a revogação

da lei que regulava os preços das

mercadorias.

A terceira fase: O Diretório ou a

Era das Consolidações - Em 1795,

planeja-se uma nova Constituição. A

Convenção havia desaparecido

cedendo lugar a um novo tipo de

governo exercido por um Diretório.

Esse era composto por cinco membros

representando o poder executivo, e

duas Câmaras (o Conselho dos

Anciãos e o Conselho dos Quinhentos)

ambas representando o poder

legislativo. O governo do Diretório

suprimiu o voto universal,

implementado pela Convenção e

restabeleceu o voto censitário. O

Diretório deu início a uma política

expansionista com o objetivo de

aumentar os domínios franceses na

Europa, anexando pedaços da atual

Alemanha e da região da Lombardia,

no norte da Itália. A frente das

operações militares expansionistas

encontrava-se o jovem general

Napoleão Bonaparte, que garantiu a

posse desses territórios ao governo do

Diretório.

O golpe de 18 de Brumário -

Apreensiva com o clima de

instabilidade política e buscando

restabelecer plenamente suas

atividades econômicas, a burguesia

buscava organizar um governo forte

que assegurasse ―a lei e a ordem‖.

Favorecido pela popularidade

adquirida com as vitórias nas

campanhas militares, em novembro

de 1799 (18 de Brumário), Napoleão

Bonaparte dissolveu o Diretório e

estabeleceu um novo governo

intitulado Consulado. O poder era

utilizado por três cônsules, sendo o

Primeiro Cônsul o mais poderoso –

cargo de Napoleão no novo governo.

Os mandatos duravam dez anos e, ao

fim deste período, novos cônsules

deveriam ser eleitos. Mas o Consulado

não durou tanto tempo...

Questões de Vestibulares

1. Enem 2004. Algumas

transformações que antecederam a

Revolução Francesa podem ser

exemplificadas pela mudança de

significado da palavra ―restaurante‖.

Desde o final da Idade Média, a

palavra restaurant designava caldos

ricos, com carne de aves e de boi,

legumes, raízes e ervas. Em 1765

surgiu, em Paris, um local onde se

vendiam esses caldos, usados para

restaurar as forças dos trabalhadores.

Nos anos que precederam a

Revolução, em 1789, multiplicaram-se

diversos restaurateurs, que serviam

pratos requintados, descritos em

páginas emolduradas e servidos não

mais em mesas coletivas e mal

cuidadas, mas individuais e com

toalhas limpas. Com a Revolução,

cozinheiros da corte e da nobreza

perderam seus patrões, refugiados no

exterior ou guilhotinados, e abriram

seus restaurantes por conta própria.

Apenas em 1835, o Dicionário da

Academia Francesa oficializou a

utilização da palavra restaurante com

o sentido atual. A mudança do

significado da palavra restaurante

ilustra

Page 47: Historia Geral e do Brasil

48

(A) a ascensão das classes populares

aos mesmos padrões de vida da

burguesia e da nobreza.

(B) a apropriação e a transformação,

pela burguesia, de hábitos populares

e dos valores da nobreza.

(C) a incorporação e a transformação,

pela nobreza, dos ideais e da visão de

mundo da burguesia.

(D) a consolidação das práticas

coletivas e dos ideais revolucionários,

cujas origens remontam à Idade

Média.

(E) a institucionalização, pela

nobreza, de práticas coletivas e de

uma visão de mundo igualitária.

2. Puc 2005. Considere as

afirmativas abaixo, referentes às

semelhanças entre as Revoluções

Inglesa do século XVII e a Revolução

Francesa.

I - A ativa participação, em diferentes

momentos, dos diggers

("escavadores") e dos sans-cullotes

nas experiências revolucionárias

inglesa e francesa, respectivamente,

revela que as camadas populares

defendiam projetos político-sociais

próprios, não se mantendo à margem

desses movimentos.

II - Um dos legados de ambas as

revoluções está relacionado às

transformações na estrutura fundiária,

já que as grandes propriedades de

terra cederam lugar a minifúndios

produtivos, que contribuíram para o

crescimento da produção agrícola

nesses dois países.

III - As execuções do rei Carlos I

(Londres, 1649) e do rei Luís XVI

(Paris, 1793) são marcos simbólicos

do fim de uma antiga ordem, uma vez

que, pela primeira vez em suas

histórias, governantes foram

responsabilizados e condenados por

seus atos e decisões políticas.

IV - Ambas as revoluções

consolidaram regimes democráticos

ao estabelecer o voto universal

masculino na Inglaterra, pela

Declaração de Direitos de 1689, e na

França, pela Constituição de 1791.

Assinale:

(A) Se somente a afirmativa II está

correta.

(B) Se somente as afirmativas I e III

estão corretas.

(C) Se somente as afirmativas II e IV

estão corretas.

(D) Se somente as afirmativas II e IV

estão corretas.

(E) Se todas as afirmativas estão

corretas.

3. Puc 2005. Em princípios de 1789,

a França era uma sociedade do Antigo

Regime. A crise dessa estrutura

manifestou-se ao longo desse ano,

dando início a um período de

transformações que se estendeu por

dez anos: a Revolução Francesa.

a) Indique 3 (três) características de

natureza político-social da sociedade

do Antigo Regime na França.

b) Indique 3 (três) transformações

operadas durante o 1o momento da

Revolução Francesa - a "Era das

Instituições" (1789 -1792) - que

evidenciam o caráter revolucionário

dessa experiência histórica.

4. ENEM 2007. Em 4 de julho de

1776, as treze colônias que vieram

inicialmente a constituir os Estados

Unidos da América (EUA) declaravam

sua independência e justificavam a

ruptura do Pacto Colonial. Em

palavras profundamente subversivas

para a época, afirmavam a igualdade

dos homens e apregoavam como seus

direitos inalienáveis: o direito à vida,

à liberdade e à busca da felicidade.

Afirmavam que o poder dos

governantes, aos quais cabia a defesa

daqueles direitos, derivava dos

governados.

Esses conceitos revolucionários que

ecoavam o Iluminismo foram

retomados com maior vigor e

amplitude treze anos mais tarde, em

1789, na França. Emília Viotti da

Costa. Apresentação da coleção. In:

Wladimir Pomar. Revolução Chinesa.

São Paulo: UNESP, 2003 (com

adaptações).

Considerando o texto acima, acerca

da independência dos EUA e da

Revolução Francesa, assinale a opção

correta.

Page 48: Historia Geral e do Brasil

49

A) A independência dos EUA e a

Revolução Francesa integravam o

mesmo contexto histórico, mas se

baseavam em princípios e ideais

opostos.

B) O processo revolucionário francês

identificou-se com o movimento de

independência norte-americana no

apoio ao absolutismo esclarecido.

C) Tanto nos EUA quanto na França,

as teses iluministas sustentavam a

luta pelo reconhecimento dos direitos

considerados essenciais à dignidade

humana.

D) Por ter sido pioneira, a Revolução

Francesa exerceu forte influência no

desencadeamento da independência

norte-americana.

E) Ao romper o Pacto Colonial, a

Revolução Francesa abriu o caminho

para as independências das colônias

ibéricas situadas na América.

Page 49: Historia Geral e do Brasil

50

Capítulo 13. O Império

Napoleônico e o Congresso de

Viena

Apresentação - Sua chegada ao

poder representou na época uma

alternativa de estabilidade ao governo

que até aquele momento oscilava

entre uma ditadura popular radical e a

ameaça monarquista. O governo de

Napoleão Bonaparte foi dividido em

dois períodos, o Consulado (1799-

1804) e o Império, até 1814. Algumas

das reformas administrativas

implementadas no período

napoleônico permanecem em vigor na

administração francesa até os dias

atuais.

O Império napoleônico (1804-

1814) - Em 1804, Napoleão

Bonaparte se fez coroar Imperador

dos Franceses com o título de

Napoleão I.

A política interna - Seu governo

executou uma série de reformas que

beneficiaram a burguesia francesa.

Dentre elas: fundou escolas públicas

laicas de ensino básico em toda a

França e, em Paris, a escola francesa

de ensino normal para preparação dos

professores; criou o Código Civil

francês; tentou restabelecer a

escravidão nas colônias (sofreu

resistências e acabou perdendo o

Haiti) e desenvolveu políticas públicas

que impulsionassem à indústria e o

comércio nacional francês. O governo

de Napoleão também ratificou a

redistribuição de terras promovida

pela Revolução e reformulou o

sistema bancário criando uma moeda

nacional, o franco, com o objetivo de

exercer maior controle nos negócios

fiscais.

A política externa - A política

externa do governo de Napoleão foi

marcada pelo abandono da diplomacia

e dos acordos internacionais. Por volta

de 1805, ele já tinha subjugado toda

a Europa continental, colocando

reinos inteiros sob o comando de seus

parentes e outros subordinados.

Entretanto, a Inglaterra com a sua

poderosa Marinha se apresentava

como principal obstáculo às suas

pretensões. Enquanto esteve à frente

do governo francês, a França

participou de muitas guerras e

conflitos que resultaram na oposição

das monarquias conservadoras que

tornar-se-iam unidas pela Santa

Aliança.

O Bloqueio Continental - Em

novembro de 1806, Napoleão

decretou o Bloqueio Continental que

proibia todos os países do continente

europeu de comercializar com a Grã-

Bretanha, vedando ainda aos países

neutros o acesso aos portos

franceses. Seu objetivo era fomentar

a indústria francesa abastecendo a

Europa com seus produtos

industrializados. Tal medida se

justificava pelo seu interesse de

eliminar seu principal adversário (a

Inglaterra) e dominar os mercados

europeus e ultramarinos. Contudo, a

indústria francesa não foi capaz de

suprir as necessidades desse imenso

mercado. Por outro, o comércio de

cereais e outros produtos primários

(consumidos pela Inglaterra)

praticado entre a coroa britânica e

muitos países da Europa continental

foi interrompido pelo Bloqueio

prejudicando a economia dos antigos

parceiros britânicos na Europa. Alguns

países renunciaram ao Bloqueio

Continental, sofrendo a conseqüente

invasão francesa, como nos exemplos

de Portugal (invadido pelas tropas

francesas em 1807) e Rússia, invadida

em 1812.

A campanha da Rússia: Na Rússia,

o exército napoleônico sofreu sérias

perdas humanas e militares, levando-

o à quase total destruição devido ao

contra-ataque do exército russo e ao

rigoroso inverno daquele país. Em

1814, com o objetivo de destruir o

exército francês, foi formado um

grande exército europeu que acabou

vencendo o exército de Napoleão e

destruindo o seu Império.

O Governo dos Cem Dias – Com a

queda de Napoleão, a dinastia dos

Bourbons foi restaurada com a

coroação de Luís XVIII, irmão do rei

Luis XVI, guilhotinado pela revolução.

Porém, aproveitando-se da

insatisfação popular, Napoleão

conseguiu retomar o poder, iniciando

um curto governo conhecido como o

Governo dos Cem Dias. Após a

Page 50: Historia Geral e do Brasil

51

definitiva derrota napoleônica, na

Batalha de Waterloo (1815), o rei Luís

XVIII retornou ao trono. Todavia, sem

base de sustentação o retorno do

Antigo Regime seria breve.

O Congresso de Viena - Durante o

Congresso de Viena, ocorrido em

1815, o mapa geopolítico da Europa

foi redefinido. A Áustria, a Prússia, a

Rússia e a Inglaterra, os vencedores

das guerras napoleônicas, anexaram

novos territórios ganhando maior

dimensão no mapa europeu. A Rússia

anexou vários territórios na Europa

Oriental e a Áustria e a Prússia com

as novas anexações criaram as

condições para a formação dos

grandes impérios centrais europeus, o

Alemão e o Austro-Húngaro.

Entretanto, os ideais da Revolução

Francesa ainda muito presentes na

consciência popular preocupavam as

monarquias européias adeptas do

Antigo Regime. Em conseqüência

dessa tensão os reinos da Rússia,

Prússia e Áustria assinaram um pacto

de cooperação político-militar que deu

origem à chamada Santa Aliança.

A Santa Aliança – A Santa Aliança oi

um acordo político-militar no qual os

países envolvidos (Áustria, Prússia e

Rússia e posteriormente Inglaterra e

França) comprometam-se a se

ajudarem mutuamente em todos os

casos em que as medidas do

Congresso de Viena fossem

ameaçadas. A estipulação da defesa

da ação colonialista na América

motivou a saída dos britânicos do

pacto. A saída da Inglaterra foi

justificada pelo interesse da Coroa

Britânica em ampliar os seus negócios

com os nascentes Estados

independentes das Américas

portuguesa e Espanhola. Motivada

pelas divergências entre os países

membros e o fracasso no

restabelecimento dos domínios

coloniais na América, a Santa Aliança

acabou perdendo seu poder e se

desfazendo ainda na década de 1830.

Questões de Vestibulares 1. UERJ 1998. Em 1815, Napoleão

Bonaparte, considerado o herdeiro da

Revolução Francesa, foi derrotado,

procedendo-se a uma restauração dos

"legítimos soberanos" na França e em

todos os países europeus onde o

Antigo Regime havia sido destronado.

Essa Restauração não desfez, porém,

a obra liberal já construída. Em tal

perspectiva, conservadorismo e

liberalismo tornaram-se as palavras-

chave para os debates políticos que

permearam a primeira metade do

século XIX.

A) Cite duas características do

liberalismo político.

B) Entre as ações realizadas pelas

forças de conservação na primeira

metade do século XIX, encontra-se a

política de intervenção da Santa

Aliança. Conceitue essa política,

identificando um de seus objetivos.

2. UERJ 2009.

O mapa político apresentado

demonstra a fragmentação ocorrida

na América colonial espanhola, a

partir dos movimentos de

independência. Esse processo resultou

não só de fatores internos, mas

também de fatores externos às

colônias, como a tentativa de

restauração levada a cabo pela Santa

Aliança, utilizando como regra básica

o princípio de legitimidade enunciado

no Congresso de Viena (1814-1815).

Page 51: Historia Geral e do Brasil

52

Cite duas conseqüências políticas ou

territoriais para a Europa pós-

napoleônica da utilização do princípio

de legitimidade. Em seguida, explique

a influência desse princípio nas lutas

pela independência das colônias

espanholas na América.

Page 52: Historia Geral e do Brasil

53

Capítulo 14. A Independência

dos países latino-americanos Apresentação - As independências

dos países latino-americanos não

foram acompanhadas por mudanças

econômicas significativas. Esses novos

Estados mantiveram seu antigo

modelo econômico, basicamente com

uma economia agrário-exportadora

voltada para o interesse estrangeiro,

ou seja, mantiveram-se como

produtores de matérias-primas e de

produtos agrícolas para a exportação

e consumidores de produtos

industrializados. Essa situação

favoreceu a Inglaterra e os EUA, que

conseguiram expandir para as novas

nações suas atividades comerciais,

conquistando novos mercados

necessários para a manutenção de

suas indústrias.

A crise do sistema colonial - Em

finais do século XVIII, o fim do Antigo

Regime, assim como as ideais

iluministas, a Revolução Industrial, a

independência dos Estados Unidos e a

Revolução Francesa desempenharam

um papel decisivo no processo de

independência dos países latino-

americanos. As elites da América

colonial encontraram nessas idéias e

eventos o embasamento ideológico

para seus anseios autonomistas. A

luta pela liberdade política encontrava

sua justificativa no direito dos povos

oprimidos à rebelião contra os

governos tirânicos e à luta pela

liberdade econômica, na substituição

do monopólio colonial pelo regime de

livre comércio. Com poucas exceções,

as colônias da América espanhola

chegaram às suas independências na

mesma época e no mesmo contexto

histórico. As tentativas do império

espanhol de potencializar sua

economia aumentando a exploração

nas colônias americanas enfrentaram

dois grandes obstáculos: as barreiras

protecionistas dos principais mercados

europeus impostas pelo mercantilismo

e a incapacidade da própria metrópole

de abastecer as colônias de produtos

manufaturados. Em conseqüência de

tal situação, as colônias buscaram

uma saída, através do contrabando e

da própria fabricação dos artigos de

que necessitavam. Nas regiões de

maior desenvolvimento agrícola, como

a Venezuela, ou de intensa atividade

comercial, como Buenos Aires, logo

ganhou força a disseminação das

idéias liberais que chegavam da

Europa. Com a eclosão das guerras

napoleônicas, o conseqüente

isolamento da Espanha e a eficaz

presença comercial inglesa criaram-se

as situações ideais para a instalação

de governos locais autônomos a

intensa atividade comercial com a

Inglaterra. Entretanto, o retorno da

presença espanhola não aceitando a

autonomia das antigas colônias

americanas e a insistência

metropolitana em restaurar uma

situação que de fato há muito

desaparecera gerou uma disputa

longa e sangrenta em busca de

libertação.

As Reformas Bourbônicas – Essa

tentativa reformadora do Estado

espanhol no sentido de dinamizar e

modernizar a administração do

império se dirigiu, sobretudo, às

colônias buscando reforçar a

exploração das áreas coloniais. O

principal objetivo dessas reformas era

fortalecer o Estado espanhol e

aumentar a arrecadação através da

racionalização da administração e do

endurecimento fiscal. Outras

importantes medidas das reformas

foram a expulsão dos jesuítas das

colônias; a repressão ao contrabando

e ainda o incentivo às manufaturas

espanholas, para que essas pudessem

sozinhas abastecer a América. A partir

da implementação das Reformas

Bourbônicas, reforçaram-se os

movimentos de contestação contrários

à colonização espanhola, defendendo

a independência das colônias na

América. É o caso, por exemplo, do

movimento indigenista de Tupac

Amaru no Peru. Para a elite colonial

criolla, as reformas trouxeram sérios

prejuízos aos seus interesses, e essas

passaram a reivindicar o direito de

livre comércio com outros países

europeus, tornando-se as principais

interessadas na emancipação. Às

elites locais se aliaram muitos

comerciantes ingleses, prejudicados

pelo Bloqueio Continental, e por isso,

Page 53: Historia Geral e do Brasil

54

interessados na aplicação do livre

comércio na América ibérica. Assim, a

Inglaterra passou a apoiar os

movimentos de independência nas

colônias sul-americanas a partir de

1810.

A independência do Haiti, um caso

particular - A colônia francesa do

Haiti teve uma independência

diferente de todas as outras regiões

da América. Lá, houve um processo

revolucionário, uma independência

conquistada a partir de uma revolta

escrava que pôs fim à escravidão. A

revolta e o processo de independência

começam em 1791 e se consolidou

em 1804, com a aceitação da

independência pela França.

A deposição do rei espanhol

Fernando VII - Napoleão invadiu a

Península Ibérica em 1807 e

destronou o rei espanhol Fernando

VII. Em seu lugar, colocou José

Bonaparte, seu irmão como o novo

rei. As colônias espanholas se auto-

organizaram a partir dos cabildos – as

câmaras municipais da América

hispânica – e rejeitaram o rei

escolhido por Napoleão. Pôs-se então

em prática o livre comércio com os

outros países europeus, sobretudo

com a Inglaterra.

A retomada do colonialismo – Com

o fim das guerras napoleônicas e a

volta do absolutismo na Espanha,

tentou-se restabelecer o antigo

colonialismo. As elites criollas que

estavam desfrutando do livre

comércio e da auto-organização

rejeitam essa tentativa de

recolonização. Os generais San Martin

e Simon Bolívar lideraram as tropas

que libertariam quase toda a América

espanhola até 1824.

As guerras de independência - A

primeira metade do século XIX foi

marcada, na América Latina, pelas

lutas de independência e pelo

processo de formação dos Estados

nacionais americanos. Nas colônias

espanholas, o movimento separatista

difundiu-se principalmente de três

lugares: Caracas, Buenos Aires e

México. O objetivo dessas regiões era

garantir a independência e com ela

permitir a ascensão de uma burguesia

mercantil e de idéias liberais. O

processo de independência hispano-

americano dividiu-se em três fases

principais:

Os movimentos precursores

(1780 - 1810);

As rebeliões fracassadas (1810

- 1816);

As rebeliões vitoriosas (1817 -

1824).

Os movimentos Precursores -

Foram as revoltas de Tupac Amaru e

de Francisco Miranda, severamente

reprimidas pelas autoridades

metropolitanas. Mesmo derrotadas,

essas revoltas contribuíram para

enfraquecer a dominação colonial e

desenvolver as condições para a

futura guerra de independência. A

mais importante dessas insurreições

ocorreu no território peruano, em

1780, e foi comandada por um índio,

Tupac Amaru. Essa rebelião mobilizou

mais de sessenta mil índios e só foi

totalmente esmagada pelos espanhóis

em 1783, quando foram também

massacradas outras revoltas no Chile

e na Venezuela. Inspirado na

independência dos Estados Unidos, o

criollo venezuelano Francisco Miranda

liderou no início de século XIX vários

levantes e se tornou o maior

precursor da independência hispano-

americana.

As rebeliões fracassadas - Em

1808, a ascensão de José Bonaparte

ao trono da Espanha desencadeou a

guerra de independência na América

espanhola, devido aos

desdobramentos políticos daquela

situação. Enquanto na Espanha, o

povo pegou em armas contra o

domínio francês; na América, em

1810, os criollos deram início as lutas

pela independência. O fracasso das

rebeliões iniciadas em 1810 foi

conseqüência, em grande medida, da

falta de apoio da Inglaterra (em luta

contra Napoleão) e dos Estados

Unidos, que possuíam acordos

comerciais com a Espanha, e por isso

não forneceram ajuda aos hispano-

americanos.

As rebeliões vitoriosas - Após a

derrota de Napoleão, em 1815, a

Inglaterra passou a apoiar

Page 54: Historia Geral e do Brasil

55

efetivamente os movimentos

emancipacionistas na América, que

recomeçaram em 1817 e só

terminariam em 1824 com a derrota

espanhola e a independência política

das colônias americanas. Nesse

mesmo ano, Simon Bolívar encabeçou

a campanha militar que culminou com

a libertação da Venezuela, da

Colômbia e do Equador e José de San

Martín, ao Sul, promoveu a libertação

da Argentina, do Chile e do Peru. Os

dois libertadores se encontraram em

1822, em Guayaquil, no Equador,

onde San Martín entregou a Bolívar o

comando do exército de libertação. As

independências se tornaram

irreversíveis quando, em 1823, os

EUA proclamaram a Doutrina

Monroe, opondo-se a possíveis

tentativas de intervenção militar ou

colonizadora, da Santa Aliança, no

continente americano. O general

Sucre, lugar-tenente de Bolívar, em

1824, derrotou definitivamente os

últimos remanescentes do exército

espanhol no interior do Peru, na

Batalha de Ayacucho. No Norte, a

independência do México fora

proclamada em 1822 pelo general

Iturbide que se autoproclamou

imperador. Um ano depois, o México

adotaria o regime republicano. Em

1825, após a guerra de

independência, apenas as ilhas de

Cuba e Porto Rico permaneceram sob

o domínio espanhol.

A organização dos estados

americanos - Diversas repúblicas

foram criadas ao contrário do sonho

do líder Simon Bolívar de fundar uma

grande confederação unindo toda a

antiga América espanhola. Apesar das

características comuns, como o

idioma a grande semelhança cultural,

após as independências, formaram-se

vários países diferentes na América

Central e na América do Sul, nos

quais foi adotada a forma de governo

republicana.

Alguns fatores que contribuíram para

essa fragmentação foram:

A presença geográfica dos

Andes representava um

obstáculo natural à integração

de algumas regiões;

As lideranças criollas que

conduziram o processo de

independência que pretendiam

tomar o poder nos novos

países e tinham interesse na

formação de vários Estados

onde pudessem manter seus

privilégios;

A Inglaterra e os EUA que

estimularam a divisão em

vários países buscando facilitar

a sua dominação econômica.

Dentre os principais desdobramentos

do processo de emancipação da

América espanhola merecem destaque

a conquista da independência política,

a conseqüente divisão geopolítica e a

persistência da dependência

econômica dos novos Estados.

Contudo, tal emancipação não foi

acompanhada de uma revolução

social ou econômica, pois muito das

velhas estruturas herdadas do

passado colonial sobreviveram às

guerras de independência e foram

conservadas pelos novos Estados.

Assim, a divisão política e a

manutenção das estruturas coloniais

contribuíram para perpetuar a secular

dependência econômica latino-

americana, agora não mais em

relação à Espanha, mas em relação ao

capitalismo industrial inglês. As

jovens repúblicas latino-americanas,

divididas e enfraquecidas, assumiram

novamente o duplo papel de

fornecedoras de matérias-primas

essenciais agora à expansão da

Revolução Industrial e de mercados

consumidores para as manufaturas

produzidas pelo capitalismo inglês.

A Doutrina Monroe - Enquanto a

Santa Aliança pregava na Europa a

manutenção das monarquias

absolutistas e a recolonização da

América, o presidente americano

James Monroe elaborou um

documento no qual pregava a não-

intervenção dos países europeus nas

nações americanas: a chamada

Doutrina Monroe. Dessa forma, os

Estados Unidos abandonavam a

política isolacionista e se

apresentavam como defensores dos

Estados latino-americanos, rejeitando

qualquer tentativa colonialista

Page 55: Historia Geral e do Brasil

56

defendendo ―a América para os

americanos‖. A Doutrina Monroe

acabou se tornando o principal

instrumento ideológico de

subordinação da América Latina aos

interesses estadunidenses. Essa

política serviu para consolidar a

hegemonia dos Estados Unidos no

continente americano, além de

facilitar a expansão ianque em direção

ao Oeste.

Page 56: Historia Geral e do Brasil

57

Capítulo 15. Doutrinas Sociais

e Revoluções Liberais na Europa do século XIX

Apresentação - Surgiram na Europa

do século XIX diversas doutrinas

sociais e ideologias. Mediante a

desigualdade social e as duras

condições de vida de boa parte da

população, estabelecida à margem do

sistema capitalista, começaram a

aparecer propostas políticas tratando

da questão operária e que passaram a

rivalizar com a doutrina do

liberalismo. Essas novas idéias se

relacionavam com o novo contexto

político-econômico vivido na Europa e

em algumas partes do mundo. A

industrialização, a urbanização, a

desigualdade social, a miséria e

outros problemas sociais comuns à

sociedade capitalista, permitiram a

emergência de novas formas de

pensar que legitimassem e

confrontassem tais mudanças. Essas

idéias não se restringem ao

pensamento político, mas abarcam

também o pensamento científico,

social, econômico, artístico e

filosófico.

As doutrinas sociais O Liberalismo – É a forma de

pensamento que prima pela

autonomia moral, política e econômica

da sociedade civil em oposição à

concentração do poder político. O

liberalismo ganhou expressão

moderna com os escritos de John

Locke (1632-1704) e Adam Smith

(1723-1790). Entre seus principais

conceitos se incluem o individualismo,

o direito a propriedade privada e o

governo limitado. O liberalismo

defende ainda a inviolabilidade das

liberdades civis e de mercado,

condenando a interferência excessiva

do Estado na economia.

O Romantismo – Foi a corrente de

pensamento de oposição ao

Iluminismo e ao liberalismo, e não se

restringiu apenas às artes. Foi um

movimento que criticou a nova

sociedade capitalista, exaltando

características da sociedade do Antigo

Regime e da Idade Média como a vida

rural. O Romantismo também

representou uma tendência ao

sentimentalismo em oposição ao

racionalismo iluminista. O ponto

central da visão romântica do mundo

é o sujeito, sua personalidade e suas

paixões. Na criação artística exaltava

os mitos do herói e da nação, a

natureza em si, e como lugar da

experiência espiritual do indivíduo.

O Nacionalismo - Princípio burguês

de defesa dos interesses de uma elite

local sobre uma dada região – nação

–, que ressalta supostos traços de

união de um povo comum. Muitas

vezes vem associado ao romantismo

na crítica ao liberalismo. Defende que

para cada povo haja uma nação. Para

o nacionalismo, a nação seria

constituída por uma língua, uma

religião e cultura comuns. Defende os

interesses do comércio e da indústria

nacionais – protecionismo – e louva

os símbolos e a cultura nacional frente

aos das outras nações. Na Europa do

século XIX esse ideal passou a

suscitar na população um sentimento

que fez com que começassem a lutar

pela unificação de seus supostos

países, para assim vê-los

transformados em nações soberanas.

O Socialismo utópico - De caráter

romântico, essa filosofia política

defendia a transformação da

sociedade em outra mais igualitária e

solidária, mudando o regime de

propriedade. Não formulou uma crítica

sistemática à sociedade capitalista.

Representou uma reação operária aos

efeitos da Revolução Industrial. Os

primeiros socialistas a formularem

críticas ao processo industrial

elaboraram modelos socioeconômicos

idealizados e soluções que não se

concretizaram efetivamente.

O Socialismo Científico - Muitas

vezes confundido com marxismo e

comunismo, foi uma proposta

revolucionária idealizada pelos

filósofos alemães Karl Marx e

Friederich Engels. Foi o movimento

anticapitalista que adquiriu maior

projeção na sociedade. Ao contrário

do Socialismo Utópico, não defendia

uma sociedade ideal. Tentava

entender as contradições da

sociedade capitalista para transformá-

Page 57: Historia Geral e do Brasil

58

la, constituindo uma sociedade

socialista moderna, posterior ao

capitalismo, com o primado da

igualdade social. Segundo Marx, o

agente transformador da sociedade

era a luta de classes, para ele, ao

longo da história, explorados e

exploradores apresentaram interesses

opostos e esse quadro de oposição

induziria às lutas e as conseqüentes

transformações sociais. O Socialismo

Cientifico foi fundamental para as

futuras revoluções ocorridas no século

XX.

O Sindicalismo - Teve origem no

Cartismo dos operários ingleses e tem

como objetivo a união dos

trabalhadores assalariados na luta

pela conquista de direitos políticos,

trabalhistas, pela transformação da

sociedade e do regime de

propriedade. O Sindicalismo também

se constitui numa doutrina política,

segundo a qual os trabalhadores

reunidos em sindicatos de categorias

profissionais deveriam exercer um

papel ativo nos rumos tomados pela

sociedade. O Sindicalismo pode ser

dividido em duas vertentes: a

reformista (que defende a negociação

e a transformação gradual) e a

radical, que defende a mudança

imediata mesmo que seja promovida

com o auxílio da violência.

O Anarquismo - É uma filosofia

política que reúne teorias e ações com

objetivo de eliminar todas as formas

impostas de governo ou autoridade.

Os anarquistas se posicionavam

contrários a qualquer tipo de ordem

hierárquica que não fosse livremente

aceita, defendendo formas de

organização alternativas e libertárias.

Para os anarquistas a sociedade

deveria se organizar através da livre

iniciativa e da livre associação. Seus

principais nomes foram Pierre-Joseph

Proudhon e Mikhail Bakunin, esse

último se tornou líder do anarquismo

terrorista, que apontava a violência

como única forma de alcançar a

sociedade sem Estado e sem

desigualdades.

A Doutrina social da Igreja -

Diante das mudanças sociais ocorridas

na Europa do século XIX, das

péssimas condições de vida dos

trabalhadores e da radicalização dos

movimentos sociais, a Igreja também

se posicionou em relação às questões

sociais, criando uma doutrina, o

catolicismo social. Não defendia a

luta, mas o entendimento entre os

grupos opostos, a união entre as

classes sociais, a melhoria das

condições dos trabalhadores e a

caridade. Não questionava o sistema

de propriedade vigente. Foi nesse

contexto que o papa Leão XIII

promulgou, em 1891, o primeiro

documento da Igreja Católica,

manifestando suas preocupações

sociais. A Encíclica Rerum Novarum

foi a resposta da Igreja aos fiéis,

exortando-os à busca de uma solução

pacífica para as questões sociais. De

acordo com a sua Doutrina Social, a

Igreja defendia a dignidade intrínseca

e inalienável da pessoa humana, a

primazia do bem comum, a

destinação universal dos bens, a

superioridade do trabalho sobre o

capital e o princípio da solidariedade.

O cenário político-econômico e social das revoluções

A burguesia e o Antigo Regime -

Apesar de relativamente numerosas

as revoltas e revoluções na Europa do

século XIX possuem características

comuns: foram lutas políticas entre a

burguesia e as forças representativas

do Antigo Regime. A reação européia

às revoluções burguesas, conduzida

pelo Congresso de Viena e pela Santa

Aliança, não conseguiu impedir as

revoluções da América luso-

espanhola, permitindo que um

violento golpe a atingisse.

As crises econômicas - Apesar da

principal motivação para as

revoluções girar em torno disputa de

poder entre a antiga nobreza e a

burguesia emergente, fatores

imediatos também contribuíram para

a eclosão desses movimentos, como

as constantes ondas de fome e as

crises econômicas.

A industrialização e as lutas

operárias - Se a industrialização

fortaleceu as burguesias nacionais

impulsionando-as à luta política, por

outro lado também permitiu a

Page 58: Historia Geral e do Brasil

59

formação de um operariado que,

sendo vítima das péssimas condições

de vida e trabalho, passou a lutar

pelos seus direitos contra a burguesia

e o estado.

O Socialismo – Trata-se de um

sistema sociopolítico que surgiu em

meados do século XIX (principalmente

nas Revoluções de 1848 e na Comuna

de Paris de 1871) e se caracteriza

pela defesa da apropriação dos meios

produtivos e pela posse coletiva dos

mesmos. De acordo com esse

sistema, com o fim da propriedade

privada as desigualdades sociais

tenderiam a ser radicalmente

reduzidas, já que os bens produzidos

seriam igualmente distribuídos.

As Revoluções Liberais

As Revoluções de 1820 - Em 1820,

deu-se o primeiro ciclo de revoltas e

revoluções burguesas na Europa.

Essas atingiram Portugal (Revolução

do Porto), Espanha (restauração da

Constituição de Cádiz) e outras

regiões da Europa. A maioria delas foi

duramente reprimida pela Santa

Aliança.

As Revoluções de 1830 - De cunho

liberal e nacionalista, essas revoluções

começaram na França e, em seguida,

se espalharam por toda a Europa.

Suas principais reivindicações eram a

defesa das liberdades individuais e a

exigência de governos instituídos pelo

voto, mesmo que esse não fosse

universal. Na França, foi instaurada

uma monarquia constitucional; a

Bélgica tornou-se independente da

Holanda e a Grécia conquistou a sua

independência do Império Otomano.

Outras revoltas nacionalistas

explodiram na Itália, Alemanha e

Polônia, mas foram duramente

massacradas.

As Revoluções de 1848 - As

Revoluções de 1848 foram fortemente

marcadas pelo Nacionalismo.

Caracterizou-se pela luta de diferentes

povos pela sua independência frente

aos grandes impérios europeus.

Nessas revoluções, a dinastia Bourbon

teve fim na França com a

proclamação da República; no Império

austríaco, eclodiram diversos

movimentos nacionalistas, todos

esmagados pelo exército austríaco

com a ajuda do exército russo; na

Itália e nos reinos germânicos, outras

revoltas nacionalistas sinalizavam o

processo de unificação das duas

regiões que estava por vir,

transformando-as em novos Estados

Nacionais.

A Comuna de Paris – A Comuna da

Paris foi um governo popular,

organizado pelas camadas populares

parisienses e fortemente marcado por

diversas tendências ideológicas,

populares e operárias. Foi também a

primeira experiência socialista da

história e se deu durante dois meses,

em 1871, em Paris. Após a derrota do

exército francês na Guerra Franco-

prussiana, guardas locais organizaram

a resistência das cidades francesas.

Logo em seguida a notícia da

assinatura de um armistício entre os

governos francês e alemão ocasionou

uma rebelião da guarda de Paris,

composta pela população pobre

urbana que passou a governar a

cidade. A seguir, foi instaurado um

governo, popular, no qual o exército

seria composto pelas camadas pobres

da população; o Estado seria

separado da Igreja; o sufrágio seria

universal e as indústrias teriam como

proprietários e administradores os

próprios operários. A comuna foi

massacrada pelo exército prussiano a

pedido do governo francês. Cerca de

trinta mil pessoas foram mortas,

presas e deportadas.

As lutas operárias na Inglaterra -

Apesar de não ser mais uma

monarquia absoluta desde o século

XVII, na Inglaterra prevaleciam os

conflitos entre os numerosos

operários e os industriais. A legislação

liberal inglesa proibia as greves, a

formação de sindicatos e o direito de

reunião, gerando as lutas operárias e

a organização dessa classe. A partir

dessas lutas, os trabalhadores

urbanos começaram lentamente a

conquistar direitos trabalhistas

básicos e políticos (já que não tinham

direito de voto ou de serem eleitos).

Desse modo, os sindicatos atuaram,

portanto, tanto na luta por direito

trabalhistas, como na conquista de

Page 59: Historia Geral e do Brasil

60

direitos políticos por parte dos

trabalhadores que alcançaram

também a liberdade para formar seus

próprios partidos.

Questões de Vestibulares

1. UFRJ 2005.

(Intensos debates na Paris de 1848 - M.

Carnavalet, Paris)

A historiografia tradicionalmente

considera a revolução de 1848, na

França, como um divisor de águas na

história dos movimentos populares

europeus do século XIX. Justifique tal

afirmativa.

2. PUC 2009. Leia, com atenção, os

textos abaixo.

Documento 1: “Defendi por quarenta

anos o mesmo princípio: liberdade em

cada coisa, na religião, na filosofia, na

literatura, na indústria, na política; e

por liberdade entendo o triunfo da

individualidade, seja sobre a

autoridade que gostaria de governar

de forma despótica, seja sobre as

massas que reclamam o direito de

sujeitar a minoria à maioria.”

Documento 2: “Detesto a comunhão,

porque é a negação da liberdade e

porque não concebo a humanidade

sem liberdade. Não sou comunista,

porque o comunismo concentra e

engole, em benefício do Estado, todas

as forças da sociedade; porque

conduz inevitavelmente à concepção

da propriedade nas mãos do Estado,

enquanto eu proponho (...) a extinção

definitiva do princípio mesmo da

autoridade e tutela, próprios do

Estado, o qual, com o pretexto de

moralizar e civilizar os homens,

conseguiu (...) somente escravizá-los,

persegui-los e corrompê-los.”

Nos documentos acima, estão

expressas duas visões da realidade

social elaboradas no século XIX

representativas das idéias:

(A) do liberalismo e do socialismo

utópico.

(B) da doutrina social da Igreja e do

socialismo científico.

(C) do socialismo utópico e do

anarquismo.

(D) do liberalismo e do anarquismo.

(E) da doutrina social da Igreja e do

socialismo utópico.

3. PUC 2009.

Figura 1 Fraternidade (Fraternité). Litogravura

de F. Sorrieu, 1848, França.

Fig. 2 - O Guloso (L´Ingordo). Charge, 1915,

Itália

A primeira imagem representa o

sonho de construir repúblicas

democráticas por toda Europa, em

1848. A marcha fraterna dos povos,

cada qual com sua bandeira, simboliza

os ideais nacionalistas em voga na

primeira metade do século XIX. A

segunda imagem retrata o Kaiser

Guilherme II e caracteriza o

Page 60: Historia Geral e do Brasil

61

nacionalismo exacerbado que

alimentou todas as potências

européias entre 1890 e 1914,

contribuindo para a eclosão da

Primeira Grande Guerra. Com base

nessas imagens e em seus

conhecimentos:

a) INDIQUE duas diferenças entre o

nacionalismo que caracterizou a

―Primavera dos Povos‖ e o que

conduziu à Primeira Guerra.

b) CITE duas rivalidades nacionalistas

que ocorreram em solo europeu e que

exemplifiquem o nacionalismo

exacerbado caracterizado na segunda

imagem.

Page 61: Historia Geral e do Brasil

62

Capítulo 16. A Guerra de

Secessão e o expansionismo norte-americano

Apresentação - Até o início da

guerra civil, em 1861, a sociedade

norte-americana não tinha modificado

muito suas estruturas sociais da

época da colonização. Apesar do

desenvolvimento econômico do país

as diferenças entre as sociedades do

Norte e do Sul ainda eram bem

marcadas. Na expansão para o Oeste,

as fronteiras das ex-colônias se

alargaram seguindo em direção ao

Pacífico promovendo o surgimento de

novos estados, o que deu origem a

fortes disputas entre o Norte e do Sul

que defendiam respectivamente

estados livres e escravistas. Na

conquista do Oeste a população

indígena foi dizimada e praticamente

extinta. Por volta da segunda metade

do século XIX, aumentaram-se as

contradições entre os estados do

Norte e do Sul, tais diferenças

socioeconômicas deixavam evidente a

iminência de um conflito que pusesse

fim às contradições em favor do

desenvolvimento de um Estado

integrado.

O Norte - A colonização nortista se

deu através das pequenas

propriedades com a utilização de

mão-de-obra livre. Isso permitiu a

criação e o desenvolvimento de um

importante mercado interno na

região. Mesmo antes da guerra civil, o

norte já possuía uma base econômica

―quase industrial‖, com muitas

manufaturas e algumas ferrovias

ligando as suas diversas localidades.

O Sul – Diferente do Norte, essa

região foi colonizada com grandes

propriedades de terras, a utilização da

mão-de-obra escrava e o cultivo de

produtos para exportação. Esse

modelo agrário-exportador teve

continuidade após a independência,

principalmente, com a cultura do

algodão, exportado em pequena

escala para as manufaturas do Norte

e em sua grande maioria para suprir a

grande demanda das fábricas inglesas

desde o início da Revolução Industrial.

O Oeste - As terras dos Oeste norte-

americano, conquistadas através de

compras e guerras eram ferozmente

disputadas pelos grandes

proprietários sulistas e pelos

capitalistas do Norte. Os nortistas

desejavam implantar um regime de

pequenas propriedades que suprisse

ao mesmo tempo a demanda de

terras dos imigrantes, a necessidade

de produtos básicos do mercado

interno e permitisse o aumento do

mercado consumidor de suas

manufaturas. Já o Sul defendia que as

terras tivessem um preço elevado

(permitindo que somente os grandes

proprietários pudessem comprá-las) e

que fosse implantado o regime de

trabalho escravo na região.

Os antecedentes da guerra:

Alguns dos fatores responsáveis pela

eclosão da guerra civil ou Guerra de

Secessão, foram as divergências entre

os Estados do Norte e do Sul:

A balança comercial – Enquanto o

Norte defendia a sua indústria

exigindo altas taxas de importação, o

Sul defendia baixas taxas de

importação que permitissem adquirir

produtos manufaturados ingleses por

um preço inferior àqueles praticados

pelo Norte, já que não havia

indústrias no Sul.

As lutas políticas - As disputas em

torno do trabalho livre ou escravo que

deveria vigorar no Oeste acabaram

gerando grandes discussões políticas

no Senado e na Câmara.

Tradicionalmente existia nos Estados

Unidos uma relativa igualdade de

representação política entre nortistas

e sulistas, no entanto, esse equilíbrio,

às vésperas da guerra, estava se

desfazendo em favor do Norte

desencadeando a revolta dos

membros do Sul.

A questão da receitas - Os Estados

do Sul se diziam preteridos nos

investimentos da União, já que a

exportação do algodão sulista era

uma das maiores fontes da receita da

União. Os Estados do Sul passaram a

reivindicar que a receita gerada pelo

estado sulista ficasse

preferencialmente no Sul, por isso

defendiam uma Confederação na qual

Page 62: Historia Geral e do Brasil

63

as arrecadações locais ficariam

majoritariamente em seus Estados de

origem.

A guerra (1861-1865) e seus desdobramentos A Confederação Sulista - O início da

Guerra se deu com a eleição para

presidência dos Estados Unidos de

Abraham Lincoln (representante dos

interesses do Norte), gerando a

declaração de separação da Carolina

do Sul do resto da união, seguida por

mais seis estados. Em 1861, reunidos

em um Congresso no Alabama esses

estados formaram um novo país, os

Estados Confederados da América. Em

resposta, os estados nortistas

declaram guerra à Confederação,

dando início à Guerra de Secessão.

A vitória do Norte – Em comparação

com o Sul, os estados do Norte

dispunham de maiores recursos

econômicos, bélicos e humanos para

conduzir a guerra. No entanto, a

estratégia sulista era obter o apoio da

Inglaterra e da França contra os

Yankees nortistas. No Norte, as

medidas liberais decretadas por

Lincoln, tais como a abolição da

escravatura e a distribuição de terras

no Oeste para famílias que nelas

permanecessem por 5 anos, com

trabalho livre, acirraram ainda mais a

reação sulista contra o governo

nacional. Do conflito, o Norte saiu

vencedor e o resultado da violência

dos confrontos foi a morte de cerca

600 mil pessoas e o assassinato do

presidente Lincoln.

A vitória modelo industrial - Do

ponto de vista econômico a guerra

significou a vitória do capitalismo,

colocando a economia dos Estados

Unidos no caminho da industrialização

moderna e o modelo nortista de

sociedade foi imposto a todo o

território nacional. A partir desse

momento, os EUA alavancaram seu

processo de industrialização,

construíram novas ferrovias

interligando o país de costa a costa e

organizaram grandes grupos

financeiros.

A abolição da escravatura e

situação dos libertos - Em 1863,

Lincoln decretou o fim da escravidão

no país, o que só ocorreu de fato com

o fim da guerra. A Guerra de

Secessão trouxe grandes alterações

para a vida socioeconômica dos

Estados Unidos e a hegemonia política

da burguesia industrial. Entretanto,

apesar de ter eliminado a escravidão,

essa guerra não resolveu a questão

racial na sociedade norte-americana.

Os negros libertos continuaram sem

direito à propriedade e a cidadania.

Os estados sulistas começaram

promover a segregação racial e a

abolição dos direitos civis dos negros.

Surgiram sociedades secretas com a

finalidade de exterminar o negro dos

ciclos sociais como a Ku Klux Klan.

Poucos libertos tiveram acesso à terra

e muitos fugiram para o Norte. Após o

término da Guerra de Secessão, teve

início a corrida imperialista norte-

americana.

Questões de Vestibulares

1. Uerj 2000. O mapa abaixo indica

intervenções empreendidas pelos EUA

na América Latina.

(AQUINO, R. de; LEMOS, N. de & LOPES, O. G. P. C. História das Sociedades Americanas. RJ:

Eu e Você, 1997.).

Até o final da década de 20 deste

século, estas ações dos EUA podem

ser consideradas como resultado dos

seguintes fatores:

(A) aprofundamento na disputa entre

interesses sulistas e nortistas –

oposição à primazia do capital inglês

(B) ênfase no expansionismo

territorial – isolacionismo

característico da política externa

norte-americana

(C) crença na missão civilizatória

norte-americana – ampliação da

Page 63: Historia Geral e do Brasil

64

presença econômica na América

Latina

(D) contradição entre as propostas da

Doutrina Monroe e do Destino

Manifesto – existência de rivalidades

imperialistas com a Europa

Page 64: Historia Geral e do Brasil

65

Capítulo 17. A industrialização

no século XIX e as Unificações italiana e alemã

Apresentação – De certa forma, a

industrialização define a era

contemporânea, e o mundo em que

vivemos atualmente é fortemente

marcado por ela. Foi através da

industrialização que o capitalismo

adquiriu a sua plena expressão e as

relações sociais se redefiniram pela

forma como se estrutura o trabalho e

a luta pela sobrevivência. Em

conseqüência do avanço da

industrialização se deram muitos

eventos históricos, como a

potencialização na disputa por novos

mercados consumidores e

fornecedores de matéria-prima,

explicando processos históricos como

a partilha da África ocorrida no século

XIX, a Primeira Grande Guerra (1914-

1918) e a conseqüente Segunda

Guerra Mundial (1939-1945).

A industrialização no século XIX

A Segunda Revolução Industrial

(ou Revolução Tecnológica) –

Apesar do emprego do termo

―revolução‖ na Segunda Revolução

Industrial, não ocorreu mudanças na

relação de produção entre industriais

e trabalhadores que se manteve com

mão-de-obra assalariada. Dessa

forma, o termo ―revolução‖ se aplica

melhor ao significativo avanço nas

inovações tecnológicas; a nova

organização do capital; a

diversificação geográfica da indústria,

e a utilização de novas fontes de

energia.

Inauguração do ―Caminho-de-ferro‖ em 28 de

Outubro de 1856, Portugal. Alfredo Roque Garneiro. Aquarela.

As ferrovias - A invenção da

locomotiva e das estradas de ferro no

início do século XIX trouxe uma

grande mudança para o cenário

industrial e para as relações

econômicas. Além de cooperar para

acumulação de capital, em virtude do

montante financeiro necessário à sua

construção, as ferrovias aproximaram

mercados distantes, fazendo ―diminuir

a distancia‖ entre eles, e dinamizaram

a produção.

A nova organização do capital – A

concentração dos capitais em poucas

mãos é uma característica do

capitalismo nesse período. Os bancos

ganharam uma importância decisiva,

visto que passaram a ser os grandes

investidores nos empreendimentos

vultosos, como a construção de

ferrovias. A união entre o capital

bancário e o capital industrial deu

origem ao capital financeiro, com o

qual os bancos detiveram a primazia

econômica sobre a indústria. Surgiram

ainda os grandes complexos

empresariais dominados pelo capital

financeiro – ou capital monopolista –

como os trustes, cartéis, holdings.

As Novas fontes de energia – Além

do carvão e da força hidráulica (fontes

de energia largamente utilizadas na

Primeira Revolução Industrial),

durante a Segunda Revolução

Industrial foram descobertas novas

fontes e novos usos da energia como

a eletricidade e o petróleo. A força

hidráulica, já conhecida, passou a ser

utilizada de forma intensiva, como no

caso das grandes hidrelétricas.

Recém-descoberta, a eletricidade

passou a ser utilizada em escala

industrial, e o petróleo passou a ser

largamente aplicado para a geração

de força por combustão.

As novas tecnologias – A segunda

metade do século XIX ficou conhecida

como a época das inovações na

indústria, do surgimento de novos

ramos industriais e das invenções. Um

bom exemplo disso são as novas

formas de obter o aço, agora

produzido em larga escala. Outro

exemplo foi o aparecimento da

indústria química e a fabricação de

produtos sintéticos, dispensando o

Page 65: Historia Geral e do Brasil

66

uso de matérias-primas tradicionais

como o anil, o açúcar de cana e a

seda natural. Além dessas,

destacaram-se outras invenções como

o automóvel, a lâmpada, o dirigível e

a máquina de escrever. A

industrialização ganhou novo impulso

através da dinamização do comércio,

viabilizada pela renovação nos

transportes, com o advento das

ferrovias; dos navios mais velozes e

da abertura dos grandes canais de

Suez (1869) e Panamá (1915).

A expansão geográfica da

indústria e as crises de superprodução

Os novos parques industriais - Se

no início do século XIX, o único país

industrializado do mundo era a

Inglaterra, a partir de meados do

mesmo século, outros Estados iriam

desenvolver a sua produção industrial.

Dessa forma, a Bélgica se

industrializou a partir de 1830; a

França a partir de 1860; a Alemanha

no mesmo período e muito mais

fortemente após a unificação (1871);

os EUA, após a Guerra de Secessão

(1865); a Rússia, no último quartel do

século XIX; o Japão a partir da

Revolução Meiji (1868), e a Itália

(ainda de forma incipiente) assim

como a Alemanha, também após a

sua unificação (1870). Um dos fatores

que impulsionou a criação de

indústrias em algumas regiões da

Europa continental foram as reformas

napoleônicas e o Bloqueio

Continental, que ao impedir o acesso

desses países aos produtos ingleses

acabou favorecendo o surgimento de

pequenas indústrias que suprissem as

necessidades dos mercados locais que

não eram satisfeitos pela produção

francesa.

O protecionismo - O fator decisivo

para a industrialização desses países

foi a atitude antiliberal do

protecionismo econômico, adotado

por eles. O protecionismo era a defesa

da produção nacional ante os

produtos importados (especialmente

da Inglaterra) através de altas taxas

de importação. Desse modo a ajuda

do Estado instituindo políticas

protecionistas foi fundamental, na

segunda metade do século XIX, para

que todos os novos países recém-

industrializados alavancassem sua

indústria nacional. Em alguns países

como a Prússia, o Estado não só

instituiu altas taxas protecionistas

como participou ativamente da

industrialização, comprando produtos

e também organizando um sistema

educacional básico que melhorou

educacionalmente a qualidade da

mão-de-obra.

As crises de superprodução - Com

o crescimento significativo da

produção industrial, ocorreu uma

saturação da oferta de produtos no

mercado consumidor que, ao contrário

do parque industrial mundial, não

aumentou de tamanho. Assim sendo,

em 1873, ocorreu a primeira grande

crise de superprodução de

mercadorias levando os países

europeus industrializados a buscarem

novos mercados em outros lugares do

mundo, era o início do Imperialismo.

As Unificações italiana e alemã Apresentação - As chamadas

unificações italiana e alemã, apesar

de suas particularidades, possuem

alguns aspectos comuns. Nos dois

casos ocorreu a dominação de uma

região economicamente mais forte

(no caso italiano por iniciativa da

burguesia do norte), interessada em

ter sob seu domínio outras regiões e

mercados. Desta forma, foi o reino do

Piemonte que unificou a Itália e,

principalmente, foi a economicamente

poderosa Prússia que conquistou os

pequenos reinos alemães. Ambas as

unificações se deram com o uso do

discurso nacionalista, no qual as

regiões ‗ocupadas‘ apoiavam a

unificação.

A unificação italiana - Encabeçada

pelo reino da Sardenha-Piemonte, a

unificação italiana foi possível, dentre

outros fatores, graças à habilidade

política de Camilo di Cavour, ministro

do rei Vitor Emanuel II. Este processo

de unificação foi considerado menos

autoritário do que o caso alemão, pois

em todas as regiões anexadas pelo

Piemonte houve plebiscitos de

Page 66: Historia Geral e do Brasil

67

aceitação ou não da anexação. Os

plebiscitos foram largamente

favoráveis à unidade, visto que,

nessas regiões já existia um forte

discurso nacionalista que relacionada

à unificação aos tempos do Império

Romano. Paralelo a este processo,

houve também lutas populares pela

melhoria das condições de vida das

populações mais pobres.

Os antecedentes - Até as primeiras

décadas do século XIX, o que viria a

ser o território da Itália unificada era

uma área dividida em vários reinos.

No Norte havia o reino livre Sardo-

Piemontês e outros pequenos reinos

subordinados ao Império austríaco.

No centro, havia os reinos ligados a

Igreja Católica e, no Sul, o reino das

Duas Sicílias, de caráter francamente

absolutista. Em 1830 e 1848

ocorreram duas revoluções nas quais

o líder republicano Giuseppe Mazzini

liderou um movimento pela unidade

da Itália. Em ambas revoltas, a

Áustria interveio sufocando o

movimento. A partir de então o

governo piemontês se deu conta de

que a unificação só seria possível com

a ajuda de uma potência estrangeira,

uma vez que a Áustria detinha o

domínio sobre os territórios italianos

da Lombardia-Veneza, no norte do

país e era o principal obstáculo à

unificação.

As lutas de unificação - Em 1859, o

reino do Piemonte se aliou à França

contra a Áustria, anexando um

território no norte e no centro do país

e entregando uma parte do território

do Piemonte para a França. Teve,

assim, início o processo definitivo de

unificação italiana. O republicano

Giuseppe Garibaldi, líder dos camisas

vermelhas iniciou uma marcha no Sul,

em 1860 (conhecida como Campanha

de Garibaldi), e com isso conquistou e

extinguiu o Reino das Duas Sicílias,

unindo o Sul ao território do

Piemonte. Em 1866, com a guerra

austro-prussiana, a Itália se aliou à

Prússia e conquistou Veneza e, em

1870, invadiu Roma, então território

da Igreja, concluindo o processo. O

papa não aceitou a invasão e,

protegido pelo monarca francês

Napoleão III, estabeleceu-se a

Questão Romana, resolvida apenas

em 1929 através da Concordata de

Latrão, com a criação do Estado do

Vaticano.

Os efeitos da Unificação - Apesar

dos esforços, a unificação italiana não

conseguiu prontamente viabilizar a

pretendida identidade cultural entre o

povo italiano. Além das diferenças de

cunho histórico, lingüístico e cultural,

a diferença do desenvolvimento

econômico observado nas regiões

Norte e Sul foi outro entrave na

criação da Itália unificada, pois

enquanto o Norte se industrializou, o

Sul se manteve enfrentando sérios

problemas econômicos, agravados

pelas crises de fome, que acabariam

levando parte da sua população a

imigrar para a América e a formação

das máfias.

A unificação alemã -

Diferentemente da Itália, a unificação

alemã teve um caráter mais

autoritário, feito ‗feito de cima para

baixo‘. O reino da Prússia, sob o

centralizador governo do primeiro-

ministro Otto von Bismarck, articulou

a política externa da unificação e

forjou as guerras que permitiram a

unidade do território alemão e deu

origem a um forte e industrializado

país.

As origens da unificação - No

Congresso de Viena, em 1815, ficou

decidida a criação da Confederação

Alemã, formada pela Áustria, a

Prússia e uma série de pequenos

reinos que existiam na região do atual

território alemão. A Prússia anexou

ainda a rica região do Reno e

começou uma disputa com a Áustria

pela anexação dos pequenos reinos. O

estado prussiano era centralizado e

tinha um poderoso exército. Visando a

unificação, esse reino articulou uma

aliança entre a classe de proprietários

rurais, os junkers, e a burguesia

nacional, aliança esta que tinha por

objetivo o desenvolvimento

econômico do país, permitindo o

desenvolvimento do capitalismo

também nas áreas rurais.

O Zollverein e as ferrovias - Em

1834, a Prússia e os pequenos

estados alemães fizeram um pacto

Page 67: Historia Geral e do Brasil

68

criando um mercado comum que

eliminava as barreiras alfandegárias

entre eles, excetuando-se a Áustria,

era o Zollverein (literalmente acordo

aduaneiro). Esse mercado seria

consolidado com uma ampla rede de

ferrovias ligando suas regiões, o que

facilitou a integração econômica e a

movimentação das tropas nas guerras

de unificação.

As guerras

Guerra com a Dinamarca 1864 -

Sob a desculpa de que o Sul da

Dinamarca continha uma população

germânica, em 1864, a Prússia

conseguiu o apoio da Áustria, ambas

invadiram a Dinamarca e anexaram a

região exigida dividindo o seu

território entre elas.

Guerra contra a Áustria 1866 -

Alegando que a administração

austríaca na região dinamarquesa

ocupada era ineficiente, a Prússia

declarou guerra à Áustria, tomou a

região dinamarquesa e os reinos

germânicos do Norte.

Guerra contra a França 1870 -

Como a França não permitia a

anexação prussiana de reinos

independentes da Confederação

Germânica, a Prússia produziu outro

argumento para fazer a guerra com

aquele país, obtendo outra fácil e

rápida vitória. Como resultado, a

Prússia anexou os reinos ao Sul da

Alemanha, até aquele momento sob

influência do Estado francês, e as

regiões francesas da Alsácia e a

Lorena.

O resultado imediato da

unificação - Em 1871, a Alemanha

foi totalmente unificada pela Prússia e

Guilherme I foi proclamado Kaiser

(imperador) do II Reich. A partir de

1880, o Estado alemão empreendeu

uma nova expansão econômica,

dando continuação a um processo

extremamente rápido de

industrialização, o mais rápido e voraz

da Europa. Porém, a Alemanha não

dispunha de uma marinha poderosa, e

isso atrapalharia a sua expansão no

Imperialismo, de outro lado, existia

ainda o temor do revanchismo

francês, o que levou a Alemanha a

fazer diversas alianças contra aquele

país. A guerra franco-prussiana viria a

ser uma das mais importantes causas

da Primeira Guerra Mundial.

Questões de Vestibulares

1. UFRJ 2005 1ª fase.

GRAVURA: ―O mundo do capital – a fábrica: Iron & Steel, em Barrow‖, in: HOBSBAWM, Eric. A era do capital, 1848 – 1875. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977, ilustração 71.

A industrialização desencadeou

diversas mudanças econômicas e

políticas na Europa de 1780 em

diante.

a) Identifique duas características da

produção fabril no século XIX.

b) No plano político, a industrialização

contribuiu para o fortalecimento das

idéias e práticas liberais. Cite duas

características do liberalismo no

século XIX.

2. UERJ 2008.

A União Européia dá continuidade ao seu processo de ampliação. Com o ingresso da Bulgária e Romênia em 2007, o bloco passa a contar com 27 países-membros. www.dw-world.de

Page 68: Historia Geral e do Brasil

69

Vem de longe o esforço europeu para

desenvolver estratégias que garantam

a paz e o equilíbrio entre as nações

que formam o continente. No século

XIX, por exemplo, a tentativa

realizada pelas nações participantes

do Congresso de Viena (1814-1815)

foi rompida com a unificação alemã,

fruto da política empreendida por

Bismarck.

Apresente dois objetivos do

Congresso de Viena e um efeito da

unificação alemã sobre as relações

políticas européias estabelecidas na

época.

Page 69: Historia Geral e do Brasil

70

Capítulo 18. O Imperialismo na

África e na Ásia

Apresentação - Impulsionado pela

crise de superprodução de 1873, os

países industrializados organizaram e

puseram em prática uma nova política

expansionista, o Imperialismo – ou

neocolonialismo. Essa prática permitiu

ao grande capital europeu buscar

novos mercados consumidores,

matérias-primas e escoadouros para o

excesso de capital acumulado na

Europa. Nessa nova política de

expansão, aparece um novo

elemento: desta vez a presença das

grandes empresas superaria a dos

governos na empresa neocolonial.

Mapa geopolítico da divisão da África.

O Imperialismo (1870-1914) – O

Imperialismo foi a política de

expansão de uma nação sobre

outras(s) seja por meio da aquisição

territorial, seja pela submissão

econômica, política e cultural de

outros Estados, que teve início a

partir da Segunda Revolução

Industrial. O Imperialismo pode

também ser entendido como o

movimento do grande capital

financeiro em busca de novos

mercados na Ásia, na África e na

América Latina. Os Estados e os

grandes industriais europeus foram os

principais encarregados desse

movimento. Em busca principalmente

de matéria-prima, mercado

consumidor e mão-de-obra barata, a

expansão imperialista não se deu de

maneira uniforme, podendo a

dominação econômica ser ou não

acompanhada de ocupação político-

militar do território dominado.

O Imperialismo na África

África anterior ao Imperialismo –

Na África anterior à incursão

imperialista existia uma grande

diversidade de povos e costumes.

Apesar das áreas onde predominavam

sistemas coloniais tradicionais como

nas regiões litorâneas de Angola e da

África do Sul ou na região

mediterrânea, com a ocupação do já

decadente Império Turco-otomano, a

maior parte do continente africano

ainda permanecia livre da dominação

estrangeira, apresentando a sua

lógica geopolítica e social própria.

A justificativa ideológica

imperialista – Buscando legitimar a

invasão e/ou a dominação exercida

sobre esses povos, os países europeus

elaboraram algumas teorias

explicativas que justificassem a

política imperialista. Dentre essas, as

principais eram: a missão civilizatória

dos europeus (―civilizados‖) sobre os

povos ―bárbaros‖; a legitimidade da

divisão das riquezas materiais do

mundo entre os povos; a necessidade

de evangelizar os povos ―bárbaros‖ na

doutrina cristã (considerada a

verdadeira religião) e, por último, a

superioridade racial dos povos

brancos sobre as raças negra e

amarela.

A partilha da África – O processo de

ocupação territorial, exploração

econômica e domínio político do

continente africano pelas potências

européias teve início no século XV e

se estendeu até a metade do século

XX. A descoberta de diamantes na

África do Sul e abertura do Canal de

Suez, ambos em 1869, despertaram a

Page 70: Historia Geral e do Brasil

71

atenção das potências européias

sobre a importância econômica e

estratégica do continente.

Rapidamente, os países europeus

começaram a disputar os territórios

africanos. Para concretizar a

dominação, muitos países europeus

fizeram uso de forças militares, em

alguns casos, os próprios líderes

africanos fizeram acordos com os

estrangeiros para estabelecerem um

controle e uma exploração conjunta

da região. Grã-Bretanha, França,

Portugal e Bélgica controlaram a

maior parte do território africano,

seguidos da Alemanha, que perdeu

suas posses africanas após derrota na

Primeira Guerra Mundial. Os europeus

repartiram o território africano em

mais de 50 Estados, cujas fronteiras

foram demarcadas sem respeitar

critérios étnicos e culturais

fundamentais para evitar os futuros

conflitos na região. Até o presente,

as fronteiras africanas, em muitos

casos, dividem uma única comunidade

étnica em duas ou mais nações, ou ao

contrário, reúnem num mesmo país

diversas tribos rivais.

Os conflitos de interesses entre os

europeus - Apesar das iniciativas

como o Congresso de Berlim de 1885

(teve como objetivo regulamentar a

ocupação da África pelas potências

coloniais) os conflitos de interesses

entre os colonizadores prevaleceu.

Houve uma série de confrontos entre

os países europeus sobre a dominação

na África e a administração dos seus

territórios. Alguns deles foram: as

divergências entre a Inglaterra e a

Alemanha sobre a pretendida

construção pelos ingleses de uma

ferrovia que ligaria o Egito à África do

Sul, vetada pela Alemanha; entre a

França e a Inglaterra sobre outra

ferrovia pretendida desta vez pela

França cortando todo o Saara,

também impedida pela Inglaterra que

dominava o Egito e o Sudão, ou

ainda, novamente entre França e

Inglaterra que brigavam pelo controle

do Egito, do Sudão e do Canal de

Suez.

O legado da dominação européia

para os africanos – O legado da

dominação européia foi devastador

para as populações, a economia e a

cultura africanas. Executando o

projeto de dominação imperialista, os

colonizadores deslocaram muitas

tribos de suas terras para dar lugar a

construção de minas e ao

estabelecimento das plantations

exportadoras, nos quais os africanos

trabalhavam muitas vezes em regime

de trabalho compulsório. O cultivo de

alimentos foi desorganizado, dando

início aos sérios problemas de

desabastecimento. Além disso,

instituíram a cobrança de impostos

em economias não-monetárias;

disseminaram a crença de que os

povos africanos eram inferiores em

relação aos povos brancos e

impuseram as línguas e a cultura

europeias aos povos dominados,

comprometendo a sobrevivência das

culturas originais africanas. Foi

implantado ainda, em muitas regiões,

um elaborado sistema e discriminação

racial dos negros, conhecido na África

do Sul como apartheid que

considerava os africanos seres

humanos de segunda classe.

Resistências e revoltas africanas -

Em todo o continente, durante e

depois da ocupação, explodiram

revoltas e movimentos de resistência

contra a invasão e as medidas

colonizatórias. Houve revoltas à

própria chegada dos europeus como a

Revolta Zulu no Sul da África e outras

rebeliões ocorridas depois da

instalação dos europeus, como a

sudanesa e a etíope, que conseguiram

criar por determinados períodos

países livres do jugo europeu.

O Imperialismo na Ásia - No final

do século XIX a Ásia se mostrava com

uma organização social mais

complexa do que aquela da maior

parte do continente africano, que vivia

sob uma organização tribal. Assim

como ocorrera na África, também na

Ásia o Imperialismo significava a

expansão dos grandes capitais do

mercado europeu em busca de

investimentos e retorno econômico.

Diferentemente da dominação

econômica na América Latina

praticada na mesma época, o

processo de dominação asiática foi

acompanhado da intensiva ocupação

Page 71: Historia Geral e do Brasil

72

político-militar. Mais do que a África

(que não tinha um expressivo

mercado consumidor, mas muitas

matérias-primas), a Ásia se tornou o

grande alvo da expansão européia, já

que possuía um grande mercado

consumidor e economias mais

complexas do que as africanas.

A partilha da Ásia - As principais

potências européias que se

encontravam na África participaram

também da partilha da Ásia, como

Inglaterra, França, Bélgica e

Alemanha. Mas outras potências

também tomaram parte nesse

processo, é o caso da Holanda (que

desde o século XVII, dominava a

Indonésia); do Japão (que iniciou,

após a sua vitória na Guerra Russo-

japonesa, de 1905, a sua expansão

imperialista); dos EUA (que deram

início a seu imperialismo em 1898), e

ainda da Rússia, que já exercia uma

dominação no território asiático não

caracterizada como imperialista. O

curso tomado pelo imperialismo

ocidental na Ásia foi

consideravelmente diferente e mais

complexo do aquele praticado

anteriormente na África. Na Ásia,

alguns Estados europeus já possuíam

possessões que datavam da época

inicial da colonização, como Portugal,

desde o século XVI, além de França,

Holanda e Inglaterra desde os séculos

XVII e XVIII. Assim como ocorrera na

África, o imperialismo ocidental na

Ásia também estimulou as rivalidades

das grandes potências colonizadoras e

produziu repetidas crises

internacionais.

Na disputa pelo sudeste asiático

encontravam-se França e a Inglaterra.

Desde meados do XIX, os franceses

tinham fundado a Indochina Francesa,

ao mesmo tempo, os britânicos se

expandiram para o leste da Índia e

dominaram a Birmânia, Cingapura e

organizaram na parte Sul do

território, uma faixa de pequenos

protetorados. No final do século XIX,

a Tailândia era a única região a

permanecer como Estado

independente no sudeste asiático,

apesar de ameaçada por franceses e

ingleses. Nas fronteiras ao Norte e ao

Ocidente da Índia, os conflitos eram

entre a Rússia e a Inglaterra.

O Japão – A entrada do Japão no

grupo dos países imperialistas se deu

através da própria pressão

imperialista dos Estados Unidos e da

Inglaterra. Inicialmente um país

fechado, sob pressão dos Estados

Unidos, que impuseram os Acordos

desiguais de Comércio, o Japão

(governado oficialmente por um

imperador, mas na prática governado

pelo comandante das Forças Militares

Japonesas, o Xogun) foi obrigado a

promover a abertura de alguns dos

seus portos para os países ocidentais,

causando, em 1868, a revolta que

culminou com a Restauração Meiji,

que restaurou os poderes do

imperador. A Era Meiji foi responsavel

pelo fim do regime feudal no Japão e

o início do seu processo de

modernização. As reformas que

visavam a ocidentalização japonesa

incluíram uma reforma monetária,

militar, o envio de japoneses aos

centros de estudo do Ocidente e o

incentivo à industrialização. Em 1895,

o Japão saiu vencedor da Guerra

Sino-japonesa (1894 e 1895) e em

1905, derrotou a Rússia na Guerra

Russo-japonesa (1904-1905),

conquistando a Coréia e a região Sul

da Manchúria, na China, dando início

à sua expansão imperialista.

O Imperialismo norte-americano -

Desde o século XIX, os Estados

Unidos mostraram interesse pela

região do Pacífico. A partir de 1898,

invadiram o Havaí e, após a vitória na

guerra contra a Espanha, no mesmo

ano, anexaram Guam e as Filipinas,

passando a ter uma forte penetração

na Ásia.

O Imperialismo russo - A presença

russa no território asiático é bastante

anterior a das outras nações

européias, desde o século XVI, os

russos haviam ocupado uma grande

extensão da Sibéria e, portanto,

contava com mais facilidades para

expandir suas fronteiras na Ásia. No

entanto, a dominação russa na China,

no Afeganistão, na Coréia e na Pérsia

se diferenciava do imperialismo

praticado pelas outras potências

imperialistas. A Rússia ainda era um

país pouco industrializado e não

Page 72: Historia Geral e do Brasil

73

dispunha de capitais para exportar

para outras regiões, ao contrário, era

ela própria um escoadouro dos

capitais da Europa Ocidental,

principalmente do capital francês.

A ocupação da Índia - A Índia foi a

principal colônia inglesa na Ásia. A

dominação inglesa nessa região foi

fruto de um longo processo que se

estendeu até meados do século XIX

quando a coroa britânica assumiu o

controle político sobre a Índia. Dentre

outras ações, os colonizadores

ingleses desorganizaram a produção

agrícola indiana implantando as

plantações de ópio para o comércio

com a China.

O caso da China - Antes da chegada

dos europeus, os chineses viviam sob

a dinastia estrangeira Manchu.

Desprezados pelo restante da China

(que considerava sua cultura inferior o

Sul do território chinês) Macau,

Cantão e Hong Kong já eram

tradicionalmente regiões mais abertas

ao comércio ocidental. A abertura do

restante do país se deu em

conseqüência da derrota chinesa nas

duas Guerras do Ópio contra a

Inglaterra. A partir de então, muitos

países ocidentais passaram a investir

e a exportar produtos para a China.

Apesar do avanço de várias potências

imperialistas sobre a China, os

Estados Unidos manifestaram o seu

interesse em preservar a unidade

territorial Chinesa. Os chineses

organizaram várias revoltas e

movimentos de resistência contra o

domínio estrangeiro no país.

O Imperialismo na América Latina

- Além da África e da Ásia, a presença

imperialista se estendeu também em

direção à América Latina, no entanto,

a dominação imperialista nessa região

não se fez pela ocupação militar, mas

com a exportação de capitais,

transformando as economias locais

em dependentes das economias

européias. Os países latino-

americanos praticavam uma economia

de produção de produtos primários

para a exportação e importavam

produtos industrializados e capitais

europeus, principalmente sob a forma

de empréstimos, construção de

ferrovias e instalação de telégrafos.

O capitalismo monopolista - Essa

nova fase da economia capitalista foi

fortemente marcada pela

concentração econômica da produção

e do capital pelas grandes empresas

ou associações empresariais. A livre

iniciativa empresarial gerou uma

intensificação da concorrência

promovendo uma verdadeira guerra

de preços. Nessa situação, as

empresas mais competitivas

eliminavam ou comprovam empresas

menores, formando os grandes

conglomerados econômicos,

concentrando enormes capitais e

dominando alguns setores da

produção. Dessa forma, surgiram os

monopólios industriais que passaram

a eliminar a concorrência e fixar

preços em busca de um lucro cada

vez maior.

Questões de Vestibulares

1. UFF 2003 1ª fase. O final do

século XIX anunciou o início do

avanço da cultura capitalista por todo

o mundo, exatamente no momento

em que, na esfera econômica,

observavam-se o desemprego e uma

crise de subconsumo. Assinale a

opção que apresenta uma das

características principais desse

avanço.

(A) Exportação da crise social

motivada pela grande oferta de

emprego, favorecendo a presença dos

valores europeus na África, Ásia e

América Latina e modernizando a vida

urbana.

(B) Penetração intensa dos valores

europeus nas regiões da África, Ásia e

América Latina, visível no

desenvolvimento urbano dos

principais mercados consumidores

dessas áreas, que buscavam seguir o

modelo de Paris – a mais famosa

capital do século XIX.

(C) Decadência das políticas

escravistas e do domínio oligárquico

na África, Ásia e América Latina,

abrindo caminho para a aculturação,

com o apoio das elites

empreendedoras dessas regiões e

levando à modernização das cidades.

(D) Formulação de políticas

Page 73: Historia Geral e do Brasil

74

assistenciais para as regiões da África,

Ásia e América Latina, implementando

modos de vida europeus nas grandes

cidades já dominadas por interesses

americanos e transformando-as em

centros dessas ações.

(E) Criação de instituições financeiras

resultantes de associações

monopolistas, que não concentravam

seus lucros permitindo novos

investimentos na África, Ásia e

América Latina.

2. Puc 2005. Assinale a alternativa

correta a respeito da expansão

imperialista na Ásia e na África, na

segunda metade do século XIX.

(A) Ela derivou da necessidade de

substituir os mercados dos novos

países americanos, uma vez que a

constituição de Estados nacionais foi

acompanhada de políticas

protecionistas.

(B) Ela derivou da necessidade de

substituir os mercados dos novos

países americanos, uma vez que a

constituição de Estados nacionais foi

acompanhada de políticas

protecionistas.

(C) Ela foi conseqüência direta da

formação do Segundo Império alemão

e da ampliação de suas rivalidades em

relação ao governo da França.

(D) Ela atendeu, primordialmente, às

necessidades da expansão

demográfica em diversos países

europeus, decorrente de políticas

médicas preventivas e programas de

saneamento básico.

(E) Ela viabilizou a integração

econômica mundial, favorecendo a

circulação de riquezas, tecnologia e

conhecimentos entre povos e regiões

envolvidos.

3. PUC 2009. “... A natureza

distribuiu desigualmente no planeta

os depósitos e a abundância de suas

matérias-primas; enquanto localizou o

gênero inventivo das raças brancas e

a ciência da utilização das riquezas

naturais nesta extremidade

continental que é a Europa,

concentrou os mais vastos depósitos

dessas matérias-primas nas Áfricas,

Ásias tropicais, Oceanias equatoriais,

para onde as necessidades de viver e

de criar lançariam o clã dos países

civilizados. Estas imensas extensões

incultas, de onde poderiam ser tiradas

tantas riquezas, deveriam ser

deixadas virgens, abandonadas à

ignorância ou à incapacidade? (...) A

humanidade total deve poder usufruir

da riqueza total espalhada pelo

planeta. Esta riqueza é o tesouro da

humanidade ...” (SARRAUT, A. Grandeur et

Servitude Coloniales. Paris, 1931, pp.18 e 19).

O documento acima se refere à ―Era

do Imperialismo‖, ocorrida no final do

século XIX e início do século XX,

quando os países capitalistas

conseguiram dominar a África e

grande parte da Ásia. A partir do

texto acima e de seus conhecimentos

a respeito do assunto:

a) INDIQUE a idéia central que o

documento apresenta como

justificativa para o Imperialismo

europeu.

b) INDIQUE uma característica

comum ao imperialismo dos países

europeus na África na Ásia e ao

imperialismo inglês e norte-americano

na América Latina, ao longo do século

XIX.

Page 74: Historia Geral e do Brasil

75

Capítulo 19. A América Latina

no século XIX e a Revolução Mexicana

A América Latina no século XIX

Apresentação – O século XIX foi um

período turbulento na história da

América latina. Contra a expectativa

de muitos de seus habitantes, a

independência não foi uma cura para

todos os seus males, não trouxe um

mundo de prosperidade e

autodeterminação para os recém-

criados países. As fronteiras ainda

estavam sob disputa, e sem tardar

vieram conflitos diversos, guerras

entre países em formação e ainda

invasões estrangeiras. A situação da

economia da região era dramática,

com a perda momentânea da

produção e do comércio de

exportação devido às guerras de

independência.

Dependência econômica e guerras civis

Separações e guerras civis – Logo

após as independências formaram-se

grandes países na região como a Grã-

Colômbia – que inclui o que hoje é o

Panamá, a Colômbia e a Venezuela –

e o México – que ia do Oregon, estado

norte-americano, até a fronteira Norte

da Grã-Colômbia. Esses grandes

países não conseguiram sobreviver

devido à falta de grupos internos

poderosos que pudesse unificar todo o

território. Além destes, outros países

também enfrentaram guerras civis

com desmembramento do seu

território.

A dependência econômica – As

economias coloniais da América Latina

eram especializadas na produção para

exportações e dependiam da

produção européia para conseguir os

produtos manufaturados, já que

poucas manufaturas existiam na

América ibérica. Com as guerras de

independência, essas produções para

exportação se desorganizaram e,

muitas vezes, suas exportações foram

barradas pela marinha espanhola.

Isso levou à pobreza dessas regiões e

à escassez dos manufaturados,

inclusive os mais básicos. Somando-

se a isto os séculos de colonização,

nos quais a economia colonial foi

gerenciada tendo por fim apenas os

interesses da metrópole, e podemos

tentar compreender a gravidade da

crise que passavam estas novas

nações no decorrer do século XIX.

As discussões políticas – Junto às

crises econômicas e de legitimidade

do novo Estado no território, vêm as

crises políticas nacionais. Houve

grande discussão sobre que tipo de

estado seria formado, qual o seu

caráter. Havia uma oposição básica

entre conservadores e liberais em

todos os países latino-americanos.

Conservadores eram geralmente

ligados à Igreja e defendiam um

unitarismo e centralização. Enquanto

isso, os liberais defendiam a

autonomia local federalista.

Ocorreram grande embates entre

esses grupos e até guerras como no

caso da Argentina em que as

províncias se separaram de Buenos

Aires por anos formando uma

confederação.

O Caudilhismo – A situação política

se agravava na medida em que na

América espanhola, por exemplo, os

esforços de um governo centralizado

que visava unir a nação sob uma

bandeira tinha que agir levando em

conta os interesses dos caudilhos. Os

caudilhos eram líderes locais

possuidores de terra, que

comandavam grande autoridade na

região onde possuíam mais posses.

De certa maneira se assemelham aos

coronéis que estudamos na história

política brasileira. Este regionalismo

político que deriva do poder local dos

caudilhos foi chamado de caudilhismo.

Guerras e a consolidação dos

países latino-americanos As guerras externas – Além dos

conflitos e disputas internas desses

países, ocorreram também guerras

entre países latino-americanos como a

Page 75: Historia Geral e do Brasil

76

Guerra do Paraguai e as Guerras do

Pacífico e ainda a guerra que opôs o

México aos EUA, na medida em que

este marchava em direção ao Pacífico.

A partir de meados do século, os

países latino-americanos começaram

a se consolidar como países

independentes através da exportação

de um produto valioso para o

mercado internacional.

A Guerra do Paraguai – Essa guerra

opôs o Paraguai à Tríplice Aliança,

formada por Argentina, Brasil e

Uruguai. Foi a disputa pelo controle

fluvial do rio do Prata, que era

pretendido pelo Paraguai para escoar

sua produção para o mercado

internacional. Trouxe grande miséria

para o Paraguai. A guerra recebeu

motivação também da Inglaterra, que

via com temor a maneira como o

Paraguai parecia estar se tornando

auto-suficiente, ou seja, independente

da economia e dos produtos ingleses.

