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Espiral 53

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Boletim da Associação FRATERNITAS MOVIMENTO – n.º 53 – outubro 2014 – março 2015 [email protected] | http://fraternitasmovimento.blogspot.pt

Não se inquiete o nosso coração: A Fraternitas VIVE FERNANDO FÉLIX, presidente

À saída da Assembleia Geral Extraordinária do dia 25 de outubro passado notou-se confusão e desalento em alguns sócios presentes. Os mesmos sentimentos foram confessados por sócios ausentes. O motivo: julgou-se que a Associação Fraternitas Movimento tinha acabado, que tinha sido extinta. Mas não foi isso o que aconteceu.

A ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA Como disse na carta «Ecos da Assembleia Geral

Extraordinária», dos 98 sócios efetivos, isto é, com direito a voto por terem a quota em dia, 42 estiveram fisicamente presentes. Outros 42 fizeram-se representar por procuração. (Relembro que na lista em posse da Direção constam 159 nomes.)

Sob a presidência de José Serafim A. de Sousa e o secretariado de Manuel Paiva, discutiu-se o ponto 1 em agenda: «Discussão e deliberação da passagem da

Associação Fraternitas Movimento a apenas Movimento Fraternitas», em duas perspetivas:

Primeira: Vantagens e desvantagens de deixar de ser Associação para ser só Movimento. José Serafim informou ter contactado dois técnicos em Direito acerca deste assunto e que ambos afirmaram não haver inconvenientes, uma vez que já éramos Movimento, e que só teríamos de alterar os Estatutos no que respeita aos Órgãos Sociais. Todavia, Francisco Monteiro alertou para a perda de personalidade jurídica perante a Igreja e a sociedade ao deixarmos de ser Associação. A partir daqui passou-se a uma segunda perspetiva:

Segunda: O que dificulta a vida da Associação Fraternitas Movimento é a falta de sócios disponíveis para os Órgãos Sociais, a inexistência de adesões de sócios novos e a necessidade de objetivos que nos façam sair de nós mesmos. Foram-se apresentando sugestões:

a) É necessário repensar os Órgãos Sociais, pois uma gestão como Associação requer onze elementos (5 na Direção, 3 na Assembleia Geral e 3 no Conselho Fiscal), enquanto que numa gestão como Movimento bastam cinco (3 na Direção e 2 na Assembleia Geral).

b) É necessário acrescentar um ou mais objetivos à Fraternitas – ecumenismo; luta contra todas as formas de exclusão social ou discriminação, por exemplo –, de modo a não ser uma associação que vive para si mesma, mas que dinamiza a Igreja e a sociedade com o seu carisma.

Nesta linha, sugeriu-se que se emendem os Estatutos da Fraternitas – nomeadamente os números 4 (acerca dos objetivos), 9 (órgãos sociais), 13 (cargos da Assembleia Geral), 19 (cargos da Direção), 22 (será retirado, cessando a função de vice-presidente), 27 a 32 (Conselho Fiscal) –, de modo a manter personalidade jurídica perante a Igreja e a

PRÓXIMO ENCONTRO NACIONAL RETIRO

Dias 17, 18 e 19 de abril

Tema: EM MOVIMENTO NA ALEGRIA DO EVANGELHO

Orientador: FREI LOPES MORGADO (Frade franciscano capuchinho, chefe de

redação da revista «Bíblica»)

Local: Centro Bíblico dos Capuchinhos Av. Beato Nuno, 405 | Fátima

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sociedade como Associação, mas sendo ágil a sua gestão como Movimento.

Para esta agilidade, sugere-se que se multipliquem os Encontros Regionais e que estes sejam atividades com impacto nas dioceses onde ocorram.

Uma emenda aos Estatutos ficou já consagrada: Art.º 3. «FRATERNITAS tem a sua sede em Lisboa, na Rua José dos Santos Pereira, 2 – R/C Esq. | 1500-380 Lisboa».

