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O MARXISMO IMPORTA NA ANÁLISE DOS MOVIMENTOS SOCIAIS? ANDRÉIA GALVÃO – UNIFESP/GUARULHOS 32º ANPOCS - 2008

Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

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Um apresentação da obra de Andreia Galvão sobre Manifestos

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O MARXISMO IMPORTA NA ANÁLISE DOS MOVIMENTOS SOCIAIS?

ANDRÉIA GALVÃO –UNIFESP/GUARULHOS

32º ANPOCS - 2008

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Autora

• Andréia Galvão é professora de Sociologia da

Unifesp/Guarulhos. Este artigo foi elaborado a

partir das discussões do grupo de pesquisa

“Neoliberalismo e classes sociais”, vinculado

ao Cemarx/Unicamp.

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Introdução

• A América Latina tem sido, no período recente, palco de diferentes

movimentos sociais: movimentos rurais, como o MST no Brasil;

urbanos, como os piqueteiros na Argentina; de caráter étnico, como

os movimentos indígenas na Bolívia, Peru, Equador e México. Esses

movimentos têm sido analisados por perspectivas teóricas distintas,

que destacam, sobretudo, sua composição social e sua plataforma

reivindicativa,especialmente no que concerne a demandas de

participação popular e ampliação da cidadania.

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Discute-se

• Como o marxismo analisa os movimentos sociais e

quais as especificidades de uma análise marxista dos

movimentos sociais contemporâneos.

• Tratar criticamente perspectivas como a dos novos

movimentos sociais e distinguir a análise marxista de

classes de outras análises que, embora se valendo de

um conceito de classes, não se inserem na perspectiva

marxista.

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Estrutura do Texto:

• Na primeira, a autora trata de algumas considerações críticas às

abordagens supra-mencionadas. Não se trata, aqui, de apresentá-

las de forma menorizada, mas tão somente de apontar seus limites.

• Na segunda parte, buscamos indicar os elementos que nos

parecem fundamentais para uma análise marxista dos movimentos

sociais.

• Por fim, empreendemos uma breve análise dos movimentos sociais

na América Latina hoje à luz dos elementos que, a nosso ver,

caracterizam uma abordagem marxista.

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1. Algumas polêmicas com a bibliografia

• As teorias dos novos movimentos sociais e a da

mobilização de recursos, desenvolvidas,

respectivamente, na Europa e nos EUA, constituem-se

em contraposição ao marxismo. Touraine (sociólogo

Francês), é um dos mais profícuos e controversos

estudiosos dos movimentos sociais, aponta para o

caráter histórico, datado do conceito (Touraine,1985).

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Touraine define movimento social

• Touraine define movimento social como “a combinação de um princípio de

identidade (lutamos em nome de quem?), de um princípio de oposição

(contra quem?) e de um princípio de totalidade (que designa a dinâmica

societária)” (Touraine, 1978, p.109). A partir dessa definição geral, o autor

identifica uma sucessão de formas de conflito que portam a

“historicidade”, o sentido da sociedade, fazendo uma série de exigências

(que variam de uma obra a outra) para que um movimento possa ser

qualificado de movimento social.

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Identificando algumas idéias centrais de Touraine• A primeira delas é que as mudanças verificadas na sociedade levariam a

uma oposição entre “novos” e “velhos” movimentos sociais. O “novos” se

definiriam por aspectos sociais e culturais: se situam no campo da cultura,

da sociabilidade, do modo de vida, dos valores, da identidade de

“minorias”; não se caracterizam pela luta pela igualdade, mas pelo direito

à diferença. Nesse sentido, não concernem mais diretamente os

problemas da produção, da economia, nem dizem respeito a um conflito

estrutural: “o conflito não está mais associado a um setor fundamental da

atividade social, à infraestrutura da sociedade, ao trabalho em particular;

ele está em toda a parte” (Touraine, 1989, p. 13).

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Continuando a ideia de Touraine – 8.1

• A consequência dessa formulação é que os

conflitos de classe teriam sido ultrapassados e a

luta de classes não seria mais uma categoria

analítica relevante: “Descobrimos que os conflitos

de classes não representam mais os instrumentos

de mudanças históricas” (Touraine, 1989, p. 15).

