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Um sistema estatal de participação social?

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Textos de Augusto de Franco publicados no Facebook, entre maio e setembro de 2014, sobre o Decreto 8.243/2014 que institui a Política Nacional de Participação Social - PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social - SNPS, e dá outras providências

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O DECRETO DE DILMA PARA DISCIPLINAR A

SOCIEDADE

Publico abaixo a íntegra do decreto. Vou comentar mais tarde, ponto por

ponto. Mas não do ponto de vista da conservação da estrutura

representativa da democracia que temos (como fez o editorial de hoje do

jornal O Estado de São Paulo) e sim do ponto de vista da dinâmica

interativa das novas formas de democracia que estão emergindo na

sociedade-em-rede.

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O decreto é um atestado de que o partido do governo está, do ponto de

vista prático, pelo menos, duas décadas no passado, pretendendo não

apenas promover mas instituir e regular o participacionismo assembleísta

(a mesma velha vibe dos orçamentos participativos) e, do ponto de vista

teórico, um século atrás do tempo que vivemos.

O objetivo é instituir novas instâncias para nelas conquistar maioria,

fazendo então prevalecer as orientações partidárias. Tudo isso evoca as

correias de transmissão pretendidas pelo marxismo-leninismo (inclusive

pelo trotskismo) e nos remete a um debate travado há um século (no

início da segunda década do século 20) sobre o assunto.

É sempre o mesmo velho truque do controle social ou civil, por meio do

qual o partido do governo aparelha organizações compostas por pessoas

da sociedade (com o objetivo de ensejar a participação cidadã e exercer o

controle social) legitimando as suas diretivas.

Percebe-se no decreto, claramente, a intenção de cercar a

institucionalidade vigente com organismos arrebanhados e

hegemonizados pelo partido-governo. Quer legalizar a danosa prática de

pesca em aquário, organizando instâncias onde a militância poderá, sem

grande dificuldade, dar a linha e a direção dos trabalhos. É, assim, parte

do conducionismo pressuposto na estratégia de conquista da hegemonia

da esquerda autocrática: ganhar eleições, conquistar maioria em todas as

instâncias do Estado, criar novas instâncias regidas por modos de

regulação que geram artificialmente escassez e dirigidas pelo partido do

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4

governo, subordinar a sociedade à lógica do Estado e, então, estabelecer

hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado.

Trata-se, entretanto, de norma inútil. As pessoas que interagem nas novas

manifestações do século 21 não vão estar nem aí para uma lei que quer

disciplinar a sua interação.

EIS A ÍNTEGRA DO DECRETO REGRESSIVO

Decreto 8243/14 | Decreto nº 8.243, de 23 de maio de 2014

Publicado por Presidência da Republica - 6 dias atrás

Institui a Política Nacional de Participação Social - PNPS e o Sistema

Nacional de Participação Social - SNPS, e dá outras providências.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o

art. 84, caput, incisos IV e VI, alínea a, da Constituição, e tendo em vista o

disposto no art. 3º, caput, inciso I, e no art. 17 da Lei nº 10.683, de 28 de

maio de 2003, DECRETA:

Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Participação Social - PNPS, com

o objetivo de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias

democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração

pública federal e a sociedade civil.

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Parágrafo único. Na formulação, na execução, no monitoramento e na

avaliação de programas e políticas públicas e no aprimoramento da gestão

pública serão considerados os objetivos e as diretrizes da PNPS

Art. 2º Para os fins deste Decreto, considera-se:

I - sociedade civil - o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais

institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas

organizações;

II - conselho de políticas públicas - instância colegiada temática

permanente, instituída por ato normativo, de diálogo entre a sociedade

civil e o governo para promover a participação no processo decisório e na

gestão de políticas públicas;

III - comissão de políticas públicas - instância colegiada temática, instituída

por ato normativo, criada para o diálogo entre a sociedade civil e o

governo em torno de objetivo específico, com prazo de funcionamento

vinculado ao cumprimento de suas finalidades;

IV - conferência nacional - instância periódica de debate, de formulação e

de avaliação sobre temas específicos e de interesse público, com a

participação de representantes do governo e da sociedade civil, podendo

contemplar etapas estaduais, distrital, municipais ou regionais, para

propor diretrizes e ações acerca do tema tratado;

V - ouvidoria pública federal - instância de controle e participação social

responsável pelo tratamento das reclamações, solicitações, denúncias,

sugestões e elogios relativos às políticas e aos serviços públicos, prestados

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6

sob qualquer forma ou regime, com vistas ao aprimoramento da gestão

pública;

VI - mesa de diálogo - mecanismo de debate e de negociação com a

participação dos setores da sociedade civil e do governo diretamente

envolvidos no intuito de prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais;

VII - fórum interconselhos - mecanismo para o diálogo entre

representantes dos conselhos e comissões de políticas públicas, no intuito

de acompanhar as políticas públicas e os programas governamentais,

formulando recomendações para aprimorar sua intersetorialidade e

transversalidade;

VIII - audiência pública - mecanismo participativo de caráter presencial,

consultivo, aberto a qualquer interessado, com a possibilidade de

manifestação oral dos participantes, cujo objetivo é subsidiar decisões

governamentais;

IX - consulta pública - mecanismo participativo, a se realizar em prazo

definido, de caráter consultivo, aberto a qualquer interessado, que visa a

receber contribuições por escrito da sociedade civil sobre determinado

assunto, na forma definida no seu ato de convocação; e

X - ambiente virtual de participação social - mecanismo de interação social

que utiliza tecnologias de informação e de comunicação, em especial a

internet, para promover o diálogo entre administração pública federal e

sociedade civil.

Page 7: Um sistema estatal de participação social?

7

Parágrafo único. As definições previstas neste Decreto não implicam na

desconstituição ou alteração de conselhos, comissões e demais instâncias

de participação social já instituídos no âmbito do governo federal.

Art. 3º São diretrizes gerais da PNPS:

I - reconhecimento da participação social como direito do cidadão e

expressão de sua autonomia;

II - complementariedade, transversalidade e integração entre mecanismos

e instâncias da democracia representativa, participativa e direta;

III - solidariedade, cooperação e respeito à diversidade de etnia, raça,

cultura, geração, origem, sexo, orientação sexual, religião e condição

social, econômica ou de deficiência, para a construção de valores de

cidadania e de inclusão social;

IV - direito à informação, à transparência e ao controle social nas ações

públicas, com uso de linguagem simples e objetiva, consideradas as

características e o idioma da população a que se dirige;

V - valorização da educação para a cidadania ativa;

VI - autonomia, livre funcionamento e independência das organizações da

sociedade civil; e

VII - ampliação dos mecanismos de controle social.

Art. 4º São objetivos da PNPS, entre outros:

I - consolidar a participação social como método de governo;

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8

II - promover a articulação das instâncias e dos mecanismos de

participação social;

III - aprimorar a relação do governo federal com a sociedade civil,

respeitando a autonomia das partes;

IV - promover e consolidar a adoção de mecanismos de participação social

nas políticas e programas de governo federal;

V - desenvolver mecanismos de participação social nas etapas do ciclo de

planejamento e orçamento;

VI - incentivar o uso e o desenvolvimento de metodologias que

incorporem múltiplas formas de expressão e linguagens de participação

social, por meio da internet, com a adoção de tecnologias livres de

comunicação e informação, especialmente, softwares e aplicações, tais

como códigos fonte livres e auditáveis, ou os disponíveis no Portal do

Software Público Brasileiro;

VII - desenvolver mecanismos de participação social acessíveis aos grupos

sociais historicamente excluídos e aos vulneráveis;

VIII - incentivar e promover ações e programas de apoio institucional,

formação e qualificação em participação social para agentes públicos e

sociedade civil; e

IX - incentivar a participação social nos entes federados.

Art. 5º Os órgãos e entidades da administração pública federal direta e

indireta deverão, respeitadas as especificidades de cada caso, considerar

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9

as instâncias e os mecanismos de participação social, previstos neste

Decreto, para a formulação, a execução, o monitoramento e a avaliação

de seus programas e políticas públicas.

§ 1º Os órgãos e entidades referidos no caput elaborarão, anualmente,

relatório de implementação da PNPS no âmbito de seus programas e

políticas setoriais, observadas as orientações da Secretaria-Geral da

Presidência da República.

§ 2º A Secretaria-Geral da Presidência da República elaborará e publicará

anualmente relatório de avaliação da implementação da PNPS no âmbito

da administração pública federal.

Art. 6º São instâncias e mecanismos de participação social, sem prejuízo

da criação e do reconhecimento de outras formas de diálogo entre

administração pública federal e sociedade civil:

I - conselho de políticas públicas;

II - comissão de políticas públicas;

III - conferência nacional;

IV - ouvidoria pública federal;

V - mesa de diálogo;

VI - fórum interconselhos;

VII - audiência pública;

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VIII - consulta pública; e

IX - ambiente virtual de participação social.

Art. 7º O Sistema Nacional de Participação Social - SNPS, coordenado pela

Secretaria-Geral da Presidência da República, será integrado pelas

instâncias de participação social previstas nos incisos I a IV do art. 6º deste

Decreto, sem prejuízo da integração de outras formas de diálogo entre a

administração pública federal e a sociedade civil.

Parágrafo único. A Secretaria-Geral da Presidência da República publicará

a relação e a respectiva composição das instâncias integrantes do SNPS.

