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Minas e Mineração no Século XXI: Documento-Síntese (Campolina & Ruiz)

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- DOCUMENTO SÍNTESE -

Ricardo Machado Ruiz – INDI-MG Clélio Campolina Diniz – CEDEPLAR/UFMG

Belo Horizonte, 14 de setembro de 2016

1. INTRODUÇÃO

Esse documento faz o registro do fórum Minas e Mineração no Século XXI que foi organizado pelo Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (INDI-MG), Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e contou com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG); todas instituições do Estado de Minas Gerais.

O objetivo do fórum foi discutir a mineração no estado de Minas Gerais, com destaque para a mineração do ferro. Na discussão, ganhou destaque a avaliação da estrutura ou complexo industrial minerador, a identificação das tecnologias e das oportunidades tecnológicas, os impactos territoriais ambientais e o “super-ciclo minerador” marcado pela forte expansão no decorrer da década de 2000 e a forte contração na primeira metade da década de 2010.

A escolha da mineração tem razões. Do ponto de vista histórico, a mineração é uma das mais importantes atividades econômicas do estado. Incialmente a mineração foi de pequena escala empresarial (ouro, diamante e outras pedras preciosas e semipreciosas) e com forte concentração espacial, com destaque para as regiões no entorno das cidades de Outro Preto e de Diamantina. Posteriormente, com a entrada de empresas estrangeiras na exploração de minas subterrâneas de ouro, diamante e pedras preciosas, manteve-se essa organização espacial. Ao longo do século XX, no esforço de industrialização do estado, surgiu a grande mineração de ferro, além de outras, de menor porte, mas também importantes, como a mineração do nióbio, do calcário, dos fosfatos e do cobre.

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A industrialização mineira durante o século XX gerou uma base econômica mais diversificada e integrada com o mercado interno, contudo, a atividade mineradora manteve seu destaque. Na atividade industrial, a participação da indústria extrativa foi de 7,5% do valor agregado de Minas Gerais ou 24,4% do valor agregado da indústria em 2013 (Tabela 4, Fundação João Pinheiro – Relatório Anual 2010-2013).

No comércio exterior, as exportações de minério de ferro corresponderam a aproximadamente 30% do exportado em 2015, mas se considerarmos a mineração de ouro e pedras preciosas temos quase 35% do todo exportado. Contudo, se adicionarmos outras atividades articuladas diretamente à mineração, poder-se-ia afirmar que esse complexo produtivo é ainda o maior de Minas Gerais. Por exemplo, adicionando à exportação de minério os produtos siderúrgicos, temos 41% da pauta exportadora (ver gráfico do Exportaminas).

Balança Comercial de Minas Gerais (2015)

Fonte: Exportaminas.

Nesse contexto, uma atenção à mineração já justificaria esse fórum e a atenção do setor público e de agentes privados. Todavia, a convergência temporal de alguns eventos tornou a discussão da mineração ainda mais necessária.

Primeiro evento: a abrupta deflação de preços e o excesso de oferta de minério de ferro verificado nos anos recentes. Segundo: a forte expansão da rica e eficiente mineração de ferro em outros estados do Brasil, o que estabelece uma oferta doméstica concorrente e competitiva à oferta mineira. Terceiro: a crise econômica que reduziu a possibilidade de crescimento via mercado interno por parte de outras indústrias. Por fim, uma quarta razão seria a ruptura da barragem de rejeitos da Samarco na cidade de Mariana/MG. Tal acidente colocou em cheque as tecnologias, a organização produtiva, a regulação

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setorial e as possibilidades de expansão da mineração em Minas Gerais. Esta “tempestade perfeita” foi também um importante motivador do fórum.

Segue agora um sintético relato das intervenções com alguns destaques e observações que acreditamos importantes no balizamento de políticas públicas e de ações privadas.

2. O SEMINÁRIO – RELATO, DESTAQUES E ALGUMAS OBSERVAÇÕES

A abertura do seminário contou com a presença de representantes do setor público e privado: Marco Aurélio Crocco Afonso, presidente do BDMG, Evaldo Ferreira Vilela, presidente da Fapemig, Cris tiane Amaral Serpa, presidente do INDI, Altamir de Araujo Rôso Filho, S ecretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais e Ângela Flores Furtado, representando a FIEMG .

Todos os presentes na mesa de abertura ressaltaram a importância da mineração em Minas Gerais. Contudo, mostraram preocupação com o desenvolvimento da cadeia produtiva no estado para, assim, reduzir o elevado volume de bens e serviços importados e demandados de outras regiões. O adensamento do complexo produtivo minerador geraria mais e melhores empregos e criaria possibilidade para uma maior diversificação produtiva. Destacaram, também, a importância de uma articulação público-privada em várias dimensões (tecnológica, financeira e ambiental).