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Continuando a ideia de Touraine - 8.2

• Touraine, negligencia as continuidades e

supervaloriza as mudanças. Uma das maneiras

de fazê-lo é dissociar os movimentos sociais

dos processos de exploração e de dominação

capitalistas.

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Touraine enfatiza um segundo aspecto

• O conflito só é dinâmico se não se institucionaliza; se se dirige ao

Estado, deixa de ser movimento social. Por isso não considera mais

o sindicalismo um movimento social (Touraine, 1989, p. 11). Então

segundo a autora na medida em que este aceita se integrar ao

aparelho de Estado, acaba “funcionando apenas como uma agência

de regulação” (Andreia Galvão, 2002, p. 161). Já Mouriaux fala que

ao se institucionalizar, o movimento operário deixa de ser um ator

social para ser um ator político ( René Mouriaux, 2003, p. 18).

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Terceiro aspecto enfatizado por Touraine

• O terceiro aspecto é que o autor não se coloca

a questão da unidade do movimento social:

cada movimento social é único, não havendo

um princípio político que unifique os

diferentes movimentos sociais (Touraine,

1985, p. 777).

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Obra de outros estudiososdos novos movimentos sociais.

• Para Melucci (1980, p. 200), o marxismo carece

de instrumental analítico para compreender os

novos atores sociais, já que estes reúnem

coletivos distintos das classes. Os novos conflitos

sociais se dão em nome da defesa da identidade,

da busca do reconhecimento enquanto indivíduo,

e não se restringem a uma única classe.

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Teorias dos novos movimentos sociais

• Para Evers, os novos movimentos sociais “não diz[em]

respeito principalmente ao poder, e sim à renovação de

padrões sócio-culturais e sócio-psíquicos do

quotidiano”(Evers, 1984, p. 12)

• Para Offe (1985, p. 819), os novos movimentos sociais

seriam afastados em relação ao Estado e à regulação

política ou, conforme Melucci (1980, p. 220), não são

focados no sistema político.

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Base dos novos movimentos sociais

• A base dos novos movimentos sociais é

predominantemente de classe média, Offe (1985,

p. 833) entende que esta não é movida por uma

consciência de classe, porque não age em nome

de seus interesses exclusivos, mas sim em nome

de demandas e valores universais (como a paz, o

meio-ambiente, os direitos humanos...)

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A teoria da mobilização de recursos

• Autores como McCarthy e Zald (1977), enfatiza os recursos,

principalmente econômicos e coercitivos, que possibilitam

a mobilização coletiva. Nesse sentido, privilegia menos o

movimento, a ação coletiva em si, e mais os meios que são

mobilizados para se atingir os objetivos pretendidos. Por

esse motivo, tende a desconsiderar as razões que levam à

mobilização, menosprezando as crenças, as ideologias, as

visões de mundo (Chazel, 1995, p. 325).

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Tarrow mostra como surgem os movimentos sociais

• O autor destaca, entre os aspectos importantes para explicar o

surgimento dos movimentos sociais: o funcionamento do sistema

econômico, as motivações individuais, as capacidades organizativas

do grupo, a criação ou expansão de oportunidades políticas

(considerando que essas mudam ao longo do tempo) e o elemento

transnacional (isto é, a capacidade das experiências nacionais

serem influenciadas por similares estrangeiras ou serem articuladas

internacionalmente) (Tarrow, 1999).

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Ideia de Honneth

• A concepção de Honneth é fortemente individualista:

por luta social entende o “processo prático no qual

experiências individuais de desrespeito são

interpretadas como experiências cruciais típicas de um

grupo inteiro, de forma que elas podem influir, como

motivos diretores da ação, na exigência coletiva por

relações ampliadas de reconhecimento” (Honneth,

2003, p. 257).

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A reabilitação do conceito de classe sem a perspectiva marxista

• Eder (2001) discorda daqueles que consideram que a noção de classe

deixou de ser importante. Embora os novos movimentos sociais não

considerem classe como um elemento definidor de sua identidade,

podem ser definidos como movimentos de classe média: “são formas de

radicalismo de classe média e protesto de classe média” (Eder, 2001, p. 7).