VOTAÇÃO NÃO DELIBEROU EXTINÇÃO Dos 98 sócios com direito a voto, votaram 84 (42

homens e 42 mulheres), seja presencialmente, seja através de procuradores antecipadamente escolhidos entre os 42 participantes (12 casais e 18 individuais):

a) Que a Fraternitas continue a ser gerida como Associação – 17 votos

b) Que a Fraternitas passe a ser denominada e gerida como Movimento – 62 votos

Votos em branco – 5; Não votaram – 14. O resultado da votação impediu por si só que

fosse deliberativa a extinção da Fraternitas, pois, segundo o Artigo 18 dos Estatutos, requeria-se «voto favorável de 4/5 da totalidade dos membros com direito a voto». Ou seja, seriam necessários 79 votos a favor, e totalizaram-se 62.

A Assembleia pronunciou-se, então, no sentido de acolher como deliberativo o resultado da votação: «Que a Fraternitas passe a ser denominada e gerida como Movimento», no contexto de «manter personalidade jurídica perante a Igreja e a sociedade como Associação, mas sendo ágil a sua gestão como Movimento», como foi dito atrás.

ESCRUTÍNIO DE NOVOS CORPOS SOCIAIS Na Assembleia solicitou-se a candidatura

voluntária de sócios aos órgãos sociais da Fraternitas: Direção e Assembleia Geral. Porém, não se conseguiu constituir nenhuma lista. Então, decidiu-se: a) A Direção até agora em exercício passa a Direção em GESTÃO. b) Realizar-se-ão Encontros Regionais – Norte: no Porto, animados por Alberto J. Osório de Castro e José Alves Rodrigues. Centro: em Coimbra, animado pelo casal João e Urtélia Silva. Sul: em Lisboa, animado por Fernando Félix e José Serafim. O objetivo é congregar os sócios da região, sondar e encontrar novos "timoneiros" do Movimento, convidar padres dispensados e respetiva família da zona e causar impacto na diocese.

A eleição dos novos corpos sociais far-se-á no próximo Encontro Nacional, em Fátima, em Assembleia Geral ordinária, no dia 19 de abril, domingo, pelas 9h45. Todos os sócios contam!

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CAMINHANDO PARA OS 20 ANOS DA FRATERNITAS Palavras e Gestos dos Nossos Anciãos

ANTÓNIO DUARTE, tesoureiro e vogal

Sabemos da relevância na Bíblia (Antigo e Novo Testamento) do Conselho dos Anciãos. Eram sempre consultados para as grandes decisões. Grande papel tiveram também na génese e organização das comunidades nascidas da pregação de Paulo no Império Romano.

Também a Fraternitas muito deve aos seus venerandos anciãos. Aqui e agora destacamos dois deles a quem a nossa fraternal Associação muito deve: 1 - Manuel Alves de Paiva, que, com 92 anos, feitos no dia 12 de agosto, tem exercido com brilho o ofício de secretário das Assembleias Gerais. A ele devemos, entre outras coisas, palavras de ânimo e de humor, de que ele é exímio mestre. 2 - Artur Cunha de Oliveira, também já com 90 anos, feitos a 30 de setembro, e que continua a brindar-nos, como sempre fez, com a publicação de livros e cartas primorosas na forma e no conteúdo, como esta de que publicamos um excerto:

«Julgamos necessário clarificar o seguinte: “movimento” de onde e para onde, ou para quê? É que se for para os fins constantes do artigo 4.º dos Estatutos, já os assumimos e continuaremos a assumir enquanto Fraternitas. Agora, como “movimento”, importa saber «para quê?». Ou seja: Quais os novos objetivos? Ousamos aventar aqui uma hipótese, que parte em princípio da linha profética que constituímos – o nosso profetismo (mais que evidente para quem tem olhos limpos e de ver) consistiu na nossa fidelidade à Igreja. Não cremos que alguém, e sobretudo a Hierarquia, nos possam acusar de falta nesse tanto. Mas, ficarmo-nos apenas por aí, quando há tanta falta de profetismo na Igreja portuguesa de hoje e quando o Papa Francisco nos aponta de mil maneiras para isso? Que dizer do ecumenismo, que não vemos quem o pratique sistematicamente na Igreja? E da realização de “Átrios dos Gentios”, quando é tamanha a necessidade de ouvirmos quem não tem fé (e porventura a procura), quando se torna urgente evidenciar a “Alegria do Evangelho”?»

