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6 INTRODUÇÃO Este trabalho baseou-se na trajetória da luta antimanicomial e da reforma psiquiátrica no Brasil. Para chegarmos à delimitação do tema da pesquisa, foi preciso voltar no tempo e resgatar as principais informações sobre este movimento que trouxe mudanças significativas no que diz respeito aos tratamentos da saúde mental em nosso país. Tendo em vista que a principal meta dessa luta é a extinção de manicômios, hospitais psiquiátricos e a criação de formas adequadas para o tratamento de doenças mentais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) , decidimos delimitar o tema e tratar da inclusão e segregação dos usuários dos CAPS da região metropolitana de São Paulo. Para isso, foi preciso compreender o que é uma doença mental e quais foram as razões pelas quais a Luta Antimanicomial se iniciou. Não foi há tanto tempo, mais precisamente no século XVII, que a “loucura” começou a ser entendida como doença mental. Antes disso, a sociedade considerava o “louco” um “possuído” . Infelizmente, este estereótipo se estende até os dias atuais. Franco Basaglia é um dos principais nomes quando falamos da Luta Antimanicomial. Nascido em Veneza no ano de 1924, Basaglia se tornou psiquiatra e um dos principais representantes do movimento. Ao trabalhar no Hospital Psiquiátrico Providencial de Goriza (Itália), percebeu as condições e os tratamentos a que os internos eram submetidos, o que lhe causou imediata indignação. Assim, assumiu a diretoria do hospital no ano de 1961, onde iniciou mudanças nas condições de hospedaria e cuidados técnicos para os internos. A inspiração do Brasil para restabelecer a saúde mental no país teve início na Itália, no ano de 1960, onde foi conquistada uma nova legislação psiquiátrica, a Lei nº 180, que ficou conhecida como Lei Basaglia de 1978 e proibiu construções de novos hospitais psiquiátricos na Itália, regulou o processo de internação e o sequestro de doentes mentais. O esforço de Basaglia e de toda sua equipe ficou conhecido na sociedade brasileira após visitas e seminários nos anos de 1978 e 1979 ao país. A partir disso, as associações do setor de saúde mental e profissional da área tiveram a iniciativa de fazer suas críticas sobre as instituições psiquiátricas. No Brasil, em 1978, o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) estipulou a data 18 de maio como o Dia Nacional do Movimento da Luta Antimanicomial no país. A luta deu

Protagonistas Tratamento Antimanicomial

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INTRODUÇÃO

Este trabalho baseou-se na trajetória da luta antimanicomial e da reforma

psiquiátrica no Brasil. Para chegarmos à delimitação do tema da pesquisa, foi

preciso voltar no tempo e resgatar as principais informações sobre este movimento

que trouxe mudanças significativas no que diz respeito aos tratamentos da saúde

mental em nosso país. Tendo em vista que a principal meta dessa luta é a extinção

de manicômios, hospitais psiquiátricos e a criação de formas adequadas para o

tratamento de doenças mentais – como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

–, decidimos delimitar o tema e tratar da inclusão e segregação dos usuários dos

CAPS da região metropolitana de São Paulo.

Para isso, foi preciso compreender o que é uma doença mental e quais foram

as razões pelas quais a Luta Antimanicomial se iniciou. Não foi há tanto tempo, mais

precisamente no século XVII, que a “loucura” começou a ser entendida como

doença mental. Antes disso, a sociedade considerava o “louco” um “possuído”.

Infelizmente, este estereótipo se estende até os dias atuais.

Franco Basaglia é um dos principais nomes quando falamos da Luta

Antimanicomial. Nascido em Veneza no ano de 1924, Basaglia se tornou psiquiatra

e um dos principais representantes do movimento. Ao trabalhar no Hospital

Psiquiátrico Providencial de Goriza (Itália), percebeu as condições e os tratamentos

a que os internos eram submetidos, o que lhe causou imediata indignação. Assim,

assumiu a diretoria do hospital no ano de 1961, onde iniciou mudanças nas

condições de hospedaria e cuidados técnicos para os internos.

A inspiração do Brasil para restabelecer a saúde mental no país teve início na

Itália, no ano de 1960, onde foi conquistada uma nova legislação psiquiátrica, a Lei

nº 180, que ficou conhecida como Lei Basaglia de 1978 e proibiu construções de

novos hospitais psiquiátricos na Itália, regulou o processo de internação e o

sequestro de doentes mentais.

O esforço de Basaglia e de toda sua equipe ficou conhecido na sociedade

brasileira após visitas e seminários nos anos de 1978 e 1979 ao país. A partir disso,

as associações do setor de saúde mental e profissional da área tiveram a iniciativa

de fazer suas críticas sobre as instituições psiquiátricas. No Brasil, em 1978, o

Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) estipulou a data 18 de

maio como o Dia Nacional do Movimento da Luta Antimanicomial no país. A luta deu

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origem à reforma psiquiátrica, a partir da criação do movimento que tem como lema

“por uma sociedade sem manicômios”.

Foi então que o sistema de saúde mental começou a caminhar para um novo

tipo de legislação. Um projeto de lei foi criado pelo político brasileiro Paulo Delgado

que determinava a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos

mentais e redirecionava o modelo assistencial em saúde mental. Em 2001, o então

presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sancionou a Lei nº

10.216/2001, e assim a reforma psiquiátrica começou a se tornar realidade em solos

brasileiros.

O Movimento da Luta Antimanicomial não é o único movimento social

existente na luta dos conjuntos de ideias na reforma psiquiátrica, mas é, sem dúvida,

o mais importante e amplo protagonista social no processo. O objetivo deste

trabalho é mostrar como é feita a inclusão social e qual é o tratamento adequado,

não apenas da doença, mas também a forma como a sociedade deve olhar para

essas pessoas, para incluí-las e não segregá-las. E também como é o trabalho dos

profissionais de saúde mental para a participação dos usuários na região

metropolitana de São Paulo.

Com a reforma psiquiátrica, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), local

apropriado para prestar atendimento intensivo e diário a quem sofre com problemas

mentais graves, chegaram para substituir os hospitais psiquiátricos, onde a

internação só acontece como último recurso. O papel do CAPS é acolher os

pacientes com transtornos mentais graves, incentivar sua integração social e

familiar, apoiá-los em sua busca de autonomia e oferecer atendimento médico e

psicológico.

A substituição do tratamento manicomial dentro de manicômios pelo

tratamento feito nos CAPS representa um avanço não só para a Luta

Antimanicomial, mas para o sistema de saúde mental no país. Neste sentido, após

leituras e pesquisas quanto ao tema, o trabalho partiu do seguinte problema de

pesquisa: como o usuário do CAPS é incluído na sociedade e por que a sociedade

exclui essas pessoas (pressupondo a inclusão e segregação como peças-chave

deste processo). Sendo assim, o trabalho teve como objetivos: (1) mostrar que o

doente mental pode estar integrado na sociedade e (2) revelar que, por preconceito

e falta de conhecimento, tais cidadãos podem ficar em situação de exclusão da

sociedade. Neste sentido, é imprescindível compreender como a luta pode interferir

8

no sistema de saúde mental no Brasil e como o CAPS pode contribuir para a

mudança do cenário passado para o atual.

Percebemos a relevância social do tema, tendo em vista que não é um

assunto pautado pela mídia e nem é de conhecimento geral da sociedade. O

trabalho leva às pessoas possíveis respostas para inúmeras perguntas relacionadas

aos doentes mentais e ao sistema de saúde no Brasil, como, por exemplo, como os

usuários com doença mental podem ter um convívio junto à sociedade e assim

promover um debate a respeito da proposta.

Este trabalho é de extrema importância na vida acadêmica e pessoal, pois um

dos princípios aprendidos tanto na vida quanto na universidade é respeitar as

diferenças e eliminar preconceitos. Após lançar esses princípios, somos jogados ao

enorme mundo de conhecimento, de acordo com a área escolhida e em nossas

próprias vidas. A razão que encontramos pela qual as pessoas ainda possuem

algum tipo de preconceito e excluem doentes mentais foi a falta de informação. Por

isso, é fundamental que um tema tão afastado e, ao mesmo tempo, tão próximo de

nós ganhe espaço na mente das pessoas para que formem suas opiniões.

Para isso, foi necessário escolher duas correntes teóricas que amparassem a

pesquisa. Na primeira, escolhemos a obra do italiano Franco Basaglia por sua

grande contribuição ao movimento, tanto na Itália quanto no Brasil, e por ser um dos

pioneiros da reforma psiquiátrica em seu país. Basaglia defende a ideia de que

manter um indivíduo numa instituição fechada é prejudicial para o seu

desenvolvimento. Para ele, se as pessoas portadoras de transtornos mentais

recebessem tratamentos humanizados em hospitais psiquiátricos, em vez de ficar

internadas em manicômios, o cenário de escravidão do local seria revertido para a

liberdade do doente. Dessa forma, o paciente poderia se tornar o único árbitro da

situação e essa abolição do poder absoluto do médico se transformaria na

autonomia dos doentes. Acreditava também que o isolamento do doente piorava o

transtorno mental.

A segunda corrente teórica é a jornalística agenda-setting. Esta teoria

defende a ideia de que a mídia é responsável por pautar as conversas das pessoas,

por “sugerir” o assunto que devemos discutir. Ou seja, aquilo que está

frequentemente na mídia é o assunto sobre o qual as pessoas irão conversar em

seu convívio social. A teoria, também conhecida como teoria do agendamento, foi

9

escolhida, pois entendemos que o tema é de grande impacto e precisa ser visado

em todos os aspectos sociais.

Pretendemos que a discussão do conteúdo chegue principalmente a quem

não tenha afinidade com o assunto porque a doença mental pode estar presente em

qualquer família de qualquer classe social. Por este motivo, gostaríamos que os

espectadores do videodocumentário Protagonistas – Tratamento Antimanicomial

entendessem quais eram as condições oferecidas aos doentes mentais nos

manicômios e quais são as oferecidas nos CAPS. Ao criar esse vínculo, o intuito é

que o espectador se sensibilize com a forma de tratar alguém com transtorno mental

no país.

Para uma melhor organização do trabalho, dividimos este relatório da

seguinte forma:

Histórico do Tema

A partir da página 12, o Histórico do Tema traz informações a respeito da

“loucura”, da Luta Antimanicomial desde a Itália até chegar ao Brasil, abordando a

reforma psiquiátrica, os tipos de tratamento para doentes mentais e o cenário atual

do sistema de saúde.

Histórico do Produto

A partir da página 17, o Histórico do Produto traz informações sobre o

documentário, sua origem e influências no Brasil, além das referências de

documentaristas na idealização de Protagonistas – Tratamento Antimanicomial.

Revisão da Literatura

A partir da página 20, a Revisão da Literatura propõe, por meio de autores na

área da psicologia, sobretudo aqueles inseridos da Luta Antimanicomial, uma

discussão a respeitos dos objetivos do movimento, propostas e tratamentos

adequados para as doenças mentais.

Pressupostos Teóricos

A partir da página 25, apresentamos os Pressupostos Teóricos, que trazem

duas correntes de pensamento usadas para amparar o tema de pesquisa: uma de

10

psicologia, baseada na obra de Franco Basaglia, e outra jornalística, a teoria

agenda-setting.

Pressupostos Metodológicos

A partir da página 27, os Pressupostos Metodológicos trazem informações

sobre a metodologia de pesquisa que utilizamos para a realização tanto deste

relatório quanto do videodocumentário.

Caracterização do Produto

A partir da página 29, a Caracterização do Produto traz as informações a

respeito do produto jornalístico, o videodocumentário Protagonistas – Tratamento

Antimanicomial, e o motivo de nossas escolhas, tais como: justificativa do título,

sinopse, equipe, linha editorial e identidade audiovisual.

Aprendizagens Acadêmicas e Jornalísticas

A partir da página 33, o item Aprendizagens Acadêmicas e Jornalísticas traz a

visão de cada membro do grupo a respeito do amadurecimento acadêmico e

jornalístico ao realizar o presente trabalho.

Investimentos

A partir da página 36, uma tabela com valores e prestação de serviços que

tivemos com a realização dos trabalhos (relatório e videodocumentário), em todas as

etapas e total dos gastos.

Pautas

A partir da página 36, estão disponibilizadas as pautas, desenvolvidas para

ser utilizadas nas entrevistas com os personagens e profissionais no

videodocumentário, na ordem em que foram realizadas, da última à primeira.

Considerações Finais

A partir da página 55, apresentamos um texto com as considerações que

pudemos ter com a finalização do trabalho e os objetivos alcançados.

Referências

11

Nas páginas 58 e 59, reunimos as referências bibliográficas – livros, revistas,

artigos, trabalhos acadêmicos e sites – que utilizamos para a realização da pesquisa

e do relatório final deste trabalho.

