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06 VENERDI 7 aprile 1595 la Nuova VENEZIA CORSÁRIO ANGLO-AMERICANO SAQUEIA CIDADE BRASILEIRA O soldado, comerciante e navegador James Lancaster, nascido na colônia do Reino Unido na América do Norte, foi contratado pela Coroa Britânica como corso. No último dia 29 de março o corsário invadiu o porto de Recife, no Bra- sil. Segundo as primeiras informações, tem empreendido saques constantes às riquezas da terra, pertencente à Coroa Portuguesa. Lancaster levou para a empreitada seu navio e mais outros doze, alugados. James Lancaster chegou a morar em Portugal como soldado britânico. Quando começou na área do comércio, foi o res- ponsável por um entreposto em Portugal. Em 1591 fez sua primeira viagem à Índia, como comandante inglês. Ele foi o primeiro comandante de armadas corsárias da Coroa Inglesa, retornando à Inglaterra ano passado. Especula-se que será promovido a diretor da Companhia das Índias Ocidentais, por conta de seus serviços prestados à coroa inglesa. Nasceu! A casa Doni celebra o nascimento de seu fi- lho, Giovanni Battista Doni, ocorrido no dia 13 de março próximo passado. Outra família que está feliz com nascimento é a Ughelli. O filho, Ferdinando, chegou no dia 21 de março úl- timo Cartório de Veneza registra acordo inusitado MULTA PARA NÃO PAGAMENTO É DE QUASE MEIO QUILO DE CARNE HUMANA; TESTEMUNHAS DIZEM QUE REVIDE CONTRA PRECONCEITO ANTISEMITA MOTIVOU IDEIA DA PENALIDADE INÉDITA Por Samuel Lima O cartório de Veneza registrou nesta sexta-feira (7 de abril) um empréstimo de cunho, no mínimo, inusitado. O registro de um empréstimo de três mil ducados chamou a atenção do funcionário do cartório central de Veneza, Izidório, que, após publicar o acordo no placar em frente ao órgão, resolveu chamar a impren- sa para dar publicidade ao fato e evitar um tumulto ainda maior que o que tem se formado em frente ao cartório por conta do acordo. Conforme o documento publicado, o empréstimo será por três meses, mas a multa em função de um eventual não pagamento será de quase meio quilo de carne humana (uma libra), retirada de qualquer parte do fiador pelo credor. Segundo Izidório, é comum o registro de negócios relacionados com emprésti- mos, mas esta foi a primeira vez que alguém estipulou a multa em carne huma- na. “Geralmente, ao lermos os termos do acordo, costumamos encontrar – vez ou outra – alguma coisa que fere nossa legislação; mas esta – a da multa em carne humana, uma libra para ser mais específico, não há precedentes”, contou o servidor cartorial. PRECONCEITO – Segundo relatos de testemunhas do momento da negocia- ção, o acordo foi feito entre o judeu Shylock e Bassânio, sendo que este último tem Antônio por fiador. As testemunhas, que não quiseram revelar o nome, disseram que o fiador e o judeu haviam metido-se em rusgas dias antes, com o primeiro cuspindo na cara do semita e o tratado com preconceito por ser ele judeu. Entretanto, ao colocar-se como fiador de Bassânio, Antonio teria assim permiti- do que Shylock encontrasse o momento perfeito para revidar, de forma legal, o preconceito que sofrera. As testemunhas também informam que Antônio é um concorrente de Shylock na área de empréstimos em Veneza, e que este estaria atrapalhando os negócios do judeu por não cobrar juros. BATALHA JUDICIAL – O jurista Bertoldo, consultado pela nossa reportagem prevê que haverá uma batalha judicial em torno desse acordo. Embora ele seja legal, diz o causídico, na lei de Veneza não é permitido que um homem sangre o outro, o que tornaria impossibilitada a tentativa de tirar uma libra de carne de Antonio. Para o jurista, o embate pode gerar muitos problemas para a área jurídica. Mas ele diz que é preferível aguardar o final do prazo e aguardar pelo que vai acon- tecer. “Vamos ver se Bassânio e Antonio conseguem pagar, senão...”, finalizou. O agiota Shylock, estipulou multa para o não pagamento de um empréstimo em carne humana, retirada do fiador, ainda vivo! Bassânio (esquerda) com o amigo e fiador Antonio, firmaram o contrato nesta quarta, no cartório central de Veneza

(Trabalho acadêmico) Jornal Folha de Veneza

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06VENERDI7 aprile 1595

la NuovaVENEZIA

CORSÁRIO ANGLO-AMERICANO SAQUEIA CIDADE BRASILEIRA

O soldado, comerciante e navegador James Lancaster, nascido na colônia do Reino Unido na América do Norte, foi contratado pela Coroa Britânica como corso. No último dia 29 de março o corsário invadiu o porto de Recife, no Bra-sil. Segundo as primeiras informações, tem empreendido saques constantes às riquezas da terra, pertencente à Coroa Portuguesa. Lancaster levou para a empreitada seu navio e mais outros doze, alugados.

