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Instituto Politécnico de Viseu Escola Superior de Educação de Viseu JORNALISMO DE CINEMA: CONCEITO, HISTÓRIA E IMPACTO

Trabalho final Jornalismo de Cinema

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Trabalho final de unidade curricular (Recuperação e Avaliação de Informação) feito no 2º semestre do ano letivo 2012/2013 (1º ano do curso de licenciatura em Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Viseu).

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Instituto Politécnico de Viseu

Escola Superior de Educação de Viseu

JORNALISMO DE CINEMA: CONCEITO, HISTÓRIA E IMPACTO

Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Recuperação e Avaliação de Informação por João Sousa, nº 9975 e Jorge Lopes, nº 9978

Turma A do 1º ano do curso de licenciatura em Comunicação Social

2º Semestre – Ano Letivo 2012/2013

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JORNALISMO DE CINEMA: CONCEITO, HISTÓRIA E IMPACTO

ÍNDICE

Introdução P. 3

Capítulo I – Conceito do Jornalismo de Cinema

P. 3

Capítulo II – Os críticos de cinema P. 8

Capítulo III – O impacto do jornalismo de cinema

P. 11

Conclusão P. 11

Bibliografia P. 12

RESUMO

Neste trabalho, procuramos apresentar ao pormenor a área do jornalismo de cinema, procurando especificar o tema de crítica de cinema. Para tal começaremos por apresentar o conceito do jornalismo de cinema e como ele se distingue de todos os outros tipos de jornalismo. De seguida, entraremos em detalhe sobre a crítica de cinema, apresentando não só informação conceptual como também apresentando exemplos de artigos e de críticos. Concluiremos este trabalho com uma reflexão sobre o impacto que o jornalismo cinematográfico tem no jornalismo em geral e na indústria cinematográfica em particular.

Palavras-chave: Cinema, crítica, jornalismo, público, impacto, críticos

ABSTRACT

In this assessment, we present in detail the film journalism area, seeking to specify the subject of film criticism. For such, we will begin by presenting the concept of film journalism and how it differs from all other types of journalism. After that, we go into detail about the film criticism, presenting not only conceptual information about it, as well as presenting examples of criticism articles and critics. We conclude this assessment by reflecting the impact that film journalism has on journalism in general and in the film industry particularly.

Keywords: Cinema, criticism, journalism, audience, impact, critics

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INTRODUÇÃO

Escolhemos elaborar o nosso trabalho em volta do tema de Jornalismo de Cinema, pois somos ambos grandes fãs da arte e do estilo jornalístico. Procuramos desenvolver neste trabalho, focando os pontos mais importantes deste estilo jornalístico, apresentando conceitos e exemplos do mesmo. Através desta pesquisa, procuramos desenvolver o nosso conhecimento sobre o tema, detalhando o trabalho através da informação encontrada nas pesquisas acima referidas. Estamos a desenvolver este trabalho pelo nosso desejo de conhecer melhor a 7ª arte e tudo o que a rodeia (focando obviamente o aspeto dos meios de comunicação de massa que se envolvem com o cinema). Desenvolveremos a apresentação de informação, seguindo-nos por um conjunto de tópicos que começarão por introduzir o Jornalismo de Cinema como uma atividade, desvendando depois a história por trás desta e terminando com a importância deste estilo específico de jornalismo para o cinema e o jornalismo em geral. Apresentaremos também exemplos de críticos de cinema e dos seus trabalhos. Esperamos que, no final deste trabalho, estes objetivos tenham sido alcançados para apreciação da professora.

No âmbito desta pesquisa, utilizámos como ferramentas de investigação bases de dados e artigos científicos bem como algumas plataformas do Google, entre elas o Google Generalista e o Google Académico.