As guerras do Pacífico – As guerras

do Pacífico opuseram o Chile à Bolívia

e ao Peru com a luta pelo controle da

região do Atacama. As duas guerras

foram vencidas pelo Chile, que acabou

anexando parte dos territórios dos

dois países, a região do deserto do

Atacama, muito rica em prata, guano

e cobre. Com esse resultado, a Bolívia

perdeu o seu acesso ao mar.

A Guerra Mexicano-americana – A

região do Texas, que pertencia ao

México, vinha sendo ocupada desde

os anos 1820 por pecuaristas

americanos ligados aos grandes

produtores de algodão do Sul dos

EUA. Esses pecuaristas usavam mão-

de-obra escrava. O México tinha

abolido a escravidão na época de sua

emancipação. Para poder ter

escravidão em seu território, os

grandes pecuaristas criaram um

movimento de independência do

Texas, destacando-se do México em

1836. Em 1845, o Texas se anexa aos

EUA, ensejando uma resposta brusca

mexicana, que declara guerra aos

EUA. Os mexicanos perdem a guerra e

grande parte de seu território no

Pacífico.

A consolidação das economias

hispano-americanas – As

economias latino-americanas só se

estabilizaram a partir da metade do

século XIX com a venda maciça de

produtos de exportação no mercado

internacional. Cada país teve seus

próprios produtos e exportação e,

com isso, essas economias

mantiveram sua dependência da

economia européia oriunda do período

colonial. Assim, Argentina e Uruguai

se estabilizam economicamente com

as exportações de produtos da

pecuária, o Brasil com o café e o Chile

com o guano.

Turbulências no México

Apresentação – Acontecida em

1910, a Revolução mexicana talvez

seja a primeira grande revolução

amplamente popular depois da

Revolução Francesa. Foi uma

revolução basicamente rural e

camponesa, com poucos focos de

lutas nas cidades. Apesar de todo o

ambiente progressista, um grupo

nada revolucionário que se dizia parte

da revolução chegou ao poder e

instaurou uma longa ditadura

unipartidária que só teve fim em

2000.

O México pré-revolucionário

A dolorosa consolidação nacional

– Após ter encarado guerras civis,

lutas regionais pela independência,

guerra com os EUA e invasão

francesa, o México, sem 2/3 do

território original, consegue consolidar

o seu estado e sua economia através

da exportação de petróleo, metais

preciosos e produtos tropicais.

Porfiriato (1876-1910) – Os golpes

de estado e as ditaduras não eram

novidade na história nacional

mexicana, mas a ditadura de Porfírio

Diaz foi a maior experimentada no

país até então. Fruto de um golpe de

estado de 1876, ela só terminou com

a Revolução mexicana. Trata-se de

um governo fortemente liberal, ligado

aos capitais nacionais com vínculos

Page 76: Historia Geral e do Brasil

77

com o capital estrangeiro, sobretudo

inglês. Há um incentivo à uma

industrialização dependente dos

capitais de exportação e de capitais

estrangeiros, criando uma

urbanização no país e também uma

grande pobreza nas cidades. Ainda, o

governo construiu algumas ferrovias

ligando o país. As terras dos indígenas

e da Igreja, terras coletivas, eram

vendidas pelo governo para dar lugar

a latifúndios exportadores, causando

grandes danos sociais para a

população rural, que diante disso se

revoltaria.

O México ao fim do governo de

Porfírio Diaz – O governo de Diaz

fez a economia mexicana crescer de

forma dependente e piorou muito a

situação das classes pobres rurais do

país. No Norte do país, havia grandes

latifúndios pecuaristas, minas de

metais, além de indústrias. As

cidades, como a cidade do México,

cresceram muito nesse período com

operários que ganhavam muito mal e

não tinham direitos trabalhistas.

Havia ainda alguns intelectuais

liberais e de esquerda nas cidades que

eram críticos de Diaz. No Sul do país

se encontravam as terras coletivas,

que se transformavam em latifúndios

para o capital exportador.

A Revolução Mexicana

Apresentação – Por ser uma

ditadura há 35 anos no poder que

oprimia a população pobre do país e

também era criticada por uma parte

da elite por se vincular

excessivamente aos capitais ingleses,

quando ela é derrubada, uma série de

movimentos antes calados se

mostram e reivindicam seus direitos.

Por isso, a Revolução acontece em

quatro frentes: no Norte rural, no Sul

rural, nas cidades – principalmente a

capital – e com os liberais radicais –

mais tardios –, que triunfariam sobre

todos os outros no final.

O golpe no México – Porfírio Diaz

leva um golpe em 1910 do grande

proprietário ligado aos capitalistas

norte-americanos, Madero, que é

eleito presidente em 1911. Seguiu

uma série de golpes de estado até

chegarem ao poder os

constitucionalistas, ligados a Villa e

Zapata. Fez-se a constituição com

Carranza eleito presidente em 1917.

Carranza foi assassinado pelos liberais

radicais, que empossaram Óbregon.

Sul – Em uma região indígena

densamente povoada chamada

Morelos, onde o porfiriato fora cruel

com a instalação de grandes fazendas

de cana-de-açúcar, inicia-se um

movimento pela reforma agrária.

Emiliano Zapata é eleito líder desses

indigenistas e uma invasão de uma

dessas comunidades por hacienderos

– grandes fazendeiros – é vista como

estopim para o início da luta

revolucionária. O grupo segue

marchando tomando as grandes

propriedades e transformando-as em

terras comunais dos indo-

descendentes. Chegam em 1914 à

cidade do México onde são saudados

pela classe intelectual urbana.

Norte – A região de Chihuahua no

Norte do país é terra de grandes

pecuaristas. Vaqueiros desses

proprietários criam um movimento

para tomar as suas terras tendo como

líder Pancho Villa. Eles confiscam as

terras e dão ao Estado revolucionário,

no caso os ‗generais‘ de Villa. Esses

generais depois serão contra o

prosseguimento da luta, defendendo

suas terras ganhas na Revolução.

Pancho Villa e Emiliano Zapata, ao(centro,

mobilizaram um levante camponês no México. Foto, sem data, de autor desconhecido.

PRI – Surge um terceiro grupo

‗revolucionário‘ no Noroeste do país,

ligado às firmas norte-americanas,

Page 77: Historia Geral e do Brasil

78

são os liberais radicais. Eles tomam

regiões exportadoras do país,

conseguindo comprar armas no

exterior com dinheiro das

exportações. Vencem os exércitos de

Villa e Zapata, matam os dois e

tomam o poder. Fundam o Partido

Revolucionário Institucional que se

manterá no poder até o final dos anos

90.

Após a revolução – O PRI se diz

herdeiro da Revolução mexicana, de

Villa e de Zapata. Em alguns

momentos do século XX, de maneira

populista, toma posições

progressistas, fazendo a reforma

agrária e implantando um direito

trabalhista, mas nunca permite

participação popular e democrática no

seu governo.

Questões de Vestibulares 1. PUC 2004. É bastante comum a

comparação entre a Revolução

Mexicana (1910) e a Revolução Russa

(1917) porque ambas foram

movimentos:

A) liderados por operários e, ao seu

final, implantaram regimes de caráter

socialista e igualitário.

B) que envolveram operários e

camponeses, com nítido predomínio

numérico destes, e originaram-se de

problemas sociais.

C) incentivados por países

estrangeiros e, ao seu final,

trouxeram forte dependência

econômica externa dos dois países.

D) que buscavam a derrubada da

monarquia nos dois países e

resultaram em regimes republicanos e

ditatoriais.

E) relacionados aos conflitos da

Primeira Guerra Mundial e, ao seu

final, desembocaram em fracasso das

propostas renovadoras.

2. PUC Sobre os movimentos de

independência ocorridos na América

Hispânica nas primeiras décadas do

século XIX, estão corretas as

afirmações abaixo, À EXCEÇÃO DE:

(A) A invasão napoleônica da Espanha

em 1808 e a deposição do rei

Fernando VII resultaram no

estabelecimento de Juntas de

Governo locais, tanto na Espanha

como na América.

(B) A liderança destes movimentos

esteve nas mãos da elite crioula que,

descontente com a política colonial

adotada pelos Bourbons desde o final

do século XIX, aliou-se aos

chapetones nesta luta.

(C) O ano de 1810 pode ser

considerado o ano do início da

explosão revolucionária no continente

americano, quando os primeiros

movimentos de independência

manifestaram-se com impressionante

rapidez e sincronia.

(D) A volta de Fernando VII ao trono

da Espanha, em 1814, mudou

drasticamente a situação, uma vez

que as autoridades régias na América,

livres de quaisquer restrições

constitucionais, perseguiram e

sufocaram a maioria dos movimentos

autonomistas.

(E) Concretizando o ímpeto

revolucionário iniciado em 1810, toda

a América Hispânica tornou-se

independente até o final da década de

1830, com a exceção de Cuba,

Filipinas e Porto Rico.

3. UFF-2003. O final do século XIX

anunciou o início do avanço da cultura

capitalista por todo o mundo,

exatamente no momento em que, na

esfera econômica, observavam-se o

desemprego e uma crise de

subconsumo.

Assinale a opção que apresenta uma

das características principais desse

avanço.

(A) Exportação da crise social

motivada pela grande oferta de

emprego, favorecendo a presença dos

valores europeus na África, Ásia e

América Latina e modernizando a vida

urbana.

(B) Penetração intensa dos valores

europeus nas regiões da África, Ásia e

América Latina, visível no

desenvolvimento urbano dos

principais mercados consumidores

dessas áreas, que buscavam seguir o

modelo de Paris – a mais famosa

Page 78: Historia Geral e do Brasil

79

capital do século XIX.

(C) Decadência das políticas

escravistas e do domínio oligárquico

na África, Ásia e América Latina,

abrindo caminho para a aculturação,

com o apoio das elites

empreendedoras dessas regiões e

levando à modernização das cidades.

(D) Formulação de políticas

assistenciais para as regiões da África,

Ásia e América Latina, implementando

modos de vida europeus nas grandes

cidades já dominadas por interesses

americanos e transformando-as em

centros dessas ações.

(E) Criação de instituições financeiras

resultantes de associações

monopolistas, que não concentravam

seus lucros permitindo novos

investimentos na África, Ásia e

América Latina.

4. UFF-2003 Múltiplas são as razões

que explicam as diferenças dos

processos históricos vividos na

América do Sul e na América do

Norte, durante os séculos XVIII e XIX.

Enquanto no espaço latino-americano

as tensões com as metrópoles

levaram ao processo de

independência, com o surgimento de

várias repúblicas, na América do

Norte, a emancipação caracterizou-se

como algo que alguns autores

identificam como exemplo de

Revolução Burguesa.

Analise uma das razões que fez com

que os processos de independência na

América do Sul, nos territórios de

ocupação colonial espanhola, tivessem

como conseqüência a implantação de

repúblicas.

5. UFF As revoluções burguesas

atingiram as Américas por causa das

formas de resistência à exploração

das metrópoles européias. Boa parte

dos valores revolucionários

americanos decorreram das idéias e

das práticas iluministas. A partir

dessas referências:

a) indique um movimento no Brasil e

outro na América do Norte que

tenham sofrido a influência das Luzes;

b) explique o que era ―pacto colonial‖

e apresente uma razão para a eclosão

dos levantes anticoloniais daquele

período.

Page 79: Historia Geral e do Brasil

80

Capítulo 20. A Primeira Guerra

Mundial Apresentação - A Primeira Guerra

Mundial de 1914 a 1918 foi o maior

conflito bélico vivido pelo mundo até

então. Após 100 anos de relativa paz

na Europa, essa guerra chegou a

matar quase 20 milhões de pessoas.

Esses números nunca antes vistos se

devem, sobretudo, ao fato dessa

guerra ser a primeira grande guerra

entre sociedades industriais. O

embate se deu majoritariamente na

Europa, mas chegou a envolver todos

os continentes do mundo.

Entendendo a Conjuntura política

da Europa pré-guerra

A Inglaterra - Encontrava-se

envolvida na consolidação do seu

vasto império colonial, que em vista

da crescente perda dos mercados

europeus, se constituía o principal

foco dos interesses econômicos

ingleses. No final do século XIX, uma

parte considerável das exportações

britânicas era direcionada para o

mercado colonial. Em virtude disso, a

Inglaterra praticava a política do

―Esplêndido Isolamento‖, que significa

um afastamento das principais

questões diplomáticas européias.

Contudo, no início do século XX, o

temor em relação ao crescimento da

Alemanha como nova potência

industrial e militar, obrigou a

Inglaterra a envolver-se mais

diretamente nas questões políticas da

Europa.

A Alemanha - Após a Unificação

(1871), a Alemanha emergiu no

cenário europeu como grande

potência econômica e militar. Este

fator contribuiu para a desarticulação

do já tenso equilíbrio de forças,

articulado no Congresso de Viena

entre 1814-1815. Em 1879, a

Alemanha assinou a ―Dúplice Aliança‖

com o Império Austro-Húngaro; em

seguida, em 1882, tirou proveito da

decepção da Itália por ter perdido a

disputa pela Tunísia, e articulou a

―Tríplice Aliança‖, entre Alemanha,

Itália e o Império Austro-Húngaro.

Outra preocupação alemã foi manter o

isolamento da França no contexto das

relações européias, pois tinha

consciência que a anexação à

Alemanha da região da Alsácia-

Lorena na Guerra contra a França

(1870-1871), acarretaria o espírito de

revanche entre os franceses.

Concomitante a isso, enquanto a

Alemanha aumentava o seu exército,

chamava a atenção de russos e

franceses que também passam a

fortalecer seus quadros militares

dando assim início a ―corrida

armamentista‖.

A França - Os desdobramentos da

Guerra Franco-prussiana, fez

proliferar entre os franceses um forte

sentimento de revanche. No início do

século XX, o acirramento na disputa

pelo norte da África, agrava ainda

mais o sentimento anti-germânico

entre os franceses. Em conseqüência

de tais acontecimentos, a partir da

década de 1890, a França iniciou a

articulação de alianças de forte

caráter anti-alemão. Em 1892,

assinou a aliança militar com a

Rússia, mantida em segredo até

1897; em 1904, o acordo anglo-

francês, denominado Entente

Cordiale, no qual a França abriu mão

do Egito, este acordo foi de

importância fundamental para que,

posteriormente, o governo francês

conseguisse impor um protetorado

sobre Marrocos, acabando, assim,

com as pretensões alemãs sobre essa

região.

A Áustria-Hungria - Apesar de

submetidos a um único imperador,

essas duas regiões possuíam

governos próprios que organizavam a

convivência e as tensões originadas

pelos conflitos de teor nacionalista de

vários grupos étnicos (croatas,

eslovacos, poloneses, tchecos, etc.),

que gravitavam principalmente em

torno das discriminações impostas

pelas elites germânicas à população

de origem eslava. Desde o início do

século XIX, a política externa do

Império Austro-Húngaro era voltada

para a região dos Bálcãs. No entanto,

essa orientação entrava em conflito

com os interesses, tanto do Império

Turco-Otomano, como da Rússia e da

Sérvia. Em 1878, a Áustria-Hungria

Page 80: Historia Geral e do Brasil

81

adquire o direito de administrar a

Bósnia-Herzegovina, que formalmente

fazia parte do Império Turco-Otomano

que se encontra em processo de

esfacelamento. Posteriormente, em

1908, as tensões com a Sérvia e a

Rússia também vão se acirrar, em

virtude da definitiva anexação deste

território ao Império Austro-Húngaro.

A Rússia - Desde o último quartel do

século XIX, graças ao afluxo de

capitais estrangeiros, principalmente,

ingleses e franceses, o Império Russo

consegue empreender um processo de

industrialização e modernização da

economia na parte mais ocidental de

seu vasto território. No entanto, não

se pode esquecer que a maior parte

do Império continuava mantendo uma

estrutura economicamente atrasada,

fundamentada na agricultura. O novo

quadro europeizante nos principais

centros urbanos da Rússia contribuiu

para a ocidentalização de suas elites,

o que implicaria também em uma

maior aproximação política da Rússia

em relação aos países da Europa. O

período entre 1890-1904 caracterizou

um acirramento das tensões entre a

Rússia e o Império Austro-Húngaro; a

Rússia desejava dominar o Império

Turco-Otomano, almejando uma saída

para o Mediterrâneo, assim como

controlar a região dos Bálcãs. A

emancipação da Bulgária, frente ao

Império Russo, em 1886 - com apoio

da Áustria - veio contribuir para que a

nova orientação expansionista russa

se voltasse para o Extremo Oriente.

Outro choque de interesses se

desenhava no que se refere as

pretensões dos russos e japoneses

(impulsionados pela ―Revolução Meiji‖,

de 1868, ao quadro das nações

imperialistas) sobre a região da

Manchúria chinesa. O agravamento

deste conflito de interesses

ocasionaria a Guerra Russo-japonesa

(1904-1905), da qual a Rússia sairia

derrotada, e o Japão como o primeiro

país asiático a vencer uma potência

―européia‖. A partir de 1905, a Rússia

voltou-se novamente para a Península

Balcânica incentivando a oposição à

Áustria-Hungria na região. Para

justificar esse expansionismo, difundiu

o ―pan-eslavismo‖, movimento político

segundo o qual a Rússia tinha o

"direito" de defender e proteger as

pequenas nações eslavas dos Bálcãs.

O Império Turco-Otomano - Assim

como a Áustria-Hungria, este Império

também era composto por múltiplas

etnias (albaneses, gregos,

macedônicos, trácios, turcos, etc.) e,

conseqüentemente, de vários

movimentos nacionalistas e

emancipacionistas, dentre eles,

aqueles que acarretaram as

Independências da Grécia, entre 1821

a 1830; da Romênia em 1856 e a

criação da ―Grande Bulgária‖, em

1878. No final do século XIX, o

Império já se encontrava bastante

fragmentado e os seus domínios

restringiam-se às áreas contíguas à

Turquia. Esse panorama favoreceu os

interesses do Império Austro-Húngaro

e dos russos sobre a região dos

Bálcãs. No período pré-guerra,

conflitos de interesses ocasionaram as

chamadas ―crises balcânicas‖, o

agravamento das mesmas contribuiu

decisivamente para a eclosão da

Primeira Guerra Mundial.

Para fixar

Dúplice Aliança - Alemanha e

Império Austro-Húngaro, 1879;

Tríplice Aliança - membros da

Dúplice Aliança e Itália, 1882,

posteriormente, também agregará o

Império Turco-Otomano e a Bulgária;

Aliança militar entre França e

Rússia – 1892;

Entente Cordiale - França e

Inglaterra, 1904;

Tríplice Entente - Entente Cordiale e

Rússia, 1907, posteriormente, Sérvia,

Japão, Bélgica, Itália (que abandona a

Tríplice Aliança), Portugal, Romênia,

Grécia, EUA e Brasil.

As origens da guerra - O fator

decisivo para o desenrolar da Primeira

Guerra foi o Imperialismo. A divisão

do mundo nos grandes impérios

coloniais existentes no período não

dizia mais respeito ao real poder

Page 81: Historia Geral e do Brasil

82

econômico dos países industrializados

em 1914. A produção industrial

inglesa já tinha sido ultrapassada

pelas economias alemã e norte-

americana. Entretanto, Inglaterra e

França tinham quase o total controle

sobre os territórios colonizados na

África e na Ásia, enquanto os dois

países emergentes tinham poucos

territórios no ultramar. Tal situação se

constituía em um entrave para a

expansão do capitalismo alemão e,

em menor escala, do norte-

americano. Esse fator foi decisivo para

a eclosão da Primeira Guerra.

Contudo, não se deve somente ao

conflito de interesses entre Inglaterra

e Alemanha as principais origens

desta Guerra. Entre os países

europeus, também existia uma série

de disputas políticas por territórios e

áreas de influência na Europa e nas

áreas coloniais. Isso levará a Europa a

se dividir em duas grandes alianças.

Em 1914, com o assassinato do

herdeiro do trono do Império Austro-

Húngaro, tem início a Primeira Grande

Guerra.

Fonte: Arquivo Nacional do Reino Unido.

A Guerra - Formam-se os principais

blocos: a Itália se afasta da Tríplice

Aliança e, posteriormente, se alia à

Tríplice Entente. Assim, tem início a

―guerra de movimento‖, com as duas

frentes, ocidental e oriental. Na

Frente Ocidental a Alemanha,

principal potência da guerra, invade

primeiro a França e depois a Rússia.

Porém, os alemães ficam presos toda

a guerra nas trincheiras lutando

contra franceses e ingleses, tentando

ofensivas que chegaram perto de

Paris, mas nunca conseguiram

avançar por muito tempo. Na Frente

Oriental, com a parte ocidental da

guerra paralisada, os alemães

invadem a Rússia e obtêm seguidas

vitórias, em função de sua

superioridade tecnológica. Em 1917,

os bolcheviques - revolucionários

socialistas russos - tomam o poder e

assinam em 1918 um acordo de paz,

o Tratado de Brest-Litovsk, em

separado com a Alemanha, retirando

a Rússia da guerra. Em 1917, Os EUA,

neutros desde o início da guerra,

resolvem entrar na mesma, pois a

ameaça de uma derrota da Entente

colocaria em risco os investimentos

norte-americanos nesses países. Além

disso, o governo americano temia a

vitória e o conseqüente crescimento

da hegemonia alemã na Europa. Sua

participação foi decisiva para a vitória

dos aliados contra o exército alemão,

que segue na guerra sozinho no final

do conflito. Ao fim da Guerra, segue-

se a abdicação do imperador

Guilherme II da Alemanha e a

proclamação da República de Weimar,

em 1918.

Os tratados de paz e o pós-guerra

- Ao término da Guerra, cada país

europeu derrotado teve um tratado de

paz específico, impondo as condições

da rendição incondicional às potências

centrais. Com o fim dos quatro

grandes impérios, o russo, o alemão,

o austro-húngaro e o Turco-Otomano,

desenha-se também um novo mapa

político da Europa. Todos os países

derrotados tiveram seus territórios

reduzidos, além das duras condições

impostas pelos tratados de paz. Em

1918, o presidente americano

Woodrow Wilson, apresentou a

proposta que ficou conhecida como ―

Os 14 pontos de Wilson‖. Seus

principais pontos são:

autodeterminação dos povos, ou seja,

direito de independência; a paz sem

anexações territoriais ou

indenizações; o fim dos acordos

secretos e a criação da Liga das

Nações. Esta proposta foi a base para

a rendição alemã. No entanto, a

proposta de Wilson não foi respeitada.

Um dos principais tratados assinados

no pós-guerra foi o Tratado de

Versalhes, assinado em 1919. Neste a

Page 82: Historia Geral e do Brasil

83

Alemanha foi responsabilizada pela

guerra, e, em virtude da forte pressão

francesa (revanchismo francês

originado pela Guerra Franco-

prussiana), recebeu severas punições,

foi obrigada a pesadas indenizações,

perdas territoriais e de todas as

colônias, ocupação militar provisória e

restrição quase total à formação de

um exército, marinha e aeronáutica.

Este tratado, impossível de ser

completamente cumprido, tem em si

os principais motivos que levaram à

Segunda Guerra Mundial, como já era

previsto em 1918. Outra atitude dos

países vencedores foi a política de

isolamento dirigida à Rússia. Os

antigos aliados promovem a formação

do chamado ―Cordão Sanitário‖,

basicamente um ―cordão‖ formado

por pequenas repúblicas em volta do

território soviético. Foi criada também

a Liga das Nações, espécie de tribunal

supranacional, que por muitos é

considerada uma precursora da ONU.

Não teve grande sucesso,

principalmente, por não conseguir

atingir o seu principal objetivo, evitar

outros conflitos deste porte, assim

sendo, foi desarticulada com a eclosão

da Segunda Grande Guerra. O fim da

Primeira Guerra Mundial, teve como

grandes beneficiados os Estados

Unidos, que saíram deste conflito

como a grande potência em ascensão,

tornando muitos países europeus

dependentes do seu sistema

financeiro.

Questões de Vestibulares

1. UERJ 2004.

(ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico

básico. São Paulo: Ática, 1995.)

No mapa acima assinalam-se

transformações territoriais verificadas

no continente europeu após a

Primeira Guerra Mundial. Uma causa

dessas transformações e um efeito da

Primeira Guerra Mundial sobre as

relações internacionais no período

entreguerras, respectivamente, são:

(A) formação de novos estados-nação

– início da União Européia

(B) enfraquecimento da Inglaterra –

consolidação de regimes fascistas

(C) recrudescimento de disputas

imperialistas – explosão da revolução

bolchevique

(D) aplicação do princípio das

nacionalidades – enfraquecimento

político da Europa

2.PUC 2007. “Até aqui, era um fato

elementar (...) que a Europa

dominava o mundo com toda a

superioridade de sua grande e antiga

civilização. Sua influência e seu

prestígio irradiavam, desde séculos,

até as extremidades da terra (...)

Quando se pensa nas conseqüências

da Grande Guerra (1914 - 1918), que

agora finda, pode-se perguntar se a

estrela da Europa não perdeu seu

brilho, e se o conflito do qual ela tanto

padeceu não iniciou para ela uma

crise vital que anunciava a

decadência.”(Texto adaptado de A.

Demangeon. O declínio da Europa, pp.

13-14)

Para os que viveram a Primeira

Grande Guerra (1914 - 1918), tal

conflito veio a representar o fim de

uma época. Para alguns, iniciavam-se

tempos sombrios e de decadência;

para outros, era o alvorecer de

mudanças há muito projetadas.

a) Identifique um acontecimento que

expresse a idéia central do texto

acima transcrito, explicando-o.

b) Na sociedade brasileira, durante os

anos vinte do século passado,

diferentes acontecimentos projetaram

mudanças econômicas, políticas e

culturais na ordem vigente.

Identifique duas dessas

manifestações.

Page 83: Historia Geral e do Brasil

84

3. UFRJ -2008.

A charge ―Um cadáver‖, de J. Carlos, foi

publicada em 1918. Nela, a Germânia diz: ―E agora, meu filho?... Quem paga essas contas?‖

(Cadáver: gíria da época para credor, cobrador).

Entre 1914 e 1918, o mundo esteve

envolvido de forma direta ou indireta

em sua Primeira Grande Guerra. O

quadro pós-conflito foi definido pelos

países vencedores – Inglaterra,

França e EUA –, tendo sido a

Alemanha considerada a principal

responsável pelo conflito. Apresente

duas determinações do Tratado de

Versalhes (1919) que tiveram fortes

repercussões para a economia alemã

no pós-1ª Guerra. Inglês Germânia

Oficial alemão. LOREDANO, Cássio

(org.). J. Carlos contra a guerra. Rio

de Janeiro: Casa da Palavra, 2000.

Page 84: Historia Geral e do Brasil

85

Capítulo 21. A Revolução Russa

e a Formação da União Soviética

Apresentação – No meio da Grande

Guerra, estoura na Rússia a mais

relevante revolução do século XX, que

iria marcar profundamente esse

século. Essa revolução comunista que

teve início em 1917 se espalhou

rapidamente para diversas partes do

mundo, levando um terço da

Humanidade a viver em países de

governo socialista no início da década

de 50, apenas trinta anos apenas

depois da Revolução na Rússia. O

temor do socialismo não só foi

marcante na conhecida Guerra Fria,

como também foi um importante

motivador para a ascensão das

direitas totalitárias que formariam o

eixo na II Guerra Mundial.

A Rússia antes da Revolução

No cenário da Grande Depressão

iniciada na década de 1870, da

segunda revolução industrial e da

expansão imperialista, a Rússia

empreendeu um ambicioso plano de

modernização. Aproveitando-se da

disponibilidade de capitais ociosos na

Europa, a Rússia se esforçou para

demonstrar-se um investimento

seguro para o capital estrangeiro, e

atraiu iniciativas diversas de capital

francês e inglês, especialmente.

Entretanto, apesar de um notável

crescimento econômico industrial, a

sociedade russa viu as mudanças

ocorrerem de forma lenta. O país

permaneceu majoritariamente

agrário. A mão-de-obra era barata

mas desqualificada, e as condições de

trabalho eram péssimas.

A partir do início do século XX, se

forma e se fortalece entre os russos

movimentos de reforma e mudança

social, apoiados em idéias socialistas.

Além das péssimas condições sociais

que motivaram a formação de

diversos destes grupos, uma série de

eventos jogou a opinião pública russa

contra o regime do czar Nicolau II,

como a guerra com o Japão e o

evento conhecido como Domingo

Sangrento – um massacre promovido

por tropas do estado sobre

trabalhadores de São Petersburgo que

marchavam nas ruas pedindo

melhores condições de trabalho.

Seriam as ações destes grupos

políticos responsáveis pelos primeiros

grandes abalos da ordem czarista do

século.

Sendo um império autocrático, o

império russo era o último bastião do

absolutismo no planeta, o único

império que ainda era governado por

um rei de poderes extensos que não

precisava partilhar seu poder com um

tipo de parlamento ou limitar suas

escolhas devido a restrições impostas

por uma constituição. Em contestação

a esta ordem política, formaram-se

movimentos dos mais diversos; havia

os constitucionalistas, os social-

democratas, os socialistas

revolucionários, os anarquistas, entre

outros. Todos estes tinham idéias

divergentes acerca do rumo que

deveria tomar o império russo.

Entretanto, todos tinham um inimigo

comum – a autocracia. Mesmo os

mais conservadores entre estes

contestadores, os que admitiam que o

czar permanecesse no poder, exigiam

que este tivesse poderes mais

limitados, pela redação de uma

constituição e pelo estabelecimento

de um parlamento (Duma, em russo).

Nos primeiros anos do século XX o

partido social-democrata teria um

ferrenho debate interno. Sendo um

partido que seguia a doutrina

marxista, seus membros acabaram

por discutir por interpretarem tal

doutrina de forma diferente.

Marx, em seus escritos, afirmava que

o capitalismo era um sistema fadado

ao fracasso porque era condenado a

sofrer de crises cíclicas de produção,

como a própria Grande Depressão.

Diante de tais crises, os segmentos

mais explorados inevitavelmente se

revoltariam contra seus exploradores,

de modo a impor uma ordem em que

tais amarguras não acontecessem.

O motivo de divergência era: Uma

parte do partido acreditava que, de

acordo com Marx, a revolução

socialista só deveria ocorrer em um

país onde o capitalismo fosse

desenvolvido, pois a partir daí ele

Page 85: Historia Geral e do Brasil

86

haveria naturalmente se desgastado e

poderia dar lugar ao socialismo. Se a

revolução fosse feita antes da hora, os

explorados ainda não teriam sido

explorados ao ponto de se proporem a

viver em uma sociedade igualitária,

mas sim passariam a tentar explorar

os outros também. Esta era a

interpretação dos mencheviques

(palavra que deriva de Menshinstvo,

que quer dizer minoria em russo).

Já os bolcheviques (Bolshinstvo,

maioria) afirmavam que a revolução

deveria ser realizada em qualquer

momento que o capitalismo

demonstrasse fraqueza. Afinal,

derrubando a ordem, os

revolucionários poderiam prosseguir

em direção ao comunismo, guiando a

população enquanto o fazem.

A Guerra Russo-Japonesa – Em

pleno crescimento econômico e diante

de um cenário de expansão

imperialista dos países europeus, o

império russo também optou por

expandir-se. Se os europeus tinham

que disputar cada pedaço de terra da

África, as extensas fronteiras asiáticas

russas permitiam ao império muitas

opções de expansão sobre muitas

nações fracas.

No entanto, as pretensões

expansionistas russas encontraram

um concorrente, o Japão. O Japão,

que também tinha iniciado um veloz

processo de modernização na

segunda metade do século XIX, tinha

pretensões expansionistas no oceano

pacífico (as quais concorriam com as

pretensões americanas) e na Ásia

continental, em especial na região

chinesa da Manchúria (a qual

concorreu com as pretensões russas).

Inicialmente, a Rússia tentou impor

sua vontade sobre os japoneses. Era

um país enormemente maior que o

Japão, e reconhecidamente uma

potência européia. Entretanto, a

modernização militar japonesa se

mostrou eficiente e, a despeito de

seus esforços, os russos não pareciam

capazes de vencer os japoneses,

especialmente no mar.

Sucessivas derrotas ante os japoneses

trouxeram humilhação nacional aos

russos, que não acreditavam que sua

gloriosa nação era incapaz de derrotar

os nipônicos. Além disso, a guerra

trazia baixas, e diversas famílias

perderam membros que antes a

integravam, membros estes que antes

da guerra trabalhavam e produziam.

Os gastos com a guerra e os custos

que ela impunha dificultam a vida dos

russos, que passam a protestar e a

pedir por paz. Em 1904, chega-se a

um acordo, no qual se reconhece

informalmente a Rússia como a

grande derrotada da guerra, tendo

que oferecer benefícios aos japoneses

para conseguir que tal acordo seja

finalizado.

O Domingo Sangrento – No início

do século passado, o sindicalismo

começava a se desenvolver entre os

russos. Em fevereiro de 1905,

trabalhadores de uma grande

indústria situada nos arredores de São

Petersburgo, lideradas pelo padre

Georgi Gapon, decide fazer uma

marcha pacífica ao palácio imperial

com o intuito de reivindicar melhores

condições de trabalho.

Entoando canções de louvor ao czar,

chamando-o de batiuchka (paizinho),

a marcha segue calmamente pelas

ruas até o palácio, onde esperava que

seus pedidos fossem ouvidos. O czar,

entretanto, não estava lá. Por motivos

que ainda hoje são discutidos, a

guarnição militar do palácio

abruptamente abriu fogo contra os

manifestantes, matando vários. A

pacífica manifestação de Gapon foi

violentamente suprimida. Para muitos,

o domingo sangrento – como este

evento acabou sendo denominado –

foi o princípio do fim do czarismo

russo.

Nas mais diversas regiões do império

grandes segmentos sociais estavam

descontentes. Depois de chegada a

notícia de tal evento, levantes

começaram a ser realizados em

diversas regiões, em protesto à ordem

autocrática do czar. Na medida em

que se espalhavam, tais levantes

encorajavam mais levantes, já que

grupos de contestação se

aproveitavam da fraqueza do governo

para instigar mais revolta. Todo o ano

de 1905 foi repleto de demonstrações

Page 86: Historia Geral e do Brasil

87

de insatisfação e violenta repressão,

até outubro. Neste mês, o czar

assinou o manifesto de outubro, no

qual concedia ao povo que formaria

uma Duma e realizaria uma

Assembléia para que uma constituição

fosse redigida. Era o fim do czarismo

absoluto e o início de um czarismo

constitucional – ao menos era isso

que o manifesto dizia...

A Primeira Guerra e a Revolução

de Fevereiro – Em seguida aos

conflitos de 1905, o governo russo

tentou conciliar a manutenção de

poderes concentrados na mão do czar

com a promoção de políticas bem

vistas pelo público. Investindo em

políticas populares, os ministros do

czar adiavam indefinidamente a

convocação da assembléia

constituinte. As Dumas, que eram

compostas por meio de votos da

população, foi fechada três vezes pelo

czar graças a quantidade de membros

da oposição que foram eleitos. Para os

descontentes, apesar da aparente

mudança, as coisas continuavam as

mesmas, e novamente movimentos

de contestação começam a atacar

verbalmente a instituição czarista. O

império, entretanto, passava por um

bom momento econômico e social, e

os movimentos de oposição não

conseguiam o apoio popular

necessário para poderem de fato

ameaçar o czar.

Retrato do Czar Nicolau II (1868-1918) feita

por A. A. Pasetti, em São Petersburgo, Rússia, em 1898.

Em 1914, entretanto, a Rússia se viu

inserida em um conflito de proporções

imensas e de longa duração: a

Primeira Guerra.

Como vimos, este conflito ensejou

pesadas perdas para todas as nações

envolvidas, e a Rússia não foi uma

exceção. O desenvolvimento que

experimentou nos anos anteriores

agora dava lugar a uma recessão

agravada por imensas perdas

derivadas da guerra. O

descontentamento popular criticava a

permanência russa na guerra cada

vez mais.

Diante do descontentamento popular,

a política russa recorre à sua

tradicional tática: repressão armada.

Os grupos de oposição instigavam

greves e protestos em diversas

localidades do império. Enfim, em

1917, os próprios soldados da capital

decidiram não acatar as ordens de

atirar contra a população, juntando-se

à ela contra o governo. Sem os

militares, o governo não pôde evitar

que os opositores conquistassem os

prédios públicos e instaurassem um

novo governo. Este seria conhecido

como o governo provisório, e duraria

oito meses apenas. O objetivo do

governo provisório era o de liderar o

império até que uma constituição

fosse redigida e eleições legítimas

pudessem acontecer. No governo,

predominavam membros do

movimento liberal, liderados por

Kerensky

No entanto, a formação de outro tipo

de organização no mesmo momento

acabaria por comprometer as

capacidades de liderança do novo

governo: os sovietes. Soviet, em

russo, significa ―conselho‖. Eram os

chamados conselhos dos

trabalhadores, órgãos criados pelos

partidos socialistas que tinham por

objetivo organizar os trabalhadores e

lutar por seus interesses. Com a

queda do czar e a confusão política

que seguiu, a política russa se viu

dividida entre dois órgãos, que muitas

vezes pensavam de forma divergente

ou mesmo contraditória no que diz

respeito ao que fazer com a nação

russa.

Page 87: Historia Geral e do Brasil

88

A Revolução Socialista

A ascensão dos bolcheviques e a

revolução de outubro de 1917 –

Chegando ao poder como líderes da

oposição por gozar de maior apoio

popular, os liberais tomam talvez a

medida mais impopular que

poderiam: a manutenção da Rússia na

guerra. Sendo aliada de países como

Inglaterra e França, a Rússia, para

assinar uma paz em separado com a

Alemanha, teria que violar tais

alianças e, em decorrência, receber

sanções e sofrer a ira de seus ex-

aliados, dos quais a Rússia era bem

dependente – visto, por exemplo, a

quantidade de capitais franceses e

ingleses que operavam dentro do

império.

Os mencheviques, por sua vez,

apoiaram os liberais e participaram do

governo provisório ativamente, pois

acreditavam que, antes de iniciar a

marcha para o socialismo, a Rússia

precisava desenvolver-se

economicamente dentro do

capitalismo (como vimos acima).

Os bolcheviques, por sua vez,

tomaram uma posição radicalmente

diferente. Para eles, a guerra entre

nações não fazia sentido, já que na

verdade o que estava ocorrendo era

explorados lutando com explorados,

enquanto os exploradores relaxavam

em suas luxuosas casas. Defendiam,

portanto, o fim imediato das

hostilidades e o estabelecimento de

um governo liderado pelos

explorados, para que se tentasse

construir uma realidade nova, onde

tal exploração não existisse.

Se ao tomarem poder os opositores

foram vistos como possíveis

salvadores da Rússia, com o passar

dos meses eles passaram a ser vistos

com descrédito por uma população

que não via nada melhorar. Para isso

contribuíam os bolcheviques, que

constantemente discursavam e

agitavam a população, dizendo que a

guerra não era do interesse dos

russos, mas do capitalismo

imperialista internacional, e que os

russos estavam sendo usados como

nada mais do que ―buchas de

canhão‖.

Manifestações bolcheviques ocorrem

em abril, quando Lenin lança suas

famosas teses de abril, nas quais

defendia que os bolcheviques, se

fossem os líderes do império, lutariam

por pão, guerra e paz. Em julho, os

bolcheviques tentam um golpe contra

o governo liberal, mas fracassam.

Lenin foge da Rússia, e tenta

organizar seus correligionários do

exterior.

Com o tempo o apelo bolchevique

entre as massas aumenta. Em

outubro Lenin retorna à Rússia e,

vendo a fraqueza do governo liberal,

instiga seus companheiros a desferir

um golpe de misericórdia. Em fins de

outubro membros bolcheviques

atacam e conquistam pontos

estratégicos da capital Petrogrado

(São Petersburgo foi renomeada

Petrogrado após o início da guerra).

Com o apoio de segmentos do

exército, tomam o poder e passam a

ocupar o governo na capital. Restaria

agora fazer com que suas ordens da

capital fossem ouvidas nas demais

regiões do império.

A Saída da Guerra e a Guerra Civil

– Como haviam dito, tendo chegado

ao poder, os bolcheviques trataram de

iniciar conversas de paz com os

alemães. Para conseguir paz

imediatamente, os bolcheviques

tiveram que aceitar fazer diversas

concessões aos alemães, o que não os

incomodava, já que, para eles, depois

que a revolução comunista se

espalhasse pelo mundo, as

demarcações nacionais seriam inúteis

e obsoletas. Enfim, em 1918 se

ratifica o chamado tratado de Brest-

Litovsk, que remove a Rússia

soviética da guerra.

Tendo conquistado o poder na capital,

os bolcheviques precisavam agora

espalhar o credo socialista pelo

império russo, o que não seria uma

tarefa fácil. Foi formado o exército

vermelho, como foi chamado o

exército bolchevique, que teria como

seu comandante máximo Lev Trotsky,

Comissário da Guerra. Nos anos

subseqüentes, a ditadura do

proletariado instituída pelos

bolcheviques teria como principal

Page 88: Historia Geral e do Brasil

89

prioridade impor, por via da força, da

propaganda ou da diplomacia, o

modelo socialista a todas as

extensões russas, bem como instigar

a revolução nas demais localidades do

globo. Este seria o período do

chamado comunismo de guerra, no

qual os russos passariam por uma

longa guerra civil que duraria quatro

anos.

Havia na Rússia obviamente aqueles

que não concordavam com os

bolcheviques. Dentre estes, houve

tentativas de formação de exércitos

de oposição que tinham por objetivo

reconquistar o poder aos liberais e

restaurar o governo aos moldes do

governo provisório. Eram os

chamados exércitos brancos, apoiados

especialmente por França e

Inglaterra.

Inicialmente, França e Inglaterra

apóiam os brancos principalmente por

crerem que, se os bolcheviques

fossem removidos do poder, talvez a

Rússia voltasse a guerrear com a

Alemanha, que sem ter que se

preocupar com a Rússia podia voltar

todas as suas atenções à França. Após

a guerra, o motivo principal é outro:

Quando os bolcheviques chegaram ao

poder, eles nacionalizaram todas as

empresas em seu território. Portanto,

todo o capital francês e inglês em

território russo, bem como toda a

propriedade privada, foi expropriada,

ou confiscada, pelo estado, o que

agravou mais ainda a crise em que se

encontravam os países que lutaram

na longa Primeira Guerra.

Através da força militar, o exército

vermelho esmagou os seus opositores

e prestou auxílio a bolcheviques de

povos vizinhos para que estes

empreendessem a revolução e se

unissem aos russos. Formam-se, a

partir destas revoluções, as

Repúblicas Socialistas Federadas

Soviéticas, que em 1923 se unem sob

o nome União das Repúblicas

Socialistas Soviéticas (URSS).

A Revolução Mundial – Para Lenin,

o primeiro líder soviético e o principal

membro do grupo bolchevique, a

revolução na Rússia só faria sentido

se fosse apenas a primeira de muitas

outras. Deveria ser um evento de

incentivo para revoluções nos demais

países, um catalisador da revolução

mundial.

Dessa maneira, decide criar um órgão

soviético que tinha como principal

prerrogativa trabalhar sem cessar no

esforço de empreender a revolução

nos demais países, especialmente na

Europa. Era o Komintern, ou

Internacional Comunista. Através do

Komintern, a URSS reunia membros

de partidos comunistas de diversos

locais do mundo e financiava suas

atividades, de modo a ajudá-los a

empreender a revolução em seus

países. Outro objetivo do Komintern

era assegurar que os partidos

comunistas seguissem o modelo

bolchevique, pois apenas cumprindo

os pré-requisitos impostos pelos

soviéticos os partidos comunistas

poderiam participar do grupo e

receber financiamento.

A NEP – Enfim, em 1921, o período

chamado de Comunismo de Guerra

parecia ter chegado ao fim, e o

socialismo parecia consolidado no

território russo. Entretanto, este

processo custou muito: os russos

estavam em guerra desde 1914, e sua

economia, que antes já era frágil,

encontrava-se em péssimo estado. A

NEP nada mais foi do que o curso de

ação desenvolvido por Lenin para lidar

com esta situação. O próprio Lenin

disse: ―Às vezes, é necessário dar-se

um passo para trás para que se possa

dar dois para frente‖. Ele se referia à

NEP. A NEP (Nova Política Econômica)

nada mais era do que um capitalismo

restrito e controlado pelo estado. A

política permitia a relação capitalista

dentro da URSS de modo a reaquecer

a economia soviética e fazê-la se

recuperar mais rapidamente. Tendo

alcançado tal recuperação, a política

seria abandonada e o caminho para o

comunismo seria reiniciado a todo

vapor.

A Morte de Lenin e a Ascensão de

Stalin – Na década de 1920, a saúde

de Lenin piora drasticamente. Entre

1921 e 1924 ele sofre uma série de

derrames, que cada vez mais o

Page 89: Historia Geral e do Brasil

90

incapacitam de manter-se como

governante do país, até sua morte em

1924. O grande herói da revolução

morrera, e agora restava a dúvida:

quem poderia substituí-lo?

Entre os comunistas, as duas escolhas

mais claras seriam Trotsky e Stalin.

Trotsky seria a escolha mais clara,

pois fora, assim como Lenin, uma

importante figura no processo

revolucionário bolchevique, e

partilhava muito dos pensamentos de

Lenin. Stalin, entretanto, era um

inteligente político, e sua ascensão na

política soviética, apesar de não lhe

dar fama à população, lhe dera as

ferramentas para vencer Trotsky

dentro da política soviética.

Tanto Stalin quanto Trotsky eram

homens de confiança de Lenin. O

cargo que Stalin ocupava dentro do

governo soviético era um de menor

prestígio do que o de Trotsky, mas

que lhe conferia maior poder dentro

da estrutura política soviética: era o

comissário das nacionalidades,

enquanto Trotsky era comissário da

guerra. Em um país com tantas etnias

como era a URSS, cabia a Stalin

administrar e supervisionar o

andamento da política em todos os

cantos da URSS. Isso lhe permitiu

uma rede de aliados e influência

notáveis. Quando chegou a hora de se

apontar o sucessor de Lenin – decisão

que não era tomada pelo povo por

voto, mas pelos membros do alto

escalão do partido comunista – Stalin

foi escolhido.

Lênin (à esquerda) e Stalin. Fotógrafo e data

desconehcidos

A URSS sob Stalin (1924-1953) –

Stalin via a revolução de modo

diferente do que Trotsky e Lenin.

Estes dois acreditavam na Revolução

Permanente, ou seja, que os esforços

para empreender a revolução não

deveriam parar até que o mundo

inteiro fosse socialista. Portanto, se a

revolução foi bem-sucedida na Rússia,

esta devia ajudar os que queriam

levá-la a outros países, e assim

sucessivamente.

Para Stalin, isto era enganoso. A

URSS não era um país rico, e o

mundo era grande demais para que os

incentivos soviéticos fizessem alguma

diferença significativa. Ao invés disso,

Stalin pretendia estimular por

exemplo: se os recursos soviéticos

fossem investidos na construção de

uma grande e próspera ordem

socialista soviética, outros países

veriam os benefícios do socialismo e

se revoltariam contra seus opressores

para desenvolver uma ordem

semelhante. Esta visão de Stalin foi

chamada de Revolução em um só

país.

O Stalinismo – Se o destino da

revolução repousava no exemplo que

a URSS transmitia para o mundo, era

necessário que Stalin se esforçasse

para transmitir o melhor exemplo

possível. Além disso, Stalin dizia que

nunca o socialismo deixaria de ser

visto pelos capitalistas como um

inimigo, e que apenas ainda não

foram atacados pelos mesmos porque

estes ainda estão enfraquecidos com

as crises do pós-guerra. Para garantir

que o projeto soviético não se

desviaria de seu caminho, o plano de

Stalin era controlar e gerir todo o

desenvolvimento soviético. A sua

política foi conjuntamente

denominada de stalinismo. Vejamos

alguns de seus aspectos.

Para que o desenvolvimento soviético

fosse o melhor possível, era

necessário que o país não se perdesse

em questões burocráticas que

poderiam atrasar a realização de

ações importantes. Aceleraria o

processo, portanto, se a política

soviética fosse hegemonicamente

composta por pessoas que

Page 90: Historia Geral e do Brasil

91

compartilhassem as visões de Stalin.

Através da chamada Nomenklatura

(uma lista que dizia quem ocuparia

qual posição), Stalin retira do poder

os políticos que se opunham a ele e

os substitui por membros mais

próximos. Com o mesmo fim,

centraliza o poder em sua pessoa

cada vez mais, diminuindo a

capacidade de interferência de

quaisquer possíveis opositores.

Para evitar que a população perdesse

de vista seus interesses e sucumbisse

às tentações da propaganda

capitalista, Stalin também

caracteristicamente recorreu à

repressão para lidar com os agentes

do capital que tentavam subverter a

ordem. Utilizando-se da GPU (a polícia

secreta soviética, que se tornaria a

conhecida posteriormente como KGB),

centenas de milhares de soviéticos

foram presos e exilados por serem

suspeitos de atividades contra-

revolucionárias. Estas práticas

centralizadoras e repressivas

caracterizaram politicamente o

Stalinismo.

Economicamente, Stalin optou por

guiar o desenvolvimento soviético

através de um planejamento rígido e

específico. Em 1927 terminou a NEP,

julgando que ela havia cumprido seus

objetivos. Através dos chamados

planos qüinqüenais, o governante

esperava alcançar fins determinados

através de um cuidadoso

planejamento para a melhor

distribuição possível dos recursos

soviéticos. A partir deste momento,

empreende também uma drástica

reforma no campo soviético, chamada

de coletivização. Através desta grande

reforma, as terras passaram a ser

cultivadas coletivamente pelos

camponeses.

Com o passar dos anos, Stalin se

consolida como poder incontestável

soviético. Tendo muitos aliados

políticos e muita propaganda, seu

nível de aceitação popular é altíssimo,

a despeito dos abusos da GPU e das

violências do regime. Após a Segunda

Guerra, Stalin seria não apenas

incontestável, mas inigualável.

Assumiria proporções de salvador do

povo, assim como Lenin. Em 1953,

quando morreu, levantaria novamente

a questão: quem poderia substituí-lo?

Depois de 29 anos, os soviéticos

teriam um novo líder.

O Governo de Krushchev (1953-

1964) – Após a morte de Stalin, a

liderança soviética seria levada a cabo

conjuntamente por três políticos:

Molotov, Krushchev e Malenkov.

Depois de maquinações políticas,

Krushchev conseguiria, em 1956,

afastar seus colegas e se firmar como

único governante soviético.

A principal característica do governo

de Krushchev foi a virada brusca que

promoveu na política soviética.

Denunciou os crimes de Stalin e se

propôs a empreender uma política em

moldes diferentes, menos centralizada

e mais flexível. Foi uma ação

denominada de desestalinização da

política soviética.

Entretanto, estamos falando de um

mundo em guerra fria. A URSS,

apesar de ser o mais importante

representante do bloco comunista,

ainda assim fazia parte de um bloco.

Nos demais países, predominavam no

governo políticos que seguiam os

critérios stalinistas, e que não

gostaram nem um pouco da postura

do novo líder soviético. Os opositores

destes stalinistas, por sua vez,

aproveitaram o cenário favorável

criado por Krushchev para

contestarem os stalinistas. Durante

este governo, embates político

ocorreram em diversas localidades

soviéticas, como Hungria e Polônia.

Foi também durante o governo de

Krushchev que transcorreu a famosa

crise dos mísseis de Cuba. Este

conflito é melhor tratado mais

adiante, mas aqui vale ressaltar a

maneira como o mesmo influiu na

vida política de Krushchev: com

exceção de Gorbachev, que só deixou

de ser o líder soviético porque a URSS

deixou de existir, Krushchev foi o

único líder soviético a não morrer no

cargo. Ao invés disso, foi afastado

pouco depois da resolução da crise,

que foi vista internacionalmente como

a primeira grande derrota soviética

em um confronto direto entre as duas

potências.

Page 91: Historia Geral e do Brasil

92

O Governo de Brezhnev (1964-

1982) – Após a deposição de

Krushchev, os políticos soviéticos

desejavam no poder um líder

conservador, menos reformador do

que Krushchev, sobre quem recaiu

boa parte da responsabilidade pelo

fracasso em Cuba. Tal homem seria

Leonid Brezhnev. Depois do risco de

uma guerra nuclear com os EUA, a

postura internacional de Brezhnev

seria radicalmente diferente da de

seus antecessores. Os capitalistas

ainda eram os inimigos, mas as

constantes fricções não era um risco

que Brezhnev desejava correr, e as

constantes querelas internacionais nas

quais URSS e EUA se metiam –

Coréia, Vietnã etc. – drenavam

recursos soviéticos que poderiam ser

aplicados de forma mais produtiva.

Encontrando na política americana um

desejo semelhante, o período de

Brezhnev foi conhecido como a

détente, ou distensão, caracterizado

pelo relaxamento das relações e

tensões entre as duas grandes

potências. Brezhnev morre em 1982.

O Governo de Andropov (1982-

1984) – Os resultados alcançados

por Brezhnev eram satisfatórios para

os políticos soviéticos, que preferiram

um representante da velha guarda

conservadora do partido para manter

esta linha de governo. A velha guarda

do partido, entretanto, à essa altura

já era de fato bem velha. Andropov,

antigo chefe da KGB, torna-se com 68

anos o líder da URSS. Durante seu

curto governo, tenta combater a

corrupção que assolava o poder

público soviético, mas faleceu antes

que pudesse esperar alcançar

qualquer resultado efetivo, em 1984.

O Governo de Chernenko (1984-

1985) – Após a morte de Andropov,

entra no poder Chernenko, com 73

anos. Seu principal concorrente era

Gorbachev, visto por muitos como um

político que traria mudanças que não

eram agradáveis aos membros mais

importantes da política soviética.

O Governo de Gorbachev e o fim

da URSS (1985-1991) – Com a

détente de Brezhnev e a flexibilização

das relações entre a URSS e o mundo,

cada vez se torna mais aparente aos

soviéticos que a qualidade de vida dos

homens vistos como seus inimigos

parecia superior a deles, e que todo o

esforço deles e de seus pais e avós

parecia estar sendo mal aproveitado.

A política soviética, no entanto, evitou

permitir que a URSS fosse liderada

por um reformador, temendo que

mudanças levassem à perda dos

privilégios que haviam conquistado

como membros do alto escalão da

política soviética. Ao se tornar o líder

da URSS, Gorbachev trouxe consigo

um plano de reformas estruturais,

para adequar a URSS ao novo mundo

e lidar com o descontentamento que

crescia entre a população. Para tal,

Gorbachev decidiu ―abrir‖ o regime.

Pretendia liberalizar e dinamizar a

economia através de uma política

denominada Glasnost (transparência).

Através da Perestroika (que significa

―reconstrução‖), iniciou uma grande

reforma política na URSS, que

permitiria maior autonomia às

repúblicas em relação ao governo

central – quando até então era de

Moscou que vinham as ordens a

serem seguidas em todas as

repúblicas. Entretanto, na medida em

que esta autonomia foi concedida,

diversas repúblicas as utilizaram para

separar-se da União. A repressão

inicial a tais movimentos só fez acirrar

as tensões e aumentar a força das

dissidências. A chamada linha dura do

partido, os membros mais

conservadores, viram a instabilidade

da situação e planejaram um golpe

contra Gorbachev, tentando conter a

desintegração da União. Tanques

foram enviados às ruas e a população

parecia preparada para desafiá-los.

Entretanto, tal golpe foi encarado de

frente por Boris Ieltsin, presidente da

República Russa (a partir de

Gorbachev as Repúblicas passaram a

ter presidentes próprios), que foi

capaz de contê-lo. Ao fazê-lo, pôde se

aproveitar da ausência de Gorbachev

(que estava retido contra sua vontade

em sua casa na Criméia) para passar

tratados que o governante soviético

Page 92: Historia Geral e do Brasil

93

seria obrigado a apoiar. Depois

deste golpe, a intensidade dos

movimentos separatistas aumentou,

pois a possibilidade de mais golpes

assustava a população. Não se deve

pensar que Gorbachev dissolveu a

URSS intencionalmente. O líder

soviético via uma situação de tensões

internas crescentes, que

inevitavelmente pareciam conduzir a

um conflito interno. Suas medidas

tinham por objetivo acalmar os

ânimos dos descontentes e reformar

as estruturas políticas soviéticas para

normalizar sua situação.

Questões de Vestibulares 1. UFF. O período que antecedeu a

Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

mostrou um panorama de crise,

evidenciado pela força dos

movimentos sociais liberais,

socialistas e anarquistas, em

decorrência dos primeiros sinais de

fracasso da expansão imperialista.

Tais sinais foram expressivos na

Rússia dos czares, onde provocaram o

avanço das desigualdades e a eclosão

de movimentos grevistas, como o de

1905, que prenunciavam a revolução.

Esse clima na Rússia decorreu, de

vários fatores, dentre os quais se

destacam:

(A) os investimentos financeiros

realizados por ingleses e franceses,

que aumentaram as diferenças sociais

e as desigualdades entre cidade e

campo, estimulando os movimentos

sociais e a corrida expansionista dos

czares;

(B) os processos de financiamento da

economia agrária, que melhoraram as

condições de vida do campesinato,

dificultando o desenvolvimento

industrial, promovendo o desemprego

nas grandes cidades e aumentando a

tensão social;

(C) os problemas de relacionamento

entre as grandes áreas geladas

improdutivas, que dificultaram o

deslocamento da população e

limitaram a remessa de alimentos

para as grandes cidades, dando

origem aos movimentos sociais

urbanos liderados, desde o final do

século XIX, pelos bolcheviques;

(D) os conflitos entre os países

imperialistas em função das limitações

do mercado russo, que motivaram o

apoio da França aos movimentos

sociais rurais e o apoio da Inglaterra,

aos urbanos;

(E) os projetos de desenvolvimento

criados pelos czares, que levaram ao

aumento desregrado dos impostos e

ao beneficiamento das regiões

européias em detrimento das áreas

rurais dominadas pelo Japão,

originando os

movimentos contrários à monarquia.

2. UFF 2005. A Revolução Russa de

1917 deu origem ao primeiro estado

socialista da História e por isso

constituiu-se um fator de preocupação

do mundo capitalista. Mas, entre a

revolução e a constituição do Estado

Soviético muitas tensões se

verificaram entre os revolucionários.

Com essas referências:

a) indique dois dos líderes da

Revolução Russa;

b) explique a diferença entre a tese

do ―socialismo num só país‖ e da

―revolução permanente‖, sabendo de

antemão que uma delas foi defendida

por Stalin

3. UFRJ 2009. “Como a Revolução

Francesa, em fins do século XVIII e

começo do século XIX, as Revoluções

Russas que levaram à fundação da

URSS modificaram a face do mundo.

Para muitos deram início ao século

XX. Seja qual for nossa opinião a

respeito, é inegável que imprimiram

sua marca a um século que só

terminou com o desaparecimento dos

resultados criados por elas”. (REIS

FILHO, Daniel Aarão. As revoluções russas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p. 37)

a) Identifique duas medidas adotadas

pelos bolcheviques entre 1917 e a

criação da União Soviética (1922).

b) Explique uma questão de ordem

Page 93: Historia Geral e do Brasil

94

interna à União Soviética que

contribuiu para o seu fim em 1991.

Page 94: Historia Geral e do Brasil

95

Capítulo 22. O Período

Entreguerras e a Crise de 29

Apresentação – Inicialmente se

esperava que a primeira guerra fosse

um conflito rápido; não se contava

com o entrincheiramento das tropas e

com a longa extensão e as grandes

proporções que a guerra tomaria.

Após quatro anos de conflito, a

Europa estava destruída, exausta,

debilitada. Muitos de seus homens

saudáveis morreram no front,

prejudicando a capacidade de

produção de seus países. Além disso,

muitas indústrias européias foram

convertidas a ―produção de guerra‖ –

quando a indústria é utilizada para

produzir armamentos ou munição ao

invés de seu produto usual – por

longos períodos, e precisariam de

ajuda e esforço para se reinserirem

em seus mercados anteriores. Além

disso, as economias européias se

viam cheias de dívidas, em especial

com os Estados Unidos, e os encargos

destas dívidas e desta crise

econômica tornariam especialmente

difíceis as tentativas destes países de

se reerguerem.

Os Primeiros Anos

Na Europa – No velho mundo, os

primeiros anos foram difíceis para os

países que se envolveram na guerra.

O desemprego crescia enormemente,

e a moeda desvalorizava. O poder

aquisitivo da população era baixíssimo

e faltavam em muitos lugares gêneros

de primeira necessidade. Em alguns

casos, como Inglaterra e França, o

estado se demonstrou capaz de

conter a insatisfação do povo em um

nível moderado, de modo a manterem

a ordem estabelecida. Em outros

locais, entretanto, o mesmo não

ocorreu. Na Europa, naquele

momento de crise financeira e

pauperização da população, havia

duas propostas radicais. A da extrema

esquerda (o socialismo) e a da

extrema direita (o totalitarismo, como

veremos a seguir). Estas propostas

receberam crescente apoio em

diversos países europeus, e se

tornariam forças políticas de

considerável poder. Em diversas

localidades na Europa, como veremos,

a crescente aceitação popular à

proposta socialista seria vista pelos

empresários europeus como uma

ameaça a seus investimentos – afinal,

quando a Revolução Russa ocorreu

em 1917, Lenin nacionalizou todas as

empresas, basicamente ―confiscando-

as‖. Isso levou estes empresários a

apoiar a outra proposta que também

parecia se tornar popular dentre a

população, a proposta da direita – do

fascismo de Mussolini e do nazismo de

Hitler, por exemplo.

Nos Estados Unidos – Se diz com

razão que os Estados Unidos foram os

grandes vencedores da guerra.

Enquanto a Europa direcionava toda a

sua produção para a guerra, os EUA

podiam aumentar sua produção para

vender nos mercados europeus, que

não mais produziam na mesma

quantidade produtos que

concorreriam com os americanos.

Além disso, diante da pauperização

dos estados europeus, os EUA se

tornariam o grande credor da Europa,

o que os colocaria em uma forte

posição econômica e política após a

guerra. Por fim, tendo entrado na

guerra apenas em sua segunda

metade, lutando longe de sua

fronteira e sem temer contra-ataques,

os EUA tiveram muito menos baixas

de guerra; a guerra não representou

para os EUA os reveses que

representou para a Europa. Após a

guerra, portanto, os EUA eram a

grande potência econômica do

mundo, o país mais próspero do

mundo – especialmente se comparado

à Europa destruída. Os americanos

viviam de forma abundante, com bons

salários e amplo poder de consumo. A

partir deste período, os EUA se

tornam um exemplo de qualidade de

vida, exemplo este que seria utilizado

pelos próprios EUA para exportarem

seus produtos – e com eles,

pretensamente, justamente tal forma

de vida próspera e abundante.

Ascensão da direita: Os

Fascismos Na Itália – A Itália não tomou parte

Page 95: Historia Geral e do Brasil

96

significativa na guerra e com ela não

sofreu diretamente grandes perdas.

Entretanto, antes da guerra a Itália

não era um país economicamente

forte, e muito dependia das atividades

econômicas européias, que após a

guerra estavam em clara crise. Com a

Europa em crise, a Itália vê sua

instável situação piorar cada vez

mais. Neste cenário, os socialistas

ganharam força. As greves se

multiplicam e a desobediência civil se

torna cada vez maior e mais

agressiva. Neste contexto, com o

apoio dos grandes empresários com

interesses na Itália, foi fundado por

Mussolini o partido fascista. A

proposta fascista compartilhava

diversos traços com propostas da

direita de muitos outros países. Como

foi na Itália a primeira ocorrência de

tal regime, muitos inclusive dizem que

Mussolini foi um ―exemplo‖ às direitas

de outros países. Mussolini defendia,

por exemplo, a revitalização do

nacionalismo italiano. Foi na Itália,

afinal, que se sediou o Império

Romano. Foi igualmente a Itália o país

do Renascimento. A história da Itália

era grandiosa demais, para Mussolini,

para que o país se encontrasse em tal

posição. Era hora de levantar a Itália

e fazer jus às suas glórias passadas.

Para tal, era necessário trabalhar. Os

fascistas, com seus camisas negras,

reprimiam as greves violentamente,

chamando-as de antinacionais. O

próprio socialismo – e a esquerda

como um todo – foi igualmente

considerado antinacional, e seus

representantes foram freqüentemente

vandalizados e agredidos. Na medida

em que o apoio aos fascistas e às

suas medidas repressivas aumentava

entre a população e o poder público

se mostrava pouco inclinado a puni-

los por seus vandalismos e agressões,

estas se intensificaram

paulatinamente. Em 1922, diante de

uma greve geral anti-fascista,

Mussolini tomou para si a

responsabilidade de restabelecer a

ordem: marcha sobre Roma e vê o rei

Vitor Emanuel III convidá-lo a compor

um ministério no governo. Era o início

de seu governo. Sendo então o líder

da Itália, Mussolini demonstrou que

pensava que não era apenas

necessário trabalhar para reconstruir

a glória italiana: era necessário

também ser forte. Mussolini investiu

pesado na esfera militar, tendo força

não apenas para intimidar, em tese,

inimigos externos, mas também –

como o fez contra os socialistas –

para conter e aniquilar os ―inimigos

internos‖. Mussolini ganhou apoio

popular para seu regime também por

ter sido o responsável pela

reconciliação entre o estado italiano e

a Igreja católica. Se bem nos

lembrarmos, durante o processo de

unificação italiana os chamados

―estados papais‖ foram unificados à

Itália sem o consentimento do Papa,

que se disse ―prisioneiro‖ em sua

própria casa. Apenas em 1929, com o

Tratado de Latrão, Mussolini reataria

estas relações, criando o estado do

Vaticano para o Papa e dando à Igreja

uma série de outros privilégios.

Em Portugal – Como sabemos,

Portugal já se via grandemente

dependente da economia inglesa

desde o século XVII. Quando os

ingleses entraram em uma crise como

a do pós-guerra, a economia

portuguesa sofreu repercussões

enormes e se viu também em maus

lençóis, com desemprego ascendente

e capacidade econômica descendente.

Diante desta crise, a direita foi bem-

sucedida em um golpe de estado em

1926, que a põe no poder. Em 1932,

Oliveira Salazar, que nos anos

anteriores já participava do governo

como um consultor econômico, se

torna líder inconteste de Portugal, em

moldes fascistas, e onde

permaneceria até a Revolução dos

Cravos, de 1974.

Na Alemanha – A Alemanha foi, sem

dúvida, a grande derrotada do conflito

mundial. Diante do prospecto de tal

derrota, os segmentos políticos

alemães decidiram realizar uma

mudança no estilo de governo,

esperando com tal ato demonstrar a

mudança de rumo da política alemã e,

assim, reduzir as represálias dos

vitoriosos. Se tiveram sucesso, não

fora suficiente. O tratado de Versalhes

Page 96: Historia Geral e do Brasil

97

foi cruel aos alemães, impondo-os um

fardo que estes se mostrariam

incapazes de cumprir. A força que o

socialismo adquirira na Alemanha se

demonstrou pelo golpe espartacista

de 1918. O grupo bolchevique alemão

Spartacus tentaria tomar o poder

neste ano, com apoio de parte

considerável da população, sendo no

entanto mal-sucedido. A violência da

crise na Alemanha pode ser melhor

percebida por números. O marco

alemão, que em 1914 era ¼ do dólar,

em 1923 se tornaria 7260 vezes

menor que a moeda americana. Após

a ocupação francesa do Ruhr, um

dólar chegaria a valer 4,2 bilhões de

marcos. Dinheiro não era mais aceito

pelos comerciantes, que realizavam

trocas de produtos. A crise levaria a

enorme descontentamento popular, e

a diversos levantes. Dentre estes, um

foi o do ainda pequeno partido

nazista, que foi também contido –

Hitler foi preso ao participar deste

golpe mal-sucedido, e na prisão

escreveu seu famoso livro, Mein

Kampf (Minha Luta). A partir de 1924,

com empréstimos americanos, a

economia alemã se recuperava aos

poucos. Foi criada uma nova moeda, o

Rentenmark, na tentativa de

estabilizar as relações comerciais. A

crise de 1929 pôs fim a tal

recuperação. Sem o apoio americano,

a Alemanha se demonstrou incapaz de

lidar com o fardo de Versalhes e as

demandas de sua própria economia. O

anti-semitismo se intensificava, bem

como o comunismo. A população se

tornava cada vez mais aberta a

propostas radicais, preocupada

apenas com a resolução desta

situação. Neste cenário o partido de

Hitler – que nas eleições anteriores

recebera uma pequena parcela de

votos apenas – ganharia cada vez

mais popularidade, até sua ascensão

ao poder em 1933. A proposta de

Hitler enfatizava a nacionalidade

alemã. O futuro Führer já dizia em

seu livro que a incapacidade de

recuperação da nação alemã não era

culpa dos alemães, mas de seus

inimigos externos – especialmente os

franceses, simbolizados pelo Tratado

de Versalhes – e internos – como

judeus e socialistas, vistos como

homens sem nação, que buscavam

seus próprios interesses e pouco se

importavam com a grande nação

alemã. Afirmava que os alemães eram

biologicamente superiores aos

demais, através da doutrina conhecida

como Arianismo.Dentro do partido

nazista, formou as Seções de Assalto

(SA) e as Seções de Segurança (SS),

incumbidas de manter a ordem

nazista através da força. Depois de

meses de terror, nos quais os nazistas

perseguiriam seus oponentes

políticos, Hitler fechou o parlamento e

ordenou novas eleições. Estas eleições

foram igualmente marcadas pelo

terror, com as SA invadindo e

agredindo os oponentes do nazismo.

Em fevereiro de 1933 os nazistas

incendiaram o prédio do parlamento e

culparam os comunistas, que foram

presos em seguidas. As liberdades

individuais foram suspensas. Em 1934

Roehm, líder da SA, tentou um golpe

contra Hitler, que fora frustrado,

levando à extinção da SA. Seria um

governo de perseguição aos judeus e

aos negros, de intolerância profunda –

no campo artístico, temos o exemplo

da arte degenerada –, de anti-

academicismo, de intervenção

moderada na economia.

Na Espanha – A Espanha, que

também pouco sofreu com a guerra,

passou por dilemas semelhantes aos

da Itália e de Portugal, dada a sua

dependência em relação às economias

de outros países europeus. A

esquerda ganha força política no

cenário espanhol, até que em 1936

chega ao poder o socialista Manuel

Azaña, cuja plataforma continha

reformas de extensas que assustaram

os empresários. Com o apoio destes,

bem como de Hitler e de Mussolini, o

general Francisco Franco travaria um

longo combate com Azaña na

tentativa de tirá-lo do poder, dizendo

que o mesmo agia contra os

interesses dos espanhóis. Este conflito

ficara conhecido como a Guerra Civil

Espanhola (1936-1939), e ao seu fim

Franco se tornaria o líder da Espanha,

formando um governo totalitário

semelhante ao de Mussolini. Ficaria no

Page 97: Historia Geral e do Brasil

98

poder até a sua morte, em 1975.

A crise de 1929 e depressão

dos anos 30

Apresentação – A crise de 29, ou

Grande depressão dos anos 30, foi a

maior crise econômica vivida pelo

capitalismo até a crise que

recentemente assustou o mundo todo.

Teve início com a quebra da bolsa de

Nova York em 1929 e se espalhou por

todo o mundo nos anos seguintes,

levando à falência milhares de

empresas e elevado em milhões o

número de desempregados em todo o

mundo capitalista. Foi uma crise do

sistema econômico liberal, que tanto

acreditava nas propriedades auto-

reguladoras do mercado para se

manter são. Diante da crise deste

modelo, muitos estados passarão a

intervir de forma mais profunda nas

relações econômicas da sociedade, na

tentativa de resgatar suas economias

desta crise.

Após a guerra, a prosperidade

americana era inigualável em relação

a qualquer outra no mundo. É o

momento em que o american way of

life se torna um exemplo de vida e um

desejo de todos. Economicamente

forte, a sociedade americana investia

em ações e se aproveitava do crédito

fácil do momento para tentar se

enriquecer no mercado de ações –

afinal, em uma economia em grande

expansão, a tendência de todas as

ações é de se valorizarem. Entretanto,

a crise de 29 os pegou de surpresa.

Muitos viram suas ações virarem

papéis sem valor, pedaços de uma

companhia falida. Outros correram

para liquidar as suas antes que fosse

tarde, contribuindo apenas para uma

maior desvalorização. Muitos se viram

arruinados, tendo se endividado para

comprar as ações – que eram vistas

como um negócio seguro – e se viram

perdendo suas casas e suas

economias.

Antes da crise

Desequilíbrio econômico no pós-

1ª Guerra – A Primeira Guerra

Mundial, para os países que a

iniciaram, seria uma guerra rápida,

que duraria não mais do que dezoito

meses. O entrincheiramento das

tropas e as especificidades da guerra

fizeram com que esta durasse quatro

anos. Neste tempo, a economia

européia se esgotou tentando manter

vivo o esforço de guerra, ao ponto de

reduzir a produção de produtos

básicos para a população. As baixas

também aumentavam, diminuindo o

número de braços que poderiam estar

produzindo nesta economia. Para

sanar esta deficiência, os estados

europeus – especialmente Inglaterra e

França – se voltaram para os

americanos em busca de crédito.

Além disso, o mercado europeu – bem

como o mercado das colônias

européias – se abria totalmente para

os americanos, visto que a indústria

européia se desgastava e não

conseguia manter um ritmo de

produção como o anterior à guerra.

Ao fim da guerra, enquanto a Europa

se encontra destruída e exausta após

uma guerra longa, os Estados Unidos

se encontram fortalecidos, sendo os

grandes credores do mundo e a

economia mais forte do planeta.

A recuperação das economias

européias – Com a própria ajuda dos

EUA, as economias da Europa

Ocidental conseguem se reerguer e

suas indústrias conseguem atender a

demanda interna. Com o tempo, as

economias européias também

conseguem atender as necessidades

de suas colônias, passando a rejeitar

a ajuda americana neste quesito. A

produção da economia americana,

neste momento, era voltada antes

para a demanda dos norte-

americanos, dos europeus e das

colônias. A concorrência nestes

mercados com os produtos da

indústria européia que se recuperava

gerou uma crise de produção.

O estopim da crise – Esse

fechamento dos mercados coloniais

pelas metrópoles em vista da

recuperação daquelas economias é a

causa imediata da crise. Havia uma

Page 98: Historia Geral e do Brasil

99

superprodução nos EUA que atendia

ao mundo inteiro e de um momento

para o outro, é rejeitada pelos

europeus.

Motivações profundas da crise –

Karl Marx, criador do socialismo

científico, afirmava que o capitalismo

é um sistema econômico fadado a se

autodestruir, pois vive de crises

cíclicas inevitáveis.A tendência da

produção capitalista é de aumentar

sempre, buscando cada vez mais

lucros. Acaba chegando uma hora em

que a produção é maior do que a

demanda. Isso leva à crise

econômica. Sem revender seus

produtos, todo capital investido na

produção destes não tem retorno, e o

dono da indústria ou empresa se vê

debilitado, incapaz de pagar suas

contas, de manter o ritmo de

produção, e ainda tem que temer

seus concorrentes. Afinal, se ele

decidisse reduzir sua produção, e seu

concorrente não o fizesse, o que

aconteceria se o mercado se

normalizasse? Seu concorrente

lucraria mais do que ele, teria mais

capital para investir em sua empresa

e, no futuro, seria um concorrente

bem mais perigoso.

A crise – A crise tem início com a

quebra de algumas empresas

americanas em 1929 na Bolsa de

Nova Iorque. Dá-se em seguida um

quebra-quebra de empresas em todos

os EUA e em todo o mundo

capitalista. A verdadeira depressão

econômica se dá nos anos 30 e não

em 1929 e a principal expressão

dessa crise é o desemprego

generalizado.

Após a crise

Nos Estados Unidos – O chamado

New Deal foi a forma através da qual

os americanos lidaram com esta crise.

Em 1929, ocupava a presidência

americana um republicano liberal. Ele

não tomou nenhuma medida para

tentar resolver a crise, ainda crendo

no modelo liberal, contando com que

a economia se arrumasse por ela

mesma. Isso só agravou a crise, com

mais falências e desemprego. Em

1932, elegeu-se presidente o

democrata Franklin Delano Roosevelt,

que defendia a atuação do Estado na

economia para resolver a crise. Ele

pôs em prática o New Deal, plano de

intervenção na economia com o

objetivo central de reverter os

problemas do desemprego na

sociedade. A partir deste plano, o

estado se incumbiu de planejar a

produção agrícola, realizar grandes

obras públicas, promover e defender

direitos e assistência trabalhista,

entre outras medidas. O objetivo

central era empregar pessoas que

antes estavam desempregadas, de

modo a aumentar o consumo e

reaquecer a economia norte-

americana.

.

Nos países primário-exportadores

– Os países que tinham como núcleo

da economia as suas exportações,

tendo como exemplo todos os países

latino-americanos, foram duramente

atingidos pela crise – já que os países

ricos passaram a comprar bem menos

seus produtos. A crise econômica

desses países foi uma das causas para

os diversos golpes de estado que

observamos no período.

Na Europa – As economias européias

se reerguiam às custas do crédito

americano. Quando a crise estoura

em 1929, o estado americano exige o

pagamento de diversos empréstimos

para lidar com a crise em seu próprio

país, e muitos investidores privados

decidem liquidar seus investimentos

na Europa, temendo perder seu

capital. Isso levou a que essas

economias sofressem seriamente

também os efeitos da crise que se

iniciou nos EUA. Isso foi mais grave

na Alemanha, que tinha tido uma

ligeira recuperação econômica de

1925 a 1929 com a ajuda norte-

americana. Isso leva o país à maior

hiperinflação de todos os tempos e

um enorme desemprego, terreno fértil

para a ascensão nazista.

Na União Soviética – Esse país foi o

que menos sofreu no mundo os

efeitos da crise. Como a diretriz do

Page 99: Historia Geral e do Brasil

100

planejamento econômico soviético era

o de tentar se tornar independente do

mundo capitalista, já visto como um

inimigo mortal, aquela economia tinha

poucas relações com outras

economias, e portanto sofreu menos

com a crise de 1929. Os planos

qüinqüenais continuaram e uma série

de cientistas e técnicos ocidentais

desempregados por causa da crise

foram trabalhar na URSS no período.

Além disso, deve-se lembrar que a

crise de 1929 foi a primeira grande

crise do mercado de ações, do capital

financeiro. Na URSS, todas as

indústrias eram estatais, não havia

ações para se comprar. Quando o

pânico acerca do mercado de ações

leva todo o bloco capitalista ao

desespero e as ações a uma

desvalorização desmedida, na URSS

esta questão.

Questões de Vestibulares

1. UERJ 2009. A Primeira Guerra

Mundial não resolveu nada. As

esperanças que gerou – de um mundo

pacífico e democrático de Estados-

nação sob a Liga das Nações; de um

retorno à economia mundial de 1913;

mesmo (entre os que saudaram a

Revolução Russa) de capitalismo

mundial derrubado dentro de anos ou

meses por um levante dos oprimidos

– logo foram frustradas. O passado

estava

fora de alcance, o futuro fora adiado,

o presente era amargo, a não ser por

uns poucos anos passageiros em

meados da década de 1920.

O período entreguerras (1919-1939)

começou com uma combinação de

esperança e ressentimento. Diversos

acordos foram impostos pelos Estados

vencedores aos derrotados. O mais

conhecido deles é o Tratado de

Versalhes de 1919. Outros tratados

complementares também foram

assinados e igualmente tiveram

grande importância para a geopolítica

mundial. Indique duas

transformações na geopolítica mundial

decorrentes desses tratados

complementares. Em seguida, cite

dois países que foram submetidos a

eles.

Page 100: Historia Geral e do Brasil

101

Capítulo 23. A Segunda Guerra

Mundial

Apresentação – O período que

compreende o intervalo entre as duas

grandes guerras mundiais foi um de

profundas crises e reviravoltas

políticas no cenário europeu. Diante

deste cenário desesperador, à

população crescentemente se tornou

mais interessante as soluções

adiantadas por esferas radicais da

política, seja da esquerda ou da

direita. Como já vimos quando

discutimos o fascismo, com o

aumento da aceitação do socialismo

em diversos países europeus,

camadas da burguesia destes países

passaram a apoiar decididamente a

extrema direita, a principal

concorrente dos socialistas.

Se este cenário instável em grande

parte deveu-se às discussões e

tratados do pós-guerra, foram

também as tensões oriundas desta

situação que em grande parte

motivaram a eclosão de um segundo

conflito, este sim de proporções

literalmente planetárias.

Hitler e a Alemanha – O Tratado de

Versalhes, imposto aos alemães

quando se renderam ao fim da

Primeira Guerra Mundial, era como

um imenso peso no pescoço da

economia e da sociedade alemã. Seu

território permanecia ocupado por

tropas não-alemãs (mas pagas pelo

governo alemão); seu exército foi

forçosamente reduzido a números

ínfimos, e sua indústria bélica foi

basicamente fechada. Além disso tudo

e de mais algumas exigências que

aqui não cabe incluir, a Alemanha

devia pagar aos países vencedores

(especialmente à França) grandes

quantias como indenização de guerra.

Como vimos, fora justamente a

incapacidade da Alemanha de sair da

crise, tendo que ao mesmo tempo

pagar tais enormes dívidas, o

principal motivo da crescente

aceitação de Hitler que o levaria ao

poder em 1933. À medida que a

Alemanha se recuperava militarmente

tornou-se paulatinamente mais fácil

para Hitler agir abertamente em

desafio às determinações de Versalhes

(1935), visto que a França parecia

não mais desfrutar de vantagem clara

militar sobre os alemães.

