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Newsletter Grupo Viva sem glúten portugal ed 1 nr 11 nov 2014

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nos como se adaptou ao di-agnóstico de DC e o que faz para congregar os celíacos madeirenses. Sara Gon-çalves, mãe de menino celíaco e residente na Ma-deira, fala-nos de como soube que seu filho é celíaco e como gere o seu dia-a-dia.

Quando vai à farmácia pensa no glúten? Relembre algumas noções sobre a segurança na utilização de produtos farmacêuticos por portadores de doença celíaca com o Dr. Rui Neto Fernandes. Novembro à porta…”Em dia de São Martinho, lume, cas-tanhas e vinho”...que mara-vilha, tudo gluten free!

ANA PIMENTA

“Um presente de cores. Uma ilha de verti-gens. Segredos de buganvília.

No soluçar das vagas. No subir da maré. Navega meu coração. Nas nuvens. Sub-mergem os montes. Nos ma-tizes esmaecidos dos borda-dos. Está a raiz do meu sonho” (1). Onde?! Na ilha da Madeira. Lugar insólito, hospitaleiro, propício a ficar e deixar-se ficar. A baixa variabilidade genética característica de uma ilha pode ser responsável por um ligeiro aumento da prevalência de algumas doenças, tal como a doença celíaca (DC). A pediatra madeirense Rute Gonçalves explica-nos como se estudou a população pediátrica da Madeira e os seus familiares

diretos em relação à prevalência daquela doença. Salienta ainda a importância do despiste aos familiares diretos de celíacos. Um dos frutos característicos da ilha da Madeira é a ba-nana. A batata-doce é igual-mente muito usada na cu-linária tradicional. Que benefícios podem trazer ao celíaco? Descubra as van-tagens da biomassa da ba-nana verde e da batata-doce com a nutricionista Noadia Lobão. Para os madeirenses, as malassadas estão para o Carnaval, como o bolo-rei está para o Natal dos conti-nentais. Não podem faltar! Rute Freitas deixa-nos com água na boca com a sua receita tradicional e relata-

EDITORIAL

ENTREVISTA

A entrevistada deste mês é Rute Freitas, celíaca e ad-ministradora do grupo de Facebook Celíacos da Ma-deira. Rute como soube que é celíaca? E o que mudou na sua vida? Descobri há 3 anos que sou celíaca. Quando soube chorei! Mas afinal todo este sofrimento tinha um nome! Sentimento de alívio. O meu dia-a-dia mudou muito. Em casa foi mais fácil, todos contribuíram para que não houvesse contaminação. Nos restaurantes não foi fácil, pelo que passei a frequentá

-los menos. No trabalho tam-bém não foi fácil, mas expli-cando e em luta constante, deixei de ter problemas. Inscrevi-me na APC o que foi uma mais valia. Como é ser celíaco na Ma-deira? Vivendo numa ilha temos pouca quantidade e variedade de produtos ali-mentares específicos. Tem sido uma luta constante para o mesmo aumentar. Porque senti muita dificuldade como celíaca e, com o desconheci-mento da sociedade desta condição, decidi abrir um grupo e conhecer outras

pessoas com a mesma doença. Perceber os seus problemas, divulgar ao máximo na comunicação social, criar eventos com o objetivo de sensibilizar para esta temática. Sempre com um grande apoio, da APC, da nutricionista Dra. Amélia Teixeira, da Pediatra Dra. Rute Gonçalves, da Enfª Fernanda Vilha e Enfº Mi-caela, dos elementos do grupo de Celíacos da Ma-deira e um enorme apoio familiar. Mantenho também contacto com outros grupos orientados para esta temática como o grupo Viva sem glúten Portugal.