2.1. PRIMEIRO PAINEL - PARA MINAS GERAIS: MINERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

2.1.1. MINAS GERAIS E A INDÚSTRIA DO FUTURO

O primeiro painel contou com a Diretora Maria Luísa Campos Machado Leal, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Os temas abordados foram as possibilidades de diversificação da atividade produtiva, as oportunidades e desafios tecnológicos e as instituições e empresas em MG que poderiam dar suporte, apoiar ou mesmo liderar esses investimentos.

Inicialmente, Maria Luísa destacou a importância da indústria extrativa em Minas Gerais: em 2013 a mesma correspondia a 24% do valor adicionado da indústria mineira, um crescimento significativo quando comparado a 2010, quando alcançou 17%. Avaliou, então, a necessidade de se buscar novas alternativas economicamente sustentáveis para o futuro, em particular em um cenário adverso ao aumento da exploração de minério de ferro.

As oportunidades tecnológicas apresentadas estão relacionadas à denominada “indústria 4.0” (dispositivos inteligentes interconectados e controle

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descentralizados, internet das coisas e machine-to-machine). A partir do caso alemão para digitalização da estrutura industrial, apresentou seis princípios norteadores: (1) interoperabilidade e conexão de sistemas e partes, (2) virtualização e simulação, (3) descentralização operacional, (4) capacidade em tempo real de coletar e analisar dados, (5) orientação para serviços via internet e (6) modularidade e flexibilidade operacional de produtos e processos.

A manufatura avançada descrita possui também nos EUA um conjunto de empresas e políticas públicas que fomentam a sua adoção. Portanto, destacou que os EUA têm nove institutos voltados a prospecção e desenvolvimento de tecnologias: America Makes, IACMI, DMDII, Fotônica Integrada, LIFT, Eletrônica Híbrida Flexível, Power America, Manufatura Smart e Fibras Têxteis Revolucionárias.

Essas iniciativas cobrem um conjunto de tecnologias habilitadoras: análise preditiva, internet das coisas, materiais avançados, cerâmica avançada e compósitos, materiais críticos, biopolímeros, robótica avançada, inteligência artificial, impressão e scanning 3D, machine learning etc.

No caso brasileiro, colocou a seguinte questão: quais são as iniciativas nacionais para prospectar e desenvolver tais tecnologias? No caso de Minas Gerais, quais são as competências disponíveis? Quais deveriam ser agregadas à estrutura produtiva, em particular no complexo produtivo da mineração?

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Observando o caso mineiro, identificou um ecossistema de inovação diversificado no setor privado, nas instituições de apoio e em áreas chaves para o desenvolvimento de tecnologias habilitadoras.

Incialmente destacou a existência de 11 universidade federais, 2 universidades estaduais, 9 universidades privadas, 6 institutos federais, 9 institutos SENAI e 4 unidades Embrapii: Pólo Inovação IFMG-Formiga (sistemas automotivos inteligentes), Inatel (comunicações digitais), Femec/UFU (tecnologias metal-mecânica), DCC-UFMG (sistemas computacionais).

No setor privado, elencou algumas empresas com conhecida capacidade tecnológica: Embraer, Vale, Google, CSEM, Unitec, Cemig, GE, Phillips, Fiat, Seva, Nansen, Algar, Accenture, AllControl, Comau, Hexagon, JMM, Smart Tecnologia, Axxiom, IBM, CBMM, entre outras.

Citou também agentes que apoiam atividades privadas inovadoras, alguns deles públicos e outros privados: BDMG, Codemig, Fapemig, Inseed, Criatec, FirCapital, DLM e Confrapar.

Nesse ecossistema mineiro identificou vários institutos científicos e tecnológicos (ICTs) com uma diversidade de competências: 9 em computação, robótica e automação, 5 em eletrônica, 9 em mecânica, 2 em energia, 4 em materiais, 15 em química, 5 em física e 7 em nanotecnologia (ver De Negri, & Schmidt, Sistemas Setoriais de Inovação e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil, FINEP/IPEA/CNPq).

A partir dessa avaliação e observando os desafios colocados à modernização e ao adensamento da cadeia ou complexo minerador, finalizou apresentando algumas questões para Minas Gerais: Como internalizar o desenvolvimento tecnológico em Minas Gerais? Quais seriam os agentes públicos e privados? Como minerar com menos água e resíduos? Como tornar o rejeito e o resíduo insumos para atividades produtivas? Como utilizar novos materiais e robótica na mineração? Como agregar valor aos produtos minerais?

