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CORREIO Vida | 25 Salvador, quarta-feira, 1 de junho de 2011 Varilux mostra a nova França Seleção de filmes mescla comédias com obras do dito cinema de arte Deixe de lado os filmes-ca- beça da Nouvelle Vague, mo- vimento que colou o estigma de cinema de difícil compre- ensão às produções francesas. A atual fase da cinematografia da França é bem mais diversi- ficada e vai das animações às comédias rasgadas. E parte dela poderá ser con- ferida em Salvador na segunda edição do Festival Varilux de Cinema Francês, que começa no próximo dia 10 e segue até dia 16, no Espaço Unibanco Glauber Rocha. A mostra exi- be dez filmes inéditos e acon- tece em 22 cidades do país. A programação completa pode ser conferida através do site www.festivalcinefran- ces.com. Em julho, o festival exibe oito longas da atriz ho- menageada, Sandrine Bon- naire, na Aliança Francesa de Salvador. DIVAS A abertura, no Rio (dia 8) e em São Paulo (9), con- tará com as estrelas Catherine Deneuve, Sandrine Bonnaire e Audrey Tautou, que despon- tou para o mundo com o filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Salvador não recebe- rá as divas, pelo menos não em carne e osso, e sim por meio dos filmes. Diva máxima do cinema francês, Catherine está repre- sentada pelo filme Potiche: Esposa Troféu, do badalado François Ozon. Ambientada em uma cidade pequena na década de 70, a obra traz outro grande nome francês, Gérard Depardieu. Em entrevista ao O Estado de S. Paulo, domin- go, ela mostra ter o pé no chão. “Não sou um mito, sou uma mulher”, disse. ABERTOS E FECHADOS O público baiano também pode- rá ver outra estrela em cena: a atriz Isabelle Huppert. Ela ‘chega’ a Salvador com o longa Copacabana, de Marc Fitous- si. Moradora de uma região do Norte da França com graves problemas sociais, a persona- gem de Huppert sonha com dias melhores. Para ela, o Bra- sil é o país do futuro, a repre- sentação de uma vida perfeita. Na trilha, músicas de Chico Buarque e Marcos Valle. Um dos novos rostos do ci- nema francês, a graciosa Au- drey Tautou protagoniza Uma Doce Mentira. “É uma comédia fantástica, com influência das comédias americanas dos anos 50”, afirma o produtor do Varilux, Christian Boudier, 45 anos. A seleção dos filmes para o festival, explica Christian, buscou mesclar o que ele cha- ma de filmes mais intelec- tuais, também conhecidos como cinema de autor, com outros mais abertos, mais acessíveis ao público. Partici- pam do primeiro grupo o já ci- tado Copacabana, Os Nomes do Amor e Vênus Negra. Já Po- tiche: Esposa Troféu e Uma Doce Mentira fazem parte da segunda leva. Nela, também podemos incluir a animação Um Gato em Paris, sobre um gato que divide a vida entre duas casas. A CARA DA FRANÇA “As pes- soas acabaram ficando com uma imagem do cinema fran- cês como algo fechado. Que- remos mostrar a diversidade da produção local”, diz o pro- dutor. A mostra é realizada pela Unifrance Film Interna- tional, associação para pro- moção do cinema francês. Para Christian, a imagem de um país na opinião interna- cional é de suma importância para o sucesso em áreas como o comércio e o turismo. E o ci- nema cumpre esse objetivo, ‘vender’ um país no exterior. A Unifrance foi criada em 1949, no pós-guerra europeu, como tentativa de barrar a in- fluência do cinema americano no país. SALVATORE CARROZZO Em uma cena do filme Potiche: Esposa Troféu, Judith Godreche beija a atriz francesa Catherine Deneuve DIVULGAÇÃO CINEMA E MÚSICA Mostra In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical: Salvador Local Cinema do Museu, na Vitória Data De amanhã até dia 9 Ingressos R$ 12/R$ 6. Algumas sessões são gratuitas. A programação completa pode ser vista em www.in-edit-brasil.com Quem gosta dos Stones - e cinema, de modo geral - tem que ver o clássico Gimme Shelter (1970), domingo, às 21h. Realizado por Albert Maysles, relata o mítico