Anexos

A partir da página 60, trazemos todos os itens utilizados ao longo deste

trabalho que não entraram no texto do presente relatório, como a Lei nº

10.216/2001.

Apêndices

A partir da página 65, trazemos os itens utilizados para a confecção do

trabalho e que foram desenvolvidos pelos membros do grupo, como as autorizações

de uso de imagem dos entrevistados.

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a) Histórico do tema

Para entendermos o movimento da Luta Antimanicomial e seus objetivos, é

necessário voltar ao passado e conhecer todos os processos que fundamentaram

sua história.

A loucura, antes do século XIX, era uma discussão complexa e interpretada

de maneiras diferentes. A mais comum era associá-la à possessão, ou seja, os

loucos estariam possuídos por alguma força sobrenatural. Foucault (2000) conta que

as histórias da psiquiatria até então quiseram mostrar um louco da Idade Média e do

Renascimento como um doente ignorado, preso no interior da rede rigorosa de

significações religiosas e mágicas.

Para que esse pensamento fosse revertido e compreendido na sociedade

com o significado atual, foi fundamental o caso ser visto de uma forma aprofundada.

Sendo assim, seria necessário um olhar médico e científico para identificar a

natureza da possível possessão e as interpretações de que os loucos eram

considerados possuídos e pessoas possuídas eram definidas como doentes

mentais. Tais interpretações foram consideradas um erro de raciocínio e deduziu-se

que “se os possuídos na verdade eram loucos, os loucos eram realmente tratados

como loucos”. (FOUCAULT, 2000, pág. 75)

Definir loucura como doença era uma experiência nova para as pessoas

daquele século, pois a religião era o amparo da população da época.

Sempre houve, no Ocidente, curas médicas da loucura, e os hospitais da Idade Média comportavam, na sua maior parte, como o Hôtel-Dieu, de Paris, leitos reservados aos loucos (frequentemente leitos fechados, espécies de jaulas para manter os furiosos). Mas isto era somente um setor restrito, limitado às formas da loucura que se julgavam curáveis (frenesis, episódios de violência ou acessos “melancólicos”). De todos os lados, a loucura tinha uma grande extensão, mas sem suporte médico. (FOUCAULT,

2000, pág. 77)

No entanto, conforme as condições de saúde mental no mundo foram se

desenvolvendo e tomando alguns caminhos que não iam ao encontro do

pensamento de alguns médicos, deu-se início à Luta Antimanicomial. Esses

caminhos podem ser referidos como tratamentos inadequados (tratamento com

choque, lobotomia, aprisionamento etc.). O principal objetivo da Luta Antimanicomial

13

é acabar com o aprisionamento (segregação) dos doentes mentais e dar a eles o

protagonismo de suas vidas, incluindo essas pessoas na sociedade.

Nascido no ano de 1924, em Veneza, Itália, Franco Basaglia é um dos

principais nomes quando falamos do movimento da Luta Antimanicomial. Basaglia

militou na resistência italiana quando ainda era estudante e, nessa época, foi preso

até a Segunda Guerra Mundial. Quando terminou o período de conflito, iniciou-se na

faculdade de medicina em Padova, onde ficou por 12 anos. Abandonou a

universidade, pois pretendia trabalhar no Hospital Psiquiátrico Providencial de

Goriza. Foi neste hospital que Franco Basaglia pôde entender o sistema manicomial

de tratamento para doentes mentais. “Os muitos meses de prisão fazem com que se

percebam as cruéis condições a que são submetidos os institucionalizados – o que,

imediatamente, se associa aos internos do hospital psiquiátrico.” (AMARANTE,

1996, pág. 127)

Preocupado com o tratamento dado ao doente mental no Hospital de Gorizia,

Basaglia assume a diretoria no ano de 1961, onde inicia mudanças e melhora as

condições de hospedaria e cuidados técnicos para com os internos, levando como

base sua formação humanística e filosófica. Deixou a direção do hospital no mês de

novembro de 1979 e foi substituído por Franco Rotelli. Basaglia foi para a região de

Lazio – onde a capital é Roma – e deu início à implantação da reforma psiquiátrica

italiana. Franco Basaglia morreu em agosto de 1980, aos 56 anos.

O movimento antimanicomial teve início na Itália, no ano de 1960, e deu

inspiração para o Brasil quando conquistou uma nova legislação psiquiátrica que

reformulava o sistema de tratamento em saúde mental: a Lei nº 180, que ficou

conhecida como Lei Basaglia de 1978 e proibia a construção de novos hospitais

psiquiátricos na Itália, regulou o processo de internação e o sequestro de doentes

mentais.

Quando pretendemos falar sobre a Luta Antimanicomial, se faz necessário

falar da reforma psiquiátrica. A reforma surgiu para mudar o sistema assistencial de

saúde mental, ou seja, acabar com o modelo manicomial e reformulá-lo para um

modelo antimanicomial sem a necessidade de isolamento do doente mental. Goulart

(2007) conta que a reforma psiquiátrica constituiu serviços territoriais capazes de

acolher os transtornos mentais e viabilizou o fechamento dos manicômios italianos,

numa ousada estratégia que pretendia ferir irremediavelmente os mecanismos

legitimados da segregação dos doentes mentais.

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A reforma psiquiátrica envolve diferentes atores, sendo eles profissionais de

saúde mental, doentes mentais e seus familiares, governos federal, estadual e

municipal, além da sociedade no geral. Segundo o relatório da Conferência Regional

de Reforma dos Serviços de Saúde Mental, de 2005, a reforma é compreendida

como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e

sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços e das relações

interpessoais que o processo da reforma psiquiátrica avança, marcada por

impasses, tensões, conflitos e desafios.

Voltando à Itália, o esforço de Basaglia e de sua equipe ficou conhecido na

sociedade brasileira após visitas e seminários nos anos de 1978 e

1979. Associações do setor de saúde mental e profissionais da área tiveram a

iniciativa de expressar suas críticas sobre as instituições psiquiátricas. Segundo

Goulart (2007), “ele compartilhou com os brasileiros as estratégias de sensibilização

da opinião pública através da mídia’’.

Basaglia sabia quanto era importante convencer a opinião pública para poder

desencadear o processo de transformação institucional e também a importância da

presença da mídia para suas denúncias. Entre suas visitas a hospitais psiquiátricos,

Basaglia esteve no Hospital Colônia, em Barbacena, no estado de Minas Gerais. Na

coletiva de imprensa que concedeu na ocasião, comparou o hospital a um campo de

concentração nazista.

Daniela Arbex, em seu livro Holocausto Brasileiro, mostra que cerca de 60 mil

pessoas morreram no Hospital Colônia em Barbacena. Foram feitas diversas

denúncias sobre maus-tratos aos pacientes, a maioria deles não possuía diagnóstico

de doença – eram prostitutas, alcoólatras, homossexuais, pessoas que causavam

incômodo para outras com mais poder.

No dia 18 de maio é comemorado o Dia Nacional do Movimento

Antimanicomial ou Luta Antimanicomial no Brasil. Essa data ficou estipulada em

1987 por força do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM). A luta

antimanicomial deu origem à reforma psiquiátrica, a partir da criação do movimento

por uma sociedade sem manicômios. Desde o final da década de 1980, como conta

Goulart (2007, pág. 31), o movimento da Luta Antimanicomial tornou-se um dos mais

relevantes fenômenos associativos da sociedade civil brasileira no processo de

mudança no campo da saúde mental.

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Em 2001, o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,

sanciona a Lei nº 10.216/2001, um projeto do político brasileiro Paulo Delgado –

fundador do Partido dos Trabalhadores e ex-presidente da Comissão de Educação e

Cultura da Câmara dos Deputados – que dispõe sobre a proteção e os direitos das

pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em

saúde mental.

Tanto os portadores de doenças mentais quanto seus familiares são

amparados pela lei. O artigo 4º, por exemplo, trata da internação e prevê que, em

qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-

hospitalares se mostrarem insuficientes. Os incisos 1º e 2º tratam da inclusão social

do portador de transtorno mental e do modelo de assistência oferecido a ele,

respectivamente. (ver em anexos, pág. 61)

O Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) foi outro

movimento que surgiu para que se iniciasse o debate sobre as condições do sistema

de saúde vigente no país – consideradas péssimas, pois os doentes mentais eram

tratados de forma inadequada, isolados da sociedade. Amarante (2008) apud

Barbosa et. al. (2012) conta que, no interior do MTSM, inicia-se um processo de

reflexão crítica sobre a questão epistemológica do saber psiquiátrico, da função

social da psiquiatria como estratégia de repressão e ordem social e quanto ao

caráter de instituição total do hospital psiquiátrico.

Entre 1978 e 1987, vários eventos foram realizados para o fortalecimento do

MTSM e da luta pela transformação do sistema de saúde – tratamento adequado a

doentes mentais e fim dos manicômios. Um desses eventos foi a I Conferência

Nacional de Saúde Mental, indicada na 8ª Conferência Nacional de Saúde. No início,

essa conferência “teve um caráter técnico; após a modificação do regulamento [Lei

nº 10.126], foi dada a garantia de um caráter participativo”. (AMARANTE, 2008, pág.

740 apud BARBOSA et. al., 2012, pág. 46)

A cidade de Bauru, no interior de São Paulo, no ano de 1987, também foi

palco do II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental.

Foi um momento de renovação teórica e política, marcado pela participação de

associações na luta pela mudança das políticas e práticas psiquiátricas.

Com a garantia dos direitos, o doente mental também tem o dever de zelar

pelo próprio estado de saúde, de dar todas as informações necessárias aos

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profissionais de saúde para um melhor diagnóstico e tratamento e de respeitar as

regras de funcionamento do serviço de saúde.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas públicos de

saúde do mundo. Ele abrange desde o simples atendimento ambulatorial até o

transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a

população do país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi criado

em 1988 pela Constituição Federal Brasileira para ser o sistema de saúde dos mais

de 180 milhões de brasileiros (Portal da Saúde, Governo Federal, 2014).

Como parte do Sistema Único de Saúde, os CAPS (Centro de Atenção

Psicossocial) são os locais mais apropriados para o tratamento de doentes mentais

e foram previstos na Lei Paulo Delgado.

Segundo o Manual CAPS, do Ministério da Saúde, os Centros de Atenção

Psicossocial (CAPS) são instituições que visam à substituição dos hospitais

psiquiátricos – antigos hospícios ou manicômios – e de seus métodos para cuidar de

afecções psiquiátricas.

Eles são divididos em: CAPS I (Infantil), CAPS II (Adulto) e CAPS III ou AD

(Álcool e Drogas). Só no município de São Paulo, são 80 CAPS, sendo 25 CAPS

AD, 31 CAPS Adulto e 24 CAPS Infantil. Na região apontada neste estudo, região

metropolitana de São Paulo, são 107 CAPS. Nem todas as 39 cidades que

compõem a região possuem este tipo de serviço. Os transtornos mentais são a

segunda causa de atendimentos de urgência, segundo a Associação Brasileira de

Psiquiatria. Entre as doenças mentais, as mais comuns são: depressão, distúrbio de

ansiedade generalizado, distúrbio do pânico e transtorno bipolar. E, por serem

doenças comuns, mas cujo diagnóstico não é tão fácil de concluir, fazem-se

necessários profissionais qualificados, como psicólogos, psiquiatras e enfermeiros,

porém, um dos melhores caminhos seria a capacitação de clínicos gerais em

atendimentos de urgências psiquiátricas.

Após a Lei nº 10.126 entrar em vigor, os tratamentos agressivos foram aos

poucos modificados. A pioneira no Brasil por um tratamento humanizado aplicado a

doentes mentais foi a dra. Nise da Silveira, médica-psiquiatra que, com o apoio da

arte, mudou a maneira de cuidar dos pacientes.

Nise, diante da razão e de sua forma científica, lança mão da razão do outro: literatura, jogos, animais, objetos e texturas, arte não como hedonismo, mas como existência. Existência não como possibilidade de

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integração ou aceitabilidade, mas como desestabilidade à razão e às instituições do são, do normal e do boçal. Não se está em busca de

identidades, mas de diferenças na igualdade. (PASSETI, 2002, pág. 4)

De acordo com o Dicionário Aurélio, humanizar significa tornar mais humano.

Nos termos técnicos de saúde a mesma palavra tem o sentido de “preocupar-se com

o paciente além da visão médica”, ou seja, uma visão de afeto, de quem se

preocupa não só com a saúde do paciente, mas também com o seu emocional.

No dia 18 de maio de 2014, em frente ao Teatro Municipal de São Paulo,

acompanhamos o Encontro do Movimento de Luta Antimanicomial do Estado de São

Paulo, que reuniu profissionais de saúde mental e usuários de CAPS de todo o

Estado. Lá, pudemos conversar com integrantes do movimento, usuários de CAPS e

conhecer de perto a luta e seus objetivos.

