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BASE DE ACORDO DA TENDÊNCIA SINDICAL RESISTÊNCIA POPULAR APRESENTAÇÃO: A tendência sindical Resistência Popular atua como coletivo de trabalhadores militantes organizados sindicalmente. É uma tendência combativa para o movimento sindical. Consideramos importante reunir-se enquanto tendência para agrupar os trabalhadores que concordam com a concepção sindical que defendemos, não para substituir o sindicato, mas para influenciar com uma linha combativa coerente com a construção de base. Entendemos que dentro do conjunto das classes oprimidas, a luta sindical tem uma significativa importância para a construção do Poder Popular, não sendo, porém, os trabalhadores a classe eleita ou o único sujeito ativo no antagonismo de classe. Partimos da necessidade de construir o protagonismo e a organização popular de forma combativa, solidária, independente e não sectária, rompendo com as práticas tradicionais, não exclusivas do movimento sindical, como a burocracia e o aparelhismo, velhos causadores de fragmentação e cooptação das lutas, dos lutadores e das conquistas. Afirmamos não apenas o resgate de um “novo” discurso , mas principalmente a disposição para novas práticas, que apontem para a reconstrução do sindicalismo combativo e classista, tendo no Sindicalismo Revolucionário o nosso referente histórico. CONCEPÇÃO SINDICAL: Definimos como concepção sindical a afirmação tanto de princípios como de métodos e práticas orientadoras. Não se trata de uma construção teórica no sentido político-ideológico, mas, sobretudo do conjunto de princípios históricos relacionados à tradição do sindicalismo revolucionário e consequentemente do “como fazer” adequado à atual etapa, não se desfazendo dos referentes e exemplos históricos, mas a partir destes para o nosso tempo e seus sujeitos, suas classes oprimidas e seus inimigos. Não cabem nesta concepção dogmas ou verdades absolutas ou ditas científicas, mas sim uma orientação quanto aos princípios e métodos para a prática sindical inserida na estratégia de construção do Poder Popular. PRINCÍPIOS DO SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO: Independência de classe : independência política, executiva e financeira em relação aos governos, patrões e partidos políticos. Não negamos a existência nem a necessidade de organizações políticas assim como entendemos que os sindicatos são o espaço de unidade para a luta reivindicativa dos trabalhadores, independente das diferentes matrizes ideológicas que o compõem. A disputa ideológica não deve ser a motivação da luta sindical e sim a necessidade de conquistas imediatas para os trabalhadores organizados Quando se restringe a luta sindical aos dogmas e interesses de um partido

Base de Acordo RP

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Page 1: Base de Acordo RP

BASE DE ACORDO DA TENDÊNCIA SINDICAL RESISTÊNCIA POPULAR

APRESENTAÇÃO:

A tendência sindical Resistência Popular atua como coletivo de trabalhadores

militantes organizados sindicalmente. É uma tendência combativa para o movimento

sindical. Consideramos importante reunir-se enquanto tendência para agrupar os

trabalhadores que concordam com a concepção sindical que defendemos, não para

substituir o sindicato, mas para influenciar com uma linha combativa coerente com a

construção de base.

Entendemos que dentro do conjunto das classes oprimidas, a luta sindical tem

uma significativa importância para a construção do Poder Popular, não sendo, porém, os

trabalhadores a classe eleita ou o único sujeito ativo no antagonismo de classe.

Partimos da necessidade de construir o protagonismo e a organização popular de forma

combativa, solidária, independente e não sectária, rompendo com as práticas

tradicionais, não exclusivas do movimento sindical, como a burocracia e o aparelhismo,

velhos causadores de fragmentação e cooptação das lutas, dos lutadores e das

conquistas.

Afirmamos não apenas o resgate de um “novo” discurso, mas principalmente a

disposição para novas práticas, que apontem para a reconstrução do sindicalismo

combativo e classista, tendo no Sindicalismo Revolucionário o nosso referente

histórico.

