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As ordenancas de cristo nas cartas pastorais elinaldo renovato de lima

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Elinaldo Renovato de Lima

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As O rd e n a n ç a s d e

n a V C a r ta s P a s to r a is

Elinaldo Renovato de Lima

I a edição

CBORio de Janeiro

2015

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Todos os direitos reservados. Copyright © 2015 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.

Preparação dos originais: Daniele Pereira Capa: Wagner de Almeida e Anderson Lopes Projeto gráfico e editoração: Anderson Lopes

CD D : 220 - Comentário Bíblico ISBN: 978-85-263-0703-2

As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.

Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lança­mentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br.

SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373

Casa Publicadora das Assembleias de Deus Av. Brasil, 34-401, Bangu, Rio de Janeiro - RJ CEP 21.852-002

Ia edição: 2015 - Tiragem: 45.000

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, como o faço em todos os livros que tenho a graça de escrever, agradeço a Deus, por mais um a oportunidade de ser útil à sua Igreja. Agradeço a meus pais, José Martins de Lima e Milza Renovato de Lima (in memoriam), que me encaminharam na fé em Cristo Jesus.

À m inha esposa, íris, que, aos 49 anos e seis meses de casados, é a leitora núm ero um dos meus trabalhos, fazendo sempre a revisão dos originais. C om suas orações, apoia-me espiritualmente e me dá tranqüi­lidade para servir ao Senhor com alegria.

A meus filhos: a Ilana e seu esposo, Kennedy, a Liana Rebeca e Ana Beatrice (netas); a Ilene e seu esposo, Joel, e Jônatas (neto); a Elieber e sua esposa, Talita, e a Tâm isa (neta), a Elieber Filipe (neto) e a Tâm ara (a neta mais nova), que servem na obra missionária; a Raquel, a filha mais nova, e a seu esposo, Renielton; agradeço-lhes pela inspiração que me dão, servindo ao Senhor.

À Assembleia de Deus em Parnamirim, e a meus irmãos e amigos, que oram por mim e pelo meu ministério. C om eles, sinto-me feliz, prestando o serviço cristão para o crescimento do Reino de Deus.

À CPAD, na pessoa de Dr. Ronaldo Rodrigues, seu ilustre diretor, e a todos que, na Casa, colaboram para a melhoria da educação cristã no Brasil.

Aos queridos irmãos, leitores, pelo Brasil afora, que têm prestigiado nosso trabalho literário. Q ue este livro seja uma bênção para edificação de suas vidas. A Deus, toda a glória!

Parnamirim, 13 de março de 2015

Elinaldo Renovato de Lima - Pastor

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PREFÁCIO

O m aior interessado em que a Igreja seja vitoriosa neste m undo é o próprio Deus. Ele a fundou, derramou nela o seu Santo Espírito, dis­tribui dons espirituais, batiza com o Espírito Santo, opera curas divinas e mantém acesa a chama da evangelização. Por ela Deus mostra seu tes­tem unho ao m undo e atrai pecadores perdoados para que andem mais próximos de Deus.

Q ue recomendações Deus teria para essa igreja nestes últimos dias? C om o deve ser liderada, quem são os indicados ao santo ministério, que características devem ter os diáconos, e que cuidados devem tanto o ministro quanto a própria igreja ter em relação à constantes heresias e falsas doutrinas que tentam adentrar em nossos santuários?

Com habilidade e profundidade bíblicas, o Pastor Elinaldo Renovato, comentarista de longa data de nossa Casa e um exímio ensinador, extrai das cartas Pastorais do apóstolo Paulo os conselhos, advertências e orde­nanças de Cristo à sua Igreja. Se desejamos ter uma igreja que realmente agrade a Deus, precisamos ver na sua Palavra o que Ele deixou registrado, por meio da inspiração ao seu servo Paulo, e que nos servirá de guia nessa tão importante causa: o serviço na obra do Mestre.

Q ue o Senhor abençoe a vida da cada pastor e professor de Escola Dom inical com as orientações encaminhadas em mais esta obra de boa safra do pastor Elinaldo Renovato.

A Deus toda a Glória

Ronaldo Rodrigues de SouzaDiretor Executivo da CPAD

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SUMÁRIO

Prefácio 7

1. U m a M ensagem à Igreja Local e à Liderança 11

2. O Evangelho da Graça de Deus 21

3. A O ração e o Com portam ento Cristão no C ulto 31

4. A Função dos Bispos e Diáconos 43

5. Apostasia, Fidelidade e Diligência no M inistério 53

6. Conselhos Gerais 69

7. Eu Sei em quem Tenho C rido 83

8. Aprovados por Deus em Cristo jesus 93

9. A Corrupção dos Ú ltim os D ias 105

10. A Consciência da Chegada da M orte 115

11. A Organização de um a Igreja Local 127

12. Exortações que Servem de Referência Cristã 137

13. A M anifestação da G raça da Salvação 145

Bibliografia 155

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Capítulo 1

U m a M e n s a g e m à Ig r e ja

L o c a l e à L id e r a n ç a

Paulo, o grande evangelista, pastor e humilde servo de Deus, era “apóstolo de Jesus Cristo (1 Tm 1.1), e considerava-se, muito apropria' damente, “apóstolo dos gentios” (Rm 11.13). N a condição elevada de pastor, sentiu de perto a necessidade de cuidar das igrejas locais, por ele fundadas, em suas históricas viagens missionárias. Escritor de pra- ticamente metade dos livros do Novo Testamento, Paulo era homem culto, poliglota, de educação esmerada, em termos hum anos (At 22.3), e grande intérprete e exegeta insuperável dos Evangelhos.

Ele era um verdadeiro apóstolo, no sentido pleno da palavra. Ainda que não teve seu nome inscrito no rol dos “Doze” , que conviveram com Cristo, testemunhando o ministério terreno de Jesus, bem como sua ressurrei­ção, fez jus ao nome de apóstolo, porque, tendo sido chamado de forma tão impactante, no seu encontro com Cristo, no caminho de Damasco, teve a convicção e a experiência de que o Senhor lhe apareceu por derra­deiro, “como a um abortivo” (1 C o 15.8). Paulo, além de ser chamado por Deus, foi enviado a cumprir a grande missão e comissão em prol da Igreja do Senhor Jesus (2 C o 1.1; E f 1.1; C l 1.1; 1 Tm 1.1; 2 Tm 1.1; T t 1.1).

O apóstolo preocupou-se grandemente, não só em abrir igrejas e ga­nhar almas para Cristo. Sentiu sua grande responsabilidade de ensinar e doutrinar os crentes, especialmente os novos convertidos, diante do as­sédio das falsas doutrinas, das heresias e, mais ainda, dos falsos irmãos (2 C o 11.26). Depois de relembrar os sofrimentos que experimentara em diversas ocasiões, Paulo diz: “Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas” (2 C o 11.28). As cartas pastorais ultra­passam seu propósito a priori de serem destinadas apenas a dois jovens obreiros. Foram, na verdade, cartas que se tornaram autênticos manuais

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eclesiásticos por assim dizer, para as igrejas cristãs em seus primórdios, bem como, sem qualquer impropriedade, para as igrejas dos tempos atuais.

I - O QUE SÃO AS EPÍSTOLAS PASTORAIS

1. Porque São PastoraisPorque por intermédio dos seus destinatários, Timóteo e Tito, tratam de

“assuntos relacionados com a ordem e o ministério da igreja”.1 São chama­das de “pastorais” pelo fato de Paulo, como verdadeiro pastor, demonstrar, nessas epístolas, seu grande cuidado com a edificação das igrejas a serem alcançadas pela mensagem, enviadas a seus dois jovens obreiros.

2. Os DestinatáriosAs cartas de Paulo 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito são chamadas de cartas

pastorais. Foram destinadas, em princípio, a dois de seus mais fiéis e abne­gados cooperadores jovens que ganhara para Cristo em suas longas viagens missionárias. Eles eram obreiros ainda jovens, mas ganharam a confiança de seu “pai na fé”, a ponto de serem merecedores de receber encargos e missões do maior sentido e responsabilidades. Na primeira carta dirigida ao discípulo, Paulo chama Timóteo de “meu verdadeiro filho na fé” (1 Tm 1.2). Na segunda carta a Timóteo, Paulo o chama de “meu amado filho” (2 Tm 1.2) - “meu filho amado e fiel no Senhor” (1 C o 4.17) —, revelando o cuidado paternal para com o jovem obreiro. Paulo chama Tito de “meu verdadeiro filho” (Tt 1.4); “meu irmão” (2 C o 2.13); “meu companheiro e cooperador” (2 C o 8.23). Tito era homem de inteira confiança do apóstolo (2 C o 12.18). Juntamente com Barnabé, foi convidado pelo apóstolo para acompanhá-lo em sua obra missionária junto aos gentios (G1 2.1,3) e rece­beu missões de grande responsabilidade (2 C o 2.3,4; 8.16,24). Da parte de Paulo, vemos um exemplo para os líderes de igrejas, nos dias presentes, no trato com os obreiros mais jovens. Do lado de Timóteo e Tito, vemos exem­plos de obreiros que souberam comportar-se diante do seu pastor.

3. Autoria e Datas das Três CartasO s eruditos têm a condição de possuir conhecimentos além da mé­

dia das pessoas em sua volta. Mas, por vezes, “as muitas letras” os fazem

1 CPAD. Bíblia de estudo pentecostal, p. 1886 (referências preliminares a Tito).

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delirar, como Festo disse a Paulo (At 26.23). Por volta do século XIX, F. Schleiermacher lançou dúvidas quanto à autoria de Paulo com relação a 1 e 2 Tim óteo e da Carta a Tito. Esse e outros estudiosos entenderam que, pela linguagem, estilo e época em que foram escritas, as mesmas poderiam ter sido escritas por um “pseudoepígrafo (embora discípulo de Paulo)” em nom e do apóstolo.2

N o entanto, grande parte dos estudiosos do Novo Testamento apresenta razões de sobra para o reconhecimento da paternidade literária do apóstolo Paulo para as chamadas “cartas pastorais” . A primeira epístola a Timóteo foi escrita por volta de 64 d.C, entre a primeira e a segunda prisão de Paulo. A segunda epístola a Timóteo foi escrita em torno de 67 d.C, quando do se­gundo encarceramento do apóstolo, e antes de sua morte. Fazem parte das “cartas da prisão”, ao lado de Filipenses, Efésios, Colossenses e Filemom.

A C arta a Tito foi escrita no m esmo ano de 1 Tim óteo. Se aceitamos que o cânon do Novo Testamento teve a direção do Espírito Santo, não há razão para acreditarmos que Ele iria permitir que pseudoautores usassem o nom e de Paulo para escrever livros considerados inspirados por Deus. Estudiosos cristãos entendem que essas cartas foram “escritas durante o segundo aprisionam ento, em 65-68 d.C ., embora a primeira epístola a Tim óteo e a epístola a Tito possam ter sido escritas no interva­lo entre esses dois aprisionam entos” . A inda que importantes, a questão das datas não é o foco deste estudo.

4. Conteúdo das Cartas PastoraisAs três cartas pastorais formam um conjunto literário, devocional e

doutrinário em que se observam o mesmo vocabulário, o mesmo estilo e os mesmos propósitos para que foram escritas, o que reforça a evidência interna de que seus escritos tiveram origem na mente do seu autor, que foi o apóstolo Paulo. Nas três cartas, percebe-se a preocupação de Paulo em orientar as igrejas quanto à firmeza na fé cristã, ante os perigos das falsas doutrinas, sua organização eclesiástica e administrativa, e sobre como uma comunidade que saía do judaísmo para uma nova visão perante a realidade do mundo, de seu tempo e do futuro da Igreja, em termos escatológicos. Esse conteúdo poderá ser mais bem entendido quando da análise de cada epístola em particular. As mensagens dessas cartas vão além de uma missiva a seus jovens obreiros. São epístolas cujo conteúdo doutrinário é tão

2 Gordon D. FEE. Novo comentário bíblico contemporâneo - 1 & 2 Timóteo e Tito, p. 12.

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profundo, que servem de fundam ento bíblico para a edificação das igre­jas cristãs, ao longo dos séculos. Sua mensagem, ainda que escrita por volta 64 d .C ., revela-se muito bem apropriada para as necessidades espi­rituais das igrejas atuais, em plena época da chamada Pós-Modernidade.

II - PROPÓSITO E MENSAGEM

As cartas pastorais, form ando um conjunto de ensinos e doutrinas fundam entais do cristianismo para as igrejas em seus prim órdios, por meio dos jovens obreiros Tim óteo e Tito, tinham em comum, basica­mente, os seguintes propósitos:

1. Orientar os Obreiros quanto à Vida Pessoal[...] Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas;

porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm 4.12,16). O apóstolo sabia que só faz sentido o pastor estar à frente da igreja local se ele tiver uma vida exemplar, cuidando, primeiramente, de seu testemunho, de sua vida pessoal e de sua vida familiar (1 Tm 3.1-13).

2. Orientar os Obreiros quanto aos Falsos Mestres e as HeresiasNa época de Paulo, havia diversas heresias, que ameaçavam solapar

as bases e as estruturas das igrejas locais, como parte do edifício maior da Igreja do Senhor Jesus Cristo. O desafio de manter a unidade da Igreja, com fundam ento em Cristo e seus ensinos, em anados dos evan­gelhos, era enorme. As viagens demoravam meses, em meios de trans­porte rudimentares. As cartas ou epístolas eram o único meio de que se valiam os pastores, líderes ou supervisores da obra para transmitirem ensinamentos, advertências e doutrinas.

Enquanto isso, as heresias apressavam-se, com seus meios de divul­gação, para assediar os neoconversos e os crentes mais antigos, que de­pendiam da orientação de seus líderes, de pastores, de presbíteros ou anciãos, que os reuniam para lhes transmitir o ensino cristão sadio. Dentre as heresias que Paulo e outros apóstolos tinham em mente, duas se destacavam por sua história e influência cultural e filosófica.

1) 0 judaísmoO judaísmo se manifestava de forma insidiosa, visando destruir os

ensinos de Cristo, por meio da observância dos rituais estabelecidos na

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Lei de Moisés. Cristo disse que não viera destruir a lei nem ab-rogá-la, “mas cumpri-la” (Mt 5.17). O s judeus não entenderam o sentido e o sig­nificado do Novo Testamento ou Nova Aliança, trazida por Cristo com seus ensinos. Cristo viera cumprir a Lei de outra forma, não a partir de atos e liturgias exteriorizadas, mas a partir da transformação interior do homem. Paulo exortava aos crentes, de forma bem eloqüente, quanto à mu­dança que deveria haver em suas vidas (Rm 12.1,2). O s judeus insistiam em que se cumprissem os preceitos essenciais e os rituais exigidos pela Antiga Aliança, como a guarda de dias, meses e anos (G14.9-11). Era enorme a luta de Paulo para manter seus filhos na fé, nos retos caminhos do Senhor, seguindo a sã doutrina, que recebera de Deus pelo Espírito Santo. Para os judaizantes, quem não guardasse o sábado, de modo literal, e não se circuncidasse, era digno de expulsão ou até de morte (ver At 15.5-32).

2) Gnosticismo“Trata-se de um a filosofia herética, que se propõe a explicar todas

as coisas por meio da gnosis (gr. ‘conhecim ento’).” “O s gnósticos con­sideravam-se cristãos, dotados de conhecimento superior aos demais convertidos” .3 Eram um tipo de cristãos que praticavam “culto aos an­jo s” , a quem chamavam de “tronos” , “dom inações” , “principados” e “potestades” . A lém desse ensino estranho ao cristianismo, negavam a supremacia de Cristo, negando sua encarnação, pois consideravam o corpo hum ano mau; este, sendo matéria, contaminaria a Cristo, visto que a matéria é má e somente o espírito é bom. E o chamado dualismo.

O gnosticismo era esoterista ou ocultista. Apregoava que seus ensinos eram “superiores” e só podiam ser alcançados por “iniciados” . Em C o­lossos, havia o culto à deusa Cibele, “a grande mãe da fertilidade”. Em Efeso, onde se situava a igreja destinatária das cartas a Timóteo, havia a deusa Diana (At 19.33-35), um ídolo que os efésios entendiam ter caído do céu, enviada por Júpiter, o principal deus do panteão romano. E esses ensinos heréticos estavam-se infiltrando nas igrejas cristãs, carentes de lí­deres e de ensinos doutrinários sólidos e bem embasados na Palavra de Deus. Quando Paulo passou por Efeso, ao lado de Timóteo, a caminho da Macedônia, descobriu que as heresias gnósticas já haviam feito grande estrago entre os irmãos. O s líderes da rebelião contra o que Paulo ensi­

3 Elinaldo Renovato de LIMA. Coiossenses - A perseverança da igreja na Palavra nestes dias difíceis e trabalhosos, p. 18,19.

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nava eram Himeneu e Alexandre (1 Tm 1.19,20). Paulo os excomungou, e, tendo de prosseguir viagem, deixou Tim óteo em Éfeso para instruir os irmãos contra a terrível investida do Diabo contra a fé cristã.

U m tal de “Alexandre, o latoeiro” (2 T m 4.14), tam bém m uito perturbou a Paulo e aos crentes de Éfeso. Era um causador de dis- sensões, e Paulo m andou que Tim óteo se afastasse dele. C iente de que T im óteo, ainda sem experiência sólida, deveria estar enfrentando dificuldades para conter a onda dos falsos ensinos na igreja em Éfeso, ele escreveu as duas cartas, dirigidas ao jovem obreiro, mas visando à m inistração dos ensinos e exortações pastorais para a igreja local. O m esm o fez com Tito, em relação à igreja que havia na ilha de Creta. Infelizmente, os causadores de dissensões aparecem ainda hoje, per­turbando a harm onia que deve caracterizar as igrejas cristãs.

III - UMA MENSAGEM PARA A IGREJA LOCAL E A LIDE­RANÇA DA ATUALIDADE

1. Mensagem para as Igrejas — Alerta contra as HeresiasU m leitor apressado poderia indagar: “O que as três cartas pastorais,

escritas a dois obreiros do primeiro século da era cristã, teriam para o contexto espiritual e doutrinário de igrejas no período da pós-moderni- dade?” . Se ouvíssemos tal questionam ento, teríamos que responder com bastante convicção: Têm muito a ver, sim. Se, na época de Paulo, umas poucas heresias ameaçavam os alicerces da fé cristã, hoje, são centenas ou milhares de ensinos heréticos que não só ameaçam, mas muitos já estão infiltrados sorrateiramente no seio de muitas igrejas evangélicas.

A seguir, algumas heresias pós-modernas, que dem andam o confron­to sério com base na ortodoxia bíblica.

1) 0 restauracionismoTrata-se de uma inovação teológica, ou doutrinária, que procura adap­

tar, nos dias presentes, ensinos, ritos, costumes e práticas próprias do antigo concerto, ou da antiga aliança de Deus com Israel. Parece um contrassenso, mas é querer inovar com coisas antigas, ou velhas doutrinas. É o “fermento velho” a que Paulo se referiu escrevendo aos coríntios (1 C o 5.7).

Dentre esses ensinos, apareceram, há alguns anos, igrejas que ensi­nam que os cristãos devem guardar o sábado. N ão se trata de Adven- tistas do Sétim o Dia. São igrejas que se consideram cristãs, m odernas

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e atualizadas. M as estão pregando um tipo de retorno ao judaísm o. N o Novo Testam ento, encontram os m anifestações claras desse ensino equivocado. Paulo teve que agir com vigor contra esse tipo de ensino pernicioso (ver G1 1.6). E considerou “anátem a” quem desse ouvidos a esse tipo de ensino, m esm o que viesse por interm édio de “um anjo do céu” . A guarda do sábado, com o obrigação exclusiva, especial, é es­pecífica para o povo de Israel, e para nenhum a nação mais no m undo (ler Êx 31.14-17; ver Lv 23, 31, 32; Ez 20.12,13,20).

H oje, pregadores televisivos e “apóstolos” de megaigrejas, ou pasto- ras neopentecostais, conseguem iludir grande parte de crentes incau­tos, desavisados, ignorantes da Palavra, detentores de um a fé superfi­cial e sem fundam ento na Palavra de Deus. T im óteo fala para hoje, sim . É só ler com calm a as epístolas pastorais. N o tem po de Paulo, os judaizantes exigiam dos novos convertidos a prática da circuncisão. Paulo, Barnabé e Pedro uniram-se, no Primeiro C oncilio , em Jerusa­lém, e ensinaram que não se deveria por sobre os novos convertidos um jugo que não poderiam suportar (At 15.7-11).4

As cartas pastorais visavam orientar os crentes quanto a essas mesmas perturbações de origem judaizante. Mas hoje, em pleno século XXI, há igrejas restauracionistas, que ensinam que os cristãos devem celebrar a Fes­ta dos Tabemáculos (Lv 23.34; Dt 16.13); a Festa da Colheita (Êx 23.16; 34.22), as quais eram tipicamente festas judaicas, de grande valor para o povo de Israel, pois tinham um simbolismo marcante para aquele povo. Há quem comemore a Páscoa em pleno período da graça, quando a Palavra de Deus diz que Cristo é nossa Páscoa (1 C o 5.7). Ora, Jesus celebrou a Páscoa pela última vez na véspera de sua morte, e instituiu, em seu lugar, a “Ceia do Senhor” (1 C o 11.20), ou “o partir do pão” (At 2.42), ou “cálice”, que éo “Novo Testamento no meu sangue” (1 C o 11.25).

Tais práticas podem ser consideradas, à luz da Bíblia, como “fermento velho” (1 C o 5.7a), que incluía os rituais judaicos, superados e substituídos pelo evangelho de Cristo, que não é ritualista, mas realista, trazendo Cristo aos corações, em espírito e em verdade, e não como “sombra dos bens futu­ros” (Hb 10.1), os quais foram tornados realidade em Cristo Jesus.

4 Hoje, graças às pesquisas na área da saúde, está provado que a circuncisão é benéfica, pois evita a formação de substâncias cancerígenas em torno da glande, no órgão genital masculino. Mas não pode ser exigida como preceito religioso. Isso é “fermento velho”.

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2) 0 evangelho da prosperidade materialTalvez essa seja uma das inovações mais influentes nos últimos tempos,

desde o século passado. Nos últimos anos, tem sido apregoado aos quatro cantos do mundo um ensino exagerado sobre a prosperidade cristã. Segun­do esse ensinamento, todo crente tem que ser rico, não morar em casa alu­gada, ganhar bem, além de ter saúde plena, sem nunca adoecer. Caso não seja assim, é porque está em pecado ou não tem fé. Paulo contradiz isso em1 Timóteo 6. 9,10. Diz Hagin, um dos mais eminentes defensores dessa fal­sa doutrina de prosperidade (já falecido): ‘“Você é tanto uma encarnação de Deus quanto Jesus Cristo o foi...’ (Hagin, Word ofFaith, 1980, p. 14). ‘Você não tem um deus dentro de você. Você é um Deus’ (Kenneth Copeland, fita cassete The Force of Love, BBC-56). ‘Eis quem somos: somos Cristo!’ (Hagin, Zoe: A Própria Vida de Deus, p. 57). ‘Eu sou um pequeno Messias’.5 Baseiam- -se, erroneamente, no SI 82.6, citado por Jesus em Jo 10.31-39. Satanás, no Éden, incluiu no seu engodo que o homem seria ‘como Deus, sabendo0 bem e o mal (Gn 3.5) .6 Com essa visão, essa heresia leva as pessoas a crerem que o crente não pode ser pobre, não pode adoecer, e pode possuir tudo o que quiser, pois ele é “um Deus”! Julgam-se com autoridade supre­ma para decretar, determinar, exigir e reivindicar as promessas e bênçãos de Deus. À luz da Bíblia, tal comportamento eqüivale a orgulho, presunção e soberba. Isso é doutrina de demônio. Paulo deixou Timóteo em Éfeso para “[advertir] alguns que não ensinem outra doutrina” (1 Tm 1.3). O texto de1 Timóteo fala hoje!

3) Apostasia dos últimos diasNesse aspecto, nunca foi tão atual a mensagem das cartas pastorais. Na

segunda carta a Timóteo, Paulo adverte aos crentes quanto ao que está acontecendo nos dias atuais — “Extrema corrupção nos últimos tempos”.

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; por­que haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, sober­bos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. (2 Tm 3.1-5)

5 Haggin, citado por Haneegraf, p. 119.6 Elinaldo Renovato de LIMA. Perigos da pós-modemidade, p. 174.

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Esse texto é de um a eloqüência extraordinária. Cum priu-se nos dias de T im óteo, pois Paulo m anda que se afaste desse tipo de gente que haveria de se com portar de m odo contrário à sã doutrina. E no- tória a existência de obreiros que am am a si m esm os, em busca de vantagens pessoais, usando as igrejas para alcançarem seus objetivos egoístas. São presunçosos, “avarentos” , ou seja, am antes do dinheiro. Sem dúvida, os que cobram vultosos “cachês” para cantar ou pregar são dessa estirpe. São “mais am igos dos deleites do que am igos de D eus” . São hipócritas, pois m ostram um a “aparência de piedade” , mas a negam com suas obras.

2. Orientações quanto ao Relacionamento Humano na IgrejaAlém de confrontar heresias, com o uso da “espada do Espírito”

(Ef 6.17; Hb 4.12), a liderança cristã, à frente das igrejas locais, a exem­plo do que fez Tim óteo, precisa orientar os crentes quanto à forma de adoração, ao relacionamento hum ano, na igreja local, no trato com se mulheres (1 Tm 2.9-15); com as viúvas (1 T m 5.3-16); com idosos, adul­tos e jovens (1 T m 5.1); no relacionamento social, entre patrões e empre­gados cristãos ou não, como bem constam do conteúdo de 1 Tim óteo.

Em 2 Tim óteo, sentindo que seu tem po estava term inando, Paulo exorta o discípulo quanto ao seu com portam ento pessoal; quanto às atitudes ministeriais; e ainda quanto às ameaças dos ensinos falsos.

3. Mensagem para a Liderança

1) Administração eclesiásticaEm 1 Tim óteo 3.1-12 e em Tito 1.6-9, vemos um verdadeiro conjun­

to de diretrizes para a ordenação de obreiros ao ministério.

2) Ética ministerialN a segunda epístola de Tim óteo 2.15, Paulo exorta o ministro a res­

peito de como deve se apresentar a Deus. Aqueles que são chamados por Deus para liderar parte de seu rebanho devem ser líderes de verdade. Nem todos sabem o que é ser líder. A verdadeira liderança estabelece-se pelo exemplo, pelo testemunho, m uito mais do que pela eloqüência, pela oratória ou pela retórica (Fp 3.17; 1 C o 11.1). O líder cristão não é o que manda. É que serve. N ão é o maior. E como o menor. Jesus deu precioso ensino sobre isso em Mateus 20.24-28.

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CONCLUSÃOAs cartas pastorais — escritas por Paulo e enviadas às igrejas de Éfeso

e de Creta por mãos de Tim óteo e de Tito, respectivamente — são ver­dadeiros manuais de Administração Eclesiástica. Elas contêm doutrina, ensino, exortações, quanto a assuntos práticos, mas, também, diretrizes gerais sobre liderança, designação de obreiros, suas qualificações, as res­ponsabilidades espirituais e morais do ministério, o relacionamento com Deus, com os líderes e as relações interpessoais. São riquíssimas fontes de ensino precioso para edificação das igrejas locais, nos tempos presentes.

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Capítulo 2

O Ev a n g e l h o da

G r a ç a de D eu s

O apóstolo Paulo era um pastor cuidadoso em extremo com o reba­nho do Senhor sob seus cuidados. Q uando escreveu a primeira epístola a Tim óteo, este se encontrava em Efeso, cumprindo a orientação de Paulo, a fim de ministrar as devidas orientações àquela igreja, ante as ameaças de falsos mestres que se infiltraram no seio dos irmãos e já estavam sem eando seus ensinam entos perniciosos.

O jovem obreiro não era o pastor da igreja de Efeso, mas recebera a grande e grave incumbência de não só advertir a igreja, mas de con­frontar os que se tornaram instrumentos a serviço da sem eadura das heresias. O problem a era tão grave que Paulo fugiu ao seu estilo peculiar de redigir suas cartas. Norm alm ente, ele começava algumas de suas epís­tolas com ações de graças (Rm 1.8; 1 C o 1.4; 2 C o 1.2).

A leitura geral da epístola não dá informações claras sobre quais heresias estariam sendo difundidas no meio da igreja. Paulo vai dire­to ao assunto, abordando o problem a dos ensinos falsos que estavam sendo repassados pelos “falsos mestres” , os quais se aproveitavam das dificuldades próprias da época, em que as comunicações eram escassas e demoradas, para contam inar a mente dos crentes, especialmente dos novos decididos, com seus ensinos perniciosos.

“C om o te roguei, quando parti para a M acedônia, que ficasses em Efeso, para advertires a alguns que não ensinem outra doutrina, nem se deem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem ques­tões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora” (1 Tm 1.3,4 - grifo nosso). Q ue seria essa “outra doutrina” , essas “fá­bulas” e essas “genealogias intermináveis”? O texto não esclarece. Estu­diosos da Bíblia entendem que poderiam ser os ensinos gnósticos ou

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dos judaizantes. A o que tudo indica em Éfeso, além da perseguição externa, havia também a perseguição interna, dos falsos mestres, de den­tro da própria igreja. Em sua despedida dos anciãos de Éfeso, Paulo ex­pressou seus sentimentos de preocupação com o rebanho de Deus (At 20.29,30). Sem dúvida, fora um a palavra profética. Sete anos depois, Paulo estava deixando Tim óteo em Éfeso, para fazer face aos “lobos cruéis” , que queriam “devorar” o rebanho sob seus cuidados pastorais.

I - AS FALSAS DOUTRINAS CORROMPEM O EVANGE­LHO DA GRAÇA

1. 0 Evangelho da GragaO evangelho da graça é o evangelho libertador que Cristo trouxe ao

m undo, por mercê de Deus, independentemente das obras hum anas (E f 2.8,9). Paulo se referiu a esse evangelho de maneira muito eloqüen­te em Atos 20. 24. Ele entendeu bem o que significa o “evangelho da graça de D eus”. Ele, que em seu zelo extremista em defesa do judaísmo, cometeu atos absurdos, a ponto de consentir na morte de seguidores de Cristo, sendo testemunha e cúmplice de Estêvão (At 7.58; 8.1). Ele próprio, julgando estar fazendo a vontade de Deus, tornou-se líder da perseguição aos servos de Jesus, mas foi escolhido para ser uma testemu­nha da graça e da misericórdia de Deus. A superabundante graça do Senhor Jesus Cristo não só escolheu, com o chamou e acolheu Paulo, com o ministro do evangelho, mas o enviou a ser um dos maiores e mais destacados líderes da evangelização do m undo, em sua época.

2. As Falsas DoutrinasO evangelho da graça de Deus é bem diferente de “outro evange­

lho” (G1 1.8), que era pregado em Éfeso e em diversos lugares por onde Paulo passara, fundando igrejas. Escrevendo a Tim óteo, o apóstolo orienta bem acerca dos ensinos estranhos à “sã doutrina”.

1) “Outra doutrina”“Com o te roguei, quando parti para a M acedônia, que ficasses em

Éfeso, para advertires a alguns que não ensinem outra doutrina” (1 Tm 1.3). Esse versículo mostra que os falsos mestres não eram apenas

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O E v a n g elh o da G r a ç a de D e u s | 23

pessoas de fora da igreja, que difundiam a doutrina herética do gnos- ticismo ou do judaísm o. Estudiosos das epístolas paulinas entendem que se tratava de presbíteros, a quem cabia a tarefa de ministrar o ensino à igreja (1 Tm 5.17). Sem dúvida, isso se deve ao fato de que o “bispo” ou o presbítero deve ser “apto para ensinar” (1 T m 3.2). Es­ses ensinadores se deixaram influenciar por ensinam entos estranhos e passaram a ensinar “outra doutrina” . N o grego original, “outros” vêm de “heteros", no caso, “doutrina estranha”, “falsificada” , “diferente”. O u “não ensinar diferente” (gr. heterodidaskalein).

“O s oponentes do apóstolo são aqueles que (literalmente) ‘ensi­nam outra/diferente’. Embora desejem ser ‘doutores da lei’ (v. 7), não são mais do que ensinadores de inovações, isto é, daquilo que é alheio ao verdadeiro evangelho” .1

2) “Fábulas ou genealogias intermináveis”Para o destinatário da carta em apreço, essas expressões eram fami­

liares. Mas, para os leitores dos tempos atuais, tão distantes daquele período em que foi escrita, o que seriam essas “fábulas” e essas “gene­alogias” ? Fábulas (gr. mythoí) são lendas, narrativas imaginárias, men­tiras, invencionices literárias, que podem ter lições positivas ou nega­tivas. “O termo ‘fábulas’ ou ‘m itos’ (mythos) poderia incluir narrações alegóricas, lendas ou ficção, ou seja, doutrinas espúrias em contraste com a verdade do Evangelho” .2

O s gnósticos desenvolviam cultos aos anjos, e acreditavam que eles seriam guardiões que levavam as pessoas a Deus. Esses falsos ensinos resultavam em “questões” vazias, discussões que não levavam a lugar nenhum em termos de edificação dos crentes (cf. 1 Tm 1.4). N ão é de admirar que tais ensinos tivessem lugar no seiò da igreja cristã, como em Efeso.

Genealogias (gr. genealogiai) significam “linhagem, estirpe, ascen­dência. A: descendência” ,3 ou estudo das origens das linhagens, ascen­

1 French L. A RRIN G TO N & Roger STRO NSTAD. Comentário bíblico pente- costai - Novo Testamento, p .1445.2 French L. A RRIN G TO N & Roger STRO NSTAD. Comentário bíblico pente- costal - Novo Testamento, p. 1445.3 Dicionário H OUAISS.

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dências e descendências de determinados grupos sociais ou famílias. N ão fica claro, no texto a que se referem essas genealogias. Mas, ao lado das fábulas, eram ensinos que demandavam o confronto decidido e firme da liderança eclesiástica. As genealogias não eram vistas apenas como lista de ascendentes e descentes de uma linhagem. O s gnósticos as consideravam de forma mítica, como temas centrais de sua teologia es­púria. Dá para imaginar a confusão que tais ensinos causavam no meio de igrejas cristãs, que recebiam muitos novos convertidos. T im óteo foi o mensageiro, enviado por Paulo, para enfrentar “o bom com bate” da fé genuína, que se fundam enta na ortodoxia da “sã doutrina” (1 Tm 1.10; 2 Tm 4.3; T t 1.9).

3) “0 fim do mandamento”Após exortar com firmeza contra as “fábulas” e as “genealogias”

intermináveis, que só trazem perturbações, discussões inúteis e fúteis, Paulo chamou a atenção de Tim óteo para a doutrina prescritiva de Deus e de Cristo, a que ele resumiu no “m andam ento” , e sua finalida­de, dizendo: “Ora, o fim do m andam ento é a caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e de um a fé não fingida. Do que des- viando-se alguns, se entregaram a vãs contendas” (1 Tm 1.5,6).

Mas a Palavra de Deus, ou a sua doutrina (gr. didakê), tem por fina­lidade a transformação espiritual do ser humano. Essa transformação se dá de fora para dentro, pela ação sobrenatural e eficaz da Palavra (Hb 4.12). Essa é a finalidade do “mandam ento” ou do ensino cristão. Pro­vocar mudança eficaz no interior do homem. Paulo expressa bem essa transformação em 2 Coríntios 5.17. É o que ele expressa a Tim óteo: que o ensino, a doutrina ( o m andam ento”) não produz efeito superficial, mas profundo, que resulta na “caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida” . O s gnósticos dividiam-se em dois grupos: os ascetas e os libertinos. O s ascetas pregavam o afasta­mento do m undo, do contato com os hom ens e as mulheres, para te­rem um a vida monástica, sobre as montanhas, ou o mais distante das cidades, para não se contaminarem com as coisas materiais, incluindoo corpo, que é mau.