show dos Rolling Stones em Alta- mont, de entrada livre, que pretendia ser um dos símbo- los máximos da época paz & amor e acabou por ser o palco de inúmeros distúrbios que terminaram na morte de um espectador. Já Upside Down: The Story of Creation Records, que será esta sexta-feira, às 21h, docu- menta a história do escocês Alan McGee, criador da Crea- tion Records. O selo está por trás da descoberta de bandas como Oasis, The Jesus and Mary Chain, Primal Scream e Teenage Fanclub . ROLÉ NA PARAÍBA Descrito como um road movie, Nas Pa- redes da Pedra Encantada re- vela as histórias por trás de Paêbirú - Caminho da Monta- nha do Sol, álbum lançado em 1975 por Lula Côrtes e Zé Ra- malho. A bordo de uma Kom- bi, os diretores Cristiano Bas- tos e Leonardo Bonfim viaja- ram pelo interior da Paraíba com Lula Côrtes, artista per- nambucano que uniu ritmos regionais e rock, e morreu em março, aos 61 anos. O filme será exibido sábado, às 19h. A black music americana é um dos temas de Soul Train: The Hippest Trip in America, sábado, às 21h. O documentá- rio conta as histórias do pro- grama televisivo Soul Train, que estreou em 1971 e durou até 2006. Concebido pelo apresenta- dor Don Cornelius, era um es- paço para a divulgação da cul- tura negra americana. Na pauta, muito soul, hip hop, ja- zz e música gospel. Pelo pro- grama passaram nomes como Marvin Gaye (1939 – 1984) e os Jackson 5, com o jovem Mi- chael Jackson (1958 – 2009). FROM BAHIA O In-Edit Bra- sil também é uma oportuni- dade de ver filmes que ficaram pouco tempo em cartaz, como Batatinha – Poeta do Samba, que será exibido segunda-fei- ra, às 15h. O filme sobre sambista Ba- tatinha (1924 – 1997) foi exibi- do por 15 dias em Salvador, em 2010. “Por que os cinemas baianos não exibem os filmes feitos no estado? ”, questiona o diretor Marcelo Rabelo, 41, que está em fase de pesquisa do próximo documentário: No Rastro do Pé de Bode, sobre a sanfona pé de bode, tocada no interior. Inédito em circuito comer- cial é o Sonora Rio - Bahia, de Jasmin Pinho: terça, às 15h. O filme, idealizado por Daniela Mercury, mostra o poder transformador da música. Entre as quatro personagens, duas são baianas: Tina Bee, que mistura rap com samba, e Aisha Araújo, que ensina cân- ticos de candomblé para crianças em terreiros de Sal- vador. Existe um filão para esses documentários musicais. As pessoas saem do cinema cantando, lembrando histórias, é muito bacana HENRIQUE DANTAS, diretor de Filhos de João www.correio24horas.com.br Assista a trailers de filmes do festival no site do CORREIO. Livro aponta erros e acertos de roteiros de clássicos do cinema Populares entre aspirantes a roteirista, os manuais de ro- teiros costumam trazer fór- mulas para o que seria con- siderado um bom trabalho. Mas mesmo as fórmulas er- ram. É o que mostra o livro Por Dentro do Roteiro (Zahar, R$ 44/304 páginas), do professor americano da área Tom Stempel. No livro, Stempel analisa mais de 50 filmes, buscando acertos e erros. A versão de Titanic de James Cameron, com Leo- nardo DiCaprio, é um dos alvos do autor. Ele compara o filme de 1997 ao do mesmo título lançado em 1953, cujo roteiro é considerado “po- deroso dramaticamente” por Stempel. Ele vai além: “No convés, Rose diz a Jack que vai desembarcar com ele quando chegarem a Nova York. Dois marinheiros na gávea do navio os observam. Cameron está quase suge- rindo que o que Jack e Rose fizeram foi a causa da colisão (com o iceberg, que levou o navio ao naufrágio). O pior tipo de revisionismo históri- co”, escreve. Por Dentro do Roteiro também indica erros em trilogias como Jurassic Park e Guerra nas Estrelas, mas também aponta a mira das suas críticas – algumas até positivas – para filmes clássicos como Lawrence das Arábias e Janela Indis- creta. As Patricinhas de Be- verly Hills, por exemplo, é considerado uma boa versão moderna para a obra da es- critora inglesa Jane Austen (1775–1817).

