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Consumidor Porto Belo - Apelação Cível n. 2012.027429-3

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Foi mantida em segundo grau a multa de R$2 milhões aplicada à Construtora Vipe Ltda e seus proprietários devido ao descumprimento de medida liminar, obtida pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), que determinava a incorporação no Ofício de Registro de Imóveis do Edifício Residencial Baía Azul, construído pela empresa na cidade de Bombinhas.

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  • 1. Apelao Cvel n. 2012.027429-3, de Porto BeloRelator: Des. Jairo Fernandes GonalvesAPELAES CVEIS. AO CIVIL PBLICA. PARCIALPROCEDNCIA. COMPRA E VENDA DE UNIDADESIMOBILIRIAS SEM A DEVIDA INCORPORAO.RECURSO PRINCIPAL DOS RUS. PRELIMINARES.ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTRIO PBLICO.DESCABIMENTO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGNEOSQUE DO AZO INTERVENO DO RGOMINISTERIAL. LEGITIMIDADE CONSUBSTANCIADA NOCDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. CERCEAMENTODE DEFESA, PELO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE.INOCORRNCIA. PROVA TESTEMUNHAL QUE NOALTERARIA O DESFECHO DA LIDE. ALEGAO DENULIDADE POR FALTA DE OPORTUNIDADE DEOFERECIMENTO DE ALEGAES FINAIS. INEXISTNCIADE PREJUZO DEFESA. AUSNCIA DE INSURGNCIATEMPESTIVA CONTRA A DELIBERAO DEENCERRAMENTO DA ETAPA INSTRUTRIA. CARNCIADE ANLISE DO PEDIDO DE PRORROGAO DO PRAZOPARA INCORPORAO. INDEFERIMENTO DO PEDIDOREALIZADO NA SENTENA. EXAME EXTEMPORNEOQUE NO OCASIONOU TRANSTORNO AOSINSURGENTES. PREFACIAIS AFASTADAS. MRITO.APLICAO INCONTESTE DAS NORMASCONSUMERISTAS PRESENTE DEMANDA. ANNCIO DEIMVEIS SEM MENCIONAR O NMERO DE REGISTRODA INCORPORAO. PUBLICIDADE ENGANOSAEVIDENCIADA. OBRIGAO DE PUBLICAR ODISPOSITIVO DA SENTENA MANTIDA COMO MEIO DEPROPAGAR A INFORMAO CORRETA E EVITAR LESOA OUTROS CONSUMIDORES EVENTUAIS. NOINCORPORAO IMOBILIRIA, EM RAZO DE SUPOSTADIFICULDADE FINANCEIRA POCA. ESTADO DENECESSIDADE QUE NO OBSTA O CUMPRIMENTO DANORMA LEGAL. ALIENAO DOS IMVEIS QUE DEVERIASER PRECEDIDA DE INCORPORAO IMOBILIRIA.INTELIGNCIA DO ARTIGO 32, 1 E 3, DA LEI N.4.591/1964. ALEGAO DE SENTENA INCERTA.DECISO JUDICIAL QUE POSSIBILITOU AOS

2. ADQUIRENTES DOS IMVEIS A CONTRATAO DEOUTRA INCORPORADORA S CUSTAS DOSRECORRENTES. ARGUMENTO REFUTADO. MEDIDAEFICAZ PARA O CUMPRIMENTO DOS DIREITOS DOSCONSUMIDORES. CONDENAO AO PAGAMENTO DEINDENIZAES INDIVIDUAIS, A SER APURADO EMLIQUIDAO DE SENTENA. DEMANDAS COLETIVASQUE POSSIBILITAM A APURAO DE VALORES EMEXECUO DE SENTENA. INTELIGNCIA DO ARTIGO103 DO CDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. PLEITODE REVOGAO DA DECRETAO DEINDISPONIBILIDADE DE BENS. IMPOSSIBILIDADEIMEDIATA DE MENSURAR OS DANOS CAUSADOS.INVIABILIDADE DE IDENTIFICAO DOS IMVEISSUFICIENTES PARA RESGUARDAR FUTURA EXECUO.IRRESIGNAO CONTRA AS ASTREINTES. NOCONHECIMENTO DESTE TPICO RECURSAL.SENTENA QUE APENAS A REDUZIU. PRECLUSO DODIREITO DE SE INSURGIR CONTRA TAL PENALIDADE.MULTA DETERMINADA EM LIMINAR QUE NO FOIOBJETO DE RECURSO. RECURSO EM PARTECONHECIDO E DESPROVIDO.APELO ADESIVO DO MINISTRIO PBLICO. PLEITODE MANUTENO DAS ASTREINTES FIXADAS EMPRIMEIRO GRAU ANTES DA REDUO OPERADA NASENTENA. DESPROVIMENTO. VALOR QUE SEMOSTROU EXCESSIVO E DESPROPORCIONAL NODECORRER DO TEMPO. INSTITUTO QUE NO VISA OEMPOBRECIMENTO DO DEVEDOR. MINORAOACERTADAMENTE REALIZADA PELO JUZO A QUO.MANUTENO QUE SE FAZ IMPERIOSA. APELOCONHECIDO E DESPROVIDO.Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelao Cvel n.2012.027429-3, da comarca de Porto Belo (2 Vara), em que so apelantes erecorridos adesivos Construtora Vipe Ltda. e Pedro Virglio Dell Agnolo, e apelado e recorrente adesivo o Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina:A Quinta Cmara de Direito Civil decidiu, por unanimidade,Gabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 3. conhecer de parte do recurso principal interposto pelos rus e negar-lhesprovimento, e conhecer do apelo adesivo manejado pelo autor para desprov-lo.Custas legais.O julgamento, realizado no dia 4 de setembro de 2014, foi presididopelo Excelentssimo Senhor Desembargador Srgio Izidoro Heil, com voto, e deleparticipou o Excelentssimo Senhor Desembargador Substituto Odson CardosoFilho.Funcionou como representante do Ministrio Pblico oExcelentssimo Senhor Procurador de Justia Paulo Ricardo da Silva.Florianpolis, 5 de setembro de 2014.Jairo Fernandes GonalvesRELATORGabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 4. RELATRIOMinistrio Pblico do Estado de Santa Catarina ajuizou, na comarcade Porto Belo, Ao Civil Pblica, registrada com o n. 139040024137, contraConstrutora Vipe Ltda., Pedro Virglio DellAgnolo, Jusclia Maria Ludvig eKarime da Graa Franzoi, na qual alegou, em linhas gerais, que os demandadoscomercializaram unidades de um empreendimento imobilirio nominadoResidencial Baia Azul na cidade de Bombinhas, no ano de 2004, antes dodevido registro e incorporao imobiliria, bem como realizando divulgao deseu empreendimento sem a meno do nmero do registro de incorporao nocartrio competente, em desacordo com a Lei n. 4.591/1964 (Condomnio eIncorporao Imobiliria) e com o disposto no artigo 167, inciso I, item 17, da Leide Registros Pblicos Lei n. 6.015/1973.Aduziu, ainda, que os rus atentaram contra os direitos doconsumidor ao alienarem de forma irregular as unidades condominiais noincorporadas, com o auxlio de imobilirias da regio, o que causou prejuzos adiversos adquirentes, e que o material de divulgao do empreendimento violou odever de informao inerente real situao do imvel perante as autoridadespblicas responsveis pelo devido licenciamento e registro.Requereu, liminarmente, a concesso de medida liminar para obstara venda, a intermediao e a divulgao comercial do empreendimento at queos rus comprovassem a sua regularizao, sob pena de multa diria; aconcesso do prazo de 120 dias para que os rus providenciassem aregularizao da incorporao junto ao Cartrio de Registro Civil, sob pena demulta diria de R$ 5.000,00; e a decretao da indisponibilidade dos benspertencentes s pessoas fsicas e jurdicas demandadas.Por fim, pugnou pela declarao de nulidade das clusulas abusivasapontadas no contrato entabulado entre a construtora r e os terceirosadquirentes; a condenao dos demandados ao pagamento de indenizao aosGabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 5. consumidores lesados, a ser apurada em liquidao individual; a determinaode no comercializao de mais nenhuma unidade autnoma de seusempreendimentos, at que comprovem a sua regularizao registral e aobrigao de divulgar, em jornal de grande circulao, eventual sentena deprocedncia, para cientificar a coletividade; alm da imposio de multaspecunirias por descumprimento das determinaes requeridas.Construtora Vipe Ltda. e Pedro Virglio DallAgnolo apresentaramresposta em forma de contestao (fls. 294-325), arguindo, preliminarmente, ailegitimidade do Ministrio Pblico para propor a demanda, uma vez que versasobre direitos individuais disponveis, que refogem competncia do Parquet.Pontuaram que a obra do condomnio em questo restou concludae que o procedimento de incorporao e registro sofreu atraso por culpa exclusivados antigos proprietrios do