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Luiz Fernando Mazzarotto Teoria da Redação Redação nos Vestibulares Redação Escolar, Comercial e Oficial Davi Dias de Camargo Interpretação de Texto Ana Maria Herrera Soares Guia Prático de Redação Guia Prático da Língua Portuguesa Guia Prático da Língua Portuguesa

Manual de Redação

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Manual de Redação que encontrei na internet muito bom, bem resumido.

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Page 1: Manual de Redação

Luiz Fernando MazzarottoTeoria da RedaçãoRedação nos VestibularesRedação Escolar, Comercial e Oficial

Davi Dias de CamargoInterpretação de Texto

Ana Maria Herrera SoaresGuia Prático de Redação

Guia Prático daLíngua Portuguesa

Guia Prático daLíngua Portuguesa

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Proibida reprodução total ou parcialDireitos exclusivos desta publicação:© Difusão Cultural do Livro Ltda.Rua Manoel Pinto de Carvalho, 80CEP: 02712-120 – São Paulo – [email protected]

EditorRaul Maia

Produção EditorialDepartamento Editorial DCL

Produção GráficaNelson Pastor

CapaAntonio Briano

DiagramaçãoThiago Nieri

RevisãoCaio Alexandre Bezarias

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Mazzarotto, Luiz FernandoManual de redação / Luiz Fernando Mazzarotto,

Davi Dias de Camargo, Ana Maria Herrera Soares.-- São Paulo : DCL, 2001. -- (Guia prático dalíngua portuguesa)

Bibliografia.ISBN 85-7338-429-8

1. Português — Redação I. Camargo, Davi Diasde. II. Soares, Ana Maria Herrera. III. Título.IV. Série.

01-0305 CDD-808.0469Índices para catálogo sistemático:

1. Redação : Português 808.0469

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No mundo atual, escrever é sempre im-portante, necessário e freqüente. Mostrar quevocê sabe comunicar-se (bem) usando a es-crita é um dos fundamentos da capacidade deser e realizar, da cidadania e da competência.A tão propalada era do computador que, muitosafirmavam, iria diminuir drasticamente a ne-cessidade de papel e de escrever, fez o inver-so: nunca tanta informação e conhecimentocircularam entre tantas pessoas e de modo tãorápido, nunca as pessoas se comunicaramtanto (via e-mails, chats, impressos etc), fa-zendo com que todos escrevamos mais e mais.

E escrever bem exige conhecer as re-gras e bons autores do idioma em que seescreve. É nesse momento, em que se exigesegurança no manejo das palavras, que sur-gem temor, dúvida, desconfiança e sentimentode debilidade diante dos labirintos da língua.Estas são as reações mais comuns devestibulandos, alunos de colégios e cursi-nhos e outros praticantes da Língua Portugue-sa quando precisam encará-la. E produzir umtexto correto e elegante, em que o uso ade-quado das infinitas e complicadas regras gra-maticais case com as idéias a serem

Introdução

comunicadas, resultando em algo prazerosode ler, parece coisa reservada aos professo-res de gramática, aqueles especialistas queestudam a Língua Portuguesa a ponto de fa-zerem disso sua profissão.

Nada mais equivocado. A Língua Portu-guesa é acessível a todos, é companheira efilha de nós e da cultura em que vivemos eparticipamos; companheira porque a utiliza-mos continuamente, é o veículo de transmis-são de nossos saberes, conhecimento e vi-são de mundo, e filha porque é uma entidadecontinuamente alterada pela vivência e cria-ções de nós, falantes da língua portuguesaespalhados pelo mundo.

Este Manual de Redação é um guia paratodos que querem e precisam escrever; pre-tende ensinar a vencer temores e dúvidasque cercam a produção de um texto. Contéma teoria completa da redação e suas categori-as, muitos exemplos do uso correto de pala-vras e expressões, como interpretar correta-mente um texto. E mais: modelos de redaçãocomercial e oficial, temas de redação e ques-tões dos principais vestibulares do Brasil, paravocê praticar o que aprendeu.

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Sumário

1. Teoria da redação

Introdução ..................................... 1A redação e os bloqueios ............ 2Tipos de redação .......................... 4

Descrição ................................. 4Tipos de descrição ............. 4Exemplos de descrição ...... 5Exemplo de descriçãode pessoa ........................... 6Exemplo de descriçãode ambiente ........................ 7

Narração .................................. 7Exemplos de narração ....... 8Formas de relataro enunciado ...................... 10

Formas do discurso .............. 11Dissertação ............................ 12

Exemplos dedissertação ....................... 14Objetividade xSubjetividade .................... 15Texto Subjetivo ................. 16Texto Objetivo ................... 16

As partes da redação— Estrutura ................................. 17

I. Introdução ........................... 17II. Desenvolvimento ................ 17III. Conclusão .......................... 18Qualidades básicas daredação .................................. 20

Montagem da redação ................ 20I. O visual ⇒ estética ............ 20II. Lado interno ⇒ correção .. 22

1. A correção ................... 232. A clareza ...................... 243. A concisão ................... 254. A originalidade .............. 255. A elegância ................... 266. A coesão ...................... 26

Montagem dos esquemas .......... 26Seleção e organização dasidéias na redação .................. 26Modelo de esquema .............. 27Dissertação:como proceder? .................... 27Exemplos de esquemas ........ 28

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Descontraia ................................. 29O estilo de cada um ............... 29

Mandamentos deuma boa redação ........................ 30O início da redação .................... 33Pontos a ponderar ...................... 34

2. A redação nos vestibulares

Lembretes importantes ............... 35Os erros mais freqüentes .......... 35Temas de redaçãode vestibulares ........................... 36

Proposta ................................. 56Modelo 1 – ENEM 2000 ............... 63Modelo 2 – UFMG 99 .................. 65Modelo 3 – UERJ 2000 ................ 66

Instruções .............................. 66Proposta deredação .................................. 66Coletânea de textos .............. 66

Conjunto 1 — Crianças eadolescentes no Brasil .... 66Conjunto 2 — A infânciana mídia ............................. 67Conjunto 3 — Algunsdados ................................ 69Conjunto 4 — Cenasbrasileiras ......................... 70

Modelo 4 – ESPM-SP .................. 70Modelo 5 – PUC-RS 2000 ........... 71

Redação ................................. 71Modelo 6 – PUCCAMP-SP ........... 72

Instruções gerais .................. 72I – Dos cuidados gerais aserem tomados peloscandidatos ........................ 72

II – Da elaboração daredação ............................. 72III – Das propostas ............ 73

Modelo 7 – UNIFOR-CE ............... 74Modelo 8 – UEMA ........................ 75Modelo 9 – UEL-PR ..................... 75

Redação ................................. 75Modelo 10 – UFPE ....................... 76

Objetivo: ................................. 76Critérios básicosde correção ...................... 77

3. Redação escolar, comercial eoficial

Exemplo de redação escolar ..... 78Carta comercial – Regras .......... 81

Ata .......................................... 83Circular ................................... 85Certificado .............................. 87Contrato ................................. 87Memorando ............................ 89Ordem de serviço .................. 89Procuração ............................ 90Parecer .................................. 91Recibo .................................... 92Relatório ................................. 94Currículo ................................. 95

Apresentação ................... 95Conteúdo ........................... 96

Redação oficial ........................... 98Ofício – Regras ..................... 98Ofício completo ...................... 99Ofício simples ....................... 100Requerimento ....................... 102

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Decreto ................................ 104Despacho ............................. 105Auto ...................................... 105Aviso .................................... 106Ato ........................................ 107Acórdão ............................... 108Boletim .................................. 109Comunicado ......................... 109Edital ..................................... 110Folha corrida ........................ 112Portaria ................................. 113

4. Interpretação de textos

Conceito .................................... 114A intenção textual ..................... 115O sentido lógico e o sentidosimbólico das palavras ............. 116Graus de compreensãodos textos ................................. 117Figuras de linguagem ............... 119

1. Metáfora ........................... 1192. Comparação .................... 120

3. Metonímia ......................... 1214. Ironia ................................ 1215. Eufemismo ........................ 1226. Prosopopéia ouPersonificação ..................... 1227. Hipérbole .......................... 1228. Antítese ............................ 1229. Gradação ......................... 12210. Catacrese ...................... 12311. Aliteração ....................... 12312. Assonância ................... 12313. Onomatopéia ................. 12314. Polissíndeto ................... 123

5. Guia prático de redação

Introdução ................................. 155Especificações ......................... 156Observações finais .................. 291Vocabulário ............................... 301Questões de vestibulares ........ 343Índice ......................................... 371Bibliografia ................................ 375

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1 Teoria da redação

Introdução

A Redação no Vestibular, ou emqualquer tipo de Concurso, certa-mente já causou muito mais horror, tre-mores, faniquitos e bloqueios do quehoje. Destarte, passou o tempo, apren-deu-se a conviver com ela, mas não seIhe descobriram os segredos, não seIhe assinalaram as técnicas, não se Iheadquiriu o sabor gratificante da con-vivência: tornou-se conhecida, masnão íntima.

O vestibular nos exige muito maisque garatujas, rabiscos, arremedos decomunicação verbal lançados ao papel.As falhas, sabemo-las, são de base. Areforma do ensino, com o distaciamentoda cultura humanística, assolou o debili-tado saber, contribuindo muito mais paraum ensino pragmático que se coloca ad-verso «ao gosto pelas letras».

E comunicarmo-nos é criar. É ofere-cer a outrem as nossas idéias, as nos-sas opiniões, as nossas experiênciasde vida. É mostrar a nossa cultura e per-sonalidade. A comunicação escrita, muitomais que a oral, é o nosso auto-retrato.A redação surge como um verdadeiroespelho do que somos — é o peso denossa bagagem cultural. Ora, entenden-do-a, mesmo que inconscientemente,como reflexo da nossa bagagem forma-tiva, como reflexo «do que sou», pare-

ce-nos normal a reação instintiva dedetestá-la, de abstraí-la de nosso dia-a-dia, pois seria anormal o regozijo por umaredação que nos lembrasse todas aslimitações de que somos possuidores.E, ainda por cima, com nosso nome eassinatura... É demais!

Mas, entenda-se o vestibular comouma grande maratona, e suponha-seque, no lugar da redação (com númerode linhas e tempo definidos), exigissemdos vestibulandos uma prova de nata-ção, por exemplo: «o candidato deveránadar quinhentos metros em cinqüentaminutos; não atingir o estabelecido im-plicará a atribuição do grau zero». Umpercentual insignificante de candidatos(aqueles que fizeram da natação, des-de a infância, uma prática constante)não se preocuparia em absoluto com talprova. Apenas, ao longo do ano prepa-ratório, continuariam a manter a forma.Os outros, a maioria esmagadora (talcomo na redação), seriam obrigados asubmeter-se a treinamentos constantese intensos, que Ihes exigiriam muita for-ça de vontade e autodeterminação emtreinar mais, muito mais do que uma vezpor mês ou por quinzena ou por sema-na. Force-se, agora, um paralelo com aredação e sinta-se o quanto nos falta,não para escrever algumas linhas (comopara dar algumas braçadas suficientespara atravessar a piscina na sua late-ral), mas para escrevermos (ou nadar-

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mos) o suficiente em técnica e corre-ção, com limites de tempo e de númerode linhas, de forma a nos possibilitarconcorrer, mais do que participar, a umavaga na Universidade.

É necessário, portanto, que cadaum, conscientizado de suas limitaçõese necessidades, se atire de corpo e almaa um trabalho de treinamento contínuo egradativo, com vistas a melhorar a suaredação, à luz das técnicas e orien-tações dadas.

