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A partir da convivência com meu amigo Werner Schunemann, ator e diretor que coordenou os programas de televisão de minhas campanhas eleitorais de 1996, 2000 e 2004, ...passei a sonhar com a possibilidade de realizarmos em Bagé um teatro a céu aberto que recontasse a participação do município nos principais eventos da História gaúcha. Entre os quais as revoluções Farroupilha, Federalista e a de 23, o que se constituiria também numa atração cultural e artística de nosso município. Conheci o pessoal que montava produções dessa natureza, como o Cerco de Laguna, que também tinha a participação de Werner como um dos atores. Eleito para a prefeitura, contatamos aquela equipe, que mandou representantes a Bagé e elaborou projeto que reviveria vários episódios daquelas revoluções registrados em nossa cidade, com encenação prevista para a antiga charqueada de Santa Thereza, ainda não revitalizada. Dois comentários publicados na imprensa local fizeram com que revisássemos nossa posição. Uma crítica, quando feita de forma adequada e de maneira construtiva, vindo da oposição ou Memórias de um tempo Críticas que constroem da sociedade, é muito importante. Afinal, apenas os ditadores e os tiranos, que se acham acima de tudo e de todos, do bem e do mal, não conseguem conviver com a crítica. Um dos que criticaram o projeto foi o jornalista Gilmar de Quadros. Disse que um espetáculo, por mais lindo que fosse, não seria prioridade do município naquela época, já que tínhamos um conjunto de prédios históricos, belíssimos e representativos historicamente, que estavam se deteriorando rapidamente e que precisavam de uma pronta intervenção do poder público. Sempre atento, Gilmar, com toda a razão, externava sua opinião, que, concordando ou não, como diria ele, era a sua opinião, que considerei legítima e preocupada com a cidade. Na mesma linha escreveu o saudoso artista plástico Edmundo Castilhos Rodrigues, irmão do grande

Memórias de um tempo_ Revitalização do Patrimônio Histórico de Bagé _ Coreto e Instituto Municipal de Bela Artes

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Page 1: Memórias de um tempo_ Revitalização do Patrimônio Histórico de Bagé _ Coreto e Instituto Municipal de Bela Artes

A partir da convivência com meu

amigo Werner Schunemann, ator e

diretor que coordenou os programas de

televisão de minhas campanhas

eleitorais de 1996, 2000 e 2004,

...passei a sonhar com a possibilidade

de realizarmos em Bagé um teatro a céu

aberto que recontasse a participação do

município nos principais eventos da

História gaúcha. Entre os quais as

revoluções Farroupilha, Federalista e a de

23, o que se constituiria também numa

atração cultural e artística de nosso

município. Conheci o pessoal que montava

produções dessa natureza, como o Cerco

de Laguna, que também tinha a

participação de Werner como um dos

atores.Eleito para a prefeitura, contatamos

aquela equipe, que mandou

representantes a Bagé e elaborou projeto

que reviveria vários episódios daquelas

revoluções registrados em nossa cidade,

com encenação prevista para a antiga

charqueada de Santa Thereza, ainda não

revitalizada. Dois comentários publicados

na imprensa local fizeram com que

revisássemos nossa posição. Uma crítica,

quando feita de forma adequada e de

maneira construtiva, vindo da oposição ou

Memórias de um tempo

Críticas que constroem

da sociedade, é muito importante. Afinal,

apenas os ditadores e os tiranos, que se

acham acima de tudo e de todos, do bem

e do mal, não conseguem conviver com a

crítica.Um dos que criticaram o projeto foi o

jornalista Gilmar de Quadros. Disse que

um espetáculo, por mais lindo que fosse,

não seria prioridade do município naquela

época, já que tínhamos um conjunto de

prédios históricos, belíssimos e

representativos historicamente, que

estavam se deteriorando rapidamente e

que precisavam de uma pronta

intervenção do poder público. Sempre

atento, Gilmar, com toda a razão,

externava sua opinião, que, concordando

ou não, como diria ele, era a sua opinião,

que considerei legítima e preocupada com

a cidade. Na mesma linha escreveu o

saudoso artista plástico Edmundo

Castilhos Rodrigues, irmão do grande

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Glauco Rodrigues. Sugeriam canalizar