CONCEPÇÃO SINDICAL:

Definimos como concepção sindical a afirmação tanto de princípios como de

métodos e práticas orientadoras. Não se trata de uma construção teórica no sentido

político-ideológico, mas, sobretudo do conjunto de princípios históricos relacionados à

tradição do sindicalismo revolucionário e consequentemente do “como fazer” adequado

à atual etapa, não se desfazendo dos referentes e exemplos históricos, mas a partir destes

para o nosso tempo e seus sujeitos, suas classes oprimidas e seus inimigos. Não cabem

nesta concepção dogmas ou verdades absolutas ou ditas científicas, mas sim uma

orientação quanto aos princípios e métodos para a prática sindical inserida na estratégia

de construção do Poder Popular.

PRINCÍPIOS DO SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO:

Independência de classe: independência política, executiva e financeira em relação aos

governos, patrões e partidos políticos. Não negamos a existência nem a necessidade de

organizações políticas assim como entendemos que os sindicatos são o espaço de

unidade para a luta reivindicativa dos trabalhadores, independente das diferentes

matrizes ideológicas que o compõem. A disputa ideológica não deve ser a motivação da

luta sindical e sim a necessidade de conquistas imediatas para os trabalhadores

organizados Quando se restringe a luta sindical aos dogmas e interesses de um partido

Page 2: Base de Acordo RP

ou corrente sindical, por exemplo, ganham a burocracia e o aparelhismo, distanciando

mais ainda os sindicatos do protagonismo popular, neste caso da categoria que a

entidade representa.

Solidariedade de classe: o antigo conceito de ajuda mútua, não restrito ao apoio

econômico está inserido no que entendemos como solidariedade. Esta é um princípio,

portanto imutável, inegociável, independente de conjuntura ou até mesmo etapa. É uma

orientação geral e constante, para com todos os setores das classes oprimidas. Não

significa esperar dos sindicatos estrutura física ou apoio material, trata-se de estar junto

de fato, em todos os sentidos, compreendendo que nós, os diversos sujeitos históricos

das diferentes classes oprimidas temos nas classes dominantes e elites dirigentes, assim

como nos seus governos de turno, inimigos em comum. Estamos todos subjugados pelo

sistema capitalista, portanto, mesmo que diferentes devemos estar solidários nas lutas,

nas derrotas e também nas conquistas.

Internacionalismo: como extensão da solidariedade de classe, é importante ressaltar que

esse princípio é para além das fronteiras dos estados nacionais. O internacionalismo

esteve presente no movimento operário desde a criação dos sindicatos na 2ª metade do

século XIX. No contexto atual, faz-se mais do que necessário à prática internacionalista

diante do capitalismo monopolista e da concentração de poder nas empresas

transnacionais que possuem territorialidade dispersa para explorar os trabalhadores de

distintos países e fragmentar a sua organização enquanto classe.

Ação direta: o uso de todos os meios necessários para potencializar as lutas

protagonizadas pelos trabalhadores, no caso a luta sindical, caracteriza este princípio.

Significa não delegar às práticas cotidianas, desde a organização de base, propaganda

até os espaços de intermediação e negociação, para dirigentes de qualquer natureza. E

menos ainda limitar a atuação aquilo que é permitido ou acordado pelos patrões e seus

governos de turno. A representação como delegação para tarefas específicas neste

campo é um método organizativo que deve ter objetivos e limites bem precisos.

Reproduzir a lógica parlamentar para qualquer entidade ou instância dos movimentos

sociais é um equívoco do qual floresce a burocracia sindical e por conseqüência a

apropriação da entidade para seus interesses. Se nada podemos esperar senão de nós

mesmo, é com esta convicção que reafirmamos que o protagonismo da luta popular é

fundamental ao sindicalismo classista e combativo. Afinal, já diz um hino “...façamos

nós com nossas mãos tudo que a nós nos diz respeito...”

Federalismo político: é o princípio que orienta o método organizativo de forma

democrática e horizontal, pautado na representação do que é definido pela base em

questão, como por exemplo de uma comissão de fábrica para o sindicato e deste para

uma central sindical. O delegado ou membro das executivas das entidades pode ser

trocado caso estas bases não sintam representadas as suas posições, propostas ou

encaminhamentos.

Democracia direta e de base: a democracia direta juntamente com o federalismo são os

pilares de um sistema de poder onde as decisões são discutidas e decididas diretamente

pela base. É o oposto do centralismo que tenta levar a base à reboque do mando vertical

de uma vanguarda.