A formação do Eixo – Aproveitando-

se da crise européia e do isolamento

norte-americano, Hitler se aproxima

dos governos afins ao dele – em

especial Itália e Japão. Com o Japão

assinaria em 1936 o Pacto Anti-

Komintern, vislumbrando que a URSS

seria um inimigo mútuo de ambos e

que, juntos, poderiam forçar a URSS

ao dilema que tanto assombrava a

Alemanha: a batalha em dois fronts.

Afinal, se soubesse que ao atacar a

Alemanha, a URSS teria de se ver

engajada também contra o Japão, do

outro lado de seu imenso território,

talvez hesitasse ou mesmo desistisse.

Entre os três países se formaria o Eixo

Roma-Berlim, que origina o termo

pelo qual a aliança totalitária é

comumente conhecida: O Eixo.

Em 1939, quando a guerra já parecia

iminente para a maioria dos europeus,

as relações entre a Itália de Mussolini

e a Alemanha de Hitler se estreitam

ainda mais, com a firmação do Pacto

de Aço, uma aliança entre os dois

países.

Os primeiros movimentos – Após o

fim da I Guerra, uma das estipulações

do Tratado de Versalhes foi a de

retirar da Alemanha todas as colônias

que possuía antes do conflito. Dessa

maneira, se após a guerra França e

Inglaterra tinham amplas reservas de

matérias primas a preços baixos para

reaquecer sua economia, os alemães

não tinham recursos semelhantes,

além de terem que pagar sua

indenização mensalmente.

Diante desta situação, Hitler realiza

suas primeiras movimentações

ofensivas. O Führer estava em busca

de espaço vital para sua economia

(Espaço Vital é o nome que se dá à

noção de que é necessário uma certa

quantidade de recursos para viabilizar

seu progresso econômico). Ampliando

suas fontes de matéria-prima e

anexando regiões de mão-de-obra

mais barata, Hitler esperava recuperar

Page 101: Historia Geral e do Brasil

102

a economia alemã e ultrapassar seus

concorrentes europeus. Obviamente

não podemos saber ao certo o que

passava na mente do Führer, mas

podemos presumir que desde seus

primeiros movimentos expansionistas

ele já antevia a guerra como

inevitável, e tratava apenas de

garantir que ela fosse realizada no

momento mais oportuno para os

alemães.

As democracias liberais – Inglaterra e

França – encontravam-se isoladas,

diante da postura isolacionista

americana e do cenário totalitário

europeu. Eram desejosos de paz e

tinham por ambição que a Europa se

recuperasse da crise o quanto antes,

pois esperavam que, após a

normalização da economia européia,

os governos da extrema direita

perdessem seu apoio, como ocorrera

com os jacobinos na Revolução

Francesa. Hitler, entretanto, saberia

se aproveitar deste desejo de paz e

estabilidade dos liberais, e conduziria

suas primeiras campanhas em tempos

de paz e debaixo dos narizes de

França e Inglaterra, que nada fizeram.

Em 1938 Hitler anexou a Áustria (o

que o Tratado de Versalhes

expressamente proibia), formando a

chamada Anschluss. Apesar de violar

o Tratado de Versalhes, a manobra de

Hitler se apoiava em outro argumento

que se tornou popular após a I

Guerra: a auto-determinação dos

povos, ou seja, o direito de

determinado povo ou etnia de

governar a si mesmo. Se lembrarmos

da I Guerra, lembraremos que esta se

iniciou justamente na luta da Bósnia

pela independência do Império

Austro-Húngaro, que levou ao

assassinato do herdeiro ao império.

Após a guerra, não só Bósnia mas

também a maioria dos povos que

compunham o império austro-húngaro

receberam autonomia de acordo com

tal critério. Aqui, diziam os nazistas,

não é diferente. Após a morte do líder

austríaco (orquestrada pelos

nazistas), o governo austríaco

―convida‖ a Alemanha a se unir a ela

e ambos, enquanto germânicos, tem o

direito de tomar tal decisão. França e

Inglaterra, querendo evitar um

conflito, aceita o argumento.

Em seguida, voltou-se para os

sudetos, uma região tcheca que

possuía população germânica

minoritária. Este movimento poderia

ter iniciado uma guerra, devido a

tratados entre Tchecoslováquia e

França e URSS. Entretanto, com

mediação inglesa, foi aceita

internacionalmente a premissa de que

as intenções de Hitler sobre os

sudetos se justificavam também pelo

argumento étnico-nacional. No

entanto, no ano seguinte, os sudetos

se mostrariam como apenas um

movimento de abertura de uma

campanha maior, quando a Alemanha

desmembra a Tchecoslováquia e toma

para si a região industrializada tcheca,

declarando independente a

Eslováquia.

Hitler acabaria exaurindo a paciência

dos liberais ingleses e franceses em

1939, quando avançou sobre a

Polônia Tendo abandonado a política

de apaziguamento que permitira as

concessões anteriores, França e

Inglaterra se opuseram abertamente

às pretensões alemãs e soviéticas de

anexação da Polônia, e temiam

enormemente uma aliança entre

URSS e Alemanha. Tendo garantido

para si metade da Polônia e a

neutralidade de Stalin, Hitler acabava

de construir a base sobre a qual

lançaria sua campanha, guiada pela

diretriz Blitzkrieg, ou ―guerra-

relâmpago‖. Tendo em mente

novamente o risco de ser pega em

dois fronts, a política alemã pretendia

se aproveitar da neutralidade

soviética para atropelar os liberais ao

oeste e, após concluída a campanha,

voltar-se para o leste e atacar a URSS

com apoio do Japão.

Hitler e a URSS – Nos anos

anteriores à guerra houve uma

considerável aproximação entre as

políticas soviética e alemã.

Detenhamos-nos um pouco sobre

estas aproximações, já que as

relações entre URSS e Alemanha

foram tão importantes para o decorrer

da guerra.

Em primeiro lugar, a história russa é

uma de relações mais próximas com

Page 102: Historia Geral e do Brasil

103

os germânicos do que com qualquer

outra nação européia. A penetração

francesa na Rússia se deu

especialmente pelo viés cultural, em

um momento em que a França era a

grande potência cultural do planeta.

Nos demais aspectos, entretanto, a

proximidade com os alemães era

maior – no aspecto político, por

exemplo. Deve-se acrescentar a isso o

fato de que o governante da URSS –

Stalin – apreciava a política do Führer

e se identificava mais politicamente

com os governos autoritários do que

com os liberais – estes sendo vistos

como arquétipos do capitalismo

ocidental, o grande inimigo do

socialismo.

Além disso, Inglaterra e França

também pareciam mostrar interesse

nenhum em aproximarem-se da URSS

diplomaticamente, até o momento em

que a Alemanha passou a se mostrar

uma ameaça. Mesmo assim, em tal

momento a URSS interpretaria tal

aproximação como uma tentativa

destes países de forçar um conflito

entre Alemanha e URSS e, assim,

aproveitarem-se das mortes de

soviéticos para evitar mortes de

ingleses e franceses.

Stalin ainda tinha consciência de que,

no momento em que a economia

soviética se encontrava, esta não teria

recursos para adequadamente travar

uma guerra com a Alemanha.

Precisava ganhar tempo. Este seria o

principal motivo por trás do tratado de

não-agressão assinado em 1939 entre

os dois países, no qual se decidia, por

exemplo, repartir a Polônia em duas.

Por fim, em seus planos de expansão,

Stalin via como sendo alvos muito

mais interessantes para eventuais

expansões territoriais as áreas

asiáticas, que ofereceriam resistência

menor. Muitos destes territórios eram

partes dos grandes impérios liberais

inglês e francês, como Índia ou

Indochina. Um conflito entre

Alemanha e Inglaterra ou França era,

pra Stalin, uma briga entre

capitalistas. Enquanto eles brigam

entre si, se abriria uma grande janela

na Ásia para a expansão do

socialismo.

Os EUA e a Europa – Os EUA, por

sua vez, manteriam sua postura de

isolamento quando a guerra se inicia,

cumprindo papel de fornecedor de

produtos, capital e matérias primas

aos aliados. Não participariam

diretamente da guerra, portanto, até

1941, quando Pearl Harbor é atacada

pelos japoneses e o Eixo declara

guerra aos EUA. Nos meses

anteriores, o presidente Franklin

Delano Roosevelt já vinha pedindo

que o congresso e a população

entendessem a importância do

conflito europeu para o mundo e a

necessidade de os EUA participarem

deste conflito antes que fosse tarde.

Após tal ataque, a opinião pública

americana passa a apoiar

maciçamente a entrada do país na

guerra.

A Blitzkrieg alemã – A estratégia

básica alemã na II Guerra se

assemelha ao Plano Schlieffen,

adotado na primeira. A Blitzkrieg (ou

guerra-relâmpago) baseava-se na

rápida conquista da França e

isolamento da Inglaterra, para depois

se voltar à Rússia.

A ofensiva alemã começou em 1940,

pegando a França despreparada,

precisando de mais tempo para

organizar sua produção de guerra e

realizar os preparativos finais para

uma estratégia de defesa. Os alemães

procederam de forma semelhante à

primeira guerra, conquistando

Holanda e Bélgica, de modo a conter

a entrada na França e permitir apenas

entrada marítima. Rapidamente

sobrepujada e tendo boa parte de seu

território conquistado, a França se via

com duas opções: retirar-se para a

Argélia e organizar uma resistência a

partir de lá, ou chegar a um acordo

com os alemães. A proposta que se

tornou realidade foi a segunda,

encabeçada pelo general Petáin. Sob

seus auspícios, o general Petáin, um

herói francês da primeira guerra,

formou um novo governo francês

sediado na cidade de Vichy, sujeito

aos alemães, e no qual o próprio

Petáin seria um líder com poderes

ditatoriais. As exigências alemãs eram

duras, reduzindo o exército francês a

Page 103: Historia Geral e do Brasil

104

um número irrisório, e o pagamento

de 400 milhões de francos diários.

Além disso, o governo de Vichy seria

acusado por diversos franceses de

colaborar com os nazistas,

empreendendo perseguições a judeus

e entregando membros da resistência

francesa aos homens da SS.

Com a formação do governo de Vichy,

França se tornaria basicamente um

protetorado dos alemães. Em

decorrência disto, os alemães

poderiam tranquilamente utilizar a

esquadra francesa para seus próprios

fins. Os ingleses temiam que, unindo-

se as esquadras francesa alemã e

italiana o Eixo fosse capaz de invadir

a Inglaterra. Assim, optaram por

destruir parte da esquadra francesa, o

que levou ao corte de relações

diplomáticas entre os países pelo

decorrer da guerra.

Exilado na Inglaterra, no entanto,

surgiria uma figura que hoje ainda é

muito importante na memória dos

franceses: o general Charles De

Gaulle. Através da estação de rádio

BBC, De Gaulle urgia aos franceses

que resistissem aos alemães e não

aceitassem o novo governo. Petáin,

por sua vez, dizia fazer tudo isso pelo

bem dos franceses, para evitar que

sofressem nas mãos de um inimigo

muito mais forte que eles, e chamava

De Gaulle de traidor e covarde. A

guerra parecia caminhar para uma

vitória do eixo. A França estava

dominada, e a Europa estava sob o

comando de Hitler ou de governos

amigáveis a ele. A Inglaterra, capaz

de repelir qualquer ataque marítimo

às suas costas, era bombardeada

quase diariamente por aviões

alemães, tornando a vida

especialmente difícil e afetando a

produção do país. Apesar de não

poder ser invadida naquele momento,

a Inglaterra não oferecia aos alemães

ameaça considerável.

Em 1941, entretanto, Hitler agiria em

concordância com o diagnóstico de

Stalin, que o achava ―extremamente

capaz, mas incapaz de saber a hora

de parar‖. Achando que o cenário do

oeste estava sob controle, Hitler

voltou-se para o lado leste e atacou a

URSS de surpresa, como Stalin

imaginava que ele faria. Stalin apenas

imaginava que teria mais tempo. A

campanha foi aberta por bombardeios

aéreos alemães que inutilizaram boa

parte dos aviões soviéticos. Nos

primeiros conflitos a vitória alemã foi

recorrente, e as baixas de guerra

soviética aumentavam

exponencialmente. A estratégia militar

soviética sofria com a centralização do

poder e a incapacidade de Stalin de

tomar decisões instruídas em certos

assuntos militares, além de faltarem

tropas treinadas, armas e munição.

Com mão-de-ferro, entretanto, o líder

soviético levantou a indústria bélica a

longos passos e eventualmente

conseguiu alguns triunfos, que

culminariam na batalha de

Stalingrado, em 1942. A partir desta

primeira grande derrota alemã, os

russos iniciariam uma contra-ofensiva

que se demonstraria essencial para a

derrota do Reich.

A estratégia alemã foi prejudicada

pela decisão de um de seus aliados: o

Japão. Como já vimos, a Alemanha

esperava que, quando se voltasse

contra a URSS, o Japão aproveitasse a

deixa e invadisse o território soviético

pelo leste, forçando as tropas de

Stalin a se dividir. O Japão,

entretanto, pensou diferente. Vendo

que a URSS e a Alemanha trocavam

golpes, o Japão se sentiu seguro para

iniciar uma ofensiva contra outro rival,

os Estados Unidos. Desde do fim do

século XIX havia tensões entre os dois

países, visto que durante o período de

expansão imperialista ambos se

voltaram para o pacífico em busca de

anexações.

Em 1941 os japoneses bombardearam

Pearl Harbor. Esperavam que um

golpe bem dado inutilizasse as forças

aéreas americanas, mas calcularam

mal. A partir de então, os japoneses

se comprometeram com uma guerra

no pacífico, e pouco fizeram contra a

URSS, permitindo que esta alocasse

todas as suas forças na repulsão dos

alemães.

Com o ataque à URSS e a bem-

sucedida resistência da mesma, Hitler

passou cada vez mais a negligenciar o

front oeste que, com a entrada dos

EUA na guerra, começou a alcançar

Page 104: Historia Geral e do Brasil

105

avanços consideráveis. A Alemanha

passou a ser brutalmente

bombardeada, recebendo nada menos

que 500 mil toneladas de bombas em

1945. Na África, colônias francesas

como a Argélia e regimentos ingleses

em colônias como o Egito começam a

―empurrar‖ o exército alemão de volta

para a Europa. Da África invadiram a

Itália pela Sicília, levando à deposição

de Mussolini. Em resposta a isso,

Hitler invadiria a Itália e restauraria

seu aliado, apenas para em seguida

ver os aliados capturando Mussolini e

o executando em 1945. A última

grande campanha da guerra seria

justamente o imenso desembarque na

Normandia, chamado de Dia D, em

1944. Antecipado por bombardeios

estratégicos, esta imensa operação

seria a grande responsável pela

reconquista da França e derrota dos

alemães, após o suicídio de Hitler.

O fim da guerra – Sendo atacados

por todos os lados e claramente em

desvantagem, membros do gabinete

de Hitler começaram a falar de

rendição, apenas para serem

considerados traidores. Hitler tentou

reagir até não ver mais escapatória e

saber que as tropas aliadas se

aproximavam de Berlim. Perdendo as

esperanças, se mata, junto com a

mulher Eva Braun e Goebbels. A

rendição alemã viria dos militares, em

maio de 1945. Finda a ameaça alemã

e italiana, a guerra rumava ao seu

fim, e o Japão apenas restava como

beligerante. Desde 1944, quando

decidiu que a Alemanha não mais

demonstrava uma ameaça à URSS,

Stalin reduziu seus esforços de guerra

contra os alemães e começou a

transferir recursos para o front

oriental, com intuito de combater os

japoneses se necessário. Stalin, no

entanto, não tinha nenhum desejo de

fazer favores aos capitalistas, e

apenas agia no benefício destes

quando era capaz de extrair

vantagens de tais atos. Atrasaria,

portanto, sua intervenção sobre

japoneses, alegando, por exemplo,

problemas logísticos.

Os americanos, impacientes com as

baixas no pacífico, decidiram por um

caminho radical, cujo intuito era de

quebrar o espírito japonês e forçá-los

a se render imediatamente e

incondicionalmente. Este caminho foi

o das bombas atômicas, lançadas em

1945 sobre Hiroshima e Nagazaki,

causando cerca de 300 mil mortes e

tantos muitos outros feridos. Os

japoneses, aturdidos com a potência

de tais armas, não viram opção senão

renderem-se. Inicia-se a chamada era

atômica, marcando o fim do maior

conflito da história até então, apenas

para ser uma das protagonistas das

tensões futuras.

Questões de Vestibulares

1. PUC. No decorrer do século XX, em

diversos países do mundo, assistiu-se

à ampliação dos direitos de cidadania.

Sobre esses direitos, estão corretas as

afirmativas, À EXCEÇÃO DE:

(A) O estabelecimento, após a

Segunda Guerra Mundial, de um

protocolo de liberdade irrestrita de

expressão, seguido, desde então por

todos os países americanos

(B) A instituição de diversos direitos

sociais relacionados à educação,

saúde e trabalho, configurando o

chamado Estado de Bem Estar Social.

(C) A ampliação da participação

política através de consultas

populares regulamentadas nas

constituições nacionais, sob a forma

de plebiscitos e referendos.

(D) O reconhecimento, em alguns

países, de direitos conjugais para

casais homossexuais, ampliando as

liberdades civis.

(E) A extensão do direito de voto às

mulheres, decorrente das pressões do

movimento organizado pelas

―sufragetes‖.

2. PUC. A 2ª Grande Guerra (1939-

1945), pela sua dimensão e pelos

seus desdobramentos, tornou-se um

marco na história do século XX. Sobre

esse acontecimento NÃO É CORRETO

afirmar que a 2ª Grande Guerra:

Page 105: Historia Geral e do Brasil

106

(A) condicionou a emergência de uma

ordem internacional caracterizada

pela bipolaridade entre os interesses

dos EUA e da ex-URSS, entre as

décadas de 1950 e 1980;

(B) interferiu na ampliação das

tensões políticas em regiões coloniais

da Ásia e da África, contribuindo para

a promoção de lutas pela

descolonização;

(C) viabilizou a criação da ONU,

representando, no imediato pós-

guerra, o esforço de criar mecanismos

e fóruns internacionais promotores do

entendimento diplomático pacífico.

(D) implicou a condenação das

doutrinas nazi-fascistas, impedindo,

nas décadas seguintes, o

aparecimento desses projetos

políticos e de seus similares.

(E) inaugurou, a partir do episódio de

explosão das bombas atômicas sobre

Hiroshima e Nagazaki, a utilização de

armas nucleares como símbolo maior

de poderio bélico.

3. PUC. A Segunda Guerra Mundial,

que se estendeu de 1939 a 1945, se

diferenciou de todas as guerras

ocorridas em tempos passados,

configurando um novo tipo de

conflito: uma guerra total.

Corroboram tal afirmativa o fato de

aquele conflito ter

I - envolvido um número nunca visto

de países e continentes.

II - promovido uma mobilização total

de recursos humanos e materiais.

III – aumentado o apelo ao trabalho

feminino nos países aliados.

IV - acelerando o crescimento

tecnológico que vinha se

desenvolvendo desde o final da

Primeira Guerra Mundial.

Assinale a alternativa correta:

(A) Somente as afirmativas III e IV

estão corretas.

(B) Somente as afirmativas I e II

estão corretas.

(C) Somente as afirmativas II e III

estão corretas.

(D) Somente as afirmativas I , II e IV

estão corretas.

(E) Todas as afirmativas estão

corretas.

4. PUC 2005. A história das Copas do

Mundo de Futebol está, em diversos

aspectos, associada às

transformações que marcaram as

relações internacionais

contemporâneas. Gestada, como

projeto, pela FIFA, no decorrer das

décadas de 1910 e 1920, a primeira

Copa, ocorrida em 1930, no Uruguai,

contou com a participação das

seleções de 13 países americanos e

europeus. Realizadas, desde então, de

quatro em quatro anos, vieram a ser

suspensas em 1942 e 1946, e

reiniciadas, com regularidade, a partir

de 1950. Dessa data em diante, o

número de países inscritos nas

eliminatórias e de países participantes

tendeu a crescer. Na Copa de 1958,

na Suécia, 46 países estiveram

presentes nas eliminatórias, tendo 16

disputado o campeonato. Na Copa de

1970, no México, tais números

passaram, respectivamente, para 68 e

16. Em 1990, na Itália, foram 103

seleções nas eliminatórias e 24

participantes. Em 2002, na Coréia do

Sul e no Japão, alcançaram-se os

números de 193 países nas

eliminatórias e 32 participantes. Em

paralelo a esse aumento, assistiu-se,

na década de 1990, à diversificação

dos países inscritos. As seleções

participantes foram não somente

americanas e européias, como em

1930, mas também, africanas e

asiáticas. A Copa, em alguma medida,

se globalizava.

Caracterize a conjuntura

internacional entre 1942 e 1946, de

modo a explicar a suspensão das

Copas do Mundo de Futebol nesse

período

5. UERJ 2006. Sessenta anos se

Page 106: Historia Geral e do Brasil

107

passaram desde o fim da Segunda

Guerra Mundial, mas terror,

fanatismo, fundamentalismo, ódio

racial ainda freqüentam os noticiários

de hoje. Considerando as relações

político-econômicas na Europa, um

dos fatores determinantes dessa

Guerra está descrito em:

(A) eclosão da Guerra Civil espanhola,

que propagou movimentos

revolucionários por diversos países

(B) imposição dos tratados de paz,

que submeteram os vencidos a

pagamentos de reparações de guerra

(C) deflagração da crise de 1929, que

deixou várias nações do continente

em posição desvantajosa frente aos

países americanos

(D) instalação do ―cordão sanitário‖,

que se opôs ao avanço do comunismo

nos países do Leste com a formação

da Liga das Nações

Page 107: Historia Geral e do Brasil

108

Capítulo 24. A Guerra Fria

Apresentação – Após o fim da

segunda guerra mundial, os dois

grandes vencedores eram países de

posições políticas extremamente

divergentes, opostas. De um lado, os

Estados Unidos, e de outro a União

Soviética. Se desde seu início o

estado bolchevique encarou os países

capitalistas como inimigos, a recíproca

nem sempre foi verdadeira: apesar de

temer que o socialismo se espalhasse,

empresários do mundo todo

comercializavam contentes com os

soviéticos se houvesse lucro a ser

feito. Nas décadas que antecederam a

guerra fria, a relação entre EUA e

URSS foram, inclusive, bem amigáveis

em muitos aspectos. Após o fim da

segunda guerra, entretanto, esta

relação deteriorou rapidamente.

Para muitos estudiosos EUA e URSS já

começaram a demonstrar inimizade

durante a guerra. O uso de bombas

atômicas no Japão, portanto, pode ser

visto não apenas como uma manobra

eticamente questionável dos

americanos para conseguirem a

rendição imediata dos japoneses, mas

também para ―mostrar os dentes‖

para os soviéticos, demonstrarem do

que eram capazes caso seus

interesses fossem ameaçados. Para

muitos, portanto, a guerra fria

começa ao mesmo tempo em que

termina a segunda guerra, com a

obliteração de Hiroshima e Nagazaki.

A questão alemã – Sendo também

após o fim da segunda guerra

considerada a grande culpada pelo

conflito, a Alemanha foi a que mais

sofrera sanções dentre as nações

derrotadas. Uma dentre elas foi a de

que o país seria conjuntamente

administrado pelas quatro forças

vencedoras da guerra, França,

Inglaterra, EUA e URSS. A Alemanha

foi partida virtualmente, portanto, em

quatro partes. Entretanto Berlim, a

capital administrativa, se situava na

parte soviética. Como capital, ela foi

igualmente dividida em quatro, para

que todas as nações tivessem acesso

à máquina burocrática alemã .

Em 1947, os EUA proporam que as

divisões da Alemanha fossem

suspensas e que as quatro nações

governassem em conjunto os quatro

setores do país, ao invés de cada um

―governar o seu‖. A URSS recusou,

pois achava que se toda a Alemanha

fosse governada por três capitalistas e

um socialista ela sempre seria

derrotada nas decisões políticas. Os

EUA, entretanto, desconsideraram a

recusa soviética e procederam a unir

seu setor com o da Inglaterra e

França. Em resposta, a URSS passou

a proibir que os capitalistas enviassem

suprimentos à Berlim, que ficava

totalmente no território do setor

soviético, e eventualmente murou

toda a seção capitalista da cidade.

Sem acesso às estradas, os

americanos passaram a enviar

suprimentos por avião, pelo chamado

corredor aéreo. Sem interesse em

iniciar uma guerra com a única

potência nuclear de então, a URSS se

viu obrigada a aceitar tal manobra,

pois derrubar o avião não era uma

opção. Foi a primeira grande tensão

entre os dois gigantes da guerra fria.

O muro de Berlim, como se pode ver, foi

basicamente uma ―cerca‖ sobre os setores capitalistas da cidade.

A Formação da ONU – A ONU,

formada em 1942, é vista por muitos

com razão como uma ―descendente‖

da Sociedade das Nações, formada

após a primeira guerra. Como esta, a

ONU tinha por principal prerrogativa

ser uma instituição internacional que

tivesse por principal ambição manter

a paz e a estabilidade no mundo.

Dentre seus diversos ramos, se

destaca o Conselho de Segurança, no

qual cinco países fixos têm poder de

vetar medidas que vejam como

Page 108: Historia Geral e do Brasil

109

ameaçadoras do equilíbrio global.

Estas nações são: China, Estados

Unidos, França, Inglaterra e União

Soviética. Outras agências que

conhecemos bem são parte da ONU,

como o FMI, o BIRD, a UNESCO, entre

outras.

A maior diferença entre a ONU e a

Sociedade das Nações se deve ao fato

de a ONU possuir um exército próprio.

A Sociedade das Nações, quando

julgava que determinada ação poderia

prejudicar o equilíbrio europeu, não

podia fazer nada a não ser dar sua

opinião aos governos dos países que a

compunham. Não tinham forças para

tentar impedir tais eventos. Por este

motivo a Sociedade das Nações se

provou incapaz de fazer mais para

evitar a Segunda Guerra Mundial.

A Reconstrução da Europa – Se

após a primeira guerra a Europa

estava exausta, após a segunda ela

estava virtualmente destruída. Anos

de bombardeios e um número

assombroso de mortos deixaram

cidades inteiras arruinadas. A

população tentava se recuperar de

suas perdas materiais, espirituais,

familiares. O fantasma do comunismo

voltava a assombrar os governos

europeus, que precisariam certamente

de ajuda se quisessem sair desta crise

rapidamente.

Diante desta situação, o governo

americano lança o Plano Marshall em

1948. Tal plano consistia basicamente

em um pacote de ajuda financeira aos

países europeus, para que estes se

reconstruam e voltem a ser membros

produtivos da comunidade

internacional. Além disso, o Plano

Marshall impedia que a economia

européia ficasse fraca ao ponto de

parar de comprar os produtos

americanos, algo que os EUA temiam

muito. A crise de 29, afinal, havia

acontecido há apenas dezesseis anos,

e ninguém queria que ela se repetisse

– a não ser os soviéticos.

Neste cenário de necessidades, a

Europa começa a tomar passos em

uma direção que para nós hoje é uma

realidade consolidada: a integração

entre as nações européias. Na

tentativa de melhor lidarem com os

problemas econômicos, muitos países

europeus passam a dar um pouco

menos importância às suas fronteiras

nacionais e se aglutinarem em grupos

econômicos. O Conselho da Europa,

formado em 1949, e o MCE (Mercado

Comum Europeu), formado em 1957,

são vistos como antecessores diretos

da União Européia que hoje

conhecemos tão bem.

A Iugoslávia – Conquistada pelos

nazistas durante a II Guerra, os povos

que compunham a Iugoslávia não

foram libertados de tal opressão pelas

tropas soviéticas, como foi o caso de

outros países da Europa Central,

como Hungria e Tchecoslováquia. No

caso iugoslavo a libertação veio em

1945 através do Marechal Josef Tito e

seus partisans. De tendência

socialista, Tito aproximou-se

inicialmente dos soviéticos, esperando

uma aliança entre iguais que ajudasse

a ambos. As visões de Stalin,

entretanto, eram outras. Crendo que

a URSS deveria ocupar uma posição

de líder entre os países socialistas,

Stalin não admitia que as políticas

socialistas de outros países se

desviassem do padrão estabelecido

pelos soviéticos. Em resposta a tal

rigidez stalinista, a Iugoslávia rompeu

com o bloco soviético em 1948 e

buscou estabelecer um modelo

socialista próprio. Apesar de em 1955

ter reatado relações com os

soviéticos, reteve sua independência

do bloco – o que era possível, entre

outros motivos, pelo fato de que não

era mais Stalin o líder soviético, mas

Krushchev.

O marechal Tito, herói da libertação

iugoslava, permaneceu no poder até

sua morte, em 1980. Antevendo

complicações para substituí-lo, dada a

multiplicidade de culturas que

compõem a Iugoslávia, Tito

desenvolveu uma política de

revezamento, na qual o líder do país

seria alternadamente originário de

cada uma das regiões em questão.

Em 1991, um desentendimento entre

Sérvia e Croácia acerca da liderança

do país iniciou um longo conflito que

levou à fragmentação da Iugoslávia,

custando a centenas de milhares suas

Page 109: Historia Geral e do Brasil

110

vidas.

A Guerra da Coréia – Depois do fim

da guerra, a Coréia foi libertada de

seus ocupadores japoneses. Em

seguida, as duas grandes forças

políticas coreanas, os comunistas e os

liberais, se polarizaram, indo os

primeiros para o norte do país e os

segundos para o sul. Em 1948, tal

polarização foi ratificada em um

acordo, que separava a Coréia em

duas, Coréia do Norte (de governo

socialista) e Coréia do Sul (de

governo capitalista).

Em 1950, os comunistas coreanos

consideraram que eram fortes o

suficiente para conquistarem a Coréia

do Sul. A guerra da Coréia se inicia, e

os norte-coreanos conquistam quase

todo o território coreano. Quase

todo...

Este foi o primeiro grande confronto

entre capitalistas e socialistas. EUA e

URSS, por sua vez, não tinham

interesse de se meter diretamente no

conflito, pois temiam represálias um

do outro (se os EUA atacam

comunistas, por exemplo, tal ato

poderia ser interpretado pelos

soviéticos como uma agressão a seus

irmãos e um confronto poderia ter

início). Lembremos que, em 1950, os

soviéticos já tinham desenvolvido a

bomba nuclear.

Os EUA, portanto, se voltaram para a

ONU e pediram que ela votasse pela

intervenção neste conflito, nesta

agressão sem motivo. Como membro

do conselho de segurança, a URSS

poderia facilmente vetar esta medida

e a guerra continuaria sem que a ONU

fizesse nada. Entretanto, por algum

motivo ainda não explicado, o

representante da URSS faltou neste

dia. Sem o veto da URSS, a ONU

aprovou a intervenção e os EUA,

representando a ONU, liderou a

resistência sul-coreana. Com a

entrada da força americana, os sul-

coreanos não apenas recuperaram

suas terras, mas invadiram o norte e

quase o conquistaram. Antes disso,

entretanto, a China passou a ajudar

abertamente os norte-coreanos e

igualou o campo de batalha. Em

1953, os exércitos se encontravam

basicamente na linha que

anteriormente dividia as Coréias, e a

guerra foi terminada, ratificando-se

novamente aqueles limites como a

divisão entre Coréia do Norte e Coréia

do Sul.

A Descolonização da África e

da Ásia

Já no século XIX, durante a expansão

imperialista, certas colônias mais

antigas já buscavam se separar de

suas metrópoles, como a Índia.

Mesmo no caso das colônias mais

recentes, entretanto, a relação entre

colônia e metrópole não foi tranqüila.

No início do século XX, desejosas de

se separarem de suas respectivas

metrópoles, muitas sem sucesso

tentavam agir com este intuito. Após

a segunda guerra, entretanto, a

maioria dos esforços de separação das

colônias foi bem-sucedido e, em

pouco mais de uma década depois, as

colônias de todo o mundo passaram a

ser países independentes. O que

mudou nesta primeira metade do

século para que estes esforços

tenham conseguido alcançar seus

objetivos?

Em primeiro lugar, pelo

enfraquecimento das metrópoles.

Após a segunda guerra, como vimos,

a Europa estava economicamente

destruída. As colônias, que antes

eram fontes de lucro passaram a dar

prejuízo. Notando a fraqueza das

metrópoles, iniciaram resistências e

ameaçaram sair às ruas, realizando

greves e vandalizando as regiões. As

metrópoles, além de poderem não

receber nada das colônias devido a

tais atos, ainda assim teriam que

pagar os custos que tinham com a

colônia, como salários de funcionários

metropolitanos que lá trabalhavam.

Usualmente, a metrópole poderia usar

de força para conter tal

insubordinação, mas não neste

momento. Nem podiam também arcar

com despesas adicionais como esta. O

resultado foi, na maioria dos casos,

um acordo de independência entre

colônia e metrópole. Na maioria dos

casos, portanto, a independência

africana foi pacífica e diplomática.

Page 110: Historia Geral e do Brasil

111

Além disso, era também de interesse

dos EUA e da URSS que tais colônias

se desvinculassem dos países aos

quais pertenciam e se tornassem

independentes. Afinal, ambos tinham

a ambição de trazerem para o seu

lado o maior número de nações que

pudessem, e era muito mais simples

atrair um país recente, pobre e em

dificuldades do que um império como

o inglês ou o francês. Se por acaso

houvesse um golpe comunista na

França, os EUA se veriam perdendo

não só a França como aliada contra o

comunismo, mas também Argélia,

Marrocos etc. Era um risco grande

demais.

Na Ásia – A Índia era colônia inglesa

desde o século XVIII. Ao fim do século

XIX, entretanto, já havia tentativas de

emancipação do país.

Na Índia havia duas religiões

principais: O hinduísmo (maioria entre

a população) e o islamismo (minoria).

Adeptos destas duas religiões

freqüentemente discordavam acerca

do que fazer na política indiana, e os

ingleses sempre se demonstraram

habilidosos em manipular estas

divergências para que hindus e

muçulmanos discutissem entre si e

não se unissem contra a metrópole.

Apenas na década de 1920, sob a

liderança de Mohandas Gandhi, as

forças políticas indianas conseguiram

agir em conjunto contra a Inglaterra.

A postura de Gandhi era a de uma

resistência pacífica, misturando

desobediência civil – não respeitar os

decretos ingleses de forma pacífica,

mesmo se agredido – e embargo aos

produtos ingleses – em especial

têxteis e sal. Em 1947, sofrendo

economicamente, a Inglaterra sentia

com o embargo indiano de seus

produtos, e acabou por conceder a

independência à colônia.

Vencido o inimigo inglês, entretanto, a

aparente parceria entre muçulmanos

e hindus se desfez. A Índia se forma a

partir da população hindu e, nas duas

regiões de grande concentração

muçulmana se cria o Paquistão

Ocidental e o Paquistão Oriental, que

seria renomeado Bangladesh na

década de 70. A ilha do Ceilão, antes

parte deste território colonial, se

tornou o Sri Lanka que hoje

conhecemos.

Assim como a Índia, no período

imediatamente posterior à Segunda

Guerra diversos territórios se tornam

independentes. Entre eles, podemos

citar: Malásia, Indonésia, Laos,

Camboja e Vietnã, entre outros.

Na África – Como já foi dito, na

África também a maioria das

emancipações transcorreram de forma

diplomática. Vendo o que acontecera

entre Inglaterra e Índia serviu de

exemplo, para Inglaterra e França, de

quanto prejuízo uma colônia revoltosa

poderia causar prejuízo este que tais

países não podiam ter. Com o apoio

internacional, as colônias se

aproveitaram dessa conjuntura. No

entanto, em algumas colônias houve

derramamento de sangue, como na

Argélia e no Congo.

São dignas de nota as colônias

portuguesas, como Angola e

Moçambique, que só conseguiram se

tornar independentes depois de 1970,

depois de mais de dez anos de luta

armada. Salazar simplesmente se

recusava a aceitar tal emancipação,

com o apoio de grande número dos

portugueses Para entender tal fato,

temos que refletir sobre o que as

colônias significavam para os

portugueses. Diferentemente de

outros países europeus, Espanha e

Portugal têm como período de maior

orgulho de sua história o período em

que colonizaram as Américas, pois foi

o período em que eram as nações

mais poderosas do mundo. No século

XIX, quando Portugal mantêm estas

poucas colônias africanas, isto não

significa apenas benefícios

econômicos, mas também orgulho

nacional. A glória da nação

portuguesa foi atrelada

historicamente às suas posses

coloniais. ―Perdê-las‖ soava para um

português como um retrocesso, como

mais uma coisa negativa em um

momento que já apresentava tantas

dificuldades.

O Terceiro Mundo – Refletindo sobre

a situação política do globo, os

Page 111: Historia Geral e do Brasil

112

especialistas decidiram classificar o

mundo como partido em dois. Havia,

portanto, o primeiro mundo

(composto pelos capitalistas e

liderado pelos EUA) e o segundo

mundo (composto pelos socialistas e

liderados pela URSS).

Entretanto, neste processo de

emancipação, a maioria avassaladora

destes novos países decidiu abster-se

de se alinhar em qualquer um destes

dois lados. Esta foi a chamada política

do não-alinhamento, afirmada na

Conferência de Bandung, de 1955. A

partir de então, se configurou um

Terceiro Mundo, que a princípio não

se aliava nem aos capitalistas nem

aos socialistas.

Na medida em que tais países foram

se tornando independentes,

começaram a pleitear sua entrada na

ONU. Rapidamente as potências

mundiais perceberam que, com a

entrada de tantos países, era o

terceiro mundo o detentor do maior

número de votos na ONU. Os ―outros

dois mundos‖, portanto, sempre se

esforçariam, a partir de então, para

convencer membros destes não-

alinhados a votarem em seu favor.

O socialismo não ameaçava apenas os

interesses colonialistas dos capitalistas. Como o mapa acima demonstra, a presença comunista diretamente adjacente às grandes potências

capitalistas era considerável.

A Revolução Chinesa

Durante o século XIX, com a Guerra

do Ópio e a Guerra dos Boxers, a

China se viu passar de uma grande

nação asiática a um estado

sobrepujado por produtos e

influências européias e americanas,

um estado fraco e incapaz de

defender suas próprias tradições

diante da opressão política e

econômica destes ocidentais. Esta

situação nunca foi aceita pela maioria

chinesa.

Em 1905 foi formado por Sun Yat-Sen

o Kuomitang (Partido Popular

Nacional) que, alcançando o poder em

1912, proclamou a República e tentou

paulatinamente recuperar o país dos

estrangeiros.

Em 1922, entretanto, é criado o

Partido Comunista Chinês, que já

possuía um grande número de

seguidores desde seu princípio. A

popularidade do comunismo era tanta

que Chiang Kai-chek, sucessor de Yat-

sen na liderança do Kuomitang,

decidiu atacar o PC chinês,

massacrando milhares de comunistas.

Ameaçados desta maneira, os

comunistas fugiram para o norte do

país, liderados por Mao Zedong.

No entanto, com a invasão da China

pelos japoneses em 1937, os

comunistas de Zedong e as tropas de

Kai-chek se uniram contra o invasor.

Tal confronto inchou os números do

exército comunista, que recebia

amplo apoio do camponês chinês que

queria lutar por condições melhores

de vida. Quando os japoneses foram

derrotados na segunda guerra e se

retiraram da China, Kai-chek percebeu

o quão enorme havia ficado o exército

comunista, e como Zedong passara a

ter imenso apoio da maioria da

população chinesa. Iniciou-se, então,

a luta pelo poder na china, entre

Kuomitang e Partido Comunista

Chinês. Os comunistas pediam que a

população se revoltasse, e em toda a

China houve levantes contra o

governo. Em 1949, Kai-chek não viu

opção senão a de fugir para a ilha de

Formosa (hoje Taiwan). Neste ano, se

proclamou a República Popular da

China.

A China Comunista – Após a

fundação da República Popular da

China, Zedong se tornou o grande

líder deste imenso país. Assim como

seu contemporâneo Stalin, a política

de Zedong realizou a reforma agrária,

tornando o cultivo da terra uma

atividade comunal. Sua política, em

linhas gerais, era alinhada com a de

Page 112: Historia Geral e do Brasil

113

Stalin e, durante a vida do líder

soviético, as relações entre URSS e

China foram boas.

Com a morte de Stalin e a entrada de

Krushchev no poder soviético, e a

desestalinização da política soviética

empreendida por Krushchev, as visões

políticas da URSS e da China deixam

de estar em sincronia. Não apenas

isso, mas dentro do partido comunista

chinês se fortaleceram aqueles que

discordavam dos métodos stalinistas

de Mao, e que passaram a pensar de

que maneiras podem alterar o curso

da política chinesa. As oportunidades

para fazê-lo surgiram especialmente a

partir de 1958, quando o ambicioso

plano econômico de Mao, o chamado

Grande Salto para frente, não tem

sucesso. Estes opositores, liderados

pelo presidente Liu Shao-Chi,

pretendiam alterar os critérios

políticos chineses e afastá-los da

doutrina maoísta. Zedong e seus

aliados, entretanto, clamam a

população que saia às ruas em

protesto e acabem com esta tentativa

de desvirtuar o caminho do socialismo

chinês. Foi a chamada Revolução

Cultural. A manobra de Mao

funcionou, e seus opositores foram

depostos e tiveram que fugir da

China.

Em 1976, entretanto, Mao Zedong

morre, e deixava atrás de si a

pergunta: Quem tomaria seu lugar?

Havia basicamente dois pretendentes,

a mulher de Mao, Jiang Qing, fiel

seguidora da doutrina maoísta radical,

e o mais moderado Deng Xiaoping. Os

moderados levaram a melhor e, para

acelerar a industrialização da China,

começaram paulatinamente a abrir o

regime, incentivando a entrada de

capital estrangeiro na economia

chinesa.

Em 1989 tal abertura traria para o

governo chinês conseqüências

desagradáveis para seus governantes.

Tendo contato maior com as culturas

de outros países, se formou e se

fortaleceu na China um movimento de

luta por maiores liberdades civis para

os chineses, que em 1989 explodiria

na chamada Primavera de Pequim. O

movimento foi reprimido duramente.

A Revolução Cubana

Cuba, desde sua independência, foi

um dos países americanos que mais

agia em favor das políticas dos EUA.

Em sua constituição figura uma

emenda chamada Emenda Platt, a

qual garantia basicamente aos EUA o

direito de intervir diretamente na

política cubana caso seus interesses

fossem ameaçados.

Na década de 50, governada por

Fulgêncio Batista, Cuba era um país

pobre e com diversos problemas,

como a maioria de seus vizinhos. Em

1953, um grupo comandado por Fidel

Castro tentou ocupar um quartel

militar para, a partir daí, depor

Batista. Foram derrotados, entretanto,

e Castro acabou exilado no México.

Castro não desistiu. No México,

organizou um grupo com cerca de

oitenta homens para invadir Cuba e

remover Batista do governo. Em 1956

desembarcaram em Cuba, mas o

governo sabia de sua vinda. Sob fogo,

fugiram para as montanhas de Sierra

Maestra, sobrando apenas cerca de

vinte dos oitenta originais. Com o

apoio dos camponeses da região,

Castro transformou um grupo de vinte

em uma grande luta que tomava lugar

nas ruas de Havana. Batista dava

sinais de fraqueza, e necessitava da

ajuda americana para repelir os

golpistas. Os EUA, entretanto,

optaram por não fazê-lo. Não

apoiaram Batista por acharem que

Castro no poder seria de interesse

deles. Afinal, os camponeses o

apoiavam, ele seria capaz de

administrar o país de forma mais

harmoniosa. Deve-se ressaltar aqui

que, até este momento, Castro nunca

havia se dito comunista, nem se

filiado a qualquer partido de

esquerda.

Castro venceu, e os EUA viraram o

rosto. Logo após de alcançar o poder

em Cuba, entretanto, Castro se aliou

aos comunistas e tratou de implantar

o socialismo em Cuba, para a

surpresa dos americanos. Para os

soviéticos tal desenvolvimento foi

excelente, pois agora não havia

comunismo apenas na Europa central

e na Ásia, mas também na América.

Page 113: Historia Geral e do Brasil

114

De Cuba, a tarefa de espalhar o

comunismo para a América parecia

muito mais factível.

A invasão da Baía dos Porcos e a

Crise dos Mísseis – Em 1961, o

governo americano tomou iniciativa, e

organizou uma expedição de cubanos

exilados nos EUA para tentar tomar,

ou ao menos desestabilizar, o regime

de Castro. A invasão deveria ocorrer

no local chamado Baía dos Porcos.

Esta expedição foi, entretanto,

derrotada, e ficou claro para Cuba e

URSS que havia sido um ataque

orquestrado pelos americanos.

Os soviéticos não queriam que Castro

deixasse o governo de Cuba de forma

alguma. Era um ponto estratégico

valiosíssimo, um bastião do socialismo

a algumas centenas de metros dos

EUA. A URSS, neste ano, passou a

instalar em Cuba equipamento para

lançamento de mísseis, de modo a

poder ameaçar os EUA em seu próprio

quintal. Quando confrontados pelos

EUA, a URSS afirmava que não havia

mísseis em Cuba que pudessem

atacar alvos terrestres, os mísseis

terra-terra, apenas mísseis para

atingir alvos aéreos, mísseis Terra-ar.

A não ser que os EUA possuíssem

cidades voadoras, os mísseis cubanos

não poderiam ser usados de outra

maneira que não defensiva, afirmava

Krushchev. Aviões americanos,

entretanto, conseguiram fotografar a

base em Cuba e foi descoberto que,

na verdade, eram mísseis terra-terra

e que os soviéticos estavam

mentindo. Foi talvez o momento mais

tenso de toda guerra fria, com os EUA

ameaçando atacar a URSS

imediatamente se os mísseis não

fossem removidos. Depois de pouco

mais de uma semana de negociações,

a URSS retirou os mísseis de Cuba.

O desfecho da crise gerou outros

efeitos notáveis, dentre os quais se

destaca o afastamento de Krushchev

da liderança soviética. Se até este

momento os embates entre EUA e

URSS haviam sido travados de forma

indireta, as discussões e ameaças

entre as duas superpotências acerca

da questão cubana foram a primeira

grande queda-de-braço diretamente

travada entre as duas. Nesta

competição, a URSS foi claramente

derrotada, e forçada a recuar diante

da ameaça de força norte-americana.

Sendo Krushchev o único líder da

história da URSS a sair de seu cargo

em vida (com exceção de Gorbachev,

que apenas deixou de ser o líder

supremo soviético em vida porque a

própria URSS terminou), argumenta-

se que politicamente o governante

perdeu apoio político após tal derrota

– apesar de sua saída ter sido

justificada, na época, por problemas

de saúde do líder soviético. Se a

política de desestalinização de

Krushchev já incomodava muitos

políticos soviéticos, tal evento se

provou um excelente pretexto destes

descontentes para removê-lo da

posição de autoridade e liderança.

A Guerra do Vietnã

A busca dos vietnamitas por

independência foi conturbada, sendo

necessário um conflito com os

franceses para que finalmente

alcançassem seus objetivos em 1954.

No país a força dos socialistas era

muito forte e, como na Coréia, o país

foi dividido em dois, o Vietnã do Sul

(capitalista) e o Vietnã do Norte

(Socialista). No caso do Vietnã, no

entanto, ficou acordado que em 1956

ocorreria um plebiscito para unificar o

país sob os comunistas ou sob os

capitalistas.

Os EUA, entretanto, sabiam que os

comunistas ganhariam facilmente este

plebiscito e impediram que a votação

ocorresse, o que levou a um grande

descontentamento dos comunistas.

Depois de se organizarem, em 1960

fundaram a FNL (Frente Nacional de

Libertação), com intuito de defender a

causa vietnamita. O exército da FNL

era denominado vietcongue. A

partir da fundação da FNL, inicia-se a

guerra do Vietnã, entre o sul e o

norte. O norte possuía clara

vantagem, além do apoio maciço da

população.

Inicialmente os EUA ajudam os

capitalistas vietnamitas apenas com

armas e treinamento, sem se meter

na guerra diretamente. Entretanto,

Page 114: Historia Geral e do Brasil

115

quando a situação se mostrou crítica,

os EUA decidiram entrar de vez na

guerra, sob o governo do presidente

Kennedy (1961). Além de enviar

tropas, os EUA empregaram diversos

dos produtos de suas mais recentes

pesquisas bélicas, como o Napalm.

Apesar de militarmente superiores, os

EUA não estavam vencendo. Os

vietcongues contavam com apoio total

da população vietnamita, e conheciam

muito bem o terreno em que lutavam.

Preparavam armadilhas e

emboscadas, e os americanos, apesar

de terem ótimo equipamento, não

conseguiam vencer seus combates.

Na medida em que a guerra

avançava, os EUA investiam cada vez

mais nela, mandando grandes

números de tropas e armas para o

país. Os vietnamitas do sul, por sua

vez, se aproximavam de seus aliados

socialistas e mantinham o esforço de

guerra, sempre utilizando-se de

táticas de guerrilha.

Com o passar do tempo e a

acumulação de baixas, a opinião

pública norte-americana começou a

protestar cada vez mais contra a

guerra. O Vietnã era um país

minúsculo do outro lado do globo e os

americanos não entendiam – e/ou não

aceitavam – porque seus filhos eram

enviados para morrerem em um local

tão distante, lugar esse que muitos

deles não saberiam sequer identificar

em um mapa antes da guerra. A mídia

passou a veicular a insatisfação

pública, manifestada através de

protestos estudantis, discursos de

movimentos negros e de grupos

alternativos, como os hippies.

Diante destes protestos, o governo

americano negociou um cessar fogo

com os norte-vietnamitas e se retirou

do Vietnã em 1973. Sem o apoio das

tropas americanas, o Vietnã do sul se

mostrou incapaz de conter os avanços

dos comunistas e, em 1975, se

renderam. O Vietnã tornar-se-ia um

país comunista, até o esfacelamento

da URSS em 1991.

Questões de Vestibulares

1. Enem. Os Jogos Olímpicos tiveram

início na Grécia, em 776 a.C., para

celebrar uma declaração de paz. Na

sociedade contemporânea, embora

mantenham como ideal o

congraçamento entre os povos, os

Jogos Olímpicos têm sido palco de

manifestações de conflitos políticos.

Dentre os acontecimentos

apresentados abaixo, o único que

evoca um conflito armado e sugere

sua superação, reafirmando o ideal

olímpico, ocorreu

(A) em 1980, em Moscou, quando os

norte-americanos deixaram de

comparecer aos Jogos Olímpicos.

(B) em 1964, em Tóquio, quando um

atleta nascido em Hiroshima foi

escolhido para carregar a tocha

olímpica.

(C) em 1956, em Melbourne, quando

a China abandonou os Jogos porque a

representação de Formosa também

havia sido convidada para participar.

(D) em 1948, em Londres, quando os

alemães e os japoneses não foram

convidados a participar.

(E) em 1936, em Berlim, quando

Hitler abandonou o estádio ao serem

anunciadas as vitórias do universitário

negro, Jesse Owens, que recebeu

quatro medalhas.

2. PUC.

No traço de Belmonte, o mundo é a

bola em jogo entre Truman e Stalin.

Assinale a alternativa na qual se

encontra a melhor interpretação do

desenho do cartunista brasileiro

Belmonte, em relação à situação

mundial após a II Guerra Mundial:

(A) O desenho de Belmonte sugere o

início da Guerra Fria, caracterizado

pelo embate entre o bloco socialista,

Page 115: Historia Geral e do Brasil

116

liderado pela URSS, e o capitalista,

liderado pelos EUA, que disputaram,

pelas décadas seguintes, o

predomínio técnico, militar,

econômico e político do mundo.

(B) A guerra se encerrara em 1945, e

os principais aliados vitoriosos, EUA

(Truman) e URSS (Stalin), estavam

discutindo, em conferências

internacionais, tratados de paz para a

divisão dos territórios dos países

derrotados.

(C) O globo do desenho põe em

evidência a América do Sul e a África,

pois estes seriam os principais focos

de disputa entre as grandes

potências, já que, neste momento, a

divisão européia estava consolidada.

(D) O cartunista brasileiro teria

cometido um equívoco, pois o

governo inglês havia participado de

todas as conferências internacionais,

sendo um dos "três grandes". Além

disso, a criação da ONU, em 1945,

havia deslocado a discussão dos

problemas mundiais para esse fórum.

(E) De aliados, na II Guerra Mundial,

EUA e URSS transformaram-se em

inimigos. Criaram, em 1946, alianças

militares opostas (OTAN e Pacto de

Varsóvia); dividiram a Alemanha, com

a construção do Muro de Berlim; e

iniciaram uma guerra localizada na

Coréia.

3. PUC. Em 2008 comemoram-se os

quarenta anos do emblemático ano de

1968, um ano que modificou

profundamente o mundo em que

vivemos. Sobre os significados dos

acontecimentos que marcaram o ano

de 1968, estão corretas as afirmativas

abaixo, à exceção de:

(A) Neste ano ocorreu a ―Primavera

de Praga‖, na Tchecoslováquia, que

representou a ―luta por um socialismo

com a face mais humana‖, nas

palavras de seus líderes.

(B) O ano de 1968 foi marcado pela

defesa dos valores tradicionais, como

a família, pelo conservadorismo, pelo

repúdio às utopias igualitárias e à

política.

(C) Na França os estudantes

universitários foram para as ruas

defender o ―direito de pedir o

impossível e proibir as proibições‖.

(D) No Brasil ocorreu o

recrudescimento da ditadura militar

no governo do General Costa e Silva,

com o decreto do Ato Institucional nº.

5, em dezembro de 1968.

(E) Nos Estados Unidos a juventude

protestou contra a Guerra do Vietnã,

participou do movimento hippie e

lutou pelos direitos civis dos negros.

4. PUC. Durante a Guerra Fria, a

disputa entre os interesses soviéticos

e norte-americanos manifestou-se em

diversos conflitos internacionais. As

alternativas abaixo apresentam

exemplos desses conflitos, com

EXCEÇÃO DE:

(A) O ressurgimento do nacionalismo

nos Balcãs, na última década do

século passado, acelerou a

fragmentação da URSS.

(B) A Crise dos Mísseis, em Cuba, em

1962, constituiu-se em um dos

momentos críticos da disputa nuclear

entre as duas potências.

(C) O agravamento das tensões no

sudeste asiático, particularmente no

Vietnã, levou ao envolvimento direto

dos EUA no conflito contra os

comunistas.

(D) A construção do Muro de Berlim,

separando a cidade entre Leste e

Oeste, expressou a existência de duas

áreas de influência econômica, política

e militar na Europa.

(E) Na invasão da Baía dos Porcos,

em Cuba, em 1961, os contra-

revolucionários foram auxiliados pelo

governo norte-americano.

5. PUC. COM EXCEÇÃO DE UMA, as

opções apresentam de modo correto

conflitos em que os Estados Unidos da

América, de um lado, e a União

Soviética e/ou a China, de outro,

assumiram posições antagônicas, no

contexto caracterizado pela Guerra

Fria:

(A) Crise de Berlim (1948-1949).

(B) Guerra da Coréia (1950-1953).

(C) Crise de Suez (1956).

(D) Crise dos Mísseis (1962).

(E) Guerra do Vietnã (1962-1974).

Page 116: Historia Geral e do Brasil

117

6. UERJ. SURDEZ HISTÓRICA

Com a ligeireza habitual, em notas

encurtadas pelo tédio, parte da

imprensa brasileira registrou, no dia

28 de maio, o referendo que aprovou

a nova Constituição de Ruanda, um

dos grotões da África profunda. O

texto estabelece que nenhum partido

poderá ter mais de 50% das vagas no

parlamento. Nem poderão pertencer à

mesma legenda política o presidente,

o vice-presidente e o chefe do Poder

Legislativo. (...) Se o Brasil não fosse

surdo às vozes da África, a imprensa

teria anunciado o fato com pompas e

fitas. (...) Pouco antes do referendo, a

paz entre os tutsi e os hutu parecia

condenada a arder na fogueira dos

ódios ancestrais. Um governo

compartilhado pode existir em

democracias ultradesenvolvidas do

Primeiro Mundo. Como implantar a

fórmula em Ruanda? (...). (Adaptado de

NUNES, Augusto. Jornal do Brasil, 08/06/2003.)

Ruanda, como vários dos países

africanos, viveu longos períodos de

guerra civil desde sua descolonização.

A proposta de um governo

compartilhado é mais uma tentativa

de pôr fim aos conflitos internos e

inúmeras mortes.

No que se refere às características

históricas dos povos africanos, as

razões para a indagação do jornalista,

em relação à sorte da proposta em

Ruanda, podem ser explicadas por:

(A) atraso no processo de

industrialização e liberalização dos

costumes

(B) existência de disputas entre etnias

e acesso reduzido a direitos políticos

(C) influência de religiões

fundamentalistas e presença de

governos autoritários

(D) manutenção de valores

tradicionais e adoção de medidas

econômicas monopolistas

7. UERJ. As três décadas que se

seguiram ao fim da Segunda Guerra

Mundial foram de grande importância

para os povos asiáticos e africanos,

que em sua maioria se emanciparam.

Uma transformação político-

econômica decorrente do processo de

descolonização nesses continentes é:

(A) criação de sociedades igualitárias

(B) surgimento de potências regionais

(C) redução das áreas de influência

das

superpotências

(D) restabelecimento das fronteiras

anteriores à colonização

8. UFF. O imperialismo foi marcado

por variadas formas de opressão, com

o objetivo de facilitar a introdução de

valores europeus, entendidos como

superiores. Os diversos processos de

independência tornaram-se herdeiros

de uma história de desconfiança e

menosprezo entre os povos

submetidos, revelando – ao menos

em parte – as estratégias bem

sucedidas dos dominadores. Nesse

sentido, os recentes conflitos

envolvendo a Índia e o Paquistão são,

hoje, a face mais visível de uma luta

intensificada quando da

Independência dos dois países, em

1947. Identifique a opção que se

refere, incorretamente, à

problemática mencionada acima.

(A) À época da independência, a Índia

foi desmembrada nos estados: a Índia

propriamente dita, o Paquistão e a

ilha de Ceilão, conhecida como Sri

Lanka.

(B) As questões envolvendo as

fronteiras entre Índia e Paquistão são

bastante antigas e, até certo ponto,

decorreram da política britânica de

estimular as rivalidades religiosas e

étnicas das populações sob seu

domínio.

(C) Quando a colônia indiana tornou-

se independente, instituíram-se um

país de maioria cristã, o Paquistão, e

outro, que hoje é a Índia, destinado à

população de origem muçulmana.

(D) A posse da região de Caxemira faz

parte das disputas fronteiriças

travadas pela Índia e Paquistão,

sendo, também, reivindicada pela

China.

(E) Intensas disputas tiveram lugar

nos Estados independentes, e

sangrentos conflitos culminaram com

a autonomia da parte oriental do

Paquistão, originando a República de

Page 117: Historia Geral e do Brasil

118

Bangladesh.

9. UFRJ. ―A Segunda Guerra Mundial

mal terminara quando a humanidade

mergulhou no que se pode encarar,

razoavelmente, como uma Terceira

Guerra Mundial, embora uma guerra

muito peculiar. (...) A peculiaridade

da Guerra Fria era a de que, em

termos objetivos, não existia perigo

iminente de guerra mundial. Mais que

isso: apesar da retórica apocalíptica

de ambos os lados, mas sobretudo do

lado americano, os governos das duas

superpotências aceitaram a

distribuição global de forças no fim da

Segunda Guerra Mundial (...). A URSS

controlava uma parte do globo, ou

sobre ela exercia predominante

influência — a zona ocupada pelo

Exército Vermelho e/ou outras Forças

Armadas comunistas no término da

guerra — e não tentava ampliá-la com

o uso da força militar. Os EUA

exerciam controle e predominância

sobre o resto do mundo capitalista,

além do hemisfério norte e oceanos

(...). Em troca, não intervinha na zona

aceita de hegemonia soviética.‖ HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 224.

No texto acima, o historiador inglês

buscou resumir as principais

características das relações

internacionais no período

compreendido entre o final da

Segunda Guerra Mundial e o fim da

década de 1980, genericamente

denominado Guerra Fria.

a) Explique o papel da Organização do

Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e

do Pacto de Varsóvia naquela

conjuntura.

b) Considerando o contexto da Guerra

Fria, cite dois movimentos políticos

surgidos na África que questionavam

a hegemonia norte-americana no

continente.

10. PUC 2003. A Guerra do Vietnã é

freqüentemente representada no

cinema norte-americano como um

"trauma" para aquela sociedade: uma

guerra em um país distante, na qual

muitos jovens morreram e o país foi

derrotado por uma força militar

tecnologicamente muito inferior.

a) Relacione o envolvimento norte-

americano na Guerra do Vietnã a,

pelo menos, dois acontecimentos

ocorridos no equilíbrio político da Ásia,

após a Segunda Guerra Mundial.

b) Indique dois movimentos de

resistência ao envolvimento norte-

americano na Guerra do Vietnã,

ocorridos nos EUA.

11. UFRJ 2003. Cite uma

semelhança e uma diferença entre os

modelos socialistas soviético e chinês

nas décadas de 1950 e 1960

12. UFRJ. Identifique duas alterações

ocorridas no mapa geopolítico do leste

asiático, na década de 1950,

relacionadas à fundação da República

Popular da China.

13. UFRJ. ―Corações e Mentes

[documentário realizado pelo cineasta

norte-americano Peter Davies, nos

anos 70, sobre a guerra do Vietnã]

tem esse nome devido ao slogan do

governo norte-americano na época,

de que nós tínhamos que ganhar os

corações e mentes do povo

vietnamita. Pois estive no Iraque e os

americanos estão utilizando a mesma

frase. E lá vi as mesmas atitudes, a

mesma arrogância. Achei que o Vietnã

tinha nos ensinado a lição: não ir para

a guerra com países que não estão

nos ameaçando. É assustador ver o

quão rápido a lição foi esquecida.‖ Fonte: adaptado de entrevista de Peter Davies ao jornal O Globo de 01 de outubro de 2004, segundo caderno, p. 2.

Apesar das diferenças no tempo e no

espaço, as guerras do Vietnã e do

Iraque – a última iniciada em 2003 e

ainda em curso – têm em comum

resultarem de intervenções militares

norte-americanas ao redor do planeta.

a) Identifique um elemento da

conjuntura internacional que

contribuiu para a eclosão da Guerra

do Vietnã.

Page 118: Historia Geral e do Brasil

119

b) Explique um dos princípios da

chamada Doutrina Bush, adotada pelo

governo norte-americano após os

atentados de 11 de setembro de

2001, que tenha servido como

justificativa para a invasão do Iraque

14. PUC 2005. A maior presença de

países africanos e asiáticos esteve,

entre outros aspectos, associada a

acontecimentos políticos das décadas

de 1950 e 1960, que alteraram,

profundamente, as relações

internacionais no decorrer da segunda

metade do século XX. Identifique e

explique esses acontecimentos.

15. UFF. A Independência de Angola,

em 1975, foi marcada por grandes

tragédias. Após a libertação, o novo

país, liderado por Agostinho Neto,

ainda foi palco de uma guerra civil

não menos cruel, revelando as

distintas opções políticas dos

movimentos nacionalistas angolanos.

Relacione a Independência de Angola

ao imperialismo português e indique

uma razão para a guerra civil pós-

independência.

16. UERJ 2008.

Preto e branco a cores

Destino a minha vida

Minha luta pela liberdade (...)

Eu tenho raça e a cada farsa, a

cada horror

O meu empenho, meu braço, meu

valor (...)

O nosso herói Mandela é

Senhor da fé, clamou o povo

E o tigre encontra no leão

A maior inspiração de um mundo

novo (...)

Liberdade pelo amor de Deus

Liberdade a este céu azul

É minha terra, orgulho meu

Porto da Pedra canta a África do Sul Escola de Samba do Porto da Pedra, RJ, David Souza et al.

A letra do samba-enredo homenageia

Nelson Mandela, líder da luta vitoriosa

contra o regime de apartheid na África

do Sul. Porém, tal como no caso da

escravidão brasileira, as

conseqüências do longo período de

segregação não se deixaram apagar

com facilidade. O elemento que

identifica corretamente uma herança

importante desses dois regimes do

passado, ainda presente nas

formações sociais de ambos os países,

é:

(A) desigualdade de renda

(B) legislação discriminatória

(C) exclusão cultural das minorias

(D) ausência de representação política

17. UFRJ 2007. ―Agora há

perspectivas de um amanhã mais

justo para o povo negro. Esta data é o

alvorecer de nossa liberdade‖. (Nelson

Mandela em sua posse como

presidente da República da África do

Sul.) A declaração de Nelson Mandela

se refere ao fato de que, em 1948, o

Partido Nacional oficializou a política

de segregação racial na África do Sul.

Semelhante regime político – o

apartheid – vedava o acesso da

população negra e não branca em

geral aos direitos desfrutados pelos

brancos. Identifique duas

determinações legais que

exemplificavam o cerceamento dos

direitos civis dos negros na África do

Sul.

18. UERJ 2006.

(REZENDE, A. P. e DIDIER, M. T. Rumos da

história. São Paulo: Atual, 2001.)

A mão da limpeza

(...) Ê, imagina só

Page 119: Historia Geral e do Brasil

120

O que o negro penava

(...) Negra é a mão de quem faz a

limpeza

Lavando a roupa encardida,

esfregando o chão

Negra é a mão, é a mão da pureza

(...) Limpando as manchas do mundo

com água e sabão

Negra é a mão da imaculada nobreza

(...) Gilberto Gil

A luta dos negros pela igualdade de

direitos contou, nos Estados Unidos,

nas décadas de 1950 e 1960, com a

liderança do pacifista Martin Luther

King. No Brasil, por meio de sua

música, Gilberto Gil é uma das vozes

que denunciam as condições precárias

de vida de parcela dessa população. O

processo histórico que deu origem à

exclusão social de parte considerável

da população negra, tanto no caso

norte-americano quanto no brasileiro,

e uma de suas conseqüências estão

relacionados em:

(A) oficialização do apartheid – acesso

a escolas segregadas

(B) implantação do escravismo nas

colônias – desvalorização do trabalho

manual

(C) empreendimento de política

imperialista – restrição à ocupação de

cargos de liderança

(D) existência de relações escravistas

na África – uso diferenciado de meios

de transporte coletivos

19. UERJ 2009.

Tanto Mar

Sei que estás em festa, pá

Fico contente

E enquanto estou ausente

Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá

Com a tua gente

E colher pessoalmente

Uma flor no teu jardim

Sei que há léguas a nos separar

Tanto mar, tanto mar

Sei também quanto é preciso, pá

Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá

Cá estou doente

Manda urgentemente

Algum cheirinho de alecrim (Chico

Buarque de HOLLANDA. Tantas palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 2006).

A canção de Chico Buarque de

Hollanda refere-se à Revolução dos

Cravos, ocorrida em Portugal em

1974. Aponte duas razões que

levaram o exército português a liderar

o processo revolucionário e explicite

a principal conseqüência da Revolução

dos Cravos para a política portuguesa

na África.

Page 120: Historia Geral e do Brasil

121

Capítulo 25. A América latina

contemporânea

Apresentação - Atualmente, apesar

da ascensão de governos de cunho

nacionalistas como os da Venezuela,

com Hugo Chavez e da Bolívia, com

Evo Morales, a maior parte da

América Latina é governada por

democracias liberais como nos

exemplos do Brasil, México, Colômbia,

Argentina e Chile. Na economia,

apesar do crescimento regional de

alguns países, a desigualdade social e

a pobreza continuam afetando um

número significativo da população

latino-americana.

O período populista (1930-1970)

A Queda das oligarquias - Logo

após a crise de 1929, aconteceram

diversos golpes políticos na América

Latina. Isso se deve ao declínio do

poderio das antigas elites regionais

primário-exportadoras no cenário

político nacional. Com isso, novos

regimes, muitas vezes autoritários,

chegaram ao poder nos países da

América Latina, como ocorrera no

Brasil com a Revolução de 30.

O populismo - O populismo, em sua

face histórica, teve como principais

características a presença de líderes

carismáticos a frente do governo; o

autoritarismo; o apelo junto às

massas populares; a ―concessão‖ de

direitos trabalhistas; a manipulação

dos trabalhadores com esses direitos,

e a defesa de uma política

nacionalista. Esse modelo foi

amplamente empregado no Brasil,

Argentina e México, até a eclosão dos

golpes militares nos dois primeiros

países.

A Industrialização e a política

social - O período populista na

América Latina possui algumas

características que o diferenciam de

um país para outro. Mas apesar das

diferenças, a era populista latino-

americana caracterizou-se como uma

época de grande desenvolvimento

industrial e econômico-social. No

Brasil, por exemplo, os trabalhadores

lutaram e alcançaram diversos direitos

trabalhistas, esse avanço na aquisição

de direitos no Brasil foi interrompido

somente com o governo militar que se

iniciou em 1964. Os governos

populistas no Brasil, México e

Argentina conseguiram organizar uma

indústria de base e ainda

nacionalizaram várias indústrias de

setores estratégicos da economia.

Esses três grandes países

conquistaram sua autonomia

econômica com a diversificação

industrial adquirida neste período.

As multinacionais - Ao mesmo

tempo em que construíam seus

parques industriais, nesse período

muitos países latino-americanos

receberam também diversas

empresas multinacionais. O período a

partir de 1945 foi caracterizado pela

instalação de fábricas multinacionais

em vários desses países, como foi o

caso da Volkswagen que chegou ao

Brasil durante o governo Juscelino

Kubistchek. Entretanto, se por um

lado essas multinacionais ajudaram

na diversificação econômica desses

países, por outro, elas iriam enviar

importantes remessas de lucros às

suas matrizes, prejudicando o

desenvolvimento econômico nacional

e se posicionaram contra as reformas

sociais defendidas nesses países,

apoiando a instauração de ditaduras

na região.

A Guerra Fria – Em pleno cenário da

Guerra Fria, em 1961, com a adoção

do socialismo por Cuba e a aliança

desse país à União Soviética, a

América Latina passou a ser centro de

combate contra uma possível

expansão do comunismo no mundo.

Além disso, o governo cubano, o

médico (revolucionário) argentino Che

Guevara e outros revolucionários

tentaram promover novas revoluções

socialistas em outras regiões da

América Latina, como isso nas

décadas de 1960 e 1970, os EUA,

temendo a difusão do comunismo na

região, passaram a incentivar a

realização de golpes militares na

América Latina.

Os golpes militares - Os golpes

militares no Brasil, Argentina, Chile e

outros países foram apoiados por

Page 121: Historia Geral e do Brasil

122

membros da elite industrial e

financeira nacional, ligada ao capital

estrangeiro e com o apoio do governo

norte-americano. No Brasil, um grupo

de industriais e economistas

brasileiros organizou os planos

econômicos que seriam implantados a

partir de 1964. No Chile, depois do

golpe de 1973, foram impostas

reformas neoliberais.

Ditaduras e período

democrático (década de 80 até os dias atuais)

As ditaduras e o endividamento

externo - As ditaduras latino-

americanas promoveram um

crescimento econômico baseado nos

empréstimos internacionais, que

beneficiou uma pequena parcela da

população, aumentando a

concentração de renda e as

desigualdades sociais. Com a crise do

petróleo de 1973, e o conseqüente

aumento dos juros desses

empréstimos, veio o crescimento

descontrolado das dívidas externas

desses países e o mergulho num

longo período de recessão e forte

repressão às oposições políticas.

As crise econômica da década de

80 e a economia atual - Com a

imensa dívida externa e interna, esses

países limitaram os orçamentos

governamentais para pagar as

dívidas. Com isso, vieram a

hiperinflação, a recessão e a queda

dos investimentos nas áreas sociais.

Atualmente, buscando construir um

desenvolvimento econômico

sustentável, a América Latina

desenvolve acordos comerciais que

privilegiam tanto produtos agrário-

exportadores, como industriais. A

pecuária ocupa um lugar de destaque

nas atividades econômicas latino-

americanas, assim como o

extrativismo e a mineração. Entre os

membros do subcontinente existe

ainda um grande fluxo comercial

desenvolvido internamente.

As tendências políticas - Nos

últimos anos, emergiram vários

regimes governamentais considerados

de ―esquerda‖ nos principais países do

continente americano como são os

casos de Brasil, Venezuela, Argentina,

Colômbia e Chile. Esta tendência está

relacionada, muitas vezes, a um forte

desgaste sofrido pelos partidos

políticos tradicionais, ditos de

―direita‖. Na América latina, a década

de 1980, representou, ao mesmo

tempo, tanto um cenário de expansão

do modelo neoliberal (seguido por

muitos países latino-americanos),

quanto um momento de grande

resistência social, representada pela

forte oposição a esse modelo.

Entretanto, a crescente oposição ao

neoliberalismo não conseguiu evitar a

crise econômica que se instalou em

países como Brasil, Chile, Colômbia e

outros. Uma das possíveis explicações

para o enfraquecimento dos Partidos

de ―direita‖, relaciona-se com o fim

das ditaduras latino-americanas, pois

acreditava-se que os novos regimes

democráticos trariam consigo justiça

social e melhorias no plano

econômico, contudo, tais regimes

mostraram-se incapazes de sanar tais

problemas. Diante deste panorama,

os partidos conservadores ou de

―direita‖, começaram a perder

credibilidade no cenário político. Tal

desgaste acabaria fornecendo

elementos que mais tarde explicariam

o crescimento dos partidos políticos

ditos de ―esquerda‖ e suas vitórias em

diversos processos eleitorais nas

principais economias da América

latina. São exemplo desse fenômeno,

os casos do Brasil com a eleição de

Luiz Inácio Lula da Silva (2002);

Venezuela, com Hugo Chávez (1998);

Néstor Kirchner (2003), na Argentina

e Michelle Bachelet (2005) no Chile.

Questões de Vestibulares

1. UERJ 2009.

Page 122: Historia Geral e do Brasil

123

Adaptado de Veja, 12/03/2008

A capa da revista ilustra mudanças

políticas na tradicional relação entre

os Estados latino-americanos, antes

aliados na busca de maior autonomia.

Uma dessas mudanças pode ser

exemplificada por:

(A) estatização dos recursos naturais

da Bolívia

(B) implementação da política livre-

cambista da Argentina

(C) ampliação do movimento de

privatizações na economia da

Venezuela

(D) incorporação do socialismo

cubano ao projeto nacionalista da

Colômbia

Page 123: Historia Geral e do Brasil

124

Cap. 26 O Oriente Médio Contemporâneo

Apresentação – O Oriente Médio é

atualmente uma das regiões mais

conflituosas do planeta – se não a

mais conflituosa de todas. É uma

região que comporta pretensões de

duas grandes religiões – o judaísmo e

o islamismo – e uma que possui

grandes quantidades de depósitos

energéticos, como o gás natural e o

petróleo. Durante todo o século XX,

especialmente durante e após a

guerra fria, esta região cresceu cada

vez mais em importância, e o

radicalismo adotado pela política de

seus habitantes, aliada ao profundo

desejo de estrangeiros de se

beneficiarem das riquezas naturais da

região, ensejou conflitos que ainda

hoje podemos observar e que não têm

solução em vista.

O conflito árabe-israelense na Palestina A região da Palestina – Antes da

formação do estado de Israel, a

região da Palestina era habitada por

uma maioria esmagadora de

muçulmanos, com um pequeno

contingente de católicos. Até o final

da Primeira Guerra Mundial, essa

região era parte do Império turco-

otomano. Ao fim da Primeira Guerra a

região passou a participar do império

britânico, até o movimento de

descolonização e a fundação do

estado de Israel em 1948. A região

foi, até 1880, habitada quase que

unicamente pelos palestinos locais

que, apesar de terem religiões

diferentes, não tinham conflitos

internos.

O sionismo – Em 1897, diante do

crescente anti-semitismo que se podia

perceber na política européia, o

austríaco Theodor Herzl desenvolveu

uma idéia de que os judeus, que há

mais de mil e oitocentos anos se

espalharam por todos os cantos do

mundo, voltassem a ter uma ―terra

pátria‖. A região da palestina era a

escolha óbvia, pela presença da

cidade sagrada de Jerusalém.

Após a I Guerra, tendo controle da

região da Palestina, a coroa inglesa

começou a permitir e facilitar a

migração de judeus para Jerusalém,

como desejavam os banqueiros

ingleses. Isso em si já geraria

problemas, pois durante e após a I

Guerra os ingleses também se

comprometeram com os palestinos a

defender sua autonomia ou seus

interesses, para que em troca os

locais agissem de modo a ajudar na

derrota do Império Otomano.

A fuga do nazismo e os primeiros

conflitos – Com a ascensão de Hitler

na Alemanha, o fluxo de judeus que

migravam para a Palestina aumentou

dramaticamente, bem como para

outras localidades. Com o aumento do

número de judeus, começaram a

surgir os primeiros conflitos; os

palestinos temiam a perda de terras

com a chegada de tantos

estrangeiros, e os judeus respondiam

com força às agressões palestinas,

agravando as tensões.

A fundação de Israel – Diante das

crescentes tensões e dos recorrentes

conflitos entre palestinos e judeus, a

ONU decidiu mediar o conflito, a

pedido dos judeus unidos, sugerindo

que a Palestina fosse dividida em duas

partes, para que comportasse

harmonicamente os dois povos

conflitantes. Entretanto, tal solução

não foi bem-sucedida, pois não

alcançou uma partição que agradasse

ambos os lados – já que Jerusalém,

em especial, não podia ser dividida. Já

os ingleses, que até então tentavam

manter a paz na região, retiraram-se

de lá em 1948, tendo problemas

financeiros próprios a tratar e

indispostos a incorrer prejuízos com

esta região.

Imediatamente após a retirada inglesa

os judeus declaram a fundação do

estado de Israel, sendo

automaticamente reconhecido pela

URSS. Stalin já tinha tido problemas

com muçulmanos em seu país (fé

majoritária entre os palestinos) e não

tinha tido ainda muita sorte em

cooptar para o seu lado da guerra fria

os países da região do Oriente Médio.

Page 124: Historia Geral e do Brasil

125

Esperava que Israel se tornasse um

poderoso aliado. Entretanto, na

medida em que ficou clara a relação

entre Israel e os judeus banqueiros

dos países liberais, especialmente

Inglaterra e Estados Unidos, Stalin se

afastou de Israel diplomaticamente.

Diante da fundação de Israel, os

palestinos se mobilizaram para

combater este inimigo que se

formava. Diversos países árabes saem

em socorro dos palestinos, ocupam a

faixa de Gaza e a Cisjordânia, mas

perderam a guerra diante do exército

israelense, financiado por poderosos

judeus de cidades como Nova York e

Londres.

Acima podemos ver a atual disposição

política dos estados do Oriente Médio.

O Egito de Abdul Nasser – O oficial

militar Abdul Nasser emergiu como

presidente do Egito em 1953 após o

golpe de Estado de 1952 que pôs fim

à monarquia no país. Ele ficaria como

presidente do país até 1970. Nasser

realizou amplas reformas no país,

tirando o poder da antiga classe dos

grandes proprietários de terra

exportadores de algodão que

sustentavam a antiga monarquia. Ele

realizou uma ampla reforma agrária,

limitando o tamanho da terra e dando

terra a um grande grupo de

lavradores sem terra, o que diminuiria

a pobreza do país. Nasser ainda

realizou nacionalizações, como do

canal do Suez em 1956 e construiu,

com a ajuda soviética, diversas

indústrias pesadas dando autonomia à

economia do país. Enfim, torna o

Egito também um local de refúgio

para centenas de milhares de

refugiados que perderam suas casas e

famílias durante os confrontos entre

palestinos e judeus.

Visto no Egito como um salvador da

pátria, logo Nasser se tornaria um

símbolo de libertação contra a

opressão dos judeus e de seus

―comparsas‖, como eram percebidos

países como Inglaterra e Estados

Unidos. Contente com a situação, a

URSS se aproximou de Nasser e de

seus aliados, e nos conflitos com os

judeus freqüentemente a URSS

prestaria algum tipo de auxílio.

A nacionalização do canal de Suez foi

um duro golpe ao ocidente, como

veremos mais abaixo. Em seguida a

esta ação, Israel invadiu o Egito e

Inglaterra e França atacaram a região

do canal, insatisfeitos com a ação que

lhes retirou a posse do mesmo. No

entanto, diante da ameaça de falta de

petróleo na Europa, a comunidade

internacional recuou e pressionou os

agressores a recuar. Seria a primeira

grande demonstração da força que o

petróleo adquiria no cenário

internacional.

Em seu papel como herói dos árabes,

Nasser envolveu seu povo em

numerosas guerras e conflitos. Com

tal uso dos recursos nacionais para

fins de guerra, a situação econômica

egípcia custava a melhorar, e seus

habitantes ainda reclamavam da

miséria na qual se encontravam.

O sucessor de Nasser, Anuar Sadat,

diante desta situação, decidiu mudar

radicalmente a postura de seu país.

Afastou-se dos conflitos da região e

da URSS e se aproximou dos EUA.

Promoveu a paz com Israel, assinada

em Camp David em 1978. No entanto,

foi considerado por segmentos árabes

como um traidor e assassinado em

1981.

Guerra dos seis dias (1967) – Os

judeus acreditavam que, apesar da

relativa paz, a guerra logo viria; que

os palestinos ainda estavam

descontentes com a presença dos

Page 125: Historia Geral e do Brasil

126

judeus naquele território, e que não

agiam por não possuírem forças

suficientes para sobrepujar o

moderníssimo exército israelense.

Decidiram, portanto, realizar um

ataque surpresa aos palestinos, de

modo a evitar que estes pudessem

desferir o primeiro golpe.