imvel, responsveis pelo desmembramento doterreno, razo pela qual pleitearam a denunciao da lide. Expuseram que asvendas realizadas anteriormente necessria incorporao se deram em carterde urgncia, objetivando a continuidade de sua atividade comercial, e de no terhavido dano aos adquirentes das unidades condominiais, e que as propagandasveiculadas foram lcitas, uma vez que no se enquadrariam no conceito deenganosas ou abusivas, alm de se insurgiram contra o pleito dedesconsiderao da personalidade jurdica da empresa r, ao argumento de queseus pressupostos no estariam preenchidos.A r Karime da Graa Fanzoi no apresentou defesa (fl. 686) e foinoticiado o falecimento da demandada Jusclia Maria Coelho Ludvig (fl. 687),extinguindo-se o feito, por consequncia, em relao a ela.A Togada singular afastou a arguio de ilegitimidade do MinistrioPblico e deferiu a medida liminar para proibir a divulgao e comercializao deunidades condominiais, bem como decretou a indisponibilidade dos bens depropriedade dos rus (fls. 263-270). Indeferiu o pedido de denunciao da lide eanotou o prazo de 90 dias para que a parte demandada promovesse aGabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 6. regularizao do empreendimento imobilirio objeto da lide, sob pena de multadiria de R$ 5.000,00 (fls. 729-731).Os rus Construtora Vipe e Pedro Virglio manifestaram-serequerendo prorrogao do prazo concedido para a regularizao doempreendimento, ao argumento de que no obteriam, em tempo hbil, certidesnegativas de dbitos, por possurem dvidas previdencirias que necessitariam deparcelamento junto fazenda pblica (fls. 776-777).Sobreveio a sentena (fls. 918-928) que julgou parcialmenteprocedentes os pedidos iniciais para condenar os rus Construtora VIPE Ltda.,Pedro Virglio Dell'Agnolo e Karime da Graa Franzi a incluir em todas aspublicidades o nmero do registro de incorporao e a proceder a incorporaodo Edifcio Residencial Baa Azul, no prazo de 30 dias do trnsito em julgadodesta deciso, bem como ao pagamento de astreintes, cujo valor foi reduzido deR$ 7.500.000,00 para R$ 2.000.000,00, o que seria destinado ao Fundo Estadualde Reconstituio de Bens Lesados e indenizao aos consumidores lesados,de forma individual, em valor a ser apurado em sede de liquidao de sentena,alm de lhes imputar os nus sucumbenciais e determinar que promovam apublicao, em dois jornais de grande circulao naquela cidade, em trs diasalternados, nas dimenses de 20cm x 20cm, a parte dispositiva desta sentena,s suas expensas. Facultou aos proprietrios das unidades, no caso dedescumprimento da determinao judicial, a eleio de outra incorporadora para ocumprimento da obrigao aqui exposta e posterior reembolso dos custos pelosrus, a ser apurado na fase de cumprimento de sentena.Foram opostos Embargos de Declarao pela Construtora VipeLtda. (fls. 931-932), em que apontou omisso quanto ao pedido de indeferimentoda desconsiderao da sua personalidade jurdica, pois a indisponibilidade dosbens no poderia recair sobre os bens particulares das pessoas fsicas, o que foirejeitado pelo Togado singular (fls. 934-936).Inconformados, Construtora Vipe Ltda. e Pedro Virglio Dell`AgnoloGabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 7. interpuseram recurso de Apelao Cvel (fls. 938-947), no qual suscitaram,prefacialmente, a ilegitimidade ativa do Ministrio Pblico para propor a Ao CivilPblica, uma vez que versa sobre interesses individuais disponveis que refogem competncia do Parquet.Ainda em preliminar, arguiram cerceamento de defesa, em razo dojulgamento antecipado, pois requereram a produo de prova testemunhal a fimde comprovar a ausncia