James Lancaster chegou a morar em Portugal como soldado britânico. Quando começou na área do comércio, foi o res-ponsável por um entreposto em Portugal. Em 1591 fez sua primeira viagem à Índia, como comandante inglês. Ele foi o primeiro comandante de armadas corsárias da Coroa Inglesa, retornando à Inglaterra ano passado. Especula-se que será promovido a diretor da Companhia das Índias Ocidentais, por conta de seus serviços prestados à coroa inglesa.

Nasceu!A casa Doni celebra o nascimento de seu fi-lho, Giovanni Battista Doni, ocorrido no dia 13 de março próximo passado.

Outra família que está feliz com nascimento é a Ughelli. O filho, Ferdinando, chegou no dia 21 de março úl-timo

Cartório de Veneza registra acordo inusitadoMULTA PARA NÃO PAGAMENTO É DE QUASE MEIO QUILO DE CARNE HUMANA; TESTEMUNHAS DIZEM QUE REVIDE CONTRA PRECONCEITO ANTISEMITA MOTIVOU IDEIA DA PENALIDADE INÉDITAPor Samuel Lima

O cartório de Veneza registrou nesta sexta-feira (7 de abril) um empréstimo de cunho, no mínimo, inusitado. O registro de um empréstimo de três mil ducados chamou a atenção do funcionário do cartório central de Veneza, Izidório, que, após publicar o acordo no placar em frente ao órgão, resolveu chamar a impren-sa para dar publicidade ao fato e evitar um tumulto ainda maior que o que tem se formado em frente ao cartório por conta do acordo.

Conforme o documento publicado, o empréstimo será por três meses, mas a multa em função de um eventual não pagamento será de quase meio quilo de carne humana (uma libra), retirada de qualquer parte do fiador pelo credor.

Segundo Izidório, é comum o registro de negócios relacionados com emprésti-mos, mas esta foi a primeira vez que alguém estipulou a multa em carne huma-na. “Geralmente, ao lermos os termos do acordo, costumamos encontrar – vez ou outra – alguma coisa que fere nossa legislação; mas esta – a da multa em carne humana, uma libra para ser mais específico, não há precedentes”, contou o servidor cartorial.

PRECONCEITO – Segundo relatos de testemunhas do momento da negocia-ção, o acordo foi feito entre o judeu Shylock e Bassânio, sendo que este último tem Antônio por fiador.

As testemunhas, que não quiseram revelar o nome, disseram que o fiador e o judeu haviam metido-se em rusgas dias antes, com o primeiro cuspindo na cara do semita e o tratado com preconceito por ser ele judeu.

Entretanto, ao colocar-se como fiador de Bassânio, Antonio teria assim permiti-do que Shylock encontrasse o momento perfeito para revidar, de forma legal, o preconceito que sofrera. As testemunhas também informam que Antônio é um concorrente de Shylock na área de empréstimos em Veneza, e que este estaria atrapalhando os negócios do judeu por não cobrar juros.

BATALHA JUDICIAL – O jurista Bertoldo, consultado pela nossa reportagem prevê que haverá uma batalha judicial em torno desse acordo. Embora ele seja legal, diz o causídico, na lei de Veneza não é permitido que um homem sangre o outro, o que tornaria impossibilitada a tentativa de tirar uma libra de carne de Antonio.

Para o jurista, o embate pode gerar muitos problemas para a área jurídica. Mas ele diz que é preferível aguardar o final do prazo e aguardar pelo que vai acon-tecer. “Vamos ver se Bassânio e Antonio conseguem pagar, senão...”, finalizou.

O agiota Shylock, estipulou multa para o não pagamento de um empréstimo em carne humana, retirada do

fiador, ainda vivo!

Bassânio (esquerda) com o amigo e fiador Antonio, firmaram o

contrato nesta quarta, no cartório central de

Veneza