• Para o autor, não adianta atribuir o caráter de classe de um movimento

social à composição social de seus integrantes e apoiadores. O importante

é analisar a cultura do movimento, o que pode ser feito através da

identificação de seus interesses, normas e valores.

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Sallum Jr. Da ênfase a questão da cultura• Sallum Jr. também enfatiza a importância da cultura, criticando autores como

Melucci, Offe e Inglehart por não conseguirem explicar de modo satisfatório por

que a classe média predomina nos novos movimentos sociais. Para Sallum Jr.,

esses autores “subestimam a relevância da cultura não apenas na articulação

entre classe e ação coletiva, mas na conformação mesma dos dois termos... as

classes e seus interesses são considerados como dedutíveis de suas posições sócio-

econômicas” (Sallum Jr., 2005, p. 23-4).

• As classes sociais não são, por si só, atores coletivos, “mas fixam balizas, por sua

posição relativa nos planos material e cultural, à sociabilidade cotidiana, aos

movimentos sociais...” (Sallum Jr., 2005, p. 40).

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2. Elementos para uma abordagem marxista dos movimentos sociais

• As contribuições dos autores vinculados a essa abordagem,

sobretudo os clássicos, priorizaram a discussão sobre as

formas partido e sindicato, e a relação entre ambas. Nesse

sentido, o movimento operário era o movimento social por

excelência, de modo que a noção de movimento social

estava vinculada à condição de classe e à luta entre capital

e trabalho.

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Marxismo na questão urbana

• Nos anos 70, três estudos de autores vinculados ao marxismo se destacaram por

abordar essa temática. Trata-se de La question urbaine, de Manuel Castells (1972),

de Le marxisme, l’Etat et la question urbaine, de Jean Lojkine (1977) e de Luttes

urbaines et pouvoir politique (1973), de Manuel Castells. Os dois primeiros

trabalhos não tinham como foco os movimentos sociais: Castells faz menção às

lutas sociais urbanas, apontando a determinação, em última instância, dos

elementos estruturais sobre as práticas sociais; Lojkine, por sua vez, discute o

conceito de Estado capitalista e analisa as políticas sociais urbanas a partir dos

interesses de classe. Apenas na conclusão do livro de Castells encontra-se, sob a

forma de “tese exploratória”, uma definição de movimento social urbano

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Lojkine e conceito de movimento social

• Movimento social é definido “pela capacidade de um conjunto de agentes das classes

dominadas diferenciar-se dos papéis e funções através dos quais a classe (ou fração de

classe) dominante garante a subordinação e dependência dessas classes dominadas com

relação ao sistema sócio-econômico em vigor” (Lojkine, 1981, p. 292). Ele compreende dois

processos sociais: “A) Um processo de ‘pôr-se em movimento’ de classes, frações de classe e

camadas sociais. Esse primeiro processo define a intensidade e a extensão (o campo social)

do movimento social pelo tipo de combinação que une: a) a base social, e; b) a organização

do movimento social [....] B) Do ‘pôr-se em movimento’ ao ‘desafio’ político” (Lojkine, 1981,

p. 296-7).

Assim, “o movimento social será definido, em última instância, por sua capacidade de

transformar o sistema sócio-econômico no qual surgiu” (Lojkine, 1981, p. 298).

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Os autores

• Consideram o movimento social como expressão da

luta de classes; não estabelecem uma cisão entre

mobilização e poder político, entre movimento social e

organização política; e apontam para as diferentes

dimensões políticas do movimento social: lutar pela

transformação do sistema sócio-econômico não

equivale a dizer que o movimento seja revolucionário.

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Castells define movimentos sociais urbanos

• Castells definindo os movimentos sociais

urbanos como “sistemas de práticas sociais

contraditórias que controvertem a ordem

estabelecida a partir das contradições

específicas da problemática urbana” (Castells,

1991, p. 3).

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Crise do marxismo

• Nos anos 80, já num contexto de crise do marxismo, dois autores influenciados por

Gramsci, Laclau e Mouffe (1985) produziram um trabalho que criticava tanto a

teoria dos novos movimentos sociais quanto uma certa abordagem marxista, na

medida em que recusava a idéia de um agente histórico privilegiado, seja ele um

grupo ou uma classe social. Os autores criticavam o marxismo da Segunda

Internacional, opondo-se ao economicismo e à tese da proletarização das classes

médias e do campesinato, considerando que sem levar em conta as

especificidades dessas classes não seria possível construir uma alternativa

hegemônica das classes dominadas.

