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SUICÍDIO: UM DESAFIO PARA A SAÚDE MENTAL Luciana França Cescon Psicóloga CRP 98.202 Especialista em Saúde Pública (Atualize) Mestre Profissional em Ensino em Ciências da Saúde (UNIFESP)

Suicídio e saúde mental

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SUICÍDIO: UM DESAFIO

PARA A SAÚDE MENTAL

Luciana França Cescon Psicóloga – CRP 98.202

Especialista em Saúde Pública (Atualize)

Mestre Profissional em Ensino em

Ciências da Saúde (UNIFESP)

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Saúde Mental

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Saúde Mental : campo de conhecimento e de

atuação técnica no âmbito das políticas públicas de

saúde.

Conceito de saúde de acordo com a OMS:

“Estado de

completo bem-

estar físico,

mental e social”.

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O autor faz uma reflexão sobre o

percurso que vai das bases da

psiquiatria – e do manicômio – aos

projetos atuais, que buscam construir

um „novo lugar‟ para as pessoas em

sofrimento mental.

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Séc. IV: Hospital (de hospitalidade, hospedagem) :

instituição de caridade que oferecia abrigo, alimentação e

assistência religiosa aos pobres, mendigos, desabrigados

e doentes. Aos poucos, o hospital transforma-se em instituição

médica.

Loucura com muitos

significados: demônios,

místicos, comédia e

tragédia, erro e verdade.

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Séc. XVII: Hospital Geral – função de ordem social.

“O Grande Enclausuramento”: isolamento e segregação.

Internações determinadas por autoridades reais ou

judiciárias.

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Revolução Francesa – hospital medicalizado.

A intervenção médica passa de eventual para

constante, o que permite agrupar as doenças e

observá-las.

Modelo biomédico da medicina ocidental:

relação com a doença como objeto abstrato e natural,

e não com o sujeito da experiência da doença.

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Philippe Pinel: “pai da Psiquiatria”

Hospital Geral em Paris (1793)

Alienado: alguém de fora, estrangeiro.

Fora de si, fora da realidade ...

Alienare: tornar-se outro.

“Se as causas da alienação mental

estão presentes no meio social, é o

isolamento que permite afastá-las” ...

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Alienismo: pioneiro no estudo do que

hoje conhecemos por “transtornos

mentais”.

“Alienação mental era conceituada como

um distúrbio no âmbito das paixões,

capaz de produzir desarmonia na mente e

na possibilidade objetiva do indivíduo

perceber a realidade”.

(Amarante, 2007, p. 30)

Instituição disciplinar, com regras,

horários e o trabalho terapêutico.

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Ideia de loucura como perda da capacidade de

discernimento entre o erro e a realidade: periculosidade

do louco = atitude social de medo e discriminação.

“Todo alienado

constitui de algum

modo um perigo para

seus próximos, porém

em especial para si

mesmo”.

Kraepelin em 1901, em sua “Primeira

lição da Introdução à Clínica

Psiquiátrica”.

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BRASIL: “O Alienista”, de Machado de Assis - crítica.

"Não se sabia já quem estava são, nem quem estava doido”

Os primeiros asilos ficaram

rapidamente superlotados.

Funções sociais de segregação

de segmentos marginalizados da

população ...

Denúncias de violência contra os

internados ...

Dificuldade de estabelecer os

limites entre a loucura e a

sanidade ...

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Proposta : “Colônias de Alienados”

Séc. VI na Irlanda.

Princesa Dymfna – misto de lenda e

história.

Santa Protetora dos Insanos.

Romarias de familiares e seus loucos,

em busca de uma cura milagrosa.

Famílias pagavam aos aldeãos

para que cuidassem de seus

parentes até a festa do ano

seguinte. Alienados começaram

a trabalhar e a se recuperarem

pelo trabalho.

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Alienistas brasileiros (Início do século XX)

Primeiras colônias brasileiras logo após a Proclamação da

República.

O trabalho seria o “meio terapêutico mais precioso, que

estimulava a vontade e a energia e consolidava a

resistência cerebral fazendo desaparecer os vestígios do

delírio.”

Colônia de Juquery: chegou a ter 16.000 internos.

Logo, as colônias mostram-se iguais aos asilos

tradicionais.

