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Tristezas da vida

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Tristezas

da Vida Edimauro Costa

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DEDICATÓRIA

Esta minha primeira obra literária dedico aos meus

queridos pais, o cota Guilherme e a sua esposa Dona

Antónia, ou como são conhecidos – ao casal Costa. Dedico

aos meus irmãos Dickerson Costa, Guilherme Costa o Júnior

da família, as minhas irmãs Quetura, Epifania e

Conceição. Enfim dedico a todos elementos que constituem

a minha grande e linda família.

AGRADECIMENTOS

Com o coração transbordando dos mais puros

sentimentos de gratidão, agradeço a todos que me apoiaram

na criação desta obra literária, como os meus achegados

amigos, a equipe do facebook, que apesar de lerem pequenos

trechos, me davam forças para continuar. Agradeço

também aos críticos por suas críticas, pois estas me fizeram

ganhar poderes para vos mostrar que consigo escrever.

Agradecer também as mulheres que usaram meu ombro

para desabafar e por terem permitido transcrever a vossa

história. A todos, muito obrigado…

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Índice

1. Você não acreditou ………….

8

2. O medo …………………………

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3. Quase perfeita ………………..

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4. No desespero …………………..

55

5. Burro fui eu …………………...

63

6. A má escolha ………………….

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Prelúdio

Há quem diga que viver é bom, mas haverá sempre

alguém a dizer que a “vida é injusta”, e tenho que

concordar com isso.

Há muito ouvimos que a felicidade não vem do que

possuímos materialmente, por isso é que a “tristeza da

vida” não escolhe classe social; pobre, rico ou kunanga,

todos sofrem as malambas da vida.

O “mundo é redondo”, o que hoje possuis amanhã

serão meras recordações, e o que não possuías serão nada

mais do que um plano concretizado, com um pouco de

esforço aplicado, e garantido. O imprevisto a todos

sobrevém, não há quem dele possa fugir ou escapar.

A vida torna-se triste quando surgem as várias

makas inesperadas da vida, nas diversas facetas do

quotidiano do homem e em vertentes da vida bem diferentes

um do outro.

Uma primeira vertente em que a vida torna-se triste

é quando passas a dar “escosta” ao que possuis, ou seja

quando vês a tua vida dar meia volta inesperadamente,

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deixando para trás tudo que encontraste ou que conseguiste

com sacrifícios enormes e longos anos de suor.

A segunda vertente em que a vida torna-se

lastimável, é quando vão surgindo os imprevistos nos

momentos em que pensavas que fossem de enorme alegria,

na perda da pessoa amada (seja ela por meio de uma morte,

ou quando há um rompimento em um namoro ou

casamento), quando olhas para frente e vês um triste

futuro antecipado (ou seja quando dás conta de que a tua

vida já está sendo escrita: “Pobreza e tristeza eterna”).

Nossa história desenrolar-se-á em algumas facetas e

vertentes da vida do homem em que existe a presença de

tristezas no rosto de quem por elas passa. Algumas delas

são presenciadas na perda das pessoas em quem foi-se

demonstrando amor, carinho e afecto, mas que nem sequer

foi levado em conta (namoro).

Outras são presenciadas no rosto da mulher que

depois do casamento sente que fez mal escolha, da jovem

que estragou sua vida por se engravidar cedo e escolher o

homem que não soube lhe dar o devido valor, respeito, amor

e interesse genuíno; por isso, essa é a história…

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Com um bom papo, conquistas a miúda mais

cobiçada, mais olhada, mais invejada... Mais todos “da”,

mas é a que o coração disse: “Essa é a desejada”. A princípio

tudo parece decorrer as mil maravilhas, ela é a miúda que

mexeu com o seu coração, aquela que por nada na vida te

faz faltar à escola, só para a poderes ver, abraçar, beijar,

sentir o seu cheiro gostoso, o perfume delicioso. Ela é a

mulher que sentiste ser entrega de Deus, ser a costela que

Deus te retirou para a poder formar, é a que todos os

brother’s da escola causavam acidentes apenas com o seu

passar, é a que a princípio achavas ser de qualidades

incomparáveis, incontestáveis, mesmo repetidas vezes

falarem o contrário dela.

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Ela era a mulher que te fazia ser o mais truta da

sala, para a fazeres ver o que realmente és, era a mulher que

depositavas uma fé indiscutível, mesmo com alguém que

viesse te dar um valor incomparável. Era a mulher que o

salário mensal de dez horas de trabalho consecutivas o

entregavas de mão aberta, porque só a sua presença te

deixava de boca aberta.

No ínterim Ela é a mulher que tocou e fez dançar

meu esqueleto, com a menor das vontades.

Tudo bonito que nem paraíso, mas o que se passou?

Bem vou brincar um pouco a Deus e recuar o tempo para

poderem entender o que aconteceu...

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Numa linda escola, numa sala recheada com as

mais belas “Gatas”, lá estava eu, sentado bem à frente de

quem nunca imaginara um dia vir a conhecer, embora o

coração já tivesse saltado do lugar só com o primeiro olhar.

Passei grande tempo olhando de boca mais que aberta para

aquela beleza, porque aquilo já era uma realeza. Até que,

ela dirigiu-se a minha pessoa, digo-vos este foi o mais belo

dia, pois do nada ela simplesmente deseja – me conhecer e

ser minha “colega – amiga”.

Sem um único pensamento, sem o comando de meu

coração minha mente e meu esqueleto, meus lábios de modo

inesperado abriram-se e aceitaram o emocionante convite

que foi entendido pelo coração como importante. À partir

daquele momento, a escola tornou-se valiosa, gostosa de se

contemplar por causa do grande museu que eu tinha que

visualizar e ao mesmo tempo meditar.

Fomos cultivando uma grande amizade

inicialmente de irmãos, mas que parecia querer ter outra

inclinação. Cultivamos uma relação tão funda, que já

estávamos a ser confundidos como casal de namorado,

apesar de inúmeras vezes ter desmentido. Tornamo-nos

companhia um do outro auxiliando-nos em tudo que fosse

necessário. É aí que surge o início de nossa história...

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A princípio tudo parecia lindo, com abraços beijos e

até sendo mimado, acariciado. A vida era um mar de rosas,

a miúda que era achada por todos tão bela, agora era a

minha Cinderela. Causei inveja a muitos, porque eu era o

único que comia dos seus belos frutos. Apesar de não ser

tãooooo linda ou atraente fisicamente [com um lindo Q.O

(“modo de chamar o rabiosque”)] ela era um espanto no seu

interior, tinha das mais lindas qualidades que todo

homem gosta de contemplar acompanhado com grande

sentido de humor.

Por causa dela o mais “truta” tornei-me, porque para

aproximar-me cada vez mais dela essa era a única maneira,

ser “truta” afim de a poder explicar para ao lado dela

conseguir estar e acariciar.

Por causa dela tornei-me o melhor trabalhador do

mundo, por ser o único disposto a dar de tudo, trabalhava

vinte horas por dia, só para a poder conceder alegria.

Esfolava-me a arranjar dinheiro (“ da melhor forma”)

quando a mesada do papai já tivesse terminado para poder

concretizar todos desejos por ela sonhado.

Sofri zombaria, incontáveis são o número de vezes

que quase fui espancado, pois sentiam raiva de mim por

não conseguir negar nenhum pedido por ela solicitado.

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Tantas vezes já ouvi que o amor é cego, mas meu

amor não era deficiente porque todos os órgãos do meu corpo

estavam dispostos a dar cem por cento de sua perfeição.

Tudo parecia paraíso, grandes cambas, casal de

namorados invejados por muitos, felicidade incomparável,

só faltava era mesmo andar vestido de folhas como “Adão e

Eva”; enfim tudo perfeito. Mas essa mulher mudou...

Senti minha vida girar em torno da música do

Matias Damásio “Você não acreditou”... No princípio era tão

bom…, tanto esforço para no fim ter uma grande decepção.

Infelizmente chega o último ano, o último mês de

nosso curso, mês em que tudo de mal passa a acontecer.

Numa manhã tão linda ela chega a escola e naquela

conversa entre namorados ela simplesmente diz que iria

colocar pircins e mais brincos na orelha, porque estava a ser

confundida como “ovelha” [“A ovelha é um animal manso,

meigo, por isso muitas vezes é confundido como animal

burro”]. Convenço-lhe a não fazer isso, mas no dia seguinte

vejo-lhe com muitos furos na orelha, penteado extravagante

e roupa muito curta ou seja imoderada o que eu nunca

pensei ter visto em minha namorada. A situação começa a

mudar, a menina que outrora era bem falada por todos,

passou a ser motivo de “fofoca”, as qualidades lindas, belas,

maravilhosas que ela possuía foram substituídas por

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qualidades indesejáveis, aquelas que todo pessoal considera

como imprestáveis.

Baladeira ela se tornou, fama de ter outros “damos”

passei a ouvir, não imaginam como passei a me sentir e

como o coração derretido ficou. Na minha vida ela causou

tantos danos, quando me usou como elo para concretização

de seus planos. Fiquei sabendo que fui comprado, todos

mimos, carinhos que fui recebendo ao longo do tempo

outrora convivido, foi apenas para me iludir, mentir, para

ver se eu me tornasse um auxílio fortificante na realização

de seus planos, já que eu era um bom aliado.

Desculpas esfarrapadas foram sendo dadas,

travagens no namoro foram sendo aplicadas, sem eu saber

ao certo a razão, eu estava apanhando cotoveladas.

Discussões deliberadas foram surgindo, para ver se

eu passasse a olha-la de outra forma e para ver se do nosso

namoro eu fosse fugindo. Traições ao vivo fui presenciando,

fui tratado como corno reconhecido; o costume de me mimar

e acariciar foi-se perdendo. De namorado, de um verdadeiro

amigo, passei a ser considerado o seu pior inimigo.

Triste vida, tanto esforço, porém não visto e muito

menos levado em conta, mesmo presenciando a angústia,

ela sequer se importa. Passei a ser considerado maluco,

porque a forma de reagir era de louco. Apliquei um ditado

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na minha vida de tanto desespero que eu me encontrava:

“Onde tiver uma igreja, a casa que estiver a frente da

mesma, eu devo conhecer uma mulher.” Fazia um grande

esforço de conhecer uma mulher que vivesse frente a uma

igreja, para ver se o relacionamento fosse abençoado por

Deus, para que não voltasse a acontecer o mesmo que no

primeiro relacionamento.

Cicatrizes no meu coração foram deixadas, de tanta

tristeza não conseguia arranjar um novo amor pois tinha

medo de passar novamente por uma semelhante dor, iguais

às anteriormente passadas. Infelizmente o que era

considerado um paraíso – acabou. Rompemos na sua

totalidade o namoro, ficamos sem dirigir a palavra um

para o outro durante anos, frustrando com todos os nossos

ex – planos. Mas como bom rapaz, tentei reconquistar-lhe.

Desculpas e mais desculpas, mesmo sem ser o

culpado, chachos e papos, a miúda voltou a aceitar-me.

Alegria, pulei de tanta emoção pois já não aguentava

guardar a felicidade que sentia o coração. A minha

primeira-dama, minha conquista, meu troféu voltou a ser

minha, e ocupou novamente o seu lugar no meu coração –

minha princesinha.

Novamente batalhei, como não há benefícios sem

sacrifícios, dei no duro, até na escola de condução entrei

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para aprender a conduzir e com o carro do papoite levá-la a

passear. Entrei em acordo com a Unitel, para ver se

tivéssemos saldo vitalício, redobrei todos esforços outrora

feitos, para ver se sobre o coração dela eu tivesse amplos

efeitos, mas ela nem sequer estava aí. O comportamento

estava pior que anteriormente... Dessa vez nem mimo e

carinho houve, fui tratado que nem uma velha couve. De

corno passei a ser considerado “chifrudo ao quadrado”,

constantemente era insultado. A nossa relação deixou de

haver respeito e confiança, pois a minha frente ela deixava

ser paquerada, beijada e muitas vezes abraçada por outros,

mesmo sabendo que tal comportamento poderia estar me

magoando. Já não me despedia, nem sequer levava em

conta minhas opiniões sobre sair com outros damos. Mas o

que mais me doeu foi ver-lhe aos beijos e abraços, aos puros

encostos e apalpares do corpo com um seu ex de adolescência.

Da pior das formas, entendi o recado que ela quisera

transmitir-me com essa sua forma rude e cruel de tratar-

me. Dessa vez, caí em mim e desisti. Confesso que durante

anos sofri, porque do meu coração ela não saia facilmente,

mas com esforço e força de vontade expulsava-lhe

paulatinamente, e assim consegui.

Infelizmente a linda, bela relação inicial, teve um

triste final. Apesar de tanto sofrer, triste ficar, considerar

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este momento como o mais triste da minha vida, o mais

desgostoso, ainda assim o considero como vantajoso, pois

aprendi uma importante lição: “Nunca dê cem por cento do

seu amor ao seu primeiro amor. Não batalhe, não dê tanto

no duro sem conhecer perfeitamente seu companheiro(a).

Não faça coisas impossíveis para quem não sabes se serão

visíveis. Quanto mais alto subires [sem cordas de

segurança], maior será a queda. Nunca faças as coisas por

emoção, para não teres uma grande decepção”. Todas as

noites a minha cama se molhava de lágrimas, e o meu

choro encharcava o travesseiro.

Mas como todos sabemos, por mais agravante que

seja, não existe ferida que não se sare. Não há antídoto

melhor que o tempo – o tempo cura todas feridas.

Apesar de sofrer, cicatrizes em meu coração ainda

possuir, lutei para arranjar um novo amor. Procurei

encontrar alguém melhor, fantástica, alguém que

valorizasse o que eu faria por ela, alguém que me aceitasse

tal como sou, que fosse na realidade uma Cinderela, que

merecesse que a colocassem um lindo sapato de cristal.

Felizmente consegui encontrar tal pessoa, muito melhor

interior e exteriormente, mas também não foi uma relação

bonita que tivemos, mas só que desta vez o erro foi meu.

Vou explicar-vos o que sucedeu...

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Para essa nova relação entrei com o coração

quebrado, partido, cicatrizado com as mágoas mais

dolorosas e pegajosas da primeira relação. Apesar de abraçar

com imenso carinho essa nova relação, no meu interior na

parte mais restrita do meu coração ainda reinava um

enorme medo de passar pelas situações outrora passadas.

Tive medo de voltar a entregar-me de corpo e alma, dar ao

máximo de minha atenção e carinho, para não voltar a abrir

as feridas que já estavam semifechadas.

Confesso que se não tivesse esse intenso medo,

poderia estar vos escrevendo um livro de “Alegrias da vida” e

não “Tristezas da vida” porque a esta hora estaria com um

enorme sorriso até a orelha, e desfrutando de tudo que

estariam me concedendo, pois tudo era uma maravilha.

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Mulher esplêndida, esbelta criação de Deus que levou

sete dias, e que quando foi entregue a sua família trouxe

enormes alegrias. Mulher com qualidades excelentes desde

a sua concepção e que foi aplicando, demonstrando-as no

decorrer de sua evolução. Mulher de dotes, boa de cozinha,

perfeita dona de casa, verdadeira ajudante e acima de tudo

muito inteligente.