2.1.2. O PROJETO S11D DA VALE – INOVAÇÃO EM ESCALA

O segundo palestrante foi Lucio Cavalli, Gerente Executivo de Planejamento Estratégico e Desenvolvimento de Negóc ios Ferrosos da Vale. O foco da palestra foi na apresentação das características técnicas e econômicas do Projeto S11D que a Vale está implantando em Carajás, no sul do Pará.

O Projeto S11D é um sistema produtivo composto por uma rede de minas com capacidade para produzir aproximadamente 90 milhões de toneladas de minério de ferro de ótima qualidade (65% de ferro). O projeto possui uma infraestrutura de transporte composta de uma ferrovia de 936 km que liga as minas ao porto de Ponta da Madeira, este dedicado ao carregamento de minério de ferro em navios como Valemax. Conta ainda com instalações

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dedicadas aos trabalhadores e infraestrutura para empresas localizadas no entorno da área mineradora.

O sistema produtivo S11D entra em operação em 2017 produzindo 26 milhões de toneladas. Alcançará a capacidade máxima em 2020, quando produzirá 90 milhões de toneladas de minério de ferro e empregará aproximadamente 2 mil pessoas. Foram investidos US$ 14,4 bilhões, sendo que nas minas e na usina foram investidos US$ 6,5 bilhões e os outros US$ 7,9 bilhões foram investidos na logística.

Inovador em diversas dimensões, o S11D é a primeira grande mineração a não necessitar de barragem de rejeito, pois o processo é a seco, o sistema de lavra opera por correia (truckless), possui britadores móveis, transportadores de bancada e conexão de bancada realocáveis. As pilhas de estéril estão localizadas fora da Floresta Nacional de Carajás.

A área mineradora tem 129 km de correias que conecta 36 peneiras, 18 britadores, 14 máquinas de pátio, 2 silos de carregamento e 2 pátios de regularização. A ferrovia possui 46 trens, sendo que cada comboio é composto de 4 locomotivas com 330 vagões. O porto tem 4 piers, 15 pátios de produtos e é capaz de carregar 50 navios por mês em média ou 612 mil toneladas por dia. A produtividade será de 45 mil toneladas por empregado/ano.

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O Projeto S11D é a maior investimento em exploração de minério de ferro do mundo e o maior investimento privado em andamento no Brasil. Para facilitar o dimensionamento desse fantástico empreendimento, a capacidade produtiva do S11D corresponde a aproximadamente 25% das exportações brasileiras de minério de ferro em 2015 (366 milhões de toneladas) ou a 47% da produção exportada somente por Minas Gerais (190 milhões de toneladas).

Na sua exposição, Lucio Cavalli ressaltou que será feita uma composição do minério rico do Norte (Projeto S11D e Carajás) com o minério mais pobre de Minas Gerais (Quadrilátero Ferrífero) para obter uma mistura (blend) na unidade da Vale na Malásia. Esse blend de minérios facilita o atendimento da demanda asiática que precisa ser feito em navios de menor porte.

Dada as inovações incorporadas no projeto, ressaltou a importância de um equacionamento da questão das licenças ambientais. Afirmou que com a implantação do Projeto S11D e da logística correspondente a Vale estaria encerrando um ciclo de investimentos. Por fim, disse que a Vale pretende simplificar suas operações em Minas e reduzir as barragens de rejeito.

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Após as apresentações, o Secretário Altamir Rôso convidou Anderson C. Cabido (Sebrae Minas) e Clélio Campolina Diniz (Ex-Reitor da UFMG e ex-Ministro de Ciência e Tecnologia) a apresentar suas observações.

Incialmente o Secretário Altamir Rôso defendeu a necessidade de uma coordenação única para a questão mineral com a necessidade de modernização tecnológica. Essa modernização deveria buscar recompor a competitividade do minério produzido em Minas Gerais e adensar a produção na cadeia produtiva.

Anderson Cabido , como ex-prefeito de Congonhas, defendeu um melhor tratamento para os municípios mineradores, um equacionamento da questão tributária e a busca de alternativas econômicas para o fim da mineração. Sinalizou a necessidade de se pensar a diversificação econômica antes da exaustão das minas e, assim, evitar tensões sociais e econômicas.

Clélio Campolina ressaltou a importância da modernização tecnológica para a sustentação econômica e ambiental. A necessidade de adensamento da cadeia produtiva, uma articulação com empresas nacionais e internacionais voltadas à produção em território mineiro, visto que apenas assim poder-se-ia adicionar emprego e renda nos municípios e no estado.

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2.2. SEGUNDO PAINEL - PANORAMA DO CRESCIMENTO E COMPETITIVIDADE DA MINERAÇÃO NO CONTEXTO MUNDIAL

Francisco Alves, Editor da Revista Brasil Mineral , caracterizou e analisou o super-ciclo da mineração que se iniciou em 2004 e se estendeu até meados de 2014.

