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Rir é o Melhor Remédio Rir é o Melhor Remédio Pré-projeto do livro-reportagem apresentado em cumprimento parcial das exigências da disciplina Planejamento em Projetos, do curso de Jornalismo, da Faculdade de Letras, Artes, Comunicação e Ciências da Educação, da Universidade São Judas Tadeu, para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Orientador(a): Prof(a). Rosemeire Ap. de Castro Fernandes. Universidade São Judas Tadeu Faculdade de Letras, Artes, Comunicação e Ciências da Educação Curso de Jornalismo São Paulo, 2006 1

Rir é o melhor remédio

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Esse livro foi realizado em 2006, por mim e pelos meus colegas de faculdade quando cursamos Jornalismo, na Universidade São Judas Tadeu.

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Rir é o Melhor Remédio

Pré-projeto do livro-reportagem apresentado em cumprimento parcial das exigências da disciplina Planejamento em Projetos, do curso de Jornalismo, da Faculdade de Letras, Artes, Comunicação e Ciências da Educação, da Universidade São Judas Tadeu, para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Orientador(a): Prof(a). Rosemeire Ap. de Castro Fernandes.

Universidade São Judas TadeuFaculdade de Letras, Artes, Comunicação e

Ciências da EducaçãoCurso de Jornalismo

São Paulo, 2006

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Rir é o Melhor Remédio

Giorgio Rocha Leiliane LopesMayara VellardiNair TerukoPriscilla BassaniSheila Carvalho

Universidade São Judas TadeuFaculdade de Letras, Artes, Comunicação e

Ciências da EducaçãoCurso de Jornalismo

São Paulo, 2006

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Sumário:

Estudos sobre o Riso_____________________________ Página 4

Doutores da Alegria_____________________________ Página 11

Soraia Saide, Dra. da Alegria_____________________________ Página 28

Voluntários da Esperança_____________________________ Página 35

Palhaço Nhoque_____________________________ Página 42

Os Bombeiros_____________________________ Página 45

Humor na Saúde_____________________________ Página 46

Brinquedoteca Graac_____________________________ Página 54

Um Remédio Chamado Alegria_____________________________ Página 57

Biografia_____________________________ Página 67

Agradecimentos_____________________________ Página 70

Bibliografia_____________________________ Página 70

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Estudos sobre o RisoLeiliane Lopes e Nair Teruko

“Riso é a situação biológica que os seres humanos demonstram em situações de humor.” (Wikpédia)

O humor tem poder de proteger o individuo de adoecer, isso porque a maioria das doenças está ligada à área emocional ou psicológica do ser humano. Os doutores do riso trabalham invertendo esse quadro psíquico para fazer a pessoa se enxergar e pensar diferente para poder melhorar o quadro clínico.

Falaremos neste livro de vários trabalhos e instituições que abraçaram essa terapia e que trabalham levando alegria em lugares frios e tristes como hospitais e delegacias. Palhaços e médicos que têm prazer em ver as pessoas felizes e saradas.

E antes de mencionar os trabalhos com riso e do que esse simples ato pode fazer na saúde, vamos falas sobre algumas teorias que foram feitas há milhares de anos que confirmam o ditado popular que diz que Rir é o Melhor Remédio.

Segundo o dicionário de português riso quer dizer “ato ou efeito de rir; alegria; júbilo; motejo; escárnio”, vem da palavra em Latim Risu. O riso é uma linguagem universal e é um elemento extrema importância para o ser humano. Rir tem a função de comunicar e possui uma base inata, ou seja, não precisamos aprender a rir, já nascemos sabendo.

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O riso é um gesto, uma expressão muito séria para ser deixado somente para os cômicos. É por isso que, desde Aristóteles, hordas de filósofos, de historiadores, de psicólogos, de sociólogos e de médicos,estuda-se o assunto.

Entre eles está Hipócrates, o pai da medicina que no século IV a.C. já utilizava animações e brincadeiras na recuperação dos pacientes. Já Darwin, pioneiro no estudo da comunicação não verbal, classificou, em seu livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, de 1872, o sorriso e o riso entre os movimentos expressivos inatos e universais.

O pensador Aristóteles (384 a 322 a.C ) deu a partida para a formulação de uma filosofia do riso quando, em As partes dos animais, disse que "o homem é o único animal que ri”. Na sua obra intitulada Poética, considera que o cômico consiste no prazer de nós rirmos daquilo que é desagradável ou que tem defeitos. Sem haver formulado uma 'teoria da comédia', levantou alguns pontos importantes, definindo o cômico como a negação do trágico.

O pensamento da época a respeito do riso é que quase todo ele é elaborado em função das relações e processos físicos do ato de rir, envolvendo calor, cócegas, respiração e diafragma.O humor (do latim humore), que quer dizer disposição de ânimo, do temperamento, natural ou acidental; veia cômica, penetra na ilusão e na imaginação, explorando as possibilidades de situações improváveis e de combinações de idéias.

Por outro lado Platão, em República, alertava sobre as 'regras' impostas na tentativa de

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se controlar o riso. Ele dizia que o riso enfraquecia o caráter e confundia a mente. Ele via o hábito de rir como uma manifestação de arrogância, muitas vezes injustificada.

Na Grécia antiga, a cidade de Atenas abrigava o Santuário de Asclépio, deus da medicina, onde os doentes assistiam a espetáculos de comediantes, musicais e peças de teatro, era um centro que misturavam arte, filosofia e medicina. Os doentes riam e se curavam.

A própria Bíblia traz alguns versículos que falam sobre riso na saúde, alguns deles estão no livro de Provérbios escrito pelo Rei Salomão por volta de 950 a.C., além disso a yoga hasya, ou yoga do riso utiliza essa técnica há mais de 3000. Assim, podemos enteder que realmente o tramento médico com auxilio do riso tem muitos anos de existencia.

Porém o trabalho de um médico da modernidade foi que conseguiu levar esse técnica para hospitais e clínicas de terapia e por isso é devemos mencionar uma breve biografia do “pai da terapia do riso” o doutor Patch Adams. Pioneiro em usar essa fórmula e obter bons resultados. Obviamente que não teremos como fazer uma biografia na altura de suas experiências como médico-palhaço (ou seria um palhaço-médico?), mas escreveremos os principais passos dados por ele até se tornar o doutor Hunter Adams.

Patch Adams

O trabalho de um médico da modernidade conseguiu levar a técnica do riso para os hospitais e clínicas de recuperação, e por ser considerado o “pai da terapia do riso” cabe mencionar uma breve

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biografia. O doutor Hunter Adams foi pioneiro em usar a fórmula do riso para obter resultados em pacientes.

Hunter Adams nasceu em 28 de maio de 1945, em Washington DC, mas foi criado no Norte de Virginia. Viveu e cresceu no meio de soldados, em bases militares nos Estados Unidos. Aos 16 anos, perdeu o pai, meses depois, um tio suicidou, e, ainda, levou o fora da namorada. Com tantos problemas entrou em depressão. Tentou o suicídio três vezes e foi parar no manicômio.

Por ironia do destino, Adams estava no local errado, no momento certo. Foi exatamente, em situações adversas, que conseguiu observar, que os loucos eram verdadeiros gênios. Vivendo no manicômio aprendeu a entender as pessoas e analisar os problemas. E saiu dali com a idéia fixa de mudar o mundo e a sua vida.

Em vez de brigar, chorar ou lamentar adotou o sorriso, para levantar o astral e ajudar as pessoas necessitadas. Aos poucos esse pensamento tomou forma até fundar um hospital gratuito e se transformar no médico a serviço da alegria. A origem dos doutores da alegria internacional começa aqui.

Para concretizar o seu sonho resolveu estudar medicina na Universidade Sewanee. Depois seguiu para a Universidade de George Washington. Em 1971, recebeu o diploma pela Faculdade de Medicina de Virginia.

As idéias brilhantes desse doutor maluco revolucionaram a medicina quebrando os métodos tradicionais. Sua teoria é muito simples: o ser humano precisa de amor, carinho e atenção, não importa em qual circunstância esteja. Com essa

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técnica, não só prolongou a vida, como amenizou a dor do paciente. O doutor Adams, desde o início, foi contra o tratamento frio aplicado pelos médicos, que não admitiam o “envolvimento com os doentes".

Adams nunca se conformou pelo fato do médico ter que dedicar apenas oito minutos ao paciente. Em média, leva de três a quatro horas para diagnosticar o problema. Ele realmente acredita, que a cura da doença, muitas vezes, reside na mudança do estilo de vida da pessoa.

Seus pensamentos estavam à frente de sua época, com trabalhos voluntários para ajudar pessoas carentes e doentes. Adams também lutava por um mundo mais justo, com menos desigualdade social. E tinha consciência, de que cedo ou tarde, teria que abrir mão do que mais gostava de fazer: “clinicar.” Conversar com gente, tratar com carinho, dividir os problemas, divertir com as palhaçadas, este foi o legado que deixou antes de partir.

Seu próximo passo seria viajar pelo mundo como militante de medicina, fazendo palestras em mais de 45 países, para treinar 1600 médicos para serem doutores-palhaços. Aproveitou o embalo e engajou na luta pela paz e justiça e se transformou em ativista político.

O trabalho do doutor Hunter resultou em um hospital e um instituto com o nome de Gesundheit, que significa saúde. O Hospital Gesundheit em Arlington, nos Estados Unidos foi fundado em 1972. Há 34 anos, cuida da saúde, com tratamento clínico gratuito, sem reembolso e prática de seguros. A fórmula encontrada para garantir o sucesso foi a amizade, o sorriso para

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descontrair e tornar mais leve o peso da responsabilidade. Cerca de 15000 pacientes, de 1972 a 1983 receberam tratamento gratuito, utilizando o humor na recuperação de doenças, cujo resultado foi positivo.

Em 1980 Hunter Adams comprou 317 acres de terra e fundou o Instituto Gesundheit no Pocahontas County, a Oeste de Virgínia. Um bosque montanhoso, com uma pequena casa de fazenda e cocheira. Desde 1997, passou por diversas reformas, para acomodar 40 camas hospitalares, 60 camas para o pessoal de sua equipe e suas famílias, mais 40 para os convidados, 40 acres para construir escolas para crianças, um teatro, salas de suporte e exercícios, jardins com vegetais e pomar.

O Instituto é um hospital comunitário gratuito que não possui seguro. Faz experimento no ser como um todo, com foco na medicina, com base na crença de que não podemos separar a saúde do indivíduo, o ser da família e a sociedade do mundo. É o único hospital grátis que possui uma equipe especializada em todas as modalidades curativas, que abrange desde artes cênicas, educação, agricultura, a serviço social. Além de contar com a assistência de três médicos formados e de 20 médicos assistentes.

Adams trabalhou intensamente com seu grupo para erguer essa comunidade, organizando eventos para angariar fundos para a construção. Fez contatos com entidades, estudantes, ativistas, artistas internacionais para cada um dar sua contribuição, dedicando um dia, uma semana de trabalho ao Instituto Gersundheit. Com esse espírito inovador criou várias maneiras de cuidar

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da saúde, como plantar e colher produtos naturais, possuir água limpa para beber, ar puro para respirar, proteger o meio ambiente e a biodiversidade. É uma comunidade ativa voltada à ação social, política e sobremaneira à saúde mundial.

Hunter Adams atua com palhaços há 20 anos. Começou com as apresentações na prisão. Há 18 anos leva 30 doutores vestidos de palhaços para visitar zonas de guerra da Bósnia, campos de refugiados de Kosovo, África, Cuba, China, El Salvador, Korea e Haiti e orfanatos e aidéticos na Romênia e locais de calamidade pública. Com todas essas ações Adams se envolveu em assuntos de interesse mundial.

Adams, não usa avental branco ou terno, não tem cara de doutor, se apresenta vestido de palhaço. Usa óculos de grau, nariz vermelho, camisa estampada com borboletas, calça pescador, tênis preto e uma meia da cor laranja e outra roxa, parece um hippie, usa um bigodão e rabo de cavalo, quase não chamando atenção com seus 1,90m de altura.