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VIDA FRATERNITAS 2014 Memória, Leitura e Reflexão

ANTÓNIO DUARTE, tesoureiro e vogal

A minha leitura significa que há outras, tantas, talvez, quantos os sócios intervenientes. Na minha, porém, entrou uma arrastada reflexão, envolvendo não apenas os dias 25 (abril e outubro) – momentos destacados do nosso debate interno – mas também

todo o processo preparatório (reflexo-interativo) de janeiro a outubro, em que tantos se empenharam.

A análise dos resultados não é de molde a afastar preocupações. O facto das duas Assembleias Gerais serem eletivas e o eletivo não funcionar é para mim mau sintoma. Um sintoma a merecer meditação. Foi o que fiz e agora partilho.

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QUESTIONAMENTOS E ALERTAS VINDOS DOS SÓCIOS

Questionamentos e lamentações já vinham acontecendo em 2013. Os resultados, porém, deixavam a desejar. Com as cartas de dois casais sócios, Artur Oliveira e Antonieta e Vasco Fernandes e Isabel Beires, ganham novo alento. Diziam o Artur e a Antonieta: «[…] preocupa-nos mesmo a sério o caminho que nos parece vai trilhando a Fraternitas. Afinal, para que foi que o padre Filipe e uns tantos de nós a fundámos? Para a transformar numa espécie de confraria ascética?» E, quase no final, acentuava a marca identitária da Fraternitas: «Ser na Igreja – à qual se mantém fiel – um corpus profético com uma Missão que lhe sabe destinada: pugnar pelo exemplo e pela palavra por um sacerdócio ordenado plural na Igreja católica.»

Da carta do Vasco e da Isabel, datada de 27 de janeiro de 2014, vinham preocupações convergentes. Nela escreviam: «[…] será que nós ainda somos Fraternitas Movimento? Ou nos estaremos a

transformar numa “Pia Associação de padres dispensados”?» E, lembrando o artigo 5 dos Estatutos, expressavam vivas saudades dos tempos passados em que havia dois Encontros anuais verdadeiramente motivadores: «Um retiro – que nos lavava a alma; outro – a Formação Teológico-Pastoral – que nos renovava a mente.»

Estes dois alertas, datados do final de janeiro de 2014, desencadearam vários outros contributos epistolares, que enriqueceram o debate interno em curso. Estas cartas foram reunidas pelo Presidente da Direção, Fernando Félix, em opúsculo de oito páginas A4, com o título «Que Fraternitas Queremos», o qual foi distribuído a todos os sócios pelo correio, além de ficar disponível para consulta na página oficial da Fraternitas na Internet: o blogue Fraternitas Movimento, cujo endereço eletrónico é http://fraternitasmovimento.blogspot.pt.

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O ÉLAN RENOVADOR DA ASSEMBLEIA GERAL DE ABRIL A Assembleia Geral de 25 de abril de 2014, em

Fátima, falhada enquanto eletiva, foi eficaz nas decisões tomadas:

- Dar caráter extraordinário e deliberativo à Assembleia Geral de outubro.

- Implementar Encontros Regionais para envolver mais sócios no novo rumo a definir.

- Criar uma comissão ad hoc em apoio à Direção e com tarefas bem definidas.

Tudo isto foi acontecendo no intervalo entre as duas Assembleias, com os seguintes resultados:

- Clarificação da lista alfabética dos sócios e sócias eletivos, resultante da obrigatoriedade de ter as quotas em dia para ter direito a voto ou ser procurador. Isto permitiu saber quem, presente ou ausente, caminha com a Fraternitas.

- Uma maior aproximação dos sócios conseguida através dos Encontros Regionais, realizados no Porto, em Coimbra e em Lisboa.

- Fomentou o contacto entre Direção e os sócios. - Implementou a quota das viúvas que, como

membros de pleno direito, dela não estão dispensadas. Nove responderam à chamada.