Filhos de João, materia do jornal Correio, parte 2

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CORREIO Vida | 25Salvador, quarta-feira, 1 de junho de 2011

Varilux mostra a nova FrançaSeleção de filmesmescla comédiascom obras do ditocinema de arte

Deixe de lado os filmes-ca-beça da Nouvelle Vague, mo-vimento que colou o estigmade cinema de difícil compre-ensão às produções francesas.A atual fase da cinematografiada França é bem mais diversi-ficada e vai das animações àscomédias rasgadas.

Epartedelapoderásercon-feridaemSalvadornasegundaedição do Festival Varilux deCinema Francês, que começano próximo dia 10 e segue atédia 16, no Espaço UnibancoGlauber Rocha. A mostra exi-be dez filmes inéditos e acon-tece em 22 cidades do país. Aprogramação completa podeser conferida através dosite www.festivalcinefran-ces.com. Em julho, o festivalexibe oito longas da atriz ho-menageada, Sandrine Bon-naire, na Aliança Francesa deSalvador.

DIVAS A abertura, no Rio(dia8)eemSãoPaulo(9),con-tará com as estrelas CatherineDeneuve, Sandrine Bonnairee Audrey Tautou, que despon-tou para o mundo com o filmeO Fabuloso Destino de Amélie

Poulain. Salvador não recebe-rá as divas, pelo menos não emcarne e osso, e sim por meiodos filmes.

Diva máxima do cinemafrancês, Catherine está repre-sentada pelo filme Potiche:Esposa Troféu, do badaladoFrançois Ozon. Ambientadaem uma cidade pequena nadécada de 70, a obra traz outrogrande nome francês, GérardDepardieu. Em entrevista aoO Estado de S. Paulo, domin-go, ela mostra ter o pé no chão.“Não sou um mito, sou umamulher”, disse.

ABERTOS E FECHADOS Opúblicobaianotambémpode-rá ver outra estrela em cena: aatriz Isabelle Huppert. Ela‘chega’aSalvadorcomolongaCopacabana, de Marc Fitous-si. Moradora de uma região doNorte da França com gravesproblemas sociais, a persona-gem de Huppert sonha comdias melhores. Para ela, o Bra-sil é o país do futuro, a repre-sentação de uma vida perfeita.Na trilha, músicas de ChicoBuarque e Marcos Valle.

Um dos novos rostos do ci-nema francês, a graciosa Au-drey Tautou protagoniza UmaDoce Mentira.

“É uma comédia fantástica,com influência das comédiasamericanas dos anos 50”,afirma o produtor do Varilux,Christian Boudier, 45 anos.

A seleção dos filmes para ofestival, explica Christian,buscou mesclar o que ele cha-ma de filmes mais intelec-tuais, também conhecidoscomo cinema de autor, comoutros mais abertos, maisacessíveis ao público. Partici-pam do primeiro grupo o já ci-tado Copacabana, Os Nomesdo Amor e Vênus Negra. Já Po-tiche: Esposa Troféu e UmaDoce Mentira fazem parte dasegunda leva. Nela, tambémpodemos incluir a animaçãoUm Gato em Paris, sobre umgato que divide a vida entreduas casas.

A CARA DA FRANÇA “As pes-soas acabaram ficando comuma imagem do cinema fran-cês como algo fechado. Que-remos mostrar a diversidadeda produção local”, diz o pro-dutor. A mostra é realizadapela Unifrance Film Interna-tional, associação para pro-moção do cinema francês.

Para Christian, a imagemdeumpaísnaopiniãointerna-cional é de suma importânciapara o sucesso em áreas comoo comércio e o turismo. E o ci-nema cumpre esse objetivo,‘vender’ um país no exterior.A Unifrance foi criada em1949, no pós-guerra europeu,como tentativa de barrar a in-fluência do cinema americanono país.

SALVATORE CARROZZO

Em uma cena do filme Potiche: Esposa Troféu, Judith Godreche beija a atriz francesa Catherine Deneuve

DIVULGAÇÃO

CINEMA E MÚSICA

H Mostra In-Edit Brasil –Festival Internacional doDocumentário Musical:Salvador

H Local Cinema do Museu, naVitória

H Data De amanhã até dia 9

H Ingressos R$ 12/R$ 6.Algumas sessões sãogratuitas. A programaçãocompleta pode ser vista emwww.in-edit-brasil.com

Quem gosta dos Stones - ecinema, de modo geral - temque ver o clássico GimmeShelter (1970), domingo, às21h. Realizado por AlbertMaysles, relata o mítico showdos Rolling Stones em Alta-mont, de entrada livre, quepretendia ser um dos símbo-los máximos da época paz &amor e acabou por ser o palcode inúmeros distúrbios queterminaram na morte de umespectador.

