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Rbso 111 volume_30

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Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro do Trabalho e EmpregoLuiz Marinho

FUNDACENTRO

PresidentaRosiver Pavan

Diretor ExecutivoAntônio Roberto Lambertucci

Diretora TécnicaArline Sydneia Abel Arcuri

Diretora de Administração e FinançasRenata Maria Celeguim

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Conselho EditorialArline Sydneia Abel ArcuriÁlvaro César RuasEduardo AlgrantiLuiza Maria Nunes CardosoJorge da Rocha GomesAlice A. Malta ChasinCarlos Minayo GomesLeny SatoPaulo Pena

Editor CientíficoDorival BarreirosJosé Marçal Jackson Filho

Editor ResponsávelJosé Carlos Castilha Crozera (Mtb 14.612)

Indexado por- Base de dados da Fundacentro especializada em Saúde eSegurança no Trabalho;- OSH-CISILO (Canadian Centre for Occupational Health andSafety. Canadá);- AD Saúde Administração de Serviços de Saúde.Responsabilidade do Serviço de Biblioteca e Documentação daFaculdade de Saúde Pública da USP em parceria com outrasinstituições da sub-rede AdSaúde;- Safety and Health at Work ILO-CIS—BULLETIN (InternationalLabour Office)

As opiniões emitidas pelos autores são de sua inteiraresponsabilidade. A reprodução total ou parcial, com mençãoobrigatória da fonte, é permitida somente quando não sedestina a fins comerciais.Solicita-se permuta / Solicita canjeImpresso em março de 2006

Rio Grande do SulAvenida Borges de Medeiros, 659 – 10º andarCEP 90020-023 – Porto Alegre – RSFone/Fax (51) 3225.6688e-mail: [email protected]

Rio de JaneiroRua Rodrigo Silva, 26 – 5º andarCEP 20011-902 – Rio de Janeiro – RJFone (21) 2508.6833Fax (21) 2508.8548e-mail: [email protected]

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Expediente

A Revista Brasileira de SaúdeOcupacional (RBSO) é uma publicaçãocientífica da Fundacentro que sedestina à divulgação de contribuiçõesescritas na área de segurança e saúdedo trabalho e/ou das relações entresegurança e saúde do trabalho e omeio ambiente.

Os trabalhos para publicação devem serendereçados à Fundacentro,Coordenação Editorial da RSBO/Divisãode Publicações:

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Vendas de Publicações

Fone 55 (11) 3066-6315Fax 55 (11) 3066-6316

As normas para publicação na RSBOpodem ser encontradas na últimapágina desta edição ou no endereçoabaixo:

Portal da Fundacentrowww.fundacentro.gov.br

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Editorial

A Revista Brasileira de Saúde Ocupacional chega ao seu trigésimo volume.

Tem cumprido seu papel de difundir conhecimentos científicos no campo da saúde esegurança do trabalhador (SST), sobretudo ao abrir-se a novas “representações” – acerca darelação entre saúde e trabalho, dos acidentes do trabalho e de suas causas e dos agravos à saúdee seus determinantes – mais próximas da realidade e mais efetivas para as ações de prevenção.

Constituiu-se, nesse longo período, como fórum de debates entre pesquisadores e profissionaisda área, tornando-se referência obrigatória para aqueles que militam no campo da SST.

Poder-se-ia, aqui, discorrer sobre as dificuldades e limitações enfrentadas durante esses longosanos, mas, ao invés disso, prefere-se expor alguns princípios que guiarão seu futuro, que se esperalongo. Teceremos três pontos que nos parecem essenciais dentro da política editorial atual.

Em primeiro lugar, é preciso continuar a difundir novas representações e dimensões sobre osconceitos e fenômenos que os expliquem melhor e que permitam ações preventivas efetivas. Épreciso, também, no nível editorial, adotar algumas posições claras*. Nesse sentido, por exemplo,qual deve ser a posição da revista a respeito da noção de acidente do trabalho e de suas causas?Para que isso ocorra, é fundamental abrir-se para outras disciplinas, tais como as ciências sociaise políticas, e também trazer o debate de questões atuais para o “seio” da revista.

Chega-se, então, no segundo ponto. A revista, em seus próximos números, fará “chamadasespeciais”: a primeira sobre saúde e trabalho no setor de tele-atendimento e a segunda sobre,justamente, concepções dos acidentes do trabalho. Pesquisadores com respeitabilidade serãoeditores convidados.

Nosso terceiro ponto concerne à continuidade pela busca do aumento da qualidade denossa revista. A reflexão permanente sobre nossa política editorial e a insistência no processopeer-review estão na base dessa busca.

Enfim, gostaríamos de agradecer a todas as pessoas que contribuíram por meio da submissãode artigos, dos pareceres emitidos, das atividades de organização e coordenação editorial, ouseja, de diversas maneiras para manter a credibilidade, a qualidade e o interesse de nossarevista. Dentre elas, enaltecemos a participação ativa do colega José Carlos Crozera, queinfelizmente não está mais presente entre nós.

José Marçal Jackson Filho

Dorival Barreiros

* A posição do British Medical Journal a respeito da palavra “acidente” é exemplar. Em 2001, esseimportante periódico da área médica decidiu bani-la de seus números, pois, segundo Davis e Pless (seuseditores), “um acidente é em geral entendido como algo imprevisível... e, portanto, inevitável. No entanto,a maioria dos agravos e os eventos que os provocam são previsíveis e podem ser prevenidos” (p. 1320).DAVIS, R.M.; PLESS B. Editorials. BMJ bans accidents. Accidents are not unpredictable. BMJ, vol. 322,1320-1321, 2001. O que dizer, então, a respeito da expressão “acidente do trabalho”?

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Editorial

Revista Brasileira de Saúde Ocupacional comes to its thirtieth issue.

It has played its role disseminating scientific knowledge in the field of occupational safetyand health (OSH), mainly by accepting new “models” – on the relation between health andwork, accidents at work and their causes, and about occupational illness and its causation–which are closer to reality and more effective to conduct preventive measures.

It has become not only a forum of debates for scientists and professionals of the occupationalhealth area, but also a reference for all those involved with OSH.

We could start by mentioning the difficulties and limitations we have been confronted toduring all those years, but we’d rather put forward some of the principles that will steer themagazine’s expected long lived future. Three essential aspects of the current editorial policywill be cited.

First, it is necessary to go on disseminating new dimensions and interpretations on conceptsand phenomena, which will explain them and lead to really effective preventive actions. Clearpositions* must be adopted even at editorial level. For instance, what attitude should thejournal’s have towards the concept of occupational accident and their causes? This will onlyhappen if it absorbs other subjects like social and political sciences and brings the debate ofcurrent matters to its core.

These two positions lead us to the second aspect. In its next numbers the journal willorganize “special issues” in two topics: the first on health and work on the tele-marketingsector, and the second on different concepts of occupational accidents. Well known researcherswill be invited as its scientific editors.

Our third aspect is related to the continuity of our journal’s improvement process. Thepermanent reflection on our editorial policy and our persistence in adopting the peer-reviewprocess are the roots of such a search for quality.

Finally we would like to thank everyone who helped us either by sending articles, or bycommenting them, by organizing and coordinating editorial activities and by somehowpreserving our magazine’s quality and influence. Among all of them, we want to honor thememory and active participation of our co-worker Jose Carlos Crozera who, unfortunately, hasbeen taken from us.

José Marçal Jackson Filho

Dorival Barreiros

* The position adopted by the British Medical Journal editors concerning the word “accident” is anexample. In 2001 this important journal in the medical area decided to ban it from their issues as, inaccordance to Davis and Pless (their editors), “An accident is often understood to be unpredictable ... andtherefore unavoidable. However, most injuries and their precipitating events are predictable and preventable.”(p. 1320) DAVIS, R.M.; PLESS B. Editorials. BMJ bans accidents. Accidents are not unpredictable. BMJ, vol.322, 1320-1321. 2001. So, what can we say about the expression “occupational accidents”?

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Sumário

Absenteísmo por motivos odontológico e médico nos serviçospúblico e privadopor Ronald Jefferson Martins; Cléa Adas Saliba Garbin; Artênio José Ísper Garbin; Suzely Adas Saliba Moimaz

Apresenta uma análise de dados relacionando idade, sexo, função do trabalhador e regimeempregatício à ocorrência de absenteísmo, buscando facilitar a tomada de decisões das distintasestratégias para sua prevenção.

Estudo do cronótipo de um grupo de trabalhadores em turnospor Milva Maria Figueiredo de Martino; Claudia Aparecida Rosa da Silva; Symone Antunes Miguez

Descreve as características de matutinidade/vespertinidade de um grupo de trabalhadoresem turnos de uma indústria química e identifica possíveis associações entre cronótipo eturno de trabalho.

Verificação de requisitos de segurança de tratores agrícolas emalguns municípios do estado de São Paulopor Ila Maria Corrêa; Rosa Yasuko Yamashita; André Vinícius Favrim Franco; Hamilton Humberto Ramos

Apresenta dados obtidos em um levantamento realizado com o objetivo de avaliar as condiçõesde segurança de tratores agrícolas novos e usados em alguns municípios do estado de São Paulo.

O uso das luvas de proteção no corte manual da cana-de-açúcarpor Maria Cristina Gonzaga; Roberto Funes Abrahão; Oscar Antonio Braunbeck

Avalia o impacto da utilização dos EPI durante o corte manual da cana-de-açúcar e propõemelhorias, principalmente em relação às luvas de proteção e ao cabo do facão.

Por que os motociclistas profissionais se acidentam?Riscos de acidentes e estratégias de prevençãopor Eugênio Paceli Hatem Diniz; Ada Ávila Assunção; Francisco de Paula Antunes Lima

Apresenta as características do trabalho do motociclista profissional no contexto de suarealização em uma grande concentração urbana, tendo como ponto de partida o grandenúmero de acidentes de trabalho fatais.

Exposição a agentes químicos e ruído em indústria de couropor Michel Pereira Santos; Viviane Cristina Sebben; Paulo Roberto Farenzena; Celso Felipe Descheimer; Cláudia Pereira Santos; VeraMaria Steffen

Investigação da relação entre a perda auditiva e a exposição ocupacional ao ruído e aotolueno entre trabalhadores de curtume.

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Contents

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Absenteeism in public and private jobs due to dental ormedical problems

by Ronald Jefferson Martins; Cléa Adas Saliba Garbin; Artênio José Ísper Garbin; Suzely Adas Saliba Moimaz

Analyzes of data relating the worker’s age, genre, occupation and kind of job to theincidence of absences, to help finding the correct strategy to decrease absenteeism rates.

Study of a group of shift workers’ chronotypeby Milva Maria Figueiredo de Martino; Claudia Aparecida Rosa da Silva; Symone Antunes Miguez

Typical morning / night features of a group of shift workers from a chemical industry identifypossible associations between chronotype and shift work.

Checking security requirements for tractors in some regions inthe state of São Paulo

by Ila Maria Corrêa; Rosa Yasuko Yamashita; André Vinícius Favrim Franco; Hamilton Humberto Ramos

Data obtained through a survey aimed at evaluating the safety conditions of brand new andused tractors in some farms in the state of São Paulo.

Protective gloves for manual harvesting of sugar caneby Maria Cristina Gonzaga; Roberto Funes Abrahão; Oscar Antonio Braunbeck

A study on the impact of wearing Personal Protective Equipment (PPE) for hand-harvestingsugar cane, suggesting improvements, specially when protective gloves and knife-handles

are concerned.

Why do professional motorcyclists have accidents?Accidents risks and prevention strategies

by Eugênio Paceli Hatem Diniz; Ada Ávila Assunção; Francisco de Paula Antunes Lima

Features of the professional motorcyclist’s job in a big urban concentration, taking intoaccount the great number of fatal work accidents.

Exposure to chemical agents and noise in tanneriesby Michel Pereira Santos; Viviane Cristina Sebben; Paulo Roberto Farenzena; Celso Felipe Descheimer; Cláudia Pereira Santos; Vera

Maria Steffen

Investigating the relationship between hearing loss and occupational exposure to noise andtoluene among tannery workers.

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Absenteísmo por motivos odontológico emédico nos serviços público e privado

Absenteeism in public and private jobs dueto dental or medical problems

Ronald Jefferson Martins1

Cléa Adas Saliba Garbin2

Artênio José Ísper Garbin2

Suzely Adas Saliba Moimaz3

1 Doutorando em Odontologia

Preventiva e Social pela Faculdade deOdontologia de Araçatuba, UniversidadeEstadual Paulista (UNESP).2 Professores Assistentes Doutores do

Departamento de Odontologia Infantil eSocial da Faculdade de Odontologia deAraçatuba, Universidade EstadualPaulista (UNESP).3 Coordenadora do Curso de Pós-

Graduação em Odontologia Preventiva eSocial da Faculdade de Odontologia deAraçatuba, Universidade EstadualPaulista (UNESP).

Resumo

O absenteísmo é um assunto de interesse crescente devido ao atual contextoeconômico de competitividade, que faz com que as empresas procurem meiospara diminuir sua ocorrência, aumentando a rentabilidade e com isso crescendode forma sustentada. Procurou-se estudar o absenteísmo por razões odontológicase médicas, nos serviços público e privado, analisando se a idade, o sexo e a funçãodo trabalhador, além do regime empregatício, interferem na sua ocorrência.Desenvolveu-se o estudo na prefeitura do município de Araçatuba, São Paulo,Brasil, e em uma indústria acrílica. Para a coleta dos dados, analisaram-se todos osatestados odontológicos e médicos, que deram entrada nas empresas no período dejaneiro a junho de 2002 e as listagens dos trabalhadores. Verificou-se que a faltapor motivos odontológicos tiveram pouco peso sobre o total de faltas por motivo dedoença, além de provocarem o afastamento do trabalhador por um período menor.As variáveis idade, sexo, função e regime empregatício influenciaram na ocorrênciado absenteísmo ao trabalho. A disponibilidade dessas informações deverá ser muitoimportante, pois, visto as inúmeras variáveis envolvidas, facilitarão a tomada dedecisões das distintas estratégias para sua prevenção.

Palavras-chave: absenteísmo, saúde ocupacional, saúde bucal, setores público e privado.

Abstract

Absenteeism is a subject of increasing interest. Due to the current economicalcontext based on competition, and in order to profit and grow in a sustainable way,companies have been trying to find ways of decreasing its rates. The purpose of thisstudy was to analyze how much the worker’s age, genre, occupation as well as thekind of management he is submitted to, could affect the incidence of absenteeismcaused by medical or dentistry problems in public and private services. The researchwas held at an acrylic industry in Araçatuba, a town in the state of São Paulo,Brazil. Data collecting consisted of analyzing the doctors’ and dentists’ certificatesworkers handed in to their employers, to explain their absences from work, fromJanuary to June 2002. The results showed that absences caused by dental problemswere much rarer and for a shorter period than the absences caused by medicalproblems. The workers’ age, genre, occupation as well as the kind of managementthey were submitted to, influenced the incidence of their absences from work.Making these information available is of great importance. Their different aspectswill help choosing the correct strategy to decrease absenteeism rates.

Keywords: absenteeism, occupational health, oral health, public and private sector.

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Introdução

Duas razões levam à implantação deserviços de saúde especificamente para ogrupo de trabalhadores: a melhora ou amanutenção das condições de saúde e ocontrole do absenteísmo (Pinto, 1992).

A palavra “absenteísmo” era aplicada aosproprietários rurais que abandonavam o campoe tendiam a viver nas cidades, sendo que, como advento da revolução industrial, o termopassou a ser aplicado aos trabalhadores comtendência a faltar ao serviço (Rocha, 1981).

No atual contexto econômico de compe-titividade, o absenteísmo é um motivo de interessecrescente, pois quanto menor for sua ocorrência,maior será a capacidade das empresas deaumentarem sua rentabilidade e conseguiremum crescimento sustentado (Muñoz, 1997).

Midorikawa (2000) descreve dois tipos deabsenteísmo: o absenteísmo pela falta aotrabalho e o absenteísmo de “corpo presente”.

O absenteísmo chamado tipo I (pela faltaao trabalho) é representado pela falta pura esimples do empregado ao trabalho, sendo defácil mensuração e custo calculado. Leva àperda de produção das horas não trabalhadas.

O absenteísmo tipo II (de corpo presente)é aquele em que, apesar de não faltar aotrabalho, o trabalhador não desenvolve seumelhor desempenho, levando à diminuiçãona sua produtividade. Isso ocorre devido aofato de o trabalhador apresentar algumproblema de saúde.

Quick & Lapertosa (1982) dividem oabsenteísmo tipo I em cinco classes, cadauma merecendo tratamento e consideraçõesdiferentes:

1. Absenteísmo voluntário: é a ausênciavoluntária do trabalho por razões particulares,não justificadas por doença e sem amparo legal.

2. Absenteísmo compulsório: é oimpedimento ao trabalho mesmo que otrabalhador não deseje, por suspensãoimposta pelo patrão, por prisão ou outroimpedimento que não lhe permita chegar aolocal do trabalho.

3. Absenteísmo legal: compreende aquelasfaltas ao serviço amparadas por lei, comolicença maternidade, nojo, gala, doação desangue, serviço militar etc. São as chamadasfaltas justificadas.

4. Absenteísmo por patologia profissional:Compreende as ausências por doençasprofissionais (LER/DORT) ou ausências poracidente de trabalho (infortúnios profissionais).

5. Absenteísmo por doença: inclui todas asausências por doença ou procedimento médico.

O absenteísmo-doença traz, tanto nospaíses em desenvolvimento, como nosconsiderados altamente industrializados,além de um aumento direto dos custos pelaconcessão de auxílio-doença e um aumentoindireto nos custos pela diminuição daprodutividade e da eficiência, um maiordesperdício e aumento dos problemasadministrativos com sucessivas substituiçõesdos faltosos (Diacov & Lima, 1988).

Os atestados médicos e odontológicos sãoos únicos instrumentos legais que servem paraabonar as faltas ao trabalho por motivo dedoença e assegurar o pagamento dosrespectivos salários, desde que apresentem acodificação da enfermidade – CID (Nogueira& Laurenti, 1975), conforme especificado porAcórdão do Tribunal Superior do Trabalho(TST) no dissídio da categoria e estatutomunicipal (Araçatuba, 2002; Carrion, 1994;Sime, 2000).

Sempre que possível, é necessárioconhecer como se distribui o absenteísmoconforme a idade, o sexo e a ocupação ou cargodos trabalhadores. A disponibilidade dessasinformações é muito importante a fim defacilitar a tomada de decisões das distintasestratégias para sua prevenção (Forssman,1956; Muñoz, 1997).

Existem diferentes fórmulas para ocálculo do absenteísmo, podendo o mesmoser realizado através da obtenção de, nomínimo, três índices essenciais: gravidade,freqüência e duração média dos períodos(Quick & Lapertosa, 1982).

Objetivos

O objetivo do trabalho foi analisar o absen-teísmo odontológico e médico nos âmbitospúblico e privado e verificar a interferência de

fatores ligados à própria empresa, como regimeempregatício, e ao trabalhador, como sexo,idade e função na sua ocorrência.

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Métodos

Resultados e Discussão

A carga horária na empresa pública varioude 20, 24, 30, 36 e 40 horas semanais, conformea função e a atribuição do trabalhador. Aprefeitura municipal apresenta-se dividida emsecretarias com funcionários em várias funçõesligadas à administração pública e que seenquadram, de acordo com a NR 4 (IOB, 1993),nos Graus de Risco de 1 a 3. Já na empresaprivada, são trabalhadas 44 horas semanais,independentemente da função do trabalhador.A indústria fabrica máquinas de lavar roupas emóveis com predominância de metal,enquadrando-se no Grau de Risco 3 (IOB, 1993).

No período pesquisado, a empresapública apresentava 3490 funcionários,sendo 2034 do sexo feminino e 1456 dosexo masculino. A empresa privadaapresentava no total 656 empregados,sendo 97 do sexo feminino e 559 do sexomasculino. No total, foram analisados, noperíodo de janeiro a junho de 2002, nasempresas pública (prefeitura) e privada(indústria), 1642 atestados, sendo 64

odontológicos e 1578 médicos. Do total deatestados, 1311 deram entrada na prefeiturae 331 na indústria.

A relação entre o número de dias perdidose o número de empregados – Índice degravidade (Quick & Çapertosa, 1982) – naempresa pública foi de 1,43 e na empresaprivada, de 1,07, o que significa que aduração das faltas (período de afastamento)no serviço público foi maior. A relação entreo número de períodos de afastamento(ausências) e o número de empregados –Índice de freqüência (Quick & Lapertosa,1982) – na empresa pública foi de 0,38 e naempresa privada, de 0,50, o que significa quehouve um maior número de atestados (faltas)no serviço privado proporcionalmente aonúmero de empregados. A relação entre onúmero de dias perdidos e o número deperíodos de afastamento – Duração médiadas ausências (Quick & Lapertosa, 1982) –na empresa pública foi de 3,82 e na empresaprivada, de 2,13.

