1
Expresso, 05 de Junho de 2009 PRIMEIRO CADERNO 27 TECNOLOGIA Na primeira conferência de imprensa, horas depois da vitória surpresa no pro- grama “Britain’s Got Talent”, os Diver- sity tinham à sua espera centenas de jor- nalistas e estações de televisão do mun- do inteiro. Atenção mediática a mais pa- ra um grupo de dança urbana de Essex. Em voz baixa, os repórteres america- nos cochichavam entre si: “Só estamos aqui por ela”. Mas ela, a escocesa Susan Boyle, ou SuBo para a imprensa — o mo- tivo pelo qual 20 milhões de pessoas fi- caram coladas à televisão a assistir à fi- nal —, foi internada de urgência, nessa madrugada, numa clínica psiquiátrica, com um diagnóstico de “esgotamento e cansaço emocional”. Depois de ter sido anunciado, em di- recto, que os 11 dançarinos eram os ven- cedores com 24,9% dos votos do públi- co, contra os 20,2% de Susan, que vol- tou a interpretar o tema “I Dreamed a Dream” do musical “Os Miseráveis” (o mesmo que se tornou um fenómeno do You Tube, com mais de 100 milhões de visualizações), a escocesa manteve a dig- nidade em palco, com um sorriso e a fra- se feita “ganharam os melhores”. Nos bastidores, a solteira de 48 anos que vi- ve sozinha com o gato revelou-se destro- çada com o desfecho, que lhe deixou um amargo de boca. “Detesto este pro- grama”, terá dito a quem a quis ouvir, enquanto se retirava para o hotel. Nessa noite, conta o jornal “The Sun”, “não conseguia dormir nem parar de chorar. Ninguém a acalmava. Estava com um ataque de pânico”. Não era a primeira vez que Susan fraquejava. Na semana que antecedeu a final, ela própria avi- sou a produção que sofria de insónias e se sentia “esgotada física e mentalmen- te”. Um desabafo que chegou aos jor- nais e fez estalar o verniz entre a produ- tora e vários especialistas, como David Wilson, professor de criminologia da Universidade de Birmingham, e ex-júri do “Big Brother”, ou Chris Thompson, responsável médico pelo The Priory Group, onde Susan ainda se encontra in- ternada. Ambos saíram em defesa da saúde mental da concorrente, a quem em pequena foram diagnosticadas difi- culdades de aprendizagem, e que devia ter tido apoio psicológico para lidar com a pressão gerada pela fama repenti- na. Depois deste incidente, vários espec- tadores também reclamaram junto da Ofcom, agência reguladora dos órgãos de comunicação da Grã-Bretanha. Se- gundo o jornal “The Guardian”, a produ- tora, pressionada pela opinião pública, reconheceu que vai rever os seus proce- dimentos no momento de avaliar psico- logicamente os candidatos que vierem a participar nas próximas edições. Maria Barbosa mbarbosa@expresso.impresa.pt Desde finais da década de 90, a capacidade de armazenamento cresceu exponencialmente Depois do colapso de Susan Boyle, o programa “Britain’s Got Talent” foi alvo de críticas e promete rever a forma de avaliar psicologicamente os candidatos Uma equipa de investigadores da Uni- versidade Técnica Swinburne, em Haw- thorn (Melbourne), Austrália, está a de- senvolver uma nova tecnologia que vai tornar possível gravar num disco em tudo semelhante a um DVD quase meio milhão de músicas ou mais de 2 mil filmes. Qualquer informação gravada num DVD actual precisa apenas de duas di- mensões para ser localizada pelo siste- ma informático (x e y), mas no “super DVD” em que está a trabalhar a equipa do professor Min Gu, um perito em op- toelectrónica, são acrescentadas três novas dimensões: a cor da luz usada pa- ra escrever e ler os dados, a sua polari- zação e ainda uma dimensão espacial na medida em que a informação pode ficar gravada em várias camadas. Mais precisamente dez, contra as actuais duas de um disco Blu-ray. “Imaginemos as janelas da fachada de um edifício. Cada uma pode estar pintada com uma determinada cor e ter um triângulo colado no vidro, nuns casos com o vértice para baixo e noutros para cima”. Foi nestes termos que José Viana Gomes, do Departa- mento de Física da Universidade do Minho, explicou ao “Expresso” a cor e a polarização da luz. “A novidade — acrescenta o investiga- dor — reside no facto dessas janelas po- derem também estar em qualquer ou- tro piso do edifício”. Recorrendo a dois lasers (os actuais DVD utilizam apenas um de cor verme- lha) e espalhando sobre cada camada do disco nanopartículas (pequenos bas- tões de ouro só visíveis com um micros- cópio electrónico), foi possível gravar, numa dada posição, um volume muito superior de dados. Durante o processo de gravação o la- ser funde essas partículas. Esse proces- so altera a forma como a luz, com uma determinada cor ou polarização, intera- ge com elas, o que acaba por permitir que os dados possam ser lidos posterior- mente. Segundo os investigadores, foi possível gravar seis bits recorrendo a lasers com três cores diferentes e duas polarizações, no mesmo espaço físico. Quando, lá para 2015-2020, este “su- per DVD”, que terá capacidade para alojar 1.6 terabytes (1.677.721 megaby- tes), chegar ao mercado haverá certa- mente quem se queixe da coqueluche do momento: o Blu-ray com os seus 50 gigabytes de capacidade (51.200 megabytes). Até que possa ser comercializado, a Samsung, que já firmou um acordo com os investigadores, terá de resolver alguns problemas como, por exemplo, a baixa velocidade de leitura do disco, já que a informação fica armazenada de forma muito densa e a construção de leitores/gravadores equipados com lasers de diferentes cores e polariza- ções a preço acessível. Basta olhar para o passado (ver infografia) para ver que tudo isso há-de ser ultrapassado. Carlos Abreu cabreu@expresso.impresa.pt A ‘queda’ de Susan Boyle Super DVD guarda 2 mil filmes CONCURSO