Art. 8º Compete à Secretaria-Geral da Presidência da República:

I - acompanhar a implementação da PNPS nos órgãos e entidades da

administração pública federal direta e indireta;

II - orientar a implementação da PNPS e do SNPS nos órgãos e entidades

da administração pública federal direta e indireta;

III - realizar estudos técnicos e promover avaliações e sistematizações das

instâncias e dos mecanismos de participação social definidos neste

Decreto;

IV - realizar audiências e consultas públicas sobre aspectos relevantes para

a gestão da PNPS e do SNPS; e

V - propor pactos para o fortalecimento da participação social aos demais

entes da federação.

Page 11: Um sistema estatal de participação social?

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Art. 9º Fica instituído o Comitê Governamental de Participação Social -

CGPS, para assessorar a Secretaria-Geral da Presidência da República no

monitoramento e na implementação da PNPS e na coordenação do SNPS.

§ 1º O CGPS será coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da

República, que dará o suporte técnico-administrativo para seu

funcionamento.

§ 2º Ato do Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência

da República disporá sobre seu funcionamento.

Art. 10. Ressalvado o disposto em lei, na constituição de novos conselhos

de políticas públicas e na reorganização dos já constituídos devem ser

observadas, no mínimo, as seguintes diretrizes:

I - presença de representantes eleitos ou indicados pela sociedade civil,

preferencialmente de forma paritária em relação aos representantes

governamentais, quando a natureza da representação o recomendar;

II - definição, com consulta prévia à sociedade civil, de suas atribuições,

competências e natureza;

III - garantia da diversidade entre os representantes da sociedade civil;

IV - estabelecimento de critérios transparentes de escolha de seus

membros;

V - rotatividade dos representantes da sociedade civil;

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VI - compromisso com o acompanhamento dos processos conferenciais

relativos ao tema de sua competência; e

VII - publicidade de seus atos.

§ 1º A participação dos membros no conselho é considerada prestação de

serviço público relevante, não remunerada.

§ 2º A publicação das resoluções de caráter normativo dos conselhos de

natureza deliberativa vincula-se à análise de legalidade do ato pelo órgão

jurídico competente, em acordo com o disposto na Lei Complementar nº

73, de 10 de fevereiro de 1993.

§ 3º A rotatividade das entidades e de seus representantes nos conselhos

de políticas públicas deve ser assegurada mediante a recondução limitada

a lapso temporal determinado na forma dos seus regimentos internos,

sendo vedadas três reconduções consecutivas.

§ 4º A participação de dirigente ou membro de organização da sociedade

civil que atue em conselho de política pública não configura impedimento

à celebração de parceria com a administração pública.

§ 5º Na hipótese de parceira que envolva transferência de recursos

financeiros de dotações consignadas no fundo do respectivo conselho, o

conselheiro ligado à organização que pleiteia o acesso ao recurso fica

impedido de votar nos itens de pauta que tenham referência com o

processo de seleção, monitoramento e avaliação da parceria.

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Art. 11. Nas comissões de políticas públicas devem ser observadas, no

mínimo, as seguintes diretrizes:

I - presença de representantes eleitos ou indicados pela sociedade civil;

II - definição de prazo, tema e objetivo a ser atingido;

III - garantia da diversidade entre os representantes da sociedade civil;

IV - estabelecimento de critérios transparentes de escolha de seus

membros; e

V - publicidade de seus atos.

Art. 12. As conferências nacionais devem observar, no mínimo, as

seguintes diretrizes:

I - divulgação ampla e prévia do documento convocatório, especificando

seus objetivos e etapas;

II - garantia da diversidade dos sujeitos participantes;

III - estabelecimento de critérios e procedimentos para a designação dos

delegados governamentais e para a escolha dos delegados da sociedade

civil;

IV - integração entre etapas municipais, estaduais, regionais, distrital e

nacional, quando houver;

V - disponibilização prévia dos documentos de referência e materiais a

serem apreciados na etapa nacional;

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VI - definição dos procedimentos metodológicos e pedagógicos a serem

adotados nas diferentes etapas;

VII - publicidade de seus resultados;

VIII - determinação do modelo de acompanhamento de suas resoluções; e

IX - indicação da periodicidade de sua realização, considerando o

calendário de outros processos conferenciais.

Parágrafo único. As conferências nacionais serão convocadas por ato

normativo específico, ouvido o CGPS sobre a pertinência de sua

realização.

Art. 13. As ouvidorias devem observar as diretrizes da Ouvidoria-Geral da

União da Controladoria-Geral da União nos termos do art. 14, caput, inciso

I, do Anexo I ao Decreto nº 8.109, de 17 de setembro de 2013.

Art. 14. As mesas de diálogo devem observar, no mínimo, as seguintes

diretrizes:

I - participação das partes afetadas;

II - envolvimento dos representantes da sociedade civil na construção da

solução do conflito;

III - prazo definido de funcionamento; e

IV - acompanhamento da implementação das soluções pactuadas e

obrigações voluntariamente assumidas pelas partes envolvidas.

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Parágrafo único. As mesas de diálogo criadas para o aperfeiçoamento das

condições e relações de trabalho deverão, preferencialmente, ter

natureza tripartite, de maneira a envolver representantes dos

empregados, dos empregadores e do governo.

Art. 15. Os fóruns interconselhos devem observar, no mínimo, as

seguintes diretrizes:

I - definição da política ou programa a ser objeto de debate, formulação e

acompanhamento;

II - definição dos conselhos e organizações da sociedade civil a serem

convidados pela sua vinculação ao tema;

III - produção de recomendações para as políticas e programas em

questão; e

IV - publicidade das conclusões.

Art. 16. As audiências públicas devem observar, no mínimo, as seguintes

diretrizes:

I - divulgação ampla e prévia do documento convocatório, especificado

seu objeto, metodologia e o momento de realização;

II - livre acesso aos sujeitos afetados e interessados;

III - sistematização das contribuições recebidas;

IV - publicidade, com ampla divulgação de seus resultados, e a

disponibilização do conteúdo dos debates; e

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V - compromisso de resposta às propostas recebidas.

Art. 17. As consultas públicas devem observar, no mínimo, as seguintes

diretrizes:

I - divulgação ampla e prévia do documento convocatório, especificando

seu objeto, metodologia e o momento de realização;

II - disponibilização prévia e em tempo hábil dos documentos que serão

objeto da consulta em linguagem simples e objetiva, e dos estudos e do

material técnico utilizado como fundamento para a proposta colocada em

consulta pública e a análise de impacto regulatório, quando houver;

III - utilização da internet e de tecnologias de comunicação e informação;

IV - sistematização das contribuições recebidas;

V - publicidade de seus resultados; e

VI - compromisso de resposta às propostas recebidas.

Art. 18. Na criação de ambientes virtuais de participação social devem ser

observadas, no mínimo, as seguintes diretrizes:

I - promoção da participação de forma direta da sociedade civil nos

debates e decisões do governo;

II - fornecimento às pessoas com deficiência de todas as informações

destinadas ao público em geral em formatos acessíveis e tecnologias

apropriadas aos diferentes tipos de deficiência;

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III - disponibilização de acesso aos termos de uso do ambiente no

momento do cadastro;

IV - explicitação de objetivos, metodologias e produtos esperados;

V - garantia da diversidade dos sujeitos participantes;

VI - definição de estratégias de comunicação e mobilização, e

disponibilização de subsídios para o diálogo;

VII - utilização de ambientes e ferramentas de redes sociais, quando for o

caso;

VIII - priorização da exportação de dados em formatos abertos e legíveis

por máquinas;

IX - sistematização e publicidade das contribuições recebidas;

X - utilização prioritária de softwares e licenças livres como estratégia de

estímulo à participação na construção das ferramentas tecnológicas de

participação social; e

XI - fomento à integração com instâncias e mecanismos presenciais, como

transmissão de debates e oferta de oportunidade para participação

remota.

Art. 19. Fica instituída a Mesa de Monitoramento das Demandas Sociais,

instância colegiada interministerial responsável pela coordenação e

encaminhamento de pautas dos movimentos sociais e pelo

monitoramento de suas respostas.

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§ 1º As reuniões da Mesa de Monitoramento serão convocadas pela

Secretaria-Geral da Presidência da República, sendo convidados os

Secretários-Executivos dos ministérios relacionados aos temas a serem

debatidos na ocasião.

§ 2º Ato do Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência

da República disporá sobre as competências específicas, o funcionamento

e a criação de subgrupos da instância prevista no caput.

Art. 20. As agências reguladoras observarão, na realização de audiências e

consultas públicas, o disposto neste Decreto, no que couber.

Art. 21. Compete à Casa Civil da Presidência da República decidir sobre a

ampla divulgação de projeto de ato normativo de especial significado

político ou social nos termos do art. 34, caput, inciso II, do Decreto nº

4.176, de 28 de março de 2002.

Art. 22. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 23 de maio de 2014; 193º da Independência e 126º da República.

DILMA ROUSSEFF

Miriam Belchior

Gilberto Carvalho

Jorge Hage Sobrinho

Este texto não substitui o publicado no DOU de 26.5.2014

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OS COELHOS DESSE MATO

Vamos ver se estou entendendo. Pedro Pontual é diretor de Participação

Social da Secretaria Geral da Presidência e Paulo Maldos é o Secretário

Nacional de Articulação Social da Secretaria Geral da Presidência. Conheço

essas duas figuras de longa data. São da turma do Paulinho Vannuchi, que

foi da ALN e depois se converteu em um dos principais assessores de Lula,

que o fez ministro dos Direitos Humanos.