Mulher linda que quebrava com todos os sistemas

de segurança só com o seu passar – Se passasse próximo a

uma agência móvel, o sistema caia, porque só o seu passar

tirava a atenção dos funcionários – que ficavam perplexos

com a tamanha beleza, com o monumento histórico que

contemplavam com alegria.

Se passasse próximo a um banco, o pior gatuno, o

mais inexperiente, do dia para noite ficava o homem mais

rico do mundo, porque ela quebrava na sua totalidade a

atenção e concentração dos funcionários e seguranças.

Mas não era apenas sua beleza exterior que me

encantou, mas também sua beleza interior.

Mulher com qualidades excelentes, apreciadas por

todos a sua volta. Ao contrário da mulher da primeira

relação, ela era por todos bem falada, tinha uma excelente

bibliografia. Era amigável, verdadeira companheira

daquela que primeiro zela pelo bem-estar do seu próximo e

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só depois olha para o seu, aquela que tenta ler sempre seu

rosto para visualizar o seu estado humorístico, conselheira

fiel, verdadeira costela tirada do homem.

Muitas vezes deitado em minha cama, fico

imaginando como seria a minha vida se tivesse abraçado

com as duas mãos essa relação e como estaria a minha paz

interior e o meu coração.

Tentei lutar contra o tempo para voltar a viver os

poucos momentos alegres que tive na vida, a atenção,

carinho e mimos que desfrutei quando ao lado dela eu me

encontrava. Se o futuro fosse previsível para seres

humanos, previa-o e me protegeria das actuais decepções, de

não a ter aceitado por causa do enorme medo, e de não a ter

concedido a felicidade merecida no grau superlativo.

Digo-vos que sofri muito quando fiquei sabendo

que por causa do meu medo, do longo tempo de resposta, ela

trocou-me, e lá se foi. Minhas poucas esperanças de voltar a

conquistar-lhe perderam-se, pois ela encontrou alguém que

a valorizasse. Mas fiquei feliz por a ver feliz. Essa mulher

não merecia ser praguejada, porque diferente de muitas, ela

tinha qualidades por todos desejados.

Mas num inesperado dia, nossas vidas voltam a

cruzar-se, e sinto meu coração como um carro sem

“rolantim”, aos tremeliques. Nos dois beijos sagrados, no

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quente abraço que houve, senti seu coração borbulhar, como

água fervendo a cem porcento, e lá enxerguei o quanto ela

de mim ainda gostava. Suas palavras mostraram que ela

estava disposta a tudo, só para me ver girar a volta de seu

mundo. Foi capaz de dizer que abandonaria o seu actual

namorado ainda naquele momento, que trocaria de

faculdade batendo com todos os testes rijos que encontrasse,

só para ao meu lado poder estar. A primeira vista, para

alguém que só quer engatar, e não pensa nos pró da vida,

essa sem dúvida seria uma ótima oportunidade, nem

sequer pensaria “zero” vezes, e já lá estaria. Mas para

alguém sensato, que zela pelos sentimentos dos outros,

decidi rejeitar apesar de o coração guerrear com a minha

mente, mas não dava, pois não me sentia preparado, não

seria aquele companheiro capaz de oferecer um bom presente

quando fosse necessário, se conseguisse leva-la a um Belas

shopping dia seguinte estaria na maior aflição chorando

em tudo quanto é canto, e com grandes bolhas na planta do

pé de tanto andar a pé, por não ter grana para apanhar táxi.

Eu era um desgraçado comparando com o actual dela. Eu

raramente andava de táxi, o meu transporte indispensável,

infalível e constantemente usado eram os meus pés,

enquanto o actual dela tinha uma máquina movível de

cinco rodas, nem sei bem se posso chamar de carro. Ele

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tinha um pocket pc (“telefone – computador de bolso”), que

fazia chamadas de vídeo, enquanto eu tinha um aparelho

que nem sequer estava na categoria de telefones, o qual

tinha apenas dois objectivos – chamar quando possível e

receber chamadas. Ele tinha dólares no bolso, pagava

hambúrguer a ela e suas colegas, enquanto eu só conseguia

pagar rebuçados de cinquenta kwanzas e só para ela.

Apesar de verdadeiro amor não se medir pelo bolso, o amor

que eu tinha também não lhe concederia felicidade

duradoura, há que haver sempre um equilíbrio.

Por isso não me armei em herói, preferi não estragar

o que ela já tinha conquistado, o que lhe fazia feliz até

aquele momento sendo superficial ou não, porque mulher

ferida e arrependida é pior que feiticeiro.

Mas, apesar das duas histórias terem um triste

final, delas consegui tirar uma valiosa lição: Para assumir

grandes responsabilidades há que se estar bem preparado.

Namoro sem sérios objectivos, nunca leva ao estado da

alegria, mas na decepção, no desapontamento,

arrependimento de teres dado o que não deverias ter dado.

Namoro só de brincadeira ou namoro técnico, tal como beijo

técnico conforme dito pelos atores não existe. A medida que

forem namorando um dos cônjuges vai aprofundar os seus

sentimentos pelo outro e esquecerá que se encontra na

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brincadeira, e quando dar-se conta já se encontra na

decepção, reclamando da vida, no porquê que deu, que fez

aquilo. Por isso a moral das duas histórias na qual passei

foi: “Preparação acima de tudo, para assumir grandes e

pesadas responsabilidades”.

Desta feita preparei – me o suficiente para assumir

um terceiro compromisso, mas só que surgiu novamente

dificuldades. Parece que também quando nos sentimos

preparados, este ainda não é o momento. Nessa terceira

história foi isso que sucedeu. Senti-me o suficientemente

preparado, me jogando para esta nova relação sem hesitação,

mas só que no terreno as coisas foram diferentes…

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Bela rapariga, mulher de corpo extraordinário, com

qualidades que a primeira vista são atraentes, mulher com

um óptimo registo por parte dos mais velhos que ao seu

redor, ficavam a lhe visualizar. Mas apesar de tantos

olhares, tantos galanteios e assobios, tal mulher decidiu

ficar sob minha tutela.

Num lindo levantar do sol, numa hora tranquila, lá

eu estava ajudando minha mãe a lavar a louça. Tão

distraído e bem despreparado, ouço o bater da porta seguido

de uma sequência de toques da campainha.

Apressadamente vou a porta, na perspectiva de surrar o

miúdo que tinha o hábito de incomodar as pessoas logo de

manhã com toques deliberados na campainha dos outros.

Choque ao abrir a porta. Era ela a mulher de olhar sereno, de

qualidades incomparáveis. Senti-me como se estivesse

falando com uma celebridade como por exemplo a Beyoncé,

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pois eu nunca outrora havia com ela conversado, apesar de

vários relatos sobre ela já ter ouvido. Permiti que ela

entrasse, concedi-lhe a melhor cadeira de meu quintal, e

preparei-lhe um copo bem fresco com o melhor sumo da

compal. Ela recusou o sumo e disse que preferia uma coca –

cola. Fui até ao meu quarto a correr e tirei o único tustão

que se encontrava na minha pasta de bolso sem hesitar.

Mandei comprar uma coca – cola pois meu desejo era parecer

ser um bom anfitrião, sem sequer me importar se naquele

dia iria a pé para a escola.

Na conversa que íamos tendo, assustei – me vendo o

quanto ela também já sabia a meu respeito. Tudo até

filiação, bem como data de nascimento a rapariga já sabia.

Logo deduzi que aquela desculpa esfarrapada que ela dera

inicialmente ao lhe abrir a porta era uma grande mentira.

Sua intenção não foi ver a minha família, mas sim a

minha pessoa.

A partir daquele momento nos tornamos grandes

cambas [amigos]. Ajudamo-nos em todos os assuntos que

fossem melhor dois do que um. E como todo bom rapaz,

fiquei logo com o seu número de telefone.

Quando ela saiu de minha casa, fiquei sem

palavras, tão perplexo, pois não aguentava acreditar no que

havia acontecido.

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Passamos a nos comunicar frequentemente via

telefone, perguntando o estado um do outro e muitas vezes

falando de assuntos banais, só para não deixar de ouvir a

sua voz. Fomos capazes de gastar mais de dez cartões de

saldo por semana. Fomos considerados os piores gatunos

[no bom sentido], porque quando nosso saldo terminava,

quem sofria eram os da casa que tivessem saldo. Todas as

noites lembro-me bem que recebia muitas vezes chamadas

telefónicas de números diferentes. Por causa disso surgiu

um dia que hoje marco como um dos dias alegres que já tive

na minha pouca existência:

Numa noite relaxada, ouço meu telefone tocar e

apressadamente vou a chamada verificar. Pela hora, nervoso

eu atendo, por ver que tal número não se encontrava no

telefone – agendado. Mas não demorou que logo após ouvir

a voz do outro lado o nervosismo passou; era ela, mulher que

me fazia mudar de clima num piscar de olho, que me fazia

sonhar estar deitado nas nuvens e que me fazia esquecer

todos os malembes da vida. Apesar de ter reconhecido sua

voz, brinquei perguntando quem era, e ela simplesmente

respondeu – o teu sol, teu coração a tua namorada;

confirmando tudo que eu vinha a desconfiar – ela já estava

a me pesquisar, por isso é que tinha um lote de informação

pessoal a meu respeito. Mas deixei para lá e continuamos a

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conversar, rindo imenso de algumas piadas que até me

fizeram lagrimar.

No dia seguinte ela passou pela minha casa só para

me olhar e conversar, porque já não aguentava só pelo

telefone falar. E assim foi sendo a nossa rotina,

intercalando as nossas visitas, um dia ela em minha casa,

e outro eu em sua casa, só para não deixarmos de nos ver. A

coisa começou a ficar ainda mais grave. De grandes

amigos, admitimos que já estávamos namorando, porque a

nossa reacção indicava isso. Confesso que não dei conta

quando caí no seu jogo, mas também com aquela beleza,

quem não aceitaria entrar para aquela realeza? Se caí,

também foi porque meu coração assim desejou.

Nosso modo de agir indicava que já éramos

namorados. Por exemplo, ela constantemente perguntava

que penteado gostaria de ver nela e que roupa gostaria de

ver sobre o seu corpo. Todas as decisões que ela desejava

tomar, não as tomava sem antes saber o que eu achava do

que ela pretendia realizar.

Quanto a mim, já não conseguia ficar um dia

inteiro, sem a sua bela voz ouvir, sem poder me encontrar

com ela para a poder abraçar e conversar. Virei o maior

arquitecto do mundo, porque para me encontrar com ela

todas as linhas tinham que ser bem traçadas.

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Tivemos vários encontros e saídas agradáveis. Até

que tudo estava sendo esplêndido, lógico antes de surgirem

as dificuldades ou seja os malembes da vida, porque apesar

de me sentir hyper, mega, tetra preparado para essa relação,

parece que esse não era o momento certo. Vou dizer-vos o

porquê...

A tanto ouvimos, que mulher bonita é que nem carro

velho; e vou concordar com isso.

Um carro velho apresenta vários problemas, dá dor de

cabeça e muitas frustrações na vida. Uma mulher bonita de

igual modo só concede problemas, não que ela directamente

te concederá problemas, mas os problemas virão ao teu

encontro por causa dela.

Do nada na nossa relação surgiram invejosos, com

boatos provocantes. Histórias inventadas ou seja

imaginárias daquelas que deixam de rastos, sobre ela foi se

ouvindo em tudo quanto era canto. Os vizinhos começaram

a ficar com raiva, seu comportamento muitas vezes foi

muito pior do que cães raivosos, não conseguiam acreditar

como um magricela, desgraçado que inicialmente não

tinha nem sequer um popó, conseguiu conquistar uma das

miúdas mais belas e mais bem comportadas do bairro.

Passaram a me tratar com desdenho, quando me vissem

me davam olhada, não respondiam aos meus respeitosos

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cumprimentos, e muitas vezes dava a entender que se

algum dia tivessem oportunidade me agarrariam e me

concederiam uma boa porrada. Seus colegas de escola

também foram uma ameaça. Era hábito atender as

chamadas de números que na agenda telefónica não se

encontravam guardados, porque quando o saldo dela

terminava, ela ligava de outros números desconhecidos,

mas nesse dia quem ligou não foi ela. Não sei como

conseguiram o meu número telefónico, mas só sei que

naquele dia meus joelhos beijavam-se em fracções de

segundo, por causa das ameaças assustadoras que seus

colegas de escola me haviam feito. Perplexos não

acreditavam como aquele troféu, foi estar na posse de uma

equipa despreparada e que nunca conquistou nenhum

título.

Mas apesar das invejas e das ameaças, mantive-me

firme, coloquei uma voz de “caenche - gigolô” e espantei a

todos eles. A miúda sofria tantos apertos contra a parede por

parte de todos, mas mesmo assim ela continuava comigo.

Minha alegria aumentou e senti-me firme nessa relação,

quando certa tarde ela apareceu em minha casa e me

concedeu um presente. Apesar de não ser caro, ser atraente,

considerei-lhe como adquirido com todo suor, e mais

emocionante é que ela teve de perder horas para o fazer. A

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TRISTEZAS DA VIDA

34

parte que mais gostei foi o poema por ela escrito, definindo o

meu nome completo poeticamente. As lindas palavras que

ela usou, a borda a volta da página em forma de coração, o

olhar apaixonado e o magnífico sorriso que visualizei em

seu rosto quando me entregava o presente, fez-me perceber

que pela primeira vez na vida eu tinha alguém que me

amava de coração, que me amava pelo que sou, não pelo que

tenho. Alegremente recebi o presente e o poema que o

acompanhava, espantado li e reli, e meu coração perplexo

ficou pois não acreditou que realmente encontrei aquela em

quem poderia calçar-lhe os sapatos de cristais – a minha

Cinderela.

A partir daquele momento em diante, minha vida

passou a ter outro sentido. Senti que eu agora tinha

alguém que pudesse demonstrar o meu amor, e ter

responsabilidades sérias com ela. Ao contrário das duas

relações anteriores que tentei ter, dessa vez eu estava bem

preparado, tanto financeiramente como emocionalmente.

Até já tinha conseguido um popó, que muitas vezes já nos

levou a dar um passeio, e um telefone caro até já tinha.

Não hesitei, agarrei-a com as duas mãos, abracei

esta nova relação com toda a força que podia exercer.

Virei o melhor economista e contabilista do mundo,

porque a mesada que o papoite concedia era pouca, mas eu

Page 35: Tristezas da vida

TRISTEZAS DA VIDA

35

estudava formas de a fazer parecer ser muita. Por mês

pagava-lhe dois cartões de saldo, inventava passeios

exuberantes, só para lhe deixar com um lindo sorriso, e

fazer-lhe pensar que estivesse namorando com um

milionário.

Tudo lindo, maravilhoso, até parecia que estávamos

no céu. Mas esqueci-me que o Diabo e o imprevisto existem.