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A ASSEMBLEIA DE OUTUBRO: A CLARIFICAÇÃO DAS TENDÊNCIAS

A Assembleia de 25 de outubro, de novo em

Fátima, foi o culminar de uma caminhada fraternal que envolveu muita gente, particularmente os 98 sócios efetivos. Para tal, estes associados que desejaram ter voz ativa puseram as quotas em dia tal como acontece em todas as associações em assembleias deliberativas. Ao fazê-lo, estes sócios manifestaram ainda a sua ligação real à Fraternitas, dizendo por gestos que estão com ela, a amam e acreditam na necessidade de continuar a dar, dentro da Igreja do Senhor Jesus que tanto amamos, um autêntico testemunho profético, em prol de uma

Igreja católica cada vez mais plural, mesmo no sacerdócio ministerial ordenado.

Esta Assembleia Geral Extraordinária acentuou de forma clara a tendência pró-Movimento, mas sem anular a essência matricial da Fraternitas definida nos artigos 1 e 2 dos Estatutos, como refere a comunicação «Ecos da Assembleia Geral Extraordinária». Adequou assim este movimento associativo aos novíssimos tempos que vivemos, libertando-nos dos constrangimentos burocráticos impeditivos da sua ação.

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E AGORA, FRATERNITAS?

Tal como aconteceu na eleição do Apóstolo Matias, na instituição dos sete diáconos, e no sínodo apostólico de Jerusalém, fez-se ouvir a voz de todo o grupo, havendo deliberação e compromisso.

Falhou, na nossa Assembleia, a parte eletiva, ou seja, a disponibilidade para escolha dos timoneiros da Direção que, durante três anos, deem um pouco da

sua vida à Fraternitas. O amor a esta manifesta-se, sobretudo, com atos. Mais importante do que ir à televisão fazer lindos discursos, é o trabalho discreto e diário para que a Fraternitas funcione.

Será que a indisponibilidade geral para os cargos que dão trabalho será o vírus que nos extinguirá?

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O PROFETISMO DA FRATERNITAS PASSA POR AQUI Reflexão acerca da lei do Celibato Obrigatório

P.E ANSELMO BORGES, em Diário de Notícias, 10 de abril 2010

Dizia-me há dias um colega historiador que a lei do celibato obrigatório para os padres fez mais mal à Igreja e aos homens e mulheres do que bem. E eu estou com ele.

Jesus foi celibatário como também São Paulo. Mas foram-no por opção livre, para entregar-se inteiramente a uma causa, a causa de Deus, que é a causa dos seres humanos na dignidade livre e na liberdade com dignidade. Mas nem Jesus nem Paulo exigiram o celibato a ninguém. Jesus disse expressamente que alguns eram celibatários livremente por causa do Reino de Deus. E São Paulo escreveu na Primeira Carta aos Coríntios que permanecer celibatário é um carisma, e, por isso, «para evitar o perigo de imoralidade, cada homem tenha a sua mulher e cada mulher, o seu marido». Há a certeza de que pelo menos alguns apóstolos eram casados, incluindo São Pedro. Na Primeira Carta a

Timóteo lê-se: «O bispo deve ser homem de uma só mulher.»

Foi lentamente que a lei do celibato se foi impondo na Igreja Católica, embora com exceções: pense-se, por exemplo, nas Igrejas orientais ou nos anglicanos unidos a Roma.

Na base do celibato como lei, há razões de vária ordem: imitar os monges e o seu voto de castidade, manter os padres e os bispos livres para o ministério, não dispersar os bens eclesiásticos, evitar o nepotismo... A conceção sacrificial da Eucaristia foi determinante, pois o sacrifício implica o sacerdote e a pureza ritual. Assim, o bispo de Roma Sirício (384-399) escreveu: «Todos nós, padres e levitas, estamos obrigados por uma lei irrevogável a viver a castidade do corpo e da alma para agradarmos a Deus diariamente no sacrifício litúrgico.»

Neste movimento, a Igreja foi-se tornando cada vez mais rigorosa, tendo papel decisivo o Papa Gregório VII (1073-1085), com o seu modelo centralista: da reforma com o seu nome - reforma gregoriana - fez parte a obrigação de padres e bispos

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se separarem das respetivas mulheres e a admissão à ordenação sacerdotal apenas de candidatos celibatários. Foi o II Concílio de Latrão (1139) que decretou a lei do celibato, proibindo os fiéis de frequentarem missas celebradas por padres com mulher.