O esforço, a dedicação, o reconhe-cer-se débil — mas capaz — são oselementos que, juntos, propiciarão aoaluno as condições para adquirir aautoconfiança perdida ao longo de anossem preparo específico, refletidosbasicamente em bloqueios e brancosmentais, ou na apavorante quantidadede erros que surgem após uma corre-ção. É básico que cada um venha a acre-ditar em si mesmo, sinta-se o suficiente-mente capaz de, por meio de treinos con-tínuos, elaborar uma redação que atinjaos padrões mínimos de objetividade, cla-reza e correção das idéias: pré-requisi-tos exigidos e propostos para a reda-ção nos vestibulares ou nos concursospúblicos.

Portanto:

Eu + Força de VontadeProporcional às Minhas Dificul-dades = TREINO + TREINO + TREI-NO + ...

Esta é a regra: Escrever? Só es-crevendo...!

A redação e osbloqueios

«Gastei uma hora pensando um verso

que a pena não quer escrever.

No entanto ele está cá dentro inquieto,vivo.

Ele está cá dentro e não quer sair.»

(Carlos Drummond de Andrade)

«Tantos estudantes psiquicamentenormais, que falam bem, e até comexuberância e eloqüência, no inter-câmbio de todos os dias, são deso-ladores quando se Ihes põe um lápisou uma caneta na mão.»

(Mattoso Câmara)

São poucas as pessoas que, aoreceberem a incumbência de escreveralguma coisa, ainda que simples bilhete,não sintam inibição paralisante. Aconte-ce um branco em sua mente, um vazio

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nas suas potencialidades. Vivem minu-tos (minutos?) de angústia, roem unhas,mascam caneta e nada sai.

O que acontece, se tal ocorre in-clusive com pessoas de razoável co-nhecimento, com executivos desinibidos,por exemplo?

Primeiramente, como causa objeti-va, existe a falta de hábito da escrita eda leitura. Secundariamente, existe acausa subjetiva, o bloqueio psíquico.Quando escrevemos, temos medo deexpor-nos. Em geral, não tememos sergozados pelo que dizemos. Mas nãoaceitamos a hipótese de gozação peloque escrevemos. É a força do docu-mento!...

É importante não esquecer que, omais das vezes, falar bem não significanecessariamente escrever bem. Nalinguagem oral, usamos de recursos queinexistem na escrita: os gestos, porexemplo, ou as situações configuradas,facilmente descritas ou levadas a imagi-nar, são elementos fundamentais paraque a comunicação possa ser efetua-da. Convém ainda lembrar que no falarsomos repetitivos e, às vezes, até mes-mo obscuros, sem que ninguém nos«anule» nada. Na redação, ao contrá-rio, a objetividade e a clareza devem sefazer presentes, pois nós não seremosinquiridos no caso de alguma dúvida.

Daí que nossas dificuldades se re-fletem em brancos ou bloqueios e so-mente como já dissemos, muito treina-mento e perseverança são capazes denos devolver a autoconfiança abaladae de nos oferecer um mínimo de condi-ções para que o fazer redações não se

torne algo não só penoso, mas im-possível.

Como evitar isso?

— Treinando! Escrevendo to-dos os dias. Lendo e escrevendo.

— E tempo?

— Todos dispõem de tempo. É ape-nas uma questão de saber aproveitá-lo.De dez minutos diários para uma leitura,de mais dez minutos para pequena re-dação, todos dispõem. É só fazer hábitoe... até o gosto é capaz de adquirir.

Lembre-se: 10 e 10

— Adianta escrever se ninguémcorrige?

— Evidentemente que sim! Escre-vendo todos os dias você vai sedesinibindo. Vai adquirindo jeito para acoisa. Vai sanando dúvidas de ortogra-fia (desde que consulte o dicionário).Vai ficando fluente.

— Escrever sobre quê?

— Sobre qualquer coisa. No come-ço, é aconselhável escrever sobre coi-sas que aconteceram com você. Expri-mimos melhor assuntos que vivemos.Depois sobre uma notícia, um comentá-rio. A cena de um filme. Mais tarde umtema abstrato. Reproduzir aquilo que leu.Ou então reescrever as redações quevoltam da correção, corrigindo-as noserros apontados, aumentando-as emidéias novas, enriquecendo-as de deta-lhes que, porventura, tenhamos lido ouque tenham nos ocorrido. E assim vaiindo...

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Tipos de redação

Três são os tipos de composiçãoescrita: a Descrição, a Narração e aDissertação.

Descrição

Descrever é traduzir com palavrasaquilo que se viu e se observou. É arepresentação, por meio das palavras,de um objeto ou imagem.

É uma seqüência de aspectos: for-ma, tamanho, matriz, quantidade etc.Equivale ao registro do que se vê emuma fotografia. Pessoas, objetos ou pai-sagens (com todos os seus pormeno-res) podem ser objeto de um desenhoou pintura e, logicamente, de uma des-crição.

Consiste em fazer viver, tornar vi-vos e tangíveis os pormenores, si-tuações ou pessoas. É evocar o quese vê ou sente, ou criar o que não sevê, mas se percebe ou imagina. Des-crever não é copiar friamente, masenriquecer a visão do que é real ouprocura-se tornar real. Saber descre-ver não significa enumerar muitos de-talhes, mas procurar transmitir sensa-ções fortes.

A descrição é destituída de ação. Éestática.

Na descrição, o ser, o objeto ou oambiente são mais importantes, ocupan-do lugar de destaque na frase o subs-tantivo e o adjetivo.

O interesse de um texto descritivoreside na impressão que tal descriçãoprovoca em nós, e nada melhor que osubstantivo — que designa o mundodo ser — e o adjetivo — que designa omundo das qualidades do ser — paraproduzirem enfaticamente aquela im-pressão que brota da fonte descritiva.

O emissor capta a realidade por meiode seus sentidos e a transmite, utilizandoos recursos da linguagem, tal que o recep-tor a identifique. A caracterização é im-prescindível, daí a forte incidência de ad-jetivos no texto. A descrição é atemporal,por um lado, e espacial, por outro. Ver-bos indicativos de ação ou movimento sãosecundários, valorizando-se os proces-sos verbais não-significativos, ou de liga-ção. Há grandes descrições que despre-zam totalmente formas verbais finitas, res-saltando o emprego de formas nominais(infinitivo, gerúndio, particípio).

Convém que se observe, na des-crição, a quase ausência de processosverbais finitos (indicativo ou subjuntivo),o que dá à descrição um tom especia-líssimo de imobilidade do objeto.

Tipos de descrição

1. Descrição Denotativa: A descriçãoé denotativa quando a linguagem re-presentativa do objeto é objetiva, cla-ra, direta, sem metáforas ou outrasfiguras literárias. Na descrição deno-tativa, as palavras são tomadas noseu sentido de dicionário, único. De-notativas são, por exemplo, as des-crições científicas, as descrições quevêm nos livros didáticos etc.

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2. Descrição Conotativa: É a des-crição literária, onde as palavras sãotomadas em sentido simbólico, ri-cas em polivalências. Visam a re-tratar uma realidade além da realida-de. Uma supra-realidade.

Dado, por exemplo, o tema «A Ca-deira» para descrever:

a) A pessoa que se limitasse a descre-ver fisicamente a cadeira — suas per-nas, espaldar, assento, altura, coretc. — estaria fazendo descriçãodenotativa.

b) Mas aquele que passasse, digamos,a descrever «reações psicológicas»de uma cadeira diantes dos diferen-tes tipos de nádegas que sobre elarepousassem... estaria fazendo des-crição conotativa.

Qualidades da boa descrição:uma descrição é boa quando é viva,animando-se a paisagem com seres vi-vos e com a presença do homem. Alémde viva, a descrição deve ser real epormenorizada. Descrição real é a des-crição em relevo, dotada, podemos di-zer, de corpo. Devem ser eliminados to-dos os pormenores que não se subordi-nem à impressão geral que se quer dar.

O estilo da descrição: a lingua-gem descritiva exige o vigor e o relevodo termo forte, próprio, exato, concreto.Nos quadros de natureza, por exemplo,a linguagem deve traduzir a cor e a vi-são, os espaços sem limites, as formassem contornos, imprecisas, intangíveis,para isso utilizando os termos gerais eabstratos.

Exemplos de descrição

1. «Duas horas da tarde. Um sol ardentenos colmos dardejando e nos eiradossobreleva aos sussurros abafados ogrito das bigornas estridentes...»

(Gonçalves Crespo)

2. «Manhã cinzenta. Partida de Lisboa.Os primeiros aspectos da campinaribatejana: touros, campinos de varaao alto, searas infinitas.

Depois, mutação de cenário: flores-tas de pinheiros verdenegros, outeiros.

Uma aberta de luz: campos exten-sos de milho e arrozais. Enfim, o tufoespesso do Choupal. Coimbra, debru-çada sobre o Mondego».

(R. Lapa)

3. «Sala de prédio novo no pátio dotorel. Ornamentações «Liberty» nasua clara tonalidade preferida, quefunde o verde-mar e em rosa-páli-do. Duas grandes janelas por ondese perspectiva a baixa e um largotrecho do rio. A parede do sul corta-da por três arcos envidraçados quedão para uma espécie de estufarescendente.»

(Teixeira Gomes)

4. «Os companheiros de classe eramcerca de vinte. O Gualtério, miúdo,redondo de costas, cabelos re-voltos, motilidade brusca e care-tas de símio — palhaço dos ou-tros, como dizia o professor: o Nasci-mento, o bicanca, alongado por ummodelo geral de pelicano, nariz

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esbelto, curvo e largo como umavoice; o Álvares, moreno, cenhocarregado, cabeleira espessa eintonsa de vate de caverna, vio-lento e estúpido ( . . . ); o Almeidinha,claro, translúcido, rosto de me-nina, faces de um rosa doentio,que se levantava, para ir à pedra comum vagar lânguido de convales-cença; o Maurílio, nervoso, insofri-do, fortíssimo em tabuada: cincovezes três, vezes dois, noves fora,vezes sete?. . . Iá estava Maurílio, trê-mulo, sacudindo no ar o dedinhoesperto... olhos fúlgidos no ros-to moreno, marcado por uma pin-ta na testa; o Negrão, de ventasacesas, lábios inquietos, fisio-nomia agreste de cabra, canhotoe anguloso, incapaz de ficar sen-tado três minutos; (...) BatistaCarlos, raça de bugre, válido, demá cara, coçando-se muito, co-mo se o incomodasse a roupa nocorpo, alheio às coisas da aula,como se não tivesse nada com aquilo,espreitando apenas o professor paraaproveitar as distrações e ferir a ore-lha dos vizinhos com uma seta de pa-pel dobrado. (...)

Fui também recomendado ao Sanches.Achei-o supinamente antipático:cara extensa, olhos rasos, mor-tos, de um pardo transparente, lá-bios úmidos, porejando baba,meiguice viscosa de crápula anti-go. Era o primeiro da aula. Primeiro quefosse do coro dos anjos, no meu con-ceito era a derradeira das criaturas.»

(O Ateneu, Raul Pompéia — Coleção dos ClássicosBrasileiros, Edições de Ouro, p. 57-58.)

Exemplo de descrição de pessoa

NHÔ RUFA

Chamava-se Rufino o preto cujacarapinha em desalinho a neve dos anosmanchara de branco. Não sei a sua ida-de, mas meu avô dizia que "Negro quan-do pinta tem três vezes trinta". Talvezcarregasse por noventa anos aquelecorpo magro e dolorido.

As pálpebras empapuçadas deixa-vam entrever, dos olhos, apenas um ris-co preto que mirava com ódio a menina-da que o acompanhava e divertia-se àssuas custas.

A pele preta era opaca e sem viço,próprio da idade avançada. Seu narizachatado parecia esborrachado. O lá-bio inferior, bem vermelho e grosso, pen-dia desgovernado, dificultando a fala.