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Depois das Duas Guerras Mundiais: percebe-se que as

condições de vida oferecidas aos pacientes psiquiátricos

não eram diferentes daquelas dos campos de

concentração - absoluta falta de dignidade humana.

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Experiências de reforma:

Comunidade Terapêutica

(Inglaterra – Década de 50)

Proposta de qualificar o hospital

psiquiátrico.

A função terapêutica deveria ser

assumida por todos, fossem

técnicos, pacientes, familiares ...

Democratização das relações.

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Psicoterapia Institucional ou Coletivo Terapêutico

(França)

Ampliação de referenciais teóricos

Acolhimento: importância da equipe e da instituição na

construção de suporte e referência para os internos no

hospital.

Resgate da noção de “trabalho terapêutico”: oficinas de

trabalho ou arte - possibilidades de participação e de

responsabilidade.

Clube Terapêutico: organização autônoma gerida por

pacientes e técnicos, que promovia encontros, festas, passeios ...

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Psiquiatria de Setor

Final dos anos 50 e início dos anos 60.

Necessidade de trabalho externo, de apoio após

alta hospitalar; para evitar reinternações ou novas

internações.

Centros de Saúde Mental (CSM): regionalização.

Vantagens: possibilidade de contatos entre os

internos; contatos entre familiares de pacientes; o

acompanhamento terapêutico poderia ser

realizado pela mesma equipe multiprofissional,

dentro e fora do hospital.

Marco: ideia do trabalho em equipe; o tratamento

deixa de ser visto como exclusividade do

psiquiatra.

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Psiquiatria Preventiva (Saúde Mental Comunitária)

(EUA)

Censo em 1955: precárias condições de assistência,

violência e maus tratos nos hospitais psiquiátricos.

1963: decreto do Presidente Kennedy, para mudanças

na saúde mental.

Objetivo: reduzir as doenças mentais nas comunidades

e promover o estado de saúde mental.

Page 20: Suicídio e saúde mental

Todas as doenças mentais

poderiam ser prevenidas,

desde que detectadas

precocemente.

Uma pessoa suspeita de ter

um distúrbio mental deveria

ser encaminhada a um

psiquiatra para investigação

diagnóstica, por iniciativa

própria, de sua família ou

amigos, de um profissional,

juiz ou superior no trabalho

...

Page 21: Suicídio e saúde mental

Saúde Mental Comunitária: equipes de saúde mental

passam a exercer um papel de consultores comunitários,

identificando e intervindo em crises individuais, familiares

e sociais.

„Desinstitucionalização‟: redução do ingresso de pacientes

em hospitais psiquiátricos; redução do tempo médio de

permanência hospitalar; promoção de altas hospitalares.

Centros de saúde

mental, oficinas

protegidas, lares

abrigados, hospitais-

dia, hospitais-noite,

enfermarias e leitos

em hospitais gerais,

etc.

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Movimentos Antipsiquiatria

Final dos anos 50 na Inglaterra

Ronald Laing e David Cooper: as pessoas ditas loucas

eram oprimidas e violentadas, não apenas nas instituições

psiquiátricas, onde deveriam estar para receber

tratamento, mas também na família e na sociedade.

Antipsiquiatria: termo que

propunha compreender que a

experiência dita patológica

ocorre não no indivíduo na

condição de corpo ou mente

doente, mas nas relações

estabelecidas entre ele e a sociedade.

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Psiquiatria Democrática

(Franco Basaglia – Itália, década de 60)

Serviços substitutivos ao modelo manicomial

Centros de Saúde Mental (CSM) regionalizados: assumiam

a integralidade dos cuidados em saúde mental.

Possibilidades de inclusão social:

cooperativas de trabalho e

construção de residências para

ex-internos.

Produção social: grupos musicais,

de teatro, oficinas de trabalho ...

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Basaglia considerava que a psiquiatria passou a se

ocupar da doença e não do sujeito que a vivencia ...

“Os tratados de psiquiatria classificam as doenças mentais

como sendo objetos da natureza. Analisam os tipos, suas

semelhanças e distinções: „as esquizofrenias dividem-se em

...‟; „são de tantos tipos as neuroses ...‟

Ocuparam-se das doenças e esqueceram-se dos sujeitos

que ficaram apenas como pano de fundo das mesmas.”

(Amarante, 2007, p. 66).