A distância entre a lei e o seu cumprimento obrigou a constantes admoestações e penas para os prevaricadores, como se pode constatar no decreto do Concílio de Basileia (1431-1437) sobre o concubinato dos padres. Lutero ergueu-se contra a lei, respondendo-lhe o Concílio de Trento: «É anátema quem afirmar que os membros do clero, investidos em ordens sacras, poderão contrair matrimónio.» Os escândalos sucederam-se, mesmo entre Papas: Pio IV, por exemplo, que reforçou a lei, teve três filhos. O famoso exegeta Herbert Haag fez notar que a contradição entre teoria e prática ficou eloquentemente demonstrada durante o Concílio de Constança: os seus participantes tiveram à disposição centenas de prostitutas registadas.

Os escândalos de pedofilia por parte do clero fizeram com que o debate, proibido durante o

Concílio Vaticano II e ainda, em parte, tabu, regressasse. Se não é correto apresentar o celibato como a causa da pedofilia - pense-se em tantos casados pedófilos, concretamente no seio das famílias -, também é verdade que a lei do celibato enquanto tal não é a melhor ajuda para uma sexualidade sã. Muitos perguntam, com razão, se uma relação tensa com a sexualidade por parte da Igreja não terá aqui uma das suas principais explicações.

Seja como for, o celibato obrigatório não vem de Jesus, é uma lei dos homens, e, como disseram os apóstolos: «Importa mais obedecer a Deus do que aos homens.» E os bispos e o Papa são homens.

É contraditório afirmar o celibato como um carisma e, depois, impô-lo como lei. Por isso, muitas vozes autorizadas na Igreja pedem uma reflexão séria sobre o tema. Há muito que o cardeal Carlo Martini faz apelos nesse sentido. Agora, junta-se-lhe o cardeal Ch. Schönborn, de Viena. O bispo auxiliar de Hamburgo, J.-J. Jaschke, sem pôr em causa o celibato livre, afirmou que «a Igreja Católica se enriqueceria com a experiência de padres casados».

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Atenção a Pessoas em Situação de Exclusão Social ou Discriminação

O tema dos cristãos divorciados e do seu acompanhamento pastoral esteve em destaque no sínodo dos bispos sobre a família. Esta pode ser uma área do apostolado da Fraternitas. Por isso, pedimos a Joaquim Mexia Alves, da diocese de Leiria-Fátima, na situação de cristão casado divorciado que nos partilhasse o que faz.

«Vivi cerca de oito anos e meio à espera de uma decisão dos Tribunais Eclesiásticos, sobre um pedido de nulidade de Matrimónio.

Poderia pensar-se que foi um tempo de grande provação espiritual e não só, (nalguns momentos, foi-o sem dúvida), mas a verdade é que foi um tempo de procura de Deus, da Igreja, num aprofundamento da fé e da oração, em que, pela graça de Deus, muito recebi e talvez pouco tenha dado.

Sendo, (talvez por modo de ser), um pouco avesso a “regras e ordens”, coloco, no entanto, na obediência por amor, em Igreja, uma parte importante da minha vivência diária da fé, no meu caminho para Deus e com Deus.

Assim, durante todo aquele tempo, a minha mulher e eu, abstivemo-nos de comungar eucaristicamente nas paróquias em que estivemos integrados.

Essa aceitação da Doutrina da Igreja trouxe-nos, trouxe-me, graças imensas, muito especialmente uma noção muito real da presença real de Cristo na Eucaristia e como tal, uma permanente devoção, veneração e adoração ao Santíssimo Sacramento.

As comunhões espirituais que fiz ao longo de todo esse tempo, eram, de um modo geral, de uma riqueza espiritual intensa, e assim se repercutiam na minha vida, levando-me a uma procura cada vez maior das coisas de Deus, em Igreja.

Tanto recebi, de Deus e da Igreja, que naturalmente nasceu em mim uma necessidade imperiosa de servir a Deus em Igreja, como leigo, claro, dando de mim tudo o que podia ser testemunho que levasse outros a conhecerem e viverem o Deus de amor que tinha transformado a minha vida.