Tabela I Índices de gravidade, freqüência e duração média das ausências nas empresas pública e privada,Araçatuba, 2002

Empresa Número de dias perdidos Número de empregados Índice de gravidade

Pública 5002 3490 1,43Privada 704 656 1,07

Empresa Períodos de afastamento Número de empregados Índice de frequência

Pública 1311 3490 0,38Privada 331 656 0,50

Empresa Número de dias perdidos Períodos de afastamento Duração média das ausências

Pública 5002 1311 3,82Privada 704 331 2,13

A população deste estudo constituiu-se detodos os atestados odontológicos emédicos e declarações de comparecimento,devidamente homologados, emitidos noperíodo de janeiro a junho de 2002 e quederam entrada no departamento pessoal daPrefeitura Municipal de Araçatuba e no daIndústria Color Visão – Indústria Acrílica,cuja finalidade era abonar faltas no serviço deaté 15 dias de duração.

Realizou-se a pesquisa nestas duasempresas por serem de grande porte – acimade 500 empregados (Sebrae, 2002) e pelofato de os diretores/responsáveis consentiremno acesso aos atestados e listagens dostrabalhadores.

Destes atestados obtiveram-se dadosreferentes à data, à duração e ao motivo dafalta, baseado no Código Internacional deDoenças – CID-10 (OMS, 1997). Das listagensdos trabalhadores, coletaram-se dados comosexo, idade e função na empresa.

Processaram-se os dados coletados utilizandoo programa Epi 2000, v.1.1., considerando-sesignificativos com p < 0,0001.

Para o cálculo do absenteísmo, obtiveram-se os índices indicados pela SociedadeInternacional de Saúde Ocupacional(freqüência e gravidade) e a duração médiado afastamento pela sua importância (Quick& Lapertosa, 1982).

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Quick & Lapertosa (1982), no estudo emuma usina siderúrgica e metalúrgica de BeloHorizonte, constataram índice de gravidadede 1,48, índice de freqüência de 0,42 eduração média das ausências de 3,52 faltas,considerando o mesmo período do estudo (6meses). Danatro (1997) verificou numainstituição pública de Montevideo, noUruguai, no período de um ano, em relação aoabsenteísmo médico, índice de freqüência de1,08, de gravidade de 6,84 e duração médiadas faltas de 6,28 dias.

A proporção de absenteísmo foi maior naempresa privada (50,46%) que na pública(37,56%), estatisticamente significativoatravés do teste de proporção, com qui-quad

=

38,38 e p valor < 0,0001, cujo regimeempregatício é regido pela Consolidação dasLeis do Trabalho (CLT). Apesar do maior riscodo empregado perder o emprego nesse tipo deregime em comparação ao regime estatutário,o que parece que prevaleceu foi a possibilidadedo empregado público estatutário ter comodireito as faltas abonadas (Araçatuba, 2002),podendo o mesmo usar o dia abonado paratratar de sua saúde, evitando levar um atestadomédico ou odontológico à empresa.

Os atestados odontológicos tiveram poucopeso sobre o total de atestados, tanto naempresa pública (3,3%), quanto na privada(6,3%), o que concorda com os achados deRocha (1981)

e Cartaxo

(1982).

Tabela 2 Número e porcentagem dos atestados segundo o tipo nas empresas pública e privada, Araçatuba,2002

Empresa Atestado odontológico Atestado médico

Pública 43 (3,3%) 1268 (96,7%)Privada 21 (6,3%) 310 (93,7%)

Isso não deve significar que a saúde bucaldos trabalhadores esteja em perfeitas condições,pois Medeiros (1970) observou em umlevantamento epidemiológico, realizado com799 operários de São Paulo, que 52,82% dapopulação estudada apresentavam um ou maisdentes com extração indicada e 89,74% dosindivíduos tinham um ou mais dentes cariados.

A ausência do Código Internacional deDoenças (OMS, 1997) na quase totalidade dosatestados odontológicos pode ser a razão paraeste pequeno peso, pois para o abono das faltasao trabalho por motivo de doença e pagamentodos respectivos salários é necessário, segundoAcórdão do TST, dissídio da categoria e,também pelo estatuto, a codificação deenfermidade (Araçatuba, 2002; Carrion,1994; Sime, 2000). Saliba-Garbin et al. (2000)verificaram em seu trabalho que 64,4% dosdentistas indicavam no atestado o atopraticado, o que sugeriria o desconhecimentodo segredo profissional, ou do CID, que foiestabelecido para que os profissionais da áreade saúde pudessem se comunicar semdescrever o tratamento realizado, nãoquebrando, assim, o sigilo profissional.

O capítulo XI do CID (OMS, 1997) agrupatodas as doenças do aparelho digestivo (K00-K93), sendo os agrupamentos “K00-K14”referentes às doenças da cavidade oral, dasglândulas salivares e dos maxilares. Esses sãoos agrupamentos de responsabilidade docirurgião-dentista. Não existe a possibilidadeda utilização de um CID médico para designaruma doença odontológica.

Acreditamos que muitas empresas nãoacatam a lei 6.215 que possibilita ao cirurgião-dentista “atestar no setor de sua atividadeprofissional, estados mórbidos e outros,inclusive para justificação de faltas noemprego” (Diacov & Lima, 1988), apenasaceitando o atestado odontológico no caso deurgências, como extrações e abscessos. Oempregado pode até conhecer este direito,mas aceita, sem reclamar, a recusa do atestadopela possibilidade de perder o emprego ou deter sua remuneração descontada.

Houve uma predominância do sexofeminino tanto na empresa pública (40,2%),quanto na empresa privada (55,7%),concordando com os achados de Cartaxo(1982), Diacov & Lima

(1988)

e Danatro

(1997).

Tabela 3 Porcentagem de atestados odontológicos e médicos quanto ao sexo, nas empresas pública e privada, Araçatuba, 2002

Empresa pública Empresa privadaSexo feminino Sexo masculino Sexo feminino Sexo masculino

Total de empregados 2034 1456 97 559Atestados 817 494 54 277Porcentagem 40,2 33,9 55,7 49,5

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Existe um consenso de que os traba-lhadores do sexo feminino apresentamabsenteísmo por doença maior que os do sexomasculino, em especial as ausências causadaspor ginecopatias (Nogueira & Laurenti,1975). Apesar disso, Nogueira & Laurenti(1975) concluíram em seu estudo que asginecopatias são causas pouco importantesde absenteísmo nas mulheres, o que concordacom nosso trabalho, que mostrou serem essascausas somente a quinta colocada emnúmero de ocorrências. Para Gomes

(1986),

a mulher apresenta uma sobrecarga de

trabalho causada pelo trabalho dentro e forado lar e pelas preocupações com a família,embora Cartaxo

(1982) tenha verificado em

seu estudo um maior número de faltas entremulheres solteiras, geralmente isentas dasatividades dentro do lar e das preocupaçõescom a família.

Dividiu-se a população estudada em faixasetárias de 10 anos, sendo que no serviçopúblico a faixa que mais faltou foi de 30 a 39anos. No serviço privado, foi a de 20 a 29 anos,o que concorda com o achado por Cartaxo(1982) no seu estudo.

Tabela 4 Número e porcentagem dos atestados odontológicos e médicos segundo a faixa etária nasempresas pública e privada, Araçatuba, 2002

Faixa etária Número de atestados Número de atestados(empresa pública) (empresa privada)

Menor de 20 anos 10 (0,8%) 30 (9,1%)de 20 a 29 anos 270 (20,6%) 197 (59,5%)de 30 a 39 anos 432 (33,0%) 53 (16,0%)de 40 a 49 anos 394 (30,1%) 46 (13,9%)de 50 a 59 anos 176 (13,4%) 5 (1,5%)60 ou mais 29 (2,2%) 0

Isso pode ser explicado devido ao fato deos trabalhadores da indústria apresentaremidade menor quando comparados aostrabalhadores da prefeitura. Danatro (1997)verificou maior ocorrência de faltas na faixaetária de 35 a 44 anos de idade.

A doença que mais levou ao afastamentodo trabalhador tanto na empresa pública,

quanto na privada foi a dorsalgia, cujo CID é oM54 (OMS, 1997), podendo estar ligada à mápostura.

A maior parte dos afastamentos por razõesodontológicas e médicas tiveram a duraçãode 1 dia, sendo que as razões odontológicaslevaram o trabalhador a afastar-se do laborpor até no máximo 5 dias.

Tabela 5 Duração do afastamento segundo o tipo de atestado, Araçatuba, 2002

Duração do afastamento Atestado odontológico Atestado médico

1 dia 52 7202 dias 5 2933 dias 3 1284 dias 2 825 dias 2 656 dias 0 197 dias 0 578 dias 0 289 dias 0 9

10 dias 0 3411 dias 0 312 dias 0 613 dias 0 314 dias 0 615 dias 0 125

Deve ser notado que quase 46% daslicenças médicas são de 1 dia, tempogeralmente insuficiente para cura dequalquer doença. Pode ser dia perdido paraum simples exame complementar ou para

outros procedimentos médicos, como tambémser “doença provocada”. A licença médicamuitas vezes é utilizada pelo trabalhadorcomo uma forma de agressão à chefia e àinstituição; também representa uma válvula

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de escape de tensões sociais, econômicas epsicológicas. É um ponto crítico a ser atacadona luta contra o absenteísmo. Um menornúmero de períodos (ausências) com maiornúmero de dias perdidos indica sempredoença real (Quick & Lapertosa, 1982;Valtorta, Sidi & Bianchi, 1985).

A função em que ocorreu o maior númerode faltas no serviço privado, proporcionalmenteao número de empregados, foi a de operador deinjetora de plástico, que é uma função ligada àlinha de produção. Já no serviço público foi a

função de auxiliar de serviços gerais 1. Emambas as empresas, o maior número de faltasocorreu nos serviços não burocráticos(administrativos). Cartaxo

(1982) verificou

em seu estudo que a maioria das faltas eramde trabalhadores menos qualificados e commenor salário. Pode-se acreditar que ostrabalhadores que ganham um salário maiorfaltem menos porque estão satisfeitos com oseu salário ou se nutrem melhor adoecendomenos. Danatro

(1997) verificou em uma

instituição pública maior ocorrência de faltasnos serviços administrativos.

Conclusões

O absenteísmo nas empresas pública eprivada deu-se mais por razões médicas, quandocomparado com as razões odontológicas, devidoao maior número de faltas e à maior duraçãodas mesmas, levando aos problemas decorrentesda falta do trabalhador em seu serviço. O tipo deregime empregatício e os fatores ligados aotrabalhador, como sexo, idade e função,influenciaram no absenteísmo ao trabalho.

Acreditamos que o trabalhador estatutárioausentou-se menos no trabalho por apresentarcomo um dos seus direitos a “falta abonada”,podendo utilizá-la para tratar de sua saúde.

As razões médicas causaram o afastamentodo trabalhador por 5604 dias, enquanto asrazões odontológicas levaram o trabalhador aausentar-se do labor por 89 dias no período deestudo (6 meses).

Importante deve ser a orientação aoprofissional cirurgião-dentista da necessidadeda Codificação Internacional de Doenças noatestado odontológico com a finalidade deabonar a falta do trabalhador ao serviço.

Novos estudos precisarão ser realizados,pois, levantada à distribuição do absenteísmoconforme idade, sexo e ocupação ou cargo dostrabalhadores, ou seja, realizada umaabordagem quantitativa do problema, deveráser feita uma análise qualitativa dos problemasespecificamente a estes trabalhadores a fimde prevenir sua ocorrência.

Haverá a necessidade de um trabalhomultiprofissional na empresa devido àcomplexidade do absenteísmo e porestarem envolvidos muito mais fatores quea simples doença.

Agradecimentos

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Estudo do cronótipo de um grupo detrabalhadores em turnos

Study of a group of shift workers’chronotype

Milva Maria Figueiredo de Martino1

Claudia Aparecida Rosa da Silva2

Symone Antunes Miguez3

1 Professora Doutora Associada do

Departamento de Enfermagem daFaculdade de Ciências Médicas daUniversidade Estadual de Campinas.2 Mestre em Enfermagem na Área de

Concentração Enfermagem e Trabalhopelo Departamento de Enfermagem daFaculdade de Ciências Médicas daUniversidade Estadual de Campinas.Enfermeira do Serviço de Enfermagemem Obstetrícia da Divisão deEnfermagem do Centro de AtençãoIntegral à Saúde da Mulher daUniversidade Estadual de Campinas.3 Mestre em Enfermagem na Área de

Concentração Enfermagem e Trabalhopelo Departamento de Enfermagem daFaculdade de Ciências Médicas daUniversidade Estadual de Campinas.Fisioterapeuta assessora da ErgocampComércio e Assessoria em Ergonomia.

Resumo

Neste estudo, os objetivos foram descrever as características de matutinidade/vespertinidade de um grupo de trabalhadores em turnos de uma indústria químicae identificar possíveis associações entre cronótipo e turno de trabalho.A pesquisa foi realizada em uma indústria química do interior do estado de SãoPaulo. Os trabalhadores lotados nesta seção eram distribuídos em dois turnos:matutino e vespertino. A amostra constituiu-se de 44 trabalhadores, dos sexosfeminino e masculino, que trabalhavam em ambos os turnos. Os dados foramcoletados com a versão brasileira do questionário de identificação de indivíduosmatutinos e vespertinos que foi elaborado por Horne & Östberg (1976).Foi verificado o predomínio do cronótipo “moderadamente matutino” – MM (n =21 ou 47,73%) –, seguido pelo tipo “Indiferente” – IN (n = 12 ou 27,27%) – e pelotipo “definitivamente matutino” – DM (n = 10 ou 22,73%). Somente um indivíduofoi classificado como “definitivamente vespertino” – DV (2,27%).Entre os trabalhadores estudados houve predomínio do cronótipo “moderadamentematutino” seguido do tipo “indiferente” e do tipo “definitivamente matutino”. Nãoforam verificadas associações estatisticamente significativas entre o cronótipo e ascaracterísticas individuais neste estudo.

Palavras-chave: cronobiologia, cronótipo, turno de trabalho.

Abstract

This study aimed not only at describing the typical morning or night features of agroup of shift workers in a chemical industry, but also at identifying possible linksbetween work shifts and chronotype.This study was held in a two-shift-chemical industry located in the interior of SãoPaulo. The subjects of our research were the 44 men and women working thereeither in the morning or at night. The data was collected through the Brazilianversion of the Horne & Östberg chronotypes identification questionnaire .The “moderately morning” chronotype was predominant – MM (47,73%), followedby the “indifferent” – IN (27,27%) and by the “definitely morning” – DM (22,73%).Only one of them could be considered a “definitely night” – DN (2,27%).The workers under study were predominantly classified as “moderately morning”followed by the “indifferent” and by the “definitely morning” chronotypes. Nostatistically relevant relationship was found between the chronotype and individualcharacteristics.

Keywords: chronotype, shift workers, chronobiology.

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Introdução

Observa-se hoje um contingente enorme depessoas trabalhando em sistema de turnos,realizando seu trabalho em horários constantes,porém incomum (Rutenfranz, Knauth & Fisher,1989). A estruturação do trabalho em sistema deturnos deixou de ser prioridade dos serviços comosaúde e segurança, principalmente nos paísesindustrializados, e inúmeros outros serviçospassaram a manter a continuidade de suaprodução durante as 24 horas do dia, o ano todo.

O trabalho realizado fora dos horáriosusuais (das 8h ou 9h até às 17h ou 18h) fazparte do grupo de fatores psicossociais queinteragem nos processos saúde-doença (Fisher,2003). Inúmeros estudos demonstraram queessa forma de organização do trabalho podegerar impactos sobre a saúde e a qualidade devida dos trabalhadores. Neste estudo, interessa-nos como a organização do trabalho em sistemade turnos pode interferir na ritmicidadebiológica e o enfoque que daremos será a partirda Cronobiologia.

A Cronobiologia, estudo sistemático daorganização temporal da matéria viva (Menna-Barreto & Fortunato, 1988), a ciência dos ritmosbiológicos, mostra que os organismos vivos são,fisiológica e comportamentalmente, diferentes,dependendo da hora do dia em que sãoobservados, assim como reagem diferentementea um mesmo estímulo quando aplicado emdiferentes momentos das 24 horas do dia(Cipolla-Neto, 1988).

Do interesse de estudar as conseqüênciasdo trabalho em turnos sobre a ritmicidadebiológica, enfocamos este estudo na adaptaçãoou não dos trabalhadores aos turnos de trabalho.

Na adaptação ao trabalho em turnos, umimportante fator interno é a preferência emrelação aos horários de dormir e despertar doindivíduo, ou seja, o cronótipo ou tipocronobiológico do indivíduo. A populaçãohumana pode ser dividida em três tiposbásicos: os indivíduos matutinos, os

vespertinos e os indiferentes. Os indivíduosmatutinos despertam espontaneamente muitocedo, por volta das cinco às sete horas damanhã, estando aptos para o trabalho e emum nível de alerta muito bom. Possuempreferência para dormir cedo, constituindo10% a 12% da população. Os indivíduosvespertinos despertam tarde, entre 12h e 13hquando em férias ou em finais de semana, edormem tarde, por volta de 2h a 3h damadrugada, e em dias normais, seu melhordesempenho se dá à tarde ou à noite. Esse tipoconstitui 8% a 10% da população. O terceirotipo é dos indivíduos indiferentes, pois nãopossuem preferência pelo horário de levantar-se (Horne & Östberg, 1976).

O estudo do cronótipo do indivíduo éimportante na determinação dos períodos demelhor desempenho e maior bem-estar. Suaidentificação pode ser utilizada para otimizara qualidade do trabalho e minimizardistúrbios associados a este.

Em um estudo analisando os cronótiposde um grupo de enfermeiros docentes de umcolégio técnico em um hospital de ensino, osresultados demonstraram a existência deassociações entre a preferência do períodopara a realização do trabalho e o cronótipodos indivíduos estudados (Campos & DeMartino, 2001).

Um outro estudo, analisando o cronótipodos auxiliares de enfermagem de um hospitaldo estado do Paraná, observou-se que nemsempre as características individuais sãorespeitadas na distribuição dos trabalhadoresnos diferentes turnos (Zubioli, Muranda &Sant’ana, 1998).

Portanto, neste estudo tivemos comoobjetivos descrever as características dematutinidade e vespertinidade de um grupode trabalhadores em turnos de uma indústriaquímica e identificar possíveis associaçõesentre cronótipo e turno de trabalho.

Casuística e Métodos

Local e regime de trabalho

A pesquisa foi realizada em uma indústriaquímica do interior do estado de São Paulo,no setor de Produtos de Consumo. Ostrabalhadores lotados nesta seção eramdistribuídos em dois turnos: matutino evespertino. O regime de trabalho no local é dejornadas de oito horas diárias, sendo das 6h às14h no turno matutino e das 14h às 22h noturno vespertino.

Amostra

A amostra constituiu-se de 44 trabalha-dores dos sexos feminino e masculino, tantodo turno matutino quanto do vespertino deuma indústria química do interior do estadode São Paulo.

Instrumento de coleta de dados

O instrumento utilizado foi o questionáriode identificação de indivíduos matutinos e

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vespertinos, que foi elaborado por Horne eÖstberg (1976), tendo sido traduzido para alíngua portuguesa e aplicado no Brasil apóster sido validado e adaptado às característicase hábitos de nossa população por Benedito-Silva et al. 1990. (Anexo 1).

O questionário é composto de questões arespeito de situações habituais da vida diária,e o indivíduo pesquisado deve registrar os seushorários preferenciais em relação à sua vidacotidiana, considerando-se que ele fossecompletamente livre para escolher esteshorários. O resultado é dado por um valornumérico, que varia entre 16 e 86 pontos,classificando o indivíduo em cinco tiposdiferentes: “vespertino extremo” (16 a 30pontos), “moderadamente vespertino” (31 a41 pontos), “indiferente” (42 a 58 pontos),“moderadamente matutino” (59 a 69 pontos)e “matutino extremo” (70 a 86 pontos).

Procedimentos de coleta de dados

Os dados foram coletados pelas pesqui-sadoras. Os trabalhadores foram abordados em

seus locais de trabalho, receberam asinformações sobre a pesquisa e relataram setinham interesse e disponibilidade paraparticiparem da pesquisa. Após o Termo deConsentimento Livre e Esclarecido ter sidoassinado, foram entregues os questionários, aspesquisadoras permaneceram no local parasolucionar eventuais dúvidas e aguardar adevolução dos mesmos. O período de coleta dedados foi de outubro a novembro de 2003.

Tratamento estatístico

Foram utilizadas tabelas de freqüênciaspara as variáveis categóricas (Sexo, Turno eCronótipo) e estatísticas descritivas para asvariáveis contínuas (Idade e Tempo na função).

Para verificar se existe associação entre ocronótipo e as variáveis categóricas, foiutilizado o teste Qui-quadrado. Paracompararmos as variáveis contínuas comrelação ao cronótipo, utilizamos o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis. Ambos ostestes dizem que existe diferença significativaquando o p-valor do teste aplicado é £ 0,05.

Resultados

A amostra em relação ao turno de trabalhoconstituiu-se de 24 trabalhadores (54,55%)do turno matutino e 20 (45,45%) do turnovespertino. Nenhum trabalhador era doturno noturno. Dos 44 trabalhadores da

amostra, 27 eram do sexo masculino(61,36%) e 17 do sexo feminino (38,64%).As estatísticas descritivas para idade etempo na função (meses) dos trabalhadoresestão descritas na tabela 1.

Tabela 1 Estatísticas descritivas das variáveis idade e tempo na função (meses) entre trabalhadores de umaindústria química do interior do estado de São Paulo, 2003

Variável N Média D.P. Mínimo Mediana Máximo

Idade (anos) 44 32,36 7,74 20 32,50 53Tempo na função

44 54,34 61,66 7 30 312(meses)

Verificamos que a média de idade dostrabalhadores foi de 32,36 anos e o tempo nafunção foi de 54,35 meses, independentementedo turno de trabalho.