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Autores Franceses numa concepção marxista

• Apenas nos anos 90 houve uma renovação

dos estudos dos movimentos sociais a partir

de uma perspectiva teórica marxista.

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Para Vakaloulis , movimentos sociais

Reconhecer a existência de movimentos policlassistas não significa que a dominação e aexploração de classes deixaram de ser importantes. Admitir que os movimentos sociais nãosurgem apenas da luta de classes, não é o mesmo que afirmar que estas foram eliminadas.Por fim, embora esses movimentos não sejam anticapitalistas, não se situam no exterior darelação capital/trabalho. Para o autor, os movimentos sociais são “fatores de politização e deemancipação das trocas sociais” (Vakaloulis, 2003, p. 81).

A dimensão política dos movimentos sociais pode ser observada nos seguintes aspectos:

1. os movimentos sociais levantam e politizam problemas como emprego, segurança social,saúde, aposentadoria...

2. 2. ao mesmo tempo, recusam a instrumentalização pela e a submissão à política partidária einstitucional, o que não significa uma versão pósmoderna do anarco-sindicalismo, mas ademanda por igualdade com o político.

3. adotam práticas que ampliam o espaço público (participação direta, novos

repertórios de ação).

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Vakaloulis,

• “A força de um movimento social não se mede somente por seus efeitos

conjunturais (impacto temporário) ou substanciais (satisfação de reivindicações).

Nem exclusivamente por sua capacidade de ‘pesar’ sobre a política institucional,

modificando o que os cientistas políticos chamam de ‘estrutura de oportunidades

políticas’. Se se coloca do ponto de vista de uma política de emancipação, a

contribuição fundamental dos movimentos sociais é a de colocar os explorados e

os dominados na frente da cena, mostrando que o espaço de contestação se

constrói não em termos de contra-poderes mas, sobretudo, em termos de

positividade” (Vakaloulis, s/d, p. 17).

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Polissemia do movimento social

• Béroud, Mouriaux e Vakaloulis apontam a

polissemia da expressão movimento social e

utilizam-na para designar “um processo amplo

e multiforme de mobilizações” em busca de

transformações sociais (Béroud et al., 1998, p.

21).

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Os movimentos sociais emergem num contexto determinado, no qual há uma

dificuldade de apreender a esfera política (as dificuldades de se exprimir através

das instituições disponíveis, dos canais de representação tradicionais). Ou seja,

eles não exprimem uma rejeição à política, tampouco se dirigem somente ao

Estado. Eles têm projetos próprios, alternativos, expressam uma tentativa de

transformação da sociedade. Não demandam apenas uma reorientação da política

de Estado, uma intervenção, uma política pública, eles tentam fazer política de

outro modo, são portadores de concepções distintas do que deve ser a política de

Estado.

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Partindo da contribuição de Tarrow,

• Define movimentos sociais como “contestações coletivas, baseada em

objetivos comuns e solidariedades sociais, numa interação prolongada

com elites, oponentes e autoridades” (Tarrow, 1994, p. 4), esses autores

se propõem a prolongar a problemática marxista do movimento social,

definindo-o como a “dinâmica própria de um grupo social portador de

reivindicações importantes, duráveis e conflituosas” (Béroud et al., 1998,

p. 57). Distinguem movimento social de outras formas de expressão

coletiva, que não se excluem mutuamente, para sustentar que nem toda

ação coletiva é um movimento social.

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Perspectiva marxista nos movimentos sociais

• A partir dessas considerações, pode-se afirmar que a

perspectiva marxista faz diferença (ou importa) na

análise dos movimentos sociais ao buscar a relação

entre ideologia e classe, entre política e economia.

Compreender o posicionamento de classe requer a

análise das condições materiais, do impacto da

ideologia dominante, da relação com as outras classes.

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• A abordagem marxista também permite ao analista se

interrogar sobre a diversidade dos movimentos e, ao

mesmo tempo, buscar seus elementos comuns. Ainda

possibilita compreender os movimentos de modo não

linear, uma vez que a conflituosidade é feita de avanços

e retrocessos.