de irregularidades na incorporao imobiliria e dainexistncia de prejuzo aos adquirentes das unidades condominiais, bem comopor no ter sido oportunizada a apresentao de alegaes finais, alm daausncia de anlise do pedido de prorrogao do prazo para regularizao daincorporao imobiliria.No mrito, asseveraram que realizaram a venda de unidadescondominiais, antes da regularizao registral, em decorrncia do estado denecessidade em que se encontravam poca. Expuseram que a determinaode que os condminos poderiam eleger outra incorporadora para que fossepromovida a incorporao do imvel caracteriza sentena incerta e geradora deefeitos benficos a terceiros que no so parte na lide.Rechaaram a incidncia do Cdigo de Defesa do Consumidor aocaso concreto, ao argumento de que a relao entre as partes seria regrada pelaLei n. 4.591/1964, bem como refutaram que tenha havido publicidade enganosaou abusiva. Aduziram ser desproporcional a multa diria aplicada e que asentena foi incerta tambm quanto indisponibilidade de bens.Foram ofertadas contrarrazes (fls. 955-965).O Ministrio Pblico interps Recurso Adesivo (fls. 967-971), noqual, em suma, pleiteou a manuteno da multa diria anteriormente fixada, quetotalizava o valor de R$ 7.500.000,00, uma vez que era desnecessria a reduooperada em sentena, diante do carter inibidor do instituto ou, alternativamente,sua diminuio para 50% daquele montante.Logo aps, os autos foram remetidos a esta superior instncia, e oGabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 8. Ministrio Pblico, em parecer da lavra do Excelentssimo Senhor Procurador deJustia Andr Carvalho, manifestou-se pelo conhecimento parcial do recurso deApelao Cvel, pelo conhecimento do Recurso Adesivo, e pelo desprovimento deambos (fls. 986-1002).Este o relatrio.Gabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 9. VOTOApelao Cvel dos rusO recurso preenche os requisitos intrnsecos e extrnsecos deadmissibilidade, razo pela qual merece ser parcialmente conhecido.Trata-se de insurgncia da construtora e de seu scio contra asentena que, entre outras imposies judiciais, determinou que se procedesse aincorporao do Edifcio Residencial Baa Azul e inclusse em todas aspublicidades o seu nmero de registro de incorporao, em observncia asnormas da Lei n. 4.591/1964.Os apelantes suscitaram, preliminarmente, a ilegitimidade ativa doMinistrio Pblico para propor a ao civil pblica, uma vez que versa sobreinteresses individuais disponveis que refogem competncia do Parquet.A prefacial no merece prosperar.Nos termos da unssona jurisprudncia deste Tribunal de Justia, "oMinistrio Pblico detm a legitimidade para ajuizar ao civil pblica na defesade interesses individuais homogneos com substrato no Cdigo de Defesa doConsumidor" (Apelao Cvel n. 2004.029368-3, rel. Des. Luiz Czar Medeiros,julgada em 29-9-2006).No presente caso, a venda irregular de unidades imobilirias feriudiversos consumidores, pelo menos, os que foram alcanados pela oferta dosimveis. Tal coletividade de consumidores composta por pessoasindeterminadas e ligadas entre si pelo ato de ilegalidade em discusso, de modoque se trata de interesse ou direitos individuais homogneos, decorrentes deorigem comum, e no de interesses individuais disponveis, como faz crer osrecorrentes.A legtima atuao do Parquet no polo ativo da presente demandano apenas ratificada pela Lei n. 8.625/1993 (Lei Orgnica do MinistrioPblico), como pelo regramento especial da Lei n. 7.347/1985, que disciplina aGabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 10. Ao Civil Pblica, em obedincia ao regramento da prpria Constituio Federalque, inseriu entre