I – CONCEITO DO JORNALISMO DE CINEMA

O jornalismo de cinema é um estilo jornalístico – inserido dentro da área do jornalismo cultural – que centra no cinema e nas suas diversas vertentes. Tal como os outros estilos do jornalismo cultural, o jornalismo cinematográfico é caraterizado predominantemente pela crítica, o que faz com que esta área jornalística seja distinta de todos os outros tipos de jornalismo em geral.

Mas, para começarmos a analisar este estilo jornalístico, temos de apresentar os conceitos das duas palavras que mais lhe definem: cinema e crítica. O cinema é definido como sendo a técnica de “fixar e de reproduzir imagens que suscitam impressão de movimento, assim como a indústria que produz estas imagens”1. A crítica é definida jornalisticamente como “uma função de comentário sobre determinado tema”2. Ora, a palavra-chave que mais carateriza o jornalismo de cinema é “crítica de cinema”, cuja definição é ser “o exame de um filme, feito de modo a estabelecer um valor comparado a um objetivo final, como a verdade, o belo (…)”3. A crítica cinematográfica faz, com a crítica propriamente dita, uma “análise da obra cinematográfica (…) [com] características discursivas próprias”4 e com uma crítica dupla que tanto poderá ser a

1 - Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinema. Data de consulta: 30-03-20132 - Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADtica. Data de consulta: 21-05-20133 - Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%ADtica_de_cinema. Data de consulta: 30-03-20134 - Idem, Ibidem

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comparação de um determinado filme “nos seus contextos de produção e de recepção”5 como também poderá ser a avaliação do mesmo filme “em si mesma”6.

Em relação ao próprio conceito do jornalismo especializado em cinema, teremos de pensar, em primeiro lugar, na reflexão crítica sobre a arte (Andrade, 2010: 17). A crítica de arte é um estilo de crítica que, segundo Andrade (2010: 17-18), vai muito além do que a “prisma jornalístico, englobando uma série de aspectos filosóficos, linguísticos, psicanalíticos, epistemológicos, entre outros, em uma escala temporal que atravessa os séculos”. A crítica de arte surge no decorrer dos séculos XVII e XVIII, numa altura em que “as obras de arte passaram a compor um mercado específico – estabelecendo uma nova relação entre artista e público” (Andrade, 2010: 18). Nesta altura e segundo Andrade (Ibidem), a crítica de arte tornou-se num “mecanismo de julgamento e valorização”, fazendo com que a figura do crítico tenha um “grau maior de responsabilidade”.

A partir do século XIX, a crítica de arte passou por uma especialização (Argan, 1988 como citado em Andrade, 2010: 21). Entre as alterações causadas por esta especialização, está a delimitação as funções do artista e do crítico assim como a criação de reflexões sobre o que atrai ou não o grande público consumidor de arte (Idem, Ibidem). Estas atrações do grande público sobre as obras de arte também estão presentes na crítica cinematográfica.

Durante o século XX, a crítica de cinema seguiu a tendência da especialização da crítica de arte, assim que o papel do crítico de cinema aumenta em termos de especificidade. Foi a partir dessa altura que os críticos cinematográficos começaram a classificar os filmes que viam por possível interesse para o público em geral ou, pelo contrário, para um público particular. Este novo nível de especificação crítica elevou o relevo deste estilo jornalístico de tal modo, que agora competia com a crítica literária por um espaço de maior abrangência no jornalismo cultural (sobretudo a partir da primeira metade deste século).

Com a chegada da estética moderna, o mundo cultural aprendeu a abranger os seus horizontes, apreciando agora da mesma maneira que apreciava a beleza das criações. Havia movimentos artísticos que iam tornar-se catalisadores para a criação de novas obras de arte e que, mais tarde, vão incorporar-se numa série de estilos e tendências – como o caso da incorporação do abstracionismo no cinema alemão de vanguarda –, o que iria fortalecer a figura do crítico no século XX (Andrade, 2010: 22). Estas mudanças artísticas iriam transformar estilisticamente o próprio cinema, nos seus primeiros trinta anos, através de movimentos como o impressionismo francês, o expressionismo alemão e o surrealismo (Idem, Ibidem).