Agradecimentos:

ANA PIMENTA– Redacção

ANTÓNIO JOÃO PEREIRA –

Revisão clínica

AVELINO GUERREIRO – Apoio

técnico e informático

CLÁUDIA MACEDO – Revisão

ortográfica e tipográfica/ layout

NOADIA LOBÃO– Nutrição e

Receita do Mês

RUI NETO FERNANDES– Info &

Dicas

RUTE FREITAS E SARA GONÇAL-

VES– Entrevistadas/ Receita do

mês

RUTE GONÇALVES- O Estado da

Arte

EDITORIAL 1

ENTREVISTA 1

ESTADO DA ARTE 2

INFO & DICAS 3,4

TESTEMUNHO 4

NUTRIÇÃO 5

RECEITAS DO MÊS 5

Neste número:

Novembro 2014 Edição 1, Nº 11

G R U P O V I VA S E M G L Ú T E N P O R T U G A L

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Contacto: [email protected]

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A relação entre alimentação e a doença celíaca (DC) foi estabelecida desde finais do século XIX mas a relação directa com o glúten só foi descoberta mais tarde, já em meados do século XX. Os critérios de diagnóstico têm vindo a ser simplificados ao longo dos anos pela ESP-GHAN (European Society of Gastrenterology, Hepatology and Nutrition), passando da necessidade de três endosco-pias com biópsia e prova de provocação com glúten, para apenas uma endoscopia ini-cial, pela evidência de que os anticorpos anti-transglutaminase tecidular e anti-endomísio apresentam sensibilidade e especifici-dade na ordem dos 95%. As recentes guidelines da ESPGHAN salientam a grande sensibilidade dos testes acima referidos, asso-ciados ao estudo da suscepti-bilidade genética (presença HLA DQ2 e DQ8), como fac-tores muito importantes no diagnóstico. Nas crianças, em alguns casos, o diagnóstico pode até ser estabelecido sem o recurso à biopsia duo-denal: sintomas clínicos sugestivos, anticorpo anti-transglutaminase 10 vezes o normal e anti-endomísio posi-tivo, HLA concordante e, por fim, resposta positiva à dieta sem glúten são suficientes. Os pediatras devem estar sensibilizados para as mani-festações menos típicas da doença. A forma clássica, do lactente com 7-10 meses que apresenta diarreia crónica, distensão abdominal e má progressão ponderal, já não é a forma de apresentação mais comum. A doença celíaca não é exclusiva da idade pediátrica e muito menos da faixa etária até aos 12 meses. Em qualquer idade, a existência de vómi-tos recorrentes, obstipação de difícil resolução, invagina-

ção intestinal, aumento das enzimas hepáticas, entre outras, pode orientar para o diagnóstico de doença celíaca. Recentemente, o serviço de pediatria do Hospital Central do Funchal, (representativo da população pediátrica da ilha), publicou um estudo realizado na população pediátrica com doença celíaca (39 doentes), resi-dente na ilha da Madeira e rastreio aos seus familiares de 1º grau, estando estes incluídos nos grupos de risco de doença celíaca (assim como doentes com diabetes, síndrome de Down, síndrome de Turner, entre outros). O estudo pretendia determi-nar a prevalência de DC no grupo de familiares diretos destas crianças e a frequên-cia de HLA-DQ2 e DQ8 nas crianças celíacas e seus fa-miliares afetados. O objetivo deste estudo, para além de conhecer a realidade da população local, era também o de puder informar ade-quadamente os doentes e seus familiares de forma a prevenir complicações e mel-horar a sua qualidade de vida. Foi realizada tipagem gené-tica a ambas as populações e o estudo serológico sob dieta com glúten aos famil-iares diretos. Os familiares diretos foram questionados também sobre a presença de doenças associadas à DC (tiroidite auto-imune, diabe-tes melitus, síndrome de Down), e presença de sin-tomas relacionados com doença celíaca. Nos famil-iares seropositivos (com anti-corpos positivos para a DC) foi recomendada a realiza-ção de biopsia do intestino delgado. Quanto ao diagnóstico 48,7% das crianças obtiv-eram-no entre o 1-2 anos de