Em junho de 2013, porém, Paulinho foi para a Comissão Interamericana

de Direitos Humanos da OEA. Hummm... agora talvez se explique porque a

OEA não denuncia as gravíssimas e continuadas violações dos direitos

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humanos na Venezuela por parte da ditadura chavista de Maduro (o

homem de Lula, segundo essa hipótese, estaria lá para não deixar isso

acontecer). E tudo isso também explica - a meu juízo - por que as

entidades e os movimentos de direitos humanos no Brasil - em boa parte

financiados ou apoiados ou aparelhados pelo PT no governo - não deram

um pio diante da prisão de mais de 3.500 estudantes, inclusive em

cárceres militares, espancamentos, tortura, forte repressão armada às

manifestações e pelo menos 40 mortes ocorridas na Venezuela a partir de

12 de fevereiro de 2014.

O fato é que os Direitos Humanos foram aparelhados por um setor da

militância petista (que, salvo difícil engano meu, continua rezando o credo

marxista-leninista), para se transformarem em direitos de apenas alguns

humanos (os que estão do lado certo, do lado da esquerda). Contra os

inimigos de classe, nada de direitos. Se for para agitar um Pinheirinho eles

aparecem na hora para denunciar a repressão (veja na foto o mesmo

Paulo Maldos, à esquerda, mostrando a bala de borracha disparada pela

polícia de Alckmin que o atingiu quando defendia os direitos humanos dos

invasores). Mas se for para falar a favor dos direitos de uma centena de

dissidentes que permanecem presos políticos em Cuba, eles

desconversam e somem. Simplesmente somem, como sumiram na crise

atual da Venezuela. Estão entendendo?

Pois bem, mas voltando ao Pedro e a esse Paulo que ficaram aqui no

governo, na Secretaria Geral da Presidência da República. É justo de lá que

agora sai o decreto 8243/2014 que cria a Política Nacional de Participação

Social (PNPS) cujo objetivo é “consolidar a participação social como

Page 21: Um sistema estatal de participação social?

21

método de governo” bypassando as instituições da democracia

representativa?

É claro que nossa democracia representativa não é essa coca-cola toda e

está em crise (como, em maior ou menor grau, também está no resto do

mundo). Mas a proposta desses caras é regressiva. Não querem

democratizar a democracia que temos: querem estabelecer um cerco

sobre as instituições republicanas para subordinar sua dinâmica à lógica

do assembleísmo participacionista. É a mesma vibe do tal Orçamento

Participativo (veja na foto, à direita, Pedro Pontual, por acaso com o

crachá de um encontro nacional sobre Orçamento Participativo). Para

quem não sabe do que se trata pode até parecer um avanço, mas não é.

Vivemos numa sociedade cada vez mais interativa e essa âncora

participativa nos prende nos conselhismos do passado (uma espécie de

sovietismo temporão). Não, participação não é a mesma coisa que

interação e quem não entende isso jamais vai entender as redes.

De resto, conselhos ditos populares são ótimos aquários para pescar e

recrutar aderentes, são fáceis de manipular, controlar e dirigir: basta

intervir neles com um destacamento organizado de militantes. Todos eles

são regidos pela lógica da escassez, ensejando a cristalização de lideranças

e a formação de lados em disputa (e fazer essa política de lados,

articulando forças para vencer disputas é "a" especialidade da militância).

Nada tenho, pessoalmente, contra as pessoas que citei acima (duas delas

retratadas na imagem que acompanha este post). Sempre tivemos

relacionamento cordial. E até onde sei são pessoas honestas e que

Page 22: Um sistema estatal de participação social?

22

acreditam sinceramente no que estão fazendo (é aí que está o problema).

Só estou dizendo que as conheço há 30 anos e que acompanhei, em parte,

sua trajetória de fazer assessoria de bastidores aos líderes sindicalistas,

que depois se transformaram em líderes partidários e, depois ainda, em

líderes governamentais. E aí, como consequência desse tipo de trajetória,

elas mesmas foram parar no governo. Mas sou capaz de apostar que elas

não estão convertidas à democracia.

Por certo elas têm todo o direito de pensar (e até agir) autocraticamente.

Assim como eu tenho todo o direito de dizer o que penso sobre isso. Deve

ser assim numa democracia.

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TEXTO EM PREPARAÇÃO SOBRE O DECRETO

BOLIVARIANO DO PT

Acredito que além das pretensões estratégicas autoritárias (de conquista

de hegemonia da sociedade a partir do Estado aparelhado) dos

formuladores do Decreto 8.243/2014 do PT - que determina a

implantação da Política Nacional de Participação Social (PNPS) e do

Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) e cria “conselhos

populares” com integrantes de movimentos sociais para opinar sobre os

rumos de órgãos e entidades do governo federal - exista muita ignorância

e até uma certa burrice mesmo. Esses caras estão ancorados nos anos 80

Page 24: Um sistema estatal de participação social?

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do século passado (antes da queda do Muro). E não saem do lugar. Em

primeiro lugar em razão de suas pretensões antidemocráticas mas, em

segundo lugar, porque não conseguem ver as mudanças que estão

acontecendo no século 21. Estou preparando uma lista de problemas do

tal decreto, de odor bolivariano, problemas que nada têm a ver com os

argumentos conservadores dos que acham que não é possível

democratizar a democracia realmente existente (a democracia

representativa, a democracia reinventada pelos modernos) na direção de

formas mais interativas (mas não participativas e assembleístas) de

democracia compatíveis com a sociedade-em-rede emergente. Pode ser

útil para os que se interessam pelo assunto (a democracia). Aguardem.

Page 25: Um sistema estatal de participação social?

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ESCLARECENDO TUDO

Até que enfim um deputado petista resolveu abrir o jogo sobre o Decreto

8.243/2014 do PT, que determina a implantação da Política Nacional de

Participação Social (PNPS) e do Sistema Nacional de Participação Social

(SNPS) e cria “conselhos populares” com integrantes de movimentos

sociais para opinar sobre os rumos de órgãos e entidades do governo

federal. Vejam o que ele declarou em defesa do decreto presidencial:

“Se os partidos de direita não têm inserção social, não tem base social,

lamento, mas isso não podemos resolver”. Deputado Alessandro Molon

(PT-RJ).

Page 26: Um sistema estatal de participação social?

26

Entenderam? Como venho afirmando, o decreto é parte da estratégia de

conquista de hegemonia sobre a sociedade. Os partidos que se organizem

para intervir nos "movimentos sociais" (ou no que eles chamam de

sociedade civil, dando uma definição segundo a qual cabe até o PCC). E aí

é guerra. Cada qual que cuide de arrebanhar mais aderentes para fazer

prevalecer seus interesses privados (e privatizantes) junto ao Estado,

usando para tanto os mecanismos inaugurados pelo decreto.

P.S.: Pessoal, o centro da questão é a frase do Molon reproduzida acima.

Todo o resto ou já sabíamos ou é diversivo. Concentrem-se na frase.

Page 27: Um sistema estatal de participação social?

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SUBORDINANDO A DINÂMICA SOCIAL À LÓGICA

DO ESTADO APARELHADO

Merece um banner!

Page 28: Um sistema estatal de participação social?

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O QUE É MOVIMENTO SOCIAL?

As pessoas bem-intencionadas que defendem o Decreto 8.243/2014,

alegando que ele é um avanço porque procura abrir espaços, erigir

mecanismos e estabelecer normas para que integrantes de movimento

sociais possam opinar sobre os rumos de órgãos e entidades do governo

federal, deveriam ler com atenção este pequeno post e responder a

pergunta crucial que ele lança.

Sou plenamente favorável ao movimento social. Por exemplo, sou

favorável ao que aconteceu no Brasil em junho de 2013, nas maiores

manifestações sociais que já tivemos em toda a nossa história.

Page 29: Um sistema estatal de participação social?

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Mas precisamos urgentemente refletir sobre o que é movimento social.

Quando usamos essa expressão queremos designar o quê? Os

movimentos sociais mesmo (aqueles que acontecem em função da

interação social e são, portanto, verdadeiras redes sociais que se

configuram em determinadas circunstâncias, ao sabor do fluxo da

convivência na base da sociedade e no cotidiano do cidadão)? Ou as

organizações hierárquicas que se chamam de "movimentos sociais" e que:

1 - Procuram arrebanhar aderentes em ambientes participativos e pouco

interativos, estruturados segundo uma topologia mais centralizada do que

distribuída,

2 - São sempre monopolizados por lideranças já consolidadas

(apresentando pouca rotatividade em suas direções),

3 - São regidos por modos de regulação de conflitos que produzem

artificialmente escassez (como a votação em assembleias e, não raro, a

disputa pelo voto para tudo),

4 - Desempenham o papel de correias de transmissão de partidos que

intervêm nas suas atividades e na sua gestão para realizar suas estratégias

de conquista de hegemonia,

5 - Não passam, algumas vezes, de organizações políticas travestidas de

movimento social ou revestidas com a roupagem de associações da

sociedade civil,

6 - Se prestam, às vezes, a servir como verdadeiros aparelhos para lançar

seus líderes como candidatos a cargos no Estado ou para fazer (ou

Page 30: Um sistema estatal de participação social?

30

financiar) campanhas eleitorais dos dirigentes políticos que as apadrinham

ou utilizam instrumentalmente,

7 - Em alguns casos (conquanto, felizmente, não em número significativo)

constituem-se como verdadeiros bandos ou quadrilhas, conectando o

mundo político com o submundo do crime?