Eventualmente, o progresso do exercício de avaliação das artes e as mudanças causadas no panorama cinematográfico da época levaram ao desenvolvimento da metacrítica que poderá ser definida como a “atividade filosófica que analisa e clarifica

5 - Idem, Ibidem6 - Idem, Ibidem

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os conceitos básicos que os críticos (…) usam quando descrevem, interpretam ou avaliam obras (…)” (Dickie, 2008 como citado em Idem, Ibidem). Por outras palavras, a metacrítica era considerada como a crítica da crítica e era também a maneira de um crítico analisar a opinião doutro homólogo que tenha feito uma crítica e explicá-la ao público de maneira a torná-la mais compreensível. A técnica da metacrítica viria também a ser utilizada para contra-argumentar a crítica desses primeiros críticos, de maneira a vencer uma discussão entre qual das duas críticas seria a mais apropriada – técnica essa que ainda é hoje utilizada.

A metacrítica também procurava acabar com as tendências biográficas e históricas da crítica e que, por sua vez, ia permitir com que o texto crítico focasse mais no estudo da arte do que na opinião pessoal do crítico. Ora, esta intenção acabou por consolidar-se através da criação de um novo movimento metacrítico denominado de Nova Crítica – ou New Criticism – que nasceu nos Estados Unidos (Andrade, 2010: 22-23).

Com a evolução feita até aqui, nós chegámos à perceção de que a crítica de cinema acompanha o crescimento feito pela própria indústria cinematográfica e, juntamente com a teoria do cinema, vê-se vinculada “aos sistemas referenciais interpretativos das disciplinas humanísticas, sobretudo da literatura” (Gomes, 2006: 1). Consequentemente e a partir de meados do século XX, os enfoques que estavam centrados nos estudos literários “foram também transferidos para a crítica de cinema e, diga-se, não somente a chamada crítica académica como também a crítica comum de filmes” (Idem, Ibidem).

Após a Segunda Guerra Mundial e atendendo àquilo que tínhamos referenciado até aqui, as revistas dedicadas ao cinema multiplicam-se “especialmente na França (…), na Inglaterra (…) e nos Estados Unidos” (Idem, Ibidem). A imprensa cinematográfica ainda exerce hoje uma forte expressão na produção de “textos de qualidade na análise da obra cinematográfica” (Idem, Ibidem). Por outro lado, as revistas de cinema também criaram, com a sua influência, escolas de crítica. Esta prática popularizou-se por todo o mundo e apresentava “um modo ensaístico peculiar de fazer as críticas” (Idem, Ibidem).

Um caso muito particular de escolas de crítica foi a revista francesa “Cahiers du Cinéma” que, para além de ter reinventado os princípios básicos da crítica e teoria cinematográficas7, foi também essencial para a criação de um novo movimento que iria ser marcante na história do cinema mundial – a “Nouvelle Vague” do cinema francês – através de filmes que eram realizados por colaboradores regulares da revista como Jean-Luc Godard ou François Truffaut. A “Nouvelle Vague” iria influenciar movimentos semelhantes como o “Cinema Novo” português ou o “New Hollywood” norte-americano. Entretanto, a “Cahiers du Cinéma” ia tornar-se numa das “principais defensoras dos ‘cinemas novos’ que se desenvolviam em diferentes países” (Hillier, 1986 como citado em Barreto, 2005: 22).