Pela nossa percepção, o movimento continua forte em busca de melhorias no

Sistema Único de Saúde. O encontro foi feito em plena Virada Cultural, para que o

movimento pudesse atingir um público maior e ganhar visibilidade. Agora, 13 anos

depois da Lei nº 10.126, os objetivos continuam os mesmos, mas abrangem todo o

país: fim de hospitais psiquiátricos e integração total dos CAPS ao Sistema Único de

Saúde.

a. 1) Histórico do produto

Junto com o nascimento do cinema, surgia também o formato documentário.

Quando os irmãos Lumière exibiam cenas do cotidiano e retratavam a época em

caráter completamente experimental, mesmo que de forma despretensiosa, estavam

registrando e documentando o dia a dia de seu tempo. Dalpizzolo (2007) explica que

“o marco inicial da Sétima Arte é o ano de1895”. Foi naquele ano que os irmãos

Lumière, reconhecidos historicamente como fundadores do cinema, inventaram o

cinematógrafo, aparelho inspirado na engrenagem de uma máquina de costura, que

registrava a “impressão de movimento”1. Dalpizzolo conta ainda que a ideia era

basicamente a mesma de uma câmera utilizada nos dias de hoje, porém, seu

funcionamento era manual, pela rotatividade de uma manivela – anos depois, o

1Vale esclarecer que as câmeras cinematográficas não captam a movimentação em tempo real,

apenas tiram fotos sequenciais que nos transmitem a ilusão de movimento e possibilitam a amostragem deste material coletado a um público por meio de uma projeção.

18

processo se mecanizaria, e hoje em dia já podemos encontrar equipamentos desse

porte em formato digital, embora este possua qualidade inferior ao formato antigo.

No mesmo ano de 1895, mais precisamente em 28 de dezembro, esses

franceses proporcionaram a primeira sessão de cinema. Os filmes eram curtos, com

aproximadamente 3 minutos cada, e foram apresentados para um público de 30

pessoas em média. Entre os filmes exibidos estava A Chegada do Trem na Estação,

que mostrava claramente a chegada de um trem na estação ferroviária.

Segundo Dalpizzolo (2007), durante estes primeiros anos, os filmes

produzidos eram documentais, registrando paisagens e pequenas ações da

natureza. A ideia também fora dos irmãos franceses, que decidiram enviar a vários

lugares do mundo homens portando câmeras, tendo como propósito registrar

imagens de países diferentes e levá-las para Paris, difundindo, assim, as diversas

culturas mundiais dentro da capital da França. Os espectadores, então, iam ao

cinema para fazer uma espécie de “viagem pelo mundo”, conhecendo lugares

jamais visitados e que, devido a problemas financeiros ou quaisquer outros detalhes,

não teriam possibilidade de conhecer de outra maneira. Via-se ali, então, um grande

e contextual significado para uma invenção ainda pouco desmembrada pela

humanidade.

Gregolin et. al. (2002) explica que o termo documentário é normalmente

usado para designar um filme de caráter documental. Tal nomenclatura pode ter um

significado equivocado, uma vez que a maior parte dos filmes apresenta

características documentais. Se toda obra fílmica que apresentasse características

documentais fosse classificada como documentário, o gênero se incluiria num

imenso leque de obras, o que não condiz com uma classificação possível sugerida

desde a sua origem.

Segundo Rodrigues (2010), o filme documentário nasceu juntamente com os

primórdios do cinema, no final do século passado, quando as imagens fotográficas

em movimento registravam as atualidades em produções de cinejornais e filmes

institucionais, em registros de expedições, de acontecimentos históricos, atos

oficiais, cerimônias públicas e privadas da elite, funcionamento de fazendas e

fábricas, entre outras documentações. Rodrigues explica ainda que cineastas como

os irmãos Afonso e Paschoal Segreto, Silvino dos Santos, major Luís Tomás Reis,

entre outros, foram os responsáveis pelas primeiras imagens do acervo da história

do cinema brasileiro. Imagens das quais restaram apenas vestígios. Imagens

19

perdidas do cinema mudo, apontando o futuro da maioria dos filmes documentários

realizados em outras épocas no Brasil.

Bill Nichols, em seu livro Introdução ao Documentário, conta que existem dois

tipos de filmes documentais: o primeiro, de satisfação e desejos, e o segundo, de

representação social. No primeiro caso, trata-se da ficção, de frutos da imaginação

que expressam aquilo que desejamos. O segundo caso é o filme de não ficção, que

expressa a percepção do que a realidade foi, é ou poderá se tornar. Nichols ainda

relata por que nos apropriamos mais de documentários. Segundo o autor, o que

vemos representado ali são pessoas, lugares e coisas que também poderíamos ver

com os nossos próprios olhos. Mesmo fora da tela do cinema, essa característica já

é a base da crença, vemos que o que estava lá diante da câmera pode ser verdade.

Ou seja, o documentário nos traz a força da propriedade, da identificação. O

cineasta brasileiro Fernando Meirelles, indicado ao Oscar por Cidade de Deus

(2002) e por Lixo Extraordinário (2011), em seu mais recente documentário, A Lei da

Água (Novo Código Florestal) (2014), aborda a questão do código florestal e da crise

da água, fatos que recentemente vêm atingindo as metrópoles do Brasil e com os

quais qualquer cidadão vitimado por essa situação se identifica facilmente.

De acordo com a revista Montajes, em um artigo que analisava o livro Ensaios

no Real: O Documentário Brasileiro Hoje, de César Migliorin, desde a década de

1990 no Brasil, o documentário vem ganhando visibilidade no cenário nacional, não

apenas devido ao seu crescimento no volume de produções, mas também pelo

interesse nesse tipo de produto em festivais2, pesquisas e publicações.

Em 1999, dois documentários se destacaram: Nós que Aqui Estamos por Vós

Esperamos, de Marcelo Masagão, que atingiu um público de quase 59 mil

espectadores, e Santo Forte, de Eduardo Coutinho, que chegou a quase 19 mil.

De acordo com o site Laboratório Cultura Viva, dificilmente um documentário

ultrapassa 19 mil espectadores, enquanto um longa-metragem de sucesso

ultrapassa 500 mil ou mais, como é o caso de Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é

Outro (2010), que chegou a 10 milhões.

2Um dos principais festivais de documentários é o É Tudo Verdade – Festival Internacional de

Documentários, criado em 1996 por Amir Labaki, que foi por duas vezes diretor técnico do Museu da Imagem e do Som, da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, nos períodos de 1993 a 1995 e 2003 a 2005. O festival tem exibido anualmente cerca de uma centena de obras não ficcionais brasileiras e internacionais, entre lançamentos e clássicos, simultaneamente em São Paulo e Rio de Janeiro.

20

Um dos problemas relatados pelo site é a distribuição desses documentários:

“A política de incentivo à produção esbarra no problema concreto da distribuição,

muitos longas documentais são produzidos, poucos são distribuídos

satisfatoriamente”.

Em contrapartida, o documentário brasileiro encontrou na era digital novas

maneiras de distribuição, como por exemplo o filme Belo Monte, Anúncio de uma

Guerra (2011), de André Delia, que se tornou viral na internet e arrecadou cerca de

R$ 121 mil em 15 dias por meio do site de financiamento coletivo Catarse. O filme já

foi visto por 45 mil pessoas nos cinemas e mais de 3 milhões na internet.

b) Revisão da literatura

A reforma psiquiátrica no Brasil iniciou-se com o importante movimento da

Luta Antimanicomial que teve seu início na Itália nos anos 1960, como visto no

histórico do tema desta pesquisa.

Segundo Rotelli e Amarante (1992) apud Tomaz (2009), a reforma

psiquiátrica brasileira foi influenciada pela psiquiatria italiana desenvolvida por

Franco Basaglia. Ele ficou inconformado com a situação em que se encontravam os

doentes mentais nos hospitais psiquiátricos e decidiu reformular o sistema de saúde

mental.

Tomaz (2009) diz que os autores acreditam que tal influência tem se dado em

função de dois fatores: primeiro, pela consolidação teórico-prática do modelo

analítico; segundo, pela constatação da limitação dos modelos clássicos de

assistência aos problemas relacionados à saúde mental, que não tinham por objetivo

a extinção das instituições psiquiátricas totalitárias.

Basaglia foi, sem dúvida, uma das pessoas que mais se empenharam na

reforma psiquiátrica em seu país, porém não foi o único. Rotelli e Amarante (1992)

apud Tomaz (2009) afirmam que o movimento da reforma psiquiátrica no Brasil teve

influência de outros pensadores, tais como Foucault, Goffman, Szaz e Castel, além

da antes citada influência basagliana.

Levando em consideração a importância da influência italiana para o

desencadeamento do movimento no Brasil, mostramos uma breve relação entre a

reforma psiquiátrica e o movimento da Luta Antimanicomial na Itália e no Brasil

desde seu início.

21

Rotelli et. al. (1990) apud Tomaz (2009) explicam que o movimento pela

reforma psiquiátrica realizado na Itália se diferencia daquele desenvolvido em alguns

países da Europa e dos Estados Unidos. Nesses locais, a reforma limitou-se à

desospitalização do doente, enquanto na Itália houve a desinstitucionalização com

seus conteúdos de mobilização dos sujeitos sociais como atores de transformação

das relações de poder entre instituição e paciente e de reconstrução de uma

estrutura de saúde mental que pudesse substituir por completo a internação por

meio da desmontagem e da reconversão dos recursos materiais e humanos.

A estreia do trabalho de Franco Basaglia teve origem na transformação do

Hospital Psiquiátrico Provincial de Goriza, na Itália, entre os anos de 1961 e 1968.

Indignado com os maus-tratos que o hospital dava aos doentes mentais, implantou o

projeto comunidade terapêutica.

Em 1970, Basaglia atuou nos Estados Unidos como professor visitante em um dos Community Mental Healthy Centers de Nova York, onde amadureceu suas ideias de transformação da instituição psiquiátrica e

entendeu que não bastava reorganizá-la. (TOMAZ, 2009, pág. 93)

No entanto, Basaglia entendeu que a palavra-chave para acabar com os

maus-tratos que os doentes mentais sofriam não era reorganização e sim mudanças

no sistema de saúde. Em busca de uma nova legislação psiquiátrica, Franco

Basaglia foi à luta para conquistar essas mudanças: uma legislação contra os maus-

tratos aos doentes mentais na Itália.

A experiência de Basaglia serviu de inspiração para a Lei n° 180, aprovada na Itália em 13 de maio de 1978, que determinou a extinção dos manicômios e a substituição do modelo psiquiátrico por outras modalidades de cuidado e assistência. A Lei Basaglia, como ficou conhecida, é, ainda, a única no gênero em todo o mundo. (AMARANTE,

2006, pág. 34)

E assim, Basaglia trouxe um novo olhar sobre a loucura, indo contra os

pensamentos da época, que acreditavam em qualquer coisa sobre os doentes

mentais, menos que eles sofriam algum tipo de transtorno mental.

Aqui no Brasil, pessoas que atuavam na área de saúde mental ficavam

indignadas com as instituições psiquiátricas e com o tipo de tratamento a que os

doentes eram submetidos.

Goulart (2007) destaca que o trabalho de Basaglia e de sua equipe ficou

conhecido entre os brasileiros após as visitas e os seminários de 1978 e 1979,

22

iniciativa de profissionais e associações do campo de saúde mental que já

expressavam críticas às instituições psiquiátricas. Esses profissionais estavam em

busca de soluções para a crise do modelo assistencial brasileiro.

Ele dividiu com os brasileiros estratégias que sensibilizariam a opinião

pública, o que viria a ser a chave para desencadear o processo de transformação

institucional. A chegada de Basaglia ao Brasil no ano de 1978 foi considerada uma

grande chance para o país. No ano seguinte, ele fez uma visita ao Hospital Colônia

de Barbacena, Minas Gerais, que ficou conhecido como um dos mais cruéis

manicômios brasileiros. Amarante (2006) conta que Basaglia comparou o Colônia a

um campo de concentração, reforçando as denúncias de maus-tratos e violência. Foi

com suas visitas que Basaglia se tornou referência na história da reforma

psiquiátrica brasileira. Os profissionais de saúde mental não se contentavam em

apenas denunciar os manicômios, eles passaram a buscar a reforma psiquiátrica

para mudar a realidade no sistema de saúde.

Labosque (2001) apud Goulart (2007, pág. 30) conclui:

Assim como aconteceu na Itália, alguns congressos e seminários nacionais e estaduais de profissionais da área da saúde mental se convertiam em fóruns de discussão política e denúncias, muitas vezes permeáveis à participação de públicos leigos e entidades não pertencentes à área técnica, tais como o Congresso Brasileiro de Psiquiatria (1979), o Encontro da Rede de Alternativas à Psiquiatria (no início dos anos 1980), ambos em Belo Horizonte, e o Congresso de Trabalhadores de Saúde Mental, em Bauru (1987), que se tornou o marco da constituição do movimento de luta antimanicomial brasileiro.