A corrente dos libertinos tinha outro direcionam ento para a pu­rificação do corpo. Era a sua destruição, na libertinagem, na depra-

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vação sexual desenfreada. Buscavam a purificação pela destruição do corpo. Certam ente, Tim óteo teve muito trabalho em usar a Palavra de Deus para desmanchar a influência desse tipo de doutrina. Esse “m andam ento” a que Paulo se referia eram as exortações, os ensinos e a “sã doutrina” (Tt 2.1), cujo objetivo ou finalidade era promover três importantes resultados na vida dos crentes: “a caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida” . Essa caridade, que se revela num “coração” puro, não é qualquer tipo de “am or” , mas o verdadeiro amor cristão, que deriva do amor Àgape, ou am or de Deus. E se concretiza, ou se materializa, não em teoria, mas num viver santo e puro, conforme a Palavra de Deus. E o amor que faz o crente amar a Deus em primeiro lugar, e “ao próxim o como a si m esm o” (Lc 10.27). Jesus refere-se aos que têm “coração puro” . São os “limpos de coração, porque eles verão a D eus” (Mt 5.8).

A segunda evidência desse “mandam ento” é “uma boa consciência” cristã. N o vernáculo, consciência significa “conhecimento, ciência” ; “A consciência é a capacidade, ou sede, da consciência moral, comum a to­das as pessoas” (Rm 2.15; 2 C o 4.2)”;4 a consciência natural, do homem não salvo é influenciada por muitos fatores, tais como sua origem, sua história, bem como sua nova vida em Cristo (2 C o 5.17); mas, na Bíblia, consciência é mais que isso, é a convicção interior da condição cristã, na comunhão com Cristo. E o sentimento de firmeza de pensamento; é a certeza da comunhão com Deus. E a “boa consciência” no andar com Deus (At 23.1; 1 Pe 3.21); é “ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os hom ens” (At 24.16); é a “voz interior” , que acusa ou defende cada pessoa (Rm 2.15); é a consciência que leva o crente a obedecer a Deus, independentemente de quem quer que seja (Rm 13.5); é o testemunho interior da conduta do crente (2 C o 1.12); é a consciência do crente que serve a Deus com pureza (2 Tm 1.3); é o contrário da “má consciência” (Hb 10.22).

O s “falsos mestres” , que perturbaram a igreja em Efeso, não ti­nham essa “boa consciência” cristã. Eles certamente falavam, ensina­vam e agiam conforme a consciência deles (2 Tm 4.1); eram hipócritas,

4 Gordon D. FEE. Novo comentário bíblico contemporâneo 1 & 2 Timóteo e Tito, p. 53.

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falavam mentiras e tinham “cauterizada a sua própria consciência” (2 Tm 4.2). O terceiro resultado, fruto do “m andam ento” , ou da Palavra de Deus, na vida do crente, é “uma fé não fingida”. Tem o sentido de fé sincera, autêntica, verdadeira. “Aqui, fé não fingida refere-se à virtude cristã, significa confiar em que Deus está presente de verdade, em con­traste com a natureza enganosa da ‘fé’ dos mestres do erro” .5 É a “fé que um a vez foi dada aos santos” (Jd 3). N o dizer de Paulo, os “falsos mestres queriam ser doutores da lei e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam (1 Tm 1.7). Por isso mesmo, davam-se a

fábulas e a genealogias intermináveis” (1 Tm 1.4), com o que se em­baraçavam e embaraçavam seus ouvintes. Certam ente, era um a ação diabólica, promovendo a confusão entre os cristãos de Éfeso.

4) A lei e a quem se destinaCom o os falsos mestres da lei (nomos didaskalos), ou “professores” da

lei, manipulavam os textos do Antigo Testamento, Paulo, escrevendo, dis­se que sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamen­te (1 Tm 1.8). Os ensinos da Lei de Moisés tinham seu bom efeito, se fossem bem interpretados e aplicados à vida da igreja, ou seja, mediante o uso legítimo do texto legal. Mas os fariseus, os saduceus e os doutores da lei nem sempre usavam seus textos de modo correto e legítimo.

Eles exigiam o cumprimento estrito e literal da lei, mas eles pró­prios não o faziam (Mt 23.23). O u seja, fariseus davam o dízimo de tudo, até das menores coisas, mas desprezavam o mais im portante da lei: “a misericórdia e a fé” . Ser dizimista fiel é um a bênção. É o reco­nhecimento e a gratidão de que tudo o que temos vem de Deus (cf.1 C r 29.14). Mas a entrega dos dízimos e das ofertas para a obra do Senhor não dão direito a desprezarmos os sagrados princípios bíblicos de santidade, ética e pureza em nossas vidas.

Paulo ensina acerca do objetivo da lei, e para quem ela se desti­nava; sabendo isto: que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas [que m atam seus pais] e matricidas

D. FEE, Gordon. Novo comentário bíblico contemporâneo 1 &. 2 Timóteo e Tito, p. 53.

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[que m atam suas mães], para os homicidas, para os fornicadores [em outra tradução é “devassos”; “ im puros” , gr. pomos; “no m oderno voca­bulário, esta última palavra indica a prática ilícita de contatos sexuais antes do casam ento” ,6 os que praticam atos sexuais ilícitos], para os sodom itas [homossexuais ativos, que fazem o papel de macho], para os roubadores de hom ens [seqüestradores ou traficantes de pessoas], para os mentirosos, para os perjuros [que proferem falso juramento] e para o que for contrário à sã doutrina, conforme o evangelho da glória do Deus bem-aventurado, que me foi confiado” (1 Tm 1.9-11 - informa­ções explicativas acrescentadas).

II - A GRAÇA SUPERABUNDOU A FÉ E O AMOR

1. Gratidão a DeusU m a das características marcantes no caráter de Paulo é o ser grato

a Deus (Rm 7.25; 1 C o 1.4; 14.18; 2 Tm 1.3). Ele expressa sua gratidão a Cristo por tê-lo escolhido e posto no ministério apostólico e pastoral, apesar de ter sido um terrível opositor do evangelho de Jesus, em sua vida pregressa (1 T m 1.12,13). E mais um a demonstração do que o “evangelho da graça de D eus” pode fazer na vida de um homem.

2. Humildade na Grandeza EspiritualJá fazia bastante tem po desde a conversão de Paulo ao evangelho

de Cristo, ocorrida de form a dram ática, no cam inho de D am asco. Ele não era mais um “novo convertido” ou “neófito” quando escre­veu suas cartas a T im óteo. Declara que “Esta é um a palavra fiel e digna de toda aceitação: que C risto Jesus veio ao m undo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1.15). N ão era falsa m odéstia. Ele tinha convicção de que fora salvo, mas ainda se considerava “o principal” dos pecadores. Certam ente, não era um a confissão de prática de pecados atuais. M as considerava que, m esm o na condição de salvo, ainda assim o crente deve considerar-se peca­dor. N ão mais um pecador praticante do mal, mas sujeito ao pecado em suas formas m uitas vezes as mais sutis.

6 Russell Norman CHAM PLIN. O Novo Testamento interpretado, versículo por versículo. Vol. 5, p. 284.

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É tão verdade isso, que a Palavra de Deus diz que “não há homem que não peque” (1 Rs 8.46; 2 Cr 6.36; Ec 7.20). O apóstolo João diz que “há pecado para morte” e há “pecado que não é para morte” (1 Jo 5.16,17).

III - UM CONVITE A COM BATER O BOM COMBATE (vv. 18-20)

1. A Boa MilíciaDepois de orientar Tim óteo sobre a difícil m issão de combater as

heresias na igreja de Éfeso, Paulo dá uma palavra de ânim o, encoraja­mento e incentivo ao jovem obreiro.

Num a atitude de um verdadeiro “pai na fé” (Tm 1.18). Paulo lembra a Timóteo que, em sua vida de obreiro, ele teve o respaldo de mensa­gens proféticas a seu respeito. Certamente, por meio do “dom de pro­fecia . Deduz-se, do texto, que as “profecias” eram tão consistentes que Timóteo deveria militar a boa milícia”, ou o bom combate, com base naquilo que Deus lhe falara. No seio da igreja cristã, os dons espirituais são usados como ferramentas ou instrumentos para o fortalecimento da fé dos crentes, no cumprimento da missão confiada por Cristo, ante os embates com as forças que a ela se opõem. Mas os dons, e em especial a profecia só têm valor se for genuína. “Se alguém falar, fale segundo as pala­vras de Deus...” (1 Pe 4.11). Pela experiência e as evidências incontestáveis na vida de Timóteo, o apóstolo concluiu que o plano de Deus na vida dele estava em pleno andamento, e ele deveria lembrar-se das “profecias que houve acerca” dele, a fim de saber conduzir-se na “boa milícia” que lhe fora confiada, “conservando a fé e a boa consciência” (1 Tm 1.19).

2. A Rejeição da Fé e suas ConseqüênciasA base ou o fundamento da “boa milícia” a que Tim óteo deveria

dedicar-se eram a fé e a boa consciência” cristã, de que o jovem obreiro era bem conhecedor. Essa “fé” é a “fé não fingida” (1 Tm 1.5), aliada à “boa consciência” a que Paulo já se referira (1 Tm 1.5). Sem essa base de caráter espiritual e esse respaldo doutrinário, seria temerário engajar-se numa luta contra as forças do mal que agiam na igreja. C om essa exor­tação, Paulo lembra que quem rejeitou esse fundamento naufragou na fé, não foi bem sucedido e fracassou em sua jornada. Foi muito forte sua

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admoestação. Ele diz que “rejeitando a qual alguns fizeram naufrágio na fé. E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1 Tm 1.19,20). Quem rejeita “a fé não fingida” e a “boa consciência” cristã colhe os resulta­dos de sua má escolha, e o resultado é o “naufrágio na fé”. Paulo toma como exemplo de obreiros que entraram por esse caminho Himeneu e Alexandre. Q uem eram esses maus exemplos de “falsos mestres”? Pou­co se fala deles no Novo Testamento. Q uanto a Himeneu, é citado em2 Tim óteo 2.17. N ão se sabe ao certo qual “doutrina” falsa ele semeava. Mas ele se encarregava de dissem inar “falatórios profanos” , ao lado de outro heresiarca, chamado Fileto (2 T m 2.17,18). Estudiosos dizem que eles eram representantes do gnosticismo no meio da igreja de Efeso.

C om relação a Alexandre, aliado de H imeneu na semeadura das falsas doutrinas, era tão pernicioso que Paulo o considera desviado ou “naufragado” na fé. Sua influência era tão maliciosa que o apóstolo os entregou “a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (1 Tm 1.20). Eram “os dois apóstatas” que estavam à frente do movimento herético, surgido no seio da igreja de Efeso, com o objetivo de prom o­ver dissensão e divisão naquela igreja. Esse tipo de falso obreiro pertur­bou tam bém a igreja em Creta, e Paulo tom ou a m edida de enviar Tito para fazer frente à ação predatória contra a igreja (Tt 1.10,11).

CONCLUSÃOO cristianismo não nasceu em “berço esplêndido” de condições fa­

voráveis à sua expansão pelo mundo. Pelo contrário. Nasceu debaixo de perseguição e confronto com heresias e ensinos desvirtuados. N a conso­lidação de igrejas abertas em suas viagens missionárias, Paulo teve que oferecer resistência e ação decidida contra os “lobos vorazes” que have­riam de surgir, até mesmo no seio das igrejas, como no caso da igreja de Efeso. Com a graça de Deus e o apoio de homens fiéis, como Timóteo e Tito, o apóstolo fez frente aos falsos mestres que se levantaram para pre­judicar o trabalho iniciado e desenvolvido em muitas igrejas. Na primeira epístola a Timóteo, Paulo designou o jovem obreiro para pastorear a igreja em Efeso, para conter a maré de heresias diversas, dentre as quais o gnosti­cismo e o judaísmo. Nos dias atuais, há muitas heresias infiltrando-se nas igrejas, ou surgindo no seio delas. Os líderes do povo de Deus precisam agir com sabedoria, graça e firmeza contra essas ameaças reais.

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Capítulo 3

A O ração e o C o m p o r t a m e n t o

C ristão no C ulto

O objetivo principal das cartas pastorais de Paulo a Tim óteo e a T ito era o combate aos falsos mestres, e a boa organização das igrejas e do ministério. Mas ele sabia que as igrejas precisavam de muito mais, além das recomendações objetivas. N o capítulo 2 de sua primeira carta a Tim óteo, ele começa orientando o jovem pastor acerca da necessidade premente e indispensável da oração.

A oração é tema de grande destaque na Bíblia. No Antigo Testamento, os homens de Deus venceram sob o manto da oração. Davi orava sempre (SI 55.16,17) e Daniel venceu na cova dos leões porque tinha reservas de oração (Dn 6.10). Esses dois exemplos indicam o valor extraordinário da oração fervorosa e sincera, diante de Deus.

Paulo exortou Tim óteo acerca da oração, dizendo que se deveriam fazer orações não apenas em m om entos de crise, ou por algumas pesso­as. Mas dever-se-ia orar “por todos os hom ens” (1 T m 2.1,2), incluindo os governantes, as autoridades. U m sábio conselho, sem dúvida alguma. A o que parece, as igrejas evangélicas, nos tempos atuais, têm-se esque­cido dessa oração “por todos os hom ens” . E mais comum ouvirem-se orações pela com unidade cristã; por suas atividades, na evangelização, no ensino, no discipulado. São orações legítimas e indispensáveis. Mas o alcance da oração da igreja cristã deve ultrapassar “as quatro paredes” dos templos, nas igrejas locais. Em lugar de um a oração individualista, os cristãos devem criar o costume de fazer orações altruístas. As autori­dades públicas, em todos os níveis, municipais, estaduais e federais, em nosso país, estão sob a influência das forças malignas, do materialismo, do relativismo e do hum anism o. Sem falar na ameaça com unista que paira sobre as nações latino-americanas. D aí porque temos o dever de seguir a orientação de Paulo: “[...] que se façam deprecações, orações,

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intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão em eminência, para que tenham os um a vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1 Tm 2.1,2).

I - ORAÇÃO POR TODOS OS HOMENS

1. Quatro Tipos de OraçãoCom o um excelente professor (didaskalos), Paulo transmite a seu dis­

cípulo ensinos acerca do valioso e indispensável recurso da oração. Ele sabia que a oração é o meio mais eficiente da comunicação com Deus. N o Pai Nosso, Jesus ensinou a orar de m odo altruísta, e não individualis­ta: “Pai nosso” , e não “meu Pai”; “venha a nós”, e não “a mim” ; “o pão nosso” e não “meu pão”; “nos dá hoje” , e não “me dá hoje” ; “perdoa as nossas dívidas” , e não “as minhas dívidas”; “não nos deixeis cair” , e não “não me deixe cair” . O Mestre Jesus não só ensinava, mas praticava a oração. Paulo também não vivia da teoria. Vivia o que ensinava. Não nos esqueçamos de que ele estava escrevendo a Timóteo, mas seu alvo era a igreja de Éfeso. A igreja local, no sentido coletivo.

C om o bom discípulo de Jesus, Paulo tam bém ensina que se deve orar “por todos os hom ens” . Poderia ter ficado nessa admoestação, e já teria alcançado seu objetivo, m ostrando a T im óteo que é necessário não excluir ninguém nas orações da igreja local, ou seja, da oração co­munitária. N a oração individual, o crente pode tom ar tempo orando por si, por seus problemas, por sua família. M as na oração da igreja, esta deve voltar-se para a oração “por todos os hom ens” . M as além de referir-se a “todos os hom ens” , Paulo ressalta a im portância de a igreja orar pelas autoridades constituídas, de um a forma ou de outra, com permissão de Deus. C om o tudo indica que a heresia que mais perturbava a igreja em Éfeso era o gnosticismo, Paulo se contrapôs à sua visão acerca dos homens. Para os gnósticos, a maioria dos hom ens não merecia nada a não ser a destruição total. Conform e C ham plin1, eles ensinavam que havia três tipos de hom ens: os “hylikoi” , ou homens “materiais” , que só valorizavam a matéria, que é má, e seriam destruí-

1 Russell Normam CHAMPLIN. O Novo Testamento interpretado - versículo por versículo, vol. 5, p. 294.

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A O r a ç ã o e o C o m po r ta m en to C r istã o n o C u lt o | 3 3

dos com ela; os “psychoi” , ou “meio-espirituais” , que não teriam alcan­çado a iluminação mística — esses poderiam ser redimidos, mas em níveis inferiores; e, finalmente, os “pneumatikoi” , ou seja, “os espiritu­ais” , que possuíam os conhecimentos “m ísticos” ou “gnosis” (de onde vem o termo gnosticismo), e seriam de nível espiritual muito elevado e glorioso, os plenamente salvos, na com unhão com Deus. Por esses seria necessário orar. Mas, pelos outros, “os materiais” , ou a m aioria dos homens, não faria sentido.Ante essa visão deturpada dos homens, Paulo diz a T im óteo que se deve orar “por todos os hom ens” e “pelos reis e por todos os que estão em eminência” (2.2). Assim , Paulo exorta a fazer quatro tipos de oração:

1) “Deprecações”O termo (gr. deesis) significa “suplicar, implorar, rogar por” alguém

ou alguma coisa (Dicionário Houaiss). D á a entender um tipo de oração que é feita com o intercessão a Deus por todos os homens, de m odo ardente, dramático, compassivo.

2) “Orações”Alguns estudiosos entendem que Paulo usava os termos como

sinônim os, não havendo necessidade de se especificar quatro tipos de oração. M as nos parece mais interessante fazer essa distinção didática para efeito de destacar alguns aspectos importantes, visto que, no original grego, as palavras empregadas são diferentes. “O rações” (gr. proseuche) refere-se ao termo com um para as orações em geral. Sejam de súplica, de louvor, de intercessão, etc.

3) “Intercessões”Tem o sentido de “intervenção, mediação, interferência, intermé­

dio” (Dicionário Houaiss). Do grego enteuxis, significando “apelar para”, ou intercessões em geral, que se fazem em favor de alguém.

4) “Ações de graça ”Vem do termo grego eucharistia. A expressão é autoexplicativa,

denotando orações em que a pessoa expressa sua gratidão a Deus por bênçãos recebidas, ou até por coisas adversas. Por isso, Paulo diz:

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“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Ts 5.18; E f 5.20). Daí, porque não concordam os com a ideia de que os quatro termos aqui usados são apenas sinôni­mos. Q uem presta “ações de graça” não roga ou suplica. M as agradece e louva. Toda súplica é uma oração, mas nem toda oração é um a súpli­ca; toda intercessão é oração, mas nem toda oração é um a intercessão; toda ação de graças é oração, mas nem toda oração é ação de graças.

Essas orações devem ser feitas “por todos os hom ens” e “por todos os que estão em eminência” , tendo em vista um objetivo m uito im­portante, na visão de Paulo: “para que tenhamos um a vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” . Paulo foi realista nessa admoestação. A igreja é espiritual, instituição divina, mas vive no meio social, político, hum ano. E não pode isolar-se da realidade em sua volta. Ele sabia que, mesmo os cristãos, só podem ter “uma vida quieta e sossegada” se o contexto em que vivem tem estabilidade social e po­lítica, se houver segurança, ordem e respeito aos direitos das pessoas.

2. A Salvação de Todos — a Vontade de DeusPaulo não se esquecia da m issão prim ordial da igreja: a proclama­

ção do evangelho de Cristo para a salvação dos hom ens (1 T m 2.4). Esse é o desejo divino: a salvação da humanidade. Mas essa salvação não é automática, nem incondicional. Pelo contrário. Ela requer a resposta do homem, detentor do livre-arbítrio, como ser criado à “imagem” e “semelhança” de Deus. Deus “amou o m undo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” para morrer pela salvação do homem, mas só se torna eficaz para “todo aquele que nele crê” (Jo 3.16).

Deus quer que “todos os homens se salvem” ao mesmo tempo em que “venham ao conhecimento da verdade”. O u seja, da verdade do evangelho, da verdade de Cristo. N o mundo, atualmente, calcula-se que haja cerca de 40.000 religiões, seitas ou movimentos religiosos, de todas as origens, credos, crenças, filosofias, doutrinas, etc. E cada uma dessas “religiões” diz possuir “a verdade”. A maioria delas não crê em Deus, no Deus da Bíblia, Criador do universo e do homem. Crê em “deuses” e “deusas”, em “entidades” ditas espirituais. E, no meio desse emaranha­do de “verdades” , o homem está perdido, sem saber quem é, de onde veio e para onde vai. Isto é: totalmente perdido.

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A O r a çã o e o C o m po r ta m en to C r istã o n o C u lt o | 35

Só há salvação em Cristo, que é “a verdade” e não um a verdade. Essa é a motivação por que Paulo exorta à oração universal, “por todos os hom ens”. Nunca ela foi tão necessária. A humanidade do século XXI está perdida. Apenas 1/3 dos habitantes do planeta diz crer em Deus. O u que é cristão. N o entanto, nessa pequena parte dos homens, ape­nas “poucos, escolhidos” (Mt 22.14). A razão por que os salvos sempre foram, e serão, a minoria, no mundo, é que, para isso, os homens preci­sam entrar pela porta estreita: “E porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem” (Mt 7.14). Para que orar pelos homens, se já está previsto que “poucos” serão os salvos? Exatamente por isso, para que esse pequeno número seja alargado, au­mentado, em sua proporção em relação à humanidade.

Paulo sabia e ensinou a T im óteo que a salvação não é alcançada por meio de qualquer deus ou deusa, como os gnósticos ensinavam. Disse ele: “Porque há um só Deus e um só m ediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tem po” (1 Tm 2.5,6). Essa declaração é fundam ental no plano da salvação. “Há um só D eus.” O D iabo tem feito tudo para tirar Deus da mente dos homens, ou afastá-lo deles. M as a Bíblia é clara quanto à revelação que Deus fez de si m esm o à hum anidade.

“Deus, em sua infinitude, é incompreensível à mente finita do ho­mem. [...] Mas Ele mesmo resolveu revelar-se ao homem. Por intermédio de Cristo, em seu amor, Deus enviou o que de melhor se pode conhecer a seu respeito: “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). E possível conhecer Deus, por meio da revelação, mas de m odo limitado, pois o finito não pode abarcar aquEle que é infinito.

A salvação é para todos, pois essa é a “vontade de D eus” . M as só se­rão salvos os que aceitarem a dádiva de Deus em Cristo Jesus. “Ouvin­do a pregação do evangelho, o pecador só tem duas atitudes: crer ou não crer. N ão há um meio termo em relação a isso. Se crer, de acordo com a Palavra de Deus, será salvo. [...] Q uem crê, ouvindo a Palavra, a pregação do evangelho, que Jesus Cristo é o único Salvador, “não é condenado” . É salvo, portanto. Quem , ouvindo a Palavra, não crê que Jesus Cristo é o Salvador, “já está condenado, porquanto não crê no

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nom e do unigênito Filho de D eus” .2 E Paulo expressa sua convicção quanto à chamada para ser ministro do evangelho em 1 T im óteo 25.7.

3. A Oração com Santidade e PazEra costume, em tempos passados, em diferentes religiões, mesmo

entre pagãos, os fiéis orarem com as palmas das mãos voltadas para cima, num sinal reverente de fé para receber o que desejavam (1 Tm 2.8). Mas para muitos, como os fariseus, os gestos eram apenas formalidades, que encobriam a hipocrisia e as iniquidades. Paulo quis admoestar que os atos exteriorizados, nas orações, só teriam valor diante de Deus, se refle­tissem a realidade interior de cada suplicante. Era necessário orar, “em todo o lugar” , com “mãos santas” , isto é, com prática de santidade em todo o seu viver. Oração sem santidade não tem valor para Deus.

Além das “mãos santas” , quem ora a Deus não pode ter o coração cheio de ira e de contenda. O crente pode irar-se, mas não tem o direi- to de pecar por estar irado. “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26). Costum am os dizer que o cristão só pode ficar irado, com razão, até o fim da tarde, até o pôr do sol. N ão deve guardar ira, mágoa ou ressentimento em seu coração. Se o fizer, sua oração não será ouvida. A “ira” é um a das “obras da carne” (G1 5.20). O cristão pode irar-se ou revoltar-se contra o mal, contra o pecado, contra as injustiças, contra a iniqüidade. M as não dever guardar a ira contra um irmão (Mt 5.23,24).

Q uanto à contenda, é atitude mental que não condiz com o servo de Deus. É coisa de hom em perverso (Pv 16.28); o tolo é o que se mete em contenda (Pv 18.6); a contenda separa os melhores amigos (At 15.39). Deus não se agrada de pessoas que vivem provocando con­tendas ou se entremetendo nelas.

1 1 -0 TRAJE DAS MULHERES CRISTÃS

Nas instruções de Paulo a T im óteo, para a igreja em Efeso, no­ta-se um a m udança rápida, que parece não ter nada a ver com o texto antecedente. N o versículo 8, Paulo fala do com portam ento dos

2 Elinaldo Renovato de LIMA. Salvação e milagres — o poder do nome de Jesus, p. 73.

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“hom ens” , relativo à m aneira de orar em público. D e m odo aparen­tem ente desconexo, o apóstolo passa a exortar acerca do com porta­m ento das mulheres cristãs, no que tange ao seu vestuário, adentran­do num terreno polêm ico dos “usos e costum es” (1 T m 2.9,10). A expressão “do m esm o m odo” faz a ligação entre o que Paulo ensinava sobre a oração pelos hom ens, indicando que as mulheres tam bém deveriam orar com o m esm o cuidado (com “m ãos santas, sem ira nem contenda” . E acrescentou o cuidado que elas deveriam ter com seus trajes, na reunião cristã. A ssim , os hom ens estão incluídos no contexto de suas recom endações pastorais.

O s trajes das mulheres não cristãs não eram nada recatados. Vestidos de seda, finíssimos, atraíam os olhares dos homens para o corpo das mulheres, que não usavam qualquer vestimenta íntima, exibindo toda a sua sensualidade. Grande parte das mulheres cristãs era oriunda da­quele ambiente mundano. Paulo escreveu que as mulheres cristãs devem ataviar-se ou vestir-se “em traje honesto, com pudor e modéstia, não com trancas, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos” (2.9). Ataviar-se vem do termo grego kosmeo, que tem o significado de “adornar-se” , “tor­nar atrativo” . Reflete o desejo natural da mulher de embelezar-se (desse termo, vem a palavra cosmético). Desde que esse desejo seja moderado, decente e sujeito à simplicidade ensinada por Cristo (Mt 10.16), não há qualquer recriminação com base na doutrina cristã.

1) Traje honestoÉ sinônimo de decoroso, decente (gr. katastole), com sobriedade, ou

simplicidade. O traje da mulher cristã deve ser diferente de vestes usadas por mulheres ímpias, que não têm temor de Deus. U m traje honesto quer dizer traje que revela o caráter de quem o usa. Depois da Queda, no Éden, a primeira providência de Deus foi cobrir o corpo do homem e da mulher. N a contramão de Deus, Satanás procura descobrir o que Deus cobriu em público. Infelizmente, muitas mulheres cristãs não valorizam esse aspecto da santidade do corpo, que deve ser “templo do Espírito Santo” (1 C o 6.19) e não objeto de exibição sensual ou carnal.

2) Traje com pudorPudor tem o sentido de “recato, vergonha, modéstia, seriedade” (Di­

cionário Houaiss). “Sentimento de vergonha; sensação de mal-estar e de

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timidez que podem ser provocadas por algo contrário aos bons costumes (inocência)” .3 As definições do léxico demonstram de m odo claro o que deve ser um “traje com pudor”. O ensino de Paulo à igreja em Efeso, por meio de Timóteo, é de uma atualidade desconcertante. Aplica-se como um a luva ao que está acontecendo em muitas igrejas locais.

3) Traje com modéstiaModéstia significa “simplicidade, singeleza, despretensão”. Paulo se

referia a esses sentidos para a modéstia nos trajes femininos. Além de ter honestidade (verdadeiro) e pudor (recato), o traje da mulher cristã deve ser “honesto”, com singeleza e simplicidade. O u seja, sem exibicionis­mo, sem chamar a atenção para quem os usa. Calvino, um dos grandes reformadores, do século XVI, dizia: “Onde a cobiça reina no íntimo, não haverá modéstia nas vestes exteriores” . Acrescenta ainda: “A vesti­menta de uma mulher piedosa tem de ser diferente das vestes de uma prostituta, se a piedade tem de ser provada pelas obras, a verbalização de ser crente também precisa ser visível em vestes decentes e apropriadas” .4

III - A MULHER NA IGREJA EM ÉFESO

1. A Submissão ao Esposo e o Silêncio no CultoNa seqüência da carta a Timóteo, Paulo se refere à posição da mulher

na igreja local, em Efeso, certamente em vista de fatos observados na­quela igreja, que sofria as influências do mundanismo e do materialismo grego. Seu ensino deve ter sido bem compreendido e aceito, no período neotestamentário. Nos dias presentes, em meio a um m undo relativista, humanista e hedonista, sem dúvida, o ensino paulino encontra muita resistência, críticas e polêmicas quanto ao papel da mulher e sua postura na igreja local. Ele escreveu: “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. N ão permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autori­dade sobre o marido, mas que esteja em silêncio” (1 T m 2.11,12).

Esse é um dos textos mais polêmicos e criticados das epístolas pau- linas. Mais polêmico que esse só o texto em que Paulo ensina que “as

3 Dicionário Online em Português.4 “O Figurino Bíblico, Modéstia e Bom Senso”. Disponível em http://volte- mosasraizes.blogspot.com.br. Acesso em 27 de novembro de 2014.

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mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei” (1 C o 14.34). N o con­texto histórico e cultural da igreja em Éfeso, a realidade do ambiente eclesiástico certamente era bem diferente do que vemos em nossos dias. Naquela sociedade oriental, uma mulher não poderia aparecer em pú­blico. Cham plin diz que “Extremamente poucas mulheres freqüenta­vam escolas ou aprendiam a ler e escrever” .5 N a sinagoga, as mulheres jamais tinha oportunidade para falar e muito menos para ensinar. Foi para uma igreja inserida nesse ambiente que Paulo escreveu tão estranha admoestação às mulheres. N ão se deve aplicar esse preceito de m odo li­teral às mulheres cristãs, de todas as igrejas, pois o evangelho da graça de Deus é inclusivo no sentido do culto ou da adoração a Deus. Concluir que todas as mulheres, no culto cristão, devem ficar mudas, seria uma interpretação fora de contexto. Se fosse verdade, somente os homens poderiam cantar, orar ou glorificar a Deus em alta voz, como acontece normalmente, nos cultos das igrejas cristãs.

A submissão da mulher ao seu marido é preceito cristão. Doutri­nando aos cristãos de Éfeso, Paulo foi bem explícito sobre esse aspecto do relacionamento entre os cônjuges cristãos. “Vós, mulheres, sujeitai- vos a vosso marido, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si m esmo se entregou por ela” (E f 5.22,23,25). Nesse texto, temos um a recomendação de caráter mais abrangente do que a que foi escrita a Tim óteo, em sua primeira carta.

Ali, as recomendações eram bem particulares para as mulheres da igreja de Éfeso. N o texto de Paulo aos efésios, podemos depreender que se trata de um a exortação às mulheres cristãs em geral. Ele demonstra que a submissão da mulher ao esposo tem um caráter espiritual e social.

Deve-se ressaltar que a subm issão da esposa ao esposo não se deve à pretensa superioridade do hom em sobre a mulher. D e forma algu­ma. A partir do casal, forma-se o grupo social que dá origem à fam í­lia. A boa ética da adm inistração de grupos indica que é necessário a definição de quem é o líder de um grupo. Sem líder não se tem um

5 Norman Russell CHAMPLIN. O Novo Testamento interpretado — versículo por versículo, p. 303.

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“grupo” , mas um “ban do” , sem ordem , sem direção, sem objetivos. O m arido é o líder, na recom endação bíblica. M as não é o dono da m ulher nem o dono da fam ília. Só merece a subm issão da esposa se ele se com portar de m odo legítimo e correto, sob os ditam es dos pre­ceitos cristãos. A esposa cristã, portanto, deve submeter-se ao esposo, tom ando com o referência a subm issão da Igreja a Cristo, “com o ao Senhor” . De igual m odo, essa subm issão tem que ser consciente, am orosa e por obediência à Palavra de Deus.

2. As Mulheres no Novo TestamentoC risto , em seu m inistério terreno, teve a cooperação de diversas

m ulheres, que atuavam ao seu lado com o obreiras a serviço do R eino (Lc 8.1-3).

Hoje, há um a participação m aior das mulheres nas igrejas, onde ocupam posições jam ais imaginadas em tempos passados. As m u­lheres podem assum ir importantes funções eclesiásticas, m esm o que não façam parte de cargos e funções no ministério regular, em que os ministros e obreiros em geral são adm itidos mediante ordenação ou consagração. H á igrejas que ordenam mulheres ao ministério; outras, não aceitam essa ordenação, por não encontrarem respaldo claro nas Escrituras. De qualquer forma, no cristianismo, a mulher deixou de ser um a cidadã de segunda ou terceira categoria.

M esm o considerando o contexto cultural de sua época, o ensino de Paulo tem grande significado quanto ao com portam ento fem ini­no nas igrejas locais, extensivos, sem dúvidas, tam bém , aos hom ens. O apóstolo tinha em mente que, na Grécia, o culto pagão era por excelência m isturado com práticas e rituais libertinos. Havia cultos a deuses do panteão grego, em que os fiéis praticavam atos sexuais no recinto das reuniões. N o culto a Afrodite, a “deusa do am or” , as sacerdotisas eram conhecidas com o “prostitutas sagradas” . Elas tinham relações com rapazes, em troca de ofertas, no levantam ento de fundos para os templos.

N aquele am biente cultural, m uitas mulheres se convertiam a Cristo, com seus m aridos, ou não, e gostariam de representar um pa­pel de liderança e hegem onia no culto cristão. Paulo constatou que havia mulheres “néscias, carregadas de pecado” (2 T m 3.6). Por isso,

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A O r a ç ã o e o C o m po rta m en to C r istã o n o C u lt o | 41

é possível que Paulo tenha resolvido doutrinar a respeito do traje das m ulheres, nas reuniões solenes ou no culto público. E m inistrou um a das m ais oportunas e consistentes doutrinas acerca do traje cris­tão, com o foi visto no item 1.

C om o nos referimos a 1 Coríntios 14.34, em que Paulo ensina que a mulher deve estar calada na igreja, devemos entender que Paulo escrevia à igreja em Corinto, na Grécia. M as o texto demonstra que o culto em Corinto sofria as influências dos costumes ou da cultura da

época e do lugar.N ão deve ser tom ada ao pé da letra, visto que Paulo valorizou, e

muito, o trabalho das mulheres na Igreja Primitiva. E enaltece o traba­lho várias mulheres, como: Febe, Priscila (líder), Maria, Júnia, Trifena, Trifosa, Pérside, Júlia, Olim pas. (Ver Rm 16.1-15) Essas mulheres eram cooperadoras fiéis e muito ativas. N ão poderiam permanecer silentes ou m udas, servindo ao Senhor.