7 - Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Cahiers_du_cin%C3%A9ma. Data de consulta: 23-05-2013

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Na mesma altura da época do “Cahiers du Cinéma” e a partir dos anos 50 do século XX, a crítica cinematográfica começa a sofrer fortes mudanças, através de críticos que “tentavam refletir o papel da crítica de cinema e estabeleciam novos conceitos, sempre pensando a relação espectador/cinema” (Zuba Jr., 1995 como citado em Barreto, 2005: 23) bem como também através da criação de “um vocabulário mais especializado para tratar dos filmes” (Idem, Ibidem). É curioso pensar que, por detrás da mudança, havia dois polos de consumidores de filmes em que os críticos poderiam estar centrados: “o cinéfilo exigente, interlocutor ideal das críticas profundas [que tendem a pensar os filmes como sendo obras de arte]; o espectador ‘leigo’, que busca no cinema apenas o divertimento [e que encara os filmes como uma forma de descontração face à vida real] (…)” (Idem, Ibidem).

Com base nestas mudanças referidas acima e noutras transformações que envolvem a indústria de cinema, acontece finalmente, entre os anos 50 e 60 do século XX, uma maior “sofisticação do cinema” e a “legitimação da crítica cinematográfica” num período denominado de “renascença cinematográfica” (Barreto, 2005: 24). Também foi neste período que os críticos de cinema começaram a desenvolver “uma abordagem mais complexa e sofisticada dos seus objetos [filmes]” (Murray, 1975 como citado em Idem, Ibidem), o que permitiu com que se fizesse “um avanço técnico, teórico e conceitual nos textos [de crítica]” (Idem, Ibidem).

Assim e durante os anos 50, 60 e princípio dos anos 70, surgem novas técnicas e formas de contar histórias através do cinema, levando a um dos períodos mais ricos da história do cinema (Idem, Ibidem). Na mesma altura, assiste-se a “uma explosão da crítica, tanto em número de publicações especializadas quanto em espaço nas publicações não especializadas” (Idem, Ibidem). Esta época consistia basicamente num “período em que havia espaço para críticas e análises aprofundadas, escritas, geralmente, por intelectuais com algum conhecimento sobre a linguagem do cinema” e também num período em que “o contato com o publico leigo, nas publicações não especializadas, era marcado por um tom didático, que visava iniciar os espectadores nos segredos da sétima arte, inclusive apontando quais filmes deveriam ver e como deveriam interpretá-los” (Idem, Ibidem) (cf. Eliashberg & Shugan, 1997: 68 e 71 in Capítulo II).

Pelo seu lado, os anos 80 foram considerados como uma das épocas mais criativas, em termos de oferta de filmes e de géneros, da história do cinema. No entanto, grande parte dos filmes feitos nesta década eram baseados no modelo de realização surgido através dos cineastas Steven Spielberg e George Lucas bem como na cultura política causada pela presidência americana de Ronald Reagan, o que levou a que os críticos ‘deitassem de lado’ esses filmes (Prince, 2000: 15). Mesmo assim, a indústria cinematográfica ainda conseguia criar conteúdos de qualidade, apesar do novo idealismo de que um grande orçamento era o suficiente para criar um filme de qualidade8.

8 - Disponível em http://www.mecfilms.com/critic1.htm. Data de consulta: 30-05-2013

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É importante referir que, do ponto de vista cultural e estético, a heterodoxia (que significa oposição aos sentimentos ortodoxos, i.e., ‘verdadeiros’) era a “norma” que ia atado às condições de popularidade do cinema e à necessidade de apelar a diversos públicos (Idem, Ibidem). Enquanto alguns filmes feitos na década de 80 tinham ‘quadros’ deduzidos (ex.: o filme “Rambo 2” que era considerado como sendo ‘sinal’ das políticas efetuadas na era Reagan), já outros filmes não tinham essa perspetiva (Idem, Ibidem). Resumindo, a década de 80 foi uma época histórica do cinema tanto bem-aclamada pelo público como desentendida – durante várias vezes e ao longo do tempo – pelos críticos. Apesar disto, esta época foi uma grande influência para o futuro do cinema, criando novos caminhos para os filmes seguirem (desde os padrões de filmes de ação até à ficção científica).