Tendo durado seis dias em seu total, o

ataque surpresa destruiu boa parte da

frota de aviação egípcia e conquistou

amplos territórios.

Ao fim desta, a ONU ordenou Israel a

devolver os territórios conquistados,

mas tal ato não foi cumprido.

A organização dos palestinos – Foi

fundada em 1964 a OLP (Organização

para a Libertação da Palestina). Tal

grupo tinha por objetivo principal unir

os palestinos em seus esforços para

recuperar as terras que lhe haviam

sido usurpadas pelos judeus

invasores, como os viam. Após a

derrota na guerra de seis dias, a OLP

se radicalizou, e em 1969 Yasser

Arafat se tornaria seu líder. Arafat

defendia o uso da força, e formou um

ramo militar dentro da OLP, o Al

Fatah.

Sob Arafat, a OLP realizou inúmeros

atentados terroristas aos judeus,

como o assassinato dos atletas

israelenses na olimpíada de Munique

em 1972. Os israelenses reagiam

atacando países palestinos, sendo

incapazes de localizar os membros de

tal organização ou seus líderes. Tal

fato levou inclusive a conflitos entre a

OLP e países palestinos, que

desejavam que tais ataques

cessassem pois eram eles que

estavam recebendo as represálias. A

mais famosa destas fricções ficou

conhecida como Setembro Negro,

quando em 1970 o rei da Jordânia

mandou tropas para um

acampamento de refugiados

palestinos diante da recusa de Arafat

de desistir do curso de ação terrorista.

Yasser Arafat, sem dúvida o homem mais

famoso da História da OLP

Guerra do Yom Kippur (1973) –

Este conflito foi um iniciado pelos

palestinos. Sabendo que o dia de Yom

Kippur é um importante dia de

celebração no calendário judaico, os

palestinos o escolheram como data de

início de um grande ataque, contando

com o fato de que muitos soldados

estariam de licença. Estavam

corretos. Entretanto, ainda com o

elemento surpresa as tropas

palestinas e de seus aliados, mesmo

com o apoio indireto da URSS, se

provaram incapazes de vencer as

tropas israelenses, que no decorrer de

três semanas reconquistaram todas as

terras perdidas, antes que a ONU

pusesse fim ao conflito.

A Intifada – Em 1987, entre os

muitos enfrentamentos que

caracterizavam as constantes tensões

entre palestinos e israelenses, um se

destacou: foi chamado de Intifada.

Neste ano, quatro palestinos foram

atropelados por um caminhão

israelense. Indignados, palestinos

residentes da faixa de Gaza se

revoltaram contra os israelenses,

marchando às ruas e atacando

soldados com pedras, paus e qualquer

outro objeto que pudesse ser

improvisado como arma. Os judeus

responderam com balas de borracha,

bombas de gás e tanques.

O que torna a Intifada um evento

especialmente significativo foi o fato

de a ONU ter tomado o partido da OLP

e condenado as ações de Israel. Neste

Page 126: Historia Geral e do Brasil

127

cenário, um estado livre da Palestina

foi declarado em 1988.

A Revolução Iraniana – Até 1979,

imperava no Irã – um país riquíssimo

em petróleo – uma dura ditadura de

direita liderada pelo Xá Reza Pahlevi,

que era fielmente alinhada aos

interesses norte-americanos. A rígida

e tradicional cultura islâmica iraniana,

entretanto, produzia obstáculos e

críticas a Pahlevi, que reprimia seus

opositores duramente, prendendo-os

ou forçando seu exílio. De Paris, o

Aiatolá Khomeini insuflava a

população a não permitir que tal

deturpação do credo islâmico.

Em 1979, uma sublevação ocorreu no

país, que foi denominada Revolução

Iraniana. Esta depôs Pahlevi, tomou a

embaixada dos EUA na capital e

instituiu uma democracia islâmica,

submissa a um grande líder religioso,

o Aiatolá. O primeiro a ocupar tal

posição, e que passou a simbolizar

para muitos a causa islâmica em sua

defesa contra os valores corrompidos

do ocidente, foi justamente Khomeini.

Desde então, EUA e Israel – os quais

os líderes políticos e religiosos

iranianos chamam respectivamente de

grande e pequeno satã – tiveram

sérios desentendimentos com o país.

Primeiramente, os norte-americanos

armaram o seu então aliado, o ditador

iraquiano Saddam Hussein, contra o

país na Guerra Irã-Iraque (1980-

1988). Mais recentemente, o Irã foi

incluído no assim chamado Eixo do

Mal, grupo de países antipatizados por

Bush, vistos como inimigos da

democracia, da liberdade e dos

direitos do homem.

Aiatolá Khomeini, líder espiritual e político

iraniano após 1979.

O Iraque – O país foi aliado dos EUA

durante a guerra Irã-Iraque, armando

e apoiando o ditador Saddam Hussein.

Entretanto, depois do fim deste

conflito as relações entre Hussein e

EUA deterioraram, até que, em 1990

o líder iraquiano decidiu invadir o

Kuwait, alegando que historicamente

aquela região deveria fazer parte do

Iraque.

Estando o Kuwait em uma região

também riquíssima em petróleo, os

EUA não desejavam que tal região

caísse nas mãos do bem armado e

nada confiável ou previsível Saddam

Hussein. Afirmando que a guerra

injusta, o governo norte-americano

criou uma coalizão internacional para

conter a invasão iraquiana ao Kuwait:

foi a chamada Guerra do Golfo. Em

2003, os EUA atacariam novamente o

Iraque, sob a premissa de que seu

líder estava desenvolvendo e já

possuía armas de destruição em

massa. Deste conflito resultou a

morte de Hussein por enforcamento.

Afeganistão – Os norte-americanos

também foram aliados da milícia

extremista islâmica talibã, durante a

ocupação soviética do país, de 1980 a

1989. Com o fim dessa guerra,

estabeleceu-se um regime extremista

religioso no país com graves

desrespeitos às liberdades individuais

e às igualdades básicas. Os EUA

invadiram o país em 2001, como

resposta quase imediata aos ataques

de 11/09/2001, afirmando que o

Afeganistão oferecia subsídios ao

terrorismo internacional,

Page 127: Historia Geral e do Brasil

128

especialmente à Al-Qaeda, à qual a

inteligência norte-americana atribuiu

os atentados.

A Força do Petróleo – Até a década

de 1950 o petróleo do Oriente Médio

vinha sendo extraído por empresas

européias e fornecia o mercado

ocidental com energia abundante e

barata.

A partir de 1956, com a

nacionalização do canal de Suez por

Nasser, a figura mudou. Os países

produtores logo perceberam a

dependência global acerca do petróleo

e decidiram explorar tal abundância

para fins políticos.

Em 1960 foi fundada a OPEP

(Organização dos Países Produtores

de Petróleo). Seus membros julgavam

com razão que os preços do petróleo

eram injustificadamente baixos e que

tais preços não levavam em conta os

interesses dos países que o produzia,

apenas dos que o comprava.

Em 1973, os membros da OPEP eram

responsáveis pela produção de mais

da metade do petróleo mundial. Com

o aumento de sua força, a

organização começa a aumentar os

preços do recurso, ensejando a

primeira crise do petróleo, levando

descontentamento ao Ocidente. Para

complicar sua situação, certos países

que compunham a OPEP começaram a

ouvir as reclamações de seus aliados

ocidentais, diminuindo a força do

grupo enquanto tal – a Arábia

Saudita, por exemplo,

tradicionalmente aliada aos EUA, foi

um país-membro que reagiu a tais

aumentos.

Em 1979 haveria uma segunda crise

do petróleo. Entretanto, após a

primeira crise, o Ocidente pareceu

tentar ativamente reduzir sua

dependência do petróleo tentando

instaurar programas energéticos

alternativos (como o Pró-Álcool no

Brasil). A multiplicação de

fornecedores que não pertenciam ao

grupo – como o Brasil – também agiu

como força para a estabilização dos

preços do recurso, que a partir de

então se estabilizou (ainda que a um

preço mais de dez vezes maior do que

o que era em 1950).

Questões de Vestibulares

1. PUC. Em janeiro de 1979, Reza

Pahlevi, Xá do Irã, frente à crescente

oposição política e popular, fugiu do

país criando uma crise política que

culminou com a vitória dos partidários

do clérigo xiita Ruholá Khomeini.

Assinale a alternativa que indica

corretamente a política da República

Islâmica do Irã após a revolução.

(A) A nacionalização dos recursos

naturais impedia o processo de

exploração do petróleo pelas grandes

empresas multinacionais que, até

então, tinham sede no país.

(B) A adesão do Irã à União das

Repúblicas Socialistas Soviética, o que

agravou ainda mais tensões da

chamada segunda Guerra Fria.

(C) A criação de um sistema político

multipartidário e democrático.

(D) A imediata declaração de ―guerra

santa‖ contra os sunitas do Iraque,

governado nessa época por Saddam

Hussein.

(E) Aceitação da existência de um

Estado judeu na Palestina e o

estabelecimento de relações

diplomáticas com Israel.

2. PUC. O Estado de Israel, que

completou 60 anos em maio deste

ano, teve suas fronteiras definidas a

partir de várias guerras com países

vizinhos. A esse respeito, avalie as

afirmativas abaixo:

I - O plano de Partilha da ONU

(Resolução 181) de 1947 previa a

retirada das tropas do Império russo,

a criação de um Estado judaico e de

um Estado independente árabe-

palestino na região da Palestina.

II - Os árabes rejeitaram o plano de

partilha da Palestina aprovado pela

Assembléia Geral das Nações Unidas e

atacaram o recém-formado Estado de

Israel em 1948: era o começo dos

conflitos árabe-israelenses e do

dilema dos refugiados palestinos.

III - A vitória israelense na Guerra dos

Seis Dias (1967) permitiu a ocupação

Page 128: Historia Geral e do Brasil

129

de quase toda a Palestina, isto é, do

Sinai, da Faixa de Gaza, da

Cisjordânia, de Jerusalém e o do

Iraque.

IV - A partir de 1987, a população

civil palestina começou a série de

levantes (Intifada) contra a ocupação

israelense usando paus, pedras e

atentados.

ASSINALE a alternativa correta.

(A) Somente as afirmativas I e III

estão corretas.

(B) Somente as afirmativas I e II

estão corretas.

(C) Somente as afirmativas II e IV

estão corretas.

(D) Somente as afirmativas II e III

estão corretas.

(E) Somente as afirmativas III e IV

estão corretas.

3. UFRJ. ―Não posso morrer sem

voltar a Haifa e ver a casa em que

nasci‖. Essa frase, dita com lágrimas

nos olhos por Lamia - uma senhora

idosa, que vive com sua filha e netos

no campo de refugiados de Burj-el-

Barajne, em Beirute - ao lhe

perguntarmos sobre o maior desejo

de sua vida, resume o drama

palestino: todo um povo condenado

ao desterro ou a viver sem identidade

[...] vendo sua cultura, seu mundo,

suas casas ancestrais serem

confiscadas‖. Fonte: BISSIO,Beatriz. ―Nada

será como antes‖. In: Cadernos do Terceiro do Mundo, no 107, fev. 1988, p.12.

O conflito entre palestinos e

israelenses atravessou boa parte do

século XX e chegou até o presente.

Um dos episódios mais dramáticos

dessa história foi a Guerra dos Seis

Dias (1967).

a) Identifique dois territórios

palestinos ocupados por Israel

durante a Guerra dos Seis Dias.

b) Explique uma mudança ocorrida

em 2005 no cenário geopolítico

resultante da Guerra dos Seis Dias.

4. ENEM 2008. Existe uma regra

religiosa, aceita pelos praticantes do

judaísmo e do islamismo, que proíbe

o consumo de carne de porco.

Estabelecida na Antiguidade, quando

os judeus viviam em regiões áridas,

foi adotada, séculos depois, por

árabes islamizados, que também

eram povos do deserto. Essa regra

pode ser entendida como

A) uma demonstração de que o

islamismo é um ramo do judaísmo

tradicional.

B) um indício de que a carne de porco

era rejeitada em toda a Ásia.

C) uma certeza de que do judaísmo

surgiu o islamismo.

D) uma prova de que a carne do

porco era largamente consumida fora

das regiões áridas.

E) uma crença antiga de que o porco

é um animal

impuro.

Page 129: Historia Geral e do Brasil

130

Capítulo 27. A Queda do Muro de Berlim, o fim da URSS e a

Nova Ordem Mundial

Apresentação – A dissolução da

URSS foi o último prego no caixão do

comunismo enquanto uma doutrina

que disputava por supremacia

mundial. Hoje o comunismo é apenas

uma dentre muitas escolhas na

grande maioria dos países, e suas

propostas e plataformas em muito se

diferenciam do comunismo que foi

empregado na URSS. Com a

dissolução do estado soviético, pode-

se falar sem engano no fim da guerra

fria; o mundo progressivamente

deixaria o tenso estado bipolar no

qual se encontrava por trinta e quatro

anos e pouco a pouco se veria

construindo uma nova ordem, uma

nova maneira de se conceber e

administrar o mundo, nacional ou

internacionalmente, política ou

economicamente.

A Queda do Muro de Berlim – Em

1989, depois de vinte e sete anos de

existência, caía o muro que separava

a Berlim capitalista de sua contraparte

comunista. Este evento é um marco

na história mundial contemporânea,

não apenas pelo evento em si, mas

pelo que o mesmo veio a simbolizar

na história.

Desde a década de 60 a URSS

mostrava sinais de que tinha

dificuldades em acompanhar o ritmo

imposto pelos EUA na grande disputa

que foi a guerra fria. Com o passar do

tempo, foi se tornando cada vez mais

presente entre as populações de

países comunistas um sentimento de

que suas vidas seriam melhores se

vivessem sob o capitalismo.

Movimentos e grupos de oposição se

formaram e se fortaleceram no

decorrer da década e 70 e 80.

Ao fim da década, a derrubada do

muro significou para a comunidade

internacional o primeiro grande sinal

da ruína do socialismo, que já vinha

cambaleando há tempos. Significou

também o início do fim da guerra fria,

simbolizando o fim de uma grande

contradição inerente à mesma: em

um mundo no qual as nações se

desenvolviam tornando-se mais e

mais dependentes de outras, a lógica

de que isso as faria mais próximas ou

que ensejaria algum diálogo era

silenciada por uma barreira ideológica

arbitrária, entre os três mundos (os

capitalistas, os socialistas e os não-

alinhados).

A Queda da União Soviética

A Limitação Econômica do País –

Os Estados Unidos, desde o final da

Segunda Guerra, lideraram uma forte

corrida armamentista contra a União

Soviética. Essa sempre tentou

responder à mesma altura, o que foi

muito difícil e prejudicial ao país. A

economia soviética tinha sérios

problemas de abastecimento de

alguns produtos básicos para

consumo de sua população, mas tinha

um espetacular sistema de mísseis

intercontinentais, alguns com várias

ogivas nucleares. Isso levou o país, a

partir da década de 70, a começar a

parar de crescer economicamente e

tentar fazer tratados com os EUA para

diminuir o número de armas

nucleares.

As Ex-repúblicas Pós-1991 – Todas

as antigas repúblicas soviéticas que

compunham a URSS surgiram em um

cenário terrível. Uma ampla crise

econômica abateu estes países, e

houve privatizações em massa por

parte do Estado. Surgiram

organizações criminosas que

venderam armamentos do exército e

da indústria armamentista russa para

grupos ilícitos no mundo inteiro. A

corrupção aumentou tremendamente

nesses países.

No mapa acima podemos observar a quantidade

de repúblicas que surgiram com a desintegração da União Soviética.

Page 130: Historia Geral e do Brasil

131

A Nova Ordem Mundial

A Hegemonia Norte-americana –

Diante do fim da URSS, os EUA

emergiram como a única

superpotência do mundo. A

supremacia econômica e militar dos

EUA diante de qualquer outra nação

do mundo colocou a potência em uma

situação especialmente vantajosa na

arena internacional, pois a permitiu

maior liberdade de ação do que era

permitida a outros países, que eram

mais suscetíveis a sanções da ONU e

embargos de outras nações. A

economia norte-americana também

respirou aliviada com a redução

sistemática dos gastos militares no

país, principalmente durante a era

Clinton (1993-2000).

O Ascensão e o Declínio do

Nacionalismo – Durante a guerra

fria, basicamente toda a política

internacional era regida pelas

preocupações do embate principal,

entre as duas grandes doutrinas

divergentes: o capitalismo e o

comunismo. Dessa maneira, neste

período o sentimento nacional sofreu

um declínio de importância na política,

visto que a nação deveria antes de

tudo prestar aliança ao bloco ao qual

pertencia. Na maioria dos casos, em

ambos os lados, quando a política de

um dado país parecia atrapalhar ou

contradizer os interesses dos blocos –

de seus líderes, na prática – tal

política era desencorajada ou mesmo

coibida

Quando a URSS se dissolveu em

1991, a guerra fria chegou ao fim e o

embate entre duas grandes ideologias

deixou de existir. Diante disto, muitas

tensões e aspirações de certos povos,

que até então permaneciam

silenciadas pela guerra fria,

explodiram. bósnios, eslovenos,

croatas e sérvios lutavam pela

Iugoslávia. Diversos países se

separavam da grande URSS. Na África

se intensificavam os confrontos

nacionalistas iniciados na segunda

metade do século. O número de

países no mundo aumenta

consideravelmente: são países

menores e mais frágeis

economicamente.

Se estes eventos podem ser

entendidos como um aumento na

importância do nacionalismo para a

política mundial, há outra face para

esta moeda: A do declínio da

importância do mesmo nacionalismo.

Pode-se afirmar tal acontecimento

pois, com a fragmentação das

fronteiras e a formação de pequenos e

frágeis países, que pouco podem fazer

se desejarem se opor aos países mais

fortes – em especial aos EUA – o

próximo passo tomado foi o de formar

novos grupos ou blocos de apoio e

cooperação mútua. Em outras

palavras, diante deste cenário

internacional, diversos países

começaram a se voltar para outros

que possuíam culturas ou interesses

semelhantes para formarem um bloco

que os ajudasse a defender

conjuntamente seus interesses,

tornando-os mais fortes. A OPEP, por

exemplo, é um grupo deste tipo, bem

como os são o Mercosul e a União

Européia. Todos estes grupos visam, a

partir da cooperação entre nações,

fortalecer a todas diante do cenário

internacional.

Neste cenário de enfraquecimento das

nações no cenário mundial e de co-

dependência mútua entre povos,

houve a criação e o fortalecimento de

grupos que tentavam alcançar os

objetivos que viam os estados fracos

demais para alcançar, e podendo usar

de métodos que os estados não

podiam: os grupos terroristas. Se o

terrorismo em si é um fenômeno

antigo, e que alguns destes grupos se

formaram antes ou durante a guerra

fria, ao fim desta o terrorismo toma

um novo foco e é fortalecido, diante

do descrédito que muitos passam a

ter diante do sistema de estados que

parece tão fraco, ao ponto de um país

não poder defender seus interesses de

forma soberana sem que outros o

impeçam ou o ameacem porque esta

ou aquela ação os prejudica. Seguem

alguns exemplos destes grupos: o IRA

(Exército Republicano Irlandês), o ETA

(um grupo que luta pela

independência dos bascos na

Espanha), Kach (um partido judeu de

Page 131: Historia Geral e do Brasil

132

direita que se tornou uma organização

terrorista após o assassinato de seu

fundador), Hezbollah, Hamas, entre

muitos outros, infelizmente.

O Neoliberalismo – Essa doutrina

econômica já existia antes da queda

do muro de Berlim. Foi posta em

prática na Grã-Bretanha e no Chile

nos anos 70. Sua principal

prerrogativa é a da minimização do

papel do estado na esfera econômica.

A doutrina liberal, desde o século

XVIII, defende a existência de

determinadas leis de mercado,

através das quais o indivíduo produz

de forma mais efetiva quando sujeito

a pressões características do

capitalismo, como a concorrência. O

neoliberalismo afirma, portanto, que a

maneira mais produtiva de se alcançar

os melhores resultados em menos

tempo é a de retirar o estado da

equação e permitir que o mercado e

seus integrantes funcionem de acordo

com estas regras.

Questões de Vestibulares

1. PUC. Sobre o significado e os

desdobramentos dos atentados

terroristas de 11 de setembro de

2001, estão corretas as afirmações

abaixo, À EXCEÇÃO DE:

(A) Os ataques terroristas provocaram

mudanças no cotidiano da população

norte-americana, como o crescimento

da vigilância e restrições à liberdade e

à privacidade dos cidadãos.

(B) A partir do atentado, o governo

Bush introduziu na política externa

americana o princípio da ―guerra

preventiva‖, segundo o qual os

Estados Unidos têm o direito de

atacar países que possam representar

uma ameaça política futura.

(C) A reação do governo norte-

americano aos atentados aumentou a

tensão nas relações internacionais

entre aliados importantes dos Estados

Unidos, como a Alemanha e a França,

que demonstraram algum

descontentamento com a política

unilateral adotada pelo governo Bush.

(D) Devido aos avanços tecnológicos,

ocorreu uma expressiva diminuição

dos gastos militares e do número de

vítimas, desde então, em comparação

com os tempos da Guerra Fria.

(E) Os ataques terroristas fizeram

ressurgir a idéia de que os conflitos

no século XXI seriam explicados pela

existência de um conflito entre dois

modelos de civilização.

2. UERJ. O dia 11 de setembro de

2001 não será esquecido. Nessa data,

o mundo se deu conta da sua

fragilidade e de que alguma coisa

havia mudado com relação ao século

XX, no que diz respeito às relações

internacionais. Trata-se de um

acontecimento que expressa as

modificações que integram o processo

iniciado com o fim dos regimes

socialistas do Leste Europeu na

passagem da década de 1980 para a

de 1990. Esse processo pode ser

considerado como a transição entre as

duas seguintes situações:

(A) polarização entre dois blocos

econômicos, políticos e militares –

avanço da globalização sob a

liderança dos EUA

(B) intolerância religiosa entre países

de origens culturais diferentes –

crescimento das religiões ocidentais

em detrimento da cultura oriental

(C) coexistência entre diversos

continentes de poderio econômico

equivalente – acirramento da

rivalidade ideológica entre capitalismo

e comunismo

(D) integração entre um mundo

exportador de alimentos e um outro

produtor de manufaturados –

isolamento crescente entre os grandes

produtores internacionais

3. UERJ. ―Ou estão do nosso lado ou

do lado dos terroristas”. George W. Bush

―Com um fervor patriótico e união

nacional nunca vistos desde a II

Guerra Mundial, os Estados Unidos

vão ao contra-ataque ao terror‖. (Veja,

26/09/2001)

As relações internacionais vêm, nos

últimos anos, dando cada vez mais

destaque à discussão sobre o

Page 132: Historia Geral e do Brasil

3

SUMÁRIO

1 As grandes navegações ................................................................4

2 O descobrimento do Brasil e as primeiras décadas da Colônia ......8 3 A implantação do colonialismo na América portuguesa ..............14

4 O Brasil e as relações internacionais ..........................................19 5 A Economia mineradora .............................................................24 6 As reformas pombalinas e as conjurações coloniais ...................31

7 A Época joanina 1808-1821 .......................................................37 8 A Independência e o Primeiro Reinado 1822-1831.......................42

9 O período regencial 1831-1840 ..................................................47 10 A afirmação do Império 1840-1850 ..........................................53 11 O auge do Império 1850-1870 .................................................56

12 Decadência do Império 1870-1889 ..........................................60 13 O surgimento da República ......................................................64

14 A República oligárquica 1894-1930 ..........................................67 15 Rebeliões da República Velha ...................................................70 16 A crise dos anos 20 ..................................................................73

17 A Revolução de 1930 ................................................................78 18 O governo constitucional e movimentos políticos .....................81

19 O Estado Novo 1937-1945 ........................................................84 20 O Governo Dutra 1946-1951 ....................................................88 21 O Segundo Governo Vargas 1951-1954 ....................................90

22 O Governo JK 1956-1960 .........................................................92 23 A crise da República Populista 1960-1964 ................................98

24 O golpe de 1964 .....................................................................102 25 Ditadura Militar: o panorama político e cultural 1964-1974 ....105

26 Ditadura Militar: o panorama econômico ................................111 27 A Crise da Ditadura Militar e os primeiros sinais da abertura política ........................................................................................113

28 O governo Figueiredo e a Redemocratização 1979-1985 ........115 29 Planos econômicos e recessão ...............................................119

30 A eleição e o Governo Fernando Collor 1989-1992 .................121 31 O neoliberalismo no Brasil .....................................................124 32 O governo Lula e o Brasil atual ...............................................126

Gabaritos ....................................................................................128

Page 133: Historia Geral e do Brasil

4

Capítulo 1. As Grandes Navegações

Apresentação - As grandes

navegações marcaram um período da

História européia no qual os

horizontes se alargaram

enormemente. Dentre outros eventos,

nessa época, encontrou-se o ―fim‖ do

continente africano e entrou-se em

contato com civilizações do Oriente e

do Extremo Oriente. No século XVI,

uma expedição espanhola liderada

pelo português Fernão de Magalhães

comprovaria que a terra é redonda,

através da viagem de circunavegação.

No entanto, não se deve perder de

vista o sentido maior dessa expansão

marítima para os europeus: obter

riquezas.

Transição da Idade Média à Idade Moderna

A Idade Média – espaço temporal

compreendido entre os séculos V ao

XV –, na Europa, foi marcada pelo

sistema feudal de produção. O período

é dividido em Alta Idade Média e

Baixa Idade Média.

Alta Idade média (séc. V-XI).

Época na qual a Europa ocidental

sofreu sucessivas invasões dos povos

germânicos (também chamados

―bárbaros‖). Essas invasões, ocorridas

entre os séculos IV e V, contribuíram

para a decadência do antigo Império

Romano e foram responsáveis por

profundas alterações políticas, sociais,

e culturais. Além disso, durante o

século VIII, houve também a

dominação dos povos árabe-

muçulmanos, que ocuparam até o

século XV a Península Ibérica.

Organização política - Poder político

descentralizado, distribuídos entre o

rei, os membros da nobreza e o alto

clero. Cada feudo constituía uma

unidade política autônoma baseada,

governada pelo senhor feudal.

Economia - Essencialmente agrária

fundamentada na agricultura de

subsistência sem grandes excedentes

para comercialização. A terra era

considerada a principal fonte de

riqueza. Em conseqüência das crises

geradas pelas invasões e pela

ocupação do mar Mediterrâneo pelos

árabe-muçulmanos, ocorreu no

período o quase desaparecimento das

atividades comerciais e do uso da

moeda.

Sociedade - Era basicamente rural e

estamental com funções bem

definidas para os seus três principais

grupos sociais. O clero, que cuidava

da fé; a nobreza, responsável pela

defesa do território; e os camponeses

ou servos, que trabalhavam a terra.

Cultura – Pode dizer que a sociedade

medieval era teocêntrica, ou seja,

essa sociedade concebia Deus como

centro do universo e a razão de todas

as coisas. Dessa forma, a Igreja

determinava os modos de pensar e de

viver das pessoas e os fenômenos

naturais eram explicados pela fé.

A Baixa Idade Media (séc. XII-XV)

- Resultado de diversos processos

históricos, a partir do século XI,

houve um reflorescimento do

comércio na Europa ocidental. Dentre

esses, destacam-se a renovação das

práticas agrícolas (o arado de ferro, a

foice, a enxada, o aproveitamento da

água e do vento como força motriz),

que permitiram um aumento da

produção, e consequentemente, o

crescimento demográfico. A expansão

das áreas produtivas gerou um

excedente agrícola que estimulou o

crescimento do comércio. Aos poucos,

a atividade comercial aumentou,

tornando necessária a expansão da

quantidade de moedas para facilitar

as trocas. O antigo comércio,

realizado entre a Europa ocidental e o

Oriente, foi aos poucos reativado com

o movimento das Cruzadas

(expedições religioso-militares cristãs

contra os mulçumanos do Oriente

Médio - séc. X-XIII), o que acabou por

se constituir em uma via de acesso ao

comércio mediterrâneo. Em seguida, a

Península Itálica passou a ter o

monopólio desse comércio. No século

XV, os últimos árabes-muçulmanos

foram expulsos da Europa e do mar

Mediterrâneo nas lutas da Guerra de

Reconquista travadas na Península

Ibérica. Essa Guerra esteve

diretamente ligada à luta dos cristãos

Page 134: Historia Geral e do Brasil

5

para recuperar os territórios ocupados

pelos mouros (mulçumanos), e só

teve fim em 1492. No continente

europeu, as feiras, antes provisórias,

tornaram-se permanentes e algumas

deram origem aos burgos (cidades),

permitindo, além disso, a emergência

de um novo grupo social, a burguesia

mercantil. Tais acontecimentos

passaram a constituir o chamado

Renascimento comercial e urbano. A

partir de então, os servos passaram

cada vez mais a abandonar as áreas

feudais e a se dedicar a novas

atividades econômicas.

Do feudalismo ao Antigo Regime –

Desde o século XIV, o feudalismo já

apontava sinais de decadência. Com o

crescimento das cidades e do

comércio, a relação feudal entre

senhor e servo começou a perder

força. Ao mesmo tempo, os reis, que

procuravam concentrar em suas mãos

o poder político, também começaram

a entrar em choque com os senhores

feudal. Seguiu-se um longo período

de lutas e guerras entre os reis e a

nobreza feudal. Os reis obtiveram o

apoio financeiro da burguesia e

conquistaram o monopólio do uso

legítimo da força. Centralizando o

poder e transformando reinos

politicamente fragmentados em

nações unificadas, que assumiram as

políticas de monarquias nacionais. Na

Europa ocidental a sociedade feudal

deu lugar à sociedade do Antigo

Regime. Nesse sistema de governo,

os nobres e o alto clero perdem parte

do poder, mas ainda assim,

continuam como grupos dominantes

na sociedade. As monarquias, agora

centralizadas, passam a concentrar

grande poder na mão dos reis.

Portugal, do Surgimento à

Expansão Marítima - O surgimento

de Portugal se deu no contexto da

Guerra de Reconquista. Das diversas

casas nobres que tomaram parte

nessa luta, uma delas foi a de

Borgonha, que fundou o condado

Portucalense. Em 1139, esse condado

foi declarado emancipado de Castela

sob o nome de Portugal. Os reis desta

dinastia incentivaram a colonização

interna do país, estimulando a

libertação dos servos, transformando-

os em trabalhadores assalariados, ou

em pequenos proprietários. As

atividades comerciais também foram

estimuladas. No reinado de Afonso IV

(1325-1357) a pesca foi estimulada, e

se transformou no setor mais

dinâmico da economia propiciando o

desenvolvimento dos centros urbanos

do litoral, onde surgiu uma poderosa

burguesia. Além disso, a casa de

Borgonha limitou o poder da nobreza,

com a Lei de Sesmarias e incorporou

novas terras aos domínios do rei.

Assim, no final do século XIV, só as

propriedades da Igreja podiam se

equiparar as da realeza. Dessa forma,

Portugal se afirmava, antes da

Espanha e de outras nações, como

um dos primeiros Estados europeus a

efetuar a centralização administrativa

e a unificação nacional.

A vocação comercial - Logo, a

região ganharia importância

comercial, por ser entreposto

marítimo entre as duas principais

regiões mercantis da Europa: as

cidades do Norte da Itália e a região

de Flandres (atual Holanda, Bélgica e

parte do Norte da França).

A Revolução de Avis (1385) - O

reino de Castela, no entanto,

considerava Portugal como um

condado vassalo. Uma disputa pelo

trono português, colocou em luta dois

grupos antagônicos: de um lado a

grande nobreza portuguesa

(almejando mais poder), que defendia

a união com Castela, de outro, a

burguesia mercantil, a pequena

nobreza, a população urbana e do

campo que defendiam que a Coroa

fosse entregue a Dom João, mestre

da ordem militar de Avis, irmão

ilegítimo do rei. A luta foi decidida

com a ajuda do dinheiro dos

burgueses ricos de Lisboa e do Porto,

tornando Dom João rei de Portugal.

Essa resolução deu a Portugal a

consolidação de sua independência e

pôs fim ao feudalismo no país.

Expansão Marítima – Com o

incentivo da coroa, Portugal passou a

ser a primeira nação moderna a

expandir seus limites por meio das

grandes navegações. A expansão

marítima teve início em 1415 com a

Page 135: Historia Geral e do Brasil

6

tomada de Ceuta (cidade muçulmana

no Norte da África) e atendia aos

interesses da nobreza e da burguesia.

Em seguida, Portugal parte em

direção às ilhas atlânticas e ao

continente africano, em busca de

riquezas, em especial, de metais

preciosos.

Tratado de Tordesilhas - O segundo

país europeu a se expandir para o

Atlântico foi a Espanha (unificada em

1469). Esse país viria a ―descobrir‖ a

América em 1492. Com a entrada dos

espanhóis no ciclo das grandes

navegações, criou-se um conflito

diplomático entre Espanha e Portugal

pela posse das terras conquistadas e

a conquistar. A questão foi resolvida

com o Tratado de Tordesilhas, de

1494, que estabelecia uma linha

imaginária passando, a 370 léguas a

Oeste das ilhas de Cabo Verde,

divindindo o Novo Mundo em duas

partes, uma para Portugal, outra para

a Espanha. As terras ao leste desse

meridiano seriam de Portugal; as

restantes pertenciam à Espanha.

Pintura representando Vasco da Gama em sua

chegada às Indias.

O comércio indiano. Desde o início,

Portugal conheceu grande sucesso na

expansão marítima. Encontrou minas

de ouro e prata na África,

desenvolvendo ali um importante

comércio. Ainda, em 1498, descobriu

o Caminho para as Índias, região

onde viriam a se localizar os principais

entrepostos comerciais portugueses

no ultramar. Esse foi o período de

maior prosperidade na história de

Portugal. Como exemplo disso, de

1500 a 1520, chegou por ano a

Portugal, cerca de 200 kg de ouro

africano, e, até 1530, esse país teve o

monopólio sobre a exploração do ouro

africano e sobre o comércio indiano.

Questões de Vestibulares 1. UFRJ 2003. ―À frente do projeto

de expansão do lusocristianismo

estavam os monarcas portugueses,

aos quais, desde meados do século

XV, os papas haviam concedido o

direito do padroado (...) Quando se

iniciou o ciclo das grandes

navegações, Roma decidiu confiar aos

monarcas da Península Ibérica o

padroado sobre as novas terras

descobertas‖. (AZZI, Riolando. A

Cristandade Colonial: Mito e Ideologia. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 64).

As relações entre os Estados

nascentes e a Igreja Católica

constituíram-se em um dos mais

importantes eixos de conflito ao longo

da etapa final da Idade Média. Ao

contrário de outras regiões, na

Península Ibérica a resolução do

problema implicou o estreitamento

das interações entre uma e outra

instituição.

a) Cite duas das atribuições das

Coroas Ibéricas contidas na delegação

papal do Padroado, cujo fim último

era a expansão do catolicismo nas

terras recém-descobertas da América.

b) Indique a principal fonte de

arregimentação de recursos para a

realização das tarefas que, por meio

do Padroado, estavam a cargo das

Coroas Ibéricas na América nos

séculos XVI e XVII.

2. UERJ 2006. As grandes

navegações dos séculos XV e XVI

possibilitaram a exploração do Oceano

Atlântico, conhecido, à época, como

Mar Tenebroso. Como resultado, um

novo movimento penetrava nesse

Page 136: Historia Geral e do Brasil

7

mundo de universos separados, dando

início a um processo que foi

considerado por alguns historiadores

uma primeira globalização e no qual

coube aos portugueses e espanhóis

um papel de vanguarda.

A) Apresente o motivo que levou

historiadores a considerarem as

grandes navegações uma primeira

globalização.

B) Aponte dois fatores que

contribuíram para o pioneirismo de

Portugal e Espanha nas grandes

navegações.

3. ENEM 2007. A identidade negra

não surge da tomada de consciência

de uma diferença de pigmentação ou

de uma diferença biológica entre

populações negras e brancas e/ou

negras e amarelas. Ela resulta de um

longo processo histórico que começa

com o descobrimento, no século XV,

do continente africano e de seus

habitantes pelos navegadores

portugueses, descobrimento esse que

abriu o caminho às relações

mercantilistas com a África, ao tráfico

negreiro, à escravidão e, enfim, à

colonização do continente africano e

de seus povos. K. Munanga. Algumas

considerações sobre a diversidade e a identidade negra no Brasil. In: Diversidade na educação: reflexões e experiências. Brasília: SEMTEC/MEC, 2003, p. 37.

Com relação ao assunto tratado no

texto acima, é correto afirmar que

a) a colonização da África pelos

europeus foi simultânea ao

descobrimento desse continente.

b) a existência de lucrativo comércio

na África levou os portugueses a

desenvolverem esse continente.

c) o surgimento do tráfico negreiro foi

posterior ao início da escravidão no

Brasil.

d) a exploração da África decorreu do

movimento de expansão européia do

início da Idade Moderna.

e) a colonização da África antecedeu

as relações comerciais entre esse

continente e a Europa.

Page 137: Historia Geral e do Brasil

8

Capítulo 2. O descobrimento do Brasil e as primeiras décadas

da colônia Apresentação – No ano 2000, o

governo brasileiro organizou uma

ampla programação em comemoração

aos 500 anos do ―Descobrimento do

Brasil‖. Contudo, é preciso ressaltar

que o termo descoberta do Brasil se

aplica somente à chegada, em 22 de

abril de 1500, da frota comandada

pelo navegador português Pedro

Álvares Cabral a uma parte da

extensão de terra onde atualmente se

localiza o território brasileiro. A

palavra "descoberta" é usada nesse

sentido em uma perspectiva

europocêntrica, ou seja, referindo-se

estritamente a um olhar europeu que

―descobre‖ um ―Novo Mundo‖,

deixando de considerar a presença de

diversos grupos de povos ameríndios

que habitam a região há muitos

séculos.

O período pré-colonial 1500-1530

O “descobrimento” e o comércio

indiano – Em 1500, as índias,

―recém-descobertas‖ por Portugal,

supriam as necessidades comerciais

do Reino, através do afluxo de

especiarias. Neste momento, o Estado

e a burguesia portuguesa estavam

mais interessados na África e na Ásia,

pois os lucros oferecidos pelo

comércio com essas regiões eram

imediatos, com o comércio das

especiarias asiáticas e dos produtos

africanos, como o ouro, o marfim e o

escravo negro. Em contrapartida, os

lucros conseguidos com a extração do

pau-brasil eram insignificantes se

comparados com aqueles adquiridos

com os produtos afro-asiáticos.

O escambo de pau-brasil - Em

1501 e 1502 foram feitas expedições

pela costa brasileira. Após os

primeiros contatos com os indígenas,

os portugueses começaram a explorar

o pau-brasil da Mata Atlântica. O pau-

brasil tinha grande valor no mercado

europeu, já que sua seiva

avermelhada era muito utilizada para

tingir tecidos e para a fabricação de

móveis e embarcações. Como estas

árvores não estavam concentradas

em uma única região, mas espalhadas

pela mata, passou-se a utilizar a mão

de obra indígena para executar o

corte. Até esse momento, os índios

não eram escravizados, eram pagos

na forma de escambo, ou seja,

através da troca de produtos.

Machados, apitos, chocalhos, espelhos

e outros objetos utilitários foram

oferecidos aos nativos em troca de

seu trabalho (cortar o pau-brasil e

carregá-lo até às caravelas). Os

portugueses continuaram a

exploração da madeira, erguendo

toscas feitorias no litoral, onde

funcionavam armazéns e postos de

trocas com os indígenas.

Motivações para a colonização -

Nesse período, encontravam-se, além

dos portugueses, outros estrangeiros

no território da América portuguesa.

Dentre estes, destacam-se os

franceses, que eram os principais

compradores do pau-brasil da costa

brasileira. No final da década de

1520, Portugal via uma dupla

necessidade de dar início à

colonização no Brasil. Pois, se por um

lado, o Reino passava por sérios

problemas financeiros com a perda do

monopólio do comércio das

especiarias asiáticas, por outro, a

crescente presença estrangeira,

notadamente francesa, no litoral do

Brasil, ameaçava a posse portuguesa

da sua parte nas terras do Novo

Mundo. Outro fator relevante foi a

descoberta de ouro e prata na

América espanhola. Em 1530, o

governo português enviou ao Brasil a

primeira expedição colonizadora, sob

o comando de Martim Afonso de

Sousa. Essa expedição visava o

Page 138: Historia Geral e do Brasil

9

povoamento e a defesa da nova terra,

assim como, sua administração e

sistematização da exploração

econômica.

A organização da estrutura

político-administrativa do Brasil colonial

O sistema de Capitanias

Hereditárias - Em 1532, tomou-se a

decisão de dividir a colônia em 14

Capitanias Hereditárias, doadas a

nobres portugueses que teriam a

obrigação de povoar, proteger e

desenvolver economicamente seus

territórios. Para estimular os

donatários a ocupar as novas terras, o

rei lhes concedeu amplos poderes

políticos, para governar suas terras.

Dessa forma, os donatários poderiam

doar sesmarias, exercerem jurisdição

civil na Capitania e obterem direitos

comerciais. Em contrapartida, os

donatários deveriam arrecadar

tributos para a Coroa. A nobreza e a

burguesia portuguesa não se

interessaram pelo empreendimento,

pois não apresentavam atrativos

visivelmente rentáveis. Das Capitanias

organizadas, poucas obtiveram êxito.

As que mais prosperaram foram as

Capitanias de São Vicente e de

Pernambuco. As outras fracassaram

como empresa colonizadora, como foi

o caso da Capitania de Ilhéus, onde o

donatário Pereira Coutinho acabou

sendo devorado pelos índios

antropófagos locais. Contudo, o

sistema continuou a existir até finais

do século XVIII.

O Governo Geral - Com o risco

sempre iminente da perda do

território para os franceses e com a

notícia da descoberta da mina de

Potosi (na atual Bolívia) pelos

espanhóis, em 1545, (a maior mina

de prata do mundo na época), em

1548, a Coroa portuguesa decidiu

implantar um governo central na

colônia. Esse sistema administrativo,

introduzido em 1548, centralizava o

poder político e administrativo da

colônia nas mãos de um

representante do rei, o governador

geral. Entre suas principais funções

estavam: consolidar o poder político e

religioso; incentivar o povoamento

visando a defesa do território contra

invasões; auxiliar na administração e

proteger militarmente os donatários,

estabelecendo, assim, um maior

controle social. A primeira sede do

Governo Geral foi em Salvador.

As Câmaras Municipais – Eram

órgãos locais da administração

colonial portuguesa. Sua fundação

data de 1549, na cidade de Salvador,

por Tomé de Souza. Suas funções

eram bastante extensas e abarcavam

diversos setores da vida econômica,

social e política na colônia. As

câmaras municipais prevaleceram em

todo o período colonial, tornando-se a

base da administração. Seus

membros eram constituídos pelos

homens bons, grandes proprietários

de terras e escravos. Posteriormente,

nas cidades que desenvolveram

atividades mercantis, as câmaras

municipais foram ocupadas por

grandes comerciantes, como ocorreu

em Olinda. As câmaras eram

importantes centros de poder e de

decisão na colônia e, algumas vezes,

se confrontavam com a Coroa.

Os cristão-novos – O termo designa

os judeus convertidos ao cristianismo

católico. A distinção entre cristão-

velho e critão-novo tornou-se

corrente a partir de 1497, quando o

rei português D. Manuel I ordenou a

conversão em massa dos judeus

residentes em Portugal ao catolicismo.

Muitos destes fugiram para o Brasil,

com receio do Tribunal da Santa

Inquisição instalado em Portugal,

entre 1536 e 1540. Por essa época

consolidaram-se também as

exigências de pureza de sangue, em

consequência da consideração da

impureza do sangue dos judeus,

negros e mouros. Com base na

pureza de sangue, a sociedade do

Antigo Regime consolidava-se

estabelecendo uma série de

obstáculos à ascensão social,

exigindo-se, inclusive, o exame de

origem dos candidatos aos cargos

eclesiásticos, políticos e

administrativos. Apesar disso, a

presença dos cristão-novos foi muito

importante para a colonização

portuguesa na América.

Page 139: Historia Geral e do Brasil

10

A questão indígena - A carta de

Pero Vaz de Caminha é o primeiro

documento em que relata os

primeiros contatos dos portugueses

com as populações nativas do Brasil.

Nesta carta, percebe-se o grande

choque cultural provocado pelas

enormes diferenças culturais entre os

europeus e as populações ameríndias

da América portuguesa. Dessa forma,

a nudez dos índios foi relatada com

perplexidade. Estima-se que, neste

primeiro contato, os índios no Brasil

eram contados em cerca de 3 milhões

ao todo, somando-se todas as

diversas tribos. A partir do amplo

contato com os colonizadores, o

extermínio dos índios gerou uma

redução quantitativa drástica, e, com

o passar dos séculos, os ―avanços

civilizatórios‖ foram levando cada vez

mais os índios à sua extinção.

Dezenas de milhares de índios

morreram em conseqüência do

contato direto e/ou indireto com os

europeus e pelas doenças por eles

trazidas. A gripe, o sarampo, a

coqueluche e outras doenças

consideradas mais graves, como a

tuberculose e a varíola, vitimaram,

muitas vezes, sociedades indígenas

inteiras, pelo fato dessas populações

não possuírem imunidade natural

contra esses males. Além da violência

contra os indígenas, que foram

escravizados em muitas regiões da

colônia, durante o processo de

colonização, suas terras foram

tomadas, seus meios de sobrevivência

destruídos e suas práticas religiosas

proibidas. Durante o século XIX, com

os avanços em epidemiologia,

verificaram-se casos em que foram

usadas epidemias de varíola como

arma biológica contra os índios. Esses

casos se encontram amplamente

documentados e sugerem que, com o

objetivo de conseguir mais terras,

homens brancos "presenteavam" os

índios com roupas infectadas pela

doença, em seguida, aldeias inteiras

eram dizimadas. Existem relatos de

casos semelhantes por toda América

do Sul.

Menino Índio de Mato Grosso (Brasil). Data:

1896, Autor: Marc Ferrez.

Um dos principais grupos indígenas do

Brasil foi o dos tupinambás, e também

um dos grandes inimigos da

colonização portuguesa. Espalhados

pela costa brasileira, eram

encontrados, sobretudo, na Bahia e

no Rio de Janeiro. Povo de

comportamento belicoso, a guerra

desempenhava um papel de destaque

na sua cultura como fator de conservação e aumento dos recursos

naturais sujeitos ao domínio tribal.

Após o início da colonização efetiva do

Brasil pelos portugueses (1530),

foram empreendidas muitas guerras

entre portugueses e tupinambás, em

consequência disso, estes últimos

foram expulsos de suas terras ou

aniquilados. A Coroa portuguesa, logo

no início da colonização, proibiu a

escravidão dos índios, mas essa logo

se tornou ―letra morta‖. Apesar das

leis contra a escravidão indígena,

abria-se a exceção nas situações

consideradas como Guerra Justa,

que consistia, segundo os

portugueses, nas situações em que

homens brancos eram atacados pelos

nativos. Além disso, a escravidão

indígena era justificada pela fé e

camuflada sob o compromisso da

evangelização. Segundo a ideologia

oficial da colonização, a catequização

dos índios compreendia o seu

principal objetivo. Nos primeiros anos

da empresa colonizadora, os

portugueses fizeram comércio

(escambo) com os índios, no entanto,

com a implementação das plantations,

começaram a utilizar a mão de obra

indígena de forma compulsória. O

Page 140: Historia Geral e do Brasil

11

trabalho indígena conseguido pela

força, foi largamente utilizado em

toda a colônia até cerca de 1600.

A integração com os indígenas -

Uma das maneiras de viabilizar a

conquista européia seria estabelecer

relações estáveis com as comunidades

indígenas. Com esse objetivo, muitos

portugueses se uniram a mulheres

índias e, assim, mudaram sua

condição de invasor para parente,

passando a serem aceitos e

integrados àquelas sociedades. Dessa

forma, muitos homens brancos

passaram a usufruir não só do

trabalho, mas também da proteção

dos nativos. Os bandeirantes paulistas

são um exemplo de indivíduos que

puseram em prática essa ação.

A resistência Indígena – Os povos

indígenas, ao contrário do que

preconizava parte da historiografia

tradicional, não aceitaram

pacificamente a dominação dos não-

índios e, durante todo o processo

colonizador, empreenderam uma forte

resistência. Dentre esses movimentos

de resistência indígena antiescravista,

destaca-se a Confederação dos

Tamoios, um movimento que reuniu

diversos povos indígenas contra a

dominação portuguesa. Ocorrida por

volta de 1554-1563, colocou em

perigo o domínio metropolitano no Rio

de Janeiro e em São Vicente. Os

índios do tronco Tupi, de várias

regiões do sudeste da colônia (Rio de

Janeiro, Angra e Ubatuba) e os não

Tupis, como os goitacás e os aimorés,

habitantes do interior, junto da Serra

do Mar, aliaram-se para combater a

escravidão indígena. Os tamoios

lutavam contra a escravidão e pela

posse de suas terras e, com esse

intuito, se uniram aos Franceses.

Após a interferência dos padres

Manoel de Nóbrega e José de

Anchieta, foi estabelecida a paz

através de um acordo, posteriormente

desrespeitado pelos portugueses, que

mataram cerca de 2.000 índios e

escravizaram aproximadamente

outros 4.000. Os que conseguiram

escapar acabaram por se refugiar no

interior do território. Os Tamoios

foram vencidos, em 1563,

A Confederação dos Cariris -

Iniciada em 1554, foi outro exemplo

desses movimentos de resistência

indígena, e consistiu numa série de

confrontos ocorridos no Nordeste, nos

quais se envolveram índios Cariris,

Caripus, Icós, Janduis e os

bandeirantes. Os conflitos se

intensificaram em 1622, e, sobretudo,

em 1654, quando os holandeses

deixaram a região. Reagindo a

ocupação de suas terras, cerca de

14.000 índios das capitanias de

Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio

Grande do Norte se rebelaram, mas

foram vencidos pelas bandeiras

paulistas, comandadas por Domingos

Jorge Velho, em 1698.

A França Antártica - Os Franceses

que se fixaram na costa brasileira,

conseguiram conquistar, com um

tratamento amistoso, a simpatia e o

auxílio dos índios tanto para o corte

de pau-brasil, como na luta contra os

portugueses. Liderados por Nicolau

Duran de Villegaignom, os franceses

invadiram e conquistaram parte da

atual cidade do Rio de Janeiro, em

1555, nela pretendiam fundar uma

colônia de exploração econômica e, ao

mesmo tempo, fugir das guerras

religiosas da Europa. Se instalaram

nas Vilas de Sergipe, Paranapuã

(atual Ilha do Governador), Uruçu-

mirim (Flamengo) e em Laje,

denominando essa área de França

Antártica. O inimigo comum

(portugueses) aproximou os franceses

dos índios, que se agruparam e

formando a Confederação dos

Tamoios. Os Portugueses reagiram,

sob as ordens do Governador Geral

Mem de Sá, procurando o apoio dos

Jesuítas, dos colonos e do pedido de

reforços a Portugal. Em 1563, foi

enviada ao Brasil uma expedição

comandada por Estácio de Sá,

paralelamente, Mem de Sá conseguiu

o apoio do Arariboia, chefe dos índios

Temiminós. Finalmente, nesse mesmo

ano, os Jesuítas Manoel de Nóbrega e

José de Anchieta negociaram com os

Tamoios, conseguindo uma trégua

para o conflito, que ficou conhecido

Page 141: Historia Geral e do Brasil

12

como o Armistício de Iperoig (atual

Ubatuba, São Paulo). Em 1º. de

março de 1565, Estácio de Sá fundou

a cidade de São Sebastião do Rio de

Janeiro, que serviria inicialmente de

base na luta contra os franceses e

seus aliados indígenas. Mesmo após a

fundação da cidade, os franceses

insistiram em permanecer na região.

Em 1567, no dia 18 de janeiro, Mem

de Sá mandou reforços para enfrentá-

los. A batalha final aconteceu em 20

de janeiro, dia de São Sebastião, no

Outeiro da Glória. Os portugueses

venceram, mas Estácio de Sá foi

ferido no rosto e morreu um mês

depois. Assim nasceu a cidade, com

cerca de 600 habitantes: os

fundadores, que vieram com Estácio e

Mem de Sá; os Jesuítas; os índios

catequizados; alguns franceses e

umas poucas mulheres. Esses

pioneiros ocuparam os 184 mil metros

quadrados da colina, com limites nas

atuais Ruas São José, Santa Luzia,

México e Largo da Misericórdia.

O índio na atualidade - Hoje, no

Brasil, vivem cerca de 460 mil índios,

distribuídos entre 225 sociedades

indígenas, que perfazem cerca de

0,25% da população brasileira. Cabe

esclarecer que este dado populacional

considera tão somente aqueles que

vivem em aldeias, havendo

estimativas de que, além destes, haja

entre 100 e 190 mil vivendo fora das

terras indígenas, inclusive em áreas

urbanas. Há também 63 referências

de índios ainda não contactados, além

de existirem grupos que estão

requerendo o reconhecimento de sua

condição indígena junto ao órgão

federal indigenista.

Questões de Vestibulares

1. Puc-Rio 2005. A aventura da

colonização empreendida pela Coroa

de Portugal, nas terras da América,

entre os séculos XVI e XVIII,

expressou-se na constituição de

diversas regiões coloniais. Sobre

essas regiões coloniais, estão corretas

as seguintes afirmativas COM

EXCEÇÃO DE:

(A) No vale do Rio Amazonas, a partir

do século XVII, ordens missionárias

exploraram as "drogas do sertão",

utilizando o trabalho de indígenas

locais.

(B) No vale do Rio São Francisco, a

partir do final do século XVI, ocorreu

a expansão de fazendas de criação de

gado, voltadas para o abastecimento

dos engenhos de açúcar do litoral.

(C) Na Capitania de São Vicente, em

especial por iniciativa dos habitantes

da vila de São Paulo, organizaram-se

expedições bandeirantes que, no

decorrer do século XVII, abasteceram

propriedades locais com a mão de

obra escrava dos índios apresados.

(D) Nas Minas, durante o século

XVIII, a extração do ouro e de

diamantes, empreendida por

aventureiros e homens livres e

pobres, propiciou o surgimento de

cidades, onde o enriquecimento fácil

estimulava a mobilidade social.

(E) No litoral de Pernambuco, durante

a segunda metade do século XVI, a

lavoura de cana e a produção de

açúcar expandiram-se rapidamente, o

que foi acompanhado pela gradual

substituição do uso da mão-de-obra

escrava do nativo americano pelo

negro africano.

2. UERJ 2008.

Capa de caderno escolar, 2000. In: GOMES,

Ângela et al. A República no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

Page 142: Historia Geral e do Brasil

13

O ato de comemorar é uma forma de

reiterar lembranças e evitar

esquecimentos. As comemorações dos

500 anos de história do Brasil não

fugiram a essa intenção. Em produtos

variados, como a capa do caderno

acima reproduzida, procurou-se

enaltecer o que era característico e

particular da nação. Um dos valores

da identidade nacional brasileira

representado na imagem está

diretamente associado à:

(A) riqueza mineral

(B) unidade religiosa

(C) extensão do território

(D) miscigenação do povo

3. UFRJ 2008. Em meados do século

XVI, mais da metade das receitas

ultramarinas da monarquia

portuguesa vinham do Estado da

Índia. Cem anos depois, esse cenário

mudava por completo. Em 1656,

numa consulta ao Conselho da

Fazenda da Coroa, lia-se a seguinte

passagem: “A Índia estava reduzida a

seis praças sem proveito religioso ou

econômico. (...) O Brasil era a

principal substância da coroa e

Angola, os nervos das fábricas

brasileiras”. (Adaptado de HESPANHA,

Antônio M. (coord). História de Portugal – O

Antigo Regime. Lisboa: Editora Estampa, s/d.)

a) Identifique duas mudanças nas

bases econômicas do império luso

ocorridas após as transformações

assinaladas no documento.

4. UFRJ 2008. As Câmaras

Municipais da América portuguesa do

século XVII tinham a responsabilidade

de, juntamente com os Oficiais da

monarquia, zelar pelo bem comum da

população. Para o exercício de tais

funções, a Câmara possuía certas

atribuições econômicas, políticas e

jurídicas. Indique duas prerrogativas

das Câmaras Municipais coloniais.

Page 143: Historia Geral e do Brasil

14

Capítulo 3. A implantação do colonialismo na América

Portuguesa

Apresentação - Somente a partir de

1550, pode-se considerar que a

estrutura colonial se impôs de fato na

América portuguesa. Diferente da

europeia, a sociedade colonial

apresentou um novo modelo

organizativo baseado no trabalho

escravo (indígena e africano) e na

produção fundamentalmente voltada

para o mercado externo. Era a

sociedade colonial, patriarcal,

escravista e monocultora.

A estrutura colonial

O Pacto colonial - Foi um conjunto

de normas que regulamentaram as

relações políticas e econômicas entre

as metrópoles e suas respectivas

colônias, na chamada Era

Mercantilista. O pacto colonial atendia

primordialmente às necessidades

metropolitanas, através do

monopólio (ou exclusivo)

comercial, que garantia à metrópole

o comércio exclusivo com sua área

colonial, excluindo desse comércio

qualquer outra nação. De acordo com

esta prática, eram os portugueses que

determinavam os preços de venda dos

produtos agrícolas da colônia, como

também aqueles dos produtos

manufaturados trazidos da metrópole

para o Brasil. Outra restrição aos

coloniais residia na proibição de

produzir quaisquer artigos

manufaturados que pudessem fazer

concorrência àqueles trazidos da

metrópole.

A exploração da cana-de-açúcar -

O principal objetivo da coroa e dos

comerciantes portugueses era extrair

das colônias produtos de alto valor no

mercado europeu, de preferência

metais, de acordo com os princípios

mercantilistas. Nesse período,

também o açúcar extraído da cana

possuía um alto valor nesse mercado

e, como esse cultivo se adaptou muito

bem ao clima e ao solo brasileiros (em

especial ao nordestino, cuja terra de

massapê era ideal para a cultura da

cana, onde passou a ser cultivada) foi

o responsável por tornar o litoral

nordestino na região colonizadora

central dos séculos XVI e XVII. Nesse

panorama, passou a ser chamado de

engenho o conjunto formado pela

grande propriedade rural açucareira,

constituído pela casa grande, por

outras casas que compunham a

propriedade, pelas senzalas e

plantações. O engenho de açucar

constituiu a peça principal do sistema

mercantilista português do período,

sendo organizado na forma de

latifúndios, com técnicas agrícolas

complexas, mas apesar disso, com

baixa produtividade. Esta unidade

produtora de açúcar e de outros

produtos para exportação era

chamada de plantation. As platations

foram um tipo de sistema agrícola

baseado na grande propriedade,

produtoras de um produto principal,

com monocultura de exportação,

regime de trabalho escravista e numa

sociedade patriarcal.

Navio negreiro ilustrando o livro Voyage

pittoresque dans le Brésil, 1835, de Rugendas.

A partir de meados do século XVI,

para sustentar a produção de cana-

de-açúcar, os portugueses

começaram a importar africanos como

mão de obra escrava. Esses africanos

eram capturados entre as tribos das

feitorias européias na África (às

vezes, com a conivência de chefes

locais de tribos rivais) e atravessados,

via oceano Atlântico, em navios

negreiros, em péssimas condições de

higiene. Ao chegarem à América,

eram comercializados como

mercadoria e obrigados a trabalhar

nas plantações ou casas dos

colonizadores. Dentro das fazendas,

viviam aprisionados em galpões

chamados de senzalas. Seus filhos

também eram escravizados,

Page 144: Historia Geral e do Brasil

15

perpetuando, assim, a condição de

escravos pelas gerações seguintes.

A pecuária - a atividade criatória

cumpriu um duplo papel no

desenvolvimento colonial: primeiro, o

de complementar a economia do

açúcar; segundo, o de dar início a

penetração, conquista e povoamento

do interior do Brasil, principalmente

do sertão nordestino. Com o passar

do tempo, a boiada ultrapassou os

limites das áreas agrícolas. Com

produção destinada ao mercado

interno, no século XVII a atividade

criatória se tornou mais

independente. Nesse momento, a

atividade pecuarista foi fundamental

como um fator de povoamento do

interior. Até meados do século XVIII,

a pecuária ocupou diversas regiões do

interior do nordeste, tendo como

centros de irradiação as capitanias da

Bahia e de Pernambuco, sempre ao

seguindo o curso dos rios, próximos

aos quais se construíam os currais,

como ficaram famosos aqueles ao

longo do Rio São Francisco. O nortista

ia ocupando as terras marginais,

garantindo seu avanço com uma

retaguarda reforçada pelos currais e

ranchos dos vaqueiros. Já a expansão

territorial baiana subiu o curso do Rio

construindo bases em torno dos quais

foram nascendo e se desenvolvendo

os primeiros núcleos populacionais.

Via de regra, os baianos e

pernambucanos fizeram suas entradas

guiados pelas boiadas, fixando currais

pelo vale adentro; enquanto os

bandeirantes do Norte avançaram

lentamente, chegando a atingir, dessa

forma, as regiões mineiras. Ao

mesmo tempo em que os baianos

subiam o São Francisco, os paulistas o

navegavam em sentido contrário.

O escravismo colonial – Até 1640,

aproximadamente, o índio constituiu a

mão de obra básica utilizada na

colônia. Aos poucos, esses foram

sendo substituídos devido,

principalmente, à dispersão das

populações nativas do litoral; aos

altos índices de mortalidade indígena,

a resistência dos índios ao trabalho

compulsório, e a aos lucros

alcançados com o tráfico negreiro. A

partir do século XVII, a opção pelo

escravo africano vai se difundir por

toda a colônia, principalmente nas

áreas centrais, onde foram

implantadas as principais estruturas

coloniais. A continuidade do processo

colonizador dependeu da reposição da

mão de obra escrava, que foi

assegurada pelo tráfico negreiro, uma

vez que, essa atividade era altamente

rentável tanto para os traficantes de

escravos como para a Metrópole.

Estima-se que foram trazidos cerca de

3,6 milhões de africanos para

trabalhar como escravos no Brasil, e

aproximadamente 12 milhões como

um todo para a América. Os

portugueses não capturavam os

cativos na África, mas compravam

escravos de comerciantes africanos.

As sociedades africanas possuíam

escravos antes mesmo da chegada

dos europeus. Em virtude da grande

demanda por escravos gerada pelo

tráfico atlântico, essas sociedades

passam a multiplicar em várias vezes

o número de cativos, exportando

escravos para todo o mundo. No

Brasil, o escravo africano, chegou a

constituir 50% da população colonial

em alguns períodos do século XVIII.

A presença holandesa no comércio

Os Países Baixos possuíam relações

comercias com Portugal desde a Idade

Média. Assim sendo, tornaram-se

parceiros fundamentais para o

sucesso da agromanufatura

açucareira, participando do transporte

da cana para a Europa e do refino do

açúcar. Dessa forma, Holanda e

Portugal tornaram-se sócios no

comércio europeu do açúcar, havendo

nessa sociedade certa desvantagem

de Portugal.

Os Jesuítas - Desde a década de

1550, a Companhia de Jesus estava

presente no Brasil. Essa Ordem foi

criada durante a Contra-Reforma

católica com o objetivo de promover a

expansão da fé católica pelo mundo.

Esses religiosos foram os mais

presentes no Brasil até a sua

expulsão, em 1759, durante o

governo do Marquês de Pombal. Na

Page 145: Historia Geral e do Brasil

16

colônia, possuíam várias propriedades

e utilizaram largamente o trabalho

compulsório indígena. Estabeleceram

as missões, nas quais catequizavam e

usavam a força de trabalho dos

ameríndios. Os Jesuítas também

desempenharam um importante papel

na educação da colônia, eles

educavam os filhos dos senhores de

engenho, comerciantes e de outras

famílias abastadas. Durante o período

colonial, o direito à educação, era

restrito somente a esses grupos

sociais.

Questões de Vestibulares

1. UFF 2003. Segundo o historiador

Sérgio Buarque de Holanda, vários

aspectos estabeleceram a diferença

entre a colonização portuguesa – dos

―semeadores‖ – e a colonização

espanhola – dos ―ladrilhadores‖.

Identifique a opção que revela uma

diferença observada no tocante à

construção das cidades no Novo

Mundo.

(A) As formas distintas de construção

das cidades no Novo Mundo

derivaram do modo como a Espanha

concebeu a idéia renascentista de

homem, o que fez seus navegadores,

ao contrário dos portugueses,

considerarem os indígenas

americanos como seus pares.

(B) As cidades portuguesas na Costa

da América tornaram-se feitorias por

um acordo de não concorrência

firmado entre Espanha e Portugal,

expresso no Tratado de Tordesilhas,

pelo qual a Espanha ficou encarregada

das áreas de mineração.

(C) As experiências comerciais na Ásia

e na África acentuaram o papel da

circulação nas práticas mercantilistas

de Portugal; por isso, as cidades

portuguesas da América eram

feitorias, diferentemente das

espanholas que combinavam comércio

e produção.

(D) As cidades portuguesas na

América – feitorias – constituíram-se

centros comerciais por influência

direta do modelo de Veneza e

Florença. As cidades espanholas, por

outro lado, tiveram como modelo a

experiência urbana manufatureira

francesa.

(E) As cidades portuguesas

especializaram-se em organizar a

entrada de produtos agrícolas no

território colonizado, enquanto as

espanholas atuaram como núcleos

mercantis voltados para a criação de

mercados consumidores de produtos

manufaturados da metrópole.

2. UFF 2004. ―(...) se a região

[colonial] possui uma localização

espacial, este espaço já não se

distingue tanto por suas

características naturais, e sim por ser

um espaço socialmente construído, da

mesma forma que, se ela possui uma

localização temporal, este tempo não

se distingue por sua localização

meramente cronológica, e sim como

um determinado tempo histórico, o

tempo da relação colonial. Deste

modo, a delimitação espácio-temporal

de uma região existe enquanto

materialização de limites dados a

partir das relações que se

estabelecem entre os agentes, isto é,

a partir de relações sociais‖. Ilmar

Rohloff de Mattos. O Tempo

Saquarema. São Paulo: Hucitec,

Brasília: INL, 1987, p.24 A partir do

texto, podemos entender que a

empresa colonial é produtora de uma

região e de um tempo coloniais,

definidos pelas relações sociais

construídas por suas características

internas e pela maneira como se

relaciona com o que se situa fora

dessa mesma região colonial. A Afro-

américa, produto da ocupação do

Novo Mundo, principalmente por

portugueses, espanhóis e ingleses,

pode ser compreendida, nessa

perspectiva, como um conjunto de:

(A) economias subordinadas ao

mercado mundial capitalista e à lógica

do capital industrial, garantindo a

penetração do capitalismo no

continente americano, o que explica a

rápida industrialização ocorrida no

século XIX, como desdobramento da

revolução industrial;

(B) sociedades que reproduziam as

existentes nas metrópoles, podendo

ser compreendidas a partir da

Page 146: Historia Geral e do Brasil

17

substituição do trabalho compulsório

das relações feudais pelo ―trabalho

livre‖;

(C) economias surgidas na lógica do

mercantilismo, no caso da Inglaterra,

e do feudalismo, nas colônias ibéricas,

sendo o comércio a principal

preocupação dos britânicos, enquanto

os governos de Portugal e Espanha

privilegiavam a expansão do poder da

Igreja;

(D) sociedades com organização

socioeconômica diferente da existente

nas metrópoles, tendo na exploração

do trabalho escravo a base da

produção da riqueza, que era, em

grande parte, transferida para as

metrópoles, segundo a lógica do

capital comercial;

(E) economias baseadas na

monocultura de produtos de grande

demanda na Europa, gerando uma

sociedade polarizada entre Senhores e

Escravos, não possibilitando a

formação de um mercado interno e o

surgimento de outras classes sociais.

3. UFRJ 2009. A tabela a seguir

mostra algumas das conseqüências

econômicas e sociais da introdução do

plantio da cana-de-açúcar em

substituição ao de tabaco em

Barbados (Caribe) no século XVII.

Característ. sócio-econômicas 1645 1680

Cultivo exportável dominante Tabaco Açúcar

Número de fazendas 11.000 350

Tamanho das fazenda 10 acres* +10acres*

Número de escravos / 5.680 37.000 africanos e afro-descendentes

* medida agrária adotada por alguns países (Adaptado de KLEIN, Herbert S. A escravidão africana (América Latina e Caribe). São Paulo: Brasiliense, 1987, pp. 64 e sgts)

a) Relacionando as variáveis

presentes na tabela, explique como o

exemplo de Barbados ilustra as

transformações fundiárias e sociais

próprias da maior inserção das

regiões escravistas americanas no

mercado internacional na época

colonial.

b) Cite duas capitanias açucareiras da

América Portuguesa que

apresentavam características

fundiárias e sociais semelhantes às de

Barbados em fins do século XVII.

4. PUC 2009. Sobre as

características da sociedade escravista

colonial da América portuguesa estão

corretas as afirmações abaixo, À

EXCEÇÃO de uma. Indique-a.

(A) O início do processo de

colonização na América portuguesa foi

marcado pela utilização dos índios –

denominados ―negros da terra‖ -

como mão-de-obra.

(B) Na América portuguesa, ocorreu o

predomínio da utilização da mão-de-

obra escrava africana seja em áreas

ligadas à agroexportação, como o

nordeste açucareiro a partir do final

do século XVI, seja na região

mineradora a partir do século XVIII.

(C) A partir do século XVI, com a

introdução da mão-de-obra escrava

africana, a escravidão indígena

acabou por completo em todas as

regiões da América portuguesa.

(D) Em algumas regiões da América

portuguesa, os senhores permitiram

que alguns de seus escravos

pudessem realizar uma lavoura de

subsistência dentro dos latifúndios

agroexportadores, o que os

historiadores denominam de ―brecha

camponesa‖.

(E) Nas cidades coloniais da América

portuguesa, escravos e escravas

trabalharam vendendo mercadorias

como doces, legumes e frutas, sendo

conhecidos como ―escravos de

ganho‖.

5. UERJ 2009. O trabalho na colônia

1. 1500-1532: período chamado pré-

colonial, caracterizado por uma

economia extrativa baseada no

escambo com os índios;

2. 1532-1600: época de predomínio

da escravidão indígena;

3. 1600-1700: fase de instalação do

escravismo colonial de plantation em

sua forma ―clássica‖;

4. 1700-1822: anos de diversificação

das atividades em função da

mineração, do surgimento de uma

rede urbana, mais tarde de uma

importância maior da manufatura –

embora sempre sob o signo da

escravidão predominante. Ciro Flamarion

Santana CARDOSO In: LINHARES, Maria Yedda (org.). História geral do Brasil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

Page 147: Historia Geral e do Brasil

18

A partir das informações do texto,

verificam-se alterações ocorridas no

sistema colonial em relação à mão-

de-obra. Apresente duas justificativas

para o incentivo do Estado português

à importação de mão-de-obra escrava

para sua colônia na América.

Page 148: Historia Geral e do Brasil

19

Capítulo 4. O Brasil e as relações internacionais

Apresentação - Se a primeira

metade do século XVI foi de grande

prosperidade para Portugal, o mesmo

não se pode dizer para a primeira

metade do século XVII. Entre 1580 e

1640, Portugal foi anexado pela

Espanha, o que acarretou, na colônia,

na tomada do Nordeste brasileiro

pelos holandeses. Em 1640, após

reconquistar a sua independência da

Espanha, Portugal teve ainda que

travar outra batalha: expulsar os

holandeses do Brasil. Com a saída dos

batavos e a retomada do rígido

controle colonial pelos portugueses,

veio a reação dos colonos e a eclosão

de uma série de revoltas.

União Ibérica e invasão holandesa

A União Ibérica – Foi o período em

que Portugal permaneceu anexado à

Espanha entre 1580-1640. Com a

morte do rei D. Sebastião (1557-

1578), Portugal mergulhou num

colapso político, visto que o monarca,

à epoca de sua morte, ainda era

solteiro e também não possuia

herdeiros. Na época, muitos foram os

relatos sobre as cirscuntâncias da

morte do rei. Para alguns, esse

morrera ao lado de outros

combatentes portugueses, outros

mencionavam que o rei teria

desaparecido em meio a batalha de

Alcácer-Quibir no Norte da África,

onde lutavam contra os mouros. Com

a ausência de D. Sebastião teve início

uma questão dinástica, que permitiu

que o reino português caisse nas

mãos da Espanha de Felipe II. O

mistério envolvendo o

desaparecimento do rei, gerou o

sebastianismo, espécie de crença

messiânica no seu retorno a Portugal.

Com a anexação à Espanha, Portugal

herdou também os inimigos dos

espanhóis, como os holandeses, que

passaram a promover incursões em

suas colônias. No Oriente, na África e

no Brasil os flamengos se instalaram

em Pernambuco e ocuparam boa

parte do Nordeste.

A tomada do Nordeste 1630-1654

- Em 1630, com 70 navios, os

holandeses tomaram Pernambuco e

depois todo o Nordeste, do Sergipe ao

Maranhão. Dominaram ainda portos

escravistas na África, dominando,

portanto, a produção de quase todo o

açúcar brasileiro e também o

abastecimento de escravos para as

plantagens. Era a Nova Holanda, a

principal colônia holandesa na

América. Em linhas gerais, as

invasões holandesas do Brasil podem

ser recortadas em dois grandes

períodos:

1624-1625 Invasão de Salvador,

na Bahia.

1630-1654 Invasão de Recife e

Olinda, em Pernambuco.

1630-1637 Fase de resistência ao

invasor.

1637-1644 Administração de

Maurício de Nassau

1644-1654 Insurreição

pernambucana

O governo de Nassau 1637-1644 –

De todo o período holandês destaca-

se o governo de Maurício de Nassau

em Nova Holanda (atual Recife).

Algumas medidas de destaque da sua

administração foram a aliança com a

elite açucareira nordestina,

fornecendo crédito aos fazendeiros e a

concessão de liberdade religiosa na

colônia, em lugar da obrigatoriedade

de professar o credo católico, imposto

pelo governo português. Além do

interesse no domínio da produção

açucareira, Nassau trouxe consigo

uma equipe composta por pintores,

arquitetos, escritores, naturistas,

médicos, astrólogos, e outros

profissionais envolvidos nos projetos

das missões artísticas e científicas, as

primeiras vindas ao Brasil. Durante

seu governo, a cidade do Recife

sofreu uma verdadeira reformulação

urbana com a construção, dentre

outras obras, de jardins, lagos

artificiais e um palácio para sua

acomodação.

A saída dos holandeses - Mesmo

com o fim da União Ibérica, os

holandeses se recusaram a sair do

Page 149: Historia Geral e do Brasil

20

Nordeste. Portugal e Holanda

entraram em guerra e a luta contra os

holandeses no Nordeste brasileiro foi

iniciada pelos próprios senhores de

engenho da região. A luta se

arrastaria por cerca de dez anos. As

batalhas mais importantes foram as

de Guararapes (1648 e 1649) e a de

Campina do Taborda (1654). Mas a

expulsão definitiva dos holandeses

teve início em junho de 1645, em

Pernambuco, através da eclosão de

uma insurreição popular liderada pelo

paraibano André Vidal de Negreiros,

pelo senhor de engenho João

Fernandes Vieira, pelo índio Felipe

Camarão e pelo negro Henrique Dias.

A chamada Insurreição

Pernambucana chegou ao fim em

1654, tendo libertado o Nordeste

brasileiro do domínio holandês.

Porém, a expulsão dos holandeses do

território brasileiro teria um impacto

negativo sobre a economia colonial.

Durante o período em que estiveram

no Nordeste, os holandeses tomaram

conhecimento de todo o ciclo da

produção do açúcar e conseguiram

aprimorar os aspectos técnicos e

organizacionais do empreendimento.

Quando foram expulsos do Brasil,

instalaram-se nas Antilhas

organizando nesse local uma próspera

indústria açucareira.

O acirramento do colonialismo – A

Restauração portuguesa

(independência da Espanha) se deu

em um péssimo momento financeiro:

Portugal havia perdido algumas de

suas colônias na África e na Ásia;

precisava combater a presença dos

holandeses no Nordeste e ainda

enfrentava uma forte queda no preço

do açúcar no mercado internacional,

devido ao surgimento de novas áreas

produtoras de cana na América.

Objetivando conseguir mais fundos e

estabilizar as finanças, o rei D. João

IV (1640-1656) decidiu criar a

Companhia de Comércio do Brasil

(1647-1720) e a Cia de Comércio do

Maranhão (1682-5). Estas deveriam,

segundo os moldes ingleses e

holandeses, monopolizar todo o

comércio com o Brasil. Em 1640 foi

criado também o Conselho

Ultramarino, órgão português

responsável pelas colônias.

Implementando uma política de forte

centralização, foram criados também

os cargos de juízes de fora, que

seriam os presidentes das câmaras

municipais, os juízes seriam todos

nomeados pelo Rei.

As Revoltas Coloniais

A Revolta de Beckman (1684) –

Foi um movimento liderado pelos

irmãos de origem alemã Manuel e

Thomas Beckmam, no Estado Grão-

Pará e Maranhão. Essa revolta revela

a difícil relação entre colonos, jesuítas

e a Metrópole. A convivência era

conflituosa entre os senhores de

engenho e os missionários da

Companhia de Jesus. Os primeiros

queriam escravizar os índios e os

segundos eram contrário à

escravização indígena. O estopim do

conflito foi a determinação real, em

1680, que estabeleceu que todos os

índios do Maranhão fossem declarados

livres e com direito a uma porção de

terra e à criação da Companhia de

Comércio do Maranhão, que passou

a deter o monopólio do comércio na

capitania. Os revoltosos propunham o

fim do monopólio e atacaram a

Companhia de Comércio e os Jesuítas.

Os Beckmam se rebelaram

juntamente com boa parte do povo do

maranhão, destituindo a governança e

assumindo o poder por cerca de um

ano, após esse período, a Revolta foi

massacrada.

O Quilombo dos Palmares (1630-

1694) – Dentre as diversas formas

de resistência à escravidão, a fuga foi

a principal delas. No Brasil, durante o

período colonial e o Império, houve

centenas de quilombos. O mais

emblemático destes foi o quilombo de

Palmares. Situado na Serra da

Barriga, no atual limite entre os

Estados de Alagoas e Pernambuco,

ficou sendo o mais conhecido por sua

longa duração, aproximadamente, 64

anos; pelo número de seus habitantes

(cerca de 18.000, embora haja

autores que falem de 30.000

pessoas), e por sua estrutura interna

de organização política e Militar. Os

Page 150: Historia Geral e do Brasil

21

escravos que fugiram para Palmares

organizaram um verdadeiro Estado,

nos moldes africanos, onde viviam

sob o governo de um rei, o primeiro

deles foi Ganga Zumba (governo

entre 1670-1678), antecessor de seu

sobrinho Zumbi. Palmares se tornou

um reduto tão bem organizado e

poderoso que chegou a manter

relações diplomáticas com as

autoridades coloniais. Ganga Zumba,

organizou táticas de guerrilha na

defesa do território, nas quais eram

armadas emboscadas para atrair o

inimigo para lutar dentro das matas,

ambiente que lhes era favorável

porque conheciam melhor. Em 1677,

o governador de Pernambuco,

ofereceu um tratado de paz com

Palmares. O acordo reconhecia a

liberdade dos nascidos no quilombo e

daria a eles terras inférteis na região.

Grande parte dos quilombolas rejeitou

o acordo. Ganga Zumba se

comprometeu a não mais aceitar

escravo fugido em Palmares e só

concederia liberdade aos nascidos no

quilombo, essa decisão culminou com

a sua morte por envenenamento em

1678. Em meados do século XVII,

foram organizadas várias expedições

contra Palmares. Nesse contexto,

Zumbi se tornou o líder da resistência

quilombola, substituindo a defensiva

tática de guerrilha por uma estratégia

de ataques surpresa a engenhos,

libertando escravos e se apoderando

de armas. Com o tempo, foi

crescendo até mesmo um tipo de

comércio entre quilombolas e colonos,

de tal forma que estes últimos

chegavam a alugar terras para plantio

e trocavam, com os negros, alimentos

por munição. Diante de tal situação, a

Coroa portuguesa precisava tomar

medidas imediatas para reafirmar seu

poder na região. Foram organizados

novos ataques e Palmares foi

destruído em 1694, após 18

expedições repressivas. A expedição

vitoriosa foi comandada pelo

bandeirante Domingos Jorge Velho,

que comandou um exercito formado

por brancos, índios e mestiços. Em 20

de novembro de 1695, Zumbi foi

assassinado em seu esconderijo e

recebeu o ―castigo exemplar‖:

decapitado, teve sua cabeça exposta

em praça pública no Recife. Em

homenagem a Zumbi, o dia 20 de

novembro foi declarado no Brasil

como o Dia Nacional da

Consciência Negra.

A Guerra dos Mascates 1709-1711

– Foi o conflito ocorrido entre os

proprietários de terras e senhores de

engenho de Olinda e a elite comercial

de Recife, entre 1709 e 1711. Após a

expulsão dos holandeses, em 1654,

os senhores de engenho da região,

além de perderem o mercado de

açúcar para os antilhanos, tiveram

que enfrentar os comerciantes

portugueses (chamados de Mascates)

que passaram a elevar taxas e a

executar hipotecas. Dependentes

economicamente desses

comerciantes, junto a quem

contraíram dívidas e que foram

agravadas pela queda internacional

dos preços do açúcar, os latifundiários

pernambucanos não aceitaram a

emancipação político-administrativa

da cidade do Recife, até então

subordinada a Olinda. A emancipação

de Recife foi entendida como um

agravante da situação dos

latifundiários (devedores) diante da

burguesia lusitana (credora), que por

esse mecanismo passava a se colocar

em patamar de igualdade política.