CONCLUSÃON o trecho da primeira carta de Paulo a Tim óteo, ora em estudo,

vemos preceitos significativos não só para a igreja em Éfeso, mas para toda a igreja cristã, em todos os tempos. N o que tange à oração, não resta qualquer dúvida quanto à aplicação dos ensinos paulinos a todos os crentes, em qualquer época. Em qualquer lugar ou em qualquer tempo, devemos fazer súplicas, intercessões e ações de graças diante de Deus. N o que concerne ao com portam ento cristão, Paulo deu um destaque incisivo quanto à postura das mulheres, especialmente às ir­mãs de Éfeso, tendo em vista o contexto liberal e lascivo do ambiente em que viviam antes da conversão. M as os preceitos comportam entais às mulheres cristãs podem ser aplicados aos homens, pois Deus não discrimina ninguém, nem faz acepção de pessoas (D t 10.17), quando

estas se submetem à sua vontade.

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Capítulo 4

A F u n ç ã o d o s B is p o s

e D iá c o n o s

Este comentário volta-se para as atribuições ou funções respectivas dos bispos e diáconos, com base na visão que o apóstolo Paulo teve da organização eclesiástica, na igreja em seus prim órdios. Sem dúvida, ele estava orientando T im óteo sobre com o lidar com um a igreja que não tinha um m odelo organizacional definido. A História da Igreja indica que, no princípio, a igreja ia-se im plantando, e organizando-se de acor­do com a realidade de cada local. Era um desafio imenso organizar uma instituição que crescia rapidamente, agregando novos membros, sem que houvesse um a liderança preparada para tal realidade.

O s bispos ou presbíteros assumiam função de supervisores da obra, enquanto os diáconos os auxiliavam nas diferentes atividades que a igre­ja local demandava. E não eram poucas.

A exortação de Paulo reveste-se de grande significado. O s bispos eram pastores que cuidavam de todo o rebanho que lhes fora con­fiado pelo Espírito Santo. O verbo apascentar é emprestado da ativida­de pastoril, em que os pastores alimentavam as ovelhas e outros animais que necessitavam de alguém que deles cuidassem. Apascentar a Igreja de Deus” não é qualquer tarefa comum, nem confiável a qualquer um que aspire uma função de liderança na igreja. Por isso, ante a confusão que reinava na igreja de Éfeso, em meio à disseminação das heresias gnósticas, Paulo doutrinou sobre as funções ou qualificações dos bispos e dos diá­conos. Ele tinha em mente a necessidade de haver ordem na igreja e no culto cristão, a necessidade de ordem no culto (1 C o 14 26.40).

Paulo tinha um a visão de adm inistração eclesiástica. Ele sabia que só pode haver decência e ordem se houver organização. E a organiza­ção exige liderança. N o Novo Testam ento, a palavra bispo tom a em­prestado o sentido que lhe é dado na área da adm inistração. B ispo é

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supervisor, adm inistrador. É um líder da organização. O pastor de um a igreja local tem essa função de m ordom o dos bens espirituais e m ateriais da C asa do Senhor.

0 bispo ou pastor de uma igreja local, além de cuidar dos bens espirituais, é o adm inistrador dos bens materiais, do patrim ônio ad­quirido pela com unidade que se congrega ao seu lado.

A função de pastor é eminentemente espiritual. É o hom em a quem Deus confia o cuidado das almas que fazem parte da igreja local, vi­sando prepará-las para, um dia, chegar ao céu, ao encontro do Senhor Jesus Cristo. M as não pode esquivar-se da administração dos bens ma­teriais da igreja local. Com relação aos diáconos, o Novo Testamento nos mostra que sua origem deveu-se às necessidades sociais da igreja nascente. “O crescimento vertiginoso trouxe diversos problemas. En­tre os conversos, havia pessoas de outros lugares, além de judeus. Os problem as não tardaram a surgir. O evangelista Lucas, escritor de Atos dos Apóstolos, registrou o que ocorria naqueles dias, quando a comu­nidade cristã cresceu grandemente e surgiram diversos problemas, in­clusive de ordem social (cf. A t 6.1-7). E os líderes da Igreja resolveram reunir a assembleia e buscar a solução para o atendim ento social aos irmãos carentes. A tarefa era um grande desafio. O u eles cuidavam da evangelização e do discipulado, ou cuidavam da parte social” 1.

1 - QUEM DESEJA O EPISCOPADO

1. Excelente ObraEsta é um a palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente

obra deseja” (1 T m 3.1). A expressão “um a palavra fiel” sem dúvida alguma é uma declaração positiva em relação à aspiração que alguém possa ter, desejando assum ir tão grandes e sérias responsabilidades, no ministério ordenado, na igreja cristã. Em sua missiva a Tim óteo, Paulo assevera que almejar o “episcopado” ou o pastorado é desejar uma obra excelente. O episcopado é o conjunto de funções ou atividades dos bispos ou presbíteros. G ordon Fee afirma que “o cargo de presbí­tero (episcopado) é questão sobrem odo significativa, um a “excelente obra” , que deveria ser, na verdade, o tipo de tarefa à qual um a pessoa

1 DE LIMA, Elinaldo Renovato. Dons espirituais e ministerais, p .140.

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A F u n ç ã o d o s B ispo s e D iâ c o n o s | 45

podia aspirar” .2 Imaginemos o que significava ser um líder da comu­nidade cristã, nos primeiros séculos de sua história. Tudo era novo, desafiador, relevante e às vezes impactante. N um a sociedade em que havia pouquíssim as classes sociais, ser líder de um a com unidade era posição por demais honrosa e de grande responsabilidade e significân- cia. Por isso, não houve exagero nas palavras de Paulo em considerar o episcopado excelente aspiração.

2. A ChamadaSe, hoje, quando há tantos obreiros aspirando ao ministério, ser

um bispo ou presbítero é considerada oportunidade valiosa para quem deseja servir a Deus, à época de Paulo, tinha muito mais significância. Isso porque ter um a função de liderança na obra do Senhor não é para qualquer um. O “candidato” ao episcopado pode desejá-lo, e isso não é nada estranho. M as, para assumi-lo, é necessário, antes de qualquer requisito, ter a “chamada específica” da parte de Deus. Aquela convo­cação pode ser interior, por meio da voz de Deus falando ao coração, ou de outras formas externas, como veremos a seguir. O episcopado não deve ser fruto de acordos e arranjos ministeriais, por amizade, família ou condição social ou financeira. Deve ser resultado de um relacionamento sério com Deus, o dono da obra. Paulo foi chamado desde o ventre (G1 1.15). Nem todos são chamados assim. M as quem é chamado, não só tem a convicção da chamada, mas apresenta um perfil que agrada a Deus. N ão há um a única forma da chamada.

1) Chamada diretaEla ocorre, quando Deus chama a pessoa e, diretamente, lhe dá

consciência íntima da m issão a ser cumprida. Por exemplo: Abraão (Gn 12.1,2); Isaque (Gn 26.1,2); Jacó (G n 31.3); M oisés (Êx 3.10). No Antigo Testamento, via de regra, era essa a forma da chamada. Nos dias atuais, ainda é possível ouvir esse tipo de chamada? Certam ente, sim. Em sua soberania, Deus se vale dos meios e formas que quiser usar para convidar, ou convocar, alguém para a sua obra.

2 Gondon D. FEE. Novo comentário bíblico contemporâneo. 1 & 2 Timóteo e Tito, p. 90.

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2) Chamada indiretaOcorre quando Deus chama alguém por intermédio de um pro­

feta, como no caso de Arão (Êx 4.13-16); Josué (Nm 27.18-23); por intermédio de Jesus, no caso dos apóstolos (Mt 10.1-6); por meio da igreja, como M atias (At 1.23-26); Barnabé e Saulo (At 13.1,2), etc. O que “deseja o episcopado” deve ter a hum ildade e a serenidade para esperar que Deus confirme sua chamada, de m odo direto ou por meio da igreja local, onde há líderes com issionados por Deus, com delega­ção de autoridade para separar ou consagrar obreiros para o ministé­rio. N ão deve lançar-se como um aventureiro em busca de cargo ou de prestígio pessoal. O ministério é sacerdócio e muitas vezes é sacrificial.

3) A convicção da chamadaSeja de modo direto ou indireto, é fundamental que o obreiro tenha

a convicção de que é chamado por Deus e não pelos homens. Paulo tinha essa convicção (Ver 1 C l 1.1; G1 1.1; 1 T m 1.1). A convicção da chamada dá segurança. Se o obreiro vai bem, o trabalho prospera, ele pode dar graças; se surgem problemas, oposições, críticas, ele pode chegar com confiança diante do Senhor e reivindicar sua intervenção e ajuda, pois está ali porque sabe que foi chamado e enviado.

4) A chamada e o envioEntre o tempo da chamada e o tempo do envio de um obreiro, há

intervalos os mais diferentes. H á pessoas que são chamadas e enviadas imediatamente. Jonas foi chamado e enviado de imediato, ainda que não obedeceu (Jn 1.1,2); os apóstolos foram chamados, mas só foram enviados após aproximadamente algum tempo de aprendizado com Jesus (Mt 10.16; Mc 6.7; Lc 10.1). O caso de Paulo é significativo: foi chamado (At 9.4,6,15), mas não foi reconhecido logo (At 9.26); teve a ajuda de Barnabé (At 9.27), ficou na igreja em Antioquia (At 13.1), e só começou a atuar quando foi enviado pelo Espírito Santo (At 13.4). H á chamadas para o envio de obreiros, e há chamada de Deus para um a missão, cargo ou função, na igreja local. Fato muito comum, em todas as igrejas cristãs.

Diante de todos esses requisitos, o bispo ou líder de um a igreja precisa reconhecer que é Deus quem dá a liderança à igreja, mas não dá igreja a nenhum líder. A Igreja é dEle: “E ele m esm o deu uns para

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apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de C risto” (Ef 4.11).

II - ATRIBUIÇÕES E QUALIFICAÇÕES DOS BISPOS E DIÁCONOS (3.1-13)

1. Atribuições dos Bispos (1-7)Considerando a im portância e a amplitude do episcopado, Paulo

discriminou um a lista de qualificações e atribuições dos bispos, presbí­teros ou pastores, líderes da igreja local. E indispensável compreender­mos que qualidades ou qualificações deve ter aquele que é chamado por Deus para exercer funções tão importantes na obra do Senhor.

Para alcançar a posição de um bispo, presbítero ou pastor, o as­pirante ao episcopado necessita conhecer quais atribuições e qualifi­cações precisa ter e desenvolver ao longo de sua vida ministerial. N o texto de 1 Tim óteo 3.1-7, vemos algumas qualificações, que podem ser resumidas num conjunto de indicações, que por sua vez podem ser divididas em três grupos:

1.1. Qualificações espirituais e ministeriais1) Ter condições de pregar a Palavra de Deus, sendo “apto aensinar” (3.2 ; 2 Tm 2.1);2) Ter bom testemunho diante da igreja e dos descrentes (3.7);3) N ão ser neófito, novato, inexperiente (3.6);4) Ser vigilante, atento ao que se passa ao seu redor (3.2);5) Saber depender de C risto para cumprir a m issão (Jo 15.5;Fp 4.13).

1.2. Qualificações familiares1) Ter vida conjugal ajustada, ser “marido de um a m ulher”(3.2); não só isso, mas amar a esposa, “com o Cristo am ou aIgreja e a si mesmo se entregou por ela” (E f 5.25);2) Dem onstrar que governa bem sua família (3.4);3) Ter autoridade sobre a esposa (Ef 5.23);4) Ter autoridade sobre os filhos (3.4,5).

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1.3. Qualificações morais e emocionais1) Ser “irrepreensível” (3.2), que não pode ser acusado dealgo que desabone sua conduta;2) Ser honesto, sincero, verdadeiro (3.2);3) Ser “hosp italeiro” , ou acolhedor, que sabe tratar bem aspessoas (3.2);4) “N ão dado ao vinho”, não usuário de bebidas alcoólicas (3.3);5) “N ão espan cador” , ou seja, não violento, agressivo (3.3; G1 5.22);6) N ão cobiçoso nem ganancioso (3.3);7) Ser “sóbrio” (3.2), sim ples, m oderado (3.3);8) “N ão con tencioso” (3.2; 2 T m 2.24); 9) “N ão avarento”(3.3; 6.10).

2. Atribuição dos Diáconos — a Diaconia (8-13)O ministério ou serviço dos diáconos (gr. diakonia) surgiu a partir

de uma bênção, de um problema e de um a murmuração. A bênção foi o crescimento extraordinário dos que criam em Jesus e o aceitavam como Salvador, deixando o judaísm o e outras religiões e tornando-se cristãos. O problema foi causado pela situação social de m uitos que aceitavam a fé, especialmente envolvendo viúvas dos gregos ou gen­tios, que aceitavam o evangelho. A murmuração foi a reclamação desses, que se julgavam discrim inados pelos líderes da igreja em relação ao atendim ento de suas necessidades básicas (cf. At 6.1-7). O s diáconos tiveram papel muito honroso na igreja em seus prim órdios. O s bispos e os diáconos eram líderes da igreja. Paulo usou o termo diáconos como favorito para si e para seus cooperadores (cf. Rm 16.1; 1 C o 3.5 — “mi­nistros” ; C l 1.23 — “m inistro” ; C l 4.7 — “fiel m inistro”). Todos esses termos correspondem a “diácono”.

Além das qualidades exigidas em Atos 6.1-7, Paulo indica outros im­portantes requisitos para o diaconato. A pós enumerar as qualificações para bispo ou presbítero, Paulo aproveita o ensino para discorrer sobre as qualificações dos diáconos ou ministros que serviam nas igrejas. E o faz de m odo imediato, sem lacuna ou pausa em sua ministração, di­zendo que os diáconos, “da mesma sorte” que os bispos ou presbíteros, deveriam ter as seguintes qualificações (1 Tm 3.8-10,11-13), que têm o

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mesmo sentido espiritual, moral e eclesiástico do que é exigido para os bispos, mas com alguns requisitos específicos:

2.1. Qualificações morais1) Serem honestos (3.8);2) Hom ens de palavra, “não de língua dobre” (3.8);3) N ão sejam usuários de bebida alcoólica (3.8);4) N ão sejam cobiçosos ou gananciosos (3.8).

2.2. Qualificações espirituais e familiares1) Q ue saibam guardar “o mistério da fé em um a pura cons­ciência” (3.9);2) Serem provados, no seu viver e trabalho, e serem irrepre­ensíveis (3.10).3) As mulheres (diaconisas) devem ser “honestas, não maldi- zentes, sóbrias e fiéis em tudo” (3.11);4) Sejam hom ens fiéis a suas esposas (3.12);5) Q ue saibam ser líderes em sua casa, e “e governem bem seus filhos e suas próprias casas” (3.12).

III - SERVIÇO — A BASE EVANGÉLICA PARA EXER­CER O MINISTÉRIO

1. 0 Serviço CristãoTodo cristão é chamado para ser servo de Deus. Com o tal, sua

atividade e m issão deve ser contribuir com sua vida, seu testemunho e seu serviço para o engrandecimento do Reino de Deus. Paulo enfa­tizou o trabalho dos diáconos, chamando a atenção para aqueles que se comportam à altura da função diaconal (1 Tm 3.13). As tarefas do servo (diáconos) chama-se diakonia, que inclui as diversas atividades desem penhadas junto à com unidade cristã, visando à sua organização e cumprimento da missão que Cristo confiou à sua Igreja. N o sentido amplo, todo crente é um diácono, pois ninguém deixa de ser “servo” pelo fato de galgar ou ser levado a funções ministeriais de maior res­ponsabilidade. U m presbítero continua sendo servo; um evangelista ou pastor não deixa de ser servo no Reino de Deus.

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A palavra diácono “tam bém quer dizer um servo ou um ‘m inistro’ . Para a nossa cultura eclesiástica, parece difícil admitir que um diácono seja um ministro. N o seu significado etimológico, essa palavra tanto se refere a um servidor subalterno, que trabalha como servo de um senhor, com o a “um assistente, um discípulo (Jo 12.26); a ministros, mestres das coisas de Deus e que atuam em favor de Deus (1 C o 3.5;2 C o 3.6; 11.23; E f 6.21; 1 Ts 3.2)” .3 “Em especial, um a referência a um mestre ou pastor cristão (em sentido técnico, um diácono ou dia- conisa): diácono, ministro, servo ... Substantivo com o significado de ‘ministro’, ‘servo’ , ‘assistente’.”4

2. 0 Exemplo de Jesus como ServoJesus Cristo foi exemplo para a Igreja em todos os aspectos. Em

sua diaconia, Ele foi “apóstolo [...] da nossa confissão” (Hb 3.1); foi profeta (Lc 24.19); foi evangelista (Lc 4.18,19); foi pastor (Jo 10.11). E tam bém foi diácono. Ele demonstrou seu caráter e sua personalidade, dando exemplo de humildade. Para cumprir sua missão sacrificial em favor dos homens, Jesus despojou-se temporariamente de sua glória plena (Jo 17.14). Paulo diz que Ele assum iu a forma de servo, mais que isso, a forma de “escravo” . Jesus, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. M as aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.6-8).

Esse texto indica que Jesus não se com portou como um servo co­mum. Mas como um escravo, um servo do nível mais humilde na es­cala social. A palavra para servo, no trecho destacado acima, não é diácono (um servente, um garçom, um empregado), mas doulos, que denota a condição de “um escravo” , “referindo-se a um serviço invo­luntário: um escravo, em contraste com um hom em livre (1 C o 7.21; G1 3.28; C l 3.11; A p 6.15)” .5 Ele deu prova disso quando, na véspera de sua morte, reuniu seus discípulos para a ceia. E “levantou-se da ceia, tirou as vestes e, tom ando um a toalha, cingiu-se. Depois, pôs água

3 CPAD. Bíblia de estudo palavras-chave, p. 2142.4 Ibid., p. 2142.5 Ibid., p. 2156. Nota 1401.

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numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-Uws com a toalha com que estava cingido” 0 o 13.4,5 - grifo nosso). Aquela ação era dever de um escravo (doulos) da casa. Ele não pediu a ninguém para ajudar. Tom ou a toalha, pôs água na bacia, lavou os pés dos discípulos e os enxugou com a toalha!

Seus discípulos ficaram admirados, sem dúvida. O Mestre, o Rabi, o Raboni! Fazendo serviço de um serviçal! Pedro, sempre impaciente, com seu temperamento sanguíneo, a princípio, não quis aceitar que o Mestre lhe lavasse os pés. Mas, ao saber que se não o fizesse, não teria parte com Ele, pediu que lhe desse um banho 0 o 13.6-9).

Com esse comportamento Jesus quis dizer que, se Ele, “Senhor e Mestre”, dispôs-se a se colocar na posição de servo, de escravo (doulos), seus discípulos também deveriam assumir a posição de servos uns dos outros.

3. A Expectativa de PauloA distância entre amigos e irmãos causa sentimentos os mais va­

riados. Para uns é causa de tristeza; para outros, de saudade; e, para outros, o desejo do encontro, ou o reencontro fraternal, para o estrei­tam ento dos laços de amizade e amor. Paulo era o mentor espiritual de Tim óteo. A ele, o jovem discípulo, o apóstolo escreveu duas cartas. Já na primeira, ele demonstrava sua ansiedade e expectativa de tornar a ver pessoalmente o seu discípulo am ado (1 T m 3.14,15). Paulo conhe­cia bem suas possibilidades e limitações. Desejava o mais breve possí­vel reencontrar Tim óteo, mas admitia a hipótese de um retardamento em viajar ao encontro do seu amigo.

E fez solene advertência e admoestação, lem brando a Tim óteo que lhe escrevera, para que, se tardasse, ele soubesse “como convém andar na casa do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” . Fazia parte dos ensinos de Paulo a Tim óteo inculcar-lhe na mente o valor sagrado da igreja local, ou mesmo do templo, em que se adora ao “Deus vivo”.

Por isso é preciso m uito cuidado para não transform ar o templo de D eus em lugar de culto à personalidade, onde a figura principal é o pastor, e não Cristo. E deve-se evitar ou coibir práticas ilícitas à luz da Palavra de Deus. Jesus virou as mesas dos cam bistas e dos que vendiam anim ais para os sacrifícios, dentro do recinto do Templo. Se necessário for, os pastores devem agir com rigor, dentro dos limi­

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tes da ética, para resgatar o valor e o sentido do templo, do edifício construído para a adoração a Deus.

CONCLUSÃOAs funções m inisteriais de diácono e de presbítero são m uito rele­

vantes e necessárias à boa ordem no ambiente de adoração e culto a Deus. São estabelecidas, com base bíblica, para que as atividades das igrejas locais sejam bem organizadas e contem com um a liderança eficiente e responsável. O s bispos ou pastores são aqueles que cui­dam das definições mais amplas da m issão da igreja. O s diáconos são obreiros, instituídos, biblicam ente, para auxiliar os líderes cristãos, que se dedicam ao estudo e à m inistração da Palavra de D eus. Q ue o Senhor nos faça entender que, sejam bispos, sejam diáconos, que “todos sejam um ” 0 o 17.21), sem hierarquização form alista, num sis­tema de poder. M as que todos tenham os a m entalidade de servos a serviço dos servos de Deus.

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Capítulo 5

A p o s t a s ia , F id e l id a d e e

D il ig ê n c ia no M in is t é r io

Q uando Nosso Senhor Jesus Cristo estava com seus discípulos, em seu ministério terreno, falou-lhes acerca dos últimos tempos, ou do fim dos tempos, em que uma das características marcantes seria a falsidade, o engano, a mentira e a mistificação. Em um de seus magníficos sermões, Ele falou acerca dos que entrariam no seu Reino. E demonstrou que não seria fácil. Quem quer ser salvo tem que entrar por uma “porta estreita” e palmilhar num “caminho estreito”, que conduz ã salvação, em contrapo­sição à “porta” larga e o “espaçoso” caminho “que conduz à perdição” (Mt 7.13,14). Duas portas e dois caminhos. Dois destinos esperam o homem, no final de sua jornada na terra. E dependem da escolha de cada um. Seja qual for a escolha, as conseqüências serão inescapáveis.

N o mesmo discurso, Jesus advertiu aos que haveriam de escolher a “porta estreita” , a seus seguidores, os salvos, de que eles seriam pertur­bados por falsos profetas, que surgiriam em seu próprio meio, no seio da igreja (Mt 7.15). Reforçou suas metáforas com o ensino sobre a “ár­vore boa” que “produz bons frutos” e sobre a “árvore m á” , que “produz frutos m aus” (Mt 7.17). C om o um verdadeiro Mestre, Jesus soube ma­nejar bem a palavra da verdade, em relação aos acontecimentos futuros, que haveriam de ocorrer com profundas repercussões sobre a vida dos seus discípulos.

Jesus sabia que sua Igreja sofreria os ataques dos falsos mestres, ou falsos profetas, que apareceriam, vindos de fora, ou mesmo, surgindo no seio da com unidade cristã. Por isso advertiu que os falsos cristos e os falsos profetas não seriam apenas ensinadores, teóricos ou filósofos, em suas elucubrações diletantes. Eles seriam capazes de realizar sinais e prodígios, para convencerem os que lhes dessem ouvidos (Mt 24.24).

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Naturalmente, Paulo tinha bastante ciência das advertências de Jesus quanto aos últimos tempos”. Em sua carta a Timóteo, ele expressou sua preocupação com os falsos ensinadores, heréticos e astutos, na busca pelo domínio da mente dos que estavam na igreja em Éfeso.

Era um a antevisão do que a Igreja está vivendo nos dias presentes. Dias que antecedem a volta de Cristo. H á obreiros que possuem uma capacidade oratória tão eloqüente que conseguem atrair a atenção e a admiração dos que os ouvem. Q uando eles se mantêm no centro da vontade de Deus, com humildade, e na conduta de servos do Senhor, são verdadeiras bênçãos para o ensino e a pregação. N o entanto, com tal perfil, alguns têm se desviado dos padrões de santidade e devo­ção, e se tornam pregoeiros de ensinos heréticos, que causam grande prejuízo à igreja local, por serem hom ens que têm grande prestígio ministerial.

No meio pentecostal, infelizmente, prevalece um a visão superficial das verdades bíblicas. A ortodoxia não é a marca das igrejas pentecos- tais, em sua grande maioria. As demonstrações de poder, de unção e de alegria alcançam um patam ar tão elevado, e ao mesmo tem po sem fundamento, que os falsos ensinadores conseguem amplos espaços para espalharem suas heresias. Já é por demais conhecida a “tal” da teologia da prosperidade” , segundo a qual os crentes em Jesus não

podem ser pobres, nem serem acometidos de enfermidades graves. Se passarem por essas agruras é porque “não têm fé”, ou “estão em pe­cado . Mais que isso, adotam a famosa “confissão positiva”, e passam a determ inar’, “decretar” bênçãos e a “exigir” , reivindicar “seus di­reitos ! Ensinos com esse teor ou caráter são m uito bem aceitos por grande parte de crentes, em muitas igrejas. M as quando tais ensinos são confrontados com a Palavra de Deus, em sua essência, conclui-se que são doutrinas de homens, ou até de demônios.

A advertência de Paulo, no texto ora em estudo, é de um a atualida­de impressionante. C om o verdadeiro profeta de Deus, além de exímio ensinador, ele captou muito bem a revelação do Espírito Santo acerca dos “últimos tem pos” ou dos “tempos trabalhosos” (1 Tm 3.1), a que nos referimos no capítulo anterior. D a leitura do texto em apreço, pode-se inferir que os ensinadores de “doutrinas de dem ônio” (4.1) não seriam pessoas estranhas, mas que surgiriam de dentro do seio

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da igreja local. Sua capacidade de convencimento haveria de ser tão eficiente, que, “se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt24.24), com o Jesus previu e alertou.

I - A APOSTASIA DOS HOMENS (4.1-5)Paulo advertia a Tim óteo, para que o mesmo doutrinasse a igreja

em Efeso, acerca dos últimos tempos, em que a apostasia se tornaria um a realidade no seio de igrejas cristãs (1 Tm 4.1).

1. ConceituaçãoApostasia (gr. apóstasis) significa “desvio”, “afastam ento” , “abando­

n o”.1 Tem o sentido tam bém de “revolta” , “rebelião”, no sentido reli­gioso. N um a definição clara, apostasia quer dizer “abandono da fé”. No original do Novo Testam ento apostasia, do vem do verbo aphistemi, com o sentido de “rejeitar um a posição anterior, aderindo a posição diferente e contraditória à primeira fé, repelindo-a em favor de nova crença } N os últimos anos, esse com portam ento tem sido mais ob­servado do que em tempos passados. É impressionante como líderes, outrora ortodoxos, hoje apregoam ideias opostas àquele ensinamento que defendiam.

2. Doutrinas de Demônios (4.1)Existem apostasias que são fruto da mente fértil de algum teólogo

ou teórico, que deseja aparecer, ensinando “novidades” com pretenso fundam ento bíblico. O u da meninice de algum irmão ou irmã, que se julga mais espiritual que as outras pessoas. Paulo referia-se à apostasia que tinha origem diabólica. Mais perigosa do que se possa imaginar, pois é fruto da influência do Adversário da igreja, que visa m inar suas bases doutrinárias. Disse Paulo, em sua primeira carta a Timóteo: “M as o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, aposta- tarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (1 Tm 4.1 - grifo nosso).

1 CPAD. Bíblia de estudo pentecostal, p. 1856.Russel Normam CHAM PLIN. O Novo Testamento interpretado - versículo por

versículo. Vol. 5, p. 318.

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3. Espíritos EnganadoresCertam ente, Paulo se referia à influência espiritual dos espíritos

maus, que iriam induzir falsos mestres a se enganarem e a enganarem aos crentes (2 Tm 3.13). Ele anteviu que parte da igreja haveria de apostatar, quando disse que “alguns” abandonariam a fé. Ele se referia à “apostasia pessoal” . O escritor aos hebreus tam bém exortou nesse sentido, contra o afastamento da verdade ou da sã doutrina e de Deus: “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo” (Hb 3.12). Essa preocupação foi recorrente, pois, quando Paulo escreveu a segunda missiva a Tim óteo, de forma que o m esm o orientasse a igreja em Éfeso, voltou a exortar com cuidado acerca dos apóstatas: “Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, am ontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desvia­rão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 T m 4.3,4).

A ação dos “espíritos enganadores” haveria de ser tão eficiente para incautos que dessem lugar à apostasia que esses não sofreriam (não suportariam) a “sã doutrina” , ou seja, o corpo doutrinário, pregado pelos apóstolos de Cristo, e passado de geração a geração, com fun­dam ento nos Evangelhos e nos ensinos dos apóstolos de Jesus. Sua influência maléfica faria com que os apóstatas tivessem “comichão nos ouvidos” ao escutarem a Palavra de Deus, em sua simplicidade e ortodoxia. O s espíritos do desvio doutrinário apoderar-se-iam dos “doutores”, ou falsos mestres (1 Tm 1.7), que usavam sua influência cultural, eclesiástica e posicionai nas igrejas para desviarem os servos de Deus do foco e do alvo, que é servir a Deus até chegar à eternidade, como salvos em Cristo Jesus. N a advertência de Paulo, ele afirma que tal com portam ento se manifesta “pela hipocrisia de hom ens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 T m 4.2).

N o m esmo trecho de sua carta, o apóstolo adverte quanto a ensi­nos místicos que, além de proibirem o casamento, como instituição de origem divina, oprimem as pessoas, “ordenando a abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis e para os que conhecem a ver­dade, a fim de usarem deles com ações de graças” (1 Tm 4.3). Essa é uma das características dos movimentos heréticos. Apregoam que de­terminados tipos de alimentos não devem ser ingeridos, muitas vezes

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sem qualquer fundam ento científico ou escriturístico. Em relação a alimentos, no Antigo Testamento, havia um a série de “regras dieté- ticas” quanto ao que os judeus podiam ou não podiam comer (cf. Lv 11). M as o próprio Deus ordenava que comessem carne, para repor as proteínas desgastadas no processo biológico.

N o Novo Testamento, as restrições quanto a alimentos resumem-se no que os líderes da igreja decidiram, no Primeiro Concilio, em Jeru­salém. A pós o parecer de Pedro, Tiago, o líder da igreja, concluiu, de forma eloqüente: “Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue” (At 15.19,20 - grifo nosso). E tam bém exortou a que os cris­tãos não ingerissem alimentos que fossem consagrados ou sacrificados aos ídolos (1 C o 10.27,28). E orientou que, m esmo em se tratando de alimentos lícitos, os crentes em Jesus deveriam respeitar a fé dos mais fracos espiritualmente, e absterem-se de comer (na frente deles) coisas que os escandalizassem (cf. Rm 14.1-23). O s hereges, principalmente os gnósticos ascetas, defendiam a abstinência de alimentos, mas volta­vam-se para “entidades” , “emanações e símbolos da idolatria.

O s gnósticos depravados procuravam destruir o corpo, por considerá-lo mau, indigno, com a prostituição e práticas sexuais libertinas. Eram hipó­critas e mentirosos. Paulo concluiu que o cristão pode fazer uso de alimen­tos, desde que possam ser recebidos “com ações de graça , visto que, pela palavra” , ou seja, desde que estejam de acordo com a Palavra de Deus, “pela oração”, “tudo é santificado” (1 Tm 4.4,5). Porém, deve-se ter cuidado e sabedoria na interpretação desse texto. N ão quer dizer que, se alguém faz uso de bebida alcoólica, ou de carne sufocada, ou do sangue, basta fazer um a oração e tudo é santificado. De forma alguma. Deus não apro­va aquilo que Ele condena. Ele não é “Deus de confusão (1 C o 14.33).

Deus fez o homem, no princípio, para ser vegetariano (G n 1.29). M as, com a Q ueda, o m etabolism o hum ano sofreu tremenda m udan­ça, passando a envelhecer, adoecer e morrer. Para refazer as energias e os tecidos desgastados, tornou-se necessária a ingestão de alimentos carregados de proteínas, dos quais a carne animal, incluindo os peixes, são grandes fornecedores. A lém disso, o próprio Deus regulamentou, na Lei, sobre quais tipos de animais se podiam comer (Ver Lv 11).

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II - A FIDELIDADE DOS MINISTROS (vv. 6-10)

1. “Bom Ministro de Jesus Cristo”Era o que Paulo esperava de Tim óteo, seu jovem discípulo, compa­

nheiro de tantas lutas, em defesa do evangelho de Jesus Cristo. “Pro­pondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Jesus Cristo, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido” (1 Tm 4.6). A carta de Paulo a T im óteo é pastoral e pessoal, em princí­pio. M as sua finalidade não era apenas edificar o jovem obreiro. Ele acentua: “propondo estas coisas aos irm ãos” , o que indica ser sua carta assunto que deveria ser com unicado à igreja de Éfeso, aos “queridos irm ãos” (Fp 4.1) e, por extensão e aplicação, a todas as igrejas cristãs.

Cumprindo essa orientação, Timóteo haveria de ser um “bom minis­tro de Cristo” (diáconos de Cristo), ou seja, um líder cristão à altura de sua elevada missão. Para galgar essa posição, Timóteo teria que atender a dois requisitos importantíssimos: ser “criado com as palavras da fé” e “da boa doutrina” que ele próprio já seguia. No original, a metáfora que Paulo usa diz respeito a “ser alimentado com”, nutrido com a sã doutrina, ou, no dizer de Pedro, com o “leite racional, não falsificado” (1 Pe 2.2).

2. Rejeitando as Fábulas Profanas“M as rejeita as fábulas profanas e de velhas e exercita-te a ti mesmo

em piedade” (4.7). Essa advertência já houvera sido dada no primeiro capitulo da epístola a Tim óteo (1.4). C om o visto, as “fábulas profa­nas” seriam ensinam entos fantasiosos, místicos, muito utilizados pelos gnósticos e judaizantes, para impressionar os crentes. Seriam profanas, porque configurariam ensinos hum anos, fundados em valores mate­riais, que se opunham aos sagrados ensinos, em anados da Palavra de Deus, sob inspiração do Espírito Santo. A expressão “de velhas” alu­diam a “conversa de velhas, expressão sarcástica muitas vezes emprega­da em polêmicas filosóficas, que compara a oposição de um oponente aos fuxicos perpetrados por mulheres mais idosas daquelas culturas, quando se assentavam em roda tecendo, ou fazendo outras tarefas” .3 Em nossa cultura, certamente, eqüivaleria a conversas tagarelas de pes­soas fofoqueiras.

3 Gordon D. FEE. Novo comentário bíblico contemporâneo 1 & 2 Timóteo e Tito, p. 115.

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3. 0 Exercício Físico e a Piedade“Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade

para tudo é proveitosa, tendo a prom essa da vida presente e da que há de vir” (1 T m 4.8). N ós som os form ados de três partes, segundo a Pa­lavra de Deus: “espírito, e alma, e corpo” (1 Ts 5.23). Todas elas preci­sam de exercício, de atividade, sob pena de sofrermos atrofia em todas ou em um a delas. H á muitos irmãos, inclusive obreiros, que vivem de m odo sedentário, desenvolvendo doenças circulatórias, cardíacas ou neurológicas. Isso não é desejável. O corpo não pode ser desprezado em seus cuidados. Ele é templo do Espírito Santo (1 C o 6.19,20).

Mas por que esse incentivo ao exercício físico se Paulo diz que o exercício corporal para pouco aproveita”? Observemos que Paulo não está dizendo que o “exercício físico” (gymnasia)4 “não serve para nada’ . O que ele quer dizer, para um a com unidade que valorizava excessiva­mente os exercícios e os esportes,5 é que tais práticas, ainda que saudá­veis, só serviam para esta vida.

Paulo tinha um a mensagem para a igreja de Éfeso, para que os crentes não se deixassem dom inar pelo desejo exacerbado de valorizar o corpo, em detrimento do lado espiritual.