O Brasil conseguiu, com esse movimento, se associar à redemocratização do

país e à mobilização político-social. Um exemplo é o projeto do político brasileiro

Paulo Delgado, que reformularia o modelo assistencial de saúde mental no Brasil e a

proteção e os direitos dos portadores de transtornos mentais, como já citado neste

trabalho.

Porém, antes de ser aprovado, o projeto passou por obstáculos, como as

grandes preocupações por parte dos proprietários de hospitais psiquiátricos, que

perceberam o grande risco que a lei representava para seus negócios e planejaram

lobbies em Brasília. Amarante (2006) explica que, além disso, alarmaram os

parentes dos internos (em geral tão carentes e desassistidos quanto a maioria da

população), fazendo-os crer que os pacientes lhes seriam devolvidos da noite para o

dia caso o projeto de lei fosse aprovado.

23

Contudo, a opinião pública tomou conhecimento do fato e também a Sosintra

(Sociedade de Serviços Gerais para a Integração Social pelo Trabalho), que dá

auxílio aos portadores de transtornos mentais, orientação seus familiares e apoio

aos técnicos do serviço de saúde mental.

A Sosintra esteve à frente na defesa da reforma psiquiátrica e conseguiu

manter a ideia contra os manicômios. Essa lei ficou conhecida como Lei

Antimanicomial e representa um avanço na reforma psiquiátrica no Brasil.

A extinção das estruturas manicomiais passou a ser implantada em todo o

país. A transformação do modelo assistencial de saúde mental, que tinha como

objetivo criar novos ambientes para tratamentos psiquiátricos, melhorar a

qualificação dos profissionais da área e variar os métodos terapêuticos, virou prática

política e social antes mesmo de virar lei, pois muitas experiências, como dar uma

melhor condição de atendimento aos doentes mentais, não vingaram no Brasil.

Alguns manicômios só foram fechados após a aprovação da Lei Federal de Saúde

Mental nº 10.216/2001.

Quando falamos em doença mental, muitas vezes pensamos em tratá-la,

porém, nos esquecemos de que o principal ator nesse contexto não é a doença e

sim o sujeito, ou seja, o portador de transtorno mental. Amarante (2006) acredita que

o dito tratamento lida com questões de cidadania, inclusão social, solidariedade e,

por isso, não é um processo do qual participam apenas profissionais da saúde, mas

também muitos outros atores sociais.

Barbosa et. al. (2012) apud Luchmann; Rodrigues explicam que os

movimentos sociais são gestados no cotidiano por um mosaico de pessoas e grupos

que questionam a realidade social e que podem permanecer em estado de latência.

Sua visibilidade ocorre nas mobilizações coletivas, por meio de manifestações,

encontros, eventos, protestos e conflitos. Loccoman (2012), em artigo para o site da

revista Mente e Cérebro, explica:

Drogas como o crack agem de maneira tão agressiva no corpo do usuário

que não permitem que ele entenda a gravidade de sua situação e quanto

seu comportamento pode ser nocivo para ele mesmo e para os outros.

Foi com base nessa ideia que o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-

PE) apresentou, em março deste ano [2012], uma proposta de política

pública que prevê a internação compulsória temporária de dependentes

químicos segundo indicação médica após o paciente passar por avaliação

com profissionais de saúde. A internação contra a vontade do paciente

está prevista no Código Civil desde 2001, pela Lei da Reforma

24

Psiquiátrica nº 10.216, mas a novidade agora é que o procedimento seja

adotado não caso a caso, mas como uma política de saúde pública ― o

que vem causando polêmica.

São previstos três tipos de internação: 1- voluntária – o paciente tem que

estar de acordo; o tratamento intensivo é indispensável e, nesse caso, a pessoa

aceita ser levada para um hospital geral, onde fica internada durante um curto

período. 2- involuntária – para casos de surto, agressividade exagerada, precisando

que o paciente seja contido. Para esses dois tipos de internação é preciso um laudo

médico comprovando a solicitação da família ou instituição. 3- internação

compulsória – é diferencial, pois precisa da avaliação de um juiz; é indicada para

pessoas que estejam correndo risco de morte devido ao uso excessivo de drogas ou

portadoras de transtornos mentais graves.

O autor conta ainda que as pessoas que se colocam a favor do projeto usam

o argumento de que um em cada dois dependentes químicos apresenta algum tipo

de transtorno mental, sendo o mais comum a depressão.

A base são estudos americanos como o do Instituto Nacional de Saúde

Mental (NIMH, na sigla em inglês), de 2005. Mas vários médicos,

psicólogos e instituições, como os Conselhos Regionais de Psicologia

(CRPs), contrários à solução, contestam esses dados.

A reforma psiquiátrica brasileira, além de priorizar o fechamento dos

manicômios, acredita que a melhor opção para tratar o doente mental seja não só à

base de medicamentos. É preciso também incluí-los na sociedade.

Os profissionais da saúde mental e o sistema de conselhos de psicologia

acreditam que o projeto fere os direitos humanos e vai contra o movimento da

reforma psiquiátrica, prejudicando a vida dos pacientes. E que é necessário também

cumprir o compromisso de ampliar o fortalecimento do Sistema Único de Saúde

(SUS) com os dependentes de drogas. “Os especialistas acreditam que a opção

pela internação em instituição terapêutica deva ser considerada e respeitada desde

que seja avaliada caso a caso e jamais adotada como uma política pública.”

(LUCCOMAN, 2012)

No artigo de Luccoman aqui citado, o autor apresenta uma entrevista com a

psicóloga Marília Capponi, representante do Conselho Nacional de Psicologia de

São Paulo (CNP – SP). Luccoman (2012) conclui:

25

Uma contrapartida à internação compulsória é o reforço de políticas

públicas de tratamento em rede substitutiva, em convivência familiar e

comunitária aos usuários de entorpecentes. “A dependência química é um

fenômeno que deve ser discutido da perspectiva biopsicossocial; o tráfico,

o desemprego e a violência pedem intervenções mais amplas e recursos

de outras áreas, como educação, habitação, trabalho, lazer e justiça”,

ressalta Marília.

A reforma psiquiátrica insiste em que não é apenas a doença que precisa ser

curada, e sim as pessoas, que precisam de novas oportunidades, surgidas junto

com a mudança do sistema de saúde mental, sem que sejam submetidas à

internação compulsória.

c) Pressupostos teóricos

Para amparar teoricamente o tema da presente pesquisa, recorremos à

psicologia, em especial à obra de Franco Basaglia. Segundo o autor, o movimento

da Luta Antimanicomial é de grande importância para as áreas da psicologia.

O autor foi e ainda é a principal influência para tudo o que diz respeito ao

movimento antimanicomial no Brasil. Ele acredita que manter o doente dentro de

uma instituição fechada é prejudicial para a saúde mental e o desenvolvimento do

indivíduo.

Se transportássemos essas categorias abstratas para o campo prático de um hospital psiquiátrico, o contrário da autoridade coercitiva seria a emissividade absoluta, que reduziria o pessoal encarregado do tratamento a uma situação de coação; o oposto da escravidão, simbolizada pelo hospital fechado, seria a liberdade do doente, que se tornaria o único árbitro da situação: a abolição da autoridade e do poder absoluto do médico corresponderia, automaticamente, à completa autonomia dos doentes; e os problemas de dependência se resolveriam

numa inversão dos pólos da relação. (BASAGLIA, 1968, pág. 274)

Basaglia utiliza o termo “instituição total”, criado por Erving Goffman,

importante cientista social, para se referir aos hospitais psiquiátricos. A definição

parte do princípio de que, em uma instituição total, as pessoas são controladas por

outras, sem ter autonomia em sua vida. Goffman conta ainda que fazer parte de uma

instituição total significa estar à mercê do controle, do julgamento e dos planos de

outros, sem que o interessado possa intervir para modificar o andamento e o sentido

da instituição. (BASAGLIA, 1968, pág.273)

26

No caso dos manicômios – ou hospitais psiquiátricos – o tratamento à base

de isolamento e violência, além do controle que os funcionários exercem sobre a

vida dos internos, faz com que eles sintam que merecem estar nessas condições,

que não exista outra forma de ser tratados.

A única identificação que esse tipo de instituição total oferece aos

enfermos é a necessidade de as pessoas não se defenderem contra eles.

Isso significa que o doente é levado a se identificar com um estereótipo

bem definido na estrutura física e psicológica da instituição, o de um

internado do qual as pessoas sãs se defendem. (BASAGLIA, 1968, pág.

273)

Ou seja, baseado nessa visão de que os manicômios oferecem esse tipo de

tratamento aos seus doentes, Basaglia deu início à sua luta para modificar essa

realidade e transformar o manicômio em uma instituição de cura e não de

sofrimento, fazendo com que a prática envolvesse todos os atores necessários, bem

como pacientes, médicos, família e sociedade. Assim, a crise se tornaria

responsabilidade de todos e criaria um tratamento mais humano.

Para Basaglia, mudar a psiquiatria é mudar a instituição e suas práticas;

mudar a instituição e suas práticas é mudar o saber psiquiátrico. E o projeto de

transformação não se restringe ao hospital psiquiátrico. O manicômio fornece a

condição de possibilidade epistêmica da psiquiatria, o que faz com que este seja um

lugar prático e simbólico de eleição para o processo efetivo de

desinstitucionalização. (AMARANTE, 1996, pág. 76)

Para isso, discutimos no produto final as maneiras corretas de tratamento,

apresentadas pela Luta Antimanicomial. Buscamos profissionais que não só

estivessem envolvidos com saúde mental, mas também militassem no movimento, a

fim de trazer a visão tanto da medicina quanto da causa social. Já que para

Basaglia, e para a Luta Antimanicomial, o contato com a sociedade e a família é

importante para o portador de transtorno mental encontrar a autonomia em sua vida,

acompanhamos o que foi feito para incluir esse tipo de convívio no tratamento

desses pacientes.

Para amparar nossa atividade jornalística, nos fundamentamos na teoria da

agenda-setting, baseada no conceito da influência das mídias de massa no

comportamento da sociedade.

27

Segundo Pena (2007, pág. 142), a teoria do agendamento defende a ideia de

que os consumidores de notícias tendem a considerar mais importantes os assuntos

que são veiculados na imprensa, sugerindo que os meios de comunicação tenham o

poder de agendar, estabelecer e escolher nossas conversas. Ou seja, a mídia nos

diz sobre o que falar e pauta nossos relacionamentos.

O agenda-setting, como é chamado nos Estados Unidos, surgiu no

começo da década de 1970 como uma reação a outra teoria: a dos

efeitos limitados, que teve seu auge entre os anos 40 e 60. O

agendamento representa a insatisfação da nova geração de

pesquisadores em comunicação, que tinha experiência prática em

redações, como paradigma da limitação dos efeitos midiáticos na vida

social. (PENA, 2007, pág. 142)

Na década de 80, devido às denúncias sobre manicômios, o assunto era mais

falado, ou seja, agendado. Depois que a Lei nº 10.216/2001, também conhecida

como Lei Paulo Delgado, foi aprovada, a questão da reforma psiquiátrica, e, por

consequência, da Luta Antimanicomial, deixou de ter tanto espaço na mídia.

Escolhemos a teoria da agenda-setting pelas razões apresentadas, pois a

mídia seleciona as notícias de acordo com o impacto delas sobre a sociedade. E,

por ser um tema com grande impacto, acreditamos que é necessário agendá-lo para

que seja criada uma nova discussão.

d) Pressupostos metodológicos

Essa parte do trabalho foi construída por metodologias de pesquisa científica.

Nas palavras de Severino (2007, pág. 117), essas metodologias são “elementos

gerais comuns a todos os processos de conhecimento que pretenda realizar,

marcando toda atividade de pesquisa”.

Aqui colocamos os métodos de pesquisa científicos que utilizamos na

pesquisa ao longo do trabalho:

Pesquisa qualitativa:

A pesquisa qualitativa pode ser identificada como uma pesquisa não

estatística, pois procura analisar profundamente elementos difíceis, sobre um

determinado conjunto de pessoas em relação a um problema específico.

Severino (2007, pág. 119) explica que são várias metodologias de pesquisa

que podem adotar uma abordagem qualitativa, modo de dizer que faz referência

28

mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a especificidades

metodológicas.

Essa pesquisa disponibiliza certa clareza ao contexto do problema, é um

método que leva o pesquisador a entender por que o indivíduo age como age, pensa

como pensa, as respostas são formadas pela abordagem qualitativa.

Pesquisa exploratória:

Tem como objetivo conhecer o assunto que ainda é pouco explorado; a busca

sobre informações é fundamental para a construção de hipóteses. “A pesquisa

exploratória busca apenas levantar informações sobre um determinado objeto,

delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação

desse objeto.” (SEVERINO, 2007, pág. 123)

Nela também é necessária uma pesquisa bibliográfica, pois sempre haverá

obras e entrevistas que relatam experiências práticas com problemas semelhantes

ou estudos de exemplos comparáveis que aguçam o conhecimento.

