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O PAPEL SOCIAL DAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO NAS COMUNIDADES SICOOBNORTE José Generoso dos Santos 1 José Eduardo Zdanowicz 2 Artigo apresentado para formação no Curso MBA em Gestão de Cooperativas, do Centro Universitário UNIVATES, como parte da exigência para a obtenção do título de Pós- Graduado em Gestão de Cooperativas. Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Zdanowicz Rio Branco AC, janeiro de 2015. 1 José Generoso dos Santos, Acadêmico do Curso de Especialização Lato Sensu MBA em Gestão de Cooperativas pelo Centro Universitário – UNIVATES. 2 José Eduardo Zdanowicz, Doutor pela Universidade de León – Espanha, Professor Universitário.

Cooperativismo na Comunidade

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O PAPEL SOCIAL DAS COOPERATIVAS DE CRÉDITO NAS

COMUNIDADES SICOOBNORTE

José Generoso dos Santos1

José Eduardo Zdanowicz2

Artigo apresentado para formação no Curso MBA em

Gestão de Cooperativas, do Centro Universitário

UNIVATES, como parte da exigência para a

obtenção do título de

Pós- Graduado em Gestão de Cooperativas.

Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Zdanowicz

Rio Branco – AC, janeiro de 2015.

1 José Generoso dos Santos, Acadêmico do Curso de Especialização Lato Sensu MBA em Gestão de Cooperativas pelo Centro Universitário – UNIVATES. 2 José Eduardo Zdanowicz, Doutor pela Universidade de León – Espanha, Professor Universitário.

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo avaliar a aplicabilidade do sétimo princípio

do Cooperativismo nas comunidades atingidas pelas ações socioeconômicas da

Cooperativa de Crédito Sicoob Acre. O artigo retrata, na sua primeira parte, a

gênese das cooperativas e a sua importância na sociedade, como forma de inclusão

social. Na sequência, analisa-se o estudo de caso da Cooperativa nos trabalhos

sociais desenvolvidos no âmbito da comunidade, incentivando financeiramente a

Escolinha de Futebol da PMAC (Polícia Militar do Acre) que trabalha com crianças e

adolescente em situação de risco e as ações desenvolvidas na Creche Sagrado

Coração de Jesus, a qual atende crianças de comunidades em situação de extrema

pobreza.

Principais Palavras: Cooperativismo; Crianças; Socioeconômico; Inclusão social.

ABSTRACT

This article aims to evaluate the applicability of the seventh principle of

Cooperatives in communities affected by socioeconomic shares of Cooperative

Credit Sicoob Acre. The article shows, in its first part the genesis of Cooperatives and

its importance in society, as a form of social inclusion. Following analysis of the case

study of the Cooperative in social work within the community, financially encouraging

Little School Football of PMAC (Police Military Acre) working with children and

adolescents at risk and the actions developed in Nursery Heart of Jesus which

serves children from communities in extreme poverty.

Key Words: Cooperative; Children; socioeconomic; Social inclusion.

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como finalidade precípua demonstrar a aplicabilidade do

sétimo princípio do Cooperativismo de Crédito, que versa sobre o interesse pela

comunidade, aplicado às comunidades assistidas pela área de atuação do Sicoob

Acre, buscando gerar uma reflexão filosófica sócio-política.

Ao se estudar sobre a gênese do cooperativismo, ao longo da história da

humanidade, os modelos de produção demonstram-se ineficazes, não suprindo as

necessidades básicas da população. Todos tiveram suas particularidades, porém

eles manifestaram na sua essência a exploração do homem pelo homem, gerando a

estratificação social. Isso vem ocasionando grandes desigualdades sociais, conflitos

de classes, violência, fome, miséria, corrupção e outros problemas sociais.

O sentimento cooperativista nasceu em 1843, na cidade de Rochdale,

Inglaterra, motivado pelo excedente de mão de obra oriunda das migrações rurais e

da Revolução Industrial. Embora as fábricas produzissem e gerassem riquezas,

esse momento caracterizou-se pela exploração dos trabalhadores pelos patrões, em

especial as mulheres e crianças, em condições sub-humanas e carga-horárias

excessivas de trabalho. Como resposta às péssimas condições sociais, no ano de

1844, um grupo de 28 tecelões criou a primeira cooperativa de consumo, a qual em

1866 contava com 5.300 sócios que durou por 70 anos, comprovando a importância

do trabalho cooperativo na superação de barreiras e dificuldades humanas.