as funes institucionais do Ministrio Pblico a de promover a"ao civil pblica, para a proteo do patrimnio pblico e social, do meioambiente e de outros interesses difusos e coletivos" (artigo 129, inciso I).Como ressaltou a Togada singular, "o Ministrio Pblico, naincumbncia de servir comunidade e zelar pela ldima aplicao da lei, nosomente poder, mas dever ajuizar Ao Civil Pblica, sempre que preenchidasas condies legais" (fl. 266).Ante o exposto, no se cogita em extino do feito, sem resoluodo mrito, diante da ilegitimidade ativa do Ministrio Pblico.Os apelantes arguiram, ainda, cerceamento de defesa, em razo dojulgamento antecipado da lide, pois pretendiam comprovar, atravs de provatestemunhal, a ausncia de irregularidade e de prejuzo dos adquirentes dasunidades condominiais, bem como por no ter sido oportunizada a apresentaode alegaes finais, alm da falta de anlise do pedido de prorrogao do prazopara a regularizao da incorporao imobiliria.Sem razo os apelantes.Isso porque, fato incontroverso nos autos que a venda dasunidades imobilirias do empreendimento nominado Residencial Baa Azul foirealizada antes de sua prvia incorporao imobiliria, em clara afronta asnormas da Lei n. 4.591/1964, tanto que, em razes recursais (fl. 943), osapelantes asseveraram terem agido dessa forma, em decorrncia da situaoeconmica por eles enfrentada poca.Assim, era completamente desnecessria a produo de provatestemunhal para comprovar a ausncia de irregularidade da incorporaoimobiliria, j que confirmada pelos prprios recorrentes. De igual forma, parademonstrar a suposta inexistncia de prejuzo dos adquirentes das unidadesimobilirias, visto que o dano inerente, decorrente da prpria violao da normalegal.Gabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 11. No mais, sabido que o magistrado o destinatrio das provas,competindo-lhe indeferir as inteis e/ou protelatrias, como de fato ocorreu (fl.909), sendo que, na hiptese, o feito encontra-se amplamente instrudo, alm deos apelantes no terem demonstrado que o julgamento antecipado do feitoimportou em prejuzo a sua defesa, evidenciando trata-se de mera insurgnciacom o desfecho da lide.O fato de no lhes ter sido oportunizada a apresentao dealegaes finais no justifica a cassao da sentena, por cerceamento dedefesa. A uma, porque os apelantes tiveram conhecimento em audincia (fl. 909)de que a sentena seria proferida em gabinete, quedando-se inertes a respeito.Conforme tem reiterado esta Cmara Julgadora, "encerrada a etapainstrutria, e no havendo insurgncia tempestiva contra tal deliberao, no hque se falar em cerceamento de defesa, pois operada a precluso" (ApelaoCvel n. 2012.064844-3, rel. Des. Subst. Odson Cardoso Filho, julgada em 5-12-2013).A duas, porque no demonstraram a ocorrncia de nenhum prejuzo sua defesa, nus que lhes competia. Nesse sentido, extrai-se: Apelao Cveln. 2013.081153-7, rel. Des. Monteiro Rocha, julgada em 5-6-2014.Quanto a suposta falta de anlise do pedido de prorrogao doprazo para a regularizao da incorporao imobiliria, de igual forma, no semostra hbil para o desiderato dos apelantes.Isso porque, apesar de terem requerido tal prorrogao emnovembro de 2006 (fls. 776-777) e no terem obtido resposta at a prolao dasentena (em outubro de 2010 fls. 918-928), naquela mesma oportunidade, aTogada singular analisou o pedido (fls. 920-921), indeferindo-o, uma vez que oprocesso tramitava h quase seis anos, no tendo os apelantes procuradodemonstrar ao menos a quitao do dbito, que teria inviabilizado a obteno dascertides negativas necessrias para a regularizao da obra, e que motivou opedido de