Também nesta altura, a crítica de cinema sofre um declínio, que terá principiado no final da década de 70, graças a uma “crescente desilusão dos profissionais da área quanto às críticas produzidas” (Barreto, 2005: 30) bem como à ‘industrialização’ da imprensa e à simplificação do jornalismo cultural (Barreto, 2005: 30-31). Por sua vez, a simplificação do jornalismo cultural surge devido ao fato de passar a seguir “uma lógica de promoção comercial, inspirado no modelo americano, oferecendo um serviço de cultura de caráter utilitário, fortemente vinculado ao dado temporal e com pouco espaço para matérias mais trabalhadas” (Buitoni, 2000 como citado em Barreto, 2005: 31). Esta crise continuará a suceder pelos anos 90, pelo início do século XXI e pelos dias de hoje (salvo exceções causadas pela Internet e pela suavização da crítica cinematográfica corrente).

A suavização da crítica cinematográfica corrente acontece exatamente no momento em que se prolonga o declínio referido acima. Segundo Barreto (Ibidem), a crítica mais elaborada “migrou, progressivamente, dos diários e revistas semanais para as publicações especializadas” e à medida que os ‘produtos culturais’ passaram a estar cada vez mais em ‘sintonia’ com as restantes secções dos jornais, “buscando rapidez e objetividade”. Assim, a crítica de cinema, que em décadas passadas “se configurava como verdadeiro campo de produção de conhecimento cinematográfico, com profissionais especializados e textos profundos e analíticos” (Idem, Ibidem), passa a ser feita como se fosse uma “guia de consulta rápida, com mini-resenhas e classificações taxativas”. Daí surge a chamada “crítica ligeira [crítica suave e simples em filmes]” (Buitoni, 2000 como citado em Idem, Ibidem) cujos críticos “não deixam uma marca de obra ou sequer de estilo” (Buitoni, 2000 como citado em Idem, Ibidem) e cuja figura do crítico enquanto autor é considerada “rara” (Buitoni, 2000 como citado em Idem, Ibidem) dentro do contexto simples e ligeiro do jornalismo em geral.

Na entrada para o século XXI, as críticas de cinema tornaram-se cada vez mais numa versão menos elaborada e refinada das que as precediam. A crítica cinematográfica como era definida no passado deixou de existir, quase por completo, deixando apenas a ‘crítica ligeira’ para continuar a sua existência. A partir deste momento, a crítica de cinema passaria a ser nada mais do que apenas um texto de opinião, sem ser muito específico acerca do conteúdo e da mensagem do filme

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analisado, focando-se bastante no público que poderá estar interessado em vê-lo. Hoje em dia, a ênfase dos artigos de crítica cinematográfica está colocada sobretudo na indústria e na maneira como se deve atrair mais ‘clientes’ para ela. Entretanto, o que deixou realmente de existir foi “um bom texto crítico (…) [que] deve [devia] informar ao leitor sobre a obra (…) [e que deve também ter] a capacidade de ir além do objeto analisado, de usá-lo para uma leitura de algum aspeto da realidade” (Piza, 2003 como citado em Barreto, 2005: 37). Assim, o princípio do século XXI significou a ‘morte’ quase certa da verdadeira crítica de cinema e dos críticos que as escreviam.

II – OS CRÍTICOS DE CINEMA

Os críticos são o ‘tubo de ensaio’ do jornalismo de cinema e, com ele, da crítica de cinema propriamente dita. Eles são particularmente importantes na indústria do entretenimento e tanto poderão influenciar os públicos na forma como estes deveriam interpretar os filmes como também influenciam a própria performance de bilheteira dos filmes – quando estes são exibidos nas salas de cinema (Eliashberg & Shugan, 1997: 68).