É casado, pai de dois filhos, têm 61 anos e passa quase os 365 dias do ano fora de casa. Ele não dá autógrafo, não aceita a idéia de ser famoso, mesmo tendo sua história retratada no filme “Patch Adams, o amor é contagioso” distribuído pela Universal Studio.

Hoje, mais de 40 países possuem projetos semelhantes ao doutores da alegria. Seu desejo não é apenas curar através do humor, é praticar a medicina com amor ao próximo, uma ação comunitária do riso e da paixão pelos pacientes,

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em atingir um processo de relacionamento de saúde global.

Doutores da AlegriaMayara Vellardi

“Há pessoas tão alegres, tão meigas, tão felizes, que ao entrar numa habitação parece que lhe dão luz.” (Worl Beecher)

Segundo pesquisas realizadas e divulgadas no livro de Morgana Masetti, Soluções de Palhaços, há muito o que contar. Para a abordagem com a criança, foram aplicados dois desenhos antes da atuação dos Doutores da Alegria e dois após o trabalho. Antes e depois do trabalho, pediu-se à criança um desenho de como ela se sentia no hospital e outro, sobre uma figura humana. Junto com esse pedido, iam sendo construídas as histórias que as crianças contavam à medida que desenhavam. Analisavam-se as diferenças de estilo, cores, formas, tamanho, em relação aos dois momentos. O intervalo médio de aplicação antes / depois foi de duas horas em 16 pacientes. Foram analisados 90 desenhos: 68 do grupo pesquisa, com a intervenção dos palhaços e 22 sem a intervenção destes. Os resultados são perceptíveis. Na opinião de um médico, o sorriso pode ser o indicador de uma melhora no estado clínico. O médico que valoriza isso dá um melhor tratamento.

Já a mudança de comportamento das crianças é o resultado mais marcante do trabalho dos palhaços. Em muitos casos, essas mudanças eram importantes. Crianças que estavam prostradas se tornavam mais ativas. As quietas

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passaram a se comunicar mais. As que choravam passaram a sorrir e também a se queixar menos de dores. Melhora e/ou aumento de contato e colaboração com a equipe e com o tratamento médico foram dois aspectos significativos. As crianças passaram a se alimentar melhor e a aceitar mais as medicações e exames.

Segundo os profissionais há também uma melhoria na imagem da hospitalização em si. Modifica-se a percepção do hospital como um ambiente hostil. Diminui a ansiedade da internação. Alguns profissionais associam a atuação dos Doutores da Alegria a uma aceleração da recuperação no pós-operatório.

Os profissionais acreditam que o sorriso funciona como um importante indicador de recuperação física, porque ajuda a diminuir a ansiedade e torna os pais e as mães mais confiantes na equipe e no tratamento. Observam ainda que os pais ainda passam a ser mais ativos no processo de recuperação dos filhos, aceitando melhor a hospitalização e percebendo-a de forma mais positiva.

Notou-se a diminuição do estresse na rotina hospitalar, facilitação do trabalho pela melhora do contato com as crianças, pais e profissionais. Houve uma melhoria da imagem do hospital e uma mudança de comportamento dos profissionais, que passaram a sentir-se mais dispostos para o trabalho.

Dá para perceber como esse trabalho é importante só pela opinião de uma mãe: “Ver meu filho contente, me deixa contente. Hoje até eu estou sorrindo”.

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A melhoria da expressão das crianças durante a internação é o ponto mais marcante da atuação dos palhaços. O trabalho dos Doutores da Alegria promove uma mudança de comportamento facilmente percebida pelos pais e mães. Tal como no relato dos profissionais entrevistados, eles observam que as crianças começam a falar mais, a brincar, a se alimentar e a expressar a expectativa de que os palhaços voltem. Observam também que a criança passa a encarar a hospitalização de uma forma mais positiva.

Percebe-se diminuição da ansiedade em relação à internação, melhoria no cuidado com os filhos hospitalizados, alteração na imagem do hospital: “Ver meu filho sorrindo, mesmo que doente, é bom, em vez de vê-lo apenas tomando remédio”. (Comentário de uma mãe).

Para os pais e mães, a mudança observada nas condições emocionais da criança, a partir da atuação dos palhaços, é um determinante significativo em sua própria condição emocional. “Fiquei mais alegre por vê-lo feliz, isso me deixou mais tranqüila”. (Comentário de uma mãe).

“Do personagem menino que morre, ao super-homem que o salva do gigante”. (Desenho de criança). O grupo de pesquisa apresenta de três a quatro vezes mais alterações que o grupo de controle. A alteração mais presente é a modificação do conteúdo das histórias contadas após a situação dos palhaços. Observa-se um enriquecimento de conteúdo, enredos positivos ou de final feliz e uma maior expressividade de conflitos. Outras alterações importantes foram: aumento no tamanho de desenhos , maior uso de

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cores, mais nitidez ou aprimoramento nas formas. Todas essas alterações indicam que, de alguma forma, houve uma expansão de movimentos da criança e de sua forma de se posicionar diante da hospitalização.

Esses dados mostram-se em concordância com os depoimentos de pais e mães, médicos e enfermeiras. Por meio dos desenhos, constatamos uma maior expansão motora e emocional das crianças, expressas pelo aumento das formas, mais uso de cores e melhor resolução das histórias.

Fatos Marcantes

No livro Soluções de Palhaços de Morgana Masetti, há lindos depoimentos vividos pelos Doutores da Alegria. Uma história marcante foi vivida por Raul Figueiredo que interpreta o Dr. Zappata Lambada. – Uma paciente, de um ano e meio, havia passado por um transplante. Estava na UTI, muito deprimida, e não reagia a nada. Fomos atendê-la como de costume, sem saber do acontecido. Ela estava semi-adormecida e então começamos uma serenata. Aos poucos ela fixou o olho em nós, dando de vez em quando umas olhadelas para sua mãe, de quem logo tirei um ovo de cabelo. Ela pegou o ovo, abriu-o e viu dentro dele um filhote de passarinho a quem ela apanhou delicadamente com um olhar doce. Deixei o bichinho aos seus cuidados. Terminada a “consulta” a mãe pediu que ela nos desse tchau e mandasse beijos, no que foi prontamente atendida. Logo depois ela nos confidenciou que aquela era a primeira reação dela depois da

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cirurgia. Falamos sobre o caso com a psicóloga e ela pediu que auxiliássemos no tratamento. Sentimo-nos lisonjeados com o convite e desde então passamos a acompanhá-la em todas as dependências do hospital onde ela era conduzida.”

Vera Abbud interpreta a Dra. Emily e ela contou sua história também. “Estávamos terminando uma rotina com a paciente, quando a enfermeira veio colocar o soro. Ela pediu para que eu segurasse a sua mão e começou a berrar durante as várias tentativas frustradas de tentar achar sua veia. A enfermeira desistiu, Graças a Deus, a pequena estava sofrendo muito. Então pediu que a colocasse em pé. Ajudei-a a calçar os sapatos e, quando ela se sentiu pronta, falou, como se nada tivesse ocorrido: “Faz mais bolha”! E assim nos transportamos para uma realidade mágica e voltamos a brincar. É muito bom sabermos que podemos proporcionar isso.”

Thaís Ferrara interpreta a Dra. Ferrara também conta um fato marcante. “Trabalhando com o Dr. Lambada, visitamos uma paciente que havia sofrido um grande trauma. Ela não falava, e tínhamos dúvida sobre se ouvia. Era uma situação confusa e, na nossa santa ignorância, fomos tateando, buscando uma forma de comunicação. A música nos pareceu um veículo bem aceito. Fizemos a brincadeira do “atirei o pau no gato”e, em vez do “miau”, vinha sempre um cacarejo ou um relincho. Ela estava alerta e na terceira vez em que cantamos, veio em meu socorro: bem pertinho do meu ouvido, moveu os lábios. Menos pelo sussurro e mais pelo ar expirado, entendi um “miau”. Final feliz. Acertei finalmente a música e fomos embora, sob o olhar eufórico da

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fisioterapeuta, que nos disse ser a primeira vez que ela se concentrava em relação de estímulos por mais de alguns segundos. Na visita seguinte, a mãe dela pediu para ela nos contasse o que havia acontecido desde o nosso último encontro. “Voltei a falar”, disse ela. Descobrimos que ela e uma amiga tinha sido atropeladas, a amiga morrera na hora e ela perdera a fala.”

Fernando Escrich, interpreta o Dr. Escrich, também deixa sua história marcada. “Gostaria de relatar aqui o caso de uma paciente de 11 anos, que se encontra internada na Semi. Trabalhamos muito com ela no ano passado e temos um carinho muito especial dedicado a ela. Quando voltamos nesse ano percebemos que ela teve o braço amputado, o que a princípio nos abalou por alguns minutos, mas bastou ficar ao lado dela por mais alguns minutos, para olharmos a situação de uma outra forma. Ela tem tanto carinho e afeição pelas enfermeiras, assistentes e médicos que cuidam dela, que isso parece deixa-la mais forte para enfrentar esse momento tão difícil. Pode-se notar isso pelo cuidado que essas pessoas têm em deixa-la mais bonita, penteando seus cabelos e passando batom na sua boca. Ela é realmente linda. Outro caso foi de um paciente, de 7 anos, que sofreu um transplante de fígado e está na UTI. Tivemos duas visitas em que ele se relacionou muito com a gente, o máximo que pôde é claro! Mas depois do dia 20, ele estava sempre sedado, mas mesmo assim fizemos algumas serenatas pra ele. Espero que ele esteja gostando da seleção de músicas.”

Cleber Montanheiro, que interpreta o Dr. Krebs Croc, abrilhanta ainda mais essas histórias

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emocionantes. “Esta semana, identificamos em muitas crianças a presença de um vírus pouco conhecido pela nossa equipe de besteirologistas – o “Bobovírus”. Listamos abaixo alguns sintomas apresentados pelas crianças nas quais ele foi encontrado. Riso contínuo: a criança dispara a rir sem controle da situação. Gritite: tendência das crianças gritarem ao mesmo tempo. Falatite: intervalos falados, que vão diminuindo até que elas disparam a falar, desenvolvendo em seguida a gritite. Detectamos ainda uma predisposição do “Bobovírus” a ser transmitido pelo ar. Muitas mães começam a rir logo depois do início do tratamento por nossa equipe.”

Pedro Pires, interpreta o Dr. Dog, também acrescenta um fato interessante. “Um paciente está internado há bastante tempo no terceiro andar. Ele tem estado muito fraco esses dias, sofrendo um bocado. Num destes dias, tinha mudado de quarto. No início deste dia, não queria nem que entrássemos, a Dra. Florinda e eu. Devagarzinho conseguimos ir entrando. Ele estava sozinho, gemia muito de dor, e por todo o tempo que estivemos lá não sabia muito o que fazer. Então apelei ao gesto mais básico de um ser humano que vê o outro sofrer – o carinho. Passei a mão em sua cabeça por um bom momento e ele aos poucos foi se acalmando, parando de gemer e, me pareceu descansando. Naquele momento deixei de ser o clown que bate a cara na porta para fazer rir, para me transformar no clown o mais humano possível. É um momento que sempre guardarei comigo. “Eu sou um palhaço e faço coleção de momentos”.(Heinrich Böll – opinião de um palhaço).”

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Carla Candiotto, interpreta a Dra. Carmela Caramela, contribui com uma história comovente. “Aconteceu um fato que me emocionou profundamente. Foi com nossa amiga, que está no hospital há mais de um ano, devido a um problema muscular que a impede de mover qualquer parte do corpo. Eu e o Dr. Zequim estávamos tocando música e fazendo bolhas para ela, como de costume. Na hora de partimos, ela olhou para nós e movimentou os músculos da boca, formando um sorriso. O Dr. Zequim não a conhecia muito bem, e não podia imaginar há quanto tempo eu vinha esperando por aquele momento. Faz um ano que trabalho com ela, e seu rostinho sempre teve a mesma expressão. Considero esse fato uma de nossas grandes vitórias. Imagino que para ela, que é uma guerreira, foi um momento especial.”