Super DVD guarda 2 mil filmes

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Super DVD guarda 2 mil filmes

Expresso, 05 de Junho de 2009 PRIMEIRO CADERNO 27

TECNOLOGIA

Na primeira conferência de imprensa,horas depois da vitória surpresa no pro-grama “Britain’s Got Talent”, os Diver-sity tinham à sua espera centenas de jor-nalistas e estações de televisão do mun-do inteiro. Atenção mediática a mais pa-ra um grupo de dança urbana de Essex.Em voz baixa, os repórteres america-nos cochichavam entre si: “Só estamosaqui por ela”. Mas ela, a escocesa SusanBoyle, ou SuBo para a imprensa — o mo-tivo pelo qual 20 milhões de pessoas fi-caram coladas à televisão a assistir à fi-nal —, foi internada de urgência, nessamadrugada, numa clínica psiquiátrica,com um diagnóstico de “esgotamento ecansaço emocional”.

Depois de ter sido anunciado, em di-recto, que os 11 dançarinos eram os ven-cedores com 24,9% dos votos do públi-co, contra os 20,2% de Susan, que vol-tou a interpretar o tema “I Dreamed aDream” do musical “Os Miseráveis” (omesmo que se tornou um fenómeno doYou Tube, com mais de 100 milhões devisualizações), a escocesa manteve a dig-nidade em palco, com um sorriso e a fra-se feita “ganharam os melhores”. Nosbastidores, a solteira de 48 anos que vi-ve sozinha com o gato revelou-se destro-çada com o desfecho, que lhe deixouum amargo de boca. “Detesto este pro-grama”, terá dito a quem a quis ouvir,enquanto se retirava para o hotel. Nessanoite, conta o jornal “The Sun”, “nãoconseguia dormir nem parar de chorar.Ninguém a acalmava. Estava com umataque de pânico”. Não era a primeiravez que Susan fraquejava. Na semanaque antecedeu a final, ela própria avi-sou a produção que sofria de insónias ese sentia “esgotada física e mentalmen-te”. Um desabafo que chegou aos jor-nais e fez estalar o verniz entre a produ-tora e vários especialistas, como DavidWilson, professor de criminologia daUniversidade de Birmingham, e ex-júrido “Big Brother”, ou Chris Thompson,responsável médico pelo The PrioryGroup, onde Susan ainda se encontra in-ternada. Ambos saíram em defesa dasaúde mental da concorrente, a quemem pequena foram diagnosticadas difi-culdades de aprendizagem, e que deviater tido apoio psicológico para lidarcom a pressão gerada pela fama repenti-na. Depois deste incidente, vários espec-tadores também reclamaram junto daOfcom, agência reguladora dos órgãosde comunicação da Grã-Bretanha. Se-gundo o jornal “The Guardian”, a produ-tora, pressionada pela opinião pública,reconheceu que vai rever os seus proce-dimentos no momento de avaliar psico-logicamente os candidatos que vierem aparticipar nas próximas edições.