Através da figura 1, verificamos opredomínio do cronótipo “moderadamente

matutino” – MM (n = 21 ou 47,73%) –, seguidopelo tipo “Indiferente” – IN (n = 12 ou27,27%) – e pelo tipo “definitivamentematutino” – DM (n = 10 indivíduos ou22,73%). Somente um trabalhador foiclassificado como “definitivamentevespertino” – DV (2,27%).

10

1

12

21

0

5

10

15

20

25

22.73 2.27 27.27 47.73

DM DV IN MM

Cronótipo

Ind

ivíd

uo

s(n

)

Figura 1 Distribuição dos trabalhadores segundo cronótipo

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5

1110

8

2

7

0

5

10

15

DM IN MM

matutino vespertino

O teste exato de Fisher foi utilizado paraverificar possível associação entre sexo eturno de trabalho.

De acordo com a tabela 3, verificamos que,entre os trabalhadores do sexo feminino(18,60%), 8 apresentavam cronótipo “modera-damente matutino”, seguidos de 5 trabalhadores(11,63%) do tipo “definitivamente matutino” e4 trabalhadores (9,30%) do tipo “indiferente”.

O teste do Qui-quadrado foi utilizado paraverificar possível associação dos trabalhadoresdos turnos matutino e vespertino e seurespectivo cronótipo.

De acordo com a tabela 2, verificamos que11 trabalhadores do turno matutino (25,58%)apresentaram cronótipo “moderadamentematutino”, seguidos de 8 trabalhadores(18,60%) do tipo “definitivamente matutino”e 5 trabalhadores (11,63%) do tipo“indiferente”. No turno vespertino, observamos

10 trabalhadores (23,26%) do tipo “mode-radamente matutino”, seguidos de 7 traba-lhadores (16,28%) do tipo “indiferente” eapenas 2 trabalhadores deste turno (4,65%) dotipo “definitivamente matutino”. Não houvediferença significativa entre cronótipo e turnode trabalho (p-val=0,1785). Na análise, foiexcluído o trabalhador classificado como“definitivamente vespertino” por se tratar deapenas um indivíduo e por constituir, segundo aliteratura, um cronótipos mais raro (Figura 2).

Tabela 2 Distribuição segundo cronótipo e turno de trabalho, entre trabalhadores de uma indústriaquímica do interior do estado de São Paulo, 2003

Cronótipo Matutino Vespertino Totaln % n % n %

DM 8 18,60 2 4,65 10 23,26I 5 11,63 7 16,28 12 27,91MM 11 25,58 10 23,26 21 48,84

Teste x² p-valor = 0,1785 (p = 0,05)

Observamos que, entre os trabalhadores do sexomasculino (30,23%), 13 apresentavamcronótipo “moderadamente matutino”, seguidosde 8 trabalhadores (18,60%) do tipo“indiferente” e 5 trabalhadores (11,63%) do tipo“definitivamente matutino”. Não houvediferença significativa entre sexo e cronótipo(p-val = 0,7808). Nesta análise também foiexcluído o trabalhador classificado como“definitivamente vespertino”. (Figura 3)

Tabela 3 Distribuição segundo cronótipo e sexo entre trabalhadores de uma indústria química do interiordo estado de São Paulo, 2003

Cronótipo Feminino Masculino Totaln % n % n %

DM 5 11,63 5 11,63 10 23,26I 4 9,30 8 18,60 12 27,91MM 8 18,60 13 30,23 21 48,84

Teste Exato de Fisher p-valor = 0,7808 (p = 0,05)

Figura 2 Distribuição dos trabalhadores segundo cronótipo e turnos de trabalho

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4

88

5

13

5

0

2

4

6

8

10

12

14

DM IN MM

Feminino Masculino

As estatísticas descritivas para idade dos trabalhadores, segundo o tipo cronobiológico,estão descritas na tabela 4.

Tabela 4 Estatísticas descritivas da variável Idade, por cronótipo, entre trabalhadores de uma indústriaquímica do interior do estado de São Paulo, 2003

Cronótipo N Média D.P. Mínimo Mediana Máximo

DM 10 35,40 6,35 26 35 46I 12 29,25 6,36 20 31,50 38MM 21 33,05 8,66 22 31 53

Teste de Kruskal-Wallis p-valor = 0.1694 (p = 0,05)

Verificamos que a média de idade dostrabalhadores de tipo cronobiológico “mode-radamente matutino” foi de 33,05 anos, dotipo “indiferente” foi de 29,25 anos e do tipo“definitivamente matutino” foi de 35,40 anos.

Não houve diferença significativa entre idadee cronótipo (p-val = 0,1694).

As estatísticas descritivas para tempo nafunção dos trabalhadores, segundo o tipocronobiológico, estão descritas na tabela 5.

Tabela 5 Estatísticas descritivas da variável Tempo na Função (meses), por cronótipo, entretrabalhadores de uma indústria química do interior do estado de São Paulo, 2003

Cronótipo N Média D.P. Mínimo Mediana Máximo

DM 10 48.50 47.11 7.00 30.00 144.00I 12 63.67 45.57 7.00 72.00 144.00MM 21 50.95 77.05 7.00 24.00 312.00

Teste de Kruskal-Wallis p-valor = 0.4211 (p = 0,05)

Verificamos que o tempo na função dostrabalhadores de tipo cronobiológico“moderadamente matutino” foi de 50,95meses, do tipo “indiferente” foi de 63,67

meses e do tipo “definitivamente matutino”foi de 48,50 meses. Não houve diferençasignificativa entre tempo na função ecronótipo (p-val = 0,4211).

Discussão

Em nossa amostra, tivemos umadistribuição homogênea com relação aonúmero de trabalhadores por turno detrabalho, o predomínio de trabalhadores dosexo masculino e o tempo na função em médiade 4 anos e 6 meses.

Segundo a literatura, o cronótiporepresenta um fator importante para aadaptação dos indivíduos aos turnos detrabalho. Estudos realizados por De Martino& Ceolim (2001) com um grupo deenfermeiros em um hospital de ensino e por

Figura 3 Distribuição dos trabalhadores segundo cronótipo e sexo

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Campos & De Martino (2001) com docentesde enfermagem em um colégio técnicoapontaram que as preferências do períodopara a realização do trabalho foram aoencontro do cronótipo dos envolvidos.

Entre os trabalhadores estudados, houvepredomínio do cronótipo “moderadamentematutino” seguido do tipo “indiferente” e dotipo “definitivamente matutino”. Em nossapesquisa, encontramos apenas umtrabalhador “definitivamente vespertino”,confirmando os dados da literatura de que osindivíduos de cronótipos extremos são maisraros (Horne & Ostberg, 1976).

A análise dos resultados mostra que houveuma concordância entre o cronótipo e osturnos de trabalho em consonância com osachados de Horne & Ostberg (1976).Observamos que a maioria dos trabalhadoresdo turno matutino (25,58%) foi classificadacomo “moderadamente matutino” e 18,60%como “definitivamente matutino”,demonstrando uma associação entre ocronótipo e o turno de trabalho.

Com relação aos cronótipos dostrabalhadores do turno vespertino,encontramos a maioria dos trabalhadores dotipo cronobiológico “moderadamente matu-tino” (23,26%), o que pode acarretar umproblema para estes trabalhadores. Estabele-cendo-se uma associação entre as carac-terísticas biológicas individuais e as atividadeslaborativas dos indivíduos, os que secaracterizam ou se definem como vespertinospela maior disposição para atividades físicase mentais no período vespertino e noturnoseriam os mais indicados para o trabalho noturno vespertino. Segundo Ferreira (1988),levar em consideração as diferençasinterindividuais, como a idade e a estruturacircadiana (tipos matutinos e vespertinos),denominada cronótipo, parece ser um fatorimportante à adaptação das pessoas ao trabalhoem turnos.

Verificamos a presença de 11,63% dostrabalhadores do matutino e 16,28% dostrabalhadores do vespertino com cronótipo“indiferente”. Segundo Rutenfranz, Knauth eFischer (1989) as pessoas com tipocronobiológico indiferente se adaptam aqualquer horário.

Segundo a literatura, os indivíduosclassificados como “indiferentes” corres-pondem à imensa maioria das pessoas(Reimão, 1988). Em nossa amostra, houvepredomínio do cronótipo “moderadamentematutino”, tanto no turno matutino quanto noturno vespertino.

Em relação às variáveis sexo e tipocronobiológico, obtivemos predomínio detrabalhadores dos sexos feminino e masculinocom cronótipo “moderadamente matutino”,respectivamente 18,60% e 30,23%.

Em relação às variáveis tempo na função ecronótipo, obtivemos predomínio detrabalhadores com maior tempo de trabalhocom cronótipo “indiferente” (63,67 meses),seguidos pelo cronótipo “moderadamentematutino” (50,95 meses) e “definitivamentematutino” (48,50 meses).

Com relação à idade dos trabalhadores eao cronótipo, os trabalhadores com médiamaior de idade apresentaram cronótipo“definitivamente vespertino”. Em geral, aspessoas jovens tendem a ter característicasmais pronunciadas de vespertinidade e vãose tornando mais matutinas à medida queenvelhecem (Monk et al., 1996; Reilly,Waterhouse & Atkinson, 1997; Andrade,1997). Steele et al. (1997), em sua pesquisasobre as características de matutinidade evespertinidade em residentes de medicinanorte-americanos, verificaram que osindivíduos mais velhos tendiam a ser maismatutinos. Akerstedt e Torsvall (1981)afirmam que as pessoas vão se tornando maismatutinas ao longo dos anos.

As diferenças individuais constituem umaspecto fundamental na análise da adaptaçãode trabalhadores aos turnos a que estãosubmetidos (Menna-Barreto et al., 1993). Oscronótipos são importantes mecanismoscronobiológicos da estrutura temporal paradeterminar que o organismo é fisiologi-camente diferente a cada momento do dia e,em conseqüência, tem, a cada momento,capacidade diferente de reagir aos estímulosambientais, sejam eles físicos, químicos,biológicos ou sociais (Rotemberg, Menna-Barreto & Marques, 1997). Desta forma, ascaracterísticas de matutinidade/vesperti-nidade do trabalhador em turnos são umimportante fator a ser levado em consideraçãona análise dos efeitos do trabalho em turnossobre os trabalhadores.

Considerando o impacto do trabalho emturnos sobre a qualidade de vida e sobre asaúde dos trabalhadores, devemos consideraras características individuais, como idade,personalidade, tipo de ritmo (tendência àmatutinidade/vespertinidade), assim comosua capacidade psicológica de adaptação,além de outros fatores, como a extensão dacarga física ou intelectual do trabalho, aduração da jornada, o tipo de escala de turnose as condições que cercam o local de trabalho,

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uma avaliação inicial, já que o setor da indústriaquímica em que foi realizada a pesquisaatualmente conta com o turno noturno paraatender à demanda da produção. Estudoscomplementares se fazem necessários, alémda análise acerca das relações entre ascaracterísticas de matutinidade/vespertinidadee a produtividade.

Conclusões

Os resultados obtidos na presente pesquisapermitem as seguintes conclusões:

Houve uma distribuição homogênea comrelação ao número de trabalhadores por turnode trabalho, o predomínio de trabalhadoresdo sexo masculino e o tempo na função emmédia de 4 anos e 6 meses.

Houve predomínio do cronótipo“moderadamente matutino” seguido do tipo“indiferente” e do tipo “definitivamentematutino”. Encontramos apenas umtrabalhador “definitivamente vespertino”.

A maioria dos trabalhadores do turnomatutino foi classificada como “moderada-mente matutino” e “definitivamente matutino”,demonstrando uma associação entre ocronótipo e o turno de trabalho.

A maioria dos trabalhadores do turnovespertino foi classificada como “mode-

radamente matutino”, o que pode acarretarum problema para estes trabalhadores.

Verificamos a presença tanto detrabalhadores do matutino como do vespertinocom cronótipo “indiferente”.

Houve predomínio de trabalhadores dossexos feminino e masculino com cronótipo“moderadamente matutino”.

Houve predomínio de trabalhadorescom maior tempo na função com cro-nótipo “indiferente”.

Os trabalhadores com média maior deidade apresentaram cronótipo “defi-nitivamente vespertino”.

Nesta pesquisa não foram verificadasassociações estatisticamente significativas entreo cronótipo e as características individuais.

Agradecimentos

À Comissão de Pesquisa – Estatística da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadualde Campinas, à Rita Geraldo Oshiro (Supervisora de Produção e Engenheira de Materiais) e àMarineide da Silva (Administradora de Empresas).

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Verificação de requisitos de segurança detratores agrícolas em alguns municípios doestado de São Paulo

Checking security requirements for tractorsin some regions in the state of São Paulo

Ila Maria Corrêa1

Rosa Yasuko Yamashita2

André Vinícius Favrim Franco3

Hamilton Humberto Ramos4

Resumo

Um levantamento de informações foi realizado com o objetivo de avaliar as condiçõesde segurança de tratores agrícolas novos e usados em alguns municípios do estadode São Paulo. Foram avaliados 487 tratores em uso em 270 propriedades agrícolasdo estado de São Paulo e 31 tratores novos disponíveis em revendas e em exposiçãoem feiras agrícolas, sendo inspecionados alguns requisitos de segurança relativos aposto de operação, acesso, comandos, proteção de partes móveis, disponibilizaçãode avisos contra riscos de acidentes e requisitos necessários para tráfego emrodovias, previstos em documentos normativos nacionais e/ou internacionais.Verificou-se que os tratores em uso no campo não favorecem a segurança e o confortodo operador, enquanto que os tratores novos mostram tendência de atendimentoaos requisitos de segurança e conforto, principalmente aqueles relacionados aoposto de operação e à proteção de partes ativas.

Palavras-chave: segurança do operador, acidentes com tratores, segurança demáquinas.

Abstract

A survey was held in some regions in the state of São Paulo aiming at evaluatingsafety conditions in used and brand new tractors. 487 tractors in use in 270 farmsin the state of São Paulo were analyzed together with 31 brand new ones displayedin shops and fairs. The following were checked: the driver’s seat, its accessibility,position of controls, protection against the active parts of the engine, warning signsdisposal and consonance to the national and international safety regulations forhighways driving. The final result showed that while the used tractors offer nocomfort or security to the driver, the brand new ones seem to fulfill the requirements,mainly those related to the driver’s seat and the protection of the engine activeparts.

Keywords: the driver’s safety, tractor accidents, engine protection.

1 Doutora em Engenharia Agrícola,

Pesquisadora do Centro de Engenharia eAutomação/Instituto Agronômico (CEA/IA).2 Mestre em Engenharia Agrônoma,

Pesquisadora da Fundação Jorge DupratFigueiredo de Segurança e Medicina doTrabalho.3 Técnico em Informática, bolsista da

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estadode São Paulo.4 Doutor em Engenharia Agrônoma,

Pesquisador do CEA/IA.

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Introdução

Estatísticas nacionais e internacionaissobre acidentes rurais têm mostradoexpressivo número de acidentes com tratoresagrícolas. De acordo com levantamento deCorrêa et al. (2003), nos registros do InstitutoNacional de Segurança Social, o índice deacidentes com envolvimento de máquinasagrícolas é relativamente baixo (14,1%) secomparado aos acidentes com ferramentasmanuais (34,2%) da atividade canavieira. Noentanto, outras citações evidenciam aparticipação do trator nos acidentes ocorridosno meio rural. Becker (1994) relata que 13(37,1%) dos 35 acidentes fatais na agriculturaocorridos na Flórida, EUA, em 1992, eramrelacionados à máquina ou trator agrícola.Schlosser et al. (2002), ao estudarem ascaracterísticas dos acidentes na RegiãoCentral do Rio Grande do Sul, verificaram que39% dos entrevistados já haviam sofridoalgum tipo de acidente com tratores agrícolas.Niosh (1996) menciona o envolvimento dotrator em 53% dos acidentes agrícolas fataisno estado de Iowa, EUA.

Grande parte desses acidentes poderia serevitada se as máquinas e os equipamentosenvolvidos no acidente fossem dotados dedispositivos de segurança, se equipamentosde proteção individual fossem utilizados e seregras de segurança fossem observadas

durante a execução das tarefas. No projeto demáquinas, o princípio fundamental desegurança é o de que ela seja apta a realizar suafunção sem oferecer riscos às pessoas. Para isso,devem ser eliminados ou reduzidos, dentro dopossível, os riscos existentes, adotadas medidasde proteção e disponibilizadas informações aosusuários sobre os riscos remanescentes.Conforme consta em Souza (2001), medidasde proteção automática (ex.: uso do protetor doeixo cardan) são preferenciais em relação àsque dependam da ação do operador (prestarmais atenção, não se aproximar do eixo emmovimento). É importante, portanto, que se leveem conta normas e regulamentos técnicos,nacionais e/ou internacionais, que estabelecemmedidas de segurança no projeto da máquina.

O objetivo deste trabalho foi o de avaliaras condições de segurança dos tratoresagrícolas (novos e usados) comercializados emSão Paulo, estado que absorve a maior parte(23,5%) da produção de tratores agrícolas derodas no país, seguido do estado do Paraná,com 17,5%, segundo a ANFAVEA (2004).Apresenta-se a situação dos tratores quanto aposto de operação, acesso, comandos, assento,estrutura de proteção contra capotagem,proteção de partes ativas, disponibilização deavisos contra riscos de acidentes e a requisitosnecessários para tráfego em rodovia.

Material e Método

O levantamento de dados foi realizado noperíodo de agosto de 2000 a dezembro de 2001em 270 propriedades agrícolas distribuídasem regiões de expressiva importânciaeconômica do estado de São Paulo:Araraquara, Assis, Avaré, Barretos, BragançaPaulista, Jaboticabal, Jaú, Franca, Limeira,Marília, Itapeva, Itapetininga, Ourinhos, SãoJoão da Boa Vista, São José do Rio Preto,Sorocaba, Ribeirão Preto e Orlândia, tomadasa partir do IEA (Instituto de EconomiaAgrícola) 2000. Junto aos Escritórios deDesenvolvimento Regional da Coordenadoriade Assistência Técnica Integral, órgão deextensão rural do Governo de São Paulo, queconhece e mantém registro das propriedadesagrícolas em cada região, buscou-se aindicação (aleatória) de propriedadesrepresentativas de pequenos a grandesprodutores, que faziam uso da mecanização.

Os itens ou dispositivos de segurançaverificados na máquina foram tomadosprincipalmente das normas ISO 4253 (1993)e ABNT NBR ISO 4254-1 (1999). Também

foram considerados outros itens, nãoexplícitos em normas técnicas, mas cujapresença foi considerada importante por serelacionarem ao grau de conforto e desegurança do operador. Neste caso, inclui-se ocinto de segurança e os requisitos para tráfegoem rodovias. Estes últimos tomaram comoreferência o Código Brasileiro de Trânsito (Lei9503, de 23/09/1997).

Na avaliação dos itens de segurança, foramadotados os critérios abaixo:

a) Posto de operação: na identificação do tipode posto de operação, foi utilizada a seguinteclassificação: “acavalado” e “plataforma”. O postode operação foi considerado como sendo do tipoacavalado quando era formado por apoios ouestribos colocados lateralmente ao monoblocode trator. Neste caso, o monobloco está emdesnível em relação aos apoios e localiza-se entreas pernas do operador. O tipo plataforma éaquele em que a superfície do posto de operaçãoé totalmente horizontal, montada sobre omonobloco ou o chassi. Para verificação dasuperfície antiderrapante, foi considerada a

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presença de orifícios ou material emborrachadoque evitassem o escorregamento do pé nasuperfície do posto de operação.

b) Acesso ao posto de operação: para que ooperador sinta-se confortável e seguro, não sóo posto de operação, mas também o acesso aele deve apresentar característicasespecíficas. No acesso ao posto de operação,os pontos relacionados à segurança e aoconforto do operador são as dimensões, aconfiguração dos degraus e a presença demanípulos. Se o degrau for muito alto, estreitodemais e se não houver apoio adequado paraas mãos, isso certamente dificultará a subidano trator, favorecendo uma situação deinsegurança. A norma ABNT NBR ISO 4254-1 (1999) estabelece que os acessos com monoou multidegraus devem ter largura igual ousuperior a 200 mm, altura do primeiro degraude no máximo 550 mm e apresentar batentevertical de ambos os lados. Com relação aomanípulo, foi considerado como presente,neste trabalho, quando pelo menos ummanípulo era disponível. Nos degraus, asuperfície foi considerada antiderrapantequando apresentava rugosidades, coberturacom material lixa ou quando era descontínua,isto é, com barras verticais espaçadas.

c) Comandos no posto de operação eassento do operador: foram verificados apresença de regulagem do volante de direçãoe o atendimento à norma ABNT NBR ISO4254-1 (1999) no que se refere àscaracterísticas do acionamento/desligamentoda tomada de potência – TDP (identificaçãoem cor vermelha, não exigência de esforçoauxiliar e facilidade de acesso). Com relaçãoao assento, foram verificados a existência deregulagens horizontal e vertical do assento, ainclinação do encosto e o apoio para os braços.

d) Outras características do posto deoperação: também relacionados ao confortodo operador, foram verificados a presença decabine ou toldo solar para proteção contra osol ou intempéries, o isolamento térmico domotor (incorporação de anteparo na partefrontal do posto de operação que favorecessea proteção das pernas do operador contra ocalor do motor; tratores cabinados foramconsiderados automaticamente isolados do

calor do motor) e o direcionamento dos gasesde escape, que segundo a ABNT NBR ISO4254-1 (1999) deve estar acima da cabine oudo toldo solar.

e) Estrutura de proteção contra capotagem(EPCC): são estruturas montadas sobre o tratorcom a finalidade de garantir um espaço seguropara o operador, evitando ou limitando osriscos que o condutor corre em caso decapotagem do trator durante a sua utilizaçãonormal. Verificou-se, ainda, a presença de selode certificação da EPCC, sendo consideradacertificada a estrutura que apresentasseadesivo mencionando o atendimento denorma específica. O selo de certificaçãopoderia ser emitido pelo fabricante do trator(autocertificação) ou laboratório especializado(certificação de terceira parte).

f) Proteção das partes móveis: presença dedispositivos (grade, tampa, defletor) quereduzem a possibilidade de contato com oórgão sob avaliação (polia do motor, pás deventilador, eixo da tomada de potência). Paraespecificação dos tipos de proteção da tomadade potência (TDP), foram considerados osdefinidos na ABNT NBR ISO 4254-1 (1999):caixa ou invólucro, quando todos os ladospróximos à TDP eram protegidos, e escudo outampa, quando pelo menos um lado eraprotegido. Foi verificada também a presençade um invólucro adicional, normalmenteconstituído de uma capa rosqueável, que érecomendado para uso quando a TDP nãoestiver sendo usada.

g) Avisos de advertência: presença deavisos em forma de texto, figura e/ousímbolos que façam advertência sobre osriscos relativos ao tombamento do trator, aogiro da TDP, à partida do motor e aoacoplamento de implementos.

h) Requisitos para tráfego em rodovias:presença de faróis dianteiros, luzes de freio,luzes de advertência, luz de direção, luz deré, buzina, cinto de segurança, espelhoretrovisor em pelo menos um dos lados econdições dos pneus (classificados em bom,médio e ruim, de acordo com a presença decortes e, principalmente, do nível dedesgaste apresentado).