Com isso, a palavra cooperativismo tem muitas significações que se

caracteriza pela aplicação das forças e faculdades humanas sejam físicas ou

intelectuais para alcançar determinado fim. Para a Organização das Cooperativas do

Brasil (OCB), cooperativismo é uma forma de organização que tem como diferencial

promover o desenvolvimento econômico e o bem-estar social, simultaneamente. É

um modelo socioeconômico com referenciais de participação democrática,

solidariedade, independência e autonomia, baseado em sete princípios

cooperativistas.

No entanto, em pleno século XXI, vivemos um sistema Capitalista, em que tudo

se resume ao lucro, na exploração do homem pelo próprio homem, aumentando as

diferenças entre ricos e pobres e os bolsões de miséria nos países mais pobres do

mundo, de forma que a educação pública não atinge seus melhores padrões de

qualidade e a saúde é muito precária. E, os índices de violência estão aumentando

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desordenadamente, fugindo aos controles das instituições formais, comprovando,

que se esperarmos apenas do Estado, a tendência é o caos social.

O sistema Capitalista retém e acumula as riquezas, os resultados de

investimentos, em contrapartida o cooperativismo distribui-os com seus associados,

investindo nas comunidades que participam da socioeconomia.

Um dos sete princípios do cooperativismo é o interesse pela comunidade, no

qual visa à melhoria das condições de vida dos associados, ou seja, não apenas a

obtenção de resultados (sobras), mas também o bem-estar social destes. A história

do cooperativismo demonstra que a preocupação com a comunidade foi a fonte de

toda a construção doutrinária.

Embora a doutrina traga o sétimo princípio de forma expressa e enfática,

sendo aplicado por cooperativas do Sistema SICOOB nas comunidades, poucas são

as produções científicas que tratam desse tema, motivo pelo qual se faz necessário

a realização dessa pesquisa como meio de embasar novos trabalhos na área social.

Portanto, o trabalho aborda a relevância da elaboração de políticas

cooperativistas como forma de integrar as organizações, no âmbito das

comunidades, visto que existem dados concretos dos efeitos positivos alcançados

pelos investimentos econômicos, sociais, educacionais, esportivos e de segurança

pública.

No desenvolvimento da pesquisa buscou-se uma familiarização com o

fenômeno para se obter uma percepção do problema e descobrir novas ideias,

característica que nos permite classifica-lo um estudo exploratório (CERVO, 2002).

Segundo Gil (2008), “estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior

familiaridade com o problema, com vista torná-lo mais explícito ou construir

hipóteses”.

O universo da pesquisa, ou seja, a população e a amostra que serão

pesquisadas. Segundo Lakatos e Marconi (1991), essa delimitação do universo da

pesquisa consiste em explicitar que pessoas ou coisas, fenômenos, etc. serão

pesquisados, enumerando suas características comuns, como por exemplo, sexo,

faixa etária, organização a que pertencem e comunidade onde vivem.

A escolha de uma amostra só ocorre quando a pesquisa não é censitária, isto

é, quando não abrange a totalidade dos componentes do universo. Segundo Lakatos

e Marconi (1991), nos estudos por amostragem, é preciso escolher uma parte (ou

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amostra), de tal forma que ela seja a mais representativa possível do todo e, a partir

dos resultados obtidos, relativos a essa parte, poder inferir, o mais legitimamente

possível, os resultados da população total, se essa fosse verificada.

Por conseguinte, este trabalho objetiva demonstrar através de pesquisas

bibliográficas e de estudo de caso da Cooperativa do Sicoob Acre, a importância da

implantação e implementação de políticas sociais voltadas para o bem-estar

econômico, financeiro e social das comunidades onde a Cooperativa está inserida.

E, desta forma, poder avaliar a viabilidade de investimentos nas comunidades do

Sicoob Acre para a inclusão social de crianças e adolescentes em condição de

vulnerabilidade socioeconômica.