prorrogao.Gabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 12. Dessa forma, ainda que tardiamente analisado, o requerimento deprorrogao do prazo foi acertadamente indeferido, diante da evidncia de que setratava de simples tentativa de postergar o cumprimento da determinao liminar(fls. 729-731).Ante o exposto, afasta-se as prefaciais suscitadas.No mrito, os apelantes pleitearam que fossem afastadas apossibilidade de os adquirentes nomearem outro incorporador s suas expensasbem como de promoverem a publicidade do dispositivo da deciso recorrida emjornais locais, alm da revogao da aplicao de astreintes e daindisponibilidade dos bens decretada em primeiro grau de jurisdio.A sentena no merece reparos.De incio, importante registrar serem inquestionavelmente aplicveisas normas consumeristas em demandas dessa espcie, na qual se discute airregular comercializao de unidades imobilirias, por se evidenciar, de um ladoa presena do fornecedor, no caso, da construtora demandada e, de outro oconsumidor, in casu, os adquirentes do imvel, coletividade de pessoaslesionadas pelos fatos aqui narrados, representados nesta ocasio peloMinistrio Pblico. da jurisprudncia desta Corte: "aplica-se o Cdigo de Defesa doConsumidor nas aes que versam sobre contratos de compra e venda deimveis firmados entre construtora e destinatrio final" (Apelao Cvel n.2005.016143-7, rel. Des. Edson Ubaldo, julgada em 16-7-2009).Logo, descabida a alegao dos recorrentes de inaplicabilidade dasnormas consumeristas ao presente feito, por se enquadrarem na legislaoespecfica (Lei n. 4.591/1964), pois "a interpretao do contrato de incorporaoimobiliria disciplinado pela Lei 4591/64 deve ser examinada em conjunto com oCdigo de Defesa do Consumidor, a fim de preservar seu equilbrio e o princpioda boa-f objetiva" (Apelao Cvel n. 2005.006771-3, rel. Des. Subst. Saul Steil,julgada em 29-10-2009).Gabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 13. Em decorrncia da clara obrigao de observncia das normasconsumeristas, competia a construtora recorrente promover a comercializao doempreendimento sem omitir informao relevante do produto, nos termos doartigo 37, 1, do Cdigo de Defesa do Consumidor, o que foi sumariamenteignorado.Como salientou a Magistrada a quo "percebe-se que o annciopublicado pelos rus, promovendo a comercializao do empreendimento de suapropriedade, sem mencionar o nmero do registro de incorporao, mesmoporque este nmero ainda no existia, afronta, sobremaneira, o disposto na Lei n.4.591/1964 e no Cdigo de Defesa do Consumidor" (fl. 924).No procede a assertiva dos recorrentes (fl. 943-b) de que ascomercializaes dos imveis no decorreram da propaganda e da publicidade,na medida em que os clientes interessados nas aquisies procuraram direta eexpontaneamente a construtora apelante.Verifica-se pelos contratos de compra e venda apensados aos autos(fls. 114, 118 e 122), bem como pela declarao de Ivete Dellacosta (fl. 185), quea alienao das unidades imobilirias foram perfectibilizadas pela ImobiliriaPerrone, a qual foi contratada pela construtora para a intermediao do negciojurdico, sendo que, por certo, valeu-se da publicidade realizada pelos recorrentespara alienao dos imveis.Como consequncia lgica da publicidade enganosa, de semanter a condenao de primeiro grau publicao do dispositivo da sentena,em dois jornais de grande circulao da cidade, em trs dias alternados, nasdimenses de 20cm x 20cm, s expensas dos recorrentes, a fim de promover ainformao correta e evitar que outros eventuais consumidores sejam lesadospelo mesmo fato.Os recorrentes no apenas afrontaram as regras consumeristascomo violaram diretamente as