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Reforma Psiquiátrica no Brasil

Início no final da década de 1970, com a mobilização

dos profissionais da saúde mental e dos

familiares de pacientes.

Declaração de Caracas – 1990

Direitos – Lei 10.216 (1991)

Santos tem destaque neste processo –

Intervenção da Casa de Saúde Anchieta (1989)

Serviços de Atenção Psicossocial

Dia Nacional da Luta Antimanicomial – 18 de Maio

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RAPS

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Serviços de Saúde Mental: desinstitucionalização de

pacientes crônicos internados, tratamento de casos

graves, crises ...

“Uma grande parte do sofrimento psíquico menos grave

continua sendo objeto do trabalho de ambulatório e da

Atenção Básica” (Neves, 2012, p. 113).

Apoio matricial :

responsabilização

compartilhada.

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CAPS: Serviços destinados a acolher os

pacientes com transtornos mentais, estimular

sua integração social e familiar, apoiá-los em

suas iniciativas de busca da autonomia,

oferecer-lhes atendimento médico e

psicológico. Busca integrá-los a um ambiente

social e cultural concreto (seu território).

Principal estratégia do processo de reforma

psiquiátrica.

Intervenções terapêuticas:

Projeto terapêutico; atendimento intensivo;

tratamento medicamentoso; atendimentos em

grupos (usuários e familiares); visitas

domiciliares; assembleias, oficinas ...

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Espaços para acolher o sofrimento ...

“Os serviços de saúde devem ter como foco o

sofrimento das pessoas, e não a doença ... Se pudermos

acolher todas as coisas que cada pessoa traz, em uma

escuta atenta, para avaliar o que faz cada pessoa sofrer,

mapear esse sofrimento, isso nos ajudará a criar um Projeto

Terapêutico Singular ... Projeto para projetar o sujeito para o

futuro, uma intervenção que permita limitar o sofrimento e

aumentar a normatividade do sujeito, ou seja, seu campo de

possibilidades”.

- Tykanori, em 2013: Seminário sobre

formação e cuidado em rede, Unifesp.

Ampliar o campo de possibilidades

para quem atua na Saúde Mental.

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Suicídio ...

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Pesquisa “Cuidado, Frágil: aproximações e

distanciamentos de trabalhadores de um CAPS na atenção

ao suicídio”

Serviço de Saúde Mental

Entre outros casos, pessoas que traziam a ideação suicida

ou uma tentativa de suicídio.

Procedimento padrão para

todos os casos: entrevista

de triagem e agendar uma

consulta com o psiquiatra

para a data mais próxima

disponível na agenda (que

poderia ser dali a um ou

três meses depois).

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De maio a dezembro de 2012: 304 casos novos,

50 usuários trazem na triagem a queixa de ideação

suicida ou tentativa de suicídio.

2013 (de janeiro a dezembro) : 524 casos novos,

sendo que destes 65 traziam a queixa de ideação

suicida ou tentativa de suicídio.

115 casos, com 47 destes com tentativa de suicídio..

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Triagem em fevereiro de 2013: Mulher de 52

anos. Diz que tem depressão desde os 20

anos. Queixa-se de insatisfação e muita

tristeza. Refere tentativa de suicídio (não

especificado quando). Fazia tratamento

particular. Avaliação psiquiátrica agendada

para 75 dias depois. Orientada a procurar o

psiquiatra do PS e a participar de Grupo de

Acolhimento no próprio serviço. Não

retornou.

Triagem em dezembro de 2013: Homem de 33

anos. Vem após 30 dias de internação, devido

tentativa de suicídio por ingestão de

medicamentos e enforcamento. Queixa:

sente-se inquieto, insone, crises de pânico.

Tem avaliação psiquiátrica agendada para

116 dias depois. Encaminhado para

psicoterapia fora do serviço. Não retornou.

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Suicídio (OMS): “ato deliberado, intencional, de causar

morte a si mesmo [...]”.

Ideação suicida (considerações sobre a morte e o

morrer), que pode evoluir para um plano suicida e

culminar em um ato suicida, que pode ser fatal (suicídio)

ou não (tentativa de suicídio).

OMS (2000): a cada 40 segundos uma pessoa comete

suicídio no mundo.

O suicídio atinge todas as faixas etárias

e encontra-se, em muitos países, entre

as três principais causas de morte entre

indivíduos de 15 a 44 anos, sendo a

segunda principal causa de morte entre

indivíduos de 10 a 24 anos.