Os pés grandes e descalços, sem-pre inchados, permitiam-lhe apenas umcaminhar trôpego, arrastado e cansa-do. Usava um velho capote de cor inde-finida, onde predominava o pó da estra-da, e um chapéu de feltro, maltratadopelas intempéries, tão deformado pelafalta de forro a ponto de parecer umatigela desabada sobre os olhos.

Trazia a tiracolo um bodoque (queé um arco para atirar bolotas de barro)e, no outro ombro, uma velha aljava decouro, velha e encardida, repleta dasditas bolotas de barro seco, sua armacontra os meninos. Estes diziam que NhôRufa tinha bicho-de-pé e gritavam delonge, em coro:

— Bichento! Bichento!(Dalva Ferreira Fanchim. Piraí do Sul, sua gente e suashistórias. Curitiba: Imprensa da Assembléia Legislativa

do Paraná, 1984, p. 90.)

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Exemplo de descriçãode ambiente

A FAZENDA

Pior fazenda que a do Espigão, ne-nhuma. Já arruinara três donos, o quefazia dizer aos pragueiros: Espiga é oque aquilo é!

Os cafezais em vara, ano sim anonão batidos de pedra ou esturrados degeada, nunca deram de si colheita deentupir tulha. Os pastos ensapezados,enguaxumados, ensamanbaiados nostopes, eram acampamentos de cupinscom entremeios de macegas mortiças,formigantes de carrapatos. Boi entradoali punha-se logo de costelas à mostra,encaroçado de bernes, triste e doloridode meter dó.

As capoeiras substitutas das ma-tas nativas revelavam pela indiscriçãodas tabocas a mais safada das terrassecas. Em tal solo a mandioca braceja-va a medo varetinhas nodosas; a canacaiana assumia aspecto de caninha, eesta virava um taquariço magrela dosque passam incólumes entre os cilin-dros moedores. Piolhavam os cavalos.Os porcos escapos à peste encrua-vam na magrém faraônica das vacasegípcias.

Por todos os cantos imperava o fer-rão das saúvas, dia e noite entregues àtosa dos cupins para que em outubro setoldasse o céu de nuvens de içás, emsaracoteios amorosos com enamoradossativus.

(Monteiro Lobato. Urupês. 13. ed., São Paulo:Brasiliense, 1996, p. 234-5.)

Narração

Narrar é discorrer sobre fatos. Écontar. Consiste na elaboração de umtexto que relate episódios, aconteci-mentos, ou seja, é uma seqüência deacontecimentos: começo, meio e fim.Equivale ao registro de uma história, deum "causo", de uma anedota, de umapiada. Quando se conta uma história(verdadeira ou inventada), está-se fa-zendo uma narração.

Ao contrário da descrição, que éestática, a narração é eminentementedinâmica. Nela predominam os verbos.Aqui o importante está na ação. No «oque aconteceu».

A essência da ficção é a Narrativa,respondendo os seus elementos a umasérie de perguntas. São elas:

a) Quem participa nos acontecimentos?(personagens)

b) O que acontece? (enredo)

c) Onde e em que circunstâncias acon-tece? (o lugar dos fatos, ambiente esituação)

Em síntese, a narrativa de um fatoou vários é feita a partir de alguns ele-mentos, tais como:

o quê?o acontecimento a ser narrado;

quem?a personagem principal (protagonista);

quem?o antagonista;

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como?a maneira como se desenrolou oacontecimento;

quando?o tempo da ação;

onde?o local do acontecimento;

por quê?a razão do fato;

por issoo resultado ou conseqüência.

Na redação narrativa, o fato é onúcleo da ação, e o verbo o elementovalioso por excelência. Ao escrevermosuma narração, é importante que uma sósituação a centralize e envolva as per-sonagens. Deve haver um centro doconflito, um núcleo do enredo. A narra-ção distingue e ordena os fatos.

A sua essência é a criatividade.

O texto narrativo é eminentementetemporal e espacial. Envolve a ação,o que produz a personagem, o agen-te do processo narrativo.

Esta modalidade de texto transitapor um fio condutor que leva a uma situ-ação denominada «clímax» ou «nó»,decaindo numa «resolução» ou epílo-go. O segredo da narrativa concentra-se no grau de «suspense» criado, bemcomo no fecho surpreendente.

É importante lembrar que a narra-ção pode ser curta ou longa; ter diálogoou não (o diálogo torna a narração maisdinâmica, pois cria no leitor a sensação

de ouvir as personagens); ter como as-sunto caso real ou fictício; ser séria,engraçada ou triste. Quem escreve équem decide como fazer a redação.

Exemplos de narração

1. «Toda a gente tinha achado estranhaa maneira como o Capitão RodrigoCambará entrara na vida de Santa Fé.Um dia chegou a cavalo, vindo nin-guém sabia de onde, com o chapéu debarbicacho puxado para a nuca, a belacabeça de macho altivamente erguida,e aquele seu olhar de gavião que irri-tava e ao mesmo tempo fascinava aspessoas. Devia andar lá pelo meio dacasa dos trinta, montava um alazão,trazia bombachas claras, botas comchilenas de prata e o busto musculosoapertado num dólmã militar azul, comgola vermelha e botões de metal. Ti-nha um violão a tiracolo; sua espada,apresilhada aos arreios, rebrilhava aosol daquela tarde de outubro de 1828e o lenço encarnado que trazia ao pes-coço esvoaçava no ar como uma ban-deira. Apeou na frente da venda doNicolau, amarrou o alazão no troncodum cinamomo, entrou arrastando asesporas, batendo na coxa direita como rebenque, e foi logo gritando, assimcom ar de velho conhecido:

— Buenas e me espalho! Nos pe-quenos dou de prancha e nos grandesdou de talho!

Havia por ali uns dois ou três ho-mens, que o miraram de soslaio sem di-zer uma palavra. Mas dum canto da salaergue-se um moço, que puxou a faca,olhou para Rodrigo e exclamou:

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— Pois dê!

Os outros homens se afastaramcomo para deixar a arena livre, e Nicolau,atrás do balcão, começou a gritar:

— Aqui dentro não! Lá fora! Lá fora!

Rodrigo, porém, sorria imóvel, depernas abertas, rebenque pendente dopulso, mãos na cintura, olhando para ooutro com um ar que era ao mesmo tem-po de desafio e simpatia.

— Incomodou-se, amigo? — per-guntou, jovial, examinando o rapaz dealto a baixo.

— Não sou de brigas, mas não cos-tumo agüentar desaforo.

— Oi bicho bom!

Os olhos de Rodrigo tinham umaexpressão cômica.

— Essa sai ou não sai? — pergun-tou alguém do lado de fora, vendo queRodrigo não desembainhava a adaga. Orecém-chegado voltou a cabeça e res-pondeu calmo:

— Não sai. Estou cansado de bri-gas. Não quero puxar arma pelo menospor um mês. — Voltou-se para o homemmoreno e, num tom sério e conciliador,disse: — Guarde a arma, amigo.

O outro, entretanto, continuou decenho fechado e faca em punho. Eraum tipo indiático, de grossas sobrance-lhas negras e zigomas salientes.

— Vamos, companheiro — insistiuRodrigo. — Um homem não briga debal-de. Eu não quis ofender ninguém. Foiuma maneira de falar...

Depois de alguma relutância o ou-tro guardou a arma, meio desajeitado, eRodrigo estendeu-lhe a mão, dizendo:

— Aperte os ossos.»

(Érico Veríssimo, Um certo capitão Rodrigo)

2. «O fiscal da alfândega não podia en-tender por que aquela velhinha viaja-va tanto. A cada dois dias, vinha elapilotando uma motocicleta e ultrapas-sava a fronteira. Fora interceptadainúmeras vezes, fiscalizada e nada.O fiscal alfandegário não se confor-mava com aquilo.

— Que traz a senhora, aí?

— Nada, não, senhor!

A cena, que se repetia com tantafreqüência, intrigava o pobre homem.

Não se conteve:

— Não é por nada, não; me faz umfavor, dona. Não Ihe vou multar, nemnada; é só por curiosidade, a senhoraestá contrabandeando o quê?

— Seu fiscal, o senhor já desmon-tou a moto e nada achou, que quer mais?

— Só pra saber, dona!

— Tá bem, eu conto: O contraban-do é a moto, moço!»

(adaptado)

3. A BORBOLETA PRETA

A borboleta, depois de esvoaçarmuito em torno de mim, pousou-me natesta. Sacudi-a, ela foi pousar na vidra-ça; e, porque eu a sacudisse de novo,saiu dali e veio parar em cima de um

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velho retrato de meu pai. Era negra comoa noite. O gesto brando com que, umavez posta, começou a mover as asas,tinha um certo ar escarninho, que meaborreceu muito. Dei de ombros, saí doquarto; mas tornando lá, minutos depois,e achando-a ainda no mesmo lugar, sentium repelão dos nervos, lancei a mão deuma toalha, bati-lhe e ela caiu.

Não caiu morta; ainda torcia o cor-po e movia as farpinhas da cabeça.Apiei-me; tomei-a na palma da mão e fuidepô-la no peitoril da janela. Era tarde; ainfeliz expirou dentro de alguns se-gundos. Fiquei um pouco aborrecido, in-comodado.

— Também por que diabo não eraela azul? disse comigo.

E esta reflexão — uma das maisprofundas que se tem feito, desde a in-venção das borboletas — me consoloudo maléfico, e me reconciliou comigomesmo.

(Machado de Assis. Memórias póstumas de BrásCubas. 5. ed., São Paulo: Ática, 1975, p.52.)

4. CASTIGO MERECIDO

Numa das suas viagens a São Pau-lo, o Juventino não pôde conseguir, deforma alguma, um quarto em hotel oupensão onde pudesse hospedar-se.

Percorreu a cidade toda, e nada!Tudo cheio, completamente lotado.

Finalmente, após longas e infrutífe-ras caminhadas, resolveu ir para a casade seu irmão, residente em bairro afas-tado do centro da grande metrópole.

Pegou a mala deixada na portaria de umdos hotéis em que havia procurado cô-modo, tomou um táxi e foi para a casado parente, certo de ali encontrar o de-sejado cantinho onde pudesse passaralguns dias.

Chegou e foi bem recebido. Como,porém, a casa era pequena, teve de aco-modar-se no mesmo quarto em que dor-mia um sobrinho de poucos meses. Demadrugada, acordou com a bexiga cheia,desesperado por esvaziá-la. Levantou-se, procurou o vaso noturno por todosos cantos e não o encontrou. Para ir atéo banheiro, tinha de atravessar o quartoonde dormia o casal, precisaria acenderas luzes e, com todo esse movimento,poderia acordar o irmão e a cunhada.

Como fazer, então, para sair da-quela aflitiva situação?

Depois de muito pensar, pegou ogaroto, passou-o para a sua cama eesvaziou a bexiga ali mesmo no col-chãozinho do berço...

Aliviado, o Juventino, ao pegar ou-tra vez o garotinho para pô-lo novamen-te no berço, viu que o safadinho haviafeito coisa muito pior em sua cama...

(Décio Valente. Coisas que acontecem... 1. ed. SãoPaulo: L. Oren, 1969, p. 66-7.)

Formas de relatar o enunciado

A relação verbal emissor/receptorefetiva-se mediante o que chamamosdiscurso. A narrativa se vale de talrecurso, efetivando o ponto de vista oufoco narrativo.

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a) Quando o narrador participa do en-redo, é personagem atuante, diz-seque é narrador-personagem ouparticipante. Isso constitui o foconarrativo ou ponto de vista da pri-meira pessoa.

Exemplo:

«— Is this an elephant? Minha ten-dência imediata foi responder que não;mas a gente não deve se deixar levarpelo primeiro impulso. Um rápido olharque lancei à professora bastou para verque ela falava com seriedade e tinha oar de quem propõe um problema.»