Foram aplicados trinta e oito questionários com os participantes do Programa,

pais ou responsáveis e o facilitador, em seguida os dados foram tabulados no

software Excel 2008, possibilitando à geração dos gráficos necessários a análise.

2 COOPERATIVA DE CRÉDITO SICOOB ACRE

Nos anos 90 a população acriana, em especial, os servidores públicos

estaduais passavam por momentos de dificuldades financeiras no Estado, a Frente

Popular quando assumiu em 1999 teve muitas dificuldades porque o antecessor

deixou a folha de pagamento atrasada há quatro meses. As Secretarias sucateadas,

sem orçamento, de forma que o funcionalismo público estava desacreditado, e

paralelamente a este quadro as representações de classe da Polícia Militar deste

Estado, a saber, os clubes Cabos e Soldados, Subtenentes e Sargentos, e Oficiais

encontravam-se em dificuldades financeiras e com dívidas no mercado, assim como

todo o efetivo da Polícia Militar. Não conseguiam honrar seus compromissos, em

virtude do atraso salarial.

Isso ensejou a agiotagem dentro das instituições, onde muitas pessoas

extorquiam o “minguado” salário dos servidores, de maneira que o endividamento

era muito grande.

Diante desse cenário, no dia 8 de abril de 1999 um grupo formado por vinte e

cinco policias militares, reunidos em Assembleia Geral no auditório da Emater – Acre

aprovou a criação da Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Policias

Militares do Estado do Acre - CREDMAC. Ficou definido que cada cooperado

integralizaria R$ 20,00 (vinte reais), totalizando R$ 500,00 (quinhentos reais) por

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mês de capital social. Nessa assembleia, foi eleita a primeira Diretoria, o Conselho

de Administração e o Conselho Fiscal, sendo aberta uma conta num banco público.

A Cooperativa iniciou emprestando pequenos valores aos associados, como os

valores subscritos, mas não atendia à demanda. Foi necessário fazer sorteios do

próximo cooperado contemplado a contrair o empréstimo, pois a procura era maior

que a oferta, porém em outubro do mesmo ano chegou a homologação do Banco

Central do Brasil. Nesse momento, já havia mais de 200 (duzentos cooperados) e

R$ 20.000,00 (vinte mil reais) de Capital Social.

A primeira sede foi em uma sala na Av. Benjamim Constant nos altos da

Lanchonete Pão de Queijo, depois no Palácio das Secretarias do Governo e, por

último, no quartel do Comando Geral da Polícia Militar, onde está até hoje. A razão

social mudou para Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores em

Segurança Pública do Estado do Acre/ SICOOB Acre.

Em 2008, a Cooperativa SICOOB Acre recebia muitos pedidos de ajuda

financeira dos associados e pessoas da comunidade, para realizar as mais diversas

atividades culturais, desportivas e sociais. Os pedidos eram submetidos à avaliação

do Conselho de Administração da Cooperativa, para aprovação.

Paralelo a isso, a Cooperativa foi procurada por associados para auxiliar

financeiramente um grupo de crianças e adolescentes filhos de cooperados, com

intuito de montar uma equipe de futebol para proporcionar lazer. No começo era

apenas brincadeira e lazer, mas, que necessitava de planejamento e investimentos

em recursos humanos, infraestrutura e materiais esportivos (coletes, tênis, chuteiras,

camisas, meiões, calções e bolas) e de apoio (garrafas térmicas, bebedouros, frete

de transporte e reforma da quadra).

O Conselho de Administração da Cooperativa Sicoob Acre aprovou a compra

de materiais e equipamentos no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e ajuda para

custear as demais despesas no valor de R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais)

mensais por dois anos. No início do Projeto, foram matriculadas cerca de cinquenta

crianças na escolinha. A preferência era as crianças dos bairros periféricos de Rio

Branco como forma de incluí-las, socialmente, através da prática esportiva,

retirando-as da ociosidade e assédio da criminalidade.