Soraia Saide, interpreta a Dra. Sirena, e ela conta algo muito marcante, através de suas experiências. “Estávamos brincando com um paciente de 7 anos, quando a enfermeira entrou para medir a febre das crianças e comentou com a sua mãe que ela era uma criança triste que seria um adulto triste. E a mãe concordou! As “doutoras” ficaram indignadas. Ninguém é triste! E começamos a desinfetar com bolhas de sabão a área da cama dele. Descobrimos que o pato dela falava pelos cotovelos, e a Dra. Caramela extraiu a língua de seu cotovelo. Ele sentou-se na cama e nos ajudou a operar o pato, quer tinha sapos e lagartixas na barriga. Na semana seguinte, durante uma briga entre as duas “doutoras”, ele contribuiu para a discussão com as seguintes frases: “Sua batatinha frita! Seu bife estragado!”

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Ele interagia e brincava com outras crianças. Não existe criança triste, existe criança sem estímulo.”

José Afonso Nereu, interpreta o Dr. Zequim, que também colabora com seu fato vivenciado. “Destes dias separei um caso para relatar, que foi vivido com a Dra. Ferrara. Um caso que trata da importância da maturidade e da paciência que um Doutor da Alegria deve ter dentro de um hospital. Foi isso o que experimentamos com uma meninona de 12 anos, bem disposta, mas que não estava nem aí pra gente. Tentamos de tudo e nada. Estava mais interessada em conversar com sua irmã sobre o que passava na TV do que na gente. De vez em quando, nos olhava para ver se ainda estávamos lá. Confesso que essa situação não ocorre com freqüência, e talvez seja a mais difícil de se lidar. Estamos preparados para o “sim vocês podem entrar”, e para o “não, eu não quero vocês”, mas esse “tanto faz” pode ser dolorido. Para evitar a dor, relaxe, aceite, faça esse exercício de dasapego ao ego, sem ansiedade, com generosidade. Saia do quarto e ria, ria de você. V. estava em outra, pronta pra ir pra casa. Dra. Ferrara saiu do quarto e riu e eu a acompanhei.”

Camila Bolaffi, interpreta a Dra. Raimunda Gabriel, e com a história que viveu, vai colaborar com os outros depoimentos. “ Uma criança com quem tive bastante contato esse mês foi um garoto. Mas, por algum motivo estranho, nunca conseguira entrar no quarto dele. A porta parecia aberta, só que quando eu ia entrar, “BANG”, dava com o nariz no vidro! E não é que o pestinha ria, ria, ria. Aí, quando eu me dava conta, estava dentro do quarto. E quem disse que eu conseguia

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sair! Quando finalmente saímos de lá e fomos entrando no quarto logo à frente,nem podíamos imaginar que os bebês estavam tomando banho. Só nos restou entrar na dança, fazendo bolhas e cantar: “Tomo um banho de lua...Que tal nós todos numa banheira de espuma...”

Alexandra Golik, interpreta a Dra. Florinda Jardins, e conta uma fato interessante. “A primeira coisa que uma paciente disse, quando nos conheceu, foi: “Vocês são mentirosos!” Ficamos atônitos, mas começamos a fazer nossas rotinas com as outras crianças. Aos poucos, foi se aproximando e observando o que acontecia. Na visita seguinte, pescamos um sorriso dela, quando nos viu. Quando percebeu que havíamos notado sua reação, fechou imediatamente a cara. De novo preferimos trabalhar indiretamente com ela, por meio das outras crianças. Na terceira visita, mal entramos na enfermaria, Ela veio até nós. A partir daí, criamos um ótimo relacionamento. É engraçado notar sua idéia de que éramos mentirosos. Acho que queria dizer-nos que nunca seria possível divertir-se num hospital. Felizmente pudemos mudar a sua percepção.”

Paola Musatti, interpreta a Dra. Manela, e também tem uma bela história a acrescentar. “Entramos no seu quarto: Manela e Sirena. Eu ainda não o conhecia e então ficamos nos apresentando. Era um quarto bastante escuro e o menino (aproximadamente 12 anos) tinha um aspecto físico nada agradável, e a sua mãe, apesar de não estar na cama, enferma, era como se estivesse. Eis que no meio do “bate papo”- ele era realmente muito esperto – ele pede para que sua mãe o abrace e vai seguindo a conversa. Ele

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nos dominou na sua imaginação. Voamos alto com suas idéias, ajudando na sua fantasia, encadeando uma na outra, mas ele sempre pedia (e sua mãe lhe dava) carinho-toque. Uma cena de amor. Ás vezes pegava sua mão e comparava o tamanho com o de sua mãe e então entrelaçavam-se numa dança de rei e rainha, de nobreza. É essa a palavra: nobreza. Esse menino me mostrou, nesses seus atos, que há sempre algo por atrás do que vemos: que necessitamos enxergar. Ele desmontou meus conceitos e pré-conceitos que fazemos apenas pelo que vemos e não pelo que temos: SOMOS. Aos sair, comentamos: ele é um príncipe.”

Ângelo Brandini, interpreta o Dr. Zorinho, e assim como seus colegas também tem algo a contar. “Tivemos um momento de muita tristeza no último plantão a que esse relatório se refere, um paciente com um pouco mais de 1 ano, era nosso conhecido há poucos meses , gostava muito de bolhas e prestava muita atenção na gente. Nesse dia chegamos para começar o trabalho e fomos informados que ele estava entrando em óbito. Não tivemos coragem de entrar no seu quarto naquele dia. Foi impossível esquecer o que estava acontecendo com nosso amiguinho, mas não dava pra deixar a peteca cair, o show tinha que continuar. Quando terminamos o trabalho no andar ele tinha acabado de falecer. Naquele dia o paradoxo entre a vida e a morte foi mais presente do que nunca.”

Wellington Nogueira, interpreta o Dr. Zinho, e conta uma história alegre para fechar com chave de ouro. “Uma das maiores sensações de alegria nesse trabalho vem da capacidade que alguns

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jovens possuem de reverter seu quadro clínico, quando praticamente tudo vai contra eles. É o caso de um menino (9 anos), que caiu até a laje de sua casa, enquanto brincava, sofreu afundamento de crânio, ficou em coma, saiu de coma, foi para um quarto normal, começou a superar as seqüelas (perda de visão e fala), teve uma recaída, voltou para a UTI, encarou três paradas cardíacas. Mesmo assim, generosamente ele nos recebe e permite que nossas “receitas de bobagens” sejam embaladas por momentos inesquecíveis de riso e alegria. Só para citar um exemplo, em nossa última entrevista a ele, na UTI infantil, submetemos sua avó a um teste de personalidade”. Colocamos uma galinha de borracha em seus braços e dissemos: “Vamos contar até três e a senhora pode deixar caria a galinha.” Contamos até três. Ela deixou a galinha cair, e nesse exato momento, Dr. Zinho com toda a firmeza constatou: “Ela soltou a franga!”. Ele riu a ponto de gargalhar; nossa cumplicidade, mais uma vez vinha á tona! A partir daí, por sugestão do próprio paciente, testamos todas enfermeiras e auxiliares presentes na UTI infantil. O teste hoje é um grande sucesso em todos os hospitais e ele, acabo de saber, recebeu a tão merecida alta e está em casa agora novamente. Grande garoto!”

História e Curiosidades

A supervisora de projetos dos Doutores da Alegria, Daiane Carina, trabalha desde 2000 com essa ONG e tem muito o que contar. Trabalha no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento como supervisora de projetos. Ajuda na elaboração,

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planejamento e execuções dos Projetos da organização. Já presenciou diversas vezes o trabalho dos Doutores da Alegria pessoalmente.

Começou a fazer parte dessa ONG através de uma agência de empregos. Naquela época o Wellington (fundador) estava precisando de uma assistente de diretoria e disponibilizou a vaga nesta agência. Então concorreu a vaga com outras candidatas e foi selecionada.

Para se tornar um Doutor da Alegria é necessário ser ator profissional, com especialização na arte do palhaço e técnicas circenses. A rotina dos profissionais é feita em dupla, onde todos têm uma rotina própria, mas todos tem um itinerário que deve ser seguido, além de procedimentos de higienização. Cada dupla tem 1 dia na semana para trabalhar alguma habilidade artística, ensaiar, enfim levar repertório artístico para o hospital.

Os Hospitais atendidos em São Paulo são: Hospital do Campo Limpo; Hospital da Criança;Hospital do Mandaqui; Hospital Santa Marcelina; Instituto da Criança; Itaci e Hospital Geral do Grajaú. Já no Rio de Janeiro são: Hospital Municipal Jesus e IPPMG. E em Recife são: Hospital Barão de Lucena; Hospital das Clínicas e Hospital da Restauração.

A história dos Doutores da Alegria, começou em 1986, quando Michael Christensen, um palhaço americano, diretor do Big Apple Circus de Nova Iorque, apresentava-se numa comemoração num hospital daquela cidade, quando pediu para visitar as crianças internadas que não puderam participar do evento.

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Improvisando, substituiu as imagens da internação por outras alegres e engraçadas. Essa foi a semente da Clown Care Unit™, grupo de artistas especialmente treinados para levar alegria a crianças internadas em hospitais de Nova Iorque. Em 1988 Wellington Nogueira passou a integrar a trupe americana. Voltando ao Brasil, em 1991, resolveu tentar aqui um projeto parecido, enquanto ex-colegas faziam o mesmo na França (Le Rire Medecin) e Alemanha (Die Klown Doktoren). Os preparativos deram um trabalho danado, mas valeu: em setembro daquele ano, numa luminosa iniciativa do Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo (hoje Hospital da Criança), teve início o programa. O trabalho é gratuito para o público, mas não é voluntário. Ele se mantém com doações de empresas, parcerias com o Governo, através de leis de incentivo fiscal, e de sócios mantedores. Algo que é importante deixar claro, os Doutores da Alegria não pedem doações em faróis de trânsito, transporte coletivo, em universidades, ou de casa em casa. Há diversas maneiras de contribuir, para saber mais detalhes é só acessar o site: www.doutoresdaalegria.org.br.

A equipe é formada por profissionais de teatro, circo, música ou dança, mas todos especializados na linguagem do palhaço. A partir da seleção recebem treinamento de um ano para adequar seu repertório artístico ao universo hospitalar.

Os palhaços estão constantemente se aprimorando. O Hospital é um lugar de situação limite, que exige domínio da técnica do improviso

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e habilidades que enriquecem a interação com a criança. O Núcleo de Formação, Pesquisa e Desenvolvimento documenta, pesquisa e fortalece a linguagem do palhaço assimilando sua qualidade transformadora e abrindo caminhos para atuação além dos hospitais. Há um acervo de livros, artigos, teses, filmes sobre humor e saúde, grupos de palhaços que atuam em hospitais e jovens aprendizes.

Apresentam palestras para empresas e escolas. A vocação é uma formação natural dos Doutores da Alegria. Possuem uma grande formação de cenas, a partir do trabalho direto do hospital e da reflexão sobre ele, que resulta em espetáculos para adultos e crianças. Além do encontro promovido entre diversas escolas e gerações de humoristas no Palhaços da Madrugada.

Sucesso Comprovado

A psicóloga Morgana Masetti com sua experiência e estudos, comprova em seu livro Boas Misturas, que o sorriso é um fator muito importante para o contexto hospitalar. E segundo as informações presentes no livro, há fatores de sucesso no trabalho dos Doutores da Alegria realizado nos hospitais. O mais evidente é a utilização do humor e da brincadeira como recurso e linguagem de contato. Além disso, eles são capazes de estabelecer uma boa comunicação e contam com um sistema específico de crenças e valores sobre o que acontece dentro do hospital.

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Uma crença muito forte, por exemplo, é a de que, por mais grave que seja o estado clínico da criança, há uma essência que deseja brincar. O palhaço está familiarizado com o inusitado, ele vive no absurdo sem tentar organiza-lo, mas sabendo que se ele for capaz de olhar, ouvir, estar presente, a relação naturalmente se organizará. E organização para um palhaço, é aceitar o resultado que se apresenta sem julgamento de valores, mas com o desfecho possível.