normas da legislao especial (art. 32, 1 e 3,da Lei n. 4.591/1964) ao alienar imvel, sem prvia incorporao imobiliria, fatoGabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 14. confessado pelos mesmos, que se utilizaram da alegao de estado denecessidade (fl. 943) para justificar o descumprimento da lei.O argumento de que foram obrigados e vender algumas unidadescom o fim de possibilitar a execuo e a concluso da obra descabido eincapaz de alterar a sentena recorrida, pois, no poderiam violar a lei emnenhuma circunstncia, nem mesmo por terem sofrido eventual dificuldadeeconmica poca e/ou por excessiva burocracia dos rgos da AdministraoPblica ou, ainda, por suposta inadimplncia de alguns dos adquirentes dosimveis.Nem mesmo se cogita em sentena incerta, por ter a Magistrada deprimeiro grau possibilitado aos consumidores, no caso de descumprimento daordem judicial, eleger outra incorporadora para o cumprimento da obrigaoexposta na sentena recorrida, competindo aos recorrentes posterior reembolsodos custos, a serem apurados na fase de cumprimento de sentena. que, como bem elucidou o Procurador de Justia Andr Carvalho(fl. 997), "sentena incerta aquela que no resolve a lide, sendo que no este,manifestamente, o caso dos autos. A possibilidade de eleio de outraincorporadora busca garantir o cumprimento da lei e dos direitos consumeristas,sendo possibilidade vlida e legal".Em outros termos, a sentena s seria incerta se tivesse ido almou aqum dos pedidos formulados na inicial ou, ainda, tivesse sido proferida denatureza diversa da postulada, ou em quantidade superior do que foi demandado,nos exatos termos do artigo 460 do Cdigo de Processo Civil, o queevidentemente no ocorreu no presente caso.Tampouco a sentena foi incerta ao condenar os recorrentes aopagamento de indenizao aos adquirentes dos imveis, de forma individual, poreventuais valores gastos, por conta das irregularidades narradas nestes autos, aserem apurados em sede de liquidao de sentena, mediante comprovao doscustos suportados.Gabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 15. Isso porque, tratando-se de tutela coletiva plenamente possvelque a apurao de valores sejam realizados na fase executria, consoante aregra insculpida no artigo 103 do Cdigo de Defesa do Consumidor. O referidodispositivo dispe que, no caso de procedncia do pedido, a sentena far coisajulgada erga omnes, para beneficiar todos as vtimas e seus sucessores, quepodero proceder a liquidao e a execuo do julgado, prescindindo-se de novafase de conhecimento.Da mesma forma, despropositado o pedido de revogao daindisponibilidade de bens decretada na deciso liminar de fls. 263-270, por noter sido individualizado os bens bloqueados, o que inviabilizaria a atividadeeconmica principal dos recorrentes. que, no presente momento, tem-se invivel a apurao doquantum devido a cada consumidor lesado pela atitude ilegal dos recorrentesaqui narrada, o que no possibilita indicar expressamente os bens que deveriamestar bloqueados, suficientes para garantir o futuro cumprimento da obrigao.Nos termos da jurisprudncia desta Corte de Justia para revogar aliminar que determinou a indisponibilidade de bens em sede de ao civil pblicamostra-se imprescindvel a existncia de fato novo, at porque se sabe que opatrimnio atual e futuro do devedor responde pelas suas obrigaes. Nessesentido, extrai-se: Agravo de Instrumento n. 2007.019210-8, rel. Des. JnioMachado, julgado em 24-7-2008.Por fim, mostra-se descabido o pedido formulado em razesrecursais (fls. 947) de revogao da aplicao de astreintes, limitadas nasentena ao montante de R$ 2.000.000,00 (fl. 