Pesquisa explicativa:

Essa pesquisa tem como objetivo inicial definir ou contribuir para as

ocorrências dos fenômenos, ou seja, algo que nos impressione de alguma maneira.

Para Severino (2007, pág. 123): “A pesquisa explicativa é aquela que, além de

registrar e analisar os fenômenos estudados, busca identificar suas causas”.

Ela pode ser aplicada no método experimental ou por meio da interpretação

permitida pela pesquisa qualitativa.

Pesquisa bibliográfica:

Parte de uma pesquisa de matérias já publicadas, constituídas por livros,

artigos, reportagens e teses. Segundo Severino (2007, pág. 122), “os textos tornam-

se fontes dos temas a serem pesquisados”. Assim, buscamos livros que pudessem

melhor nos direcionar para o tema.

Entrevista:

Essa técnica de pesquisa foi fundamental para a realização deste trabalho,

pois a entrevista serve para maior conhecimento sobre o que está sendo

pesquisado. “É uma técnica de coleta de informações sobre um determinado

assunto, diretamente solicitadas aos sujeitos pesquisados.” (SEVERINO, 2007, pág.

124)

Portanto, o diálogo entre o pesquisador e o pesquisado é fundamental: o

pesquisador deseja compreender o que os sujeitos pensam, representam e sabem.

29

e) Caracterização do produto

As seguintes informações esclarecerão o porquê da escolha do nome do

documentário, trará as referências da arte da capa do DVD e do logotipo,

esclarecerá as funções de cada membro da equipe e as razões da importância deste

documentário.

e.1) Justificativa da escolha do título

Protagonistas – Tratamento Antimanicomial

Ao tratar de um tema como a Luta Antimanicomial, nos deparamos, em

diversas entrevistas e encontros com profissionais de saúde mental, com um de

seus principais objetivos: o protagonismo do usuário de saúde mental, ou seja, a

autonomia do indivíduo em fazer escolhas em sua vida, em decidir o que lhe fará

bem ou mal.

Protagonista é o ator principal de uma peça de teatro, filme, novela ou livro.

Na ficção, a história gira em torno do protagonista.

Para a implantação definitiva dos protagonistas na nossa sociedade é

necessário deixar a condição de usuário-objeto, ou seja, aquelas pessoas que se

tornam mercadorias da indústria da loucura, por exemplo, pessoas que gastam

fortunas em clínicas de internação onde o tratamento é puramente medicamentoso.

A construção coletiva do protagonismo requer a saída da condição de usuário-objeto e a criação de formas concretas que produzam um usuário-ator, sujeito político. Isso vem ocorrendo por meio de inúmeras iniciativas de reinvenção da cidadania e empowerment, como atenta Vasconcelos (2000), por intervenções via associações de usuários ou de cooperativas sociais, ou ainda da participação política de tais atores nos mais importantes fóruns sociais de formulação de políticas da área, tal como nos conselhos de saúde e comissões de saúde mental (nos dois casos, tanto em nível nacional quanto estadual e municipal).

(TORRE; AMARANTE, 2001, pág. 83)

Entendemos que o exercício do protagonismo em saúde mental é a principal

discussão em nossa pesquisa e produto. Sendo assim, a escolha de Protagonistas

como título do trabalho se encaixa em nossa proposta.

Tratamento vem do latim, tratare, lidar, manejar, administrar. Antimanicomial é

o fim dos manicômios, ou seja, Tratamento Antimanicomial é cuidar do paciente fora

de um manicômio, dando a ele condições de saúde e bem-estar psíquico com a

30

ajuda de familiares e de profissionais da saúde, atribuindo a ele a permissão de ir e

vir sem ser tolhido em sua liberdade.

e.2) Sinopse

O videodocumentário Protagonistas – Tratamento Antimanicomial mostra o

tratamento aplicado nos CAPS, por meio de entrevistas com usuários, familiares e

profissionais da área de psicologia. Busca aproximar o espectador da realidade que

um tratamento humanizado tem, a fim de contribuir para a sociedade e para a

pessoa a ser tratada; do preconceito latente que ainda existe quando o assunto é

distúrbio mental; e da força de vontade que os familiares precisam ter para ajudar e

incluir de novo ao meio social um parente com transtornos mentais.

Ficha Técnica

Ano: 2014

Gênero: Documentário

Duração: 28’’

Produção: Aline Castro

Direção: Isabela Cavalcante

e.3) Equipe

Produtor (a): responsável por toda a parte administrativa e operacional.

Entrou em contato com as fontes para agendar entrevistas e reuniões e contratar

mão de obra e finalizar (Aline Castro).

Diretor (a): responsável pela direção de fotografia, iluminação e

enquadramento (Isabela Cavalcante).

Roteirista: responsável pela adaptação da pesquisa para a produção

audiovisual (Aline Castro e Natalia Francisca).

Repórter: responsável por entrevistar os personagens e preparar a pauta

(Aline Castro, Isabela Santos, Lucas Gonçalves e Natalia Francisca).

Sonoplasta: responsável por toda a parte de áudio, da trilha sonora ao

monitoramento do áudio das entrevistas (Natalia Francisca).

Câmera: responsável por captar as imagens e enquadrar da maneira correta

(Lucas Gonçalves e Isabela Cavalcante).

Iluminador (a): responsável por coordenar e operar todo o sistema de

iluminação e elaborar todo o plano de iluminação (Aline Castro e Natalia Francisca).

31

Editor (a): responsável por editar as imagens e montar o produto final (Rozy

Silva, contratada).

Designer: responsável pela criação da arte do logotipo e da capa do DVD

(Felipe Rodrigues, cortesia).

Finalizador (a): sua função foi viabilizar e coordenar o acabamento do

videodocumentário (Isabela Santos, Lucas Gonçalves).

e.4) Linha editorial do produto

Missão: Fazer com que a sociedade tenha uma visão crítica a respeito dos

impactos causados pela Luta Antimanicomial e da inclusão social e protagonismo

dos usuários de saúde mental.

Visão: Ser referência em estudos sociais e científicos sobre o movimento da

Luta Antimanicomial e inclusão social de portadores de doença mental.

Valores: Não ferir a ética jornalística e a integridade das pessoas citadas

nesta pesquisa e entrevistados do videodocumentário.

e.5) Identidade visual/sonora

Utilizamos como referências estéticas para a arte no videodocumentário dois

designers renomados internacionalmente, Stephan Lapp e Emrah Yucel, criadores

da arte da série de TV norte-americana American Horror Story, que em sua segunda

temporada aborda o tema da saúde mental. Apesar de se tratar de uma obra de

ficção, a arte elaborada por esses dois profissionais refletem bem qual a ideia que

as pessoas fazem de um manicômio: um lugar triste, obscuro, ruim, onde as

pessoas não têm nenhuma perspectiva em relação ao futuro. Utilizamos em nosso

videodocumentário as mesmas cores que os designers americanos: branco,

vermelho e preto.

O escritor Bill Nichols diz em seu livro que existem dois tipos de

documentário: os ficcionais e os não ficcionais. Eduardo Coutinho, documentarista

brasileiro, faz um filme não ficcional, ou seja, não interpretado por atores. Para

construir uma narrativa, o diretor dá aos entrevistados a possibilidade de se

construírem diante da tela, de se fazerem personagens, condutores de sua própria

historia.

Coutinho, assim como Woody Allen, utiliza uma técnica muito perspicaz para

a gravação, o Lugar como um dos personagens. Em Babilônia (2000) e Edifício

32

Master (2002) há inúmeras histórias entrelaçadas que se encontram em um mesmo

lugar. No caso do documentário Protagonistas – Tratamento Antimanicomial, há

varias histórias, todas entrelaçadas a um mesmo lugar, o CAPS.

Buscamos como referência para nossas entrevistas a forma com que o diretor

realizava as suas. Ele fazia as entrevistas fluírem como diálogos em que as

perguntas pareciam surgir do próprio contato, remetendo mais às relações do

cotidiano do que a um interrogatório.

e.5.1) Enquadramentos

Utilizamos diferentes planos de imagem, para dar dinamismo ao

videodocumentário. Planos mais abertos dão ao público uma visão geral do tema

discutido e os mais fechados são utilizados nas entrevistas. Segundo Oliveira (2007,

pág. 14):

Os planos não têm o mesmo valor. Os planos mais fechados apelam mais à emoção. Os planos mais abertos são mais dirigidos à informação. Do mesmo modo, o zoom in sugere tensão e aumento da expectativa, ao passo que o zoom out sugere distanciamento e distensão.

Os planos mais abertos que utilizamos são o Plano Geral, que é usado para

captar a imagem de um cenário inteiro, como uma praça ou até mesmo uma sala, e

o Plano Médio, um pouco mais fechado que o geral, mas que dá uma visão da

“figura humana cortada pela cintura”. (OLIVEIRA, 2007, pág. 15)

Os planos mais fechados são o Primeiro Plano, um pouco mais fechado que o

Plano Médio, mostrando o entrevistado a partir do ombro, e, por fim, o Close, que

tem a função de mostrar detalhes, como um olhar ou um objeto.

e.5.2) GC, logotipo e capa do DVD

Para as referências do logotipo e da arte utilizamos alguns trabalhos dos

designers Emrah Yucel e Stephan Lapp, ambos criadores da empresa Iconisus, que

cria pôsteres para as séries mais renomadas internacionalmente, entre elas

American Horror Story: Asylum, onde os manicômios são vistos como verdadeiros

filmes de terror (ver em anexos, pág. 64).

Para a produção do GC, logotipo e capa do DVD, utilizamos as seguintes

cores: preto, branco e vermelho. Segundo Rousseau (2002, pág. 114):

33

Se o branco é a reunião de todas as cores, o preto é a ausência de toda cor. O preto é, propriamente dito, a sombra, a obscuridade, a noite. Simbolicamente, o branco é a unidade da luz. No mesmo sentido, o preto é a negação da luz, tornando-se por isso o emblema de toda negação, do nada.

Para o produto, o preto representa tudo a que o movimento da Luta

Antimanicomial é contra: manicômios e tratamentos degradantes para doentes

mentais. O branco representa os avanços obtidos pelo movimento para a psicologia.

Já o vermelho, considerado cor quente, “é a cor do fogo e do sangue”, que “se

referem igualmente a um arquétipo comum: a combustão, a união do carbono com o

oxigênio do ar”. (ROUSSEAU, 2002, pág. 71)

No documentário o vermelho representa, literalmente, o sangue. Não só

daqueles que morreram em instituições manicomiais, mas também dos que lutaram

e lutam até hoje por melhorias na realidade psiquiátrica brasileira e dos que sofrem

convivendo com a doença, sendo portadores dela ou não.

e.5.3) Trilha sonora

Optamos pela utilização da faixa Dancing with an Angel, de Ridvan Düzey,

por nos apresentar um som clássico de piano, limpo e calmo, mas não

melodramático demais, pois não é a proposta do videodocumentário. O som dos

cristais vai crescendo da metade da canção até o seu fim, remete à esperança e dá

um ritmo diferente. Por essas razões, a música se encaixa na proposta deste

produto.

f) Evolução do produto

34

g) Aprendizagens acadêmicas e jornalísticas

Aline Castro Pereira

“Este trabalho é de extrema relevância, pois tenho a plena certeza de que o

respeito, a liberdade e os movimentos sociais, como o da Luta Antimanicomial, são

importantes para uma sociedade sem preconceitos. Além de mostrar para o público

a importância da informação feita por um jornalista, que divulga a notícia com

veracidade de fatos.”

Isabela Santos Cavalcante

“A experiência de desenvolver o projeto me proporcionou um maior

amadurecimento, tanto na vida profissional quanto na pessoal, me fez enxergar que

é essencial ter organização e responsabilidade para que tudo saia de acordo com o

planejado, que é fundamental saber trabalhar em grupo e também se relacionar com

o próximo, porque sem ajuda tudo se torna mais difícil.”

Lucas Gonçalves da Silva

35

“Ao realizar este projeto, aprendi que o trabalho em grupo é essencial para

quem deseja realizar uma proposta grandiosa, como é o videodocumentário para

nós. O apoio de terceiros é fundamental. Tive a oportunidade de colocar minhas

habilidades, construídas ao longo de quatro anos, em prática de fato e fechei este

que será mais um dos vários ciclos da minha vida.”