Resultados e Discussão

Nas 270 propriedades agrícolasvisitadas, foram avaliados 487 tratoresagrícolas. Em revendas e em feiras agrícolas,31 tratores novos foram avaliados. Aspropriedades classificadas em função dotamanho da área apresentaram a seguinte

distribuição por classes: abaixo de 50 ha:38,5%; entre 51 e 100 ha: 12,2%; entre 101e 200 ha: 20,7%; entre 201 e 500 ha:17,4%; entre 501 e 1000 ha: 7,8%; acimade 1000 ha: 3,3%. Nessas propriedadesagrícolas, os principais produtos eram

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milho, pecuária/pastagem, cana-de-açúcar,citros, soja, café e feijão.

Os 487 tratores em uso nas propriedadesvisitadas apresentavam a seguinte distri-buição por idade: menos de 10 anos: 33,7%;de 11 a 20 anos: 37,6%; acima de 20 anos:

27,1% e sem identificação: 1,6%. Os dadosrefletem bem o envelhecimento da frotabrasileira (64,7% apresentavam mais de dezanos de uso). Na Tabela 1 é apresentada aclassificação dos tratores por marcas, sendoque as marcas mais antigas foram grupadasdentro das mais atuais.

Tabela 1 Distribuição dos tratores segundo a marca comercial

Marca Trator usado Trator novo

% de presença

MF/AGCO 49,9 19,4VALTRA 25,3 16,1CNH 15,8 25,8JOHN DEERE 2,5 12,9CBT 2,7 -AGRALE 2,0 12,9YANMAR 1,8 12,9OUTRAS 0,8 -

As tabelas 2 a 7 resumem as característicasdos dispositivos avaliados.

a) Posto de operação e seu acesso: nostratores usados, a média da altura obtida parao primeiro degrau foi de 583 mm (desvio-padrão: 93 mm), enquanto que a largura médiados degraus foi de 278 mm (desvio padrão: 56mm). Nos tratores novos, a altura média doprimeiro degrau foi 537 mm (desvio padrão:82 mm) e a largura média dos mesmos foi de365 mm (desvio padrão: 75 mm). Na tabela 2estão sintetizadas as característicasverificadas no local de trabalho do operador.Por aí se vê que apenas 48,1% e 48,4% dostratores em uso atendem ao padrão da ABNTNBR 4254-1 (1999) em relação à altura doprimeiro degrau e à existência de batentevertical em ambos os lados do degrau,

respectivamente. Ressalte-se também apredominância do posto de operação tipo“acavalado” (73,9% nos tratores em uso). Essetipo de posto, além de oferecer certadificuldade de acesso ao local de operação,restringe a inclusão de dispositivos quemelhorem o conforto. Nos tratores novos, todosos requisitos estão com bons índices derepresentação. Quanto ao manípulo oucorrimão, é bom o índice de presença; noentanto, vale destacar que alguns não estãoposicionados de maneira facilmente aces-síveis, enquanto que, em alguns tratores, nosquais não havia nenhum ponto de apoioespecífico para as mãos, era utilizado o volantede direção. A presença de superfície antider-rapante, com índices superiores a 89%, não éum fator preocupante nem para os tratoresusados, nem para os novos.

b) Comandos no posto de operação e doassento do operador: Verifica-se, pela Tabela

3, que é muito pequena a proporção (8,6%)dos tratores agrícolas usados que apresentam

Tabela 2 Características do posto de operação e seu acesso

Item avaliado Trator usado Trator novo

% de presençaTipo do posto de operação

- Plataforma 26,1 64,5- Acavalado 73,9 35,5- Superfície antiderrapante 89,2 96,8

Acesso ao posto de operaçãoExistência de degrau 66,1 83,9Altura do 1º degrau = 550 mm

(1)48,1 88,5

Largura do 1º degrau = 200 mm (1)

69,3 92,3Superfície antiderrapante

(1)55,9 88,5

Batente vertical (1)

48,4 73,1Manípulo/corrimão 72,9 96,2

(1) Em relação ao total de tratores com degraus (322 tratores usados e 26 novos).

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regulagem do volante de direção. Estaregulagem, que se refere à inclinação do eixovertical do mesmo, quando presente, adicionaconforto ao operador, pois permite que ele oajuste as suas características pessoais. Comoparte dos requisitos para as fontes de potência,a norma ABNT NBR 4254-1 (1999)estabelece que cada fonte de potência deva

ser montada com um dispositivo que permitaser desligado rapidamente. Deve ser projetadode modo que não dependa do esforço manualauxiliado para sua operação e que sejafacilmente acessível na sua posição manualde operação. O controle deve ser em corvermelha e deve contrastar com o fundo eoutros controles.

Tabela 3 Características dos comandos do posto de operação e do assento

Item avaliado Trator usado Trator novo

% de presença

Regulagem do volante de direção 8,6 38,7Acionamento/desligamento da TDP

(1)

- Cor vermelha 9,3 38,7- Sem necessidade de esforço auxiliar 11,2 45,2- Acessibilidade 15,2 80,7Indicador do bloqueio do diferencial 8,2 54,8Assento do operador

- Regulagem horizontal 65,1 80,7- Regulagem vertical 19,1 77,4- Regulagem do encosto 3,7 12,9- Apoio para os braços 26,1 67,7

(1) TDP: tomada de potência.

Os dados apresentados na Tabela 3, comrelação ao acionamento/ desligamento datomada de potência, foram baseados no totalde tratores que a apresentavam: 97,7% e100%, respectivamente, para os tratoresusados e novos.

Dos itens avaliados, apenas o referente àacessibilidade do comando nos tratores novosé o mais bem atendido, embora se verifiquetendência favorável nos demais itens. Nostratores em uso, a grande maioria não atendeaos requisitos de norma, o que compromete asegurança do operador. Principalmentequando se faz necessário o desligamento daTDP em casos de emergência, é desejável queos comandos sejam acessados rapidamentesem esforço adicional, como virar ou abaixaro corpo para acessar o comando. A existênciade um indicativo no painel que acuse quandoo bloqueio do diferencial está acionado éimportante para avisar do acionamentoinadvertido e que possa causar acidente. Esseé um requisito normativo raramente presentenos tratores em uso (cerca de 8,2%). Sualocalização no posto de operação também éimportante. Em um dos tratores analisados, aposição inadequada do dispositivo deacionamento do bloqueio fez com que ooperador improvisasse um calço de madeiraem cunha sob o pedal de acionamento paraevitar que, sem querer, descansasse seu pédireito sobre o mesmo, como já aconteceravárias vezes. Igualmente importante do ponto

de vista do conforto do operador, são ascaracterísticas do assento mostradas na Tabela3. Diversos autores citados por Debiasi (2002)concordam que um assento adequado reduz otrabalho estático muscular e favorece a posturacorporal correta do operador, o que podediminuir a ocorrência de doenças ocupacionais.As dimensões do assento (distância horizontalem relação ao volante e pedais; altura emrelação à superfície de apoio; largura ecomprimento do assento), juntamente com osajustes (longitudinal e vertical) do assento, coma localização e com o ângulo do volante dedireção, são alguns dos itens padronizados nanorma ISO 4253 (1993). Com exceção dosajustes longitudinal e vertical do assento, osdemais itens verificados neste levantamentonão são exigidos explicitamente emdocumentos normativos, mas contribuem paraa redução da fadiga. Dentre os itens avaliadosna Tabela 3, a regulagem da inclinação doencosto é o mais crítico tanto nos tratores novosquanto nos mais antigos. Chama a atenção,também, nos tratores em uso, a proporção deapenas 26,1% de tratores com apoio para osbraços. Por outro lado, é favorável o aumentodessa proporção para nível próximo de 68%nos tratores novos. Debiasi (2002) mencionaque, em levantamento realizado na Itália, 41%dos bancos eram equipados com apoio para osbraços e, com relação às regulagens, 86% dosbancos não possuíam ajuste vertical, e aregulagem horizontal não estava presente ounão funcionava; além disso, 12,5% dos tratores

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avaliados possuíam um banco comestofamento severamente prejudicado outotalmente retirado. Situação semelhante foiencontrada neste levantamento, pelo qual severificou que alguns operadores buscavamminimizar o desconforto encontradoimprovisando soluções (uso de espumas elonas de plástico para forrar o assento ouencosto), nem sempre satisfatórias.

c) Outras características do posto deoperação: pelos dados da Tabela 4, verifica-seque é bem expressiva a presença de proteçãosolar (67,4 %), mas a presença de cabine,dispositivo ideal para proteger o operador dasintempéries, bem como do ruído provenientedo motor, é bastante baixa, pois apenas 2,5%dos tratores em uso a apresentavam. Dostratores avaliados em campo, 52,8% não

apresentavam nenhum tipo de EPCC. Taisestruturas deveriam ter resistência asseguradaem testes oficiais (homologação) segundonormas técnicas, o que não é exigido no Brasil.Assim, a autocertificação, isto é, a declaraçãodo fabricante atestando o atendimento daestrutura às normas técnicas é um ins-trumento legal, em favor do operador, sendopor isso verificado neste levantamento.Percebe-se pela Tabela 4 um aumento razoávelna disponibilização de estruturas certificadasnos tratores atualmente comercializados, aexemplo do que ocorre nos países europeus,onde é prática comum a realização de ensaiospor órgãos competentes. No campo,entretanto, é pequeno o número de tratorescom estrutura certificada (38,3% do total detratores com algum tipo de EPCC).

Tabela 4 Outras características do posto de operação

Item avaliado Trator usado Trator novo

% de presença

Proteção contra sol/intempéries 67,4 80,7Proteção contra calor do motor 31,0 77,4Direcionamento do escape acima dacabine ou do toldo solar 62,6 92,6

Tipo de estrutura de proteção

- Cabine de segurança 2,5 19,4- EPCC de 4 pontos 15,0 16,1- EPCC de 2 pontos 29,8 48,4- Ausente 52,8 16,1

Certificação da estrutura de proteção (1)

38,3 57,7(1)

Em relação aos tratores que apresentavam estrutura de proteção.

d) Proteção de partes móveis: Partindo doprincípio de que “tratores e máquinasagrícolas e florestais devem ser projetados econstruídos de tal modo que não causemperigo, quando utilizados adequadamente”, anorma ABNT NBR 4254-1 (1999) define aspartes consideradas perigosas, os tipos deproteções necessárias, os critérios deconstrução e os requisitos dimensionais paraa prevenção de acidentes e a melhoria do graude segurança pessoal dos operadores e deoutros envolvidos no uso de tratores. Aporcentagem da presença dos itens deproteção avaliados é apresentada na Tabela 5.Verificou-se baixo índice de atendimento àsnormas técnicas, com 42,3% e 17,0%,respectivamente, para a proteção da polia domotor e da TDP. A proteção das pás doventilador do sistema de arrefecimento domotor, apesar de presente na grande maioriados casos, é parcial, pois se verificou que não

impede, eventualmente, um contato manualcom as pás. Da mesma forma ocorre com oinvólucro adicional também previsto nanorma ABNT NBR 4254-1 (1999). Segundoesta: “um invólucro adicional não giratóriodeve ser provido para uso quando a tampa ouinvólucro não estiver na posição e quando aTDP não estiver em uso; este invólucro deveenvolver completamente a TDP e ser fixadona carroceria do trator ou máquina”. Naprática, acontece que, mesmo sendo fornecidode fábrica, ele não é utilizado, o que éfavorecido pelo fato do invólucro, na maioriaabsoluta dos casos, não ser fixado ao trator.Sendo removível, acaba sendo perdido oudeixado de lado. Pelo exposto, o nível deproteção das partes móveis dos tratores usadosnão é satisfatório, o que potencializa os riscosde acidentes no campo. Os tratores novos,entretanto, já incorporam de forma maispositiva todos esses dispositivos.

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Tabela 5 Características da proteção de partes móveis

Item avaliado Trator usado Trator novo

% de presença

Proteção de partes móveis- Polia do motor 42,3 87,1- Pás do ventilador 92,3 96,8- Tomada de potência 17,3 71,0

Tipo de proteção da TDP(1)

- Escudo ou tampa 17,3 71,8- Invólucro 0,0 0,0

Invólucro adicional 12,4 ND*(1)

TDP: tomada de potência* ND: Não determinado

e) Avisos de advertência: A norma ABNTNBR 4254-1 (1999) estabelece que “avisos deadvertência duráveis devem ser fixados namáquina, naquelas partes que apresentamperigo para o operador, inclusive situaçõesonde, o abaixamento inadvertido de partesdo equipamento, possa causar perigo.Advertências específicas de segurança ou deperigo devem ser indicadas no aviso”. Taisavisos devem ter também símbolos,diagramação e cores de acordo com a normaISO 11684 (1995), o que não é visto normal-mente. A Tabela 6 apresenta os resultados daavaliação da presença de avisos deadvertência. Os baixos níveis de presença deavisos em todos os itens avaliados nos tratoresusados indicam que este aspecto de prevençãonão recebeu a importância que deveria ser

dada pelos fabricantes, embora se perceba umcerto nível de melhora nos tratores novos.Dentre os avisos com menor percentual depresença no levantamento efetuado, estão osrelativos à tomada de potência (9,0% nosusados; 41,9% nos novos) e à orientação sobreacoplamento de implementos (11,7% nosusados; 29,0% nos novos). Contrapondo-se aoutro requisito da norma ABNT NBR 4254-1(1999), que estabelece que “o aviso deadvertência deve ser ilustrado ou conter umtexto em linguagem acessível ao usuário”,verificou-se em um dos tratores comercia-lizados no Brasil adesivo de advertência emvárias línguas, no qual o texto em português,se achava misturado a todos eles tornandoconfusa e de difícil percepção imediata amensagem desejada.

Tabela 6 Presença de avisos de advertência

Item avaliado Trator usado Trator novo

% de presença

Risco de tombamento 31,0 61,3Risco de giro da TDP

(1)9,0 41,9

Partida do motor 31,4 54,8Orientação sobre acoplamento 11,7 29,0

(1) TDP: tomada de potência

f) Requisitos para tráfego em rodovias:Embora projetado para operar em zonasrurais, muitos agricultores servem-se dotrator para deslocar-se de uma área paraoutra, utilizando-se não só de estradas deterras, como também de rodovias, sendoconhecidos muitos relatos de acidentesenvolvendo tratores em rodovias. O limitemáximo de velocidade, em torno de 40 km/h, é um fator que, juntamente com aimprudência dos operadores, contribui paraa ocorrência de acidentes. A incorporação

de dispositivos para tráfego em rodovias,como faróis, espelhos, buzina, pisca alerta,sinalização de veículos lentos e outros, são,portanto, uma necessidade. Além disso, otrator agrícola é passível da aplicação doCódigo de Trânsito Brasileiro e, a rigor,deveria dispor dos mesmos equipamentosexigidos para automóveis, inclusive cintode segurança e extintor de incêndio. O quese percebe, no entanto, pela Tabela 7, é queos tratores mais antigos deixam muito adesejar sob este aspecto. Com exceção

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do farol dianteiro (82,7% nos usados; 100%nos novos), os demais itens, apresentaram umbaixo índice de presença, seja porqueoriginalmente não são disponibilizados, seja

porque não estavam funcionando. Em algunscasos, em que foi constatada a presença deespelho retrovisor e buzina, estes haviam sidoinstalados pelo operador.

Tabela 7 Características dos requisitos para tráfego em rodovias

Item avaliado Trator usado Trator novo

% de presença

Farol dianteiro 82,8 100,0Luz de direção 6,6 54,8Luz de advertência 6,8 64,5Luz de freio 19,1 77,4Luz de ré 1,0 9,7Buzina 5,9 64,5Espelho retrovisor 8,6 29,0Cinto de segurança 23,0 67,7

Destaca-se também o estado de con-servação dos pneus, sendo que quase metade(48%) dos tratores em operação no campoapresentava condição de média a ruim devidoà presença de cortes e desgaste da banda derodagem. Nos tratores novos avaliados, nota-se que a presença de itens específicos para otráfego em rodovia é bem maior (acima de29,0%), exceto para o item luz de ré, que tanto

em tratores usados como em novos é muitobaixa (1,0% e 9,7%, respectivamente).

Um levantamento realizado por Debiasi(2002) também atesta diversas limitações noque se refere às características de segurançanos tratores em uso na Região Central do RioGrande do Sul, para os mesmos itens avaliadosneste trabalho.

Conclusões

A grande maioria dos tratores em uso empropriedades agrícolas de regiõeseconomicamente importantes no estado deSão Paulo não apresenta condições desegurança e conforto para o operador. Noacesso ao posto de operação, onde há umadiversidade de tipos, as principais limitaçõesdos degraus de acesso são a inexistência debatente vertical em ambos os lados e a alturado primeiro degrau, cuja média está acimado especificado por norma técnica. No postode operação, são fatores de risco: o alto índicede posto tipo “acavalado”, que não oferecesegurança e conforto adequado; o alto índicede saída de escape abaixo do toldo solar ou dacabine; o baixo nível de proteção contra calordo motor. O índice de tratores sem qualquertipo de estrutura de proteção contracapotamento é mais alto do que aqueles quepossuem e, destes, muito poucos possuemcertificação da estrutura. Dos requisitos para

tráfego em rodovias, o dispositivo maisfreqüentemente disponível nos tratoresanalisados é o farol dianteiro.

Os demais são quase inexistentes.Também não são satisfatórios os índices depresença de avisos de advertência e dedispositivos de proteção de partes imóveis.

Nos tratores novos há tendência geral deatendimento aos requisitos de segurança econforto do operador em quase todos os itensavaliados. São pontos favoráveis, na maioriados casos: as características do posto deoperação e seu acesso, a presença de cabineou toldo solar, o direcionamento adequado dotubo de escape, as características do assento(regulagem e apoio), o nível de presença deestruturas de proteção contra capotamento, aproteção de partes móveis e os requisitos paratráfego em rodovias.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro aoprojeto.

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O uso das luvas de proteção no cortemanual da cana-de-açúcar1

Protective gloves for manual harvesting ofsugar cane

Maria Cristina Gonzaga2

Roberto Funes Abrahão3

Oscar Antonio Braunbeck3

1 Texto baseado na dissertação de

mestrado “O Uso das Luvas de Proteçãono Corte Manual da Cana-de-açúcar”,defendida na Faculdade de EngenhariaAgrícola da Universidade Estadual deCampinas (UNICAMP) em 09/12/2004.

2 Pesquisadora da Divisão de Ergonomia

da Fundacentro; mestranda emMáquinas Agrícolas pela Faculdade deEngenharia Agrícola da UniversidadeEstadual de Campinas (UNICAMP).3 Professores Doutores da Faculdade de

Engenharia Agrícola da UniversidadeEstadual de Campinas (UNICAMP).