928), bem como sua minoraopara R$ 40.000,00 ou, ainda, sua limitao ao teto de R$ 100.000,00.Os apelantes no detm interesse recursal no tocante a referidamatria, pois as astreintes foram fixadas pela deciso liminar de fls. 729-731, quedeferiu a prorrogao do prazo de 90 dias para que os rus regularizassem oempreendimento, sob pena de multa diria de R$ 5.000,00, sendo que de talGabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 16. decisum no houve recurso (certido de fl. 738).Em sede de sentena, a Togada singular apenas reduziu omontante devido, ao considerar que a referida multa somaria o valor aproximadode R$ 7.500.000,00, ou seja, em quantia excessiva e desproporcional, uma vezque o imvel no estaria regularizado at aquela data (outubro/2010 fl. 928),motivo pelo qual limitou a R$ 2.000.000,00, destinando-os ao Fundo Estadual deReconstituio de Bens Lesados. sabido que a adequao das astreintes pode ser realizada aqualquer tempo, o que no possibilita nova rediscusso sobre o tema. Osrecorrentes precluram do direito de se insurgir contra o valor estipulado peloJuzo a quo ttulo de multa diria para impor a obrigao determinada nadeciso liminar (fls. 729-731), razo pela qual este tpico do recurso no mereceser conhecido.Ante o exposto, vota-se no sentido de conhecer em parte do recursode Apelao Civil interposto pelos rus, para afastar as preliminares e, no mrito,negar-lhe provimento.Recurso adesivo do Autor:O recurso preenche os requisitos intrnsecos e extrnsecos deadmissibilidade, razo pela qual merece ser conhecido.O Ministrio Pblico limitou-se a postular a manuteno dasastreintes anteriormente fixada, que totalizava o valor aproximado de R$7.500.000,00, uma vez que era desnecessria a reduo operada em sentena(fls. 925-926), diante do carter inibidor do instituto ou, alternativamente, suadiminuio para 50% daquele montante.A sentena de primeiro grau no merece reparos.A multa prevista no artigo 461, 3 e 4, do Cdigo de ProcessoCivil, tem por finalidade servir como fator desestimulante ao descumprimento damedida antecipatria concedida, de modo que no deve ser arbitrada em valornfimo. Porm, no pode se mostrar excessivo ou desproporcional, sob pena deGabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves 17. desvirtuar o prprio instituto.No presente caso, a Togada singular reduziu a penalidade para R$2.000.000,00, porquanto, at a prolao da sentena (outubro/2010), a medidaliminar no tinha sido devidamente cumprida pelos recorrentes, de modo que amulta diria totalizaria R$ 7.500.000,00, o que se mostrou excessivo edesproporcional ao fim pretendido pela aplicao da medida sancionatria.Como bem salientou o Procurador de Justia Andr Carvalho:[...]Em sede liminar, o valor de R$ 5.000,00 dirios se mostrava razovelante a necessidade de compelir o urgente cumprimento da obrigao. Noentanto, tal qual o indicou o magistrado sentenciante, com o decurso do tempo,o montante tornou-se exorbitante, motivo pelo qual exarceba a necessidade decoibir a ilicitude, sendo plenamente razovel o valor alcanado pela minoraooperada em sentena [...] (fl. 1.002).Dessa forma, considerando o escopo do prprio instituto, ou seja,de compelir o devedor ao urgente cumprimento da obrigao determinada emliminar, tem-se que o valor fixado pela Juza sentenciante (R$ 2.000.000,00 fl.928) no merece reparos, de modo que se nega provimento ao apelo adesivoofertado pelo rgo Ministerial.Ex positis, vota-se no sentido de conhecer de parte do recursoprincipal interposto pelos rus e negar-lhes provimento, e conhecer do apeloadesivo manejado pelo autor para desprov-lo.Gabinete Des. Jairo Fernandes Gonalves