O apóstolo mostrou a T im óteo que havia algo mais importante que o exercício físico. E ressaltou: “mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a prom essa da vida presente e da que há de vir (4.8b). Ele de­m onstrou que, enquanto o exercício físico só serve para o corpo e para esta vida, a piedade (gr. eusebeia) é proveitosa, não só para a vida pre­sente” , mas para a “que há de vir . Se o corpo, como vimos, precisa de exercícios para não envelhecer precocemente, ou atrofiar-se, em suas funções vitais, a alma e o espírito tam bém necessitam de “exercícios”espirituais, ou seja, de piedade.

Entendam os que piedade, ou “eusebeia” , significa a vida de santi­dade do cristão; a vida devocional, que inclui as orações, a leitura da Palavra de Deus, de m odo sistemático, a adoração a Deus, de forma constante; a maneira de viver e conviver com as pessoas, zelando pelo bom testemunho cristão, tudo isso é piedade. Podemos concluir que

4 Daí vem a palavra “ginásio” (lugar de prática de exercício ou de esportes).5 Éfeso: Cidade greco-romana, a segunda maior do Império, depois de Roma. Tinha larga tradição no mundo esportivo.

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Paulo resumiu a piedade quando escreveu aos coríntios, dizendo: “Por­tanto, meus am ados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abun­dantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” (1 C o 15.58).

Paulo term ina essa parte da epístola, acentuando que “esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação” (1 Tm 4.9). Ele se referia a tudo o que já houvera escrito e repassado para Tim óteo, como sendo “pala­vra fiel e digna de toda aceitação” , que ninguém pusesse em dúvida a sinceridade de sua admoestação, visto que não se tratava de afirma­ções gratuitas ou de opiniões pessoais. Seu ensino era em basado na unção e direção do Espírito Santo, em contraposição aos ensinos dos falsos mestres, que buscavam iludir os crentes com suas falácias e vãs filosofias (Cl 2.8). E encerra dizendo o porquê de tanta luta, tanto esforço, no combate às heresias e zelo pela vida dos crentes de Éfeso, ou de todos os cristãos: “Porque para isto trabalhamos e lutam os, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, princi­palmente dos fiéis” (1 Tm 4.10).

III - A DILIGÊNCIA NO MINISTÉRIO (vv. 11-16; cf. 5.4-16)

1. 0 Ensino Prescritivo“M anda estas coisas e ensina-as” (1 Tm 4.11). Era um a determi­

nação de Paulo a Tim óteo, para que ele não fraquejasse na ministra- ção da doutrina à igreja em Efeso, visto que as heresias estavam-se espalhando com certa facilidade, por meio dos “hom ens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Tm 4.2). Os verbos “m andar” e “ensinar” (gr. didasko) estão no m odo imperativo, denotando o caráter da exortação de Paulo, de m odo contínuo e per­sistente. As “coisas” que foram ensinadas pelo apóstolo deveriam ser ministradas aos crentes de forma incisiva, sem condescendência com os falsos mestres e os falsos ensinos, que tinham origem nos “espíritos enganadores” e nas “doutrinas de dem ônios” .

Nos tempos presentes, o ensino tem sido negligenciado por muitos líderes de igrejas. Há uma supervalorização do louvor, do cântico, dos hinos, dos instrumentos musicais, em detrimento da pregação e do en­sino da Palavra de Deus. N ão é por acaso, que há uma geração fraca,

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“anêmica” e “raquítica” em relação aos conhecimentos e à prática da Palavra de Deus. H á muito falatório, muito barulho, muito grito e dra­matização, e pouco ensino fundamentado da doutrina sagrada (didakê). Já predomina uma cultura, no meio de igrejas evangélicas, de que “um culto maravilhoso” é aquele em que se apresenta “um cantor de fora”, ou um “pregador famoso, convidado para os eventos”. O u um culto, em que haja manifestações gratuitas de emocionalismo infantil, com o fa­moso “re-té-té”, ou exibicionismo carnal, disfarçado de espiritualidade. Por isso, Paulo não diminuiu a ênfase no ensino. Pelo contrário: disse “m anda” e “ensina” as coisas que foram determinadas em sua carta.

Se Paulo ressuscitasse hoje, por permissão de Deus, ou se transfigu­rasse, com o M oisés e Elias, no M onte da Transfiguração, ficaria estu­pefato, percebendo que o “evangelho politicamente correto” prevalece em muitas igrejas. C om receio de ver a evasão de crentes, há obreiros que nem “m andam ” nem “ensinam ” o que a Palavra de Deus prescreve de forma clara e imperativa. A doutrina da santidade, por exemplo, tem sido por demais relegada a segundo plano nas ministrações de muitos pastores. A Bíblia é incisiva quanto a esse ensino. N ão há o que interpretar o que está claro e evidente, no contexto da doutrina: “mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós tam bém santos em toda a vossa maneira de viver” (1 Pe 1.15); “segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Santi­dade e santificação constituem-se doutrina prescritiva do evangelho de Cristo. São fundam entais, e baseiam-se em princípios inegociáveis no âmbito da doutrina cristã. Em muitas igrejas, não se fala em santidade. M as fala-se em prosperidade material de m odo exaustivo, manipulati- vo e insistente, visando extrair do povo o máximo de dinheiro para os projetos da denom inação. Em troca disso, o ensino promete bênçãos sem limites no campo material. É a tal da Confissão Positiva. E dão inclusive a “fórmula da fé” , conforme Kenneth Haggin.

Para fazer a “confissão positiva”, o cristão dever usar as expressões: “exijo”, “decreto” , “declaro”, “determ ino” , “reivindico” , em lugar de dizer: peço, rogo, suplico. Segundo os adeptos dessa teologia moder­nista, o cristão jam ais pode dizer: “se for da tua vontade” , segundo Benny Hinn, pois isso destrói a fé. M as Jesus orou ao Pai, dizendo: “Se é da tua vontade... faça-se a tua vontade...” (Mt 26.39,42).

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2. 0 Exemplo dos Fiéis“Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis,

na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” (1 Tm 4.12). T im óteo era um jovem obreiro, com cerca de 30 a 35 anos, e fora enviado para doutrinar um a igreja, onde já havia anciãos ou presbíteros com mais idade.6 O texto bíblico dá a entender que ele era um pouco tímido, com o se depreende de 1 Coríntios 6.10,11, em que Paulo pede aos irmãos que recebam Tim óteo de forma que o mes­m o esteja “sem tem or”, sem nenhum desprezo. A exortação de Paulo deveria chegar aos ouvidos dos crentes de Éfeso. Por meio da carta a Tim óteo, o apóstolo diz que “ninguém ” deveria desprezar (“zombar” , “tratar com desprezo”, “subestim ar”) o jovem obreiro. Certam ente, foi um a dura recom endação ao jovem obreiro. Em lugar de ser exortado a seguir o exemplo dos anciãos, Paulo diz que Tim óteo deveria ser “exemplo dos fiéis” . O texto discrimina seis aspectos em que Tim óteo deveria ser exemplar:

1) ‘‘Napalavra"A princípio, o texto poderia dar a entender que Paulo desejava que

Tim óteo fosse um exemplo de exímio pregador ou ensinador da Pala­vra. M as o contexto indica que ele, com o mestre de Tim óteo, exortava- -o a que fosse um exemplo dos fiéis na “maneira de falar”, de se expres­sar, no relacionamento com os demais irmãos. U m obreiro, líder ou não, deve saber expressar-se, jam ais usando linguagem vulgar ou chula. Esse entendimento tem respaldo no que o apóstolo escreveu aos efé- sios: “N ão saia da vossa boca nenhum a palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (E f 4.29). N o mesmo texto, aos efésios, ele diz: “Toda amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmias, e toda malícia seja tirada de entre vós” (E f 4.31). De fato, um ministro do evangelho não pode ter linguagem inadequada, debochada, “sem classe” , sem pudor ou demagógica. De­vemos lembrar que o adjetivo “torpe” a que Paulo recom enda evitar significa “podre” (gr. sapros). Assim, piadas e palavras inconvenientes não devem fazer parte do vocabulário de um obreiro cristão.

6 Gordon D. FEE. 1 & 2 Timóteo e Tito, p. 119.

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2) “No trato”A expressão refere-se ao com portam ento cristão. N ão só Tim óteo,

mas todo jovem ou cristão de qualquer idade deve ser “exemplo dos fi­éis” no relacionamento hum ano e espiritual. E não vemos outra maior fórmula, ou m esm o fórmula para o bom relacionamento cristão, do que as virtudes ou aspectos do “fruto do Espírito” , de que falou Paulo em Gálatas 5.22,23. O relacionamento cristão (o trato) deve expressar a ética cristã. Jesus disse: “Portanto, tudo o que vós quereis que os ho­mens vos façam, fazei-lho tam bém vós, porque esta é a lei e os profetas (Mt 7.12). O s carnais andam segundo a natureza carnal, herdada de Adão: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a D eus” (Rm 8.7,8). Texto mais que didático e compreensível. O trato do crente carnal não pode ser referência para quem quer servir a Deus.

Já o crente espiritual demonstra um “trato” ou com portam ento espiritual. Ele é cheio do Espírito Santo” (At 2.4; 4.31; 13.52). “Por­tanto, agora, nenhum a condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” (Rm8.1). O s espirituais vivem segundo o Espírito Santo, porque estão em Cristo Jesus” e “não andam segundo a carne” .

3) “Na caridade”Ser exemplo no amor não é fácil. M as é a característica mais im­

portante do cristão que quer ser discípulo de Jesus. N o Evangelho segundo João, Jesus disse: “U m novo m andam ento vos dou: Q ue vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que tam bém vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.34,35 - grifo nosso). Este versículo dem onstra quão grande é o valor da “caridade” ou do “amor cristão. Esse amor, no texto original, é ágape. N ão é um am or simplesmente hum ano, com o filantropia, assistência aos necessitados. Essa caridade, que é “o amor em ação”, é o centro da verdade cristã.

Deus enviou Jesus para nos salvar; não foi por sua justiça, mas por seu am or indescritível 0 o 3.16). Desse m odo, o crente fiel, em Efeso ou em qualquer lugar onde se congregar, deve ser exemplo no amor

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cristão. Respondendo a um doutor da Lei, Jesus disse que o primeiro e o maior dos m andam entos é amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento e alma. E o segundo, semelhante a esse, é amar ao próxim o como a si mesmo (Mt 22.34-40). Por essa razão, o cristão deve ser o exemplo dos fiéis no amor, para que seja conhecido como discípulo de Jesus (Jo 13.35).

4) “No espírito”U m ministro do evangelho deve ser “exemplo dos fiéis” , no lado es­

piritual. E de fundam ental importância que o obreiro-líder reserve em sua agenda os mom entos especiais, diários, sistemáticos, para o cultivo de sua vida devocional, através da qual ele estreita sua com unhão com Deus. O obreiro precisa orar todos os dias; começar o dia de trabalho sem orar é correr o risco de enfrentar situações difíceis sem encontrar a solução para os problem as que surgem na administração da igreja; o exercício diário da oração é um reforço maravilhoso para a dinamiza- ção da igreja local.

Sem oração, é impossível o obreiro ser exemplo “no espírito” . Ela é a chave que abre as portas do sobrenatural, quando o líder da igreja local se coloca de joelhos, buscando a unção do Espírito Santo. Sem oração, o obreiro pode sutilmente se tornar carnal, enveredando por caminhos de iniqüidade. Q uantos pastores têm caído por falta de ora­ção e vigilância (Mt 26.41). A Bíblia tem exemplos diversos de homens de Deus que oravam sistematicamente. Alguns caíram porque negli­genciaram a oração. Davi orava três vezes ao dia (SI 55.17); quando deixou de orar, de cuidar de sua vida espiritual, fracassou terrivelmen­te; Daniel orava três vezes ao dia (Dn 6.10); Jesus orava diariamente (Mt 26.44 a ); o salmista também tinha o costume de começar o dia, orando e vigiando.

5) “Na fé”O que Paulo ensinava a Tim óteo deveria ser m inistrado para os de­

mais obreiros e para a igreja local, a com unidade cristã. U m ministro do evangelho, para ser diligente, precisa exercitar-se na fé. A fé assume vários sentidos na Bíblia. Pode ser a fé para receber milagres (Mc 9.23); a fé para a salvação pessoal (Mt 9.22; M c 10.52; Lc 7.50); e em outros

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aspectos. Mas, no texto em apreço, Paulo exortava a T im óteo e por extensão aos ministros do evangelho, que todos precisam ser exemplo na fé, no sentido da confiança firme em Deus, ou seja, no cultivo da virtude da fé (1 C o 13.13), e de um a vida por fé, sem a qual “é impos­sível” agradar a Deus (Hb 11.6).

6) “Napureza’’Ser exemplo na pureza (gr. agneia) é ser puro, “casto” , tanto em

term os de ações, atitudes e práticas no seu viver contínuo. Essa pu­reza deve ser nos pensam entos e nas obras; nos sentim entos e nas práticas cotidianas. T im óteo era ainda um jovem ministro, segundo estudiosos, com cerca de 30 anos; hoje, seria um “solteirão” , espe­rando pacientem ente “no Sen h or” (SI 40) pela bênção de ter uma esposa para ser sua com panheira no m inistério. M as até que essa bênção se concretizasse, ele haveria de passar por m uitas tentações, especialmente na área sexual.

Sem qualquer dúvida, se, no tem po de Tim óteo, a exortação de Paulo era oportuna e necessária, que dizer de tal cuidado por parte dos obreiros, jovens ou de m ais idade, nos dias presentes? N unca houve tanta facilidade para o pecado, para a lascívia, para a concupis- cência carnal com o nos dias em que vivemos. Seja qual for o m inis­tro, se não vigiar nessa parte, precavendo-se das tentações da carne, seja solteiro, seja casado, a probabilidade de queda é m uito grande. C om os meios tecnológicos à disposição das pessoas, via internet, telefones, “tablets” , o acesso a relacionam entos ilícitos é m uito fácil. A vigilância e a oração têm que ser redobradas. Para ser exemplo na “pureza” , o m inistro precisa cultivar a vida de santidade. Sem esta, ninguém chegará ao céu (cf. H b 12.14).

Se entendem os que santidade quer dizer separação do que é sagra­do daquilo que é profano, precisamos, com o obreiros do Senhor, zelar por tudo que ocorre no âmbito da igreja local, seja na pregação, no púlpito; seja na adoração, na liturgia, no louvor, nos usos e costumes, na vida moral e social da parcela do rebanho de Deus que nos foi con­fiada. O s obreiros devem ser exemplo dos fiéis. A disciplina pessoal se faz necessária para que evidenciemos pureza em todas as áreas da vida, mediante a necessária santificação (1 Pe 1.15; H b 12.14).

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3. O Ministro e o Cuidado com o Ministério e consigo Mesmo

1) 0 cultivo da leitura“Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá” (1 Tm 4.13). Um

ministro do evangelho não pode ser um despreparado para o minis­tério. E seu preparo tem que passar pelo costume diuturno de ler, em primeiro lugar, a Palavra de Deus. Estudo recente, por entidade de pesquisa ministerial, dá conta de que 57% dos pastores nunca leram a Bíblia toda. E algo preocupante. Se não ler, com o pode estimular os crentes a lerem a Palavra de Deus? E por causa dessa negligência na leitura bíblica que o ensino que parte de muitos púlpitos é fraco, superficial e inconseqüente.

Para compensar, muitos pastores recorrem ao “espetáculo” de emo- cionalismos, gritos e até de “palhaços” , ou recorrem-se às danças, ao balé, em que o púlpito se torna um picadeiro, e a igreja um “circo” de profanação do bom nom e da igreja de Cristo. Por isso, é tão impor­tante a exortação a T im óteo para que se aplicasse à leitura, que pode ser tanto da Bíblia com o de boas fontes de estudo bíblico, para que pudesse exortar e ensinar à igreja.

2) A valorização do dom do ministério“N ão desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por pro­

fecia, com a im posição das m ãos do presbitério. M edita estas coisas, ocupa-te nelas, para que o teu aproveitam ento seja m anifesto a to­dos” (1 Tm 4.14,15).

Paulo queria que seu discípulo não negligenciasse seu ministério, qué lhe foi confiado por Deus, por meio do ministério, com o ato de caráter espiritual de imposição de mãos.

Deus valoriza os gestos e os atos, quando feitos por fé e não por mera formalidade ritualística. O “dom ” concedido a T im óteo teve o respaldo da “profecia”, ou de revelação espiritual da parte de Deus. Esse “dom ” certamente eram as habilidades que Tim óteo recebera para exercer seu ministério. E deveria valorizar, ocupando-se na obra do Senhor com diligência e zelo. Deus não se agrada de quem faz “a obra do Senhor fraudulentamente” ou “relaxadamente” (Jr 48.10).

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3) 0 cuidado de si mesmo e dos outros“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas;

porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti m esmo como aos que te ou­vem” (1 Tm 4.16). A preocupação com a vida pessoal envolve aspectos relevantes. O obreiro precisa ter cuidado com a sua integridade moral e espiritual: deve ser íntegro. Essa palavra quer dizer: inteiro, completo; perfeito, exato; reto, imparcial, inatacável (Dicionário Aurélio). Integro é o líder que faz o que diz e diz o que faz; é o que dá testemunho dentro e fora de casa; dentro e fora da igreja; na presença ou na ausência dos liderados (cf. M t 5.37; Tg 2.12).

N esse cu idado consigo m esm o, o obreiro precisa ter cu idado com sua saúde. O apóstolo Jo ão , escrevendo a seu am igo G aio , de­sejou-lhe saúde (3 Jo 2). N o que cabe a si, o líder deve obedecer aos princípios bíblicos e científicos no cu idado com a saúde: oração, boa alim entação, repouso, exercício, atitude m ental correta, evitar o estresse, a tensão em ocional. Pesquisas m ostram que os pasto­res são subm etidos a tensões fora do com um , e são acom etidos de doenças cardiovasculares, nervosas ou psicossom áticas. O zelo por si m esm o, pela sua m ente e pelo seu corpo contribui para que o obreiro tenha m elhores condições em ocionais e físicas no desenvol­vim ento de sua m issão.

Além do cuidado consigo mesmo, Paulo exorta T im óteo a que tenha cuidado no trato com algumas pessoas que merecem atenção especial no seio da congregação. C om relação aos anciãos, ou idosos, da “terceira idade” , Paulo diz que não devem ser repreendidos aspe­ramente quando falharem, mas adm oestados “como a pais” (1 Tm5.1); quanto aos jovens, é interessante sua recomendação: “aos jovens, com o a irm ãos” (1 Tm 5.1).

Paulo tinha grande sensibilidade para com as mulheres. Ele não desprezava sua cooperação à obra do Senhor no ministério eclesiásti­co. A os Rom anos, ele indicou o nom e de várias mulheres que foram valiosas cooperadoras ao seu lado (Rm 16.1-15). N a carta a Tim óteo, ele ensinou com o tratar as mulheres na igreja: “Às mulheres idosas, com o a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza. H onra as viúvas que verdadeiramente são viúvas” (5.2,3). Note-se a preocupação em enfatizar o cuidado com as viúvas, mas ressaltando “as que verda­

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deiramente são viúvas” . Ao que parece, essa preocupação devia-se ao fato de haver algumas mulheres oportunistas, que queriam viver de m odo leviano, às custas da igreja (Ler 1 Tm 5.3-13).

CONCLUSÃOA apostasia dos últimos tempos revela-se de m odo acentuado no

meio evangélico. Pregadores e ensinadores de doutrinas esdrúxulas têm bastante espaço no ambiente de muitas igrejas. O remédio para evitar esse tipo de problem a é o ensino sistemático e na unção de Deus para todos os obreiros e igreja em geral. N osso referencial teológico e de fé é a Bíblia Sagrada, a Palavra de Deus. O ministério pode ser bem- -sucedido ou um fracasso. Será um a bênção se o seu líder, ao lado de auxiliares fiéis, e respaldo da igreja local, procurarem viver de acordo com a sã doutrina, que é o ensino fundam entado e consolidado, com base na Palavra de Deus. Q ue o Senhor guarde os ministros, os minis­térios e as igrejas dos ataques do M aligno nesses últimos tempos, que antecedem a vinda de Jesus.

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Capítulo 6

C o n s e l h o s G e r a is

N o capítulo anterior, terminamos observando que Paulo se referia aos cuidados que Tim óteo deveria ter com pessoas idosas, com jovens e especialmente com as viúvas, a quem ele destinou boa parte de seus conselhos pastorais. Em seguida, de m odo aparentemente desconexo com o pensam ento que seguia em sua carta, o apóstolo passa a doutri­nar sobre os presbíteros, como líderes das igrejas locais, e o cuidado que os crentes devem ter para com eles, como também, outra vez, passa a dar conselhos importantes à igreja cristã sobre o relacionamento entre patrões e empregados, e para a igreja em geral.

Paulo era um fazedor de líderes. Ele se preocupava com a formação de um a liderança cristã consciente de sua grande missão, especialmente naqueles tempos, em que a Igreja de Cristo estava sendo formada. A m issão dos presbíteros era de grande valor e necessidade nos primór- dios da expansão da Igreja no mundo.

Face à importância da m issão dos líderes nas igrejas, Paulo recomen­da que os mesmos tenham a consideração e o respeito por parte da comunidade, visto que aqueles líderes deixaram sua vida profissional ou particular para se dedicarem, em tempo inteiro, à obra do Senhor. N ão havia a m enor ideia de estruturas que garantissem assistência material ou previdência social para o final de suas missões. Tudo era feito por fé, atendendo ao cham ado divino. Ele exortou de forma direta e opor­tuna: “D igno é o obreiro do seu salário” (1 Tm 5.18). Seguia o ensino de Cristo aos 70 discípulos, enviados com o verdadeiros evangelistas aos mais diversos lugares, quando fossem acolhidos em alguma casa: “E fi­cai na mesma casa, com endo e bebendo do que eles tiverem, pois digno é o obreiro de seu salário. N ão andeis de casa em casa” (Lc 10.7).

Além de exortar sobre o tratam ento que deveria ser dado aos presbí­teros, naquelas circunstâncias e condições, Paulo passa para outro tipo de conselho pessoal a Tim óteo, preocupado com sua atuação como líder

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com delegação para escolher outros líderes, necessários ao ordenam en­to da vida ministerial e organizacional da igreja. O rdena que Tim óteo deve ter muito cuidado, na ordenação ou consagração de obreiros, sobre quem não se deve impor as m ãos de m odo precipitado (1 Tm5.22). E revela outra faceta de um líder que, além de se preocupar com o trabalho, com a igreja, com a m issão, dá valor à pessoa do liderado, ou do seu discípulo, orientando-o quanto aos cuidados com a saúde de Tim óteo. A o que parece, o jovem obreiro sofria de enfermidades no estômago, e Paulo dava um a receita caseira para aliviar seus problemas (1 T m 5.23). U m a grande lição para os pastores-líderes de hoje.

N o trecho seguinte de sua carta, Paulo volta-se para o relaciona­mento entre servos cristãos e seus patrões não crentes ou cristãos. E um verdadeiro preceito de relações hum anas no trabalho, sob a ótica de um líder que não via só o lado espiritual dos crentes, mas seus relacionamentos e problemas de ordem hum ana e emocional. Em se­guida, o apóstolo dos gentios dem onstra sua visão ampla da vida cristã, quando exorta sobre a questão das ambições hum anas, do am or ao dinheiro, e do desejo exacerbado na busca de riquezas materiais. Sem dúvida, nessa análise da carta de Paulo a Tim óteo, temos muitas lições preciosas para a liderança cristã e para os crentes em geral.

I - AOS MINISTROS DE CRISTO

O apóstolo Paulo demonstrava seu cuidado e zelo pelo ministério e pelos obreiros cristãos. N o texto em análise, revela seu interesse no bem-estar espiritual e tam bém hum ano e social dos que se dedicam à obra do Senhor, de m odo especial aqueles que o fazem com dedicação exclusiva e vivem do evangelho.

1. 0 Obreiro É Digno do seu SalárioA igreja em Éfeso enfrentava muitos problem as desde a sua funda­

ção. As heresias gnósticas e outras ameaçavam solapar a unidade en­tre os crentes, mediante a sem eadura de doutrinas estranhas. A o que parece, Paulo sentiu a necessidade de doutrinar sobre o sustento dos obreiros que se dedicavam à obra em tempo integral, tendo deixado suas atividades seculares para trás. “O s presbíteros que governam bem

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sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina” (1 Tm 5.17). Boa parte dos líderes era formada por anciãos, escolhidos pela liderança da Igreja para cuidarem do rebanho em formação. Assim como os apóstolos do G rupo dos Doze deixaram tudo para seguir a Cristo, ao longo da formação da Igreja, muitos que se convertiam sentiam o chamado de Deus para se dedicar aos misteres da obra do Senhor.

Porém, para que os líderes da igreja em seus prim órdios pudessem dedicar-se à árdua tarefa de cuidar do rebanho, que crescia a cada ano, era necessário apoio financeiro para seu sustento e de sua família. N ão dá para imaginar o que os primeiros obreiros do Senhor passaram na árdua tarefa de dedicar-se à obra do Senhor em tempo integral. As condições de vida para todos os que não pertenciam à “classe nobre” da sociedade eram muito difíceis. A sobrevivência dependia das contri­buições, ofertas e dízimos nas igrejas. O s cristãos em geral faziam parte das classes mais humildes, pois era muito difícil um rico ou abastado interessar-se pelo cristianismo. Jesus mesmo enfatizou essa dificuldade (Mt 19.24). M as a solidariedade cristã sempre foi demonstrada, quan­do as pessoas eram tocadas pelo Espírito Santo para contribuir com a igreja, incluindo a manutenção dos obreiros e de suas famílias.

É possível que Paulo tenha observado alguma dificuldade de compre­ensão nesse aspecto, e incluiu em sua carta a recomendação a Timóteo para que fizesse saber aos crentes que era uma obrigação cristã contri­buir para as necessidades da igreja e de seus obreiros, especialmente dos que se dedicavam em “tempo integral” . E usou a figura de um “boi que debulha” (1 Tm 5.18). Esse cuidado de caráter social fazia parte das recomendações de Paulo. Aos coríntios, ele fez observações idên­ticas, revelando seu zelo pela m anutenção dos obreiros (Ver 1 C o 9.6- 10). Ele seguia a visão de Cristo, quando enviou os setenta discípulos em m issão evangelizadora. (Cf. Lc 10.7)

Esse cuidado de Paulo é legítimo. N os dias presentes, sem a menor dúvida, é assunto que deve ser levado em consideração. O s obreiros que têm dedicação exclusiva na obra do Senhor são dignos de “seu sa­lário” , ou de sua “renda eclesiástica” , “prebenda” , seja qual for a deno­minação da remuneração devida aos que se dedicam à administração da “C asa do Senhor” , na igreja local.

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Paulo conclui suas admoestações à igreja de Corinto, dem onstran­do que os obreiros que se ocupam integralmente da obra precisam ser bem cuidados, reconhecidos e assistidos. E termina, dizendo: Assim ordenou tam bém o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 C o 9.14 - grifo nosso). Viver do evangelho significa ter seu sustento como resultado do seu trabalho, dedicado à pregação da Palavra, ao cuidado com a igreja local, ao ensino e ao discipulado, ao aconselhamento cristão, à assistência dos enfermos e carentes, ã visitação e m uito mais.

2. 0 Trato com o PresbitérioOs presbíteros, ou “anciãos” , eram os líderes das igrejas cristãs em

seus prim órdios. C om o tais, sua m issão era muito grande, e a eles de­veria ser dado um tratamento diferenciado, não por serem mais impor­tantes que os demais obreiros, mas por terem mais responsabilidades (Lc 12.48).

1) Acusação contra os presbíterosO s presbíteros, bispos ou pastores não são isentos de falhas. Po­

dem, de uma forma ou de outra, cometer deslizes ou pecados em suas vidas, se não vigiarem e orarem (Mt 26.41). Nenhum obreiro pode arrogar-se o direito de ser infalível. Q uem pensa assim é mais vulne­rável do que os que se consideram fracos e sujeitos a erros, pois estes procuram precaver-se. Porém, o apóstolo adverte para o cuidado que a igreja deve ter com relação à possível acusação contra os líderes da igreja local. E dá duas orientações importantes. Primeiro, acerca das acusações, e diz: “N ão aceites acusação contra presbítero, senão com duas ou três testemunhas” (1 T m 5.19).

C om o bom conhecedor do Antigo Testamento, Paulo sabia que, na Lei de M oisés, uma acusação contra qualquer pessoa só poderia ser aceita se fosse por mais de um a testemunha (Dt 19.15).

C om base nesse preceito legal, Paulo exortou a Tim óteo, para a igreja em Éfeso, que fosse observado esse critério. O Direito Rom ano também absorveu essa diretriz, no estabelecimento de um processo disciplinar contra alguém. Paz-se necessária a existência de pelo menos duas testemunhas (ou provas docum entais ou materiais) para que uma

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acusação seja aceita. D o contrário, ainda que o acusado tenha pratica­do alguma transgressão, ao mesmo não poderá ser im putada a culpa.

Se o presbítero for culpado de algum pecado e não o confessar, por não existirem duas testemunhas, e se aproveitar disso para encobrir o seu erro, comete grande atentado contra sua vida espiritual. Primeiro, porque pecou. Depois, porque encobriu, prevalecendo-se do desco­nhecimento público de seu pecado. Para Deus, nada há encoberto. A Bíblia diz: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13). Assim , se o obreiro peca, a melhor atitude e decisão é confessar o seu pecado e abandonar a prática ilícita, ainda que venha sofrer a disciplina e a per­da de suas funções. Encobrir não é a solução própria para um cristão. “Deus não tem o culpado por inocente” (Nm 14.18; N a 1.3).

2) A repreensão aos presbíteros“Aos que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que

também os outros tenham tem or” (1 T m 5.20). Essa é um a questão sensível, principalmente nos dias presentes, quando há um a tendência para o acobertamento de faltas de líderes ou dos crentes em geral, e tam bém a possibilidade de alguém que resolva levar os casos de disci­plina à justiça comum. N o comentário anterior, Paulo diz que não se deve aceitar acusação não comprovada por testemunhas. Aqui, vemos seu ensino quanto à disciplina dos que “pecaram ” , ou seja, contra quem há fatos comprovados que desabonam sua conduta. O s comen­taristas bíblicos, baseados literalmente no que Paulo ensinou, enten­dem, em sua maioria, que, um a vez comprovada a falta de um presbíte­ro, o mesmo deve ser repreendido “na presença de todos” .

Entendem os que, se um presbítero peca, ainda que uma única vez, principalmente, sendo um líder de uma congregação ou igreja, deve ser afastado das funções, e punido com a suspensão de com unhão ou até excluído da igreja. A o disciplinar alguém, o pastor assume o papel de juiz, de magistrado, diante de Deus. E precisa ter muito cuidado, para agir conforme “a reta justiça” e não “segundo a aparência” 0o7.24). Esse julgamento deve ser feito criteriosamente, “diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, [...] nada fazendo por parcialidade” (1 T m 5.21).

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3) A restauração de presbíteros“A ninguém im ponhas precipitadam ente as m ãos, nem participes

dos pecados alheios; conserva-te a ti m esm o puro” (1 T m 5.22). De um lado, há quem entenda que a “im posição de m ãos” refere-se à consagração dos presbíteros. N o entanto, o texto em análise não se refere a consagrações, e, sim , à disciplina dos presbíteros. O versículo 22 indica que a exortação de Paulo diz respeito à restauração dos presbíteros pecantes, diante dos quais não deve haver precipitação em restaurá-los no m inistério. A expressão “nem participes dos peca­dos alheios” parece indicar isso. A restauração de obreiros deve ser vista com o m edida de alto significado cristão. O am or e a misericór­dia são características fundam entais da igreja cristã. M uitas vezes, pelo com etim ento de um a única falta, um obreiro é defenestrado para sempre do m inistério, sem qualquer chance de ser recuperado. D ependendo de seu erro, a restauração pode ser considerada, mes­mo que não seja para a direção de um a igreja, mas para o exercício de outras funções ministeriais.

De qualquer maneira, o ministério deve ter cuidado. Primeiro, para não consagrar pessoas despreparadas para o presbitério. Em segundo lugar, a igreja local precisa ter muito cuidado na disciplina ou na res­tauração de obreiros pecantes. Eles precisam, antes de tudo, dar provas de seu arrependimento sincero, com frutos que indiquem mudança de atitudes em sua vida. Am bas as aplicações ao texto são plausíveis.

4) Parêntese sobre a saúde“N ão bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa

do teu estômago e das tuas freqüentes enferm idades” (1 T m 5.23). U m pastor amoroso preocupa-se com o bem-estar de seus liderados. Paulo sabia que Tim óteo era um jovem obreiro que sofria de algumas en­fermidades gástricas. E fez recomendação informal sobre um a terapia alternativa para aliviar seus problem as estomacais. O apóstolo aconse­lha Tim óteo a tomar “um pouco de vinho” , por causa de suas enfermi­dades gástricas. Esse texto não deve ser usado para justificar a ingestão de bebidas alcoólicas. D e acordo com a Bíblia de Estudo Pentecostal, “se Tim óteo tivesse o costume de beber vinho, não teria sido necessário Paulo aconselhá-lo a tomar um pouco de vinho com propósitos medi­

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cinais (ver 3.3 nota)” .1 De acordo com essa explicação, provavelmente, Tim óteo teria distúrbios gástricos, devido ao álcalis na água. A alcalini- dade da água poderia ser amenizada com o uso de um pouco de vinho. N o Nordeste do Brasil, essa mistura é chamada de “sangria” , feita com vinho, m isturado com água, o que anula seu teor alcoólico.

Ainda de acordo com a Bíblia de Estudo Pentecostal: “O vinho usado para o estômago, de acordo com antigos escritos gregos sobre medicina, costumava ser do tipo não embriagante” . Se alguém tinha enfermidade estomacal, o escritor Ateneu declarava: “Que tome vinho doce, ou mis­turado com água, ou aquecido, especialmente do tipo chamado protropos (o suco de uvas antes de espremê-las), por ser bom para o estômago, porque o vinho doce (oinos) não deixa a cabeça pesada”.2 Um a fonte interessante sobre esse “medicamento” caseiro é o Comentário Judaico do Novo Testamento, que diz: “A água era muitas vezes impura, transmitindo doenças; já com o vinho, a possibilidade de acontecer isso era menor. O próprio vinho era em geral diluído em três a seis partes de água” .3

O estado de saúde de Tim óteo contraria algumas heresias modernas, segundo as quais um crente fiel não pode ter doenças, pois Cristo já as levou sobre a cruz. “Eles ensinam que “todo cristão deve esperar viver uma vida plena, isenta de doenças” e viver de 70 a 80 anos, sem dor ou sofrimento. Quem ficar doente é porque não reivindica seus direitos ou não tem fé. E não há exceções. Pregam que Isaías 53.4,5 é algo absoluto. Fomos sarados e não existe mais doença para o crente. E, se o crente não for curado pela oração da fé, é por dois motivos: está em pecado, ou não tem fé!” Esse ensino tem levado muitos crentes incautos ao desespero, quando veem pessoas da família falecerem depois de orações em que é determinada a cura e o doente não resiste a enfermidade e morre.

Q uanto à expiação e a cura, devemos ressaltar o seguinte:

No entanto, a salvação envolve, imediatamente, o espírito e a alma. Quan­to ao corpo, não há um efeito imediato, pleno, quanto à libertação dos males decorrentes do pecado. Isso porque, enquanto o espírito e a alma (o homem interior - cf. 2 Co 4.16) são salvos no momento da confissão

1 CPAD. Bíblia de estudo pentecostal. Nota de rodapé 1 Tm 5.23. p. 1872.2 Ibidem, p. 1872.3 David H. STERN. Comentário judaico do Novo Testamento, p. 700.