Page 31: Um sistema estatal de participação social?

31

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POR QUE TANTA PRESSA?

Por que a pressa em promulgar o Decreto 8.243/2014, que determina a

implantação da Política Nacional de Participação Social (PNPS) e do

Sistema Nacional de Participação Social (SNPS)? Por que - em assunto tão

importante como este: o de sacramentar legalmente um outro "método

de governo" - não se abriu sequer uma conversação no Congresso

Page 32: Um sistema estatal de participação social?

32

Nacional e na sociedade, dando a impressão de que ele foi feito na calada

da noite, nos porões palacianos? E por que a resistência da presidência da

República em mantê-lo, contra a opinião expressa - e pública - dos chefes

do poder legislativo e, inclusive, de destacados integrantes do poder

judiciário?

Só há uma resposta. A avaliação - feita provavelmente pelos assessores

marxistas-leninistas que escreveram a norma (alocados na Secretaria

Geral da Presidência da República) - de que era agora ou nunca! É preciso

entender que o decreto não é consenso nem mesmo dentro do governo. É

o resultado da ação de uma cunha fincada por assessores diretos de Lula

no coração do governo Dilma.

Por que tanta pressa? Ora, porque o desfecho eleitoral de 2014 não está

mais tão certo como estava. E porque a correlação de forças interna (no

governo) e externa (no parlamento), que permitiu que os agentes que

redigiram a proposta emplacassem o decreto, pode ficar mais

desfavorável caso Dilma continue despencando nas preferências

populares.

Seguindo essa lógica, eles gostariam de emplacar, também às pressas,

outras medidas que fazem parte do mesmo projeto de conquista de

hegemonia. Agora parece que não há mais tempo hábil. Então é provável

que fiquem para depois. Mas que medidas seriam estas?

1 - O controle partidário-governamental (disfarçado de social ou civil) dos

meios de comunicação e da Internet a pretexto de democratizar tais

meios, quebrar monopólios ou cartéis, tipificar, coibir e punir crimes. Esta

Page 33: Um sistema estatal de participação social?

33

é a medida mais importante para o projeto de perpetuação do PT no

poder (como tem declarado Lula, repetindo o que defendia Dirceu e não

se cansa de tentar pautar o presidente do PT Rui Falcão, porém é a de

mais difícil execução, se bem que Dilma já foi obrigada a capitular

parcialmente e admitir encaminhar o assunto).

2 - Uma reforma política que altere o sistema eleitoral estabelecendo voto

em lista partidária fechada e pré-ordenada, fidelidade partidária e

financiamento exclusivamente estatal de campanhas. Sob pretextos

variados, tais propostas acabam instituindo a partidocracia, o poder do

oligopólio partidário na política. Esta medida também é extremamente

importante, ainda que conte com a resistência de boa parte do

parlamento.

3 - A convocação de uma Constituinte pré-fabricada, posto que não

emergente de uma situação extraordinária capaz de justificar sua

convocação e sim de planos urdidos para modificar o regime político a

favor de interesses partidários. Para tanto eles querem convocar um

plebiscito (abrindo caminho não apenas para a instalação da tal

"Constituinte", mas para tornar palatável um tipo de democracia

plebiscitária, capaz de atropelar as mediações políticas das instituições

republicanas, que dificultam a linha de comando-execução vertical a partir

do Executivo) para emplacar as mudanças políticas que almejam implantar

top down. O participacionismo assembleísta e o conselhismo controlado

por líderes partidários (já presentes no Decreto 8.243/2014), casam

perfeitamente com a democracia plebiscitária: o objetivo desse

Page 34: Um sistema estatal de participação social?

34

casamento é dar um curto circuito na velha institucionalidade (porém não

no sentido de mais-liberdade e sim no de mais-controle centralizado).

4 - A coligação com regimes ditatoriais (como Cuba, Venezuela e Rússia)

ou protoditatoriais (como os países bolivarianos) já foi adotada como

política de governo (atropelando o Itamarati). No entanto, isso é pouco

para os efeitos pretendidos. Não basta financiar obras na ditadura

castrista (como o porto de Mariel, envolvido recentemente em tráfico de

armas para a Coréia do Norte, contra as proibições do Conselho de

Segurança da ONU), perdoar dívidas de países ditatoriais (contra os

interesses nacionais), colocar de contrabando esses países no Mercosul

(como aconteceu com a Venezuela chavista), criar várias entidades

biônicas aparelhadas que terminam com a sigla SUR, plantar agentes para

neutralizar a OEA etc. É preciso legitimar tudo que já foi feito e ampliar tal

bloco de alianças, promovendo a presença em território nacional de cada

vez mais agentes de regimes autocráticos, seja a pretexto de cooperação

técnica, ajuda humanitária ou realização de programas sociais de combate

à pobreza. O perigo fica maior se esses agentes compuserem (declarada

ou ocultamente) forças militares, de inteligência ou de segurança,

informação e contra-informação, como hoje ocorre na Venezuela e na

Nicarágua, que estão sendo literalmente colonizadas por Cuba.

5 - Instituir guardas nacionais (a partir de forças nacionais militarizadas,

como a Força Nacional de Segurança), sob o controle do governo federal

(quer dizer, como entes de governo e não de Estado - como são as FFAA).

Sob o pretexto de combater a criminalidade ou garantir a paz social, isso já

Page 35: Um sistema estatal de participação social?

35

está em curso - e pasmem! - também por decreto, editado em 2004 sob a

égide do consiglieri Marcio Thomaz Bastos.

Claro que implantar tudo isso não é fácil. Em 10 anos não foi possível fazê-

lo satisfatoriamente. Depende de alianças instrumentais com setores que

não têm interesse particular em tais medidas e que só podem ser

conquistados com algum tipo de "mensalão", com bolsa-BNDES ou com a

promessa de que continuarão no condomínio do poder - o que fica cada

dia mais difícil se a candidata oficial continuar sendo vaiada pelas

multidões em todo lugar.

Eis as razões da pressa. É preciso correr, correr, correr, porque o tempo

ruge e daqui a pouco, como se falava antigamente no Pedro II, pode

acontecer aquela bagunça do "barata voa". Enquanto estão no poder, eles

têm que aproveitar ao máximo as poucas prerrogativas de que ainda

dispõem. Mesmo porque já viram que perderam as ruas, perderam as

mídias sociais e, muito mais grave, perderam quase 80% dos simpatizantes

que ajudavam a conformar uma opinião pública favorável ao seu domínio.

Podem até ganhar as próximas eleições (a partir da chantagem do fim do

Bolsa-Família e do Bolsa-BNDES), mas aí... aí ficará tudo mais difícil.

Page 36: Um sistema estatal de participação social?

36

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ANCORADOS EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

O debate sobre participação popular como meio de ampliar ou

aperfeiçoar a democracia realmente existente voltou agora a propósito do

tal Decreto 8.243/2014, que determina a implantação da Política Nacional

de Participação Social (PNPS) e do Sistema Nacional de Participação Social

(SNPS).

A inspiração desse tipo de coisa é a mesma que orientou o chamado

Orçamento Participativo, ensaiado em Porto Alegre e, depois, em outras

cidades.

Page 37: Um sistema estatal de participação social?

37

Estava remexendo aqui nos meus alfarrábios e encontrei uma crítica que

fiz a essa proposta autocrática, ainda em 2007, ano que morei em Porto

Alegre e pude verificar de perto a natureza da coisa, o seu

comportamento e a ideologia que colonizava a consciência de seus mais

destacados militantes. O texto é muito grande. Então vou cortar e, em

alguns casos, atualizar algumas passagens. Atenção: isto foi escrito há 7

anos!

SOBRE O ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

"Se me pedissem uma definição sintética diria que o chamado Orçamento

Participativo foi uma experiência estadocêntrica de participação popular,

voltada ao estabelecimento de prioridades orçamentárias, de caráter

delegativo.

Usando formas mais adversariais e competitivas do que cidadãs e

colaborativas de democracia dita participativa, o chamado Orçamento

Participativo jamais ascendeu a uma visão ampliada de governança, onde

a influência dos cidadãos e o exercício da accountability por parte dos

munícipes pudessem se dar de maneiras proativas e propositivas ao invés

de apenas reativas e reivindicativas.

O Orçamento Participativo restringiu a participação cidadã apenas à

disputa em torno de prioridades governamentais que atendessem aos

interesses particulares de um grupo, setor ou localidade. Desperdiçando o

imenso potencial das comunidades e das pessoas, porquanto dirigindo-os

Page 38: Um sistema estatal de participação social?

38

ou canalizando-os somente para exigir do governo essa ou aquela ação

pontual, o chamado Orçamento Participativo, além de gerar dispersão de

esforços, transformou as instâncias de participação em campos

adversariais de confronto, tendo como resultado experiências de

democracia de baixa intensidade e com alto grau de antagonismo.

A concepção de poder subsumida nessas experiências de democracia de

baixa intensidade, rotulada como participativa, era uma concepção do

poder para o confronto, do poder para a disputa, do poder para fazer

prevalecer os interesses de um grupo, setor ou localidade, sobre os

interesses de outros grupos, setores ou localidades. Vai daí que o “campo

de forças” gerado em tais experiências era um campo adversarial, de

conflito e, o que é pior, de um certo culto ao conflito.