Já Upside Down: The Storyof Creation Records, que seráestasexta-feira,às21h,docu-menta a história do escocêsAlan McGee, criador da Crea-tion Records. O selo está portrás da descoberta de bandascomo Oasis, The Jesus andMary Chain, Primal Scream eTeenage Fanclub .

ROLÉ NA PARAÍBA Descritocomo um road movie, Nas Pa-redes da Pedra Encantada re-vela as histórias por trás dePaêbirú-CaminhodaMonta-nha do Sol, álbum lançado em1975 por Lula Côrtes e Zé Ra-malho. A bordo de uma Kom-bi, os diretores Cristiano Bas-tos e Leonardo Bonfim viaja-ram pelo interior da Paraíbacom Lula Côrtes, artista per-nambucano que uniu ritmosregionais e rock, e morreu emmarço, aos 61 anos. O filmeserá exibido sábado, às 19h.

A black music americana é

um dos temas de Soul Train:The Hippest Trip in America,sábado, às 21h. O documentá-rio conta as histórias do pro-grama televisivo Soul Train,que estreou em 1971 e durouaté 2006.

Concebido pelo apresenta-dor Don Cornelius, era um es-paço para a divulgação da cul-tura negra americana. Napauta, muito soul, hip hop, ja-zz e música gospel. Pelo pro-grama passaram nomes comoMarvin Gaye (1939 – 1984) e osJackson 5, com o jovem Mi-chael Jackson (1958 – 2009).

FROM BAHIA O In-Edit Bra-sil também é uma oportuni-dade de ver filmes que ficarampouco tempo em cartaz, comoBatatinha – Poeta do Samba,que será exibido segunda-fei-ra, às 15h.

O filme sobre sambista Ba-tatinha (1924 – 1997) foi exibi-do por 15 dias em Salvador, em2010. “Por que os cinemasbaianos não exibem os filmesfeitos no estado? ”, questionao diretor Marcelo Rabelo, 41,que está em fase de pesquisadopróximodocumentário:NoRastro do Pé de Bode, sobre asanfona pé de bode, tocada nointerior.

Inédito em circuito comer-cial é o Sonora Rio - Bahia, deJasmin Pinho: terça, às 15h. Ofilme, idealizado por DanielaMercury, mostra o podertransformador da música.Entre as quatro personagens,duas são baianas: Tina Bee,que mistura rap com samba, eAisha Araújo, que ensina cân-ticos de candomblé paracrianças em terreiros de Sal-vador.

Existe um filãopara essesdocumentáriosmusicais. Aspessoas saemdo cinemacantando,lembrandohistórias, émuito bacanaHENRIQUE DANTAS, diretor deFilhos de João

www.correio24horas.com.brAssista a trailers de filmes dofestival no site do CORREIO.

Livro aponta erros e acertos de roteiros de clássicos do cinemaPopulares entre aspirantes aroteirista, os manuais de ro-teiros costumam trazer fór-mulas para o que seria con-siderado um bom trabalho.Mas mesmo as fórmulas er-ram. É o que mostra o livroPor Dentro do Roteiro(Zahar, R$ 44/304 páginas),do professor americano daárea Tom Stempel. No livro,Stempel analisa mais de 50

filmes, buscando acertos eerros. A versão de Titanic deJames Cameron, com Leo-nardo DiCaprio, é um dosalvos do autor. Ele comparao filme de 1997 ao do mesmotítulo lançado em 1953, cujoroteiro é considerado “po-deroso dramaticamente”por Stempel. Ele vai além:“No convés, Rose diz a Jackque vai desembarcar com

ele quando chegarem a NovaYork. Dois marinheiros nagávea do navio os observam.Cameron está quase suge-rindo que o que Jack e Rosefizeram foi a causa da colisão(com o iceberg, que levou onavio ao naufrágio). O piortipo de revisionismo históri-co”, escreve. Por Dentro doRoteiro também indica errosem trilogias como Jurassic

Park e Guerra nas Estrelas,mas também aponta a miradas suas críticas – algumasaté positivas – para filmesclássicos como Lawrencedas Arábias e Janela Indis-creta. As Patricinhas de Be-verly Hills, por exemplo, éconsiderado uma boa versãomoderna para a obra da es-critora inglesa Jane Austen(1775–1817).