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a Cristo, o corpo ainda aguarda a redenção plena, conforme diz a Bíblia, sobre o gemido da criação: “E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23 - grifo do autor).

A Bíblia diz: “No mundo, tereis aflições” (Jo 16.33). O apóstolo Paulo viveu doente (ver 1 Co 4.11; G14.13), passou fome, sede, nudez, agressões, etc. Seus companheiros adoeceram (Fp 2.30). Timóteo tinha uma doença crônica (1 Tm 5.23). Trófimo ficou doente (2 Tm 4.20). Essas pessoas não tinham fé? Estavam em pecado?4

De form a alguma. O que acontece ao ímpio, em term os físicos, hum anos ou terrenos, pode acontecer ao justo. M as graças a Deus que, ao final, na eternidade, diante de Deus, há diferença entre o salvo e o perdido (Ml 3.17,18).

II - AOS EMPREGADOS E PATRÕES

1. Os Deveres dos ServosN o Império Romano, havia poucas classes sociais. A maioria dos que

se tornavam cristãos pertencia às classes mais humildes, geralmente dos plebeus, dos servos, dos escravos ou dos gentios. Mas alguns convertidos eram oriundos de classes nobres, e tinham servos a seu serviço. Com o também havia servos cristãos, sob as ordens de senhores crentes ou não. Com o era bem informado da situação social das comunidades cristãs, nas igrejas sob seu pastoreio, Paulo não deixou de lado a questão do relacionamento entre servos e patrões. Para os que tinham senhores não crentes, ele ensinou que “Todos os servos que estão debaixo do jugo estimem a seus senhores por dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados” (1 Tm 6.1).

2. Servos de Senhores Não CrentesPaulo era bastante cuidadoso quanto ao tratamento hum ano na

igreja local. Escrevendo aos colossenses, ele disse: “Vós, servos, obe­decei em tudo a vosso senhor segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos hom ens, mas em simplicidade de

4 Elinaldo Renovato DE LIMA. Perigos da pós-modernidade, p. 106, 107.

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coração, temendo a D eus” (Cl 3.22). Nesse texto, ele exorta de m odo geral aos servos cristãos para que obedeçam a seu “senhor segundo a carne” , sem fazer distinção da sua condição espiritual (crentes ou não). Notem os que a orientação do apóstolo é a de que os servos (ou escra­vos, à época) crentes se comportem, no trabalho, de forma consciente, “não servindo só na aparência, como para agradar a hom ens” , mas pelo fato de serem tementes a Deus. O rientação que é corroborada por Paulo, definindo um verdadeiro “princípio de ética cristã” , para a igreja de Colossos: “E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos hom ens” (Cl 3.23).

3. Servos de Senhores CrentesDa m esm a form a, Paulo indica o com portam ento dos servos

cristãos, em relação aos seus patrões crentes: “E os que têm senho­res crentes não os desprezem , por serem irm ãos; antes, os sirvam m elhor, porque eles, que participam do benefício , são crentes e am ados. Isto ensina e exorta” (1 T m 6 .2). Se em relação aos senho­res não crentes os servos cristãos deveriam ter um com portam ento adequado à sua fé, em relação aos que tinham senhores crentes, deveriam servir com m uito m ais dedicação e zelo, pelo fato de se­rem “ crentes e am ad o s” . Esse ensino deve ser observado por todos os cristãos, em todas as igrejas. Devem respeitar e honrar todas as pessoas, m esm o as descrentes. Porém, têm o dever de dar p riorida­de e consideração aos que são irm ãos em C risto , sejam senhores, sejam servos ou em pregados.

O texto em apreço trata do com portam ento dos servos ou empre­gados cristãos perante seus patrões. Mas cremos ser oportuno lembrar que os senhores ou patrões crentes em Jesus devem ter com portam en­to ético compatível com a ética cristã.

III - CONSELHOS GERAIS

1. Aos que Não Respeitam a Sã DoutrinaA sã doutrina é o conjunto de ensinos proferidos por N osso Senhor

Jesus Cristo em sua fonte primária, que são os Evangelhos. A inda que haja as chamadas “variantes textuais” , em que um escritor inseriu algu­

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ma expressão que não consta dos originais, os Evangelhos merecem credibilidade por se tratarem de relatos e escritos, considerados com consistência e autenticidade com o inspirados pelo Espírito Santo. Em prim eira m ão, é deles que podem os extrair a “sã d ou trin a” . Ao lado dos Evangelhos, há tam bém os ensinos dos apóstolos de Jesus, em suas epístolas, as quais tam bém merecem crédito, “porque a profecia nunca foi produzida por vontade de hom em algum , mas os hom ens santos de D eus falaram inspirados pelo Espírito San to ” (2 Pe 1.21).

Porém, como acontecia na igreja em Efeso, sempre houve algum ensinador, “mestre” ou “doutor” , que resolveu ministrar ensinos “di­ferentes” , “ inovações doutrinárias” , muitas vezes “espetaculares” , que, em vez de edificar, causam confusão no meio dos crentes.

Paulo considera tais ensinadores de falsas doutrinas como sober­bos, presunçosos, que acham que são mais entendidos que os demais obreiros, promotores de contendas. Invejosos, que difundem blasfê­mias, corruptos, que acham que “a piedade seja causa de ganho” .

2. Aos que Desejam Riquezas MateriaisA pós mostrar que os que não obedecem à Palavra de Deus são

soberbos, invejosos, causadores de dissensões e oportunistas, que que­rem que “a piedade seja causa de ganho” , Paulo acrescenta ensina­mento importante sobre a vida cristã ou “a piedade” . “Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este m undo e manifesto é que nada podem os levar dele. Tendo, po­rém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes” (1 Tm 6.6-8). De fato, a vida cristã só tem sentido se o crente viver com contentamento, alegre e feliz, na presença do Senhor. Paulo lembra que “nada trouxemos para este m undo” e “nada podem os levar dele” . E a mesma visão que Jó teve séculos antes, quando, em meio à sua tribulação terrível, exclamou: “N u saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tom ou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21).

A carta de Paulo a T im óteo dedica espaço bem significativo aos que buscam riquezas, com advertências que devem ser considera­das por todos os que querem viver segundo os princípios cristãos:

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“M as os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em m uitas concupiscências loucas e nocivas, que subm ergem os ho­m ens na perdição e ruína. Porque o am or do dinheiro é a raiz de toda espécie de m ales; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si m esm os com m uitas dores” (1 T m 6.9,10).

Q uan do a riqueza do crente é fruto de trabalho honesto, dig­no, que glorifica a D eus, certam ente é um a riqueza que é fruto da bênção do Senhor. M as Paulo se refere aos “que querem ser ricos” , ou que vivem bu scando bens m ateriais, acim a dos bens espirituais, que não dão valor às coisas de D eus. São com o o rico da parábola, de quem Jesus disse: “A ssim é aquele que para si ajunta tesouros e não é rico para com D eus” (Lc 12.21).

Nesse texto, o apóstolo enfatiza que “o am or do dinheiro” , ou melhor, “o am or ao dinheiro” é “a raiz de toda espécie de m ales” . À prim eira vista, parece um exagero. M as o am or ao dinheiro, ou a avareza, tem contribuído para m uitas m isérias m orais e sociais. E pelo am or ao dinheiro que os inescrupulosos agem de m á fé, preju­dicando a tantas pessoas.

O s pastores, que usam o púlpito, ou a mídia, para praticarem “pro­paganda enganosa” , “vendendo” milagres e curas, são corruptos, e o fazem por am or ao dinheiro.

M as vale salientar que Deus jam ais divinizou a pobreza, nem jamais demonizou a riqueza. M as a Palavra de Deus encara a busca pelas ri­quezas com o fator de empecilho ao melhor relacionamento com Ele. Jesus foi realista quando disse: “E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de um a agulha do que entrar um rico no Reino de D eus” (Mt 19.24).

O Mestre não disse que é impossível um rico ser salvo. D e forma alguma. M as acentuou que é difícil. N ão por causa da riqueza em si, mas pela atitude m ental que a m aioria dos ricos tem em relação à vida espiritual. A riqueza faz m uitos se sentirem autossuficientes, orgulhosos, arrogantes e confiantes no poder econôm ico e financei­ro. O s bens m ateriais propiciam mais oportunidades para um a vida desregrada. H aja vista o desperdício de dinheiro na prostituição, no adultério, nos jogos, nos vícios e em tantos prazeres hum anos e pas­sageiros da vida.

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3. Conselhos aos que São Ricos

1. A esperança vã nas riquezasO ensino de Paulo é prescritivo em relação aos que já são ricos, aler­

tando que as riquezas são incertas. “M anda aos ricos deste m undo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantem ente nos dá todas as coisas para delas gozarmos” (1 T m 6.17).

2. A prática do bemN o m esm o trecho de sua carta, Paulo acrescenta outros conse­

lhos sábios em relação ao com portam ento do crente que possui riquezas, m esm o concedidas por D eus. Ele diz que tais pessoas “fa­çam o bem , enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam com unicáveis” (1 T m 6.18). Fazer o bem é resu ltado do fruto do Espírito cham ado de “ben ign idade” , a qualidade de quem faz o bem . As boas obras não salvam ninguém (E f 2.8 ,9), mas são necessárias ao bom testem unho cristão; fazem parte da vida cristã; um salvo deve enriquecer “em boas ob ras” . E serem generosos para com os m enos favorecidos. Isso fala de altruísm o, ou seja, a preocu­pação com os outros, em oposição ao egoísm o, que leva o hom em a pensar prim eiro em si próprio . A igreja que só prega o evangelho com palavras pode perder in fluência no m eio em que se encontrar. O evangelho integral é aquele que proclam a a palavra (Kerigma), m as pratica a diaconia, ou o serviço cristão em favor do próxim o. A diaconia foi criada em função do atendim ento aos problem as sociais na Igreja Prim itiva (At 6).

3. 0 bom tesouro do crente“[...] que entesourem para si mesm os um bom fundam ento para o

futuro, para que possam alcançar a vida eterna” (1 T m 6.19). Entesou­rar “bom fundam ento” significa a prática de bom testemunho e ações de caráter cristão, que são base para um futuro sólido, fundam entado nos princípios cristãos. O crente sábio não entesoura para esta vida, mas para a futura (Mt 6.19-21). Se alguém põe o seu coração nos recur­sos materiais, seu tesouro está nisso. Em coisas vulneráveis, sujeitas às

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instabilidades dos bens materiais. Mas, se poe seu coraçao nas coisas que são de cim a” (Cl 3.1,2), tem uma riqueza espiritual, eterna.

CONCLUSÃONeste capítulo, vimos como Paulo era cuidadoso em sua missão

pastoral. Ele se preocupava com diversos assuntos, de interesse da igre­ja, de sua liderança e de seus membros. Deu especial importância à m anutenção dos obreiros, discorreu sobre a questão da disciplina dos líderes, especialmente dos presbíteros que vierem a falhar. D e forma bem clara, doutrinou sobre o relacionamento hum ano, na igreja local, entre servos e senhores. É um a das marcas relevantes da teologia pau- lina o cuidado com as relações hum anas entre cristãos e não cristãos. E conclui o texto, dando orientações sobre o trato com os bens ou recursos materiais. São conselhos tão sábios que devem ser observados mesmo nos dias presentes, quando esperamos a volta de Jesus.

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Capítulo 7

Eu S ei e m Q u e m

T e n h o C r id o

N a primeira carta a Tim óteo era evidente a preocupação do apósto­lo Paulo em alertar a igreja em Efeso com relação aos falsos mestres e seus ensinos perigosos contra a fé cristã. N a segunda carta, no entanto, podem os perceber que ele se dedica a ensinar sobre diversos assuntos, de caráter específico e bem pessoal para com o seu discípulo amado. Paulo começa a segunda carta lem brando a sua origem e firmeza no evangelho, e demonstra o cuidado extremado que tinha para com a vida espiritual de Tim óteo, lem brando, também, a origem do discípulo, oriundo de um a família cristã exemplar.

Escrevendo da prisão, Paulo demonstra seu caráter cristão fortaleci­do na fé em Jesus. Q uando muitos, sem estarem presos, não conseguem manter-se firmes na fé, Paulo manifesta sua fortaleza de caráter e perso­nalidade cristãos. A prisão é lugar que destrói a muitos, levando-os ao desespero e à descrença. N o entanto, Paulo comprova que podia estar preso fisicamente, confinado a uma cela romana, mas seu espírito e sua fé estavam perfeitamente livres para continuar servindo a Deus e que “a palavra de Deus não está presa” (2 T m 2.9). Ele mostra que valeu a pena ter contribuído para a formação de um jovem obreiro, o qual, em seu lugar, o representava tão bem, a ponto de ser seu embaixador junto à igreja em Efeso.

Paulo concita Tim óteo a não se envergonhar do evangelho, nem dele, seu mestre, pelo fato de estar na prisão. Certam ente, ele já tinha a consciência de que um discípulo de Cristo não pode envergonhar-se dEle (Mt 10.32,33). Paulo declara solenemente sua certeza e firmeza na fé, estim ulando Tim óteo a não fraquejar em qualquer circunstância: “ [...] por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho, por­

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que eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele D ia” (2 Tm 1.12). U m exemplo de fé para todos os obreiros, em todos os tempos. N unca se deve desani­mar, mesmo quando as circunstâncias forem adversas.

I - ORAÇÕES E AÇÕES DE GRAÇAS

1. Intercessão por TimóteoO pastor Paulo sabia das necessidades de Timóteo, e orava por ele,

intercedendo por sua firmeza e vitória espiritual, ante as lutas que en­frentava como um jovem obreiro, ainda sem a experiência necessária para saber conduzir-se em situações de maior desafio à liderança. Ele passa a expressar seu cuidado, dizendo que orava sem cessar, “noite e dia” (2 Tm 1.3). Será que nos dias presentes os pastores mais antigos oram pelos mais novos com verdadeiro amor? Sem dúvida, nos dias de hoje, faz-se necessá­rio ainda mais esse cuidado com os novos obreiros do Senhor.

Muitos deles ressentem-se da falta de interesse dos que os consagra­ram ou sobre eles impuseram as mãos, no dia da consagração ou separa­ção para o ministério. Devemos seguir o exemplo de Paulo, que, tendo enviado Tim óteo para supervisionar a igreja em Éfeso, não deixou seu “filho na fé” (1 Tm 1.2) entregue a si mesmo, nas pesadas tarefas que havia de desenvolver. Lembremos que, para uma carta chegar às mãos de um destinatário, àquela época, muitos dias ou até meses levariam para chegar ao destino.

2. A Sensibilidade de PauloPaulo era um dos expoentes máximos dos apóstolos de Cristo. Suas

qualificações ministeriais são reconhecidas por todos os estudiosos e intérpretes do Novo Testamento. M as não se descurava do lado huma­no do ministério. U m exemplo para a liderança cristã. H á casos em que o obreiro é (ou julga-se) tão importante, que se esquece dos aspec­tos hum anos e emocionais da igreja e dos seus liderados. E dirigem a igreja local como se fosse um a organização técnica, racional e fria. Há casos em que, se o obreiro “não atingir as m etas”, geralmente financei­ras, pode ser “dispensado” sem a m enor consideração. Isso não deve ser característica de um ministério cristão.

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Paulo diz a Tim óteo, depois de algum tempo cum prindo a mis­são em Efeso (1 Tm 1.3; 2 Tm 1.18), que desejava vê-lo de perto, e se lembrava de suas lágrimas, para ser confortado com sua presença. Lembremos de que Paulo estava preso, em meio à perseguição de Nero aos cristãos (2 Tm 1.16,17); fora abandonado por muitos amigos (2 Tm 1.15); e sentia que seu ministério aproximava-se do fim. Nessa seção da carta, podem os perceber, de um lado, as necessidades emocionais de Paulo; e o cuidado e o afeto que o velho pastor tinha por seu discípulo mais novo. De outro lado, percebemos que T im óteo era um obreiro igualmente sensível e hum ano. Ele derramava lágrimas, em algumas ocasiões, quando comungava com Paulo os seus sofrimentos ou de­cepções no ministério. Chorar faz bem, quando as lágrimas são de ale­gria, ou de emoções incontidas, diante das adversidades. Tranqüiliza e equilibra a mente e o corpo. O próprio Senhor Jesus chorou, ao ver a dureza dos seus concidadãos, em Jerusalém (Jo 11.35).

3. A Formação Familiar de TimóteoT im óteo era um jovem obreiro de caráter exemplar. Seu disci-

pulado com eçou no lar, com o exemplo de sua avó, Loide, e de sua mãe, Eunice, am bas judias, mas convertidas ao evangelho. Seu pai era grego. N ão há inform ação quanto a ele ter ou não se convertido ao evangelho.

N ão temos a menor dúvida de que a formação familiar de Tim óteo incluía o ensino da sã doutrina, do culto no lar e a valorização da pie­dade cristã. Em seu crescimento espiritual, cumpriu-se o que a Bíblia diz: “Instrui o m enino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele” (Pv 22.6). Para isso, faz-se necessário que a adoração a Deus, no lar, ou o culto doméstico, seja valorizada. U m a recom endação que fazia parte da educação judaica, desde tem­pos antigos. “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos, e ensinai-as a vossos filhos, falando de­las assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te; e escreve-as nos umbrais de tua casa e nas tuas portas” (D t 11.18-20). A educação familiar de T im óteo serve de exemplo para as famílias cristãs atuais.

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II - A CONVICÇÃO EM DEUS

1. A Imposição de MãosPaulo conclui essa parte da sua segunda carta a T im óteo fazendo

referência ao “dom de D eus” , que nele existia, pela im posição de mãos do seu mentor espiritual “Por este motivo, te lembro que despertes o dom de Deus, que existe em ti pela imposição das minhas m ãos” (2 Tm 1.6). Esse “dom ” (gr. charisma) era sem dúvida o “dom ” para o ministério. A imposição de mãos sempre foi um ritual de grande valor, na vida ministerial da igreja cristã.1 Jesus usou as mãos para efetuar vá- rias curas (Mc 6.3; Lc 4.40). Saulo foi curado pela imposição de mãos de Ananias (At 9.17). Jesus impôs as mãos e abençoou crianças (Mc 10.16); o batismo com o Espírito Santo era ministrado com imposição de mãos (At 19.6), como um a das formas de seu recebimento. A consa­gração de obreiros era solenemente realizada com imposição de mãos do ministério ou do presbitério (1 T m 4.14; 2 Tm 1.6), prática que é seguida, hoje, em quase todas as igrejas evangélicas.

2. 0 Espírito de Fortaleza, de Amor e de Moderação“Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de

amor, e de moderação” (2 Tm 1.7). N ão obstante a tradução do termo “espírito” estar em letra minúscula, refere-se à presença do Espírito San­to ná^vida do jovem obreiro. Esse “espírito” ou essa presença, não é de “temor” . Mas é espírito de “fortaleza, e de amor, e de moderação” . Aqui, vemos algo muito sublime. O Espírito Santo é Espírito de fortaleza, mas suas ações e atividades são feitas com equilíbrio. O poder do Espírito Santo atua com “fortaleza” e, ao mesmo tempo, com “amor” e “modera­ção”. Há lugares, em que, em determinados eventos ou reuniões, há um verdadeiro escândalo de falta de equilíbrio, no uso dos dons espirituais.

A falta do discernimento espiritual tem levado igrejas inteiras ao histerismo sensacionalista, que em nada glorifica ao Senhor.

1 A imposição de mãos não se fazia apenas na Igreja Primitiva. Povos pagãos usavam a imposição de mãos como um ato místico e sagrado. Na índia, em Roma, no Egito, na Babilônia e em muitos lugares, essa prática era comum. Acreditava-se que pelas mãos passava energia que curava e abençoava as pessoas.

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Diante dessa declaraçao enfática sobre o poder do Espírito Santo, na vida dos crentes, Paulo exorta Tim óteo, dizendo:

Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes, participa das aflições do evan­gelho, segundo o poder de Deus, que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu pró­prio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos, e que é manifesta, agora, pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho. (2 Tm 1.8-10)

Essa exortação nos mostra que o crente em Jesus não deve jamais se envergonhar dEle nem dos seus pastores que dão suas vidas pela igreja do Senhor.

O apóstolo concitou Tim óteo a participar “das aflições do evan­gelho” . Ele sabia o que falava, não por ouvir dizer, ou por teoria ou retórica hum ana. Paulo passou pelo fogo do sofrimento pelo amor a Deus e à sua obra.

Tim óteo tinha conhecimento das experiências de Paulo, em suas jornadas em prol da igreja do Senhor Jesus. Mais do que qualquer ou­tro apóstolo, ele sofreu de m odo intenso para cumprir sua missão. Ele lembrou tais fatos a Tim óteo, para que o jovem obreiro não se enver­gonhasse de Deus nem do seu pastor ante os inúmeros mom entos de tribulações que experimentara. Sua certeza da vitória, não obstante as circunstâncias adversas se levantarem, quais ondas num mar encapela­do, o fez exclamar, num verdadeiro “Cântico de Vitória” (Rm 8.37-39).

3. Doutor dos GentiosDando seqüência às suas palavras de encorajamento, Paulo diz a

Tim óteo, exaltando a Cristo: “(...j para o que fui constituído pregador, e apóstolo, e doutor dos gentios; por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho, porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele D ia” (2 Tm 1.11,12). Ele tinha consciência e convicção de sua chamada trí­plice, tendo sido constituído para ser “pregador, apóstolo e doutor dos gentios” . C om o pregador Paulo tinha o talento e o dom natural da

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oratória. Exímio orador, poliglota, Deus usou-o com essas qualidades, fazendo dele o maior dos intérpretes do evangelho de Cristo, através de suas mensagens a muitos povos. C om o apóstolo, ainda que sendo “grande” em sua estatura espiritual e ministerial, considerava-se a si mesmo “o m enor dos apóstolos” (1 C o 15.9).

C om o “doutor dos gentios” , reconheceu que, em si m esmo, rece­beu, da parte de Deus, conhecimentos e sabedoria que não foram da­dos a outros. Seu “doutorado” foi realizado e concluído na “faculdade da tribulação” (Rm 5.3), nos cursos de especialização em sofrimentos:

Até esta presente hora, sofremos fome e sede, e estamos nus, e rece­bemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, tra­balhando com nossas próprias mãos; somos injuriados e bendizemos; somos perseguidos e sofremos; somos blasfemados e rogamos; até ao presente, temos chegado a ser como o lixo deste mundo e como a

escória de todos. (1 C o 4.11-13)

Após sua autoapresentação, Paulo exorta T im óteo a manter-se fir­me na fé, conservando “o m odelo das sãs palavras” , que o jovem discí­pulo recebeu, da parte de Paulo, “na fé e na caridade que há em Cristo Jesus’ (2 T m 1.13). E o incentiva, dizendo: “G uarda o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós” (2 T m 1.14). O “bom depósi­to” era o acervo de conhecimentos que Paulo e T im óteo receberam da parte de Deus. É o “tesouro” , guardado em “vaso de barro” que deve glorificar a Deus: “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 C o 4.7).

III - UM CONVITE AO SOFRIMENTO POR CRISTO

1. 0 Fortalecimento na Graça“Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. E o

que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Tm 2.1,2). Todo cristão precisa ser forte, principalmente no aspecto espiritual. O jovem discípulo de Paulo certamente enfrentava desafios além de suas forças. Obreiro novo, deve ter se defrontado com homens mais idosos e experientes, que não acreditavam no seu potencial. Os falsos mestres

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que se encontravam em Éfeso devem ter se oposto ao jovem obreiro. Diante dessa realidade, estando tão distante, Paulo lhe diz que devia forti' ficar-se “na graça que há em Cristo Jesus”. Sem dúvida essa fortaleza deve fazer parte da vida do obreiro em qualquer situação. Muitas vezes, em situações de tranqüilidade no ministério, o obreiro pode descuidar-se de buscar o poder de Deus, e fracassar.

Diante das lutas, tribulações e tentações, o crente só vence se tiver a força que vem do alto. Escrevendo aos efésios, Paulo disse: “N o de­mais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder (Ef 6.10). Fortalecer-se na graça é fortalecer-se no Senhor e na força do seu poder” . Paulo estava sofrendo. Preso e sentindo o abandono de seus amigos, na hora mais triste de sua vida, se ele não tivesse a força do poder de Deus, não teria resistido. C om esse sentimento, Paulo diz a Tim óteo que confiasse o que aprendeu com seu pai na fé a homens fiéis e idôneos com capacidade para ensinarem a outros. Se Tim óteo de­monstrasse fraqueza, não teria credibilidade para dar exemplo a outros.

2. 0 Bom Soldado de Cristo“Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo

(2 Tm 2.3). A vida cristã é um misto de alegrias e tristezas; de lutas e vi­tórias. Jesus advertiu seus discípulos, dizendo: “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no m undo tereis aflições, mas tende bom âni­mo; eu venci o m undo” (Jo 16.33). H á crentes que não experimentam aflições em sua vida porque não se dispõem a viver de acordo com os padrões cristãos. Preferem um a vida de prazeres e satisfações materiais, fogem da luta contra o pecado, o m undo e o Diabo.

E buscam seus interesses pessoais. Para esses, que não se incomo­dam, mas se acom odam ante os desafios, o desinteresse pelas coisas de Deus os fazem sentir-se melhor. Porém, para os crentes que aceitam tom ar a cruz (Mt 16.24), renunciando a si mesmos, a vida cristã e uma luta constante, sem tréguas. Sua vida pode ser comparada à de um sol­dado, que está na frente da batalha. C om o diz Paulo, sofre as aflições como bom soldado de Cristo . E é na luta, nos combates espirituais, “pela fé que um a vez foi dada aos santos” (Jd 3), que o servo de Deus se fortalece e acumula experiências que o capacitam a ser mais que vencedor (Rm 8.37).

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Um bom soldado, nas forças armadas, engaja-se na vida militar com amor, dedicação, esforço e disciplina rígida. O bom soldado de Cristo também precisa demonstrar sua vocação para fazer parte do Exército de Cristo. N ão pode servir a Deus agradando ao mundo. “Ninguém que milita se embaraça com negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. E, se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente” (2 Tm 2.4,5). Quantos, na vida cristã, ficaram para trás, caídos à beira do caminho e do campo de batalha, porque não vigiaram nem oraram (Mt 26.41), e se embaraçaram com coisas futeis e passageiras desta vida.

3. 0 Lavrador de Cristo e os Sofrimentos da Obra“O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos”

(2 Tm 2.6). A agricultura é um dos motivos de inspiração para o uso de figuras de linguagem, em relação à pregação do evangelho. Jesus, o Mestre, usou várias parábolas em seus sermões para mostrar o significa­do do Reino de Deus ou o Reino dos céus. N a parábola do semeador, Ele demonstrou que o lavrador semeia em todos os terrenos. Figura da pregação do evangelho aos diversos tipos de pessoas, dentre as quais há as que são comparadas a terras que não produzem, e apenas “outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta” (Mt 13.1-8; ver Jo 15.1; Mt 21.33). Paulo também usou essa metáfora di­versas vezes. EJe diz aos coríntios que somos “lavoura de Deus” ; “porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus” (1 C o 3.9). Diz a Timóteo que quem deve gozar dos frutos da plantação é o “lavrador que trabalha”.

Depois de convidar Timóteo a sofrer com ele “as aflições de Cristo”, Paulo ressalta que ele próprio muito sofrerá e sofria, na ocasião, por causa do trabalho do Senhor. Estava preso, injustamente, por causa do evange­lho. Mas exortou o jovem obreiro, assegurando que o Senhor lhe daria “entendimento em tudo” (2 Tm 2.7), visto que ressuscitou dos mortos, conforme ele pregava (2 Tm 2.8).

E conclui esta parte da missiva, de m odo eloqüente e vibrante, di­zendo a Tim óteo: “Portanto, tudo sofro por am or dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna. Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também

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com ele viveremos; se sofrermos, tam bém com ele reinaremos; se o negarmos, tam bém ele nos negará; se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si m esm o” (2 T m 2.10-13). D e um lado, essa conclusão nos mostra que D eus dá a recompensa aos que o servem, em meio às tribulações e aflições da vida. M as se formos infiéis, ele não corresponde à infidelidade, pois “não pode negar-se a si m esm o” .

CONCLUSÃOO apóstolo Paulo era homem de fé inabalável. Sofreu como ne­

nhum outro apóstolo experiências dolorosas em seu ministério. Outros apóstolos também sofreram, e foram m ortos por amor do evangelho. Mas Paulo, antes de sua morte, passou por momentos de grandes tribu­lações. Sofreu naufrágio, passou fome, foi espancado, preso em calabou- ço, foi abandonado por seus amigos e irmãos, além de outras agruras em sua missão. Mas demonstrou ter um caráter firme e decidido, jamais fraquejando ante as pressões e ameaças à sua fé. Demonstrou ter aquela firmeza de Daniel, de Sadraque, de Mesaque e de Abdênego, os quais também não se encurvaram ante as ameaças do Diabo. Por isso, teve autoridade para dizer a Timóteo, referindo-se a Jesus Cristo: “por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho, porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele D ia” (2 T m 1.12).

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Capítulo 8

A p r o v a d o s po r D eus

e m C r is t o J e s u s

Dificilmente poderemos encontrar um discipulado tão abrangente e eficaz quanto o que Paulo conseguiu desenvolver na vida de Tim óteo. Hoje, em grande parte das igrejas, já se dá mais valor ao discipulado. Sem dúvida, somente através de uma integração de um novo convertido no seio da igreja local, visando à consolidação de sua fé cristã, é que se pode dizer que a missão evangelizadora está sendo bem-sucedida. O s re­sultados de um discipulado eficaz só podem ser observados na vida dos que permanecem firmes, servindo ao Senhor com alegria e segurança espiritual. Evangelizar é a m issão da Igreja. Discipular é tarefa do maior significado na igreja local.

Jesus não m andou apenas evangelizar, ou proclamar as Boas-Novas de Salvação. M as ordenou: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, bati­zando-as em nom e do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho m andado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consum ação dos séculos. A m ém !” (Mt 28.19,20 - grifo nosso). O verbo ensinar, nesse texto, tem o sentido de “fazer discípulos de todas as nações” , ou de todas as etnias, especialmente, ou entre os gentios. O ensino doutrinário cristão inclui o rito do batis­m o em águas, que é a confirm ação exterior da conversão de um a pessoa. Por isso, Jesus exortou a que seus discípulos ensinassem as nações a “guardar todas as coisas” que ele havia m andado.

C om essa visão abrangente acerca do discipulado eficaz, Paulo teve esmero no cuidado com a vida espiritual e moral de Tim óteo. Ele não se contentava em ver Tim óteo apenas como um mensageiro, entregador de suas cartas nas igrejas por ele fundadas. Porém, almejava, e conse­guiu, ver no jovem obreiro, um verdadeiro evangelista, um ministro do evangelho (cf. 2 Tm 4.5). N o trecho da carta, estudado neste capítulo,

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vemos que ele faz ligação com a seção anterior, estudada no capítulo antecedente, quando o apóstolo declara sua firmeza, na fé em Cristo, dizendo: “Eu sei em quem tenho crido” (2 T m 1.12), e exorta seu discí­pulo a seguir o seu exemplo como obreiro e servo de Deus.

Nesta parte da carta, Paulo, o tutor espiritual de Timóteo, faz uma das mais belas exortações acerca do ministério, dizendo: “Procura apre- sentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergo­nhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). Paulo enviara T im óteo a um a igreja que enfrentava problemas os mais diversos, de ordem espiritual, ética e moral. Ali, em Efeso, havia falsos mestres e falsos ensinos, que tinham o objetivo de desvirtuar a vida cristã. O s gnósticos eram divididos em dois grupos basicamente. U ns ensinavam que seria necessário o hom em afastar-se das aglomerações humanas, para evitar a contaminação do pecado, e que a carne, ou o corpo, não presta para nada. Só o espírito tinha valor. Eram os ascetas. C om essa visão, surgiram os monges, e os seus monastérios.

O utros eram licenciosos e defendiam a ideia de que, se a carne não presta, deve ser destruída pela prática de atos im orais, de prosti­tuição, de hom ossexualidade, bebedeiras, e de todo o tipo de depra- vação, abominável aos olhos de Deus. D e um a form a ou de outra, os falsos mestres destilavam esses ensinos heréticos, que contam inaram m uitos crentes. Por isso, Paulo enfatizava o cuidado que T im óteo deveria ter para ser um obreiro digno, íntegro, aprovado por Deus, diante da igreja e dos não cristãos. N o final da seção anterior, Paulo escreveu: “Portanto, tudo sofro por am or dos escolhidos, para que tam bém eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna. Palavra fiel é esta: que, se m orrerm os com ele, tam bém com ele viveremos; se sofrerfnos, tam bém com ele reinarem os; se o negar­m os, tam bém ele nos negará; se form os infiéis, ele perm anece fiel; não pode negar-se a si m esm o” (2.10-13).

Para ser aprovado por Deus, o obreiro precisa suportar os sofrimen­tos, as oposições, os desafios e, acima de tudo, as tentações. Som ente com um caráter cristão, íntegro e forjado no relacionamento pessoal com Cristo, é que um ministro do evangelho, em qualquer de suas funções, pode vencer os embates contra a carne, o m undo e o Diabo, que tudo faz para desestabilizar os servos de Deus, especialmente os

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A pro va do s po r D e u s em C r isto J e su s | 9 5

que detêm posições de liderança nas igrejas locais. M as Paulo tinha a convicção de que é possível vencer todos os adversários e todas as coisas que se opõem à vida cristã. Ele afirmou de m odo categórico e firme: “M as em todas estas coisas som os mais do que vencedores, por aquele que nos am ou” (Rm 8.37).

I - A URGÊNCIA DE SE ACHAR APROVADO POR DEUS

N o trecho da carta que antecede a esta seção, Paulo já havia exor­tado Tim óteo quanto à salvação (2 Tm 2.20), quanto à necessidade da perseverança nos cam inhos do Senhor, bem com o com relação à apostasia de m uitos que, atraídos pelos falsos ensinos, afastaram-se da verdade do evangelho de C risto (2 Tm 2.11-13). Por isso, ele diz a T im óteo para trazer “estas coisas à m em ória” e para não se envol­verem em “contendas de palavras, que nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes” (2 Tm 2.14). Sem dúvida alguma, em Efeso, os falsos mestres apreciavam provocar discussões entre os crentes, visando suscitar dúvidas quanto à sã doutrina.

1. Contendas que PervertemÉ um a das características marcantes dos hereges ou dos apóstatas

julgarem-se “donos da verdade” , de terem descoberto “a última revela­ção” de Deus, segundo suas pesquisas e ensinos deturpados. Norm al­mente, esses “mestres” são presunçosos, arrogantes e até agressivos. Valem-se da lógica humana, da retórica e das argumentações aparente­mente fundadas na Bíblia para impressionar os crentes incautos, que, via de regra, não gostam de estudar a Palavra de Deus. M uitos sequer leem a Bíblia, e, quando muito, o fazem no m om ento do culto, em que o dirigente convida para a “leitura oficial” . Depois, fecham o livro sagrado, e só o abrem “na próxima semana, no próxim o culto” .

São diversos os tipos de “contendas de palavras” , que eventualmen­te surgem no meio cristão ou entre evangélicos e pessoas de outras denom inações ou igrejas. O s salvos em Cristo não devem estar em busca de discussões com pessoas de outras igrejas. Mas, às vezes, opor­tunidades surgem inesperadamente, e muitos não sabem o que dizer ante argumentações que questionam a fé, em especial, a fé pentecostal.