Muitas lideranças sociais, impregnadas por tal visão, acabaram achando

que não existiam problemas a resolver e sim inimigos a vencer e culpados

a perseguir e punir. E que, assim, não se tratava de buscar parceiros para

enfrentar os problemas e, sim, de acumular forças para derrotar aqueles

que, supostamente, seriam “os” responsáveis pelos problemas.

O grande problema dessa mentalidade é que ela não gerou projetos

inovadores e criativos, nem programas factíveis, mas apenas reforçou

perspectivas instrumentalizadoras das energias que brotam da sociedade.

Tal mentalidade, como é óbvio, induziu a práticas que exterminaram

capital social em Porto Alegre e também nas outras cidades onde o

mesmo processo foi intentado. E só podia ser assim, na medida em que,

para aproveitar o imenso potencial organizativo que existe nas diversas

Page 39: Um sistema estatal de participação social?

39

experiências da sociedade civil – em prol de um modelo de governança

que levasse em conta o novo desenho da sociedade contemporânea, que

emerge como rede de múltiplas comunidades e não como massas amorfas

ou como rebanhos à espera de um condutor – é necessário fazer uma

revisão em pressupostos conceituais (me perdoem dizer) tão

boaventurianos.

Destarte, é necessário renunciar à ideia de que existem adversários a

vencer e inimigos a destruir para conseguir implementar um projeto.

Adversários e inimigos existem sempre em função de contradições

surgidas em um plano de disputa e referenciados em relação a propostas

contingentes. Não existem adversários e inimigos “naturais”,

permanentes, universais, que o sejam em função de características

intrínsecas independentes da interação particular em que os atores

estejam envolvidos. Quem é adversário ou inimigo em um plano de

disputa não o é, necessariamente, em outro plano de disputa. Assim,

como dizia Mohandas Ghandi, sempre é possível transformar o inimigo

político (no sentido em que Carl Schmitt empregou a expressão) em amigo

político, sempre é possível ascender para um plano de disputa onde os

contendores possam se por de acordo em torno de uma nova proposta.

Igualmente, é necessário renunciar à crença de que é necessário

estabelecer hegemonia para conseguir implementar um projeto. Essa

ideia é uma conseqüência da concepção de que o desfecho das interações

da variedade de opiniões e interesses presentes em um conjunto social

deve ter uma direção assegurada de antemão. É uma recusa a aceitar a

imprevisibilidade da política, uma recusa a admitir a definição-em-

Page 40: Um sistema estatal de participação social?

40

processo dos caminhos e revela uma dificuldade de absorver o principal

pressuposto da democracia.

Além disso, a visão de sociedade civil pressuposta por tal concepção é

problemática. A sociedade civil é vista como uma espécie de campo de

trabalho organizativo e de recrutamento de recursos humanos, um

“aquário” para pescar novos militantes, um lugar para a acumulação

primitiva de forças para um embate que deverá se dar sempre em outra

esfera, na esfera do Estado. Ora, isso espolia constantemente a sociedade

civil dos seus recursos endógenos, dos seus recursos humanos e sociais e

não estimula a descoberta e o desenvolvimento de seus ativos em prol do

aumento da qualidade de vida e de convivência social.

Se quiséssemos consertar a experiência de participação popular chamada

de Orçamento Participativo algumas tarefas realmente democráticas

deveriam ser enfrentadas.

Ao invés de restringir as formas de participação popular para cobrar do

Estado a realização dessa ou daquela ação, tendo como foco apenas o

orçamento governamental, seria necessário incorporar também o

potencial da sociedade para descobrir e desenvolver os seus próprios

ativos e para dinamizar as suas potencialidades. Não apenas cobrar,

propor. Não apenas exigir, fazer. Ao invés de somente pedir recursos,

mobilizar e alavancar recursos novos, que não podem ser captados como

(ou da) receita fiscal, mas que devem ser encontrados na base da

sociedade.

Page 41: Um sistema estatal de participação social?

41

Ao invés de entrar numa luta demandante, para arrancar do Estado uma

determinada ação ou serviço público, tornar pública uma esfera social

(não-Estatal) de iniciativas, assumindo responsabilidades e agregando

competências inéditas.

Ao invés de apenas orçamento participativo, protagonismo local,

empreendedorismo coletivo, parcerias entre os diversos tipos de

agenciamento para uma governança solidária, um novo sistema de

governança que substitua o padrão ainda vigorante de relação entre

Estado e sociedade, em que esta última é vista como uma espécie de

dominium – quase no sentido ainda feudal do termo – do primeiro.

Ademais, seria necessário transitar para formas não-assembleísticas de

democracia, que acabam reduzindo a alegada dimensão participativa a

uma dimensão predominantemente delegativa. A preocupação de vencer

uma disputa, quando exacerbada, transforma a democracia numa luta de

bandos, onde vence quem consegue levar o maior número de delegados

(“acarreados”, como dizem os mexicanos) aptos a votar.

Assim, seria necessário substituir processos de votação, onde o crachá ou

o braço levantado funcionam como uma arma para derrotar adversários,

por processos de interlocução política e de livre interação, transformando

a inimizade em amizade política.

Para tanto, seria preciso ensaiar novos padrões organizativos. Ao invés de

promover intermináveis reuniões de disputa para ver quem consegue

arrancar mais benefícios do governo ou ter o maior número de

reivindicações atendidas, tecer redes sociais, redes de desenvolvimento

Page 42: Um sistema estatal de participação social?

42

comunitário, redes formadas por conexões entre pessoas e grupos, porém

voltadas para ações concretas, inovadoras...

A QUEDA TARDIA DO MURO

Para concluir, cabe responder uma questão. Por que os intelectuais e os

militantes de esquerda não conseguiram perceber o fundo autocrático

presente nessas experiências – como o OP – consideradas erroneamente

como democráticas?

Penso que, no plano conceitual, o fracasso da experiência petista é um

reflexo tardio da queda do Muro de Berlim. Para alguns, sobretudo para

os intelectuais ditos de esquerda, só agora o Muro começou a cair, dentro

de suas cabeças, desarrumando o background autocrático onde estavam

fundeadas as suas concepções.

Com a queda do Muro no final dos anos 80, a esquerda militante, ao invés

de se desvencilhar de suas concepções arcaicas, resolveu a questão de

outro modo: aderiu à realpolitik. Foi uma forma de escapar de um acerto

de contas com os fundamentos de suas utopias, um expediente

psicológico para sobreviver como até então viveu, mudando sem mudar

no fundamental e mudando para pior em tudo o que julgava que não era

fundamental (daí a exacerbação das práticas instrumentalizadoras, a tal

grau que acabou extravasando os limites da ética e da legalidade). O fato é

que o substrato autocrático permaneceu.

Page 43: Um sistema estatal de participação social?

43

Não é possível mais fazer a revolução pelas armas? A realidade

contemporânea não o permite? Tudo bem, vamos fazê-la então pelo voto.

Mas o voto passa a ser usado como uma arma (o que constitui a arma, nos

lembra Maturana, não é a ferramenta e sim a emoção com que ela é

usada). O ímpeto adversarial, usado – porquanto não há outro remédio –

dentro da legalidade, é um substituto realista para expressar a mesma

concepção, segundo a qual a violência é a parteira da história.

O fracasso da experiência petista é o fracasso de todas as experiências que

foram geradas e implantadas a partir dessa concepção, como o

Orçamento Participativo e outros expedientes autoritários do “modo

petista de governar”.

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

Tudo isso se baseou em uma literatura teórico-ideológica propagandística

– e, portanto, não muito confiável – sobre a democratização da

democracia, entendida essa expressão no sentido da introdução de

formas de democracia participativa que, supostamente, comporiam uma

força contra-hegemônica a um “elitismo democrático” ou a uma

imaginada “concepção hegemônica da democracia como prática restrita

de legitimação de governos”, como argumentam, por exemplo, Leonardo

Avritzer & Boaventura de Souza Santos (2002), dois teóricos da autocracia

que se passam enganados como teóricos da democracia.

Page 44: Um sistema estatal de participação social?

44

Segundo esses autores, tratar-se-ia de iniciar uma espécie de novo

movimento social – apoiado por Estados que resolvam “abrir mão de

prerrogativas de decisão em favor de instâncias participativas” (leia-se:

governos de esquerda) – e articulado globalmente, para constituir uma

força contra-hegemônica que se oponha à “democracia representativa

elitista, [que] propõe estender ao resto do mundo o modelo de

democracia liberal-representativa vigente nas sociedades do hemisfério

norte, ignorando as experiências e as discussões oriundas dos países do

Sul no debate sobre a democracia”.

Parece óbvio que os que assim argumentam ainda estão impregnados por

uma visão política herdeira da tradição autoritária do pensamento

marxista, na sua vertente gramsciana, trabalhando – como eles próprios

declaram – com “o conceito de hegemonia como a capacidade econômica,

política, moral e intelectual de estabelecer uma direção dominante na

forma de abordagem de uma determinada questão, no caso a questão da

democracia”.

Trata-se de uma variante da velha visão – no fundo, antidemocrática – que

opunha uma [imaginária e, portanto, inexistente] “democracia socialista”

à “democracia burguesa”, chamada agora de “democracia liberal” ou de

“democracia elitista”. “No caso do debate atual sobre a democracia isso

implica [trabalhar com] uma concepção hegemônica e uma concepção

contra-hegemônica de democracia” – escrevem os autores Avritzer &

Santos, em uma nota de rodapé ao artigo “Para ampliar o cânone

democrático” (recomendando ao final: “Para o conceito de hegemonia

vide Gramsci”).