Apesar da superioridade econômica

dos chamados Mascates de Recife,

estes não possuíam autoridade

política, pois a Câmara municipal

ficava em Olinda. Os comerciantes de

Recife não queriam mais se submeter

a Olinda o que acarretou no conflito.

Em 1710, a Coroa interferiu no

confronto e logo após receber a

Carta Régia que elevou o povoado à

condição de vila, os comerciantes

inauguraram o Pelourinho e o prédio

da Câmara Municipal, separando-se

formalmente o Recife de Olinda.

Questões de Vestibulares 1. UFRJ 2000. ―(...) Assim, antes de

partir de França, Villegagnon

prometeu a alguns honrados

personagens que o acompanharam,

fundar um puro serviço de Deus no

Page 151: Historia Geral e do Brasil

22

lugar em que se estabelecesse. E

depois de aliciar os marinheiros e

artesãos necessários, partiu em maio

de 1555, chegando ao Brasil em

novembro, após muitas tormentas e

toda a espécie de dificuldades. Aí

aportando, desembarcou e tratou

imediatamente de alojar-se em um

rochedo na embocadura de um braço

de mar ou rio de água salgada a que

os indígenas chamavam Guanabara e

que (como descreverei

oportunamente) fica a 23º abaixo do

equador, quase à altura do Trópico de

Capricórnio. Mas o mar daí o

expulsou. Constrangido a retirar-se

avançou quase uma légua em busca

de terra e acabou por acomodar-se

numa ilha antes deserta, onde, depois

de desembarcar sua artilharia e

demais bagagens, iniciou a construção

de um forte, a fim de garantir-se

tanto contra os selvagens como

contra os portugueses que viajavam

para o Brasil e aí já possuem

inúmeras fortalezas.‖ (IN: LÉRY, Jean. De

Viagem à Terra do Brasil. Rio de Janeiro, Bibliex, 1961, pp. 51).

―(...) Por esse tempo, agitava-se

importante controvérsia entre os

dirigentes da Companhia (Cia. Das

Índias Ocidentais), a qual se travou

principalmente entre as câmaras da

Holanda e da Zelândia. Versava sobre

se seria proveitoso à Companhia

franquear o Brasil ao comércio

privado, ou se devia competir a ela

tudo o que se referisse ao comércio e

às necessidades dos habitantes

daquela região. Cada um dos dois

partidos sustentava o seu parecer. Os

propugnadores do monopólio

escudavam-se com o exemplo da Cia.

Oriental, usando o argumento de que

se esperariam maiores lucros, se

apenas a Cia. comerciasse, porque,

com o tráfico livre, dispersar-se-ia o

ganho entre muitos, barateando as

mercadorias pela concorrência.‖ (IN:

BARLÉU, Gaspar. História dos Feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil. SP: Itatiaia, 1974, p.90)

Ao longo dos séculos XVI, XVII e início

do XVIII, várias potências européias

invadiram a América Portuguesa.

Houve breves invasões e atos de

pirataria ao longo do litoral no início

do século XVI. Posteriormente outras

invasões iriam adquirir características

diferenciadas. As formas de invasão e

ocupação, assim como estratégias e

interesses econômicos seriam

diversos.

a) Aponte duas razões para a invasão

e o estabelecimento colonial de

franceses (a França Antártica) no

litoral do Rio de Janeiro entre 1555 e

1567.

b) Identifique o principal interesse da

Cia. das Índias Ocidentais na invasão

de Pernambuco, em 1634.

2. UERJ 2008.

Quilombo, o eldorado negro

Existiu

Um eldorado negro no Brasil

Existiu

Como o clarão que o sol da liberdade

produziu

Refletiu

A luz da divindade, o fogo santo de

Olorum

Reviveu

A utopia um por todos e todos por um

Quilombo

Que todos fizeram com todos os

santos zelando

Quilombo

Que todos regaram com todas as

águas do pranto

Quilombo

Que todos tiveram de tombar amando

e lutando

Quilombo

Que todos nós ainda hoje desejamos

tanto

Existiu

Um eldorado negro no Brasil

Existiu

Viveu, lutou, tombou, morreu, de

novo ressurgiu

Ressurgiu

Pavão de tantas cores, carnaval do

sonho meu

Renasceu

Quilombo, agora, sim, você e eu

Quilombo

Quilombo

Quilombo

Quilombo Gilberto Gil e Waly Salomão (1983).

Page 152: Historia Geral e do Brasil

23

A letra da música acima faz referência

a uma das formas de resistência

escrava – a criação de quilombos –

verificada tanto no Brasil colonial

quanto após a independência.

Explique por que os quilombos

representaram um avanço na luta dos

cativos contra seus senhores, ao

longo do século XIX, e indique duas

outras formas de resistência escrava.

Page 153: Historia Geral e do Brasil

24

Capítulo 5. A economia mineradora

Apresentação - O século XVIII

marcou na colônia o desenvolvimento

da economia mineradora. Os

bandeirantes desempenharam papel

de extrema importância, rompendo as

barreiras do sertão na procura de

índios e de ouro. A princípio, o

governo português não colocou

empecilhos ao trânsito de pessoas

para as Minas, ao contrário, procurou

facilitar o acesso às jazidas, já que,

quanto maior o volume populacional

diretamente ligado a extração, mais

quintos (imposto cobrado pela

metrópole, que correspondia à quinta

parte das riquezas minerais extraídas

no Brasil, e sobretudo do ouro)

entrariam para o erário real.

Fonte: SCHMIDT, Mário, Nova História Crítica do Brasil, Editora Nova Geração.

A notícia da descoberta dos veios

auríferos causou um grande fluxo

migratório para a Capitania das Minas

e trouxe um grande dinamismo

econômico à colônia. Logo, a América

portuguesa se tornaria a mais

importante colônia portuguesa. Nas

primeiras décadas do século XVIII, o

desenvolvimento da economia

mineradora foi estabelecido graças às

prospecções (em sua maioria

executadas por bandeirantes) que

permitiram a descoberta de várias

regiões ricas em metais preciosos. O

acúmulo de ouro e prata servia como

uma rápida alternativa para a

resolução dos problemas econômicos

de Portugal.

A economia mineradora

O bandeirismo – As Entradas e

Bandeiras foram expedições

organizadas para explorar o interior

do Brasil. Foram quatro os principais

fatores que contribuíram com a

interiorização: a pecuária, a busca por

drogas do sertão, a procura por

metais e o apresamento de índios. Em

São Paulo, seus habitantes se

voltaram para o interior e adotaram

maneiras próprias para viver nas

matas. Devido à intensa mestiçagem,

muitos paulistas falavam o tupi-

guarani tão bem, ou melhor, que os

portugueses, além disso, influenciados

pelos costumes indígenas, andavam

com destreza pelas matas. Em

consequência disso, tinham fama de

desbravadores de fronteiras e de

predadores de índios. Diante das

necessidades do governo colonial, a

habilidade e a experiência dos

paulistas foram mobilizadas, um

exemplo disso foi a ação de Domingos

Jorge Velho, bandeirante, que

auxiliando o governo instituído,

destruiu Palmares. Em 1695 deu-se a

descoberta de ouro, a partir de então,

desde a grande bandeira de Fernão

Dias Paes, organizada em 1674, até

as primeiras décadas do século XVIII,

os paulistas definiriam os contornos

das Minas Gerais.

A descoberta Diamante - No ano de

1721, o minerador Bernardo Fonseca

Lobo noticiou a descoberta das

primeiras pedras na região do Serro

Frio, no arraial do Tijuco, em Minas

Gerais. Inicialmente, a descoberta foi

mantida em sigilo pelo explorador e

outras autoridades locais que

realizavam a extração ilegal,

justificando terem dificuldades para

identificar o valor comercial das

pedras. Somente em 1730, o

governador das Gerais, D. Lourenço

de Almeida, enviou algumas pedras

para serem analisadas em Portugal.

Imediatamente foi aprovado o

primeiro regimento para os

diamantes, estabelecendo a forma de

cobrança dos impostos (quinto). O

principal centro de extração de

diamantes foi o Arraial do Tijuco

(atual cidade de Diamantina em Minas

Page 154: Historia Geral e do Brasil

25

Gerais) que logo foi elevado à

categoria de Distrito Diamantino, com

fronteiras delimitadas e um

intendente independente do

governador da capitania, subordinado

somente à coroa portuguesa. A partir

de 1734, visando um maior controle

sobre a região diamantina, foi

estabelecido um sistema de

exclusividade na exploração de

diamantes para um único contratador.

O primeiro deles, em 1740, foi o

milionário João Fernandes de Oliveira,

que se apaixonou pela escrava Chica

da Silva. Devido ao intenso

contrabando e a sonegação de

impostos, assim como ao elevado

valor dos diamantes, no final de 1771,

sob influência do Marquês de Pombal,

o chamado Distrito Diamantino

passou a ser controlado diretamente

pela Coroa Portuguesa.

A Guerra dos Emboabas 1707-

1709 – Foi o conflito entre paulistas e

portugueses na região central das

Minas ocorrido entre 1707 e 1709. A

descoberta de ouro, em fins do século

XVII, atraiu milhares de homens e

mulheres saídos tanto de Portugal

quanto de várias regiões da América

Portuguesa, com o objetivo de

explorar o ouro e, principalmente, o

lucrativo abastecimento da região.

Logo os paulistas e os recém-

chegados passaram a se hostilizar,

disputando a posse da região, uma

série de pequenos incidentes foi o

pretexto para o conflito armado entre

paulistas e os emboabas

portugueses1. Com o fim da Guerra

dos Emboabas, a Coroa deu início à

montagem do aparelho administrativo

nas Minas, a fim de controlar a

arrecadação dos quintos e para o

controle político da Capitania.

Os caminhos - Os caminhos que

levavam à região mineradora partiam

de São Paulo (cerca de 60 dias); do

Rio de Janeiro e da Bahia (por volta

1 O termo Emboaba é de origem do Tupi, os

índios o empregavam para se referir as aves que tem penas até os pés, como os portugueses usavam polainas que lhes cobriam os pés, eram chamados de emboabas de forma

pejorativa pelos paulistas. (Adriana Romeiro &

Ângela V. Botelho. Dicionário Histórico da Minas Gerais. Ed. Autêntica, 2003.)

de 43 dias). Os acessos baianos

ofereciam maiores facilidades e

muitas vantagens com relação aos

caminhos de São Paulo e do Rio de

Janeiro, pois eram mais largos,

possuíam ―água em abundância,

farinha, carnes de toda espécie,

laticínios, pastos para as

cavalgaduras, e casas para se

recolherem sem risco de Tapuias‖2.

Além dos caminhos terrestres, a Bahia

possuía uma excelente via fluvial, o

Rio São Francisco e seus afluentes.

Devido ao intenso contrabando

realizado por este caminho e as

dificuldades no controle de tal rota, a

Coroa proibiu o seu uso. Já os

caminhos do Rio de Janeiro para as

Minas, em 1701, constituíam apenas

uma trilha de difícil acesso. Assim

sendo, a Coroa Portuguesa cuidou de

abrir um novo caminho que fizesse a

ligação direta do Rio de Janeiro com

as Minas. O ―caminho novo‖ como

ficou conhecido o trajeto, levava

apenas de dez a doze dias. O

encurtamento das distâncias

representou uma significativa

economia de tempo para se chegar à

região mineira, acarretando também

numa melhoria no sistema de

comunicação entre o Rio de Janeiro e

as Gerais. Após 1725, a abertura

desse caminho extremamente mais

curto fez com que se escoassem para

o Rio de Janeiro os lucros e,

conseqüentemente, o contrabando do

comércio com as Minas.

A nova invasão francesa no Rio de

Janeiro - Entre 1710 e 1711 o Rio

de Janeiro foi novamente invadido

pelos corsários Jean François Du Clerc

e Duguay-Trouin. Em 1710, os

franceses foram derrotados, mas

retornando em 1711, sob o comando

do corso francês Duguay-Trouin, 6000

homens em 17 navios ocuparam e

saquearam a cidade do Rio de

Janeiro, onde permaneceram por dois

meses, trazendo horror e pânico aos

locais. Depois de pilhar a cidade e

afugentar a população para o interior,

Duguay-Troin exigiu o pagamento de

2 BNRJ, Autor anônimo, Informações sobre as Minas do

Brasil. Anais da Biblioteca Nacional, vol. LVII, 1930, Rio

de Janeiro p.180.

Page 155: Historia Geral e do Brasil

26

um resgate sob pena de destruí-la. O

governador de então, Francisco de

Castro, acabou pagando com seus

próprios recursos parte do valor

exigido, aconselhando o corso a levar

todo ouro e riquezas que conseguisse

amealhar, alegando que a população

levara consigo seus pertences de

valor, tornando impossível arrecadar o

resgate exigido3. Em 1710, chegou a

esquadra do francês Jean François

Duclerc, mas foram repelidos pelos

portugueses. Em 16 de agosto desse

ano houve nova tentativa. A esquadra

de Duclerc, depois de trocar tiros com

a Fortaleza de Santa Cruz, desistiu de

forçar a entrada da barra e rumou

para a Ilha Grande. Em 11 de

setembro o capitão Duclerc

desembarcou com 1.050 homens em

Guaratiba e tomou o caminho da

cidade. Cruzou o que hoje são os

bairros da Barra da Tijuca e

Jacarepaguá, atravessando

montanhas e florestas. Após invadir a

cidade pelos lados do atual bairro de

Santa Tereza, chegaram à Praça do

Carmo (atual Praça XV), em seguida,

deu-se nova batalha e Duclerc, com

seus 600 homens restantes,

renderam-se encurralados no trapiche

da cidade. Em março de 1711, o

capitão Duclerc foi assassinado. A

França, a pretexto de indignação com

o ocorrido, enviou sob o comando do

almirante René Duguay-Trouin, uma

esquadra com 17 navios e 5.400

homens, que chegaram ao Rio de

Janeiro em setembro de 1711.

Favorecida por forte nevoeiro, a

esquadra penetrou na Baia da

Guanabara sem ser vista e ocupou,

com 500 homens, a Ilha das Cobras.

Logo após, desembarcaram cerca de

3.800 homens na praia de São Diogo

e ocuparam, sem resistência, os

morros de São Diogo, da Providência,

do Livramento e da Saúde. Ainda em

setembro, depois do bombardeio da

cidade pelas forças de Duguay-Trouin,

3 O Corsário, ao contrário do Pirata, do ponto de

vista do direito internacional é um combatente regular, a quem o governo dava uma carta de corso. Poderia ser mantido diretamente pelo governo ou por um particular. Não há grande diferença dos piratas quanto aos métodos, porém, o corso reservava de 1/3 a 1/5 do amealhado para o tesouro real.

o governador Francisco de Castro

Morais abandonou a cidade e fugiu

para o interior. Em meio a trovoadas

e chuvas, a população também

abandonou a cidade em pânico. A

guarnição da Fortaleza de Santa Cruz

se rendeu às forças francesas. Ocorre

em seguida a assinatura da

convenção para pagamento de grande

soma em dinheiro pelo resgate da

cidade. Em 11 de outubro, chegou à

cidade uma tropa de 6.000 homens

chefiada por Antonio Albuquerque

Coelho de Carvalho, governador da

capitania de São Paulo e Minas, que

nada pode fazer em função do acordo

assinado entre o governador Castro

Morais e os invasores. Após receber a

última parcela do valor acordado,

Duguay-Trouin abandonou a cidade.

Em novembro, as tropas francesas

partiram do Rio de Janeiro deixando

para trás uma cidade totalmente

devastada.

Sobre as invasões de 1710 e 1711, Brasil Gerson, em seu livro "História das Ruas do Rio", Editora Brasiliana, 1965, relata: "Rua

da Quitanda - Porto de desembarque para Portugal do ouro que descia das

montanhas mineiras, o Rio passou a despertar, no começo do século XVIII, a cobiça de muita gente ávida de fácil enriquecimento. Esse foi o motivo que

levou o Capitão de Fragata Duclerc a atacá-lo em setembro de 1710, com sua poderosa esquadra. Temeroso de forçar as fortalezas costeiras contornou-as por Guaratiba, vindo dali a pé. O ataque foi iniciado depois de um descanso no Engenho Velho dos Jesuítas, e com inteiro

êxito, a princípio, para os invasores, só repelidos na Rua Direita (ou 1º de março), em combates nos quais se destacaram os estudantes do Colégio da Sociedade de Jesus, do Morro do Castelo, os maiores

dos quais eram organizados militarmente e, além desses estudantes, os escravos e

os homens brancos. Refugiados na Alfândega, acabaram por se render, e no dia 19 seu comandante Duclerc foi levado preso para o Forte de São Sebastião, também no Morro do Castelo, e por último para a casa, na esquina da Rua da

Quitanda e do Sabão, à vista da Candelária - e nela sendo assassinado na noite de 18 de março de 1711 por quatro encapuzados. Para vingá-lo e ver se levava o que ele não levou, outra frota francesa apareceu no Rio a 12 de

Page 156: Historia Geral e do Brasil

27

setembro, ainda de 1711, dispondo de 750 peças de fogo, entrando a barra protegida por um grande nevoeiro, e sem que lhe pudesse oferecer maior resistência. O saque foi espantoso. Tudo quanto havia de valioso ao alcance de

suas mãos eles transportaram para bordo: ouro da Casa dos Contos, açúcar e outras cargas dos trapiches, coisas belas das igrejas e das casas particulares. Arquivos foram remexidos e queimados. E para retirar-se, satisfeito e vingado, Duguay-

Trouin, ainda exigiu que lhe dessem dinheiro, no valor de 616.000 cruzados - contados moeda por moeda. Com os homens que lhe restariam, Costa Ataíde se retirou para o Engenho Novo, e aí

encontraria com mais de 500 voluntários, para a expulsão do invasor. E a eles se

juntando, por outro lado, o Governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, com mais de mil paulistas e emboabas já apaziguado, numa marcha batida de 17 dias através do Caminho Novo, que Rodrigues Garcia Pais tinha aberto entre Minas e o Rio. E sabedor de

que ele já se havia acampado em Irajá para recompor suas forças, o invasor saciado abandonaria seu plano de fixar a bandeira da França na terra carioca permanentemente, e zarparia, antes de ter de enfrentá-los.‖

O abastecimento - O abastecimento

foi o nome dado a política da

administração colonial, preocupada

com a subsistência dos colonos e

escravos dedicados à mineração,

assim como dos funcionários

administrativos dedicados ao seu

controle. A Bahia foi um dos

principais, senão o principal centro de

abastecimento das Minas Gerais. A

Coroa, buscando manter uma

população fixa e suprir as

necessidades imediatas dos colonos,

submetidos aos altos preços dos

alimentos e às constantes carestias da

região mineira, passou a incentivar a

produção ao longo dos caminhos e

junto às minas. Essa produção,

abastecia de suprimento os viajantes

e ainda serviu de estímulo ao pequeno

comércio local, sobretudo, aquele

efetuado pelos roceiros que traziam

seus produtos para vender nas vilas e

arraiais. O comércio nas Minas Gerais

ao longo do século XVIII foi uma das

principais formas de descaminho do

ouro. A mineração promoveu um

dinamismo da economia colonial, com

formação de um mercado interno,

com certa especialização e integração.

A sociedade mineradora

Ouro Preto, antiga Vila Rica

A atividade mineradora foi

responsável por profundas mudanças

na vida colonial. Em cem anos a

população cresceu de 300 mil para,

aproximadamente, 3 milhões de

pessoas, incluindo, um deslocamento

de 800 mil portugueses para o Brasil.

Paralelamente foi intensificado o

comércio interno de escravos,

chegando do Nordeste para a regiao

mineira cerca de 600 mil negros. Tais

deslocamentos representam a

transferência do eixo social e

econômico do litoral para o interior da

colônia, o que acarretou na própria

mudança da capital de Salvador para

o Rio de Janeiro, em 1763, pois essa

era a cidade de mais fácil acesso à

região mineradora. A vida urbana

mais intensa viabilizou também,

melhores oportunidades no mercado

interno e a formação de uma

sociedade mais flexível, permitindo,

por vezes, a mobilidade social.

Embora mantivesse a base escravista,

a sociedade mineradora diferenciava-

se da açucareira por seu

comportamento urbano, menos

aristocrático e pela camada

socialmente dominante que era mais

heterogênea, representada pelos

grandes proprietários de escravos,

grandes comerciantes e burocratas. A

novidade foi o surgimento de um

grupo social intermediário formado

por pequenos comerciantes,

intelectuais, artesãos e artistas que

viviam nas cidades e pelos

faiscadores, aventureiros e biscateiros

(homens livres pobres brancos,

mestiços e negros libertos), enquanto

Page 157: Historia Geral e do Brasil

28

que a base social permanecia formada

por escravos. Em meados do século

XVIII, estes chegaram a representar

70% da população mineira. O

desenvolvimento da vida urbana

trouxe também mudanças culturais e

intelectuais, destacando-se a

chamada escola mineira, que se

transformou no principal centro do

Arcadismo no Brasil. Entre os artistas

da época, se destacam, na região

mineira, o mestre Antônio Francisco

Lisboa, o "Aleijadinho" (1730-1814), e

no Rio de Janeiro, o mestre Valentim

(c. 1745-1813).

Escultura de Aleijadinho em Sabará (Igreja de

Nossa Senhora do Carmo).

O Fiscalismo - Por todo o século

XVIII a grande preocupação da Coroa

portuguesa nas Minas Gerais era o

crescente contrabando de ouro. Os

contrabandistas vinham de todas as

classes sociais, por isso, independente

da posição que ocupavam, eram

objeto da fiscalização real que se

estendia inclusive ao clero e as

pessoas ligadas ao rei. Foi instituída

na época, uma verdadeira luta entre o

Fisco e o contribuinte, dessa forma,

muitos impostos pesaram sobre a

região das Minas, o principal deles foi

o quinto, que determinava que 20%

de todo o ouro extraído que deveria

ser pago à Coroa. Da mesma forma,

foram vários os métodos usados para

a cobrança do quinto do ouro;

primeiro a ―cobrança por bateias‖, em

1711, por esse método quem era

taxado era o operário, o garimpeiro;

em 1714 veio a ―cobrança por

ajustes‖, dessa vez o imposto seria

pago por ajuste de 30 arrobas de ouro

por ano e dividido pelas três

Comarcas, se não atingissem o valor

estipulado seria cobrado a ―finta‖,

pela qual todos eram obrigados a

completar o restante que faltava. Já a

―cobrança nas Casas de Fundição‖, foi

uma forma de imposto direto, pois, os

quintos seriam deduzidos do ouro

produzido. Desse modo, a Coroa

portuguesa criou um grande aparato

burocrático para retirar o máximo de

impostos da mineração e evitar o

contrabando que, apesar de toda

fiscalização, continuou ocorrendo por

o período.

A Revolta de Vila Rica 1720 – Foi

um movimento que eclodiu em Vila

Rica, em 1720, por aqueles que,

dentre outras questões, protestavam

contra as medidas fiscalistas

metropolitanas na região. Apesar

disso, esse movimento é classificado

pela historiografia como uma revolta

nativista por não contestar o domínio

português no Brasil. Os principais

motivos da revolta relacionavam-se à

defesa de interesses locais e regionais

e a insatisfação gerada pela abusiva

cobrança de tributos, já que, para

arrecadar o quinto, o método da

capitação determinava que havendo

ou não a extração do ouro, os

mineiros deveriam entregar a cota

estipulada aos fiscais e, com a

instituição das Casas de Fundição, foi

estabelecido que todo ouro deveria

ser fundido nessas casas, onde seria

retirado o quinto. A 28 de junho de

1720, homens mascarados

começaram a fazer desordem pela

Vila, para que não se abrisse a Casa

de Fundição. Após semanas de

tensão, o governador das Minas

prendeu ―os cabeças‖ do movimento,

o mais exaltado destes foi Felipe dos

Santos que defendeu a revolta

publicamente. Diante do acontecido, o

governador ocupou Vila Rica

acompanhado de 1500 homens,

mandou atear fogo no terreno dos

sediciosos e ordenou o enforcamento

de Felipe dos Santos sem julgamento.

A Casa de Fundição só foi instituida

em 1725.

A decadência da mineração e o

renascimento agrícola - Na

segunda metade do século XVIII, a

Page 158: Historia Geral e do Brasil

29

mineração entrou em decadência com

a paralisação das descobertas. O ouro

e os diamantes da região mineira por

serem de aluvião eram facilmente

descobertos e extraídos, permitindo

uma exploração constante, fazendo

com que as jazidas se esgotassem

rapidamente. Esse esgotamento

também pode ser atribuído ao

desconhecimento técnico dos

mineradores, já que a extração foi

realizada somente nos veios (leitos

dos rios), nos tabuleiros (margens) e

nas grupiaras (encostas mais

profundas). Essa técnica de

exploração, apesar de rudimentar, foi

suficiente para o sucesso do

empreendimento. Numa quarta etapa

porém, quando a extração atingiu as

rochas matrizes, formadas por um

minério extremamente duro (quartzo

itabirito), teve início o declínio da

economia mineradora. Como as

outras atividades eram subsidiárias ao

ouro e ao diamante, toda economia

colonial entrou em declínio.

A reformulação das fronteiras -

Portugal havia ocupado a Amazônia

com a exploração das drogas do

sertão e o atual Centro-Oeste

brasileiro com a mineração. Em 1680,

o governo português fundou a colônia

de Sacramento – região do atual

Uruguai – em território espanhol,

região de escoamento da prata

extraída na América espanhola. Em

1750, Portugal e Espanha assinaram o

Tratado de Madri, pelo qual ficou

estabelecido que a Espanha ficaria

com a posse de Sacramento,

enquanto Portugal ficaria com a

Amazônia e o ‗Centro-Oeste‘, dando

as linhas aproximadas do atual

território brasileiro.

Questões de Vestibulares

1. Puc 2005. COM EXCEÇÃO DE

UMA, as opções abaixo apresentam

de modo correto regiões das

Américas onde se verificou largo

emprego de mão-de-obra escrava de

origem africana:

(A) Vale do Paraíba do Sul, Brasil,

meados do século XIX, produção de

café.

(B) Estados do sul, Estados Unidos da

América, primeira metade do século

XIX, produção de algodão.

(C) Cuba, século XVIII, produção de

açúcar.

(D) Região das Minas, América

portuguesa, meados do século XVIII,

extração de ouro.

(E) Vice-reino do Peru, América

espanhola, século XVII, ex-tração de

prata.

2. ENEM 2006. No principio do

século XVII, era bem insignificante e

quase miserável a Vila de São Paulo.

Joao de Laet davalhe 200 habitantes,

entre portugueses e mestiços, em 100

casas; a Câmara, em 1606, informava

que eram 190 os moradores, dos

quais 65 andavam homiziados*.

*homiziados: escondidos da justiça

Nelson Werneck Sodré. Formação

histórica do Brasil. São Paulo:

Brasiliense, 1964. Na época da

invasão holandesa, Olinda era a

capital e a cidade mais rica de

Pernambuco. Cerca de 10% da

população, calculada em

aproximadamente 2.000 pessoas,

dedicavam-se ao comercio, com o

qual muita gente fazia fortuna.

Cronistas da época afirmavam que os

habitantes ricos de Olinda viviam no

maior luxo. Hildegard Féist. Pequena história

do Brasil holandês. São Paulo: Moderna, 1998 (com adaptações).

Os textos acima retratam,

respectivamente, São Paulo e Olinda

no início do século XVII, quando

Olinda era maior e mais rica. São

Paulo e, atualmente, a maior

metrópole brasileira e uma das

maiores do planeta. Essa mudança

deveu-se, essencialmente, ao

seguinte fator econômico:

(A) maior desenvolvimento do cultivo

da cana-de-açúcar no planalto de

Piratininga do que na Zona da Mata

Nordestina.

(B) atraso no desenvolvimento

econômico da região de Olinda e

Recife, associado a escravidão,

inexistente em São Paulo.

(C) avanço da construção naval em

São Paulo, favorecido pelo comércio

dessa cidade com as Índias.

Page 159: Historia Geral e do Brasil

30

(D) desenvolvimento sucessivo da

economia mineradora, cafeicultora e

industrial no Sudeste.

(E) destruição do sistema produtivo

de algodão em Pernambuco quando

da ocupação holandesa.

3. UFF 2008. Segundo alguns

autores, a temática da ―fronteira‖

tem-se constituído em matéria-prima

para a construção de ―mitos de

origem‖. No caso norte-americano,

por exemplo, a fronteira foi analisada

por Turner para explicar as origens da

democracia no país, já que ela foi

responsável pela proliferação da

pequena propriedade. No caso

brasileiro, a questão da fronteira

ganharia destaque na década de

1930, com a ocupação do Centro-

Oeste, que foi analisada por Cassiano

Ricardo para explicar as origens do

autoritarismo brasileiro. Partindo da

afirmativa, é correto concluir que:

(A) a ocupação da fronteira dos

Estados Unidos gerou um regime

democrático porque os presidentes

deste país nunca governaram a partir

de regimes ditatoriais;

(B) a ocupação da fronteira brasileira,

que teve na Marcha para o Oeste,

lançada por Vargas, mais um de seus

capítulos, originou o autoritarismo

brasileiro na medida em que o

presidente era um ditador;

(C) a ocupação da fronteira norte-

americana originou historicamente um

regime democrático porque seus

desbravadores não precisaram

enfrentar os habitantes indígenas;

(D) a ocupação da fronteira

brasileira, tradicionalmente, tem sido

interpretada a partir da ação dos

bandeirantes, originando o

autoritarismo, na medida em que

estes últimos precisaram domesticar a

―anarquia‖ e o ―comunismo primitivo‖

dos selvagens;

(E) a ocupação de terras livres, em

todo o continente americano, deu

origem à Organização dos Estados

Americanos (OEA), que arbitrava os

conflitos interétnicos.

Page 160: Historia Geral e do Brasil

31

Capítulo 6. As reformas pombalinas e as conjurações

coloniais

Apresentação - A partir de 1750, a

colonização na América portuguesa

entra em decadência. As arrecadações

com a mineração baixam, levando a

monarquia a adotar duríssimas

medidas. Medidas estas que não

ficaram sem repostas. Passa-se a

forjar a independência em relação a

Portugal.

A época pombalina

O Absolutismo Ilustrado - Também

chamado de Despotismo Esclarecido,

caracteriza-se por ser um tipo de

absolutismo não modificado em sua

essência, mas associado a alguns dos

ideais da Ilustração também

conhecida por Iluminismo. Esse

sistema de governo, combinado ao

mercantilismo, no entanto, foram

amplamente difundidos na segunda

metade do século XVIII, na periferia

da Europa em países como Rússia,

Áustria, Prússia, Espanha e Portugal

que, com essas medidas, tentaram se

aproximar das potências dominantes:

Inglaterra e França. Durante o

governo de D. José I (1750-1777),

em 1755, o Marquês de Pombal foi

nomeado Primeiro-ministro de

Portugal, neste mesmo ano, um

terremoto devastador destruiu Lisboa.

Diante de tal situação, Pombal

organizou as forças de auxílio e

planejou a reconstrução da cidade,

angariando com isso amplos poderes,

a partir de 1756, seu poder era quase

absoluto. Dessa forma, Pombal

realizou um programa político de

acordo com os princípios do

Iluminismo, se enquadrando no

modelo de absolutismo ilustrado

então vigente em alguns países

europeus. Visando a modernização do

Império português, o Primeiro-

ministro promoveu uma série de

reformas no Reino e nas colônias.

Dentre outras medidas, Pombal

reorganizou o sistema educacional;

elaborou um novo código penal;

introduziu novos colonos nos domínios

coloniais portugueses e fundou a

Companhia das Índias Orientais;

reorganizou o Exército; fortaleceu a

Marinha portuguesa; desenvolveu a

agricultura; o comércio e as finanças

com base nos princípios do

mercantilismo. Contudo, suas

reformas suscitaram grande oposição,

em particular dos Jesuítas e da

aristocracia portuguesa.

As Reformas Pombalinas – Foi um

conjunto de reformas implementadas

durante o mandato do Marquês de

Pombal, com o objetivo de modernizar

a administração portuguesa e

impulsionar a economia do Império.

De acordo com essas reformas,

reforçou-se a ideia de que a colônia

tinha como principal meta prosseguir

como fornecedora de riquezas para o

Reino, por isso, na administração

colonial, o governo pombalino

reformou a legislação da indústria de

mineração e estimulou ainda mais a

exportação de produtos primários. O

regime de monopólio comercial foi

reforçado, com o objetivo de se obter

maior eficiência na exploração da

colônia como fonte de riqueza. Nesse

intuito, entre 1755 e 1759, foram

criadas, respectivamente, a

Companhia Geral de Comércio do

Grão-Pará e Maranhão e a

Companhia Geral de Comércio de

Pernambuco e Paraíba. Essas eram

empresas monopolistas destinadas a

dinamizar as atividades econômicas

no Norte e Nordeste da colônia

mantendo (entre outras regalias que

aumentavam os lucros dos

comerciantes portugueses) o direito

exclusivo de navegação; sobre o

tráfico de escravos e de compra e

venda de produtos da colônia. Em

1765, foi instituída na região das

Minas a chamada derrama, com a

finalidade de obrigar os mineradores a

pagarem os impostos atrasados (a

derrama era uma taxa per capita, em

quilos de ouro, que a colônia era

obrigada a enviar para a metrópole,

independente da real produção de

ouro). No âmbito dessas reformas, as

principais alterações se deram na

esfera político-administrativa e na

educação. Em 1759, o regime de

capitanias hereditárias foi

Page 161: Historia Geral e do Brasil

32

definitivamente extinto, sendo

incorporadas aos domínios da Coroa

portuguesa. Em 1763, a sede do

governo-geral da colônia foi

transferida de Salvador para o Rio de

Janeiro, cujo crescimento sinalizava o

deslocamento do eixo econômico do

Nordeste para a região Centro-Sul.

Em 1757, Pombal criou o Diretório

dos Índios, legislação cuja função

era gerir os antigos aldeamentos e

tornar os índios livres e, ao mesmo

tempo, vassalos do rei, essa lei

também incentivou a miscigenação

(casamentos entre colonos e índios).

Em 1759, acusando os membros da

Companhia de Jesus de conspirarem

contra o Estado, o Marquês de Pombal

ordenou a expulsão dos Jesuítas de

todo império português, decretando

assim a emancipação dos ameríndios

e transferindo para a Coroa

portuguesa o governo das Missões. O

ministro regulamentou ainda o

funcionamento das Missões, afastando

os padres de sua administração. O

governo pombalino determinou ainda

que a educação na colônia passasse a

ser transmitida por leigos nas

instituições de ensino régio.

Complementando esse "pacote" de

medidas, o Marquês procurou dar

maior uniformidade cultural à colônia,

proibiu a utilização do Nheengatu -

língua geral – uma mistura das

línguas nativas com o português,

falada pelos bandeirantes, tornando,

assim, obrigatório o uso do idioma

português.

O reinado de D. Maria I - No

reinado da sucessora de D. José I,

prevaleceu o caráter absolutista

ilustrado da política pombalina. Assim,

em 1785, as manufaturas foram

proibidas na colônia.

A Guerra Guaranítica - Nome dado

aos violentos conflitos que

envolveram os índios guaranis e as

tropas espanholas e portuguesas no

sul do Brasil após a assinatura do

Tratado de Madri. Em 1750, com a

assinatura desse Tratado, os

portugueses passaram a controlar os

territórios dos Sete Povos das Missões

e, em contrapartida, cederam um foco

de colonização na região de

Sacramento (no território do atual

Uruguai). Além disso, esse Tratado

regulamentou a remoção dos índios e

dos Jesuítas para o lado espanhol.

Bastante complexa, essa resolução

deixava de considerar o fato de que

tal mudança envolveria o

deslocamento de cerca de 30 mil

índios e 700 mil cabeças de gado.

Além dos problemas de deslocamento,

os indígenas rejeitavam

completamente sua inserção no

ambiente colonial espanhol. Tal

resistência se justificava pelo fato da

administração colonial espanhola

permitir oficialmente o uso da mão de

obra indígena para o trabalho

escravo. Mediante tal impasse, os

Jesuítas decidiram armar as

populações ameríndias contra as

tropas espanholas e portuguesas

designadas a cumprir o estabelecido

pelo Tratado de Madri. Entre os anos

de 1753 e 1756, um sangrento

conflito entre índios e colonizadores

tomou conta daquela região. Em

resposta, as autoridades enviaram

tropas contra os nativos e a guerra

eclodiu em 1754. Os dois exércitos –

Portugês e Espanhol - atacaram

frontalmente os batalhões indígenas,

dominando os Sete Povos em maio de

1756, com isso, chegou ao fim a

resistência guarani. Um dos principais

líderes guaranis na época do conflito,

o capitão Sepé Tiaraju, justificou a

resistência ao Tratado reivindicando o

direito legítimo dos índios de

permanecer nas suas terras, com essa

convicção, Tiaraju comandou milhares

de nativos até ser assassinado na

Batalha de Caiboaté, em fevereiro de

1756. Por fim, o saldo desse conflito

foi a morte de milhares de índios e,

sob o aspecto político, o decreto

português determinando a expulsão

dos Jesuítas do Brasil. Essa disputa só

viria ter fim quando, em 1801, o

Tratado de Badajós colocou a região

dos Sete Povos novamente sob

domínio lusitano e a colônia de

Sacramento sob o controle dos

espanhóis.

O caráter geral das conjurações -

As conjurações de fins do século XVIII

não são mais como as antigas

revoltas coloniais. Diferentes das

antigas revoltas chamadas nativistas,

Page 162: Historia Geral e do Brasil

33

as conjurações desse período

contestavam a colonização e

começavam a organizar um

movimento no sentido de promover a

independência do Brasil da metrópole

portuguesa.

As conjurações coloniais A Conjuração Mineira 1789 - A

região das minas foi duramente

atingida pela ameaça da derrama e

pela proibição das manufaturas. Foi

nesse contexto de insatisfação

popular e crise econômica na região

aurífera que eclodiu a conspiração. Os

idealizadores da Inconfidência Mineira

pertenciam a elite local, eram quase

sempre os filhos das elites

mineradoras que foram enviados para

os principais centros universitários

europeus para dar prosseguimento a

sua formação. Uma vez na Europa,

esses jovens entraram em contato

com os ideais de igualdade e

liberdade disseminados pelo

pensamento iluminista e defendidos

nos meios intelectuais daquela época.

Na segunda metade do século XVIII, a

economia mineradora dava seus

primeiros sinais de enfraquecimento.

O contrabando, o escasseamento das

reservas auríferas e a profunda

dependência econômica fizeram com

que Portugal aumentasse os impostos

e a fiscalização sobre as atividades

empreendidas na colônia,

principalmente, com a ameaça

constante da derrama - as cem

arrobas de ouro anuais. No entanto,

com o progressivo desaparecimento

das lavras auríferas, os colonos

tinham grandes dificuldades em

cumprir a exigência estabelecida. O

Governo português, inconformado

com a diminuição dos lucros, resolveu

empreender a derrama.

Extremamente impopular, a cobrança

desse imposto era feita pelo confisco

de bens e propriedades que pudessem

ser de interesse da Coroa. Com isso,

as elites intelectuais e econômicas da

sociedade mineradora, influenciadas

pelo iluminismo e pela recente

independência dos Estados Unidos,

em 1776 (que obteve enorme

repercussão nas colônias latino-

americanas), começaram a idealizar a

independência brasileira. Essas

doutrinas forneceram a base para a

contestação dos governos absolutistas

e dos laços de dependência e

submissão entre colônia e metrópole.

No ano de 1789, um grupo de poetas,

profissionais liberais, mineradores e

fazendeiros tramavam tomar o

controle de Minas Gerais. O plano

seria colocado em prática em

fevereiro de 1789, data marcada para

a cobrança da derrama. Aproveitando

da agitação contra a cobrança do

imposto, os inconfidentes pensaram

poder contar com a mobilização

popular para alcançarem seus

objetivos. Entre os inconfidentes

estavam os poetas Cláudio Manoel da

Costa e Tomas Antonio Gonzaga; o

padre Carlos Correia de Toledo; o

coronel Joaquim Silvério dos Reis e o

alferes Tiradentes. Eles planejavam

proclamar a independência e a

implantar uma república na região das

Minas. Entre os líderes da

Inconfidência Mineira, o mais exaltado

era o alferes Joaquim José da Silva

Xavier, conhecido como Tiradentes.

Com exceção deste, todos os líderes

eram pessoas de posses ligadas à

extração mineral e à produção

agrícola. Mesmo tendo caráter

separatista, os inconfidentes

impunham limites ao seu projeto,

como por exemplo, não pretendiam

pôr fim à escravidão africana e não

objetivavam a independência da

colônia como um todo. A bandeira da

nova República chegou a ser

desenhada: Era branca com um

triângulo vermelho ao centro, nela

continha a expressão em Latim

Libertas Quæ Sera Tamen que

interpretaram como "liberdade ainda

que tardia". Joaquim Silvério dos Reis,

entregou o movimento em troca do

perdão de suas dívidas com a Coroa,

em consequência disso, seus líderes

foram detidos e negaram a

participação no movimento, menos

Tiradentes. À exceçãoo de Tiradentes,

todos os outros líderes tiveram sua

pena comutada para degredo em

colônias portuguesas na África. O

conjurado de mais modesta condição

social foi o único condenado à morte

Page 163: Historia Geral e do Brasil

34

por enforcamento, sendo executado a

21 de abril de 1792, no Campo da

Lampadosa, no Rio de Janeiro. A

cabeça de Tiradentes foi exposta em

Vila Rica, no alto de um poste

defronte à sede do governo.

Tiradentes foi alçado posteriormente,

pela República Brasileira, à condição

de um dos maiores mártires da

independência do Brasil. A bandeira

idealizada pelos inconfidentes foi

adotada pelo estado de Minas Gerais.

Tiradentes morto e esquartejado na pintura

Resposta de Tiradentes à comutação da pena de morte dos Inconfidentes em óleo sobre tela

de Leopoldino de Faria (1836-1911).

Curiosidades - A casa de Tiradentes

foi arrasada, o local foi salgado para

que nada mais nascesse ali e as

autoridades declararam infames todos

os seus descendentes. Tiradentes

jamais teve barba e cabelos

compridos, pois como alferes, o

máximo permitido pelo Exército

português seria um discreto bigode.

Os presos da época tinham seus

cabelos e a barba cortados para evitar

a proliferação de piolhos. Por isso, o

mais provável é que durante a sua

execução Tiradentes se encontrava

careca e sem barba, pois o cabelo e a

barba poderiam interferir, inclusive,

na ação da corda durante o

enforcamento.

A Conjuração Carioca 1794 - Foi a

repressão a uma associação de

intelectuais que se reunia no Rio de

Janeiro, em torno de uma sociedade

literária, no final do seculo XVIII, para

discutir assuntos políticos e filósoficos

à semelhança daqueles discutidos na

Europa da época. Fundada desde

1771, sob o nome de Academia

Cientifica do Rio de Janeiro, a

sociedade se reunia desde 1779-

1790. Os acontecimentos envolvendo

a Inconfidência Mineira e a evolução

da Revolução Francesa tornaram a

discussão desses assuntos e a posse

de determinados livros

comprometedora aos olhos das

autoridades coloniais que resolveram,

em 1794, fechar a Sociedade e

processar seus membros. Os seus

participantes foram delatados em

função de suas idéias iluministas e

suspeita de envolvimento com a

Maçonaria. Um processo de devassa

foi aberto, contudo não foram

encontradas provas de que se urdia

na Sociedade literária uma

conspiração, encontrando-se somente

a posse de livros de circulação

proibida.

A Conjuração Baiana 1798 – A

Conjuração Baiana teve

características bem diferentes das

conjurações anteriores, especialmente

porque seus participantes pertenciam

às camadas pobres da população. A

cidade de Salvador fervilhava com

queixas contra o governo, cuja

política elevava os preços das

mercadorias essenciais causando a

falta de alimentos. Em meio a essa

situação, o clima de insubordinação

contaminou também os quartéis. O

movimento envolveu indíviduos de

setores urbanos e marginalizados que

se revoltaram contra o sistema que

lhes impedia perspectivas de

ascensão social. Esse movimento

questionava a elevada carga de

impostos e se posicionava contra o

sistema escravista colonial. Tais

reivindicações assustavam as elites

coloniais, uma vez que,

representavam um dos projetos

contestatórios mais radicais ocorridos

até então. Os líderes do movimento

foram os soldados Lucas Dantas e

Luís Gonzaga das Virgens e os

alfaiates João de Deus do Nascimento

e Manuel Faustino dos Santos Lira.

Por isso, a conjuração também ficou

conhecida como a Revolta dos

Alfaiates. Os conspiradores

espalharam nos muros da cidade

papéis manuscritos proclamando

idéias de liberdade, igualdade,

fraternidade, a proclamação de uma

Page 164: Historia Geral e do Brasil

35

República e chamando a população à

luta. Inspirados nos ideais da

Revolução Francesa, os revoltosos

pregavam a libertação dos escravos;

a instauração de um governo

igualitário; a proclamação de uma

República; a liberdade de comércio e

o aumento dos salários dos soldados.

Tais idéias eram divulgadas,

sobretudo, pelos escritos do soldado

Luiz Gonzaga das Virgens e pelos

panfletos (pregados em praça pública)

de Cipriano Barata, médico e filósofo

local. Dessa forma, essa foi uma

revolta de caráter mais popular do

que a mineira e talvez por isso, tenha

sido barbaramente punida pela Coroa.

Para maiores informações ver TAVARES,

Luís Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: UNESP; Salvador: EDUFBA, 2001.

Questões de Vestibulares 1. UNIRIO 2007. ―Entre os anos de

1789 e 1801 as autoridades de Lisboa

viram-se diante de problemas sem

precedentes. De várias regiões da sua

colônia americana chegavam notícias

de desafeição ao trono, o que era

sobremaneira grave. A preocupante

novidade residia no fato de que o

objeto das manifestações de

desagrado, freqüentes desde os

primeiros séculos de colonização,

deslocava-se, nitidamente, de

aspectos particulares de ações de

governo para o plano mais geral da

organização do Estado.‖ (JANCSÓ,

Istvan. ―A Sedução da Liberdade: cotidiano e contestação política no final do século XVIII‖, in: NOVAES, Fernando e SOUZA, Laura Mello (Organizadores). História da Vida Privada no Brasil. SP: Cia. Das Letras, volume 1, 2004, p. 388.).

O texto citado faz menção às

rebeliões e às sedições ocorridas ao

longo do período colonial no Brasil,

identificando o objeto de contestação

que motivou esses movimentos. A

característica de um desses

movimentos em sua relação com o

trecho citado acima é apresentada

em:

a) As manifestações de desagrado

freqüentes desde os primeiros

séculos, conforme o trecho citado,

dizem respeito às rebeliões nativistas

que exigiam da Coroa uma nova

ordem econômica livre dos

monopólios mercantis sobre a colônia.

b) A Conjuração Mineira destacou-se

entre os movimentos de sedição

colonial, pois conforme o lema de sua

bandeira ―Liberdade ainda que tardia‖,

teve como reivindicação principal o

abolicionismo,que uniu os insurrectos

em torno do movimento.

c) Ambas as Conjurações, Baiana e

Mineira, não obtiveram sucesso em

virtude de terem se constituído como

movimentos políticos de inspiração

doutrinária local e lusitana.

d) A preocupante novidade em ambas

as conjurações, a que se refere a

citação acima, era a liderança das

elites econômicas e letradas da

colônia em tais sedições radicais,

cujas propostas sofriam a influência

das idéias antimonárquicas

iluministas.

e) A Conjuração Baiana expressou

uma profunda contestação da ordem

política monárquica implantada sobre

a colônia ao lutar por um governo

republicano livre de Portugal.

2. PUC 2009. A Conjuração Baiana

foi um dos movimentos político-

sociais ocorridos na América

portuguesa que assinalam o contexto

de crise do sistema colonial. Leia a

seguir um trecho de um dos panfletos

sediciosos afixados em locais

importantes da cidade de Salvador no

ano de 1798.

“Aviso ao Povo Bahiense Ó vós

Homens Cidadãos; ó vós Povos

curvados, e abandonados pelo Rei,

pelos seus despotismos, pelos seus

Ministros. Ó vós Povos que nascestes

para serdes livres [...], ó vós Povos

que viveis flagelados com o pleno

poder do indigno coroado,[...].

Homens, o tempo é chegado para

vossa ressurreição, sim para

ressuscitardes do abismo da

escravidão, para levantardes a

sagrada bandeira da Liberdade.‖ (Retirado e adaptado de DEL PRIORE, Mary et al. Documentos de História do Brasil: de Cabral aos anos 90. São Paulo, Scipione, 1997. p. 38).

a) ESCOLHA e TRANSCREVA uma

passagem do documento que

Page 165: Historia Geral e do Brasil

36

evidencie a insatisfação dos

conjurados baianos com a situação

política da época. JUSTIFIQUE sua

escolha.

b) APRESENTE uma diferença entre

a Conjuração Baiana (1798) e a

Inconfidência Mineira (1789).

Page 166: Historia Geral e do Brasil

37

Capítulo 7. A época joanina 1808-1821

Apresentação - A partir de 1808,

pode-se dizer que o Brasil deixa de ter

as características de uma colônia.

Com a chegada da família real e da

Corte portuguesa à cidade do Rio de

Janeiro, o Centro-Sul da América

portuguesa passou a cumprir um

papel de metrópole ante o resto do

Império português. Pode-se falar,

então, que 1808 marca uma ruptura

maior do que aquela de 1822, ano da

independência do Brasil em relação a

Portugal.

A saída da família real portuguesa

da Europa – No ano de 1806, o

governo de Napoleão Bonaparte

impôs o Bloqueio Continental à

Europa. Segundo esse decreto, a

França exigia que nenhuma nação

européia mantivesse relações

comerciais com a Inglaterra. Dessa

maneira, o governo napoleônico

ampliou seus mercados consumidores

e, ao mesmo tempo, desestabilizou

sua maior rival política, militar e

econômica, a Inglaterra. Diante de tal

situação, o príncipe regente de

Portugal, Dom João VI, não acatou a

ordem francesa, isso porque, ao longo

do século XVIII, o governo português

assinara uma série de tratados

econômicos que aprofundou a

dependência de Portugal para com a

Inglaterra. Em reposta, Napoleão

ameaçou invadir o território

português. Pressionado pelo

governante Francês, D. João VI

aceitou o plano da Inglaterra para

contornar essa situação. Os ingleses

ofereceram escolta para que a família

real portuguesa se deslocasse até o

Brasil. Em troca da proteção inglesa,

Dom João deveria transferir a capital

portuguesa para o Rio de Janeiro e

estabelecer um conjunto de tratados

que abrissem os portos brasileiros às

nações do mundo e oferecessem

taxas alfandegárias menores aos

produtos ingleses. Organizada às

pressas, a viagem transcorreu repleta

de privações: nos navios da esquadra

não havia água corrente, banheiros, e

víveres suficientes para todos. A

embarcação Príncipe Real

desembarcou no Rio de Janeiro, dia 7

de março de 1808. Ao chegar à cidade

depararam com uma população total

de 60.000 habitantes, das quais

quase a metade era constituída de

escravos negros.

A chegada ao Brasil e o fim do

estatuto colonial - As primeiras

medidas do Rei português no Brasil

puseram fim ao caráter de colônia ao

Brasil. Em janeiro de 1808, D. João

assinou uma Carta Régia pela qual

abriu os portos brasileiros ao

comércio com as nações amigas, o

que representou naquele momento

basicamente a Inglaterra. O príncipe

regente tomou várias medidas na

nova capital, começando por formular

um amplo aparato Estatal na cidade

do Rio de Janeiro, dando a esta o

caráter de metrópole. Dentre outras

medidas, o rei revogou a proibição

das manufaturas no Brasil; criou o

Desembargo do Paço e a Mesa da

Consciência e Ordens; a Casa da

Suplicação do Brasil; a Intendência

Geral da Polícia; a Impressão Régia; a

Real Junta do Comércio, Agricultura,

Fábricas e Navegação e o Banco do

Brasil. Os anos seguintes de sua

permanência no Brasil foram

marcados pela assinatura dos

tratados: com a Grã-Bretanha, o de

Amizade e Alianças e o de Comércio e

Navegação, ambos de 1810, e em

1815, aquele Pela elevação do

Brasil a Reino Unido a Portugal e

Algarves. Na época joanina, devido

em parte às condições de fuga da

corte para o Brasil, houve uma grande

presença inglesa na política e,

principalmente, na economia

brasileira. Em 1810, D. João concedeu

taxas preferenciais de importação aos

produtos ingleses no Brasil. A partir

de então, os produtos vindos do Reino

Unido pagavam menos taxas que os

produtos de originários de outros

países e até mesmo que os produtos

portugueses. D. João teve também

que recriar o aparato de Estado

português no Brasil, agora não mais

somente com a presença da nobreza e

do clero portugueses, mas também

com comerciantes e fazendeiros

Page 167: Historia Geral e do Brasil

38

brasileiros. Algumas das principais

criações desse período foram os

ministérios e órgãos reais recriados no

Brasil como órgãos militares; a fábrica

de pólvora; o Banco do Brasil (criado

para financiar os gastos do Estado); o

jardim botânico do Rio de Janeiro

(laboratório para estudo e aclimatação

de novas plantas); a Imprensa Régia

(que deu origem aos primeiros jornais

no Brasil); uma grande biblioteca

pública (com a vinda de livros de

Portugal que daria origem a atual

Biblioteca Nacional) e a Academia de

Belas Artes (onde lecionaram artistas

estrangeiros que vieram nas

expedições artísticas e científicas).

A política externa joanina - Em

represália à invasão francesa a

Portugal, D. João VI determinou a

ocupação da Guiana Francesa em

1808 (devolvida em 1817). Em 1815,

o Brasil foi elevado à categoria de

Reino Unido de Portugal e

Algarves para que D. João pudesse

negociar no Congresso de Viena como

Rei. Com a morte da rainha, D. Maria

I, em 1816, D. João VI herdou o trono

português e, apesar do

estabelecimento da paz na Europa,

ele decidiu manter-se no Brasil.

Diante da independência das colônias

latino-americanas e do desejo de

Buenos Aires de criar uma grande

República do Prata que uniria

Argentina, Uruguai e Paraguai, D.

João invadiu o Uruguai em 1816. No

âmbito político-militar, seu governo

enfrentou uma revolta em

Pernambuco, em 1817, e, em 1821,

anexou a região situada ao Sul do

território atual do Brasil e que fazia

parte do Vice-reinado do Prata, no

atual Uruguai, a Província Cisplatina,

em represália ao auxílio dado pelos

espanhóis à invasão francesa de

Portugal.

A Revolução Pernambucana 1817

- As motivações para tal movimento

estão relacionadas ao estabelecimento

e a permanência do governo

português no Brasil. Enquanto para o

Centro-Sul brasileiro a chegada da

Corte foi bastante positiva, devido à

ativação da economia da região e do

fortalecimento do comércio de

abastecimento para a cidade do Rio

de Janeiro, para o Norte e o Nordeste

a situação político-econômica pouco

mudou, dessa forma, uma revolta

anticolonial, antilusitana e separatista,

organizada por senhores de engenho

e pela população pobre da cidade,

eclodiu em Recife. Nessa época,

Pernambuco estava atravessando

uma grave crise econômica em razão

do declínio das exportações do açúcar

e do algodão. Além disso, a grande

seca de 1816 devastou a agricultura,

provocou uma onda de fome e

espalhou a miséria pela região,

acrescentando-se a isso ainda a

insatisfação popular diante dos

pesados tributos e impostos. Com a

irrupção do movimento, os rebeldes

tomaram o palácio do governo

provincial e dominaram Recife,

chegaram a organizar um governo

provisório, composto por

representantes de várias classes

sociais. Além disso, os revoltosos

adotaram medidas de caráter político-

econômico com objetivo de obter o

apoio da população e das elites locais:

aumentaram o soldo dos soldados;

aboliram os títulos de nobreza e

extinguiram alguns impostos. Tinham

como projeto político o

estabelecimento de uma República e a

elaboração de uma Constituição,

inspirados pelos ideais franceses de

igualdade e liberdade para todos, no

entanto, esbarraram com os limites

impostos pelos proprietários de

engenho que não aceitavam abolir o

trabalho escravo, por isso, não

chegaram a propor o fim da

escravidão negra. O movimento foi

liderado por Domingos José Martins,

Antônio Carlos de Andrada e Silva e

Frei Caneca. Alimentada por um forte

sentimento de patriotismo, a revolta

se espalhou por outros Estados, como

Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba.

Dois meses após o surgimento do

movimento, o governo português

cercou a capital pernambucana por

mar e por terra, sufocando a

revolução.

A Revolução Liberal do Porto 1820

– Foi um movimento militar iniciado

na cidade do Porto, ao norte de

Page 168: Historia Geral e do Brasil

39

Portugal que, se por um lado tinha

caráter de revolução liberal, pois

exigia uma constituição; a separação

de poderes e a representação popular,

por outro, pode ser considerada

conservadora por exigir a volta do rei;

a eliminação das concessões feitas ao

Brasil e a restauração do sistema

colonial. A burguesia, o clero, a

nobreza e o exército apoiaram a

revolução. Em 1820, Portugal se

encontrava em uma situação de crise

econômica, política e social, já que a

transferência da Corte portuguesa

para o Brasil trouxe muitas

conseqüências negativas para a

economia da metrópole. Dentre essas,

a abertura dos portos brasileiros e o

fim do monopólio comercial português

sobre o Brasil afetaram duramente a

economia lusitana e, em especial, a

burguesia comercial. Por outro lado, a

nobreza havia perdido uma série de

privilégios como integrante da Corte

portuguesa, agora instalada no Rio de

Janeiro e o Exército, contrariando a

vontade dos portugueses, ficara sob o

comando do marechal inglês

Beresford. Já no Brasil as opiniões se

dividiram nas províncias do Centro-

Sul, contudo, predominou a posição

contrária às reivindicações das Cortes

portuguesas que exigiam o retorno da

Família Real à Europa. Muitos setores

temiam perder os privilégios e o

poder conquistados com a chegada da

corte no Brasil. No Norte e Nordeste,

contudo, a posição foi outra, amplos

setores tinham sido prejudicados pela

autonomia dada ao Brasil desde 1808.

Com a eclosão do movimento, os

revolucionários do Porto expulsaram o

Comandante inglês do exército e

convocaram uma Assembléia

Constituinte, afirmando que D. João

deveria retornar para Portugal e jurar

fidelidade à nova Constituição

portuguesa. Em abril de 1821, a

Família Real voltou à Lisboa, com

exceção de D. Pedro, que assumiu no

Brasil a função de príncipe regente.

Em dezembro desse mesmo ano, as

Cortes portuguesas passaram a exigir

também o retorno imediato do

príncipe D. Pedro a Portugal.

Questões de Vestibulares

1. UFF 2004. Nas primeiras décadas

do século XIX, ocorreu uma

verdadeira ―redescoberta do Brasil‖,

como identificou Mary Pratt, graças à

ação de inúmeros Viajantes europeus,

bem como às Missões Artísticas e

Científicas que percorreram o

território, colhendo diversas

informações sobre o que aqui existia.

Foram registrados os diversos grupos

humanos encontrados, legando-nos

um retrato de diversos tipos sociais.

Rica e fundamental foi a descrição que

fizeram da Natureza, revelando ao

mundo diferenciadas flora e fauna.

Entretanto, até o início dos oitocentos,

os estrangeiros foram proibidos de

percorrer as terras brasileiras, e eram

quase sempre vistos como espiões e

agentes de outros países.

O grande afluxo de artistas e

cientistas estrangeiros ao Brasil está

ligado:

(A) à política joanina, no sentido de

modernizar o Rio de Janeiro, inclusive

com o projeto de criar uma escola de

ciências, artes e ofícios;

(B) à pressão exercida pela

Inglaterra, para que o governo de D.

João permitisse a entrada de

cientistas e artistas no Brasil;

(C) à transferência da capital do

Império Português de Salvador para o

Rio de Janeiro, modificando o eixo

econômico da Colônia;

(D) à reafirmação do pacto colonial,

em função das proposições liberais da

Revolução do Porto;

(E) à política de vários países

europeus, que buscavam ampliar o

conhecimento geral sobre o mundo,

na esteira do humanismo platônico.

2. ENEM 2006. No inicio do século

XIX, o naturalista alemão Carl Von

Martius esteve no Brasil em missão

cientifica para fazer observações

sobre a flora e a fauna nativas e sobre

a sociedade indígena. Referindo-se ao

indígena, ele afirmou: ―Permanecendo

em grau inferior da humanidade,

moralmente, ainda na infância, a

civilização não o altera, nenhum

exemplo o excita e nada o impulsiona

para um nobre desenvolvimento

Page 169: Historia Geral e do Brasil

40

progressivo (...). Esse estranho e

inexplicável estado do indígena

americano, ate o presente, tem feito

fracassarem todas as tentativas para

conciliá-lo inteiramente com a Europa

vencedora e torná-lo um cidadão

satisfeito e feliz.‖ Carl Von Martius. O

estado do direito entre os autóctones do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1982.

Com base nessa descrição, conclui-se

que o naturalista Von Martius:

(A) apoiava a independência do Novo

Mundo, acreditando que os índios,

diferentemente do que fazia a missão

europeia, respeitavam a flora e a

fauna do pais. (B) discriminava

preconceituosamente as populações

originárias da América e advogava o

extermínio dos índios.

(C) defendia uma posição progressista

para o século XIX: a de tornar o

indígena cidadão satisfeito e feliz.

(D) procurava impedir o processo de

aculturação, ao descrever

cientificamente a cultura das

populações originarias da América.

(E) desvalorizava os patrimônios

étnicos e culturais das sociedades

indígenas e reforçava a missão

―civilizadora européia‖, típica do

século XIX.

3. UFRJ 2007. A instalação da Corte

portuguesa no Rio de Janeiro, em

1808, representou uma alternativa

para um contexto de crise política na

Metrópole e a possibilidade de

implementar as bases para a

formação de um império luso-

brasileiro na América.

a) Cite duas medidas adotadas pelo

regente D. João que contribuíram

para o estabelecimento de bases para

a formação de um império luso-

brasileiro na América.

b) A despeito de a transferência da

Corte portuguesa para o Rio de

Janeiro ter sido analisada como mera

fuga frente à invasão francesa em

Portugal, estudos têm revelado que a

idéia da mudança para o Brasil não

era nova. Cite dois argumentos

apresentados por aqueles que, já no

século XVIII, defendiam essa medida.

4. UFF 2008. A transferência da

Corte Portuguesa para o Brasil tem

sido objeto de intensos e calorosos

debates na historiografia luso-

brasileira. Dentre as novidades

implantadas pela chegada da Corte de

D. João, estão:

I) Maior controle sobre a concessão

de sesmarias, via criação da Mesa do

Desembargo do Paço do Rio de

Janeiro

II) Fundação do Banco do Brasil

III) Criação da Companhia Geral de

Comércio do Grão Pará e Maranhão

IV) Criação da Intendência Geral da

Polícia

V) Institucionalização do Tribunal da

Relação do Rio de Janeiro para julgar

as querelas da Província

Assinale a alternativa que reúne os

elementos identificados com a

transferência da Corte Portuguesa:

(A) I e II, apenas

(B) I, II e III, apenas

(C) I,II e IV, apenas

(D) III, IV e V, apenas

(E) IV e V, apenas

5. ENEM 2008. Possa este, para

sempre memorável dia, ser celebrado

com universal júbilo por toda a

América Portuguesa, por uma dilatada

série de séculos, como aquele em que

começou a raiar a aurora da

felicidade, prosperidade e grandeza, a

que algum dia o Brasil se há de

elevar, sendo governado de perto pelo

seu soberano. Sim, nós já começamos

a sentir os saudáveis efeitos da

paternal presença de tão ótimo

príncipe, que [...] nos deu as mais

evidentes provas, que muito alentam

as nossas esperanças, de que viera ao

Brasil a criar um grande Império. Luís

Gonçalves dos Santos. Memórias para servir à história do reino do Brasil. Belo Horizonte Itatiaia. São Paulo. EDUSP, 1981.

O texto acima revela o entusiasmo e

as esperanças daqueles que

assistiram à chegada da família real

portuguesa ao Brasil. Indique duas

inovações de caráter científico ou

cultural decorrentes da política de D.

João. Indique também uma mudança

Page 170: Historia Geral e do Brasil

41

política ou econômica observada

durante a permanência da Corte e sua

respectiva conseqüência para o Brasil.

Page 171: Historia Geral e do Brasil

42

Capítulo 8. A Independência e o Primeiro Reinado 1822-1831

Apresentação – A independência

brasileira pode ser entendida como

uma revolta contra a recolonização

que as Cortes portuguesas

propunham e uma continuidade do

período joanino. O Império brasileiro

surgiu em meio a revoltas,

movimentos separatistas e uma crise

econômica. A consolidação do Império

e a estabilidade só viriam com D.

Pedro II na década de 1850.

O encaminhamento da ruptura

A tentativa recolonizadora - Os

revolucionários lusitanos formaram

uma espécie de Assembléia Nacional

que ganhou o nome de ―Cortes‖. As

Cortes exigiam que o rei Dom João VI

retornasse à terra natal para que o

mesmo legitimasse as transformações

políticas em andamento. Temendo

perder sua autoridade real, D. João

saiu do Brasil em 1821 e nomeou seu

filho, Dom Pedro, como príncipe

regente do Brasil. A medida foi

acompanhada ainda pelo

esvaziamento dos cofres do Banco do

Brasil o que deixou a economia

brasileira em péssimas condições.

Tentando apaziguar os ânimos, Dom

Pedro tratou de tomar medidas

populares baixando os impostos e

equiparando as autoridades militares

brasileiras às lusitanas. Tais ações

desagradaram as Cortes portuguesas

que exigiram o retorno do príncipe

para Portugal e a entrega do Brasil ao

controle de uma junta administrativa

formada pelas Cortes. A ameaça vinda

de Portugal despertou a elite

econômica brasileira para o risco da

perda das benesses econômicas

conquistadas. Dessa maneira, grandes

fazendeiros e comerciantes passaram

a defender a ascensão política de

Dom Pedro à líder da independência

brasileira. Assim sendo, em 9 de

janeiro de 1822, Dom Pedro reafirmou

sua permanência no Brasil no episódio

que ficou conhecido como Dia do

Fico. Logo em seguida, Dom Pedro

incorporou figuras políticas pró-

independência aos quadros

administrativos de seu governo. Entre

eles estava José Bonifácio, grande

conselheiro político de Dom Pedro.

Além disso, o príncipe firmou uma

resolução que estabelecia que

nenhuma ordem vinda de Portugal

poderia ser adotada sem sua

autorização. Essa última medida de do

príncipe Pedro tornou sua relação

política com as Cortes praticamente

insustentável. Em setembro de 1822,

a assembléia lusitana enviou um novo

documento para o Brasil exigindo o

retorno de Pedro para Portugal sob a

ameaça de invasão militar. Neste

cenário, destacam-se ainda, as

divergências internas entre

conservadores e liberais radicais.

Os primeiros, representados por José

Bonifácio, resistiram inicialmente à

ideia de uma Constituinte, mas,

acabaram aderindo a mesma com a

defesa de uma rigorosa centralização

política e a limitação do direito de

voto. Já os liberais radicais,

defendiam a eleição direta, a

limitação dos poderes de Pedro e uma

maior autonomia para as províncias.

Portugueses, brasileiros e

exaltados – Nesse panorama, logo

se formaram três ‗partidos‘ no Brasil:

O partido dos portugueses,

totalmente a favor da recolonização; o

dos brasileiros, inicialmente

contrário à ruptura, defendiam uma

monarquia dual, posteriormente,

seriam a favor da independência, e o

dos exaltados ou liberais radicais, a

favor da emancipação e da criação de

uma monarquia constitucional ou de

uma república.

A independência forjada - Em

1821, D. João VI foi obrigado, pelas

Cortes, a voltar para Portugal. Nessa

ocasião, apoderou-se dos metais

depositados no Banco do Brasil e todo

o dinheiro que podia, no entanto, D.

João também deixou no Brasil, seu

filho, o príncipe Regente D. Pedro,

que deveria ser o governador-geral do

Brasil e em caso de independência,

este deveria ser o seu líder, evitando

assim possíveis radicalismos.

Page 172: Historia Geral e do Brasil

43

O primeiro reinado A Independência – O episódio ficou

conhecido popularmente como um

fato ocorrido no dia 7 de setembro de

1822, em que o príncipe regente Dom

Pedro, irritado com as exigências das

Cortes portuguesas, declarou

oficialmente a separação política e

proclamou a independência do Brasil.

Mas na verdade, o movimento que

culminou com a emancipação política

do Brasil em relação a Portugal foi

fruto do processo de enfraquecimento

do sistema colonial iniciado desde a

chegada da corte portuguesa ao Brasil

em 1808, e concluído somente em

1824, com a adoção da primeira

Constituição brasileira.

A Constituição da mandioca -

1823 - O primeiro processo

constitucional do Brasil iniciou-se com

um decreto do príncipe D. Pedro I, no

dia 3 de junho de 1822, pelo qual foi

convocada a primeira Assembléia

Geral Constituinte e Legislativa para a

elaboração de uma constituição que

formalizasse a independência política

do Brasil. A Constituinte instituía o

voto censitário, baseado no preço da

mandioca, daí o nome da Constituição

que regulamentou que os eleitores de

cada paróquia deveriam ter uma

renda mínima de 150 alqueires para

poder exercer o direito de voto; 250

alqueires para eleger deputados e

senadores, e para se candidatarem a

esses cargos era necessário possuir

uma renda de 500 a 1000 alqueires.

Em 1823, foi apresentado um

anteprojeto de uma constituição de

monarquia constitucional e

parlamentarista, esse foi rejeitado por

Pedro I que decretou o fechamento da

Assembléia, defendendo uma

constituição que lhe permitisse

amplos poderes. O caráter classista e

portanto antidemocrático da Carta,

ficou claramente revelado com a

discriminação dos direitos políticos,

através do voto censitário, O

escravismo e o latifúndio não

entraram em pauta, pois colocariam

em risco os interesses da aristocracia

rural brasileira. A posição

antiabsolutista da Constituição

aparece claramente na limitação do

poder de D. Pedro, que além de

perder o controle das forças armadas

para o parlamento, teria seu poder de

veto apenas suspensivo sobre a

Câmara. Dessa forma, os

constituintes reservarvam o poder

político para a aristocracia rural,

combatendo tanto as ameaças

recolonizadoras do Partido Português,

como as propostas de avanços

populares dos radicais, além do

próprio absolutismo do Imperador. A

abertura da Assembléia se deu

somente em 3 de maio de 1823, para

que fosse preparado o terreno através

de censuras, prisões e exílios aos

opositores do processo constitucional. Emília Viotti da Costa. Da Monarquia à República: Momentos Decisivos. 2ª. Ed. São Paulo: Ciências Humanas, 1979, p. 116.

A Constituição outorgada 1824 - A

Constituição de 1824 foi a PRIMEIRA

CONSTITUIÇÃO da nossa história e

a única no período imperial. Com a

Assembléia Constituinte dissolvida, D.

Pedro I nomeou um Conselho de

Estado, reuniu dez cidadãos de sua

inteira confiança (pertencentes ao

Partido Português), e, após algumas

discussões a portas fechadas, foi

redigida a Primeira Constituição do

Brasil, em 25 de março de 1824.

Dentre outros, a Carta estabelecia os

seguintes pontos: sistema de governo

monárquico unitário; hereditário; voto

censitário; não secreto e eleições

indiretas, nas quais os eleitores das

paróquias elegiam os eleitores da

província e estes elegiam os

deputados e senadores. Para ser

eleitor da paróquia, da província ou a

se candidatar aos cargos eletivos de

deputado ou senador, o cidadão

deveria possuir uma renda anual

correspondente a 100, 200, 400, e

800 mil réis respectivamente. Foi

adotado o catolicismo como religião

oficial e institucionalizda a submissão

da Igreja ao Estado. Além disso,

foram instituídos quatro poderes:

Executivo, Legislativo, Judiciário e

Moderador. O Executivo competia ao

imperador e ao conjunto de ministros

por ele nomeados; o Legislativo era

exercido pela Assembléia Geral,

formada pela Câmara dos Deputados

Page 173: Historia Geral e do Brasil

44

e pelo Senado (nomeado e vitalício), e

o Judiciário era formado pelo

Supremo Tribunal de Justiça, com

magistrados escolhidos pelo

imperador. Por fim, o Poder

Moderador era pessoal e exclusivo

do próprio imperador, assessorado

pelo Conselho de Estado, que também

era vitalício e nomeado por ele. Nossa

primeira constituição foi outorgada,

ou seja, foi imposta de cima para

baixo com o fim de atender aos

interesses do partido português,

impedindo o controle do Estado pela

aristocracia rural, que somente em

1831 restabeleceu-se na elite política

brasileira levando D. Pedro I a

abdicar.

O Padroado - Segundo a

Constituição, a religião oficial do

Império do Brasil era o catolicismo.

Dessa forma, os eclesiásticos e

demais membros da Igreja eram

incluídos entre os funcionários

públicos pagos pelo Estado, enquanto

o Rei mediava as relações do clero

nacional com o Vaticano. Essa relação

entre a Igreja e o governo brasileiro

ficou conhecida como padroado.

A repressão das revoltas –

Contestando a outorga da

Constituição, explodiram algumas

revoltas lideradas pelos liberais

exaltados. Em represália, D. Pedro I

promoveu uma forte repressão contra

esses movimentos fechando jornais,

prendendo e exilando os ativistas.

A Confederação do Equador 1824

- Foi um movimento separatista

ocorrido no Nordeste brasileiro,

iniciado em Recife com a recusa da

Câmara local à Constituição de 1824.

Este declarou a formação de uma

confederação unindo Pernambuco,

Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Devido à proximidade geográfica com

a Linha do Equador, esse movimento

ficou conhecido como Confederação

do Equador. Essa Confederação pode

ser considerada como um

desdobramento da Revolução de

1817, marcada pelo liberalismo

radical, apesar da violenta repressão,

as ideias republicanas e autonomistas

continuavam fortemente arraigadas

na sociedade pernambucana. Tal

oposição originou-se nas constantes

crises da economia regional e nas

altas cargas tributárias impostas pelo

governo. A Confederação do Equador,

que se iniciou com a ação de

lideranças incluindo os proprietários

rurais e populares pernambucanos,

tomou corpo e conseguiu a adesão de

outros estados do Nordeste. Os

revoltosos buscaram criar uma

constituição de caráter republicano e

liberal, o novo governo resolveu abolir

a escravidão e organizou forças

militares contra as tropas imperiais.

Frei Caneca, Cipriano Barata e outros

revoltosos defendiam que a ampliação

dos direitos políticos e as reformas no

campo social eram medidas

necessárias e urgentes. Com isso, os

integrantes das elites locais que

apoiaram o movimento retiraram seu

apoio. Contra a Confederação

separatista, o governo imperial tomou

medidas severas. Enfraquecidos pela

falta de apoio das elites locais e pela

dura reação imperial, a Confederação

do Equador foi reprimida e um dos

seus principais líderes, Frei Caneca,

teve como pena a morte por

fuzilamento.

O reconhecimento da

independência - Semelhante ao

processo de independência de outros

países latino-americanos, a

independência do Brasil preservou o

status das elites agroexportadoras,

que conservaram e ampliaram os seus

privilégios políticos, econômicos e

sociais. Ao contrário do ideário

iluminista, a escravidão foi mantida,

e, além disso, foram mantidos

também os latifúndios com produção

de gêneros primários para o mercado

externo e o modelo de governo

monárquico. O primeiro país a

reconhecer a independência brasileira

foi os EUA, em 1824. As potências

européias, inclusive a Inglaterra, não

haviam aceitado a mesma, visto que

Portugal não havia aceitado a

emancipação. Após longas

negociações, Portugal reconheceu a

independência em 1825 e, em

seguida, toda a Europa. Uma série de

Page 174: Historia Geral e do Brasil

45

cláusulas foram impostas para o

reconhecimento oficial da

emancipação política do Brasil: dentre

estas, o Brasil pagaria uma dívida

portuguesa de 2 milhões de libras

esterlinas com a Inglaterra; as taxas

de importação continuariam

compulsoriamente em 15%; e o Brasil

não anexaria Angola, como era

pretendido.

A guerra da Cisplatina 1825-1828

- A região era disputada pelas Coroas

de Portugal e Espanha desde 1680,

sendo objeto de vários tratados

territoriais. Após a Independência do

Brasil, alimentando pretensões de

recuperar o território da Província

Cisplatina, as Províncias Unidas do Rio

da Prata ajudaram os patriotas

uruguaios a se levantarem contra a

dominação brasileira na região. A

Argentina ofereciam-lhes apoio

político, além de suprimentos de

guerra. O conflito eclodiu em 1825,

quando proclamaram a independência

da região. A perda da Província

Cisplatina foi mais um motivo para o

crescimento da insatisfação popular

com o governo de D. Pedro I. A

guerra era impopular desde o início,

pois para muitos representava o

aumento de impostos para o

financiamento de mais um conflito.

Quando o Império do Brasil assinou o

acordo pela independência da região,

muitos utilizaram isto como

argumento alegando que o imperador

havia depauperado os cofres públicos

e sacrificado a população por uma

causa perdida. Entretanto, esta não

foi uma causa direta para a abdicação

do imperador, em 1831. Ela se insere

dentro de uma conjuntura que

concorreu para a sua queda. A

motivação da abdicação se relaciona

muito mais com o estilo centralizador

de governar do imperador que teria

gerado o crescimento das oposições,

por isso, não suportando as pressões

oposicionistas o imperador foi

obrigado a abdicar ao trono em 1831.

Após a abdicação, Pedro I seguiu para

Portugal onde assumiu o trono

português sob o nome de Pedro IV, no

Brasil o Imperador deixou como

herdeiro do trono o seu filho Pedro de

Alcântara de apenas 5 anos. A

Assembléia assumiu o poder naquele

que seria o período mais turbulento

da história imperial, a Regência.

Questões de Vestibulares

1. ENEM 2004. Constituição de

1824:

―Art. 98. O Poder Moderador é a

chave de toda a organização política,

e é delegado privativamente ao

Imperador (…) para que

incessantemente vele sobre a

manutenção da Independência,

equilíbrio, e harmonia dos demais

poderes políticos (...) dissolvendo a

Câmara dos Deputados nos casos em

que o exigir a salvação do Estado.‖

Frei Caneca:

―O Poder Moderador da nova invenção

maquiavélica é a chave mestra da

opressão da nação brasileira e o

garrote mais forte da liberdade dos

povos. Por ele, o imperador pode

dissolver a Câmara dos Deputados,

que é a representante do povo,

ficando sempre no gozo de seus

direitos o Senado, que é o

representante dos apaniguados do

imperador.‖ (Voto sobre o juramento

do projeto de Constituição)

Para Frei Caneca, o Poder Moderador

definido pela Constituição outorgada

pelo Imperador em 1824 era

(A) adequado ao funcionamento de

uma monarquia constitucional, pois os

senadores eram escolhidos pelo

Imperador.

(B) eficaz e responsável pela

liberdade dos povos, porque garantia

a representação da sociedade nas

duas esferas do poder legislativo.

(C) arbitrário, porque permitia ao

Imperador dissolver a Câmara dos

Deputados, o poder representativo da

sociedade.

(D) neutro e fraco, especialmente nos

momentos de crise, pois era incapaz

de controlar os deputados

representantes da Nação.

(E) capaz de responder às exigências

políticas da nação, pois supria as

deficiências da representação política.

2. ENEM 2007. Após a

Independência, integramo-nos como

Page 175: Historia Geral e do Brasil

46

exportadores de produtos primários à

divisão internacional do trabalho,

estruturada ao redor da Grã-

Bretanha. O Brasil especializou-se na

produção, com braço escravo

importado da África, de plantas

tropicais para a Europa e a América

do Norte. Isso atrasou o

desenvolvimento de nossa economia

por pelo menos uns oitenta anos.

Éramos um país essencialmente

agrícola e tecnicamente atrasado por

depender de produtores cativos. Não

se poderia confiar a trabalhadores

forçados outros instrumentos de

produção que os mais toscos e

baratos.

O atraso econômico forçou o Brasil a

se voltar para fora. Era do exterior

que vinham os bens de consumo que

fundamentavam um padrão de vida

―civilizado‖, marca que distinguia as

classes cultas e ―naturalmente‖

dominantes do povaréu primitivo e

miserável. (...) E de fora vinham

também os capitais que permitiam

iniciar a construção de uma

infraestrutura de serviços urbanos, de

energia, transportes e comunicações. Paul Singer. Evolução da economia e vinculação internacional. In: I. Sachs; J. Willheim; P. S. Pinheiro (Orgs.). Brasil: um século de transformações. São Paulo: Cia. das Letras, 2001, p. 80.

Levando-se em consideração as

afirmações acima, relativas à

estrutura econômica do Brasil por

ocasião da independência política

(1822), é correto afirmar que o país

a) se industrializou rapidamente

devido ao desenvolvimento alcançado

no período colonial.

b) extinguiu a produção colonial

baseada na escravidão e fundamentou

a produção no trabalho livre.

c) se tornou dependente da economia

européia por realizar tardiamente sua

industrialização em relação a outros

países.

d) se tornou dependente do capital

estrangeiro, que foi introduzido no

país sem trazer ganhos para a

infraestrutura de serviços urbanos.

e) teve sua industrialização

estimulada pela Grã-Bretanha, que

investiu capitais em vários setores

produtivos.