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Já vi de perto, e até participei, de discussão entre irmãos presbiterianos ou batistas acerca da doutrina da salvação. O s pentecostais, em geral, entendem que a expiação feita por Cristo na cruz do Calvário foi para todas as pessoas que o aceitam com o Salvador. O s irmãos batistas e presbiterianos, em geral, entendem que somente “os eleitos” ou os “predestinados” têm esse direito. O s pentecostais usam versículos bí­blicos para fundam entar sua posição. O s irmãos “calvinistas” também usam a Bíblia para embasarem seus argumentos. Enquanto a discussão é respeitosa, num exercício de afirmação da fé, ou de busca da verdade, é salutar. M as há ocasiões, em que o confronto torna-se “contendas de palavras, que nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes”. Entendemos que, na eternidade, encontraremos tanto “arm inianos” quanto “calvinistas” que forem fiéis a Cristo, lá, no céu.

O s falsos mestres são mais num erosos hoje do que nunca. E os servos de Deus precisam estar bem preparados para saber argumentar em defesa de sua fé, firm ada na sã doutrina. Q uando surgirem tais “contendas de palavras” , que pervertem, e não levam a lugar nenhum, a melhor coisa é seguir o conselho de Paulo a Tito: “M as não entres em questões loucas, genealogias e contendas e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs. A o hom em herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado” (Tt 3.9-11).

2. 0 Obreiro Aprovado“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não

tem de que se envergonhar, que m aneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). São várias as características marcantes de um “obreiro apro­vado” por Deus. N o texto, Paulo apresenta duas qualificações que são fundam entais e indispensáveis para essa aprovação.

1) “Que não tem de que se envergonhar”Era um conselho pesscãl a Tim óteo, e não propriam ente à igreja

em que ele se encontrava. Era uma exortação à integridade espiritual e moral, diante de Deus, da igreja local e diante dos hom ens. Referia-se ao testemunho que um obreiro cristão deve demonstrar. Jesus disse que o cristão é “sal da terra” e “luz do m undo” (Mt 5.13). O u seja, o

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A provados por D e u s em C r isto J e su s | 97

crente em Jesus, e especialmente o obreiro, o líder, na obra do Senhor, deve ser referência para o m undo! Em outra carta, Paulo diz que o bispo deve ser “irrepreensível” (1 Tm 3.2), de conduta ilibada, que não apresente exemplo negativo de atitude ou ação que desabone sua conduta. O obreiro fiel, além de não se envergonhar do evangelho de Cristo (Rm 1.16), “não tem de que se envergonhar” em sua conduta, em seu procedimento pessoal; não tem o que esconder ou ocultar por ser desonroso em sua vida.

2) “Maneja bem a palavra da verdade”O verbo m anejar tem o sentido de trabalho prático, de manejo, de

operacionalidade. M anejar bem quer dizer saber trabalhar um instru­mento com eficiência, capacidade e competência. N o caso do manejo da Palavra de Deus, por parte do obreiro, remete-nos àquele servo de Deus que sabe usar a palavra no m om ento certo, e de forma certa. Ao falar para um doente, m oribundo, o pregador, o obreiro, o que visita, precisa ter cuidado. O doente espera um a palavra de conforto, mesmo que esteja à beira da morte.

Se o pregador vai falar para pessoas não evangélicas, precisa ter muito cuidado no manejo da palavra. Evangelizar é lançar a “rede” para pescar “os peixes” do m undo para Cristo. Alguns pregam muito, mas não sabem alcançar o coração dos ouvintes, na unção do Espírito Santo e apenas emitem imprecações duras contra quem os ouve.

A lém de exortar T im óteo a ser um obreiro aprovado, Paulo recom endou que ele evitasse os “falatórios p ro fan os” , que produ­ziriam “m aior im piedade” (2 T m 2.16). E cita os nom es de dois falsos m estres, cham ados “H im eneu e F ileto” , pois, segundo ele, a palavra desses hom ens era tão m á que haveria de roer “com o gan­grena” (2 T m 2.17,18). A gangrena é um a enferm idade que destrói a carne de um a parte do corpo físico. A heresia destrói o “ tecido” esp iritual da igreja, causan do um a espécie de “necrose” espiritual. A lém disso , esses falsos m estres, que já tinham sido cristãos, “se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de algun s” (2 T m 2.19). E ssa dup la era terrível. E fizeram escola, pois, em m uitas igrejas, nos d ias atuais, há m uitos d iscípu los deles.

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H á m uita gente se dizendo cristã, “discípulo” , “ levita” e até pasto­res e pastoras, totalmente desviados dos cam inhos do Senhor. Vim os em um a rede social duas “pastoras” lésbicas dizendo que a Bíblia que elas usam é a mesma usada pelos heterossexuais. Estão pervertendo muitas pessoas, por usarem a Palavra de Deus para justificar o que Deus abom ina. São da mesma estirpe de Him eneu e Fileto. M as Paulo diz a Tim óteo: “Todavia, o fundam ento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqüidade” (2 T m 2.19). A condenação desse tipo de “crente” será m aior ainda, pois estão usando a Palavra de Deus para justificar seu estilo de vida condenado pelo Senhor.

II - DOIS TIPOS DE VASOS

O apóstolo Paulo, homem de muita erudição, poliglota e profundo conhecedor da cultura de sua pátria e de outros povos, conhecia bem os costumes de seu tempo. Ele fazia uso abundante de metáforas, ou figuras de linguagem, para melhor expressar seu pensamento fértil. Depois de exortar Tim óteo a precaver-se ou afastar-se dos falsos ensinadores, Paulo usa a figura dos utensílios que existem numa casa, normalmente, em residência de pessoas ricas ou abastadas. E indica dois tipos de “vasos” . “Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para deson­ra” (2 Tm 2.20). “Grande casa” era o tipo de residência de homens ricos.

1. Vasos de Honra e DesonraPaulo se referia ao uso de “vasos de ouro e de prata” , que eram usa­

dos pelos donos da “grande casa” , em ocasiões especiais, quando havia convidados de honra, como o texto sugere, diferentes em sua natureza dos vasos “de pau e de barro”, que tinham menos valor. H á intérpretes das Escrituras que diferem em suas explicações sobre esses dois tipos de vaso, e sua aplicação à Igreja do Senhor Jesus, mais particularmen­te, na igreja local. Q uem seriam os vasos “para honra” , ou vasos de honra? Pensamos que é razoável çntender que, na “grande casa” , figura da C asa do Senhor, há vasos de honra, que são os crentes fiéis, santos, os quais são usados por Deus para honra e glória do seu nome.

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Os vasos “de pau e de barro” têm menos valor que os vasos de metais preciosos, acima referidos. Tanto os vasos mais caros (de ouro e de prata) como os menos valiosos, de pau e de barro, em princípio, têm utilidade numa casa. Mas, ao que tudo indica, Paulo queria advertir a Tim óteo da existência dos falsos mestres, comparados a “vasos para desonra” , e os verdadeiros mestres, que seriam vasos “para honra” . Entendemos que a figura pode aplicar-se não só aos líderes, ou mestres no ensino da Pala­vra. Ela pode ser aplicada aos membros do C orpo de Cristo, ou à Igreja, em sua amplitude. O s crentes fiéis, comprometidos com o Senhor Jesus, são “vasos de honra”, enquanto os vasos “para desonra” são os crentes infiéis, que causam problemas e escândalos na Casa do Senhor.

Há comentaristas que evitam a comparação dessa metáfora com a parábola do trigo e do joio, na qual Jesus explica que o “trigo” são os crentes salvos, verdadeiros, sinceros, os “filhos do reino”, que são colhidos para o celeiro de Deus; e que o “jo io” são os falsos crentes, os “filhos do m aligno” , que têm aparência de cristãos, mas são falsos, e serão lançados no fogo, no Juízo Final (ver M t 13.24-30 e M t 13.36- 43). Porém, a analogia é válida, a nosso ver, pois demonstra a natureza dos que são fiéis e dos que são infiéis na casa de Deus.

2. Desejos Ilícitos da MocidadeN o texto, o apóstolo insere uma advertência para a vida pessoal

de Tim óteo. Paulo sabia que Tim óteo poderia ser alvo dos ataques perniciosos na área das tentações carnais. Ele não estava imune ao assédio do M aligno, por meio dos convites e insinuações perigosas perpetradas pelos agentes do D iabo contra os jovens cristãos. Sendo solteiro, T im óteo certamente era visado por mensageiros e mensagei­ras do D iabo para a prática do sexo ilícito. “Foge, também, dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2.22). G ordon Fee não entende dessa forma. Acha que “os desejos da m ocidade”, dos quais T im óteo deveria fugir, seriam as “paixões voluntariosas da mocidade, que às vezes ama as novidades, as discussões insensatas e as ‘contendas de palavras’ que com frequência levam a brigas” .1 N o nosso entender,

1 Gordon D. FEE. Novo comentário bíblico contemporâneo. 1 & 2 Timóteo e Tito, p. 278.

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Paulo se refere aos “desejos” ilícitos da mocidade, principalmente na área da sexualidade.

Essa solene exortação de Paulo é de grande valor e oportunidade, nos dias presentes. A juventude cristã está sendo prejudicada de for­ma muito acentuada no que concerne à pureza de pensam entos e na área do sexo. A filosofia liberalista e o relativismo têm causado grande estrago no meio dos jovens evangélicos. As redes sociais, os sites de relacionamento e de entretenimento oferecem espaço livre para a inte­ração sexual virtual e pornográfica. M uitos jovens (e adultos) têm sido laçados pelas redes da fornicação, adultério e prostituição virtual. H á uns quinze anos, pesquisas indicavam que 50% dos jovens evangélicos praticavam o sexo antes do casamento. Hoje, as pesquisas dão conta de que esse percentual tem aum entado significativamente. A organi­zação Christian Mingle, dos Estados U nidos, constatou que 63% dos solteiros praticam sexo antes do casam ento.2 N o Brasil, há pesquisas não oficiais que indicam que esse índice alcança 57% dos jovens evan­gélicos. Talvez seja muito mais.

M esmo que esses índices possam sofrer ajustes, indicam que gran­de parte da juventude evangélica não valoriza a virgindade, como indi­cador de pureza moral. E isso é preocupante, pois, ainda que não haja um versículo bíblico explicitamente dizendo que não se deve fazer sexo antes do casamento, há inúmeras referências bíblicas que indicam que o sexo antes do casamento é fornicação. Paulo mesmo tem escritos nesse sentido. (Ler 1 Tm 1.10; 1 C o 5.1; Ap 21.8) O casamento é uma aliança entre um hom em e uma mulher que decidem unir-se pelos la­ços do matrim ônio. E instituição divina, criada por Deus, no princípio de todas as coisas, ao criar o homem. Deus não uniu dois adolescentes, ou dois jovens, mas um casal, com todas as potencialidades mentais e físicas para o relacionamento conjugal, visando formar um a família e perpetuar a espécie humana.

M ais grave ainda é o envolvimento de jovens cristãos, rapazes e mo­ças, com a hom ossexualidade. Tem aum entado, e muito, o número de

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2 Mais da metade dos solteiros cristãos fazem sexo antes do casamento. Dis­ponível em http://noticias.golpelprim e.com .br/pesquisas. Acesso em 10 de fevereiro de 2015.

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homossexuais nas igrejas evangélicas. A falta de ensino sobre o assun­to, com fundam ento seguro na doutrina bíblica; o relacionamento de jovens com homossexuais; o relativismo social, que considera a prática hom ossexual algo “norm al” e até “desejável” , “a forma mais pura de am or”, no dizer de alguns ativistas; a influência perniciosa das novelas, dos seriados, dos filmes e de outros programas na televisão, consti­tuem poderoso estímulo satânico à prática homossexual. H á igrejas de hom ossexuais, em que “pastores” e “pastoras” usam a Bíblia para jus­tificar o que Deus abomina. E muitos jovens e adolescentes já caíram nas mãos do Diabo. E por demais necessário o ensino fundam entado na Palavra de Deus sobre a condenação explícita e cristalina contra o hom ossexualism o. N o Antigo Testamento, Deus o denom inou “abo- minação ao Senhor” (Lv 18.22; 20.13); N o Novo Testamento, Paulo considera “paixões infam es” , ato “contrário à natureza” , “torpezas” (ver Rm 1.24-27).

A união conjugal é de tam anha significância que é comparada à união entre Cristo e a Igreja. E deve ser resultado de um namoro e noi­vado segundo os padrões espirituais e morais, em anados da Palavra de Deus. O m arido deve amar sua esposa, “como também Cristo amou a igreja e se entregou por ela” (E f 5.25); a esposa deve ser subm issa ao esposo “assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu m arido” (E f 5.24). Desse modo, não faz sentido um jovem unir-se a um a jovem sem se casarem, pois o nam oro e o noivado não se revestem da responsabilidade que um deve ter para com o outro. E um relacionamento que pode ser temporário. M as o casamento é uma relação séria e com propósitos bem definidos pelo Criador. Assim, a inserção de Paulo desse conselho a Tim óteo tem grande valor para os dias atuais, contribuindo para a conscien­tização de nossos jovens acerca do valor da pureza e da santidade no namoro e no noivado, visando a um casamento aprovado por Deus.

3. Com quem o Jovem Deve AndarPaulo escreveu a Tim óteo: “[...] e segue a justiça, a fé, a caridade e

a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm2.22). De um lado, o jovem obreiro deveria fugir dos desejos ilícitos da mocidade, mas deveria, também, saber com quem acompanhar-se

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para servir a Deus com pureza e santidade. Ele deveria seguir a “justiça, a fé, a caridade e a paz, com os que, com um coração puro, invocam ao Senhor”. Já na primeira carta, Paulo dera exortação idêntica a Tim óteo, acrescida de outros termos de grande valor: “M as tu, ó hom em de Deus, foge destas coisas e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a m ansidão” (1 T m 6.11). A repetição de tal recomendação reflete o cuidado e a preocupação de Paulo com a integridade espiri­tual do jovem obreiro. O salmista também tinha essa visão acerca de que companheiros um servo de Deus deve buscar: “Com panheiro sou de todos os que te temem e dos que guardam os teus preceitos” (SI 119.63). Certam ente, as amizades ruins, mesmo na igreja local, têm sido motivo de desvio e morte espiritual para muitos crentes, em espe­cial jovens e adolescentes.

III - PERSEVERANÇA NA PALAVRA E TRATO COM DISSENSÕES

1. Rejeitando “Questões Loucas”Após ensinar sobre o que Tim óteo deveria cultivar e obedecer, e

também rejeitar, Paulo acrescenta que ele deve rejeitar questionam en­tos que não produzem nem agregam valor espiritual, moral ou cultu­ral, que valorize o conhecimento e a vida cristã. “E rejeita as questões loucas e sem instrução, sabendo que produzem contendas” (2 Tm2.23). Eram as questões e proposições levantadas pelos falsos mestres ou hereges, que assediavam os irmãos na igreja de Efeso. O s hereges, julgando-se “doutores da lei” , não entendiam o que diziam ou afirma­vam. Mas produziam enormes contendas, lançando uns contra outros, provocando desunião e intrigas entre os próprios crentes.

2. 0 Servo do Senhor não Deve ContenderN o contexto das epistolas pastorais, via de regra, a expressão “servo

do Senhor” é mais aplicada aos ministros da Palavra, ou aos líderes das igrejas, principalmente aos que se dedicam ao ensino. N ão raro, nas igrejas, aparecem irmãos, que possuem cursos de Teologia, ou de ou­tras áreas acadêmicas, os quais levantam argumentos pessoais contra doutrinas já consagradas ou estabelecidas ao longo dos anos nas igre­

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jas cristãs. N ada temos contra esses cursos, pois, pela graça de Deus, possuím os alguns deles, que muito têm enriquecido nosso ministério de ensino. M as referimo-nos a ensinadores presunçosos, que procu­ram angariar sim patia de grupos de crentes para si, a fim de formarem uma facção dissidente no meio dos irmãos. Q uanto confrontados pela liderança local, tornam-se opositores velados ou declarados, e, muitas vezes, conseguem fazer dissensões ou divisões. Tais “doutores” andam na contramão do Salm o 133, que diz que é “bom ” e “suave”, “que os irmãos vivam em união” . Discordar de algo que merece reparos é na­tural, mas provocar dissensão e contenda não é coerente com o amor cristão.

Diante dos fatos que conhecia, Paulo exorta a T im óteo a evitar tais contendas e litígios, envolvendo a doutrina, e as provocações dos con- tendores que surgem no meio da igreja local: “E ao servo do Senhor não convém contender, mas, sim, ser m anso para com todos, apto para ensinar, sofredor” (2 Tm 2.24). Conselho sábio, de um pastor experiente, culto e bem firm ado na sã doutrina cristã, a um jovem obreiro, que ainda teria muito o que aprender, ao longo dos anos de seu ministério.

Paulo diz que “não convém contender, mas, sim, ser m anso para com todos” . H á casos, reconhecemos, em que a liderança da igreja comporta-se à altura das situações de litígio, usa de m ansidão, de com­preensão e bondade, mas os opositores querem mesmo é fazer a di­visão, abrir uma igreja, criar um ministério dissidente, e tornarem-se “pastores-presidentes” . Nesse caso, é melhor deixar com Deus, que a tudo julga e a todos avalia com sua reta justiça. O líder cristão nunca deve fazer “o jogo” dos dissidentes. Diz provérbios: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15.1).

3. Instruindo com MansidãoCom pletando seu ensino quanto aos que se levantam contra a lide­

rança da igreja, por diversas razões, Paulo diz a T im óteo como deve o líder se comportar. N ão precisa contender, atendendo às provocações dos falsos mestres ou dos dissidentes, os quais agem por ação maligna para causar descontentam ento, inquietação e desunião no meio dos ir­mãos: “instruindo com m ansidão os que resistem, a ver se, porventura,

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Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade e torna­rem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em cuja vontade estão presos” (2 T m 2.25,26). O obreiro precisa saber administrar esse tipo de conflitos com opositores.

CONCLUSÃOA liderança cristã é um desafio de grandes proporções. A igreja,

mesmo no sentido local, não é um a empresa, que se rege por leis e regras formais, embasadas nos princípios jurídicos. A igreja local pre­cisa de normas, no sentido da administração eclesiástica, mas sua Lei M aior é a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. N a administração das igrejas, por vezes, surgem conflitos de ordem espiritual, doutrinária ou hum ana. Daí por que há necessidade de preparo e capacitação de líderes, que saibam não só ministrar o ensino, mas, com o uso ade­quado dos princípios bíblicos, resolver questões diversas que podem desestabilizar o ministério e a própria liderança. M as Paulo, em suas cartas a Tim óteo, nos dá preciosos ensinamentos sobre como tratar os conflitos nas igrejas.

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Capítulo 9

A C o r r u p ç ã o d o s

Ú l t im o s D ias

A hum anidade poderia ter começado bem. M as começou mal. Com o pecado da desobediência a Deus, em sua origem, o ser hum ano não soube aproveitar a bondade de Deus ao criá-lo. Feito “im agem ’ e “seme­lhança” de D eus” (Gn 1.29), usou mal o livre-arbítrio, concedido pelo Criador. E, já no princípio, no cenário do Jardim do Éden, lugar mara­vilhoso, onde não faltava absolutamente nada, o hom em preferiu ouvir a voz do Diabo. Além disso, o hom em desencaminhou-se, construindo deuses falsos para adorar, desprezando a adoração ao Deus verdadeiro, Criador dos céus, da terra e do homem.

O pecado é a raiz de todos os males e com portam entos inadequados do hom em enquanto criatura, perante o seu Criador. E a origem da corrupção que acom panha o homem, desde o seu princípio, passando pela História, em suas diversas fases ou períodos, chegando aos dias presentes, e se prolongará e se projetará no futuro, até o final de todas as coisas, conforme o que nos relata a Palavra de Deus. A hum anidade terminará mal. Até que o Deus Criador intervenha, im plantando o seu Reino com o objetivo de restaurar o planeta Terra ao seu destino glo­rioso, previsto pelo Senhor. O juízo do Dilúvio universal foi a reação de Deus à corrupção geral do gênero hum ano, por volta do ano 600 da vida do patriarca Noé (Gn 7.6,11).1 E Deus derram ou seu terrível juízo contra os povos diluvianos, em razão da corrupção generalizada que

1 De acordo com o Dicionário Wycliffe, “A rígida opinião cronológica, por outro lado, dataria o Dilúvio em cerca de 2.460 a.C, vários séculos depois das grandes pirâmides do Egito”. (Dicionário Wycliffe, p. 562). A Bíblia registra que o Dilúvio teve início “No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês... e terminou no dia 27 do segundo mês, do ano 601 da vida de Noé (cf. Gn 8.14).

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tom ou conta da mente e dos atos daquelas pessoas que habitavam o planeta (Gn 6.5-1). A o longo dos séculos, em vez de o hom em apren- der com a experiência e as evidências da criação que Deus existe e é o Soberano Criador e Senhor do Universo, pelo contrário, afastou-se mais de Deus, não apenas em termos de crença, mas de práticas cada vez mais corruptas e abomináveis, em termos de culto, com a adoração a ídolos ou falsos deuses, mas tam bém por meio de práticas conside­radas abominações pelo Senhor, como a prática da hom ossexualidade (Lv 18.20; 20.13 e refs.). Daquela população mundial, de alguns mi­lhões de pessoas, só escaparam oito seres hum anos (Gn 7.7; 2 Pe 2.5).2

D epois de séculos, em vez de o hom em evoluir, com o diz a fábula da Teoria da Evolução, não só tem decaído em sua vida biológica, com o tem piorado terrivelmente em term os espirituais e morais. N unca houve tanta corrupção espiritual e m oral, na experiência hu­m ana, com o nos dias em que vivemos. Certam ente, esses dias, do século XXI, são os “tem pos trabalhosos” a que se referiu o apóstolo Paulo, em sua Segunda C arta a T im óteo (3.1-9). Ele aludia aos atos de corrupção, im aginados e praticados pelo hom em , por sua natu­reza decaída e destruída pelo pecado. M as nunca im aginaria que a corrupção, nos fins dos tem pos que antecedem a volta de Cristo, se­ria institucionalizada, reconhecida e aprovada pelos governos e par­lam entos, e superaria o descalabro m oral dos povos antediluvianos ou à depravação de Sodom a e G om orra.

No texto em estudo, neste capítulo, Paulo enum era características dos homens corruptos, na época de Tim óteo, que eram os “falsos mes­tres” ou ensinadores, que procuravam incutir na mente dos crentes de Êfeso, heresias de perdição, “doutrinas de dem ônios” e “vãs con­tendas” , que só causavam dissensões e divisões no seio da igreja local. Ele conduz os leitores de sua carta, a partir de Tim óteo, ao cenário escatológico dos “últimos dias” (2 Tm 3.1), quando homens de índole perniciosa haveriam de levantar-se “enganando e sendo enganados” (2 Tm 3.13). Neste parágrafo da carta, ele nos mostra a corrupção do

2 “Com base em dados de censos antigos, os estudiosos estimam que a popu­lação mundial era de cerca de 1/4 de um bilhão na época de Cristo (1 d.C.). Veja mais em: http://www.allaboutcreation.org/portuguese/livro-de-genesis4. htmttsthash. j 2 IWcHJY.dpuf.”

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ser hum ano, “nos últimos dias” . Foi um a mensagem profética, pois tudo o que ele previu, em termos de corrupção moral, num a visão escatológica, está acontecendo em nossos dias.

I - OS TEMPOS TRABALHOSOS

1. Protagonistas dos Tempos Trabalhosos“Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tem pos traba­

lhosos” (2 Tm 3.1). N os parágrafos anteriores, o apóstolo tinha seu foco na exortação a T im óteo, tendo em vista sua pouca experiência diante de situações de desafio, no confronto com os falsos mestres. Neste capítulo, Paulo volta-se para os “falsos mestres” propriam ente ditos, revelando e ressaltando suas características gerais e pessoais, que os colocam num a posição altam ente negativa e prejudicial à rea­lidade da vida cristã.

Em outras traduções, esses tempos são considerados “tempos di­fíceis” . N a realidade, o texto faz alusão aos tempos que antecedem a vinda de Cristo. Deus está fora do tempo, ainda que o criou, mas o ho­mem está inserido no tempo e sujeito às limitações temporais. Sempre houve tempos difíceis ou trabalhosos para a igreja cristã. Ela nasceu debaixo da perseguição dos judeus; experimentou a perseguição dos imperadores de Rom a, que intentavam eliminar o cristianismo da face da terra; na Idade Média, sofreu a perseguição dos reis, dos imperado­res, e da Igreja Católica Rom ana, que tudo fizeram para silenciar a voz dos protestantes, que confrontavam os desm andos do clero corrupto que se aproveitava da ignorância do povo.

Depois, veio, na História, a perseguição diabólica, por meio do materialismo ateu e anticristão. O s comunistas entenderam (e ainda entendem) que o cristianismo é um empecilho aos seus objetivos de­clarados ou velados de dom inação do m undo. O s comunistas foram derrotados e alijados em seu próprio berço, a U nião das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Esse regime de tirania e injustiças eliminou mui­tos cristãos, matando-os nas prisões, na Sibéria, deixando-os morrer de inanição e frio insuportável. M as o com unism o foi destruído na Eu­ropa Oriental. N o entanto, o cristianismo continuou e continua em sua marcha vitoriosa em busca do encontro com Cristo, na eternidade.

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2. Homens de Má índoleAs características dos hom ens maus, ímpios e inimigos do evange­

lho, constam de algumas “listas negras” , nas epístolas de Paulo. Logo após esse texto, Paulo adverte os destinatários das cartas pastorais de que Deus já via a tudo e a todos no plano espiritual (1 Tm 4.1).

A lista de m ás qualidades dos hom ens ím pios contém 18 itens (2 T m 3.2-9), cujo com entário seria excessivo, mas para m elhor en­tendim ento, as resum im os rapidam ente, tais qualificações nada reco­mendáveis, que, infelizmente, são observadas em m uitos lugares, em igrejas cristãs, na vida de pessoas que se dizem cristãs.

1) Amantes de si mesmos. São egoístas ao extremo. Buscam os seus interesses em primeiro lugar, antes de valorizarem os outros e a obra do Senhor. Eles não têm amor, pois o verdadeiro amor “não busca seus interesses” (1 C o 13.5).

2) Avarentos. São amantes do dinheiro, fruto da característica an­terior, de seu egoísmo. Hoje, há falsos obreiros, que só pregam por dinheiro, pensando em enriquecer (1 Tm 6.10).

3) Presunçosos. São hom ens cheios de orgulho, de arrogância, que se julgam superiores aos outros. N o ministério, tal característica é mo­tivo de conflitos desnecessários, contrariando Filipenses 2.3.

4) Soberbos. Q ualidade semelhante à anterior. Paulo acentua, m os­trando que tais homens são orgulhosos (ver 1 Tm 1.7, 6.4); são candi­datos à queda espiritual (Pv 16.18).

5) Blasfemos. São os mesmos a que se referiu o apóstolo em 1 Tim óteo 6.4,5. Blasfemar é dizer maldição, praga, imprecação. O u pro­nunciar coisas que ofendem de modo contundente a santidade de Deus.

D esobedientes a pais e m ães. São péssim os exem plos na fa­m ília, pois não honram seus pais e m ães (cf. Êx 20.12); e são candi­datos a ter um a vida sem a bênção de D eus, por não considerarem o valor de seus pais.

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7) Ingratos. São pessoas egoístas e autossuficientes. Por isso, não cultivam a virtude da gratidão. São ingratos a Deus, aos pais, aos ami­gos, à igreja, aos pastores. Têm distúrbios emocionais que os impedem de ser humildes e gratos.

8) Profanos. São homens que não respeitam as coisas sagradas (Lv 19.8, 12; M t 12.5); há obreiros que transformam igrejas em “casas de show”, em danceteria, em palco de luta-livre, em casas de jogo e até em boates.

9) Sem afeto natural. É o m esmo que ser “sem am or” (Rm 1.31); são hom ens “ignorantes”, grosseiros, estúpidos ou “mal educados”, no trato com o cônjuge, com os filhos, com os pais, com outras pessoas.

10) Irreconciliáveis. Que não são humildes para reconciliarem-se com os outros, em situações de desentendim entos ocasionais; não sa­bem pedir perdão, e muito menos perdoar. N ão são perdoados por Deus (Mt 6.15).

11) Caluniadores. Com etem o crime de calúnia (Crime contra a honra - Art. 128 do Código Penal); nas igrejas, esse crime é ignorado. Raramente se pune um caluniador.

12) Incontinentes. Q ue não sabem conter-se, sem autocontrole, sem dom ínio próprio.

13) Cruéis. São pessoas desumanas, impiedosas. N ão fazem parte dos que são salvos em Cristo Jesus.

14) Sem am or para com os bons. Quem não ama não é salvo. Está em trevas, perdido. E é considerado hom icida em termos espirituais (Ver 1 Jo 2.9,11; 3.15); se tais homens não amam “os bons”, imagine como tratam “os m aus” ou “inimigos” (Mt 5.44).

15) Traidores. O termo já diz tudo. São “discípulos” de Judas, que traiu seu M estre por 30 m oedas de prata (Mt 26.15); seu fim foi a perdição (M t 27.5).

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16) Obstinados. Sua obstinaçao não é no sentido da persistência em fazer o bem, mas em fazer o mal, em persistir no erro, na maldade.

17) Orgulhosos. Sem elhante à qualidade número 4.

18) M ais amigos dos deleites do que amigos de Deus. C om o são egoístas, presunçosos e autossuficientes, só pensam em si. Para eles, os prazeres da carne e do m undo são mais importantes do que amarem a Deus (1 Jo 2.15,16; Rm 8.7,8).

A pós discriminar as péssimas qualidades de falsos mestres, no seio da igreja cristã, Paulo alerta a Tim óteo que tais hom ens têm “aparên­cia de piedade” , mas negam “a eficácia dela” e ordena que o discípulo se afaste deles (2 Tm 3.5). Esses maus obreiros aproveitavam-se de “m u­lheres néscias, carregadas de pecados, levadas de várias concupiscên- cias” , entrando em suas casas para a prática do pecado, naturalmente (2 Tm 3.6). E conclui que tais hom ens são com parados aos magos de Faraó, “Janes e Jam bres” (2 Tm 3.8), que fizeram suas feitiçarias ou mágicas, resistindo a M oisés (cf. Ex 7.11,12,22; 8.7). Paulo resume suas qualidades desabonadoras do caráter como “sendo hom ens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé” (2 Tm 3.8), e que não serão bem-sucedidos em seus intentos malignos.

II - CARÁTER, ENGANOS E PERSEGUIÇÕES

1. Paulo, Obreiro Exemplar“Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, m odo de viver, inten­

ção, fé, longanimidade, caridade, paciência” (2 T m 3.10). O apóstolo Paulo — outrora perseguidor do evangelho e dos seguidores de Cristo, fariseu respeitado, mas ignorante acerca da verdade e defensor ardo­roso da Lei de M oisés — tornou-se um dos maiores exemplos de fé, amor e fidelidade ao cristianismo. Seu caráter era dem onstrado por sua conduta exemplar. N a sua segunda carta a Tim óteo, ele elogia seu jovem discípulo por sua obediência em seguimento de sete aspectos de sua vida, que bem pode ser um resumo do caráter cristão.

1) Doutrina. N a verdade, o apóstolo usava um a linguagem que Tim óteo conhecia bem; Paulo não fundara um movimento religioso,

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ou houvera codificado nenhum sistema de doutrina. Mas era um se­guidor autêntico de Jesus, na proclamação do evangelho e da doutrina de Cristo. T im óteo andava nos caminhos do Senhor, seguindo os en­sinamentos que Paulo lhe ministrava.

2) M odo de viver. U m a coisa é pregar, ensinar, transmitir mensa­gens e ensinam entos; outra coisa é, além de pregar, dar o exemplo aos que recebem o ensino; Paulo discipulara T im óteo e podia dizer: “Sede tam bém meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exem­plo que tendes em nós, pelos que assim andam ” (Fp 3.17; 1 C o 11.1).

3) Intenção. C om o poderia Tim óteo conhecer a “intenção” de Paulo? Intenção quer dizer “intento, propósito, plano, ideia; vontade, desejo, querer” (Dicionário Houaiss); certamente, a intenção de Paulo era dem onstrada por suas práticas, exemplos e testemunho, de um verdadeiro cristão. Seguindo o exemplo de Paulo, seguia o seu pensa­mento (Fp 4.8).

4) Fé. Paulo era um homem de fé muito elevada. Suportar o que ele suportou, em embates, combates e sofrimentos, só seria possível para um humilde “gigante na fé” ; e passava a mensagem do evangelho pela fé genuína (1 C o 2.3; G1 2.20); sua fé não era teórica, apenas mística, mas era uma fé dem onstrada na prática (1 C o 2.4).

5) Longan im idade. Ser eloqüente não é difícil, se alguém tem o dom natural da oratória; ser bom adm inistrador é para quem tem co­nhecimentos e capacidade administrativa; há obreiros que possuem esses dotes pessoais; mas ser longânim o é para quem tem esse requisito como fruto do Espírito Santo (G1 5.22).

6) C aridade. Caridade é o am or na prática. N ão se manifesta ape­nas no falar, no dizer, na exposição verbal eloqüente; só se materializa ou se demonstra de m odo prático, vivencial; Paulo não só falou, ensi­nou, mas deu exemplo do que é ter caridade; em 1 Coríntios 13, ele devotou um capítulo doutrinário sobre a caridade, que é a manifesta­ção do A m or Agape, o amor de Deus, na vida de seus servos.

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7) Paciência. É sinônimo de “calma, tranqüilidade, serenidade”. É um estado de espírito; é também equivalente a “longanimidade”, mas esta é “paciência para suportar os defeitos e as faltas dos outros”; o cultivo dessa qualidade requer tempo e experiências com as situações mais diversas, ou adversas; Timóteo aprendera com Paulo as lições da paciência.

2 . Paulo, o PerseguidoA vida cristã de Paulo começou, no caminho de Dam asco, quando

Jesus o encontrou, num a jornada que seria de perseguição aos cris­tãos (At 9.5). Naquele encontro dramático, marcante e inesquecível, o fariseu fam oso caiu por terra, e, após sua conversão, batism o e aco­lhimento pelos irmãos de Dam asco, sua vida m udou. De perseguidor passou a ser perseguido (At 9.17,23-25). Em várias ocasiões, em seu mi­nistério, esteve em perigo de morte ou em risco de vida (2 C o 11.23).

Se T im óteo não houvesse tido um discipulado seguro e eficaz, po­deria ter retornado para sua terra e desistido de ser cristão. M as seguiu o exemplo do Senhor Jesus, na companhia de seu tutor espiritual. En­quanto isso, os “hom ens maus e enganadores” não teriam um fim proveitoso, mas colheriam o que plantaram.

III - A BOA FORMAÇÃO CRISTÃ E PERSEVERANÇA NA PALAVRA

1. Permanência na PalavraTim óteo tivera a oportunidade de ter um a formação familiar e cris­

tã do melhor nível. Sua educação era esmerada. C om o já visto, no ca­pítulo 7 deste comentário, T im óteo era filho e neto de servas de Deus, que o educaram nos caminhos do Senhor (1 Tm 1.5). N o lado espiri­tual, doutrinário, ele era oriundo de um a família bem estruturada na fé cristã. Por outro lado, na vida ministerial, era discípulo do apóstolo Paulo. Sua formação familiar era tão marcante, que Paulo, nesta seção da segunda carta, faz referência à sua infância, num lar cristão que valorizava o ensino, no culto dom éstico — coisa rara nos dias atuais.