Segundo Eliashberg & Shugan (1997: 71), existem duas perspetivas segundo o papel dos críticos de cinema: a perspetiva de líder de opinião que influencia o público e, consequentemente, a performance de bilheteira dos filmes, e a perspetiva de preditor dos públicos e que não traz tremenda influência sobre a mesma performance de bilheteira das obras cinematográficas. No entanto, nem sempre os críticos influenciam o público cinéfilo, uma vez que a técnica do ‘word of mouth’ entre os espetadores poderá contrabalançar as críticas (Idem, Ibidem). Mas as críticas não se restringem só à bilheteira, uma vez que elas poderão causar também o impacto de um filme nos festivais de cinema e nas cerimónias de prémios como os Óscares (Estados Unidos), os BAFTA (Reino Unido), os Goya (Espanha), os César (França) ou, muito mais recentemente, os Sophia (Portugal).

Entretanto, a crítica de cinema não se limita às presenças nos media tradicionais. Os blogues tem conseguido angariar mais leitores do que os media especializados na 7ª arte, que se têm extinguido nos últimos anos (Mandim, 2012: 45). Com estas mudanças, os blogues cinematográficos “passaram de complementos aos media tradicionais para alternativa aos mesmos” (Mandim, 2012: 45-46) e, hoje, são vistos como sendo mesmo uma grande comunidade prosperadora com dois objetivos comuns: a paixão pelo cinema e a vontade da partilha de um conjunto de visões que coincidem com os apetites demonstrados pelos ‘bloggers’. Estamos a dar o exemplo dos blogues para explicarmos o papel recente dos meios digitais na difusão das opiniões e críticas sobre as obras cinematográficas e a maneira como esses meios estão a eclipsar o impacto tradicional dos media tradicionais no público cinéfilo.

Independentemente do impacto que possam ter seja nos media tradicionais, nos novos media ou mesmo nestes dois tipos de comunicação de massa, os críticos em si são uma força predominante que, como já referimos no início deste capítulo, poderão levar um público a apreciar ou não apreciar um filme específico (conforme os seus gostos).

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Ora, são muitos os críticos que o público reconhece bem a capacidade de refletir sobre um determinado filme e as suas diversas componentes que o compõem, do qual nós vamos dar exemplos de renome a nível nacional e internacional:

Mário Augusto9: Nascido em Espinho no ano de 1963, começou a sua carreira de jornalista em 1986 – tendo colaborado, desde então, para diversos órgãos de imprensa escrita como “O Comércio do Porto”, “Sete” e “Sábado” assim como para a Rádio Comercial, Rádio Renascença e RDP (Antena 1 e 3). Também fez uma atividade intensa na televisão, colaborando na SIC e na RTP – onde está a trabalhar hoje em dia – com programas de cinema e entrevistas a grandes estrelas da indústria. Entre os maiores feitos da sua carreira que podemos considerar, estão a publicação dos livros “Nos Bastidores de Hollywood” (2005) e “Mais Bastidores de Hollywood” (2006), e a criação da revista “Cinemania”.

João Lopes10: Nascido em Caldas da Rainha no ano de 1954, começou a trabalhar no mundo do cinema aos 18 anos, como assistente de realização. Faz crítica de cinema regularmente desde 1973, tendo passado por publicações como “Seara Nova”, “Expresso” e “República”. Colabora atualmente no jornal “Diário de Notícias” e no canal de televisão SIC Notícias. Para além de crítico de cinema, também é guionista, encenador e professor universitário.

Roger Ebert11: Crítico de cinema norte-americano considerado infame, incontornável e marcante, nasceu em Urbana, Illinois no ano de 1942 e faleceu em Chicago neste ano corrente de 2013. Ele era conhecido pelas suas críticas de cinema extremamente populares, publicadas no jornal “Chicago Sun-Times” e circuladas por jornais espalhados pelos Estados Unidos e pelo resto do mundo, bem como pela sua famosa e longa colaboração na televisão através de dois programas: “Sneak Previews” e “At the Movies”, que coapresentou largamente com Gene Siskel. Para além dos jornais e da televisão, Roger Ebert também escreveu uma série de livros relacionados com o cinema bem como guiões para filmes.