Assim, a procura por vagas aumentou e tornou-se necessário dividir os grupos

em sub 10, sub 11 a sub 13, sub 14 a sub 15. Muitas crianças chegavam ao

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treinamento, descalças, sujas, tímidas, porém cheias de esperança de

permanecerem no Projeto. As crianças vinham em grupos, sozinhas ou

acompanhadas dos pais ou responsáveis. As ausências eram rotineiras, motivadas

muitas vezes, pela falta de meio de transporte.

Com os treinamentos diários muitas crianças destacaram-se, chamando a

atenção dos organizadores, com diversos convites para participarem de

competições desportivas nas respectivas faixas etárias.

Eram necessários mais investimentos para participar dos campeonatos, então

foi deliberado através do Conselho de Administração que a Cooperativa Sicoob Acre

financiaria o pagamento das inscrições nos torneios, resultando em inúmeros títulos,

que trouxeram alegrias e mais responsabilidades a todos os envolvidos no Projeto.

O resultado final do projeto para aquelas crianças que ultrapassaram a idade limite

dos 15 (quinze) anos, constituía na perspectiva de uma vida cidadã, com

possibilidade de ingresso nas equipes de futebol da base local, e fora do Estado,

como foi o exemplo de alguns jovens que ingressaram nas categorias de base do

Clube de Futebol e Regatas do Flamengo do Rio de Janeiro.

Quanto às ações sociais em instituição informal de caridade destaca-se a

Creche Sagrado Coração de Jesus, localizada na Rua Baguari, Bairro Taquari, em

Rio Branco – Acre que atende a 74 crianças de dois a quatro anos de idade, em dois

turnos, manhã e tarde. Ela não recebe apoio institucional do Governo Estado do

Acre, porém a Prefeitura Municipal de Rio Branco realiza o pagamento do aluguel da

casa que serve de sede para a creche, bem como cedeu os sete funcionários de

apoio e parte dos alimentos utilizados, ficando dependente de doações da

comunidade.

Motivada pela grande procura por vagas na creche Sagrado Coração de Jesus,

a Administração da instituição não governamental estabeleceu o critério do sorteio

para a distribuição das vagas, contemplando dessa maneira as crianças mais

carentes, filhos de mães solteiras que não têm onde deixá-los quando saem para

trabalhar e nem possuem poder aquisitivo para pagar uma babá.

Muitos dos objetos e materiais de apoio são oriundos de doações voluntárias

de moradores do próprio bairro. Assim, sensibilizados com o bem-estar das crianças

os gestores da Cooperativa SICOOB Acre, atendendo ao sétimo princípio do

cooperativismo, estabeleceu parceria com a Creche Sagrado Coração de Jesus e

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realizou um café da manhã, com atividades recreativas desenvolvidas pelos

colaboradores da Cooperativa Sicoob Acre e distribuição de brinquedos no Dia das

Crianças.

Com isso, a Cooperativa de Crédito Sicoob Acre ultrapassa as fronteiras da

instituição financeira, demonstrando uma real preocupação com as mazelas sociais

impostas por um sistema que a cada dia gera mais desigualdades sociais. A

Cooperativa ao influenciar positivamente as comunidades próximas, de maneira que

consigam despertar a possibilidade de uma realidade futura diferenciada,

principalmente às crianças e adolescentes proveniente de locais à margem da

sociedade que na sua grande maioria são corrompidas para o “mundo” do tráfico e

da prostituição na mais tenra idade.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

De acordo com TAKAHASHI (1982), no Brasil, o cooperativismo só surgiu no

final do Século XIX, atribuindo-se o interesse por esse novo tipo de sociedade

socioeconômica criada com a abolição da escravatura.

As crescentes preocupações das pessoas por melhores condições de vida,

redução dos índices de violência, programas na área educacional, social, de lazer,

menor carga fiscal, melhores salários, condições de trabalho e fim da corrupção. Um

dos indicadores são as manifestações sociais desencadeados no país em junho de

2013.

A população vem demonstrando sua indignação com a governança institucional

do país. Assim, o presente trabalho é baseado em um estudo de caso, que tem

como objetivo geral atender aos anseios das comunidades na qual está inserida a

Cooperativa SICOOB Acre, visando minimizar os impactos da ausência de politicas

públicas nessas comunidades.