Natalia Francisca da Silva

“Este projeto me ajudou a compreender a importância de movimentos sociais

para o desenvolvimento social, político e econômico do país. E também a

importância do jornalismo e da pessoa do jornalista, responsável por passar esse

tipo de informação para a população, instigando o debate intelectual entre as

pessoas acerca de um tema pouco agendado na mídia.”

h) Deficiências

Uma das dificuldades que tivemos foi encontrar personagens que

concordassem em dar depoimentos. Mas, foi resolvida rapidamente. O problema

não resolvido foi a impossibilidade de visitarmos algum CAPS da cidade de São

Paulo, pois o prazo que a Coordenação de Saúde Mental do Município de São Paulo

nos ofereceu não se encaixou em nosso cronograma.

i) Currículo acadêmico do aluno

Aline Castro Pereira

“Ao ingressar na universidade tive a oportunidade de conhecer pessoas e

aprendizados diferentes. No estágio, adquiri conhecimento prático, como, por

exemplo, o trabalho de um jornalista na área de assessoria de imprensa. Desenvolvi

trabalhos como telejornal, série de reportagem para rádio, elaboração de revista e

jornal, reportagens, entrevistas, roteiros, clipagem, comunicados e boletins.”

Isabela Santos Cavalcante

“Os aprendizados adquiridos ao longo desses quatro anos na Universidade

Cruzeiro do Sul já puderam ser refletidos na minha vida por meio dos trabalhos

desenvolvidos em estágios na área de jornalismo, como assessora de imprensa,

produtora e repórter. Outros conhecimentos obtidos durante o curso que também

36

poderei colocar em prática no futuro serão trabalhos em rádio, mídias impressas e

on-line.”

Lucas Gonçalves da Silva

“Todos os ensinamentos e o conhecimento transmitidos pelos professores a

mim refletiram muito na minha trajetória durante todos esses anos de graduação. Foi

fundamental ingressar no estágio em assessoria de imprensa já com esse olhar que

aprendi em sala de aula. Aprendi muito, na prática, a ter paciência, a persistir, a

ajudar o próximo que tem dificuldade na realização de algum projeto. Na

universidade, tivemos a oportunidade da realização de reportagem, tanto no

impresso como em TV e em rádio, as discussões em sala de aula foram excelentes,

aprendi muito com a experiência de meus colegas. No estágio, tive a oportunidade

de trabalhar em coberturas jornalísticas, desde a realização de fotos até

atendimento à imprensa e clipping.”

Natalia Francisca da Silva

“Tive a oportunidade de conhecer o trabalho de assessoria de imprensa na

área da política, logo no segundo ano de faculdade, por meio de estágio. No terceiro

ano, surgiu a oportunidade de estagiar em jornalismo empresarial, onde coloquei em

prática o que aprendi nas disciplinas de redação, fotografia, diagramação, televisão,

internet, além da importância do trabalho em equipe. Na vida acadêmica, realizei

trabalhos utilizando todas as mídias: impressas, TV, rádio e internet, que me

ajudaram muito neste início de vida profissional.”

j) Investimentos

37

k) Pautas

Neste item, serão exibidas em ordem decrescente todas as pautas realizadas

com os personagens do videodocumentário Protagonistas – Tratamento

Antimanicomial.

Pauta 1 (utilizada para todos os usuários, no dia 29/09/2014, em visita ao

CAPS III Mauá)

DATA: 28/09/2014

Assunto: A Luta Antimanicomial – Inclusão e segregação dos usuários do

CAPS

Objetivo: Saber, sob o ponto de vista do entrevistado, o que mudou em sua

vida – ou na vida do familiar – depois que começou a se tratar no CAPS. Investigar

como é feito o tratamento e os benefícios que traz para a saúde do usuário.

Investigar também sua história de vida, por que se trata no CAPS, o que o

levou a se tratar. Se sofreu ou sofre algum tipo de preconceito e como lida com isso.

Histórico: O Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos maiores sistemas

públicos de saúde do mundo. Abrange desde o simples atendimento ambulatorial

até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para

toda a população do país. Amparado por um conceito ampliado de saúde, o SUS foi

criado em 1988 pela Constituição Federal Brasileira para ser o sistema de saúde dos

mais de 180 milhões de brasileiros. (Portal da Saúde, Governo Federal, 2014)

38

Dentro do SUS, os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) são os locais

mais apropriados para o tratamento de doentes mentais e foram previstos na Lei

Paulo Delgado.

Segundo o Manual CAPS, do Ministério da Saúde, os Centros de Atenção

Psicossocial (CAPS) são instituições que visam à substituição dos hospitais

psiquiátricos – antigos hospícios ou manicômios – e de seus métodos para cuidar de

afecções psiquiátricas. Eles são divididos em CAPS I (Infantil), CAPS II (Adulto) e

CAPS III ou AD (Álcool e Drogas).

Fonte:

Usuários/familiares que fazem uso do CAPS Mauá.

Data: 29/09/2014

Horário: 9h

Sugestões de perguntas:

Como você se chama, qual é sua idade e profissão?

Qual é o nome do seu filho e a idade dele? (caso seja familiar)

Por que você se trata no CAPS? Quando descobriu que você é _______?

(quando falar a doença, completar essa pergunta)

Qual foi a reação da família ao saber?

Como o CAPS ajuda no tratamento? No que o tratamento do CAPS ajuda

para que a sociedade te enxergue de uma forma melhor?

Antes do CAPS já se tratou em outro lugar? Qual é a diferença?

O que acha do sistema de tratamento do CAPS?

Como era a sua vida antes de se tratar no CAPS e como é agora?

Você sofre ou já sofreu algum tipo de discriminação por ter a doença? Qual?

Por que você acha que as pessoas têm preconceito?

O que espera do seu futuro?

Pauta 2

DATA: 28/09/2014

Assunto: A Luta Antimanicomial – Inclusão e segregação dos usuários do

CAPS

39

Objetivo: Adquirir informações sobre como é feito hoje o cuidado com o

usuário do CAPS. Discutir com o entrevistado a questão da inclusão e segregação

do usuário, qual o papel do CAPS para incluí-lo na sociedade e qual o papel do

senso comum na exclusão da pessoa com doença mental.

Fazer imagens do CAPS Mauá, junto ao entrevistado, e investigar como é o

tratamento, como é o ambiente e em que o CAPS ajuda no tratamento dos usuários.

Histórico: O movimento de Luta Antimanicomial tornou-se, desde o final da

década de 1980, um dos mais relevantes fenômenos associativos da sociedade civil

brasileira, no processo de mudança no campo da saúde mental. O Congresso de

Trabalhadores de Saúde Mental em Bauru (1987) foi responsável pelo início da

constituição do movimento da Luta Antimanicomial brasileira.

O encontro impôs a necessidade da reforma legal, a garantia dos direitos e de

cidadania dos portadores mentais, com maior fiscalização de clínicas e hospitais

psiquiátricos.

Hoje é garantido ao doente mental o direito a proteção assistencial, cidadania,

humanidade no tratamento, rigorosa avaliação clínico-psiquiátrica, juiz e advogado,

família, não discriminação da sociedade e melhores tratamentos disponíveis.

Fonte:

Moacyr Bertolino Lopes – Coordenador de Saúde Mental de Mauá

Data: 29/9

Horário: 11h

Local: CAPS Mauá

Sugestão de perguntas:

Luta Antimanicomial

- Como você se iniciou no movimento? O que o motivou?

- Qual o papel do Sistema Único de Saúde (SUS)? Qual o papel do governo?

- Sabe quantos CAPS há atualmente na Grande São Paulo? No país?

- Por que acabar com os manicômios e qual o diferencial dos CAPS?

- Qual seria o tratamento adequado para essas pessoas?

- Acredita que a Luta Antimanicomial e a reforma psiquiátrica trouxeram

mudanças significativas?

- Pode nos mostrar um pouco do CAPS aqui de Mauá? As salas, o que

40

acontece aqui, como é o atendimento?

- Qualquer pessoa pode vir se tratar aqui ou apenas moradores de Mauá?

Inclusão dos usuários

- Quais os procedimentos utilizados pelo CAPS para a inclusão do usuário na

sociedade?

- Os autistas são atendidos no CAPS?

- Qual a importância da família no tratamento e inclusão dos usuários?

- Qual o papel dos profissionais de saúde na inclusão dessas pessoas na

sociedade?

Segregação

- É comum uma família querer internar permanentemente um usuário no

CAPS?

- Isolar um doente mental prejudica o seu desenvolvimento?

- O que faz uma pessoa querer internar um doente mental? (baixa

escolaridade; renda)

- O senso comum influencia na exclusão dessas pessoas da sociedade?

Pauta 3

DATA: 23/09/2014

Assunto: A inclusão e segregação dos usuários do CAPS da região

Metropolitana de São Paulo

Objetivo: Contar um pouco da história do seu filho, como se envolveu com

drogas, como a doença mudou sua vida em relação à família e à sociedade. Discutir

com a entrevistada a questão de inclusão do filho junto à sociedade, o que mudou

na vida do usuário quando começou a passar no CAPS, como é tratado no CAPS

(se há palestras ou reuniões que ensinam a conviver em sociedade). Falar sobre

preconceito.

Histórico: O movimento de Luta Antimanicomial tornou-se, desde o final da

década de 1980, um dos mais relevantes fenômenos associativos da sociedade civil

brasileira, no processo de mudança no campo da saúde mental. O Congresso de

Trabalhadores de Saúde Mental em Bauru (1987) foi responsável pelo início da

constituição do movimento da Luta Antimanicomial brasileira.

41

O encontro impôs a necessidade da reforma legal, a garantia dos direitos e de

cidadania dos portadores mentais, com maior fiscalização de clínicas e hospitais

psiquiátricos.

Hoje é garantido ao doente mental o direito a proteção assistencial, cidadania,

humanidade no tratamento, rigorosa avaliação clínico-psiquiátrica, juiz e advogado,

família, não discriminação da sociedade e melhores tratamentos disponíveis.

Fonte:

Diná Freire, mãe de usuário do CAPS AD de Suzano

Sugestão de perguntas:

Como você se chama, qual sua idade e profissão?

Qual é o nome do seu filho e idade?

Quando e como ele começou a usar drogas? Há quanto tempo utiliza e por

que decidiu procurar um tratamento?

Qual foi a reação da família ao saber?

Como o CAPS ajuda no tratamento? Há algum tipo de palestra que ensina o

usuário a viver em sociedade?

Antes do CAPS já se tratou em outro lugar? Qual é a diferença?

O que acha do sistema de tratamento do CAPS?

Você sofre ou já sofreu algum tipo de discriminação por ter a doença? Qual?

(relatar resumidamente sobre o preconceito que já vivenciou)

Por que você acha que as pessoas têm preconceito com o seu filho? (essa

pergunta só vai ser feita para a mãe se o filho não quiser responder)

No que o tratamento do CAPS ajuda para que a sociedade te enxergue de

uma forma melhor?

Como era a sua vida antes de se tratar no CAPS e como é agora?

O que espera do seu futuro?

IMAGENS

Fazer imagens dela andando pela casa, lavando louça e varrendo o chão, se

o filho não quiser aparecer mesmo com o efeito blur ou dando entrevista de costas,

pedir para a mãe ficar com um quadro ou uma foto dele na mão e na hora da

entrevista filmar essa cena. Pegar o olhar, o movimento das mãos, criar pequenas

42

cenas, como ela entrando e saindo do CAPS.

Pauta 4

DATA: 16/09/2014

Assunto: A Luta Antimanicomial – inclusão e segregação dos usuários do

CAPS

Objetivo: Adquirir informações sobre como é feito hoje o cuidado com o

usuário do CAPS. Discutir com a entrevistada a questão da inclusão e segregação

do usuário, qual o papel do CAPS para incluí-lo na sociedade e qual o papel do

senso comum na exclusão da pessoa com doença mental.

Discutir também a experiência da entrevistada no movimento, que há 30 anos

acompanha de perto a evolução do Sistema Único de Saúde na questão da saúde

mental.

Histórico: O movimento de Luta Antimanicomial tornou-se, desde o final da

década de 1980, um dos mais relevantes fenômenos associativos da sociedade civil

brasileira, no processo de mudança no campo da saúde mental. O Congresso de

Trabalhadores de Saúde Mental em Bauru (1987) foi responsável pelo início da

constituição do movimento da Luta Antimanicomial brasileira.

O encontro impôs a necessidade da reforma legal, a garantia dos direitos e de

cidadania dos portadores mentais, com maior fiscalização de clínicas e hospitais

psiquiátricos.

Hoje é garantido ao doente mental o direito a proteção assistencial, cidadania,

humanidade no tratamento, rigorosa avaliação clínico-psiquiátrica, juiz e advogado,

família, não discriminação da sociedade e melhores tratamentos disponíveis.

Fonte:

Paulo Witkowski Frangetto

Usuário do CAPS Sé e Psicólogo

Data: 17/09/2014

Horário: às 17h30

Sugestão de perguntas:

Qual CAPS você utiliza? Há quanto tempo?

Se for usuário de drogas. Pergunta: Há quanto tempo utiliza e por que decidiu

43

procurar um tratamento. Se tiver algum transtorno mental, pergunta: Desde quando

tem o problema e por que decidiu procurar um tratamento.