nossos esforços para buscar recursos

visando à recuperação do patrimônio

arquitetônico da Rainha da Fronteira.Os dois depoimentos bateram forte e

me levaram a refletir. Passei a olhar com

olhos diferentes a Casa de Cultura Pedro

Wayne, localizada na frente do prédio em

que eu morava, na parte de cima do

antigo Bazar da Moda. Da janela do

apartamento, via, todas as manhãs, a

parte superior do prédio, construído em

1902, em franco processo de

deterioração. Eles estavam corretos.Em uma das viagens que fiz, enquanto

prefeito, no começo do primeiro governo, à

Itália, fiz questão de visitar o Instituto

Universitário de Arquitetura de Veneza, um

dos mais respeitados do mundo. O seu

diretor, um senhor idoso, barbas e cabelos

longos, recebeu-me junto a uma mesa

abarrotada de papéis e livros. Uma cena

de filme. Com ele cheguei a entabular a

possibilidade de promovermos um

intercâmbio, mandando para cursos em

sua universidade alunos de Arquitetura da

Urcamp e também para que enviassem

professores para nossa cidade.

Infelizmente, nem todos os nossos sonhos

viram realidade.Foi assim que passamos a nos

dedicar a viabilizar recursos para a

Memórias de um tempo

recuperação e revitalização de dez prédios

públicos de Bagé que tinham importância

arquitetônica, cultural e/ou histórica.

Foram necessárias muitas articulações, já

que, naquela época, ao contrário do que

ocorre hoje, havia apenas um programa

federal, o Monumenta, que contemplava

com recursos somente as grandes

cidades. Aqui no Estado, Porto Alegre e

Pelotas, apenas, receberam verbas.Se fosse hoje, seria mais fácil, já que

o governo federal lançou o PAC das

Cidades Históricas. Até 2015, o programa

investirá R$ 1 bilhão para a realização de

obras públicas em 44 cidades de 20

Estados. Fomos à luta e, até o final do

nosso governo, investimos, com o apoio da

Lei Rouanet e parcerias com a Petrobrás,

Eletrobrás, BNDES, Caixa Federal e

Ministério do Turismo, mais de R$ 10

milhões nessa empreitada, executada sob

a coordenação da nossa querida ex-

secretária de Cultura, Jussara Carpes.Bagé foi, então, a primeira cidade do

Rio Grande do Sul fora dos grandes

centros a ter um programa efetivo de

restauro dos seus prédios públicos. CoretoCom o apoio do deputado federal

Paulo Pimenta, meu sempre companheiro,

conseguimos liberar recursos no

Ministério do Turismo para, com

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contrapartida da prefeitura, revitalizar o

Coreto Municipal, espaço de grande

importância histórica e política que, ainda

espero, consigamos recuperar suas

funções. ImbaCom a Caixa Econômica Federal

obtivemos o patrocínio de R$ 345 mil para

a recuperação do prédio do Imba. Naquele

Memórias de um tempo

*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.

período desafiei nossa companheira

Nádia La Bella, então secretária da

Cultura, a elevar o número de alunos do

Instituto dos 700 e poucos para 1,2 mil.

Queríamos 1% da população de Bagé

frequentando o Imba. Mas faltava espaço

físico. Procuramos a direção do Clube

Comercial, entidade que devia impostos

ao município e que vivia com suas

dependências sem quase nenhum uso, a

quem propusemos trocar a dívida e o IPTU

do mês pelo aluguel de alguns de seus

salões, que passaram a receber, para

aulas de música e dança, muitos alunos,

especialmente da periferia.