O desenvolvimento de uma comunidade vai depender de uma conjugação de

elementos políticos, institucionais e sociais que podem estar agrupados

genericamente com o título de capacidade social de organização dela. E, sem a

presença desses elementos não será possível produzir o passo qualitativo do

crescimento ao desenvolvimento.

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Uma alternativa para as demandas de crédito e de serviços financeiros tem sido

encontrada no cooperativismo. O crédito do cooperativismo financeiro vem se

mostrando uma forte alternativa para as demandas financeiras em muitos países

como Alemanha, Estados Unidos, Bélgica, Holanda apresentando resultados

satisfatórios.

Segundo BALDUS e WILLENS, (apud PEREIRA 1994), a cooperação é uma

forma de integração social e pode ser entendido como ação conjugada em que as

pessoas se unem de modo formal ou informal, para alcançar o mesmo objetivo.

As ações implementadas por uma cooperativa de crédito, em determinada

região, possibilitam deslocar o estado estacionário dessa economia em processo de

dinâmica de transição, promovendo um verdadeiro milagre econômico dentro do

quadro geral de crescimento. Uma vez que o solidarismo passa a existir na prática

cooperativista é, por sua natureza, um movimento não especulativo. Essa união

entre pessoas de forma coletiva promove o seu autodesenvolvimento econômico,

transcende ao contraste que existe na especulação capitalista (DOMINGUES, 2002).

O objetivo das cooperativas de crédito, no entendimento de Schardong (2002),

sempre foi promover a captação de recursos financeiros para financiar as atividades

econômicas dos cooperados, a administração das suas poupanças e a prestação

dos serviços de natureza bancária por eles demandados. Dessa forma, o

cooperativismo evoluiu e conquistou um espaço próprio, definido por uma nova

forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social. Por unir as

pessoas através da ajuda mútua, assumindo uma forma igualitária e social, o

cooperativismo é aceito por todos os governos e reconhecido como fórmula

democrática para a solução de problemas socioeconômicos.

Destaca-se que o primeiro Instituto a disciplinar o cooperativismo de crédito no

Brasil foi a Lei nº 5.764/71, que segundo Meinem e Port (2014), antes mesmo da

Constituição Federal de 1988 já assegurava a plenitude associativista.

Ao se analisar a importância das cooperativas, é necessário compreender o seu

significado, de acordo com a Lei nº 5.764/71, “são sociedades de pessoas, com

forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência,

constituídas para prestar serviços aos associados”.

Conforme o Art. 28 da Lei nº 5.764/71, que define a política nacional de

cooperativismo, além dos fundos obrigatórios nela contidos, as cooperativas podem

11

criar outros com fins específicos e tempo determinado e direcioná-los para

atividades nas comunidades onde as cooperativas estão inseridas.

Art. 28. As cooperativas são obrigadas a constituir:

I - Fundo de Reserva destinado a reparar perdas e atender ao

desenvolvimento de suas atividades, constituído com 10% (dez por cento),

pelo menos, das sobras líquidas do exercício;

II - Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, destinado à

prestação de assistência aos associados, seus familiares e, quando previsto

nos estatutos, aos empregados da cooperativa, constituído de 5% (cinco por

cento), pelo menos, das sobras líquidas apuradas no exercício.

§ 2º Os serviços a serem atendidos pelo Fundo de Assistência

Técnica, Educacional e Social poderão ser executados mediante convênio

com entidades públicas e privadas.

Para Meinem e Port (2014), integrar o conteúdo da CF/88, dentro do modelo

adotado pelo Brasil, significa fazer parte das diretrizes fundamentais do

ordenamento político-jurídico-econômico-social do Estado.

No ano de 2009, foi editada a Lei Complementar nº 130 que

passou a reconhecer o Sistema Nacional Cooperativo, como identidade

institucionalizada passa a assumir relevância inédita no contexto do Sistema

Financeiro Nacional.

De acordo Meinem e Port (2014), “as cooperativas são importantes instâncias

de inclusão social nas comunidades e regiões em que atuam, sendo que estas não

possuem um condão mágico para solucionar os problemas sociais, mas sem dúvida

são norteadas por princípios e valores que possibilitam o seu funcionamento,

movimento este baseado na solidariedade”.