ResumoUma negociação tripartite entre a Fundacentro, o Sindicato dos Empregados Ruraisde Araraquara e a Usina Santa Cruz permitiu a realização do estudo sobre o uso dosequipamentos de proteção individual (EPI) e das ferramentas de trabalho durante aexecução da atividade de cortar manualmente a cana-de-açúcar.A problemática se manifestou frente às estratégias utilizadas pelos trabalhadorespara viabilizar o uso conjunto das ferramentas e dos EPI, prescritos como obrigatóriospela Norma Regulamentadora Rural nº 4 (Ministério do Trabalho e Emprego) e pelasnormas internas da empresa. A principal estratégia desenvolvida pelos trabalhadoresfoi emborrachar o cabo do facão com o objetivo de minimizar o efeito da falta deaderência entre a luva de proteção e o cabo da ferramenta.A metodologia utilizada no presente estudo foi analisar qualitativamente, através daaplicação de questionários, quatro modelos de luvas junto a 47 trabalhadores, alémde analisar quantitativamente o coeficiente médio de atrito estático (FFFFF) desenvolvidoentre as luvas e a madeira com que é confeccionado o cabo do facão. Os experimentosforam feitos com madeira limpa e emborrachada e com luvas novas e usadas.A pesquisa qualitativa apontou a luva de proteção de raspa de couro e nylon como apreferida dos trabalhadores, pelo conforto advindo do fato desta luva se ajustar bemàs mãos, de não prejudicar os movimentos e não ocasionar danos às mãos.O coeficiente de atrito estático (FFFFFe) depende do tipo de luva, da condição da luva e dotipo de superfície.

Palavras-chave: luva de proteção, atrito estático, cana-de-açúcar.

AbstractThis study on the personal protective equipment (PPE) and the tools used for the manualharvesting of sugar cane resulted from a tripartite negotiation between FUNDACENTRO,the Rural Workers Union in Araraquara, and the Santa Cruz sugar mill.The subject came out while workers were trying to adapt themselves to the set oftools and PPE (Personal Protective Equipment) demanded not only by the RegulatingStandard Rural nº4 set by the Ministry of Labor and Employment, but also to theircompanies internal rules. One of their strategies to improve their gloves adherenceto the handles of their knives was covering them with rubber.Four models of gloves were analyzed not only from the point of view of their quality,through questionnaires distributed to 47 workers, but also their quantity, throughthe average static friction coefficient (FFFFF) produced by the gloves when holding thewooden knife handles. Clean wood and wood covered with rubber, new and usedgloves were tested.The qualitative research showed that workers prefer gloves made of leather andnylon scrapings because they fit their hands comfortably, without causing aches orblocking their movements.The static friction coefficient (FFFFFe) is determined by the glove material, its conditionand the kind of surface.

Keywords: protective gloves, static friction, sugar cane.

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Introdução

proteção em couro ou tecidos para proteçãocontra riscos mecânicos. A EN 388 é a normautilizada para as luvas em couro e nylon contrariscos mecânicos. Entre eles estão os riscoscontra materiais cortantes. Portanto, estas sãoas normas que definem os pré-requisitos paraas luvas que devem ser utilizadas peloscortadores de cana-de-açúcar.

Os atributos de conforto e adequação àspeculiaridades da atividade estão previstos naNRR 4. Entretanto, os cortadores de canasentem desconforto e insegurança no uso dasluvas, já que normalmente o cabo do facãonão é aderente à luva de proteção em raspa decouro (Dias, Neto & Santos

, 1989; Gonzaga,

2002, 2004). Talvez isso seja reflexo dasnormas de fabricação de luvas de proteção.

O uso das luvas de proteção na atividadedo corte manual da cana-de-açúcar é deextrema importância, já que a mão é a partedo corpo atingida nesta atividade e o facão é oprincipal agente causador de acidentes,segundo Reina, Goldim & Ludemir (1993),Meirelles et al. (1983), Gonzaga (1996) eBomfim (2001).

Busca-se, com este trabalho, avaliar, sobuma perspectiva ergonômica, o impacto dautilização dos EPI durante a execução do cortemanual da cana-de-açúcar, propondomelhorias especificamente relacionadas àsluvas de proteção e ao cabo do facão,considerando a atividade exercida e os usuários.

Objetivo

Avaliar o uso das luvas de proteção naatividade do corte manual da cana-de-

Objetivos Específicos

Verificar, junto aos trabalhadores, osproblemas relacionados ao uso das luvasde proteção junto ao facão na atividade docorte manual da cana-de-açúcar.

Determinar o coeficiente de atritoatravés de ensaios experimentais comquatro tipos de luvas de proteção e a madeirautilizada na confecção dos cabos dos facões.

Metodologia

Durante duas safras, foram acompanhadosdois grupos de trabalhadores, junto aos quaisforam aplicadas entrevistas semi-estruturadase observações em campo.

Na safra de 2001, o grupo era formado por35 trabalhadores; durante a safra de 2002, ogrupo era formada por 47 trabalhadores.

As improvisações dos trabalhadores,observadas no ano de 2001, direcionaram asações desenvolvidas no ano de 2002, ou seja,foram feitos ensaios experimentais paraquantificar o coeficiente de atrito estáticojunto ao material de quatro luvas de proteçãonovas e usadas: raspa de couro/metal (CA =11.862), kevlar (CA = 12,503), algodão/

O uso dos EPI é uma exigência legal daNorma Regulamentadora Rural nº 4 doMinistério do Trabalho – NRR 4 (Ministério doTrabalho e Emprego, 2003). Consta no item4.1 a definição do EPI como todo dispositivo deuso individual destinado a preservar e protegera integridade física do trabalhador. O item 4.2estabelece que o EPI deve ser adequado ao risco.O item 4.3 estabelece que as peculiaridadesda atividade devem ser respeitadas nofornecimento da proteção para os membrossuperiores, contemplando as atividades em quehaja riscos ocasionados por materiaisescoriantes, abrasivos, cortantes e perfurantes.A atividade dos cortadores de cana se insereneste caso, pois, na sua execução, é necessárioo uso do facão. No seu item 4.6, a normaestabelece que compete ao trabalhador usarobrigatoriamente os EPI indicados para afinalidade a que se destinarem.

A Associação Brasileira de NormasTécnicas (ABNT, 1996) define e aprova asnormas para a fabricação dos EPI. O Institutode Pesquisa Tecnológica (IPT) é o instituto queexecuta os ensaios exigidos pelas normas daABNT. Os resultados são encaminhados parao Ministério do Trabalho e Emprego para seremitido o certificado de aprovação (CA). Oartigo 167 da Consolidação das Leis doTrabalho estabelece que os EPI só podem serpostos à venda com a indicação do CA.

A NBR 13712 é a norma que deve sercumprida para a fabricação das luvas de

açúcar sob o ponto de vista da segurança edo conforto.

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borracha (CA = 4.250) e raspa de couro/nylon (CA = 11.862, segundo informaçõesdo setor de segurança da empresaanalisada), e a madeira com a qual éconfeccionado o cabo do facão (sem bor-racha e emborrachado).

Os trabalhadores usaram as luvasavaliadas nos ensaios experimentais comobjetivo de obter informações qualitativas

relacionadas às luvas; foram entregues 3pares de luvas para cada trabalhador.

Para a análise dos dados qualitativos equantitativos foram utilizados os softwaresEPIINFO (1994) e SAS (2001). O modeloestatístico aplicado será a Análise deVariância (ANOVA). O atrito foi a variáveldependente, enquanto o tipo de luva, suacondição e o tipo de revestimento da madeiraforam as variáveis independentes.

Resultados e Discussão

O grupo avaliado no ano de 2001 eracomposto de 35 trabalhadores (54,55% dosexo feminino e 45,45% do sexo masculino);neste período foi feito o diagnóstico preliminarsobre o uso dos EPI.

O grupo avaliado no ano de 2002 eracomposto por 47 trabalhadores (59,57% dosexo feminino e 40,42% do sexo masculino);neste período foi feito o estudo sobre as luvasde proteção.

Os EPI analisados durante a fase inicial dediagnóstico foram os seguintes: perneiras, óculosde proteção, luvas de segurança e sapatos deproteção. A aplicação de uma entrevista préviapara avaliar como se estabelecia a relação entreos usuários e os EPI tem os resultados apresentadosna Tabela 1. A entrevista questionava se os EPIprotegiam e se eram confortáveis, porém estequestionamento se traduziu na seguinte respostafornecida pela maioria dos cortadores:“confortáveis os EPI não são, eles atrapalham”.

Tabela 1 Aceitação do uso dos equipamentos de proteção individual

EPI Protege* Atrapalha*

Perneira de proteção 87,5% 45,2%Óculos de proteção 87,0 % 50,0%Luvas de segurança 64,5% 79,4%Sapato de proteção 77,5% 45,2%

Fonte: GONZAGA (2002) * Respostas múltiplas

No questionamento feito aos trabalhadoressobre a perneira de proteção, 45,2%admitiram que a mesma atrapalha (Tabela 1).Os motivos apontados pelos trabalhadoresforam os seguintes:

• a perneira esquenta, escorrega e machucaas pernas durante a execução da atividade;

• no corte da cana-de-açúcar em curva denível, a declividade do terreno exige umapostura que interfere no ângulo entre o pé e aperna, o que dificulta a curvatura dos pés.Como o material com que é confeccionada aperneira é duro, a região do metatarso sofreferimentos;

• ela tem na sua parte lateral superiorum encaixe rígido para guardar o suporte delima (ferramenta utilizada para manter o fiodo facão). Segundo os trabalhadores, issofacilita a perda da lima e pode causarferimentos no joelho.

No questionamento feito aos trabalhadoressobre os óculos de proteção, 50% dostrabalhadores afirmaram que o mesmo

atrapalha (Tabela 1). Os motivos alegados pelostrabalhadores foram os seguintes:

• depois de horas de uso, houve queixasde tontura e dor de cabeça;

• os óculos apertam muito o rosto e muitasvezes ocasionam ferimentos;

• no corte da cana crua, as folhas entrampor baixo dos óculos e a fuligem e o joçápenetram nos olhos, provocando irritações.

Na indagação com relação à botina desegurança, os dados indicaram que para 45,2%dos trabalhadores elas atrapalham (Tabela 1).A principal queixa apontada por eles é adificuldade de manutenção adequada doequipamento pelo fato de a empresa fornecerapenas um par. Isso ocorre principalmentequando a atividade é desenvolvida durante achuva, situação em que o sapato naturalmentefica molhado e endurece, conseqüentementeaperta e machuca os pés. O envelhecimentoprecoce das botinas foi citado como um fatorque gera problemas, sempre relacionados aoendurecimento.

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No questionamento junto aos trabalha-dores sobre se a luva de proteção atrapalhavaa execução do trabalho, obteve-se a seguinteresposta: 79,4% admitiram que sim (Tabela1). Os motivos expostos pelos trabalhadorespara justificar a resposta acima foram osseguintes:

• na execução do corte manual da cana-de-açúcar, é necessário usar o facão em contatocom as luvas de raspa de couro, porém ostrabalhadores afirmam que o cabo do facãonão é aderente à luva e o uso desse conjuntogera uma situação insegura, facilitando aocorrência de acidentes;

• a luva endurece em contato com asacarose e as cinzas presentes na cana-de-açúcar, causando calos, bolhas e rachadurasnas mãos dos cortadores;

• o tamanho das luvas é inadequado aotamanho das mãos dos trabalhadores (Figura1), já que as mesmas têm tamanho único;muitas vezes, a luva pressiona as unhas, queficam roxas, podendo até cair;

• dormência nas mãos e dores nos braçose nas costas podem ocorrer, pois, segundo afala de um trabalhador: “é necessário fazermuita força para conseguir segurar o facãojunto às luvas”.

Figura 1 Cortadora usando luva de tamanho inadequado

A luva de proteção foi apontada comosendo o EPI que mais atrapalha (Tabela 1).Em função disso, selecionou-se a luva paraser avaliada após a fase do diagnósticopreliminar.

O uso da luva de proteção exige dostrabalhadores o desenvolvimento das seguintesestratégias: emborrachar o cabo do facão –82,7%; usar luva de pano sobre a de raspa –6,9%; molhar as luvas de raspa – 6,9%; e nãousar luva na mão que segura o facão – 3,4%.

A problemática relacionada às luvas deproteção no corte manual da cana-de-açúcaré abordada por Dias, Neto & Santos (1989) epor Gonzaga (2002): a luva de proteção causaferimentos, pois, durante o processo, a cana équeimada, depositando cinzas; estas cinzas,em contato com a sacarose e a água, formamuma mistura que, em contato com as luvas deraspa, penetram na pele das mãos. Esseprocesso bioquímico produz descamações,fissuras e dermatites nas mãos, como mostraa Figura 2.

Figura 2 Mão de uma trabalhadora com as unhas lesionadas

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Com relação ao tamanho das luvas deproteção (Figura 1), o tamanho único, quedesconsidera a variabilidade dos usuários, éum problema principalmente para asmulheres, que normalmente têm as mãosmenores que os homens: em função disso, elasdiminuem 2 cm no cabo do facão paraconseguir segurar o mesmo com firmeza.

Segundo a Organização das Nações Unidaspara Agricultura e Alimentação – FAO (1992)–, quando se tenta adequar as ferramentas aotrabalhador, é preciso levar em conta a enormevariação de tamanho do corpo, entre as raçasentre o homem e a mulher e até mesmo entreindivíduos do mesmo sexo e raça.

Com relação ao material de confecção, araspa de couro com que é confeccionada a luvade proteção endurece em contato com a sacarose,dificultando o movimento de mãos e braços.

Com relação ao formato, a localização dascosturas internas da luva coincidindo com apega do cabo do facão machuca as mãos.

Segundo Ali (2001), grande número dedermatoses alérgicas em trabalhadores temsido produzido por equipamentos de proteçãoindividual. Algumas categorias são maisatingidas em virtude do uso de EPI emcircunstâncias especiais.

Armstrong (1985, 2003) descreve que onível de fricção entre os elementos cabo e luvainterfere de forma significativa na carga dapega nas mãos. Esse fato foi confirmado porMcGorry (2001), que apresenta alguns fatoresque interferem na interação cabo/mão e na

força de preensão: diâmetro, comprimento,forma, textura da superfície, luvas,contaminantes, vibração etc.

Freivalds & Tsaousidis (1997) observaramo problema da interferência do retorno tátilcom relação ao uso de luvas de proteção,quando a mão tem que manusear um objetoque não tenha fricção junto ao material daluva. As estratégias desenvolvidas peloscortadores buscam justamente aumentar oíndice de fricção entre a luva e o cabo dofacão.

Com relação aos coeficientes de atrito, temosalguns resultados que comprovam o seguinte:

1. o coeficiente de atrito estático dependedo material com que é confeccionada a luvade proteção: algodão/borracha (FFFFFe = 1,24),kevlar (FFFFFe = 1,27), raspa/metal (FFFFFe = 0,92) eraspa/nylon (FFFFFe = 0,98);

2. o coeficiente de atrito estático dependedo estado da luva: luvas novas (FFFFFe = 1,14) eluvas usadas (FFFFFe = 1,06);

3. o coeficiente de atrito estático dependedo tipo de superfície: madeira limpa (FFFFFe =0,85) e madeira emborrachada (FFFFFe = 1,36).

Com o decréscimo no coeficiente de atrito,ocorreu o aumento da força de preensãoaplicada de 158% para os materiais úmidos ede 326% para o mesmo material seco(Buchholz et al., 1988, 324).

A Tabela 2 apresenta um resumo dasrespostas obtidas quando se avaliou a seguintequestão: “qual é a melhor luva de proteção?”

Tabela 2 Resultados relativos à seguinte questão: qual é a melhor luva de proteção?

Tipo de Luva A melhor

Algodão/borracha (n = 36) 76,47%Kevlar (n = 38) 51,43%Raspa de couro/metal (n = 46) 10,87%Raspa de couro/nylon (n = 33) 90,32%

N = número de trabalhadores

Os dados apresentados na Tabela 2 nãocontemplaram os 47 trabalhadores do grupo,pois foi uma rotina no desenvolvimento desteestudo os trabalhadores estarem ausentes,porém a justificativa para essa ausência nuncanos foi dada.

Os motivos que justificam os resultadosapresentados na Tabela 2 são os seguintes:

• Luva de algodão e borracha: é macia eaderente ao cabo do facão, ajusta bem à mão enão prejudica os movimentos;

• Luva de kevlar: enrola à palma da mãopor ter muita aderência ao cabo do facão,em função disso prejudica os movimentosdas mãos;

• Luva de raspa e nylon: ajusta bem napalma da mão e não prejudica os movimentos,porém escorrega no cabo do facão;

• Luva de raspa e metal: escorrega no cabodo facão e não se ajusta à mão, o que dificultao movimento.

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Referências Bibliográficas

Freivalds & Tsaousidis (1997) destacamque as luvas afetam a força exercida,interferindo no desempenho dos trabalhadorese fazendo com que eles aumentem asexigências musculares, gerando problemasosteomusculares.

O fator decisivo para o conforto das luvas nãoé apenas a aderência advinda do atrito, pois afalta de atrito enseja o desenvolvimento pelos

trabalhadores da estratégia “emborrachamento”do cabo de facão. Segundo os trabalhadores, outrosfatores que não são passíveis de improvisaçãodevem ser considerados, como, por exemplo, odimensionamento das costuras internas das luvas,a maciez do material com que as mesmas sãofabricadas e o tamanho, embora, para minimizaro efeito do tamanho inadequado, as trabalhadorassobrepõem luvas para ajustá-las.

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Por que os motociclistas profissionais seacidentam? Riscos de acidentes e estratégiasde prevenção

Why do professional motorcyclists haveaccidents? Accidents risks and preventionstrategies

Eugênio Paceli Hatem Diniz1

Ada Ávila Assunção2

Francisco de Paula Antunes Lima2

1 Pesquisador da Fundacentro –

Fundação Jorge Duprat Figueiredo deSegurança e Medicina do Trabalho.2 Professores da Universidade Federal de

Minas Gerais.

ResumoO trabalho dos motociclistas profissionais constitui o foco investigativo do presenteestudo, que fornece elementos para subsidiar os atores sociais nas negociaçõesrelativas à melhoria das condições de trabalho da categoria. Adotando-se aabordagem teórico-metodológica da escola da ergonomia da atividade, foi possívelconhecer os constrangimentos vivenciados e as estratégias construídas pelosmotociclistas profissionais em face dos principais fatores socioeconômicos quegeram pressão temporal no desenvolvimento da atividade.Os resultados obtidosforam analisados considerando-se o modo de funcionamento das unidades deprodução em suas articulações com as instituições da cidade e a rede de serviçosque garantem a meta de produzir mais em menor tempo. Finalmente, o estudopermitiu descrever os fatores acidentogênicos, ligando o plano macroeconômico esuas leis de mercado à rede técnico-organizacional que sustenta as unidadesprodutivas, gerando o comportamento do tempo zero. É nesta encruzilhada que omotociclista profissional elabora as suas estratégias para garantir as metas deprodução, a satisfação do cliente e a sua autoproteção, nem sempre bem-sucedida,contra os acidentes no trânsito.

Palavras-chave: Motociclistas profissionais, motoboy, acidentes de trânsito,acidente de trabalho, Análise Ergonômica do Trabalho.

AbstractProfessional motorcyclists’ jobs are the focus of this study that provides elementsthat may help social actors when they negotiate improvements in working conditionsfor their professional category.By adopting the methods proposed by the Activity Ergonomics Approach, it waspossible to learn the strategies developed by professionals in dealing with timeconstraint factors.The results were analyzed taking into consideration the working conditions of theproduction units regarding their association with their town organizations andthe network of services that helps reaching the goals of producing more in lesstime. Finally, the study describes accident-borne factors, associating themacroeconomic level and its market laws to the technical-organizational networkthat maintains the productive units and generates the time zero behavior. Theintersection of these two aspects is the point at which professional motorcyclistsmust develop strategies to reach production goals, their client satisfaction andtheir own protection, not always successful, against traffic accidents.

Keywords: professional motorcyclists, motorboy, labor accidents, traffic accidents,Ergonomics Analysis of Labor.

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Introdução

“Produção enxuta”, logística de transportee acidentes

O objetivo deste artigo é apresentar ascaracterísticas do trabalho do motociclistaprofissional no contexto de sua realização emuma grande concentração urbana. Os resultadosobtidos orientaram, dentre outras reco-mendações, a elaboração de uma convençãocoletiva de trabalho (Diniz et al., 2005).

A tendência recente de aumento dosacidentes de trabalho fatais em espaços urbanospode ser analisada tendo em vista os elementosexplicativos dos acidentes que acometemmotoristas e motociclistas profissionais,trabalhadores que ocupam posições estratégicasnos sistemas produtivos atuais.

Em Belo Horizonte, a ocorrência deacidentes envolvendo motociclistas nouniverso de acidentes de trânsito registradospassou de 10,3%, em 1994, para 30,5%, em2003. Com relação ao tipo de veículoenvolvido no acidente, a motocicleta passoude 21,7% dos casos, em 1994, para 46%, em2003. Nesse mesmo período, a frota demotocicletas em Belo Horizonte quase dobrou,passando de 42.812 para 70.679 (SecretariaMunicipal de Saúde e BHTRANS, 2005).

A ocorrência de acidentes de trabalhofatais típicos não predomina no espaçointramuros das empresas: um em cada cincocasos fatais envolve motorista em situação detrabalho (Waldvogel, 2002).

Uma análise do fenômeno urbano queseria determinado pelas características dotrânsito, pelo estado de conservação das viaspúblicas ou pelo tipo de direção dos motoristasnão seria suficiente para entender a inversãoespacial dos acidentes de trabalho fatais.

Este artigo expõe os determinantessocioeconômicos oriundos do processo dereorganização da produção que se caracterizapor um “enxugamento” das empresas emdiversos aspectos: da redução da mão-de-obraempregada à redução dos estoques deprodutos e de materiais em processo.