Page 45: Um sistema estatal de participação social?

45

Além de problemática do ponto de vista dos pressupostos da democracia,

tal visão da democratização da democracia quer ser corroborada por um

suposto experimentalismo inovador que estaria surgindo no Sul do

planeta (em contraposição ao Norte), do qual um dos principais exemplos

(na verdade, o principal) é o chamado “Orçamento Participativo de Porto

Alegre”. Bastaria tal referência para constatar a superficialidade,

inaceitável porquanto beirando à impostura, de tal abordagem, ao não

perceber o conteúdo estadocêntrico, reivindicativo, adversarial e,

fundamentalmente, representativo (delegativo) de tal experiência, na qual

as decisões são tomadas em um processo assembleístico, - no qual apenas

8% dos participantes tomam a palavra – de “acarreamento” de delegados

para votar em chapas (a isso se resumindo, praticamente, a sua tão

propalada “participação”). Ora, se tudo se resume ao voto em chapas e à

escolha de representantes (dirigentes e delegados), então que se respeite,

pelo menos, o dicionário: tal democracia pode ser chamada de

representativo-informal, mas, dificilmente, de participativa.

A justificativa apresentada para a suposta inovação contida na experiência

propagandeada do “Orçamento Participativo de Porto Alegre” é a de que

as minorias sociais e o povo excluído, agora, sim, poderiam fazer valer a

sua voz em uma nova institucionalidade construída por fora das

instituições da democracia das elites, sem atentar para o fato de que, em

tal processo, as pessoas são levadas a se reunir para decidir coisas que

outros (sempre o governo) deverão fazer e não para tomar iniciativas,

descobrir e valorizar os seus ativos, dinamizar suas potencialidades e

Page 46: Um sistema estatal de participação social?

46

assumir responsabilidades, aprendendo a aproveitar oportunidades e a

assumir o papel de artífices do seu futuro.

O ambiente é dominado por uma dinâmica reativa, restringindo a

cidadania política à capacidade de mobilizar setores da população (muitas

vezes “acarreados” para lotar assembleias) para cobrar tudo do Estado (e

para, supostamente, contrarrestar os interesses das elites) e não para

apresentar novas ideias e alavancar novos recursos advindos da sua

participação voluntária.

Não é por acaso que boa parte das reivindicações que viram propostas

para “pendurar no Estado” (enviando sempre a conta para o governo

municipal) se restrinjam a obras de infra-estrutura e de equipamentos

(como creches) e, somente em uma pequena parte, se refiram a

investimentos em capacidades permanentes (capital humano) e em

ambientes sociais favoráveis ao desenvolvimento (capital social). Também

não é por acaso que praticamente a metade (ou mais) do que é decidido

não é realizado, não por falta de vontade política do governo local, mas

por falta de condições financeiras para tanto, tendo contribuído para isso

uma certa mitificação do processo orçamentário levada a efeito por um

discurso partidário-governamental baseado em noções vagas e abstratas

sobre orçamento, elaboradas por intelectuais que teorizam sobre a

democracia participativa mas que jamais tiveram a responsabilidade e o

trabalho de “fechar as contas” de qualquer organização.

Por último, a experiência citada é fragmentadora, pois que baseada em

necessidades sentidas (e até certo ponto induzidas pelos agentes

Page 47: Um sistema estatal de participação social?

47

partidário-governamentais que se dedicam a “pescar em aquário”, com o

fito de conquistar hegemonia no seio do povo) de regiões da cidade

demarcadas arbitrariamente e não em planos de desenvolvimento com

um mínimo de racionalidade e que tenham nascido de sonhos de futuro

das comunidades envolvidas, quer dizer, da sua livre interação. É uma

espécie de bolsa de reivindicações em que emplaca mais demandas ao

Estado aquele setor que conseguir levar mais gente para as assembleias,

mantendo as populações presas ao passado, com os olhos voltados

apenas para seus carecimentos e não para o seu potencial para inaugurar

um novo futuro. Ao remeter a solução de todos os problemas para o

Estado, o chamado “Orçamento Participativo” desresponsabiliza e

descompromete os seus atores com a tarefa de encontrar e implementar

as suas próprias soluções, enfraquecendo ao invés de fortalecer o seu

empreendedorismo, a sua criatividade e o seu protagonismo..."

Isso tudo escrevi há 7 anos. Agora me digam: dá ou não dá preguiça ter

que enfrentar, sempre do zero, a mesma discussão?

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É MUITO FÁCIL DESVELAR AS INTENÇÕES POR

TRÁS DO DECRETO 8.243

Tuitei agora há pouco: "Ninguém nunca se perguntou por que os

redatores do Decreto 8.243/2014 são os mesmos que apoiam a ditadura

cubana e o chavismo na Venezuela?"

Pois é. Essa turma que redigiu e conseguiu que a presidente da República

assinasse o Decreto 8.243/2014 do PT - que determina a implantação da

Política Nacional de Participação Social (PNPS) e do Sistema Nacional de

Participação Social (SNPS) e cria “conselhos populares” com integrantes

Page 49: Um sistema estatal de participação social?

49

de movimentos sociais para opinar sobre os rumos de órgãos e entidades

do governo federal - é composta por apoiadores do regime ditatorial dos

irmãos Castro, do regime ditatorial de Maduro e do chavismo, não só na

Venezuela, mas também na Nicarágua, na Bolívia, no Equador...

É a mesma turma que incensa o bom-velhinho Mujica, pelo menos

enquanto ele estiver apoiando o chavismo venezuelano. É a turma que dá

a maior força para aquela senhora que governa a Argentina, idem. É a

turma que recomenda que a guerrilha narcotraficante das FARC deveria

disputar eleições na Colômbia (e até se dispõe a assessorá-los para tal). É a

turma que apoia Putin. É a turma que lamenta, até hoje, a queda do Muro

de Berlin em 1989 (e para a qual o muro ainda não caiu: não, pelo menos,

dentro de suas cabeças).

Eles só querem o bem da humanidade, a participação do povo

secularmente excluído pelas malvadas elites. Mas é muito fácil descobrir o

que eles entendem por participação popular (ou da sociedade civil). Siga

os três passos abaixo:

1 - Quando encontrar alguém dessa turma, basta fazer a seguinte

pergunta: você apoia o bolivarianismo?

2 - Pode fazer outra pergunta também: o que você acha das normas que

disciplinam a participação popular no regime cubano? Ou ainda: o que

você acha do Regulamento Disciplinar Cubano (que trata os médicos e

outros servidores civis de Cuba que vão trabalhar em outros países na

base da lei marcial): se você não conhece a lei, leia aqui

http://pt.slideshare.net/augustodefranco/regulamento-disciplinar-cubano

Page 50: Um sistema estatal de participação social?

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3 - Se estiver com preguiça e quiser acabar logo a conversa (por inútil),

pergunte: o que você acha das restrições impostas pelo governo cubano à

bloqueira Yoani Sánchez (ou ela não é da sociedade civil)?

Estão entendendo?

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UM SÉCULO DEPOIS E ESSA TURMA NÃO MUDA

Sobre as concepções dos redatores do Decreto 8.243/2014 do PT

Publiquei meu primeiro livro (em papel, é claro) em 1985. Tinha como

título Autonomia e Partido Revolucionário. Era uma crítica à teoria

leninista da organização e à visão de Lenin e do partido bolchevique da

relação entre o partido e as organizações da sociedade, como os

sindicatos. Em 1986 alguns jovens goianos que foram tomar aulas de

formação política em Cuba, recrutados pela articulação que sempre

comandou o PT, levaram na bagagem para a ilha alguns exemplares do

livro. Logo que um cara do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba

descobriu que estudantes de vários países e até professores estavam

lendo o meu livro, mandou apreender todos os exemplares (com busca e

apreensão nos alojamentos). Como se sabe, naquela prisão marxista-

leninista é proibido ler qualquer coisa diferente da doutrina oficial

(marxista-leninista). Mesmo a revolucionária Rosa Luxemburgo estava no

index de publicações proibidas (porque criticava Lenin, ora). E nem Freud

era permitido (enquadrado na classificação de literatura burguesa).

Agora, quase trinta anos depois, vejo-me envolvido na mesma discussão

que relatei no livro. Qual deve ser a relação do partido (e, no caso, do

partido que, vitorioso na tomada do poder, se fundiu ao Estado) com as

organizações da sociedade? Foi o tema mais quente do X Congresso, que

aconteceu em Moscou de 29 de março a 5 de abril de 1920, já lá se vai

praticamente um século. De um lado, Lenin defendia que essas

organizações fossem correias de transmissão do partido (a expressão

Page 53: Um sistema estatal de participação social?

53

exata é esta mesmo: correias de transmissão). Essa posição era

duramente criticada por Alexandra Kollontai e seu grupo, a Oposição

Operária. É claro que Lenin venceu (todas as disputas eram encenação,

pois quem controla o politburo controla também a assembléia: a

participação assembleística é um artifício nas mãos da hierarquia

partidária).

Alexandra Mikhaylovna Kollontai, em russo:

nascida Domontovich, (São Petersburgo, 19 de

março de 1872 — Moscou, 9 de março de 1952) foi uma líder

revolucionária russa e teórica do marxismo, membro da facção

bolchevique e militante ativa durante a Revolução Russa de 1917. Mas já

bem antes da insurreição ela havia se afastado da tendência bolchevique

pelas mesmas razões (o papel dos sindicatos e sua relação com o partido).