De acordo com Meinem e Port (2014) no quesito inclusão são louváveis os

programas sociais e educativos desenvolvidos pelo cooperativismo financeiro

brasileiro, sejam eles por meio do Programa: A União faz a Vida, desenvolvido pelo

SICRED, do Cooperjovem, coordenado pelo SESCOOP, do Progri, desenvolvido

pelo CECRED, do Coopercriança, coordenado pela CONFEBRAS, e tantos outros

concebidos por meio de iniciativas individuais.

O cooperativismo de crédito deve praticar, diariamente, os sete princípios

cooperativistas que norteiam a existência desse modelo, como afirma Meinem e Port

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(2014), o cooperativismo é um estilo de vida, desvinculado de qualquer sistema

político ou religioso, organizado por meio da união das pessoas em torno de

objetivos comuns.

Ainda conforme Meinem e Port (2014), em uma cooperativa, o que os

associados percebem são os produtos e serviços que ela oferece, mas o que de fato

sustenta a entidade são raízes e os fundamentos sobre os quais está construída,

que são os princípios e valores do cooperativismo. Quanto maior for a cooperativa,

mas apegada ela deve estar a sua base filosófica e doutrinária, garantindo sua

solvência, seu crescimento e desenvolvimento e sua perpetuidade no tempo.

Segundo Schneider, inclusão social é oferecer aos associados oportunidades

de participarem da distribuição de trabalho e renda do país, dentro de um sistema

que beneficie a todos e não somente uma camada da sociedade. O modelo

econômico vigente se alimenta da exclusão de grande parcela da população em

relação aos meios de produção.

Ainda, segundo o mesmo autor, as cooperativas surgiram e continuam

surgindo em tempos de crise. As cooperativas permitem obter a realização

econômica para seus associados, distribuem renda, geram benefícios sociais e no

plano político, permitindo ao associado espaços de participação e a assunção do

protagonismo no processo decisório da atividade econômica e organizacional. Há

quem entenda que o cooperativismo pode ser considerado uma terceira via, entre o

capitalismo e o socialismo que pode levar a inclusão social, pois ao gerar empregos

para a sociedade, as pessoas estão sendo incluídos no processo produtivo.

4 ESTUDO DE CASO

Atualmente, vislumbra-se um momento histórico representado por um novo

momento político de fortes bases sociais e articulação da sociedade civil. Não existe

política social que se desenvolva sem um movimento engajado da sociedade. A

Constituição Cidadã de 1988 deixou o cidadão consciente dos seus direitos e

obrigações. A linha mestra das ações sociais deve nascer de uma visão profunda da

relação de interdependência entre governo-empresa-homem-natureza, caracterizado

pelo convênio Público, Privado e Comunidade (PPC).

13

O SICOOB Acre está baseado nos princípios cooperativistas, demonstrando

interesse pela comunidade resolveu estabelecer parcerias com comunidades mais

carentes do município de Rio Branco particularmente com a escolinha de futebol da

Polícia Militar que tem como público alvo crianças e adolescentes com idade entre

10 e 15 anos de diversas comunidades. E, a Creche Sagrado Coração de Jesus,

localizada no Bairro Taquari, que recebe crianças de 2 a 4 anos de idades dessa

comunidade e bairros adjacentes, proporcionando expectativa de práticas saudáveis

de atividades sociais e desportivas, contribuindo para uma sociedade mais justa e

igualitária para todos.

Os dados foram coletados através de aplicação de questionários nas duas

entidades pesquisadas, inquirindo os participantes dos Projetos, seus responsáveis

e gestores que desenvolvem as atividades. É uma amostra de 38 pessoas

pesquisadas, selecionadas ao acaso dentro do universo dos Projetos.

A pesquisa envolveu público de diversas comunidades que embora os Projetos

sejam concentrados em espaços físicos determinados demonstrou que atingem pelo

menos dez bairros diferentes, na sua maioria mais distante do centro da cidade. A

faixa etária pesquisada ficou entre 13 a 57 anos.

Ao se analisar os dados da pesquisa, verificou-se no caso da Creche Sagrado

Coração de Jesus, por se tratar de uma comunidade em situação de extrema

pobreza a maioria das mães que têm filhos na instituição são adolescentes, mães

solteiras, e às vezes, fora do mercado de trabalho, tendo como única alternativa

para alimentar seus filhos o período em que ficam na creche.