Depois de tanto tempo de convívio, comecei a conhecer

as qualidades negativas que a miúda possuía. Não dei

conta no início, mas apercebi-me mais tarde que ela era

uma tremenda ciumenta, já não conseguia ficar ao meu

lado se não se mantivesse atenta. Ao lado dela passei a me

sentir sufocado. Passou a ter a mania de ler minhas

mensagens telefónicas, bancou a detective controlando-me

com quem estive, estou e estarei, controlava as fragrâncias

que eu usava para poder distinguir de outros cheiros, ficava

fula se me visse conversando com outras miúdas, pegava o

meu telefone e apagava as minhas imagens ao lado de

minhas colegas. Namorar com ela passou a ser pior do que

estar numa delegacia policial.

Éramos um casal que bastante tínhamos para

conversar, mas também eu admiraria como não teríamos

tanto para conversar com o lote de perguntas que ela me

fazia – só que estar com ela virou uma seca. Namorar com

Page 36: Tristezas da vida

TRISTEZAS DA VIDA

36

ela passou a significar responder perguntas. O objectivo

principal de namorar passou a ser outro. Ao dirigir-me para

sua casa, em vez de ser para a ver, acariciar, beijar-lhe e

quem sabe fazer outras coisas mais quentes, eu sabia que

encontraria uma cadeira no quintal, na qual eu me

sentaria, responderia suas perguntas e ao se aproximar a

madrugada eu me levantaria e estaria indo de volta à casa

bem triste e arrependido da vida.

Não suportando essa situação, falei com a miúda

para ver se mudasse sua reacção. A miúda me ouviu e

mudou sua forma de reagir, pediu-me desculpas e disse que

só estava reagindo daquela forma porque tinha medo de me

perder. Percebi-lhe e mostrei-lhe que apesar de ser um “gajo

de gajas”, sou um homem de uma só. Daquele dia em

diante, ela deixou de ser tãooo ciumenta, me sufocando com

suas perguntas. Mas só que piorou em outro aspecto…

Não sei se a miúda estava a ouvir muito a música

do “Anselmo Ralph – Super-homem”, ou se estava a assistir

muitos filmes de super heróis ou lendo livros dos

quadradinhos, só sei que ela esperava que eu fosse também

um super herói.

Quando sentisse dor de cabeça, ou outra dor que lhe

incomodasse ao meio da noite, ou mesmo a madrugada, ela

me ligava e contava o que estava a se passar com ela.

Page 37: Tristezas da vida

TRISTEZAS DA VIDA

37

Apesar de ser aborrecedor acordarem-te, ainda por cima

quando estás a meio de gostosos sonhos e deliciosos “vira –

vira”, eu com isso não me incomodava, até fofo achava, pois

dava para sentir a confiança que ela em mim depositava.

Mas tornava-se chato quando essa pessoa ficava insistindo

que ao meio da noite tinhas que fazer alguma coisa para

seu benefício e resolução da dor. Acho que ela confundia

namoro com casamento. Para ela é como se estivéssemos

casados – eu aí do outro lado da cama. Não quero dizer que

não poderia ajudar-lhe, talvez levando-lhe ao hospital ou

clínica, mas o que diria a seu pai a meio da noite, ou a

madrugada, quando ele aborrecido me viesse abrir o portão

por ter lhe acordado? O quê? – Vim pegar a sua filha e leva-

la ao hospital, enquanto ela tem um pai que ainda cumpre

com suas obrigações? Acho que eu já fazia muito, dava-lhe

uma receita médica improvisada e dia seguinte de manhã

estava em sua casa lhe visitar.

Mas parece que para ela isso era pouco. Ela queria

me ver pelo menos tentar – em uma das noites em que ela

estivesse se sentido mal, eu deveria me armar em super –

herói, e para casa dela ir, mesmo sabendo que talvez levaria

uma sova de seus pais. Não atendi esses pedidos mimosos, e

por causa disso muitas vezes ela ficou sem falar comigo,

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TRISTEZAS DA VIDA

38

me atendia nervosa e constantemente era despachado. Não

suportei a situação e voltei a falar com ela.

A garota mudou seu comportamento, deixando para

atrás esses mimos sem nexo, e tudo voltou ao normal. Mas

esses eram apenas pormenores pequenos, que com uma boa

conversa resolvia-se. Mas com o tempo começaram a surgir

makas que deixavam-nos tristes e sem vontade de

prosseguir avante a relação – “a incompatibilidade e

opiniões familiares”.

Depois de um longo tempo de namoro, para além dos

raivosos vizinhos e colegas dela ficarem a saber, chegou a

hora dos familiares e parentes ficarem a saber. Depois de ter

aguentado os raivosos e invejosos vizinhos e colegas, pensei

que não fosse haver barulho maior que estes para aguentar,

mas acho que estava enganado, aguentar os nossos

familiares foi uma dor de cabeça.

Primeiro surgiu aquele problema que desde a década

do avô do avô do meu tetravô vem se disputando, e acho que

ele também teve de passar por ela para poder ter quem ele

teve em seus braços – As diferenças culturais de cada

família. Desde que nasci ouvi aquele ditado que entre

certas culturas não há união do tipo Malange e Catete,

Luanda e Uíge e muitas outras.

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TRISTEZAS DA VIDA

39

Quando o assunto chegou aos ouvidos dos maiorais,

foi uma maka grande. Pesquisas começaram a ser feitas

por parte de todos, para poder saber de que culturas

descendiam seus familiares. Em qualquer familiar que

fosse, os conselhos que estavam guardados no baú a anos,

eram removidos. Já não conseguia conviver com tantos

conselhos a minha volta, estava sufocado com tantos

porquê – “Porquê escolheste essa cultura? Vais dar-se mal,

essa gente é rabugenta, mal-educada, vais te arrepender

com essa miúda, porque deve ter herdado os hábitos de seus

familiares”, - mas o que eles não entendiam é que cultura

não deveria constituir uma barreira a um desejo limpo do

coração. Também não entendiam que cada pessoa constitui

a sua própria qualidade, o que muitas das vezes pode ser

impossível determinada pessoa ser como seus familiares,

senão concluiríamos que todo gatuno teve antecedentes

gatunos, o que muitas das vezes não é o certo. A miúda

estaria aprovada por todos, se não fosse esse problema de

cultura. Ela era linda, exuberante, bom corpo, trabalhadora

– que zela por um lar limpo e ordenado, modesta, simples

no que refere aos desejos da carne, por fim ela era cem

porcento adequada se não fosse esse problema. Mesmo

assim tentei quebrar essa barreira, e por mais que tentasse

eu nela caia. Fiz de tudo, só que por mais que dela eu me

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TRISTEZAS DA VIDA

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aproximasse, automaticamente me afastava dos familiares.

Zangavam-se a cada instante que eu insistisse sair com

ela, e não davam-se conta que o meu coração estavam

machucando. Resolvemos então passar a sair sem eles se

aperceberem, mas mesmo assim chegamos a um ponto

crítico. Quando deram conta que estava saindo sempre com

a mesma pessoa (apesar de não sair ou passear muito),

desconfiaram que estava rolando alguma coisa, e lá

começou a entrar as opiniões familiares com respeito a

fisionomia e muitos outros aspectos de pouca importância.

Quando chegasse uma tia em casa, a mamoite lá do

fundo só gritava – “esse então anda a sair com a filha da

família da Chica, aqueles do(a) – e lá ela citava a cultura

ou província a qual eles pertenciam”. A tia só exclamava –

“aquela baixinha, gorda, desfigurada tipo a mãe dela, com

a cara tipo está a olhar atrás mas é mesmo a frente?”. Essa

mesma dizia a mãe. Porquê meu sobrinho, a família estava

bonita até agora, só queres mesmo estragar? Não viste

outra? E como conclusão ela dizia: Deixa já esta miúda, faz

favor. Confesso-vos que a miúda era linda, maravilhosa,

daquelas que você diz: “Certamente Deus sentou e a formou,

não era um projecto arquitectónico entregue a alguém para

o fazer. Mas muitas vezes, a atitude do passado dos pais

tem repercussão sobre os filhos. Só a achavam feia porque os

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TRISTEZAS DA VIDA

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pais haviam se comportado de modo feio, e raciocinavam

que talvez as atitudes ou qualidades do passado dos pais

tivesse efeito sobre os filhos, mas não era isso, pois eu a

conhecia perfeitamente e não via nada do que eles diziam

sobre ela. A insistência de a deixar foi tanta, que já estava

a perder o gosto pela linda relação inicial, e dava conta que

a percentagem de afecto estava cada vez mais sendo

subtraída por esses problemas, e logo tornava-se pouco

demonstrativa.

Ela também estava a passar por situações idênticas.

Também tinha uma mamoite que aquecia as coisas, de tal

forma que quando visse também uma tia, lá estava ela

gritando – “Essa então anda a sair com o filho da Mana

Joana” – o quê? Aquele feio, baixinho e magricela tipo tem

tuberculose? – Porquê minha sobrinha, com tantos caenches

que tem aí você foi escolher esse magricela, porquê?

Com o tempo nossa relação passou a ficar

conturbada com tantos conselhos ou seja opiniões sem

sentido, sem nexo, opiniões negativas, daquelas que só

derrubam em vez de levantar o astral. Por isso para evitar

essas makas de uma relação conturbada, decidimos não

mais nos ver, mas passar a namorar simplesmente por

telefone, e se nos cruzássemos na rua, uma olhada tipo

quem não quer era o suficiente. Mas depois desconfiaram

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TRISTEZAS DA VIDA

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que mesmo assim apesar de não nos encontrarmos,

continuávamos a namorar por telefone. Aí entraram

novamente os maiorais e começam a controlar os toques e

as chamadas dos telefones, mesmo este estando no silêncio,

eles apercebiam-se. Por isso quando eu ligava a miúda

dificilmente me atendia. Já era difícil a ver, ainda ficava

semanas sem a sua bela voz ouvir. Quando atendia a

conversa era muito rápida, naquele despacho e muitas vezes

em códigos, o que tornava ainda mais complicado.

Deu para sentir que o afecto amoroso estava

desaparecendo, também com o que se deu a seguir, eu já não

admiraria! – A mãe da miúda me detestava, por causa dos

problemas abordados acima, ela pretendia que a filha fosse

tomada por um jovem que ela lhe havia apresentado, filho

de uma amiga dela de infância, que ao parecer dela

satisfaria mais plenamente a sua filha. Com tantos

problemas e rumores, parece que a miúda passou a

enveredar pelo lado da mãe. Mesmo que tivesse espaço, ela já

não atendia minhas chamadas, fazia isso de pirraça,

talvez passasse a me considerar um chato, insuportável,

talvez estivesse fazendo comparações entre mim e o

preferido da mãe, e ficasse na dúvida. E tudo foi

caminhando assim, até que chegamos ao nível mais baixo

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TRISTEZAS DA VIDA

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de nossa bela e maravilhosa relação, e se deu da seguinte

forma…

Havia feito muitas promessas na miúda, e num belo

dia comecei a cumprir com todas elas. Faltava uma que ao

seu parecer era muito importante, conhecer um lugar

esplêndido de muita calma e paz, na qual desde a sua

concepção nunca teve a oportunidade de ter ido com seus

pais ou amigos. Lembro-me de ter dito a miúda que lhe

levaria, e foi isso que fiz. Levei-lhe a este lugar, fiz-lhe rir,

ver a vida a cores, deleitar-se de seu sonho concretizado

pelas minhas mãos. Mas enquanto ela se ria, eu triste

estava, porque dias antes de ter acontecido esse lindo

passeio, havíamos brigado e reconciliação ou pedidos de

desculpa estava longe de se ocorrer. Ao lhe dar esse passeio,

que pela mão de seus pais e amigos, nunca conseguiu ter,

pensei que fosse correr aos meus braços e agradecer-me pela

concretização de seu sonho, mas não, ela preferiu correr aos

braços de um dos meus melhores amigos, tirar foto com ele,

rir com ele e simplesmente me trancar a cara. Foi doloroso

ver isso. Eu lhe concretizei todos os sonhos e mesmo assim

me mandou lixar. Provocou em mim ciúmes, sem se

interessar se estes me estavam magoando.

Dias e dias se passaram, e lá ela liga pedindo

desculpas pelo que havia feito. Desculpei-lhe, mas ela não se

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TRISTEZAS DA VIDA

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dava conta que minha confiança estava perdendo. A partir

daquele momento não houve mais saída, porque a mamã

dela deixou de ser detective e bancou a própria DENIC. Tudo

serrado, e ficamos só por telefone. Com tudo isso a ocorrer,

conseguimos ver que nossa relação tinha ido pelos ares, até

que conseguimos assumir que havíamos chegado ao fim de

tudo, embora de modo trágico…

No dia mais importante da minha vida, meus

amigos, minhas amigas, colegas de séculos, meus

familiares me parabenizam por mais um ano de vida, mas

a pessoa que eu mais esperava, nem um liga só sequer me

envia. Dormi com o telefone ligado, na expectativa de

atender a uma chamada matinal, sentir o vibrar do telefone

as cinco da manhã, e atende-lo com um grande sorriso por

saber que seria a pessoa que o coração tanto desejava ouvir

sua linda voz… mas isso não aconteceu. Acordei ainda com

o rosto alegre pensando que talvez estivesse compondo um

lindo verso, daqueles que ocupam todas as folhas

disponibilizadas nos telefones, ou que estivesse a espera do

momento oportuno pois o clima em sua casa estava pior do

que o inferno… mas dou-me conta que a manhã havia

passado e nenhum sinal dela. Começo a mudar de clima –

de alegre passo a ficar preocupado – inicio uma sessão de

perguntas, pois sem nenhum sinal dela o coração já não

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TRISTEZAS DA VIDA

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aguentava. A ansiedade era tanta que mal o telefone tocava

já lá eu estava. Eu era mais rápido do que o meu

movimento, que se estivesse naquele momento com um

espírito alegre era capaz de calcular uma fórmula física

para tal. Lembro que naquele dia tantas foram as quedas

por causa da pressa, até cheguei de partir os meus óculos,

quando numa das quedas os óculos saíram da cara e bateu

no chão. Olho para o relógio e vejo o fim da manhã e início

da tarde. Até aqui nenhum sinal, e começo já a me

preocupar – Será que ela viajou com os pais já que é feriado,

e encontra-se num local sem sinal de rede? Enquanto fui

debatendo com o meu ego, ouço o bater da porta e vejo um

grande amigo. Naquele papo que íamos tendo, de repente ele

acaba por chutar que esteve com ela, porque acabara de sair

de lá. Ele me confirma que estão todos bem de saúde e que

estavam curtindo o feriado. Mais uma vez olho para o

relógio e desesperadamente noto que findou a tarde e

começa a noite. Bem triste da vida começo a acreditar que

fui esquecido, não me deram importância, fui tratado que

nem um cão que quando a comida é pouca até os ossos

esquecem de o dar. Mas apesar de tudo isso, decidi criar

mais um pouco de esperança, e imaginar que talvez ela

quisesse ser a última ligação do dia, ser aquela que me

contaria uma história e me faria adormecer com um grande

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TRISTEZAS DA VIDA

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sorriso estampado no rosto. Mas parece que isso seria

impossível…

Olho para o céu e vejo o espreguiçar da lua seguido de

seu grande bocejo e logo deduzo então que fui mesmo

esquecido. Sem saber ao certo como proceder, pego no

telefone e decido eu então ligar, e lá vem aquela senhora

chata da unitel, que se não fosse programável, juro que a

destratava, eu já estava tão chateado e ainda assim vem ela

me dizer que o telefone está desligado. Fui esquecido pela

pessoa que eu estava a planejar entregar na totalidade meu

coração.