A busca incessante pela redução cada vezmaior do tempo de giro da produção (Harvey,1989) passa a se configurar como uma dasestratégias centrais para grande parte dasatividades produtivas, gerando uma reação emcascata da grande empresa até o pequenofornecedor, conforme será analisado a seguir.Ou seja, para sobreviver no mercado, asempresas vêem-se obrigadas a reduzir otempo de giro na produção e são levadas

continuamente a responder, com rapidez cadavez maior, à demanda de bens e serviços.

Com efeito, expandiu-se o serviço prestadopela categoria não apenas como alternativa deemprego, como se verá, mas, sobretudo, comoresposta a uma necessidade estabelecida nasociedade contemporânea. Cada toque nomouse que fecha um negócio via internet, cadatelefonema do cliente que demanda umproduto ao fornecedor aciona a ignição de umexército de motocicletas que transportam umainfinidade de materiais e produtos: remédios,passagens, alimentos, materiais de escritório,fotocópias, cilindros de gás de cozinha,garrafões de água mineral, talões de cheques,malotes de empresas etc. Eles realizamtambém serviços de cunho burocrático:efetuam pagamentos e depósitos; obtêmcertidões negativas e “nada consta” emrepartições públicas e privadas. Assim, alogística de transporte passa a desempenharum papel estratégico de mediação entrediversos agentes econômicos. No entanto, seas empresas adotam sistemas de organizaçãoadaptados às exigências de flexibilidade eagilidade de resposta, o espaço urbano aindaestá moldado pelo modelo de produção emgrande escala, criando obstáculos àmobilidade dos produtos. A deficiência geradana teia do contraste entre a flexibilização daprodução e o espaço urbano rígido é suprida,em parte, pelos motociclistas profissionais.

Ademais, com o crescimento dos serviços,tende-se a inverter a relação de deslocamentoconsumidor-produto. Se antes era o consu-midor que se deslocava para um ou váriospontos do espaço urbano em busca de produtose serviços, agora são os produtos e serviços quese deslocam até seu escritório ou casa.

O desenvolvimento e a implantação dastecnologias de informação e comunicação nosmais variados processos produtivos colocaramem evidência a falácia dos postulados dasociedade pós-industrial: o mito da fábricasem homens e a substituição da indústria pelosserviços. Ao contrário, os processos emmarcha, para alcançar êxito ao invés deruptura, estabelecem necessariamenterelações de reciprocidade entre pesquisacientífica, desenvolvimento, métodos,fabricação e marketing (Lojkine, 1995), ouseja, verifica-se que as atividades materiais eas imateriais se interpenetram.

As atividades imateriais dependem, em seuconteúdo e forma, das atividades materiais, entreelas o transporte de produtos, documentos eformulários por uma via física – no caso, a

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motocicleta. A qualidade (rapidez, pon-tualidade...) da venda na loja virtual depende doapoio logístico de uma rede de distribuição queexiste no tempo (duração) e no espaço. Aobviedade de que o motociclista se desloca noespaço e no tempo reais é, às vezes, obscurecidadiante do instantâneo do mundo virtual e dalógica do tempo zero que orientam a organizaçãoda produção just in time.

Com os novos padrões de competitividade,o tempo de entrega torna-se um valorimportante, ao lado de critérios tradicionaiscomo custo, estética, funcionalidade edurabilidade dos produtos e serviços. Assimcomo a produção se rege, hoje, pelo princípiode “produzir certo da primeira vez” ou“produzir na quantidade certa”, procura-se“produzir no momento certo”, o que envolvedesde o tempo de resposta da empresa paradesenvolver e fabricar produtos até suaentrega no momento em que é declarada anecessidade do cliente. Por isso, a logísticaassume uma função estratégica ao servir demediação entre fornecedor e cliente, que podeser um outro produtor ou o consumidor final,organizando simultaneamente o fluxo deinformações e o fluxo de deslocamentoespacial dos produtos.

Com a produção just in time, parte doestoque foi eliminada e parte transformada

em estoque móvel, verdadeiro almoxarifadosobre as rodas dos veículos. Atualmente, nosetor automobilístico, as empresas forne-cedoras de autopeças fazem entregas de duasem duas horas, devendo manter uma infra-estrutura robusta de transporte e um sistemade monitoramento permanente para resolver,em tempo real, as eventuais falhas, de modo amanter um fluxo contínuo. Isso só se tornapossível porque dois fluxos, paralelos e emsentido opostos, combinam-se para sincronizarprodução, transporte e consumo: de um ladoas informações que se movimentam de jusanteà montante; de outro, o fluxo materialpropriamente dito, que responde ao fluxo deinformações. Teoricamente, o fluxo materialdeveria ser organizado de modo a se ajustar aofluxo instantâneo de informações. Na prática,surge uma série de contradições e fricções napassagem do virtual ao material, cujasconseqüências se fazem sentir, entre outrascoisas, na saúde dos trabalhadores inseridosnesse fluxo.

Nesse cenário, os desempregados e osjovens inexperientes que compõem o mercadoinformal da economia encontram, nasdemandas crescentes de serviços queestabeleçam a conexão fornecedor-cliente,uma alternativa à restrição do empregonoutras áreas.

Métodos e Procedimentos

Para entender como a relação entre estanova realidade virtual e o mundo físico, emsua densidade espaço-temporal própria,determina o comportamento dos moto-ciclistas profissionais, realizou-se um estudoergonômico (Diniz, 2003) cujos princípiosteóricos e metodológicos consideram adistinção entre “o que” foi estabelecido paraos trabalhadores executarem e “como” elesrespondem às exigências do trabalho. AAnálise Ergonômica do Trabalho (AET) édefinida como a descrição das atividades detrabalho ou dos trabalhadores a partir daobservação de todos os comportamentos –perceptivo, motor ou de comunicação (Guérinet al., 2001).

Uma vez que a atividade não pôde serreduzida ao que se consegue observar(Assunção e Lima, 2003), utilizou-se daautoconfrontação dos resultados deobservações sistemáticas a fim de aceder aosaspectos não-objetiváveis do trabalho. Aautoconfrontação é uma estratégia que buscana palavra livre do trabalhador compreenderos sentidos que ele próprio imprime aosresultados obtidos pelo pesquisador.

À luz desses princípios ergonômicos quenortearam a pesquisa, adotaram-se basicamentedois procedimentos, a saber: reuniões comrepresentantes do sindicato de trabalhadorescom o intuito de se obter um conhecimento maisaprofundado da demanda e informações geraissobre a categoria e entrevistas abertas commotociclistas profissionais.

As entrevistas gravadas, posteriormentetranscritas e analisadas, tinham como objetivoobter uma visão geral da organização dotrabalho, dos problemas enfrentados pelacategoria, da percepção do risco e dasrespectivas estratégias de defesa utilizadaspara a prevenção de acidentes. Foramanalisados os dados obtidos através defilmagens nas ruas e avenidas da cidade,documentando os gestos de motociclistasprofissionais escolhidos aleatoriamente, oraacompanhados pelo pesquisador, em umautomóvel, ora filmados por uma câmeralocalizada em passarelas e viadutos.

As filmagens buscavam identificar osgestos de ação (modo de pilotar o veículo),gestos de observação (movimentos da cabeça

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e, em parte, dos olhos) e os gestos decomunicação (expressões verbais e corporais).As cenas do filme foram confrontadas com osmotociclistas profissionais em um restaurantepopular indicado pelo representante dosindicato de trabalhadores por ser um localonde eles costumam ser reunir para almoçar.Esse procedimento buscava eliciar dosmotociclistas o significado dos gestos de seuspares documentados em vídeo, tanto do pontode vista da produção quanto do ponto de vistada carga de trabalho, explicitando “o que faz”,“com que finalidade – para quê” e “por quê”.

Foram estudadas e autoconfrontadas asrotas elaboradas em mapas que foramfornecidos aos motociclistas. A auto-confrontação das rotas visava conhecer asestratégias e os modos operatóriosimplementados pelos trabalhadores paraplanejar e executar os deslocamentos notrânsito. As entrevistas (gravadas, transcritase depois analisadas) com motociclistas eorganizadores da produção das empresastinham o propósito de identificar aorganização do trabalho, e as observaçõesabertas da tarefa foram realizadas naexpedição das duas empresas selecionadas –local estrategicamente escolhido, já que é alionde se fazem o acompanhamento e o controledos serviços de deslocamento dosmotociclistas e onde eles têm a raraoportunidade de encontrar seus pares poralguns instantes.

As observações e a posterior autocon-frontação dos fatos observados na expediçãotinham como propósito obter elementos paraa compreensão do trabalho realizado e decomo o trabalhador coloca em prática suademanda. As ações e as comunicações diretasentre os motociclistas, a itineralista(operadora de rádio e encarregada de repassar

e receber as ordens de serviço) e o coordenadorforam registradas por escrito para posteriorautoconfrontação.

Estudou-se uma empresa em BeloHorizonte especializada em serviços de moto-frete (empresa A) e que conta com cento esessenta motociclistas profissionais. Do totalde motociclistas, cento e quarenta prestamserviços por hora como terceirizados nasempresas contratantes. Os demais atendemao setor de expedição da empresa A,executando serviços de deslocamento. Aempresa A, indicada pelo representante dosindicato de trabalhadores, foi escolhida porse tratar de uma prestadora de serviço demoto-frete com um número significativo detrabalhadores que atendem diversos tipos dedemandas, tanto de pessoas jurídicas quantode pessoas físicas. Buscando identificardiferenças e similitudes nos problemasenfrentados pela categoria e nas regulaçõeselaboradas pelos motociclistas profissionais,a pesquisa foi realizada também em umaempresa de Uberlândia (empresa B), em razãodo número expressivo de motociclistas nacidade e da constatação in loco de algunsacidentes nas vias públicas envolvendomotocicleta. A empresa B conta com umefetivo de cento e quinze motociclistas.

Em resumo, foram observados eautoconfrontados oitenta e cinco moto-ciclistas, totalizando sessenta horas deobservações e entrevistas. Além dosmotociclistas, foram entrevistados dezorganizadores de produção – entre elesquatro empresários e dois diretores – a esposade um motociclista. Foram realizadas quatrohoras de filmagens em situações reais detrabalho (também analisadas) e vinte equatro rotas foram traçadas e auto-confrontadas com os trabalhadores.

Resultados

Contratação e remuneração

Nesse tipo de prestação de serviço, há duasmodalidades básicas de contratação: asempresas contratam motociclistas de umaprestadora de serviços de moto-frete (contratoindireto) ou contratam diretamente oprofissional para prestar seus serviços, como é ocaso das próprias empresas de moto-frete,visando atender a serviços pontuais tanto depessoas físicas quanto jurídicas, comocopiadoras, lojas de autopeças, escritórios decontabilidade e farmácias, estabelecendodiferentes formas de vínculo e remuneração.

Na modalidade contratação indireta,adotada pelas médias e grandes empresas,

contrata-se uma prestadora de serviço demotociclista profissional, que fornecerá a mão-de-obra terceirizada; esse é o caso, porexemplo, de drogarias, lanchonetes, restau-rantes e pizzarias.

Com relação às formas de remuneração,existem pelo menos dois tipos: pagamento porhora e pagamento por deslocamento oucomissão. Na empresa A, os motociclistas quetrabalham por hora possuem registro emcarteira de R$1,14 por hora. Além desse valor,o trabalhador recebe um adicional de R$1,66por hora, a título de aluguel da motocicleta,num total mínimo de R$2,80 para cada horadisponível no cliente. O salário total recebido

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no final do mês varia de R$400,00 a R$800,00dependendo do número de horas disponíveisno cliente e da quantidade de deslocamentosrealizados. A manutenção da moto, ocombustível e os equipamentos de segurançasão custeados pelo próprio trabalhador.

Na empresa B, os motociclistas quetrabalham por hora possuem registro emcarteira de R$347,00 por mês. Elesrecebem ainda 2,5 litros de combustívelpor dia, sem desconto na remuneração.Considerando-se a jornada de 44 horassemanais e o valor recebido pelo combus-tível, o motociclista recebe R$2,44 por horadisponível no cliente.

Na empresa A, o valor mínimo cobradopelo deslocamento corresponde a R$2,80. Maso registro em carteira é de R$1,14, da mesmaforma que os motociclistas remunerados porhora. Os deslocamentos executados sãolançados e convertidos pelo sistemainformatizado em hora ou fração de hora ecreditados na folha de pagamento.

Na empresa B, o serviço cobrado pordeslocamento é denominado “serviço porcomissão”. Ele é oferecido às empresas-clienteapenas para a entrega de mala-direta, de faturabancária de seguro-saúde, de jornaiscorporativos e encartes.

Os motociclistas remunerados porcomissão têm registrado em carteira o valorde R$347,00. A produção diária individual éregistrada numa planilha.

O motociclista recebe R$0,05 para cadaentrega simples, R$0,07 para cada entrega deencartes e R$0,09 quando se trata de envelopeprotocolado. Para entrega de pacotes, omotociclista recebe R$1,00.

Cada entrega efetivada é somada até atingiro valor fixo registrado em carteira. O valorexcedente, à semelhança da empresa A, é pagoao motociclista a título de produtividade.

Os motociclistas que trabalham porcomissão recebem um vale combustível de3,5 litros de gasolina por dia, cujo valor édescontado de seu salário no final do mês.

Para compensar a precária remuneração,os motociclistas praticam horas extras. Muitosentrevistados relataram jornadas de trabalhodiárias de 13 a 15 horas durante os dias úteise de mais 4 horas nos finais de semana eferiados. A situação é confirmada pelosorganizadores da produção:

“A questão salarial constitui aprincipal queixa dos trabalhadores,pois, para alcançar um valor maior de

salário, eles têm que trabalhar umvolume de horas muito alto.”

Organização da produção

No caso do contrato por hora, o fluxo deatendimento tem início quando uma empresa-cliente telefona para a empresa contratante esolicita um motociclista para ficar à suadisposição para, por exemplo, realizardepósitos e pagamentos em bancos. Outrasempresas utilizam os serviços dos motociclistaspara a entrega de produtos e serviços negociadoscom os consumidores em geral.

Na empresa A, o atendimento dedemandas eventuais são denominadas deserviços por deslocamento e têm início nomomento em que o cliente, pessoa física oujurídica, entra em contato com a central detelemarketing da prestadora de serviço demoto-fete.

Estabelecido o acordo entre as partes, umperíodo de 60 minutos é solicitado ao clientepara que o motociclista inicie o atendimento.A recepcionista, após “salvar” a ordem deserviço (OS) numa tela de pendências,transfere a mesma, via sistema informa-tizado ligado em rede, para o setor deexpedição. A partir daí começa a contagemdo tempo. O motociclista desloca-se até olocal indicado pelo cliente a fim de executaro serviço. Ao terminar, ele entra em contatocom a recepcionista através do rádio everifica se há outra OS pendente e, em casopositivo, ao invés de retornar à empresa,inicia outra missão.

A entrega de malas-diretas e jornais é atarefa predominante na prestação de serviçopor deslocamento da empresa B. O materialchega diariamente à expedição em grandesquantidades. As malas-diretas sãoseparadas por ordem de bairro e região dacidade e, em seguida, colocadas nosescaninhos dos motociclistas.

Os motociclistas que fazem a distribuiçãodas malas-diretas chegam à expedição porvolta de 7 horas. Eles pegam as malas-diretasem seus escaninhos e, sobre as bancadas dosetor, fazem a separação do material,colocando-o em ordem de acordo com a rota.Em seguida, registram numa planilha aquantidade e o tipo de correspondência(envelope simples, protocolado ou encarte),que é encaminhada ao supervisor para queeste faça a conferência quantitativa equalitativa. Terminada esta etapa inicial, elessaem para fazer as entregas. Como pudemosevidenciar, é comum o motociclista, ao longodo dia, prestar serviços na condição de

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terceirizado para mais de uma empresa,totalizando 16 horas de jornada diária.

Hierarquia, controle direto e controle pelosclientes

Existe um rígido controle da hierarquiasobre as atividades desempenhadas pelosmotociclistas. As chefias não se restringem apassar as demandas e estabelecer as urgên-cias. A empresa B registra num mapa afixadona expedição a produção dos motociclistasque distribuem jornais. Nele constam osnúmeros dos setores de distribuição e onúmero de reclamações dos assinantes por diado mês. Elabora-se ainda uma planilha com oregistro de todas as malas-diretas de entregasimples, possibilitando o controle direto viatelefonema de cerca de 5% dos destinatáriospara confirmar o recebimento e o nível desatisfação do cliente.

Se o motociclista presta serviço comoterceirizado em uma empresa-cliente, ocontrole é ainda mais rigoroso, pois o clientepressiona a empresa contratante domotociclista, que não hesita em exercer pressãosobre o trabalho desempenhado. Nos dizeresda hierarquia:

“Tem clientes maiores que realmenteexigem mais do motociclista. Então, ocliente fica naquela pressão: ‘Olha, sevocê não fizer bem, eu troco, eu ligo paraempresa e peço outro’.”

O rádio e o telefone celular também sãoutilizados pelas chefias para controlar, adistância, o ritmo de cada trabalhador. Um dosorganizadores da produção explica:

“A expedição controla as tarefas e otempo dos motociclistas através de umacentral de rádio, mantendo contatopermanente com eles.”

Os motociclistas comentam que asdemandas de serviço e as exigências temporaissão intensas:

“Eles me dão lá na faixa de umasvinte a trinta empresas para visitar,levar documentos de contabilidade.”

“A norma da empresa é que nomáximo em trinta minutos seja entregueuma peça. Só que não é possível, porqueo acúmulo é muito. Os clientes pedemmuitas peças no mesmo momento.”

Um motociclista explica como é o controledo fluxo de produção numa drogaria ondetrabalha como terceirizado:

“É um serviço com um fluxo muitogrande de entrega e não dispõe de tempo

para os intervalos que todo trabalhadordeve ter: o horário de almoço e de lanche.As entregas são com hora marcada ecom um número muito reduzido demotociclistas. E se colocar umaquantidade maior de pessoas, elesdizem que trabalham no vermelho, poissão muitos motociclistas e muitas horasa pagar.”

Tentando estabelecer um limite de tarefasnos contratos por hora, o diretor diz comoprocede: “Ele tem uma média de seis entregaspor hora”. Mas, na prática, esse limite não éacatado pelo cliente, demandando domotociclista habilidade para negociar ouentão aceitar e acelerar o veículo.

O controle difuso do cliente

Os motociclistas que prestam serviço pordeslocamento também ficam sob o comandodos clientes. O setor de telemarketing daempresa continua a negociar com os clientes,assumindo o compromisso de atendê-los em60 minutos, mesmo não dispondo demotociclista na expedição. O motociclistachega ao setor e encontra várias OS pendentes,mas dispõe de tempo real menor que o tempoprescrito para executá-las.

A possibilidade de o motociclista vir arepassar a urgência para o modo de pilotar éreconhecida pelo diretor da empresa:

“Aí é que a gente se expõe às vezes,ao tentar resolver um problema econfundir a agilidade com velocidade.”

Para ele, a solução é o motociclistaprocurar ser ágil nos estabelecimentos – comofórum, prefeitura, bancos – não no trânsito:“A pessoa tem que chegar e demonstrarinteresse, ser rapidamente atendida”. Mascomo proceder com agilidade dentro dosestabelecimentos se a empresa contratantepermanece monitorando pelo rádio: “Agilizaaí, que o seu prazo de chegar no cliente jáestá estourado”, como se fosse possívelresponder aos prazos estipulados apenasapressando o fluxo nas instituições,desconsiderando que, de todo jeito, ademanda de serviço é incompatível com otempo disponível?

Quando o tempo real não é cumprido, aempresa informa que renegocia com o clienteoutro prazo. Mas, na prática, o motociclistaque recebeu o alerta pelo rádio confessa serobrigado a implementar o modo operatóriode risco: “Aí, é hora de sair acelerando iguala um doido mesmo”. Outro motociclistaprocede de modo idêntico:

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“Arriscando a própria vida paragarantir o emprego meu. Eu não possoandar devagarzinho no trânsito, nãoposso obedecer às leis do trânsito.”

A busca pela satisfação do cliente éimperativa na organização do trabalho,conforme explica a direção: “Quando omovimento é grande, nós fazemos o possívelpara encaixar todo o serviço sem causartranstorno para o cliente”. Isso implicarepassar ao motociclista mais de uma OS aomesmo tempo; foi observado, por exemplo, ocaso de um motociclista recebendo quatro OSde uma só vez. A recepcionista mostrava asOS pendentes e perguntava ao motociclistaquais ele poderia executar. Ele analisava,escolhia algumas e recusava outras.Perguntado por que a recepcionista concordoucom a sua decisão, ele responde: “Aceitounuma boa, porque pode prejudicar a empresa,eu posso atrasar o serviço e a empresa nãovai ficar satisfeita com isso”. Existe, então,um reconhecimento da incompatibilidade dostempos alocados, porém, a dilatação dosprazos não é a regra.

O cliente, por sua vez – seja a empresaonde o motociclista trabalha como tercei-rizado ou o consumidor final –, quando utilizaesse serviço, está em busca também de umatendimento rápido. Essa necessidade colocaa presteza no atendimento como o segundoobjetivo fundamental do setor. Ummotociclista entrevistado no RestaurantePopular confirma:

“O cliente, na hora que ele compra apeça, ele quer ser atendido o mais rápidopossível. Então, a empresa te dá váriasentregas e quer que seja entregue emtempo recorde.”