Morgana Masetti também explica o que ocorre no ambiente hospitalar. O palhaço por trás de todo o barulho e confusão que possa fazer, silenciosamente, nos confronta com questões pouco confortáveis do tratamento: a marca que o envolvimento pode deixar – o que extrapola a questão da sobrevivência ou não do paciente – quando existe a coragem de se colocar integralmente nas relações. O palhaço lembra que a qualidade das interações terá impacto nos resultados do encontro. Se elas forem movidas nas relações alegres, a orientação será no sentido da vida e da saúde. Se forem movidas pela piedade e submissão (paixões tristes), se voltarão para a doença. O palhaço circula como um exemplo vivo dessas possibilidades, questionando despretensiosamente alguns valores do hospital.

Segundo Masetti, o sorriso sinaliza que paciente e palhaço percorreram uma situação de dificuldade e sofrimento, e a ultrapassam, capazes de transforma-la, ao gerar intimidade e uma outra percepção sobre os fatos. O sorriso é um indício de que a vida cabe dentro de um meio asséptico. É um fator de recuperação, porque leva ao

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aumento de potência e a uma conduta ativa quanto à situação vivenciada.

Esse ganho de potência, de ação, de viver os encontros e a saúde, surpreendentemente acontece no momento em que se abandona a realidade na forma como ela se apresenta, o que significa abrir mão da busca por explicações razoáveis para os fatos. Vem da possibilidade de abrir espaço para viver cada acontecimento sem sustar seu fluxo. É essa percepção, essa coragem que se liga ao conceito de Winnicott, para quem a saúde implica o sentimento de que a vida vale a pena (1996), e a oportunidade de recuperar a sensação de continuidade de existir (1990). Só o viver é criativo fortalece esse sentimento; é ele que preserva algo de pessoal, de secreto, alguma coisa que apenas uma pessoa, individualmente, pode fazer, à sua própria e tão particular maneira.

Para finalizar, a psicóloga conta em seu livro, Boas Misturas, que esse modo de viver só é viável se abrimos espaço para o imprevisível, o inexplicável, o desconhecido de cada relação. Mas, para isso, é fundamental não ter pressa de preenchê-la com uma organização lógica ou com o tempo cronológico. Espinosa diz: O conhecimento não é a operação de um sujeito mas a afirmação de uma idéia da alma: não somos nós que nega ou afirma algo de si mesma. Difícil? Sim, mesmo para artistas que decidem ser palhaços. Porque antes de tudo, não se trata de ser presenteado com um dom ou alguma capacidade mágica. Como o cirurgião, o palhaço, também aprende a sua arte.

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Soraia Saide, Doutora da Alegr ia Giorgio Rocha

“Humor é uma forma de entretenimento e de comunicação humana, para fazer com que as pessoas riam e se sintam felizes.” (Wikpédia) É hora de brincar. Começou a brincadeira. Essas são palavras que qualquer criança gosta de ouvir. E se colocarmos palhaços nesta brincadeira, agora sim a diversão está garantida. Mas este não é um parque, circo ou campo de futebol, e sim em um quarto de hospital, e a rigidez e organização deste ambiente não irão impedir que a Doutora Sirena formada com louvor em besteirologia visite mais um paciente.Nosso paciente irá receber uma boa notícia, após 21 dias internado ele poderá ir embora e sua mãe aguarda impaciente para levar o filho para casa. A Doutora Sirena junto com o seu companheiro de brincadeiras já estão na porta do quarto, e depois da surpresa inicial e hora de confirmar a boa notícia.-Viemos aqui para dizer que você está pronto para ir para casa e “Alta”, (que significa uma mulher grande), já vem para levar você embora!Diz a Doutora com uma alegria contagiante! Os Doutores após a notícia finalizam uma brincadeira, e ansiosa na porta do quarto, com as

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malas prontas e com o papel da alta nas mãos a mãe aguarda pelo filho.Só que uma vez no mundo do faz de conta, onde tudo é possível, o menino não quer interromper o momento e decide continuar a brincar com os palhaços. São 15 minutos de diálogos, onde na língua dos palhaços, os Doutores da Alegria explicam e mostram os seus instrumentos usados para atender os pacientes, além de risadas, músicas e muita diversão. Ao ver o olhar impaciente da mãe do garoto, chega à hora da Doutora Sirena interromper a brincadeira e dizer:- A “Alta” está te esperando lá fora, chegou o momento de você ir para casa...E o menino olhando fixamente para os Doutores da Alegria diz:- Palhaço, não vai embora, não... sabe que o que eu descobri, eu gosto de dar risada! Diante de tamanha descoberta, os Doutores decidem ficar, e só resta a mãe esperar mais um pouco, para total deleite do filho.

Este encontro faz parte de tantos outros em que Soraia Saide a Doutora Sirena participou, desde que entrou para o elenco dos Doutores da Alegria no ano de 1993.Para fazer parte da trupe Soraia Saide percorreu um longo caminho.Com 16 anos ela começou a fazer curso de teatro no Teatro Escola Célia Helena.- Fazia o curso escondido de pai e mãe que queriam que eu fosse médica ouadvogada.

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Indo contra o desejo dos pais, Soraia se forma atriz pela Escola de Arte Dramática da USP. Nesta época decide também fazer jornalismo, o que a levou a trabalhar por três anos no anuário do Guia Rural da Editora Abril.Tanto o jornalismo como o emprego na Editora Abril foram abandonados. A paixão pela a arte de representar falou mais alto. A vocação e o ofício que queria para sua vida sempre foi o teatro. O acaso levou os Doutores da Alegria ao encontro de Soraya. Antes de entrar para o elenco, ela participava da Troupe de Atmosfera Nômade, dava aulas de interpretação no Teatro Escola Célia Helena e fazia teatro em fábricas.

Ela estava com um espetáculo em cartaz que foi recomendado ao Wellington Nogueira, palhaço fundador dos Doutores da Alegria e que na ocasião procurava por palhaços.- Ele foi assistir à "Uma rapsódia de personagens extravagantes" gostou e convidou o elenco para conhecer o trabalho no hospital. Fui ver e gostei, por que vi jogo estabelecido entre palhaço e criança. Fiz o teste e dois anos depois entrei para o elenco. Para se tornar um Doutor é necessário ser ator profissional com DRT e especialização na linguagem do palhaço ou palhaço profissional.O texto por qual Soraia passou consiste em quatro fases: - Analise de currículo.- Carta de interesse- Oficina de jogos e habilidades. - Teste no hospital e entrevista.

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Após ser aceito, o novo membro passa por um treinamento que dura um ano.Durante o treinamento é que o Doutor- palhaço conhece o seu palco e o seu público. É neste momento que ele passa a se habituar com a rotina de um hospital, e chega à hora de estabelecer a relação palhaço e médico. Uma relação pautada pela cordialidade e respeito, em que não há espaço para a competição.-O relacionamento com os médicos e enfermeiras é muito bom, mesmo por que não competimos... Como bem diz o Wellington Nogueira, só trabalhamos com a veia cômica dos pacientes. Nosso trabalho não tem nada haver com terapia. É teatro, é jogo, é do que entendemos, somos palhaços profissionais. - Quando entramos num quarto, a primeira coisa é pedir permissão pra isso. A segunda é estabelecer o jogo teatral afirmando que somos médicos besteirologistas, afirma Soraya. Os Doutores da alegria sabem que dentro do hospital, os médicos são a figura de maior poder, e travestir o palhaço de médico é que torna tudo engraçado.- O médico é um personagem maravilhoso de ser parodiado: tem uma linguagem e escrita próprias, roupa branca, um aparato todo, esteto, bloco de receita, carimbo. Isso tudo pra um palhaço é um mar a ser navegado, diz Soraya Saide. Estabelecer um bom relacionamento com todos os funcionários de um hospital é apenas uma das etapas que os palhaços devem passar

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para chegar no seu objetivo principal, o encontro com os pacientes. E para que os pacientes aproveitem e desfrutem o máximo de cada apresentação, é feita uma preparação minuciosa, em que os palhaços trabalham o improviso, a relação com o companheiro de apresentação, com o espaço, e circunstâncias variáveis.Uma mesma dupla de palhaços visita um mesmo hospital durante 10 meses, duas vezes por semana, seis horas por dia. Em dia de apresentação, eles costumam chegar meia hora antes para poderem se preparar, e quando começam a se vestir e passar a maquiagem, fica fácil entender todo o encanto que as crianças sentem quando encontram com os Doutores do Riso.Na hora do aquecimento os mais musicais, afinam instrumentos, e os mais corporais fazem alongamentos, variando de palhaço pra palhaço, e de dupla pra dupla. Depois que estão caracterizados, seguem um itinerário pré-estabelecido com as equipes de saúde de cada hospital, e falam com a enfermeira responsável por cada setor, assim levantam às restrições e recomendações do dia. Esta é uma parte muito importante. Os Doutores da Alegria precisam saber se alguma criança não pode rir, por que foi operada, ou se existe algum procedimento que devem seguir em casos mais específicos. Quando no quarto com os pacientes lavam as mãos e pedem licença para cada criança visitada. Para que possam sempre estar bem durante o trabalho que fazem nos hospitais, cada

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artista do elenco tem um modo de relaxar. Que pode ser por meio de uma meditação, ou pelo simples ato de regar uma planta.

O que o grupo também faz é uma reunião mensal onde conversam sobre tudo o que os afetam, e por meio da psicóloga Morgana Masetti, que é a coordenadora do Centro de Estudos sobre humor e saúde, recebem todo o apoio necessário que possam precisar. Toda esta preparação é feita para que os Doutores estejam em cada apresentação na melhor forma física e psicológica, e que possam ter controle maior da situação, para que no fim sejam recompensados com muitas risadas.- O encontro com os pacientes é diferente do trabalho no palco... O perigo no palco geralmente é o imprevisto, esquecer a fala, perder a deixa, não imprimir um ritmo. No hospital é não conseguir provocar a criança para a brincadeira, para o jogo, não conseguir estabelecer uma relação. Com criança não tem meio termo, se gosta, gosta e se não gosta pede pro pai aumentar o som da televisão... isso nos dá um traquejo para o palco absurdo, o artista perde o medo da platéia, do olho no olho, diz Soraya.Para que possam levar alegria e diversão aos pacientes, os Doutores da Alegria não recebem nada dos hospitais em que se apresentam. Como são uma ONG Cultural, o grupo se mantém através de Leis de Incentivo à Cultura, por meio de patrocinadores, apoiadores e sócios mantenedores. E para não depender apenas de incentivos, ministram palestras, cursos, vendem camisetas, pins, livros, e fazem leilões de arte com a renda

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revertida para os Doutores da Alegria. Desta forma podem manter toda a infra-estrutura do grupo. Os Doutores estão em São Paulo, em sete hospitais, Recife, em quatro hospitais e no Rio de Janeiro, em dois hospitais. Cada unidade tem a uma sede, funcionários e artistas locais. O processo de seleção e treinamento é o mesmo nas três unidades. Os artistas selecionados são na sua maioria provenientes do teatro e do circo.Quando não está na pele da Doutora Sirena, Soraia Saide cuida dos seus trabalhos paralelos.- Como somos todos artistas profissionais a maioria dos artistas têm outros trabalhos nos seus grupos, companhias teatrais ou circos. E muitos aindadão aula. Há dois anos trabalho com a Companhia de Teatro os Satyros, estou no espetáculo A Vida na Praça Roosevelt, e ensaiando um novo espetáculo que se chama Inocência. Nos seus momentos de lazer, Soraia aproveita ao máximo o tempo que dispõem.Sempre que pode vai à praia e a restaurantes de comida árabe, japonesa, italiana.Adora ouvir MPB, e ler Guimarães Rosa, Mario de Andrade e Clarisse Lispector.Soraia Saide aos 16 anos traçou o caminho que a levou aos Doutores da Alegria, e agora com 45 anos de idade, 29 de teatro e 13 como Doutora da Alegria diz com grande satisfação que acertou a seguir a sua vocação. - Gosto da minha profissão, do meu ofício, gosto de ser palhaço, de poder trabalhar nos Doutores da Alegria.