Dias se passaram e voltei a não ter nenhum sinal

dela. Chego a escola e naquele desabafo pergunto aos meus

colegas o que fariam caso acontecesse algo idêntico com

eles, e num simples tiro eles respondem que não davam

uma segunda chance, que é um dia bastante importante

para uma namorada esquecer. E caso dessem uma chance a

relação passaria a ter falta de confiança. Passariam a ter

uma relação doentia, e para que isso não acontecesse

preferiam terminar.

Aceitei suas opiniões e raciocinei a base delas, mas

preferi ouvir ainda o outro lado, embora que com as provas

paupáveis isso não seria necessário. Dias e dias foram

passando e nenhum sinal até agora, até para lhe ouvir eu é

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TRISTEZAS DA VIDA

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que tive de ligar e combinar um local para conversarmos.

No dia marcado ela foi-me apanhar imaginem sua

desculpa. Não tinha saldo! Quando ouvi-lhe dizer isso

fiquei sem força. Lhe perguntei se não sabe o que é telo, e ela

me disse que estava sem dinheiro, nem mesmo dez

kwanzas. E liga só? Estou fora do prazo. Durante todo o

percurso para a casa a miúda foi pedindo desculpas, e para

evitar choradeiras eu dei-lhe uma segunda chance, mas ela

não se apercebeu que se com aqueles problemas anteriores a

percentagem de nossa relação estava diminuindo, com esse

a nossa relação estava a um fio bem esticado, que se as asas

de uma mosca por lá batessem rompia-se com tanta

facilidade.

Mas parece que os meus colegas tinham razão, que

por mais chances que se desse, aquele já era o início de uma

doentia relação, baseada na falta de confiança. E foi isso

que se deu! Em todos os momentos alegres da minha vida

ela passou a estar ausente, nas datas em que precisava de

seu calor, eu ficava gelando. A miúda passou a me atirar

todos os seus problemas, ou seja, quando algo na sua vida

pessoal desse errado quem pagava era eu. Não sei ao certo

mas parece que ela passou a me ver como seu Macom – táxi,

mesmo se eu estivesse numa entrevista importante para

emprego, ao receber sua chamada eu tinha que ir a correr só

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TRISTEZAS DA VIDA

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para lhe atender, senão era mais um dia triste para mim,

pois teria de a ver zangada e em vez de minha miúda

minha inimiga.

Por causa disso, chegamos a um último momento de

nossas vidas, um momento trágico, triste e muito

dramático.

Num belo dia, “digo belo porque o levantar do sol era

lindo, céu com nuvens carregadas, mas não contava que

aparte disso para mim seria um dia triste, cheio de

lágrimas de sangue apesar de já ter imaginado por ter

acordado com o pé esquerdo”, ela liga para mim dizendo

que ouviu que já havia saído os resultados do teste para

admissão a faculdade, e que estava com receio de os ver.

Mas como eu naquele dia tinha previsão de lá ir, disse-lhe

que os veria sem receio, e que mais tarde lhe daria o

resultado, sendo este bom ou mau. Fui até a Faculdade e

procurei o seu nome naquelas listas desorganizadas

coladas na parede, enfrentei aquela enchente de alunos

desesperados, chorando pelo resultado negativo, só para ver

seu nome. Procurei não só nas listas referentes ao curso em

que ela se matriculou, mas em toda a escola e o seu nome

não constava em nenhuma delas. Ligo para ela e lhe

informo o que estava a ocorrer, mas ela não acreditou

pedindo até que eu checasse mais uma vez em todas as

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TRISTEZAS DA VIDA

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listas. Se ao verificar a primeira vez já tive de suportar

aquela confusão, e levei mais do que duas horas, imaginem

voltar a verificar? – Aceitei só já, como se tem dito – “o amor

é burro”, por isso, fazer o quê! Voltei a verificar e dessa vez

tive que suportar e até quase dar uma porrada no aluno que

quis mostrar que estava desesperado arrancando as listas

da parede. Olhei com mais cautela, levando mais tempo

para ver se desse uma resposta positiva aí a cinderela. Mas

isso seria impossível, seu nome não constava mesmo em

nenhuma lista. Olho para cima e vejo uma informação –

“Todo aluno que seu nome não consta na lista deve

reclamar hoje até as doze horas”. Olho para o relógio e já

eram dez horas, por isso ligo para ela para ir o mais rápido

possível a fal, e ver se reclamasse. Ela me diz que não podia,

porque encontrava-se longe de casa, e talvez não chegaria a

tempo. Tentei fazer o máximo para lhe ajudar, mas sem o

boletim de confirmação de matrícula não poderia fazer

nada. Por isso liguei e disse-lhe para fazer o impossível para

aparecer a horas. A miúda não apareceu a horas, encontrou

tudo fechado e reclamações encerradas. Não conseguiu

entrar para a faculdade e atirou todas as culpas a mim.

Quando eu ligava para saber o que havia acontecido, ou

qual foi o resultado da reclamação ela não me atendia.

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TRISTEZAS DA VIDA

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Durante um mês não a vi, nem a ouvi, simplesmente se

recusava em me atender.

A princípio pensei que ela tivesse viajado, ou que

tinha simplesmente o telefone avariado. Mas depois tive a

certeza que ela fazia de pirraça quando uma amiga dela

ligou para ela a minha frente, e em frações de segundo ela

atende o telefone. Depois de terminar a conversa, eu tento

ligar para ela, e simplesmente não me atende. Incontáveis

foram as vezes que tentei falar com ela e não houve

resposta. Nesta vida injusta posso aceitar tudo, mas me

tornar algo que não sou, isso é impossível. Para ela me

tornei seu palhaço, seu brinquedo de estimação e que

quando a gente está cansado deita-lhe fora. Meses se

passaram sem eu receber nenhum sinal de sua existência.

Quando ela me visse de longe, fugia e evitava ter um

contacto comigo. Mau relato sobre a minha pessoa ela foi

fornecendo, sem saber ao certo ela estava me entristecendo.

Com todos esses comportamentos entendi o recado

que ela quisera transmitir-me e simplesmente desisti dela e

do nosso lindo inicial namoro. Depois de algum tempo

(meses longos) ela envia – me uma mensagem a dizer que

estava arrependida e que só fez o que fez para não me

prejudicar. Mas quem não quer prejudicar não maltrata.

Por isso decidi fugir ou seja dar algum tempo a essa guerra,

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TRISTEZAS DA VIDA

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a esse conturbado namoro. Sei que talvez tenha tomado a

decisão errada, deixar uma beldade, uma exótica mulher por

causa dos problemas que ocorreram! Mas é a vida, é como se

tem dito: No namoro não se come somente beleza, mas

entendimento e compreensão mútua. Para quê ficar com

uma beleza que não te entende, não te compreende, que te

manda lixar nos dias que mais precisas dela? Não tem

sentido, mas se estás passando por isso e mesmo assim

pretendes permanecer na beleza para fazer amostra, mano

força, porque eu dei um tempo.

Mas apesar de reagir assim, meu coração por ela

ainda palpitava. Lembro-me que sempre que o telefone

tocasse, ou desse o sinal de uma mensagem, eu lá ia

correndo na perspectiva de atende-la, só que havia esquecido

que ela de mim já havia desistido e talvez prometido nunca

mais me ligar. Mas apesar de todos esses problemas,

malembes da vida, entendi aquele ditado muito recitado:

“Mulher é que nem capim” – apesar de ter capim que o

cabrito aprecia, mas quando acaba o desejado há que se

procurar outro. Só que dessa vez não procurei outra

companheira, outra Cinderela que pudesse calçar os sapatos

de cristais, porque meu coração estava cheio, lotado de

mágoas da primeira e esta última relação, que só me trouxe

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TRISTEZAS DA VIDA

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grande decepção. Dessa vez a Cinderela é que teve de

deslocar-se até ao meu encontro.

Se bem se aperceberam essa é a parte de nossa

história, que preencheu mais páginas, e é o relacionamento

mais curto que já tive, mas isso dá-se porque com essa

pessoa tentei demonstrar o quanto a amava, dando-lhe de

tudo, passando por alto todos os defeitos, todas as falhas

indesejáveis. Com ela tentei fazer um dia parecer um mês,

uma noite um ano. Mas mesmo com essas tácticas tudo

saiu errado, mas consegui tirar lições que espero nelas não

voltar a cair.

Aprendi que melhor ir para o namoro com uma

percentagem enorme de conhecimento a respeito da outra

pessoa, do que tentar preencher a percentagem de

conhecimento dentro do namoro. Com isso concluo que

namoros bem – sucedidos e posteriormente casamentos, em

parte, são entre pessoas conhecidas de longa data. Por isso

para que um namoro ou casamento seja bem-sucedido não

há que se estar só preparado, mas acima de tudo há que se

conhecer bem o seu cônjuge. Aprendi também que mulher é

que nem um empreendimento, há que se sentar e raciocinar

sobre o que se pretende fazer, para que quando der errado

não fiquemos com um N’dolokumuchima (dor de coração

em kimbundu). Por isso aqui estou só, ou seja restando,

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TRISTEZAS DA VIDA

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decepcionado com todo tipo de mulher, mas fazer o quê se

isso é a vida, há que ter problemas para sentirmos que

estamos vivendo.

Mas não há problema pois bastou ir uma que quatro

surgiram. Se bem me lembro eu ainda estava na fase em

que era o gajo de gajas…

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Telefonemas e mensagens excitantes fui recebendo.

De quem, eu não sabia, nem desconfiava. Só sei que ela

dizia que era a minha admiradora secreta, a que foi minha

camba de infância, a que delira com os meus lábios e que

morre com o meu charme. Tentei descobrir quem era essa

pessoa, mas por mais que tentasse ela batia na mesma

tecla, não se apresentava e apenas citava meu nome. Decidi

intensificar os meus esforços, recorri a grandes bibliotecas,

daquelas que são capazes de te contar todas as cenas

mesmo que naquela época não estivesses nascido – as

manas fofoqueiras. Com ajuda delas consegui ter pistas de

quem se tratava, mas ainda assim não era o suficiente.

Desta feita tripliquei ainda mais todos os esforços outrora

feitos, pois parado não dava para ficar, pois suas

mensagens tocavam o meu ego e bombeavam os mais puros

sentimentos ao meu coração.

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TRISTEZAS DA VIDA

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Felizmente consegui com todos os esforços alcançar

esta mulher que sabe com simples palavras levantar o

espírito paralítico e fazer o debilitado em sentido “mulheral”

marchar rumo o portal da alegria.

Quando a vi ganhei poderes especiais; meus olhos

ficaram que nem de um gato e uma águia – com visão

nocturna e aguçada, minha língua que nem de um lagarto

– pronto a atirar e sentir seus deliciosos lábios. Ela tinha o

que a primeira vista é realçada a visão de todo homem – um

lindo e robusto QO. Já tinha o seu número por causa das

mensagens que ela foi enviando, por isso não maiei e já

sabia seu nome completo.

De longe, passei a lhe conhecer mais, denotando que

era uma jovem trabalhadora, que mesmo sabendo que

ficaria doente e com fortes dores de cabeça estava pronta a

enfrentar qualquer tipo de serviço só para agradar quem

estivesse do seu lado e para realçar o que realmente ela era –

uma mulher higiénica.

Notei que era alguém por todos do bairro desejada, o

que me fez pensar de início que fosse uma boa menina.

Passei a lhe olhar com visão raio x para conseguir discernir

seu interior e alegremente vi que tinha um lindo e puro

coração, pois ela era alguém que com todos dava-se.

Visualizei que ao seu redor rodava amizades adultas,

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TRISTEZAS DA VIDA

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idosas, o que me fez pensar que ela gostava das

experiências dos adultos e tinha o desejo de aprender, e logo

deduzi então que era uma mulher inteligente.

Pedi opinião dos mais velhos da e na área e me

aconselharam a embarcar nessa nova aventura sem receios.

Ouvi seus conselhos, corri até ao mercado, chachei

umas químguilas e uma delas aceitou vender-me um par

de seus lindos anéis a um bom preço. Saio a correr, tomo

um banho daqueles, uso o melhor perfume do meu papoite

(“ele trabalha e consegue comprar perfumes de cem dólares –

enquanto eu, chiiii, melhor nem falar”), visto o melhor grife

e vou ao encontro dessa mulher sem ela sequer desconfiar.

Aguço minha visão e tento enxergar-lhe de longe. Vejo-a de

pé ao lado da porta de sua casa, apreciando os jovens

jogando “não te irrites”. Saco um dos anéis do bolso, preparo

a cena para que quando perto dela chegar, não passe

vexame com as atrapalhações. Releio o grande e lindo poema

que escrevi e lá vou ao seu encontro.

Ao chegar perto dela, começo já a me arrepender de

ter gasto o dinheiro naqueles anéis, de ter sujado meu

grande grife, ter usado o perfume do papoite, porque teria de

aguentar o barulho. Tanto esforço e a mulher também não

presta. Talvez estejam se perguntando o que aconteceu para

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TRISTEZAS DA VIDA

59

haver uma mudança drástica de pensamento, mas vou

explicar-vos.

Notei que minha visão raio x e ainda por cima com o

coração borbulhando de paixão não havia focalizado os

pormenores importantes. Ao ver de perto noto que a miúda

estava fora de si, embriagada e com uma cuca (“cerveja

Angolana”) na mão. Ela não estava de pé na sua porta

apenas apreciando o jogo dos rapazes, mas estava sim a

espera de mais um convite para uma cerveja. Não

imaginam qual foi o choque ao ver a futura conquista que

nem o roque. A miúda começou a falar sem sentido, fez

figura de palhaço e ainda por cima aceitou ser levada por

um daqueles rapazes sei lá aonde. Ainda bem que não abri

meu bico cedo, declarando-lhe meus fortes sentimentos por

ela.

No dia seguinte, no dia do arrependimento como

assim o chamo, pois foi nesse dia que lhe foi contado todas

as borradas que ela fez, ela ficou sabendo por meio de suas

amigas que eu estive lhe apreciando, vendo as palhaçadas

que ela estava dando, o vexame que passou e a vergonha

interior que me causou.

A miúda correu até meu encontro, ajoelhou e pediu-

me perdão por tudo que havia feito, que era a primeira vez,

que foi desencaminhada pelas amigas, que nunca mais

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TRISTEZAS DA VIDA

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voltaria a cair nesse mal proceder, e por aí, desculpas e mais

desculpas ela foi dando.

Antes de a perdoar, pedi-lhe um tempo para analisar

melhor a situação.