Qual sua formação acadêmica e por que decidiu se formar nessa área? (Essa

pergunta é interessante porque ele é psicólogo e utiliza o sistema).

Antes do CAPS já se tratou em outro lugar? Qual é a diferença?

O que acha do sistema de tratamento do CAPS?

Você sofre ou já sofreu algum tipo de discriminação por ter esse transtorno?

Qual? Conte-nos uma história que já tenha vivido e que não te agradou ou pela qual

algum conhecido/ amigo tenha passado.

Por que você acha que as pessoas têm preconceito com o seu transtorno?

No que o tratamento do CAPS ajuda para que a sociedade te enxergue de

uma forma melhor?

Como era a sua vida antes de se tratar no CAPS e como é agora?

O que espera do seu futuro?

l) Roteiro

TAKE 1

CARTELA LEI

“Em 6 de abril de 2001, a Lei n° 10.216, que garante os direitos dos doentes

mentais, entra em vigor.”

“O § 1º do artigo 4° diz que o tratamento visará, como finalidade permanente,

à reinserção social do paciente em seu meio.”

TAKE 2

CARTELA – Tipos de CAPS

“Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) dividem-se em 5 tipos distintos

de atendimento.”

“CAPS I: atende adultos com transtornos mentais graves (das 8h às 18h).”

“CAPS II: atende adultos com transtornos mentais graves (das 8h às 18h,

com período até as 21h).”

“CAPS III: atende adultos com transtornos mentais graves (24 horas).”

“CAPS I: atende crianças e adolescentes com transtornos mentais graves.”

“CAPS AD: atende usuários de álcool e drogas.”

44

TAKE 3

CAPS MAUÁ – MOISÉS (vídeo 10)

Cartela com nome e idade/deixar apenas a voz do entrevistado.

“Usuário do CAPS Mauá – Moisés da Silva – 55 anos”

DI: 0’33’’ – Moisés da Silva...

DF: 0’37’’ – 55 anos.

CAPS MAUÁ – MOISÉS (vídeo 10)

DI: 1’58’’ – Eu gosto de dançar hip-hop...

DF: 2’09’’ – Para distrair a mente...

USAR A FALA DO 1’58’’ A 2’09’’ COM O INSERT DO VÍDEO: CAPS MAUÁ

INSERT MOISÉS 11

DI: 0’07’’ DF: 0’18’’

TAKE 4

CAPS MAUÁ ADRIANA (vídeo 9)

Cartela com nome e idade/deixar apenas a voz da entrevistada.

DI: 0’03’’ – Adriana...

DF: 0’05’’ – 33 anos

DI: 1’01’’ – Gosto mais de...

DF: 1’04’’ – Mexer no computador.

Vídeo: CAPS MAUÁ INSERT ADRIANA

DI: 0’01’’

DF: 0’06’’

TAKE 5

CAPS MAUÁ ENZO (vídeo 13)

Cartela com nome e idade/deixar apenas a voz do entrevistado.

DI: 0’00 – Enzo de Oliveira

DF: 0’01’’ – 56 anos

TAKE 6

45

CAPS MAUÁ INSERT ANDRÉIA E ENZO (vídeo 14)

Cartela com nome e idade.

DI: 0’05 – Boa tarde Enzo, tudo bom?

DF: 0’11’’ – Vamos lá.

TAKE 7

CAPS MAUÁ ENZO (vídeo 13)

FALA: DI: 0’23’’ – O pessoal tudo acomodado...

DF: 0’28’’ – A Andréia é a minha amiga.

Usar insert na fala de 0’23’’ a 0’26’’ com as imagens do vídeo:

CAPS MAUÁ 15 INSERT ANDRÉIA E ENZO de 0’13’’ a 0’16’’

TAKE 8

CAPS MAUÁ LEANDRO (vídeo 12)

Cartela com nome e idade.

DI: 0’01’’ – Leandro Feitosa

DF: 0’03’’ – de Lima.

Obs.: Cortar a pergunta da repórter e voltar para a idade do entrevistado:

DI: 0’04’’ – Eu tenho...

DF: 0’05’’ – 32.

TAKE 9

CAPS MAUÁ LEANDRO (vídeo 12)

DI: 0’02’’ – Quando chega...

DF: 0’12’’ – Minha perna não deixou.

Insert do 0’03’’ até o 0’06’’ – vídeo “CENA CAPS MAUÁ INSERT 20” de 0’10’’

a 0’13’’.

TAKE 10

Utilizar trilha: Dancing with an Angel – Ridvan Düzey

Título: Protagonistas – Tratamento Antimanicomial

TAKE 11

Cartela sobre o título

46

CARTELA 1

“Protagonista é o ator principal, seja de uma peça de teatro, filme, novela ou

livro; é a pessoa em torno da qual a história gira.”

TAKE 12

CARTELA 2

“A busca para que os usuários do CAPS sejam os protagonistas de suas

vidas é a principal discussão deste videodocumentário.”

Cortar trilha.

TAKE 13

Cenas de rua

DI: 0’00’’

DF: 0’05’’

TAKE 14

Cenas de carro

DI: 0’07’’

DF: 0’12’’

TAKE 15

Vídeo: DINÁ 2

DI: 0’06’’ – Meu nome é Diná...

DF: 0’21’’ – Assim como a maioria da minha família.

DI: 0’23’’ – Sou frequentadora do CAPS.

DF: 0’48’’

TAKE 16

Vídeo: DINÁ 3 (CHAMANDO PARA O CAPS)

DI: 1’44’’

DF: 1’55

TAKE 17

47

Cartela – CAPS Suzano

“Quarta-feira, 24 de setembro de 2014.

CAPS/SUZANO”

TAKE 18

Vídeo: DINÁ 4 (ENTRANDO NO CAPS)

DI: 0’18’’ DF:0’23’’

TAKE 19

Cartela com informação sobre o que ela foi fazer no CAPS

“Toda quarta-feira, Diná participa no CAPS/Suzano do Grupo de Mães que

têm filhos dependentes químicos.”

TAKE 20

Vídeo: DINÁ 9 ENTREVISTA

DI: 00’00 – Foi ótimo, nossa!

DF: 0’15’’ – Tão pequeno perto dos outros...

TAKE 21

Cartela: CAPS Mauá

“Terça-feira, 29 de setembro de 2014.

CAPS/ MAUÁ”

TAKE 22

Vídeo: CAPS MAUÁ KELI 2

DI: 0’01’’ – Meu nome é Kelly.

DF: 0’07’’ – A gente vai conhecer um pouquinho do espaço.

TAKE 23

Vídeo: CAPS MAUÁ KELI 2

DI: 1’10’’ – Aqui a gente está entrando pela unidade.

DF: 1’44’’ – Cada um tem seu cadeado.

TAKE 24

48

Vídeo: CAPS MAUÁ INSERT 22

DI: 0’10’’ DF: 0’18’’ – Deixar som ambiente.

TAKE 25

Vídeo: CAPS MAUÁ KELI 2

DI: 1’56’’ – Aqui é uma área de convivência...

DF: 2’12’’ – Uma empresa terceirizada que fornece.

TAKE 26

Vídeo: CAPS MAUÁ KELI 4

DI: 0’10’’

DF: 0’18’’

TAKE 27

Vídeo: CAPS MAUÁ KELI 2

DI: 5’03’’ – Aqui são os leitos femininos.

DF: 5’13’’ – Banheiro privativo.

TAKE 28

Vídeo: CAPS MAUÁ ENZO 13

DI: 0’39’’ – Eu trabalhava...

DF: 0’58’’ – Cheguei a fazer faculdade.

TAKE 29

Vídeo: CAPS MAUÁ LEANDRO 12

DI: 1’32’’ – O CAPS é legal...

DF: 2’12’’ – Aí nós vamos para casa.

TAKE 30

Vídeo: CAPS MAUÁ MOACYR 6

DI: 0’07’’ – Os manicômios dizem respeito...

DF: 1’23’’ – Na sua comunidade.

TAKE 31

49

Vídeo: PAULO 2

DI: 0’24’’ – Eu sou Paulo de Tarso...

DF: 0’59’’ – Da moradia e da saúde.

TAKE 32

Vídeo: PAULO 3

DI: 6’01’’ – Na minha última internação...

DF: 6’08’’ – Você não vai morar mais conosco.

TAKE 33

Vídeo: CAPS MAUÁ MOACYR 18

DI: 0’56’’ – Longas internações traz...

DF: 1’24’’ – Fora do manicômio.

TAKE 34

Vídeo: PAULO 3

DI: 6’59’’ – Parei de pagar assistência médica...

DF: 7’32’’ – Associada a um surto psicótico.

TAKE 35

Vídeo: CAPS MAUÁ SILVIA 7

DI: 0’04’’ – Meu nome é Silvia...

DF: 0’28’’ – Porque hoje é segunda. (Tirar a palavra “isso” dita pela repórter.)

TAKE 36

Vídeo: CAPS MAUÁ SILVIA 7

DI: 2’13’’ – O objetivo dessa oficina...

DF: 2’30’’ – Muitas coisas que vocês não conhecem em Mauá.

TAKE 37

Vídeo: CAPS MAUÁ CRIS 8

DI: 0’19’’ – Eu sou Cristina...

DF: 0’24’’ – Estou no CAPS na gerência...

50

Utilizar insert (vídeo INSERT CAPS MAUÁ KELI 2 de 6’38 a 6’43’’) de 0’22’’

até 0’40’ do take 34.

TAKE 38

Vídeo: CAPS MAUÁ CRIS 8

DI: 0’35’’ – O CAPS de Mauá...

DF: 1’00’’ – De quem precisar de atendimento.

TAKE 39

Vídeo: CAPS MAUÁ CRIS 8

DI: 1’31’’ – O nosso público...

DF: 2’04’’ – Relações sociais.

TAKE 40

Vídeo: CAPS MAUÁ CRIS 8

DI: 4’28’’ – E outra coisa é com as pessoas...

DF: 5’05’’ – Relações ao preconceito.

TAKE 41

Vídeo: CAPS MAUÁ CRIS 8

DI: 6’13’’ – A gente faz várias saídas...

DF:6’38’’ – Alguns materiais de artesanatos.

TAKE 42

Vídeo: CAPS MAUÁ INSERT 24 MOISÉS

DI: 0’08’’ – Desenhei esse...

DF: 0’25’’ – Esse aqui...

TAKE 43

Vídeo: CAPS MAUÁ ADRIANA 9

DI: 0’37’’ – Aqui é bom, tem oficina, tem canto...

DF: 0’55 – Tem.

TAKE 44

51

Vídeo: CAPS MAUÁ CRIS 8

DI: 6’40’’ – Tem também a oficina de esporte...

DF: 6’55’’ – Campeonato de futebol de todos os CAPS (Utilizar fotos da Copa

da Inclusão em 6’45’’ a 6’50’’).

Finalizar com a fala da entrevistada de 6’50’’ a 6’55’’.

TAKE 45

Vídeo: Diná 2

DI: 2’23’’ – Tem a parte da família...

DF: 3’07’’ – Atendimento de rua.

TAKE 46

Vídeo: Diná 2

DI: 3’37’’ – Enquanto outros excluem...

DF: 3’40’’ – Eles acolhem.

0’02’’ de respiro

TAKE 47

Vídeo: CAPS MAUÁ MOACYR 17

DI: 5’46’’ – A falta de informação...

DF: 6’39’’ – E cuidarem deles.

TAKE 48

Vídeo: PAULO 3

DI: 6’13’’ – Antes da minha primeira internação...

DF: 6’29’’ – Após a minha primeira internação.

TAKE 49

Vídeo: CAPS MAUÁ MOACYR 17

DI: 7’43’’ – A família é muito importante...

DF: 8’40’’ – Gera muito mal a essas pessoas.

TAKE 50

Vídeo: DINÁ 15 ENTREVISTA

52

DI: 0’08’’ – Fui indicada para ir no CAPS....

DF: 0’43’’ – Trocamos experiências na verdade.

TAKE 51

Vídeo: DINÁ 15 ENTREVISTA

DI: 0’46’’ – A família em geral...

DF: 1’13’’ – Aprendi a conviver com isso.

TAKE 52

Vídeo: DINÁ 15 ENTREVISTA

DI: 1’23’’ – Antes eu tinha vergonha...

DF: 146’’ – É uma doença do século.

TAKE 53

Vídeo: DINÁ 15 ENTREVISTA

DI: 2’36’’ – Começa pela minha cura...

DF: 3’48’’ – Mães guerreiras.

TAKE 54

Cartela explicando que o filho de Diná não quis aparecer e dizendo que Diná

também integrou seu irmão ao CAPS.

“O filho de Diná não quis aparecer nas imagens. A seguir, cenas do seu

irmão, que também frequenta o CAPS.”