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Hoje em dia ela é responsável pela seleção e treinamento dos novos palhaços para os Doutores da alegria, e espera que a trupe não pare de crescer. E que possa contribuir ainda mais para cultura do país, aprofundando e cuidando da linguagem do palhaço, e que palhaços das várias vertentes e gerações possam se encontrar e trabalhar nos Doutores da Alegria.Mais palhaços, mais alegria e diversão para aqueles que sabem o quanto pode ser poderosa uma risada.

Voluntários da Esperança

Mayara Vellardi

“O amor torna tudo brilhante, agradável e vantajoso. O amor é o vaso que contém alegria!” (Madre Teresa de Calcutá)

Fernanda Temple Lopes, começou sua jornada de solidariedade no ano de 1999, quando tinha 19 anos. A idéia desse projeto tão lindo, nasceu da iniciativa de fazer algo bom pelo ser humano. Não teve apoio de pessoas próximas, mas mesmo assim, insistiu em algo que achou que era certo.

A Associação Voluntários da Esperança, atualmente, tem cerca de 15 a 20 voluntários. É um número que tem rotatividade dependendo de quantos treinamentos são realizados. Os interessados se candidatam, depois assistem a uma palestra, criam afinidade com o

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grupo e passam a integrá-lo. Não tem burocracia para a entrada. Muitas pessoas procuram o grupo principalmente pela internet, a maior parte são mulheres.

A rotina de visitas à casas de repouso é semanal. Lá praticam junto com os idosos, aulas de dança do ventre, massagem, aula de artes e muitas brincadeiras. Mas também atingem um público mais abrangente, como crianças carentes, hospitais e casas de apoio a crianças com câncer.

Trabalham o ano todo, mas as principais datas são as festivas, Dia das Crianças, Natal, Páscoa. Para atender alguns hospitais enfrentam resistência, devido a serem locais que já possuem muita ajuda, por isso procuram atender locais mais carentes nesse aspecto, então a aceitação é mais fácil.- Para ser voluntário não precisa fazer nada fora de casa. Você tem que ter bom coração com os familiares, com os amigos, com as pessoas do trabalho. Dar uma palavra amiga, escutar alguém em um momento difícil, é algo que não custa dinheiro, comenta Fernanda.

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Foto: Mayara Vellardi

Voluntários da Esperança / Cantora Monique Angel

A maior dificuldade da ONG é a falta de patrocínio. Os voluntários armazenam doações nas próprias casas. Para ser um voluntário, você não precisa ser estudante de algo específico, basta ter boa vontade, que juntos trocam conhecimentos para levar o melhor possível para as pessoas necessitadas de amor, carinho e compreensão.

A Associação surgiu através de um ato singelo de Fernanda. Seu coração foi tocado em meados de março de 1999, quando entrou no sanitário de um metrô. Lá estava uma senhora mendiga quase sem nenhum dente na boca. Reclamando da vida, da dor, dizendo que não tinha nem dinheiro para tratar o dente, nem para comprar remédio. Chorava e dizia que era melhor roubar do que pedir, porque se pedisse ia ser considerada uma ladra, e não valia a pena ter esperança. Disse que tinha sido humilhada por algumas pessoas e se sentia triste. Então Fernanda conversou com ela sobre a esperança e

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lhe deu 1 real para ajudar simbolicamente. Depois disso, ela ficou pensando que muitas pessoas já haviam perdido a esperança. Começou a montar uma equipe para ajudar instituições carentes. E foi no mês de abril, com uma visita a um orfanato, que tudo teve início. Foi atrás de doações e artistas. Fez diversos contatos e começou a divulgar seu trabalho através da internet. A situação foi evoluindo e com recursos próprios conseguiram registrar a Associação, no ano de 2004.

- Coordenar os voluntários da esperança para mim e uma benção. A nossa luta é a dos necessitados, para levar justiça e esperança a muitos! E hoje criamos e prosperamos em muitos programas sociais tentando transformar. Ainda que essas transformações sejam pequenas e abranjam poucas vidas perto das tantas que sofrem, estamos fazendo a nossa parte, tendo os olhos voltados para aqueles que são afetados pela miséria e desigualdade social. Os resultados são belíssimos, e nos dão a certeza de que ainda vale a pena ter esperança!, afirma Fernanda.

Os locais atendidos são diversos. Apesar da dificuldade financeira, eles não desanimam e continuam fazendo esse trabalho tão especial. Os asilos atendidos são: Associação de Beneficência a Velhice Desamparada; Casa de Repouso São Matheus; Lar das Mãezinhas; Lar Humberto de Campos; Recanto dos Idosos de Vila Formosa; Toca de Assis.

Os Hospitais e Casas de Apoio assistidos são: Casa Hope (Assistência a crianças e adolescentes com câncer); CBC (Assistência a crianças com câncer); COTIC (Assistência a

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crianças com deficiências físicas e metais); Hospital Menino Jesus (Assistência a crianças); Hospital São Jorge (Pacientes com Hemodiálise).

As Comunidades Carentes atendidas são: Favela do Pantanal; Favela do Jaguaré; Favela do Tolstoi; Itaquera; Jardim Evana; Jardim Ingá; Jardim Helena. E também atendem orfanatos como: Casa da Criança Feliz; Casa de amparo ao pequeno São João Batista; Casa dos Inocentes; Lar da criança Favos de Luz; Lar da infância da Nice.

Houve uma situação emocionante para Fernanda. Os Voluntários da Esperança foram convidados pelo Hospital São Jorge, para realizar uma festa; ou melhor, para uma "bagunça animada" em comemoração ao Natal. Então, no dia 15 e 16 de Dezembro foi marcada uma visita ao hospital, com o intuito de invadir o coração daquelas pessoas tentando levar um pouco de esperança.- Foi a primeira visita desse gênero e fico muito feliz de ter aberto o coração para mais esse aprendizado, pois realmente eu só aprendi. Aprendi mais um pouquinho sobre a grandeza das pessoas, aprendi sobre a vida. Refleti sobre a minha vida, comenta a presidente.

Não havia como negar um pedido desses. Um hospital chamando o grupo para levar um pouco de alegria aos pacientes que ficam 4 horas por dia, três vezes por semana recebendo hemodiálise.

- O primeiro ato antes de entrarmos, foi uma oração. E realmente somos preparados. Acredito que quando abrimos o coração com humildade tudo o que nos falta no momento é

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suprido, aborda a fundadora.

Foto: Mayara Vellardi

Voluntários da Esperança / Cantora Monique Angel

O grupo estava composto nesse dia de diversos voluntários. Fernanda de palhaça. Rafael de Papai Noel, Cleber de Repórter Frango, e para acompanhar Davi e a outra Fernanda como apoio.

Foram o total de 12 apresentações para diferentes pacientes de quinta para sexta com pacientes diferentes, revezando alguns voluntários enquanto a palhacinha acompanhou tudo.

Eles não haviam ensaiado, e se propuseram a fazer algumas animações de última hora. Entre as brincadeiras e as músicas, com seu humilde violão, na primeira sessão, Fernanda via sempre os olhos das pessoas. Então, ela deu uma mensagem ao microfone, e seu coração estava plenamente engasgado, pediu força em silêncio e quando saiu chorou quieta, mas logo na segunda estava firme de novo e depois destas 2, foram mais 4 e até 6 apresentações no dia.

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- São tantas lindas lembranças, doei minha voz nas canções, meu sorriso, meu carinho em todas as vezes que tocava nas mãos deles, escutei bençãos como "Você é maravilhosa... Sua alegria contamina..... Obrigada por alegrar meu dia..... você tem o dom de encantar as pessoas...... Que pena que já vai embora..... você é iluminada...", diz Lopes.

O ingrediente principal no trabalho voluntário é o amor sincero, que faz a caridade se tornar mais pura e verdadeira. As pessoas têm que ser quem são. Os adultos devem voltar a serem crianças, porque se a caridade é pura, ela é inocente como as crianças.

- Tivemos a presença dos enfermeiros, imaginem só eles dançando as canções de crianças com coreografias, outro enfermeiro imitando o apresentador Sílvio Santos, outro imitando E.T., foi uma farra só, conta Fernanda.

Os pacientes se divertiram, colocaram perucas, participaram de histórias onde eram os pais do papai Noel, cantores, entre outros personagens. Também seus sorrisos romperam a dor, pelo menos naqueles momentos de alegria.

Os olhos dos pacientes eram atentos seguiam tudo. Prestavam atenção nas músicas de esperança, alegria e cantaram muito. Alguns não tinham nenhuma vontade de brincar, porque sentiam dor, mas mesmo assim, depois de tudo, agradeceram pelo bem que estava feito.

Imaginem pacientes cegos cantando músicas de Funk, como “Tô ficando atoladinha”. Eles tiveram iniciativas de cantar e fazer piadas também. Outros pacientes cantaram a música “Festa no Apê”, alguns fizeram graça pedindo rim

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para o Lula, outros expulsando o Lula dali, todos em uma alegria contagiante.

Em um dos quartos, quando os voluntários entraram havia uma senhora com os olhos marejados de agonia, e Fernanda chegou com seu violão para cantar baixinho “Pelos prados e campinas verdejantes eu vou. Tu és Senhor o meu pastor...” Então, a mesma senhora chorou o que estava engasgado, carinho sincero, as palavras que lhe disseram foram com amor, que no seu coração havia um Deus amável e era só confiar. Havia gaita, saxofone, violão, pandeiro tudo em um mesmo quarto, muitas experiências lindas vividas por esse grupo tão especial.

- Eu acredito nos pequenos milagres. E sempre disse isso "Ver um rosto transformando-se da dor para a alegria é uma das coisas mais lindas que existem" Eu agradeço a todos que fizeram parte desse trabalho, foi algo marcante e especial, reconhece Lopes.

-No último quarto, um paciente disse à dona do hospital que o cumprimentava: “Nós não somos doentes.” Aquilo para mim foi uma grande lição. Afinal doentes são aqueles que não acreditam na vida, nem em seus milagres. Muito obrigado a todos. E muito obrigada a Deus pela oportunidade de servir um pouquinho. Me emociono ao lembrar, encerra Fernanda.

Palhaço NhoqueNair Teruko

“Felicidade é certeza de que a vida não está se passando inutilmente.” (Érico Veríssimo)

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Quando o doutor Hunter Adams teve a idéia de fundar um hospital gratuito e cuidar de gente carente e doente, não imaginava que traria benefícios para milhões de pessoas espalhadas pelo mundo. A ação social que naquela época não tinha nome passou a ser denominada de trabalho voluntário. E muitos empresários passaram a adotar essa sistemática em suas empresas. O ilustre fundador ganhou vários seguidores fiéis por diversos países, como o Brasil.

Um deles é o Marcelo Ferreira, que trabalha como ponteador, na fábrica da Ford de São Bernardo. “Marcelinho” se inspirou no filme “Patch Adams”, o amor é contagiante, para iniciar seus trabalhos sociais. Fez o curso de Capelania Infantil, no Hospital das Clínicas, para aprender a lidar com crianças em diversas situações e cuidar de pacientes em estado terminal.

Palhaço Nhoque divertindo as crianças

Como o pai dos doutores, “Marcelinho” adora visitar hospitais, creches e casas de recuperação e cuidar de crianças doentes vestido de palhaço. É nessa hora que se transforma no “Nhoque”, para alegrar a garotada e distribuir bexiga e pirulito. Mas por detrás dessa máscara

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esconde um pai, preocupado com o bem-estar e a segurança da família, que não cansa de levar o filho de três anos e a filha de 11 à escola. E não mede esforços para ajudar a esposa nos afazeres da casa, que necessita de cuidados médicos, após a extração de dois tumores na tiróide.