(Aula de Inglês, Rubem Braga)

b) Chamamos narrador-observadorao que serve de intermediário entre oepisódio e o leitor — é o foco narrati-vo de terceira pessoa.

Exemplo:

«Os dois cabras se aproximaramsem que ele pressentisse. Eram um alto eum baixo; o baixo, grosso e escuro, ves-tido numa camisa de algodãozinho encar-dido. O alto era alourado e não se podiadizer que estivesse vestido de coisa ne-nhuma, porque era farrapo só. O grossona mão trazia um couro de cabra, aindapingando sangue, esfolado que fora fa-zia pouco. E nem tirou o caco de chapéuda cabeça, nem salvou ao menos.

O velho até se assustou e brusca-mente se pôs a cavalo na rede, a escu-tar a voz grossa e áspera, tal e qualquem falava:

— Cidadão, vim Ihe vender estecouro de bode.»

(Rachel de Queiroz)

c) Ocorrem casos em que o narrador éclassificado como onisciente, pelofato de dominar o lado psíquico de seuspersonagens, antepondo-se às suasações, percorrendo-lhes a mente e aalma. Neste particular, Clarice Lis-pector destaca-se brilhantemente.

Exemplo:

«Na rua vazia as pedras vibravamde calor — a cabeça da menina flameja-va. Sentada nos degraus de sua casa,ela suportava. Ninguém na rua, só umapessoa esperando inutilmente no pontode bonde. E como se não bastasse seuolhar submisso e paciente, o soluço ainterrompia de momento a momento, aba-lando o queixo que se apoiava com-panheiro na mão... Na rua deserta ne-nhum sinal de bonde. Numa terra demorenos, ser ruiva era uma revol-ta involuntária.

Se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mu-lher? Por enquanto ela estava sentadanum degrau faiscante da porta, às duashoras. O que a salvara era uma bolsavelha de senhora, com alça partida. Se-gurava-a com um amor conjugal já habi-tuado, apertando-a contra os joelhos.»

(Clarice Lispector)

Formas do discurso

1. O DISCURSO DIRETO constitui atécnica do diálogo. É a persona-gem em atividade, animizada, falan-do. Estrutura-se, normalmente, coma precedência de dois-pontos e ini-cia-se após um travessão.

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«... Botou as mãos na cabeça e aboca no mundo:

— Nossa senhora, meu patrãozinhome mata!»

(Fernando Sabino)

2. O DISCURSO INDIRETO caracteriza-se pelo emprego da subordina-ção sintática, impedindo a fala dapersonagem. «D. Evarista ficouaterrada. Foi ter com o marido, dis-se-lhe que estava com desejos.»

(Machado de Assis)

3. O DISCURSO INDIRETO LIVRE é umamescla do discurso direto como indireto, proporcionando um mo-vimento interno da fala, o monólo-go interior.

Observe o fragmento:

«Sinhá Vitória falou assim, mas Fa-biano franziu a testa, achando a fraseextravagante. Aves matarem bois e ca-valos, que lembrança! Olhou a mulher,desconfiado, julgou que ela estivessetresvariando».

(Graciliano Ramos)

Dissertação

Dissertar é tratar com desen-volvimento um ponto doutrinário,um tema abstrato, um assunto ge-nérico. Ou seja:

Dissertar é expor idéias em tornode um problema qualquer.

Consiste na exposição de um as-sunto, no esclarecimento das verdades

que o envolvem, na discussão da pro-blemática que nele reside, na defesa deprincípios, na tomada de posições.

Caracteriza-se a dissertação pelaanálise objetiva de um assunto, pelaseqüência lógica das idéias, quando re-fletidas e expressas, pela coerência naexposição delas.

A redação expositiva ou disserta-ção implica uma estrutura organizadaem etapas que focalizem o assunto apartir de uma técnica determinada, bus-cando objetivos precisos.

Portanto: a dissertação exige re-flexão e seleção de idéias. Exige quese monte um plano de desenvolvimento.

Para reforçar esta necessidade,vale a pena transcrevermos algumas li-nhas de Buffon:

«É pela ausência de plano, é pornão ter refletido bastante sobre oassunto, que um homem de talento sesente embaraçado, não sabendo poronde começar a escrever. Entrevê, aomesmo tempo, grande número de idéi-as; e como não as comparou, nem su-bordinou, nada o obriga a preferir umasàs outras; fica, pois, perplexo. Mas,quando tiver esboçado um plano,quando tiver reunido e posto em or-dem todos os pensamentos essenci-ais ao seu assunto, sentirá o ponto dematuração da produção do espírito,apressar-se-á a fazê-lo desabrochar eterá prazer em escrever.

Para escrever bem, é preciso, por-tanto, estar plenamente senhor do seuassunto; é preciso refletir bem nele,

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para ver claramente a ordem dospensamentos e formular deles umaseqüência, uma cadeia, em que cadaponto representa uma idéia».

Convém certo domínio de conheci-mento do assunto, cultura apreciável e,sobretudo, domínio das estruturas sin-táticas mais elaboradas, do período com-posto por subordinação. As orações re-duzidas de infinitivo, particípio e gerúndioconstituem excelente material.

⇒ Este é o tipo de redação pedido (ouesperado) pela maioria dos vestibu-lares do Brasil ou dos Concursos Pú-blicos.

E, infelizmente, desde as primei-ras redações primárias até as colegi-ais, a redação preferida, pela necessi-dade de se incentivar a criatividade, foia Narração. Contamos sobre piqueni-ques, passeios, viagens, excursões...;contamos o real, o imaginário, o veros-símil...; passamos do infantil ao trágico;seguimos, enfim, por caminhos que anossa imaginação e potencialidadesnos levaram e, em matéria de redação,paramos aí.

O discutir assuntos, o criticar situa-ções, o propor soluções sempre o fo-ram muito distantes de nossa realidade.A juventude, hoje, mais do que nunca,alienou-se em páramos de um mundo semproblemas. Ela não participa, ela não sen-te, ela não reage, ela não discute, nor-malmente não entende, e... por isso, nãoescreve; quando o faz, as paráfrasesfazem-se presentes também.

A dissertação baseia-se em trêspartes fundamentais:

Introdução — parte em que seapresenta o assunto a ser questionado;o desenvolvimento — parte em quede se discute a proposta e, por último, aconclusão — em que se toma posiçãorelativamente à proposta.

Normalmente os vestibulares pe-dem que se disserte em 25 ou 30 linhas,no máximo, o que nos faz sugerir pará-grafos de 5 ou 6 linhas.

A sermos coerentes, é necessárioentre os parágrafos, correlação. Isto é,o assunto deve ser criteriosamentedistribuído.

Resumindo:

É uma seqüência de juízos, de con-siderações, de reflexões sobre algumassunto, a partir do que estabelece umaopinião.

Para quem vai fazer uma disserta-ção é importante:

a) examinar o tema, entendê-lo e rela-cioná-lo a alguma situação conhe-cida;

b) anotar as idéias (argumentos fa-voráveis e contrários) que conseguirsobre o tema;

c) decidir a posição (favorável ou con-trária) que vai defender;

d) fazer um rol do vocabulário (elencode palavras) que se refere ao as-sunto;

e) rascunhar a dissertação a partir dotema, com rápida introdução em quepodem aparecer dados históricos,opiniões gerais;

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f ) apresentar os argumentos, come-çando pelos mais simples, já atacan-do os contrários e enaltecendo osfavoráveis;

g) concluir o trabalho, à vista dos argu-mentos, com a posição que está de-fendendo;

h) revisar o texto:

— eliminando o que for supérfluo ou ine-ficaz, como repetições, frases quepouco dizem (e que, portanto, nãofazem falta);

— alterando, se preciso, a ordem dosargumentos;

— corrigindo os erros de concordância,de regência, de pontuação, de orto-grafia, de acentuação;

i) rever o texto, analisando-o como su-põe que o examinador o analisará e,se necessário, modificá-lo;

j) passar a limpo, lembrando-se de quenenhum examidor gostaria de ter dedecifrar a letra.

Exemplos de dissertação

Os meios de comunicação de mas-sa devem alterar, nas próximas duasou três décadas, uma boa parte dafisionomia do mundo civilizado e dasrelações entre os homens e povos. Aeducação, mola mestra deste impulsoirresistível, é modernizada dia a dia afim de suprir as novas necessidadesque se multiplicam, adaptando o homemcontemporâneo ao chamado das es-trelas, que ele já não se satisfaz emcontemplar.

O marco divisório entre os doismundos, o que avança destemido e oque marca passo no círculo de giz desuas estruturas arcaicas e tradicionais,é, sem dúvida nenhuma, a educação. Éela que, ao produzir tecnologia, encami-nha as soluções permanentes concebi-das em nível de magnitude. Por issomesmo, é a matéria-prima prioritária, oelemento deflagrador do progresso rá-pido. Terá de ser encarada com imagi-nação e empenho, pré-requisito queexige a participação imediata e fecundada vontade nacional.

Muitas nações subdesenvolvidas jádespertaram para a ampla semeaduraeducacional. O fato de pensar-se naeducação como meio de desenvolvimen-to já constitui um sistema de desenvolvi-mento, uma atitude para o desen-volvimento. Nem todas, porém, lograramainda preencher o hiato entre o desejo ea vontade de se desenvolverem.

O hiato persiste sob a forma de umamentalidade rançosa, impermeável àsmudanças. E, quando o influxo refor-mista vence barreiras e busca implan-tar-se, defronta quase sempre a faltade organização e os condicionamentossuperados.

Só a esperança não basta; é preci-so a consciência.

(Jornal do Brasil, 23/11/69)

1. NASCEM OS HOMENS IGUAIS

Nascem os homens iguais; um mes-mo, igual princípio os anima, os conser-va, e também os debilita, e acaba. So-mos organizados pela mesma forma, por

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isso estamos sujeitos às mesmas vai-dades. Para todos nasce o Sol; a auroraa todos desperta para o trabalho; o si-lêncio da noite anuncia a todos o des-canso. O tempo que insensivelmentecorre, e se distribui em anos, meses ehoras, para todos se compõe do mesmonúmero de instantes. Essa transparen-te região a todos abraça; todos achamnos elementos um patrimônio comum, li-vre, e indefectível; todos respiram o ar;a todos sustenta a terra; as qualidadesda água, e do fogo, a todos se comuni-cam. O mundo não foi feito mais em be-nefício de uns, que de outros, para to-dos é o mesmo; e para o uso dele todostêm igual direito; ou seja pela ordem danatureza, ou seja pela ordem da suamesma instituição; todos achamos nomundo as mesmas partes essenciais.Que cousa é a vida para todos mais doque um enleio de vaidades, e um girosucessivo entre o gosto, a dor, a ale-gria, a tristeza, a aversão, e o amor?

(Matias Aires. Reflexões Sobre a vaidade dos homens,ou discursos morais sobre os efeitos da vaidade. 9. ed.,

Rio de Janeiro: José Olympio, 1953, p. 117-8.)

2. A PÁTRIA

Um célebre poeta polaco, des-crevendo em magníficos versos uma flo-resta do seu país, imaginou que as avese os animais ali nascidos, se por acasolonge se achavam, quando sentiam apro-ximar-se a hora da sua morte, voavamou corriam e vinham todos expirar à som-bra das árvores do bosque imenso ondetinham nascido. O amor da pátria nãopode ser explicado por mais bela e deli-cada imagem. Coração sem amor é umcampo árido, quase sempre, ou sem-

pre, cheio de Espinhos e sem uma únicaflor que nele se abra e amenize. Haveriasomente um homem em quem palpitassecoração tão seco, tão enregelado e semvida de Sentimentos: o homem que nãoamasse o lugar de seu nascimento. De-pois dos pais, que recebem nosso pri-meiro grito, o solo pátrio recebe os nos-sos primeiros passos; é um duplo rece-ber, que é duplo dar. As idéias grandese generosas dilatam o horizonte da pá-tria; a religião, a língua, os costumes, asleis, o governo, as aspirações fazem deuma nação uma grande família, e de umpaís imenso a pátria de cada membrodessa família. Mas, deixem-me dizerassim, a grande não pode fazer olvidara pequena pátria; dessa árvore que sechama a nação, o país, não há quemnão sinta que a raiz é a família e o berçoa pátria.