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Brasil: 67a. posição na classificação mundial de

ocorrências

Em números absolutos, encontra-se entre os dez

países com mais suicídios.

Estima-se que no Brasil cerca de vinte e cinco

pessoas tirem a própria vida por dia (CVV, 2013).

Números subestimados, pois alguns suicídios são

considerados e/ou registrados como acidentes e

outros como morte com causa indeterminada.

Para cada suicídio, de cinco a dez pessoas

(familiares, amigos) são fortemente afetadas

social, emocional e economicamente.

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Fatores habitualmente encontrados em pessoas com risco

de comportamentos suicidas (Bertolote, “O suicídio e sua

prevenção”):

Fatores predisponentes

- Tentativa (s) prévia (s) de suicídio

- Transtornos psiquiátricos (principalmente depressão,

alcoolismo, esquizofrenia e certos transtornos de

personalidade

- Doenças físicas (terminais, dolorosas, debilitantes,

incapacitantes, desaprovadas socialmente - como a AIDS)

- História familiar de suicídio, alcoolismo ou outros

transtornos psiquiátricos

- Estado civil divorciado, viúvo ou solteiro

- Isolamento social

- Desempregado ou aposentado

- Luto ou abuso sexual na infância

- Alta recente de internação psiquiátrica

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Fatores ambientais

- Fácil acesso a métodos de suicídio

Estressores recentes

- Separação conjugal

- Luto

- Conflitos familiares

- Mudança de situação empregatícia ou financeira

- Rejeição por parte de pessoa significativa

- Vergonha e temor de ser considerado culpado

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Três características comuns na maioria pessoas sob risco

de suicídio:

1. Ambivalência: Quase sempre querem ao mesmo tempo

alcançar a morte, mas também viver.

2. Impulsividade: o suicídio pode ser também um

ato impulsivo, desencadeado por eventos negativos do dia a

dia.

3. Rigidez/constrição: Pensam de forma

rígida e drástica: “O único caminho é a

morte”; “Não há mais nada o que fazer”;

“A única coisa que poderia fazer era me

matar”.

(Bertolote in “O suicídio e sua prevenção”)

Page 40: Suicídio e saúde mental

- Mito: Quem fala sobre suicídio nunca comete suicídio.

-Realidade: Os pacientes que cometeram suicídio em geral

deram avisos ou sinais de sua intenção. Qualquer ameaça

deve ser levada a sério.

- Mito: Falar sobre suicídio com um paciente pode provocar

um comportamento suicida.

-Realidade: Falar sobre suicídio em geral reduz a ansiedade

ligada a esse tema, o que pode fazer que o paciente se sinta

compreendido e aliviado.

- Mito: A ideia comum de que a ameaça de suicídio é feita

apenas para manipular as pessoas ou chamar a atenção.

-Realidade: Entende-se que uma ameaça de suicídio sempre

deve ser levada a sério. Chegar a esse tipo de recurso indica

que a pessoa está sofrendo e necessita de ajuda.

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É importante estar atento às frases de alerta como: “Eu

preferia estar morto”; “Eu não posso fazer nada”; “Eu não

aguento mais”; “Eu sou um perdedor e um peso pros

outros”; “Os outros vão ser mais felizes sem mim”. Por trás

delas podem estar sentimentos de pessoas que podem estar

pensando em suicídio.

São quatro os sentimentos principais de quem pensa em

se matar: depressão, desesperança, desamparo e desespero

(regra dos 4D).

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Solomon (2014), jornalista, a partir de sua própria experiência com

a depressão, propõe no livro “O demônio do meio-dia” uma

classificação que divide os principais perfis suicidas em quatro

grupos: 1) aqueles que cometem suicídio sem pensar, pessoas

impulsivas e mais propensas ao suicídio por um evento externo

específico;

2) aqueles que cometem suicídio como vingança, desejando não o

fim da existência, mas o desaparecimento;

3) Aqueles que cometem suicídio

considerando a morte como única

fuga possível para problemas

insuportáveis; estes costumam

considerar também que sua morte

vai tirar o peso de sua condição para

as pessoas que a amam;

4) Pessoas que cometem o suicídio com um tipo de lógica

racional, devido a doenças físicas ou mudanças de

circunstâncias de vida; “acreditam que a dor de viver não

compensa”.