Percebi assim que o meu passado, longe de ser “para esquecer”, era muito mais para recordar e servir de possível ajuda a todos aqueles que vivessem a mesma situação, as mesmas dificuldades, as mesmas provações, as mesmas dúvidas e por vezes revoltas, que eu mesmo tinha vivido.

Assim, para além de tantas outras atividades em que me envolvi em Igreja, no final de 2013, propus

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ao meu pároco da Marinha Grande, Padre Armindo Ferreira, a constituição de um grupo de divorciados e ou recasados, como forma a, muito livremente, podermos em conjunto expor os nossos problemas e anseios, bem como dar a conhecer melhor a Doutrina da Igreja e o porquê dessa Doutrina.

O pároco aceitou a ideia de braços abertos e assim a partir do mês de março de 2014 este grupo tem reunido todos os meses, numa sala da igreja matriz da Marinha Grande, sempre com a presença de um sacerdote, normalmente o Padre Armindo Ferreira.

A reunião começa com uma oração, sendo depois apresentado um tema para debate, (já tivemos a Familaris Consortio e o Instrumentum Laboris do Sínodo Extraordinário sobre a Família), em que livremente e sem tabus se fala de toda esta problemática, e também de testemunhos pessoais, tentando em conjunto responder às muitas questões que vão sendo colocadas às vidas de cada um. A reunião termina, (quando não se estende demais), num momento de adoração ao Santíssimo Sacramento.

Já tivemos connosco, dando testemunho, um casal vindo de outra diocese, bem como o Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico da Diocese de Leiria-Fátima,

e tem havido gratas surpresas, vindas sobretudo de (por força do desconhecimento da Doutrina da Igreja) algumas pessoas divorciadas que perceberam que a sua situação não era afinal a que pensavam e as entristecia, bem como outros que perceberam haver muito possivelmente razões para pedir a nulidade do seu Matrimónio, num processo que afinal não é tão complicado e difícil como muitas vezes se imagina.

Mas a melhor e mais grata surpresa é ver e sentir nestas irmãs e irmãos uma maior consciência de pertença à Igreja, que lhes abre as portas e os quer receber com ternura e muito acolhimento.

Perceberem que apesar da sua situação Deus está sempre com elas, e está em Igreja com cada um e em cada especifica situação.

Talvez noutro texto se possam abordar as muitas facetas destas situações, chamadas “canonicamente irregulares”, sobretudo do ponto de vista daqueles que as vivem, e como as sentem, muito especialmente os entraves e modos como por vezes são erradamente “colocados de lado”.

Para já fica a certeza inabalável de que, «Ele estará sempre connosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20).

SITUAÇÕES, CHAMADAS CANONICAMENTE IRREGULARES

Existem alguns lapsos, incorreções, muitas vezes

proferidas nas nossas conversas com as pessoas nestas situações e não só, que sendo muito simples, não deixam de provocar confusões e apreciações erradas, não só naqueles que vivem essas situações, mas também naqueles que em Igreja deviam acolher e amar, e acabam por não conseguir transmitir o que seria desejável.

Fala-se, por exemplo, muitas vezes em anulação do Matrimónio. Ora sabemos nós (que tirando casos extremamente raros e específicos) a Igreja não anula Matrimónios.

A Igreja, pelos Tribunais Eclesiásticos, depois de um processo, pode declarar a Nulidade, o que significa, que aquele Matrimónio nunca existiu, e se nunca existiu não pode obviamente ser anulado.

Pode parecer que isto não tem importância nenhuma, mas realmente tem, e muita, porque se a Igreja anulasse um Matrimónio estaria no fundo a conceder um divórcio, algo que é impossível acontecer, pois colocaria o Sacramento do Matrimónio no mesmo nível de um qualquer casamento civil.

E se os sacerdotes sabem isto, os leigos, ou um grande número de leigos não o sabem, e ao passarem esta imagem da anulação do matrimónio, acabam por provocar uma ideia de que uns (por qualquer relação

de poder ou riqueza) podem conseguir essa anulação e os outros não.

Tive e tenho inúmeras discussões (no bom sentido, claro) por causa deste assunto e a maior parte das vezes a indignação daqueles com quem discuto vão nesse sentido, de haver uma Igreja para uns que tudo conseguem, e uma Igreja para outros que nada obtêm.