Vesti a minha roupa de detective e lá comecei a

minha busca, ou seja minha investigação minuciosa a seu

respeito. Entrei em todos os sites da sua vida, acessei todos

os seus links e fui bater nas suas vizinhas. Conversas e

mais conversas e fiquei sabendo que a miúda era conhecida

como doente mental. Tinha reacções e comportamentos

estranhos, adulta de idade, mas criança de cabeça. Agia por

instinto, achava-se homem, cavalona, gostava de lutar,

partir garrafas que nem uma “squad”. Assim que ouvi

aquilo, fui tirar a prova dos nove, e parece que aquele era o

meu dia de sorte. De longe avisto e ouço a conversa dela com

a amiga dizendo que estava se preparando para ir partir a

cabeça de uma jovem que havia lhe frustrado. Ao ouvir

aquilo começo a ver o meu futuro ameaçado, já dava para

ver o caixão de longe, o meu corpo bem esborrachado com as

pancadas da mulher. Saio daí com a decisão “de querer

encontrar o fim de uma recta e nunca pensar em aplicar

um ângulo de 180”. Ao meio do caminho me encontro com

mais uma de suas vizinhas, só que dessa vez é uma

vizinha adulta e por acaso também minha amiga. Portanto

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TRISTEZAS DA VIDA

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decido ouvir mais uma segunda opinião, na esperança de

que aquelas jovens estavam mentindo. Começo já a lhe

ouvir… e dessa vez ouço coisas que ninguém me tinha

contado. A miúda tem fama de namoradeira, para saberes

quantos namorados ela tem, terás que fazer uma

distribuição de frequência estatística, e só daí saberás

quantos são. Admirado com essa novidade, vou triste para

casa, mais uma vez decepcionado com as mulheres. Agora

já não há esperança, desisto totalmente dela. Doente mental,

namoradeira e violenta – não posso ter uma mulher do meu

lado assim. Ainda bem que dessa vez a emoção estava na

velocidade certa. Aleluia eu digo por não ter lhe declarado os

meus puros sentimentos. Nem quero imaginar o que teria

acontecido se com ela eu permanecesse. Bendito sejas…

Mas algo não entendo, porquê que quem a gente

gosta, não gosta da gente? Alguém que me responda por

favor. Foi isso que se deu nessa última história que irei vos

contar em sentido “mulheral”. Foi o seguinte…

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TRISTEZAS DA VIDA

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TRISTEZAS DA VIDA

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TRISTEZAS DA VIDA

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Na minha vida de modo inesperado, não planejado,

surgiu uma bela mulher, com todos os quitutes que se

espera de uma excelente mulher.

Mulher de cabeça, alguém madura, responsável,

mais velha em idade e juízo e muito bela em corpo, e isso

posso vos dizer com certeza. Já que com as miúdas passei a

ter problemas, segui o conselho do Heavy C, quero uma

mulher mais velha, uma mais séria.

No mero acaso, de forma inexplicável viemos a nos

conhecer. Sem eu saber ao certo com quem falava, fiquei lhe

ouvindo desabafar. Tentei conquistar – lhe, mas parece que

a miúda só pretendia desabafar. Ela rasgou a capa, soltou

as folhas do livro da sua vida, deixou-me estar a par do seu

passado, presente e futuro. Em fracções de segundos, fiquei

sabendo como a mulher havia sido machucada

emocionalmente. Como um balão, ela estava cheia com

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TRISTEZAS DA VIDA

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todos os desentendimentos de relacionamentos passados.

Naquele momento ela fez de mim o seu confidente, atirou-

me todas as suas cargas e apercebi-me do alívio dela ou seja

o balão a esvaziar-se. Tudo isso aconteceu via Messenger.

Mas combinamos um dia para nos encontrarmos já que ela

conhecia tanto a mim como os demais elementos da minha

família, o que me assustou pois já não fazia ideia de quem

fosse, apesar de ter o seu correio electrónico registado.

Por fim chega o momento de nos encontrarmos.

Assim que a vi a reconheci logo, sem pensar muito me atiro

logo. Faço uma apresentação a moda francesa, solto um

sorriso dos lindos lábios da miúda e com a confiança

adquirida faço-lhe soltar a idade. Noto que ela é minha

mais velha, mas que em contrapartida eu pareço ser mais

velho dela. Apesar de ser já uma mulher madura, ela tem

um corpo de vinte, olhar sereno de doze, e o rosto de uma

donzela, só para não dizer Cinderela. Não maiei… com a

apresentação a moda francesa consegui conquistar seu

coração e obter o seu número telefónico, de modo que no

calar da noite envio-lhe uma mensagem excitante,

daquelas que faz o coração trabalhar a cem porcentos. Toda

emocionada ela responde a mensagem dizendo que eu

estava colocado na lista dos melhores amigos dela,

guardado na parte mais restrita do seu coração. A miúda

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TRISTEZAS DA VIDA

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pediu que eu fosse seu grande amigo e de mãos abertas

aceitei o emocionante convite, só não me apercebi que nesse

saco havia segundas intenções.

Sempre a tentei conquistar mas ela recusava, e como

é mais velha eu não persistia, pois poderia ser mau encarado

ou até perder a sua amizade, algo que o coração não

desejava.

Eu a encarava como amiga, mas houve momentos

que me fazia enlouquecer, ficar baralhado, sem saber mais

que posição eu realmente ocupava em seu coração. Apesar de

me rejeitar, reagia como se me quisesse. Constantemente

ligava, ficava aborrecida se não atendesse uma chamada

sua telefónica, fazia confusão para sempre sairmos algo

que já não entendia pois ela já tinha arranjado um outro

namorado.

Mas numa linda e calma noite, ela liga e lá começa

novamente a desabafar, só que dessa vez seus desabafos me

deixam triste.

Ela confessa que não amava a pessoa com quem

estava, que havia ficado com ele por pena, por causa das

incontáveis persistências dele, e que eu era a pessoa que ela

amou, amava e desejava continuar amando. A princípio

deveria ficar alegre, já que a pessoa que outrora eu tentara

conquistar veio se declarar, mas fico triste por saber que a

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TRISTEZAS DA VIDA

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pessoa com quem ela estava a namorar era meu amigo e ela

não lhe gostava. Fiquei sem forças, sem saber como reagir,

porque se estranhasse estaria desejando o mal de meu

amigo, se ficasse triste lhe daria a entender que não gostei

do que ela dissera. Tentei pedir conselhos aos maduros no

assunto, mas por mais que ouvisse, o meu coração já

desejava ser o “fura olho”. Na inocência do coração, aceitei o

grandioso convite feito, e lá embarquei sem medo nesse

oceano ondulado.

Com ela consegui esquecer a Joana, a Antónia, a

Chiquita e a Fatita. Bobs, Ilha, maculusso nos grandes

hambúrgueres, esses eram os nossos destinos nocturnos.

Por ela tive que fazer investimentos altos, antecipar planos

futuros, porque com ela é como se já estivesse no céu, onde

mais poderia ir?

Senti-me na obrigação de elevar a minha condição

social, porque para além de ser minha mais velha, ela já

tinha economias de sobra na sua conta. Por isso larguei

aquele mísero emprego, que também só me cansava, nem

com o salário anual eu conseguia igualar o seu salário

mensal. Chorei a frente dos tios, chateei o papoite pra ver se

conseguissem um furo em uma dessas empresas de renome.

Felizmente consegui entrar numa delas, passei a ganhar

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bem, a leva-la a passear, porque agora quem pagava sem

limites era eu.

Palavras para descrever como estava a nossa relação,

não tenho. A alegria era tanta, a emoção tomava conta de

nosso ser. A miúda passou a confiar cem porcento em mim,

todas as chamadas eram pra mim, os carinhos, mimos e

prendas ela atribuiu-me, esquecendo na totalidade o Sérgio.

Querendo ou não, eu já era o fura olho. Agora todos

enxergavam em seus olhos a paixão por mim. A miúda

estava caída na totalidade. Por minha causa ela começou a

entrar em casa a madrugada, a dormir tarde se é que ainda

conseguia dormir, porque o tempo todo ela quis ficar ao

meu lado, gastar o saldo nas horas quentes só para ouvir a

minha voz. Sua oração nocturna constante era: – “Senhor

meu Pai faz já amanhecer este dia, e clareia o meu dia com

a presença do Patrício”. Ela estava habituada com 3

refeições, mas passou a fazer de mim suas 6 refeições.

Gulosa de mim ela se tornou, só nunca pensei que fosse se

empanturrar de mim… [mas chegaremos já ali] …

Com toda essa situação eu me sentia o Rei dos

homens, o super – herói. Sabes quantos homens

possivelmente estariam atrás dela? – Tantos, mas no meio

desses, eu fora o escolhido. O super – herói eu também me

tornei, não sei porquê mas Anselmo Ralph teve efeito nas

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TRISTEZAS DA VIDA

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mulheres com a sua música. Ela fez de mim seu guarda –

costas, por mais fininho que eu fosse, era a minha trás que

ela encontrava refúgio e consolo. Afogado na emoção, reuni

os papoites num grande almoço e aproveitei fazer umas

perguntas de ideias. Procurei saber qual seria a reacção

deles caso lhes apresentasse alguém mais velha com relação

a minha pessoa, como nora. Num tiro certeiro eles

responderam o que exactamente eu queria: - “Quem escolhe

és tu meu filho, nós só queremos alguém decente e

ajuizada”, mas leva em conta as vantagens e

desvantagens. Com essa resposta positiva fiz soar de quem

se tratava, e como grandes pais atentos, eles deram conta.

Sem nada mais dizerem, vi que havia feito uma boa

escolha – pois já tinha a aprovação dos papoites.

Ligo para ela, e lá lhe conto qual havia sido a reacção

dos do meu lado. Idêntica foi a reacção dos do seu lado. Mas

como é bom seguir o conselho dos mais velhos, faço-lhe ver

as vantagens e desvantagens – pois seria mais fácil ela ser

aceite pelos do meu lado, do que eu ser aceite pelos do seu

lado, tudo por causa do factor idade. Mas apesar disso, a

miúda estava disposta a enfrentar todos malembes que

pudessem vir, e isso me deixou mais confiante. Era tanta

alegria, tanta era a emoção, que sem pensar muito lhe

entreguei meu coração. Passei a confiar a todo gás nela,

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TRISTEZAS DA VIDA

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também não havia como, porque tantas eram as promessas

que ela atava em meu pescoço, que aquilo funcionava que

nem um foguete – “querendo ou não, eu era obrigado a voar,

para ao lado dela estar”. A miúda já falava em casamento,

estávamos ainda no presente, mas ela já quis viver futuro.

Em crianças, já ouvi falar; empreendimentos futuros; mas

o que mais me assustou foi ver-lhe colocar tudo no plural: -

“Nossa casa”, “Nossos carros”… nossa, nossa, ai como o

nosso amor é lindo… Mas como dizem, felicidade do pobre

não dura muito tempo. Começaram a surgir alguns

pequenos demónios, surrando o nosso cupido e colocando

pedras no nosso amor, para ver se estragassem a nossa

felicidade.

Primeiro surgiu um ex da adolescência, o que havia

outrora lhe magoado muito, mas pronto acho que também o

devo agradecer porque se não fosse ele, não teria inicio esta

história. Mas esse canalha decidiu aparecer logo na hora do

bem bom, com propostas alucinantes, prendas de último

grito e charme tipo Maxmiliano (“actor da novela

acorralada”). Só que também não seria ele ainda a derrubar

o nosso murro de Berlin. Suas prendas não a serviram, e

nem foram com o seu agrado. Seu charme foi jogado no

lixo, não adianta ter um carro do último grito, se este por

motivos técnicos não anda. O gajo não tinha boa reputação,

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TRISTEZAS DA VIDA

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era conhecido como mulherengo, batedor de mulheres, e isso

sujou seu currículo de beleza externa. Suas propostas não

foram aceites, pois eram tendenciosas. O gajo quis levar a

miúda na ilha, pediu para que não levasse ninguém e note

a hora do encontro: 21h em ponto. Safado o gajo hein… só

que a miúda em mim ainda confiava. Ligou-me rápido e

contou-me tudo… sem pensar zero vezes vou a casa dela a

correr, pois ela disse que ele passaria por lá para confirmar,

já que ela não lhe atendia mais o telefone. Assim que chego,

fico já na porta de casa com a gata, abraçando-lhe bem

forte. Para proteger o que é meu viro Mike Tyson e uma

mistura de Jet Li. Não me importei se ele era maior do que

eu, lá eu estava, trémulo, mas pronto para proteger o meu

troféu. O gajo teve sorte, acho que ele sentiu o meu cheiro e

não apareceu. Por mais que persistia, a miúda lhe afastava,

ele no passado já estava. Cada vez mais o meu termómetro

de confiança aumentava, de forma que já me sentia como

escalando uma montanha sem cordas, mesmo que caísse a

gravidade reagiria nos dois sentidos (“de cima para baixo e

de baixo para cima” me estabilizando).

Mas quebrei mesmo o meu termómetro quando a

levei onde o Zinho safadinho a quis levar – ilha. Num fim-

de-semana lindo, um domingo de céu cinzento, lá partimos

nós primeiro almoçar fora de casa, num mine restaurante

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TRISTEZAS DA VIDA

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mas com comida exuberante. Demos show ali. A Indira

estava irreconhecível. Soltou a vergonha, participou no

caraoque, emocionada dedicou-me uma música, tirou-me

fotos e esteve bem próximo; juntinho de mim. Estava

confirmado. Eu já não era o único que via em seus olhos a

intensa paixão. Meus amigos me parabenizavam sem eu os

ter dito nada. O dono do restaurante simpatizando-se

conosco deu-nos bebida grátis e me chamou num canto e

disse: “Tens uma bela mulher puto”. Nesse almoço tinham

ido mais mulheres, mas ele viu em seus olhos a paixão, e

logo deduziu o que todos deduziriam. Elementos de sua

família me lançavam indirectas, sem os perguntar me

diziam que ela havia despachado o Sérgio, que parece

estava de caso novo. Enquanto eles diziam isso, eu ria em

tudo que desse, em meu coração, em minha boca, todo meu

corpo no ínterim estranhava. Joana, Antónia, Chiquita e

Fatita, podem me esquecer pois já tenho quem me ama. Me

senti como se estivesse num carro zero quilómetros (novo

em folha) não esperava que nada de errado, nenhuma

avaria ocorresse. Estava tão confiado que soltei o Peneu de

socorro, abandonei todas as pretendentes, pois queria ser

fiel a ela, mas parece que fui burro nesse aspecto… [mas

chegaremos já lá] … por enquanto continuemos com o

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TRISTEZAS DA VIDA

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maravilhoso fim-de-semana que tivemos, pois ainda não

anoiteceu.

No calar da noite, levei-lhe então onde o Zinho

encontrou rocha – ilha. Com o que aconteceu a tarde, eu

precisava me certificar se estava enveredando no caminho

certo. Dias antes desse Domingo, eu havia falado com o

Sérgio, e como amigo ele desabafou, dizendo que sentia sua

relação ir por água abaixo, porque a miúda parecia estar lhe

colocando de lado. Ele estava louco por ela, mas parece que

ela não se importava muito com ele. Naquele momento eu

também não poderia dizer muito a não ser coragem, pois eu

era o culpado dessas reacções – o fura olho.