(Joaquim Manuel Macedo. Apud Oliveira, Cleófanode. Flor do Lácio. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1961,

p. 287.)

Objetividade x Subjetividade

Ao expor um problema, ao discutirum assunto, você pode agir de duasmaneiras: objetiva ou subjetivamente.

Objetivamente, se a exposiçãodo assunto se apresentar impessoal,marcada pela presença do raciocínio eda Iógica universal — quando o assuntofor abordado e discutido de maneira ge-nérica, com idéias e posicionamentosque pudessem ser aceitos por todos,ou por uma maioria.

Essa redação tem por finalidadebásica instruir e/ou convencer o lei-

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tor. As idéias e o modo de se analisar eenfocar os problemas são pessoais, masa colocação disso tudo dentro da reda-ção deve ser impessoal: verbo na 3ªpessoa ou na 1ª do plural — afinal,Nós não sou eu, mas... somos todos.

Subjetivamente, caso predomi-nem, na exposição das idéias, suas pró-prias opiniões, sua maneira pessoal,particular de ver e encarar as coisas.Esta modalidade depende essencialmen-te do tema dado, que deve estar próxi-mo da subjetividade. De um modo geral,ela deve ser evitada por aproximar-sedemasiadamente da narração, por meiodos seus subtipos, como a crônica, porexemplo.

Na redação subjetiva, procura-se,antes de tudo, angariar a simpatia doleitor com relação ao exposto. Daí que,para fazê-lo, baseamo-nos essencial-mente em nossas opiniões, no nossomodo particular de ver as coisas, nonosso pensar em relação aos fatos,deixando transparecer, o mais das ve-zes, um tom confessional, pontilhado deemoções e sentimentalismos: verbo na1ª pessoa do sing. — EU.

O ideal seria que se unissem numsó os dois modelos, escrevendo, numtom impessoal, idéias efervescentes decaracterísticas emotivas que pudessemtocar o leitor, derrubando-o do seu papeltirano de riscar, corrigir, apontar defei-tos: afinal, ele é «gente como nós».

⇒ Observação:

Nem sempre a descrição, a narra-ção e a dissertação aparecem em «esta-do puro». É perfeitamente possível, aliás

é o normal, que dentro de uma surjamaspectos das outras. O seu entrosa-mento é normal, malgrado se conservemsempre a essência e as particularidadesde cada uma, pois, se assim não o fosse,não saberíamos identificá-las.

Exemplos:

Texto Subjetivo

«Nunca será tão domingo como aqui,e domingos e domingas de eternidade seconcentram em vigorosa dominicalização.Não acontecer nada, que beatitude! Dei-xar o mato crescer — mas o próprio matofoge à obrigação, e goza o domingo. Láestão o touro zebu e seu harém de no-bres e modestas vacas — porque o zebualia à majestade indiana a placidez dasMinas, e boi nenhum se fez tão mineiroquanto esse, e bicho nenhum é tão minei-ro quanto o boi, em seu calado conheci-mento da vida, sua participação no traba-lho. O rebanho amontoa-se em círculos,algumas reses em pé, outras deitadas,chifres cumprimentando-se sem ruído. Pa-rece um só boi espalhado, maginando. Como pincel do rabo, executa o milenar movi-mento de repelir a mosca, sei que não opratica pelo prazer de abanar-se. Mas hábois esparsos, bois solitários, que se pos-tam junto a árvores, aparentemente re-colhidos; ou fitam o carro que levanta po-eira sobre a poeira habitual, e ruminamnão sei que novelas de boi.»

(Carlos Drummond de Andrade)

Texto Objetivo

«As casinhas eram alugadas pormês e as tinas por dia: tudo pago adi-

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antado. O preço de cada tina, metendo aágua, quinhentos réis, sabão à parte. Asmoradoras do cortiço tinham preferênciae não pagavam nada para lavar.

Graças à abundância da água quelá havia, como em nenhuma outra parte,e graças ao muito espaço de que se dis-punha no cortiço para estender a roupa,a concorrência às tinas não se fez es-perar; acudiram lavadeiras de todos ospontos da cidade, entre elas algumas vin-das de bem longe. E, mal vagava umadas casinhas, ou um quarto, um cantoonde coubesse um colchão, surgia umanuvem de pretendentes a disputá-los.»

(Aluísio Azevedo)

As partes daredação — Estrutura

Classicamente, uma redação deveconstar de três partes:

I — Introdução

II — Desenvolvimento

III — Conclusão

I. Introdução

Introduzir significa «levar paradentro». Na introdução, portanto, con-duzimo-nos para dentro do tema, do as-sunto.

A introdução apresenta a idéia quevai ser discutida (tópico frasal), nadaIhe acrescentando.

Ela é muito importante. Sendo ocontato inicial do leitor com o texto, deveatraí-lo, despertar-lhe o interesse. As-sim, deve ser objetiva e simpática. E,sobretudo, não pode ser longa. Normal-mente um ou dois períodos.

O tópico frasal pode se apresentarde várias formas: uma declaração, umapergunta, uma divisão, uma citação... Aodesenvolvê-lo, é preciso ser o mais ob-jetivo possível, evitando-se divagaçõesinúteis.

Enfim, na introdução, o importanteé falarmos no tema da redação, mes-mo que (ou até obrigatoriamente às ve-zes) tenhamos de usar as suas pala-vras, ou parte delas.

Lembre-se: a redação começa nalinha (1) e não no tema ou no título,não havendo desta forma repetição;pois, como repetir o que ainda não foidito?

II. Desenvolvimento

É o corpo da redação. Sua parteprincipal. É aqui que aparecem as idéi-as, os argumentos, a originalida-de. A introdução corresponde à tese.O desenvolvimento vem a ser o debateda tese. É a parte mais longa. O corposempre há de ser maior que a cabeça eos pés. Sob pena de termos uma aber-ração!...

Apresenta cada um dos argumen-tos ordenadamente, analisando deti-damente as idéias e exemplificando demaneira rica e suficiente o pensamento.

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O desenvolvimento será a parte maislonga da redação, mas não necessaria-mente a mais confusa, complicada eininteligível. E isso é o que acontece, nor-malmente, quando não se faz uma sele-ção de idéias prévia, quando não se sabeo que escrever antes de começar a es-crever. Bem se diz: «só comece a es-crever depois que você souber, comcerteza, quais as idéias, aquilo quee sobre o que você vai escrever».

Não há necessidade de muitas idéi-as (e normalmente nem espaço paraisso). O importante é que, mesmo sendopoucas, as idéias sejam correta e obje-tivamente expostas. Não se deve can-sar o leitor com um milhão de argumen-tos diferentes, nem com períodos lon-gos e maçantes que, fatalmente, resul-tam confusos.

Nas redações entre 15 e 18 linhas,o desenvolvimento deve ocupar um oudois parágrafos (com vários períodosdentro deles). Nas redações com nú-mero de linhas entre 20 e 25, o númerode parágrafos no desenvolvimento giraem torno de 3 ou 4.

III. Conclusão

É o acabamento da redação. E, senão se deve iniciar «abruptamente» aredação, também não se pode acabá-lade súbito.

A conclusão resume todas as idéi-as apresentadas e discutidas no desen-volvimento, tomando uma posição sobreo problema apresentado na introdução.

Portanto, é a comprovação da te-se levantada na Introdução e discutidano desenvolvimento.

Ela é, a princípio, retirada da melhoridéia que achamos ter no momento dareflexão inicial sobre o tema. É a nossaposição em face de um problema qual-quer, a sua solução, ou a projeção futurade conseqüências que advirão caso nãosejam tomadas as medidas que acha-mos necessárias (e que devem ter sidocitadas no desenvolvimento da redação).

A conclusão não deve ser muitolonga, a exemplo da introdução, e deveocupar, também, somente um parágrafo(ao contrário da introdução, pode termais do que um período).

⇒⇒⇒⇒⇒ Observação:

Principalmente nos contos e nascrônicas, a conclusão, o «fecho», podeser imprevisto e absolutamente desliga-do daquilo para que se vem conduzindoo leitor. E nisso está o seu valor. É claroque isso não cabe às dissertações,aos temas abstratos. É próprio para anarração.

Exemplo:

PARA LER... E VERIFICAR!

Veja a seguir um exemplo de dis-sertação, com suas partes respectivas,e os comentários — ao final — sobrecada uma delas.

A PAZ E A GUERRA

«Há ideologias que pressupõemseja o homem um ser naturalmente incli-nado à guerra, essencialmente agressi-vo. São idéias fundamentadas na teoria

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da evolução, nos conceitos de luta pelaexistência, em que o mais forte ocupa asaltas posições econômicas e políticas.

No entanto, estas concepções sãocompletamente contrárias à tendênciaevolucionária humana, que retrocedenão só até a evolução em nível animal,mas também ao mais baixo nível de lutaanimal. Nem mesmo os carnívoros sealimentam uns dos outros, como o ho-mem competitivo devora os rivais.

Nenhum futuro evolucionário espe-ra o homem que segue este caminho. Aluta competitiva não deixará sobreviven-tes. Mesmo que se limite a uma guerraeconômica, só pode acabar em conten-da social, em crises de desemprego, emapuros financeiros e num fracasso quan-to à utilização dos recursos do mundoda maneira mais completa e eficiente.

Fora de uma atitude mútua de cola-boração social e da produção voltada eplanejada para o consumo, não há solu-ção para tais dificuldades. Enquanto semantiverem as condições atuais, o ho-mem sentir-se-á agressivo, estará pre-parado para assegurar seu próprio bem-estar à custa do próximo.

Esta, contudo, não é a natureza dohomem, e sim a natureza do homem emnível subumano. Se o colocarmos emcondições de trabalho realmente huma-nas, tendo em vista o bem comum, suanatureza tornar-se-á mais humana, maiscooperativa, e seu futuro estará asse-gurado. Se fracassarmos neste propó-sito, seu futuro será a guerra e a des-truição.»

(John Lewis, O homem e a evolução)

Comentários:

Notamos que o assunto se desen-volve em torno de uma idéia-núcleo queestá expressa no trecho: «No entanto...baixo nível de luta animal» (segundo pa-rágrafo). Esta idéia-núcleo traduz o pen-samento geral do autor em face da pro-blemática sugerida pelo título, além delançar uma idéia discordante daquelaapresentada na introdução (primeiro pa-rágrafo).

Nos parágrafos seguintes (segun-do e terceiro), o autor confirma e justifi-ca os princípios expostos em sua tese,utilizando o recurso dos exemplos (qua-tro últimas linhas do terceiro parágrafo)que reforcem a idéia assumida no de-correr da sua argumentação e apresen-tando soluções aos impasses que de-nuncia (quatro primeiras linhas do quar-to parágrafo). Ao aproximar-se da con-clusão do trabalho, o autor prepara oseu término com um retorno às idéias daintrodução (três últimas linhas do quartoparágrafo). Na etapa conclusiva, ex-pressa no parágrafo final, o autor sinte-tiza a idéia-núcleo desenvolvida no de-correr da dissertação, e o assunto éencerrado de forma taxativa e enfática.

O esquema de idéias desta dis-sertação poderia ter seguido o roteiroque passaremos a apresentar:

I — Introdução:

a) Segundo a teoria da evolução, o ho-mem é naturalmente agressivo e devecompetir para viver.

b) Desta competição, sairá vencedor omais forte e o mais importante.