idade, 28,2% entre 7-12 meses e 18% após os 2 anos. Desde o final do estudo (Outubro 2011) foram acre-scidos à nossa casuística 15 doentes. Todas as crianças apresentavam sintomas gas-trintestinais e em 69,2% dos casos verificaram-se sintomas extraintestinais (atraso de crescimento, anemia e sin-tomas neurológicos). Foram estudados 95 famil-iares diretos, dos quais 5 eram seropositivos com estudo genético compatível com DC. Destes últimos, 4 tinham alterações histológicas a favor de DC (biópsia posi-tiva). A prevalência nos fa-miliares de 1º grau foi de 3,15% (aproximadamente 1:31 familiares), 4.5 vezes mais elevada que a prevalência proposta para a população portuguesa no geral1 (0,7%) e o que re-força a importância do despiste de DC nos famil-iares diretos. Um outro estu-do2 levado a cabo por An-dreia Oliveira no Porto revelou uma prevalência de 2.6% entre 268 familiares diretos. A baixa variabili-dade genética característica da ilha da Madeira pode ser responsável pelo ligeiro au-mento da prevalência encon-trada no nosso estudo. O estudo HLA mostrou que 74% dos indivíduos são DQ2, 24% têm DQ2 incom-pleto e 2% são DQ8. Um dos três familiares com exames positivos tinha doença celíaca silenciosa, o que chama a atenção para a importância do rastreio de todos os familiares diretos mesmo na ausência de sin-tomas. A deteção de uma criança com imunodeficiência de IgA não é surpreendente e cor-robora a importância de dosear esta imunoglobulina

O ESTADO DA ARTE- DOENÇA CELÍACA EM CRIANÇAS MADEIRENSES E A SUA PREVALÊNCIA NOS FAMILIARES DIRETOS

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aquando da realização dos exames serológicos para diagnóstico (pesquisa de anticorpos específicos da DC). Qual a importância da reali-zação da tipagem genética? O estudo de susceptibilidade genética é útil para excluir a doença nos familiares de 1º grau, ou nos grupos de risco assintomáticos pois se for negativo para DQ2 e/ou DQ8 permite excluir a doença em 99% dos casos. Diminui assim a necessidade de determinações seriadas de anticorpos anti-transglutaminase tecidular e anti-endomísio naqueles casos sendo considerado por alguns autores custo efectivo. Pode ainda ser usado quando a suspeita clínica é forte, mas os anticorpos referidos ou a biópsia duo-denal, não são esclarecedo-ras. O estudo dos familiares dire-tos é importante uma vez que estudos populacionais sugerem que os doentes celíacos têm risco aumentado de mortalidade, de linfoma e cancro gastrintestinal. Assim, o reconhecimento dos famil-iares diretos como população de risco e a necessidade de rastreio nestes pode prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida destes indivíduos.

DRA. RUTE GONÇALVES Pediatra

Hospital Dr. Nélio Mendonça, Funchal

1- Antunes H. First study on the prevalence of celiac disease in a Portuguese population. J Pediatr

Gastroenterol Nutr. 2002;34:240. 2- Joana Raquel Henriques Oliveira, António Jorge Cabral, Elena Ferreira, Filipa Capelinha, Hélder Spínola e

Rute Gonçalves. Celiac disease in children from Madeira Island and its prevalence in first degree relatives.

Arq Gastroenterol. abr./jun. 2014. v. 51 no. 2.

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Edição 1, Nº 11

GLUTEN EM PRODUTOS FAR-MACÊUTICOS A doença celíaca é definida como uma reação in-flamatória auto-imune da mucosa intestinal, induzida pela ingestão de glúten. A quantidade desta proteína necessária para desencadear uma resposta imunológica é pequena e variável de doente para doente, sendo a evicção completa de glúten da dieta o único tratamento comprovadamente eficaz. A legislação em vigor para produtos alimentares esta-belece a obrigatoriedade de ser feita referência no rótulo à presença de cereais que contêm glúten. Subsistem, no entanto, algumas dúvidas relativamente à segurança na utilização de produtos far-macêuticos por portadores de doença celíaca. Com efeito, produtos consid-erados fontes potenciais de glúten são utilizados pela indústria farmacêutica na produção de fármacos, so-bretudo como excipientes. Define-se excipiente como uma substância que se adi-ciona a um medicamento de modo a conferir a forma ou eficiência farmacológica ne-cessária, mas que não desem-penha uma acção medica-mentosa directa. Os excipi-entes são utilizados para as mais diversas funções nomeadamente conservantes, corantes, antioxidantes, cor-retores de acidez, entre outras. Por não apresentarem propriedades curativas ou preventivas de doenças, os excipientes são assumidos como inativos e generica-mente considerados inofen-sivos. No entanto, e em par-ticular para portadores de doença celíaca, os excipi-entes podem não ser comple-tamente inertes e apresentar riscos potenciais. A principal substância utili-