Os clientes chegam a comparar o serviçode motociclista com serviços aéreos. Nosdizeres de um motociclista entrevistado:

“Eles [clientes] sempre falam oseguinte: ‘A mercadoria sai da China,aqui ela gasta 24 horas’. Às vezes eu gastoum dia para fazer a entrega. Elesquestionam essa parte. Por quê?”

Os atrasos não são compreendidos pelosclientes até mesmo para tarefas que envolvamtransações em mais de uma repartição, locaistradicionalmente caracterizados por filasextensas e atendimento demorado. Ocoordenador de uma empresa exemplifica:

“O cliente passa quatro serviços paraele. Se ele parar em dois bancos em diade pico, o cliente acha que ele estáenrolando com o serviço.”

Sob a perspectiva do tempo, os moto-ciclistas reconhecem a dificuldade emtolerar os atrasos provocados pelo clienteque demora em atendê-los ou para pro-videnciar o produto. Para não ferir a metade prestar um bom atendimento ao cliente,mesmo que a espera implique em com-pensar a perda de tempo através do aumentode velocidade nas ruas e, conseqüentemente,em uma maior probabilidade de acidente,o motociclista permanece impotente diantedo cliente atrasado, como explica umentrevistado:

“Se você me solicita para que eufaça o serviço, eu desloco da suaempresa até o local para fazer aentrega. Porém, quando eu chegar nestelocal, eu já vou ter outro serviço parafazer. Então, se você atrasar a entrega,já vai me prejudicar, porque se vocêatrasar quinze minutos, seria o tempode eu estar lá entregando, e eu vouestar lá esperando você. Então, no meutempo de percurso eu vou pôr em riscoa minha vida e o meu serviço também,porque se eu tiver de andar a vinte[Km/h] para fazer esse serviço, eu vouter que andar a quarenta [Km/h] ousessenta [Km/h].”

Além tempo, o dispêndio de combustívelé outro importante fator para o motociclistaprofissional. Juntos, constituem os elementosdeterminantes no momento em que eleplaneja e executa o trabalho; em suas própriaspalavras: “Tenho que olhar o tempo que eugasto, o petróleo que eu queimo”.

Pode-se afirmar que os objetivos do setorsão determinados pelos clientes, quesolicitam um atendimento com pontualidade,presteza e confiabilidade sem ponderar osconstrangimentos do espaço que osmotociclistas profissionais enfrentam naesfera da produção material.

Situações acidentogênicas e estratégias deprevenção

As entrevistas mostraram que a atividadedos motociclistas profissionais está sujeita àocorrência de inúmeros determinantes nãocontroláveis que geralmente não são levadosem conta pela empresa e pelo cliente. Sãoexemplos as filas nas repartições, o trânsitolento, o documento mal preenchido, comendereço incompleto ou errado, as ruas comnumeração imprecisa ou sem identificação,os sistemas informatizados das repartiçõestemporariamente fora de uso, o pneu damotocicleta que precisa de reparo urgente,mas o tempo falta...

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As oscilações da demanda são tambémocorrências freqüentes. O volume de serviçoaumenta nos dias do mês múltiplos de cinco,datas em que as empresas fazem pagamentos.No meio e no final do mês, a quantidade demalas-diretas triplica, sem que o efetivo sejaajustado, chegando a 500 unidades entreguespor dia pelo motociclista. Somente no finalde ano, quando a demanda acentua-se bemacima do tolerado, a empresa contratatemporariamente outros motociclistas. Elescomentam:

“Os bancos ficam superlotados,trânsito e bancos lotados, todo mundoquer resolver os problemas. Patrão teenche de serviço.”

No entanto, acelerar a motocicleta parasuperar as imposições do setor não constitui oúnico modo operatório dos motociclistasprofissionais. As situações paradoxaiscontribuem para o desenvolvimento de estra-tégias refinadas para garantir os prazos eproteger a vida, cuja descrição detalhada nãocabe no espaço deste artigo.

Por ocasião da distribuição de mala-direta,os motociclistas afirmam, como no exemploabaixo, que cometem infrações de trânsito:

“Quando não tem nada em cima dopasseio, você sobe em cima do passeio ecoloca [a mala direta] na caixa do correio”.

Em frente à empresa A, foi observado queum motociclista, após ter recebido a OS,empurrava sua motocicleta desligada,beirando o meio-fio, na contramão do trânsito.Autoconfrontado, ele esclarece:

“Como empurrar moto sem capaceteé igual à bicicleta, aí, eu passo de umquarteirão para o outro empurrando elano cantinho, no passeio, e economizo decinco a seis quilômetros.”

E enumera as vantagens:

“Evito fazer um deslocamento maior,economizo gasolina, ganho muito maisno fim do mês e economizo tempo. Porisso que eu sou rápido.”

Nas repartições, quando se depararam comlongas filas, os motociclistas procuramidentificar algum conhecido a quem possamsolicitar o favor de efetuar o serviço ou que lhespossa conceder um lugar na fila, imprimindo,assim, maior agilidade à sua atividade. Paravencer as demoradas filas dos cartórios, osmotociclistas fazem uso do prestígio da empresaonde trabalham como terceirizados:

“A empresa em que eu trabalho émuito influente. Aí, eu chego e falo: ‘Eutrabalho para ...’ Aí, o próprio cartóriome passa na frente.”

Os motociclistas são claros quandoatribuem os riscos às metas da produção:

“A gente já sai de casa correndo risco,e a empresa exigindo agilidade nachegada da coleta. O risco se torna maisdobrado.”

Em suma, diante dos prazos exíguosestabelecidos pelo cliente, que não pode sercontrariado, as empresas adotam umaorganização da produção que submete osmotociclistas a um ritmo de trabalho cada vezmais intenso.

Discussão

Viu-se a prática comum de horas extrascom o objetivo de compensar a insuficienteremuneração. O estatuto precário leva àutilização da mão-de-obra pela empresasegundo os interesses dos clientes, contandocom a flexibilização dos direitos trabalhistasque permite relações de trabalho frágeis(Antunes, 1999 e 2000; Pochmann, 1999;Weller, 1998), contribuindo para que omotociclista intensifique seu trabalho demodo a compensar a baixa remuneração.

A pesquisa realizada evidenciou que o“modo de andar a vida”, nos termos deTambellini (1978), dos motociclistas constituiuma reação construída e moldada em funçãodas peculiaridades e dos estímulos sobre osquais a atividade se estruturou: a pressão dosclientes por serviços rápidos, pontuais e deconfiabilidade, a elevada demanda de

serviços, as precárias relações de trabalho, aocorrência de grande número de determi-nantes não controláveis que se contrapõemaos objetivos do setor, o uso da motocicletacomo meio de deslocamento rápido no trânsitoe num espaço urbano rígido.

Os meios pelos quais as empresascontrolam a atividade e, por conseguinte, omotociclista agravam a pressão temporal. Osdeterminantes não controláveis colocam emrelevo o paradoxo da organização do trabalhodos motociclistas profissionais. De um lado,os objetivos da produção exigem pontualidade,presteza e confiabilidade. De outro, há asprecárias relações de trabalho, a elevadadensidade de trabalho, o tempo real menorque o prescrito, a pressão das chefias e aestreita margem de liberdade para mobilizaras competências desenvolvidas e imple-

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mentar modos operatórios que preservem asaúde e evitem a nocividade das situações derisco (Assunção e Lima, 2003).

A impaciência manifestada pelos clientescomprova uma tolerância social exacerbadaface aos riscos a que a própria sociedade, noseu conjunto, se submete. A atividadeimaterial não exclui, embora desejasse, aprodução realizada pelos corpos e menteshumanas. De certa forma, somos todos nós,quando pedimos uma pizza, um remédio ou aentrega urgente de um documento, quecontribuímos para gerar condições adversaspara os motociclistas profissionais.

A exigência de um atendimento compontualidade, presteza e confiabilidade, nointerior de um espaço urbano moldado pelomodelo de produção em grande escala, leva omotociclista a adotar procedimentos de riscono trânsito. A pressão das empresas e dosclientes para que os motociclistas cumpramas tarefas de acordo com os objetivos do setorparece explicar os modos operatóriosevidenciados. Nesse caso, a remuneração pordeslocamento seria um determinante menorda atividade.

Os resultados descritos permitem afirmarque o modo operatório de risco implementadono trânsito pelos motociclistas profissionaisconstitui o último recurso da categoria,caracterizando não um procedimento derotina, mas uma forma de ação diante decircunstâncias especiais relacionadas àorganização do trabalho.

Quando a margem de liberdade deixadapela organização do trabalho é estreita, nãolevando em consideração as exigências detempo e os constrangimentos do espaço, osmotociclistas profissionais alteram o modooperatório de pilotar com vistas a aumentar aagilidade e ganhar tempo.

A adoção de procedimentos quepotencializam os riscos de acidentes éreconhecida pela categoria como efeito daorganização do trabalho, e não comonecessidade particular na busca de fortesemoções, como imagina o senso comum. Emrecente reportagem na Folha de São Paulo(2003). o assessor técnico da presidência da

Companhia de Engenharia de Tráfegopaulistana afirmou: “Os motoqueiros sesentem donos desse espaço”. Na mesmareportagem, segundo o depoimento de umamédica que participou da pesquisa do IPEAsobre custos de acidentes de trânsito, o gostodos motoboys pelo risco decorrente da altavelocidade se compara à prática do rapel pelaclasse média.

Ora, as abordagens centradas na mudançade comportamento dos trabalhadoresprejudicam o desenvolvimento de políticaspreventivas e a melhoria das condições detrabalho. Vilela et al. (2004) analisaram asconclusões de 71 laudos de acidentesocorridos em 1998, 1999 e 2000, que foramrealizados pelo Instituto de Criminalística daRegional de Piracicaba. Os referidos laudosconcluem que 80% dos acidentes são causadospor atos inseguros cometidos pelostrabalhadores. Utilizando-se de outro modelode análise, contrariamente ao disposto noslaudos, viu-se que 52% dos acidentesocorreram em situações de risco evidente,facilmente identificados por meio de simplesinspeção, e que 25,5% estariam relacionadosa um conjunto de fatores que não ocorrem demodo habitual. Por falta de dados disponíveis,22,5% da amostra não puderam ser analisadospela classificação proposta. Torna-se evidente,como no caso dos motociclistas, a atribuiçãode culpa ao acidentado por decisões ecomportamentos que não estariam na suaesfera de controle.

Quando a margem de organização dotrabalho permite, os motociclistasprofissionais tentam cumprir os objetivosestabelecidos pelo setor, sustentando-se nasredes sociais solidárias, no planejamento dasrotas, no controle temporal das tarefas, nasnegociações das demandas de serviço comchefias e clientes.

A realidade vivida pela categoriaconstitui uma exigência social passível detransformação, não determinada pelacaracterística intrínseca da profissão ou doperfil do trabalhador. Tal fato contradiz apercepção negativa da sociedade e dosexperts em segurança a respeito dosmotociclistas profissionais.

Conclusão

A rede de prestação de serviços queconecta as unidades fabris, as instituiçõespúblicas e de serviços e o cliente, que traduzem seu comportamento apressado a lógica de

produzir mais em menor tempo em ummercado competitivo, são fatores explicativosdas condições geradoras de acidentes queenvolvem motociclistas profissionais.

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A existência de bolsões de desem-pregados facilita a implementação dalógica de reduzir tempo e encurtar espaços,pois, uma vez fragilizados pela políticadesfavorável de emprego, submetem-se amargens estreitas para cumprir as metasalmejadas, restando como um dos domíniospossíveis a capacidade de driblar sobre

duas rodas as intempéries meteorológicase organizacionais da vida nas cidades.

O número crescente de motociclistasprofissionais, os riscos de acidentes que elesvivenciam rotineiramente e os dados aquiapresentados colocam em xeque as tra-dicionais políticas públicas praticadas e aspropostas de intervenção formuladas pelosatores sociais envolvidos com a questão.

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Exposição a agentes químicos e ruído emindústria de couro

Exposure to chemical agents and noise intanneries

Michel Pereira Santos1

Viviane Cristina Sebben2

Paulo Roberto Farenzena3

Celso Felipe Dexheimer4

Cláudia Pereira Santos5

Vera Maria Steffen6

1Farmacêutico Discente do Curso de

Análises Clínicas da Faculdade deFarmácia da Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS).2Farmacêutica-Bioquímica do Centro de

Informação Toxicológica (CIT/RS)/FEPPS.3Médico Otorrinolaringologista do

Centro de Diagnósticos do HospitalDivina Providência.4Farmacêutico-Bioquímico do

Laboratório Pró-Ambiente – AnálisesQuímicas e Toxicológicas.5Fonoaudióloga da Clínica Audiomed –

Audiologia e Medicina do Trabalho.6Doutora do Departamento de Análises

da Faculdade de Farmácia daUniversidade Federal do Rio Grande doSul (UFRGS).

Resumo

Este estudo tem como objetivo investigar a relação entre a perda auditiva e a exposiçãoocupacional ao ruído e ao tolueno. A população em estudo foi composta por 73trabalhadores de curtume. Para conhecer a história clínica e ocupacional dostrabalhadores, aplicou-se um questionário. Para avaliação da exposição ocupacional,realizaram-se avaliações ambiental e biológica do tolueno e avaliações audiológicae dos níveis de ruído. Os valores obtidos na avaliação ambiental e biológica estavamabaixo dos limites estabelecidos pelas NR 7 e 15. Os níveis de ruído em diversossetores da indústria foram superiores ao máximo permitido pela NR 15, chegandoa 97.8 dB(A). As perdas auditivas encontradas no grupo ruído (GR) e no grupo ruídoe agente químico (GRAQ) foram significativas quando comparadas ao grupo controleatravés da análise estatística SPSS

®, T-Test

p<0,01. Este estudo demonstrou fatores

de impacto na saúde e na qualidade de vida dos trabalhadores. Portanto, fazem-senecessárias a revisão dos programas e a implementação de medidas que reduzamos riscos de forma a prevenir e evitar danos à saúde do trabalhador.

Palavras-chave: tolueno, ruído, avaliação ambiental, audiometria, avaliaçãobiológica.

Abstract

This study aims at investigating the relationship between the hearing loss and theoccupational exposition to noise and toluene. Seventy-three tannery workers werethe subject of this study. A questionnaire was used to obtain information on theworkers’ clinical and occupational history. To evaluate the occupational exposition,an environmental and biological survey on toluene was held, together with noiseand audiologycal evaluations. The results of the environmental and biologicalevaluations were below the levels established by NR 7 and 15. The noise levels inseveral sections of the industry were above the maximum allowed by NR 15,reaching 97.8dB(A). The hearing losses found in the noise group (GR) and noiseand chemical agents (GRAQ) groups were significant when compared, through thestatistic analysis SPSS

®, T-Test p<0,01, to the control group. This study

demonstrated impact factors in workers’ health and life quality. Due to this, theprograms must be revised and measures to reduce the risks must be implementedin order to prevent hazards to workers’ health.

Keywords: toluene, noise, environmental evaluation, audiometry, biologicalevaluation.

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Introdução

Maior precisão, sensibilidade e alcanceque qualquer outro órgão do sentido – essassão as qualidades que se pode atribuir à orelha(Santos et al., 1996). A audição é um sentidoimportante do qual nenhum ser humanodeveria ser privado. Atualmente, a intensaprodução de ruído, proveniente prin-cipalmente das indústrias, tem contribuídoem muitos casos de alterações auditivas.Cresce, assim, a cada dia, o número de perdasauditivas induzidas pelo ruído industrial,hipoacusias que poderiam ser reduzidasatravés da prevenção e do esclarecimentosobre os efeitos do ruído.

Diversos estudos, principalmente no campoda toxicologia ocupacional, vêm colocando emevidência que os danos auditivos não selimitam apenas à ação do ruído. Recentesdescobertas sugerem o sinergismo entre o ruídoe diversos agentes químicos, como tolueno,metais e outros produtos encontrados emmuitas situações nos ambientes de trabalho.(Barregard e Axelsson, 1984; Fiorini et al.,1998; Jacobsen et al., 1993; Morata et al., 1993,1994, 1997). Por esse motivo, a expressãoPerda Auditiva Ocupacional não deveriarestringir-se a um sinônimo da expressão PerdaAuditiva Induzida por Ruído (PAIRO), uma

vez que podem ocorrer casos de perdasauditivas ocupacionais independentes daexposição ao ruído (Morata e Dunn, 1995;Morata et al., 1995).

Os trabalhadores de indústria decurtimento de couro (curtume) estãofreqüentemente expostos a produtos quecontêm cromo, anilinas e tolueno. Este últimoé usado principalmente como solvente paracolas, óleos, resinas e diluente para tintas evernizes. Esse hidrocarboneto aromático podeprovocar diversas ações tóxicas no organismo,como a perda auditiva neurossensorial. Emborao mecanismo das lesões danosas à audição nãotenha sido completamente entendido, aceita-se que o tolueno altera a função auditiva doshumanos (Morata et al., 1997).

A ação tóxica das substâncias presentesno ambiente industrial, a presença de elevadosníveis de ruído aliados à necessidade de seevitar que ocorram perdas auditivas nostrabalhadores expostos motivaram o presenteestudo. Este trabalho teve como objetivoinvestigar a relação entre a perda auditiva e aexposição ocupacional ao ruído e ao toluenopresentes no ambiente laboral da indústriade curtimento de couro.

Materiais e Métodos

População

Este estudo foi aprovado pelo Comitê deÉtica da Fundação Estadual de Produção ePesquisa em Saúde do Estado do Rio Grandedo Sul e realizado em uma indústria decurtimento de couro, localizada na regiãometropolitana de Porto Alegre, Rio Grande doSul, Brasil. Participaram voluntariamente doestudo 73 trabalhadores que cumprem umajornada de trabalho diária de 8 horas emperíodo diurno (n=64) ou noturno (n=9) epossuem tempo de serviço no setor de courossuperior a um ano, sendo que os mesmospermanecem em suas determinadas funçõese setores sem haver alteração em suasdinâmicas de trabalho (salvo as ocorrências

de situações emergenciais por determinadosfatores como, por exemplo, agravamentos deperdas auditivas, em que ocorrem mudançasde funções determinadas pelo médico dotrabalho coordenador do programa de controlemédico de saúde ocupacional (PCMSO)). Ostrabalhadores, após a apresentação e osesclarecimentos sobre o estudo, assinaram otermo de consentimento informado. Aplicou-se um questionário composto por 39 questõesreferentes à história clínica e ocupacional, aoestilo de vida e à descrição da funçãoexecutada.

Após a avaliação ambiental e análise dosníveis de ruído, os trabalhadores foramdivididos em grupos (vide Tabela 1).

Tabela 1 Definição dos grupos

GC GR GRAQ GAQ

Grupo controle Grupo ruído Grupo ruído agente químico Grupo agente químico

Trabalhadores não Trabalhadores expostos Trabalhadores expostos Trabalhadores expostosexpostos a ruído somente ao ruído a ruído (valores acima a níveis de ruído abaixoe agente químico de 85 dB(A)) e à presença de 85 dB(A) e à presença de

de tolueno no ambiente tolueno no ambiente

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Avaliação ambiental

Os agentes físicos e químicos objeto desteestudo foram definidos através do fluxogramade produção da indústria.

A avaliação dos níveis de ruído noambiente laboral foi realizada seguindo osprocedimentos indicados na norma brasileiraNBR-10151 (Associação Brasileira de NormasTécnicas, 2000). O equipamento utilizado foio medidor de nível de pressão sonora modelonº 886-2 (Simpson/EUA) de acordo com ospadrões da ANSI S1.4-1983.

A avaliação ambiental do tolueno foirealizada por Cromatografia a Gás comDetector de Massas, segundo NIOSH 1501(National Institute for Occupational Safetyand Health, 2003a). A estratégia deamostragem foi dois trabalhadores para cadasetor da empresa. O tipo de coletor utilizadofoi o Tubo de Carvão de Casca de Coco de 50/100 mg, com vazão da bomba / volume de arcoletado: 0,0438 L/min / 3,066 L.

Avaliação biológica

Foi realizada através da análise do ácidohipúrico, indicador biológico de exposição(IBE) ao tolueno. As amostras de materialbiológico foram coletadas conforme previstopela NR 7 (Associação Brasileira paraPrevenção de Acidentes, 1998a). As amostrasde urina foram coletadas em recipientes dePVC, no início da jornada de trabalho (entre6h e 7h no período diurno e entre 18h e 19hno período noturno) e imediatamente após seufinal (entre 17h20min e 18h20min e entre5h20min e 6h40min, respectivamente),evitando-se a primeira jornada da semana. Asamostras foram mantidas sob refrigeraçãoentre 2° e 8°C para preservação durante ointervalo de tempo entre a coleta e a análise(inferior às 24h).

O método de análise do ácido hipúricoconsistiu em preparar as amostras conforme

sugerido por Roosmalen e Drummond(1978). Utilizou-se o cromatógrafo a gásmodelo 3800 (VARIAN/USA) e a coluna CP-SIL 8CB. As condições cromatográficasutilizadas foram: fluxo do gás de arraste (He)1,0mL/min.; temperatura do injetor e dodetector 230ºC; programação de temperaturada coluna (DB5 30mx0,25mmx0,25mm)inicial de 150ºC por 3min., rampa de 50ºC/min. até 190ºC, manutenção por 1,0min.,rampa de 50ºC/min. até 200ºC, manutençãopor 4,0min.; rampa de 50ºC/min. até 250ºC,manutenção por 2,5min.; injetor capilar comrazão de divisão de 1:50.