Leonard Maltin12: Também considerado como um grande crítico de cinema americano, nasceu em Nova Iorque no ano de 1950. Leonard Maltin é mais conhecido não só pela publicação do seu guia anual de filmes – “Leonard Maltin’s Movie Guide” – como também pelo tratamento frequente que faz sobre o cinema como uma arte (e muito menos como uma atividade jornalística). Para além dos livros e do tratamento artístico de cinema, Maltin tem tido também uma extensiva colaboração nos media – através da imprensa e da televisão – e na história

9 - Disponível em https://www.facebook.com/marioaugustocinema/info. Data de consulta: 11-06-201310 - Disponível em http://casadecamilo.wordpress.com/2012/02/22/o-celebre-critico-de-cinema-joao-lopes-traz-carta-de-uma-desconhecida-na-proxima-sessao-de-um-livro-um-filme-dia-24-de-fevereiro-as-21h30m-2/. Data de consulta: 11-06-201311 - Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Roger_Ebert. Data de consulta: 11-06-201312 - Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Leonard_Maltin. Data de consulta: 11-06-2013

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e teoria do cinema – através da sua atividade de historiador de animação e cinema, o qual se reflete na publicação de vários livros como “Behind the Camera: a study of cinematography”, “Leonard Maltin’s Movie Encyclopedia” ou “Of Mice and Magic: A History of American Animated Cartoons”.

De seguida, vamos mostrar dois exemplos de artigos de crítica (ambos publicados nos dias de hoje):

“Star Trek Into Darkness” 13

"Star Trek Into Darkness opens on a primitive planet, where the natives are restless and a volcano, in mid-eruption, traps First Officer Spock (Zachary Quinto) over a boiling ocean of lava. Naturally, the Vulcan stays cool as a cucumber, ready to die to save his crew — an impeccably logical decision that also happens to be the compassionate one. But Capt. James T. Kirk (Chris Pine), commander of the U.S.S. Enterprise, has other ideas. He'll rescue Spock, even if that means violating a Federation rule that says the Enterprise can't be exposed to the planet's uncivilized hordes. Kirk, who never met a regulation he couldn't trash, guides the starship up into the air and over to where his comrade is about to perish, and the white-mud-caked warriors stare at the ship as if it were a god. It's a sensation that the movie transmits to the audience, since the Enterprise, emitting an awesome thrummm, never looked quite so massive or looming. Four years ago, director J.J. Abrams rebooted the Star Trek franchise with great swagger by treating the launch film as a unique pop culture origin story. The movie was all about how the Enterprise crew first came together, but really it was about how Chris Pine and Zachary Quinto rose up to become those superheroes of yore, Kirk and Spock, by echoing the looks, voices, and personalities of William Shatner and Leonard Nimoy just enough, while still making the roles their own. (...)"

“O Lenhador Assassino – Remake” 14

"Esta pequena curta-metragem é produto de um futuro talento no mundo do cinema de seu nome Rúben Ferreira. Este jovem de 18 anos apresentar-nos um filme com suspense e terror, muito ao semelhante aos filmes que vemos a surgir em Hollywood. Esta curta tem muitos aspectos positivos que reafirmam o talento deste jovem realizador, mas como se trata de uma crítica à mesma, vou começar com os pontos, que na minha opinião, poderiam estar melhores. Apesar de todo o argumento seguir uma linha lógica e com influências de filmes já conhecidos, a ida por um atalho, quando não se devia desviar do caminho principal, a casa sinistra abandonada, entre tantas outras referências, existem alguns detalhes que nos fazem prestar demasiada atenção aos mesmos pela negativa perdendo assim algum do impacto que deveria ser criado. O ponto principal a meu ver, é a falta de emoção das personagens, não digo da mãe, mas dos irmãos, que ao verem que o que está a acontecer limitam-se a reagir um

