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Agravo regimental-dilma-paulo-salerno-1

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO TEORI ALBINO ZAVASCKI DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Agravo regimental

Habeas Corpus 134315

“Judas teve o melhor Pastor o melhor Mestre

o melhor Líder o melhor Sábioo melhor Amigo

E mesmo assim fracassou. O problema nem sempre é com a liderança.”

PAULO RICARDO SALERNO, devidamente qualificado nos

autos em epígrafe, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,

tempestivamente, tendo em vista a negativa do seguimento do habeas corpus epigrafado

apresentar AGRAVO REGIMENTAL com supedâneo na preceituação ínsita no artigo

317 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, requerendo o seu regular

processamento, caso não haja juízo de retratação.

DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE DA DECISÃO

AGRAVADA

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Para o conhecimento do agravo regimental é mister que se faça

impugnação especifica da decisão agravada sem repetir simplesmente os argumentos

que foram rejeitados por ela. É o que se fará a seguir

O writ teve seguimento negado sob o seguinte argumento, in verbis:

“No caso, insurge-se o impetrante contra

processo de impeachment, que tramitou na Câmara dos Deputados, a

partir do qual poder-se-ia cominar sanções de natureza político-

administrativa. Bem se percebe, portanto, que a insurgência a que se

opõe o impetrante, em rigor, diz respeito a eventual obstáculo ao

exercício de direitos políticos e não ao direito de ir e vir. Certamente é

impróprio, para esse escopo, o presente habeas corpus, cuja finalidade

constitucional é a da proteção do indivíduo contra qualquer ato

limitativo ao direito de locomoção (CF, art. 5º, LXVIII)”

O argumento parece poderoso e definitivo, mas não o é, em primeiro

lugar, toda imputação de crime pode ser coartada pela via de habeas corpus, seja de

responsabilidade ou não. A dois, porque pensar de modo diverso é o mesmo que admitir

que crime não é crime o que de certo faz parte de nossa cultura bacharelesca autoritária,

mas é questão de lata indagação. A três, argumento principal, porque embutido no

suposto crime de responsabilidade há a intenção concreta de responsabilizar a paciente

por crime comum sendo o pretexto legal apenas um atalho.

Lê-se no pedido de impeachment, verbis:

“Parte dos fatos objeto do presente feito pode constituir, além de

crimes de responsabilidade, crimes comuns. A Procuradoria

Geral da República já está de posse de representação pelos

crimes comuns contrários à fé pública e às finanças públicas. Por

razões desconhecidas dos ora subscritores, a representação ainda

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não foi avaliada pelo Procurador Geral da República, Dr.

Rodrigo Janot, recém-reconduzido ao cargo”.

E mais:

“Todavia, a possível ocorrência de crime comum não inviabiliza

o processo por crime de responsabilidade. Muito ao contrário, a

existência de crimes comuns apenas reforça a necessidade de se

punir a irresponsabilidade. Em primeiro lugar, tem-se que a

Constituição Federal, a lei e a doutrina não afastam a possibilidade

de dupla punição (por infração política e também penal) e, em

segundo lugar, diante da inércia da autoridade competente para

fazer apurar o crime comum, ainda mais legítimo rogar a esta

Egrégia Casa que assuma seu papel constitucional. É o que ora se

requer!” (sublinhei)

Assim, se vê que o pedido de impeachment crê na possibilidade de

delirantes crimes de responsabilidade sejam também indícios concretos de crime

comum, razão maior para acolhida deste habeas corpus, pois a ameaça do direito

de locomoção é concreta. Eles querem o impeachment por crime de

responsabilidade para mais a frente imputarem crime comum.

“Não obstante, cumpre relembrar a natureza política do processo

de Impeachment, para que os membros desta Casa saibam que,

embora vinculados pelos estritos termos da Lei e da Constituição

Federal, diversamente do juiz criminal, têm o poder e o dever de

analisar todo o contexto fático e não apenas os elementos

objetivamente trazidos à apreciação, na denúncia”.

Como se vê, o pedido de impeachment vai mais além, ao considerar que

políticos são juízes supremos porque são juízes que tem todos os fatos, aliás, estes

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“juízes” tem toda a imprensa pressionando e acham que estes juízes podem criminalizar

mais que um juiz criminal. Mas parlamentares não julgam, tomam decisão de poder,

que nada tem a ver com a lei, no máximo justificam as decisões para agradar seus

eleitores. I s t o é p o l í t i c a.