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II — Desenvolvimento:

a) Na luta competitiva, o homem retro-cede ao mais baixo nível animal.

b) A competição entre os homens aca-bará por destruir a civilização e aspossibilidades de progresso.

c) A única solução: colaboração sociale produção voltada e planejada parao consumo.

III — Conclusão:

a) O futuro do homem assegurado: condi-ções realmente humanas de trabalho.

b) Perdurando a atual situação: o homemdestruir-se-á.

Qualidades básicas daredação

Unidade + Coerência + Ênfase

Observando o estilo da dissertaçãoanterior, veremos que ela apresenta astrês qualidades necessárias a umbom texto escrito: unidade, coerênciae ênfase.

A unidade reside no fato de que oautor se fixou em uma só idéia central nodecorrer de sua argumentação; em to-dos os parágrafos as idéias se sucedemem ordem seqüente e lógica, todas com-pletando e enriquecendo a idéia-núcleo.Não houve pormenores desnecessários,nem redundâncias, o que pode atestar oesquema anteriormente traçado.

A coerência reside na associaçãoe correlação de idéias dentro do períodoe de um parágrafo a outro. A conexão

entre as palavras é feita pela organiza-ção do pensamento no que se refere aoconteúdo e pelas partículas de transiçãoque unem as idéias, tais como as ex-pressões «no entanto», «contudo», li-gando parágrafos, e conjunções, ligan-do as idéias dentro do período.

A ênfase consiste no fato de aidéia-núcleo estar colocada em lugar dedestaque, ocupando um parágrafo in-teiro e aparecer reforçada em subidéiasno final do segundo e quarto parágra-fos, e totalmente destacada da conclu-são. A ênfase à idéia principal é conse-guida por meio do uso de expressõesfortes e eloqüentes, tais como «nível ani-mal», «homem competitivo devora os ri-vais» (segundo parágrafo), «nível subu-mano», «a guerra e a destruição» (últi-mo parágrafo) e muitas outras igualmen-te enfáticas.

Montagem daredação

I. O visual ⇒⇒⇒⇒⇒ estética

Quando, ao entrar na casa de al-guém, você a encontra na mais completaconfusão, sujeira por todos os lados: ospratos de não sei quantos almoços dis-putando lugares com as panelas; as cri-anças com roupas sujas, o rosto lambu-zado, o nariz a escorrer; o cheio de bolore gordura a envergonharem seu deso-dorante; qual a sensação que tem?

— De desleixo, de sujeira, certamente!

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Sentirá acaso vontade de ali per-manecer, ficar para o jantar, pegar aocolo uma criança?

— Seguramente não!

E, entretanto, a coisa muda de figurase a casa visitada é asseada, as crian-ças cuidadosas com a roupa e o trato, oar agradável a lembrar-lhe a sua própriacasa, enfim, causa-lhe «boa impressão».Pode até sentir o suco gástrico manifes-tando-se apesar de ter devorado sucu-lenta refeição há bem pouco tempo.

Com a redação também é assim! Oimpacto (bom ou mau) que nos causa émuito importante.

Lembre-se: o BELO é um padrão natoe instintivo em nós. E não há beleza ondenão houver ordem e limpeza.

Estes são os elementos que com-põem a estética da redação, concorren-do para um melhor visual e correção:

1) Título/Tema

a) Todas as iniciais do título, menos daspalavras de pouca extensão, comopreposições, artigos, conjunções etc.,com exceção do primeiro, devem sermaiúsculas:

A Missão Social do AdvogadoA Vida no Planeta dos MacacosOu

b) Maiúscula inicial apenas na primeira pa-lavra, seja ela artigo, preposição etc.

A missão social do advogadoA vida no planeta dos macacosOu

c) Todas as palavras com maiúsculas(letra de forma).

A MISSÃO SOCIAL DO ADVOGADOA VIDA NO PLANETA DOS MACACOS

⇒ Observação:

Coloca-se o título apenas nas fo-lhas de redação em que ele não estejapreviamente grafado, ou nas folhas deredação que não estejam previamentenumeradas. A linha do título e as duas(ou três) linhas que se deixam embranco antes do primeiro parágra-fo não devem ser contadas. A reda-ção começa na linha um, ou seja, noprimeiro parágrafo.

2) Use ponto final nos títulos, em se tra-tando de frase ou citação somente.Os temas de redação normais nãolevam ponto final.

3) Entre o título e o contexto, deixe umaduas ou três linhas ou espaço equi-valente.

⇒ Observação:

Estes três primeiros itens se refe-rem aos vestibulares que solicitam queo vestibulando dê um título para a suaRedação.

4) Os parágrafos devem adentrar à li-nha uns dois centímetros e iniciarem-se, todos, à mesma altura.

São fundamentais à redação, poisconstituem o visual prático da estruturaredacional, apontando as três partesobrigatórias num texto dissertativo: aintrodução, o desenvolvimento e a con-clusão.

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O número de parágrafos é variávelconforme a extensão exigida para a reda-ção. Nas redações dissertativas, o míni-mo obrigatório é de três parágrafos;o máximo depende da quantidade de linhaspedidas. Sugere-se que os parágrafoscontenham em torno de cinco linhas cada.

5) Separar as diferentes idéias em pará-grafos distintos, guardando-lhes a de-vida conexão. As idéias que se relacio-nam mais intimamente, que se unempor um mesmo fio de ligação lógicadevem ficar no mesmo parágrafo, ain-da que em diversos períodos.

Porém, toda vez que se mudar o fiodo raciocínio, sempre que se passe parauma nova idéia que não tenha relaçãotão íntima com a anterior, deve-se iniciarlinha nova. Portanto, novo parágrafo.

Apenas o parágrafo inicial podeser constituído por um período (oudois) somente. Os demais parágrafos(os do desenvolvimento) devem ter váriosperíodos; portanto, vários pontos finais.

6) Não rasurar a redação. A redaçãosuja, borrada dará ao avaliador umaprimeira impressão negativa, que difi-cilmente será apagada, por melhor quese apresentem o conteúdo e a cor-reção.

A maioria quase que absoluta dosvestibulares oferece oportunidade e lu-gar para se fazer a redação, preliminar-mente, no rascunho. Assim sendo, a ra-sura na versão definitiva não pode serexplicada nem perdoada; ou o aluno nãofez rascunho (e isso é imperdoável), ouo fez, mas não aprendeu ainda nem afazer o primário trabalho de cópia.

O borrão não possui um valor deperda específico: não vale menos um, oumenos dois. Ele é negativo na sua es-sência, no exato momento do seu apa-recimento.

7) Letra é importantíssimo! Não apenaspelo visual simpático de uma caligra-fia, mas por representar a própria re-dação. A legibilidade é o item a quetodos os vestibulares fazem referên-cia específica: alguns poucos espe-cificam também o tipo de letra.

A realidade é que a ilegibilidade éitem anulatório da redação. E não énecessário chegar-se a extremos paraque se caracterize a ilegibilidade. Letrafeia, em redação, é pecado. De queadianta alguém escrever bem, escreversubstanciosa, estilística e semanticamen-te com letra que ninguém entenda? Ouainda com letra que, para ser entendida,são necessárias a releitura e a adivinha-ção? Para os que têm letra feia, a saída éo treinamento de caligrafia (aliás, estecaderno não é para crianças, como mui-tos pensam, mas para quem possui letrafeia) ou a letra de forma.

II. Lado interno ⇒⇒⇒⇒⇒ correção

Ao se compor uma redação, devemser levadas em consideração as quali-dades básicas que a habitam e a distin-guem das redações normais. No vesti-bular, o número de redações ascendeaos milhares, e são estas qualidades quevão fazer com que algumas poucas sediferenciem da maioria. São, exatamen-te, estas as qualidades da redação:

Page 31: Manual de Redação

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1) correção

2) clareza

3) concisão

4) originalidade

5) elegância

6) coesão

Para redigirmos bem, é necessárioque aliemos à criatividade ou análise deum assunto a correção e adequação delinguagem. Não basta elaborar uma idéiaimportante. É preciso saber expressá-lacom acerto e propriedade. O estilo na re-dação é representado pela clareza, uni-dade, ênfase e coerência que devemosimprimir aos recursos lingüísticos que tra-duzam nossos pensamento. Estes aspec-tos já foram referidos anteriormente emnosso trabalho. Outros elementos sãoimportantes na expressão escrita e dizemrespeito também ao estilo. São aquelesque influem decisivamente na elaboraçãode uma linguagem escrita correta, ade-quada e harmoniosa, alcançada não sópor meio de recursos (leitura, vocabulá-rio, interpretação de textos, conhecimen-to de tipos de composição), mas tambémpelo conhecimento de fatos gramaticaisque ordenam, disciplinam e sistema-tizam nossa língua.

1. A correção

É a ausência de erros. Consegue-se com a observância das normas daGramática. Para que serve a Gramática?— Exatamente para ensinar-nos a es-crever corretamente! Você tem de pôrem prática aquelas regrinhas todas!...

Há erros, no entanto, que pesammais na avaliação de uma redação. Háaqueles que deixam o avaliador de talforma indisposto que...

Quais são os piores erros?Vamos lá:

a) de concordância: Esse negócio desujeito no plural e o verbo no singularé dose! Portanto, muito cuidado! Pro-cure o sujeito de cada verbo e veja sehá correspondência. Sobretudo tenhacuidado quando, na oração que vocêescreveu, ocorre partícula «SE», ver-bos impessoais como «HAVER», «FA-ZER» etc. E para errar concordâncianada melhor do que fazer períodoslongos ou utilizar a ordem inversa.Escreva idéias simples em períodossimples, portanto curtos.

b) de regência: Se você usar verbode regência problemática (aquelesque você estudou, como assistir, que-rer etc.), cuide da regência. Se vocênão tem certeza da regência de umverbo, não o use. Substitua-o por si-nônimo. O problema mais freqüentede regência em uma redação ou car-ta, ofício etc. diz respeito ao empre-go das formas oblíquas «O» e «LHE».A norma é:

— «O» só para objeto direto (comverbo transitivo direto);

— «LHE» só para objeto indireto oucom valor de possessivo.

CUIDADO:

Nada de: «ele Ihe viu», «eu o queromuito bem», «ele assistiu o filme».

} Forma +

Conteúdo

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c) de colocação: Se é verdade que estetópico não precisa chegar ao requin-te, também é verdade que não se tole-rarão os exageros dos modernistaseufóricos. Assim:

— Nunca comece oração com oblí-quo átono: Me levaram dali para um lu-gar escuro e misterioso. Te deram o re-cado? etc.

— Lembre-se de que não, nunca,que, porque, quando, enquanto, se,para que etc. exigem oblíquo antes doverbo!

— Jamais coloque o oblíquo depoisde particípio: Vocês tinham levantado-se mais cedo.

— Depois de vírgula (ou qualqueroutra pontuação) não se deve colocarpronome oblíquo (a não ser que sejamvírgulas de encaixe, como por exemplo:Nunca, mesmo nos piores momentos,lhe pedimos ajuda.)

d) de grafia: Erro ortográfico, sobretu-do em palavras comuns, de uso coti-diano, não se admite. Coisas do tipode «ãncia, pêcego, talvêz, xegar». Eescrever «exepicional» em vez de«excepcional» é sem comentários...

Se você não sabe escrever umapalavra, EVITE-A!

Troque-a por sinônimo! E cuidadocom os acentos gráficos!

⇒ Lembre-se: em caso de dúvida, nãouse a palavra, coloque outra da qual vocêtenha certeza da grafia. Afinal, na suaredação, quem manda é você... mas, nos

seus erros... bem, estes são de domíniopúblico e de dívida ativa: custam caro!

2. A clareza

Consiste na transmissão mais com-preensível do pensamento. Quem es-creve (como quem fala) deve fazer-seentendido da melhor maneira possível.