E continuou nessa posição até a década de 20, alertando para os perigos

da degeneração burocrática da chamada revolução. Por causa disso,

Alexandra foi "exilada" como funcionária diplomática na Noruega (com

isso escapando de ser morta por Lenin e depois por Stalin) e seus

companheiros da Oposição Operária (como Shlyapnikov, Kiseleve e

Medvedv) caíram em desgraça. Tudo normal em autocracias: quem pensa

diferente deve ser neutralizado ou exterminado.

Passado um século, a mesma discussão volta com outra roupagem, a

propósito do Decreto 8.243/14 pelo qual o governo petista quer criar um

cercado para nele admitir os elementos confiáveis dos movimentos sociais

(que constituem, segundo eles pensam, mas não dizem, a parte da

sociedade civil que presta). O debate é: como o partido que controla o

Page 54: Um sistema estatal de participação social?

54

governo e o governo devem se relacionar com as organizações da

chamada sociedade civil? Sim, sustento que - no fundo - trata-se da

mesma discussão do X Congresso do Partido (sim, partido era escrito com

letra maiúscula).

Não tenho a versão digital desse meu primeiro livro (e tive preguiça de

escanear, inclusive porque achei que não valia mais a pena). Mas ele

revela a estratégia de conquista de hegemonia sobre a sociedade. Tendo

conquistado o governo e ocupado completamente o aparelho de Estado,

os bolcheviques queriam também usar as organizações da sociedade

como correias de transmissão, braços do partido, instituições terceirizadas

e fortemente controladas que atuariam em todos os campos e setores da

atividade social para não deixar nenhum espaço livre, nenhum ambiente

que não fosse privatizado partidariamente.

Contando assim ninguém acredita, mas no fundamental, os redatores do

Decreto 8.243/2014 do PT, que determina a implantação da Política

Nacional de Participação Social (PNPS) e do Sistema Nacional de

Participação Social (SNPS) e cria “conselhos populares” com integrantes

de movimentos sociais para opinar sobre os rumos de órgãos e entidades

do governo federal, ainda pensam da mesma maneira. Sim, um século

depois e eles não se desvencilharam do marxismo-leninismo. Sim, eles

ainda apoiam ditaduras como a cubana (e, agora, a venezuelana). Alguns

ainda trabalham com o conceito leniniano de hegemonia (como comando

de uma força bélica) e não assimilaram nem a visão gramsciana

(igualmente militarizada, como mostrei em outro texto, de 1990,

intitulado "O paralelo militar na política"), porém considerada mais light. A

Page 55: Um sistema estatal de participação social?

55

visão herbívora de Gramsci, entretanto, acabou sendo mais funesta do

que visão carnívora de Lenin, assim como os sunitas do PT (que

começaram a controlar o partido com a tendência Articulação, de Lula e

Dirceu, sempre assessorados nos bastidores pela mesma turma que

redigiu o tal decreto assinado por Dilma), revelaram-se muito mais

hierárquicos e autocráticos - e sobretudo bandidos - do que os temidos

xiitas (as tendências minoritárias, coitadas).

Quem vê de fora, tem dificuldade de entender o que está acontecendo. Eu

vi de dentro, eu fui dirigente nacional desse partido, apenas até 1993, é

certo, mas vi tudo que importava para essa questão. Minha posição em

relação ao tema não é de agora. E tenho, para prová-lo, um livro

publicado em 1985. Quem vê de agora, não pode entender que tudo isso

está ligado à visão estratégica de conquista de hegemonia na sociedade a

partir do Estado aparelhado pelo partido. Então alguns moleques ficam

dizendo, solertemente, que quem critica o Decreto 8.243 está possuído

por uma visão conspiratória. Não, seus basbaques. Vocês não sabem da

missa a metade.

Page 56: Um sistema estatal de participação social?

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O PARTICIPACIONISMO É VULNERÁVEL AO

CONTROLE CENTRALIZADO

Que falta faz a experiência!

Quem controla uma estrutura centralizada que convoca e conduz os

trabalhos de uma instância participativa (conselho, fórum, conferência ou

assemelhados), controla também a assembleia (o lugar onde se decide). A

participação assembleística é um artifício nas mãos das hierarquias,

sobretudo das hierarquias partidárias que intervêm em seu seio para

conquistar hegemonia, dar a linha ou a direção dos trabalhos e aprovar as

propostas que são de seu interesse.

Page 57: Um sistema estatal de participação social?

57

Em várias décadas dirigindo ou participando dessas instâncias raramente

vi um caso em que a direção perdeu o controle. Quando, por algum

acidente ou descuido, isso acontece, a velha direção logo retoma as

rédeas na assembleia seguinte.

O participacionismo é extremamente vulnerável a esse tipo de controle,

inclusive o participacionismo democrático: não foi outra a razão de

Péricles ter conseguido exercer por tanto tempo seu protagonismo na

Ecclesia - a assembleia ateniense (de 461 até 429 a. C.). Quem controlava

a Boulé (uma espécie de comissão executiva que organizava tudo, desde a

definição das pautas até a condução dos trabalhos), controlava a Ecclesia.

Isso ocorreu e ocorre no chamado Orçamento Participativo, como já

mostrei aqui em um post de 15 de junho de 2014: http://goo.gl/Ucc7fh

Isso ocorreu e ocorre nos conselhos e conferências já existentes,

instituídos e convocados pelo governo federal controlado

partidariamente. Aliás, basta fazer uma análise da composição desses

cerca de 30 conselhos (ou assemelhados) existentes e das conferências

nacionais que foram realizadas para aprovar sugestões de diretrizes para

políticas públicas, para constatar que eles são ocupados, em grande

maioria, por militantes partidários ou pró-governo.

E isso ocorrerá, inevitavelmente, nos novos conselhos, comissões,

conferências, mesas, fóruns, audiências, consultas e ambientes virtuais

tornados (praticamente) obrigatórios pelo Decreto 8.243/14 da

presidência da República que institui a Política Nacional de Participação

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Social - PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social - SNPS, e dá

outras providências.

A quem esse pessoal quer enganar? Como é que eles podem pensar que

somos tão tolos?

O problema é que existe muita gente bem intencionada que acha que essa

é uma oportunidade de intervir, de conquistar espaço, de incluir pessoas

da população que nunca tiveram chance de discutir políticas públicas.

Assim, essas pessoas pensam que, com todos os problemas, vale a pena o

esforço: seria uma abertura para mais democracia... Claro que quem

pensa assim não tem a menor experiência dessas coisas. Mas não há a

menor chance de as coisas saírem do controle de quem desenhou essa

estratégia de captura da sociedade para legitimar políticas de governo já

determinadas por um partido. A menor chance. A história fornece

milhares de exemplos de que não há a menor chance. Eu tenho,

pessoalmente, centenas de exemplos de que não há a menor chance (se

me colocarem para controlar qualquer uma dessas instâncias, não perco

uma assembleia). Instituições hierárquicas que controlam instâncias

participativas jamais são abaladas pelo funcionamento dessas instâncias.

Se pressentirem que podem ser contrariadas por elas, tomam logo a

medida de mudar as normas que regem seu funcionamento, mudam sua

composição, suas atribuições etc.

Vocês já se perguntaram por que em todas as entidades que têm

assembleias participativas (como a CUT, o PT, o MST, os sindicatos e

associações profissionais, as ONGs e uma quantidade quase inumerável de

Page 59: Um sistema estatal de participação social?

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organizações ditas da sociedade civil) e são simpáticas ao governo (e

dirigidas por militantes ou simpatizantes do partido oficial e por seus

aliados ideológicos) jamais a direção e as orientações dos que controlam

tais entidades são mudadas à sua revelia? Não? Sei que não falta

inteligência em muita gente que não faz tal pergunta. Falta experiência

mesmo.

Page 60: Um sistema estatal de participação social?

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É MUITA CARA DE PAU

A turma que redigiu o tal Decreto 8.243/14, aquele que quer construir

cercadinhos dentro do Estado para capturar a participação da sociedade

com o objetivo de legitimar políticas de governo já determinadas por um

partido, não tem a menor compostura. Agora está rolando nas mídias

sociais o banner que publico neste post.

Não deveríamos nos surpreender. Afinal essa turma é a mesma que apoia

ditaduras, como a cubana e a venezuelana. Apoiadores de ditaduras não

têm escrúpulos.

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Mas mesmo assim me surpreendo com a usurpação. A foto é do grande

swarming de junho de 2013 em Brasília. Que não foi um evento

participativo, na vibe assembleística ou de comício com carros de som

puxando o gado, como esse pessoal está acostumado a fazer. Não! Foi

uma manifestação da fenomenologia da interação social, para a qual eles

não contribuíram em nada: pelo contrário, começaram logo a acusar, num

primeiro momento, que era coisa da direita, de corte fascista.

É nessas horas que dá vontade de falar um palavrão (de repetir as palavras

que Lula dirigiu ao presidente da República Itamar Franco). Não vou falar

para eles não se passarem por vítimas.

Mas que biltres! É muita cara de pau, né não?

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CINCO PONTOS SOBRE OS AUTORES DO DECRETO

PARTICIPACIONISTA

1 - Os que querem criar um sistema estatal de participação social são os

mesmos que querem impor o controle estatal da mídia (disfarçado com os

nomes de social ou civil).