Até o ano de 2004 a produção mineral no Brasil se mantinha em níveis estáveis e o valor da produção mineral brasileira se encontrava no patamar de US$ 10 bilhões. A rentabilidade da mineração era próxima a 5%, enquanto a rentabilidade da indústria em geral se situava em patamares próximos a 8% (período 1973-1999). O Brasil e Minas Gerais exportavam nióbio, minério de ferro, manganês.

A entrada da China no mercado internacional ampliou a demanda por metais, pressionou os preços e impulsionou novos projetos. Em 2000 a China produzia somente 125 milhões de toneladas de aço, já em 2010 essa produção alcançava o patamar de 640 milhões de toneladas. Em 2013, a China consumia mais de 40% da produção mundial de alumínio, cobre, níquel, zinco, aço e de minério de ferro. Assim, os preços das commodities subiram vertiginosamente, por exemplo, em 2005 os produtores de minério de ferro conseguiram um aumento de 71,5% nos preços da tonelada.

Valor da Produção Mineral Brasileira (US$ bilhões)

Esse rápido crescimento da demanda encontrou uma oferta mineral com limitada elasticidade na oferta. A busca de uma maior produção ocorreu em detrimento de uma maior eficiência operacional ou da redução de custos. A estratégia dominante foi crescer sem modernizar.

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O movimento empresarial levou ao crescimento via fusões e aquisições de concorrentes menores. Por exemplo, a canadense Inco foi adquirida pela Vale em 2006 e Noranda e Falconbridge fundiram-se em 2005. As baixas taxas de juros, os recursos financeiros de bancos, fundos de investimentos e o mercado de ações foram fundamentais nessa consolidação do setor.

No Brasil, o super-ciclo viabilizou algumas jazidas já conhecidas, mas ainda não lavradas, por exemplo, projeto Chapada da Yamana (cobre), Salobo da Vale (cobre), Sossego da Vale (cobre), Onça Puma também da Vale (níquel), Barro Alto da Anglo American (níquel).

Foram registradas a entrada de novos players, como ArcelorMittal, MMX, Ferrous, Gerdau, Usiminas, Anglo American e Namisa. Novos projetos podem ser destacados: Minas-Rio (Anglo), Corumbá (Vétria), Morro do Pilar e Morro Escuro (Manabi). Contudo, algumas empresas deixaram o mercado (Bunge, Camargo Corrêa e Fosfertil).

No minério de ferro, a Vale iniciou o movimento de aquisições para fortalecer a posição e investiu na Socoimex, Ferteco, Rio Verde e outros. A empresa também programou expansões em Brucutu/MG e em Carajás/PA (projetos Serra Azul e S11D). Com esses investimentos a Vale passou a controlar aproximadamente 85% da capacidade de produção de minério de ferro no país.

Esse crescimento da oferta respondeu a pressões de demanda da China e também de outros países. Entretanto, a desaceleração chinesa a partir de 2008, a crise financeira de 2009 e os fortes desequilíbrios fiscais e a crise bancária na Europa a partir de 2010 sinalizam um potencial descompasso entre oferta e demanda, fato que se tornou evidente em 2014/2015.

Ressaltou a grande importância da mineração para os estados de Minas Gerais e Pará e, consequentemente, dos maiores efeitos econômicos da redução dos preços internacionais. Apontou a necessidade de diversificar as economias e ampliar os encadeamentos intersetoriais no complexo minerador.

A tendência ao gigantismo do início da década passou a dar lugar a um encolhimento planejado com vendas de ativos fora do core business para redução da alavancagem. No setor mineral, as empresas passaram a buscar forte redução do CAPEX, suspensão ou cancelamento de projetos e otimização de ativos.

A inovação passou a ser central na redução de custos, tais como transporte de minério driverless e truckless, equipamentos operados remotamente e automatizados, substituição de caminhões por correias e britagem móveis, aumento da recuperação no beneficiamento e redução do consumo de água. Enfim, com a queda do preço e redução do consumo na China, a mineração terá que se repensar à luz das mudanças em curso.

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A apresentação foi debatida por Marcelo Ribeiro Tunes, do IBRAM , que fez uma retrospectiva do super-ciclo, da redução da demanda e dos preços e da

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necessidade de inovação. Ressaltou a importância da educação para um mundo digital e a necessidade de intensificar a inovação e a eficiência operacional.

Renato Ribeiro Ciminelli, do GeoPark Quadrilátero F errífero , disse que não será um período de conforto. Indicou a importância do Projeto Fapemig para mineração como base para estimular inovação. Fazendo referência ao caso australiano, afirmou que é possível adensar o complexo mineral no Brasil e, em particular, em Minas Gerais. Ressaltou a importância de compartilhar e cooperar entre os agentes do setor (empresas, governo, sociedade).