Também a linguagem se torna fonte de revolta, indignação, quando utilizamos a despropósito palavras como pecado e condenação. Com isto não se quer dizer que o pecado não existe, e que as pessoas nessas situações, à luz da Doutrina da Igreja, não vivem em pecado, mas há muitas formas de o dizer, de o explicar, para que percebam o que a Igreja lhes diz.

Mas pior ainda se a palavra pecado vem acompanhada de algum termo que refere condenação, ou seja, qualquer coisa como: “Se continuares a viver assim estás condenado”. Isto é terrível, e se nos colocarmos na situação de quem ouve algo parecido podemos perceber como a relação com a Igreja termina nesse momento e como dificilmente voltará a surgir.

Não pensemos que isto não acontece, que estou a exagerar, porque já aconteceu comigo. Um dia, em Fátima, a minha mulher pretendeu confessar-se, e sem deixar lugar a qualquer explicação um sacerdote

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disse-lhe que vivia em pecado, que não podia confessar-se, e que se não se arrependesse e mudasse de vida, estaria condenada, tudo isto dito de forma abrupta e rude.

O efeito no momento foi devastador, sobretudo para ela. Demorou algum tempo a fazê-la perceber que o que aquele sacerdote tinha dito era uma enormidade e que não era assim que a Igreja agia. Valeu-nos, obviamente, a nossa intensa vivência da fé e os sacerdotes nossos amigos para ultrapassarmos essa situação.

Há muitos modos de explicar porque é que uma pessoa nessas circunstâncias não se pode confessar, e esta maneira não é seguramente a indicada. A melhor resposta a dar, seria sem dúvida disponibilizar-se para ouvir a pessoa, explicar-lhe com amor e paciência porque não pode uma pessoa nesta situação receber a absolvição, mas ter a conversa necessária, deixando a pessoa desabafar, aconselhando, aliás como Bento XVI aconselha na Sacramentum Caritatis: «um diálogo franco com um sacerdote ou um mestre de vida espiritual».

Não se julgue que apenas os sacerdotes (alguns, claro) têm atitudes destas para com estes irmãos que vivem divorciados/recasados. Uma outra vez, numa celebração em Igreja, uma senhora veio ter connosco e disse-nos cara a cara, de dedo apontado, em frente da muita gente que ali estava, que sabia muito bem que nós não eramos casados pela Igreja e que por isso não tínhamos nada que ali estar.

Isto deve levar-nos forçosamente a pensar que tem de existir toda uma formação para os leigos, para

que entendam a verdadeira situação destes irmãos na fé e assim possam saber também acolhê-los em Igreja, para que se sintam amados e não colocados de lado.

Lembro-me bem de alguns muitos olhares que recebia nos primeiros tempos de regresso a Deus e à Igreja, olhares do tipo: O que está este aqui a fazer? Este não tem lugar aqui! E obviamente esses olhares doíam, sobretudo pela incompreensão das pessoas não conseguirem perceber que é sempre tempo para regressar a Deus e à Igreja, regresso esse em que quem o faz tem necessidade de ser acolhido, de ser aceite, de se sentir amado em Igreja, porque esse amor é, podemos dizê-lo, o amor palpável de Deus.

Há depois também uma diversidade de atuação em relação a tudo aquilo que as pessoas vivendo estas situações, podem ou não fazer, em Igreja, como ser catequista, ser leitor, pertencer aos diversos conselhos paroquiais, etc., etc.

Numas paróquias é de um modo e noutras de outro, e esta prática não é de modo nenhum benéfica e acolhedora para quem vive estas situações.

Sabemos, obviamente, que há casos diversos, mas referimos aqui apenas um panorama geral, que provoca muitas vezes essa “sensação” de afastamento, quase exclusão da Igreja.

Muitas situações acontecem, sem dúvida, e para todas deve a Igreja, enquanto comunidade de fiéis, estar preparada para acolher, integrar e amar, para que todos sejam e se sintam Igreja, como Ela própria assim preconiza em tantos documentos, especialmente na Familiaris Consortio.