2 - Os que querem criar um sistema estatal de participação social são os

mesmos que apoiam ditaduras, como a cubana e a venezuelana.

3 - Os que querem criar um sistema estatal de participação social são os

mesmos que querem instituir a partidocracia (voto em lista fechada e pré-

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ordenada, fidelidade partidária e financiamento exclusivamente estatal de

campanha).

4 - Os que querem criar um sistema estatal de participação social são os

mesmos assessores de Lula que tentaram emplacar um Programa

Nacional de Direitos Humanos, que instrumentaliza os direitos humanos

para fins políticos de conquista de hegemonia sobre a sociedade a partir

do Estado controlado pelo partido (defendem os direitos humanos apenas

dos que estão do seu lado e não deram um pio contra as gravíssimas

violações de direitos humanos na Venezuela).

5 - Os que querem criar um sistema estatal de participação social são os

mesmos que querem convocar um plebiscito para instalar uma

Constituinte pré-fabricada para atender a interesses partidários,

legitimando as medidas acima.

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UMA MOSTRA DE QUEM SÃO OS MOVIMENTOS

SOCIAIS QUE VÃO NOS "REPRESENTAR" NO

SISTEMA ESTATAL DE PARTICIPAÇÃO DO

GOVERNO

Está rolando por aí uma tal Cartilha Plebiscito por um Novo Sistema

Político. Trata-se de uma publicação da Plenária Nacional dos Movimentos

Sociais editada pela CUT.

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Muito interessante ver os signatários do documento para termos uma

ideia do tipo de movimentos sociais que o governo quer que representem

o povo nas instâncias participativas previstas no Decreto 8.243/14.

É incrível que o PT seja o único partido presente (ele também se acha

movimento social). Mas mesmo que o PT não tivesse a cara de pau de

assinar a lista, não importa: examinem a composição desses movimentos,

procurem saber quem dirige cada um deles, em que partido militam e em

quem votaram essas pessoas nas últimas quatro eleições presidenciais.

Perda de tempo, é claro. É tudo aparelho do PT (ou dos partidos

marxistas-leninistas aliados). Alguns autointitulados movimentos sociais

(como o MST) são, na verdade, organizações políticas marxistas-leninistas

disfarçadas. E nenhum deles é, stricto sensu, movimento social: são

organizações hierárquicas regidas por modos autocráticos. Seus

dirigentes, via de regra, apoiam ditaduras como a cubana e a venezuelana.

São esses "movimentos sociais" que vão participar em nosso nome? Ei!

Calma lá! Vamos perguntar aos redatores do decreto (aqueles que

defendem ditaduras como a cubana e a venezuelana): afinal é

participação ou representação?

Estão entendendo o embuste? Façam uma pesquisa na lista abaixo:

• Agenda Pública/SP

• Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB)

• Assembleia Popular

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• Assembleia Popular/PB

• Associação Brasileira de ONGs (ABONG)

• Associação Brasileira dos Pesquisadores pela Justiça Social (ABRAPPS)

• Central de Movimentos Populares (CMP)

• Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)

• Central Única dos Trabalhadores (CUT)

• Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC)

• Comissão Pastoral da Terra (CPT)

• Confederação Nacional das Associações de Moradores (CONAM)

• Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de

Ensino (CONTEE)

• Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

• Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB)

• Consulta Popular

• Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS)

• Coordenação dos Movimentos Sociais Paraná (CMS/PR)

• Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN)

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• Federação dos Sindicatos de Engenheiros (FISENGE)

• Federação dos Trabalhadores Urbanitários do Estado de São Paulo/SP

• Federação Nacional dos Urbanitários (FNU)

• Federação Única dos Petroleiros (FUP)

• Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES)

• Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)

• Frente de Lutas de Juiz de Fora

• Frente Nacional dos Torcedores

• Grito dos Excluídos

• Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC)

• Jubileu Sul

• Juventude Revolução

• Levante Popular da Juventude

• Marcha Mundial de Mulheres

• Movimento Camponês Popular (MCP)

• Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral (MCCE)

• Movimento de Mulheres Camponesas (MMC)

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• Movimento de Pequenos Agricultores (MPA)

• Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

• Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo (MTC)

• Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)

• Movimento Nacional pela Soberania Popular Frente a Mineração

(MPMPL - Juiz de Fora/MG)

• Movimento Popular Pró Moralização do Legislativo (MAM)

• Movimento Reforma Já

• Partido dos Trabalhadores (PT)

• Pastoral da Juventude Rural (PJR)

• Pastoral da Moradia

• Pastoral do Imigrante

• Pastoral Fé e Política

• Pastoral Fé e Política de Jundiaí/SP

• Pastoral Fé e Política de Salto/SP

• Pastoral Fe e Política de Várzea Paulista/SP

• Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política

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• Rede fale

• Rede Nacional de Advogados Populares (RENAP)

• Sindicato dos Advogados de São Paulo (SASP)

• Sindicato dos Eletricitários (SINDIELETRO/MG)

• Sindicato dos Energéticos do Estado de São Paulo (SINERGIA)

• Sindicato dos Engenheiros (SENGE/PR)

• Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Belo Horizonte

(SINDIBEL)

• Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (SISMUC)

• Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente

(SINTAEMA)

• Sindicato Unificado dos Petroleiros de SP

• União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES)

• União de Negros pela Igualdade (UNEGRO)

• União Estadual dos Estudantes (UEE/MG)

• União Nacional de Estudantes (UNE)

• Via Campesina Brasil

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SERIA BOM ESPALHAR PARA ALERTAR!

Para saber mais sobre isso (e inclusive saber o que significam as siglas)

clique no link:http://goo.gl/AekgxI

Page 71: Um sistema estatal de participação social?

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POR QUE ISSO É TÃO IMPORTANTE?

O governo insiste, contra tudo e contra todos (inclusive contra a maioria

da sua própria base de apoio), em manter o decreto 8.243, que estatiza a

participação social para privatizá-la, deixando-a à mercê de organizações

hierárquicas - chamadas incorretamente de "movimentos sociais" - que

atuam como correias de transmissão do partido oficial e que nada mais

são do que instrumentos de conquista de hegemonia sobre a sociedade a

partir do aparelhamento do Estado por parte de grupos privados.

Mas por que isso é tão importante?

Page 72: Um sistema estatal de participação social?

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Vejam essa nota de ontem de Lauro Jardim na sua coluna Radar:

"Henrique Eduardo Alves já fez chegar ao Palácio do Planalto que não há

conversa sobre a possibilidade de retirar da pauta o projeto de Mendonça

Filho que anula o decreto de Dilma Rousseff dos conselhos populares, que

passarão a ser consultados a respeito das políticas públicas do governo

federal. Henrique Alves foi ao seu xará e líder do governo, Henrique

Fontana, avisando que a oposição não aceita o adiamento da votação. Ou

seja, a fatura será liquidada nesta semana. Henrique Fontana entendeu,

mas deverá fazer de tudo para impedir a apreciação do projeto, inclusive

obstruir a sessão". Por Lauro Jardim. Link abaixo:

http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/congresso/estao-avisados/

Numa situação de desespero, ameaçado pela possibilidade real de ter que

abandonar o governo nos próximos meses, por que o PT ainda insiste no

desastrado decreto 8.243?

Para quem não sabe esse é o decreto de Dilma que institui uma política

estatal de participação social. Como se coubesse ao Estado dizer como a

sociedade vai influir nas políticas públicas, aprisionando a interação em

cercados (ou currais neo-clientelistas) onde supostos "representantes" de

movimentos sociais - na verdade, organizações hierárquicas que atuam

como correias de transmissão do partido oficial - vão estabelecer sua

hegemonia sobre os incautos. E tudo isso será apresentado como

aspiração legítima e espontânea da "sociedade civil organizada".

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Só quem tem uma estratégia de conquista de hegemonia sobre a

sociedade a partir do Estado pode ter uma proposta assim. Pior. Só quem

acha que não vai sair nunca do poder é capaz de insistir, contra a maioria

da sua própria base aliada, em empurrar goela abaixo do país uma medida

desse tipo.

O decreto que estatiza a participação social para coloca-a à mercê de

aparelhos privados partidários está sendo bancado (inclusive contra a

opinião de uma parte do governo) pelo núcleo duro do hegemonismo

petista, instalado na Casa Civil da Presidência da República.

Isso permite algumas suposições:

a) Dilma (como presidente e como candidata) sabe que forçar a barra para

manter o decreto é contraproducente (tanto para o governo quanto para

a campanha) mas, mesmo assim, não consegue demover os seus

articuladores. O que significa que ela não tem poder sobre esse quisto

encastelado no Planalto (que faz parte do "Partido Interno", para lembrar

George Orwell em 1984). Ou seja, há um poder dentro do Estado que não

se subordina à legítima chefe do Estado. Trata-se, a rigor, de um Estado

dentro do Estado, chefiado por um ex-chefe de Estado (Lula), que não tem

mandato mas manda (a partir de uma organização privada externa: o

partido). É uma forte evidência da privatização partidária da esfera

pública.

b) Os articuladores do decreto autocrático que estatiza para privatizar

(sim, porque o Estado só é público na exata medida da sua

democratização), devem contar com algum recurso que não sabemos. Há

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poucos meses de ter que abandonar seus postos no Estado (caso se

confirmem as previsões eleitorais) parecem seguros demais de que vão

virar o jogo na undécima hora. O que será? Não se sabe. Mas é hora de

aumentar a vigilância democrática sobre o processo eleitoral em curso.

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