Então para me certificar se estava no caminho certo,

pensei na dor do Sérgio e disse que a abandonaria e

deixaria o caminho livre para ela e o Sérgio. Tantas vezes a

fiz esse teste, e quando a fizesse ela se zangava, me cortava

água e luz, e dizia que eu a queria matar. Mas nessa noite

eu estava bem decidido a deixar-lhe, e ela fica triste. Pronto

bebé, a vida tem dessas, mas fazer o quê? – Lá digo eu a ela.

Fazer o quê, vou te mostrar – lá diz ela a mim. Me agarra

com tanta força e me dá um… não posso considerar aquilo

linguado, pois parecia mais cachucho. Nos beijos e amaços

ela me envolveu. Meu termómetro de confiança rebentou

quando ela abre a porta do carro e me empurra no banco de

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TRISTEZAS DA VIDA

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trás, fecha a porta… e ela quer estar aos cachuchos comigo.

Aquelas palavras bonitas que todos vós conheceis, eu ouvi.

Te amo, quero estar contigo, és a minha perdição, tudo foi

recitado pela Indira sem nenhuma mentira.

A madrugada chego a casa, vou ao quarto e tento

dormir, e o sono não quer vir, porque o pensamento voa até

ao seu encontro. Trabalhar e estudar, ou fazer uma outra

actividade já não era a mesma coisa sem antes ouvir a sua

linda voz. Amar e ser amado é lindo, agora eu tinha uma

mulher, tinha uma preocupação, tinha uma

responsabilidade. Já chegava na sexta a pensar o que fazer

com ela no fim-de-semana, e quando sem ideia estivesse, o

lugar preferido dela eram os cachuchos. Meus dias eram de

terna alegria. Dormia e acordava lendo poemas de coração.

A vida estava um mar de rosas, um paraíso. Mas como

qualquer paraíso, surgiu o Diabo.

Dessa vez não foi nenhum ex., mas sim o próprio

Sérgio. Ele estava inocente de tudo, não sabia o que se

passava. Ele pensava que a miúda o havia deixado e ficado

só, por isso ele decidiu intensificar os seus esforços, fazer de

tudo para a resgatar. Surgiu com propostas grandes,

sérias, mas apesar disso, eu ainda sentia sua confiança em

mim… só que estava enganado. Na conversa entre cambas,

o Sérgio me diz que sua relação estava um doce, que riam o

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TRISTEZAS DA VIDA

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bastante, e que até o fim-de-semana passado haviam feito

algo espectacular. O quê? Tua relação com quem? –

Pergunto eu. Com quem como assim, já não te disse que

estava a fazer planos na Indira e ela está derretida por

mim, lá diz ele. A Indira? A meio latona, com um QO a

maneira, a que trabalha no… que tem uns cabelos… a que

conduz actualmente um…? É dessa que falas Sérgio? É

sim Patrício, cumé então você, já te apresentei. Sei Sérgio,

só quis ter certeza.

[…Já chegamos…], na parte em que fui burro, na

parte em que ela se empanturrou de mim.

Trémulo vou a geleira, saco uma “rede bull” pois

precisava de energia de qualquer maneira. Despacho o

Sérgio, pois não o queria ver a minha frente, com o

nervosismo seria capaz de lhe abrir a cabeça, sem ele

perceber o porquê. Sento-me no sofá e começo a fazer as

ligações, a entender tudo.

Burro fui eu, quando passei a acreditar nas suas

promessas. Notei que ela estava tomando aquele rémedio

que muitas usam: “Apague um sentimento ferido,

arranjando um novo amor”. Naquele momento para ela, eu

era uma simples borracha de sua vida, pois ela desejaria

passar novamente o lápis, e eu não o era.

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Ela me usou para afogar as suas mágoas, encontrou

alguém que a ouviu desabafar, que aceitou ler o livro de sua

vida e fazer as correcções nele. Fiz um rescaldo dessa

relação, e vi que ao seu lado eu havia me tornado num

monstro. Para permanecer o amor, para a conquistar, fui

obrigado a passar as barreiras da minha vida, pisei na

minha moral, me tornei no que eu nunca fora, briguei com

quem nunca briguei, desejei o mal dos outros, até de meu

amigo... Me tornei num fura olho, tudo de podre ao seu lado

me tornei. Enquanto eu pensava em seriedade, enquanto eu

me preparava, enquanto planejava o futuro, ela brincava

comigo. Brincou cm meus sentimentos, atrapalhou a

minha vida, e abriu feridas q ela bem sabia q estavam

cicatrizando.

Devem estar a se perguntar o que ela realmente fez,

para eu estar nesse estado. Esperem, vou contar-vos e a

deixarei também falar.

Eu estava sentado no sofá, e lá começo a ligar os

pontos. A Indira estava ferida emocionalmente. O zinho a

havia machucado quando a trocou por outra quem sabe

outras. Como remédio ela tentou encontrar um burro para

fazer o mesmo, e na sorte da vida, encontrou esse burro –

eu.

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TRISTEZAS DA VIDA

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Descobri que ela me havia mentido com relação a

deixar o Sérgio, e que nem tempo havia pedido. Eles se

encontravam normalmente, burro fui eu que não dei conta,

ou se dei, passei por alto. Ela estava fazendo uso dos dois.

Se saísse comigo de tarde, de noite estava com ele. Lembro-

me de um dia em que pretendia sair com a minha miúda,

mas ela fingiu (o que agora percebo) que estava

incomodada e sem vontade de sair. Tudo bem, entendi,

disse que também não sairia, que ficaria com ela aí para

lhe dar o carinho necessário, mas ela persistentemente

insistia para que eu saísse, que não se preocupasse com ela,

mas eu bem rijo não quis sair, até que ela consegue me

despachar, dizendo que tinha assuntos de trabalho por

resolver e precisaria de muita atenção, e a minha presença

lhe tiraria a concentração. Entendi e lá fui, soltar umas

gargalhadas com os cambas da banda.

No meio de tanta gargalhada e birras com os

cambas, esqueci-me que deveria passar no Sérgio para

pegar umas cenas para o trabalho. Vendo a hora, como ele

gosta de dormir cedo, pego simplesmente no phone, e lhe

ligo:

[eu]… Aló Sérgio, tudo bala?

[ele]… Yá meu, o que mandas?

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[eu]… Quero vir pegar já aquelas cenas que combinamos,

posso vir agora, ou já estás na cama? Hahahah

[ele]… Eu cama? Estou aqui no teatro man, a curtir a

“Sogra” do grupo Horizonte.

[eu]… Não me dissestes porquê, poderíamos ir juntos, teatro

não é bom assistir sozinho.

[ele]… quem te disse que estou sozinho, tenho namorada

para quê?

[eu]… Não entendi bem, estás aí com a Indira?

[ele]… Te apresentei quantas namoradas man, sim é ela…

olha vou desligar esses wis são estúpidos yá. Hahahah,

mais tarde.

… Lá do fundo ouço a risada da Indira. É mesmo ela. Me

disse que estava incomodada, me despachou porque não

quis que eu me encontrasse com o Sérgio. Não sei o porquê

que ela fazia isso.

Isso foi o suficiente para eu ver que ela não havia

dito nada ao Sérgio. Manteve-o em standby. Lhe envio

uma mensagem: “Tás aonde bebé?”, e ela responde-me que

estava em casa. Aié, falei com o Sérgio e ele me disse que

está contigo no teatro. E lá ela: “Bebé não é nada disso que

estás a pensar, depois vamos conversar”. Conversar mais o

quê, se tudo está bem esclarecido, um chifrudo eu estou

sendo. Magoado pego no carro e ligo para a Cleyde, pois essa

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sabe levantar o espirito decaído de um homem. Passo o resto

do domingo com ela, a miúda é boa, não pensaria duas

vezes se ela não tivesse já duas crianças. Me consolou, me

ouviu desabafar e me aconselhou a não tomar nenhuma

decisão sem antes a ouvir. Por isso deixei ela falar.

… [Fala da Indira] …

Patrício eu te amo muito, sem ti não consigo viver.

Desculpa por ontem. Realmente eu estava a me sentir mal,

não estava mesmo bem, porque estava a ganhar coragem

para de uma vez por todas falar com o Sérgio. Eu combinei

com ele para conversarmos aqui em minha casa, mas

quando o vi, a coragem desapareceu. Ele me agarrou e me

obrigou a ir ao teatro, não quis te magoar. Por favor volte

para mim. Sei o quanto estás chateado, entendo pois tens

todo o direito de estar contristado. Mas não precisas

desconfiar de mim, é de ti que eu gosto, amo e respeito. O

Sérgio tem me atormentado muito, mas ele para mim não

passa de um simples amigo. Também preciso de ter amigos,

assim como você tem a Cleyde.

Não faça nada que podes vir a te arrepender depois.

Não aconteceu nada de mais, foi um simples passeio entre

amigos. Não coloque os nossos planos de lado, pense no que

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TRISTEZAS DA VIDA

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já passamos, vivemos, nos momentos lindos que criamos,

nos nossos gostosos cachuchos na ilha. Também sabes

muito bem que quando vieste ter comigo já havia Sérgio,

então não precisas dramatizar essa cena.

Hoje já é assim, eu é q fui ter com ela. Se bem me

lembro bem sentado em minha casa eu me encontrava e

quem veio confessar tudo foi ela. Mas ela está certa num

ponto, na altura ela estava a sair com o Sérgio, mas se ela

não gostava dele conforme dizia sempre, porque não

terminou com ele assim que me conheceu? Porque omitiu a

verdade ao Sérgio, quando entre nós estava acertado o

namoro?

Mas pronto como a história é “burro fui eu”, acreditei

em suas palavras, depositei total confiança em suas

promessas e embarquei novamente nesse oceano que parece

que era constituído mais de área do que água, pois o barco

ficou atracado no mesmo assunto, e nada voltou a ser como

era.

O perdão surgiu e trouxe o conforto devido, a esta

relação. O cupido voltou a descer e devolveu o amor, os

amassos e os cachuchos. O meu termómetro de confiança

voltou a trabalhar, e dessa vez com pontos altos. De

namorado passei a ser olhado Marido. Passei a ser

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TRISTEZAS DA VIDA

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controlado por ela. Onde quer que fosse, ela tinha que saber.

Lembro-me do dia em que fui ao banco levantar uma grana

para o fim-de-semana, ela viu o carro parado e parou

também ali a minha espera. Quando tentei saber porquê do

controle cerrado, ela disse que tinha que controlar o que lhe

pertencia, o seu Marido.

Com essas palavras o meu termómetro estava a

explodir, mas ela tinha razão, e eu com isso não me

incomodava do contrário me alegrava, pois estava na época

em que a Joana, a Antónia, a Chiquita e a Fatita

intensificaram seus esforços. Voltaram a me olhar e a fazer

confusão a minha cabeça, porque elas também não eram

nada mal, mas só que o coração é que escolhe.

As saídas emocionantes voltamos a ter, agora a

Indira estava realmente a se preocupar conosco. Prendas

caras ela estava comprando, saldos, telefones, atenção

redobrada ela me estava dando. Nos nossos futuros planos

ela voltou a pensar, e agora com mais seriedade. Aos

cachuchos na nossa ilha voltamos. A cada dia ela

aprimorava-os, com maior entrega cachuchava-me. Em

seus olhos voltei a ver o fervor da paixão. Só que eram

mesmo só em meus olhos que eu via tanta alegria…

Agora ela me reservava um dia o que era bom, mas

em contra partida ela aplicava aquele ditado: “Não esteja

Page 82: Tristezas da vida

TRISTEZAS DA VIDA

82

muito com o teu namorado, porque ele pode se aborrecer de

ti”. Se me reservasse uma Segunda, numa Terça ela quis

se ver livre de mim, pois dizia que seria melhor para ganhar

saudades. Até ali eu entendia, pois olhar para a mesma

cara mesmo amando, pode aborrecer. Mas burro fui quando

não percebi o fundo desse plano arquitectónico. No meu dia

livre se assim o posso considerar, ela o ocupava com o

Sérgio. Agora ela estava dando um dia para cada um.

Doeu-me tanto quando caí em mim e vi que estavam

brincando com os meus puros sentimentos. Quando estava

presente em mim a vontade de realizar uma acção

agradável para ela, lá o Sérgio se antecipava, e parece que

ele tinha todo o direito.

Percebi que sua história com o Sérgio estava longe.

Na família dele ela já era apresentada como a futura nora,

cunhada, tia, prima. Por todos ela já era benquista.

Vi que em todas as suas promessas eu havia caído

como patinho molhado. Por mais que dissesse que eu era o

seu amor, isso não passava de palavras, porque provas

palpáveis desse dito amor na realidade nunca tive. As

prendas faladas, os amassos, os doces cachuchos na ilha e

tudo o mais que um dia ela me deu, foram coisas para me

cegar e ver se eu continuasse a ser a borracha da sua vida, a

tigela na qual ela despejava as mágoas.

Page 83: Tristezas da vida

TRISTEZAS DA VIDA

83

Palavras são só palavras e nada mais. Ao contrário

de mim, o Sérgio ela apresentou a toda sua família como

futuro marido, o companheiro ideal, o sonho realizado por

Deus.

Dorido em meu canto fiquei. Solitário eu desejei

ficar, pois já não conseguia entender absolutamente nada, e

compreender como burro fui me tornar.

Por mais visível que parecesse a sua escolha, ela

persistia em dizer que eu era o seu amor. Agarrada em mim

ainda quis ficar. Quando decidi voltar a minha atenção

para a Fatita, a Joana, a Antónia e a Chiquita, lá vem ela

interrompendo mais uma vez tudo.

Um erro é compreensível, mas cair pela segunda vez

no mesmo erro, isso é burrice. Nesta altura deixei de ser

bobo. Pus a miúda pensativa por uma semana: Ou escolhes

o Sérgio ou eu. É que já não dava para continuar na

indecisão. Havia cansado de sofrer por alguém que não

quis dar valor ao meu sincero amor. Se ela me quisesse

como sua tigela de desabafo, poderia dizer, pois varias vezes

estive disposto a ser o melhor amigo para ela, mas como

amigo ela sempre me disse que não queria. Queria me ver

ocupar o lugar de namorado, o que eu não entendia porque

quando assim o fiz, ela não me deu valor.

Page 84: Tristezas da vida

TRISTEZAS DA VIDA

84

Cansei de ouvir os meus amigos dizerem do amor

dos dois, porque o Sérgio fez isso para a Indira, o Sérgio

comprou aquilo para a Indira, O Sérgio colocou uma foto

linda dos dois bem coladinhos no facebook. Tudo isso quis

eu fazer, tinha meios para o fazer, mas não tinha

privilégios o suficiente. Era encarado como namorado, mas

havia descoberto que ninguém me conhecia como tal, nem

mesmo ela. Nos cachuchos ficávamos, nos puros amassos,

mas para ela isso não significava nada. Se tentasse fazer

algo que o Sérgio fazia, passaria a ser conhecido como o

fura olho, o amigo que não se pode confiar, o que quer o que

é dos outros. Enquanto eles elogiavam o Sérgio pelas

demonstrações de amor, em meu canto eu chorava. Tantas

vezes escapei…, escapei soltar o que na minha garganta

estava entalado – “eu é que sou o namorado dela”. Alguns

desconfiavam do nosso relacionamento, mas como todos,

eles concluíam: “Ela só está a brincar com ele, achas que

ficará mesmo com ele?”.