2. 0 Valor do Ensino BíblicoO discipulado cristão deve ser acima de tudo fundam entado na

Bíblia, a Palavra de Deus. N os tem pos hodiernos, o ensino da Palavra

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tem sido negligenciado, em grande parte das igrejas, em muitos lugares no m undo. N ão são poucas as igrejas que eliminaram de seu programa a Escola Dom inical e alegam suas conveniências, de transporte, distân­cias, inseguranças, etc.

A nosso ver, não houve nenhum a vantagem em adotar essa pro­gramação, que exclui o ensino sistemático e voltado para cada faixa etária. Pelo contrário. Q uando o ensino não é cuidadoso, paciente e dedicado, há grande prejuízo para as novas gerações. Graças a Deus pelas igrejas cristãs que dão valor ao ensino da Palavra, no lar, através do culto doméstico, e na igreja, na ministração do ensino na Escola Dom inical e nos cultos de doutrina.

Paulo tira o foco de Tim óteo e dos falsos mestres, e se volta para o valor do ensino da Palavra de Deus: “Toda Escritura divinamente ins­pirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para ins­truir em justiça” (2 T m 3.16). M as ele ressalta que tais resultados só são alcançados se a “Escritura” , ou a Palavra ensinada for “divinamente inspirada” . O s objetivos do ensino bíblico divinamente inspirado são:

1) “E n sin a r”, ou seja, transm itir ensinos espirituais, com base na Palavra de D eus, que são úteis e necessários para um a boa formação cristã; sem ensino, nenhum a igreja se m antém de pé; é necessário que as pessoas escutem a Palavra do Senhor Jesus e as ponham em prática, para poderem ficar firmes. D o contrário, serão destruídas pelas intem péries espirituais (cf. M t 7,24-27; 2.25; T t 2.12).

2) “Para redargu ir” ou seja, “retrucar, responder, replicar”, ou ar­gumentar com segurança; e também, como em outras traduções, “para repreender”; o ensino fundam entado na Palavra de Deus capacita o cris­tão para argumentar com segurança acerca de sua fé (cf. 1 Pe 3.15).

3) “P ara co rrig ir”. O ensino bíblico bem fundam entado é como um prum o, que mostra o que está fora do lugar na construção de uma casa. Na vida cristã, se não houver o cuidado indispensável com as instruções e orientações do Senhor, muita coisa fica “torta” ou em desacordo com a vontade de Deus. O ensino é que conduz o homem à santidade e à santificação (SI 119.105; Rm 15.4; 1 C o 4.17).

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4) “P ara in stru ir em ju stiç a ”. O ensino da Palavra de Deus é ins­trução que leva o homem a viver de m odo justo e digno. O salmista disse: “Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por am or do seu nom e” (SI 23.3).

5) A perfeição do hom em de D e u s”, “para que o hom em de Deus seja perfeito e perfeitam ente instruído para toda boa obra” (3.17). Este é um dos grandes objetivos do ensino da Palavra de Deus: levar o hom em à perfeição relativa, no seu relacionam ento com C risto (2.21; T t 1.16).

CONCLUSÃOO texto estudado mostra que é plano do adversário da Igreja pro­

mover movimentos contrários à sã doutrina, de tal forma que a corrup­ção moral e espiritual encontre espaço no meio da com unidade cristã. O s “tempos trabalhosos” a que Paulo se referiu seriam acentuados nos últimos tempos que antecedem a volta de Jesus. Em contraposição aos falsos mestres, Paulo exorta T im óteo a permanecer no que aprendeu, tanto no seu lar, sob os cuidados de sua mãe e de sua avó, ambas cris­tãs, bem como do que absorveu nos ensinos e no exemplo de Paulo, seu “pai na fé” .

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Capítulo 10

A C o n s c iê n c ia da

C h e g a d a d a M o rte

As cartas pastorais de Paulo são ricas em ensinam entos, conselhos, exortações e doutrinas, que têm grande valor para a vida cristã, tão carente de consistência e fundam entos, como nos dias atuais. Paulo escrevia à mão, em pergaminhos que, transform ados em rolos, eram enviados a lugares os mais distantes, por intermédio de mensageiros ou portadores de suas missivas.

Depois que escreveu a Timóteo, na segunda carta, acerca da corrupção que haveria de dominar o m undo “nos últimos dias” (2 Tm 3.1), Paulo chama a atenção do seu discípulo amado para alguns aspectos preocupan­tes da realidade que viria sobre a igreja do Senhor Jesus Cristo, não só em Éfeso, na Ásia Menor, mas em todo o m undo, com o se depreende de seu ensino pastoral. Em primeiro lugar, o apóstolo usa um a expressão forte, que poderia assustar Tim óteo, pela veemência da recomendação do mestre ao jovem obreiro. M as T im óteo já conhecia o linguajar de Paulo. Ele diz: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redar- guas, repreendas, exortes, com toda a longanim idade e doutrina” (2 Tm 4.1,2). T im óteo deveria transmitir a mensagem da “sã doutrina” de m odo insistente, quer os ouvintes aceitassem quer não a palavra que lhes era enviada. A experiência, fundada na Palavra, mostra que, quan­do a mensagem é de Deus, o pregador deve falar, não o que o povo gosta de ouvir, mas o que Deus quer falar.

O verbo conjurar, no primeiro versículo, tem o sentido de rogar, suplicar, e não de tramar, maquinar, como ocorre, nas conjurações polí­ticas. Paulo expressava seus sentimentos, de m odo dramático, para que T im óteo levasse em consideração até as últimas conseqüências a nobilís-

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sim a missão que lhe era confiada, para que pregasse a Palavra de Deus, de m odo insistente, em caráter de urgência, “a tempo e fora de tem­p o” , tendo em vista o que haveria de ocorrer, conforme o sentir profé­tico do apóstolo. E sua forte recom endação deveria ser aceita, “diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo”; e num a perspectiva escatológica: “que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino” ! Talvez seja o trecho da carta de maior gravidade. E o que estava por vir não era nada desejável nem comum.

Além da corrupção dos últimos tempos, Paulo antevia tempos em que, dentro da própria igreja local, levantar-se-iam hom ens que seriam usados pelo D iabo para rejeitar a sã doutrina e usar sua influência in­telectual ou teológica para deturpar a verdade do evangelho de Cristo. Por isso, ele determina, em sua súplica, que Tim óteo usasse a Palavra para redarguir, repreender e exortar “com toda a longanim idade e dou­trina” . Aqui, há um grande ensinam ento de ordem prática para a vida ministerial do obreiro, especialmente dos que lideram, na igreja local. A exortação não deve ser dada de forma pesada ou agressiva, como ocorre em muitos púlpitos. A palavra exortar vem do grego, parakaleo, que tem o sentido de chamar para fora, para consolar. Daí, porque o Espírito Santo é nosso paraldeto, nosso Consolador.

Tim óteo deveria ser um obreiro firme na palavra na exortação, mas com “longanim idade” (gr. makrothumia), isto é, com paciência, diante dos que precisavam da mensagem firme e incisiva. Mais ainda. Paulo demonstra, nesse texto, que a exortação só tem sentido se, além de ser dada com longanim idade, tem que estar fundam entada na “doutrina” (gr. didache). Exortar não é “dar carão” , “sentar a ripa” , ou “sentar o pau”, nas ovelhas, como o fazem alguns pastores, em sua neurastenia descontrolada ou radicalismo exacerbado. Exortar é orientar com se­gurança, com firmeza, mas com amor, compreensão e longanimidade. Em seguida, Paulo esclarece o motivo da sua veemente recomendação.

A premência da recomendação incisiva de Paulo tinha motivo muito mais sério do que se poderia imaginar. Ele diz a Timóteo, seu filho na fé, e portador da mensagem para a igreja: “Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amon­toarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas” (2 Tm 4.3,4). Era

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a incumbência mais significativa que Paulo ciaria a Tim óteo, pois es­tava em análise o futuro e a sobrevivência da fé cristã e da igreja de Jesus, ameaçada pelos falsos mestres, e “doutores” falsos e hereges, que levariam os crentes a se desviarem da verdade da Palavra de Deus, da “sã doutrina” .

Preparando-se para o fecho da carta, Paulo dá sua última palavra pessoal a Tim óteo: “M as tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério” (2 Tm 4.5). Será que essas palavras foram só para Timóteo? Certam ente, não. O Espí­rito Santo pôs na mente e na escrita de Paulo recomendações que se aplicam de m odo perfeito aos obreiros do Senhor em todos os tempos, incluindo o tempo presente, em que há tantas aberrações ministeriais, na consagração cie homens despreparados para a elevada m issão de um ministro do evangelho. O texto diz que o obreiro deve ser “sóbrio” , ou seja, simples, humilde. Deve ser sofredor, ou seja, capaz de saber su­portar as aflições que possam surgir no ministério. E T im óteo deveria saber fazer “a obra de um evangelista” e cumprir o seu ministério, ou sua m issão ou tarefa que lhe fora confiada.

Em seguida, tal como um corredor de “corrida de revezamento” , Paulo prepara-se para “passar o bastão” a Tim óteo. O apóstolo estava perto de terminar a corrida (ou o combate), e T im óteo deveria substi- tuí-lo, pois Paulo sentia que sua m issão apostolar estava perto do fim. Lembremos que Paulo estava na prisão, e não no púlpito de um a igre­ja. A inda esperava ver Tim óteo, mas a urgência da mensagem apertava seu coração. Talvez Tim óteo não percebesse tal situação, até que seus olhos pousaram nos últimos parágrafos da carta. E viu com profundo sentim ento de santa tristeza que seu mestre, seu mentor e tutor, tinha consciência de que a morte se aproximava, no fim do seu ministério. Mas, em lugar de demonstrar medo ou pavor diante da morte, Paulo escreve o que poderia ser considerado um “cântico de vitória” no final da missão: “Com bati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7). O jovem obreiro deve ter-se detido mais tempo ante essa declaração de Paulo do que no restante de sua epístola. E sentido o peso da responsabilidade, ao pensar se estaria à altura de substituir o m aior evangelista do cristianismo, o m aior intérprete dos evangelhos, que se considerava, contudo, “o menor dos apóstolos” (1 C o 15.9).

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I - A CONSCIÊNCIA DA MORTE NÃO TRAZ DESESPERO AO CRENTE FIEL

1. A Serenidade diante da MorteEnquanto Tim óteo ainda era um jovem obreiro, Paulo já era de

certa idade, “o velho” (Fm 9), e já tinha consciência, dada por Deus, de que estava no final de sua longa, sacrificada e honrosa m issão, que lhe fora confiada por Jesus Cristo, quando de sua dramática conversão no caminho de Damasco.

Ao escrever a Tim óteo, sobre os últimos dias de sua vida e de seu ministério, Paulo usou uma figura emprestada dos antigos sacrifícios do Templo em Jerusalém. “Porque eu já estou sendo oferecido por as- persão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próxim o” (2 Tm4.6). É uma linguagem “técnica” , por assim dizer. Só pode entender quem lê acerca dos rituais dos sacrifícios na Antiga Aliança. Aquele que oferecia sacrifício ao Senhor, com o “oferta de m anjares” , o fazia com “flor de farinha” , misturada com azeite, na proporção indicada pela lei; e tam bém derramava sobre ela uma porção de vinho, ou uma “libação” (Nm 15.5,7,10), uma oferta de caráter voluntário, “de cheiro suave ao Senhor” (Lv 2.2). N ão era um a oferta pelos pecados, mas uma oferta de gratidão a Deus. Paulo considerava a sua vida, salva por Cristo, e toda a sua experiência no cristianismo, como um a “oferta de manjares” , um a “libação” ou “aspersão do sacrifício” , ante a proximi­dade da morte, que ele encarava com paz e serenidade.

2. A Certeza da Missão CumpridaAo se deter nas últimas linhas da carta, Timóteo deve ter sentido mui­

ta admiração pelo velho obreiro, quando este diz: “Com bati o bom com­bate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.7,8). No texto, que indica antecipadamente a consciência da proximidade da partida para a eternidade, vemos três aspectos a destacar:

1) “Combati o bom combate”Paulo diz a Tim óteo que está chegando ao fim da jornada, como

servo de Deus, como apóstolo e fiel testemunha do Senhor, mas, como

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um lutador que enfrentava a luta, na arena, havia combatido “o bom combate”, ou seja, o bom combate da fé. Paulo conhecia as competições atléticas de sua época, E imaginou essa metáfora para indicar sua vitória, ante as lutas que houvera enfrentado, desde sua conversão e o desenvol­vimento do seu ministério, sempre envolvido com opositores humanos, além da luta espiritual contra os inimigos do crente em Jesus.

Seu combate da fé era em defesa da igreja, lutando pelos irmãos em Cristo (Cl 2.1); era a luta contra os opositores que se levantavam contra sua m issão (1 Ts 2.2). Todos os apóstolos de Jesus eram homens que combatiam “pela fé que um a vez foi dada aos santos” (Jd 3). Mas nenhum teve tantas oposições e ameaças quanto Paulo. Ele foi um obreiro muito perseguido, mas nunca desistiu da luta espiritual em prol do evangelho (2 Tm 3.11,12; 2 Tm 4.14; 1 Tm 1.20).

2) “Acabeia carreira”N o original, o texto indica que Paulo se referia à “pista de corri­

d a” ’, nas com petições em Atenas, em Rom a, ou em outra cidade que conhecia. Em sua carreira ou “corrida” , Paulo diz que não olhava para trás, mas para as coisas que estavam diante dele, prosseguindo “para o alvo, pelo prêm io da soberana vocação de D eus em Cristo Jesu s” (Fp 3.13,14). M uitos têm começado a carreira da vida cristã, mas desistem, ante os obstáculos e os problemas que surgem pela frente.

Nessa “carreira”, as dificuldades são enormes, porque, além de ser um a luta constante, o crente tem que carregar um a cruz “de cada dia” (Lc 9.23). Diante dessa realidade, após as experiências vividas em seu ministério, Paulo mostrou a Tim óteo que tinha a certeza de que sua carreira como ministro do evangelho houvera terminado. M as o fazia com a consciência tranqüila, mesmo diante da morte, de que cumprira o seu dever para com Deus e sua Igreja.

3) “Guardei a fé’’Paulo quis dizer que não apenas lutou o “bom com bate” e concluiu

“a carreira” , mas não o fez de qualquer maneira. Ele guardou “a fé” . Isso quer dizer que ele foi fiel a Deus, em todas as circunstâncias de sua vida cristã. Ele não se embaraçou “com os negócios dessa vida” e militou legitimamente (2 Tm 2.4,5). Guardar a fé significa guardar a

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fidelidade estrita a Cristo e a seus ensinamentos. E Paulo ensinou de m odo eloqüente sobre esse cuidado. O crente é consolado pela fé (Rm 1.12); a justiça de Deus é pela fé (Rm 3.22); o hom em é justificado pela fé (Rm 3.28; 5.1; G1 2.16); o justo vive pela fé (Gl. 3.11); a salvação é pela fé em Jesus (E f 2.8). Paulo sabia o que era lutar e guardar a “fé que um a vez foi dada aos santos” (Jd 3).

II - O SENTIMENTO DE ABANDONO

O apóstolo Paulo contribuiu de forma decisiva e marcante para a expansão do evangelho de Jesus Cristo, não só no Oriente M édio, mas na África e na Europa. Foi o maior m issionário de seu tempo. Além de seu trabalho missionário, Paulo foi um escritor extraordinário, que contribuiu para a formação do pensam ento cristão, não só para sua época, mas para a Igreja do Senhor em todos os tempos. Dos 27 livros do Novo Testamento, ele escreveu treze. Mas, por perm issão de Deus, terminou seus dias num cárcere de um a prisão romana.

Pela grandeza do seu ministério, como um verdadeiro form ador de líderes e de discípulos de Cristo, como fruto de sua pregação, de suas mensagens e ensinos profundos, era de se esperar que, nos mom entos cruciais em que estava vivendo, não faltassem os amigos e os irmãos ao seu lado. M as, infelizmente, não foi o que aconteceu. O texto em apreço demonstra que ele experimentou a solidão e o abandono dos que faziam parte do seu círculo de relacionamentos. C om o um fiel discípulo e im itador sincero de Cristo, Paulo soube o que era ficar só quando mais precisava de companhia.

1. 0 Clamor de Paulo na SolidãoJesus exclamou sua solidão na cruz, sentindo a ausência necessária

do Pai, por ter recebido sobre si os pecados da hum anidade. Deus não poderia estar em com unhão com o pecado, no m om ento em que Cristo morria como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do m undo” 0 o 1.29). Paulo clamou pelo amigo, de dentro da prisão. Ele não tinha meios de comunicação rápidos, como hoje qualquer pessoa pode dispor. Sua carta deve ter dem orado dias para chegar às mãos de Tim óteo. N o início da carta, ele já sentia a falta do amigo, quando es­

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creveu: “desejando muito ver-te, lembrando-me das tuas lágrimas, para me encher de gozo” (2 Tm 1.4). N o final da missiva, consta a premente súplica de Paulo ao seu filho na fé: “Procura vir ter comigo depressa” (2 Tm 4.9). Nas linhas seguintes, ele diz o porquê de sua pressa.

1) Demas o desamparou“Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi

para Tessalônica” (2 Tm 4.10a). Tal expressão dá a entender que Demas, que era um cooperador e amigo de Paulo (Cl 4.14; Fm 24), na hora em que mais precisava dele, sentiu sua falta de amor.

2) Dois amigos tiveram que viajar“Crescente, para a Galácia, Tito, para a Dalm ácia” (2 T m 4.10b).

N ão fica claro o motivo da viagem desses dois irmãos. Provavelmente, foram a serviço do ministério, a lugares distantes. Em alguns m om en­tos, Paulo estivera cercado de amigos. Mas, por razões diversas, muitos tiveram que deixá-lo só. T íquico foi m andado para Efeso (2 T m 4.12). O s textos das cartas dão a entender que Tíquico fora o mensageiro que levou a carta a T im óteo (cf. T t 3.12; C l 4.7; E f 6.21,22), assim com o foi portador de outras missivas; Erasto ficou em Corinto e Trófim o ficou doente em M ileto (2 T m 4.20).

3) Só o médico amado ficou com Paulo“Só Lucas está com igo” (2 Tm 4.11). Lucas, “o médico am ado”

(2 Tm 4.14), escritor do livro de Atos dos Apóstolos, e cooperador do apóstolo (Fm 24), fez-se presente, dando assistência a Paulo. Sem dúvida alguma, fora providência de Deus. Em idade avançada (Fm1.9), Paulo precisava de cuidados médicos, de remédios e orientações clínicas. E ali estava o Dr. Lucas, seu amigo, que não o desamparou.

4) A necessidade de um amigo“Tom a Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o

ministério” (2 T m 4.11b). E interessante esse apelo de Paulo. Marcos, ou João Marcos, filho de M aria (At 12.12), era um obreiro jovem, que, por seus impulsos, deixou de acom panhar Paulo, em um a de suas via­gens missionárias, o que muito lhe desagradou (At 13.13), e foi motivo

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de contenda e separação entre Paulo e Barnabé (At 15.36-38). Foi um incidente muito desagradável entre aqueles irmãos. Mas, na carta em apreço, Paulo demonstra que deve ter refletido sobre Marcos, e con­clui que, apesar do acontecido, aquele jovem obreiro lhe era “muito útil” ao seu ministério. O perdão é assim. Sara as mágoas e reaproxima os amigos e irmãos.

2. A Serenidade nos Últimos Dias da VidaE impressionante o com portam ento de Paulo, registrado na segun­

da carta a Tim óteo. M esmo consciente de que sua vida estava prestes a findar, ainda tem a calma para interessar-se por coisas que seriam absolutamente desprezadas por outras pessoas, naquela circunstân­cia. N a primeira vez, Paulo ficou em prisão domiciliar, durante dois anos, quando podia receber visitas (At 28.16). Mas, no segundo en­carceramento, deve ter ficado recluso em cárcere fechado. Contudo, sua serenidade era tal que ainda teve ânim o para solicitar a Tim óteo algumas coisas e fazer recomendações importantes. “Q uando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, prin­cipalmente os pergam inhos” (2 Tm 4.13).

Com o se aproximava o inverno (2 Tm 4.21), e Paulo sentia a ne­cessidade da capa que deixara na casa de C arpo. Mas para quê os livros, os pergaminhos, se sua morte estava iminente? Antes de tudo, percebe-se quanto valor Paulo dava à leitura de livros, anotações, feitas em pergaminho. Talvez aqueles livros fossem livros da lei ou do Antigo Testamento. Ao que tudo indica, o seu julgamento, perante a justiça de Rom a, pudesse demorar alguns dias ou meses. De qualquer forma, é um eloqüente testemunho de que o hom em de Deus, quando está seguro em sua com unhão com o Senhor, não teme a morte ou qual­quer outra adversidade.

3. Preocupações Finais com o DiscípuloParece algo desconexo, em relação às preocupações anteriores,

quando solicitou objetos pessoais a Tim óteo. Paulo passa de escrita sobre sua situação e necessidades, e se refere a um hom em de m au ca­ráter que lhe causara muitos problemas, e orienta Tim óteo a respeito do mesmo (2 Tm 4.14,15). “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos

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males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te tam ­bém dele, porque resistiu muito às nossas palavras” (2 Tm 4.14,15). Pela sua designação, “latoeiro”, esse indivíduo era um lanterneiro ou funileiro, que se tornou cristão, aparentemente, mas tornou-se inimi­go de Paulo e de seu ministério.

III - A CERTEZA DA PRESENÇA DE CRISTO

1. Sozinho no Tribunal dos Homens“Ninguém me assistiu na minha primeira defesa; antes, todos me

desampararam. Q ue isto lhes não seja im putado” (2 Tm 4.16). De acor­do com estudiosos, Paulo se referia à primeira audiência a que se fez presente, na sua segunda prisão, e não ao primeiro julgamento, do qual foi liberado, após ter ficado em prisão domiciliar, alugada por ele próprio, durante dois anos (At 28.30,31). N a situação de que trata o presente texto, Paulo se encontrava respondendo a processo judicial, e esperava o julgamento final. Esse juízo poderia demorar ainda algum tempo, com o ocorreu na primeira detenção do apóstolo. Por isso, ele diz a T im óteo que volte depressa. E relata que sentiu a falta dos compa­nheiros, naquela hora tão difícil em que se encontrava, dizendo “todos me desam pararam ” . Parece que Tíquico e Lucas, o “médico am ado” não se encontravam na cidade, quando Paulo compareceu àquela au­diência. Mas Paulo não era murmurador, nem guardou mágoa dos amigos ausentes. Pelo contrário, demonstrou que os perdoara, pedin­do a Deus “Q ue isto lhes não seja im putado”.

2. Sentindo a Presença de Cristo“Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fos­

se cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão” (2 Tm 4.17). N a carta, Paulo declara que, não obstante ter sentido a falta dos irmãos e amigos, sentiu de perto a gloriosa pre­sença de Deus. E acentua que Cristo, seu Senhor, lhe concedeu duas grandes bênçãos, naquela circunstância tão desconfortante. Primeiro, o assistiu. Ele não tinha advogado hum ano; respondeu sozinho as acu­sações injustas contra sua pessoa, fazendo sua própria defesa; mas o Senhor estava ao seu lado.

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124 I A s O r d e n a n ç a s de C r isto tara a s C a rta s Pa sto r a is

A segunda grande coisa que o Senhor proporcionou foi o forta- lecimento do seu espírito, dando-lhe energia e ânim o para enfrentar não só o julgamento injusto, mas a própria morte, que se aproximava. Em terceiro lugar, Paulo diz que por ele fosse “cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem ” , indicando que, de alguma forma, antes da sua morte, os gentios haveriam de ouvir a mensagem do evangelho. Há quem diga que ele se referia ao primeiro encarceramento, do qual fora liberto. E continuou a pregar o evangelho. Em seguida, ele diz: “e fiquei livre da boca do leão” . H á dificuldades de entendimento quanto a essa expressão.

Teria sido Paulo mais um a vez liberto da prisão, após o segundo julgamento? Teria sido ele inocentado e solto? Estudiosos das epísto­las pastorais entendem que, em sua própria defesa, Paulo proclamou sua fé em Cristo, perante as autoridades e assistentes do júri. E que, dizendo que ficou “livre da boca do leão”, refere-se à sua libertação es­piritual, de Nero, o imperador sanguinário, ou de Satanás, ainda que passando pelo “vale da som bra da m orte” (SI 23.4). Tal entendimento se fortalece quando recordamos seu brado de vitória: “C om bati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 T m 4.7).

3. Palavras e Saudações Finais“E o Senhor me livrará de toda má obra e guardar-me-á para o seu

Reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. A m ém !” (2 Tm 4.18). Vencendo as lutas do combate da fé, acabando a carreira que lhe foi proposta e guardando sua fé em Cristo, Paulo sentia-se liberto para sempre de “toda má obra” , e sentia-se guardado “para o seu Reino celestial” (de Cristo), a quem dá “glória para todo o sempre, am ém ” .

Paulo, com o ânim o fortalecido pelo Senhor, encontra forças para m andar saudações a seis am igos (2 Tm 4.19,20); lembra-se de Erasto, que ficou em C orinto , e do am igo Trófim o, que ficou doente em M ileto. E pede que T im óteo procure chegar a Rom a antes do inverno, naturalm ente, levando a sua capa, que deixara na casa de C arpo (2 Tm 4.21). E, de m odo elegante, envia saudação em nom e de “Eubulo, e Pudente, e Lino, e C láudia, e todos os irm ãos” que saudavam Tim óteo. Isso mostra o quanto ele estava tranqüilo, aguar­dando a vontade de Deus sobre sua vida e o fim do seu ministério. E

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A C o n sc iê n c ia da C h eg a d a da M o r te | 125

conclui, saudando seu jovem discípulo, dizendo: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito. A graça seja convosco. Am ém !” (2 Tm 4.22).

CONCLUSÃOO s últim os trechos da segunda carta de Paulo a T im óteo dem ons­

tram que um servo de D eus que se pauta pela obediência ao Senhor, vivendo em santidade, e fazendo a vontade divina, não se desespera, m esm o ante a im inência do dia final. N outra carta, Paulo diz: “O ra, o últim o inim igo que há de ser aniquilado é a m orte” (1 C o 15.26), referindo-se à vitória de Cristo sobre todos os poderes e forças con­trárias à vida do crente fiel. Ele tinha consciência de que a morte físi­ca aniquilava apenas o corpo, mas seu espírito e sua alma (o hom em interior — 2 C o 4.16) estavam guardados em Cristo Jesus.

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Capítulo 11

A O r g a n iz a ç ã o de u m a Ig r e ja L ocal

Vam os estudar sobre a terceira carta pastoral de Paulo, destinada a T ito. Se T im óteo foi encarregado de transm itir ensinam entos, exorta­ções e m ensagens a um a igreja que sofria os ataques dos falsos mestres, T ito teve m issão sem elhante, porém com um a incum bência a mais, que foi a de estabelecer presbíteros, “em cada cidade” , pondo “em or­dem ” coisas que deveriam ser bem organizadas e estabelecidas. Paulo dem onstra, na carta a T ito, que não era apenas pregador, ensinador e “doutor dos gentios” , mas, tam bém , um adm inistrador eclesiástico de larga visão ministerial.

Ele sabia avaliar as necessidades da obra do Senhor. E orientou T ito para que selecionasse obreiros cristãos, que podiam ser separa­dos ou consagrados a presbíteros, com o líderes que ficariam encar­regados da direção de novas igrejas, “de cidade em cidade” (Tt 1.5). D essa designação é que as igrejas em geral entendem que o cargo ou função de presbítero deve ser local, sendo suscetível de reconhe­cim ento m inisterial por parte de outras igrejas. C h am a a atenção, m ais um a vez, nas cartas pastorais, o cu idado de Paulo quanto às qualificações a serem exigidas para ó~exercício das funções m iniste­riais, em especial, no caso dos presbíteros.

São funções ministeriais idênticas às que constam de 1 Tim óteo 3.1-7, em que Paulo fala a Tim óteo para que observe tais requisitos, na admi­nistração eclesiástica da igreja em Efeso. Esse detalhe mostra que as três epístolas pastorais formam de fato um a unidade de pensamento e de finalidade, pois têm a mesma autoria. Nessas cartas, as orientações são aplicáveis à administração eclesiástica, nas igrejas locais, em todos os tempos e lugares. Por não serem observadas, nos dias presentes, em mui­

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tos ministérios é que têm ocorrido sérios problem as organizacionais e de relacionamento entre obreiros.

A lista de qualificações, constantes de Tito 1.6-8, corrobora o extra­ordinário discernimento que Paulo teve, como nenhum outro apósto­lo, com relação aos requisitos para ser um presbítero, um bispo ou um pastor. A organização eclesiástica deve começar com a organização mi­nisterial. E esta se faz com obreiros primeiramente chamados por Deus de forma convincente (2 Tm 2.15). A observância das qualificações bí­blicas para o ministério evita a “consagração” de obreiros oportunistas ou aventureiros, que se servem da igreja em lugar de servirem à igreja. Em segundo lugar, com o preparo desses obreiros para assum ir as gran­des responsabilidades da Igreja, através das igrejas locais. O século XXI apresenta desafios muito maiores para o exercício pastoral do que em qualquer outra época da História.

N a introdução da carta a Tito, vemos que, a exemplo do que disse acerca de Tim óteo, Paulo tam bém teceu comentário sincero e reco- nhecedor do valor do destinatário, como obreiro fiel, fruto do seu abnegado ministério de evangelização e missões: “a Tito, meu verda­deiro filho, segundo a fé comum: graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 1.4). Tito era amigo de longa data. D e origem grega, foi companheiro de Paulo, ao lado de Barnabé, desde que começou de fato seu trabalho, após ter o apoio dos líderes da Igreja, em Jerusalém (G1 2.1-9).

I - ORGANIZAÇÃO DA IGREJA E ESCOLHA DOS OBREIROS

1. Resultado de uma Viagem Missionária“Em sua carta a Tito, Paulo mostra que é um verdadeiro pastor e lí­

der, chamado por Deus (1 C o 1.1; G 1 1.1), e tem cuidado das igrejas que fundou em suas viagens missionárias. E diz para seu discípulo: ‘Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei’ (Tt 1.5). De acordo com o entendimento da época, a igreja local deveria ter à frente um obreiro experiente e de mais idade. Que fosse um ancião, U m jovem obreiro pode ter muito conhecimento bí­

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blico e até muita unção de Deus. Mas a experiência só se consegue como tempo, com o passar dos anos (Jó 32.7)” .1 O texto indica que Paulo estivera em Creta, em um a de suas viagens missionárias, em companhia de Tito, cumprindo a sua tarefa de pastor e bispo, ou supervisor da obra de evangelização, em ocasião diferente da viagem em que sofreu terrível naufrágio e foi salvo pela bondade de Deus (ver At 27.8).

Em sua visita à famosa ilha, Paulo percebeu a necessidade de deixar ali, com o obreiro supervisor, o seu discípulo amado, Tito, que sempre lhe fora fiel e disponível para ajudar na obra. Sabedor de que um pas­tor ou m issionário não pode fazer tudo nem atender a todas as igrejas por ele fundadas, Paulo escolheu T ito para prosseguir o trabalho por ele iniciado. Ao que tudo indica, a viagem a Creta deve ter ocorrido após a sua saída da prisão, no primeiro encarceramento, que durou dois anos (At 28.30), e sua última prisão, que resultou ém sua morte. A carta a Tito, portanto, deve ter sido escrita antes de 1 Tim óteo.

C om a incumbência confiada por Paulo, T ito tornou-se um a espé­cie de supervisor missionário, com autoridade delegada para visitar, acom panhar e avaliar todos os trabalhos abertos, nas diversas cidades da ilha. U m a providência ministerial de grande valor, pois muitos tra­balhos m issionários são abertos, em lugares diversos no m undo, e não são avaliados por uma supervisão efetiva.

2. Colocando em Ordem as Atividades na IgrejaAs necessidades de organização das igrejas, na época de Paulo e de

Tito, eram bem prementes. A obra do Senhor estava crescendo, e cer­tamente distorções, dificuldades e transtornos eram observados pelos supervisores da obra. M as aquelas atividades eram idênticas às que são observadas hoje nas igrejas locais. Estas podem ser resumidas, pela ordem de im portância e prioridade, nas seguintes ações:

1) Evangelização e discipuladoEssas atividades não são “m odernas” , mas sempre foram desenvol­

vidas, desde os prim órdios das igrejas locais. Por meio da mensagem do evangelho, as pessoas aceitavam a Cristo como seu Salvador, mas

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1 Elinaldo Renovato DE LIMA. Dons espirituais e ministeriais, p. 130.

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precisavam de ensino apropriado à sua condição de novos converti­dos para se tornarem discípulos de Jesus. Paulo dava muito valor ao discipulado. Ele ficou um ano e meio em Corinto, “ensinando entre eles a palavra de D eus” (At 18.11). Em outra viagem, passou “sucessi­vamente pela província da Galácia e da Frigia, confirm ando a todos os discípulos” (At 18.23). T ito tinha a m issão de reforçar as atividades de evangelização, discipulado e integração dos irmãos nas igrejas por onde ele passava, com autoridade delegada pelo apóstolo supervisor.

2) Adoração a DeusDepois da conversão, vem a adoração. Logo em seus primeiros pas­

sos, o novo discípulo precisa ser ensinado e levado à adoração sincera a Deus. Naturalmente, na época de Paulo, não havia hinários cristãos à disposição dos crentes. Eles louvavam a Deus, certamente, utilizando o saltério, ou os cânticos dos salmos que, em sua maioria, são adequados para louvar a Deus, em todos os tempos, e em todos os lugares, pelo mundo afora. Mas Paulo era um adorador por excelência. E incentivavao cântico e o louvor nas igrejas por onde passava ou para quem enviava suas epístolas: “falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espiri­tuais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5.19). Na organização e funcionamento das igrejas, em Creta, não poderia ser diferente. Tito teria que lembrar aos irmãos o valor da adoração a Deus.

3) Ensino e educação cristãEstabelecer igrejas significa não apenas inaugurar um edifício, ou

mesmo dar início a uma com unidade cristã, num determinado local. Significa reunir pessoas que se tornam cristãs, congregá-las num local, ainda que sem melhores estruturas físicas, para ministrar-lhes o ensino da Palavra de Deus. Paulo enviou T ito a Creta para ensinar as igrejas locais e os líderes que haveria de estabelecer, dando destaque ao ensi­no da Palavra de Deus. Sem ensino fundam entado na Palavra de Deus, nenhum a igreja pode sustentar-se firme na Rocha dos Séculos.

4) Integração entre os irmãosU m a das características da igreja em seus prim órdios era a união e

a com unhão entre os crentes. “Todos os que criam estavam juntos e ti­

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nham tudo em com um ” (At 2.44). N ão havia apenas reunião entre os primeiros cristãos, mas havia união e com unhão, em torno dos que se integravam uns com os outros. Certam ente, Tito deve ter ensinado aos irmãos de Creta a importância da com unhão com Deus, com Cristo, com o Espírito Santo e com os irmãos.

5) Assistência social ou ajuda mútuaO s cristãos, em seus prim órdios, levavam a com unhão (koinonia)

tão a sério que chegaram a tomar atitudes radicais em relação às neces­sidades. “N ão havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos” (At 4.34). Tito, representando Paulo, deve ter orientado os crentes de Creta a respeito desse im portante objetivo da igreja local.