Paulo da Pieve, da ABIMAQ , indicou a perda de empregos pelo setor de máquinas e equipamentos. Avalia que a Vale reduzirá sua importância em Minas. Defendeu o desenvolvimento da produção de equipamentos e serviços no Brasil e estimou que 90% dos equipamentos de Carajás são importados.

Ronaldo Augusto Nascimento, SNC Lavalin, defendeu a melhoria na formação de pessoas e na troca de experiências e compartilhamento. Assim como os outros, considerou necessária uma maior coordenação e planejamento em pa.

Fernando Lameiras, Pesquisador do CDTN , destacou a necessidade das mineradoras irem além da extração mineral. Comentou a desconexão significativa entre a atividade mineradora e a cadeia fornecedora de equipamentos e serviços à atividade mineradora.

2.3. TERCEIRO PAINEL - MINERAÇÃO, CADEIAS PRODUTIVAS E DESAFIOS TECNOLÓGICOS

Miguel Antônio Cedraz Nery, Diretor da ABDI, iniciou a apresentação propondo mudar o nome do Estado de Minas Gerais para Minas Indústrias Gerais e, assim, sumarizou sua perspectiva na discussão das oportunidades industriais na cadeia da mineração.

Observando o contexto internacional em um cenário que se estende desde o século XIX, destacou uma redistribuição geográfica das minas e da produção mundial de minérios: da Europa e EUA para um conjunto de países em desenvolvimento ricos em recursos naturais.

Avaliou que o fim do super-ciclo de commodities induzirá um aumento da eficiência operacional em busca da redução de custos. O excesso de capacidade de aço no mundo e a redução da demanda, em particular da China, pressionará o mercado de minério de ferro por um longo período.

Destacou que a indústria mineral pode ser considerada detentora de uma tecnologia madura, com evolução tecnológica incremental e próxima da indústria manufatureira. Os produtos do setor minerador apresentam pouco espaço para variações nas especificações, geralmente são commodities comercializadas em mercados transoceânicos. Os bens produzidos com

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minerais industriais (não-metálicos) apresentam especificações mais amplas, em função da diversidade de novos usos.

Na indústria de mineração, os fornecedores de equipamentos contribuem significativamente para a inovação tecnológica. Países com relativa importância na produção mineral, atual ou passada, tornaram-se líderes no desenvolvimento tecnológico, como Austrália e Canadá (serviços) e Finlândia e Suécia (equipamentos).

O desenvolvimento tecnológico tem incorporado as TICs e inovações em engenharia e materiais. Nota-se o uso crescente de tecnologias de informação e de automação nas operações de lavra e beneficiamento. Existe uma preocupação com a minimização dos impactos ambientais, em particular relacionados à água (consumo e reuso) e riscos relacionados à segurança das minas. A manufatura mineral já utiliza plataformas digitais para desenvolvimento de mina e simulação de operações, sistemas driverless e mina autônoma, sensores inteligentes e controle autônomo constante de parâmetros de produção (distribuição de carga, temperatura em fornos, etc).

Considerando a fragilidade da cadeia produtiva e os desafios tecnológicos apresentados, seria fundamental ter uma agenda setorial de mineração com foco na agregação de valor ao bem mineral, aumento da produtividade, adensamento das cadeias produtivas e elevação dos dispêndios de PD&I em produtos e processos.

Miguel Nery pontuou um conjunto de propostas para tal política pública. Primeiro, as empresas de mineração signatárias de um contrato de concessão ou de termo de adesão ficariam obrigadas a aplicar anualmente o montante de,

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no mínimo, 0,25% de sua receita operacional líquida em PD&I e outros 0,25% em programas ambientais associados às atividades objeto da concessão.

Segundo, criação de um programa de compras locais voltado a incentivar a produção no Brasil. Tal política de compras estaria conectada à execução do contrato de concessão ou do termo de adesão. A produção no Brasil incluiria os equipamentos utilizados nas operações relacionadas às etapas de pesquisa mineral, lavra, beneficiamento e os equipamentos de carregamento necessários ao embarque do produto final.

Terceiro, a criação de Zonas de Processamento e Transformação Mineral (ZPTM).

Quarto, afirmou ser necessário um programa de capitalização das empresas de pequeno e médio porte via mercado de ações como forma de financiamento da produção contratada na concessão.

Destacou um programa da FINEP/BNDES de apoio ao PD&I que já está em execução: o Inova Mineral. O volume de recursos é de R$ 1,2 bilhões, dos quais até R$ 200 milhões de fontes não reembolsáveis. Esse programa apoia a cadeias produtivas da indústria de mineração. Suas linhas temáticas são:

• Linha 1: Pesquisa e Desenvolvimento de tecnologias e produtos com foco em Minerais Estratégicos “Portadores de Futuro”: Cobalto, Grafita, Lítio, Metais do Grupo da Platina, Molibdênio, Nióbio, Silício (Grau Solar), Tálio, Tântalo, Terras Raras, Titânio e Vanádio.