Avaliação audiológica

A avaliação audiológica ocupacionaldos trabalhadores foi realizada por viaaérea e óssea, após repouso auditivo de 14horas. Foi utilizada Cabine Audiométricamodelo VSA-40 (Vibrasom/BRA), audiô-metro AD 229 (Interacoustics/DIN) devi-damente calibrado. O audiograma utilizadoe todos os parâmetros de avaliação ecalibração seguiram os critérios espe-cificados pela NR 7. As freqüências utili-zadas para avaliação audiológica por viaaérea foram 500, 1k, 2k, 3k, 4k, 6k, e 8kHz e para via óssea 500, 1k, 2k, 3k, 4k Hz.Foram realizadas meatoscopias prévias emtodos os trabalhadores a fim de descartareventuais obstruções de canal auditivoexterno que poderiam alterar o resultadodas audiometrias.

Análise estatística

Os dados do presente trabalho foramanalisados estatisticamente através doprograma SPSSÒ, versão 11.5, utilizando aEstatística Descritiva (média, desvio padrão,freqüências, percentuais, máximos emínimos), Intervalo de Confiança, Análise deVariância (ANOVA – Oneway) e teste-t (deStudent). Nas conclusões, utilizou-se o nívelde significância de 5%.

Resultados

Avaliação do questionário

Foram relatadas várias enfermidadescomo problemas respiratórios, hepáticos,neurológicos, circulatórios, renais, gastrin-testinais, anemia, alteração no olfato esangramento nasal, ulcerações e perfuraçõesde septo nasal, feridas nas mãos e dedos ehipertensão.

O uso diário de medicamentos foi referidopor 9,6% dos trabalhadores. Segundo a

literatura, nenhum dos citados influencia nasanálises realizadas.

A empresa disponibiliza os EPIsadequados a cada tipo de função e forneceorientação quanto à importância e à forma deutilização dos mesmos. Os trabalhadoresexpostos ao ruído utilizam protetor auriculardo tipo plug há pelo menos um ano; alguns,em determinadas situações, utilizavam-no emuma única orelha. A maioria dos trabalha-dores utiliza calçados e botas apropriados,

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luvas, máscaras e óculos, porém nemsempre são utilizados durante todo oexpediente. Freqüentemente a utilizaçãoocorre quando os trabalhadores julgamnecessário.

Avaliação do fluxograma de produção

A partir da avaliação do fluxograma deprodução da indústria, verificou-se a presençade tolueno como componente de colas,vernizes e tintas; anilinas utilizadas comocorantes; cromo como constituinte da marcacomercial Tanicor PCS® [Cr(OH)(SO

4)] e ruído

em pontos específicos da linha de produção,direcionando o estudo para a avaliação dosníveis de ruído e ambiental do tolueno.

Avaliação dos níveis de ruído

Os níveis de ruído encontrados estãoapresentados na Tabela 2. A NR 15 (AssociaçãoBrasileira para Prevenção de Acidentes, 1998b)limita em 85dB(A) os níveis de ruído para umajornada de trabalho de 8h/dia 48h/semana.

Avaliações ambiental e biológica

Os resultados obtidos nas avaliaçõesambiental e biológica estão apresentados naTabela 2. Os limites de tolerância (LT)estabelecidos pela NR 15 para uma jornadade trabalho semanal de 48h para tolueno são78ppm. O IBMP (índice biológico máximopermitido) descrito na NR 7 para o IBE ácidohipúrico é 2,5g/g creatinina.

Tabela 2 Resultados das avaliações ambiental, biológica, audiológica e do ruído

Tolueno (ppm) Ácido Hipúrico Ruído dB(A) Avaliação Audiológica(g/gcreatinina)

Média ± SD LT/NR 15 Média ± SD IBMP /NR 7 Faixa dos níveis Média VR/NR 15 n=64 PAN

GC ND 0,31 ± 0,05 55,0 – 65,0 57,5 8 0GR ND 0,48 ± 0,67 87,4 – 97,8 92,6 17 10

78 22,5 85GRAQ 3,30 ± 0,24 0,66 ± 0,69 86,0 – 87,8 86,2 17 15GAQ 2,62 ± 1,38 0,66 ± 0,59 75,1 – 84,6 80,1 22 0

SD = Desvio Padrão; ND = Não Detectado; LT = Limite Tolerância; IBMP = Índice Biológico Máximo Permitido; VR = Valor de Referência; PAN= Perda AuditivaNeurossensorial; GC = Grupo Controle; GR = Grupo Ruído; GRAQ = Grupo Ruído Agente Químico; GAQ = Grupo Agente Químico

Grupos

Avaliação audiológica

Alterações audiológicas foram percebidasem 34 dos 73 trabalhadores. A análise dosdados obtidos através do questionário aliadaaos resultados da avaliação audiológicapermitiu identificar quais trabalhadorespossuiam histórico clínico que pudesseinterferir na audição.

Para a análise estatística envolvendo perdaauditiva sugestiva de PAIRO, foram excluídos9 trabalhadores que apresentaram perdas

Tabela 3 Características da população

Idade (anos) Sexo Tempo de Exposição (anos)

Grupos n Média + SD Min-Max I.C.* 95% M F Média + SD Min-Max I.C.* 95%

GC 8 36,8 + 8,0 23 – 44 30,1 – 43,4 3 5 - - -GR 17 35,7 + 9,7 21 – 53 30,7 – 40,7 16 1 18,8 + 9,6 6,0 – 36,0 13,9 – 23,8

GRAQ 17 39,0 + 9,9 23 – 56 33,9 – 44,1 17 0 20,6 + 10,2 5,0 – 38,0 15,4 – 25,9GAQ 22 25,7 + 5,4 19 – 37 23,3 – 28,1 20 2 6,3 + 4.3 1,0 – 16,0 4,4 – 8,2

*Intervalo de confiança 95%; SD = Desvio Padrão; GC = Grupo Controle; GR = Grupo Ruído; GRAQ = Grupo Ruído Agente Químico; GAQ = Grupo Agente Químico

auditivas que não se enquadram nos traçadosaudiológicos da PAIRO (ex.: perda condutiva,mista) e fatores de exclusão, como diabetes,hipertensão e surdez familiar, resultando emn=64. O número de trabalhadores avaliadosem cada grupo e a quantidade de perdasauditivas sugestivas de PAIRO observadasestão apresentados na Tabela 2.

Características da população

As características da população estudadaestão apresentadas na Tabela 3.

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Discussão e Conclusões

Os níveis ambientais do tolueno forammenores que seu respectivo limite detolerância (LT). Os resultados obtidos naavaliação biológica estão de acordo com osdados da avaliação ambiental, visto que osvalores estão abaixo do IBMP.

Os níveis de ruído ao qual os trabalhadoresdo GR e do GRAQ estão expostos encontram-se acima do limite estabelecido pela NR 15para uma jornada de 8h/dia (48h/semana). OGR e o GRAQ, quando comparados ao GC emrelação à perda auditiva, apresentaramdiferença estatisticamente significativa(p<0,01). Entre o GR e o GRAQ não houvediferença estatisticamente significativa. Issopode estar relacionado ao fato dos níveis deruído entre estes grupos diferir em média 6,4dB(A) e também devido aos baixos níveis detolueno observados. No GR, os níveis de ruídoem alguns setores chegaram a 97,8 dB(A).Segundo a NR 15, a exposição diária máximapermissível aos trabalhadores expostos a estenível de ruído é 1h15min por dia. Entretanto,no GRAQ, os níveis de ruído atingiram 87,8dB(A), sendo que a exposição máxima a estenível de ruído é 5 h/dia. Desta forma, osindivíduos do GR sofreram uma perturbaçãosonora significativamente maior do que os doGRAQ. No GR, observou-se que os indivíduosque ainda não apresentam perda sugestiva dePAIRO são pessoas jovens (20-30 anos) e compouco tempo de exposição ao ruído. Nopresente estudo constatou-se que a exposiçãoexcessiva ao ruído é a principal causa de perdaauditiva na população.

Consideramos importante a realização deexames complementares (glicemia, trigli-cerídeos, colesterol, uréia, creatinina, T3, T4,TSH, sorologia para Lues) e avaliação dapressão arterial nos trabalhadores com perdaauditiva para verificar fatores de agrava-mento e a possibilidade da mesma estarrelacionada a alguma patologia.

O ruído industrial provoca danos não sóauditivos, mas tabém afeta vários órgãos e

sistemas do organismo. Estes efeitos vãodesde alterações passageiras até gravesdanos irreversíveis. Considerando aexposição ao ruído, a Organização Mundialda Saúde (OMS) estabelece que o estresseauditivo ocorre a partir de 55 dBA deexposição (WHO, 1980). Casos de estresseauditivo crônico podem desencadeardistúrbios orgânicos e psicológicos, comonáuseas, cefaléia, instabilidade emocional,redução da libido, perda ou aumento deapetite, sonolência, insônia, aumento daprevalência de úlcera, hipertensão arterial,tontura, vertigem e desatenção (Andrade etal., 1998).

Na Alemanha constatou-se maiorincidência de hipertensão e distúrbioscirculatórios em trabalhadores de fábricasbarulhentas. As populações submetidas aníveis entre 65 e 70 dBA tiveram de 10% a20% mais infarto e, entre 70 e 80 dBA, 20%(GERGES, 1993). Assim, o ruído pode tercontribuído para o aparecimento e/ouagravamento de algumas das manifestaçõespatológicas apresentadas pelos trabalhadores.

Além das avaliações ambiental, biológica,audiológica e dos níveis de ruído, é deextrema importância a conscientização dostrabalhadores com relação à utilização dosEPIs e a implementação de equipamentosde proteção coletiva (EPCs). O trabalhadorinfluenciado por fatores ambientaisinadequados reduz sua produtividade e sofremaior número de acidentes de trabalho(Santos et al., 1996). A inadequação doambiente ocupacional coloca em risco asegurança e o bem-estar dos trabalhadores,portanto, fazem-se necessárias a revisão deprogramas e a implementação de medidasque reduzam os riscos de forma a prevenir eevitar danos à saúde do trabalhador. Umafiscalização eficaz pode impedir que as nãoconformidades possam motivar a ocorrênciade acidentes de trabalho e doençasocupacionais.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Sra. Jurema Enzweiller, aos funcionários do Núcleo de AnáliseLaboratorial do Centro de Informação Toxicológica (CIT/RS), ao laboratório Pró-Ambiente e àempresa por permitir a realização do estudo.

Apoio: CNPq

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Referências Bibliográficas

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GERGES, S. N. Y. Inimigo Invisível. RevistaProteção. v. 5, p. 74-77, 1993.

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1 Instrução aos autores

1.1 Objetivo e política editorial

A Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO) é umapublicação científica da FUNDACENTRO que se destina àdivulgação de contribuições escritas na área de segurança esaúde do trabalho e/ou das relações entre segurança e saúdedo trabalho e o meio ambiente.

As opiniões emitidas pelos autores são de sua inteiraresponsabilidade.

A publicação de artigos que trazem resultados de pesquisasenvolvendo seres humanos está condicionada aocumprimento de princípios éticos e ao atendimento daslegislações pertinentes a esse tipo de pesquisa no país emque foi realizada.

A reprodução total ou parcial dos artigos publicados épermitida mediante menção obrigatória da fonte e desdeque não se destine a fins comerciais.

1.2 Normas de publicação

1.2.1 Modalidades de contribuições

Serão aceitas contribuições escritas para as seguintesmodalidades:

a) Artigo: contribuição destinada a divulgar resultados depesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual(até 56.000 caracteres, incluindo espaços, mas excluindotabelas, figuras e referências).

b) Revisão: avaliação crítica sistematizada da literatura sobredeterminado assunto (até 56.000 caracteres, incluindo osespaços).

c) Resenha: relato de livro relacionado ao campo temático darevista, publicado nos últimos dois anos (até 11.200caracteres, incluindo os espaços).

d) Carta: texto que visa discutir artigo recente publicado narevista (até 5.600 caracteres, incluindo espaços).

e) Nota: relato de resultados parciais ou preliminares depesquisas relacionadas com a área temática da revista (até5. 600 caracteres, incluindo os espaços).

f) Opinião: parecer pessoal ou de um grupo sobre tópicoespecífico em saúde e segurança do trabalho.

g) Tradução: versão para o português de artigo ou revisão, derelevada importância, já publicado em outro idioma que nãoo espanhol, com a devida anuência do(s) autor(es) ou de quemdetêm seus direitos autorais.

2 Processo de julgamento das contribuições

Os trabalhos que atenderem às normas de publicação erespeitarem a política editorial da RBSO serão avaliados peloEditor Científico que considerará o mérito da contribuição.Aprovados nesta fase, os mesmos serão encaminhados aosconsultores.

Cada trabalho será enviado para dois consultores dereconhecida competência na temática abordada.

Com base nos pareceres emitidos pelos consultores, o EditorCientífico e/ou Conselho Editorial decidirá se é necessárioque os autores efetuem alterações no trabalho para apublicação ou se a mesma será recusada, caso em que seráemitida a devida justificativa.

O anonimato será garantido durante todo o processo dejulgamento.

A redação da revista não se obriga a devolver os originais dostrabalhos que não forem publicados.

3 Preparo dos trabalhos

Serão aceitas contribuições em português ou espanhol.

É de responsabilidade do(s) autor(es) promover(em) asdevidas revisões gramaticais no texto encaminhado bemcomo se preocupar com a obtenção de autorização de direitosautorais com relação ao uso de figuras, tabelas, métodos,etc. junto a outros autores ou editores, quando for o caso.

O texto deverá ser elaborado empregando-se fonte TimesNew Roman, tamanho 12, em folha de papel branco, commargens laterais de 3 cm e espaço simples e devem conter:

3.1 Página de rosto

a) Título na língua principal (português ou espanhol) e eminglês.

b) Nome e sobrenome de cada autor.

c) Instituição a que cada autor está filiado, acompanhado dorespectivo endereço.

d) Nome, endereço, telefone e endereço eletrônico do autorresponsável para troca de correspondência.

e) Se foi subvencionado, indicar o tipo de auxílio, o nome daagência financiadora e o respectivo número do processo.

f) Se foi baseado em tese, indicar título, ano e instituiçãoonde foi apresentada.

g) Se foi apresentado em reunião científica, indicar o nomedo evento, local e data da realização.

h) Local e data do envio do artigo.

i) Nome da modalidade da contribuição à qual está sendoproposto.

3.2 Corpo do texto

a) Título na língua principal (português ou espanhol) e em inglês

b) Resumo: Os manuscritos para as seções artigos, revisõese opiniões devem ter resumo na língua principal (portuguêsou espanhol) e em inglês, com um máximo de 14 linhas.

c) Palavras–chave: Mínimo de 3 e máximo de 5 palavras-chavedescritoras do conteúdo do trabalho, apresentadas na línguaprincipal (português ou espanhol) e em inglês.

d) O desenvolvimento do texto deve atender às formasconvencionais de redação de artigos científicos.

e) Referências bibliográficas: as referências bibliográficascitadas ao longo do texto devem trazer o sobrenome do autore ano da publicação, como em Algranti (1998). No caso decitações com mais de três autores, somente o sobrenome doprimeiro autor deverá aparecer, como em Silva et al. (2000).

A exatidão das referências constantes da listagem e a corretacitação no texto são de responsabilidade do(s) autor(es) dotrabalho. As referências citadas deverão ser listadas ao finaldo artigo em ordem alfabética e organizadas de acordo coma norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)NBR 6023, versão de 2000. Os exemplos apresentados abaixotêm um caráter apenas de orientação e foram elaboradoscom base nessa norma:

ARTIGOS DE PERIÓDICOS

BAKER, L.; KRUEGER, AB. Medical cost in workerscompensation insurance. Journal of Health Economics. NewYork, n. 14, 531-549. 1995.

LIVRO

WALDVOGEL, B. C. Acidentes do trabalho: os casos fatais aquestão da identificação e da mensuração. Belo Horizonte:

Normas Gerais paraPublicação de Artigos

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Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 30 (111): 57-58, 2005 59

Segrac. 2002. 192 p., 24cm (Coleção PRODAT Estudos eAnálises, v.1, n. 1, março 2002) ISBN 85-88669-02-01.

CAPÍTULO DE LIVRO

NORWOOD, S. Chemical cartridge respirators and gasmasks. In: CRAIG, E.C. ; BIRKNER, L. R. ; BROSSEAU, L.Respiratory protection a manual and guideline. 2. ed. Ohio:American Industrial Hygiene Association, 1991. cap. 8.

TESE

BORGES, L.H. Sociabilidade, sofrimento psíquico e lesõespor esforços repetitivos entre caixas bancários. 1999. Tese(Doutorado em Ciências da Saúde). Instituto de Psiquiatria,Universidade Federal do Rio de Janeiro.

RESUMO DE TRABALHO DE CONGRESSO

ALVES FILHO, J.P. Receituário agronômico: a construção deum instrumento de apoio à gestão dos agrotóxicos e suacontrovérsia. In: SEMANA DA PESQUISA DA FUNDACENTRO,4, São Paulo. Anais... São Paulo: Fundacentro, 2000. p. 53.

RELATÓRIO

FUNDAÇÃO JORGE DUPRAT FIGUEIREDO DE SEGURANÇA EMEDICINA DO TRABALHO. Relatório de Gestão 1995-2002.São Paulo, 2003. 97p.

RELATÓRIO TÉCNICO

ARCURI, A S.A ; NETO KULCSAR, F. Relatório Técnico daavaliação qualitativa dos laboratórios do Departamento deMorfologia do Instituto de Biociências da UNESP. São Paulo.Fundacentro. 1995. 11p., 9 anexos.

ARTIGO E/OU MATERIA DE JORNAL

LEAL, L.N. MP fiscaliza com autonomia total. Jornal do Brasil,p. 3, 25 abr. 1999.

CD ROM

ASH, M. ; ASH, I. Fillers, extenders and diluents electronichandbook. New York. Synapse Information Resources. 1998.

FITA DE VÍDEO

Cenas da indústria de galvanoplastia. São Paulo: Fundacentro.1997. Fita cassete VHS/NTSC. 20 min., col.

DOCUMENTO EM MEIO ELETRÔNICO

BIRDS from Amapá: banco de dados. Disponível em < http://www.bdt.org> Acesso em 28 nov. 1998.

LEGISLAÇÃO

BRASIL. Lei n. 9.887, de 7 de dezembro de 1999. Altera alegislação tributária federal. Diário Oficial da RepúblicaFederativa do Brasil, Brasília, DF, 8 dez. 1999.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988.

DECRETOS

SÃO PAULO (Estado) Decreto n. 48.822, de 20 de janeiro de1988. Dispõe sobre a desativação de unidades administrativasde órgãos da administração direta e das autarquias de Estadoe dá providências correlatas. Lex- Coletânea de Legislação eJurisprudência. São Paulo. V. 63, n. 3, p. 217-220, 1998.

f) Tabelas e quadros

Devem ser apresentadas em folhas separadas, numeradasconsecutivamente com algarismos arábicos, na ordem emque forem citadas no texto. A cada uma deve-se atribuir umtítulo breve que permita sua contextualização. Tabelasconsideradas adicionais pelo editor não serão publicadas,mas poderão ser colocadas à disposição dos leitores pelosrespectivos autores mediante nota explicativa em formatode arquivo eletrônico separado do texto.

Quadros são identificados como tabelas seguindo uma únicanumeração em todo o texto.

g) Figuras

As figuras (gráficos, fotos, esquemas, etc.) deverão serenviadas em impressão de alta qualidade, em preto-e-brancoe/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras e no formato dearquivo eletrônico separado do texto, com resolução daimagem não inferior a 300 dpi.

h) Agradecimentos (opcional)

Contribuições de pessoas que prestaram colaboraçãointelectual ao trabalho, com assessoria científica, revisãocrítica da pesquisa, coleta de dados, entre outras, mas quenão preenchem os requisitos para participar da autoria,devem constar dos “agradecimentos”, desde que hajapermissão expressa dos nomeados. Também podem constardesta parte agradecimentos a instituições pelo apoioeconômico, material ou outro. Os agradecimentos devemvir após a relação das referências bibliográficas.

4 Envio dos trabalhos

Os trabalhos devem ser endereçados à Coordenação Editorialda Revista, em 3 vias e em disquete ou CD com arquivoextensão doc. no formato word.

Os trabalhos deverão vir acompanhados da declaração deresponsabilidade e de cessão de direitos autorais conformemodelo que se encontra no Portal da FUNDACENTRO:www.fundacentro.gov.br - normas RSBO.

5 Endereço para envio

FUNDACENTROSra. Elisabeth RossiCoordenação Editorial da RBSO / Divisão de PublicaçõesRua Capote Valente, 71005409 002 • São Paulo – Capital

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Normas Gerais paraPublicação de Artigos

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2 (miolo), no formato 21x28cm pela Gráfica da Fundacentro. Tiragem: 2.000 exemplares • Equipe de

realização: coordenação editorial: Elisabeth Rossi; revisão de textos: Karina Penariol Sanches; tradução: Elena Elisabeth Riederer; design eeditoração eletrônica: Glaucia Fernandes; Foto capa: arquivo Fundacentro

Rua Capote Valente, 710São Paulo/SP05409-002

Tel.: (11) 3066.6326

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