13 - Disponível em http://www.ew.com/ew/article/0,,20658669,00.html. Data de consulta: 11-06-201314 - Disponível em http://setimarte.aeiou.pt/filmes/o-lenhador-assassino-remake/. Data de consulta: 23-05-2013

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pouco tardiamente (cena em que o lenhador agarra o irmão mais novo pelo pescoço) e após a morte deste, tem uma reacção que não consigo identificar como choque ou sofrimento. No entanto, ressalvo que estamos a falar de jovens sem qualquer formação e por esse motivo que seja perfeitamente normal que o foco esteja dirigido as outros pormenores. Outros dos pontos menos bons são a escolha de objectos surreais utilizados para derrubar o lenhador, uma ameaça supostamente sobre humana. (...)"

Estas duas críticas de exemplo poderão ser, do nosso ponto de vista, um espelho refletor sobre o atual estado da crítica cinematográfica: um ambiente demasiado simplista, ligeiro e muito virado para o entusiasmo em relação às novidades que se sucedem na indústria cinematográfica. Como afirma Corliss (2007), os atuais críticos parecem ficar apaixonados por quase tudo o que veem, mesmo filmes de terror e efeitos especiais.

III – O IMPACTO DO JORNALISMO DE CINEMA

O jornalismo de cinema, sendo apenas uma pequena divisão em todo o jornalismo, teve sempre maior destaque e importância em meios focados no seu tema (daí não se ver muita informação sobre o jornalismo cinematográfico em jornais). Até a este ponto, o jornalismo cinematográfico teve de se "restringir" a revistas cinematográficas e programas de cartazes culturais. Com a aparição da Internet, a informação ganhou uma nova ‘liberdade de movimento’, sendo que agora o número de sites, blogues, páginas de YouTube, etc. sobre o jornalismo cinematográfico e, mais especificamente, sobre a crítica de cinema, têm vindo a aumentar exponencialmente. Graças ao nível de acesso quase ilimitado que a Internet dá a cada utilizador, o número de pessoas que se têm vindo a interessar por este tema tem vindo a aumentar da mesma maneira.

Isto, no entanto, não quer dizer que tudo melhorou para esta atividade. A crise económica que o mundo está a tentar ultrapassar hoje em dia atinge todas as profissões possíveis e, apesar dos melhoramentos que têm vindo a dar-se ao longo dos anos, o jornalismo de cinema continua a ser uma pequena ‘roda dentada’ na grande ‘máquina’ que é a atividade do Jornalismo. Isto quer dizer que, se for preciso chegar a tais situações, existe sempre a probabilidade do jornalismo cinematográfico deixar de existir como algo que se põe em papel e passar a ser apenas mais uma profissão online como já aconteceu a outras. Isto tudo claro, sem mencionar a pior situação que será se o jornalismo cinematográfico simplesmente desaparecer.

CONCLUSÃO

Neste trabalho, explorámos a atividade do jornalismo cinematográfico, desde o seu conceito e objetivos, falando da sua história e de alguns casos de sucesso neste meio, terminando com uma pequena síntese do que é a profissão agora e de qual será o seu futuro. Com este trabalho esperamos ter conseguido analisar e apresentar a informação corretamente e esperamos também ter atingido o sucesso ao longo do mesmo, seguindo a ideia base que a docente tinha para este trabalho.

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BIBLIOGRAFIA

Andrade, H.C. (2010). Jornalismo de Cinema: a independência da cobertura jornalística com foco no cinema em relação à esfera de abrangência do dito Jornalismo Cultural. Monografia de bacharelato em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro, Brasil). In Scribd. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/33937545/Jornalismo-de-Cinema-A-independencia-da-cobertura-jornalistica-com-foco-no-cinema-em-relacao-a-esfera-de-abrangencia-do-dito-Jornalismo-Cultural>. Data de consulta: 30-03-2013

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