Maria Barbosa

[email protected]

Desde finais da década de 90, a capacidade de armazenamento cresceu exponencialmente

Depois do colapso de Susan Boyle,o programa “Britain’s GotTalent” foi alvo de críticas epromete rever a forma de avaliarpsicologicamente os candidatos

Uma equipa de investigadores da Uni-versidade Técnica Swinburne, em Haw-thorn (Melbourne), Austrália, está a de-senvolver uma nova tecnologia que vaitornar possível gravar num disco emtudo semelhante a um DVD quasemeio milhão de músicas ou mais de 2mil filmes.

Qualquer informação gravada numDVD actual precisa apenas de duas di-mensões para ser localizada pelo siste-ma informático (x e y), mas no “superDVD” em que está a trabalhar a equipado professor Min Gu, um perito em op-toelectrónica, são acrescentadas trêsnovas dimensões: a cor da luz usada pa-ra escrever e ler os dados, a sua polari-zação e ainda uma dimensão espacialna medida em que a informação pode

ficar gravada em várias camadas. Maisprecisamente dez, contra as actuaisduas de um disco Blu-ray.

“Imaginemos as janelas da fachadade um edifício. Cada uma pode estarpintada com uma determinada cor eter um triângulo colado no vidro,nuns casos com o vértice para baixo enoutros para cima”. Foi nestes termosque José Viana Gomes, do Departa-mento de Física da Universidade doMinho, explicou ao “Expresso” a cor ea polarização da luz.

“A novidade — acrescenta o investiga-dor — reside no facto dessas janelas po-derem também estar em qualquer ou-tro piso do edifício”.

Recorrendo a dois lasers (os actuaisDVD utilizam apenas um de cor verme-

lha) e espalhando sobre cada camadado disco nanopartículas (pequenos bas-tões de ouro só visíveis com um micros-cópio electrónico), foi possível gravar,numa dada posição, um volume muitosuperior de dados.

Durante o processo de gravação o la-ser funde essas partículas. Esse proces-so altera a forma como a luz, com umadeterminada cor ou polarização, intera-ge com elas, o que acaba por permitirque os dados possam ser lidos posterior-mente. Segundo os investigadores, foipossível gravar seis bits recorrendo alasers com três cores diferentes e duaspolarizações, no mesmo espaço físico.

Quando, lá para 2015-2020, este “su-per DVD”, que terá capacidade paraalojar 1.6 terabytes (1.677.721 megaby-

tes), chegar ao mercado haverá certa-mente quem se queixe da coqueluchedo momento: o Blu-ray com os seus50 gigabytes de capacidade (51.200megabytes).

Até que possa ser comercializado, aSamsung, que já firmou um acordocom os investigadores, terá de resolveralguns problemas como, por exemplo,a baixa velocidade de leitura do disco,já que a informação fica armazenadade forma muito densa e a construçãode leitores/gravadores equipados comlasers de diferentes cores e polariza-ções a preço acessível. Basta olhar parao passado (ver infografia) para ver quetudo isso há-de ser ultrapassado.

Carlos Abreu

[email protected]

A ‘queda’ deSusan Boyle

Super DVD guarda 2 mil filmes

CONCURSO