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Em dez anos, suicídio de crianças e pré-

adolescentes cresceu 40% no Brasil

http://saude.ig.com.br/minhasaude/2014-09-10/em-

dez-anos-suicidio-de-criancas-e-pre-adolescentes-

cresceu-40-no-brasil.html

“Dados do Mapa da Violência, do

Ministério da Saúde. De 2002 a 2012 houve

um crescimento de 40% da taxa de

suicídio entre crianças e pré-adolescentes

com idade entre 10 e 14 anos. Na faixa

etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de

33,5%.

„Ao contrário do adulto, que normalmente

planeja a ação, o adolescente age no

impulso. São comportamentos suicidas

para fugir de determinada situação que

vez ou outra acabam mesmo em morte‟,

afirma a psiquiatra Maria Fernanda Fávaro. ”

Page 44: Suicídio e saúde mental

PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: Manual para Professores e Educadores

"Quando possível, a melhor abordagem para a prevenção do suicídio na escola

é a elaboração de um trabalho em grupo que inclui professores,

médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais da própria escola,

trabalhando em conjunto com agentes da comunidade.

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Não é porque os casos de tentativa de suicídio e ideação

suicida são encaminhados para a Saúde Mental que podemos

dizer que todos se relacionam à transtornos psiquiátricos.

Hillman ( in “Suicídio e Alma”, 2011, p. 24): “Como qualquer

golpe do destino – amor, tragédia, glória – somente quando é

distorcido, quando forma parte de uma síndrome psicótica é que

o suicídio torna-se um caso para o psiquiatra. Em si mesmo, o

suicídio não é nem síndrome, nem sintoma. [...] o suicídio [...]

poderia aparecer, e de fato aparece, dentro do curso normal de

qualquer vida”.

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Eliane Brum (2013), no texto “O doping dos pobres:

As pessoas estão sendo viciadas em ansiolíticos nos postos

de saúde, afirma uma psicóloga. „São levadas a acreditar que

o remédio pode acabar com a sua dor, uma dor que tem

causas muito concretas. Não resolve, claro. Um exemplo. Uma

mulher tinha dois empregos, um de dia, outro de noite. O que

ganhava não dava para pagar as contas. Os ônibus que

pegava para chegar até esses empregos eram lotados. Ela

vivia num barraco. Aí procurou o posto de saúde e lhe

trataram com antidepressivos. Não adiantou. Deram-lhe outro

medicamento. Nada. Um dia, sem nenhuma esperança ou

recurso, ela tentou suicídio‟, conta. A questão é que não há

promoção de saúde, porque isso implicaria se preocupar com

projeto de vida, com perspectiva de vida, com melhoria das

condições de vida. O que há é medicalização da vida‟.

Page 47: Suicídio e saúde mental

“Eu tive uma experiência [...] que marcou assim, a certeza do

desejo do suicídio. Não era uma pessoa psicótica, não tinha

nenhum quadro psicótico, e foi um desespero social, de não ter

mais emprego, de não ter mais como levar comida pra casa, e

essa pessoa tentou suicídio esfaqueando o abdômen, e foi pra

UTI e assim que ele recobrou a consciência, ele com as próprias

mãos arrebentou os pontos ... Pra „retentar‟ o suicídio. Então eu

digo que são vários suicídios. Que alguns que eu já vi nessa

história de Saúde Mental, algumas tentativas, a pessoa referindo

um arrependimento posterior, e esse não tinha o

arrependimento, tinha o desejo marcante dele, por ele tentar com

as próprias mãos dentro de uma UTI. [Era] um homem, um pai de

família com desemprego há muito tempo. É, tem muito a ver eu

acho com o homem como provedor, esse papel que ele tem na

sociedade, de prover a família, então perde o sentido, né, ele não

deve se achar mais ninguém, e tenta ser ninguém dessa forma

brusca. [...] Depois ele seguiu no NAPS e o pessoal da

Assistência Social conseguiu lá uma colocação pra ele e aí ele

foi saindo desse quadro pela questão social, não era uma

questão psiquiátrica em si, né. Acabou sendo.” – Entrevistada

Nem tudo é apenas psicopatologia!

