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O ESCANDALOSO CASO DAS DEBÊNTURES – OS PRECATÓRIOS DE GERALDO JULIO A gestão Geraldo Júlio, do PSB, à frente da Prefeitura do Recife, encaminhou projeto de Lei à Câmara do Recife, autorizando a criação de sociedade de propósito específico, sob o controle acionário do Município do Recife, e a cessão, a título oneroso, de direitos creditórios originários de créditos tributários e não tributários. O prefeito afirma, na mensagem que enviou o projeto à Câmara, que a “cessão apenas atinge os créditos tributários que já foram devidamente constituídos, com fatos geradores já consumados, não incidindo, pois, a vedação constante do artigo 37, inciso I, da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2001 (Lei de Responsabilidade Fiscal), que proíbe a captação de recursos a título de antecipação de receita de tributo ou contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido.” Ora, nem toda a engenharia legal dos notáveis juristas do prefeito é capaz de esconder o óbvio, ou seja, que um ente da Federação, o Município do Recife, está criando uma entidade, a RECDA, sob seu controle, pois se trata de uma empresa de economia mista, onde o controle acionário será do Município, com a finalidade específica de realizar operações de crédito, cujos recursos serão destinados a beneficiar o ente controlador, ou seja, o Município do Recife. O projeto, portanto, fere frontalmente a Lei de Responsabilidade Fiscal, precisamente o art. 36: “É proibida a operação de crédito entre uma instituição financeira estatal e o ente da Federação que a controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo.” O prefeito age de má-‐fé para ludibriar a opinião pública porque sabe que seu projeto não apenas fere a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas causará um enorme desequilíbrio nas contas da Prefeitura, que terá que ser suportado pelas gestões que o sucederem, inclusive porque os títulos deverão ser absorvidos, em sua maior parte, pela Reciprev, que hoje conta com mais de R$ 800 milhões de recursos aplicados em diversos fundos, inclusive, fundos da mesma natureza que este a ser criado por Geraldo Júlio, através da RECDA. A cessão onerosa do direito de receber o crédito tributário mascara autêntica operação de crédito, uma vez que não pode haver cessão de crédito em que o cedente deixe de transmitir a titularidade ativa da relação creditícia ao cessionário, conforme definição do próprio art. 29, III da LRF: “Compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros.” Assim, a lei que tramita na Câmara do Recife, revela-‐se como uma autorização dos vereadores para que o Prefeito realize, na verdade, uma operação de crédito por Antecipação de Receita Orçamentária – ARO – não autorizada pela Constituição Federal (art. 165, § 8o), nem prevista no art. 38 da LRF, segundo o qual a ARO se destina unicamente para suprir a deficiência de caixa durante o exercício, só podendo ser realizada a partir do décimo dia do início do exercício para ser liquidada até o dia dez de dezembro de cada ano. Geraldo Júlio, porém, está pedindo, e ao que tudo indica, receberá, verdadeiro cheque em branco para
endividar o Município a perder de vista, tendo o Céu como limite e sem sequer se ter a mínima ideia de quanto será o montante desse endividamento. O único limite revelado é, de acordo com o projeto de lei, que a cessão e antecipação do crédito tributário sob o regime de parcelamento será de até 35% dos créditos parcelados. Mas alguém tem noção do total desses créditos já parcelados e dos valores negociáveis, já que o prefeito também enviou outros projetos criando benesses fiscais, haja vista os PLs 52 (INSTITUI O PROGRAMA DE PARCELAMENTO INCENTIVADO -‐ PPI NO MUNICÍPIO DO RECIFE, EM "REGIME DE URGÊNCIA”) e 53 (INSTITUI O PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO FISCAL PARA O SETOR EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DO RECIFE, EM "REGIME DE URGÊNCIA")? Por outro lado, embora limite em 35% o montante dos créditos parcelados que podem servir como lastro para a emissão e distribuição de quaisquer títulos e/ou valores mobiliários, não há qualquer limite para essa cessão, em se tratando de valores não parcelados. Assim, quase todo o montante da Dívida Ativa, hoje em torno de R$ 5 bilhões, pode, sim, servir de lastro a títulos podres a serem empurrados para a Previdência Municipal, de modo a atender a necessidade imediata do Prefeito de fazer “caixa”, seja no momento atual, para cobrir o endividamento da prefeitura, que já tem fornecedores com meses de pagamentos atrasados, seja para sua campanha de reeleição. Os Fundos formados por esses créditos, de acordo com as propostas apresentadas por empresas como a NSG Capital, que estaria por trás do projeto recifense, prevê a criação de 30% de cotas sênior e 70% de cotas secundárias, estas de liquidez altamente duvidosa e que seriam absorvidas pelos Fundos de Previdência. Cabe ressaltar que a NSG Capital já tem sido apontada como responsável pela gestão de vários fundos considerados temerários pelo Ministério da Previdência Social e pela Polícia Federal. O deságio para títulos de outros municípios tem sido da ordem de 90%, alguém duvida que com os títulos da Dívida do Recife será diferente? O histórico de inadimplência e prescrição dos créditos da Dívida Ativa do Recife nos permite dizer que não. Associe-‐se a isso o pagamento de juros altíssimos aos investidores, para tornar os títulos minimamente atraentes e taxas de administração mais altas ainda à securitizadora que será contratada (com licitação?) para comandar a operação e não teremos sequer a dimensão do rombo que a gestão Geraldo Júlio trama deixar para as futuras gerações de recifenses, como legado de sua desastrosa administração. Geraldo Júlio pretende cobrir o rombo financeiro de sua gestão, que se encontra em débito com diversos fornecedores, há meses e com uma infinidade de obras paradas por falta de recursos para pagamento das contrapartidas dos Convênios com o Governo Federal, criando um rombo ainda maior, a ser herdado pelas futuras gestões, pelos servidores e pelo povo do Recife. Unamo-‐nos contra esse novo golpe dos Precatórios que está sendo tramado contra nós. MOB – MOVIMENTO DE BASE