Portanto com tudo isso, com o estresse dos

comentários, eu coloquei a Indira à parede: “Escolhe Indira,

por favor tome a decisão, o que queres comigo? – Tens que

dizer, ou eu, ou o Sérgio”.

Para ela, essa se tornou a decisão mais difícil da sua

vida, porque com o tempo percebi o porquê da sua indecisão.

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TRISTEZAS DA VIDA

85

É que cada um tinha qualidades boas, que se juntassem

em um só homem a mulher desse homem seria feliz

eternamente. Para além disso tinha outros motivos, que

prefiro deixar-lhe falar:

… [Fala da Indira] …

Patrício tu me deste só uma semana para decidir.

Não gostaria de chegar até esse ponto. Desejava ser feliz

contigo, mas estás certo, pois os comentários já são

imensos. Não brinquei com os teus sentimentos, o que

houve foi apenas precipitação da minha parte. Quando te

conheci, perdida no espaço fiquei, maluca por ti me tornei.

Só que uma semana antes de te conhecer, pela emoção e

precipitação, deixei-me levar pelo convite de ser apresentada

a família do Sérgio. Apresentada me tornei, só que não o

via como namorado, futuro marido. Contigo quero sempre

estar, mesmo como amiga, só não desejo perder o meu

grande amigo. Voltar o tempo eu gostaria, limpar os erros

cometidos é o meu maior desejo, tirar as mágoas que te

coloquei é a minha actual vontade. Tomar essa decisão não

será fácil, estou sem coragem. Não pretendo também ferir os

sentimentos do Sérgio e o deixar magoado. Mesmo que

assim o fizer já será tarde. Por toda família já fui

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TRISTEZAS DA VIDA

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apresentada, até aquelas do mato, do quimbo já sabem que

o Sérgio está a namorar com a filha da Claudete.

Mancharia também o meu currículo se assim procedesse.

Minha futura sogra, cunhadas, primas e sobrinhas, sempre

que me vissem me interpretariam mal, assanhada, juada,

sem juízo, todos os nomes feios que possas imaginar

eles(as) me atribuiriam. Desculpa se te magoei, mas para

manter o belo nome que criei, prefiro continuar sofrendo.

Tentarei desenvolver amor pelo Sérgio. Não quis que

sofresses, por isso respeitarei qualquer decisão que tomares.

… [fim da fala da Indira] …

A decisão parece que estava tomada. Ela achou mais

fácil partir o meu coração do que o do Sérgio. Preferiu ficar

com ele mesmo não o amando. Ela jogou tudo que vivemos

ao lixo, nada do que passamos para ela teve significado.

Preferiu elaborar planos de casamento com ele, mesmo

sabendo que casamento é algo eterno. Para alguém que

dizia não amar, esse foi um passo grande.

Burro fui eu que nas suas palavras acreditei. Amor

o tanas, a Indira nunca chegou a sentir essa linda

qualidade por mim. Ninguém prefere sofrer, ninguém

aceita o inferno, mesmo estando inconsciente. Tentarei

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TRISTEZAS DA VIDA

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amar o Sérgio, isso era mentira. Ela já amava, por ele ela se

entregava. Emocionada deixei-me apresentar, outra

mentira. Quem não quer não é obrigado. O amor é uma

qualidade que para ser dada a outros tem de estar bem

desenvolvida em nós. Se ela estava disposta a dar ao

Sérgio, nela já estava bem desenvolvida.

Eu nunca me perdoarei por um dia ter sido burro, por

ter caído no mesmo erro uma série de vezes. Tudo pus a

parte por causa das suas promessas na qual depositei total

confiança, na qual me entreguei com toda garra. Todos os

planos futuros eu antecipei, cancelei todos os projectos

actuais, porque até aonde havíamos chegado não havia

dúvida de que futuro já estava escrito. Um dia ela chega e

no passado me coloca como se fosse lixo. Perdoar-lhe, posso

perdoar, mas perdoar não significa ser o que eras, ou dar o

deste anteriormente.

Ela estragou a minha vida. Ferido eu já estava,

agora com ela, eu fiquei gangrenando. Furou com os meus

pneus de socorro e me fez embarcar numa viagem

turbulenta e sem segurança. Fatita, Joana, Antónia e a

Chiquita, todas estas já estavam ocupadas. Foi tanta espera

que decidiram embarcar para outras. Até a Cleyde

conseguiu arranjar um gato jovem, as crianças não foram

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TRISTEZAS DA VIDA

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empecilho nenhum. Só eu é que não vi que ela era boa

mulher.

Sem rumo fiquei, perdido no campo emocional me

senti. Quando estamos a namorar, tantas são as juras,

tantas são as ideias, tantos planos são feitos, é tanta

emoção quando estamos ao lado de quem amamos, que

chegamos a falar mais que a dimensão do céu. Tantos são

os apelidos lindos que damos ao parceiro(a). Tudo é passado

por cima, erros, falhas, isso não existe. Mas termine esse

momento lindo e verás q se amaram estranhamente,

nenhuma jura foi cumprida, nenhum plano foi

concretizado, os belos nomes foram banhados na lama e

estenderam-lhes sujos, visíveis a todos.

Por vezes nos é dado o poder de voltar atrás no tempo,

não para tentar acertar o que fizemos de errado, nem para

sermos melhores e reconquistarmos o amor sofrido, mas

sim para apagar o que houve, esquecer o sofrimento, tapar

os buracos pra seguires uma viagem tranquila rumo ao

futuro. Várias vezes voltei no meu tempo, e não passei uma

borracha, mas sim rasguei a folha dessa história sofrida.

Quis passar uma simples borracha, mas notei que foi

burrice um dia ter chegado até o ponto caliente, quando a

entreguei meu coração e ela brincou com ele e ria-se do bobo

que deu de mãos abertas algo precioso.

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TRISTEZAS DA VIDA

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Voltei o histórico das conversas e vi que ela me

achava emocionado, sem noção do que estava fazendo, mas

precipitada como sempre ela não viu o que eu já havia feito

pensando nela.

Por meses, guardanapos de papel, de pano, lenços de

bolso, colchas e toalhas, nada disso suportou as minhas

lágrimas. Chorei a ponto das minhas lágrimas acabarem,

as lágrimas de outros usei, mas também não foram o

suficiente. Me questionei a ponto de não sobrar mais pontos

de interrogação. Nunca havia imaginado que amor de

verdade fosse tão doloroso. Foi uma relação de se torturar.

Mas apesar de tudo, ganhei grandes lições de vida.

Primeiro aprendi que a idade não é requisito para se

ser maduro e tomar decisões positivas e meio acertadas.

Neste mundo existe quem tem idade suficiente e portanto

não é maduro. Basta girares a cabeça e verás pais, mais

velhos que deveriam dar lições aos jovens, mas são esses

mesmos que tu dizes: “Mais velhos sem juízo”.

E segundo, mais uma vez aprendi a nunca nos

deixar levar pela emoção porque podemos cair na decepção,

ou magoar a pessoa amada que temos no coração. Antes de

tomares uma decisão esboce-a no papel e só depois então

parta para acção.

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TRISTEZAS DA VIDA

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Nunca ame quem não canta a mesma canção.

Nunca caia naquela de que um dia ele(a) irá mudar. Há

coisas na vida que não se muda.

A parte emocional é a parte mais afectada pelas

tristezas, pois esta não apaga nem cura tão facilmente. As

cinco histórias contadas ficaram marcadas para sempre no

coração do Patrício. Portanto faça todos esforços para não

carimbares o teu lado emocional com TRISTEZAS DA

VIDA.

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TRISTEZAS DA VIDA

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TRISTEZAS DA VIDA

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TRISTEZAS DA VIDA

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O salo hoje foi difícil, puxas, esse chefe não larga o

meu pé, pensa que eu sozinho irei melhorar essa empresa

que também já está a ir mesmo a falência. Deixa arrumar

as coisas e ir… o que mais quero é estar na minha cama

relaxado, se der a ouvir um bom slow. Hoje foi demais,

nunca senti dores assim, até os ouvidos doem por ouvir

tantos berros daquele maldito… arranja confusão na

empresa, quando lhe ralham também quer vir aqui gritar

com os inocentes. Deixa-me mazé ir. Está aonde também a

chave do carro? – Opa, está aqui. É muito nervosismo,

escapei lhe entrar com um soco.

… [chegando a casa] …

[eu] … Meu mais que tudo, boa noite.

[Minha esposa] … Oi.

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TRISTEZAS DA VIDA

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Cumprimento estranho, epá talvez não está nos seus

dias. Deixa trocar-me e tomar um bom banho. Ao subir as

escadas vejo algumas sujidades arrepiantes, entro para o

meu ou nosso quarto uma bagunça total. Roupa suja em

cima da cama, um cesto no canto do quarto cheio de roupa

suja a séculos, molhada e a cheirar mofo. Cheiro estranho

que esse quarto tem, mas que cheiro é esse que até já está a

me causar gripe? Começo a procurar a causa do cheiro, o

balde está a cheirar mofo, mas esse é diferente. Chulé

também não é. Procuro bem, olho por baixo da cama e o que

encontro… os copos de iogurtes da miúda à cassula,

empurrados em baixo da cama. Cuecas e pensos usados …

ai, ai, isso é muita porcaria. Nem um porco aceitaria dormir

aqui, pois isso passa dos seus limites de porquice. Já não

aguento mais, hoje vou esfregar tudo isso na cara dessa

mulher.

Mas ó Bela, você anda a fazer o quê afinal de contas

aqui em casa? Vê a escada e olha para a sujeira, vai ao

nosso quarto e olha para as porcarias que você empurra por

baixo da cama. Nem roupa de casa em condições eu tenho,

nada está engomado, e o que você pensa estar limpo está

sujo. Você é mulher de quê afinal?

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TRISTEZAS DA VIDA

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[ela] … Porquê que não vens ajudar, sabes o que é cuidar de

uma casa? Trabalho, faculdade, crianças você e ainda a

casa. Tens noção do quanto eu faço aqui?

Tenho sim, nem preciso demorar a responder, basta olhar

para tudo aqui em casa e ver que não és uma mulher. Olha

para a nossa filha. Roupas compradas no Belas e outras

lojas de renome, mas quem lhe olha pensa que fomos pedir

emprestado no arreió arreió esses trapos que ela tem vestido.

Um gajo aguenta patrão, se esforça para colocar comida na

mesa, e cadê a comida? Panelas vazias, cozinha suja, casa

a cheirar mal. Chega estou cansado, ou você começa a ser

mulher ou ficamos por aqui. Nem para controlar o que a

empregada faz você é mulher?

[ela] … Cala a boca Patrício. Até parece que também és

homem o suficiente. Minhas amigas estão a receber

grandes carros dos maridos, telefones do último grito,

casarões, não é isso aqui… essa barraca que nem foi você

me deu. Trabalhas tanto e nem um starlet você consegue

comprar. Nossa casa até agora não consegues comprar,

temos que estar a depender de parentes, não tens vergonha?

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TRISTEZAS DA VIDA

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Então elas estão a te fazer a cabeça. Então é isso… mas elas

têm feito qualquer coisa para merece-los, e você o que faz?

Calma não se esforça que eu respondo por ti – NADA. Não

sei aonde estava com a cabeça quando fui casar contigo.

Tantos conselhos e eu nada. Tiveste sorte por me obrigarem,

porque se não dissessem nada, nem com a gravidez eu

casava. Ai se eu tivesse ouvido a minha mãe, ela sempre me

dizia que mulher que te visita ao meio dia é preguiçosa, não

faz nada em casa.

[ela]… me arrependo do dia em que casei contigo. Me

arrependo do dia em que parei os meus estudos porque me

engravidei de ti. Me arrependo de ter desistido do Banco

para poder cuidar das crianças. Eu era uma criança a

tentar experimentar as coisas de adultos. Não és o único

cansado dessa situação. Eu estou mais cansada do que tu.

És um homem parado Patrício, nunca resolves nada aqui

em casa, para tudo tenho que chamar sempre alguém, se é

para substituir lâmpada, consertar interruptor, daqui a

pouco chamo também um aí para me consertar. Vens do

serviço mas és daqueles homens que nunca traz nada, nem

mesmo um saco vazio você traz. Não te lembras dos nossos

filhos. Nunca te importas, não queres saber o que lhes

aconteceu durante o dia. És um mulherengo a vista, me

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TRISTEZAS DA VIDA

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fazes passar vergonha a frente das minhas amigas. Já não

me respeitas, todas queres levar, arrastar. Aqui dentro és

um tremendo mão de vaca, só para não dizer de elefante,

mas lá fora és o Bento Kangamba. Estou cansada de

aturar as tuas bebedeiras. Nunca jantamos juntos, porque

preferes a tua família de amigos do copo. Achas que isso é

pouco Patrício, diga-me? – Tenho – te suportado muito seu…

também estou por aqui contigo.

Arruma mesmo as tuas coisas Bela. Também estou

por aqui tá. Vai na tua mãe, anda. Achas que foi fácil esses

anos todos comer papa. Tudo teu era papa, arroz papa, feijão

papa, funge papa. Na minha mãe eu comia melhor tá. És

uma mulher despreparada. Andaste a brincar, saltar cordas

e não aprendeste nada sua… Na minha mãe eu vestia a

Puto Português – roupa engomada, limpa, cheirosa. Mas

contigo, acho que até aquele maluco do bairro se apresenta

melhor. Ao teu lado tive que me tornar mão de vaca, porque

acho que também saltaste a cadeira de economia na escola

da tua mãe. Basta veres dinheiro que o mundo inteiro

queres comprar. Também estou cansado Bela. Por ti fiz

tudo, até acreditei no impossível. Mas hoje vejo que foi um

grande erro não ter ouvido os maiorais. Casamento não é

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TRISTEZAS DA VIDA

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brincadeira, fazer filho não é diversão. Casei pela paixão e

não amor. Cego me entreguei. Apesar de bem palpável que

tipo de mulher serias, não quis acreditar. Desculpa Bela,

mas creio que ambos já não nos suportamos. Por isso vai na

tua mãe, leva as crianças que prometo arcar com as minhas

responsabilidades de pai para com eles.

[ela] … é isso que eu mesmo farei… contigo nem mais um

minuto sequer fico. Adeus seu… que tudo de mal te

aconteça.

Adeus Bela… simplesmente adeus.

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TRISTEZAS DA VIDA

99

Olá eu sou o Costa Ex amigo do casal Patrício e Bela.

Continuo a ser amigo deles só que de modo individual.

Essa foi uma das muitas brigas que ambos passaram.

Lembro-me muito bem desse dia. Como amigos do casal, eu

e mais alguns jovens da vizinhança tivemos que ir acudir

a grande luta. Parecia uma guerra no Iraque, onde tudo se

jogavam. Partiram com toda a mobília, descontaram suas

raivas e más escolhas em tudo e todos. Mas para poderem

entender bem o rumo dessa história, vou recuar um pouco

no tempo – na altura em que eles começaram tudo.