Podemos observar através do Gráfico 1, que o projeto é abrangente e atende

tanto filhos de cooperados como não-cooperados, sendo esses em maior

quantidade que aqueles.

14

Gráfico 1: Representação do público do Projeto que são Cooperados e não-cooperados

Quando questionados sobre a contribuição da Cooperativa SICOOB Acre na

inclusão social. Os pesquisados responderam que conseguiam atingir tanto os

aspectos financeiros, econômicos e sociais. No Gráfico 2, percebemos que o mais

representativo foi a contribuição social por proporcionar oportunidades que tiram

essas crianças e adolescentes da situação de risco e em segundo lugar o financeiro.

Gráfico 2: Contribuição da Cooperativa SICOOB Acre na inclusão

O Gráfico 3 demonstra que para os pesquisados a Cooperativa poderá

desenvolver novas ações, em termos socioeconômicos voltadas às crianças, por ser

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COOPERADOS NÃO-COOPERADOS

MER

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AD

OS

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AD

OS

RELAÇÃO COM A COOPERATIVA SICOOB ACRE

RELAÇÃO COOPERADOS NOS PROJETOS SOCIAIS DA COOPERATIVA SICOOB ACRE

ESCOLINHA CRECHE SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

02468

1012141618202224

FINANCEIROS ECONÔMICOS SOCIAIS

EN

TR

EV

IST

AD

OS

ASPECTOS

CONTRIBUIÇÃO DA COOPERATIVA NA INCLUSÃO

ESCOLINHA CRECHE SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

15

o público mais susceptível de abusos de toda ordem, porém o mesmo gráfico

também indicou possiblidades de atuação com pessoas carentes de todo gênero.

Gráfico 3: Novas ações em termos socioeconômicos

O Gráfico 4 demonstra que a contribuição das ações realizadas pela

Cooperativa em ambos os Projetos representou grande importância nos trabalhos

ordinários executados pelas entidades pesquisadas, visto que possibilitou

desenvolver atividades extras que não seriam possíveis sem os recursos injetados

nos Projetos.

Gráfico 4: Melhoria do trabalho

Com base nos gráficos apresentados podemos dizer que os resultados obtidos

confirmam a hipótese apresentada no artigo, que os investimentos das cooperativas

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CRIANÇAS MULHERES IDOSOS CARENTES

EN

TR

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IST

AD

OS

PÚBLICO

NOVAS AÇÕES EM TERMOS SOCIOECONÔMICOS

ESCOLINHA CRECHE SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

02468

10121416182022

POUCO MÉDIO MUITO

EN

TR

EV

IST

AD

OS

PERCENTUAL

CONTRIBUIÇÃO DA COOPERTATIVA NA MELHORIA DO TRABALHO

ESCOLINHA CRECHE SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

16

de crédito nas comunidades do entorno gera relacionamento positivo com elas,

sendo estas alcançadas pelos serviços sociais da cooperativa, atendendo ainda, o

sétimo princípio do cooperativismo.

Observamos ainda, quão carentes são essas comunidades dos serviços

públicos básicos, principalmente o publico infanto-juvenil, carentes dos serviços de

saúde, educação, moradia, segurança, lazer, esporte e alimentação. Nossa visão

antes das pesquisas era superficial dos enormes problemas enfrentados pelas

comunidades alcançadas pelo projeto.

5 CONCLUSÕES

Nesta pesquisa desenvolveu-se o conceito do sétimo principio do

cooperativismo demonstrando o interesse pela comunidade, em ações para integrar

socialmente. Ênfase às crianças e adolescentes em situação de risco iminente que

estão afastados de ações do Poder Público e o comprometimento da Cooperativa

estudada nas práticas de ações sociais.

O SICOOB Acre vem investindo fortemente na responsabilidade social, com

intuito de continuar a desenvolver projetos e as ações sociais para beneficiar

principalmente as comunidades carentes locais.

A divulgação de projetos e ações traz como consequência a melhoria das

condições sociais das comunidades alcançadas que se beneficia e fortalece ainda o

sistema cooperativista local.