Page 3: Base de Acordo RP

MÉTODOS E PRÁTICAS PARA O MOVIMENTO SINDICAL:

Organização pelo local de trabalho (OLT): a organização dos trabalhadores pelo local

de trabalho representa o verdadeiro poder do movimento sindical de fato constituído por

democracia direta e de base. A OLT é um método organizativo que deve se fazer

presente para garantir a máxima participação dos trabalhadores desde o seu local de

trabalho, atuando ativamente nas categorias e também nos sindicatos através dos seus

delegados, cipeiros e ativistas nas demais instâncias sindicais. É a forma de combate

eficaz contra a burocratização e a classe de dirigentes burocratizados. O cotidiano das

lutas deve ser parte da vida dos sindicalizados também no seu cotidiano. Tendo o

federalismo político por princípio, “os dirigentes’ devem representar o que a categoria

delibera e não falar em nome dela a sua revelia, sem sequer buscá-la em suas bases, o

que de fato ocorre no sindicalismo contemporâneo hegemônico.

Organização pelo local de moradia: No mesmo sentido que a OLT, a extensão das lutas

para o local de moradia é uma modalidade de organização histórica dos trabalhadores

que foi abandonada pelo sindicalismo atual. Contempla não só os distintos sujeitos que

vivem em uma determinada região, como um bairro onde moram trabalhadores

regulares, informais, desempregados, estudantes, donas de casa, por exemplo, como

também aviva a solidariedade de classe. Por isso a defendemos na prática e não somente

no discurso, a exemplo do trabalho realizado junto às Rádios Comunitárias e também

nos vínculos dos trabalhadores de diferentes categorias com as comunidades.

Protagonismo das categorias (de base): “A emancipação dos trabalhadores deve ser obra

dos próprios trabalhadores”. Isso não significa a defesa do espontaneísmo, mas sim a

participação ativa dos trabalhadores na luta cotidiana. O papel do militante e da

tendência sindical, portanto, deve ser o de impulsionar e estimular as lutas, trazer novos

lutadores e combater o aparelhamento e a burocratização. Entendemos por

aparelhamento a cultura vigente de apropriar-se do sindicato, tanto politicamente como

na sua estrutura jurídica e material. Os interesses dos dirigentes, sejam pessoais ou

partidários não podem prevalecer.

Combate a burocracia sindical e ao aparelhismo: O combate a burocracia se faz com um

sindicalismo de luta onde os trabalhadores tenham controle sobre as decisões. A

descentralização do poder decisório, o empoderamento da organização por local de

trabalho, dos delegados sindicais e a regularidade das assembléias e demais instâncias

são antídotos contra a burocratização. A rotatividade dos delegados nas distintas tarefas,

a constante renovação dos militantes de base e também critérios mais rigorosos quanto à

liberação dos dirigentes do seu local de trabalho são algumas práticas capazes de

romper com a burocracia sindical e potencializar a democracia direta, o federalismo

político e a independência de classe, fechando as portas para o encastelamento e a

acomodação e abrindo caminho para o sindicalismo classista e combativo.

Propaganda: A tarefa de propaganda é fundamental para estimular o pensamento crítico

das nossas realidades e mobilizar os trabalhadores. Deve ser praticada permanentemente

como método para o diálogo, reflexão e unidade. O estímulo à publicação independente

de boletins, jornais, o incentivo as Rádios Comunitárias e outras mídias, potencializam a

convocação para a luta e empoderam os trabalhadores no combate aos impérios de

comunicação que são financiados pelos governos e patrões.

Page 4: Base de Acordo RP

Formação política e análise da realidade: Os trabalhadores devem educar-se para

entender o funcionamento da sociedade, das distintas realidades das classes oprimidas,

potencializando a vontade para transformá-la. A formação política tem a função de

contribuir com a emancipação dos trabalhadores enquanto sujeitos protagonistas no agir

e no pensar, mas sem fazer desses reprodutores de dogmas, teorias ou verdades

impostas. O hábito da leitura, a educação popular e o auto-didatismo são legados do

histórico movimento operário e ferramentas ainda tão úteis quanto necessárias.

Base de Acordo criada no 2º semestre de 2009 e alterada entre 2011 e 2012.