zada como excipiente e que pode actuar como fonte de glúten é o amido. O amido utilizado na preparação de fármacos provém de diversas fontes vegetais nomeada-mente milho, arroz, batata e trigo. Apenas este último rep-resenta uma potencial fonte de glúten. O amido, inde-pendentemente da fonte, é utilizado pela indústria far-macêutica como aglutinante e diluente em formulações sóli-das orais (comprimidos e cáp-sulas), ou seja, é adicionado ao princípio activo do medicamento para permitir a moldagem da forma far-macêutica. Paralelamente, pode ser utilizado como agente desagregante, pro-movendo a absorção de água pelo comprimido, a sua desagregação no estômago ou intestino e facilitando a absorção da substância ativa. O amido de trigo é produzido a partir de farinha do mesmo cereal que é submetida a um processo de remoção de pro-teínas, incluindo o glúten, pelo que apresenta apenas quanti-dades vestigiais do mesmo. Dependendo da qualidade da matéria-prima utilizada, o amido de trigo pode conter maior ou menor quantidade de glúten. De um modo geral, apenas uma reduzida fração de produtos farmacêuticos utilizam esta substância como excipiente, tendo sido generi-camente substituído por amido de outra fonte. Na preparação de produtos farmacêuticos são igualmente utilizados como excipientes derivados do amido de trigo, nomeadamente dextrinas, dextratos, amido modificado ou amido pré-gelatinizado. Estes derivados são consider-ados seguros para portadores de doença celíaca por con-terem quantidades apenas muito vestigiais desta pro-teína. A maltodextrina, por exemplo, é utilizada como

aglutinante, desagregante e desumidificante. Por ser alta-mente processada e purifi-cada, está comprovado que a percentagem de glúten pre-sente é tão baixa, ou ausente, que não é detetável analitica-mente, sendo portanto consid-erada isenta de glúten. Também os álcoois de origem vegetal utilizados na indústria farmacêutica, como o manitol e o xilitol, são considerados seguros na doença celíaca, mesmo quando produzidos a partir de cereais como trigo ou cevada. Também neste caso, o processo de refinação do álcool durante a sua pro-dução elimina o glúten pre-sente nos cereais. Numa pesquisa realizada no Reino Unido, verificou-se que apenas 20 produtos dis-poníveis no mercado utilizam amido de trigo, não existindo dados disponíveis sobre a sua utilização em Portugal. Apesar disso, a legislação em vigor referente a produtos farmacêuticos determina que no Resumo de Características do Medicamento (RCM) e na bula incluída na embalagem externa seja feita referência à presença deste componente no fármaco, independente-mente da quantidade utili-zada. Apesar desta recomen-dação, mesmo em produtos que utilizam amido de trigo como excipiente, a quanti-dade de glúten presente é considerada vestigial sendo aqueles considerados como seguros para portadores de doença celíaca. Outros estudos sobre a pre-sença de glúten em produtos farmacêuticos foram divul-gados a partir da década de 90, com resultados muito díspares. Um estudo efec-tuado nos EUA referente à presença de gliadina - a fracção proteica do glúten proveniente do trigo, prejudi-cial aos portadores de

doença celíaca – em produtos farmacêuticos, determinou a presença desta substância em 71,2% dos produtos analisa-dos. Por outro lado, uma análise realizada no Brasil, detectou a presença de gli-adina em apenas 1,3% dos 78 produtos investigados. Está actualmente em fase de discussão pública, uma pro-posta de regulamentação da Agência Europeia do Medica-mento que pretende esta-belecer a obrigatoriedade em classificar os medicamen-tos de acordo com a quanti-dade de glúten presente. Este projeto, que aguarda ainda aprovação, determina que os produtos farmacêuticos que utilizam amido de trigo como excipiente sejam classificados consoante a quantidade de glúten presente no referido composto, à semelhança do que já acontece com os ali-mentos. Assim, se o amido de trigo utilizado tiver até 20 ppm de glúten poderá ser considerado como “isento de glúten”, enquanto se o mesmo apresentar uma quantidade de glúten entre 20 e 100 ppm deve ser considerado como contendo “quantidades muito baixas de glúten”. De um modo geral, considera-se que, mesmo em fármacos que utilizam potenciais fontes de glúten como excipiente, a quantidade presente será tão reduzida que os mesmos são seguros na doença celíaca. No entanto, dado que a evicção total de glúten da dieta é a única forma eficaz de tratar esta doença, a utili-zação de excipiente que contêm esta proteína na for-mulação de medicamentos pode condicionar o pleno cumprimento de uma dieta isenta de glúten. Por outro lado, a quantidade minima (continua na página seguinte)