O trabalho do palhaço “Nhoque” se assemelha ao objetivo de seu fundador, de levar carinho e atenção às populações excluídas pela pobreza, epidemia e conflito e através do riso cuidar da saúde e amenizar o sofrimento das pessoas. “Marcelinho” costuma visitar pacientes com lepra, no Hospital de Hanseníase em Sorocaba e crianças com fogo selvagem, que é uma doença que dá no corpo e a pele parece toda queimada.

“Marcelinho” não é ativista político, mas como seu mestre, luta também por um mundo mais justo. Não pode ver crianças puxando carroça que fica indignado. Pede licença e ele mesmo empurra. E pergunta:“Já tomaram café?”- Não, “tio”. Diante da negativa, “leva os pequeninos para casa, dá pão, leite e bolachas”. E faz um apelo às famílias: “nunca abandonem seus filhos, por maior que seja a dificuldade, pois nada substitui o amor dos pais”.

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Transformação: de Marcelo Ferreira à Palhaço Nhoque

Assim como seu fundador, “Marcelinho” não se limita apenas na cura através do humor, se preocupa em atingir um objetivo maior, de ajudar ao próximo com dedicação e paixão para mudar o estilo de vida das pessoas e evitar problemas. E uma forma de contribuir é divulgando seus trabalhos para jornais do bairro e televisão. A Rede Globo, a maior emissora do país, mostrou a trajetória de “Marcelinho” no programa Antena Paulista, destacando três momentos principais: ele trabalhando, se transformando no palhaço “Nhoque” e sua visita ao Hospital do Câncer ADC.

Os Bombeiros Nair Teruko

“(...)Há há há há há, mas eu tô rindo à toa, não que a vida seja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar(...)” (Música - Falamansa.)

Uma outra iniciativa inspirada no trabalhado desenvolvido pelo doutor Hunter Adams partiu do grupo de “Bombeiros” da Ford.

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Eles resolveram montar um teatro infantil, com o nome “Brincar é bom, mas não assim”, que ensinava de forma divertida a cuidar da saúde para não ficar doente. Diferente dos tradicionais doutores da alegria, o grupo procurava ajudar gente necessitada através do riso. E o meio encontrado foi a arte cênica. No palcoos personagens Buscapé, Biribinha, Dengão e Chapolim, se transformavam em palhaços e transmitiam às crianças o modo correto para não se machucar ou adquirir doenças.

A peça “brincar é bom, mas não assim” era apresentada nas escolas dos bairros pobres da periferia. O sucesso foi tanto, que a peça infantil se transformou em projeto, para atender a população carente, visando saúde, educação, segurança e bem-estar social. Da noite para o dia, os bombeiros viraram artistas e começaram a dar entrevistas para o Diário do Grande ABC, Rede Globo. E o objetivo maior do grupo começou a ficar de lado. O intuito seria continuar fazendo o trabalho do “feijão com arroz”, que estava dando certo.

O time fez apresentações por dois anos e alguns meses. Pena que o teatro acabou. O grupo se desmembrou com a saída de dois personagens principais. De qualquer forma foi considerado por vários críticos como um trabalho excepcional. Como o doutor Hunter Adams, os “Bombeiros” faziam apresentações para levantar o astral e através das gargalhadas evitar doenças.

O Humor na SaúdeLeiliane Lopes

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“O coração alegre serve de bom remédio; mas o espírito abatido seca os ossos.”Provérbios 17:22

A Terapia do Riso é um método terapêutico para tratamento de depressão, melancolia, mau humor, estresse e diversas outras doenças. Mas antes de explicar o porquê que o simples ato de sorrir pode mudar um quadro clínico, vamos analisar como um sentimento negativo pode ser transformar em uma doença dentro do corpo humano.

Acordar cedo, dormir tarde, trabalhar, pagar as contas e aumentar as dívidas. Conviver com medo, insegurança e desigualdades. O homem do século XXI é cercado por divergências que confundem as mentes causando estresse, e outras doenças. Principalmente em moradores de cidades grandes que correm contra o tempo para realizar todas as suas tarefas.

Não é difícil de encontrar logo pela manhã pessoas nervosas e muito mal humoradas. Existem vários motivos para que elas sejam assim, mas é preciso tomar muito cuidado, pois mau humor e a tristeza podem resultar em várias doenças físicas. Isso acontece porque o nosso organismo somatiza este estado negativo transformando em algo nocivo gerando enfermidades.

Adoecendo

As diferentes emoções podem ser liberadas por processos catárticos. A dor pode ser

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liberada de diversas maneiras, dependendo do tipo de emoção com a qual estamos lidando.

O ser humano foi programado para mover a dor para fora dos nossos corpos e quando não o fazemos ela cria raízes profundas nos adoecendo. Precisamos liberar emoções, movê-las para fora dos nossos corpos e fazemos isso de várias formas sorrindo, chorando, com raiva, com tristeza, alegria e etc.

O pesquisador suíço, Hans Salye disse que a interpretação do estresse é dependente não só de elementos externos, mas também da percepção individual dos eventos e do significado a eles atribuído. O modo como você percebe uma determinada situação vai determinar se você reage a ela como uma ameaça ou como um desafio. O estresse ‘mau encarado’ cria mudanças fisiológicas prejudiciais à saúde. O elo entre o estresse e algumas doenças como pressão alta, tensão muscular entre outras foi comprovado por diversas pesquisas. Quando não liberamos a dor e a tensão e a doença se desenvolve passamos a tratá-la somente com remédios que só saram os sintomas e não a raiz do problema.

Curando

O mau humor, a infelicidade, a tristeza e o medo são problemas que nascem primeiramente na mente humana e por isso pesquisadores desenvolveram técnicas que modificam estes sentimentos para que a pessoa passe a se enxergar de outra forma e tenha uma melhora significativa de suas doenças.

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É assim que terapia do riso vem sendo utilizada como método terapêutico, pois ela começa a mudar o pensamento do paciente com lições que ensinam a lidar com as adversidades retirando delas tudo o que pode ser positivo.

Podemos ilustrar esse pensamento recordando do filme “ A vida é bela” de Roberto Begnini. No filme o pai faz com que seu filho pense que estão em uma gincana fugindo totalmente do real sentido do que estavam vivendo dentro do campo de concentração.

Bill Coby dizia “ Se você pode rir de uma coisa, poderá sobreviver a ela”.

Existe uma ‘lenda’ na psicologia que diz que quando crianças damos em torno de 400 risadas por dia e quando crescemos apenas 15. A nossa cultura nos ensina que dar risada é coisa de criança e que amadurecer é sinal de ‘ficar sério’ e essa ‘seriedade’, por muitas vezes, é a causa da nossa doença. São poucos os profissionais que trabalham com essa técnica, por mais que esteja confirmada através de pesquisas que o riso auxilia na recuperação e na cura de pacientes reduzindo o tempo de tratamento e de internação em até 20% .

Conceição Trucom, cientista e consultora que recentemente lançou um CD com técnicas para se fazer a terapia do riso em casa, nos diz que é muito difícil de implantar a terapia do riso no país, em especial em São Paulo, pois não levamos a sério o fato de dar risada. “Realmente é muito difícil montar turma de Terapia do Riso aqui em São Paulo. Desde 1998 que venho tentando e não flui”, conta Trucom.

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Uma boa parte dos terapeutas contatados desconhece o assunto e até mesmos entre os psicólogos esse tema não é muito estudado. Chegamos a contatar todas as clínicas de terapias divulgadas na lista telefônica e nenhum profissional trabalhava com essa técnica ou conhecia alguém que trabalhasse com riso. “As pessoas não levam a sério essa história da Terapia do Riso, Clube do Riso e tudo mais. Poucas pessoas conhecem”, completa a cientista.

Segundo ela, muitos acreditam que se trata somente de um grupo de participantes trancados em uma sala rindo e ‘ficando alegrinho’ por uns minutos e por isso, não dão a credibilidade merecida para esse trabalho. “Então vou fazendo minha parte, escrevendo textos, divulgando minhas palestras e é assim que vai acontecendo”, encerra.

É preciso entender que o riso de que falamos não é só ficar forçando uma risada ou somente mexer os músculos da face mostrando os dentes. O riso que ‘cura’ é a resposta a um estímulo interno ou externo.

Precisamos lembrar que o riso e o choro estão localizados no mesmo lugar no cérebro, o hipotálamo. “Estimule o lugar em certa freqüência e obterá lagrimas, faça com outra freqüência e terá riso.”

Precisamos aprender a rir da dor e que é esse o grande poder do riso. Quando você muda dentro de você o sentido do problema e estimula ou percebe um outro sentido da história você poderá rir dele, como alívio ou como agradecimento.

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Mudar a visão de alguns fatos, brincar com sentidos de outros, esquecer daquilo que não se pode mudar te ajudam a desligar dos problemas da mente que te adoecem. E quando você vence, você sorri. E como esse sorriso é resposta de uma reação interna e externa ele passa a ter poder de cura.

Conceição Trucom resume a terapia do riso em “trata-se da conquista de uma mudança de contexto para com os desafios da vida. Aprender a rir dos próprios defeitos, armaduras, bloqueios e medos, é a etapa de partida para o lugar do riso.”

E agora vamos analisar fisicamente o porquê que o riso cura.

Enquanto você ri o seu corpo movimenta 28 músculos e aciona vários órgãos. Na Alemanha, uma pesquisa feita pelo Departamento de Psicologia de Dusseldorf revela que rir é tão bom quanto praticar esportes.

No cérebro o hipotálamo, centro de controle de emoções, libera do organismo a endorfina que propriedades analgésicas ajudando a relaxar e a reduzir a dor. As endorfinas são substâncias produzidas pelo corpo para aliviar a dor de ferimentos e ajudar-nos a enfrentar o estresse físico. Essas substâncias foram encontradas em todos os animais, porém nos seres humanos elas não só bloqueiam a dor como também são mediadoras das emoções.

Algumas pesquisas já realizadas descobriram que a sede das emoções e da memória do ser humano fica no ‘sistema límbico’, com seus vários núcleos e que está situado na região cerebral chamada hipotálamo que está

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conectado com a neuro-hipófise, glândula que atua como maestro do sistema.

A boca e os olhos passam a liberar imunoglobina, um anticorpo que aciona e melhora a função imunológica, através da saliva e das lágrimas liberadas durante o riso e isso defende o nosso corpo contra algumas infecções virais e bacterianas.

O coração passa a bater mais rápido, as artérias se dilatam provocando uma sensação de bem estar.

Os pulmões expelem enormes quantidades de ar em grande velocidade alterando a quantidade de peptidios (substancias cerebrais, por exemplo a endorfina) produzidos pelo corpo. O ar expelido oxigena o corpo e isso é bom para melhorar a boa forma aeróbica.

O riso também possui um efeito antiinflamatório em juntas e ossos; ele pode reduzir a inflamação e aliviar a dor em condições artríticas. Norman Cousins testou nele mesmo essa técnica e descobriu que em cada 10 minutos de risada autentica ele tinha um efeito analgésico de pelo menos duas horas.

Experiências mundiais têm mostrado que o bom humor, ou melhor, estados de alegria provocam uma maior produção de serotonina e outros neuro transmissores sustentado um bem estar.

Pesquisadores da Universidade Yale, EUA, conduziram um estudo que mostrou que nossas expectativas em relação à velhice determinam o modo como envelheceremos. Para esse resultado foram entrevistados 660 homens e mulheres com

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mais de 50 anos. Todos eles haviam sido entrevistados 23 anos antes.

Entre as perguntas do questionário estava esta: “A medida que os senhores ficam mais velhos, a vida fica melhor, pior ou igual ao que imaginavam quando eram jovens? Ao comparar os depoimentos do passado com óbitos registrados no grupo, os pesquisadores perceberam que aquelas pessoas com uma visão mais otimista da velhice tendiam a viver, em média, sete anos e meio a mais que os pessimistas.

As emoções positivas inibem a produção de dois hormônios que são danosos à saúde quando produzidos em excesso: o estradiol e a adrenalina que baixam o sistema de defesa do organismo, propiciando o aparecimento de infecções e dificultando o tratamento de uma série de doenças.