Se o impeachment é jurídico, antes de tudo não se pode “julgá-lo”, só

politicamente em primeiro lugar pois não há espaço para justiça, seja em que

termos forem que a qualifiquemos em se tratando de política. Julgamento político

nunca é julgamento. A política, é por natureza injusta, do mesmo modo que a guerra é

a continuação da política disfarçada e regrada, mas ainda sim, guerra. A política tem a

ver com o poder, obviamente e contra o poder de nada valem os argumentos, como na

fábula do “lobo e o cordeiro”.

Em sendo assim, sendo o pedido de impeachment pretexto para a punição

também por crime comum, o wirt deve ser conhecido máxime porque se há alguma

falha no mesmo por economia processual o mandamus deve ser conhecido. Sim, de fato

devido a economia processual e a gravidade da situação melhor emendar a inicial

do que propor no habeas corpus.

DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS

Homenageado o princípio da dialeticidade passemos a analisar o

cabimento do habeas pelo ângulo mais restrito, como posto pela decisão agravada.

É cabível habeas corpus em se tratando de crime de responsabilidade

como se verifica por acórdão lapidar da nossa mais alta corte infraconstitucional

PROCESSUAL PENAL. CRIME DE

RESPONSABILIDADE DE PREFEITO. DECRETO-LEI 201/67.

NEGATIVA DE EXECUÇÃO À LEI FEDERAL. 1. INÉPCIA DA

DENÚNCIA. OCORRÊNCIA. NARRATIVA INSUFICIENTE DOS

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FATOS. 2. RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA. OCORRÊNCIA.

CONTAS REJEITADAS PELO TRIBUNAL DE CONTAS DO

ESTADO. IRRELEVÂNCIA. NECESSIDADE DE

INDIVIDUALIZAÇÃO DA CONDUTA. 3. ORDEM CONCEDIDA

PARA ANULAR A DENÚNCIA.

1. É inepta a denúncia que não descreve o fato delituoso

em todas as suas circunstâncias.

2. O mero fato de ter o prefeito as contas referentes a

período de sua gestão rejeitadas pelo Tribunal de Consta do Estado

não é suficiente à verificação do tipo penal, impondo-se a

individualização da conduta, sob pena de responsabilização objetiva.

3. Ordem concedida para anular a denúncia.

(Habeas Corpus nº 48700/SP (2005/0167049-5), 6ª

Turma do STJ, Rel. Maria Thereza de Assis Moura. j. 04.10.2007,

unânime, DJ 25.02.2008).

No Direito Penal brasileiro o constrangimento

ilegal, descrito no art. 146 do código penal brasileiro, dentro do capítulo que trata dos

crimes contra a liberdade individual é um tipo penal que vem assim descrito pelo

legislador:

Legislação Art. 146 - Constranger alguém, mediante

violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a

capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não

manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Aumento de pena § 1º - As

penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se

reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. § 2º - Além das penas cominadas,

aplicam-se as correspondentes à violência. § 3º - Não se compreendem na disposição

deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou

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de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação

exercida para impedir suicídio.

Douto Julgador, o objeto jurídico deste dispositivo legal existe

para proteger a autodeterminação das pessoas, a liberdade que

elas têm de não serem obrigadas a fazer ou deixar de fazer

algo, senão em virtude de Lei.

O sujeito passivo deve ser qualquer pessoa que tenha

autodeterminação, e que se veja forçada a realizar ou a ser abster de determinada

conduta pela ação do agente. O agente pode ser qualquer pessoa que impeça o

exercício da liberdade individual de outrem.

Ressalte-se que se a conduta for realizada por

funcionário público no exercicio de suas funções, estaremos diante de outro crime,

chamado abuso de poder.

O núcleo do tipo penal é evitar uma conduta lícita

utilizando vis corporalis ou vis compulsiva (violência corporal e ameaça,

respectivamente), bem como qualquer outro meio que venha a impedir ou dificultar a

resistência da vítima. A violência pode ser dirigida à própria vítima, à terceiros ou a

objetos, desde que efetivamente impeçam a lícita realização ou abstenção pretendida

pela vítima. Este tipo penal admite tentativa.

Será qualificado o constrangimento ilegal quando a

execução do crime contar com 4 ou mais pessoas.....