A concisão concorre muito para aclareza. Para obter-se clareza, além daconcisão, cumpre:

a) Para escrever claro é preciso pensarclaro. Antes de começar a escrever,medite sobre o tema, reúna idéi-as, coloque-as de modo coerente. Sócomece a escrever depois que vocêsouber o que vai escrever!

Daí a importância de um esquemae do rascunho.

b) Frases curtas: períodos longos fa-talmente resultam confusos.

c) Empregar a palavra precisa: sóempregue palavras simples, de cujosignificado você tem certeza. Nãoqueira esnobar porque o esnobadopoderá ser você!

d) Evitar a ambigüidade, que é a pos-sibilidade de mais de um sentido emuma oração.

Ex.: «José mandou dizer a Pedroque só trataria daquele negócio no seuescritório». No escritório de quem?

No dele, José, ou no de Pedro? Issoé ambigüidade.

Clareza é qualidade; obscuridade,defeito.

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3. A concisão

Consiste no expressar os aspec-tos, fatos ou opiniões com o menor nú-mero de frases ou palavras.

Portanto, empregam-se apenas aspalavras que são indispensáveis à com-preensão da mensagem. Em um texto, oque não é indispensável constitui proli-xidade.

Concisão é qualidade; prolixi-dade, defeito.

Mais uma vez aparece aqui a ne-cessidade do rascunho. Devemosescrever segundo o fluxo de idéias quenos vêm à mente, sem grandes preocu-pações com a concisão. Pronto o ras-cunho, devemos submetê-lo a rigorosocrivo analítico, cortando tudo aquilo quenão faça falta nem imprima vigor.

Naturalmente, só se considera qua-lidade aquilo que não prejudica as de-mais qualidades. O excesso de conci-são redunda em obscuridade e desar-monia.

No texto seguinte, o que vem des-tacado pode sair. Em saindo, o texto ficaconciso e ganha vigor.

«Em uma certa noite eu saí de mi-nha casa para dar um giro para espai-recer. Fui até à casa de um amigo meu.Vejam vocês que eu não tinha nenhumplano traçado, e algo sensacional, queeu não esperava, me aconteceu...»

De grande valia para obter-se aconcisão é a figura da ELIPSE: omissãode palavras facilmente subentendíveis.

Ex.: Tu tens toda a razão.

Tens toda razão.

Nós batemos três vezes.

Dentro não havia ninguém. Ba-temos três vezes. Dentro, ninguém.

Se não recorremos à elipse, muitasvezes, poderemos cair na redundân-cia, que é a repetição inútil e erro imper-doável.

4. A originalidade

Consiste em apresentar os as-pectos, fatos ou opiniões de modo pes-soal, sem imitação de processos ou par-ticularidades alheios. Na originalidade,está a criatividade. Pode revelar-se tan-to nas idéias como nas expressões.

Idéias originais são idéias pró-prias?!...

Mas quem é original? O que pensa-mos ou o que dizemos que outro antesde nós não tenha dito ou pensado? Cer-tamente que a originalidade pertence aosgênios.

De um estudante, não se pode exi-gir originalidade, exige-se, isto sim, quefuja ao vulgar, ao lugar-comum, ao«clichê»: aquilo que todo mundo diz.

Para isso o fundamental é escre-vermos diferençados do linguajar co-mum. Escrever como se fala é come-ter uma série de erros; daí que a ori-ginalidade no vestibular fica, real-mente, por conta da correção. Seráoriginal aquele que escrever cor-retamente .

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5. A elegânciaExigir elegância na redação de um

vestibulando já é pedir demais. Vamosdeixar isso para os grandes escritores epara as meninas... Para os vestibulandos,basta o cuidado com o visual da redação.A limpeza, os parágrafos, a letra bo-nita, isso é elegância em redação.

6. A coesãoUm texto coeso é aquele em que as

partes se relacionam entre si de modoclaro e adequado, criando um todo comsentido, que pode ser captado pelo leitor.E como se faz um texto coeso? Usando-se corretamente os instrumentos da lín-gua (usar artigos e pronomes que con-cordem com os nomes a que se referem,combinar os tempos verbais de modo lógi-co etc.) e observando se há relações desentido entre as frases, que unidas entresi transmitem de modo claro uma informa-ção, uma opinião, uma mensagem.

Montagem dosesquemas

Seleção e organizaçãodas idéias na redação

Uma vez determinado o assunto so-bre o qual iremos escrever, é necessárioum momento de reflexão em torno dele e dadisposição que daremos às idéias a seremutilizadas. Para isso, é necessário traçar deantemão um plano, ou seja, um esquema.

As qualidades essenciais desse pla-no devem ser as mesmas utilizadas para

a feitura da Redação, ou seja: Unidade,Coerência e Ênfase.

Esta tomada de posição se concre-tiza com o lançamento no papel dos tó-picos de exposição, das idéias a se-rem desenvolvidas, por meio de expres-sões rápidas e abreviadamente in-dicativas, articuladas entre si.

O esquema auxilia e encaminha otrabalho. É um ponto de referência, sem-pre sujeito a reduções, interpolações ealterações.

Assim, do esquema passa-se aorascunho; deste, para a redação pro-priamente dita, e esta, passada pelo cri-vo analítico, chega a uma forma definiti-va, observadas as diversas qualidadespara a sua elaboração.

Tendo o aluno o plano ou roteiro deidéias, poderá dar início a um rascunho,no qual vai expressar, por meio de frasescompletas e parágrafos bem distribuídos,o assunto que se propõe desenvolver.

Enfrentará, então, problemas de for-ma, porque o conteúdo, as idéias foramselecionadas e ordenadas no esquema.

A disposição ordenada das idéiasem Introdução, Desenvolvimento e Con-clusão é o último estágio do esquema.

Obs.: Reveja o texto «A paz e aguerra» e seus comentários.

A seguir, damos como sugestãoum modelo de ESQUEMA. Pelo uso, deve-rá ser modificado, adaptado, ampliado,atendendo, desta forma, ao estilo indivi-dual de cada um, suas tendências, enfo-ques pessoais, abrangência: cada umdeve possuir o seu próprio «modelo deESQUEMA», protótipo que deverá serconseguido a partir do treino e da prática.

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Modelo de esquema

Dissertação:como proceder?

Não há uma receita (ou um método,ou uma técnica) que seja recurso infalí-vel na produção de textos dissertativos.Apresentamos, então, sugestões de ati-vidades que podem ajudar na criaçãode mensagens dissertativas:

Imagine um vestibulando que tenhade fazer um texto sobre o menor aban-donado. Como ele pode comportar-se?

1. Anota suas idéias sobre o assunto.

2. Se suas idéias são poucas, pode pes-quisar sobre o assunto: buscar dadosestatísticos, testemunhos, definições etc.

3. Ao fim dessa pesquisa, terá muitasoutras idéias. Poderá anotá-las.

4. Deve delimitar bem seu objetivo: qualé a tese ou o ponto de vista quequer expor ou defender? De que ân-gulo, de que perspectiva quer tratar oassunto? Respondendo a essas per-guntas, estará definindo o tema de seutexto. Pode resumir o que pretende:

O que quero dizer sobre o menorabandonado pode ser resumido na frase:

..............................................................

..............................................................

..............................................................

..............................................................

1. O quê? Matéria tratada ⇒ assunto ⇒tema ⇒ ponto de vista ⇒ TESE.{INTROD.

{ 2. Por quê? Razão — objetivo.3. Para quê? Objetivo — finalidade.4. Causas.5. Conseqüências.6. Circunstâncias: como? de que maneira?7. Analogias = comparações.8. Prós: argumentos a favor.9. Contras: argumentos contrários.10. Análise: situação atual.11. Síntese.

12. Observação: perspectivas.13. Soluções.14. Conclusão.

DESENV.

CONCL. {

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Ele tem uma lista de idéias anota-das: destas idéias pode destacar a(s)mais importante(s), isto é, aquelas queestão estreitamente ligadas ao tema queescolheu. Serão as idéias centrais (ounucleares, ou básicas). Outras idéias queele tenha sobre o assunto: verificará sepode valer-se delas para justificar, ilus-trar, comprovar, realçar a(s) idéia(s) bási-ca(s). Serão as idéias de apoio (ou se-cundárias, ou delimitadoras, ou su-bordinadas). Fazendo isso, ele está or-ganizando o conteúdo de seu texto. Eledeve lembrar-se de que pode valer-sede muitos recursos, no trabalho de orga-nização de seu texto: analogia, oposiçãoou contraste, testemunhos, definições,ilustrações, decomposição etc. Ao esco-lher algum(ns) desse(s) recurso(s), cer-tamente terá novas idéias.

O vestibulando dispõe então de umconteúdo. Esse conteúdo busca uma ex-pressão, para tornar-se texto. Ele deve-rá estudar agora um plano para seu tra-balho. Qual será a disposição de suasidéias nesse plano?

Um texto dissertativo — o vestibulan-do sabe — pode ter um plano definido emtrês grandes linhas:

• INTRODUÇÃO• DESENVOLVIMENTO• CONCLUSÃO

Exemplos de esquemas

1. Título: «A Televisão no Brasil»

Introdução:

a. A importância da televisão na forma-ção de uma mentalidade nacional.

b. Dados históricos da televisão brasi-leira.

Desenvolvimento:

a. Os programas de televisão e o patro-cínio comercial.

b. A televisão educativa.

c. A seleção dos programas e a aceita-ção popular.

d. O nível dos programas e o nível cul-tural do povo brasileiro.

Conclusão:

a. A situação atual da televisão brasi-leira.

2. Título: «Educação e Modernidade»

Introdução:

a. Modernização da Educação: adapta-ção do homem ao mundo contempo-râneo.

Desenvolvimento:

a. Educação X estruturas arcaicas e tra-dicionais.

b. Tecnologia e progresso.

c. A participação do governo nas pro-moções e reformas educacionais.

d. O despertar das nações subdesen-volvidas para o progresso pela edu-cação.

Conclusão:

a. «A vontade prova-se na ação» (JoséIngenieros) — é preciso a consciên-cia da renovação cultural.

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b. É preciso reformar a mentalidadeavessa às mudanças.

3. Título: «Áreas Verdes»

Introdução:

a. O apelo do mundo moderno à preser-vação das áreas verdes.

b. O porquê do desaparecimento dasáreas verdes; crescimento popu-lacional, grandes núcleos habita-cionais, escritórios, imobiliárias, edi-fícios por toda a parte.

Desenvolvimento:

a. A poluição do ar.

b. Os problemas de saúde.

c. Tensão e neurose: falta espaço, fal-ta ar, falta beleza.

d. Desaparecimento de praças e par-ques: crianças em apartamentos.

e. O protesto: campanhas, acampamen-tos: a «volta ao natural».

Conclusão:

a. A humanidade corrigindo seus pró-prios erros: a tentativa de preserva-ção e recriação do que está sendodestruído.

Descontraia

O estilo de cada um

Várias pessoas descrevendo umlago, segundo suas profissões:

O ADVOGADO

Aquelas águas me-ritíssimas se espraiavamdelituosamente pelasmargens. O inocente la-go defendia-se assim,legitimamente, da flores-ta, que à revelia, desem-bargava suas árvorespelos arredores sem nenhuma apelação.No alto, as montanhas, com suas togasde neve revestindo o cimo.

O MÉDICO

Aquele lago me dei-xou um diagnóstico. Suabeleza era selvagemcomo uma crise aguda esuas águas viviam per-manentemente em estadocomatoso. O vento, comoum bisturi, cortava a su-

perfície das águas escarlatinadas pelomercúrio que cobria todo o céu no pôr-do-sol.

O BUROCRATA

Prezado Sr.,quando olhei parao céu, vi nuvensque seguiam ane-xas atenciosamen-te por sobre o mon-te abaixo-assinala-do, que, ciente desua participaçãona paisagem, pedia deferimento res-peitosamente para a floresta, que nes-tes termos se estendia por todo o vale,refletindo-se nas respeitosas e desdejá agradecidas águas do lago.