Além disso, o hábito de sorrir enrijece os músculos do rosto evitando rugas. Será que você precisa de mais algum outro motivo para sorrir?

Alguns autores da risoterapia pedem para que sejam anotados em um papel todos os motivos que te fazem sorrir, mais ou menos assim: dou risada quando alguém tropeça, quando alguém fala algo errado, quando penso lembro de alguma situação inusitada, quando ouço piada, quando me sinto aliviada, quando estou com as pessoas que amo, quando vejo uma criança sorrindo, quando vejo o sol nascer, quando está chegando o final de semana, etc.

O simples fato de ser alegre já faz com que seja transmitindo a alegria para outras pessoas. Afinal, a terapia do riso envolve uma comunicação interna e com as pessoas à sua volta. Não

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podemos esquecer que o riso é uma comunicação universal.

Como já citamos essa terapia vai alterar os pensamentos e a forma de ver e conviver com o mundo. A alegria é uma emoção que vem da nossa alma e por isso precisa ser exercitada. Use então a lista de coisas que te fazem rir e pratique.

Normam Cousing teve um diagnostico de que sofria com uma doença degenerativa na coluna vertebral, e depois de ficar muito tempo internado, recebeu alta médica alegando ter poucos dias de vida. Não contente com essa sentença se mudou para um hotel onde recebia amigos e passava o tempo assistindo filmes engraçados, conversando e jogando carta, coisas que o faziam dar risada e isso lhe dava ânimo, aumentava o apetite e assim melhorou sua saúde, tanto que foi falecer somente aos 75 anos de idade em 1990.

Brinquedoteca GRAAC

Sheil

a Carvalho

Magia e sonho, uma forma de apagar ou esquecer

os pesadelos.

“A felicidade vai em direção aos que sabem rir”

(Provérbio Japonês)

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O Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAAC) é uma instituição sem fins lucrativos e foi criado para garantir aos pacientes o direito de alcançar todas as possibilidades de cura com qualidade de vida. Em parceria com a comunidade foi criada dentro do GRAAC uma sala de espera diferenciada: a Brinquedoteca Terapêutica.

A Brinquedoteca é um ambiente de descontração e relaxamento aonde os pacientes e seus acompanhantes aguardam consultas e procedimentos. A sala é dividida em cantos e cada um deles é caracterizado por tema:

Canto do bebê: brinquedos e atividades direcionadas à crianças de 7 meses a 3 anos.

Canto da imaginação: fantasias, perucas, maquiagem e um palco. Nesse espaço as crianças podem inventar brincadeiras e montar pequenas apresentações teatrais.

Canto da leitura: uma pequena biblioteca. Tem livro para diferentes públicos e além dos livros, há também revistas atuais para os pais.Canto do adolescente: computadores e vídeo game para os pacientes mais velhos. É o local mais cobiçado, não só pelos adolescentes, mas pelas crianças também.Videoteca: desenhos animados, documentários e filmes. Há empréstimos de livros e vídeos.

Os pacientes que ficam impossibilitados de acompanhar o ano letivo, podem ter a reposição de aula no GRAAC. A escola do paciente informa ao GRAAC o que a classe está aprendendo e envia para o professor do grupo de apoio o material de estudo necessário para o paciente acompanhar a aula. Os professores do GRAAC

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trabalham voluntariamente.Todos os meses a brinquedoteca recebe

um profissional para ensinar os pacientes. São oficinas de arte, música, origami e uma direcionada para as mães. Os materiais produzidos são vendidos em bazar para arrecadar fundos.

Não há regras estipuladas. As crianças ficam livres para qualquer atividade, com exceção da hora do estudo que deve ser cumprida. Todos ficam à vontade para se distrair como querem, aproveitando ao máximo o espaço oferecido.

A brinquedoteca é um ambiente tranqüilo e que faz com que pareça uma sala de espera como outra qualquer. As crianças ficam livres e alegres, o que traz um ar especial para o lugar. Só dá para notar que é uma sala especial quando se conversa com uma mãe ou pai. Em instantes seus olhos enchem-se de lágrimas e a emoção fica transparente em seus rostos e por isso preferem não falar sobre o assunto. Ficam lá observando seus filhos, como se estivessem esperando uma consulta normal para o tratamento de uma doença rotineira e comum.

Os voluntários sentem-se gratificados por contribuir com um projeto grandioso e sem compromisso com lucros. O objetivo principal do GRAAC e da Brinquedoteca é oferecer uma boa qualidade de vida aos seus pacientes e que estes possam viver normalmente, independente do estágio da doença, que eles possam levar uma vida normal como qualquer um. Eles recebem também, regularmente, a visita da ONG Arco Íris, que leva alegria, espetáculos, brincadeiras entre outras atividades. Todos os profissionais que

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trabalham com o GRAAC contribuem para que o objetivo principal do grupo seja alcançado.Entre os serviços oferecidos pelos profissionais estão as oficinas psicopedagógicas, orientação psicológica ao pais, brincadeiras orientadas e atividades lúdicas durante a internação. Através da psicologia é desenvolvido projetos multidisciplinares importantes para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e envolve a preparação para procedimentos com a utilização de um boneco terapêutico e o projeto profissionalização, direcionado para os adolescentes.

Para os pacientes que estão internados ou em sessão de quimioterapia, aonde devem ficar imóveis durante certo tempo, há a briquedoteca circulante. São carrinhos de brinquedos, organizados e limpos diariamente, e circulam entre os andares de internação. Essa é mais uma forma de transformar um ambiente de clima pesado em algo mais leve e aconchegante.

Atualmente a Brinquedoteca Terapêutica, que está em parceria com o Instituto Ayrton Senna, conta com uma equipe de dois profissionais: Patrícia Pecoraro, coordenadora do local e Dora Saggese, pedagoga e uma equipe de trinta e seis voluntários.

Um remédio chamado alegr iaPriscilla Bassani

“Caridade é um sentimento de compaixão ou uma ação altruísta de ajudar ao próximo sem qualquer tipo de recompensa.” (Wikpédia)

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O livro conta diversas histórias mostrando o ato de amor ao próximo, onde seus protagonistas são voluntários com o propósito de levar alegria nos hospitais, trabalho já antigo e que tem como percussor Patch Adams, já citado no decorrer do livro,o homem que tem uma enorme paixão por sua missão de ajudar pessoas.

Hospitais, asilos, orfanatos... esses são os lugares que fazem o papel de picadeiro para esses palhaços voluntários. A missão é a mesma dos colegas de circo: levar alegria e bom-humor aonde quer que estejam. E começa do mesmo jeito... Respeitável público, vamos apresentar...ele usa nariz vermelho, sapatos enormes, perucas, fazem trapalhadas, e não importa o tamanho ou a idade dos presentes, mas sim o sorriso estampado no rosto de cada pessoa, e com eles por perto a alegria está garantida. Eles fazem de tudo para o hospital transforma-se no melhor picadeiro para se levar a alegria, através de um trabalho muito sério, e com uma receita milagrosa para a cura: uma pequena mistura de palhaçada com o dom de um verdadeiro palhaço, que leva a felicidade e a solidariedade refletida no rosto de cada um presente.

Atualmente brincam e atendem nos hospitais, milhares de voluntários anônimos pelas mais variadas causas e iniciativas. São jovens, universitários, empresários, professores e pessoas da terceira idade, que de alguma forma querem uma transformação social para construir um país melhor. Existe cerca de 180 grupos que realizam esse trabalho no Brasil, dentre eles Doutores da Alegria citado em páginas anteriores, Canto Cidadão e outros que preferem não divulgar seu

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trabalho ou fornecem informações desde que pacientes e doutores sejam divulgados de maneira anônima. O atendimento é realizado sob orientação médica de cada hospital, de modo que esse trabalho não traga nenhum risco ou inconveniência nos tratamentos em processo.

Esses são os verdadeiros palhaços solidários, são pessoas que dedicam uma parte do seu dia para ajudar ao próximo e às vezes até deparam-se com momentos complicados, como lidar com a situação dos enfermos e do ambiente hospitalar. Muito natural sabendo que todos que estão presentes naquele ambiente ficam com os pensamentos limitados entre a vida e a morte, a esperança e a desilusão, este paradoxo é o grande desafio desses verdadeiros “doutores” e, o qual, eles enfrentam com maestria sem igual.

Atuar no universo de enfermos exige mais que a palhaçada, mas também mergulhar nessa realidade, se esforçar, ter dedicação, com uma enorme necessidade de preparo, sensibilidade e bom senso em qualquer momento que irá atuar. O “doutor palhaço” é aquele que em primeiro lugar está entregue de corpo e alma em todos os momentos sem pensar ou medir os riscos e sempre respeitando os limites do próximo. A partir deste momento ele fará de tudo para não causar problemas e como resultado enxergar vida em pessoas especiais. Como no caso relatado por uma voluntária do grupo canto cidadão, no depoimento abaixo, onde demonstra sua emoção ao realizar seu trabalho com uma criança portadora da Sindrome de DOWN.

“Fiquei muito emocionada com o depoimento do Dr.Pepe ! Obrigada Também

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gostaria de registrar uma experiência. Terça feira, no Hospital Alexandre Zaio (Zona Leste), passando pela Enfermaria, Dr.Carcará e eu fomos presenteados por um anjo abençoado de nome X, portador da Síndrome de DOW que nos recepcionou em seu leito com braços abertos e sorriso nos lábios, nos contou muitas piadas, imitou boneco ventríloquo, Silvio Santos na Tele Sena Premiada, Gil Gomes, etc, demos muita risada !! foi muito gratificante. Tivemos sorte de encontrar o Anjo X, para falar a verdade, Carcará e eu, estávamos um pouco sem saber o que fazer ao ver no Pronto Socorro, rostos desamparados, desde cedinho a espera de um clínico que não apareceu ! fato constante naquele local. Para não estender muito, Anjos com simples gestos, alimentam nossas esperanças” (Depoimento de Doutores Cidadãos) Um dia lindo, quente, quando em segundos surge um cenário diferente, uma pessoa triste, quieta, sozinha e o dia tornou-se totalmente o contrario do que foi visto minutos atrás.”Mas isso pode melhorar, essa é a função do palhaço no hospital” comenta o doutor-palhaço Daniel.A vida é curta e precisamos viver com alegria a cada minuto...

“Infelizmente, tive um problema de saúde e não pude comparecer a um processo seletivo para participar como voluntaria de uma organização . Inexplicavelmente, sem nenhum histórico que justifique, sofri um AVCI aos 39 anos de idade. Fiquei sem os movimentos do lado direito. Fiquei internada no Hospital Santa Paula por 14 dias. Foi um período difícil, que enfrentei com coragem, graças a minha fé em Deus e a alguns “anjos” que ELE colocou no meu caminho. Alguns deles

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estavam disfarçados de dedicados e carinhosos enfermeiros cujos nomes foram gravados para sempre num cantinho especial do meu coração. Mas teve um anjo especial que me visitou disfarçado de Dr.Parmegianequito do Canto Cidadão!Me fez rir, esquecer por um momento de meus problemas, me senti única e tive vontade de viver e recomeçar. Uma honra! Foi muito gratificante poder ver de perto esse trabalho que tanto admiro. Tive seqüela na perna direita, mas já voltei a andar e estou fazendo fisioterapia e eles sempre me vistam graças a ajuda deles estou me recuperando”. ( Depoimento de paciente)

Quando pacientes são tratados somente o corpo o resultado pode ser positivo ou negativo, mas quando a alma é tratada com carinho e afeto de um outro ser humano,sempre será positivo , mesmo que seja muito dolorido. Fazer parte do processo de transformação e evolução de um ser humano é presente divino, principalmente para quem se entrega e faz por merecer a receber esse presente. Assim como diz a frase de Adams:

Esse é um desafio divino com recompensa divina, pela capacidade que o voluntário possui de oferecer oportunidades de recuperação, caminho de evolução. Pois não é só o paciente que se alegra com a presença dos palhaços, como relata a filha de uma paciente que acompanhava sua mãe todos os dias até a sua melhora...