3. UFRJ 2007. “D. Pedro I, por graça

de Deus e unânime aclamação dos

povos, Imperador Constitucional e

Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos

saber a todos os nossos súditos, que

tendo-nos requerido os povos deste

Império, juntos em Câmaras, que nós

quanto antes jurássemos e fizéssemos

jurar o Projeto de Constituição (...).”

(Preâmbulo da Constituição Política do

Império do Brazil, 1824)

A) Identifique, no preâmbulo da

Constituição de 1824, uma passagem

que expresse a incorporação de certas

inovações políticas que

caracterizavam a Europa desde fins

do século XVIII. Justifique sua

resposta.

Page 176: Historia Geral e do Brasil

47

Capítulo 9. O Período Regencial 1831-1840

Apresentação – Se por um lado o

Período Regencial marcou o início da

consolidação do Estado Nacional

brasileiro, por outro, mergulhou o

Império em uma série de crises

políticas e confrontos revolucionários

que ameaçaram a ordem geral e

colocaram em xeque o próprio regime

monárquico. Em toda a América

Latina, os Estados independentes

recém-fundados se encontravam em

enormes crises políticas e econômicas

e em guerras civis, nesse panorama o

Brasil não foi exceção, sem

fundamentos econômicos sólidos e

sem uma organização política estável,

este encarou uma série de revoltas

separatistas na década de 1830.

A Regência - Em 1831, quando o

Imperador Pedro I abdicou do trono

do Brasil, desenhou-se um novo

cenário político. Os setores liberais se

fortaleceram, afinal, eram ferrenhos

opositores do centralismo político que

caracterizou o reinado de D. Pedro I.

De acordo com a Constituição de

1824, se o herdeiro do trono fosse

menor de idade, uma regência

assumiria o governo em seu lugar até

que ele completasse 18 anos. Dessa

forma teve início um período de nove

anos durante o qual o Brasil foi

governado por Regências, essa época

constitui uma das mais agitadas da

história do Brasil com ameaças ao

próprio regime monárquico e à

integridade territorial do país. Em

virtude da instabilidade do período,

começou a surgir desde 1837 a

campanha da ―Maioridade‖ que viria a

elevar ao trono D. Pedro de Alcântara

em 1840. Historicamente o período

Regencial é dividido em duas grandes

etapas:

1ª. A “maré” Liberal 1831-1837 -

Engloba as duas regências Trinas e a

Una do Padre Diogo Feijó,

caracterizada por uma nova postura

dos políticos moderados,

interessados, em evitar excessos

revolucionários e impedir a

radicalização absolutista do país;

2ª. O Regresso Moderador 1837-

1840 - Engloba a Regência Una de

Pedro Araújo Lima, caracterizada

pela ascensão dos ―Regressistas‖ ao

poder, pela defesa intransigente da

unidade territorial e da manutenção

da ordem, e pela campanha da

maioridade antecipada de Pedro II.

Em linhas gerais, as principais

realizações do Período Regencial

foram:

A Guarda Nacional 1831 - Polícia

Civil entregue aos latifundiários

(através de concessão de patentes

pelo governo ou da eleição dos

oficiais, segundo o modelo eleitoral

estabelecido em 1824) com o objetivo

de aumentar a atuação política da

elite agrária e contrabalançar o poder

militar do exército, considerado

perigosamente identificado com as

camadas pobres da população.

A promulgação do “Código do

Processo Criminal” 1832 – Esse

Código visava a regulamentação

prática do Poder Judiciário e à

descentralização da aplicação da

justiça com o cargo de Juiz de Paz,

maior autoridade judiciária e policial

municipal e eleita conforme o modelo

eleitoral estabelecido em 1824.

O Avanço liberal 1831-1837 –

Nesse momento, Moderados e

exaltados se aliaram e deram o tom

do Avanço liberal. O principal legado

desse período foi o Ato Adicional de

1834, apesar de este ter sido feito em

aliança com os restauradores.

O Ato Adicional de 1834 - Foi a

primeira emenda à Constituição de

1824, com ela os deputados eleitos

para a Câmara, em 1833,

fortaleceram o movimento liberal

moderado. As propostas

conservadoras e liberais radicais

foram isoladas pela maioria

moderada. A revisão constitucional

concedeu certa autonomia às

províncias sem, no entanto

enfraquecer o poder central. Havia

grande temor à fragmentação do

território nacional e ao

enfraquecimento do reino. Por isso, o

Ato Adicional manteve intacto o Poder

Moderador e a vitaliciedade do

Senado, o que agradou aos setores

conservadores. As duas mudanças

Page 177: Historia Geral e do Brasil

48

mais importantes trazidas pelo Ato

foram: a instituição da regência Una

no lugar da Trina e a concessão de

amplos poderes para as Assembléias

Provinciais legislarem em matéria

civil, militar, política e econômica.

As consequências do Ato Adicional

de 1834 – Durante o Período

Regencial, logo foi alterada a

correlação das forças políticas. Havia

em 1834, três ‗partidos‘: o dos

restauradores, a favor da volta de

Pedro I; o do moderados, a favor do

federalismo e do fim do Senado

vitalício e o dos exaltados que

defendiam, além das reformas dos

moderados, reformas

democratizantes. Os ânimos políticos

se acirram, inclusive com confrontos

nas ruas. O equilíbrio entre

concentração e divisão do poder

mostrou-se muito frágil, por isso, as

revoltas provinciais, ao invés de

recuarem, prosseguiram no mesmo

ritmo. Enquanto isso, o novo regente,

o padre Diogo Antônio Feijó, eleito

em 1835 para substituir a regência

trina, não combateu as agitações com

o vigor e a contundência esperados. A

tensão política e social só aumentava.

O fantasma do separatismo ressurgia

e, nesse contexto, os liberais

moderados se dividiram entre

"progressistas" (a favor das medidas

liberais do Ato Adicional) e

"regressistas" (contrários a elas).

Estes últimos, diante do quadro de

profunda agitação política e social,

fizeram coro com as forças

conservadoras em favor da

centralização. Isolado, Feijó acabou

renunciando ao cargo. Em seu lugar

assumiu o ministro da Justiça, Pedro

Araújo Lima.

Pedro Araújo Lima - Sua regência

ficou conhecida como o "regresso

conservador". Durante o mandato de

Araújo Lima, foi aprovada a Lei de

Interpretação do Ato Adicional, que

fortaleceu o poder central e diminuiu

a autonomia das províncias

imprimindo um passo atrás em

relação às reformas de 1834. O

regresso conservador, porém, não

conseguiu conter a rebeliões locais, o

que, lentamente, fortaleceu a tese de

que o Brasil precisava de um novo

imperador. Abria-se, assim, a porta

para o golpe da maioridade.

O Regresso conservador - O Ato

Adicional deu margem para que

estourasse uma série de rebeliões no

período, o que fez com que parte dos

moderados se aliasse aos

restauradores contra o Ato Adicional

formando o grupo dos regressistas.

Os restauradores não exigiam mais a

volta de D. Pedro I, visto que este

havia morrido. Nesse quadro, em

1837, um regressista foi eleito dando

início ao Regresso conservador, o Ato

Adicional foi desfeito e teve início uma

ampla repressão às revoltas

regenciais.

As rebeliões regenciais - A

independência oficial do Brasil

frustrou grande parte da população,

pois sedimentou a estrutura

econômica e política herdada da

colônia, pouco alterando a situação

das massas e, ao mesmo tempo, o

centralismo autoritário pressionava

também o sistema político nas

províncias. De um lado, tinha-se a

oportunidade perdida de democratizar

a prática política, de outro, mantinha-

se a insistência em manter inalterado

o instituto da escravidão. Tal situação,

fez aflorar todo o anacronismo do

Estado brasileiro, provocando várias

reações, dentre elas se encontram a

Sabinada, na Bahia e a Farroupilha,

no Rio Grande do Sul. Essas grandes

rebeliões eram contrárias à

centralização; ao absolutismo; à

carestia; eram, muitas vezes,

antilusitanas; a favor das liberdades

individuais e em muitas delas estava

presente a questão social.

A Cabanagem 1833-1836 - A

questão da autonomia política foi,

desde a independência, a grande

força motriz motivadora de diversos

conflitos e revoltas no Brasil. Na

província do Pará, as péssimas

condições de vida das camadas mais

baixas da população e a insatisfação

das elites locais representavam a crise

de legitimidade sofrida pelos

representantes locais do poder

Page 178: Historia Geral e do Brasil

49

imperial. Além disso, a relação

conflituosa entre os paraenses e os

comerciantes portugueses acentuava

outro aspecto da tensão sócio-

econômica da região. Em 1832, um

grupo armado impediu a posse do

governador nomeado pela regência e

exigia a expulsão dos comerciantes

portugueses da província. No ano

seguinte o novo governador nomeado

passou a administrar o Pará de

maneira opressiva e autoritária. Em

1835, um motim organizado pelos

fazendeiros prendeu e executou o

governador. Os rebelados, também

chamados de cabanos, instalaram um

novo governo controlado pela elite

agrária (conflito interna). Nessa nova

etapa, um líder popular ascendeu

entre os revoltosos. A saída das elites

do movimento causou o

enfraquecimento da revolta. Tentando

se aproveitar desta situação, as

autoridades imperiais enviaram tropas

que retomaram o controle sobre

Belém. No entanto, a ampla adesão

popular do movimento não se

submeteu à vitória imperial. Um

exército de 3 mil homens retomou a

capital e proclamou um governo

republicano independente. No

entanto, a falta de apoio político de

outras províncias e a carestia de

recursos prejudicou a estabilidade da

república popular. Sucessivas

investidas militares imperiais foram

enfraquecendo o movimento cabano.

Entre 1837 e 1840, os conflitos no

interior foram controlados. Este

movimento ficou marcado por sua

violência e estima-se que mais de 30

mil pessoas foram mortas no conflito.

A Cabanagem encerrou a única

revolta regencial na qual os populares

conseguiram, mesmo que por um

breve período, sustentar um

movimento de oposição ao governo. A

reação dos cabanos partiu do interior,

organizados e armados retomaram a

capital e proclamaram a República e o

desligamento da província do restante

do império. O termo Cabanagem se

origina das humildes habitações –

cabanas – na beira dos rios, nas quais

vivia a população pobre, em particular

indígenas e mestiços.

A Farroupilha 1835-1845 -

Também conhecida como a Guerra

dos Farrapos, o movimento partiu

basicamente da elite riograndense,

que se sentia prejudicada pela política

fiscal do Império. A base da economia

gaúcha era a produção da carne de

charque, do couro e da erva-mate.

Buscando aumentar a arrecadação, o

governo imperial aumentou muito a

taxação sobre estes e outros produtos

sulistas. Além disso, havia no período

uma questão militar, pois os sulistas

consideravam-se preteridos na

escolha dos cargos oficiais daqueles

que combatiam nas guerras do

período (Guerra da Cisplatina contra o

Uruguai e a Argentina). E para

completar o quadro, o Rio Grande do

Sul mesmo sendo reconhecida como

uma província rica e estratégica,

recebia poucos investimentos

imperiais como a construção estradas

e a manutenção de serviços

educacionais. Assim sendo, a elite

agrária reclamava das altas taxas de

importação do sal e da baixas taxas

de importação do charque. Em 1836,

inconformados com o descaso das

autoridades imperiais, um grupo

liderado por Bento Gonçalves exigiu a

renúncia do presidente da província

do Rio Grande do Sul. Em resposta à

invasão feita na cidade de Porto

Alegre, um grupo de defensores do

poder imperial, conhecidos como

chimangos, conseguiu controlar a

situação, em setembro de 1836 os

revolucionários venceram as tropas

imperiais e proclamaram a fundação

da República de Piratini ou República

Riograndense. Com a expansão do

movimento republicano, surgiram

novas lideranças revolucionárias e na

região de Santa Catarina foi fundada

a República Juliana, que deveria

confederar-se à República

Riograndense. As tropas imperiais

conseguiram fazer frente aos

revoltosos que devido à participação

popular ficaram conhecidos como

farrapos. Sob a liderança de Caxias,

as forças imperiais tentavam instituir

a repressão ao movimento. A

Revolução Farroupilha foi longa

(1835-1845) e contou com ampla

mobilização devido à sua origem

Page 179: Historia Geral e do Brasil

50

elitista. Apesar da força do

movimento, Caxias conseguiu

suprimir a revolta em 1845, fazendo

ampla anistia e concessões aos

revoltosos, inclusive com a nomeação

dos farroupilhas ao Exército.

A Revolta do Malês 1835

Negro muçulmano, gravura de Jean-Baptiste

Debret

Foi uma revolta de escravos africanos

ocorrida em Salvador, em 1835. O

movimento envolveu cerca de 600

homens. Tratava-se, em sua maioria,

de negros muçulmanos, em especial

da etnia nagô, falantes da língua

iorubá. O nome da revolta teve sua

origem na expressão "malê" que

significa muçulmano em iorubá. O

primeiro alvo dos rebeldes foi a

Câmara Municipal de Salvador, onde

estava preso Pacífico Licutan, um dos

mais populares líderes malês,

entretanto, a investida não obteve

sucesso. Esse grupo de rebeldes se

espalhou então pelas ruas da cidade,

convocando os outros escravos a se

unirem ao grupo. Durante algumas

horas, a revolta se expandiu por

diversas regiões de Salvador,

ocorrendo confrontos violentos entre

os revoltosos e as forças policiais. Os

malês foram duramente reprimidos. O

medo de uma nova revolta se instalou

durante muitos anos entre os

habitantes livres de Salvador, bem

como das demais províncias

brasileiras. Principalmente no Rio de

Janeiro, sede do Império, os jornais

noticiaram o ocorrido na Bahia. Fonte:

João José Reis. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. São Paulo: Cia das Letras, 2003.

A Sabinada 1837-1838 - A

Sabinada foi um movimento que

eclodiu na Bahia e foi liderada pelo

médico Francisco Sabino, por isso

ficou conhecida como Sabinada. O

principal objetivo da revolta era

instituir uma república Baiana

enquanto o herdeiro do trono imperial

não atingisse a maioridade legal. A

principal causa da revolta foi a

insatisfação com as autoridades

nomeadas pelo governo regencial

para o comando do governo da Bahia.

Os rebeldes os acusavam de serem

despóticos e centralizadores. O

estopim foi o recrutamento militar

imposto pelo governo regencial para

combater a Revolta dos Farrapos.

Assim, em 1837, com o apoio de

parte do exército da Bahia, os Sabinos

tomaram vários quartéis e o poder em

Salvador. No mesmo ano proclamam

a chamada República Bahiense. O

novo governo se instituiu em caráter

transitório até que o herdeiro do trono

brasileiro, Dom Pedro II, chegasse à

maioridade. No âmbito social, a nova

república criada em solo baiano

prometia conceder liberdade a todos

os escravos que apoiassem o

governo. Em resposta ao movimento,

o governo regencial nomeou um novo

governador e organizou um

destacamento de forças militares

destinadas a dar fim ao levante. Após

bloquear as saídas marítimas de

Salvador, as tropas do governo

iniciaram o ataque terrestre. Entre os

dias 13 e 15 de março, as ruas de

Salvador foram ocupadas pelas forças

regenciais que renderam os

participantes da revolta. A Sabinada

foi duramente reprimida. Prevalecia

entre os revoltosos as camadas

médias da população.

A Balaiada 1838-1841 – A

Balaiada foi uma importante revolta

popular que explodiu na província do

Maranhão entre os anos de 1838 e

1841. Nessa época, a economia

agrária do Maranhão atravessava

grande crise. Sua principal riqueza, o

algodão, vinha perdendo preço no

mercado internacional devido à forte

concorrência do algodão produzido

nos EUA, mais barato e de melhor

Page 180: Historia Geral e do Brasil

51

qualidade que o produto brasileiro.

Quem mais sofria as conseqüências

dos problemas econômicos do

Maranhão era a população pobre.

Formada principalmente por

vaqueiros, sertanejos e escravos, essa

população enfrentava duras condições

de vida e se organizaram naquele

momento de crise para lutar contra a

miséria, a fome, a escravidão e os

maus-tratos. Havia também muita

insatisfação política entre a classe

média maranhense que formava o

grupo dos bem-te-vis. E foram estes

que iniciaram a revolta contra os

grandes fazendeiros conservadores do

Maranhão e contaram com a adesão

dos sertanejos pobres. Os principais

líderes populares da Balaiada foram:

Manuel Francisco dos Anjos Ferreira

(fazedor de balaios, donde surgiu o

nome balaiada); Cosme Bento das

Chagas (chefe de um quilombo que

reunia aproximadamente três mil

negros fugitivos) e Raimundo Gomes

(vaqueiro). A Balaiada não foi um

movimento organizado, nem tinha um

projeto político definido. Mas apesar

de desorganizados, os rebeldes

conseguiram conquistar a cidade de

Caxias, uma das mais importantes do

Maranhão na época. Como não havia

clareza dos objetivos entre os líderes

populares, ao assumir o governo o

poder foi entregue aos bem-te-vis,

que já estavam preocupados em

conter a rebelião dos populares.

Visando combater a revolta dos

balaios, o governo enviou tropas

comandadas pelo coronel Luís Alves

de Lima e Silva. Nessa altura dos

acontecimentos as camadas médias

do Maranhão (os bem-te-vis) já

haviam abandonado os sertanejos e

apoiavam as tropas governamentais.

Os Balaios foram reprimidos com

violência e a perseguição aos

revoltosos só terminou em 1841, com

a morte de cerca de 12 mil sertanejos

e escravos. O Brasil "Pintado" por Debret -

Debret procurou demonstrar, com

minuciosos detalhes e cuidados, a

"formação" do Brasil, especialmente

no sentido cultural do povo. "Ao longo

de suas páginas, Debret enfatiza o

que considera os diferentes

momentos da marcha da civilização

no Brasil, os indígenas e suas relações

com o homem branco, as atividades

econômicas e a presença marcante da

mão de obra escrava e, por fim, as

instituições políticas e religiosas."

Debret procurou resgatar

particularidades do país e do povo.

"Traduzia, igualmente, nas primeiras

décadas do século XIX, a opção por

privilegiar, no "retrato" dos povos,

aspectos que não estivessem

limitados às questões políticas, mas

que dessem testemunho da religião,

da cultura e dos costumes dos

homens." Esse desejo, em resgatar

costumes e acontecimentos do

passado brasileiro evidencia a

importância de sua estada ao Brasil

durante 15 anos. "não podemos

considerar os volumes de Debret

como retratos fiéis do Brasil

oitocentista, mas como um grande

exemplar de pintura histórica." LIMA,

Valéria. Uma Viagem com Debret. In: Coleção Descobrindo o Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

Questões de vestibulares

1. Puc 2005. “Rebeldes verdadeiros

ou supostos, eram procurados por

toda parte e perseguidos como

animais ferozes! Metidos em troncos e

amarrados, sofriam suplícios bárbaros

que muitas vezes lhes ocasionavam a

morte. Houve até quem considerasse

como padrão de glória trazer rosários

de orelhas secas de cabanos".(Relato

de Domingos Raiol acerca da repressão à Cabanagem)

"Reverendo! Precedeu a este triunfo

derramamento de sangue brasileiro.

Não conto como troféu desgraças de

concidadãos meus, guerreiros

dissidentes, mas sinto as suas

desditas e choro pelas vítimas como

um pai pelos seus filhos. Vá

Reverendo, vá! Em lugar de Te Deum,

celebre uma missa de defuntos, que

eu, com meu Estado Maior e a tropa

que na sua Igreja couber, irei amanhã

ouvi-la, por alma dos nossos irmãos

iludidos que pereceram no combate". (Pronunciamento do Barão de Caxias

Page 181: Historia Geral e do Brasil

52

acerca da comemoração da vitória sobre os farroupilhas)

Os textos apresentam testemunhos

sobre a repressão empreendida pelos

dirigentes do governo a duas revoltas

ocorridas no Império do Brasil: a

Cabanagem (Grão-Pará , 1835-1840)

e a Farroupilha (Rio Grande do Sul,

1835-1845). A partir da análise

desses testemunhos:

a) IDENTIFIQUE os segmentos

sociais predominantes na Cabanagem

e na Farroupilha.

b) EXPLIQUE por que os dirigentes

do Estado Imperial trataram de forma

diferenciada os rebeldes envolvidos na

Cabanagem e na Farroupilha.

2. UFF 2004. O Período Regencial,

compreendido entre 1831 e 1840, foi

marcado por grande instabilidade,

causada pela disputa entre os grupos

políticos para o controle do Império e

também por inúmeras revoltas, que

assumiram características bem

distintas entre si. Em 1838, eclodiu,

no Maranhão, a Balaiada, somente

derrotada três anos depois. Pode-se

dizer que esse movimento:

(A) contou com a participação de

segmentos sertanejos – vaqueiros,

pequenos proprietários e artesãos –

opondo-se aos bem-te-vis, em luta

com os negros escravos rebelados,

que buscavam nos cabanos apoio aos

seus anseios de liberdade; (B) foi de

revolta das classes populares contra

os proprietários. Opôs os balaios

(sertanejos) aos grandes senhores de

terras em aliança com escravos e

negociantes;

(C) foi, inicialmente, o resultado das

lutas internas da Província, opondo

cabanos (conservadores) a bem-te-vis

(liberais), aprofundadas pela luta dos

segmentos sertanejos liderados por

Manuel Francisco dos Anjos, e pela

insurreição de escravos, sob a

liderança do Negro Cosme, dando

características populares ao

movimento;

(D) lutou pela extinção da escravidão

no Maranhão, pela instituição da

República e pelo controle dos

sertanejos sobre o comércio da carne

verde e da farinha – então monopólio

dos bem-te-vis –, sendo o seu caráter

multiclassista a razão fundamental de

sua fragilidade;

(E) sofreu a repressão empreendida

pelo futuro Duque de Caxias, que não

distinguiu os diversos segmentos

envolvidos na Balaiada, ampliando a

anistia decretada pelo governo

imperial, em 1840, aos balaios e aos

negros de Cosme, demonstrando a

vontade do Império de reintegrar, na

vida da província, todos os que

haviam participado do movimento.

Page 182: Historia Geral e do Brasil

53

Capítulo 10. A Afirmação do Império 1840-1850

Apresentação - O Segundo

Reinado se estende de 1840 a 1889,

caracterizado pelo governo de D.

Pedro II. Este período representa a

lenta passagem do país de uma

estrutura colonial para uma nova

organização sócio-econômica mais

moderna. Devido a sua longa duração

costuma-se dividir O Segundo

Reinado em três fases.

A reinstalação da monarquia e a

afirmação do Império 1840-1850

- Fase de preparação política de Pedro

II e de pacificação das lutas

regenciais, de ajuste dos partidos

políticos e da introdução do sistema

parlamentarista de governo;

O apogeu do Império 1850-1870 -

Fase de tranqüilidade política no plano

interno e de vitórias em questões

internacionais;

O declínio da monarquia 1870-

1889 - Fase da lenta desagregação

das instituições monárquicas, do

envelhecimento do Imperador e da

propaganda republicana.

A consolidação imperial - O Brasil

foi governado por regentes, que

conduziram o governo até que o

herdeiro atingisse a maioridade e

assumisse o trono. A regência

inaugurou uma nova fase da história

do Brasil Império, marcada pela

eclosão de inúmeras rebeliões

sediciosas e pela reorganização das

forças políticas nacionais. Durante o

primeiro reinado, 1822-1831,

predominaram três correntes

políticas, organizadas em dois

partidos políticos: o Partido

Brasileiro que representava os

interesses dos grandes proprietários

agrários e dos liberais, com maior

inserção nas camadas urbanas e o

Partido Português que representava

os interesses da alta burocracia do

Estado e dos comerciantes

portugueses ligados ao antigo

comércio colonial. No início do período

regencial, essas forças políticas se

reorganizaram e surgiram, então, dois

novos partidos: o Partido Moderado

e o Partido Exaltado. Esses dois

grupos políticos no final da Regência

se organizaram em partidos. o

partido liberal, mais favorável às

autonomias regionais e as liberdades

e o partido conservador, mais

poderoso, centralizador, ligado ao

Imperador ao longo de todo o

Segundo Reinado. Os dois partidos,

no entanto, estão assentados em

grupos sociais similares, ambos são

constituídos por proprietários de

escravos e de terras. Portanto são

contra o fim da escravidão e contra

reformas realmente democratizantes.

Partidos políticos do período

imperial

O Partido Moderado - Apelidado de

chimangos, passou a representar,

unicamente, os interesses dos

grandes proprietários agrários. Eram

defensores da escravidão; da

monarquia moderada, isto é, sem

absolutismo; da preservação da

unidade territorial do país, e da

ampliação da autonomia das

províncias. Seus líderes mais

importantes foram o padre Diogo

Feijó e Evaristo da Veiga.

O Partido Exaltado - Apelidado de

farroupilhas, passou a representar os

interesses das camadas urbanas.

Defendiam a ampla descentralização

do poder através da autonomia

administrativa das províncias e

instauração do sistema federalista.

Desejavam substituir a monarquia

pelo regime republicano. Seus

principais líderes foram Cipriano

Barata e Borges da Fonseca.

O Partido Português - Apenas

modificou sua denominação para

Partido Restaurador, seus membros

foram apelidados de Caramurus. Os

restauradores tinham como principal

objetivo articular o retorno de Pedro I

ao trono imperial. Defendiam um

regime absolutista e centralizador.

Seu principal líder foi José Bonifácio

de Andrada e Silva.

Os Moderados - Agora chamados de

liberais, viram-se alijados do poder

Page 183: Historia Geral e do Brasil

54

com o Regresso conservador. Eles

tramaram o golpe da Maioridade para

empossar D. Pedro II, mesmo este

tendo apenas 15 anos. Conseguindo

assim que todo o ministério do

Segundo Reinado fosse constituído

pelos liberais. Desta forma o país

volta a ter um imperador, e com isso

o retorno do poder moderador.

A dinâmica política imperial - Em

1840, logo após o golpe da

Maioridade e devido ao acirramento

das brigas políticas, ocorreram

eleições extremamente violentas e

fraudulentas, foram as chamadas

eleições do cacete. No entanto, a

corrupção e a violência serão marcas

da política em todas as eleições do

Segundo Reinado. Liberais e

conservadores iriam se alternar nos

ministérios ao longo do Segundo

Reinado.

O grupo de sustentação do

Império: os saquaremas - O

partido conservador, ao longo de todo

o Império, foi mais poderoso do que o

partido liberal. Dentro do grupo do

partido conservador, havia um grupo

proeminente que conseguiu dá o tom

da política imperial. Eram os

Saquaremas, os conservadores do

estado do Rio de Janeiro, ligados à

cafeicultura escravista.

Por trás da estabilidade, o café -

Mais importante do que as disputas

políticas, para se entender a

estabilização política do Império, é

preciso entender a economia. Desde

1830, o café vinha sendo o principal

produto de exportação do Brasil,

superando o açúcar. A partir de 1840

e 1850, as exportações aumentaram

vertiginosamente, possibilitando

ampla arrecadação e amplos

superávits na balança comercial. O

café foi o produto que impulsionou a

economia brasileira até a década de

1930. A princípio sua plantação

estava concentrada no Vale do

Paraiba (região localizada entre Rio de

Janeiro e São Paulo) e depois nas

zonas de terra roxa do interior de Sao

Paulo e do Paraná, o grão foi o

principal produto de exportação do

país durante quase 100 anos. Como o

Brasil detinha o controle sobre grande

parte da oferta mundial desse

produto, podia facilmente controlar os

preços do café nos mercados

internacionais, obtendo assim lucros

elevados. Dessa forma, tinha-se uma

situação de crescimento da oferta do

café muito superior ao crescimento de

sua demanda, indicando uma

tendência estrutural de baixa de

preços ao longo prazo. A produção era

feita em grandes fazendas usando

basicamente mão de obra escrava,

contudo, no Oeste paulista essa mão

de obra foi gradualmente sendo

substituída pela de imigrantes

europeus.

As Tarifas Alves Branco 1844 - O

Estado imperial modificou as tarifas

de importação de produtos

estrangeiros com o objetivo de

aumentar a arrecadação do Império.

As tarifas que eram de 15%

passariam para 30% para produtos

sem similares nacionais e 60% para

os similares nacionais, os tecidos, no

entanto, pagavam apenas 20% de

entrada. Além do aumento na

arrecadação, a medida era uma

reação à constante ameaça inglesa ao

tráfico de escravos feito ao Brasil e

também pretendia defender a

indústria nacional. A criação desta

tarifa tinha por objetivo retirar o

Brasil da órbita imperialista das

grandes nações industriais européias,

o que significaria um aumento

sensível dos preços de produtos

importados no Brasil, porém, o

pensamento da nossa elite política e

agrária (ligadas aos interesses dos

grandes comerciantes e desejosas de

maiores lucros) não tinha interesse

em uma política de autonomia

econômica, e preferia manter o papel

do Brasil como fornecedor de gêneros

agrícolas para o mercado externo já

que essa pratica lhes auferia grandes

lucros. De fato, as tarifas ajudaram no

surgimento da indústria nacional, mas

isso não durou muito, em 1860 houve

a reversão das tarifas o que levou à

quebradeira de diversas indústrias

nacionais.

Page 184: Historia Geral e do Brasil

55

A última grande revolta regional:

a Praieira 1848-1850 - Foi a última

das revoltas provinciais, está ligada às

lutas político-partidárias que

marcaram o Período Regencial. Seu

fracasso representou uma

demonstração de força do governo de

D. Pedro II. Teve caráter autonomista

e antilusitano. Ocorrida em

Pernambuco, foi uma reação à

centralização monárquica e ao jogo

político entre liberais e conservadores.

Um grupo do partido liberal da

província de Pernambuco não aceitava

a alternância de poder entre

conservadores e liberais e formou o

partido da praia, composto por uma

elite emergente da província. Os

praieiros chegaram ao poder na

província e fizeram o mesmo tipo de

governo que liberais e conservadores,

com a nomeação de parentes para o

funcionalismo público e licitações

fraudulentas. Como os conservadores

locais (gabirus) impediram que os

praieiros fossem eleitos senadores,

estes entraram em confronto armado

com os gabirus. O governo imperial

interferiu e suprimiu a revolta. Foi um

movimento influenciado pelas ideias

liberais, pela falta de autonomia

provincial e marcado pelo repúdio à

monarquia. Esse movimento contou

com a participação das camadas

menos favorecidas da Província de

Pernambuco, sacrificadas pelas

péssimas condições de vida, eram

pequenos arrendatários, boiadeiros,

mascates e negros libertos - os

praieiros. Como fundo sócio-

econômico tem-se nesse confronto a

presença da histórica rivalidade entre

brasileiros e portugueses, que

dominavam o comércio na Província.

Aos líderes do movimento,

pertencentes à classe dominante

local, o governo imperial concedeu

anistia e, com isso, voltaram a ocupar

os seus cargos públicos e a comandar

os seus engenhos. Quanto aos

rebeldes das camadas sociais menos

privilegiadas, estes foram condenados

sem direito a julgamento.

Questões de Vestibulares 1. UFF 2008. A política imigracionista

do Império Brasileiro quase sempre

esteve relacionada à necessidade de

mão de obra em substituição ao

cativo e ao liberto, considerados

incapazes para o trabalho livre. O

conteúdo ideológico desta assertiva

tem propiciado uma intensa produção

acadêmica sobre o tema. Assinale a

opção que traduz a afirmativa correta.

(A) A formação de colônias oficiais

tinha um conteúdo estratégico em

áreas limítrofes com outros países, já

que assegurava o domínio brasileiro

sobre as terras fronteiriças.

(B) Ao contrário do que normalmente

se pensa, a política imigracionista

esteve ancorada na distribuição de

grandes lotes de terras para

fazendeiros, oriundos das regiões

mais ricas da Europa Ocidental.

(C) A imigração chinesa foi tentada

com muito sucesso nas regiões sul do

Brasil na primeira metade do século

XIX, impulsionada pela visão positiva

sobre os asiáticos.

(D) O fluxo migratório revela o

interesse dos camponeses europeus

em busca de novas terras. O Brasil

raramente conseguiu atrair

imigrantes, sendo insignificante o

número que chegou ao país no século

XIX.

(E) O vitorioso projeto de colonizar o

Brasil com base na pequena

propriedade assentou-se no esforço

de democratizar o acesso à terra nos

moldes norte-americanos.

Page 185: Historia Geral e do Brasil

56

Capítulo 11. O auge do Império 1850-1870

Apresentação - Em 1850, a Praieira

havia sido controlada, as exportações

de café batiam recordes, a indústria

brasileira dava seus primeiros passos

e a arrecadação aumentava

crescentemente. As rivalidades

políticas entre os partidos Liberal e

Conservador não eram mais tão

profundas e entre os dois lados havia

consenso entre as principais questões.

Tal convergência de princípios entre

liberais e conservadores possibilitou

finalmente, entre 1853 e 1868, o

período ficou conhecido como

conciliação, os dois partidos

governaram juntos. Contudo, neste

ano abolia-se o tráfico internacional

de escravos, fato este que se

constituiria na semente da ruína do

Império, já que a principal base de

sustentação eram os proprietários

escravistas.

Características econômicas do

auge do Império Estrutura econômica brasileira -

Durante a época colonial, a economia

brasileira, além de escravista, era

voltada para a exportação de bens

valorizados no mercado europeu.

Essas características continuaram

essenciais na economia imperial com

as exportações de café – do qual o

Brasil se tornou o maior produtor e

exportador do mundo no século XIX –

e de outros produtos, além do

trabalho escravo.

A expansão cafeeira - Desde as

primeiras décadas do século XIX, os

cafezais já começavam a se expandir,

primeiro, no litoral do Rio de Janeiro

(Angra dos Reis e parati) depois para

o Vale do Paraíba. Dentre os fatores

que contribuíram para tal sucesso

estão às condições geográficas

(altitude, temperatura ideal e as

encostas protegidas contra o vento,

em virtude de a região ser

montanhosa), entretanto, o solo da

região logo foi desgastado em

conseqüência da derrubada da

floresta e as conseqüentes erosões.

Deste modo, apesar da prosperidade,

a cultura cafeeira após poucos

decênios, entrou em decadência. Na

segunda metade do século XVIII

seguiram em direção ao Oeste

paulista. O Oeste paulista, apesar de

cultivar café desde o início do XIX, foi

somente após 1850, que sua

produtividade ganhou vulto, passando

a superar a produção do Vale do

Paraíba a partir de 1880. A expansão

cafeeira não cessou após a

Proclamação da República, em 1889,

ao contrário, ela continuou se

expandindo no interior de São Paulo

até no início do século XX, no Paraná.

O rush da borracha - Na segunda

metade do século XIX e primeiras

décadas do século XX, a borracha

produzida na Amazônia se torna um

importante produto de exportação.

Dominada por empresas estrangeiras,

a produção da borracha chegou a ser

o segundo item de exportações no

início do século XX, com 28% do valor

das exportações, sendo o Brasil o

maior produtor mundial no período,

com 50% do mercado mundial.

O fim do tráfico 1850 - O Brasil se

comprometeu várias vezes a acabar

com o tráfico de escravos, mas o

Estado nunca se empenhou. A

Inglaterra, interessada no fim da

escravidão, e consequentemente no

alargamento do mercado brasileiro

pressionava insistentemente o Brasil

para pôr fim ao tráfico. Em 1845, o

Parlamento britânico criou a lei Bill

Alberdeen, que permitia aos navios

de guerra britânicos a apreensão de

navios negreiros brasileiros. Em 1850,

aprova-se a apreensão de navios

negreiros inclusive em águas

territoriais brasileiras, gerando uma

série de incidentes, com troca de tiros

em portos, furor nacionalista e

pedidos de guerra. 400 navios

negreiros brasileiros foram capturados

pelos ingleses segundo essa lei. Fruto

dessa pressão britânica, em 1850, o

Congresso brasileiro aprova a lei

Eusébio de Queirós, que abole o

tráfico de escravos.

Page 186: Historia Geral e do Brasil

57

As ferrovias e outras novidades

tecnológicas - Diversos empresários

e industriais, dentre eles o mais rico e

mais conhecido, o visconde de Mauá –

favorecidos na época por alguns

fatores como a imposição da tarifa

Alves Branco (que elevou de 15%

para 30% os direitos alfandegários e

assim possibilitou uma maior

dinâmica ao mercado interno

brasileiro); a abolição do tráfico

negreiro (que liberou capitais até

então retidos nesse comércio) e a

ascensão do café (interessaram-se

pelos capitais dos traficantes de

escravos, os homens mais ricos do

Brasil na época). Mauá chegou a criar

um banco de investimento para atrair

esses capitais. De fato, o fim do

tráfico fortaleceu mais ainda os

investimentos em indústrias e outros

empreendimentos que marcaram o

auge do Império. São bancos,

companhias de navegação a vapor,

seguradoras, telégrafos e

principalmente as ferrovias. A

primeira ferrovia foi feita em 1854 a

estrada de ferro Pedro II. Muitos

desses empreendimentos tinham a

presença preponderante de capitais

ingleses.

A lei de Terras (1850) - Logo após

a abolição do tráfico, foi feita a lei de

terras. Essa impedia o acesso de

pessoas pobres às terras ao

determinar que todas as terras

devolutas – terras públicas – seriam

adquiridas apenas por meio de

compra, ou seja, não haveria

distribuição de terras públicas.

A Guerra do Paraguai 1864-

1870

Litografia de Vitor Meirelles representando a

Batalha do Riachuelo, uma das mais sangrentas na Guerra do Paraguai.

Os interesses sobre a região do

Rio da Prata - Na raiz do conflito que

culminou com a Guerra do Paraguai,

encontra-se o processo de

independência das províncias da

região do Prata, e principalmente os

interesses de um poderoso grupo de

comerciantes do porto de Buenos

Aires, que esperavam manter a

unidade da região sob seu controle, o

que significava empreender as

anexações do Paraguai e do Uruguai.

O Paraguai pré-guerra - Ao

contrário do desejo dos grandes

comerciantes de Buenos Aires, o vice-

reinado do Prata se dividiu em três

países: Argentina, Paraguai e Uruguai.

O Paraguai conheceu, desde sua

independência em 1811, seguidas

ditaduras. Nesse país prevalecia um

sistema de pequenas e médias

propriedades, onde o Estado

monopolizava o comércio exterior –

baseado em exportações de erva-

mate e couro – e tinha controle sobre

a maior parte da economia. Para

escoar sua produção, o Paraguai tinha

que pagar uma taxa à Argentina, por

isso, o Paraguai encontrava-se numa

posição bastante vulnerável, pois

bastaria bloquear o estuário do Rio da

Prata ou um trecho do Rio Paraná

para isolar este pequeno país do resto

do mundo. Todavia, o Paraguai

naquele momento se tratava de uma

potência emergente, que

desenvolvera uma política econômica

voltada para o mercado interno e, por

isso, iniciara um processo de

industrialização bem planejado,

enviando, inclusive, seus jovens para

estudar no exterior, com intuito de

formar uma mão-de-obra local

especializada, tudo isso com o intuito

de diminuir sua dependência em

relação ao exterior. Através dessa

política, o Paraguai do início da

Guerra tinha praticamente acabado

com a miséria e o analfabetismo entre

a sua população.

Tensões que culminaram com a

guerra - O Brasil já interviera na

política interna do Uruguai e

Argentina com invasões militares em

1851-2, complicando a política na

Page 187: Historia Geral e do Brasil

58

região. Outra intervenção brasileira no

Uruguai em 1864 colocou em perigo a

saída para o mar da produção

paraguaia. Querendo, então, controlar

a saída do Rio da Prata, o Paraguai

invade o Brasil e a Argentina,

objetivando chegar ao Uruguai. Não

se pode esquecer os interesses

externos, pois nessa ocasião o Brasil e

Argentina encontravam-se

plenamente incorporados à ordem

mundial, dominada pela Inglaterra,

enquanto o Paraguai seguia uma

política de pouca dependência em

relação ao exterior. Além disso, a

Inglaterra enfrentava problemas com

o fornecimento de algodão para a

suas indústrias, em virtude da Guerra

de Secessão nos Estados Unidos e

buscava novos fornecedores para a

sua indústria têxtil. Nesse panorama,

países como o Paraguai, praticamente

fechados ao mercado externo, eram

absolutamente contrários aos

interesses ingleses. Deste modo, a

Inglaterra financiou a guerra contra o

Paraguai e acabou como a principal

beneficiada com a sua derrota.

A guerra - Forma-se contra os

paraguaios uma Tríplice Aliança entre

Brasil, Argentina e Uruguai que conta

com o apoio inglês. O Brasil passa a

lutar sozinho a partir de 1866 e para

vencer uniu-se os esforços do

Exército, da Guarda Nacional e dos

Voluntários da Pátria, como ficaram

conhecidos os recrutados e os

escravos com a promessa da alforria

ao fim da guerra.

Conseqüências da guerra - O

ditador paraguaio Solano Lopez não

se rendeu e isso levou a guerra a se

estender ainda mais, tornando-se

extremamente nociva para os

paraguaios. Cerca de 95% da

população masculina adulta do país

morreu nessa guerra e 40% do

território paraguaio foi anexado por

Argentina e Brasil. Morreram

aproximadamente 300 mil pessoas

durante a guerra. Deve-se salientar

ainda que a guerra foi a mais

importante razão do atraso econômico

do Paraguai em relação aos outros

países platinos, situação, aliás, que

mantém até a atualidade. No Brasil, a

investida contra o Paraguai trouxe

prejuízos políticos e também custou

caro, aumentando o poder do Exército

e trazendo à tona a questão da

escravidão.

Questões de Vestibulares

1. UFRJ 2007. A Lei Euzébio de

Queiroz e a Lei de Terras, ambas de

setembro de 1850, são consideradas

marcos na modernização da sociedade

brasileira.

a) Explicite o conteúdo de cada uma

dessas leis.

b) Explique os motivos pelos quais

ambas as leis são consideradas

marcos na modernização da sociedade

brasileira.

2. UFRJ 2008. Em Sheffield, cidade

famosa pela produção de tesouras,

foices, facas e navalhas, 769

metalúrgicos enviaram petição ao

Parlamento em 1789 contra o

comércio de escravos. “[...] sendo os

artigos de cutelaria enviados em

grandes quantidades para a costa da

África a título de pagamento por

escravos, supõe-se que os interesses

de seus peticionários possam ser

prejudicados se tal comércio for

abolido. Mas, uma vez que seus

peticionários sempre compreenderam

que os nativos da África nutrem

grande aversão pela escravidão no

exterior, consideram o caso das

nações africanas como se

considerassem o seu próprio.” (Adaptado de HOCHSCHILD, Adam. Bury the Chains. Boston: Houghton Miffflin, 2004.).

De acordo com uma visão recorrente

na historiografia, a Inglaterra teria

abolido o tráfico de escravos para

suas colônias em 1807 com o objetivo

de ampliar o mercado para seus

produtos industrializados. Explique de

que maneira o trecho acima questiona

essa visão.

Page 188: Historia Geral e do Brasil

59

3. UERJ 2006.

(Adaptado de REZENDE, A. P. e DIDIER, M. T. Rumos da história. São Paulo: Atual, 2001.)

A economia cafeeira começou a

prosperar significativamente na região

do Vale do Paraíba fluminense e

paulista na década de 1840 e entrou

em decadência a partir dos anos de

1870.Um dos fatores que

contribuíram para essa decadência

está descrito em:

(A) doação das terras devolutas aos

colonos, em conseqüência da Lei de

Terras.

(B) redução do número de escravos,

devido à proibição imposta pela Lei

Euzébio de Queiroz.

(C) baixa produtividade agrícola, em

razão da falta de escravos gerada pela

Lei do Ventre Livre.

(D) proibição do tráfico de escravos

interprovincial, em função das

imposições do Bill Aberdeen.

Page 189: Historia Geral e do Brasil

60

Capítulo 12. Decadência do Império 1870-1889

Apresentação - Muitos fatores

contribuíram para a queda do

Império, porém, dentre eles há um

fator fundamental: a abolição da

escravatura em 1888. O Brasil foi o

último país do mundo a acabar com a

escravidão e com o fim desta, caiu o

principal grupo de apoio do Império, a

aristocracia rural.

Principais fatores da decadência imperial

Acirramento das disputas políticas

- De 1853 a 1868, prevaleceu a

conciliação, onde liberais e

conservadores se alternavam

pacificamente no poder. Isso termina

no meio da Guerra do Paraguai

levando a um novo momento de

acirramento das disputas políticas e

radicalização dos confrontos.

O tráfico interno de cativos -

Desde 1850 com o fim do tráfico de

escravos atlântico, tem início no país

um amplo comércio de escravos

internamente. Existem fluxos:

interprovincial, de áreas mais

decadentes como o Nordeste, para

áreas mais dinâmicas, claramente o

Sudeste; intraprovincial, de áreas

menos dinâmicas para mais dinâmicas

em uma mesma província; e

interclasses: de classes inferiores para

classes dominantes.

Abolicionismo - Aumentam as

pressões externas e internas pelo fim

da escravidão. No Brasil, surgem

diversos grupos abolicionistas com

jornais e atos contra a escravidão. Em

São Paulo, organizam-se os caifases

na década de 1880, são homens livres

que organizam fugas escravas.

Paralelamente a isso, aumentavam

drasticamente as resistências

escravas, com várias fugas, suicídios,

assassinatos de senhores e formação

de quilombos. Com o fim da Guerra

do Paraguai (1870), a luta pela

abolição da escravatura ganhou o

centro dos debates políticos,

produzindo sérias agitações sociais.

As leis paliativas - Com toda essa

pressão, o Congresso aprova em 1871

a Lei do Ventre Livre, que liberta os

filhos de escravos. O Norte e o

Nordeste, já com pouquíssimos

escravos, votam maciçamente a favor

e o Rio Grande do Sul e Sudeste

votam amplamente contra a lei. Em

1885, aprova-se a Lei dos

Sexagenários, que liberta os escravos

com mais de 60 anos que eram

pouquíssimos, na verdade.

A ascensão da aristocracia do

Oeste paulista e a imigração - O

fim da escravidão não representou,

contudo, o declínio da economia

cafeeira. Com o crescimento da

produtividade do café no Oeste

paulista nessa mesma época, teve

início, nessa região a transição do

trabalho escravo para o trabalho livre

assalariado através da imigração

européia. Os proprietários paulistas

passam a trazer imigrantes europeus

para trabalhar nas lavouras, com o

pagamento das viagens feito pela

província de São Paulo. Na década de

1880, as viagens passam a ser

maciças. Os imigrantes aqui chegados

encontram péssimas condições de

trabalho, próximas até daquelas

encontradas anteriormente no regime

de trabalho escravo. Outra questão se

relaciona com a falta de

representação política dos

cafeicultores paulista no centralismo

monárquico, o que gerou os anseios

federalistas desse grupo.

O movimento republicano - Em

1870 surge no Rio de Janeiro o

Partido Republicano, que logo ganha

força em outros estados. Elementos

centrais do pensamento republicano

eram o federalismo e o positivismo. O

republicanismo e o positivismo vão ter

grande penetração no Exército.

A questão militar - Somente após o

fim da Guerra do Paraguai o exercito

brasileiro, até então reconhecido

como instituição secundária, torna-se

uma unidade consciente de sua força

e importância para o país. Da mesma

forma passam também a se organizar

politicamente e a expressar suas

Page 190: Historia Geral e do Brasil

61

opiniões políticas, dentre elas a

defesa do republicanismo. Em virtude

de tais acontecimentos, ocorre um

incidente: o imperador se indispõe

com uma série de militares

simpatizantes à abolição e ao

republicanismo que haviam deixado

claro em público essas tendências.

Um dos punidos pelo Império por

estas tendências é Deodoro da

Fonseca, que era presidente da

província do Rio Grande do Sul e foi

destituído do cargo, o que contribuiu

para aumentar ainda mais o

descontentamento dos militares com

a coroa.

A questão religiosa - Segundo o

regime de padroado, o Império

brasileiro pagava os padres como

funcionários públicos e interferia

diretamente dentro dos assuntos da

Igreja no Brasil. D. Pedro II se coloca

contra a Igreja quando uma Bula

Papal passa a condenar a maçonaria.

Bispos brasileiros, seguindo a ordem

do Vaticano, haviam suspendido

irmandades com maçons. D. Pedro II

prende estes bispos, dando princípio a

uma grande crise entre a Igreja e o

Estado e com o pedido de bispos de

separação entre Estado e Igreja. Este

fato contribuiu para afastar a Igreja

do Império num momento em que a

crise da monarquia já adquiria forma.

A abolição no Ceará e no

Amazonas - Com toda a pressão

interna e externa e com a resistência

escrava, a abolição se tornará

inevitável. Primeiramente, as

províncias que praticamente não

tinham mais escravos abolem

unilateralmente a escravidão. É o caso

do Ceará e da Amazonas em 1884.

A abolição - Com um afastamento

provisório do monarca, sua filha

Isabel manda um projeto para o

Congresso com o fim imediato da

escravidão sem indenizações. É

aprovado e tem fim a escravidão no

país em 1888. No entanto, a maioria

dos escravos brasileiros foi libertada

pelas leis paliativas, ou fugiram, ou

compraram sua liberdade entre 1850

e 1888. Com a Lei Áurea, apenas 500

mil escravos são libertados. Isso

desfaz a base política imperial e

vários fazendeiros do Vale do Paraíba

viram os ‗republicanos de 14 de

maio‘.

A situação dos libertos - O fim da

escravidão no Brasil foi feito

gradualmente entre 1850 e 1888,

constituindo a maior transformação

social na história do Brasil. Isso não

quer dizer que esses ex-escravos

viraram pequenos proprietários ou

trabalhadores assalariados. Regimes

de trabalho opressivos similares à

escravidão prevaleceram no campo, o

que fez com que muitos libertos

fossem para as cidades. Alguns

abolicionistas defendiam uma reforma

agrária complementar à abolição que

desse terras aos libertos. Não foi

adiante no Império nem na República

pela obstinada defesa da propriedade

pelos parlamentares. Tais fatores

conduziram a um isolamento da

monarquia entre os principais grupos

sociais, tanto da aristocracia rural,

como dos setores urbanos e militares,

precipitando assim a proclamação da

república.

Questões de Vestibulares

1. ENEM 2007.

Antonio Rocco. Os imigrantes, 1910, Pinacoteca

do Estado de São Paulo.

Um dia, os imigrantes aglomerados na

amurada da proa chegavam à

fedentina quente de um porto, num

silêncio de mato e de febre amarela.

Santos. — É aqui! Buenos Aires é

aqui! — Tinham trocado o rótulo das

bagagens, desciam em fila. Faziam

suas necessidades nos trens dos

Page 191: Historia Geral e do Brasil

62

animais aonde iam. Jogavam-nos num

pavilhão comum em São Paulo. —

Buenos Aires é aqui! — Amontoados

com trouxas, sanfonas e baús, num

carro de bois, que pretos guiavam

através do mato por estradas

esburacadas, chegavam uma tarde

nas senzalas donde acabava de sair o

braço escravo. Formavam

militarmente nas madrugadas do

terreiro homens e mulheres, ante

feitores de espingarda ao ombro. Oswald de Andrade. Marco Zero II – Chão. Rio de Janeiro: Globo, 1991.

Levando-se em consideração o texto

de Oswald de Andrade e a pintura de

Antonio Rocco reproduzida acima,

relativos à imigração européia para o

Brasil, é correto afirmar que

a) a visão da imigração presente na

pintura é trágica e, no texto, otimista.

b) a pintura confirma a visão do texto

quanto à imigração de argentinos

para o Brasil.

c) os dois autores retratam

dificuldades dos imigrantes na

chegada ao Brasil.

d) Antonio Rocco retrata de forma

otimista a imigração, destacando o

pioneirismo do imigrante.

e) Oswald de Andrade mostra que a

condição de vida do imigrante era

melhor que a dos ex-escravos.

2. ENEM 2007. 1850 1871 1885 1888

Lei Eusébio

de Queirós - Fim

do tráfico negreir

o.

Lei do Ventre Livre – Liberdade para os filhos

de escravo

s nascido

s a partir dessa data.

Lei dos Sexagenári

os - Liberdade para os escravos

maiores de 60 anos.

Lei Áurea - Abolição

da escravatur

a.

Considerando a linha do tempo acima

e o processo de abolição da

escravatura no Brasil, assinale a

opção correta.

a) O processo abolicionista foi rápido

porque recebeu a adesão de todas as

correntes políticas do país.

b) O primeiro passo para a abolição

da escravatura foi a proibição do uso

dos serviços das crianças nascidas em

cativeiro.

c) Antes que a compra de escravos no

exterior fosse proibida, decidiu-se

pela libertação dos cativos mais

velhos.

d) Assinada pela princesa Isabel, a Lei

Áurea concluiu o processo

abolicionista, tornando ilegal a

escravidão no Brasil.

e) Ao abolir o tráfico negreiro, a Lei

Eusébio de Queirós bloqueou a

formulação de novas leis

antiescravidão no Brasil.

3. ENEM 2008. O abolicionista

Joaquim Nabuco fez um resumo dos

fatores que levaram à abolição da

escravatura com as seguintes palavras:

―Cinco ações ou concursos diferentes

cooperaram para o resultado final: 1.º)

o espírito daqueles que criavam a

opinião pela idéia, pela palavra, pelo

sentimento, e que a faziam valer por

meio do Parlamento, dos meetings

[reuniões públicas], da imprensa, do

ensino superior, do púlpito, dos

tribunais; 2.º) a ação coercitiva dos que

se propunham a destruir materialmente

o formidável aparelho da escravidão,

arrebatando os escravos ao poder dos

senhores; 3.º) a ação complementar

dos próprios proprietários, que, à

medida que o movimento se

precipitava, iam libertando em massa as

suas ‗fábricas‘; 4.º) a ação política dos

estadistas, representando as concessões

do governo; 5.º) a ação da família

imperial.‖ Joaquim Nabuco. Minha formação.

São Paulo: Martin Claret, 2005, p. 144 (com

adaptações).

Nesse texto, Joaquim Nabuco afirma

que a abolição da escravatura foi o

resultado de uma luta

A) de idéias, associada a ações contra a

organização escravista, com o auxílio de

proprietários que libertavam seus

escravos, de estadistas e da ação da

família imperial.

B) de classes, associada a ações contra a organização escravista, que foi

seguida pela ajuda de proprietários que

substituíam os escravos por

assalariados, o que provocou a adesão

Page 192: Historia Geral e do Brasil

63

de estadistas e, posteriormente, ações

republicanas.

C) partidária, associada a ações contra

a organização escravista, com o auxílio

de proprietários que mudavam seu foco

de investimento e da ação da família

imperial.

D) política, associada a ações contra a

organização escravista, sabotada por

proprietários que buscavam manter o

escravismo, por estadistas e pela ação

republicana contra a realeza.

E) religiosa, associada a ações contra a

organização escravista, que fora

apoiada por proprietários que haviam

substituído os seus escravos por

imigrantes, o que resultou na adesão de

estadistas republicanos na luta contra a

realeza.

4. UFRJ 2009.

− QUEIRA PERDOAR, MAS... COM

AQUELLE NEGRINHO NÃO PODE

ENTRAR.

− MAS É QUE EU NÃO POSSO

SEPARAR-ME DELLE: É QUEM ME

VESTE, QUEM ME DÁ DE COMER,

QUEM. ME SERVE EM TUDO, AFINAL!

− É QUE... ENFIM, EM ATTENÇÃO ÁS

ILLUSTRES QUALIDADES PESSOAES

DE TAO SABIO SOBERANO, CREIO

QUE AS NAÇÕES CIVILIZADAS NÃO

DUVIDARÃO EM ADMITTIL-O. (LEMOS,

Renato. Uma História do Brasil através da caricatura, 1840-2001. Rio de Janeiro: Bom Texto e Letra & Expressões Editoras, 2001, p. 13)

Explique de que maneira a charge

acima, de autoria de Ângelo Agostini,

expressa uma das ambigüidades

presentes na sociedade brasileira do

Segundo Reinado (1840-1889) em

relação à escravidão.

5. PUC 2009. Publicada em 1884, a

charge de Ângelo Agostini registra de

modo crítico o significado da Lei do

Ventre Livre (1871) no contexto da

sociedade do Brasil Imperial. Com

base nas informações contidas no

documento e no seu conhecimento

acerca do processo emancipacionista,

ASSINALE a única opção que NÃO

apresenta uma característica correta.

(A) Dentre os argumentos defendidos

pelos propagandistas abolicionistas a

partir de 1880, destaca-se a

valorização da Lei de 1871 vista como

um significativo passo em direção ao

desejado fim da escravidão no Brasil.

(B) Na prática, a Lei do Ventre Livre

pouco significou uma vez que os filhos

de escravos nascidos livres

continuaram a prestar serviços para

os senhores, mantendo-se os laços de

dependência pessoal.

(C) A Lei do Ventre Livre foi aprovada

numa conjuntura marcada pela

atuação do movimento

emancipacionista que defendia a

necessidade de se realizarem

reformas da instituição escravista.

(D) Os proprietários de terras e

escravos das áreas cafeicultoras não

foram favoráveis à Lei de 1871, uma

vez que essa significou a limitação da

autoridade do senhor sobre o destino

do pecúlio escravo.

(E) A Lei do Ventre Livre significou a

intervenção do Estado Imperial nas

relações entre senhores e escravos e

o reconhecimento legal das lutas dos

escravos pela liberdade.

Page 193: Historia Geral e do Brasil

64

Capítulo 13. O surgimento da República

Apresentação - Só foi possível

acontecer a proclamação da república

no Brasil por causa da conjugação de

forças dos setores urbanos com os

fazendeiros do Oeste paulista e o

Exército. Tal mudança no regime não

trouxe mudanças profundas ao

sistema, como por exemplo, não

houve avanços em termos de

democracia, isso fica evidente

sufrágio que, segundo os novos

critérios republicanos, fazia com que o

novo regime tivesse menos eleitores

do que na época do império.

A proclamação e os governos

militares

A última proposta monarquista -

Diante de várias pressões por

mudanças, o Imperador manda ao

Congresso um grupo de reformas que

incluíam: a ampliação do eleitorado,

incluindo todos os alfabetizados que

trabalhassem; autonomia para os

municípios; liberdade de culto;

Senado não-vitalício; aperfeiçoamento

do ensino; nova lei de terras

facilitando sua aquisição e a redução

dos direitos de exportação. Essas

reformas, se aprovadas, tornariam o

regime monárquico mais democrático

e igualitário do que acabou sendo a

Primeira República, no entanto, as

tais reformas foram barradas no

Congresso pelos senadores. O

Imperador, então, dissolveu o

Congresso e antes da nova reunião, o

Império caiu.

A Popularidade do Império -

Apesar da crise, o Império

encontrava-se no auge de sua

popularidade, devido à abolição da

escravatura. Um grupo abolicionista

chamado Guarda Negra, liderado por

José do Patrocínio, atacava

convenções republicanas e apoiava a

sucessão da Princesa Isabel.

O golpe - Com o Congresso

dissolvido, o general afastado

Deodoro da Fonseca liderou o golpe

contra o Império, criou um governo

provisório (1889-91) e convocou, em

seguida, a Assembléia Constituinte.

As primeiras medidas e a nova

Constituição 1891 - Durante a

Primeira República ou República

Velha, como ficou conhecido o período

entre 1889 e 1930, o Brasil foi

governado por treze presidentes. A

característica mais marcante desse

período reside no fato da

predominância da oligarquia cafeeira

que exerceu o poder político a favor

dos seus próprios interesses. Logo

que a República foi proclamada, o

Marechal Deodoro tomou algumas

decisões que depois foram

respaldadas pela nova Constituição,

algumas das principais são: a adoção

de federalismo, a concessão da

cidadania aos estrangeiros residentes

no Brasil, a separação entre Estado e

Igreja e a instituição do casamento e

do registro civil.

Os grupos republicanos - Havia

basicamente dois grandes grupos

republicanos. Um era ligado aos

interesses dos cafeicultores,

majoritariamente os cafeicultores

paulistas, era fortemente federalista e

defendia poucas mudanças sociais. O

outro era o grupo dos militares,

fortemente influenciado pelo

positivismo, centralista e defensor de

algumas reformas sociais. O segundo

grupo deu o golpe que derrubou o

Império e instituiu a República, mas

foi o primeiro que deu o tom da

República.

O federalismo - O federalismo era

defendido pelos fazendeiros, em

especial os de São Paulo – região

onde a cafeicultura mais se expandiu,

desbancando o Rio. Eles se viam

prejudicados com a centralização

monárquica e desejavam mais

poderes para as províncias (agora

chamados estados) e, principalmente,

queriam que a arrecadação dos

estados ficasse nos estados. Isso vai

acontecer na República, que vai

estabelecer que toda a arrecadação

com as exportações ficasse com o

governo estadual, enquanto que a

arrecadação com as importações

ficasse com a União.

Page 194: Historia Geral e do Brasil

65

Os governos militares - O grupo

dos militares e o grupo dos

federalistas, representados no

Congresso, logo entram em confronto.

Deodoro tomou medidas autoritárias,

tentou dissolver o Congresso, mas foi

obrigado a renunciar. Seu vice, eleito

indiretamente, Floriano Peixoto

(1891-94) deveria convocar novas

eleições, o que não fez, levando a

diversas revoltas pelo país.

As Revoltas - Primeiramente, há o

Manifesto dos trezes generais em

1892 pedindo eleições diretas para

presidente. Floriano reforma esses

generais. No ano seguinte, pelo

mesmo motivo, há a Revolta da

Armada no Rio de Janeiro e a

Revolução Federalista no Sul do país,

ambas massacradas duramente.

A consolidação da República -

Marechal de Ferro foi a alcunha

atribuída a Floriano Peixoto em

virtude de sua ação vigorosa contra

as rebeliões armadas ocorridas

durante o seu governo (A Revolta da

Armada e a Revolução Federalista).

Com o apoio do Exército e do PRP

(Partido Republicano Paulista),

Floriano consolidou o novo regime,

garantindo assim a sucessão

presidencial, consolidando também a

política da oligarquia cafeeira.

O impulso à industrialização

A industrialização - Desde a década

de 1880, inicia-se no país –

especialmente nas cidades do Rio e

São Paulo – um processo sólido de

industrialização, em função da gradual

adoção do trabalho livre e da

importação de imigrantes. Essas

indústrias receberão capital

acumulado no comércio e com a

cafeicultura e elas se restringem aos

bens de consumo não-duráveis:

tecidos, bebidas, alimentos etc. Não

há ainda indústrias de bens de

consumo duráveis e indústrias de

bens de capital relevantes. A

produção industrial do Distrito Federal

é mais importante do que a de São

Paulo inicialmente, isso vai se inverter

em 1920, quando a indústria paulista

supera a carioca.

O encilhamento - Desde os últimos

anos do Império, aumentara no Brasil

a demanda por moeda determinada

pela abolição da escravidão e pela

política de imigração, em

conseqüência da implantação do

trabalho assalariado. Visando atender

a tal necessidade, o ministro da

Fazenda de Deodoro da Fonseca, Rui

Barbosa, adotou uma política

emissionista para desenvolver a

industrialização no país e aumentar a

arrecadação do Estado. Contudo, essa

política emissionista gerou uma

inflação quase incontrolável, pois a

emissão de moeda não possuía bases

sólidas, ou seja, o dinheiro distribuído

no mercado era apenas papel sem

valor real. Essa política de emissão de

moeda foi chamada de encilhamento,

nome que tem origem no lugar do

hipódromo, onde se faziam as

apostas. Por fim, houve de fato, um

impulso à indústria no período,

contudo houve também uma grande

especulação.

Questões de Vestibulares 1. UERJ 2005. Poucos anos após sua

proclamação, a república no Brasil já

sofria contestações. A Revolta da

Armada, que eclodiu no governo de

Floriano Peixoto, refletiu as

insatisfações decorrentes da

implantação do sistema republicano

no país, somando-se a outras

rebeliões como a Federalista, ocorrida

na mesma época, no Rio Grande do

Sul. Esta última, apesar de ser uma

rebelião regional, também foi

influenciada pelas tensões políticas

que caracterizaram esse governo.

A) Explique um fator que tenha levado

os membros da Marinha a se

rebelarem contra o governo de

Floriano Peixoto.

B) Descreva a situação política do Rio

Grande do Sul durante esse governo,

de forma a explicar a aproximação

entre federalistas gaúchos e

integrantes da Revolta da Armada.

Page 195: Historia Geral e do Brasil

66

2. UERJ 2008. (...) a cor do governo

é puramente militar e deverá ser

assim. O fato foi deles, deles só,

porque a colaboração do elemento

civil foi quase nula. Aristides Lobo. Apud.

PENNA, Lincoln Abreu. Uma história da República. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

Aristides Lobo, político e jornalista,

era um republicano histórico e, apesar

de aplaudir a instituição da república

no Brasil em 1889, discordava da

forma como os militares no poder

organizavam o novo sistema de

governo.

Apresente duas características do

sistema político idealizado pelos

republicanos históricos e indique dois

segmentos sociais que apoiaram

essas idéias.

3. UERJ 2009. O olhar agudo de

Machado de Assis capta de forma

natural as alterações da dinâmica

social – alterações que culminariam

na abolição da escravidão, em 1888, e

na proclamação da República, no ano

seguinte. Um dos melhores retratos

que Machado faz daquele momento

está nesta página de Esaú e Jacó:

―A capital oferecia ainda aos recém-

chegados um espetáculo magnífico.

(...) Cascatas de idéias de invenções,

de concessões rolavam todos os dias,

sonoras e vistosas, para se fazerem

contos de réis, centenas de contos,

milhares, milhares de milhares,

milhares de milhares de milhares de

contos de réis. Todos os papéis, aliás

ações, saíam frescos e eternos do

prelo. (...) Nasciam as ações a preço

alto, mais numerosas que as antigas

crias da escravidão, e com dividendos

infinitos.‖ LUCIANO TRIGO. Adaptado de O

viajante imóvel – Machado de Assis e o Rio de Janeiro de seu tempo. Rio de Janeiro: Record, 2001.

A denominação da ação econômica

empreendida no momento histórico

retratado por Machado de Assis e

duas de suas principais conseqüências

estão corretamente apresentadas na

seguinte alternativa:

(A) Encilhamento – inflação e falência

de empresas

(B) Funding-loan – industrialização e

desvalorização da moeda

(C) Tarifas Alves Branco –

urbanização e concentração de renda

(D) Convênio de Taubaté –

endividamento e especulação

financeira

Page 196: Historia Geral e do Brasil

67

Capítulo 14. A República oligárquica 1894-1930

Apresentação - A aliança temporária

entre militares e cafeicultores contra o

Império não durou muito, e isso

porque ambos possuíam projetos

diferentes. Enquanto os primeiros

queriam melhores salários e a

ampliação dos efetivos das forças

armadas e não eram favoráveis a

autonomia dos estados, a aristocracia

rural de São Paulo e Minas Gerais

queriam garantir a supremacia política

do setor agrário-exportador, além de

estabelecer os meios tributários e

financeiros para assegurar sua

expansão. Após a saída dos militares

do poder e a chegada dos civis em

1894, deu-se a vitória do grupo liberal

e federalista dos cafeicultores e o

projeto político deste grupo foi

imposto como um todo. Instalou-se

uma república baseada nos poderes

locais e regionais, baseada num

liberalismo excludente e autoritário,

que perdurou até 1930 com poucas

modificações em seus elementos

essenciais.

O governo dos cafeicultores 1894-1930

Grandes cafeicultores - A base de

sustentação desse regime oligárquico

foram os grandes fazendeiros, em

especial os cafeicultores e dentro

deste grupo, principalmente os

cafeicultores paulistas.

A Política dos governadores - Foi

criada pelo segundo presidente civil

eleito diretamente, Campos Sales.

Essa política tinha por objetivo excluir

os conflitos entre a esfera estadual e

a esfera nacional e também o conflito

entre os três poderes. De acordo com

essa política, o presidente da

República apoiaria as oligarquias

regionais a elegerem seus

governadores e estes garantiriam a

eleição de parlamentares afinados

com o presidente da República. O

presidente, assim, teria base aliada

no Congresso e as oligarquias se

perpetuariam no poder estadual. As

peças fundamentais para o

funcionamento dessa política foram

principalmente duas: a ‗Comissão de

Verificação‘ e o Coronelismo.

A Política do café com leite - O

Partido Republicano era o maior

partido do país, no entanto, ele era

dividido em partidos estaduais. Assim

existia o Partido Republicano Paulista

(PRP), o Partido Republicano Mineiro

(PRM). Esses dois estados, Minas e

São Paulo, tinham as oligarquias mais

fortes e como eram os estados mais

populosos, possuíam também os

maiores colégios eleitorais. Assim, os

líderes do PRP e PRM passaram a se

revezar na presidência da República,

na chamada política do café com leite.

A Justiça eleitoral - Essa é mais

uma característica política da Primeira

República. Até então, não existia

Justiça Eleitoral, mas sim uma

‗Comissão de Verificação‘, fiscalizada

pelo Legislativo e pelo Presidente da

República. Dessa forma, a fiscalização

sempre apoiava o poder oligárquico

local.

O Coronelismo - Na época imperial,

os regionalismos foram sufocados

pelo poder centralizador da

monarquia. Com a instituição da

República e do federalismo, abriu-se

espaço para o fenômeno que ficou

conhecido como coronelismo. O termo

coronel vem de uma patente da

extinta Guarda Nacional. Esses

coronéis da República Velha tinham

(graças à Política dos Governadores,

que articulou os fazendeiros desde

suas localidades até o plano federal)

um poder sobre os eleitores locais e

impunham esse poder com a ajuda de

jagunços. Esse poder local era

facilitado pela inexistência ainda da

radiodifusão. Os coronéis ganhavam

algo em troca dos governantes pelo

voto em favor destes. Havia muita

fraude e muitos eleitores fantasmas.

Os governantes ainda beneficiavam

suas famílias e havia muito

nepotismo. A cidadania era

extremamente restrita.

Page 197: Historia Geral e do Brasil

68

A República para os cafeicultores

O Funding loan - O Estado brasileiro

adquiriu muitas dívidas no início da

República Velha e a arrecadação era

insuficiente, já que vinha apenas das

importações. Para pagar essas

dívidas, o governo precisou apelar

para um funding loan, ou seja, uma

forma de rolamento da dívida. O

governo pegou um empréstimo de

consolidação para pagar dívidas

anteriores em 1898. Como hipoteca

desse empréstimo o governo ofereceu

a renda da alfândega, sendo assim, se

o Brasil não conseguisse pagar a

dívida, o governo assegurava que os

credores poderiam ficar com a renda

dos impostos de importação.

A política de valorização do café -

Com o aumento descontrolado da

produção de café, o preço do produto

no mercado internacional sofre uma

queda vertiginosa, ocasionando uma

crise de superprodução. Em 1906,

tentando resolver o problema, os

governadores de São Paulo, Minas

Gerais e Rio de Janeiro – os maiores

produtores de café – reúnem-se em

Taubaté e decidem pela primeira

política de valorização do café.

Segundo esta política, esses governos

estaduais comprariam a produção

excessiva e aumentariam impostos

para novas produções. Cerca de 8,5

milhões de sacas foram compradas

entre 1906 e 1910. Com esta política,

o Estado tornou-se um mecanismo

para satisfazer os interesses da

oligarquia cafeeira que dirigia naquele

momento os rumos do Brasil.

A diversificação nas exportações -

O Brasil na Primeira República passa a

exportar outros produtos antes não

exportados. Assim, a borracha

amazônica é exportada. O cacau, o

algodão e o fumo além do açúcar no

Nordeste. Além dos produtos

tradicionais da pecuária, o Sul passa a

exportar a erva-mate. Porém, mesmo

com toda essa diversificação, o café

era o principal produto de exportação

brasileiro, fornecendo o país 60% do

mercado mundial do produto.

A Industrialização limitada - A

industrialização no período, como já

foi assinalado, era limitada. Além

disso, era dependente da importação

de máquinas estrangeiras. O governo

ajudava um pouco aumentando taxas

de importação de produtos que

competiam com a indústria nacional.

A limitação e a dependência da

industrialização nacional ficaram

patentes com a Primeira Guerra

Mundial (1914-8), quando o país teve

dificuldade de conseguir máquinas,

equipamentos e matérias-primas no

mercado internacional. O resultado foi

uma estagnação no período, com uma

leve redução da produção industrial

em 1918.

Questões de Vestibulares

1. UERJ 2002. ―A proclamação da

República em 1889, ao promover a

descentralização político-

administrativa do país, gerou

expectativas de uma efetiva

autonomia no agora Estado do Rio de

Janeiro. A implantação da República

Federativa do Brasil coincidiu, no

Estado do Rio, com sérias dificuldades

econômicas e financeiras que, em fins

da década de 1890, chegaram a uma

situação limite, muito embora esse

quadro de crise tenha sido

entremeado por breves conjunturas

de recuperação. Além desses

problemas de ordem econômica, o

exercício, pelos fluminenses, da

autonomia que o federalismo oferecia,

foi dificultado, mais uma vez, pela

proximidade da capital federal, a

ponto de se tornar voz corrente que a

política estadual era decidida na rua

do Ouvidor.‖ (FERREIRA, Marieta de M.

Política e poder no Estado do Rio de Janeiro na República Velha. In: Revista Rio de Janeiro. UFF, dezembro de 1985.)

O Estado do Rio de Janeiro, apesar da

nova estrutura política decorrente da

Proclamação da República,

apresentou, na virada do século XIX,

características que o distinguiam dos

estados de São Paulo e Minas Gerais.

Uma dessas características, destacada

no texto acima, é:

(A) enfraquecimento do poder político

local

Page 198: Historia Geral e do Brasil

69

(B) retomada do poder econômico das

elites locais

(C) controle do governo da União

pelos políticos locais

(D) subordinação à crescente

intervenção econômico-financeira do

poder central

2. PUC 2004.

"Em 1900 foi em Manaus ( ... ) época

de um esplendor artístico em

desproporção com a paisagem

agrestemente tropical que rodeava a

um tanto postiça capital do Amazonas

( ... ). Já Manaus tivera, com efeito,

bonde elétrico antes das Capitais do

Sul, afora o Rio e São Paulo. Bonde

elétrico, praças asfaltadas, porto

eletrificado - tudo antes de outros

Estados..." Gilberto Freire IN: Nosso século.

vol.1 São Paulo, Abril Cultural, 1980, p. 248.

Ao longo principalmente da última

década do século XIX e da primeira

década do século seguinte, a

Amazônia viveu um surto de

prosperidade responsável pelas

transformações referidas no trecho

acima e cuja obra-símbolo é o Teatro

Amazonas, em Manaus. Esta

prosperidade foi responsável também

pelo movimento migratório em

direção à região, evidenciado pelo

crescimento populacional a que se

assistiu entre 1872-1900. No curso

desses anos, a população do Pará e

do Amazonas passou de 329.000 para

695.000 habitantes.

a) INDIQUE a que atividade

econômica esta prosperidade está

relacionada.

b) IDENTIFIQUE de que região era

proveniente a grande maioria

daqueles que migraram para a região

amazônica nessa época e ANALISE as

condições verificadas em sua região

de origem que atuaram como fatores

impulsionadores desse movimento

migratório.

Page 199: Historia Geral e do Brasil

70

Capítulo 15. As Rebeliões da República Velha

Apresentação - Após a proclamação

da república, ocorreram algumas

rebeliões em conseqüência das

alterações provocadas pelo

capitalismo, que dentre outras coisas,

foi responsável no Brasil pelo fim da

escravidão e a ascensão da república.

a expansão do capitalismo

desestabilizou antigas formas de

organização e dominação sociais,

gerando protestos contra a opressão e

a miséria, no entanto, tais

movimentos não possuíam projetos

políticos definidos e se confundiram

muitas vezes com aspirações

religiosas. Tais características

explicam o isolamento e o fracasso

dessas rebeliões frente a dura

repressão do poder do Estado.

As Revoltas rurais

Canudos 1893-97 - Assim como o

Contestado, essa foi uma revolta

rural, contra a oligarquia e com

características messiânicas, com uma

religiosidade acentuada.

Canudos, local livre do

mandonismo - Desde 1870, o beato

Antônio Conselheiro percorria o sertão

nordestino com seus fiéis construindo

instituições como igrejas, escolas e

orfanatos. Ele e seus fiéis se

instalaram em Canudos, no sertão

baiano, formando ali uma comunidade

que, em conseqüência das pressões

locais de civis e religiosos, decidiu

romper com o mundo exterior,

organizando uma comunidade

autônoma, com produção própria para

as suas necessidades.

O cerne da questão - Muitos

camponeses e empregados de

fazendeiros seguiram para o arraial de

Canudos e lá foram recebidos. Isso

fere o interesse dos fazendeiros da

região, que começam a se ver sem

braços em suas fazendas. Tantas

pessoas para lá foram que a cidade

chegou a ter quase 30 mil habitantes.

A Igreja Católica passou a condenar

Antônio Conselheiro e os fazendeiros

pediram a intervenção militar no local.

A repressão - Foram enviadas quatro

expedições para o local e a população

do arraial resistiu. Fez-se uma

propaganda de que se tratava de uma

resistência monarquista, o que não

era verdade. A quarta expedição com

8 mil homens do exército massacrou

com extrema violência o arraial em

1897.

A Guerra do Contestado 1912-

1916 - Trata-se da maior revolta do

período, ocorreu na divisa entre os

estados do Paraná e de Santa

Catarina, em uma região contestada

pelos dois estados. Assim como

Canudos, foi uma revolta contra o

mandonismo local e também com

características messiânicas, sendo a

comunidade que promoveu a rebelião

também profundamente religiosa.

A comunidade - Os monges João

Maria e depois José Maria lideraram

um grupo de pessoas desalojadas pela

construção de uma ferrovia, formando

uma comunidade de crentes que

praticava um catolicismo rústico,

representados pelos citados

―monges‖, eles foram expulsos de

todos os lugares que passaram. Eles

se instalaram em um local, fundando

lá uma ―cidade santa‖, onde fazem

sua produção e também saques nas

regiões vizinhas. A comunidade sofreu

sucessivas e violentas incursões do

Exército, até ser massacrada em

1916.

O Cangaço ou banditismo social

1870-1940 - Fenômeno que ocorreu

no nordeste brasileiro, região cujo

sistema produtor (o grande latifúndio)

encontrava-se em decadência em

virtude da crise enfrentada pelo

comércio dos seus tradicionais

produtos, o açúcar e algodão. Estes

produtos nordestinos, em baixa nos

mercados internacionais, foram

abandonados pelos governos

republicanos agravando a situação

econômica do nordestino, em especial

a dos sertanejos. Acrescentado a crise

na produção agrícola, no final do

século XIX, o nordeste brasileiro já

enfrentava muitos dos seus

tradicionais problemas estruturais:

seca, latifúndios em crise, hiper-

exploração da mão-de-obra, etc.

Page 200: Historia Geral e do Brasil

71

Nesse ambiente, floresceram

principalmente duas opções

ideológicas para enfrentar as duras

condições de vida: o messianismo (a

crença na salvação pelo milagre, o

mito da superação religiosa dos

problemas cotidianos) e o cangaço.

Nas ações do cangaço, grupos de

pessoas invadiam e saqueavam

fazendas, lugarejos e cidades com o

uso da violência. Seu expoente maior

foi Virgulino Ferreira, o Lampião, que

atuou como líder de um grupo

cangaceiro na região entre 1920 a

1938.

As Revoltas urbanas

A Revolta da Vacina 1904 -

Durante toda a segunda metade do

século XIX, a cidade do Rio de Janeiro

foi lugar de várias e terríveis

epidemias: de varíola, febre amarela,

peste bubônica e cólera. Milhares de

pessoas morriam e não conseguia

erradicar essas doenças.

Bonde tombado pelos populares durante as

manifestações que ficaram conhecidas como a Revolta da Vacina no Rio de Janeiro.

As reformas Pereira Passos -

Rodrigues Alves (1902-6) foi eleito

presidente com o projeto de melhorar

o porto e sanear a cidade do Rio de

Janeiro. Ele indicou como interventor

da cidade (prefeito não eleito) Pereira

Passos, e o médico sanitarista

Oswaldo Cruz para resolver o

problema da saúde. A principal

reforma realizada foi a construção de

um novo e moderno porto na cidade.

Porém a reforma incluiu também a

construção de amplas avenidas,

desmontes de morros e destruição

dos cortiços. As pessoas que viviam

nos lugares onde passavam as

avenidas projetadas foram deslocadas

à força. No campo da saúde, houve

uma tentativa de desinfestação dos

ratos que multiplicavam-se pela

cidade e decidiu-se pela vacinação

obrigatória contra a varíola.

A revolta - A campanha da vacinação

obrigatória não foi acompanhada de

uma campanha de esclarecimento

prévio da população, e esta duvidava

da real capacidade da vacina. A

população mais pobre que já havia

sido despejada de suas casas era

agora obrigada a se vacinar, e em

meio ao intenso controle por parte

das autoridades, revoltou-se. Criou-se

uma liga contra a vacinação

obrigatória, inclusive com a presença

de políticos. A insurreição contou com

revolta militar, barricadas nas ruas,

depredação de bondes, de lojas e

órgãos públicos. Houve grande

repressão, mas a obrigatoriedade da

vacina deixou de existir.

A Revolta da Chibata 1910 - Desde

finais do século XIX, os homens que

compunham a marinha do Brasil,

eram muitas vezes recrutados à força

dentre os considerados ‗vagabundos‘.

A posição destes indivíduos dentro do

corpo militar da marinha era similar

aquela dos antigos escravos, inclusive

recebendo punição com castigos

físicos, em especial, as chibatadas.