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3. Os movimentos sociais na América Latina em questão

• Buscaremos refletir sobre algumas experiências

latinoamericanas recentes. Essa reflexão – que

toma por base a bibliografia disponível (nem toda

ela inspirada no marxismo, é bom que se diga) –

leva em conta os seguintes aspectos: a

composição social, a plataforma reivindicativa e a

forma de atuação desses movimentos.

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Algumas questões e de algumas hipóteses

• 1) Que condições teriam possibilitado a constituição e a

ascensão desses movimentos? A hipótese presente na maior

parte da bibliografia sustenta que esses diferentes

movimentos, a despeito de sua heterogeneidade, constituem

uma resposta aos efeitos nefastos da política neoliberal que

vem sendo implantada, desde os anos 70 (se se leva em conta

a experiência do Chile) por diferentes governos da região.

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• 2) Que tipo de relação esses movimentos estabelecem com a esfera política? Essa

questão contém em si mesma um suposto, qual seja, o de que esses movimentos

possuem uma dimensão política, dimensão essa que pode ser observada sob dois

ângulos: de um lado, porque se constituem em contraposição a instituições,

projetos e medidas políticas; de outro porque ao resistirem a essas instituições,

projetos e medidas produzem um impacto político de monta. Esse impacto político

passa pela criação de novas forças políticas; por sua posição – de oposição ou

apoio – frente aos governos; por sua relação com os partidos políticos e com os

demais movimentos sociais, como o sindical; pela luta por uma inserção

institucional ou pela recusa a ela.

Page 38: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

• 3) Como definir esses movimentos? Esses movimentos caracterizam-se pela luta

por direitos econômicos, como acesso à terra, garantia de trabalho ou benefícios

sociais; e políticos, como o direito à participação política. Não se trata de lutar

somente pelo reconhecimento de identidades étnicas ou de “minorias”, pois as

reivindicações vão além dessas questões. Também não se trata de novos

movimentos sociais stricto senso, não apenas porque alguns desses movimentos

não são tão novos assim17, mas porque também não constituem necessariamente

uma oposição ao movimento operário e sindical, mas se associam a ele, de formas

distintas. Além disso, ao contrário do que propugnam as teorias sobre os novos

movimentos sociais, é possível encontrar um caráter de classe nesses movimentos,

o que permite pensar sua unidade, a despeito de sua heterogeneidade.

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3.1 A relação entre neoliberalismo emovimentos sociais

• As causas que se encontram na origem desses diversos movimentos

sociais são múltiplas, mas é possível encontrar, em todos eles, um

aspecto comum: eles constituem uma reação ao neoliberalismo,

muito embora a política neoliberal se apresente sob formas

distintas e tenha sido aplicada com intensidade variada nos países

latino- americanos. A Argentina talvez tenha sido o caso mais

exemplar de uma política neoliberal levada ao extremo, cujo

colapso teve um efeito devastador, dando origem à crise de 2001.

Page 40: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

• Essa conjuntura deu origem a movimentos distintos, cuja unidade

pode ser encontrada no questionamento do neoliberalismo. São

movimentos que reagem ao desemprego, à precarização e à

pobreza, exprimindo o descontentamento com as falsas promessas

do neoliberalismo e com o slogan da modernidade: compreendem

o panelaço da classe média contra o corralito, os piquetes dos

desempregados, o movimento das fábricas recuperadas, as

assembléias de bairro (Chesnais, Divès, 2002; Palomino, 2006).

Page 41: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

O impacto negativo do neoliberalismo

• O impacto negativo do neoliberalismo afetou, embora o tenha feito

de maneira diferente, não apenas a classe operária, mas também as

classes médias e até “grupos de burguesia dependente vinculados

ao mercado interno” (Quijano, 2004, p. 75), produzindo uma

contínua e crescente polarização social da população: “As três

décadas de neoliberalismo na América Latina criaram as condições,

as necessidades e os sujeitos sociais de um horizonte de conflitos

sociais e políticos” (Quijano, 2004, p.82).