“No dia em que os doutores-palhacos foram visitar minha mãe no HSPM (Hosp. Servidor Público Municipal de São Paulo) vi o quanto o trabalho deles ajuda na recuperação dos pacientes, e também como eles conseguiram dar a chance de minha mãe mostrar um pouco do seu

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talento e isso fez com que a auto estima dela se elevasse a ponto de me comover com tamanho poder que tem esse tratamento. Minha mãe foi cantora das "Irmãs Galvão", quem a conheceu foi o Clerson. Não sei se ele vai se lembrar afinal são tantas pessoas que tem o privilégio de ter a presença desses voluntários nas horas difíceis da vida mas eu sei que este dia foi muito especial pra todos na minha família e eles foram o assunto de uma reunião de família que foi feita logo depois que minha mãe teve alta admiro muito o trabalho de vocês. Que Deus abençoe cada um de desses voluntários”. Este é o sentido do trabalho dos voluntários, sensibilizar as pessoas a aplicarem essa dose de entusiasmo e animação aos seus sonhos, pois dessa maneira é possível colocar em prática aquilo que se acredita. E para que tudo fique maravilhoso, divertido e descontraído os palhaços utilizam diversas maneiras de brincar são utilizados brinquedos, técnicas de mágicas, malabarismo, teatro, tudo que puder para ser engraçado e atrair atenção e risos dos pacientes, além de músicas e uso de improvisações.

“É muito fácil perceber que o paciente melhorou, pela sua expressão percebe-se o sorriso, troca de olhares verdadeiros com os palhaços, tudo de modo que não estivessem no hospital e sim no circo”. ( Enfermeira ) São depoimentos como esse que enche de entusiasmo os voluntários para invadir os hospitais com a certeza de que o carinho, a alegria, o respeito e a cidadania são tão importantes para a cura quanto os medicamentos tradicionais.

“Sou filha de uma paciente que esteve internada no hospital Perola Bayton. Deus

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transformou no dia 21/05/2006 a minha mamãe em uma estrela. Foram 4 meses de batalha e muito sofrimento. Mas tudo terminou de uma forma que não aceitei até hoje, mas terminou.

Senti-me impotente, vi que minhas mãos só podiam dar carinho, e eu só podia falar palavras de consolo. Porque só Deus tem o poder de mostrar nosso destino.Mas uma coisa eu quero declarar aqui, que mesmo diante de todo este sofrimento, ela sempre esperava por uma turma de palhaços que ia visita-la, queria saber que hora e dia iriam passar no quarto. Vocês deram a minha mãe no hospital momentos de alegria e esperança. Eu vi nos olhos dela o brilho de felicidade, quando os anjos chegavam no quarto. Vou agradecer sempre por isso.

Parabéns pelo trabalho realizado por esses voluntários e por fazer as pessoas sorrirem.Mesmo que seja o último sorriso”. (Depoimento de acompanhante de enfermo)

Os palhaços nos hospitais mostram o trabalho, a alegria contagiante, a garra, vontade, iniciativa e coragem de fazer algo pelo próximo, com a presença marcante e com algo mais, da vida que todos eles exalam.Motivando todos a saírem do comodismo e colocar velhos sonhos adormecidos em prática.

A alegria no rosto dos pacientes desprovidos de saúde, de afeto, de amor é instantânea e mostra que a força da mente para o processo de reabilitação é muito importante. O riso sincero cura qualquer doença, mas a tristeza e o mau humor podem afetar a saúde física, sendo uma vibração muito destrutiva.O bom humor ajuda

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na cura e previne doenças. Rir é o melhor remédio para o corpo e o espírito.

A presença do palhaço traz alegria para todos que estão nos hospitais. Segundo a enfermeira Sara, funcionária do hospital Santa Marcelina, as mães sempre revelam a ela que após as sessões apresentadas pelos voluntários, as crianças ficam mais alegres, sorridentes, com menos medo da internação, fora a extrema importância que eles tem para elas mesmas, como o alivio e conforto.

“Quando os palhaços entraram na enfermaria reparei somente em uma criança, era o caso mais grave, ela estava com câncer e não queria passar por sessões de quimioterapia.A mãe da criança chorava o tempo todo ao ver o sofrimento da filha, com a presença dos palhaços, a criança começou a sorrir e pude seguir meus procedimentos de enfermagem sem que ela derrubasse uma lagrima sequer.Notei também o envolvimento da mãe com os voluntários, então isto, alem do efeito positivo na criança , também repercute na mãe, ela relaxou e isso é muito importante para criança ela se sente mais confiante, os o trabalho desses voluntários consegue humanizar o atendimento e ameniza o ambiente.” (depoimento da enfermeira Sara)

O palhaço tem o dom de fazer as pessoas a perceber o mundo real através do que elas sentem, ensinando a rir de si mesmo, mesmo ele sendo desastrado e sempre derrotado, ele nunca desiste de tentar, assim como o paciente nunca deve deixar de tentar lutar pela sua vida. Ele ameniza a dor do paciente, transforma todo aquele cenário medonho em um dia de festa, de

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comemoração, chama a atenção daquilo que ainda está saudável no indivíduo doente, brincar devolve a força que é algo que todo ser humano precisa na luta contra a doença, mesmo que não possa ser de maneira objetiva, no plano subjetivo, o paciente não se sente tão fraco, pois está fazendo o que todo o ser humano sabe e pode fazer: sorrir.

Sorrir, gargalhar vale mais que qualquer remédio milagroso contra depressão, tristeza, tédio, solidão, medo, reações que os pacientes tendem a ter dentro de um hospital, sua eficácia tem poder de ressuscitar um paciente desanimado. Um bom sorriso sempre vem acompanhado de descontração, amor e alívio, nada melhor que a presença de um palhaço para ajudar na cura desses sentimentos.

Eles nos dizem palavras de incentivo, nos fazem perceber que vale a pena viver, vale a pena recomeçar. Pessoas precisam muitas vezes mais de atenção do que de medicamento, por isso os médicos podem contar com a ajuda desses voluntários ou ate mesmo desenvolver esse trabalho tornando-se um, preocupando-se em cuidar da família e do paciente e não só das doenças. Os “doutores palhaços” tem como meta livrar as pessoas do sofrimento, pela cura interior.

Então sempre sorria você esta sendo curado, este é trabalho dos voluntários que trabalham todos os dias em hospitais para levar a alegria. O depoimento abaixo revela a alegria de ser um voluntário.

“Foi incrível o meu plantão no hospital, pude rever alguns pacientes que já havia conhecido no plantão anterior. Um deles o Sr.

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Conrado, foi vitimado de um derrame cerebral e está por hora, impossibiliado de falar e se movimentar, porém os seus olhos(que coisa linda!) são capazes de expressar tudo aquilo que ele quer exteriorizar, ele é muito fofo e receptivo. Na semana passada ao contrário da primeira visita ele estava só e não tínhamos a filha como interlocutora da ultima vez cheguei pertinho dele e perguntei: - lembra de mim bebezinho? Ele sorriu com olhos e afirmou que sim fechando as pálpebras. Disse a ele baixinho: - Esta sua folga vai acabar , logo voce ficará bem e vai voltar pra casa. Chega de moleza!Ele começou a rir e para o estado que ele estava eu diria que ele gargalhou, foi maravilhoso para mim, a melhor recompensa.Meu coração ficou tão preenchido de amor que me sinto a pessoa mais feliz do mundo”. (depoimento de voluntária)

O sonho do “doutor palhaço” é sempre levar a alegria e a cidadania que correm nas veias de todos voluntários a todos os cantos do país. Desenvolvendo isso passo por passo, riso por riso.

“Hoje minha manhã foi bastante corrida, mas a minha tarde compensou qualquer sacrifício. Ainda sinto no coração a euforia, alegria, emoção, satisfação em ter me tornado uma Doutora Palhaça. É um misto de sentimentos que me faz refletir em como a vida tem sido boa comigo. Depois de um período de dificuldades, angústias, dúvidas, separação... descobri como um sorriso, um olhar, um pequeno gesto de solidariedade podem fazer a diferença. Aprendi que VIVER é simples, é bom, é gratificante, basta sentirmos que a cada nascer do sol, que a cada entardecer, a

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cada estrela que surge no céu, nós estamos vivos, respirando, tendo pessoas que amamos ao nosso lado e que, apesar dos problemas, que nos impulsionam a continuar, nós somos especiais. Tenho certeza que meus objetivos serão cumpridos e que eu serei muito feliz! Um super beijo no coração de cada um e no nariz de seus respectivos palhaços, alegria a todos” (depoimento de voluntário)

Giorgio Rocha

Trabalho atualmente como assessor de imprensa dos Trovadores Urbanos. Sou recém formado em jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Escolher o tema para o trabalho de conclusão de curso não foi uma tarefa fácil, da mesma forma que se tornar um jornalista não é algo simples de

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se alcançar. O tema do nosso livro é a terapia do riso, pela mídia conhecemos um pouco sobre este assunto, e com o nosso trabalho de conclusão de curso pretendemos mostrar que a terapia do riso tem muito mais a ser descoberto.

Leiliane Lopes

Recém formada em jornalismo pela Universidade São Judas, paulista, 21 anos, é repórter de uma revista e site de música. Confesso que no começo não gostei do tema, mas pelas pesquisas feitas e as entrevistas tive um contato maior com a Terapia do Riso e passei a aplicar em mim e a ensinar para meus familiares

que esse método de tratamento psicológico é muito simples e faz muito bem.

Mayara Vellardi

Minha decisão em fazer jornalismo foi por alguns motivos, sempre gostei muito de escrever e de falar, principalmente de aparecer. Com o passar do curso aprendi que o jornalismo possui diversas vertentes. Há espaço para todos, desde os tímidos até os que adoram aparecer,

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como eu por exemplo! Tem a assessoria de imprensa, ramo que estou trabalhando com muito gosto, na qual ajudo a desenvolver a imagem da cantora Monique Angel. Para mim o jornalismo não é só uma profissão e sim um estilo de vida!

Nair Teruko

Trabalho há anos numa grande multinacional, cuja área é composta de governo, imprensa e relações públicas. Sou formada em letras e agora em Jornalismo. Muitas vezes, ser comodista pode provocar atraso no desenvolvimento profissional, em outras, é uma questão de tempo, esperar e agir no momento certo, ou de

berço, que passa de pai, para filho e netos, ou ainda, ter pessoas influentes, que nos ajudem a progredir na vida.Priscila Bassani

Nasci em São Paulo, 21 anos, descendente de português e italiano, herdei esse temperamento forte e decidido. Estou terminando o curso de jornalismo na Universidade São Judas Tadeu e trabalho também como administradora de empresas. Adoro escrever quando trabalho e livremente nas

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horas vagas, no decorrer do curso de jornalismo adquiri muitos conhecimentos para aprimorar mais o meu modo de escrever,costume que tenho desde adolescente, que começou com cartinhas e foi evoluindo ao longo dos anos.

Sheila Carvalho

Gosto de ouvir histórias, gosto de escrever, as notícias mudam a cada instante, pronto, achei o que procurava. Não tenho experiência alguma. Já escrevi para alguns sites de televisão, mas nada demais. Não sei se posso considerar a faculdade como experiência, mas acredito que vou chegar lá e mudar algo,

pode não ser o mundo, mas já fico feliz de mudar o bairro onde moro.

Agradecimentos:

Agradecemos a Deus, às nossas famílias e aos nossos amigos pelo apoio e colaboração. Agradecemos também aos professores, pois desempenharam um árduo trabalho junto conosco nesse período de 4 anos. Hoje, concluímos mais essa etapa de nossas vidas, agora seguiremos como jornalistas formados para o imenso mercado de trabalho.

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Page 71: Rir é o melhor remédio

Rir é o Melhor Remédio

Bibl iografia:

Masetti, Morgana - Soluções de Palhaços.

Masetti, Morgana – Boas Misturas.

Lambert, Dr. Eduardo – A Terapia do Riso / A cura pela alegria.

Funes, Mariana – O Poder do Riso / Um Antídoto Contra a Doença.

Masetti, Morgana e Lopes, Edson – Boca Larga.

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