• Linha 2: Pesquisa e Desenvolvimento de tecnologias e produtos com foco em Minerais Estratégicos com elevado déficit comercial: fosfato e potássio.

• Linha 3: Pesquisa, Desenvolvimento, Aprimoramento e Escalonamento de Tecnologias de Mineração.

• Linha 4: Tecnologias e processos para redução e mitigação de riscos e impactos ambientais na Mineração.

• Linha 5: Desenvolvimento e Produção Pioneira de Máquinas, Equipamentos, Softwares e Sistemas para a Mineração.

Ao finalizar sua intervenção, colocou um “desafio” à indústria mineradora em Minas Gerais: diversificar as atividades econômicas a partir da sua vocação mineral e, assim, tornar Minas Gerais um fornecedor de bens e serviços para a mineração com alto grau tecnológico.

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As propostas de Miguel Nery foram debatidas por Paulo Beirão, da Fapemig , que defendeu a convocação do ecossistema de CT&I de Minas Gerais. Destacou a necessidade de diálogo entre setor empresarial e acadêmico.

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Alexandre Gomes, da Votorantim Metais argumentou que é possível articular a universidade e as empresas. Mostrou trabalhos técnicos e científicos que reduziram significativamente a necessidade de barragens em várias atividades mineradoras em Sorocaba e Vazante.

Marcelo Arruda Nassif, Diretor da CODEMIG, destacou a importância das terras raras na produção de imãs e do grafite na produção grafeno. Comentou também o desenvolvimento tecnológico na extração e agregação de valor na produção de nióbio.

Paulo S. Sant’Ana Furtado e Fernando Gabriel da Silva Araújo, ambos da Fundação Gorceix, mostraram os caminhos para o aproveitamento dos rejeitos em larga escala.

De modo geral, os debatedores identificaram uma desconexão significativa entre a pujança da atividade mineradora e a fragilidade da cadeia fornecedora de equipamentos e serviços à atividade mineradora.

2.4. QUARTO PAINEL - Território Minerador e Organização Urbana

Roberto Luís Monte-Mór, professor da CEDEPLAR/UFMG e coordenador do Plano Metropolitano de Belo Horizonte, abordou o tema da mineração e urbanização em Minas Gerais. Na apresentação usou como referência o Plano Metropolitano da Região Metropolitana de Belo Horizonte, focou no macrozoneamento e na institucionalização das zonas e áreas de interesse da região metropolitana.

Destacou que a relação entre a mineração e urbanização é um tema historicamente recorrente em Minas Gerais. As cidades de Ouro Preto, Mariana e Diamantina são exemplos importantes dessa articulação, muitas vezes tensa e certamente perene. No caso da mineração em larga escala, como a de minério de ferro, requer no entorno um centro urbano com serviços e comércio de consumo, alguma manufatura básica e, principalmente, capacidade de abrigar famílias.

A centralidade das atividades mineradoras na organização econômica e espacial submete todas as outras atividades no entorno. A região perde diversidade econômica e domina uma atividade exportadora especializada que importa uma larga variedade de produtos de outras regiões distantes das minas. Constrói-se um sistema urbano-minerador integrado com o entorno não-minerador, mesmo que distante. No caso do Brasil, ocorreu uma diversificação econômica na cadeia mineradora, mas em áreas não contígua às minas. O local minerador continuou importando alimentos, produtos de consumo cotidiano, máquinas e equipamentos para mineração.

A incapacidade de reter as riquezas geradas pela mineração fez com que a região detenha um setor produtivo pobre junto a uma massiva produção de riquezas minerais. A intensa especialização produtiva com baixa integração e diversificação econômica é uma característica marcante da mineração em

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Minas Gerais, mas que foi parcialmente minimizada pela emergência da capital de Belo Horizonte e depois pela conurbação metropolitana.

A atividade mineradora formou um enclave produtivo que tem elevada heterogeneidade social interna que se reflete em tensões políticas. Por exemplo, disputas em torno da qualidade de vida urbana, preservação do meio ambiente, especulação imobiliária e também tensões relacionadas ao próprio fim da atividade de mineração, pois os municípios não têm recursos para alavancar atividades econômicas alternativas.