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PRODUÇÃO LITERÁRIA DOS ASSOCIADOS URTÉLIA SILVA, secretária LIVROS editados em 2014, outros de 2013 e

2008: «DA CATEDRAL AO CARRASCAL», Jacinto de

Sousa Gil, abril de 2014, publicação do autor, 414 páginas.

«CARVIDE»| quatro volumes documentais, Jacinto de Sousa Gil, janeiro de 2013, publicação do autor.

Restantes obras do autor: «Alerta Leiria», fevereiro de 1985, publicação do

Agrupamento 127 do CNE; «Do Regaço do Castelo», outubro de 1991; «Discussão de Fronteiras», março de 1995; «Moinhos de Carvide - Luzes e Sombras»,

outubro de 2004 (esgotado); «Pão e Queijo», dezembro de 2013; «Leiria – Catedrais» | dois volumes, dezembro de 2008; e «Leiria – Conventos» (I - Santa Ana e II – Franciscanos, Agostinhos e Santo Estêvão), dezembro de 2008.

«SOL de OUTONO», António Sampaio, Chaves,

outubro de 2008, edição do autor, 179 páginas. Restantes obras do autor: «Portugal e a CEE», «Inquietação e Esperança»,

«Nascimento e Ocaso dum Império», «Feiras Medievais», «Horas de Fé Esperança» «Breve Memória do Mosteirinho da Granjinha», «Portugal Meridiano do Mundo», «Oh Tempora Oh Mores!...», «Vidas sem Vida», «O que se apresenta - Sol de Outono» e «Alegria da Fé na Esperança.».

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37.ºENCONTRO NACIONAL Abril de 2015: 17 (ao jantar) a 19 (ao almoço)

RETIRO

Casa dos Capuchinhos – Centro Bíblico Av. Beato Nuno, 405 2496-908 FÁTIMA

Tel: 249 530 215 E-mail: [email protected]

Tema – EM MOVIMENTO NA ALEGRIA DO EVANGELHO

Orientador – Frei Lopes Morgado

Frade franciscano capuchinho, chefe de redação da revista «Bíblica»

Organização: Associação FRATERNITAS Movimento http://fraternitasmovimento.blogspot.com

PROGRAMA Dia 17 (6-ª-Feira) 20h00 – Jantar, antecedido de acolhimento. 21h15 – Apresentação do orientador e lançamento de tema Dia 18 (sábado) 8h 30 – Pequeno – Almoço. 9h00 – Laudes. 9h45 – Primeira meditação 12h00 – Partilha em plenário num ambiente de oração 13h00 – Almoço. 15h00 – Segunda meditação 18h30 – Partilha em plenário num ambiente de oração 19h30 – Jantar 21h15 – Serão: partilha de vida. Tertúlia Dia 19 (domingo) 8h 30 – Pequeno-almoço. 9h00 – Laudes. 9h45 – Assembleia Geral eletiva 12h00 – Eucaristia 13h00 – Almoço INSCRIÇÃO: deverá ser feita com a secretária Urtélia Silva, até 1 de abril, através de qualquer contacto: Tlm – 914 754 706; tlf: 239 001 605 ou correio eletrónico: [email protected].

NOME………………….…………...…………… Sócio nº…../NS…. Tlm……………...…..…. / Tlf ………….….……. E/MAIL………………………………………….. NOME………………….…………...…………… Sócio nº…../NS…. Tlm……………...…..…. / Tlf ………….….……. E/MAIL………………………………………….. MORADA …...…………………………………… C. P. …… – ………………………………...…….. Estadia completa (2 diárias): ……. (sim ou não). Não completa: Início e término: ………… Adultos:….. Crianças (idades):…………………… Obs.: (Necessidade de dieta - referir o tipo, quarto próximo do elevador…): …..……………………… …...………………………………………………... Tesouraria: O pagamento far-se-á durante a estadia, ao tesoureiro. Que ninguém deixe de ir por dificuldades financeiras. INSCRIÇÃO: Sócios – gratuita; Não Sócios – 10 €/ por pessoa. ALOJAMENTO / DIÁRIA POR PESSOA: 40 € (quarto individual); 35€ (quarto duplo ou triplo). Dormida e pequeno-almoço – 25€ (quarto individual); 19€ (duplo ou triplo). Refeição – Almoço ou jantar: 10 €.