Quando se conheceram a Bela era uma miúda, o

Patrício era um brincalhão, ou seja ambos estavam

despreparados para uma vida séria. Todos no bairro sabiam

que a Bela estava naquela fase rebelde da adolescência.

Procurar homens, embriagar-se de vez em quando, vaguear

pelas ruas a qualquer hora – só não sei o que procuram,

faltar a escola, importar-se com festas e esquecendo

presente e futuro. Sobre casa a Bela não sabia nada.

Cresceu sem um pai, coitada, e aproveitava o momento em

que a mãe estivesse trabalhando para o seu futuro para

fazer essas brincadeiras. Não teve um acompanhamento da

mãe a cem porcento, mas também nos vinte porcento não

aproveitou nada. Sair funje o seu bolo era sorte. A verdade é

que na cozinha ela era uma artista, uma profetisa com

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TRISTEZAS DA VIDA

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poderes. Ela colocava arroz mas no fim saía papa. Ia para a

cozinha com a intensão de fazer um bom feijão de óleo de

palma, mas no fim tinha que sair sopa. Na arrumação da

casa ela era que nem o Luke Lucky (mais rápida que a

sombra dela). Em 10 minutos arrumava 3 quartos, sala,

cozinha e casa de banho – era tudo atoa.

Quanto ao Patrício esse era um mulherengo. Cresceu

sem responsabilidade, em tudo era brincalhão. Nunca

permanecia num emprego, era sempre expulso, ou as vezes

saía mesmo em busca de outro. Beber, dormir no álcool,

festejar, deixar-se levar pela vida, esses eram seus

divertimentos. Também foi um coitado, pois não cresceu

com os pais unidos. Ele nunca presenciou um amor entre

marido e esposa dentro da sua casa. Cresceu com a mãe e

aprendeu bem o que deve fazer uma mulher, mas nunca lhe

ensinaram as responsabilidades de marido. Mas mesmo

com todas essas diferenças, na adolescência eles se

apaixonaram.

Com grande riso, o Patrício veio nos contar que

estava a namorar a n’dengue do bairro. Assustamos com a

notícia, porque o patrício apesar das irresponsabilidades, já

estava a sair da adolescência – era já um homem. A Bela

era uma criança ainda. Falamos com o Patrício, mas ele

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TRISTEZAS DA VIDA

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nos disse que a miúda era boa demais, não dava para a

deixar, por isso mergulhou nessa aventura com a Bela.

Sem medirem as consequências lá eles saíam, bem

felizes da vida se sentiam. De irmãos, tios cunhados e de

quem quisesse dar, a Bela apanhou tantas – foi tanta

surra que mesmo assim a miúda não quis deixar o

Patrício. Cortes vergonhosos na cabeça deliberadamente

foram feitos por seus tios, para ver se com vergonha ficasse,

mas ela arranjava sempre uma maneira de as pessoas a

elogiarem. A escola a Bela deixou, preocupada com roupas e

cabelo ficou. Estragou a sua adolescência para viver uma

vida de adultos – só que esqueceu que quem está na vida

adulta quer descer os degraus. Como todo princípio, o

namoro deles estava lindo. Vias os dois aos beijos, aos

abraços, a virem da casa dos gelados, comendo

hambúrguer, gastando o dinheiro com prazer, sem ter que

colocar a mão à cabeça. Era tanta felicidade, até que um dia

a Bela chega ao Patrício…

[Bela] … Patrício estou grávida?

[Ele] … O quê? Quem te engravidou?

[Bela] … Como assim quem me engravidou? Quem é o meu

namorado? Com quem estive o mês passado?

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TRISTEZAS DA VIDA

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[Ele] … Não sei, já ouvi várias vezes que eu não era o único.

Ainda essa semana a Natália me confirmou que estavas a

sair com o Gomes.

[Bela] … Seu… estás a me ofender! Eu vou falar tudo isso à

minha família. Você é um canalha.

Do dia para a noite a felicidade de ambos acabou.

Enquanto a Bela pensava em compromisso sério, o Patrício

como sempre só quis brincar, aproveitar-se da ingenuidade

da mulher. Bela ganhou coragem e foi contar a família.

Infelizmente ninguém a quis ajudar. Foram tantos

conselhos e purrada que ela não ouviu. Agora ao relento ela

estava atirada. Mas para sua sorte, a sua mãe estava a

namorar um mini Bento Kangamba. Esse também para

ganhar a aprovação e o sim da mãe, prometeu dar o

casamento e casa para o casal.

Patrício que já tinha desmarcado, voltou ao ouvir

que lhe dariam as condições. Carro, casa, emprego, essa não

perco sem dúvida, o mal é que terei só que casar e assumir a

gravidez. Vamos lá a isso Patrício, melhorar a vida de

graça. Bela desculpa ter fugido, ter-te chamado nomes, é

que foi uma notícia pesada. Eu não me encontrava

preparado, mas agora estou mais ajuizado e decidido a

assumir a barriga. Perdoe-me por favor… Desculpas mais

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TRISTEZAS DA VIDA

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desculpas, poemas do Doctor Agostinho Neto, elogios

profundos, tudo isso foi recitado para a Bela, e como sempre

– ela caiu. A principio o Patrício pensava em apenas

melhorar a sua vida a custa da Bela, mas com o novo estilo

de vida e as mudanças da Bela, ele melhorou sua forma de

pensar e encarar as coisas.

Com o filho em questão, a responsabilidade teve que

entrar em acção. Também teve a questão de a Bela concluir

o ensino médio e entrar para a faculdade. Comecei a me

sentir em baixo academicamente – disse o Patrício. Sua

beleza, suas palavras bonitas derivadas do sucesso

académico, conquistavam grandes senhores e a elevava

socialmente, o que me fez começar a sentir umas dores

esquisitas na cabeça. É que agora eu estava amando a

Bela. O Patrício ficou sem escolha a não ser agarrar o

emprego que seu futuro sogro lhe estava oferecendo. Teve

que se tornar ou pelo menos se esforçar em ser um marido

exemplar, ajuizado e atencioso, senão corno se tornaria. A

Bela agora estava mudada. O sucesso académico a tornou

numa mulher arrogante, piorando quando entrou então

num Banco e quando foi eleita gerente. Para ultrapassar

esse contraste, Patrício dava no duro no serviço a fim de

acumular muito mais economias do que a Bela. Aguentava

os berros do patrão, pedia horas extras, fazia um pouco de

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TRISTEZAS DA VIDA

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tudo, tentando aparecer a vista do patrão para ser talvez

eleito chefe.

Por fim chega a data em que as famílias acordaram

para o casamento de ambos. A filha deles já estava crescida

e dúvida que não era do Patrício estavam esclarecidas. A

cara era redonda e bochechuda, o nariz era pontiagudo,

características da família do Patrício.

Naquele momento, tios e tias, cunhados e cunhadas,

amigos e amigas, até o padre no dia do casamento lhe

perguntou quatro vezes, a mãe do Patrício ainda alugou

um quimbanda para ver bem o seu filho, tudo que desse,

aconselhava Patrício a pensar seriamente antes de dar esse

passo logo com a Bela. O mesmo faziam com a Bela. Mas

ambos insistiam em ficar juntos. Era notável que os dois

estavam cegos de paixão e não amor, porque em vez de se

importarem com qualidades íntimas, eles viam o exterior.

Patrício só quis saber do kumbú que teria, olhava

simplesmente o presente e ignorava o futuro. Só via a

beleza exterior da Bela o lindo e robusto QO. Esqueceu-se

que Bela era uma preguiçosa, mulher despreparada,

daquelas que para temperar o frango, lavar a louça ou

outra coisa colocava luvas para não estragar as unhas.

Bela se importava com coisas supérfluas, como

roupa, corte de cabelo e swagger. Ela não quis saber das

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TRISTEZAS DA VIDA

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qualidades internas, seus olhos miravam para a cor do

Patrício – um latom. Ela queria homem que usava brincos,

que cheirava um Calvin Klein Eternity, e que usava roupas

de marca. Esqueceu-se que Patrício era um chupeta,

mulherengo, despreparado para as responsabilidades de

marido, chefe de família.

Ignorando os factos, eles se casaram.

A princípio a felicidade era tanta. Os ciúmes foram

surgindo, o que para ambos ainda era demonstração do

intenso amor.

Passou um ano mas parece que já conviviam a vinte

anos. Os pormenores que os levaram a se casar já os havia

cansado, é que agora eles tinham que lidar com a realidade.

O comportamento, o modo de vestir, o perfume, tudo isso

agora aborrecia a Bela. Para ela, ele antes era um apreciador

de bebida, mas agora era um bêbado. Agora é que ela estava

arrependida.

Se Bela antes era achada meiga, carinhosa, vaso

fraco, agora era chamada de preguiçosa. Se antes Patrício

apreciava o seu arroz papa, até ainda lhe chamava de flocos

à Bela, agora isso era incómodo. Antes Patrício gozava e

ambos riam das mudanças no corpo da Bela. Se ela

engordasse – ele dizia: “Uau, já não terei de me preocupar

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TRISTEZAS DA VIDA

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com colchão”. Mas agora o aparecimento de gordura era

motivo para ele ir procurar outras.

A verdade é que o homem ao se casar pensa que

fisicamente a mulher nunca mudará, e a mulher pensa que

o homem um dia irá mudar.

Ciente de tudo a Bela pensava que com o

aparecimento dos filhos o Patrício iria ficar ajuizado, que

mudaria seu péssimo comportamento, deixando para trás os

amigos desencaminhadores e o copo. Por isso

apressadamente ela foi fazendo os filhos. Já se encontravam

com três filhos e Patrício parece que piorava. Este já não

dava atenção as crianças, nem sequer leva-las ou brincar

com elas. Agora ele bebia pelo número de filhos, aumentou

mais três horas na hora de entrada. Por isso para não deixar

as crianças ao relento, ela teve que abandonar o seu cargo e

emprego no Banco. Na sua mãe não dava para deixar

porque esta estava curtindo a vida, viajando com o seu

marido. Na sua sogra pior ainda, essa não ia com a cara da

Nora e não aceitava as crianças como seus Netos. Pensou

em babás, creches e viu que esses só maltratariam suas

crianças. Por isso de forma dolorosa ela decidi abandonar o

emprego para lhes dar a devida atenção.

Patrício pensava que Bela nunca teria gorduras, que

continuaria sempre esbelta, uma miss, mas ele estava

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TRISTEZAS DA VIDA

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enganado. Como um dia disse a minha amiga Tunicha –

“A idade não perdoa a mulher”. Depois dos três filhos a Bela

já era Belucha. Redonda que nem um balão ficou, e

agradável aos olhos do Patrício não mais se tornou.

Desfigurada, mal tratada, mal preparada nem parece um

dia trabalhou no banco, com os três filhos você os via

perambulando, sofrendo para os levar a consulta sem a

companhia do marido. Em todos os sítios que ela fosse, seu

marido não estava ao seu lado, porque agora sentia

vergonha de andar com uma bambucha, enquanto ele

permanecia elegante. Ambos estavam arrependidos por

baterem inúmeras vezes na mesma tecla mesmo sabendo

que estavam fazendo uma má escolha.

Bela que já era preguiçosa, piorou. Agora não quis se

importar nem mais um pouco com a casa. Já não

cozinhava, não arrumava, não tratava dos filhos nem da

roupa do marido. Para o Patrício ela estava desfigurada, por

isso passou a dar mais atenção ao seu serviço.

Patrício fazia de tudo para se ver ocupado a maior

parte do seu tempo, pois ficar em casa era o que ele menos

queria. Chegava a casa quando todos estivessem dormindo,

e saía também enquanto dormiam. Cansado da Bela, ele já

estava. Discussões entre eles era o prato do dia. Até que um

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TRISTEZAS DA VIDA

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dia eles já não aguentaram e explodiram tudo que estava

guardado no seu coração.

… [Aqui chegamos no início da história] …

Patrício chega do serviço aborrecido como nunca,

esfomeado vai a cozinha e para o seu azar não encontra

nada. Casa suja, tudo uma autêntica sujeira. A casa a

mulher e tudo mais, nada aí era convidativo. Cansado com

isso entram em discussões e pancadas.

Bochechuda a Bela já se encontrava com as porradas

que apanhava do Patrício. As mobílias todas estavam

quebradas, pois haviam virado armas de combate.

Cansada de apanhar, cansada da bebedeira de seu

marido, cansada da vida que escolheu pois tinha hipótese de

escolher outro estilo de vida, ela arruma suas coisas e prefere

mesmo com as três crianças voltar para a casa da sua mãe.

Na concordância de ambos, decidem refazer a sua vida,

bem longe um do outro.

Agora suas vidas estavam estragadas. A Bela com

24 anos parecia uma senhora de 50 anos. Aquela miúda

bonita havia desaparecido, os olhos castanhos, o olhar sereno

que a Bela tinha, tudo havia sumido. Agora em seus olhos

via-se o arrependimento, o cansaço de cuidar dos filhos,

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TRISTEZAS DA VIDA

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sozinha. Por mais que ela tentasse ter um novo

relacionamento sério, já não conseguia, desfigurada como

estava, até cadáver lhe fugia. Ninguém quis assumir os 3

filhos. Por isso tentar fazer a vida sozinha foi o seu plano

mas só que as condições financeiras começaram a apertar.

Emprego para a sua idade seria fácil, sendo já alguém semi

– formada, mas suas características o que muitas vezes é o

mais valorizado nessas empresas… não abria portas para o

mercado de trabalho. Para se sustentarem, ela e seus filhos

começaram a zungar. O padrasto Bento Kangamba já

havia conseguido o que tanto queria e parou de dar os

mimos anteriores a ela. Para Bela sua vida parecia já estar

escrita – tristeza eterna. O preguiçoso é de poucos meios. Se

não fosse pela preguiça, a Bela talvez não teria o corpo

desfigurado, e talvez ainda conseguisse um emprego

porque inteligente ela era. Por isso esse é o conselho que a

Bela um dia deu a todas as miúdas do bairro: Nunca casem

por paixão, mas sim por amor. Deixem que a beleza seja

apenas uma porta que vos possibilita ter acesso a linda

estrutura da casa ou seja as lindas qualidades internas

que esta pessoa possui. Enquanto namoram, se virem uma

qualidade que vocês detestam no vosso companheiro, não

insistem em dar outro passo – partam para outra. Ouçam

sempre vossas mães e sejam boas donas de casa. Se for

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TRISTEZAS DA VIDA

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possível façam só filhos depois de se formarem, porque

senão estes vos atrapalharão em tudo.

Agora a Bela estava com juízo. Diferente da mulher,

o homem por sorte tem sempre alguém que de qualquer

forma lhe quer. Patrício por mais que dissesse que tem

filhos, aparecia sempre uma moça a dizer que não faz mal

– assumo. Já sou casado. Não faz mal, compartilho.

Por isso, para não carimbares o teu coração e

posteriormente toda a tua vida com TRISTEZAS DA

VIDA, faça escolhas sábias.