capaz de induzir uma re-sposta imunitária varia de

INFO & DICAS

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substituídos, e oferecemos tudo o que tinha glúten, pois eu e o meu marido decidimos que iríamos sempre fazer as refeições iguais para os três. A primeira ida ao super-mercado foi uma aventura demorada, pois demorávamos para ler tanto rótulo. Mas com o tempo foi mais fácil fazer o trabalho de pesquisa em casa e passar a ir ao super-mercado com a lista já feita. Neste momento, cozinhamos em casa com grande naturali-dade e os que lá vão não notam qualquer diferença. O meu filho teve uma adap-tação fantástica à dieta sem glúten e hoje em dia, com apenas seis anos, tem o cui-dado de perguntar a quem lhe oferece alguma coisa “Isso tem glúten?”. Percebe que não pode comer e aceitou com grande naturalidade. Acho que isto é muito impor-tante, nós - pais de crianças celíacas - lidarmos com natu-ralidade com a doença e com

Sara Gonçalves, mãe de celíaco, fala-nos de como gere o seu dia-a-dia. O di-agnóstico do meu filho, então com cinco anos, surgiu em Março deste ano entrando na Urgência com queixa de dores abdominais severas. Tinha invaginações intestinais recorrentes que se dissi-pavam sem se perceber a razão. O excelente trabalho desenvolvido em conjunto entre a Cirurgia Pediátrica e da Pediatria, na pessoa da Dra. Rute Gonçalves, levaram a que o diagnóstico fosse rápido – Doença Celíaca. Tivemos um misto de sensa-ções: felicidade e alívio por não se confirmarem os piores diagnósticos mas também apreensão com esta doença que desconhecíamos. Primeira reação: fazer muitas perguntas à pediatra e ler muito para me inteirar dos conceitos, ainda confusos. Com a vinda para casa, houve uma grande limpeza na cozinha, com utensílios

os constrangimentos da mesma, isto é, sem dramas, sem “Coitadinho!!! Não pode comer!!!”. Com certeza que não pode comer algumas coisas, mas, em compensação, há tanta coisa que pode comer. Na escola, falámos com a direção e com a empresa de catering que, felizmente, es-tava perfeitamente pre-parada para confecionar refeições sem glúten, pois tal já acontecia noutras escolas. Foram incansáveis, respon-dendo a todas as minhas questões. Confesso que a vida social foi um pouco beliscada, mas começamos gradualmente a recuperar. Primeiro, apenas restaurantes em que os donos eram nossos amigos e que tínhamos a certeza que cum-pririam os nossos pedidos, por vezes, longos, pois a dieta inicial (primeiros seis meses) também foi isenta de lactose. Depois, fomos variando um ou

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outro restaurante em que já eramos clientes conhecidos. Relativamente às festas de aniversário dos amiguinhos, ainda acompanho o meu filho. Indico o que pode e o que não pode comer e ele cumpre pois não quer arriscar. Relativamente à compra de produtos isentos de glúten, ainda que a variedade não seja a mesma do continente, temos um sortido bastante interessante. Claro que nas idas ao continente, encho sem-pre a mala de algumas iguarias sem glúten que não existem cá. Mas sempre va-mos tendo as marcas general-istas que também têm lançado cada vez mais referências sem glúten. O que posso garantir a quem ler estas minhas palavras é que, primeiro ESTRANHAMOS mas depois ENTRANHAMOS, pelo que o meu filho tem uma vida absolutamente normal e saudável como todas as outras crianças da sua idade!