Page 48: Suicídio e saúde mental

Dr. Edwin Schneidman, responsável pela abertura do primeiro centro de

prevenção ao suicídio nos Estados Unidos em 1958, diz:

'Atualmente, o suicídio é identificado como um tipo de depressão, o que

intelectualmente vem da Psiquiatria do século XIX. [...] Eu acredito que existe

uma enorme quantidade de dor psicológica no mundo sem suicídio, mas não

há suicídio sem uma enorme dor psicológica.

O nome dessa dor é dor psíquica, ou seja, localizada na mente do indivíduo. É

a dor da emoção negativa como vergonha e solidão. O suicídio é um estado

de perturbação aguda, a pessoa está infeliz sobre o status quo e quer

modificá-lo, portanto, o ato é um esforço no sentido de parar o fluxo da dor.

Minha abordagem clínica não é estabelecer um diagnóstico psiquiátrico, nem

mesmo saber seu histórico familiar. Ambos são importantes, mas não são

centrais. O foco é responder a duas perguntas: 'onde dói?' e 'como posso

ajudá-lo?'. A maneira de prevenir o suicídio é identificar a fonte da dor, depois

endereçá-la corretamente. O suicídio não é uma doença do cérebro, é uma

perturbação da mente, uma tempestade psicológica".

In: Suicídio: o futuro interrompido - Guia para sobreviventes, de Paula

Fontenelle.

Page 49: Suicídio e saúde mental

As intervenções em

saúde mental deveriam

considerar a

especificidade dessa

demanda e promover

possibilidades de

modificar e qualificar as

condições e modos de

vida desses sujeitos,

tendo como foco a

qualidade de vida e de

saúde e não se

restringindo à cura de

doenças.

90% dos casos de

suicídio poderiam ser

evitados se houvesse

uma rede de atendimento

adequado essas pessoas

(CVV, 2013).

Page 50: Suicídio e saúde mental

"Em síntese, podemos dizer que os elementos básicos do

atendimento de uma pessoa em crise suicida são:

• ouvir. Em geral, precisa-se ouvir muito, pois o paciente necessita

falar sobre seus pensamentos e sentimentos.

• aceitação dos próprios sentimentos, incluindo-se tolerância à

ambivalência (coexistência de sentimentos opostos). O

profissional deve se aliar à parte do paciente que deseja

sobreviver; • um ponto de apoio, como uma boia a qual a dupla terapeuta/

paciente possa tomar fôlego e começar a organizar o caos

emocional. Um ponto de esperança, poderíamos também dizer."

Detecção do risco de suicídio nos serviços de emergência psiquiátrica

- José Manoel Bertolote, Carolina de Mello-Santos e Neury José Botega.

- ´

Page 51: Suicídio e saúde mental

SÍNTESE:

VÍDEO

SOBREVIVÊNCIAS

– O SUICÍDIO SEM TABU

https://www.youtube.com/wa

tch?v=r-nMzrlAZKA

Page 52: Suicídio e saúde mental
Page 53: Suicídio e saúde mental

Conteúdo do curso Pós em Saúde Mental

PPSSM - Políticas Públicas Sociais de Saúde Mental

PDH - Psicologia do Desenvolvimento Humano

FHPS - Fundamentos Históricos do Processo Saúde - Doença

Mental e Sociedade

EB - Ética e Bioética

MPC - Metodologia de Pesquisa Científica

LSM - Legislação em Saúde Mental

DASM - Diagnóstico e Avaliação em Saúde Mental

BCRP - Bases Conceituais da Reforma Psiquiatrica

DASM - Diagnóstico e Avaliação em Saúde Mental

APUAD - Atenção Psicossocial de Uso de Álcool e Drogas

SMIA - Saúde Mental na Infância e Adolescência

EIT - Emergências e Intervenções Terapêuticas

SMIA - Saúde Mental na Infância e Adolescência

ART - Assistência e Recursos Terapêuticos

EASM - Epidemiologia Aplicada a Saúde Mental

RP - Reabilitação Psicossocial

Page 54: Suicídio e saúde mental

Saúde Mental também é uma busca incessante ...

Por vários caminhos ...

Onde sempre se deve procurar

“ampliar seu campo de possibilidades”.

Page 56: Suicídio e saúde mental

“Conheça todas as teorias,

domine todas as técnicas,

mas ao tocar uma alma humana,

seja apenas outra alma humana.”

- Carl G. Jung