A revolta - Os marinheiros de quatro

navios se revoltaram, mataram seus

superiores e fizeram duas exigências:

o fim dos castigos físicos e a melhoria

da alimentação recebida. Sob a

liderança de um marinheiro negro,

chamado João Cândido, ameaçaram

bombardear a cidade.

O fim do movimento - O governo

aceitou as exigências e ‗concedeu‘

anistia aos revoltosos. Terminada a

rebelião, todos os revoltosos foram

presos, sendo desconsiderada a

garantia dada pelo governo. Muitos

deles morreram nas prisões.

Questões de Vestibulares 1. UFRJ 2006. “A revolta deixou

entre os participantes um forte

sentimento de auto-estima,

indispensável para formar um

Page 201: Historia Geral e do Brasil

72

cidadão. Um repórter de A Tribuna

ouviu de um negro acapoeirado frases

que atestam esse sentimento.

Chamando sintomaticamente o

jornalista de cidadão, o negro afirmou

que a sublevação se fizera para “não

andarem dizendo que o povo é

carneiro”. O importante – acrescentou

– era “mostrar ao governo que ele

não põe o pé no pescoço do povo.”” Fonte: CARVALHO, José Murilo de. ―Abaixo a vacina‖, in: Revista Nossa História. Ano 2, nº. 13, novembro 2004, p.73-79.

A Revolta da Vacina (1904) a que se

refere o texto é considerada a

principal revolta popular urbana da

Primeira República (1889-1930).

a) Cite e explique dois motivos

geradores de insatisfações que

levaram a população da cidade do Rio

de Janeiro a rebelar-se em 1904.

b) Identifique dois movimentos

populares na área rural, à época da

Primeira República.

Page 202: Historia Geral e do Brasil

73

Capítulo 16. A Crise dos Anos 20

Apresentação - Apesar de

importantes, as rebeliões ocorridas

anteriormente não tinham objetivos

nem um projeto para superar a

República corrupta e excludente. Já

nos anos 20, de todos os lados

apareceram críticas e projetos

alternativos à República liberal. Esses

movimentos iriam desembocar na

Revolução de 1930.

Os Sintomas da crise

As novas valorizações - Houve mais

dois períodos de valorização do café,

de 1917 a 1920 e de 1921 a 1930. A

produção do café enfrentava o

problema da superprodução, pois

havia margem no mercado

internacional para absorver toda a

oferta. A valorização incluiu uma

política emissionista e desvalorização

cambial, o que comprometeu a saúde

financeira da União e acarretou em

carestia. Dessa forma, toda a

população pagava pela política de

valorização do café, e

consequentemente produziu

indignação e revoltas. Em novembro

de 1924, o então presidente Artur

Bernardes apesar de partidário da

‗política do café-com-leite‘,

abandonou a defesa do café e a partir

de então o Estado de São Paulo

decidiu assumir sozinho a política de

valorização.

O tenentismo - Foi um movimento

que eclodiu entre militares de média e

baixa patente durante os últimos anos

da República Velha que teve origem

na insatisfação desse grupo com a

predominância do poder oligárquico.

Teve grande adesão das oligarquias

dissidentes (formadas principalmente

nos Estados do Rio de Janeiro, Rio

Grande do Sul, Bahia e Pernambuco).

O movimento tenentista foi um fator

fundamental para a crise política da

Primeira República. Os jovens

militares sublevaram-se contra o

regime oligárquico executando a

forma mais acentuada de contestação

às oligarquias durante toda a década

de 20. Seu projeto político, apesar de

não muito preciso e, às vezes, até

contraditório caracterizava-se pelo

reformismo radical das estruturas

políticas da época. Suas principais

reivindicações eram: uma reforma

constitucional que trouxesse critérios

mais democráticos ao cenário político

nacional; o voto secreto, visando por

fim aos episódios de fraude e

corrupção que marcavam as eleições,

maior controle sobre o poder

executivo, e a moralização dos

representantes do Poder Legislativo.

Contudo, essas reivindicações não

eram unânimes no grupo, alguns

oficiais defendiam a presença de um

poder executivo forte e centralizado.

Durante as eleições de 1922,

aproveitando a dissidência de algumas

oligarquias estaduais, os tenentes

apoiaram a candidatura de Nilo

Peçanha em oposição ao mineiro

Arthur Bernardes (politicamente

comprometido com as demandas dos

grandes cafeicultores), enfraquecendo

a coesão ideológica tenentista. Com a

vitória eleitoral das oligarquias, a

primeira manifestação tenentista veio

à tona com uma série de levantes

militares que ficaram marcados pelo

episódio dos 18 do Forte de

Copacabana, ocorrido no Rio de

Janeiro, em julho de 1922. Duas

novas revoltas militares eclodiram nos

dois anos seguintes, uma no Rio

Grande do Sul, em 1923, e outra em

São Paulo, em 1924, mostrando que a

presença do tenentismo no cenário

político se reafirmava. Após terem

suas pretensões políticas sufocadas

pelos partidários do governo, esses

dois grupos revoltosos se juntaram

para formar a guerrilha conhecida

como Coluna Prestes. Entre 1925 e

1927, a Coluna, composta por civis e

militares armados cruzou mais de 24

mil quilômetros sob a liderança do

capitão Luís Carlos Prestes.

Posteriormente, a falta de apoio

popular e as perseguições promovidas

pelo governo acabaram dispersando

esse movimento. Prestes, queixando-

se da ausência de um conteúdo

ideológico mais consistente à causa

militar, ingressou no Partido

Comunista Brasileiro e, em 1931,

viajou para a União Soviética,

Page 203: Historia Geral e do Brasil

74

voltando ao Brasil somente quatro

anos depois.

O governo Artur Bernardes 1922-

1926 - O PRP e o PRM arranjaram a

eleição do mineiro Artur Bernardes

para presidente em 1922 e do

paulista Washington Luís em 1926. As

oligarquias gaúcha, baiana,

pernambucana e fluminense se

revoltam contra o arranjo e tentaram

impedir a posse de Bernardes. Esse

assumiu e declarou estado de sítio.

Ocorre, então, uma série de revoltas

chamadas tenentistas como a dos 18

do Forte e a Coluna Prestes.

A Coluna Prestes 1925-1926) -

Duas revoltas tenentistas se deram

em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

Os dois grupos se juntaram e

formaram a Coluna Prestes, sob

liderança do militar Luís Carlos

Prestes. Essa coluna percorreu o

interior do país lutando contra os

exércitos legalistas, obtendo seguidas

vitórias. Desfez-se logo em seguida.

Os membros da coluna defendiam o

voto secreto, o fim das fraudes

eleitorais, castigo para os corruptos a

liberdade para os presos políticos de

1922, dentre eles membros da revolta

dos ‗18 do forte‘.

A semana de arte moderna - Tido

como um grande marco na História da

Arte e da Cultura no país, aconteceu

em São Paulo e apresentou as novas

tendências modernistas no campo das

artes. O grupo idealizador do evento,

inspirado nas novas tendências da

arte internacional, propunha o

rompimento com o simbolismo e o

parnasianismo. Parte desses artistas

se posicionaram contrários ao

governo, produzindo criticas à

República em suas estruturas

políticas. Outra parte preferiu não

misturar arte com política e defendeu

a arte pela arte.

O movimento operário na Primeira República

Surgimento do operariado - Com a

industrialização do país a partir de

1880, surgiu o operariado. Desde o

inicio, houve uma grande presença de

estrangeiros entre os operários,

principalmente portugueses, italianos

e espanhóis, mas houve também um

grande contingente de trabalhadores

nacionais.

Situação dos operários - Recebendo

baixos salários, com jornadas de

trabalhos que variavam entre 12 a 14

horas, inclusive para mulheres e

crianças, desprotegidos contra os

abusos patronais, os operários viviam

uma relação conflituosa com a classe

patronal. Trabalhavam em precárias

condições de higiene, muitos tinham

problemas de saúde, como a

pneumonia que se alastrava nas

fábricas de vidro. A única lei

trabalhista existente até 1930 foi a da

regulamentação do trabalho infantil

de 1927.

A posição do governo - Para

Washington Luís, o último presidente

da República Velha, ‗a questão social

era um caso de polícia‘, e assim a

complexa relação entre patrões e

empregados complicava-se cada vez,

sem a intervenção do governo. Não se

coibia a formação de sindicatos e

também não havia legislação

trabalhista, a relação entre capital e

trabalho era tida como questão

privada. Greve e outros protestos

operários eram duramente reprimidos

pela polícia.

O movimento operário - No início

da formação do movimento operário

no Brasil, os principais grupos que se

mobilizaram para esse fim eram

constituídos por imigrantes europeus,

fortemente influenciados pelos ideais

anarquistas e comunistas. Contando

com um inflamado discurso, esses

trabalhadores imigrantes convocavam

seus companheiros a se unirem em

associações que, futuramente, seriam

determinantes no surgimento dos

primeiros sindicatos brasileiros. Com

o passar do tempo, as reivindicações

ganharam maior volume e, dessa

forma, as manifestações e greves

alcançaram maior expressão. Na

primeira década do século XX, o Brasil

já tinha um contingente operário com

mais de 100 mil trabalhadores,

concentrados principalmente nos

estados do Rio de Janeiro e São

Paulo. Nos primeiros anos do século

XX, pequenas greves eclodiram nos

maiores centros industriais. Operários

Page 204: Historia Geral e do Brasil

75

fabris, alfaiates, portuários,

mineradores, carpinteiros e

ferroviários foram os primeiros a se

manifestar exigindo melhores

condições de trabalho. Percebendo o

fortalecimento do movimento, o

governo promulgou uma lei

expulsando do país os estrangeiros

que fossem considerados uma ameaça

à ordem e a segurança nacional. Em

1917, em São Paulo, foi organizada

uma grande greve para protestar

contra a falta de atitude do governo

para com as exigências dos

trabalhadores. A tensão tomou conta

das ruas da cidade e houve um

violento confronto entre operários e

policiais. Passadas todas essas

agitações, a ação grevista serviu para

a formação de um movimento

operário mais organizado sob a

orientação de um partido político, o

Partido Comunista Brasileiro (PCB),

fundado em 1922.

O Anarquismo - Foi o grupo mais

forte no movimento operário até os

anos vinte, principalmente em São

Paulo. Organizaram a grande greve de

1917. Defendiam a liberdade total do

indivíduo, a cooperação voluntária, a

ação direta, o fim do Estado e de toda

a forma de poder e hierarquias. Eram

obreiristas e insistiam em temas com

pouca adesão nas camadas populares,

como anticlericalismo e

antimilitarismo.

O Socialismo - Assim como os

trabalhistas, eram menos numerosos

que os anarquistas. Defendiam

reformas trabalhistas, reformas

dentro do sistema político (uma vez

que tinham como objetivo a criação

de uma sociedade socialista), o

sufrágio universal, a distribuição de

renda, o divórcio, o imposto de renda

e imposto sobre herança.

O Trabalhismo - Considerado uma

espécie de socialismo reformista, foi

importante no Rio de Janeiro.

Defendia a cooperação entre

empresários e patrões e ganhos

graduais conseguidos em

reivindicações pacíficas.

A fundação do PCB 1922 - Com a

Revolução Russa de 1917, o

movimento comunista ganhou força

no mundo em detrimento de outras

vertentes operárias. Assim,

anarquistas e membros de outros

grupos ideológicos fundaram, em

1922, o Partido Comunista do Brasil.

Este foi fruto da euforia provocada

pela vitória da Revolução Bolchevique

na Rússia. Assim como os comunistas

russos queriam transformar a

questões econômicas em luta política,

e ao contrário dos anarquistas que

defendiam o fim do Estado. Os

comunistas brasileiros tinham como

objetivo o controle do Estado,

transformando-o numa ‗Ditadura do

proletariado‘.

Questões de Vestibulares

1. UERJ 2006.

(Correio da Manhã, 25/07/1917)

7 (O Globo, 15/05/2005)

A manchete do Correio da Manhã e a

caricatura de Chico Caruso retratam

diferentes momentos do movimento

operário brasileiro. Nas duas

primeiras décadas do século passado,

esse movimento se estruturou

principalmente sob a influência da

ideologia anarquista; já no final da

década de 1970, sob a liderança de

Lula, o movimento sofreu influência

de idéias socialistas. As características

que identificam, respectivamente, tais

ideologias no movimento operário

brasileiro são:

(A) gestão econômica comunitária –

participação política pela

representação parlamentar

Page 205: Historia Geral e do Brasil

76

(B) crença no acordo com patrões e

governo – direito à liberdade religiosa

e de atuação política

(C) supressão do Estado e das formas

de repressão – livre organização dos

indivíduos e da economia

(D) combate às relações de produção

capitalista – substituição de partidos

operários por organizações sindicais

2. UERJ 2006.

(PEREIRA, R.F. Revista do estudante. Rio de

Janeiro: Arquivo Nacional, 2002.)

No ano de 1922 foi um marco na

transformação da sociedade brasileira,

durante o qual se assistiu a diversos

movimentos de contestação da

ordem, além das comemorações do

Centenário da Independência.

Caracterizam a década de 1920 os

seguintes acontecimentos históricos:

(A) eclosão da Revolta da Vacina e

crescimento da Aliança Liberal

(B) instalação da Semana de Arte

Moderna e organização dos sindicatos

corporativistas

(C) início da reforma urbana do Rio de

Janeiro e instituição da Política dos

Governadores

(D) rebelião tenentista do Forte de

Copacabana e fundação do primeiro

partido comunista brasileiro

3. PUC 2009. A partir da observação

da pintura de Tarsila do Amaral e de

seus conhecimentos sobre a

conjuntura histórica das décadas de

1920-30 no Brasil, EXAMINE as

afirmativas a seguir:

(Operários, 1933, pintada por Tarsila do

Amaral.)

I - Na tela Operários, Tarsila do

Amaral criticou a situação dos

trabalhadores urbanos no Brasil da

época, representando-os com uma

expressão facial semelhante,

indicativa de cansaço e monotonia.

II - Na pintura de Tarsila do Amaral, a

paisagem da fábrica ao fundo e os

trabalhadores de diferentes origens

étnicas, no primeiro plano,

representam o crescimento industrial

e urbano do Brasil ao longo da década

de 20.

III - No ano de 1922,

especificamente, a criação do Partido

Comunista, a atuação do movimento

tenentista e a Semana de Arte

Moderna sinalizaram mudanças no

panorama político e cultural brasileiro.

IV - Ao assumir o poder em 1930,

Getúlio Vargas atenderia algumas das

reivindicações dos trabalhadores

urbanos ao instituir a jornada de 8

horas no comércio e na indústria, a

carteira de trabalho, a lei de férias e a

regulamentação do trabalho da

mulher e do menor. ASSINALE a

alternativa correta.

(A) Somente as afirmativas I e II

estão corretas.

(B) Somente as afirmativas I e III

estão corretas.

(C) Somente as afirmativas I, II e III

estão corretas.

(D) Somente as afirmativas II, III e

IV estão corretas.

(E) Todas as afirmativas estão

corretas.

4. UERJ 2009. A única lei de

legislação operária que teve larga

aplicação é aquela que um advogado

dos fazendeiros de São Paulo, um

ilustre Adolfo Gordo qualquer,

ampliou: a lei de expulsão dos

Page 206: Historia Geral e do Brasil

77

estrangeiros do território da república,

aplicada aos operários mais ou menos

estrangeiros que se organizassem em

liga de resistência e cuidassem dos

próprios interesses. Presente Álvaro

de Oliveira Monteiro (3ª Testemunha),

portuguez, com trinta e cinco anos de

idade, solteiro, padeiro, residente à

rua Dois de Fevereiro nummero

cinquenta e nove, sabendo ler e

escrever, inquirido disse que hoje,

cerca de sete horas da manhã,

conduzia um cesto de pão a fim de

distribuir tal alimento a freguesia e ao

passar pela rua Doutor Dias da Cruz

um grupo de grevistas e empregados

da padaria o forçaram a largar o cesto

de pão no qual atearam fogo,

impedindo assim que elle declarante

exercesse o seu commercio; que

desse grupo tomavam parte os

acusados presentes que foram presos,

tendo os demais conseguido se

evadirem. Brasil: Arquivo Nacional, 7ª

Pretoria Criminal, Freguesias de Inhaúma, Irajá e Jacarepaguá – 1912-1922 (Fundo 72), Ano: 1912, Notação: 72.0465.

Os textos acima apontam para um

quadro desolador da situação da

classe trabalhadora brasileira na

Primeira República. O primeiro foi

escrito por um militante operário, e o

segundo é parte integrante de um

arquivo policial da época. Ambos

demonstram tanto a ótica sob a qual

as elites políticas viam o mundo do

trabalho quanto a fragilidade do

movimento operário. Indique quatro

razões que contribuíram para que

esse movimento, no início do século

XX, se encontrasse na situação

descrita nos fragmentos.

Page 207: Historia Geral e do Brasil

78

Capítulo 17. A Revolução de 1930

Apresentação - Foi um movimento

armado composto por oligarquias

dissidentes e militares que teve

origem na cisão das antigas

oligarquias. Este movimento depôs o

presidente Washington Luís e

ocasionou, em 1930, a emergência ao

poder de uma nova figura política no

cenário nacional: Getúlio Vargas. Essa

revolução marca o fim da República

Velha e de suas estruturas políticas.

Tem início a Era Vargas e com ela o

Estado passa a ser o grande

incentivador da industrialização que,

doravante, se diversificará.

A crise de 1929 e o golpe de 30

A crise de 29 e o Brasil - A crise de

1929 e a depressão dos anos 30 foi a

maior crise do capitalismo de todos os

tempos. Teve início nos EUA e teve

importantes desdobramentos no resto

do mundo, afetando todos os países

capitalistas. No Brasil a Depressão de

29 foi responsável pela

desorganização da economia cafeeira,

fato este que conduziu o governo à

política de queima do café, isso,

porém, não foi um fenômeno

unicamente brasileiro, a França

também queimou trigo, a Argentina

abateu o gado e os Estados Unidos

desmontou carros nas fábricas.

O Governo Washington Luís - O

governo Washington Luís (1926-30)

não tinha corrido pacificamente após

o turbulento governo Artur Bernardes

(1922-6). Muito pelo contrário, em

1927 promulgou a Lei Celerada que

censurava a imprensa e restringia o

direito de reunião. O crescimento da

indústria no Brasil fez surgir uma

burguesia industrial. Esta se

transformou num poderoso grupo

social com prestígio e força econômica

suficientes para exigir do governo

uma política que atendesse aos seus

interesses. Contudo, as reivindicações

da burguesia industrial chocavam-se

com aquelas das oligarquias

cafeicultoras. Nesse panorama de

conflitos, o governo republicano não

foi capaz de acomodar as divergências

e as tensões que afloravam até

mesmo entre as oligarquias agrárias.

No governo de Washington Luís, tais

conflitos tornaram-se mais agudos e

até mesmo entre os próprios

cafeicultores começaram a surgir

divergências.

A Questão sucessória - O

presidente indicou um paulista pra lhe

suceder – Júlio Prestes –, quebrando

o pacto do café-com-leite. Ele

pretendia com isso dar continuidade a

política de valorização do café.

A formação da Aliança Liberal - O

presidente do Estado de Minas e

membro do PRM, Antônio Carlos,

aliou-se aos gaúchos e paraibanos,

fundando a Aliança Liberal. Esta

lançou o gaúcho Getúlio Vargas para

presidente. A Aliança Liberal defendia

uma série de reformas, dentre elas, o

voto secreto, a anistia política, leis

trabalhistas e assistência ao

trabalhador.

Getúlio Vargas, um dos principais articuladores

da ‗Revolução de 30‘

O Golpe de 30: Sob um clima de

desconfiança e tensão, Júlio Prestes

foi considerado vencedor das eleições

de 1930. Mesmo com a derrota dos

liberais, um golpe armado ainda era

cogitado. Com o assassinato do liberal

João Pessoa, candidato a vice na

chapa de Getúlio, em julho do mesmo

ano, o movimento articulou a

derrubada do governo oligárquico com

o auxílio de grupos militares. Depois

de controlar os focos de resistência

nos estados, A Aliança Liberal e o

grupo tenentista do Exército

chegaram ao Rio de Janeiro, em

novembro de 1930, tomou o poder,

empossando Getúlio Vargas

provisoriamente, iniciando a chamada

Era Vargas. Getúlio ficaria por quinze

anos no poder, entre 1930 e1945 e,

Page 208: Historia Geral e do Brasil

79

logo depois, seria eleito pelo voto

popular voltando à presidência entre

os anos de 1951 e 1954.

As primeiras medidas do governo provisório

Os interventores - Após o golpe, foi

instalado um governo provisório, de

1930 a 1934, chefiado por Getúlio

Vargas, e assim teve início a

centralização do político. O Congresso

e as Assembléias Legislativas

estaduais foram dissolvidos. Os

tenentes, conhecidos adversários das

antigas oligarquias, foram nomeados

interventores e encarregados de

retirar do poder as velhas oligarquias

estaduais. No entanto, apesar de

ocuparem importantes cargos no

governo, os tenentistas não

demoraram a demonstrar novamente

insatisfação e a aliança entre

tenentistas e o governo logo depois

foi desfeita.

A nova postura ante a questão

social - Em 1930 ainda, Vargas

reformulou a máquina do governo,

criando o Ministério do Trabalho,

Indústria e Comércio. A questão social

que antes era considerada caso de

polícia, passou a ser questão política,

tratada dentro da esfera do Estado.

O novo código eleitoral - Em 1932,

foi publicado o Novo Código Eleitoral

que sepultaria toda a estrutura

política da República Velha. Nele,

previa-se o voto secreto, o voto

feminino e a representação classista –

representação de deputados eleitos

pelos sindicatos de trabalhadores e

sindicatos patronais.

Os institutos - Outra ruptura na

ação do Estado fica clara na criação

dos institutos de planejamento e

assessoramento técnico. São eles:

Instituto Brasileiro do Café (IBC),

Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA),

Instituto Nacional do Mate (INM),

Instituto Nacional do Pinho (INP) etc.

Esses institutos eram órgãos do

Estado que deveriam planejar a

produção e assessorar os produtores,

apresentando uma nova função do

Estado perante a agricultura e o

problema da superprodução agrícola.

A Revolução constitucionalista de

1932 - Os antigos oligarcas paulistas

exigiram, em 1932, um interventor

paulista e civil no governo do estado

de São Paulo. Vargas atendeu

somente a primeira exigência e São

Paulo respondeu com a ‗Revolução

Constitucionalista‘, que foi esmagada

em três meses pelas forças do

governo federal. O enfrentamento

com São Paulo representou uma forte

ruptura do governo com as estruturas

políticas da República Velha.

O rompimento com os tenentes -

Vargas rompeu com os membros do

tenentismo durante a ‗Revolução

Constitucionalista‘ de 1932. Isso

porque os ‗tenentes‘ se recusaram a

reprimir a revolta paulista. O

movimento tenentista perdeu força

depois disso e se dissolveu em meios

aos grandes movimentos políticos

nacionais dos anos 30.

Questões de Vestibulares

1. ENEM 2007. São Paulo, 18 de

agosto de 1929.

Carlos [Drummond de Andrade],

Achei graça e gozei com o seu

entusiasmo pela candidatura Getúlio

Vargas – João Pessoa. É. Mas veja

como estamos... trocados. Esse

entusiasmo devia ser meu e sou eu

que conservo o ceticismo que deveria

ser de você. (...).

Eu... eu contemplo numa torcida

apenas simpática a candidatura

Getúlio Vargas, que

antes desejara tanto. Mas pra mim,

presentemente, essa candidatura

(única aceitável,

está claro) fica manchada por essas

pazes fragílimas de governistas

mineiros, gaúchos,

paraibanos (...), com democráticos

paulistas (que pararam de atacar o

Bernardes) e oposicionistas cariocas e

gaúchos. Tudo isso não me entristece.

Continuo reconhecendo a existência

de males necessários, porém me

afasta do meu país e da candidatura

Getúlio Vargas. Repito: única

aceitável. Mário [de Andrade]. Renato

Lemos. Bem traçadas linhas: a história do Brasil em cartas pessoais. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2004, p. 305.

Page 209: Historia Geral e do Brasil

80

Acerca da crise política ocorrida em

fins da Primeira República, a carta do

paulista Mário de Andrade ao mineiro

Carlos Drummond de Andrade revela

a) a simpatia de Drummond pela

candidatura Vargas e o desencanto de

Mário de Andrade com as

composições políticas sustentadas por

Vargas.

b) a veneração de Drummond e Mário

de Andrade ao gaúcho Getúlio Vargas,

que se aliou à oligarquia cafeeira de

São Paulo.

c) a concordância entre Mário de

Andrade e Drummond quanto ao

caráter inovador de Vargas, que fez

uma ampla aliança para derrotar a

oligarquia mineira.

d) a discordância entre Mário de

Andrade e Drummond sobre a

importância da aliança entre Vargas e

o paulista Júlio Prestes nas eleições

presidenciais.

e) o otimismo de Mário de Andrade

em relação a Getúlio Vargas, que se

recusara a fazer alianças políticas

para vencer as eleições.

Page 210: Historia Geral e do Brasil

81

Capítulo 18. O Governo Constitucional e os

movimentos políticos

Apresentação - Após o fim da

Primeira Grande Guerra, o mundo

passava por grandes transformações

e mais fortemente ainda depois da

crise de 29. O mundo do entreguerras

era descrente no liberalismo,

testemunhava a ascensão das

ideologias nacionalistas fascistas e ao

mesmo tempo era polarizado entre os

fascismos e o movimento comunista

internacional. O Brasil não ficou fora

dessa radicalização, por aqui surgiram

dois grandes movimentos nacionais, a

Ação Integralista Brasileira – AIB, de

direita e a Aliança Nacional

Libertadora – ANL, de esquerda.

O Governo Constitucional

1934-37 A nova Constituição (1934) - De

acordo com o novo código eleitoral,

foi eleita em 1933 uma Assembléia

Constituinte que seria responsável

pela elaboração da terceira

Constituição brasileira, que foi

promulgada em julho de 1934. De

acordo com a nova Carta, foram

preservados o federalismo, o

presidencialismo (o próximo

presidente seria eleito indiretamente

pela Assembléia e o segundo, eleito

pelo voto direto) e a independência

dos três poderes: Executivo,

Legislativo e Judiciário. Além disso, a

nova Constituição criou a Justiça do

Trabalho, inibiu a imigração, criou

uma legislação trabalhista, reafirmou

o novo código eleitoral, estatizou o

subsolo, nacionalizou a imprensa,

instituiu o ensino público primário

obrigatório e previu a estatização de

empresas nacionais e estrangeiras

quando do interesse da nação. Esta

Constituição teve um caráter mais

nacionalista e voltado para as

questões trabalhistas. Vargas foi

eleito pelo Congresso em 1934. A legislação trabalhista - A

legislação sobre os direitos

trabalhistas estabeleceu: a

regulamentação dos sindicatos, do

trabalho infantil e do trabalho

feminino; a proibição da diferenciação

salarial por sexo, idade, nacionalidade

ou estado civil; os salários mínimos

regionais; a carga horária de trabalho

de oito horas por dia; o descanso

semanal; férias anuais remuneradas;

a indenização em caso de demissão

sem justa causa; a regulamentação

das profissões e a proibição do

trabalho infantil abaixo de 14 anos.

Não se pode pensar, no entanto, que

os direitos trabalhistas foram

simplesmente ‗doados‘ sem pressão

dos trabalhadores, pois esta legislação

representava velhas exigências dos

operários brasileiros, e produzia

pressões, principalmente através das

greves, para alcançar a criação dessas

leis. Uma das principais razões para a

concessão desses direitos pela classe

patronal, foi a preocupação em deter

a organização do operariado que se

agrupava em torno das ideologias

anarquista e comunista. Com o intuito

de controlar os trabalhadores

organizados em grupos ou sindicatos,

o Estado forjou uma política

trabalhista que vinculava todos os

sindicatos diretamente ao Ministério

do Trabalho.

A Sindicalização controlada - Uma

vez atrelados ao Ministério do

Trabalho, todos os sindicatos

precisavam ser obrigatoriamente

registrados nesse ministério e por

este era fiscalizado. O governo criou

um forte esquema de controle sobre

as organizações sindicais, indicando

inclusive os presidentes dos principais

sindicatos com o objetivo de paralisar

as exigências dos trabalhadores. Os

sindicatos ou trabalhadores que não

aceitavam tais medidas eram

frequentemente perseguidos.

Os principais movimentos

políticos - Desde a promulgação da

Constituinte de 1934, o movimento

tenentista – que até então tinha sido

o mais forte mecanismo na tentativa

de tirar do poder as oligarquias

estaduais – encontrava-se em franca

decadência. Apesar disso, o

tenentismo não havia apresentado um

programa político para reorganização

do Brasil. No vazio deixado pelo

tenentismo, emergiram novas

Page 211: Historia Geral e do Brasil

82

organizações políticas inspiradas pelos

movimentos político-ideológicos

europeus. Além de fortemente

ideológicos esses novos movimentos –

seguiam os ideais ditos de direita e de

esquerda, respectivamente a AIB e a

ANL – apresentavam outra novidade:

ambos possuíam projetos políticos

bem elaborados para o Brasil, ao

contrário dos antigos partidos

estaduais da República Velha e do

tenentismo.

A Ação Integralista Brasileira

(AIB) - Surgiu em 1932, com a

publicação do Manifesto à Nação

Brasileira feito pelo líder do

movimento, Plínio Salgado, um ex-

membro do PRP. Caracterizava-se

como uma espécie de fascismo

adaptado ao Brasil, com algumas

modificações. Pregava o governo

ditatorial ultranacionalista, de um

único partido, a AIB, e obediente a

um único líder. Defendia os valores da

pátria, a família e a propriedade e,

além disso, era anti-comunista.

Incluía membros da antiga oligarquia,

da alta hierarquia militar, do alto clero

e uma parcela significativa das classes

populares. Por isso, chegou a ter 500

mil membros. Tinha ainda a simpatia

de Getúlio Vargas e possuía

integrantes do movimento dentro do

governo. De 1932 a 1935, reprimiu

manifestações de esquerda com

grupos paramilitares, de forma similar

ao praticado pelo movimento fascista

italiano.

A Aliança Nacional Libertadora

(ANL) - Surgiu como reação à AIB e

era fundamentalmente de esquerda.

Teve como seu presidente de honra o

líder tenentista – depois adepto do

comunismo – Luís Carlos Prestes. O

PCB se articulava dentro da ANL. Essa

organização teve muito menos adesão

numérica do que a AIB, e possuiu no

máximo cerca de 50 mil membros.

Nesse período eram freqüentes os

embates nas ruas entre partidários da

AIB e da ANL.

A Insurreição Comunista de 1935

Chamada pejorativamente de

‗Intentona‘, que quer dizer ‗plano

insensato‘ ou ‗revolta frustrada‘, foi

um movimento surgido no interior da

ANL que tentou tomar o poder. Tinha

Prestes como líder e articulador dos

setores militares. A insurreição tomou

o controle da cidade de Natal e

mobilizou forças em Recife, Olinda e

no Rio de Janeiro. Foi facilmente

debelado pelo Exército.

Olga e Prestes: líderes da Insurreição

Comunista.

O Plano Cohen 1937 -

Aproximando-se o final do seu

mandato, Getúlio Vargas forjou um

falso plano, atribuído aos comunistas

para tomarem o poder, foi o chamado

Plano Cohen. Como aparente reação

ao Plano, Vargas solicitou a

decretação de estado de guerra ao

Congresso e este lhe concedeu. Logo

em seguida, o presidente fechou o

Congresso, anunciou uma nova

Constituição e extinguiu os partidos

políticos, a AIB e a ANL.

Questões de Vestibulares

1. UERJ 2006. O populismo brasileiro

surge sob o comando de Vargas e os

políticos a ele associados. Desde

1930, pouco a pouco, vai-se

estruturando esse novo movimento

político. Ao lado das medidas

concretas, desenvolveu-se a ideologia

e a linguagem do populismo. (IANNI,

Otávio. In: MOTA, Myriam Becho e BRAICK, Patrícia Ramos. História: das cavernas ao Terceiro Milênio. São Paulo: Moderna, 1997.).

Duas ações representativas do

populismo varguista estão apontadas

em:

(A) implantação de organizações

econômicas e redistribuição de terras

aos camponeses

(B) estatização das indústrias de bens

de capital e limitação dos

investimentos estrangeiros

Page 212: Historia Geral e do Brasil

83

(C) modernização das estruturas

econômicas e concessão de direitos

aos trabalhadores urbanos

(D) adoção de discurso

antiimperialista e estímulo ao

alistamento contra a ingerência norte-

americana

2. UERJ 2007.

Camaleônico, o Peronismo faz 60 anos.

(www.estado.com.br)

Há sessenta anos, Juan Domingo

Perón levou ao poder na Argentina o

Partido Laborista, depois Justicialista,

que ele mesmo havia fundado. Apesar

de sempre presente na política

argentina, o Peronismo ou

Justicialismo é um movimento de

difícil definição, o que justifica o

emprego do adjetivo camalêonico em

referências a ele.

Identifique dois grupos sociais ou

instituições argentinas que tenham

apoiado a subida de Perón ao poder.

Em seguida, aponte duas medidas,

uma econômica e outra de âmbito

social, implementadas durante seu

primeiro governo, 1946-1955.

Page 213: Historia Geral e do Brasil

84

Capitulo 19. O Estado Novo 1937-1945

Apresentação - Em 1937, Getúlio

Vargas valendo-se do pretexto da

‗ameaça comunista‘ no Brasil,

preparou o golpe que culminou com a

instituição da ditadura do Estado

Novo. Com o golpe, o país entrou na

pior ditadura já vivida até então.

Opositores do regime, dentre eles,

inclusive, líderes de trabalhadores

foram presos e torturados. A

imprensa passou a ser censurada e os

direitos básicos violados. Houve forte

influência do fascismo sobre as

práticas políticas do Estado Novo,

Getúlio foi apresentado como a

encarnação viva do povo e da nação,

e assim conseguiu através da ditadura

suprimir os poderes locais e viabilizar

um projeto político realmente

nacional. Forjou-se também nesse

período, um novo modelo político: o

populismo, que deu o tom da política

brasileira até 1964.

Características do Estado Novo

Constituição outorgada de 1937 -

Esta teve como principal autor

Francisco Campos que ressaltou entre

as suas prerrogativas a primazia do

poder Executivo sobre o Legislativo,

permitindo ao presidente aumentar o

seu poder sobre estados. O Legislativo

continuou a existir, contudo, passou a

ser presidido pelo presidente e passou

a ser eleito indiretamente. O mandato

presidencial foi esticado para seis

anos e a Constituição deveria ter sido

submetida a um plebiscito popular,

que, como era esperado de uma

ditadura, não aconteceu.

A fim de garantir o ‗bom andamento‘

do novo regime, foram criados pelo

Estado alguns organismos de controle

e repressão, dentre eles o

Departamento de Imprensa e

Propaganda (DIP) e a Polícia Secreta.

A censura - A imprensa passou a ser

censurada, como previa a própria

Constituição de 1937. A censura ficou

a cargo do recém-criado DIP que era

encarregado do controle ideológico.

Este exercia o poder de censura sobre

os principais meios de comunicação,

como a imprensa escrita, o rádio e o

cinema. Este órgão por outro lado,

trabalhava ativamente na propaganda

do regime, inclusive com a instituição

do programa de rádio a Hora do

Brasil. O caso mais severo de censura

foi o do jornal O Estado de São Paulo,

que chegou a ser confiscado.

A polícia secreta - Assim como nos

regimes fascistas da Europa, a Polícia

Secreta do Estado Novo reprimiu com

torturas e assassinatos muitos

daqueles que foram considerados

seus inimigos. Líderes políticos como

Prestes, foram presos, torturados e,

muitas vezes, mortos. O chefe da

polícia secreta era o tenente Filinto

Muller, ex-membro da Coluna Prestes.

As greves foram proibidas, o

movimento operário não-filiado ao

governo foi duramente perseguido e

seus líderes punidos.

O imposto sindical - Outra medida

de controle do movimento operário foi

o imposto sindical compulsório,

através dele todos os trabalhadores

formais deveriam pagar o equivalente

a um dia de trabalho por ano para o

Ministério do Trabalho, que repassava

parte do mesmo aos líderes sindicais.

Desta forma, os sindicatos tornaram-

se organizações dependentes do

Estado e, desse modo, facilmente

manipuláveis pelo governo. Dessa

situação surgiram os ‗pelegos‘,

trabalhadores identificados com o

governo que não representavam os

interesses do seu grupo profissional.

A propaganda oficial e a

valorização do trabalho - além da

Hora do Brasil, passado em rede

nacional em horário nobre com

notícias do governo e do país, o DIP

também construiu uma figura de

Vargas como o grande ‗pai dos

pobres‘ e o beneficiador dos

trabalhadores. Nesse período, foi

delineada também uma ideologia de

valorização do trabalho e do

trabalhador e, conseqüentemente, a

desvalorização da figura do malandro.

O novo papel do Estado - O

governo passou a adotar uma postura

mais centralizadora, intervencionista e

planejadora, principalmente nos

setores econômico e administrativo.

Novos impostos foram criados, como,

Page 214: Historia Geral e do Brasil

85

por exemplo, o imposto de renda. O

Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) em 1938, com o

objetivo de produzir mais informações

sobre o país. Foi criado também o

Departamento Administrativo do

Serviço Público (DASP), que

centralizava a administração pública.

O novo modelo de industrialização

- O Estado passou a adotar uma

política intervencionista e planejadora

do desenvolvimento. A legislação

trabalhista fortalecia o mercado

interno. Em 1939, Vargas organizou

um plano qüinqüenal com enfoque na

indústria de base prevendo uma

indústria siderúrgica, uma fábrica de

aviões, a construção de hidrelétricas,

ferrovias, uma hidrovia no vale do

São Francisco e a compra de navios e

aviões de guerra alemães. Através da

criação de novas indústrias e

empresas estatais, o Estado se

tornava o principal investidor

econômico. A Segunda Guerra

Mundial iria favorecer o plano de

Vargas de industrialização e o Brasil

pôde exportar pela primeira vez na

história bens industrializados ao longo

da guerra.

As estatais - Seguindo o plano

qüinqüenal, várias empresas estatais

foram criadas em áreas que não havia

capital nacional suficiente. Foram

criadas a Companhia Vale do Rio

Doce, em 1942, que explorava os

minérios nacionais; a Fábrica Nacional

de Motores, em 1943, na cidade do

Rio de Janeiro; a indústria química

Álcalis, em 1943; a Companhia

Hidrelétrica do São Francisco, em

1945; e, finalmente, a Companhia

Siderúrgica Nacional – CSN, em 1941,

na cidade de Volta Redonda, com

empréstimos norte-americanos.

A Consolidação das Leis

Trabalhistas (CLT) - Toda legislação

trabalhista, mais alguns benefícios,

como o salário mínimo nacional, de

1940, foram reunidos em 1943 na

Consolidação das Leis Trabalhistas –

CLT. Contudo, esta só beneficiava os

trabalhadores urbanos, os

trabalhadores rurais não gozavam dos

mesmos direitos.

O Brasil na Segunda Guerra -

Havia dentro do governo uma divisão

entre ministros e altos funcionários

que tendiam para o Eixo e outros que

tendiam para os EUA durante a 2a

Guerra. Vargas aproximou-se dos EUA

após receber o empréstimo de um

banco norte-americano para a

construção da CSN e ao perceber que

poderia ser invadido por tropas

daquele país. Em 1942, o governo

brasileiro liberou a cidade de Natal e a

ilha de Fernando de Noronha para

receberem militares norte-americanos

e após perder 18 navios, declarou

guerra ao Eixo. O Brasil ajudou com

matérias-primas e com a Força

Expedicionária Brasileira – FEB, corpo

formado por 23 mil homens que foi

lutar na Itália ao lado dos Aliados.

A cultura no Estado Novo - O

período entre 1934-45 é chamado de

Tempos Capanema na área da

cultura, devido à ação de Gustavo

Capanema a frente do Ministério de

Educação e Saúde (MES). Este

ministro impôs uma autoritária

política cultural nacional na qual

buscava unir hierarquicamente o a

cultura erudita e a cultura popular. É

preciso destacar que houve também

durante a sua gestão, um grande

incentivo à educação básica.

A queda de Getúlio - As

contradições do próprio Estado Novo

se impuseram determinando o fim do

regime. Como explicar a incoerência

de um Estado claramente inspirado no

fascismo italiano que enviou tropas

para guerra para se empenhar na luta

antifascista e em defesa do fim do

autoritarismo, quando aqui no Brasil o

mesmo regime era dirigido por uma

ditadura? Esses fatores, aliados às

questões políticas impuseram não só

a queda do regime de ditadura como

também a própria deposição de

Vargas do poder.

Os ares da redemocratização - Em

1943, com a derrota alemã em

Stalingrado, a invasão do Sul da Itália

pelas tropas aliadas e a vitória sobre

os japoneses em Midway, ficou clara

que a vitória aliada na Segunda

Guerra estava próxima. Os líderes

aliados passaram a ter reuniões

periódicas para decidir o futuro da

Europa e do mundo. A vitória sobre o

Page 215: Historia Geral e do Brasil

86

nazifascismo representava a vitória da

democracia sobre as ditaduras ultra-

autoritárias. Com isso, espalham-se

os ‗ventos de democratização‘ pelo

mundo. Com as tropas brasileiras

lutando ao lado das forças

democráticas contra o fascismo, teve

início uma pressão pela democracia

no Brasil. Nesse mesmo ano de 1943,

surgiu um forte movimento de

oposição a Vargas que exigia a

redemocratização do país. Vargas

promete a redemocratização para o

logo após o fim da guerra. Com o fim

desta, em 1945, houve grandes

agitações nas cidades brasileiras

pedindo o fim da ditadura e a

redemocratização. Objetivando

diminuir as pressões, Vargas

concedeu anistia aos presos políticos,

inclusive ao líder comunista Luís

Carlos Prestes; prometeu a realização

de eleições para dezembro daquele

ano; acabou com a censura à

imprensa e foi permitida também a

formação de novos partidos.

Os novos partidos - Do próprio

aparato do Estado Novo surgiram o

PSD – Partido Social Democrático – e

o PTB – Partido Trabalhista Brasileiro.

O primeiro era composto por grandes

proprietários rurais e era ligado a

Getúlio, foi o partido mais forte

durante a nova democracia. O PTB

também oriundo do aparato

governamental era constituído por

sindicalistas e simpatizantes da causa

trabalhista. A UDN – União

Democrática Nacional – foi formada

por um grupo elitista assim como o

PSD, contudo, era duramente anti-

getulista. Da UDN depois surgiria o

PSB – Partido Socialista Brasileiro.

Além destes, o PCB voltou à

legalidade.

O queremismo - Um grupo de

trabalhistas criou o movimento

Queremos Vargas, também chamado

de queremismo, e defendia a

continuidade de Vargas no poder. O

PCB e, inclusive o seu líder, recém-

liberto pela lei de anistia, Luís Carlos

Prestes, apoiaram este movimento. A

razão do apoio, se deve a uma

orientação do Komintern de se apoiar

em todo o mundo frentes nacionais

anti-imperialistas e antifascistas.

Getúlio alimentou esse movimento

discretamente ao propor uma lei

antitruste, chamada ‗lei malaia‘, de

junho de 1945, que tinha um forte

caráter nacionalista e antiimperialista.

A queda de Getúlio Vargas - A

partir de agosto de 1945, as pressões

em torno da permanência de Vargas

no poder também se tornaram mais

fortes, quando o movimento

queremista passou a lançar um novo

grito: ‗Constituinte com Getúlio‘. Isso

estimulou ainda mais a oposição

udenista, e Vargas foi obrigado a

renunciar ao poder em outubro de

1945, passando-o provisoriamente

para as mãos do Judiciário. Este

convocou uma nova Assembléia

Constituinte e novas eleições. O ex-

ministro do Estado Novo, o general

Eurico Gaspar Dutra foi eleito

presidente pela chapa PSD-PTB.

Questões de Vestibulares

1. UFRJ 2005. “Após o advento do

Estado Novo, deu-se a consolidação

de uma política de massas que vinha

se preparando desde o início da

década. Constituídos a partir de um

golpe de Estado, sem qualquer

participação popular, os

representantes do poder buscaram

legitimação e apoio de setores

populares mais amplos da sociedade

através da propaganda [...]. Além da

busca de apoio, a integração política

das massas visava ao seu controle em

novas bases.” Fonte: CAPELATO, Maria

Helena. ―O Estado Novo: o que trouxe de novo?‖, in: Ferreira, Jorge (org.). O Brasil republicano. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003, vol. 2, p.110.

O Estado Novo correspondeu ao

período do Governo Vargas iniciado

em 1937, com um golpe de Estado, e

encerrado com a deposição do

presidente.

a) Identifique duas medidas adotadas

pelo Governo Vargas, durante o

Estado Novo, que buscavam

assegurar a realização dos objetivos

mencionados pela autora do texto.

b) Explique um fator ligado à

conjuntura internacional que tenha

Page 216: Historia Geral e do Brasil

87

contribuído para o fim do Estado

Novo.

2. PUC 2006. Consideramos

cidadania um conjunto de direitos que

integram indivíduos e grupos à

comunidade. Os direitos civis

relacionam-se à liberdade de

manifestar opinião e de se associar

em grupos, além de se movimentar

livremente; os direitos políticos

concernem à participação na tomada

de decisões para a comunidade; e os

direitos sociais devem garantir o bem

estar dos indivíduos e dos grupos:

moradia, educação, saúde e trabalho,

entre outros. Na experiência histórica

do Brasil independente, esses direitos

civis, políticos e sociais foram criados,

por vezes restringidos e por vezes

ampliados. Durante a ERA VARGAS

(1930-1945), alguns direitos foram

restringidos enquanto outros foram criados e ampliados.

a) IDENTIFIQUE um direito civil e um

direito político que sofreram restrições

durante a Era Vargas,

RELACIONANDO-OS a acontecimentos significativos da época.

b) IDENTIFIQUE dois direitos sociais

que foram criados e/ou ampliados

durante a Era Vargas,

RELACIONANDO-OS à política do

Estado varguista referente às

questões trabalhistas.

3. UERJ 2008.

O Cruzeiro, 12/06/1943

Em 1942, o governo Vargas decretou

o estado de guerra contra os países

do Eixo. Uma das conseqüências

dessa decisão, simbolizada pela

propaganda do Guaraná Antarctica,

está apontada em :

(A) aproximação com os EUA

(B) adoção do livre-cambismo

(C) negligência com a cultura nacional

(D) desnacionalização do setor

industrial

Page 217: Historia Geral e do Brasil

88

Capítulo 20. O governo Dutra 1946-1951

Apresentação - A República que vai

de 1945 a 1964 constituiu-se de certa

forma em uma continuação de

algumas práticas políticas e da lógica

do Estado Novo (1937-45). O projeto

político de governo que prevaleceu

nos dois períodos foi o populismo.

Este trata-se de um fenômeno latino-

americano de meados do século XX

que, exceto por algumas

particularidades, possui algumas

características principais como por

exemplo: a manipulação das massas

trabalhadoras por líderes políticos

carismáticos, no entanto, ao mesmo

tempo, promove-se o reconhecimento

da cidadania desses trabalhadores,

havendo concessões sociais e

trabalhistas aos mesmos

A Constituição de 1946 - A

Constituição de 1946 diminuiu

novamente o poder do Executivo, de

acordo com as suas determinações,

os ministros devem prestar contas ao

Legislativo e permitiu ainda, sempre

que julgado necessário, a realização

das Comissões Parlamentares de

Inquérito – as CPIs, seguindo o

modelo das CPIs norte-americanas. A

carta manteve também a legislação

trabalhista do período varguista.

O alinhamento na Guerra Fria - Por

decisão do presidente Dutra, o país

definiu-se no plano da política externa

como aliado dos Estados Unidos no

período da Guerra Fria. O Brasil

assinou um tratado de assistência

mútua e acordos militares com os

EUA. Seguindo a lógica do

alinhamento, o Brasil cortou relações

diplomáticas com a União Soviética e

levou o PCB novamente à ilegalidade

em 1947.

A abertura econômica - Dutra

recebeu de Vargas uma economia

bem estruturada, saneada e com

ampla possibilidade de crescimento.

Vargas havia criado um modelo de

desenvolvimento baseado no capital

estatal e no capital privado nacional,

com uma participação menor do

capital internacional. Seguindo a

lógica do alinhamento, Dutra abriu a

economia brasileira para as empresas

multinacionais, enfraquecendo, assim,

o empresariado nacional. Apesar

disso, o crescimento econômico no

período foi considerado altíssimo.

O salário-mínimo - Apesar de todo o

crescimento econômico e do

desenvolvimento da economia no

período, Dutra congelou o valor do

salário-mínimo em sua gestão,

fazendo com que o mesmo se

desvalorizasse. Em 1940, valia cerca

de R$828,00 – este e todos os outros

valores são equivalentes ao valor do

Real em 2004. O salário-mínimo

retomou o seu valor no período entre

1952 e 1964, chegando ao ápice de

R$1.036,00 em 1957. Após o golpe de

1964, o salário-mínimo seria

novamente congelado por oito anos,

chegando ao final da ditadura com um

valor próximo ao atual.

Questões de Vestibulares 1. UFRJ 2008.

Tem gente com fome

Trem sujo da Leopoldina

correndo correndo

parece dizer

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Piiiiii

Estação de Caxias

de novo a dizer

de novo a correr

tem gente com fome

tem gente com fome

tem gente com fome

Os versos de Tem gente com fome,

do primeiro livro de Solano Trindade,

Poemas de uma Vida Simples,

levaram o poeta para a cadeia, por

ordem do presidente Eurico Gaspar

Dutra. Embora tenha tomado outras

medidas como essa, o governo Dutra

(1946-1950) é conhecido como um

período de redemocratização, durante

o qual foi elaborada a Constituição de

1946.

a) Identifique, na Constituição de

1946, duas medidas que tenham

Page 218: Historia Geral e do Brasil

89

representado a reconquista das

liberdades democráticas.

b) Considerando o contexto brasileiro

do período, explique por que o

governo Dutra assumiu um caráter

conservador.

Page 219: Historia Geral e do Brasil

90

Capítulo 21. O Segundo Governo Vargas 1951-1954

Apresentação - Vargas voltaria ao

poder eleito pelo voto popular em

1951, ficando no poder por mais três

anos. Ele retomou a política de

desenvolvimento autônomo

nacionalista e com amplas concessões

às classes populares. Com isso,

acabou gerando uma forte oposição

ao seu projeto de governo, dentro e

fora do país. O desfecho dessa

história foi a sua trágica saída do

poder em agosto de 1954.

A volta de Vargas ao poder

A eleição de Getúlio Vargas -

Vargas, que estava em exílio político

em sua cidade Natal, São Borja, no

Rio Grande do Sul, lançou-se

candidato a presidente da República

em 1951 pelo PTB. Mesmo sem o

apoio do PSD, venceu as eleições.

O projeto nacionalista - Vargas cria

um amplo projeto de desenvolvimento

de caráter fortemente nacionalista,

que priorizaria o fortalecimento do

capital nacional, confrontando-se por

isso com os interesses imperialistas

internacionais, e, sobretudo, com os

norte-americanos. Nessa política, sua

principal medida foi a nacionalização

do petróleo, com a criação da

Petrobrás, em 1953. O governo

Vargas passou também a adotar uma

política externa mais independente, o

que acarretou em retaliações do

presidente norte-americano,

Esienhower. Este rompeu

unilateralmente o acordo de

desenvolvimento entre Brasil e

Estados Unidos concedendo somente

180 milhões de dólares dos cerca de

quase 400 milhões acordados

anteriormente.

A aliança com os trabalhadores -

Voltando para o movimento

trabalhista, Vargas pretendia reforçar

a aliança populista com os

trabalhadores, buscando com isso,

reaver o apoio popular para garantir o

cumprimento do seu programa

econômico. No início de 1953,

nomeou para ministro do Trabalho

político gaúcho João Goulart, que

reorganizou os sindicatos, buscando

novamente a aproximação destes com

o governo e chegou a criar um projeto

de aumento de 100% do salário

mínimo, não aceito pelo Congresso.

O BNDE - Foi criado nessa época o

Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico (BNDE), que depois foi

acrescido de um ‗s‘ de Social e passou

a se chamar BNDES. Este banco

passou a ser, a partir de então, um

dos principais mecanismos de

investimento e desenvolvimento

brasileiros, principalmente para o

capital nacional. Para a sua atuação,

utiliza recursos da União e de

impostos trabalhistas para emprestar

financiamento para projetos de

investimento nas áreas de

desenvolvimento econômico e social.

A Petrobrás - O ápice do projeto

nacionalista de Vargas foi a criação da

Petrobrás em 1953. Esta empresa

estatal passou a ter o monopólio

sobre a exploração do petróleo no

país, monopólio este que manteve até

o primeiro governo de Fernando

Henrique Cardoso.

O projeto da Eletrobrás - Vargas

criou ainda o projeto de uma ampla

estatal no setor energético, a

Eletrobrás, que seguiria o exemplo da

Petrobrás, unificando o sistema de

geração e distribuição de energia no

país. Este não chegou a ser concluído

em seu governo, contudo, o projeto

não morreu com Getúlio, a Eletrobrás

foi finalmente criada durante o

governo da ditadura militar.

A oposição ao nacionalismo - Há

uma forte oposição ao projeto de

Vargas, tanto dentro como fora do

país. Essa oposição conservadora

Page 220: Historia Geral e do Brasil

91

esteve, muitas vezes, ligada ao

capital internacional. As empresas

petrolíferas norte-americanas

estavam entre os grupos que mais

criavam dificuldades para o governo

Vargas. A principal figura dessa

oposição no Brasil, era o jornalista

(proprietário do jornal Tribuna da

Imprensa), político e membro da

UDN, Carlos Lacerda, no Rio de

Janeiro. Este não hesitou em pregar,

através do seu jornal, que o novo

governo Vargas traria de volta a

ditadura do Estado Novo.

O suicídio - Em meados do ano de

1954, Carlos Lacerda sofreu um

atentado próximo a sua casa no Rio

de Janeiro. Neste incidente, morreu

um oficial da Aeronáutica que o

acompanhava, o major Rubens Vaz.

Descobriu-se que o atentado havia

sido forjado pelo chefe da segurança

pessoal de Vargas. Isso acarretou

com o que o Exército e membros da

alta cúpula militar se posicionassem

contra Getúlio, exigindo a sua

renúncia. Além disso, havia ainda

denúncias de corrupção envolvendo o

governo. O presidente Getúlio Vargas,

então, se suicidou na manhã de 24 de

agosto de 1954, após ter escrito a sua

Carta Testamento, causando um

grande alvoroço popular na cidade do

Rio de Janeiro. O jornal Tribuna da

Imprensa de Carlos Lacerda foi

apedrejado pela população revoltosa e

o mesmo Lacerda foi obrigado a fugir

da cidade temporariamente para

escapar da fúria popular.

Questões de Vestibulares

1. PUC 2003. "O petróleo é nosso"

foi o lema da campanha que

empolgou grupos políticos,

associações profissionais e

organizações diversas no Brasil, entre

1947 e 1953. Sobre esse tema, o

episódio e suas motivações, são

corretas as afirmativas, À EXCEÇÃO

DE UMA. Assinale a opção que apresenta essa exceção.

(A) O petróleo foi foco de importantes

disputas no Brasil, porque tornou-se a

principal fonte de energia para a

indústria contemporânea, devido às

transformações tecnológicas mundiais

ocorridas desde a segunda metade do

século XIX.

(B) A forte correlação entre petróleo e

indústria foi de grande importância

para a formulação de projetos de

desenvolvimento e para as discussões

acerca das possibilidades de conquista

da soberania econômica brasileira,

após a II Guerra Mundial.

(C) Os militares - pelo interesse no

desenvolvimento da indústria

brasileira, em especial a de

armamentos - e os estudantes - pelo

engajamento nacionalista - foram dois

grupos que participaram ativamente

dos debates relativos à

regulamentação da exploração do

petróleo.

(D) A "Campanha do Petróleo" teve

como desdobramento a criação de

uma empresa estatal de petróleo _ a

Petrobrás.

(E) Se o governo Vargas demonstrou

interesse na Petrobrás, o governo de

Juscelino Kubitschek foi indiferente à

produção de petróleo, preferindo

investir nas pesquisas para o desenvolvimento da energia nuclear.

2. UFRJ 2008. “Em 1950, candidato

pelo PTB, Vargas retornou à

Presidência. Resolvido a diferenciar-se

do ditador estado-novista, o novo

presidente retomaria o trabalhismo.

(...) Na sua plataforma estavam os

ideais do desenvolvimento,

nacionalismo e distributivismo,

elementos que cativaram diversos

segmentos da sociedade”. (Silva,

Fernando Teixeira da & Negro, Antônio Luigi. Trabalhadores, sindicatos e política (1945-1964).)

Indique uma medida adotada pelo

segundo governo Vargas (1950-1954)

e explicite sua relação com um dos

ideais referidos no texto.

Page 221: Historia Geral e do Brasil

92

Capitulo 22. O Governo Juscelino Kubitschek 1956-

1960 Apresentação - O governo Juscelino

Kubitschek representa uma ruptura

com o nacionalismo do segundo

governo Vargas. JK abriria a economia

para as transnacionais, que estavam

em época de grande expansão pelo

mundo. Essas transnacionais se

consolidariam na economia nacional,

tornando a economia brasileira

profundamente dependente a partir

de então. São estas mesmas

transnacionais que irão apoiar o golpe

civil-militar em 1964.

A abertura e o

desenvolvimento no governo JK 1956-60

A eleição de Juscelino - Com o

suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de

Agosto de 1954, abriu-se um buraco

no poder. Para substituí-lo tentaram

lançar uma candidatura de ―união

nacional‖, com a adesão de dois dos

maiores partidos políticos da época: o

Partido Social Democrático (PSD) e a

União Democrática Nacional (UDN).

Eles teriam um candidato único, que

uniria a direita e o centro e evitaria

uma nova candidatura radical como

era a ―getulista‖. Esta idéia, porém,

não se concretizou e, em 10 de

Fevereiro de 1955, o PSD homologou

o nome de Juscelino Kubitschek como

candidato à presidência da República.

JK precisava do apoio de uma base

sólida e da aceitação popular, como

tinha o PTB, partido de Vargas e que

tinha João Goulart como candidato à

presidência. Assim, poucos dias após

a homologação de JK como candidato

do PSD, o PTB selou acordo tendo

João Goulart (Jango) concorrendo

como vice-presidente. Muitas foram

as tentativas dos ―anti-getulistas‖

para inviabilizar a campanha JK-

Jango, apoiada, inclusive, pelo Partido

Comunista Brasileiro. A UDN era a

principal rival dessa coligação. Nas

eleições de 3 de Outubro de 1955, JK

elegeu-se com 36% dos votos válidos,

contra 30% de Juarez Távora (UDN),

26% de Ademar de Barros (PSP) e

8% de Plínio Salgado (PRP). Naquela

época, as eleições para presidente e

vice não eram vinculadas, mas Jango

foi o melhor votado para vice,

recebendo mais votos do que JK.

A tentativa de golpe antes da

posse - A oposição udenista não

aceita a vitória de Juscelino e tenta

um golpe antes de sua posse. Carlos

Lacerda forja com líderes militares

uma tentativa de golpe, que foi

frustrada pelo marechal Lott, que

assegurou a posse de JK.

O governo desenvolvimentista Plano de metas - JK tinha o plano de

31 metas para o seu governo que

incluíam projetos nas áreas de:

energia, transporte, alimentação,

indústria de base, educação e, o mais

importante, a construção de Brasília.

Trata-se de um amplo plano de

desenvolvimento nacional, que era

chamado na campanha de ‗50 anos

em 5‘.

O desenvolvimento no período

Durante o governo de JK houve um

grande avanço industrial. A sua força

motriz estava concentrada nas

indústrias de base e na fabricação de

bens de consumo duráveis e não-

duráveis. O governo atraiu o

investimento de capital estrangeiro no

país incentivando a instalação de

empresas internacionais,

principalmente as automobilísticas,

como a Volkswagem. Essa política

desenvolvimentista foi viabilizada por

algumas realizações de Vargas: a

Companhia Siderúrgica Nacional (em

1946 e a Petrobras em 1953). Com a

criação da Siderúrgica Nacional, o

Brasil pôde começar a produzir chapas

de ferro e laminados de aço,

necessários como materiais para

outras indústrias na fabricação de

ferramentas, pregos,

eletrodomésticos, motores, navios,

automóveis e aviões. A Siderúrgica

impulsionou a indústria

automobilística que, por sua vez,

impulsionou a indústria de peças e

equipamentos. As três juntas

impulsionaram o crescimento e a

construção de usinas hidrelétricas

Page 222: Historia Geral e do Brasil

93

mais potentes. A Petrobras forneceu

matéria-prima para o

desenvolvimento da indústria de

derivados do petróleo, como plásticos,

tintas, asfalto, fertilizantes e borracha

sintética, além do combustível para os

veículos. Assim, a economia

realmente deu um salto no período,

com o cumprimento da maioria das

metas e a ultrapassagem das metas

em áreas da produção industrial. O

setor de bens duráveis (indústria

automobilística e de eletrodomésticos)

consolida-se no país. Entretanto, todo

esse desenvolvimento concentrou-se

no Sudeste brasileiro, enquanto as

outras regiões continuavam com suas

atividades econômicas tradicionais.

Por esse motivo, as correntes

migratórias aumentaram, sobretudo

as do Nordeste para o Sudeste – que

chegaram a 600 mil pessoas em

1953, o que significava 5% da

população nordestina – do campo

para a cidade. Os bens produzidos

pelas indústrias eram acessíveis

apenas a uma pequena parcela de

brasileiros, enquanto que a maioria

(formada pela classe trabalhadora)

continuava política e economicamente

marginalizada.

A SUDENE - Para tentar sanar esse

problema, JK criou a Sudene, em

1959, para promover o

desenvolvimento do Nordeste. A

intenção era que houvesse

industrialização e agricultura irrigada

na região. Porém, o seu partido, o

PSD, era ligado aos coronéis do

interior, o que impediu que a Sudene

fosse um instrumento da prática da

Reforma Agrária, necessidade

primordial para acabar com as

desigualdades sociais na região.

O capital estrangeiro - Além desses

problemas, o progresso econômico

também gerou muitas dívidas. Apesar

de o Produto Interno Bruto – PIB – ter

crescido 7% ao ano e da taxa de

renda per capita ter aumentado num

ritmo quatro vezes maior do que o da

América Latina, as exportações não

atingiram o mesmo valor do

endividamento e JK foi enforcando a

economia brasileira com a própria

corda. O capital estrangeiro que trazia

riquezas ao Brasil era o mesmo que

lhe cobrava montanhas de juros pelos

empréstimos realizados com os

Estados Unidos. Nessa época a taxa

de inflação crescia sem parar e a

moeda brasileira estava cada vez

mais desvalorizada. No entanto, esses

problemas só vieram à tona quando o

mandato de Juscelino estava bem

perto do fim, e isto não abalou a sua

imagem diante da população, que até

hoje o considera como um político

visionário e de grande

responsabilidade pelo

desenvolvimento do país.

A construção de Brasília.

A construção de Brasília - A

fundação de Brasília como nova

capital do país, em localização

estratégica, criou uma metrópole no

interior do território nacional. Até

1950 existia uma idéia de que

existiam dois ―Brasis‖: um litorâneo,

produtivo e moderno e outro

interiorano, estagnado social e

economicamente. Brasília serviria

para permitir a interiorização do

desenvolvimento. A Novacap,

empresa responsável pela construção

de Brasília, atraiu mais de 3 mil

operários para o centro do país.

Conhecidos como ―candangos‖, estes

homens trabalhavam sem parar, noite

e dia, em condições insalubres de

trabalho. No dia 21 de Abril de 1960,

foi inaugurada a nova capital do país,

idealizada pelo renomado arquiteto

Oscar Niemeyer.

Os Desdobramentos do governo

JK - O governo JK está dentro de

período de maior desenvolvimento da

economia brasileira, o período de

1950 a 1980, quando se consolidou a

indústria nacional, inclusive com a

produção de bens de capital e bens de

consumo duráveis. A economia passa

a ser setorizada de acordo com os

Page 223: Historia Geral e do Brasil

94

ramos de produção e a origem do

capital. O capital estatal fica

responsabilizado especialmente pela

produção de bens de capital, o capital

multinacional fica fortalecido no setor

de bens duráveis e o capital nacional

privado fica restrito ao setor de bens

não-duráveis. O plano de JK, que saiu

da presidência com um altíssimo

índice de popularidade, podia ser

politicamente muito positivo, porém

não se pode dizer que foi tão bom

para a economia. Esta teve um pique

de desenvolvimento que levou a uma

série de problemas que virariam

obstáculos ao crescimento econômico

futuro.

Corrupção - As várias obras do

governo, especialmente a construção

de Brasília, eram acusadas de terem

várias formas de corrupção como:

desvio de verbas, licitações fraudadas,

utilização de materiais caros etc. Esta

foi tão grande que foi o tema da

campanha política do vencedor nas

eleições seguintes, Jânio Quadros.

Inflação - O crescimento acelerado

do período, sem estabilidade, gerou

uma inflação em seguida. O governo

seguinte teve que lidar com esta

herança. Essa inflação ainda tira

poder de compra do trabalhador e

gera concentração de renda.

Dívida pública - Os fortes

investimentos do Estado e,

novamente, a construção da

monumental capital consumiram uma

soma absurda do dinheiro público.

Este foi conseguido com empréstimos

estrangeiros e nacionais, que geraram

uma forte dívida pública,

características que afetarão o governo

sucessor.

Dependência econômica - O projeto

nacionalista foi claramente

abandonado na gestão de Juscelino. A

instalação das multinacionais no Brasil

levaria à definitiva dependência da

economia nacional dos capitais

estrangeiros. Além disso, essas

empresas remetem anualmente uma

soma elevada de lucros para as suas

sedes no exterior.

O contexto interno e externo do

período - Conseguir a aprovação do

Congresso para a construção de

Brasília não foi fácil. A oposição

apostou que Brasília jamais ficaria

pronta a tempo e, portanto, seria o

fracasso político de JK. Por este

motivo, o projeto foi aprovado. Os

anos JK eram também os anos da

bossa-nova com destaque para João

Gilberto, Antônio Carlos Jobim e

Vinícius de Moraes. Glauber Rocha

surgia com o cinema novo, abordando

questões sociais. Nos esportes, o

Brasil, após algumas tentativas

frustradas, conquistava na Suécia, em

1958, sua primeira estrela em Copas

do Mundo. O boxe também tinha o

brasileiro Éder Jofre como campeão

mundial. O mundo vivia os temores

da Guerra Fria e assistia à corrida

espacial entre os EUA e a URSS. Os

russos saíram à frente com o

lançamento do Sputnik – o primeiro

satélite artificial da Terra – em 1957.

O povo cubano saudava Fidel Castro,

que derrubou o ditador Fulgêncio

Batista e comandou a Revolução

Cubana em 1959 – era a ―ameaça‖

comunista agora também na América.

Questões de Vestibulares

1. PUC 2005. No período de governo

do Presidente Juscelino Kubistchek,

entre 1956 e 1961, a sociedade

brasileira vivenciou a esperança da

superação do subdesenvolvimento.

"Os anos JK" prometeram um

desenvolvimento nacional, por meio

da industrialização do país e da

elevação das condições de vida da

população brasileira. Assinale a

alternativa que NÃO caracteriza

corretamente esse ambiente político e

intelectual:

a) O movimento do Cinema Novo,

que tinha em Glauber Rocha um de

seus expoentes e foi realizado com

poucos recursos financeiros, se

propôs a narrar o Brasil "real", tanto

no meio urbano como no meio rural.

b) A criação da SUDENE tinha como

objetivo refletir e elaborar planos de

ação para diminuir as disparidades

regionais, especialmente o dilema

vivido pelo Nordeste brasileiro.

c) A construção de Brasília, a cidade

modernista, constituiu-se em meta

síntese do Plano de Metas do governo,

Page 224: Historia Geral e do Brasil

95

como uma demonstração do estágio

de desenvolvimento do país.

d) O movimento Tropicalista criou

uma nova estética musical, pela

utilização das guitarras elétricas,

pelos temas e formas poéticas

renovadas.

e) A indústria automobilística

exemplificou a colaboração entre o

capital nacional e o capital estrangeiro

para o desenvolvimento acelerado da

industrialização brasileira.

2. UERJ 2003.

JK – Você agora tem automóvel brasileiro, para correr em estradas pavimentadas com asfalto brasileiro, com gasolina brasileira. Que mais quer? JECA – Um prato de feijão brasileiro, seu doutô!

(STORNI, 1927. In: LEMOS, Renato. Uma história do Brasil através da caricatura. Rio de

Janeiro: Bom Texto, Letras e Expressões, 2001.)

O texto e a charge representam, de

formas diferentes, um dos principais

dilemas do desenvolvimentismo no

governo Juscelino Kubitschek, durante

a 2a metade da década de 1950. A

alternativa que melhor apresenta esse

dilema é:

a) os contrastes culturais e

educacionais entre as elites paulistas

e nortistas.

b) a desigualdade política e ideológica

entre as oligarquias nordestinas e

sulistas.

c) a defasagem histórica e tecnológica

entre o setor petrolífero e o

agroexportador.

d) as disparidades econômicas e

sociais entre os setores agrário e

urbano-industrial.

3. UFF 2003. Com espetacular

solenidade, em 21 de abril de 1960,

foi inaugurada Brasília, a nova capital

do país, que se tornaria símbolo de

toda uma era de modernidade e

progresso. Assinale a opção que

apresenta um comentário que, de

fato, corresponde ao momento

histórico focalizado.

a) O ―exército‖ de trabalhadores

responsável pela construção da nova

capital teve como principal

característica o fato de ser,

majoritariamente, integrado por

migrantes do sudeste, que recebiam o

maior salário-mínimo do Brasil.

b) A construção de Brasília atuou

como elemento de impulsão do

parque industrial e do capitalismo no

Brasil, não só ao gerar a expansão da

malha rodoviária, beneficiando as

montadoras estrangeiras de

automóveis, mas também, ao ampliar

a demanda por cimento, aço e energia

no país.

c) Do ponto de vista arquitetônico e

paisagístico, a solução urbanística

adotada para Brasília remetia,

simbolicamente, ao sinal da cruz,

numa referência explícita ao profundo

catolicismo dos primeiros candangos

que construíram a cidade.

d) A opção de JK pela interiorização

da capital representou a conciliação,

no país, entre o ―velho‖ e o ―novo‖, já

que beneficiava os tradicionais

coronéis nordestinos e a juventude

estudantil brasileira.

e) A construção de Brasília deslocou

expressivos contingentes

populacionais para o Planalto Central,

sobretudo os sem-terra e sem-teto do

centro-oeste brasileiro.

Page 225: Historia Geral e do Brasil

96

4. UFRJ 2007.

O governo do presidente Juscelino

Kubitschek (1956- 1961) costuma ser

lembrado como o dos ―anos

dourados‖. As classes médias urbanas

viviam em clima de grande otimismo,

marcado especialmente pelo acesso a

bens de consumo que transformavam

seu estilo de vida. Contudo, a política

desenvolvimentista que caracterizou o

período também causou indesejáveis

modificações na economia do país.

Indique duas conseqüências negativas

da adoção dessa política para a

economia brasileira da época.

5. UERJ 2006.

(FREIRE, Américo e outros. História em curso. Rio de Janeiro: FGV, 2004.)

As propagandas acima, publicadas na

revista O Cruzeiro, no período de

1954 a 1964, apresentam bens de

consumo que estavam sendo

incorporados ao cotidiano de parte da

população brasileira. Esses novos

padrões de consumo foram

favorecidos pelo incentivo do Estado

brasileiro à:

(A) produção de bens duráveis

(B) pesquisa tecnológica nacional

(C) implantação da indústria pesada

(D) fixação dos preços das

mercadorias

Page 226: Historia Geral e do Brasil

97

6. UERJ 2009.

www.overmundo.com.br

http://br.geocities.com

Juscelino Kubitschek e Emílio G.

Médici são duas figuras

representativas das décadas de 1950

e 1970. Essas duas décadas

correspondem, respectivamente, aos

seguintes contextos políticos no

Brasil:

(A) estatismo e liberalismo

(B) privatismo e populismo

(C) agrarismo e caudilhismo

(D) desenvolvimentismo e

autoritarismo

Page 227: Historia Geral e do Brasil

98

Capitulo 23. A crise da República Populista 1960-1964

Apresentação – Com o golpe militar

de 1964, teve fim o Populismo no

Brasil. O populismo é um sistema de

governo que surgiu na América Latina

inaugurando uma política marcada

pela ascensão de líderes carismáticos

que buscam legitimidade de atuação

através do amplo apoio das maiorias.

Muitas vezes, o governante, abandona

o uso de intermediários ideológicos ou

partidários para buscar na ―defesa dos

interesses nacionais‖ uma alternativa

às tendências políticas oligárquicas,

liberais ou socialistas de sua época.

No campo de suas ações práticas, o

populismo priorizou o atendimento

das demandas das classes

trabalhadoras e, de fato, permitiu a

participação política de grupos sociais

que historicamente haviam sido

marginalizados da ação política.

Contudo, esse tipo de ação das

camadas populares junto ao Estado

não pode ser entendida como

democrática. Os regimes populistas

também são marcados pela

desarticulação política das oposições e

a troca dos ―favores ao povo‖ pelo

apoio incondicional ao governante,

tido como responsável pelo

desenvolvimento do país.

Vargas e Perón, exemplos de governos

populistas estabelecidos na América Latina.

Após a crise de 29, com o recuo das

economias européia e norte-

americana, ocorre a expansão do

parque industrial em Estados

marcados pela tradição agrário-

exportadora. Nesse panorama, muitos

centros urbanos se desenvolveram, e,

com isso, a predominância da disputa

pelo poder que se concentrava nas

mãos das antigas oligarquias dava

lugar a um quadro político novo.

Liberais, socialistas, comunistas e

anarquistas emergiram dando maior

complexidade ao jogo político latino-

americano. Nesse quadro, surgiram

atores políticos que, por meio de um

discurso nacionalista, muitas vezes

contrário aos regimes oligárquicos,

esses novos líderes ofereciam a

perspectiva de uma política em

―defesa do povo‖. Fenômeno

ambientado nas grandes cidades, o

populismo organizou uma verdadeira

teatralização do poder, na qual o

líder, uma figura carismática, aparecia

em grandes eventos e nos novos

meios de comunicação, como o rádio,

para se dirigir à nação. Ao reconhecer

o poder de ação política dos

trabalhadores, os governos populistas

proporcionaram uma série de

benefícios aos trabalhadores, como

por exemplo, a criação de programas

assistencialistas e a inserção de leis

trabalhistas, que tinham como função

legitimar o populismo no poder.

Contudo, esses benefícios geravam

uma contrapartida: o governante

exigia uma autoridade que, muitas

vezes, extrapolava os limites da

democracia, como o alargamento das

funções políticas do chefe de governo,

o controle dos meios de comunicação

através da censura e a subordinação

dos movimentos sindicais. No Brasil, o

populismo teve início na década de

1930, quando Getúlio Vargas chegou

ao poder. Nos países latino-

americanos, o fenômeno populista foi

representado, dentre outros, pelos

governos de Juan Domingo Perón, na

Argentina; José Maria Velasco, no

Equador; Gustavo Rojas Pinilla, na

Colômbia; e Victor Paz Estenssoro, na

Bolívia. A partir da segunda metade

do século XX, o regime populista de

governo começou a dar sinais de

enfraquecimento. A postura, muitas

vezes, nacionalista de muitos líderes

populistas passou a representar um

risco à hegemonia ideológica e política

dos Estados Unidos no continente

Page 228: Historia Geral e do Brasil

99

americano. No contexto da Guerra

Fria, os governos norte-americanos

passaram a apoiar a derrubada dos

governos que não se aliavam

claramente aos interesses do então

bloco capitalista.

Do Governo Jânio Quadros à posse de João Goulart

As eleições de 1960 – No cenário

deixado por JK, em meio à inflação e

ao início das radicalizações políticas,

emergiu com grande força política, o

governador de São Paulo, Jânio da

Silva Quadros. Quadros iniciou sua

carreira política como vereador,

passando, em seguida, a prefeito da

cidade de São Paulo. No ano de 1954,

venceu as eleições, contra o candidato

da UDN, Ademar de Barros. Em seus

discursos, apresentava-se ao público

como ―apolítico‖ e capacitado, pela

habilidade administrativa, de

promover uma mudança radical nos

hábitos e costumes políticos

brasileiros. Para enfrentar Jânio

Quadros, os governistas escolheram o

general Henrique Lott. Apesar de sua

inexperiência política, Lott foi

escolhido candidato pela aliança

eleitoral PSD-PRB. A UDN, seguindo o

apelo feito por Carlos Lacerda, apoiou

Jânio, o único homem que, por seu

carisma, poderia vencer o esquema

governamental, procurando-se colocar

acima das estruturas partidárias

convencionais. Fundaram-se no

período de campanha os comitês Jan-

Jan, que faziam campanha em favor

de Jânio (para presidente) e ―Jango‖

Goulart (para vice), este último, era o

político governista, companheiro de

chapa da candidatura do general Lott.

Em 03 de outubro de 1960, Jânio

Quadros foi eleito com 48% dos

votos; João Goulart foi eleito vice-

presidente, por uma pequena margem

de votos. A UDN, abalada pela derrota

de seu candidato à vice-presidência,

percebeu que a vitória de Jânio não

era propriamente sua e revelava a

decomposição do PSD e um protesto

contra a situação econômica e política

do país, do que um suposto

entusiasmo udenista do povo

brasileiro.

O Governo Jânio Quadros 1961 -

Seu governo lançou prontamente um

programa de combate à inflação

fortemente impopular: reformou o

sistema cambial, reduziu os subsídios

para importações e investiu no setor

exportador, com forte restrição

financeira, através da limitação de

créditos, desvalorizou a moeda,

congelou os salários e corte dos

subsídios à importação, visando o

saneamento econômico. Além disso,

Jânio contava com a simpatia do

governo dos Estados Unidos, sob a

presidência de John Kennedy, que

parecia inaugurar uma nova política

americana para a América Latina. No

entanto, o entusiasmo externo não

era acompanhado pelo interno. O

rigoroso programa antiinflacionário

encarecera a gasolina, o pão e os

transportes e provocara a

desaprovação geral de trabalhadores,

consumidores e empresários. Após

seis meses de administração,

Quadros, convencido do desgaste

político provocado pelo severo

programa de estabilização, resolveu

abandonar sua política de

austeridade. Jânio pretendeu

combater a insuficiência e corrupção

da administração pública de maneira

totalmente inadequada: enviava

―bilhetinhos‖ a todas as repartições,

querendo controlar o aparelho

administrador através da imposição

de sua personalidade aos negócios

públicos. Ainda no plano interno,

Quadros, que sempre procurara se

colocar acima dos partidos, sofreu

desgaste. Jânio Quadros há pouco

tinha chegado à UDN e não se

alinhava às posições de políticos

tradicionais da UDN, como Carlos

Lacerda e Ademar de Barros. Era

altamente autoritário e conservador,

tentou controlar os sindicatos,

reprimiu revoltas camponesas e

prendeu estudantes. Suas campanhas

moralistas afetavam não só o pessoal

administrativo, mas também os

antigos detentores do poder.

Imediatamente após assumir o

governo, deu início a uma série de

investigações sobre os escândalos

financeiros das gestões anteriores. Em

maio de 1961, veio a público um

Page 229: Historia Geral e do Brasil

100

relatório sobre eventuais

irregularidades no trato dos fundos da

Previdência Social. Na qual, estariam

envolvidos, além do vice-presidente

João Goulart, elementos da antiga

aliança governista PSD-PTB. Além

disso, suas atitudes

desenvolvimentistas preocupavam a

UDN. As bases políticas de Jânio, no

entanto, foram definitivamente

minadas pela orientação imposta às

questões relativas aos negócios

exteriores. Com o apoio de Afonso

Arinos de Melo Franco, ministro das

Relações Exteriores procurou levar o

Brasil a uma ―política externa

independente‖. Atitudes como a

defesa da não-intervenção americana

em Cuba, apoio à participação da

China Comunista na ONU e,

principalmente, a condecoração de

Ernesto Che Guevara com a Ordem do

Cruzeiro do Sul irritaram os

conservadores e as Forças Armadas.

Na noite de 24 de agosto de 1961,

Carlos Lacerda, acusou o ministro da

Justiça, Oscar Pedroso d‘Horta, de

preparar um golpe, no sentido de

serem ampliados os poderes do

Presidente da República. A 25 de

agosto, Jânio submeteu sua renúncia

ao Congresso, as Forças Armadas

apoiaram a continuação de seu

governo. O Congresso, contrariando

suas expectativas, aceitou a renúncia.

A crise da renúncia e o a

instituição do parlamentarismo -

No dia da renúncia de Jânio, o vice-

presidente João Goulart encontrava-

se em viagem à China comunista. De

acordo com a Constituição de 1946,

Jango seria o sucessor legal do

Presidente. Na ausência de Goulart,

de acordo com o preceito

constitucional, assumiu a chefia do

governo, o então presidente da

Câmara dos Deputados. A 28 de

agosto, o Presidente interino remeteu

ao Congresso uma mensagem dos

ministros militares informando que o

retorno de João Goulart ao país seria

―inconveniente à segurança nacional‖.