TESTEMUNHO

doente para doente e nal-guns casos pode ser de ap-enas 10 mg diários, pelo que os portadores de doença celíaca deverão estar corre-tamente informados sobre a composição de produtos far-macêuticos que utilizam de forma continuada. Importa ainda salientar que os medicamentos genéricos apesar de terem uma eficácia e biodisponibilidade idêntica ao medicamento de marca equivalente no que se refere ao principio ativo de um fármaco, não são obri-gados a utilizar na sua pro-dução os mesmos excipientes que o medicamento original. Por esta razão, o facto de um medicamento de marca ser considerado isento de glúten não determina automatica-

mente que o equivalente genérico também o seja. Recomenda-se assim que por-tadores de doença celíaca procurem informação actuali-zada e detalhada sobre a composição de todos os pro-dutos farmacêuticos que utili-zam. As três formas mais rápidas e seguras de conseguir essa informação são: 1 – Pesquisa do RCM do medicamento na base de dados INFOMED, disponível para consulta pública no sítio da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (INFARMED) em www.infarmed.pt/infomed/inicio.php – o ponto 6 “Informações Farmacêuticas” de cada RCM aprovado em

Portugal inclui obrigatoria-mente uma lista dos excipi-entes utilizados; 2 – Questionar directamente o farmacêutico na altura da dispensa do medicamento – a farmácia comunitária tem acesso informático a informa-ção segura sobre os medica-mentos e consultável de forma rápida; 3 – Contactar directamente o laboratório farmacêutico responsável pela produção do medicamento, que deverá ter informação detalhada sobre os produtos utilizados no seu fabrico e as suas ori-gens. Estas informações são válidas para a medicação regulada pelo INFARMED. Suplementos

vitamínicos e outros poderão não ser regulados por esta entidade, logo a consulta do rótulo ou, em caso de dúvida, impõe-se o pedido de es-clarecimento ao fabricante. Discuta sempre com o seu médico, se a sua medicação contiver excipientes à base de trigo, se existem alternati-vas terapêuticas igualmente eficazes. Mais vale prevenir que remediar. Celíaco infor-mado é celíaco saudável!

DR. RUI NETO FERNANDES Farmacêutico. Médico do ano

comum Serviço de medicina, CHLO

INFO & DICAS (cont.)

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NUTRIÇÃO

BIOMASSA DA BANANA VERDE E BATATA DOCE A banana ainda verde é con-siderada um alimento fun-cional. Quando cozida apre-senta alto conteúdo de amido resistente presente na polpa. Ela favorece a colonização da flora intestinal saudável e melhora a absorção de nutri-entes como, por exemplo, o cálcio.

O amido resistente e fermen-tado seletivamente no colón, possui efeito bifidogénico, (contribui para o crescimento intestinal das bifidobactérias), e produz AGCC (ácidos gor-dos de cadeia curta), acetato, propionato, butirato, promove a redução de substâncias tóxi-cas, diminui o risco de doen-ças inflamatórias intestinais e possui efeito anti carcinogé-nico. O amido resistente possui ação no organismo semel-hante ao da fibra alimentar. Não é digerido e absorvido no intestino delgado sendo então fermentado no intestino grosso. Serve assim como fonte de energia para a pro-dução das bactérias benéfi-cas do nosso intestino, aju-dando a manter a integri-dade da mucosa intestinal responsável pela absorção adequada dos nutrientes e pela barreira à entrada de substâncias nocivas. Desta forma, o consumo de banana verde auxilia a um trânsito intestinal adequado, além de prevenir o desen-volvimento de doenças do intestino. A banana verde exerce outros efeitos benéficos ao organismo. Ela é considerada um alimento de baixo índice glicémico. Sua digestão e absorção são mais lentas e assim a quantidade de glicose libertada no sangue ocorre mais lentamente, mantendo os