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O «HIPPIE»

Entende. . . era umnegócio legal. Aquelelago muito na sua, cur-tindo um vale cheio deervas, sacou? O ven-to transava pela cucadas árvores no bara-tino mais legal, mais

chuchu beleza da paróquia.

O INTELECTUAL

Não sei se porum fenômeno deaculturação, ou sepor um processo deamadurecimento,aquele lago se inse-ria perfeitamente nocontexto da nature-za circundante emarginal. Achei muito válida a inserçãodas árvores, dando uma conotação exis-tencialista ao pluralismo vegetal que aliestava.

Mandamentos deuma boa redação

Ao redigir, é importantíssimo que ocandidato não cometa nenhum destespecados transcritos a seguir, sob penade padecer, sem indulgências, o infernode mais um ano de espera!

1. Esnobar.

Mostrar que é «o bom». Complicar.Escrever difícil.

* Não se preocupe em demonstrar cul-tura e conhecimento excessivos. Ascoisas realmente boas e valiosas sãosimples. Os grandes sábios são sim-ples. As «grandes notas» vêm de re-dações simples.

* Não queira fazer experimentalismoslingüísticos. Não tente neologismos lé-xicos ou sintáticos.

Use apenas palavras comuns. Semcair no lugar-comum.

Só recorra a um termo menos co-nhecido se ele se ajustar melhor no tex-to do que um termo usual.

2. O palavrão.

Nunca!

3. Criticar a Universidade, as autori-dades, as instituições é proibido.

Esse negócio de «meter a lenha» nãodá pontos.

Faça a crítica «construtiva»: mos-tre os erros e aponte soluções.

4. Ser negativista.Em tudo há um lado bom. Procure

descobri-lo. Aponte alternativas, saídas.Sugira métodos e maneiras de solu-cionar as dificuldades e as chagas so-ciais. A maioria dos temas de vestibula-res e concursos versam sobre «pro-blemas sociais». Eles querem sabero nosso posicionamento, o que pensa-mos, o que achamos, se conhecemos.A nossa participação é efetivada,exatamente, por meio de nossasprováveis soluções. É a forma deque dispomos para participar docontexto social.

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5. Evite definições.Elas são perigosas.

Dado um tema como «A Liberda-de», a maioria tende a sair definindo:

A Liberdade é...

A Liberdade é...

A Liberdade é..., monotonamente,maçantemente, insuportavelmente, deuma pobreza de espírito que revoltariaaté São Francisco.

É sempre melhor criar uma história,relatar um episódio, dentro da qual e nodecorrer do qual apareça o tema.

6. O ponto final (.).Não o esqueça. Denota desleixo.Depõe contra você e ... é erro!

7. O pingo no i.É preciso pôr os pingos nos is!...

8. Cortar o t.9. A cedilha no ç.10. A inicial maiúscula de período.11. As maiúsculas nos títulos.12. As iniciais de nomes próprios,

maiúsculas.13. Erro gráfico até no título, é ter-

rível!14. Estrangeirismo.

O emprego de vocábulo que nãopertença ao nosso idioma só pode serfeito quando não haja, em português, pa-lavra de sentido correspondente. Termotécnico, por exemplo. Se usada, a pala-vra deve vir entre aspas («») ou grifada.

Ex.: «Know-how».

15. Eco.

É a rima na prosa. Só os artistastêm direito de recorrer a ela, que podefornecer belos efeitos.

Exemplo de eco (defeito):

Margarida levou toda a vida paraatravessar a avenida.

O Maneco entrou no boteco ebebeu uns trecos.

16. A gíria:

Via de regra não! A menos que setrate de diálogo, e entre como transcri-ção da linguagem de nível coloquial-popular. Fora daí, o uso da gíria seráinterpretado como pobreza vocabular.É negativo.

17. Não abrevie palavras.

Escreva-as todas por extenso, amenos que se trate de abreviações con-sagradas como por exemplo o «etc.».

18. Evite repetir palavras.

Use sinônimos. Há repetições queenfatizam. Mas fora o caso intencionalda ênfase, repetir revela pobrezavocabular ou desleixo.

Exemplo de repetição enfática:

«Vamos, não chores...

A infância está perdida.

A mocidade está perdida.

Mas a vida não se perdeu».(Carlos Drummond de Andrade, A Rosa do Povo)

19. Não escreva demais!

No caso de não limitarem o númerode linhas, não vá além de vinte e cinco.

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Entendo que o ideal para uma Redaçãosão vinte linhas.

Também não escreva «de menos».Dado um limite mínimo (20, por exemplo),não pare nesta linha. Vá adiante uma ouduas linhas, pelo menos.

20. Não «encha lingüiça»!

À falta de idéias, não fique repetin-do a mesma coisa com palavras dife-rentes! Isso é redundância, é prolixida-de, é terrível defeito! É preferível pou-cas linhas bem redigidas a muitas malescritas. Faça um trabalho honesto!

21. Não aumente o tamanho da le-tra para dar impressão de queescreveu bastante.

Isso indispõe o avaliador. Letra es-tilo «bicho-de-pé», só se vê a linha (detão pequena), não pode. O avaliador nãovai colocar lente de aumento especial-mente para corrigir sua redação.

22. Não se desculpe dizendo quenão escreveu mais porque otempo foi pouco.

Ninguém vai acreditar!...

Essa conversa de que é a primeiraredação, então... nem se fala.

23. Não cometa CACOFONIA, que é apalavra de sentido obsceno, chuloou ridículo, formada pela junção desílabas entre as palavras:

Aqui ela se disputa todos os dias...A boca dela...

Fé demais...

24. Pensamento novo, período novo.

É comum, entre os que iniciam, mis-turar no mesmo período idéias que nãose completam. Tome por norma: idéianova, período novo. Veja, entretanto, queisso nem sempre significa parágrafonovo!

25. Oração subordinada sem prin-cipal — não diz nada! Não pode!

Se há subordinada, tem de haverprincipal. Ou você já viu comandado semcomandante? Veja se entende algumacoisa:

— Quando Maria chegou porquetinha visto um homem que ela não co-nhecia.

— A menina que estava chorandoquando a chamaram.

— Quando chove, se estamos semagasalho, resfriamo-nos.

— O embrulho que chutou na cal-çada.

Deu para entender? Por que nãodeu?

E agora:

— Quando Maria chegou, porquetinha visto um homem que ela não co-nhecia, desandou a chorar.

— A menina, que estava chorando,quando a chamaram, foi eleita rainha.

— Quando chove, se estamos semagasalho, resfriamo-nos.

— O embrulho que chutou na cal-çada furou-lhe o pé.

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Especialmente, tome cuidado comos períodos muito longos: resultamconfusos e são propícios a períodosincompletos; os verbos nas formasnominais — gerúndio, particípio, in-finito — equivalem a subordinadas; por-tanto, deve haver uma principal.

O início daredação

Começar a redação, para algunsalunos, é uma tarefa ingrata e, às ve-zes, irrealizável, determinando destaforma o seu insucesso. Há alunos quesentem verdadeiro pavor como «comoé que eu começo». Depois de tudo oque foi visto, parece-nos que isto devedeixar de ser problema: as orientaçõese os treinamentos são elementos desi-nibidores suficientes. E, para que nãopersistam dúvidas (e como incentivo aotrabalho), algumas sugestões para «INÍ-CIOS», sobre como «DESENVOLVER» e«CONCLUIR» um assunto.

I. Você pode iniciar um assunto utili-zando os seguintes recursos:

1. Dados retrospectivos. Exemplo:

As primeiras manifestações de co-municação humana, nas eras mais pri-mitivas, foram traduzidas por sons queexpressavam sentimentos de dor, ale-gria ou espanto. Mais tarde...

2. Uma citação. Exemplo:

O assunto do (sobre) ... pode seranalisado (ou discutido) a partir das pala-vras lúcidas de ... quando afirma que «...»

3. Uma cena descritiva. Exemplo:

O som invade a cidade. Buzinasestridentes atordoam os passantes.Edifícios altíssimos cobrem os céus cin-zentos da grande metrópole. Uma fuma-ça densa e ameaçadora empresta a SãoPaulo o aspecto de fotografias antigassombreadas pela cor do tempo. É a pai-sagem tristonha da poluição.

4. Uma pergunta. Exemplo:

Será a chamada música popularbrasileira verdadeiramente popular everdadeiramente brasileira?

5. Um dado geográfico precisandoum fato. Exemplo:

Em Criciúma, no sul de Santa Cata-rina, oito mil homens vivem uma aventu-ra todos os dias. A aventura do carvão.São os mineiros, homens que quasenunca vêem o sol.

6. Dados estatísticos. Exemplo:

Naquela cidade de... habitantes,cerca de ... freqüentam as salas esco-lares, o que atesta a preocupação dasautoridades com o nível de instrução deseus moradores.

7. Narrativa de um ato. Exemplo:

Em agosto de 1976, faleceu o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oli-veira, em cuja gestão foi construída amonumental capital brasileira.

8. O recurso da linguagem figura-da. Exemplo:

O jornaleiro, filho das madrugadasfrias do Sul, quebra o gelo das manhãsgaúchas com sua voz cortante e quei-xosa como o minuano nos pampas.

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9. Uma frase declarativa. Exemplo:

O artista contemporâneo, diante deum mundo fundamentalmente complexoe agitado, tem por missão traduzir o maisfielmente possível essa realidade.

10. Com idéias contrastantes. Exem-plo:

Enquanto os grandes salões de altacostura das grandes capitais exibemcoleções de vestimentas suntuosas, osmarginais da sociedade morrem de friopor falta de agasalho.

⇒ O importante é que na INTRODUÇÃOde uma redação dissertativa apare-ça o tema, o ponto de vista, a tese,alguma referência, enfim, ao assuntoda redação; daí que nada obsta que,na introdução, apareçam as palavrasque compõem o tema/título.

Portanto, a maneira mais simples(de se vencer o tormento) de iniciar umaredação, e de que todos dispõem, é fa-lando sobre ela mesma, sobre o temadado, o assunto pedido, o título sugerido.Não há que se inventar nada. Ele já estálá, à nossa disposição. Desta forma, nãohá por temê-lo, mas apreciá-lo pelas van-tagens que pode nos oferecer.

II. Para desenvolver o assunto de umaredação, podemos utilizar os seguin-tes recursos:

a) citaçõesb) dados estatísticosc) justificativasd) exemplose) comparações

Em se tratando de um assunto po-lêmico, o aluno deve examinar os próse os contras que o envolvem, concluin-do com uma idéia que expresse suaposição em torno da problemática ana-lisada.

III. A conclusão de uma redação deveser, em primeiro lugar, enfática. Umbom início e uma conclusão bem feitaemprestam brilho e interesse ao tra-balho. A conclusão pode conter umaidéia pitoresca, humorística, surpre-endente, taxativa, sugestiva. O assun-to nunca pode ser abandonado emmeio à plena discussão dos aspectosque a ele se ligam. Um meio adequadode bem concluir é aquele em que sin-tetizamos o assunto nos termos emque foi proposto ou questionado naetapa introdutória.

Para treinamento, use o modelo deesquema sugerido há pouco.

Pontos a ponderar

Há certas partes de um navio que,tomadas isoladamente, afundariam. Amáquina afundaria; a hélice também.Mas, quando as partes de um navio sãocolocadas em conjunto, flutuam.

Assim acontece com as nossas ex-periências em redação. Algumas têm sidotrágicas; outras, felizes. Mas todasreunidas compõem uma embarcaçãoque está rumando para um destino de-finido, certo, e isso nos faz sentir re-confortados, otimistas, confiantes paraprosseguir e persistir.