O Congresso, entretanto, negou-se a

vetar a posse de Jango. Os ministros

militares esperavam impedir Goulart

de assumir a presidência e realizar

novas eleições no prazo de sessenta

dias. O país estava à beira da guerra

civil. ―O Rio Grande do Sul estava

pronto para a luta‖. O comandante do

III Exército tinha o apoio de Leonel

Brizola, governador do Rio Grande do

Sul e cunhado de João Goulart.

Brizola também organizou

rapidamente demonstrações

populares em Porto Alegre, em apoio

ao seu conterrâneo. As dissidências

na área militar e o surgimento, na

opinião pública, de uma corrente

―legalista‖, que defendia o direito

constitucional de Jango de assumir a

Presidência, levaram o Congresso a

uma solução de improviso para

contornar a crise. A 02 de setembro

de 1961, foi votado um Ato Adicional

à Constituição de 1946: foi instaurado

o sistema parlamentarista de governo

no Brasil, com poderes limitados,

Goulart tomou posse da Presidência

da República a 07 de setembro de

1961.

Os movimentos sociais

Comando Geral dos Trabalhadores

(CGT) - Nesse período, começam a

aparecer movimentos sociais com

uma maior organização das camadas

populares, em parte devido à crise

econômica do período e das perdas

salariais. Um exemplo disso é a

criação da CGT, em 1962, a primeira

organização intersindical brasileira,

com o intuito de dirigir o movimento

sindical no Brasil.

As Ligas Camponesas - Na área

rural também os trabalhadores

passam a se organizar para conseguir

direitos mínimos de trabalho. As Ligas

Camponesas foram associações de

trabalhadores rurais criadas

inicialmente em Pernambuco e

posteriormente em outras regiões do

Brasil. Essas Ligas tiveram forte

atuação desde meados da década de

50, até a queda de Jango. Os

principais objetivos das Ligas eram

assistenciais (assistências médicas e

jurídicas); pregavam também a

autodefesa, nos casos de ameaças a

seus membros, como aquelas nas

quais, esses eram obrigavam deixar

as terras ocupadas sem indenização

Page 230: Historia Geral e do Brasil

101

pelas benfeitorias realizadas;

fortalecer a consciência dos direitos

comuns dos trabalhadores rurais.

Os novos ganhos dos

trabalhadores: Alguns direitos foram

conseguidos no período e adicionados

à CLT: o 13º. Salário, de 1962, o

salário-família, de 1963, e o Estatuto

dos Trabalhadores Rurais do mesmo

ano. Este último dava aos

trabalhadores rurais as mesmas

condições trabalhistas que os

trabalhadores urbanos.

Plebiscito sobre o

parlamentarismo: A implantação do

parlamentarismo não permitia que

João Goulart conseguisse aprovar

suas propostas políticas. Mesmo

assim, Jango elaborou um plano de

governo voltado para três pontos

fundamentais: o desenvolvimento

econômico, o combate à inflação e a

diminuição do déficit público. Todavia,

o regime parlamentarista

impossibilitava a articulação de uma

coalizão política. A impopularidade do

parlamentarismo acabou permitindo a

antecipação do plebiscito que decidiria

qual sistema político deveria ser

adotado no Brasil. Desta forma, em

1963, consultada, a população

brasileira votou pela volta do sistema

presidencialista. Com a volta do

presidencialismo, João Goulart

defendeu a realização de reformas

que poderiam promover a distribuição

de renda por meio das chamadas

Reformas de Base.

Questões de vestibulares

1. UFF 2004. A partir de 1961, as

Ligas Camponesas — formas de

organização dos trabalhadores rurais

— entraram em crise interna, devido

a divergências entre suas lideranças.

Uma defendia a adoção das teses da

guerra de guerrilhas e a outra,

representada por Francisco Julião e

contrária a esta estratégia, tentou,

sem sucesso, unificar novamente a

direção do movimento. Com base

nessa afirmação é possível dizer que,

no decorrer dos anos 1960:

(A) a organização dos movimentos

sociais no campo foi aprimorada a

partir da fundação de sindicatos rurais

evangélicos;

(B) os trabalhadores rurais brasileiros

deram início a uma estratégia de

ocupação em massa das grandes

fazendas, por todo o Brasil;

(C) os trabalhadores do campo foram

vítimas do ―perigo comunista‖,

dependendo do Golpe Militar de 1964

para libertá-los e reestruturá-los com

base em acampamentos rurais;

(D) os movimentos sociais no campo

brasileiro passaram a ser conduzidos

e orientados pela União Democrática

Ruralista;

(E) a organização dos trabalhadores

rurais brasileiros passou a ser

disputada por duas novas forças

políticas: a Igreja e o Partido

Comunista Brasileiro (PCB).

Page 231: Historia Geral e do Brasil

102

Capítulo 24. O golpe de 64 Apresentação - O golpe liderado

pelos militares que depôs o presidente

João Goulart, representou a reação

dos setores conservadores da

sociedade brasileira à manutenção da

política populista no país. A

recuperação da economia mundial

comandada pelos EUA, privilegiava o

capital monopolista das nações

desenvolvidas e a concentração de

renda, amparada no interesse em

impedir a expansão do socialismo na

Europa e mesmo na Ásia. Essa

ideologia americana teve reflexos

sobre os países latino-americanos em

fase de desenvolvimento industrial

como o Brasil. Em um primeiro

momento, os países latino-americanos

ainda mantiveram certa estabilidade

financeira, devido ao aumento das

exportações de produtos primários

para os países que se recuperavam da

Segunda Guerra Mundial, porém essa

situação começou a mudar a partir de

1953. A queda dos preços teve

grande impacto no setor agrário, que

mantinha a estrutura latifundiária e

monocultura tradicional e que não

tinha sido alterada pelos governantes

populistas. A crise no setor primário

teve diversas consequências, dentre

elas um maior empobrecimento das

camadas populares do campo e a

diminuição da capacidade de

importação, atingindo as camadas

médias urbanas e, principalmente, a

capacidade da industria nacional,

afetando diretamente a política

econômica do governo, baseada no

"industrialismo nacionalista". Soma-se

a essa situação o aumento da dívida

externa e da inflação.

O processo político até a

derrocada do golpe - Os primeiros

meses de governo de Jango foram

acompanhados de grande expectativa.

Destacava-se como ministro, Celso

Furtado que no ano anterior havia

elaborado um plano de combate a

inflação e de recuperação do

crescimento, e que deveria ser

colocado em prática durante os três

anos seguintes.

O Plano Trienal 1963 - A inflação

era a grande responsável pela

estagnação do crescimento, como

também pelo agravamento das

tensões sociais. O Plano baseava-se

numa análise de toda a conjuntura e

salientava a necessidade de um

conjunto de reformas que pudessem

promover o crescimento e, ao mesmo

tempo, diminuir as contradições

sociais. O objetivo desse plano era

reduzir a inflação e possibilitar a volta

do desenvolvimento através de uma

política de austeridade, o que gerou

certa insatisfação popular. Mesmo

assim, o plano conseguiu reduzir a

inflação que estava em 52% em 1962

para 10% em 1965.

As Reformas de base - No dia 13 de

março 1963, realizou-se o comício

da Central do Brasil, no qual Jango

proclamava as Reformas de Base,

decretando o início do processo de

reforma agrária. A reação

conservadora veio seis dias depois em

São Paulo, com a Marcha com Deus

e a família pela liberdade,

organizada pela Igreja Católica,

reunindo as camadas médias. Com as

reformas, Jango pretendia ganhar o

apoio das classes populares, nas quais

ele tentava se apoiar. As reformas

incluíam dentre outras medidas: a

reforma agrária; a tributária; a

trabalhista, e implementava o

controle da remessa de lucros para o

exterior. Havia ainda, paralelo às

reformas de base, um amplo plano de

alfabetização objetivando acabar com

o analfabetismo no país em alguns

anos, este programa foi interrompido

pelo governo militar. ―O governo de

Jango não cai em razão de seus

eventuais defeitos; ele é derrubado

por suas qualidades: representa uma

ameaça tanto para o domínio norte-

americano sobre a América Latina,

como para o latifúndio‖. Darcy Ribeiro.

Page 232: Historia Geral e do Brasil

103

Jango e sua mulher no Comício da Central do

Brasil.

Os Interesses contrariados - Essas

reformas não agradavam certos

setores da sociedade. Os grandes

proprietários rurais, principalmente, e

aqueles com latifúndio improdutivo,

que eram contra a reforma agrária. As

grandes fortunas do país eram contra

a reforma tributária que iria tirar

menos dos assalariados e mais das

pessoas com altas rendas. Por outro

lado, as multinacionais não queriam

pagar altas taxas de remessa de

lucros para o exterior, daí serem elas

também contrárias à nova lei de

remessa de lucros. Por fim, os

empresários nacionais e estrangeiros

não desejavam um avanço maior da

legislação trabalhista. Os resultados

escassos da política externa foram

responsáveis pelo aumento das

críticas ao governo, tanto pela

"esquerda" como pela direita.

Enquanto a inflação crescia, Jango

perdia ainda mais as suas bases de

sustentação política, tanto de setores

moderados do PTB, seu próprio

partido, como do PSD (que

aproximava-se do conservadorismo

da UDN), assim como da ala esquerda

do PTB e das organizações sindicais. A

situação da economia se deteriorou,

provocando o acirramento dos

conflitos de natureza classista. Todos

esses fatores provocaram, de forma

conjunta, uma enorme instabilidade

institucional, que acabou por dificultar

a governabilidade. Nessa conjuntura,

o governo tentou mobilizar setores

das Forças Armadas, como forma de

obter apoio político, mas isso colocou

em risco a hierarquia entre os

comandos militares e serviu como

estímulo para o avanço dos militares

golpistas. Em 1964, a sociedade

brasileira se polarizou. As classes

médias, as elites agrárias e os

industriais se voltaram contra o

governo e abriram caminho para o

movimento dos golpistas.

Enfraquecido pela crise econômica e

pelas pressões internas e externas,

Jango se voltou para os grupos mais à

esquerda, aliando-se a Leonel Brizola

e Miguel Arraes, buscando apoio nos

sindicatos e organizações estudantis.

Em contrapartida, os setores

conservadores se organizavam

através do IBAD (Instituto Brasileiro

de Ação Democrática) e IPES

(Instituto de Pesquisas e Estudos

Sociais) financiado pela Embaixada

dos EUA, e através da organização do

empresariado paulista.

A Preparação do golpe, o

complexo IPES/IBAD - Esses

grupos sociais, grandes fazendeiros,

empresários nacionais e empresários

estrangeiros ou empresários ligados

ao capital internacional vão se reunir

em dois órgãos que vão planejar o

golpe e a forma de governo a ser

instituída após o mesmo. Vão se

reunir no Instituto de Pesquisas e

Estudos Sociais (IPES) e Instituto

Brasileiro de Ação Democrática

(IBAD). Haverá a presença ainda de

membros da Escola Superior de

Guerra (ESG) nessas instituições. A

CIA daria apoio técnico a estes órgãos

e o presidente norte-americano John

Kennedy o apoio financeiro aos órgãos

e aos governos estaduais que

apoiavam o golpe, como o de Carlos

Lacerda na Guanabara e o de Ademar

de Barros em São Paulo.

A ESG - A Escola Superior de Guerra

fora criada em 1949, no governo

Dutra e tinha a participação de

militares norte-americanos que

prestavam cursos para os militares

brasileiros. Os membros dessa escola

tinham altas patentes militares e

possuíam posturas antinacionalistas e

alinhadas com os interesses

estrangeiros. Os membros da ESG

eram contra os monopólios da

Petrobrás e da Eletrobrás durante o

governo Vargas. Os líderes dessa

escola serão exatamente os militares

que darão o golpe e assumirão os

Page 233: Historia Geral e do Brasil

104

mais altos cargos políticos do país na

época da ditadura.

As Radicalizações das posições à

esquerda - As esquerdas se

mobilizam fazendo greves, passeatas

e debates políticos. A UNE ganhava

força e passava a apoiar as reformas

de base, defendendo reformas na

educação e nas universidades. Ainda,

a CGT passou a politizar o seu

discurso, defendendo a manutenção

da democracia e de Jango no poder,

além de defender as Reformas de

Base. A poucos dias do golpe, Goulart

fez um discurso na Central do Brasil,

no Rio de Janeiro, onde foi recebido

por uma multidão de trabalhadores

que o apoiaram. Junto com toda essa

mobilização da esquerda, surgiram

também alguns movimentos culturais

que traziam grandes novidades.

Assim, surgia no período o cinema

novo, a bossa nova, o tropicalismo,

um teatro engajado etc.

As Radicalizações das posições à

direita - Vários setores da sociedade

se voltaram contra o governo. Os

tradicionais udenistas continuaram

pregando as suas críticas ao governo,

principalmente na voz de Carlos

Lacerda. A maioria absoluta dos

grandes jornais se voltava contra o

governo, defendendo abertamente o

golpe em seus editoriais. A classe

média conservadora também se

organizava defendendo os valores

tradicionais e o fim do governo Jango

na ‗Marcha com Deus e a Família pela

liberdade‘ acontecida em São Paulo.

Uma marcha anticomunista e pela

‗democracia‘.

O Golpe - Como Jango queria levar

as reformas para referendo popular e

como também era previsto uma

ampla vitória do governo, se deu o

golpe civil-militar em 1º de abril de

1964. Um golpe de classe, contra as

reformas e contra a democracia.

Page 234: Historia Geral e do Brasil

105

Capítulo 25. Ditadura Militar: o panorama político e cultural

Apresentação - Em março de 1964,

os militares assumiram o poder por

meio de um golpe e governaram o

país nos 21 anos seguintes, instalando

um regime ditatorial. A ditadura

restringiu o exercício da cidadania e

reprimiu com violência todos os

movimentos de oposição. No que se

refere à economia, o governo colocou

em prática um projeto

desenvolvimentista que produziu

resultados bastante contraditórios,

tendo em vista que o país ingressou

numa fase de industrialização e de

crescimento econômico acelerados,

sem beneficiar, porém, a maioria da

população, em particular a classe

trabalhadora. A grande peculiaridade

da ditadura brasileira, ao contrário

das outras existentes na América

Latina no período, foi que a ditadura

brasileira tentou manter uma falsa

impressão de normalidade

democrática no país. Assim, o

Legislativo se manteve aberto, como

também o Judiciário e as eleições

continuaram a existir, a não ser para

presidente e em seguida para

governador e prefeito das capitais.

A escalada autoritária da ditadura

O Endurecimento gradual - A

ditadura foi aos poucos ficando cada

vez mais autoritária. Isso porque

como o regime tentava dar uma

aparência democrática ao país tinha

dificuldade de ganhar as eleições e

manter calada a oposição, por isso,

apelou para medidas cada vez mais

autoritárias.

A “intervenção cirúrgica” - O

marechal Humberto de Alencar

Castelo Branco (abril de 1964 a julho

de 1967) liderou o golpe militar e

tornou-se o primeiro presidente da

ditadura. Em discurso à nação,

afirmou que aquele era um

‗contragolpe preventivo‘ e que seu

governo faria uma pequena

intervenção para depois entregar o

país de volta aos civis. Uma mentira

esteve à frente do primeiro governo

militar e deu início à promulgação dos

Atos Institucionais. Entre suas

medidas mais importantes, destacam-

se: a suspensão dos direitos políticos

dos cidadãos; a cassação de

mandatos parlamentares; a instituição

de eleições indiretas para governador;

a dissolução de todos os partidos

políticos e a criação de duas novas

agremiações políticas: a Aliança

Renovadora Nacional (ARENA), que

reuniu os governistas e o Movimento

Democrático Brasileiro (MDB), que

reuniu as oposições consentidas. Em

fins de 1966, o Congresso Nacional foi

fechado, sendo imposta uma nova

Constituição, que entrou em vigor em

janeiro de 1967. Na economia, o

governo revogou a Lei de Remessa de

Lucros e a Lei de Estabilidade no

Emprego, proibiu as greves e impôs

severo controle dos salários. Castelo

Branco planejava transferir o governo

aos civis no final de seu mandato,

mas os setores radicais do Exército

impuseram a candidatura do marechal

Costa e Silva.

A não-resistência - Apesar de a

direita afirmar que a esquerda estava

pronta a dar um golpe, não houve

quase resistência contra o golpe.

Jango seguiu para o Rio Grande do

Sul e decidiu não reagir. Em seguida,

Leonel Brizola organizou uma

guerrilha na serra do Caparaó, situada

entre Minas e Espírito Santo que logo

foi reprimida.

As primeiras medidas - Logo após o

golpe, o presidente dissolveu a UNE, a

CGT, as Ligas Camponesas e proibiu

as greves. Além disso, anulou a nova

lei que sobretaxava a remessa de

lucros. O governador de Pernambuco,

Miguel Arraes, foi deposto e preso. O

salário mínimo seria congelado.

O AI-1 1964 - Ato expedido pelo

presidente que valia como lei

legitimava o poder dos militares,

cassava os direitos políticos dos

cidadãos e dava início às prisões.

O AI-2 1965 - Oposicionistas que

foram a favor do golpe, como

Juscelino e Lacerda, esperavam se

candidatar a presidente em 1965,

mas logo perceberam que os militares

não planejavam somente uma

Page 235: Historia Geral e do Brasil

106

―intervenção cirúrgica‖. Em 1965, foi

editado o AI-2, que fez novas

cassações, extinguiu os partidos

políticos e criou a ARENA e o MDB,

impôs as eleições indiretas para

presidente e deu amplos poderes ao

Executivo.

O Congresso dissolvido - Após o

Congresso eleger Costa e Silva como

presidente, a Casa se recusou a

cumprir uma ordem de Castelo Branco

de cassar o mandato de seis

deputados, com isso o Congresso foi

dissolvido pelo presidente. Várias

vezes o Congresso seria dissolvido ao

longo do governo militar. Uma nova

Constituição foi elaborada.

A Constituição de 1967 -

Incorporou o AI-1, o AI-2 e a Lei de

Segurança Nacional. Com a nova

Carta, a eleição para governador

passou a ser indireta.

A oposição ao regime em 1968 -

Juscelino, Jango e Lacerda formaram

a Frente Ampla em 1966. Esta era

uma frente de políticos para tentar

pôr fim à ditadura. Os três iriam

morrer ao longo da ditadura em

acidentes misteriosos. Em 1968, em

várias partes do país, surgiram focos

de resistência como o Congresso

secreto da UNE em Ibiúna e a

Marcha dos 100 mil, após o

assassinato do estudante Edson Luís

no Rio de Janeiro. Greves estouraram

em Minas e São Paulo, mesmo com a

proibição destas. No meio de um

monte de protestos, no final do ano o

parlamentar Márcio Moreira Alves

pediu à população que não fosse às

comemorações de 7 de setembro. Os

militares exigiram que ele fosse

processado e a Câmara se recusou a

fazê-lo. Foi publicado o AI-5.

O AI-5 1968 - O marechal Artur da

Costa e Silva (março de 1967 a

agosto de 1969) enfrentou a

reorganização política dos setores

oposicionistas, greves e a eclosão de

movimentos sociais de protesto, entre

eles o movimento estudantil

universitário. Também os grupos e

organizações políticas de esquerda

organizaram guerrilhas urbanas e

passaram a enfrentar a ditadura,

empunhando armas, realizando

seqüestros e atos terroristas. O

governo, então, radicalizou as

medidas repressivas, com a

justificativa de enfrentar os

movimentos de oposição. A

promulgação do Ato Institucional nº.

5 (AI-5), em dezembro de 1968,

representou o fechamento completo

do sistema político e a implantação da

ditadura. O AI-5 restringiu

drasticamente a cidadania, pois dotou

o governo de prerrogativas legais que

permitiram a ampliação da repressão

policial-militar. Suprimidos os direitos

políticos, na área econômica o novo

presidente flexibilizou a maioria das

medidas impopulares adotadas por

seu antecessor. Costa e Silva não

conseguiu terminar seu mandato

devido a problemas de saúde. Ao

término do governo emergencial, que

durou de agosto a outubro de 1969, o

general Garrastazu Médici foi

escolhido pela Junta Militar para

assumir a presidência da República.

Esse foi o pior dos atos institucionais

e transformou o país em uma ditadura

plena. Com ele foram cancelados os

direitos individuais básicos, como o

habeas corpus em caso de crime

político. O Congresso foi novamente

dissolvido, o presidente ganhou

amplos poderes e houve mais uma

onda de cassações e prisões. Órgãos

como o SNI (Serviço Nacional de

Informação) ficaram responsáveis

pelas perseguições políticas.

A resistência - Após a decretação do

AI-5, surgiu uma série de grupos que

defenderam a luta armada para

derrubar o regime como as frentes de

guerrilha urbana, como a ALN, PCBR,

VPR, o MR-8 e a VAR-Palmares. Esses

grupos promoveram seqüestros de

embaixadores em troca de liberdade

de presos políticos e outros atos

contra a ditadura. Houve ainda uma

guerrilha rural na região do Araguaia,

liderada pelo PC do B. Esses grupos

foram todos destruídos pela repressão

da ditadura até 1973.

Os anos Médici - (novembro de

1969 a março de 1974): O general

Emílio Garrastazu Médici dispôs de um

amplo aparato de repressão policial-

militar e de inúmeras leis de exceção,

sendo que a mais rigorosa era o AI-5.

Por esse motivo, seu mandato

Page 236: Historia Geral e do Brasil

107

presidencial ficou marcado como o

mais repressivo do período ditatorial.

Exílios, prisões, torturas e

desaparecimentos de cidadãos

fizeram parte do cotidiano de

violência repressiva imposta sobre a

sociedade. Siglas como DOPS

(Departamento de Ordem Política e

Social) e DOI-CODI (Destacamento de

Operações e Informações-Centro de

Operações de Defesa Interna) ficaram

conhecidas pela brutal repressão

policial-militar. Com a censura, todas

as formas de manifestações artísticas

e culturais sofreram restrições. No

final do governo Médici, todas as

organizações de luta armada foram

dizimadas.

Governo Médici: Futebol campeão e auge da

repressão. Fonte: http://br.geocities.com

Na área econômica, o governo colheu

os frutos do chamado "milagre

econômico", que representou a fase

áurea de desenvolvimento do país,

obtido por meio da captação de

enormes recursos e de financiamentos

externos. Boa parte desses recursos

foi investida em infra-estrutura:

estradas, portos, hidrelétricas,

rodovias e ferrovias expandiram-se e

serviram como base de sustentação

do vigoroso crescimento econômico. O

PIB (Produto Interno Bruto) chegou a

crescer 12% ao ano e milhões de

empregos foram gerados. A curto e

médio prazo, esse modelo de

desenvolvimento beneficiou a

economia, mas a longo prazo o país

acumulou uma dívida externa cujo

pagamento (somente dos juros)

bloqueou a capacidade de

investimento do Estado. A

estabilidade política e econômica

obtida no governo Médici permitiu que

o próprio presidente escolhesse seu

sucessor: o general Ernesto Geisel foi

designado para ocupar a presidência

da República.

A censura - Existia a censura aos

órgãos de comunicação e aos artistas

desde o golpe de 1964, mas ela foi

levada ao extremo com o AI-5,

quando foi imposta a censura prévia à

imprensa. Notícias como epidemias de

meningite e os números dos acidentes

de trabalho foram proibidas de serem

veiculadas. A censura à imprensa

tornou-se implacável. Os assuntos

cortados não eram substituídos por

outras notícias, mas por poemas

épicos. Tinham preferência pelos

―Lusíadas‖ de Luís de Camões.

Notícias de prisões, torturas e

desaparecimentos não podiam ser

publicadas. Nas mãos dos censores

textos e imagens eram proibidos ―por

apresentarem conteúdos subversivos

ou imorais‖. Alguns autores se

tornaram vítimas preferenciais, foi o

caso do compositor Chico Buarque de

Holanda obrigado a criar um

personagem, ao qual deu o nome de

Julinho da Adelaide para que suas

composições pudessem passar pela

censura. Um mesmo samba enviado a

julgamento com autoria de Chico

Buarque era vetado, mas quando

assinado por ―Julinho da Adelaide‖,

passava sem corte. A repressão calou

vozes e tirou de cena lideranças

políticas e administrativas. Foi diante

dessa situação que muitos

estudantes, sindicalistas e religiosos

optaram em lutar contra o governo

militar, enfrentando o AI-5. Alguns

foram presos, torturados física e

psicologicamente, outros morreram

dentro dos chamados porões da

ditadura. Alguns foram exilados,

outros se auto-exilaram.

Questões de Vestibulares

1. ENEM 2006. Os textos a seguir

foram extraídos de duas crônicas

publicadas no ano em que a seleção

brasileira conquistou o tricampeonato

mundial de futebol. O General Médici

falou em consistência moral. Sem

isso, talvez a vitória nos escapasse,

pois a disciplina consciente,

livremente aceita, é vital na

Page 237: Historia Geral e do Brasil

108

preparação espartana para o rude

teste do campeonato. Os brasileiros

portaram-se não apenas como

profissionais, mas como brasileiros,

como cidadãos deste grande país,

cônscios de seu papel de

representantes de seu povo. Foi a

própria afirmação do valor do homem

brasileiro, como salientou bem o

presidente da República. Que o chefe

do governo aproveite essa pausa,

esse minuto de euforia e de efusão

patriótica, para meditar sobre a

situação do

país. (...) A realidade do Brasil e a

explosão patriótica do povo ante a

vitória na Copa. Danton Jobim. Última

Hora, 23/6/1970 (com adaptações).

O que explodiu mesmo foi a alma, foi

a paixão do povo: uma explosão

incomparável de alegria, de

entusiasmo, de orgulho. (...)

Debruçado em minha varanda de

Ipanema, [um velho amigo]

perguntava: — Será que algum

terrorista se aproveitou do delírio

coletivo para adiantar um plano seu

qualquer, agindo com frieza e

precisão? Será que, de outro lado,

algum carrasco policial teve ânimo

para voltar a torturar sua vítima logo

que o alemão apitou o fim do jogo? Rubem Braga. Última Hora, 25/6/1970 (com adaptações).

Avalie as seguintes afirmações a

respeito dos dois textos e do período

histórico em que foram escritos.

I Para os dois autores, a conquista do

tricampeonato mundial de futebol

provocou uma explosão de alegria

popular.

II Os dois textos salientam o

momento político que o país

atravessava ao mesmo tempo em que

conquistava o tricampeonato.

III À época da conquista do

tricampeonato mundial de futebol, o

Brasil vivia sob regime militar, que,

embora politicamente autoritário, não

chegou a fazer uso de métodos

violentos contra seus opositores.

É correto apenas o que se afirma em

A) I.

B) II.

C) III.

D) I e II.

E) II e III.

2. UFRJ 2006.

Geisel – [...] O Brasil hoje em dia é

considerado um oásis [...].

Coutinho – [...] Ah, o negócio

melhorou muito. Agora, melhorou,

aqui entre nós, foi quando nós

começamos a matar. Começamos a

matar.

Geisel – Porque antigamente você

prendia o sujeito e o sujeito ia lá para

fora. [...] Ó Coutinho, esse troço de

matar é uma barbaridade, mas eu

acho que tem que ser. Fonte: GASPARI,

Elio. A ditadura derrotada. São Paulo, Companhia das Letras, 2003, p. 324.

O diálogo acima, ocorrido no dia 16

de fevereiro de 1974 entre os

generais Ernesto Geisel e Dale

Coutinho, se deu um mês antes da

posse do primeiro como Presidente da

República e do segundo como Ministro

do Exército.

a) Cite uma medida do Governo

Geisel (1974-1979) que o aproximava

das aspirações de parte da sociedade

brasileira pela volta ao regime

democrático.

b) Indique duas ações do mesmo

governo que reforçaram o padrão

autoritário do regime militar

inaugurado em 1964.

3. UNIRIO 2007. 1969. Nesse ano, o

homem chegou à Lua e nos Estados

Unidos da América, 400 mil jovens se

reuniam em Woodstock, por três dias.

Mas no Brasil, iniciava-se, ao

contrário do que acontecia no mundo,

distensão política e liberação de

costumes, a repressão e o

obscurismo. A juventude brasileira

não ia a Woodstoock, se entregava a

uma guerra desigual e perdida.

Os fatos que melhor representam a

situação expressa no texto são:

a) O General Emílio Garrastazu Médici

assumiu o governo; Lamarca iniciou a

guerrilha no Vale da Ribeira; foi

aprovada a Lei de Segurança Nacional

e o primeiro seqüestro de um

embaixador no mundo acontece em

1969.

Page 238: Historia Geral e do Brasil

109

b) O general Costa e Silva decreta o

Ato Institucional nº 5 e o Ato

Institucional nº 14; o fechamento do

Congresso; o fim da luta armada da

ALN-VPR; extinção da UNE (União

Nacional dos Estudantes).

c) A passeata dos 100 mil que marcou

o protesto contra o regime; nascia a

Tropicália; e o Ato Institucional nº 5

foi decretado, apesar da não-

aceitação popular.

d) Aparecem as guerras de guerrilha;

nasce a Operação Bandeirante

(Oban); e a crise do chamado

―Milagre Brasileiro‖, idealizado por

Antonio Delfin Netto.

e) A guerrilha esteve próxima de

tomar o poder com Lamarca e

Marighella; o Ato Institucional de nº

14 foi decretado; na área econômica

foi lançado o Plano de Metas –

―Milagre‖.

4. UFF 2007. Ligado à União Nacional

dos Estudantes, o Centro Popular de

Cultura produziu, em 1961, um

clássico do teatro brasileiro: Eles não

usam black-tie, escrito e dirigido por

Gianfrancesco Guarnieri,

recentemente falecido. A peça era

uma aguda e sensível análise sobre a

vida do operariado brasileiro e era um

exemplo de um teatro engajado,

preocupado em fazer uma reflexão

sobre as dificuldades e mazelas do

povo brasileiro.

Com base nessa afirmativa:

a) exemplifique a atuação da UNE na

defesa da democracia no Brasil, no

período imediatamente posterior ao

Golpe de 1964;

b) discuta a relação entre

nacionalismo e cultura popular

presente nos princípios e nas ações

desenvolvidas pelo Centro Popular de

Cultura.

5. PUC 2009. As novas idéias

propostas pelos jovens que

participavam do movimento de 68

podem ser caracterizadas por frases

emblemáticas que eram comunicadas

através de pichações, faixas, cartazes.

Leia algumas das frases criadas pelos

estudantes na época:

―Sejam realistas, exijam o

impossível!‖

―Nós somos todos judeus alemães‖

―Os limites impostos ao prazer

excitam o prazer de viver sem limites‖

―Faço o amor, não faço a guerra‖

―Professores, sois tão velhos quanto a

vossa cultura, o vosso modernismo

nada mais é que a modernização da

polícia, a cultura está em migalhas‖ Fontes: ―A Sociedade do Espetáculo‖ (Guy Debord) e ―Internacional Situacionista‖ (coletânea de textos publicados em Maio de 1968)

Assinale a alternativa que NÃO está

diretamente relacionada às frases

citadas.

(A) Os movimentos de 68 protestaram

contra o racismo, reivindicando a

constituição de uma sociedade

multirracial.

(B) A década de 60 tornou-se a

década da agitação dos estudantes,

cujas armas eram as pichações e as

ocupações das universidades

questionando as relações de poder

dentro e fora das salas de aula.

(C) As reivindicações de 68 incluíam

também a libertação dos costumes

sexuais, possibilitada inclusive pela

descoberta de novos métodos

anticoncepcionais (pílula).

(D) 68 mudou profundamente as

relações entre raças, sexos e

gerações, ajudando a afirmar idéias

como a das liberdades civis

democráticas, a dos direitos das

minorias e a da igualdade entre

homens e mulheres, brancos e negros

e heterossexuais e homossexuais.

(E) O movimento de 68 foi marcado

por slogans que defendiam a

contracultura e a causa ambientalista,

tendo como objetivo contestar a

cultura oficial para impor novos

Page 239: Historia Geral e do Brasil

110

6. UERJ 2006.

Passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro, Jun 1968 (FREIRE, Américo e outros. História em curso. Rio de Janeiro: FGV, 2004.) FIGURA2: Protestos em Paris, Maio de1968 (MOCELLIN, R. e CAMARGO, R. de. Passaporte para a História. São Paulo: Editora do Brasil, 2004.)

Em 1968, vários países foram palco

de movimentos que expressaram

insatisfações em relação ao sistema

estabelecido. Tanto no Brasil quanto

na França, estudantes e intelectuais

se destacaram nas manifestações

públicas de protesto. Dois objetivos

que esses grupos pretendiam alcançar

estão apontados em:

(A) valorização da contracultura e

supressão dos organismos políticos

(B) democratização de instituições

vigentes e crítica à cultura dominante

(C) recuperação das propostas

stalinistas e contestação ao mundo

burguês

(D) unificação dos movimentos sociais

por meio da luta armada e combate

às estruturas burocratizantes

7. UERJ 2009.

No Brasil, o ano de 1968 foi marcado

pelos crescentes choques entre as

tentativas de maior participação

política e o endurecimento do governo

militar. Essa polarização pode ser

constatada nos seguintes eventos

ocorridos naquele ano:

(A) passeata dos cem mil –

decretação do AI-5

(B) reforma universitária –

instauração do SNI

(C) invasão do prédio da UNE –

surgimento da ARENA e do PMDB

(D) fusão dos estados da Guanabara e

do Rio de Janeiro – fechamento do

Congresso Nacional.

Page 240: Historia Geral e do Brasil

111

Capítulo 26. Ditadura Militar: o panorama econômico

Apresentação - O modelo econômico

adotado durante a ditadura militar, se

assemelha àquele anteriormente

implantado pelo governo JK, porém

com a intensificação de algumas

práticas. Esse modelo promoveu, em

linhas gerais, uma abertura da

economia ao capital externo em

substituição ao modelo de incentivo a

exportação econômico-nacionalista. A

prática econômica do regime militar

foi amparada no princípio da atração

de capitais internacionais. Desta

forma, as empresas multinacionais

que se estabeleceram no país,

receberam inúmeras facilidades para

instalação em território brasileiro.

Essa medida desnacionalizou diversos

setores.

O modelo econômico da ditadura e

suas conseqüências - Logo após o

estabelecimento do governo militar,

os novos ministros da área econômica

adotou algumas medidas como a livre

entrada e saída de capitais

internacionais; o fim do controle sobre

os preços dos produtos considerados

básicos, como os alimentos; o

congelamento dos salários; a

privatização da Fábrica Nacional de

Motores e da Lloyd Brasil.

O PAEG - A elaboração do Plano de

Ação Econômica do Governo (PAEG)

para o período 1964-1966, tinha

como principal meta combater a

inflação. Os ministros da área

econômica do governo militar

criticavam a política econômica dos

governos anteriores, que teria

prejudicado o crescimento da

economia, com a falta de

investimentos privados em diversos

setores estratégicos; a

desorganização do mercado de crédito

e de capitais e a retração do

investimento estrangeiro. O PAEG

propunha a realização de reformas

que visavam sustentar o crescimento

econômico e o arrocho salarial com

fim de controlar a inflação. Idealizado

pela dupla de ministros Bulhões de

Carvalho e Roberto Campos, o plano

incluía corte nos gastos públicos,

aumento da carga tributária e

contração de crédito. O plano de fato

contribuiu para a diminuição da

inflação, contudo, contribuiu também

para o aumento da concentração de

renda.

A reestruturação do sistema

financeiro nacional – Nos anos de

Ditadura, foi reformulado todo o

sistema financeiro do Estado. Criou-se

o Conselho Monetário Nacional (CMN)

– autoridade monetária máxima do

país –, o Banco Central (BC), e o

atualmente extinto Banco Nacional de

Habitação (BNH). O Estado

aumentava assim, a sua participação

na economia, com novos impostos,

como o IPI e o ICM.

O FGTS - Em 1966 foi criado o Fundo

de Garantia por Tempo de Serviço,

que substituiu a lei da CLT. Com a

criação do fundo foi extinta uma

garantia essencial dos trabalhadores

assalariados: a estabilidade no

emprego depois de dez anos de

serviço.

O „milagre econômico‟ 1968-1973

- a época conhecida como a do

―milagre econômico‖ brasileiro foi um

período de grande crescimento da

economia derivado principalmente do

efeito das reformas associadas ao

Programa de Ação Econômica do

Governo (PAEG), durante o governo

de Castello Branco (1964-1967). O

―milagre‖ foi marcado pela realização

de grandes obras da iniciativa pública,

como a rodovia Transamazônica, a

ponte Rio-Niterói e a Usina

Hidrelétrica de Itaipu. A realização de

tais obras ajudava a construir a

imagem de um país que se

modernizava a passos largos.

Entretanto, essa política

desenvolvimentista era custeada por

meio de enormes quantidades de

dinheiro obtidas por meio de

empréstimos internacionais. A

participação do Estado na economia

cresceu significativamente com a

criação de aproximadamente

trezentas empresas estatais entre os

anos de 1974 e 1979. O crescimento

da indústria, viabilizada por meio da

expansão do crédito, a manutenção

dos índices salariais e a repressão

política, estimulou o consumo entre as

camadas médias da população.

Page 241: Historia Geral e do Brasil

112

Entretanto, ―o milagre‖ não durou. No

ano de 1973, a crise internacional do

petróleo fez aparecer as fragilidades

da economia brasileira. Durante o

―milagre‖, o Brasil importava mais da

metade dos combustíveis que

consumia e não resistiria ao impacto

causado pela subida nos preços do

petróleo. A partir de então, o

crescimento da dívida externa e o

aumento da inflação acabou com o

sonho do ―milagre‖.

O II PND - O governo Geisel

apresentou algumas modificações na

política de desenvolvimento nacional.

O 2º. Plano Nacional de

Desenvolvimento (II PND) tentou

manter as altas taxas de crescimento

do ―milagre‖ através da participação

do Estado na economia, em lugar do

financiamento externo. Além disso, o

Plano buscava manter o controle das

indústrias de ponta, ditas da 3ª.

Revolução Industrial. Dessa forma,

investiu-se em indústria bélica,

química – destaque para a criação do

pró-álcool –, nuclear e informática.

Desdobramentos do modelo

econômico da Ditadura - Os anos

80 passaram para história como a

―década perdida‖ em virtude da

recessão econômica. Na década de 90

o crescimento econômico continuou

comprometido. A inflação chegou à

casa dos três dígitos em 1980 e

tornar-se-ia fora de controle na

década de 80. A fim de implementar

uma série de obras, o governo se

utilizou de crédito no mercado

internacional, tornando o Brasil

fortemente endividado, limitando os

gastos públicos. O ―milagre‖

contribuiu para o aumento da

desigualdade social; um forte exemplo

foi número de desnutridos no país que

aumentou enormemente. Outra marca

da ditadura foi a corrupção

generalizada, já que não havia

mecanismos de controle no período e

a imprensa era proibida de noticiar

muitos casos.

Questões de Vestibulares

1. UFF 2004. Uma das principais

características do mundo rural

brasileiro no pós-1964 consistiu na

chamada ―modernização da

agricultura‖. Essa modernização

derivou dos créditos fartos e baratos

oferecidos pelo governo aos grandes

proprietários e empresários agrícolas,

que deram origem aos complexos

agro-industriais (CAIs). Dentre as

conseqüências desse processo

destacam-se:

I) o aumento da concentração da

propriedade da terra no país, com a

expulsão dos pequenos produtores;

II) a desconcentração fundiária,

mediante a multiplicação da pequena

propriedade;

III) o crescente desaparecimento de

colonos e moradores, substituídos, no

campo, pelos bóias-frias;

IV) o aprofundamento da

desigualdade entre campo e cidade,

mediante a difusão dos valores

próprios ao mundo rural;

V) a expropriação em massa de

trabalhadores rurais, que passaram a

engrossar o processo de favelização

nas cidades;

VI) o surgimento do MST, dirigido

pelos líderes das Ligas Camponesas,

em fins da década de 60.

As afirmativas que estão corretas são

as indicadas por:

(A) I – II – IV

(B) I – III – V

(C) II – III – IV

(D) II – IV – VI

(E) III – V – VI

Page 242: Historia Geral e do Brasil

113

Capítulo 27. A Crise da Ditadura Militar e os primeiros

sinais da abertura política Apresentação - Diante da crise do

modelo econômico implantado pela a

ditadura, o regime perdeu o seu mais

forte sustentáculo, já que o ―milagre

econômico‖ tinha concedido grande

popularidade ao Governo Militar. As

pressões internas e externas

aumentaram proporcionando o início

da abertura política. Nesse panorama,

o governo de Ernesto Geisel

caracteriza-se pela necessidade de

administrar o avanço das oposições

legais e os sinais de crise da ditadura.

Nas eleições parlamentares de 1974,

a busca por reformas foi sentida com

mais força e mais de 40% das

cadeiras do Congresso Nacional foram

ocupadas por integrantes do MDB,

então partido de oposição. Os

militares, em especial aqueles

alinhados com a chamada ―linha

dura‖, preocupavam-se com a

crescente desaprovação popular do

regime. De outro lado, alguns

integrantes do governo defendiam a

necessidade de flexibilização do

regime que pudesse garantir ainda

uma maior longevidade ao governo

militar.

A abertura “lenta, gradual e

segura” - O general Ernesto Geisel

assumiu o poder em 1974 anunciando

a distensão política. No entanto,

somente cinco anos depois seria

concretizada a lei de anistia, 11 anos

depois seria eleito um presidente civil,

14 anos se passaram para que se

concretizasse a nova Constituição. e

somente 15 anos mais tarde haveria

novas eleições presidenciais.

Reafirmando seu projeto de

reabertura política ―lenta e gradual‖, o

general Geisel afastou os militares

radicais do governo para abrir portas

à eleição de João Baptista Figueiredo.

Autoritarismo e denúncias - A

derrota do partido oficial, o ARENA

para o MDB nas eleições de 1974

deixou clara a situação desfavorável

em que se encontrava o governo. Tal

situação acabou encorajando os

setores mais radicais do regime a

executarem atos de extremo

autoritarismo. Uma demonstração

disso foi o assassinato, em outubro de

1975, do jornalista Vladimir Herzog,

torturado e assassinado no DOI-Codi

de São Paulo. O grupo conhecido nas

forças armadas como ―linha dura‖ não

aceitava a abertura e deram início a

atentados terroristas contra alvos

civis. Aconteceram ataques contra

bancas de jornal, tiros contra políticos

de oposição e a indivíduos que se

posicionavam contrários à ditadura.

Alguns desses foram organizados pela

Aliança Anticomunista Brasileira

(AAB), como os atentados a bomba

contra a Ordem dos Advogados do

Brasil (OAB) do Rio de Janeiro, contra

a Associação Brasileira de Imprensa

(ABI), contra a Câmara de Vereadores

do Rio e a explosão do Riocentro,

todos ocorridos no Rio de Janeiro.

Este último, em 1981, explodiu

durante um show que reuniu mais de

20 mil pessoas e foi organizado pelo

Centro Brasil Democrático

(CEBRADE). Na época, a investigação

feita pela polícia responsabilizou o

CEBRADE pela explosão,

argumentando que o alvo seriam os

militares. Ainda, em 1978, o bispo de

Nova Iguaçu, D. Adriano Hipólito,

adepto da teologia da libertação, foi

seqüestrado e torturado, além de ter

havido a explosão de uma bomba em

sua igreja.

A organização da sociedade civil -

Vários órgãos da sociedade civil se

voltaram contra a ditadura, como a

Ordem dos Advogados do Brasil

(OAB), a Associação Brasileira de

Imprensa (ABI), a Confederação

Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),

o Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA),

as Comunidades Eclesiais de Base

(CEB), e a União dos Estudantes do

Brasil (UNE). Todos estes grupos

posicionaram-se contra o

autoritarismo e exigiram a abertura

política. O ocorrido com Herzog

acabou estimulando diversas

entidades representativas na

sociedade para que se unissem em

torno de duas grandes reivindicações:

a criação de uma nova Constituinte

para o Brasil e a anistia aos presos

políticos.

Page 243: Historia Geral e do Brasil

114

As greves - O fim do governo Geisel

e o início da gestão Figueiredo foram

marcados pelas grandes greves

acontecidas nas indústrias

metalúrgicas do ABC paulista,

lideradas pelo então sindicalista Luís

Inácio Lula da Silva. A greve de 1978

reuniu cerca de 2.500 operários, uma

nova greve em 1979 reuniu

aproximadamente 160 mil

metalúrgicos e outra greve, em 1980,

levou 100 mil operários a cruzarem os

braços, levando a prisão de Lula.

Medidas do governo Geisel - Diante

desse quadro de crise, o governo

Geisel tomou medidas como o decreto

da Lei Falcão, em 1976, que limitava

a propaganda política no rádio e na

Televisão para que se evitassem

novas derrotas nas eleições. Ainda,

em 1977, diante da recusa do

Congresso de aprovar a reforma do

Judiciário, Geisel baixou o Pacote de

Abril que fechou o Congresso, criou o

senador biônico – indicado pelo

presidente –, e mudava o peso dos

estados no Congresso, tirando força

do Sudeste e do Rio Grande do Sul,

estados nos quais a resistência ao

governo era mais fortemente

articulada.

O fim do AI-5 - A última medida de

governo Geisel foi a anulação do AI-5,

considerado um avanço em direção à

abertura. Ao fim do governo de

Ernesto Geisel, o chefe do SNI,

general João Figueiredo, seria

escolhido o novo presidente do país.

A anistia - No primeiro ano de

mandato do novo presidente, João

Figueiredo, em 1979, foi anunciada a

Anistia que libertava os presos

políticos, abria o país aos exilados e

também anulava os crimes da

ditadura, como o assassinato e a

tortura. Dessa forma, líderes políticos

como Leonel Brizola e Luis Carlos

Prestes puderam retornar ao país.

Questões de Vestibulares

1. PUC 2009. Sobre o processo de

abertura política, iniciado no governo

do general Ernesto Geisel (1974-

1979), ANALISE as afirmativas

abaixo.

I - O processo de abertura política foi

marcado por avanços e recuos, sendo

o chamado Pacote de Abril um

conjunto de medidas que representou

um ―passo atrás‖ na liberalização do

regime.

II - A liberalização do regime militar

ocorreu na prática de forma tranqüila,

sem que o governo enfrentasse a

oposição de grupos que fossem

contrários ao projeto de abertura

política ―lenta, gradual e segura‖.

III - O Congresso aprovou o fim do

AI-5, o fim da censura prévia e o

restabelecimento do habeas corpus

para crimes políticos consolidando-se,

deste modo, a liberalização do

regime.

IV - Ao longo do governo Geisel, os

grupos de oposição voltaram a se

mobilizar, destacando-se o

movimento estudantil e o movimento

operário, com a greve de São

Bernardo.

ASSINALE a alternativa correta.

(A) Somente as afirmativas I e II

estão corretas.

(B) Somente as afirmativas I e III

estão corretas.

(C) Somente as afirmativas I, II e III

estão corretas.

(D) Somente as afirmativas I, III e IV

estão corretas.

(E) Todas as afirmativas estão

corretas.

Page 244: Historia Geral e do Brasil

115

Capítulo 28. O governo Figueiredo e a

Redemocratização 1979-1985 Apresentação - O Brasil teve em sua

história três períodos democráticos:

durante Primeira República, de 1894 a

1930, contudo, nesse período poucos

indivíduos podiam votar; na Segunda

República, de 1945 a 1964, que pode

ser considerada uma época mais

democrática, todavia, os sindicatos

eram atrelados ao governo e os

analfabetos ainda eram impedidos de

votar; e atualmente, na terceira

república, mais conhecida como Nova

República, de 1985 aos dias atuais,

esta última considerada a mais

democrática de todas, instituiu o

sufrágio universal, os direitos de

greve e a sindicalização são livres e a

Constituição é socialdemocrata.

Uma menina se recusa a apertar a mão do então presidente, o general João Baptista

Figueiredo.

O Governo Figueiredo - O governo

do general João Baptista Figueiredo

foi marcado por uma forte crise

econômica e pelo processo de

abertura política do Brasil. Duas das

principais medidas desse novo

governo foram realizar a anistia

política, tanto dos perseguidos

políticos – que receberam de volta

seus direitos políticos –, como dos

militares, que foram ―perdoados‖

pelos crimes de tortura e por fim ao

sistema bipartidário – que extinguiu a

ARENA e ao MDB –, abrindo o

caminho para a criação de novos

partidos:

O PMDB - O MDB, partido de

oposição à ditadura, vira PMDB

prevalecendo como um dos partidos

mais fortes do país. Apesar de ter

uma constituição elitista, na década

de 80 assume posições

socialdemocratas. No final da década

de 80, desiludido com o governo

Sarney, sairia do seio do PMDB o

PSDB, que nasce de centro-esquerda

e vai rumando para a direita,

principalmente quando chega ao

poder em 1995.

O PDS, o PPB e o PFL - A ARENA se

transforma depois em PDS. Depois, o

PDS se transformaria em PPB, tendo

hoje o nome de PP. Em função das

eleições indiretas para presidente em

85, surge uma dissidência dentro

deste partido que dá origem ao PFL.

Todos esses partidos são de

constituição elitista e com idéias

francamente de direita, tendo práticas

corruptas recorrentes, fisiológicas e

nepotistas.

O PDT e o PTB - Brizola volta do

exílio e com outros trabalhistas

históricos do PTB de Vargas e Jango

tenta refundar o partido. No entanto,

Ivete Vargas consegue a sigla na

Justiça, fundando um partido de

direita vinculado ao PDS. Brizola

fundaria, então, o PDT, partido

trabalhista e de esquerda.

O PT - O PT, que nasce também em

1980, surge diferente dos outros

partidos, por não se vincular a nada

da política anterior. Formado por

sindicalistas, ex-presos políticos e

intelectuais socialistas de esquerda, é

bem vinculado a movimentos sociais

como o MST, a CUT e a parcela de

esquerda da Igreja católica.

Os PCs - Os partidos comunistas, que

se dividiram em vários na década de

60, foram proibidos neste momento

de voltar à legalidade, sendo

legalizados só no final da década de

80.

O III PND - Na área econômica, o

governo Figueiredo sofria com as

mazelas econômicas geradas pelo fim

do ―milagre econômico‖. Buscando

superar as dificuldades econômicas, o

novo ministro – Delfim Neto, chamado

novamente para o cargo de Ministro

da Fazenda – lançou o III Plano

Page 245: Historia Geral e do Brasil

116

Nacional de Desenvolvimento. Apesar

do novo Plano, o pacote econômico

não conseguiu melhorar o quadro

econômico, já que a recessão da

economia mundial não permitia

naquele momento a obtenção de

novos empréstimos.

A reorganização dos sindicatos - A

partir das greves no ABC paulista e

outras várias pelo país, os sindicatos

se reorganizam e foi fundada a

Central Única dos Trabalhadores

(CUT).

O MST - Em 1984 surgiu o Movimento

dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

(MST), no Sul do país, espalhando-se

posteriormente para todo o território

nacional. O objetivo inicial do

movimento era alcançar a reforma

agrária no Brasil através da ocupação

de terras.

A reorganização da sociedade -

Além dos sindicatos e outros

movimentos de cunho trabalhistas,

surgem também movimentos

vinculados a questões políticas e

sociais. São os movimentos feminista,

de grupos homossexuais, negros, a

formação ONGs, associações de

moradores, etc.

As eleições - Nas eleições diretas

estaduais de 1982, o PMDB conseguiu

a vitória em importantes estados e

Leonel Brizola foi eleito governador no

estado do Rio de Janeiro. Em 1984,

grupos políticos se organizaram e se

mobilizaram pela aprovação da

emenda ―Dante de Oliveira‖. Essa

estabelecia a realização de uma nova

eleição presidencial, com voto direto,

para o ano de 1985, o que acarretou

numa grande mobilização popular que

ficou conhecida como a campanha das

Diretas Já. Pedindo eleições diretas, a

campanha reuniu aproximadamente:

40 mil pessoas em Curitiba, 50 mil em

Natal, 1 milhão no Rio de Janeiro, e

1,3 milhão em São Paulo. A emenda,

no entanto, não foi aprovada no

Congresso e um novo plano de

transição democrática foi

estabelecido.

O acordo para as eleições de 1985

Estabelecida a eleição indireta para

presidente, o PDS lançou o nome do

político paulista Paulo Maluf e o

PMDB, o mineiro Tancredo Neves. O

PDT apoiou Tancredo. Um conflito

interno no PDS levou à criação da

Frente Liberal, que apoiou Tancredo

para presidente, exigindo como vice,

o maranhense José Sarney. Tancredo

venceu as eleições, mas por motivos

de saúde morreu antes da posse,

dando lugar ao vice-presidente José

Sarney como o primeiro presidente

civil desde 1964.

Para Fixar:

Principais eventos ocorridos entre

1964 e 1985

1964 Em 31 de março um golpe

político-militar depõe João

Goulart da Presidência da

República. O Ato Institucional

nº 1 suspende os direitos

políticos de centenas de

pessoas. O general Castelo

Branco toma posse como

presidente

1965 Extinguem-se os partidos

políticos existentes e institui-

se o bipartidarismo, com a

Aliança Renovadora Nacional

(Arena), de apoio ao governo,

e o Movimento Democrático

Brasileiro, de oposição.

1966 Suspensas as eleições diretas

para cargos executivos. Vários

deputados federais são

cassados. O Congresso, ao

protestar, é posto em recesso

por um mês.

1967 O marechal Costa e Silva

toma posse na Presidência da

República. Líderes da oposição

organizam uma frente ampla

contra o governo militar.

1968 Oposição é reprimida com

violência. O Ato Institucional

nº. 5 marca o endurecimento

do regime, agora abertamente

ditatorial.

1969 Costa e Silva é afastado por

motivo de saúde. Uma junta

dos ministros militares

assume provisoriamente o

governo. A alta oficialidade

das Forças Armadas escolhe o

general Garrastazu Médici

para presidente.

1970 A oposição ao regime se torna

mais intensa, com guerrilhas

Page 246: Historia Geral e do Brasil

117

na cidade e no campo. Os

militares reagem com

violência. Nos "porões" da

ditadura, passam a ocorrer

mortes, desaparecimentos e

torturas.

1971

1973

A repressão vence a guerrilha.

O país experimenta um

momento de desenvolvimento

econômico que ficou

conhecido como "o milagre

brasileiro". A economia

cresceu, mas em detrimento

da preservação ambiental e

com o aumento da

dependência do petróleo

importado e do capital

externo.

1974 O general Ernesto Geisel

assume a presidência,

enquanto o MDB conquista

uma vitória expressiva nas

eleições legislativas.

1975

1976

Geisel representa a ala

moderada dos militares e

tenta promover uma abertura,

enfrentando seus próprios

pares. O crescimento

econômico se mantém mas já

há sinais de crise, proveniente

sobretudo do aumento do

preço petróleo e da dívida

externa.

1977 A sociedade civil passa a

reivindicar efetivamente a

recuperação dos direitos

democráticos.

1978 Fim do AI-5. A abertura

política progride lentamente.

1979 O general João Baptista

Figueiredo assume a

presidência. Aprovada a lei da

anistia. Centenas de exilados

retornam ao país. O

pluripartidarismo é

restabelecido.

1980 Agrava-se a crise econômica.

Aumentam as greves e as

manifestações de protesto. O

PDS substitui a Arena e o

PMDB o MDB. Fundam-se o

PDT e o PTB.

1981 Continuam os conflitos

internos entre a ala radical e a

ala moderada das forças

armadas. Figueiredo tem um

infarto e o poder fica nas

mãos de um civil, Aureliano

Chaves, durante três meses.

1982

1983

Eleições diretas para

governadores e prefeitos, com

vitória da oposição em

Estados como São Paulo,

Minas Gerais e Rio de Janeiro.

O PT obtém seu registro na

Justiça Eleitoral. Sem

condições de pagar aos

credores externos, o Brasil vai

ao FMI.

1984 Uma campanha por eleições

diretas para presidente da

República agita o país.

Emenda à Constituição é

votada com esse objetivo,

mas não consegue ser

aprovada no Congresso. O fim

do regime militar é iminente.

1985 Indiretamente, o civil e

oposicionista Tancredo Neves

é eleito presidente da

República. No entanto, com

sua morte anterior à posse,

assume seu vice, José Sarney.

Questões de Vestibulares

1. UERJ 2006.

O MST é uma coletividade de párias,

certamente a única organizada, a

mais consciente em relação a sua

identidade e a seu sentido, e por isso

a mais competente: é uma

coletividade de condenados que se fez

sujeito da história para revogar a sua

condenação. Essa contradição mostra

que os parias deixam de ser párias

quando se organizam, pois organizar-

se é, antes de mais nada, inocular-se

a substância social e ocupar um

espaço social. (Adaptado de BISOL, José

Paulo. In: A questão agrária no Brasil. São Paulo: Atual, 1997.)

O texto acima apresenta reflexões

sobre a origem e a identidade dos

movimentos sociais organizados. Um

componente da nossa sociedade que

explica o surgimento desses

movimentos e uma característica de

sua organização, respectivamente,

estão indicados em:

Page 247: Historia Geral e do Brasil

118

(A) luta pela inclusão social –

centralização sindical

(B) concentração da riqueza nacional

– unidade partidária

(C) expropriação dos meios de

produção – ativismo político

(D) contestação do sistema

representativo – coerência ideológica

2. ENEM 2006. A moderna democracia

brasileira foi construída entre saltos e

sobressaltos. Em 1954, a crise culminou

no suicídio do presidente Vargas. No

ano seguinte, outra crise quase impediu

a posse do presidente eleito, Juscelino

Kubitschek. Em 1961, o Brasil quase

chegou ・guerra civil depois da

inesperada renúncia do presidente Jânio

Quadros. Três anos mais tarde, um

golpe militar depôs o presidente João

Goulart, e o país viveu durante vinte

anos em regime autoritário.

A partir dessas informações, relativas a

história republicana brasileira, assinale

a opção correta.

A) Ao término do governo João Goulart,

Juscelino Kubitschek foi eleito

presidente da República.

B) A renúncia de Jânio Quadros

representou a primeira grande crise do

regime republicano brasileiro.

C) Após duas décadas de governos

militares, Getúlio Vargas foi eleito

presidente em eleições diretas.

D) A trágica morte de Vargas

determinou o fim da carreira política de

João Goulart.

E) No período republicano citado,

sucessivamente, um presidente morreu,

um teve sua posse contestada, um

renunciou e outro foi deposto.

Page 248: Historia Geral e do Brasil

119

Capítulo 29. Planos econômicos e recessão

Apresentação - A década de 80 teve

amplos avanços democráticos na

política e na sociedade, mas, ao

mesmo tempo, a economia enfrentava

uma séria recessão econômica.

Inflação e dívidas - o setor

econômico enfrentava um momento

de intensa instabilidade,

demonstrativo da situação era a

inflação que no ano de 1985 atingia o

incrível percentual de 235% ao ano.

Visando conter o avanço da inflação,

no início de 1986, o governo elaborou

um novo plano econômico com a

finalidade de estabilizar a economia.

Chamado Plano Cruzado, tinha como

objetivo congelar os preços e

substituir a antiga moeda, o cruzeiro,

pelo cruzado. O sucesso do plano

levou a uma explosão do consumo, o

que acarretou em grande

popularidade ao governo. Mas, por

outro lado, gerou um desestímulo à

poupança e o desabastecimento, que

gerou a cobrança de ágio nos preços e

a volta da inflação. Enquanto isso, a

dívida pública – externa e interna –

tendia a aumentar.

As Eleições estaduais e

parlamentares - Nas eleições de

1986, o sucesso do Plano Cruzado

levou o PMDB de Sarney a vencer as

eleições em todos os estados, com

exceção de Sergipe, e elegeu 54%

dos constituintes.

Plano Cruzado II - O plano Cruzado

tinha gerado um grande déficit na

balança comercial, dificultando o

pagamento da dívida externa. Por

isso, o governo lançou o Plano

Cruzado II, que liberou alguns preços

e manteve o tabelamento de outros.

Porém, em virtude do crescimento da

dívida, o governo declarou moratória

no início de 1987. O Cruzado II

também não conseguiu combater a

inflação.

Os Planos “Bresser” e de Maílson

da Nóbrega - O novo ministro,

Bresser Pereira, congelou os preços

por dois meses e aumentou os

impostos. O plano não conseguir

controlar a inflação e a dívida. O novo

ministro Maílson da Nóbrega tentou

implantar um modelo neoliberal,

abrindo a economia, privatizando

estatais e cortando gastos públicos,

também não obteve êxito.

O Plano Verão - Um novo plano no

final do governo, manteve o

congelamento de preços e a

contenção dos gastos públicos. Como

acontecera com os planos anteriores,

esse também não conteve a inflação

que chegou aos 4 dígitos. Em

conseqüência da crise econômica, a

década de 80 foi marcada por:

saques, revoltas urbanas contra a

carestia, greves, crescimento da

pobreza, da miséria e, principalmente,

pelo aumento da criminalidade.

Impopularidade e corrupção - No

final de seu governo, Sarney era um

dos presidentes mais impopulares da

história da República. A corrupção dos

tempos da ditadura teve continuidade

no seu governo, uma vez que muitos

políticos da época da ditadura

continuaram atuando no seu governo.

A nova Constituição de 1988 - A

mais democrática Constituição que o

país já teve pode ser considerada uma

Constituição social-democrata, por

defender amplos direitos para os

trabalhadores e prever uma cidadania

participativa. A Assembléia nacional

Constituinte, foi presidida pelo

deputado Ulysses Guimarães, do

PMDB. A Constituição previu um

plebiscito, realizado em 1993, no qual

o povo decidiria entre os regimes

presidencialista, parlamentarista ou

monárquico. O presidencialismo

venceu. Em seus artigos, a Carta de

1988 acabou definitivamente com a

censura; tornou crimes inafiançáveis a

tortura, o tráfico de drogas e o

terrorismo; determinou a carga

horária semanal de 44 horas de

trabalho; instituiu a liberdade sindical

e o amplo direito de greve; a licença-

paternidade e melhorou a

remuneração das férias e da licença-

maternidade; à população foi

permitido produzir projeto de lei,

mediante a adesão de 1% das

assinaturas dos eleitores.

Questões de Vestibulares 1. UERJ 2005.

Page 249: Historia Geral e do Brasil

120

HAITI

Ninguém é cidadão

Se você for ver a festa do Pelô

E se você não for

Pense no Haiti

O Haiti é aqui

O Haiti não é aqui

Gilberto Gil e Caetano Veloso

Há duzentos anos, a revolução dos

―jacobinos negros‖ derrotou a França

napoleônica e aboliu a escravidão.

Hoje, o Haiti amarga o fim das

esperanças na ―segunda

independência‖ prometida por

Aristide. (CARLOS N. Jornal Mundo, abr

2004)

A situação crítica do Haiti hoje nos

reporta ao período de sua

independência, demonstrando que as

esperanças dos ―jacobinos negros‖

foram frustradas. Em sua música, Gil

e Caetano mencionam o Haiti,

correlacionando seus problemas com

os do Brasil. Atualmente, o principal

elemento comum entre a crise que

afeta a sociedade do Haiti e a do

Brasil é:

(A) governo antidemocrático

(B) desigualdade econômica

(C) intolerância religiosa

(D)preconceito racial

2. UFF 2006. Escrevendo sobre a

transição democrática brasileira e a

emergência da Nova República em

1985, Boris Fausto afirma que ―O fato

de que tenha havido um aparente

acordo geral pela democracia, por

parte de quase todos os atores

políticos, facilitou a continuidade de

práticas contrárias a uma verdadeira

democracia. Desse modo, o fim do

autoritarismo levou o país a uma

―situação democrática‖ mais do que a

um regime democrático consolidado.

A consolidação foi uma das tarefas

centrais do governo e da sociedade

nos anos posteriores a 1988‖ (FAUSTO,

Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: Edusp/ Imprensa Oficial do Estado, 2002, p. 290).

Com base na leitura do texto, analise

duas contradições presentes no

processo da transição ―democrática‖

no Brasil.

Page 250: Historia Geral e do Brasil

121

Capítulo 30. A eleição e o Governo Fernando Collor 1989-

1992 Apresentação - Nas eleições

presidenciais de 1989, Fernando

Collor de Mello, então governador do

estado de Alagoas, se filiou ao

desconhecido Partido da Renovação

Social (PRN) e criou uma chapa para

concorrer ao cargo de presidente.

Apesar de ser um político pouco

destacado no cenário político nacional,

Fernando Collor venceu as eleições,

tornando-se o primeiro presidente da

República eleito pelo voto direto após

29 anos. Seu curto governo se

caracterizaria pela corrupção e pelo

confisco das poupanças.

Fernando Collor durante a campanha para

presidente, em 1989.

As eleições presidenciais de 89 -

Contrariando as previsões, as eleições

de 1989 levaram para o segundo

turno dois candidatos não favoritos à

presidência. Dentre os candidatos,

havia Leonel Brizola, símbolo do

trabalhismo varguista e da República

populista e ainda Ulisses Guimarães, o

presidente da Assembléia Constituinte

e a personificação da campanha

Diretas Já. Por outro lado, os

candidatos Lula, do PT, e Fernando

Collor, do PRN, não tinham projeção

política nacional, apesar de o primeiro

ter sido o deputado federal mais

votado do país e do segundo

pertencer a uma família tradicional na

política alagoana. Os dois últimos

foram para o segundo turno. Atraindo

apoio de diferentes setores da

sociedade, Collor prometia modernizar

a economia promovendo políticas de

cunho neoliberal e a abertura da

participação estrangeira na economia

nacional, se auto-proclamando um

―caçador de marajás‖ Collor ganhou

apoio popular alertando sobre os

perigos de um possível governo de

esquerda encabeçado por Lula. A

campanha eleitoral pela TV foi

fundamental para mudar os

prognósticos. Apesar do expressivo

número de militantes do PT, a

inabilidade de Lula diante das

câmeras terminou por enfraquecer

sua campanha, em contrapartida,

Collor utilizou com grande

desenvoltura o espaço nas mídias a

ele cedido, dessa forma Fernando

Collor saiu vitorioso do pleito.

O governo Fernando Collor – Logo

depois de sua posse, Collor criou um

plano de recuperação da economia

arquitetado pela ministra Zélia

Cardoso de Mello. O Plano Collor

previa uma série de medidas que

injetariam recursos na economia com

a alta de impostos, a abertura dos

mercados nacionais e a criação de

uma nova moeda, o Cruzeiro. Entre

outras medidas, o Plano Collor

também exigiu o confisco das

poupanças, com valores superiores a

50 mil cruzeiros, durante um prazo de

dezoito meses. A recepção negativa

do Plano Collor pelos setores médios e

pequenos investidores seria apenas o

prenúncio de uma série de polêmicas

que afundariam o governo. Collor

organizou um ministério de figuras

desconhecidas e propôs uma reforma

do Estado, de cunho neoliberal, de

acordo com a nova orientação foram

extintos órgãos criados na Era Vargas,

como o Instituto do Açúcar e do Álcool

(IAA), Instituto Brasileiro do Café

(IBC), além da Siderbrás e a

Portobrás. O governo vendeu

propriedades da União, demitiu

funcionários públicos considerados

―marajás‖, reduziu tarifas aduaneiras

e deu início a um programa de

privatização das empresas estatais.

Além de não obter sucesso no plano

econômico, o governo Collor ainda se

envolveu num grande escândalo de

corrupção. Seu irmão, Pedro Collor,

denunciou publicamente, com ampla

cobertura da imprensa, as práticas

corruptas do governo de Fernando

Page 251: Historia Geral e do Brasil

122

Collor. Além da crise econômica,

instaurou-se uma crise política e o

presidente foi alvo de uma CPI

(Comissão Parlamentar de Inquérito)

instalada no Congresso Nacional por

Deputados e Senadores, que

comprovou as irregularidades

atribuídas ao seu governo. Sem base

de apoio, Collor ainda foi pressionado

por uma intensa campanha estudantil

que exigia o término do seu mandato.

Estudantes de diferentes partes do

país pintaram seus rostos de verde,

amarelo e preto numa mobilização

que ficou conhecida como ―Caras

Pintadas‖.

A queda - Diante das pressões

sofridas dentro e fora do meio

político, a situação do presidente se

tornou insustentável. O Congresso

votou pelo impedimento

(impeachment) do presidente. Apesar

da renúncia de Collor, em 22 de

dezembro de 1992, seus direitos

políticos foram cassados por oito

anos.

Mercosul - Em 1991 foi criado o

Mercado Comum do Sul. Tratava a

principio de um acordo comercial para

redução mútua das taxas aduaneiras

entre Brasil, Argentina, Paraguai e

Uruguai. Posteriormente, em 2006,

ingressou a Venezuela. Como Estados

Associados passaram a fazer parte o

Chile e a Bolívia, em 1996; o Peru,

em 2003; Colômbia e Equador, em

2004.

Questões de Vestibulares

1. UERJ 2002 - ―(...) Temos, no

governo Collor, a distância entre duas

publicidades: uma publicidade

favorável ao governo, por ele

suscitada e mesmo paga, que se

expressava na encarnação da força

física, melhor dizendo, de uma

positividade que não remetia a

nenhuma virtude moral ou política,

mas se reduzia ao mero abuso da

animalidade; e outra publicidade, que

lhe foi fatal, quando o irmão veio a

público denunciar o presidente

enquanto pessoa pública, por

corrupção, e enquanto pessoa

privada, por atos ilegais, quer imorais,

nem todos, porém, de relevância para

a sociedade brasileira, como os que se

referiam à sua vida sexual.‖ (RIBEIRO,

R. Janine. In: DAGNINO, Evelina (org.). Anos 90: Política e sociedade no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.)

Este texto apresenta algumas

reflexões sobre a crise que

desencadeou o impedimento do

Presidente Fernando Collor de Mello. A

crítica política que apóia as

preocupações do autor acerca daquele

período pode ser traduzida por:

(A) O predomínio da imagem pública

é prejudicial à democracia.

(B) A propaganda positiva é

fundamental na consolidação dos

governos atuais.

(C) A ênfase na pessoa privada

decorre da fragilidade das instituições

públicas.

(D) A imagem pública fica prejudicada

com a difusão dos meios de

comunicação.

2. UFF 2008. ―Baseada num partido

político inexistente – o PRN (Partido

da Renovação Nacional) -, criado pelo

oportunismo das circunstâncias, a

nova liderança [Collor] alimentava-se

de um discurso moralizante onde as

fronteiras entre o público e o privado

eram imprecisas: remanescente da

oligarquia, sua imagem firmava-se

como ‗caçador de marajás‘, visando

sobretudo o alto escalão dos

empregos públicos‖ (FONTES, Virginia. &

MENDONÇA, Sonia. História do Brasil Recente (1964-1992). São Paulo: Ática, 1996, p.91).

O trecho acima remete ao primeiro

presidente eleito pelo voto direto no

Brasil, após quase trinta anos de

ditadura militar. Dentre as

características dessa transição

política, pode-se destacar como a

mais importante o fato de:

(A) o discurso moralizante do

presidente Collor ter capitalizado o

apoio de todos aqueles que

desejavam maior intervenção do

Estado junto à economia;

(B) o presidente eleito ter fortalecido

o núcleo mais combativo do

movimento sindical, representado

Page 252: Historia Geral e do Brasil

123

pela Força Sindical liderada por

Antonio Medeiros;

(C) a candidatura Collor ter contado

com o apoio irrestrito de toda a classe

operária brasileira, em decorrência de

seu projeto de modernização do país;

(D) o empresariado brasileiro,

temeroso com a possível ascensão de

um governo popular, ter apoiado

Collor desde inícios de sua campanha;

(E) a atuação democratizante do

presidente ter contribuído para o

fortalecimento do espaço público no

Brasil.

Page 253: Historia Geral e do Brasil

124

Capítulo 31. O neoliberalismo no Brasil

Apresentação - No governo Collor,

os produtos importados passaram a

invadir o mercado brasileiro, com a

redução dos impostos de importação.

Ao mesmo tempo, o governo passou a

incentivar os investimentos externos

no Brasil mediante incentivos fiscais e

privatização das empresas estatais.

No entanto, estes investimentos

chegaram um pouco mais tarde, dado

o receio dos investidores frente à

instabilidade econômica do país

naquele momento. O processo

acelerado de abertura econômica,

mais intenso se deu no governo de

Fernando H. Cardoso, no qual muitas

empresas multinacionais compraram

empresas nacionais ou associaram-se

a elas. Em apenas uma década as

multinacionais mais que dobraram sua

participação na economia brasileira. A

chegada de FHC ao poder, assim

como a continuidade de suas políticas

na economia pelo governo Lula,

marca o triunfo do neoliberalismo no

Brasil.

O neoliberalismo - Com o fim da

União Soviética e o fim do ―perigo

comunista‖, perde-se o incentivo para

a existência do Estado de bem-estar

social no mundo. A organização das

empresas se modificou com o

fortalecimento do capital financeiro.

São três as principais mudanças

defendidas pelo neoliberalismo: na

relação capital-trabalho, concretizado

na ‗flexibilização da legislação

trabalhista‘; na relação Estado-capital,

nesta relação o Estado diminui o seu

tamanho e poder com as privatizações

e a desregulação da ação das

empresas; na relação entre Estado e

cidadãos, na qual o Estado deixa de

oferecer serviços fundamentais,

diminuindo a seguridade social e

passando para o mercado a função de

prover esses serviços à população.

O plano Real - Plano econômico

implantado no governo Itamar Franco

– vice-presidente que assumiu o lugar

deixado por Fernando Collor –

elaborado pelo seu ministro da

Fazenda Fernando H. Cardoso,

caracteriza-se pela indexação do

câmbio, a elevação dos impostos

federais e a redução dos gastos

públicos, inclusive em educação e

saúde. As taxas alfandegárias

diminuíram trazendo produtos

importados mais baratos, conjunto de

medidas este que segurou a Inflação,

gerando uma onda consumista, que

deu grande popularidade a Itamar e

ao seu ministro. Em contrapartida,

houve uma nova quebradeira na

indústria, provocada pela valorização

do Real e pelas baixas taxas

alfandegárias.

A eleição e reeleição de FHC -

Impulsionado pela grande

popularidade do Plano Real, o Ministro

da Fazenda Fernando H. Cardoso, em

1994, saiu candidato à presidência da

república pelo PSDB. Seu principal

adversário era candidato do PT Luis

Inácio Lula da Silva. O tucano FHC foi

eleito presidente da República já no

primeiro turno, com 55% dos votos.

Com a aprovação pelo Congresso

Nacional da emenda da reeleição,

apesar do noticiado escândalo de

compra de votos na votação da

emenda, FHC foi reeleito em 1998.

As reformas empreendidas por

FHC - Apesar das manifestações

como passeatas e greves, contrárias

às privatizações, o governo de FHC foi

marcado pela privatização de

empresas estatais, como a Embraer,

Telebrás, a Companhia Vale do Rio

Doce e outras estatais. Além da

privatização, no seu governo também

houve diversas denúncias de

corrupção, como a compra de

parlamentares para aprovação da

emenda constitucional que autorizava

a reeleição e também o favorecimento

de alguns grupos financeiros na

aquisição de algumas estatais. No

início do seu segundo mandato, em

1999, houve uma forte desvalorização

do real, devido a crises financeiras

internacionais (Rússia, México e Ásia)

que levou o Brasil a maior crise

financeira da história, além de

aumentar os juros reais e aumentar a

dívida interna brasileira. Além disso,

no governo FHC foram implantados o

gasoduto Brasil-Bolívia, a elaboração

de um Plano Diretor da Reforma do

Estado e a flexibilização do monopólio

Page 254: Historia Geral e do Brasil

125

de empresas, como a Petrobrás e a

Telebrás. Foi durante esse governo

que também entrou em vigor a lei de

responsabilidade fiscal (LRF) que

exige rigor na execução do orçamento

público, limitando o endividamento

dos estados e municípios, assim como

os gastos com o funcionalismo

público.

Questões de vestibulares 1. UERJ 2006. Radiografia do século

XX no seu final. Metade da população

do mundo – cerca de 3 bilhões de

pessoas – vive subalimentada,

enquanto outros 10% sofrem graves

deficiências alimentícias, totalizando

60% dos habitantes com algum tipo

de problema de nutrição. De outro

lado, 15% das pessoas do mundo

estão superalimentadas. Alimentos

não faltam, há excedentes agrícolas –

conforme os critérios de mercado, não

das necessidades humanas – de 15%. (Adaptado de SADER, Emir. In: MOCELLIN, R. e CAMARGO, R. de. Passaporte para a História. São Paulo: Editora do Brasil, 2004.)

Com base nos dados apresentados no

texto, um aspecto marcante da

conjuntura macroeconômica mundial

do final do século passado e início

deste milênio é:

(A) aumento da desigualdade social,

devido ao desenvolvimento

diferenciado entre os países.

(B) elevação das taxas do

desemprego estrutural, em

decorrência da concentração industrial

nos países desenvolvidos.

(C) baixa produtividade agrícola, em

função do acelerado crescimento

demográfico nos países do hemisfério

sul.

(D) distribuição desigual de alimentos,

pelo esgotamento de áreas

agriculturáveis nos países

subdesenvolvidos.

2. UERJ 2006. A General Motors

classifica o complexo industrial de

Gravataí (RS) como o mais moderno e

eficiente do grupo em todo o mundo.

Com todas as inovações tecnológicas,

a produtividade da nova fábrica deve

ser uma das mais altas. Até os líderes

sindicais americanos foram conferir de

perto se o novo conceito de produção

pode provocar desemprego. De fato, o

número de postos de trabalho é

reduzido na fábrica, mas cresce na

cadeia de fornecedores. (Adaptado de

Exame, 14/06/2000)

Nas últimas décadas do século XX,

ocorreram mudanças na estrutura

produtiva, inclusive no setor

secundário. Tais transformações,

consideradas por muitos autores

como a 3ª. Revolução Industrial,

produziram impactos na dinâmica do

mercado de trabalho e,

conseqüentemente, do movimento

sindical. A correta associação entre as

transformações na estrutura produtiva

e na organização sindical, no período

referido, está descrita em:

(A) automação – redução no número

de sindicatos patronais

(B) flexibilização – desaparecimento

dos interesses por categoria

(C) terceirização – enfraquecimento

da articulação entre os trabalhadores

(D) desindustrialização – precariedade

de legitimação das centrais sindicais

3. UERJ 2008. A partir desta edição

VEJA passará a grafar a palavra

estado com letra minúscula. Os povos

de língua inglesa, generalizando,

esperam do estado a distribuição

equânime da justiça, o respeito a

contratos e à propriedade e a defesa

das fronteiras. Mas não consideram

uma dádiva do estado o direito à boa

vida material sem esforço. Grafam

―state‖. Com maiúscula, estado

simboliza uma visão de mundo

distorcida, de dependência do poder

central, de fé cega e irracional na

força superior de um ente capaz de

conduzir os destinos de cada uma das

pessoas. O modelo de Estado contra o

qual o editorial se posiciona e o

modelo de Estado que fundamenta a

decisão dos editores da revista estão

identificados, respectivamente, na

seguinte alternativa:

(A) Mínimo; Comunista

(B) Socialista; Capitalista

(C) Corporativista; Keynesiano

(D) Bem-Estar Social; Neoliberal

Page 255: Historia Geral e do Brasil

126

Capítulo 32. O governo Lula e o Brasil atual

Lula: o metalúrgico sindicalista que

chegou a presidência do Brasil

As eleições - No ano de 2002, as

eleições presidenciais agitaram o

contexto político nacional. Os

problemas enfrentados pelo governo

FHC permitiam o crescimento da

candidatura de Lula como esperança

de dar um novo rumo à política

brasileira. O progresso econômico

alcançado com o Plano Real tinha

trazido muitas benesses à população,

todavia, não conseguiu conter o

aumento do desemprego, o

endividamento interno, nem melhorar

a distribuição de renda. Foi nesse

cenário que Lula encontrou apoio de

diversos setores políticos e da

sociedade brasileira. Eleito no

segundo turno das eleições, Lula se

tornou presidente do Brasil e sua

trajetória de vida encheu a sociedade

de expectativas em torno do seu

governo. Com Lula no poder, deu-se a

primeira vez que uma coligação de

esquerda governaria o país.

O primeiro governo Lula - Entre

suas primeiras medidas adotadas, o

governo Lula anunciou um projeto

social destinado à melhoria da

alimentação das populações menos

favorecidas, chamado projeto Fome

Zero. Esse é um dos diversos

programas sociais que marcam o seu

governo. A ação política de Lula

conseguiu empreender um

desenvolvimento historicamente

reclamado por diversos setores

sociais. No entanto, o crescimento

econômico do Brasil não conseguiu se

desvencilhar de práticas econômicas

semelhantes às dos governos

anteriores. No ano de 2005, o

governo foi denunciado por realizar a

venda de propinas para conseguir a

aprovação de determinadas medidas.

O esquema, que ficou conhecido como

―Mensalão‖.

A reeleição de Lula - Apesar do

clima de desconfiança, Lula conseguiu

vencer uma segunda disputa eleitoral.

Atualmente, os mandatos de Lula vêm

sendo percebidos como uma

tendência continuísta de um quadro

político estável, e não como uma

vitória das posições da esquerda

brasileira.

Questões de Vestibulares 1. UERJ 2006.

(O Globo, 11/05/2005)

A charge de Henfil acima faz

referência à influência dos meios de

comunicação, especialmente da

televisão, na construção de uma

identidade nacional. A interação entre

realidades regionais e a chamada

―mídia de massa‖, na sociedade

brasileira atual, tem como principal

conseqüência:

(A) resgate da história local

(B) difusão de modelos culturais

(C) crescimento da integração

regional

(D) fortalecimento da diversidade

social