Roberto Monte-Mór cita alguns aspectos da forte e tensa imbricação da mineração com a vida urbana:

(a) a disputa de áreas com a produção agrícola, pecuária e extrativista;

(b) a disputa do solo para preservação ambiental;

(c) a transformação da paisagem e o comprometimento de referências geo-históricas;

(d) o uso da água para mineração em conflito com o uso da água para consumo urbano;

(e) a contaminação do solo e a poluição dos cursos d’água;

(f) as minas abandonadas, paralisadas ou em fechamento que dificultam o reuso do solo pelas comunidades no entorno;

(g) os impactos da poluição do ar (emissão de partículas na atmosfera);

(h) os impactos estruturais nas residências e infraestruturas devido as explosões e ao deslocamento de caminhões mineradores;

A partir dessa visão de uma articulação necessária e tensa entre mineração e urbanização, Roberto Monte-Mór defendeu um planejamento regional participativo e reflexivo. As perguntas centrais desse planejamento são: Como gerir o espaço, preservar as atividades mineradoras, o espaço agrícola e a rede urbana? Como exemplo de planejamento urbano-regional, apresentou o Plano Metropolitano de Belo Horizonte (http://www.rmbh.org.br/).

A partir do Plano Metropolitano enfatizou a institucionalidade e as dimensões estruturantes do planejamento: a acessibilidade, a sustentabilidade, a urbanidade e a seguridade. Destacou as políticas de desenvolvimento produtivo sustentável e de desenvolvimento de territórios minerários, mas também elencou a gestão, proteção e recuperação dos recursos hídricos, saneamento básico, resíduos sólidos, conservação ambiental, compensação e valoração de serviços ambientais e, por fim, a economia de baixo carbono e gases de efeito estufa.

Essas políticas deveriam fazer parte de programas para o desenvolvimento sustentável da produção minero-metalúrgica. Afirmou que até o momento não se observa uma efetiva articulação de todas essas dimensões no planejamento urbano.

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Quanto a questão ambiental, chamou a atenção para o potencial de integração da “Trama Verde-Azul”, uma articulação espacial de lagos, rios e represas com áreas de proteção permanente. Essa trama teria corredores ecológicos na estrutura metropolitana, diferentes níveis de acesso às unidades de conservação, o desenvolvimento da agricultura familiar urbana e péri-urbana. Propôs um sistema viário e parques urbanos lineares, a criação de áreas de lazer, esporte e usos múltiplos. Os patrimônios ambiental e cultural deveriam se articular nesse território densamente urbano.

Apresentou uma sequência de mapas da Região Metropolitana de Belo Horizonte mostrando a organização espacial da trama Verde-Azul e nela destacou os espaços mineradores. Afirmou que o complexo minero-metalúrgico está na base do desenvolvimento econômico de Minas Gerais, em particular no entorno da RMBH, portanto, merece atenção especial no planejamento urbano. Contudo, afirmou que não observa um planejamento territorial efetivo, o que tem criado disputas com atividades mineradoras.

Concluiu afirmando ser necessário avançar no planejamento territorial observando a urbanização e as condições para a reprodução da vida e não somente as condições para a produção mineral em larga escala.

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Cristiano Monteiro Parreiras, da Ferrous Resources e Sindiextra, discorreu sobre o papel da mineração na formação das cidades. Comentou as ameaças à mineração e sua importância econômica. A mineração é uma destacada fonte de renda e emprego para as atividades urbanas, mas requer diálogos entre a gestão do espaço urbano e o espaço minerador.

Ângela Flores Furtado, da FIEMG, afirmou necessária a combinação do econômico, do social e do ambiental. Disse que a indústria que nos trouxe a 2016 não é a mesma que nos levará a 2050, o que requer a incorporação de novas atividades econômicas. Defendeu uma política para mineração com efetiva participação dos governos, da sociedade e das empresas para combinar poder e vontade política.

Virginia S.T. Ciminelli, professora da UFMG e coord enadora do INCT Acqua, defendeu a combinação da mineração, água, biodiversidade com a dimensão social. Apresentou casos em que o desenvolvimento tecnológico foi capaz de criar soluções de problemas em barragens em Sorocaba e Vazante. Defendeu uma maior rapidez das empresas e do setor público no enfrentamento dos impactos ambientais criados pela mineração. Entendeu serem modestos os investimentos em inovação tecnológica. Realçou as externalidades negativas da mineração, hoje realçadas pelo acidente da Samarco.

Miguel Victor Tavares Lopes, da Secretária de Desen volvimento Urbano e Regional, comentou conflitos entre campo e cidade. A constituição de enclaves e o pouco aproveitamento dos recursos humanos locais na mineração geram frustrações econômicas, pois as cidades continuam pobres e as expectativas de progresso em função da mineração se apresentam frustradas.

3. REFLEXÕES E UMA AGENDA

Os palestrantes e os debatedores indicaram um conjunto amplo de oportunidades e também de desafios para Minas Gerais e para as atividades de mineração, em particular a mineração de ferro. Destacaremos alguns pontos e indicaremos uma agenda de ações, pesquisas e estudos para balizar uma política para a cadeia mineradora.