Observou-se também no desenvolvimento do trabalho que além da inexistência

de projetos voltados para esse fim pelo SICOOB Nacional, os existentes ocorrem de

forma isolada, esporadicamente sem planejamento de curto, médio e longo prazo. O

mais indicado seria a existência de um Projeto integrado, a exemplo do Dia de

Cooperar realizado pela OCB/Sescoop Nacional.

Atualmente, o cooperativismo financeiro ainda representa uma pequena

parcela do Sistema Financeiro Nacional, mas essa preocupação com o social das

comunidades do entorno e com seus cooperados torna-se um diferencial de

mercado.

Com isso, percebemos a viabilidade de investimentos das cooperativas de

crédito em projetos sociais dentro de comunidades carentes do aparato social, ou

17

por consequência da falta de planejamento familiar ou muitos casos por causa da

drogadição, que atualmente é um mal que assola muitas famílias. Investindo nas

crianças e adolescentes dessas comunidades o cooperativismo de crédito está

cumprindo sua função social.

Além disso, vale constar que o desenvolvimento para que seja sustentável

deve atender os princípios econômico, ambiental e social, este último trata do

cuidado com o ser humano, de tentar garanti-los uma vida digna.

Foi possível verificar que 73% do público amostral não eram cooperados ou

parentes destes em linha reta ou colateral, 66% dos participantes afirmaram que os

Projetos foram fundamentais na vida social e financeira dos seus filhos e ficou

demonstrado com a pesquisa que a cooperativa SICOOB Acre facilitou o trabalho

das Instituições envolvidas em 83%, sejam de maneira financeira e social, incluindo

as pessoas através do esporte, lazer e educação.

Por tudo que foi exposto, devemos aprofundar os estudos e estreitar ainda

mais o relacionamento com essas comunidades, demonstrando para a sociedade

civil organizada, que a relação da cooperativa, com seus associados e comunidade

não deve se restringir a uma relação comercial como em outras instituições

financeiras. A cooperativa além de oferecer todos os produtos e serviços financeiros

aos seus associados oferece ainda, participação nos resultados, lazer, cidadania

aos seus associados, e inclusão social as suas comunidades.

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REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de outubro de 1988; Presidência da República. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acessado em 15 de fev 2015. BRASIL, Lei 5.764 de dezembro de 1971; Presidência da República. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp130.htm> Acessado em 15 de fev 2014. BRASIL, Lei 5.764 de dezembro de 1971; Presidência da República. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5764.htm> Acessado em 15 de jun 2014. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002.

DOMINGUES, J. N; DOMINGUES, J.A. S. MEINEN, E. Cooperativas de crédito no direito brasileiro. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991.

LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

MEINEM, E.; PORT, M. Cooperativismo financeiro. Brasília: Confebras, 2014.

PEREIRA, Anísio Cândido. Contribuição e análise das demonstrações financeiras das sociedades cooperativas brasileiras. Caderno de Estudos nº10, São Paulo, FIPECAFI, 1994.

SCHARDONG, Ademar. Cooperativa de Crédito: instrumento de organização da sociedade. Porto Alegre: RI GEL, 2002. SCHNEIDER, José Odelso. O cooperativismo como gerador de renda e o seu impacto social. Portal do cooperativismo de crédito. Disponível em: < http://cooperativismodecredito.com.br/news/2010/11/o-cooperativismo-como-gerador-de-renda-e-o-seu-impacto-social/> Acessado em 16 de fev 2014.

TAKAHASHI, M. Análise de Administração contábil das cooperativas agrícolas do estado do Paraná. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, 1982. (Dissertação de Mestrado).

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ANEXO

Inicio do projeto em 2008, já colhendo o fruto do esforço de todos, sendo

homenageados em solenidade oficial.

Figura 1: Início do Projeto Escolinha da PMAC em 2008.

Figura 2: Seleção de crianças para a escolinha da PMAC.

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Figura 3: Adolescentes da Escolinha PMAC em campeonato estadual Sub-15.

Figura 4: Fachada da Creche Sagrado Coração de Jesus

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Figura 5: Dia das Crianças na Creche Sagrado Coração de Jesus