níveis desta sob controlo e reduzindo a necessidade de libertação de insulina para a entrada daquela na célula. Contribuiu então para a pre-venção do desenvolvimento de diabetes e acumulação de gordura corporal ao aumen-tar a saciedade promovida pelo amido resistente. Na forma cozida a banana verde é apropriada ao pre-paro de subprodutos como a biomassa e a farinha de ba-nana verde. Estas são utili-zadas para a confeção de bolos, biscoitos e outras mas-sas, substituindo a farinha de trigo. Podemos ainda adi-cionar a biomassa da banana verde em sucos de frutas e vitaminas. Quanto à batata-doce esta é uma fonte de hidratos de car-bono complexos e tem tam-bém baixo índice glicémico, com isso, ajuda a controlar a diabetes e é uma ótima fonte de energia, tanto para treino desportivo como para controlo de peso. Ela é digerida lenta-mente, principalmente se for consumida junto com sua casca. Essa propriedade con-fere saciedade e, como a sua digestão liberta glicose gradualmente, leva a que, por sua vez, a libertação de insulina seja também mais lenta. Evita assim a acumula-ção de gorduras. Possui alto teor de fibras, logo ajuda a controlar o colesterol e tam-bém na manutenção do sis-tema digestivo. É fonte de antioxidantes pois fornece vitaminas A, C e E. Banana e batata-doce ótimos recursos “Madeirenses” para o celíaco. Disfrute do regular funcionamento do sistema di-gestivo usando-os nas suas receitas.

NOADIA LOBÃO

BIOMASSA DE BANANA VERDE

Ingredientes: Cerca de meia panela de água (a quantidade suficiente para cobrir as bananas) 12 bananas verdes imediata-mente após colheita Preparação: Lave as bananas sem tirar o cabo da fruta. Encha a panela de pressão com metade de água e leve ao lume. Quando a água estiver a ferver, colo-que as bananas e tape a panela. Coza durante 10 minutos e deixe a pressão sair naturalmente. Depois disso, escorra a água. Tenha cui-dado ao abrir as bananas para não se queimar. Se preferir, utilize um garfo. Coloque a polpa da fruta sem casca no liquidificador (pode ser necessário um pouco de

água quente) e triture. De seguida coloque a mistura em formas de gelo e a outra metade num frasco de vidro (guarde até sete dias).

Descongelação: No micro-ondas ou à tem-peratura ambiente. De se-guida, aqueça junto com a água do descongelamento e uma xícara (café) de água. Mexa a biomassa sem parar até que se desmanche total-mente. Se quiser apurar o ponto, deixe-a ferver mais, mexendo sem parar. Só nes-sas condições poderá ser le-vada ao liquidificador com 1 xícara (café) de água fer-vente, ou então ao proces-samento sem a água, até virar uma pasta homogênea. Modo de utilização: batida em vitaminas, sumos, caldo de feijão, sopa, patês, massa de pão e bolo, tortas e biscoitos.

RECEITAS DO MÊS

MASSALADAS DE BATATA-DOCE

Ingredientes: 1 quilo de batata doce 1 quilo de farinha (Doves Farm self raising) Fermento de padeiro sem glúten (quantidade para 1 quilo de farinha) 1 litro de leite 6 ovos Sal q.b. Açúcar e canela, mel de cana ou simples q.b. e opcional Preparação: Coze-se a batata-doce com sal. Reserva-se a água da cozedura e rala-se a batata. Num alguidar, deitamos a farinha, a batata cozida, os ovos, o leite e o fermento (desfeito em pouca água da batata). Amassamos tudo muito bem. Tapamos o algui-dar com papel de alumínio e colocamos uma manta por cima. Fica reservado durante

45 minutos. Colocamos uma panela com óleo bem quente para a fritura. Com uma colher de sopa retiramos massa do al-guidar e com ajuda de outra colher deitamos na panela para fritar. Colocam-se as malassadas em cima de papel de cozinha para que a gor-dura excedente seja absor-vida pelo papel. Pode en-costar as malassadas umas às outras, ao alto. Assim ficam sequinhas. No caso de ser principiante a fazer esta receita, convém fritar apenas uma malassada, verificar se o seu interior está cozido e depois monitorizar a fritura a partir daí, conferindo mais ou menos tempo a cada face. Isto evita que o interior da malassada fique cru e que o produto final não seja o desejado. Podem servir-se polvilhadas de açúcar e ca-nela, mel de cana ou simples. Bom apetite!