TAKE 55

Vídeo: DINÁ 15 ENTREVISTA

DI: 7’15’’ – Vem aqui pertinho da Diná...

DF: 7’33’’ – Que eu também estou levando no centro de convivência do

CAPS.

TAKE 56

Vídeo: DINÁ 15 ENTREVISTA

DI: 7’43’’ – Ficava dentro de casa...

DF: 8’01’’ – Eu sou a tradutora dele lá no CAPS.

53

TAKE 57

Vídeo: CAPS MAUÁ MOACYR 17

DI: 4’21’’ – Faço parte do movimento da Luta Antimanicomial...

DF: 5’30’’ – Fim dos manicômios.

TAKE 58

Vídeo: CAPS MAUÁ MOACYR 18

DI: 2’37’’ – As violações são muitas...

DF: 2’50’’ – Maus-tratos mesmo.

TAKE 59

Cartela com dados de pessoas que já morreram por doenças mentais.

“Em 2009, o número de mortes causadas por doenças mentais foi de 11.861.

Estes são os dados mais recentes localizados até a edição final deste

documentário.”

“Fonte: Revista Brasileira de Psiquiatria (junho/2012)”

TAKE 60

Vídeo: Diná 15 entrevista

DI: 4’57’’ – Um lugar feio...

DF: 5’07’’ – Essa visão dos manicômios.

TAKE 61

Vídeo: CAPS Mauá Moacyr 17

DI: 9’25’’ – Nós conseguimos desde o início...

DF: 10’10’’ – Serviços de saúde mental.

TAKE 62

Vídeo: Paulo 4

DI: 0’14’’ – No entanto, os CAPS...

DF: 1’36’’ – Se a medicação está fazendo efeito ou não.

TAKE 63

54

Vídeo: CAPS MAUÁ MOACYR 17

DI: 10’11’’ – O que a gente gostaria de avançar mais...

DF: 11’30’’ – Atendimento de qualidade nos municípios.

TAKE 64

Cartela apresentando as fotos do movimento antimanicomial

“18 de Maio de 2014, comemoração do movimento da Luta Antimanicomial no

Brasil. O encontro reuniu trabalhadores e usuários da rede de saúde mental no

Centro de São Paulo.”

TAKE 65

Iniciar trilha – Dancing whith an Angel – Ridvan Düzey

Fotos do Movimento (pasta Luta Antimanicomial)

TAKE 66

Cartela: “A Grande São Paulo é formada por 39 cidades. Ao total, são

20.284.891 pessoas para 107 CAPS espalhados pela região.”

TAKE 67

Sobe créditos:

Imagens

Lucas Gonçalves

Assistência de câmera

Isabela Cavalcante

Produção

Aline Castro

Reportagem

Aline Castro

Isabela Cavalcante

Lucas Gonçalves

Natalia Francisca da Silva

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Roteiro

Aline Castro

Natalia Francisca da Silva

Edição

Rozy Silva

Finalização

Isabela Cavalcante

Lucas Gonçalves

Direção

Isabela Cavalcante

Este videodocumentário foi orientado pela Professora Mestre Danielle Gaspar

e é parte integrante dos requisitos necessários para obtenção do título de bacharel

em Jornalismo pela Universidade Cruzeiro do Sul

2014

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a produção deste relatório foi necessário um levantamento detalhado

das pesquisas realizadas ao longo da produção do videodocumentário Protagonistas

– Tratamento Antimanicomial. Tais pesquisas, que tiveram como base estudos a

respeito da Luta Antimanicomial e reforma psiquiátrica no Brasil, nos levaram a

abordar o tema com que mais nos identificamos: mostrar as mudanças no sistema

de saúde mental do país, após a Lei nº 10.216/2001. E, mais especificamente,

mostrar as formas de tratamento conquistadas a partir da reforma psiquiátrica, como

a criação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), e o que esses locais fazem

para incluir os doentes mentais na sociedade.

Entendemos que essa discussão é necessária por se tratar de dois assuntos

do interesse de todos: o Sistema Único de Saúde e as doenças mentais. Fomos a

campo para investigar e obter a resposta para o problema de pesquisa: como o

usuário do CAPS é incluído na sociedade e por que a sociedade exclui essas

pessoas. Fomos também munidos de duas hipóteses: a inclusão e segregação

como peças-chave deste processo. O objetivo era mostrar que o doente mental

pode estar integrado na sociedade e também revelar que, por preconceito e falta de

conhecimento, tais cidadãos podem ficar em situação de exclusão da sociedade.

Percebemos que, de fato, o CAPS cumpre seu papel: os doentes mentais são

acolhidos nas unidades e participam de programas para inclusão social. Isso foi

afirmado em visita ao CAPS II de Mauá e entrevista com Diná Freire, mãe de usuário

do CAPS AD (Álcool e Drogas), de Suzano. Ela também relata que, ao frequentar o

CAPS, descobriu que seu filho tem uma doença e isso fez o seu pensamento mudar

totalmente em relação ao uso de substâncias e doenças mentais. Diná nos contou

que sempre há encontros com os familiares dos usuários no CAPS a fim de dar

suporte a eles e fazer com que o convívio em família seja agradável para o usuário.

Em visita, também conversamos com usuários que nos contaram que lá são

realizadas oficinas de artes, como música, pintura e dança, além de oficinas de

inclusão digital e passeios culturais pela cidade. A gerente do CAPS II Mauá,

Cristina Freire Weffort, nos contou que eles precisam constantemente fazer

conscientização junto às pessoas da região do CAPS para que aceitem que os

usuários podem ir e vir como pessoas normais.

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Outra questão levantada pelo problema de pesquisa foi investigar o porquê da

sociedade ainda ter preconceitos e excluir os doentes mentais do convívio social.

Em entrevista com o coordenador de saúde mental de Mauá, Moacyr Bertolino,

percebe-se que a falta de informação sobre o que se classifica como doença mental

gera o preconceito. A Luta Antimanicomial procura divulgar a causa e as explicações

sobre a doença mental a fim de, um dia, acabar com o preconceito para com os

usuários. Sendo assim, neste trabalho, ao exercermos o papel do jornalista em

informar e por meio da investigação in loco, o intuito é contribuir para que as

pessoas que não têm afinidade com o assunto entendam e compreendam a

complexidade desta discussão.

Pudemos, ao final do trabalho, compreender que a mudança no sistema de

saúde mental só foi possível porque houve profissionais da área que se engajaram

na Luta Antimanicomial para que a reforma psiquiátrica fosse realizada no Brasil e,

após isso, fosse criada a lei que deu origem aos CAPS. Contudo, ainda há barreiras

para que sejam cumpridos com êxito todos os objetivos propostos pelo movimento.

Talvez o maior deles seja a busca da autonomia dos pacientes que utilizam os

CAPS, pois, apesar de esse protagonismo já ser estimulado pelos centros de

atenção psicossocial – por meio de trabalhos desenvolvidos, como os passeios, as

disputas de campeonatos esportivos, que vêm trazendo para a vida dessas pessoas

cada vez mais independência –, o que ainda também precisa ser desenvolvido é a

questão da sociedade, que tem a necessidade de conhecer melhor esses pacientes,

para que possa olhá-los sem o pré-conceito e ajudá-los nessa busca pela

autonomia.

Mas entendemos que ainda levará algum tempo para que este problema seja

resolvido, já que o termo sociedade é muito amplo e os projetos ou programas

desenvolvidos pelo governo para a melhoria deste aspecto são poucos.

A pesquisa realizada antes de iniciarmos o documentário foi de extrema

importância, pois só assim conseguimos conhecer a história a fim de aprimorar as

pesquisas em campo. Foi fundamental para delimitarmos o tema de prazo estipulado

com informações relevantes. O movimento da Luta Antimanicomial tomou vários

caminhos e, sem essa pesquisa, talvez pudéssemos perder a essência do que

realmente queríamos mostrar.

A maior restrição encontrada na realização do documentário foi a

impossibilidade de visitar algum CAPS do município de São Paulo. Isso porque

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exigiria um tempo maior, segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo. Contudo,

não descartamos a possibilidade de focar no município em trabalhos futuros, pois o

movimento da Luta Antimanicomial ainda pretende outras mudanças: o fim dos leitos

nos hospitais psiquiátricos, nas clinicas ou em comunidades terapêuticas; mais

ações de cooperativismo na saúde mental para que os usuários possam trabalhar;

melhorias na convivência com a sociedade; ajuda do governo estadual para custeios

dos CAPS. Podemos futuramente também focar em alguma dessas outras

delimitações, para desenvolvermos trabalhos relacionados ao tema.

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REFERÊNCIAS

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_______________________. O Homem e a Serpente: Outras Histórias para a Loucura e a Psiquiatria. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1996.

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ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro: Vida, Genocídio e 60 Mil Mortes no Maior Hospício do Brasil. 1ª edição. São Paulo: Geração Editorial, 2013.

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BASAGLIA, Franco. A Instituição Negada. Volume 17. São Paulo: Edições Graal Ltda., 1985.

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GOULART, Maria Stella Brandão. As Raízes Italianas do Movimento Antimanicomial. 1ª edição. São Paulo: Casa PsiLivraria, Editora e Gráfica Ltda., 2007.

LEJDERMAN, Fernando. Que Mundo é Este em que os Doentes Mentais ficam nas Ruas e nas Prisões? Revista Psiquiatria Hoje, Rio de janeiro, páginas 48 a 50, janeiro/fevereiro de 2010.

PASSETTI, Edson. Nise da Silveira, Uma Vida como Obra de Arte. Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, julho de 2002. LINS, Consuelo; MESQUITA, Cláudia. Aspectos do Documentário Brasileiro Contemporâneo. site Lab Cultura Viva. Sem data.

LUCCOMAN, Luiz. A polêmica da Internação Compulsória. Site Mente & Cérebro, São Paulo, abril de 2012. NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. 1ª edição. Papirus Editora, 2005.

OLIVEIRA, Jorge Nuno. Manual de Jornalismo de Televisão. 1ª edição. Lisboa:

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PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. 1ª edição. Rio de Janeiro: Contexto, 2005.

RODRIGUES, Flávia Lima. Uma Breve História sobre o Cinema Documentário Brasileiro. CES Revista, Juiz de Fora, 2010. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23ª edição.

São Paulo: Editora Cortez, 2007.

TOMAZ, Cristiane Silva. A Cidadania do Louco: Um Debate Necessário para a Compreensão da Direção Teórico-política da Luta Antimanicomial. 2009. 200f.

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ANEXOS

1)

Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001

Dispõe sobre a proteção e os direitos

das pessoas portadoras de transtornos

mentais e redireciona o modelo assistencial

em saúde mental.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental,

de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto

a raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade,

família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu

transtorno, ou qualquer outra.

Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e

seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos

enumerados no parágrafo único deste artigo.

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às

suas necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de

beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no

trabalho e na comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a

necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;

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VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de

seu tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos

possíveis;

IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde

mental.

Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde

mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de

transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual

será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as

instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de

transtornos mentais.

Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada

quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes.

§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do

paciente em seu meio.

§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a

oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo

serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer e

outros.

§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais

em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos

recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos

enumerados no parágrafo único do art. 2o.

Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para o qual se caracterize

situação de grave dependência institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de

ausência de suporte social, será objeto de política específica de alta planejada e

reabilitação psicossocial assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária

competente e supervisão de instância a ser definida pelo Poder Executivo,

assegurada a continuidade do tratamento, quando necessário.

Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo

médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.

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Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação

psiquiátrica:

I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;

II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário

e a pedido de terceiro; e

III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a

consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que optou

por esse regime de tratamento.

Parágrafo único. O término da internação voluntária dar-se-á por solicitação

escrita do paciente ou por determinação do médico assistente.

Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por

médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina – CRM do

Estado onde se localize o estabelecimento.

§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no prazo de setenta e duas

horas, ser comunicada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do

estabelecimento no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo procedimento ser

adotado quando da respectiva alta.

§ 2o O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do

familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável

pelo tratamento.

Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação

vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do

estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e

funcionários.

Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e

falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental

aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade

sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da

ocorrência.

Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não

poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu

representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais

competentes e ao Conselho Nacional de Saúde.

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Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua atuação, criará

comissão nacional para acompanhar a implementação desta Lei.

Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 6 de abril de 2001; 180o da Independência e 113o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Jose Gregori

José Serra

Roberto Brant

2) Exemplo de criação dos designers Emrah Yucel e Stephan Lapp, feita para

a temporada sobre manicômios da série de TV americana American Horror Story:

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APÊNDICES

1) Autorizações de uso de imagens: algumas se referem ao título

“Lou(cura)”, utilizado como título provisório até a definição de “Protagonistas”.

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2) Fotos tiradas no dia 18 de maio de 2014, no Encontro Estadual da Luta

Antimanicomial, no bairro República, São Paulo. (Créditos: Lucas Gonçalves e Aline

Castro)

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