O tipo penal sob o nome jurídico de constrangimento

ilegal, conforme o artigo 146, é facilmente definido como sendo o constrangimento

dirigido a outrem, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido,

por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite,

ou a fazer o que ela não manda. É delito explicitamente ligado ao princípio da

legalidade, ou da reserva legal: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer

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alguma coisa senão em virtude da lei, consoante o artigo 5º, II, da Lei Maior. A

ação nuclear do tipo penal é a de constranger, isto é, obrigar ou forçar alguém a praticar

alguma coisa. Note que, pela redação do dispositivo, o constrangimento deve-se

apresentar como ilegal, porque há constrangimentos que são legais – isto é: que a lei

prevê. Assim, a fim de que o constrangimento apresente-se ilegal é preciso que o coator

não tenha o direito de exigir da vítima a realização ou não de determinado

comportamento.

Abuso de poder é o acto ou efeito de impôr a vontade de

um sobre a de outro, tendo por base o exercício do poder, sem considerar as leis

vigentes. A democracia directa é um sistema que se opõe a este tipo de atitude. O abuso

de poder pode se dar em diversos níveis de poder, desde o doméstico entre os membros

de uma mesma família, até aos níveis mais abrangentes. O poder exercido pode ser o

económico, político ou qualquer outra forma a partir da qual um indivíduo ou

coletividade têm influência directa sobre outros. O abuso caracteriza-se pelo uso

ilegal ou coercivo deste poder para atingir um determinado fim. O expoente máximo do

abuso do poder é a submissão de outrem às diversas formas de escravidão. Poder A

noção de poder envolve aspectos mais amplos e complexos do que o mero exercício da

autoridade sobre outrem. O poder pode ser exercido desde às formas mais sutis até aos

níveis mais explícitos e comumente identificáveis. Assim sendo, caracterizar o abuso de

poder deixa de ser uma tarefa de simples identificação da ação do forte sobre o fraco,

passando a considerar que o poder, em determinadas situações e circunstâncias, muda de

mãos e ganha nuances implícitas, que dificultam a identificação do abuso do mesmo.

Uma pessoa em situação desvantajosa que saiba identificar em que aspectos tem poder,

pode usar de artifícios abusivos para sair da posição desvantajosa. Isso pode ser

facilmente identificado em países democráticos, nos quais os direitos das minorias são

salvaguardados e que indivíduos pertencentes a estas minorias aproveitam-se do

argumento do politicamente correto para neutralizar seus adversários em questões

jurídicas, por exemplo. Nestes casos, o direito adquirido legitimamente e

ideologicamente correto, aceite socialmente, passa a ser uma forma de poder nas mãos

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de quem o detém. Poder este que pode ser exercido da forma genuína ou da forma

abusiva, dependendo do caso.

Político: O uso da autoridade legítima ou da influência

para sobrepujar o mais fraco de modo ilegítimo.

Sr. Ministro, JUSTIÇA, CONSTITUIÇÃO, SOBERANIA SÃO

coisas sérias

“........... a liberdade que elas têm de não serem obrigadas a fazer

ou deixar de fazer algo, senão em virtude de Lei.”

A Sra DILMA Roussef, sofre constrangimento ilegal, descrito

no art. 146 do código penal brasileiro, quando pelo julgamento da continuidade do

impeachment deixa ou é obrigada a fazer algo que não quer.

O país esta em crise, talvez a maior já vista por nós brasileiros,

mas isso não propicia a ultrapassarmos os limites legais, a julgar sem critérios previstos

na nossa Carta Magna.

Conclusão:

Estes são os fatos do caso eles não estão em discussão:

A paciente está sendo processada por um fato atípico e sendo vítima

de um movimento usurpador, que conspira para usurpar violentamente para com a democracia instalada a partir das “diretas já” e com o governo de Dilma.

O impeachment promovido contra a paciente é inteiramente político

o que inadmissível, pois antes de tudo ele tem que ser jurídico.

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DO PEDIDO

O julgamento por crime de responsabilidade é meio para apurar o crime

comum e assim há ameaça ao direito de locomoção da paciente e não visa o pseudo

julgamento somente a perda do cargo eletivo. Lado outro o fato é atípico e o a usurpação

política pretendida constitui constrangimento ilegal. Por tudo isto imperativo a reforma

da decisão, a concessão da liminar pleiteada na inicial e a continuidade do epigrafado

writ como medida da mais lídima JUSTIÇA.

Porto Alegre, 19 de maio de 2016

Nestes termos pede

e espera deferimento.

PAULO RICARDO SALERNOemail: [email protected]

Fone: 051 99530301