Page 42: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

Caso Boliviano - Neoliberalismo

• A relação entre neoliberalismo e movimentos sociais também é

evidente no caso boliviano: a Marcha Indígena pelo Território e a

Dignidade, de 1990, constitui uma reação às políticas de ajuste

estrutural que passaram a ser aplicadas em 1985 (com a eleição de

Victor Paz Estenssoro) e que se chocavam com as autonomias

departamentais, já que pretendiam restaurar a autoridade e a

unidade do Estado (Regalsky, 2007), e com as autonomias

indígenas, como a justiça comunitária.

Page 43: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

Os exemplos= critica ao Neoliberalismo

• Esses exemplos indicam que esses movimentos exprimem

uma crítica ao neoliberalismo e, ao mesmo tempo,

sinalizam que as criticas e resistências à política neoliberal

provocam mudanças e adaptações no neoliberalismo,

contribuindo para deslegitimá-lo política e

ideologicamente, bem como para modificar o cenário

político, como se verifica por meio da eleição de partidos

de centro-esquerda20.

Page 44: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

3.2 A composição social dos movimentos e as formas de luta

• Esses movimentos possuem uma abrangência

social ampla, sendo possível apontar, em

alguns casos, a múltipla condição dos

mobilizados.

Page 45: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

Exemplo

• No caso brasileiro, a composição social do MST inclui desempregados urbanos e

trabalhadores informais, bem como camponeses expulsos de suas terras. Com

efeito, a política neoliberal bloqueia as possibilidades de acomodar os ex-

camponeses e assalariados rurais nas cidades. Impossibilitados de encontrar um

emprego, mesmo que no setor informal, estes se juntam ao MST. O mesmo

acontece com os desempregados urbanos, ao verem negadas as oportunidades de

se reintegrar à empresa ou de serem “requalificados” e transferidos a uma outra

ocupação. Nesse sentido, as conseqüências das políticas neoliberais, no campo e

nas cidades, acabam fornecendo uma base social para a expansão do MST (Coletti,

2002).

Page 46: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

• Esses movimentos, tão diversos em sua

composição social e em suas demandas,

também se diferenciam em termos de

correntes e tendências político-ideológicas,

bem como em suas formas de atuação.

Page 47: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

• Os movimentos latino-americanos se originam ou se amplificam num contexto de

crise da democracia representativa, cuja expressão são os limites à participação

popular (decorrentes de sistemas políticos excludentes) e a degeneração de

instituições políticas tradicionais (partidos e sindicatos marcados pela corrupção,

por práticas autoritárias e pela incapacidade de representar as demandas sociais

que emergem nesse novo contexto histórico). Sua constituição desafia o espaço

institucionalizado da política tradicional, fazendo frente à crise de representação,

recusando a democracia delegativa e buscando novas formas de participação.

Essas formas de participação passam pela constituição de organismos sem

inserção no sistema político tradicional.

Page 48: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

3.3 As reivindicações e suas implicações políticas

É possível afirmar que esses movimentos,

exprimem uma recusa às instituições políticas

tradicionais, recusa essa que passa pela

criação de novas forças políticas – ainda que a

relação com organizações já existentes não

esteja descartada.

Page 49: Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão

• A presença marginal do movimento no governo e sua incapacidade de

alterar a agenda neoliberal levaram à deterioração e à ruptura da aliança,

após 7 meses. Embora tenha resistido a medidas governamentais, como o

aumento do preço do gás, “o movimento político Pachakutik é pego em

suas próprias contradições: deve questionar o sistema político desde

dentro, mas ao participar finalmente o legitima” (Dávalos, 2004, p. 190).

Isso evidencia os limites do potencial transformador dessa forma de

participação, que se dá com determinados aliados e numa determinada

conjuntura.

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Conclusão

• Por fim, os conflitos sociais que conduziram a esses movimentos

podem ser lidos à luz do pertencimento de classe. Nesse sentido,

há uma articulação entre identidades étnicas e ocupacionais e

condição de classe. A despeito das diferentes classes e identidades

envolvidas, são movimentos de classes trabalhadoras (consideradas

aqui em sentido amplo, a fim de incluir as classes médias e os

camponeses), que têm em comum o fato de partilhar uma ideologia

antineoliberal.