Um primeiro ponto a destacar são as vantagens naturais de ter em Minas Gerais uma grande variedade de minerais. Tal dotação de recursos tem hoje rivais efetivos em território brasileiro: o projeto S11D é o maior exemplo. Minas Gerais não é mais o único grande espaço minerador no Brasil e nem mesmo aquele com a oferta mais competitiva e tecnologicamente avançada.

Como decorrência, um segundo ponto seria a necessidade de se repensar a mineração em busca da modernização tecnológica focando na rede de fornecedores a montante. São necessárias políticas de suporte e indução ao desenvolvimento do complexo minerador e não somente da mineração isoladamente. Essa cadeia de fornecedores não se estabeleceu de forma

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substantiva em território mineiro, talvez por falta de políticas públicas que induzissem tais negócios em Minas Gerais.

O terceiro ponto também se refere a cadeia produtiva. A diversidade de tecnologias e de capacitações tecnológicas requer uma variedade de instituições e conhecimentos científicos. Minas Gerais tem tais instituições, mas que possuem pouca interação entre tais institutos de pesquisa e as empresas. Assim, o conhecimento gerado não se enraíza na forma de empresa e negócios. Há um grande “vazamento de oportunidades” para outros estados e países.

Novas tecnologias, equipamentos, instrumentos e serviços estão surgindo e Minas Gerais tem uma institucionalidade capaz de ter em seu território parte dessa nova indústria. Nesses casos, é necessária uma política de inovação combinada com uma política de desenvolvimento de fornecedores.

Quarto ponto se refere às atividades a jusante, em particular à siderurgia e metalurgia pesada. As grandes empresas mineradoras são capazes de entregar minério em qualquer lugar do mundo e no momento programado. Logo, as vantagens locacionais de ter uma siderúrgica ao lado de uma mina deixaram de existir. Hoje, é preferível ter uma siderúrgica ao lado de um porto, onde é possível ter acesso a todo o comércio internacional de aço e de insumos, como carvão, além de oferta mais ampla de minérios, ou seja, não é mais necessário estar em uma região contígua a mineração.

Um indicador dessa opção locacional é que a larga maioria dos projetos siderúrgicos planejados nos últimos dez anos no Brasil foram localizados na parte costeira do país. Em suma, a eficiência da mineração permite que a cadeia siderúrgica-metalúrgica se localize longe das minas. Assim, Minas Gerais perde uma vantagem que antes foi importante na atração de indústrias a jusante da mineração.

Quinto ponto , a questão urbana e ambiental. Na larga maioria dos sítios mineradores não existem uma proximidade de grandes centros urbanos ou não se localizam próximos a redes de cidades. No caso de Minas Gerais, temos exatamente o oposto: as minas estão dentro de densas e grandes redes urbanas, o que requer um diálogo mais intenso e cooperativo entre os espaços minerador e o espaço urbano. O caso recente da ruptura da barragem do Fundão, da Samarco é um exemplo que mostra a dramaticidade desses conflitos inerentes à interação desses dois espaços. É necessário um planejamento com a participação de empresas e de vários segmentos das áreas urbanas, muitas localizadas distantes dos centros mineradores.

A partir dessas reflexões propõe-se a seguinte agenda para reflexão, pesquisa e estudos:

1. Análise das indústrias que compõem a cadeia produtiva da mineração em escala mundial. Detalhar as estratégias dos principais fornecedores e qualificar a posição das empresas brasileiras .

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2. Análise do mercado mundial dos principais produtos destacando composição da oferta e da demanda, suas tendências e mostrar a posição e perspectivas do Brasil .

3. Análise das oportunidades e capacitações tecnológicas e linhas de atuação com vistas à modernização do complexo minerador.

4. Análise do mercado nacional e regional dos principais produtos e suas tendências e avaliar as tendências locacionais das principais empresas e produtos e sua posição em Minas Gerais .

5. Análise da questão federativa e tributária do setor mineral e suas consequências para Minas Gerais (níveis estadual e municipal).

6. Análise da questão ambiental e de diretrizes de atuação , compatibilizando interesse econômico, sustentabilidade econômica e ambiental em um planejamento territorial participativo .

7. Análise da situação dos municípios mineradores e diretrizes de planejamento para o seu futuro econômico, social e ambiental.

8. Análise da diversificação produtiva e identificação das principais linhas de atuação e prioridades. Dar preferência aos municípios mineradores.

9. Análise do novo código mineral e estabelecimento de diretrizes para sua adequação aos interesses econômicos, sociais e ambientais, bem como da questão federativa e municipal.