6) Organização e administração patrimonialN os prim eiros séculos do cristianism o, a Igreja nasceu de forma

bem sim ples e desprovida de estrutura física para a acolhida dos irm ãos. A princípio, reuniam-se no cenáculo (At 1.13); depois, no alpendre de Salom ão (At 5.12); com o passar dos anos, os cristãos reuniam-se no Tem plo e nas casas de suas famílias (At 5.42; 20.20). Em Creta, provavelmente, a organização das igrejas teve início nas casas, nos lares cristãos.

3. Qualificações dos Bispos ou PresbíterosEm sua carta a Tito, Paulo indica as qualificações para o presbitério

(ou episcopado) idênticas às que constam em 1 Tim óteo 3.1-7, já estu­dadas no capítulo 4 deste comentário.

Em seguida, mostra que “o bispo” , o mesmo que presbítero no tex­to (Tt 1.5) deve ser pessoa íntegra, irrepreensível, “com o despenseiro da casa de D eus” (Tt 1.7a). O utras qualidades morais são requeridas para quem deseja o presbitério ou o episcopado (1 T m 3.1), como humildade, “não soberbo”; m ansidão, “não iracundo” ; sobriedade em relação ao uso do vinho, evitando exceder-se nesse aspecto, para que não perca seu equilíbrio e cause escândalo à igreja do Senhor. Exige-se, também, que o presbítero, ou bispo, seja pessoa educada, equilibrada emocionalm ente e não seja “espancador” de ninguém (Tt 1.7).

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N o mesmo trecho da carta, Paulo determina que o presbítero ou bispo não seja “nem cobiçoso de torpe ganância” . O u seja: não seja amante e cobiçoso de dinheiro.

Com pletando a lista virtuosa de qualificações ministeriais, Paulo diz que o presbítero, bispo ou pastor deve ser obreiro “dado à hospita­lidade, amigo do bem, m oderado, justo, santo, tem perante” (Tt 1.8). Para ter essas qualificações, é necessário que o líder seja acolhedor, não irascível, não neurastênico, não mal educado, que não sabe receber ou tratar as pessoas. Deve ser benigno, possuidor de equilíbrio emocional (moderado), tenha uma vida justa, seja santo em toda a maneira de vi­ver (1 Pe 1.15), viva em santificação (Hb 12.14) e demonstre equilíbrio em tudo, na prática do fruto da temperança.

II - O OBREIRO DEVE PROTEGER O POVO DE DEUS

1. Crentes ProblemáticosApós discriminar as qualificações necessárias ao presbítero, Paulo

ressalta o respeito que deve ter à doutrina e a capacidade e autoridade ministerial para argumentar contra os contradizentes (Tt 1.9,10).

N a igreja de Creta, um a ilha tão pequena,2 de apenas 250 quilô­metros de extensão por 11 a 56 de largura, a comunidade cristã não deveria ter mais que algumas dezenas ou poucas centenas de cristãos. Mas, no meio deles, surgiram os “com plicados” e “contradizentes”, “faladores” . T ipos não raros em igrejas nos tempos presentes. Mas o apóstolo indicou a maneira de tratá-los.

2. Como Tratar os DesordenadosAos contradizentes e desordenados, desobedientes ao ensino da Pa­

lavra de Deus, Paulo demonstra não ter nenhum a contemplação com os mesmos, pois são perigosos, não só para a igreja local, mas para as famílias cristãs, e devem ser detidos, tapando-lhes a boca, ou seja, com argumentação, admoestação e repreensão à altura: “aos quais convém tapar a boca; hom ens que transtornam casas inteiras, ensinando o que

2 Russel Norm an CHAM PLIN. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. Vol. 5, p. 417.

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não convém, por torpe ganância” (Tt 1.11). O fato de tais falsos crentes terem espaço para transtornar “casas inteiras” se devia à realidade das igrejas cristãs em seus prim órdios. Elas funcionavam, em grande parte, nas residências dos convertidos (Rm 16.5; 1 C o 16.19; C l 4.15).

Além de faladores ou m urmuradores, os falsos crentes ensinavam coisas inconvenientes, visando obter algum proveito pessoal; eram ga­nanciosos. O s obreiros que lideram, presbíteros, bispos ou pastores, precisam ter autoridade espiritual, moral e pastoral para afastar os fiéis em Cristo do assédio dessa gente a serviço do Diabo. Além de desorde­nados, eles são “faladores” ou m urmuradores. Certo pastor chamava esse tipo de crente de “línguas de gravata”.3

Há quem queira fazer-se de “bonzinho” e “cheio de am or” no trato com os contradizentes e inimigos da liderança. Mas a Bíblia, manual da Igreja por excelência, mostra que, mesmo com amor, deve haver fir­meza e determinação, no trato com os desordeiros. Paulo m anda que se deve tapar a boca dos tais; devem ser adm oestados, ou advertidos, censurados, repreendidos. Com pletando a exortação acerca dos desor­deiros, Paulo recorre à palavra de um profeta cretense a respeito deles e diz que os tais devem ser repreendidos “severamente” : “U m deles, seu próprio profeta, disse: O s cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé” (Tt 1.12,13).

3. Não Dar Ouvidos a Ensinos FalsosN ão era fácil a missão de Tito. Ele, na condição de “missionário

supervisor” , estabelecendo igrejas “de cidade em cidade” , ainda tinha que ministrar a palavra de edificação e advertência contra os falsos cris­tãos; deveria repreendê-los de m odo veemente, “não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos m andam entos de homens que se desviam da verdade” (Tt 1.14). Isso mostra que os falsos mestres e os falsos cristãos eram hom ens que queriam manter os novos convertidos sujeitos ao ju­daísm o e comportavam-se como se fossem formuladores de doutrinas

com seus m andam entos espúrios.

1 Eles não precisavam usar gravatas. A língua seria tão grande que cumpria esse papel.

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III - A PERCEPÇÃO DA PUREZA PARA OS PUROS E PARA OS IMPUROS

1. Tudo É Puro para os PurosNesta seção da carta a Tito, Paulo faz declaração que tem sido mal

entendida por muitos que leem a epístola. Ele diz que “todas as coisas são puras para os puros” (Tt 1.15a). Separam os o versículo para me­lhor entendimento. Já ouvimos alguém, de má fé e péssima intenção, querer interpretar esse versículo ensinando que, se a pessoa é pura, pode fazer o que bem quiser, pois “tudo é puro” para ela. M as a Bíblia explica a si mesma. Para o puro, ou santo, todas as coisas são puras, porque são “santos em toda a maneira de viver” (1 Pe 1.5); buscam “a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14); são santificados em tudo e todo “espírito, alma e corpo” são “conservados plenamente irrepreensíveis para a vinda do Senhor” (1 Ts 5.23).

2. Nada É Puro para os Contaminados“ [...] mas nada é puro para os contam inados e infiéis; antes, o seu

entendimento e consciência estão contam inados” (Tt 1.15). N o con­texto da carta e no fundo histórico de sua época, decerto Paulo tinha em mente os ensinos falsos dos gnósticos, que apregoavam muitos ensi­nos sobre alimentos, vida íntima, sexualidade e outros temas, os quais consideravam coisas impuras. Para eles, tudo o que fosse material era reprovável, “ im puro” . De fato, para os “contam inados e infiéis” , que viviam cheios de malícia, maldade e torpeza, em seus corações corrom­pidos, tudo o que eles pensavam e praticavam eram de má natureza.

Eles apregoavam que para o crente ser puro deveria abster-se de re­lações sexuais. Tal generalização contrariava a Palavra de Deus, no que respeita ao sexo conjugal, pois é m andam ento de Deus que, através do sexo, o esposo se faça “um a só carne” com sua esposa (G n 2.24; M t19.6). M uitos defendiam o vegetarianismo pleno, como os “veganos” , ou “frugívoros” , que não se apropriam de nada de origem animal, para não se contaminarem. Tais dietas podem ser saudáveis, mas não podem ser exigidas com o m andam ento bíblico de forma alguma (ver Lv 11). Mas o motivo pelo qual “nada é puro para os contam inados” é porque “confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as

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obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda boa obra” (Tt 1.16). O u seja: são hipócritas e maliciosos. Dizem um a coisa e fazem outra.

CONCLUSÃOUm a igreja local, pequena, média ou grande, é um universo hu­

mano, pleno de grande variedade de circunstâncias e realidades que envolvem os mais diferentes tipos de pessoas. Nela, há o “jo io” , ou fal­sos crentes, e “o trigo” , os crentes fiéis, sinceros e santos, cujos nomes estão inscritos no “livro da vida do Cordeiro” . E na igreja local que se desenvolvem ministérios, dons e talentos, a serviço do Reino de Deus, ou contrários a ele. E na igreja local que a Igreja Universal, “coluna e firmeza da verdade” (1 Tm 3.15), se torna visível. Sua administração requer a observância de preceitos e diretrizes, emanadas da Palavra de Deus, o maior e melhor “M anual de Adm inistração Eclesiástica” . Por isso, Paulo escreveu três cartas pastorais, visando ao estabelecimento, à organização e ao crescimento sadio da Igreja do Senhor Jesus.

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Capítulo 12

Ex o r t a ç õ e s q u e S e r v e m de R e fe r ê n c ia C r ist ã

O texto que vamos estudar neste capítulo revela quanto o apóstolo Paulo era cuidadoso com a igreja local. Ele não apenas se preocupava com a doutrina, com o ensino, com as exortações de caráter espiritual propriamente dito. M uito diferente de alguns obreiros ou líderes, que não têm sensibilidade para valorizar o lado hum ano da igreja ou das pessoas. Paulo, mais um a vez, em um a carta, tece considerações e ensi­nos sobre diversas faixas etárias de crentes em Jesus. Já fizera recomen­dações semelhantes em sua primeira carta a Tim óteo 5.1,2.

Novam ente, ao escrever a T ito, seu fiel “com panheiro” e “coope- rador” (2 C o 8.23) e “verdadeiro filho” (Tt 1.4), Paulo exorta acerca do tratam ento hum ano e fraternal que deve ser dado a diversas classes de pessoas, não só com o cristãs, m em bros de um a igreja local, mas com o pessoas, com suas carências e necessidades em ocionais e físicas. A visão de Paulo era ampla, abrangente, holística. H á pessoas que, na liderança da igreja, voltam-se mais para os adultos e se esquecem dos jovens, dos adolescentes e das crianças. O utros valorizam sobrem anei­ra os idosos, os velhos, os anciãos, mas não dão m uita atenção aos de m ais idade. Todavia, Paulo sabia que as ovelhas do rebanho de Jesus precisam ser bem assistidas, independentem ente de sua faixa etária, sexo ou condição social.

O s conselhos de Paulo tinham como alvo os crentes das igrejas de Creta. M as o porta-voz deveria ser o jovem obreiro Tito. Depois de dou­trinar sobre a organização da igreja local quanto aos requisitos para a consagração de obreiros, e como tratar os “contradizentes” e falsos cren­tes, Paulo torna-se mais enfático e voltado para o dia a dia das pessoas, ao longo de sua vida humana. Chama-nos a atenção o fato de Paulo

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escrever tanto sobre jovens e adultos, mas parece que se esqueceu das crianças, de como a igreja local deveria tratá-los, pois não apresenta ensinos específicos, senão para “filhos” em geral (E f 6.1,4; 1 Ts 2.7,11). Provavelmente, Paulo teria sido casado, pois era membro do Sinédrio (cf. A t 22.5; 26.10), ou viúvo, com base em 1 Coríntios 7.7a, e pelo fato de ter profundo conhecimento sobre o m atrim ônio e suas impli­cações para a vida cristã.

Nesta seção da carta a Tito, Paulo não se esqueceu de exortar sobre o exemplo que o obreiro deve dar para com todas as pessoas, tanto da igreja como de fora. A Timóteo, ele já houvera dado semelhante conse­lho: “Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” (1 T m 4.12).

As cartas pastorais são um a fonte bíblica e confiável sobre doutri­na, prática e ensinam entos importantes para o melhor desempenho das funções ministeriais, notadam ente para os líderes cristãos, que, nos dias presentes, carecem de fundam entos para suas decisões, provi­dências e medidas, necessárias à sua administração eclesiástica.

I - O QUE O OBREIRO DEVE FALAR

Após as advertências contra os que não se com portam à altura da condição de servo de Deus, Paulo adverte a T im óteo sobre o que ele deve dizer ou falar diante da igreja e dos hom ens em geral. “Tu, po­rém, fala o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1). Sem dúvida, é uma grande lição para os obreiros cristãos, em todos os lugares, em todo o tempo. Esses precisam saber expressar-se, transm itindo mensagens, en­sinamentos, exortações e sermões, nos m om entos mais diversos. Saber falar é uma arte, um a virtude. E o apóstolo orienta que o parâmetro sobre o que falar é o que “convém à sã doutrina” , ou seja, o que é con­veniente, diante dos princípios da Palavra de Deus. Tiago, apóstolo de Jesus, deixou precioso ensino sobre o saber falar: “Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o hom em seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1.19).

Há pessoas, nas igrejas, que falam demais. E dizem o que não deve­riam dizer, causando problemas de relacionamento. Ser “tardio para falar” e “pronto para ouvir” é sinal de sabedoria. O falar do crente

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em Jesus, e mais ainda do obreiro, deve ser sério e de acordo com os ditames da Palavra de Deus.

O púlpito é lugar de grande responsabilidade para quem dele faz uso. A mensagem deve glorificar a Deus e ser motivo de glorificação no ministério pastoral. Escrevendo aos romanos, Paulo declarou: “Por- que convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério” (Rm 11.13). Ele sabia da grande missão de ser apóstolo ou “doutor dos gentios” . Seu conhecimento, adquirido ao longo da sua vida, desde sua juventude, deveria ser colocado à dis­posição da igreja do Senhor Jesus, especialmente, na proclamação do evangelho aos gentios. O servo de D eus precisa ter cuidado para não falar coisas inconvenientes. “N ão saia da vossa boca nenhum a palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (E f 4.29). O obreiro deve ter “linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo ne­nhum mal que dizer de nós” (Tt 2.8).

II - EXORTAÇÕES AOS IDOSOS, AOS JOVENS E SERVOS

1. Como os Velhos Devem Portar-se“O s velhos que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, na cari­

dade e na paciência” (Tt 2.2). A vivência com diversas igrejas, o conta­to com vários grupos de pessoas, fez com que Paulo tivesse experiência suficiente para exortar aos anciãos, às pessoas que, hoje, fazem parte da “Terceira Idade” , ou da “M elhor Idade” . Em nosso país, pessoa idosa é quem está com mais de 60 anos. Idade em que as experiências já se acumularam, ao longo da jornada. M as há muitos que tiveram um a formação familiar e espiritual deficiente, e causam transtornos em casa e na igreja.

U m a das coisas mais constrangedoras é ver um a pessoa idosa agin­do de m odo ridículo ou inconveniente. O s velhos crentes, conform e esse ensino, devem ser “sóbrios” , isto é, simples, m odestos, sem exa­geros. Alguns, por causa de sua form ação deficiente, comportam-se de m odo contrário à sã doutrina. M as os idosos devem ser “graves” , ou seja, respeitosos, sérios e decentes. Isso não quer dizer que o idoso crente deve ser um a pessoa de “cara fechada” , ranzinza, intolerante.

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M as devem saber relacionar-se com todos, especialmente com os de m enos idade.O s velhos crentes devem ser “prudentes” , sinônim o de cautelosos; devem ser “sãos na fé” , o que significa que devem ter segu­rança na sua maneira de crer e de ver as verdades e práticas cristãs. D e­vem, ainda, ser “sãos” “na caridade e na paciência” . Por vezes, a velhice torna-se inconveniente para algumas pessoas. Falta-lhes a paciência no relacionamento com os outros.

As doenças, os distúrbios próprios da idade avançada provocam alterações psicológicas ou emocionais, que tornam os velhos intoleran­tes, grosseiros ou até agressivos. Mas é preciso saber administrar esse importante estado da vida hum ana. As pessoas mais novas, na igreja ou na família, precisam saber tratar com os idosos, que têm problemas emocionais ou físicos. Acerca dos velhos crentes, disse o salmista: “O s que estão plantados na C asa do Senhor florescerão nos átrios do nos­so Deus. N a velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes, para anunciarem que o Senhor é reto; ele é a minha rocha, e nele não há injustiça” (SI 92.13-15).

2. 0 Comportamento das Mulheres Idosas e dos Jovens

1) As mulheres idosasN o parágrafo anterior, vimos que os hom ens idosos devem ser

exemplo em seu com portam ento. N esta seção, Paulo dá ensinam ento sobre as mulheres de mais idade: “As mulheres idosas, sem elhante­mente, que sejam sérias no seu viver, com o convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem ” (Tt 2.3). M ulheres idosas, com mais de 60 anos, são pessoas que têm vivência e experiências de grande valor para serem exemplo para as gerações mais novas. A santidade que se requer de todos os crentes im põe que sejam “sérias no viver” .

Devem ser mulheres santas, que não andem com atitudes e maus exemplos, na igreja ou fora dela. N ão devem ser caluniadoras (gr. diabolos), “não dadas a m uito vinho” , o que indica que, na época de Paulo, o tom ar vinho não era condenável, desde que fosse de forma m oderada, “social” , com o se diz atualm ente. M as é m elhor evitar o uso de vinho alcoolizado. U m bom suco de uva integral, puro, tem

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o m esm o efeito sobre a saúde, e evita inconvenientes de ultrapassar o limite da sobriedade.

2) As mulheres mais novasO que mais chama a atenção quanto ao com portam ento a ser vi­

vido pelas mulheres cristãs idosas é que devem ser “mestras do bem ” . Sim , elas devem ser “mestras” para as mulheres mais novas. Estas de­vem ter com portam ento exemplar, à altura de quem é nova criatura, e vive em conform idade com os princípios cristãos. “[...] para que en­sinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem m oderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu m arido, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfe­m ada” (Tt 2.4,5). Nesses versículos, vemos qualidades elevadas a serem cultivadas pelas mulheres cristãs.

As mulheres devem ser m oderadas — um a mulher exagerada, exi­bida, excêntrica, que “gosta de aparecer” , não condiz com a modéstia cristã (1 Tm 2.9); castas, ou seja, puras, que demonstrem comporta­mento cristão sério, e não carnal ou impuro; boas donas de casa — qualidade de grande valor para um a esposa cristã, que deve saber ad­ministrar bem o seu lar (Pv 14.1). Também devem ser sujeitas a seus maridos, exortação semelhante à que Paulo faz em Efésios 5.21-23 e Colossenses 3.18. As mulheres cristãs devem ter essas qualidades, “a fim de que a palavra de Deus não seja blasfem ada” .

3) Os jovens cristãos“Exorta semelhantemente os jovens a que sejam m oderados” (Tt

2.6). Certam ente, à época de Paulo, não havia diferenciação entre jo­vens e adolescentes. Todos os solteiros, em geral, eram considerados “jovens” . Nessa carta, a Tito, Paulo chama a atenção para o compor­tam ento juvenil, exortando os jovens a serem “m oderados” , ou come­didos, prudentes, sem exageros em seu comportam ento. No contexto do Antigo Testamento, sob a Lei de M oisés, e depois, nos tempos do Novo Testamento, os jovens e adolescentes não eram tratados como excesso de liberdades que lhes é concedido nos tempos atuais. De forma alguma, a disciplina, o respeito às normas e a obediência eram ensinados de forma zelosa, no próprio lar (Dt 11.18,19). O apóstolo

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João, escrevendo sobre os jovens cristãos, mostra o perfil de um jovem salvo, que decide ser fiel a Deus: “[...] Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o m aligno” (1 Jo 2.14). C om esse perfil, o jovem ou a jovem cristã demonstra mo­deração, no com portam ento pessoal, no namoro, no noivado e no relacionamento com as pessoas em geral.

3. 0 Comportamento dos Servos CristãosN esta parte da carta a Tito, Paulo passa dos ensinamentos, levan­

do em conta sexo e idade, para a condição social dos servos cristãos. Aquela época, havia a escravidão. C om o não podia eliminar tal tipo de relação entre patrão e empregados, Paulo procura disciplinar essa relação de trabalho e de condição social . A Tito, ele refere-se apenas ao com portam ento dos servos perante seus senhores (Tt 2.9,10).

É preciso pontuar o assunto, e questionar com sabedoria. Se um patrão quer que uma serva cristã aceite adulterar ou prostituir-se com ele, ela deve aceitar? De forma alguma; o apóstolo ensina que os ser­vos não devem contradizer ou defraudar seus senhores. Aqui, há dois aspectos. Se for necessário, e em defesa de sua fé, um servo ou serva cristã pode contradizer exigências descabidas de qualquer patrão; não deve contradizer ou se contrapor às exigências normais e legais da re­lação trabalhista; no aspecto da não defraudação, ele está plenamente correto, pois “defraudar” é sinônim o de “roubar” , “surrupiar” o que é alheio. E, segundo Paulo, os servos crentes devem comportar-se nesse padrão, “para que, em tudo, sejam ornam ento da doutrina de Deus, nosso Salvador”.

Nos dias atuais, os pastores devem orientar os servos, empregados ou funcionários, na igreja, a saberem conduzir-se perante patrões, empresários, diretores ou presidentes, nas empresas, entidades ou ór­gãos públicos — sempre levando em conta sua condição de “filhos de D eus” , e servos do “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19.16).

III - O BOM EXEMPLO EM TUDO

Concluindo essa seção da carta a Tito, Paulo dá um conselho pasto­ral bem pessoal, dirigido ao obreiro. “Em tudo, te dá, por exemplo, de

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boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2.7,8). E discrimina sete atitudes que servem de exemplo para os obreiros em todos os tempos.

1. Bom Exemplo“Em tudo, te dá por exemplo de boas obras.” Ser exemplo é um a

responsabilidade enorme para um cristão, especialmente para um obreiro. E ser exemplo “em tudo” é mais difícil ainda. As limitações hum anas, as falhas próprias de cada um são fatores que dificultam essa condição especial. Mas Paulo com o que desafiava Tito a ser esse padrão de comportam ento, na prática de “boas obras” . Estas não são a fonte da salvação, mas são indispensáveis para dem onstrar que o crente é de fato um salvo em Cristo Jesus. A salvação é pela graça (Ef2.8,9), mas as boas obras fazem parte da vida cristã: “Porque som os feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10 - grifo nosso).

O crente é salvo, independentemente das obras da lei, com o diz Paulo (Rm 3.20), perante Deus, mas a fé sem as obras, ou seja, sem testemunho, não tem valor perante os homens. Paulo aconselha Tito a ser “em tudo” , “exemplo de boas obras” .

2. Incorrupção na DoutrinaAssim como em Efeso, em Creta, havia os falsos mestres, ensinado-

res de doutrinas corrompidas, eivadas de mistura com o gnosticismo e outras heresias dos primeiros tempos da igreja cristã. E Paulo advertiu quanto ao comportamento de Tito. Ele deveria ter muito cuidado com a doutrina, para que sua pregação e ensino fosse de modo correto, com fundamento na Palavra de Deus, na “doutrina dos apóstolos” (At 2.42).

Se ao apóstolo Paulo fosse dado o direito de ressuscitar, hoje, no século XXI, ele ficaria estarrecido com tanta corrupção doutrinária tom ando conta de púlpitos, escolas, seminários, ditos cristãos; em pro­gramas através da mídia falada, escrita ou televisada. Ele veria a cor­rupção doutrinária no mercantilismo que invadiu muitas igrejas ditas neopentecostais, que “vendem ” bênçãos por dinheiro; que utilizam manipulação psicológica para arrecadar mais recursos das pessoas em

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troca de elementos místicos ou “m ágicos”, supostam ente oriundos do “Rio Jordão”, do “M onte S inai” , do “M onte Carm elo” , água “ungida” , lenço “ungido” e tantos outros ensinos e práticas que não têm fun­dam ento na Palavra de Deus. N unca na Bíblia as curas, ou milagres, sinais e maravilhas foram operadas, por Jesus ou por seus apóstolos, em troca de dinheiro. Isso é “sim onia” , reprovada na mensagem dos apóstolos (At 8.20,21).

3. Gravidade e SinceridadeSão atitudes que eqüivalem a seriedade. U m obreiro deve ser sério,

honesto, com postura que honre a Deus e ao seu ministério. M uitos escândalos têm perturbado a Igreja do Senhor Jesus, ao longo da his­tória, por causa de com portam ento irresponsável, frívolo e vulgar de alguns obreiros. Com pletando a lista de recomendações, Paulo diz que Tito deve ter “linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” . E conduta exemplar, exigida de todos os que querem ser obreiros, dedicados à obra do Senhor.

CONCLUSÃOU m a igreja local é a materialização da igreja visível. Nela, podem-se

observar os diversos tipos de pessoas que aceitam a Cristo, de verdade ou não. O s que são crentes verdadeiros dem onstram ser novas cria­turas pelo seu porte, testemunho e por suas obras. O s que são falsos crentes também se revelam por seu caráter, expresso em sua conduta. A Palavra de Deus é o referencial para todo com portam ento cristão, em todas as faixas etárias da vida.

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Capítulo 13

A M a n ife s ta ç ã o da

G raç a da S alvação

A salvação, concedida ao hom em perdido, é fruto da graça de Deus, por intermédio de Cristo Jesus, que veio ao m undo, como Deus que se fez homem, para redimir o homem. A graça de Deus é a mais extraor­dinária manifestação do seu amor para com o pecador. M as ele só pode usufruir os benefícios desse recurso divino se reconhecer o seu estado miserável, em termos espirituais, e converter-se mediante a aceitação de Cristo como seu Salvador. Em bora haja vários significados para a pala­vra graça, a mais com um é ser considerada “favor imerecido de D eus” , visando à salvação do homem.

Essa graça de que fala o texto em apreço, que estende o favor divino ao pecador, é a “graça salvadora” , segundo a qual, Deus, o Soberano do universo, concede ao hom em a oportunidade de reconciliar-se com Ele, mediante o sacrifício de Cristo, no Calvário. Essa graça salvífica é a origem desse favor divino, motivada pelo grande am or de Deus. Diz Paulo: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de D eus” (E f 2.8).

Em João 5. 24 Jesus disse: “N a verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” . Para ser salvo, o hom em precisa dar ouvidos à Palavra de Deus. N ão é apenas escutar, ou “ouvir dizer” ; é necessário abrir o coração para a mensagem do evangelho. E indispensável que creia em Deus, “naquele que me enviou” , conforme ressaltou Jesus. Só assim pode ter a vida eterna. Esse é o evangelho de Jesus, segundo escreveu João. Som ente sa­tisfazendo essas condições de ouvir e crer, e, mais ainda, obedecer, é que a pessoa pode ser beneficiada pela graça de Deus, pela graça salvadora, que só há em Cristo Jesus.

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N a carta a Tito, Paulo declara, de m odo enfático e solene: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). Isso não quer dizer que a salvação a todos os hom ens é autom á­tica e incondicional. De forma alguma. M as que a salvação foi trazida, por intermédio de Cristo, como manifestação da graça de Deus, à dis­posição de todos os homens. Mas ela só pode ser efetiva e eficaz para aque­les hom ens que derem ouvidos à Palavra de Deus, arrependerem-se de seus pecados e ser converterem a Deus. Jesus iniciou seu ministério dizendo: “O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Sem arrependimento e fé, a graça de Deus não pode agir no coração do homem.

I - A MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA DE DEUS

1. A Graça ComumA Palavra de D eus nos m ostra que há diversas m anifestações

da graça divina. E im portante saber o sentido da palavra “graça” . Vem da palavra hebraica hessed, e do term o grego charis, cujo sen­tido m ais com um é o de favor imerecido que Deus concede ao homem, por seu amor, bon dade e m isericórdia; a partir dessa conceituação, podem os ver a “graça com um ” , pela qual D eus “dá a todos a vida, a respiração e todas as co isas” (At 17.25b). M as a graça com um não opera a salvação do hom em . E expressão da bon dade divina sobre toda a criação de D eus.

2. A Graça Salvadora“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a to­

dos os hom ens” (Tt 2.11). Ela ultrapassa o conceito e o sentido da “gra­ça com um ” , que é disponível para “todos os hom ens”, independente­mente de crerem em Deus ou não. A “graça com um ” é manifestada pela “revelação natural” , pela natureza (SI 19.1ss). A graça salvadora também está à disposição de “todos os hom ens” , mas só é alcançada ou eficaz por aqueles que creem em Deus, e aceitam a Cristo Jesus como seu único e suficiente Salvador pessoal. E também chamada de “graça especial” , conhecida por meio da “revelação especial” de Deus, que é a sua santa Palavra.

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A M a n ifest a çã o da g r a ç a da S a lvação | 147

N a carta a Tito, Paulo ressalta o valor da “graça de D eus” , no seu mais elevado e nobre aspecto, entendido como “graça salvadora” . Ela é de tam anha significação, que se pode desdobrar, para efeito de com­preensão, em outros aspectos relativos à obra salvífica de Cristo Jesus, na redenção do homem.

1) Graça justificadoraA graça salvadora opera a justificação do pecador, diante da justi­

ça de Deus. Para Myer Pearlman, “Justificação é um termo judicial, que nos faz lem brar um tribunal. O hom em , culpado e condenado, perante Deus, é absolvido e declarado justo — isto é, justificado. [...] Deus é o juiz, e Cristo é o Advogado; o pecado é a transgressão da lei; a expiação é a satisfação dessa lei; o arrependim ento é convicção; a aceitação traz perdão ou rem issão dos pecados; o Espírito Santo testifica o perdão; a vida cristã é obediência e sua perfeição é o cum ­prim ento da lei da justiça” .1

2) Graça regeneradoraMyer Pearlman2 considera a regeneração com o um a “experiência

subjetiva” , da qual resulta a adoção, que é um “privilégio objetivo” . Segundo esse teólogo, “a alma, m orta em transgressões e ofensas, precisa dum a nova vida, sendo a m esm a concedida por um ato di­vino de regeneração” . U m a vez nascida de novo, a pessoa passa a fazer parte da fam ília de D eus: “A ssim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da fam ília de D eus” (E f 2.19). Passa a ser “nova criatura” : “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram ; eis que tudo se fez novo” (2 C o 5.17).

Pela regeneração, o hom em é feito “nova criatura” (2 C o 5.17), e sua história passa a ser contada diante de Deus a partir de sua decisão de se tornar “filho de D eus” . Bergstén afirma que a regeneração, ou o novo nascimento, “significa o ato sobrenatural em que o homem é ge­rado por Deus, 1 Jo 5.18, para ser filho de Deus, Jo 1.12, e participante

1 Myer PEARLMAN, Conhecendo as doutrinas da Bíblia, p. 218, 219.2 Ibid., p. 218.

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da natureza divina, 2 Pe 1.4” .3 H orton4 diz que “A regeneração é a ação decisiva e instantânea do Espírito Santo, mediante a qual Ele cria de novo a natureza interior [...] O Novo Testamento apresenta a figura do ser criado de novo (2 C o 5.17) e da renovação (Tt 3.5), porém a mais comum é a de ‘nascer’ (gr. Gennaõ), ‘gerar’ ou ‘dar à luz’ (cf. Jo 3.3; 1 Pe 1.3)”. Essa gloriosa bênção é fruto da graça de Deus.

3) Graça santificadoraA santificação é indispensável à salvação (Hb 12.14). A graça de

Deus só pode ser eficaz, na vida do convertido, se ele se dispuser a negar-se a si mesmo, para ter um a vida de santidade. A santificação é um processo espiritual, que tem início na conversão, e deve prosseguir por toda a vida do crente, até a morte, ou o seu encontro com Cristo, em sua vinda. É o estado vivencial daquele que é santo, que vive em santidade. A falta de santificação anula os efeitos da regeneração e da justificação. Diz a Bíblia: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).

3. Condições para Ser Salvo“ [...] ensinando-nos que, renunciando à im piedade e às concu-

piscências m undanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piam ente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecim ento da glória do grande D eus e nosso Senhor Jesus C risto” (Tt 2.12,13). Essa palavra de Paulo está em perfeita harm onia com o ensino pre­cioso de Cristo Jesus, em seus serm ões: “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si m esmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23). É necessário o crente dem onstrar arrependi­m ento sincero, o que significa m udança radical em sua natureza, pensam entos, atitudes e práticas.

Para ser salvo, o crente precisa ter duas atitudes, opostas um a à ou­tra. A primeira, é no sentido da negação ou da renúncia do próprio eu: “renunciando à impiedade e às concupiscências m undanas” (Tt 2.12b; Lc 9.23); a segunda, é no sentido positivo, segundo o qual o salvo

3 Eurico BERGSTÉN. Teologia sistemática, p. 129.4 Stanley M. H ORTON. Teologia sistemática, p. 371.

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deve viver “neste presente século sóbria, justa e piam ente” (Tt 2.12c). Viver sobriamente é viver com a “simplicidade que há em C risto” (2 C o 11.3). A vida de luxo e ostentação não combina com essa condição exemplificada por Jesus. A sobriedade deve fazer parte do cotidiano da vida do crente (1 Pe 1.13; 4.7; 5.8). Viver justamente é ter uma vida pautada pela prática da justiça fundam entada em Cristo Jesus. N ão é a justiça do homem, que é falha e discriminatória.

A uns, a justiça hum ana é aplicada de um a forma; a outros, de ou­tra forma, m esmo que as circunstâncias das transgressões sejam idênti­cas. Mas a justiça de Cristo, no crente, faz com que ele viva de maneira justa, em consonância com a Lei de Deus (SI 23.3; Pv 12.28). Viver piam ente significa viver de acordo com a piedade (gr. eusebeia) cristã, é viver em santidade e respeito à Palavra de Deus, em santificação. Todo esse cuidado com o com portam ento cristão não é sem finalidade, mas tem um propósito muito elevado, face à vinda de Cristo: “aguardan­do a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” .

Paulo doutrinou aos coríntios, acerca da salvação, dem onstrando de form a consistente que, para ser salvo, é necessário perm anecer no “cam inho estreito” (M t 7.14), em obediência à vontade de Deus. “Tam bém vos notifico, irm ãos, o evangelho que já vos tenho anun­ciado, o qual tam bém recebestes e no qual tam bém perm aneceis; pelo qual tam bém sois salvos, se o retiverdes tal com o vo-lo tenho anunciado, se não é que crestes em vão” (1 C o 15.1,2). D e propó­sito, destacam os o “se” , que indica condição indispensável para a salvação. Sem essa perm anência e retenção dos ensinos de Cristo, a fé do crente é vã e m orta (Tg 2.17). Som ente valorizando a “graça salvadora” é que o crente pode fazer parte do povo de Deus. Paulo diz a T ito que Jesus “se deu a si m esm o por nós, para nos remir de toda iniqüidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14; 1 Pe 2.9). E ordena que esse ensino, de caráter devocional e prático, deve ser repassado com m uito cuidado e zelo à igreja local: “Fala disto, e exorta, e repreende com toda a autori­dade. N inguém te despreze” (Tt 2.15). N os dias presentes, há m uita pregação, m uita prédica ou preleção, mas há pouca exortação com doutrina (2 T m 4.2).

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II - A CONDUTA DO SALVO EM JESUS

1. Sujeição às Autoridades Legítimas“A dm oestaos a que se sujeitem aos principados e potestades, que

lhes obedeçam e estejam preparados para toda boa obra” (Tt 3.1). Paulo tinha um a consciência muito viva quanto aos deveres cívicos e sociais a que os cristãos deveriam (e devem) submeter-se, desde que tal sub­missão não implique desobedecer à Lei de Deus. Nesta parte da carta a Tito, ele exorta a que ensine aos crentes que se sujeitem “aos prin­cipados e potestades” . E um a linguagem muito antiga ou arcaica, que pode ser mais bem expressada em termos mais recentes, na lingüística da tradução bíblica. O cristão sincero deve obedecer aos governantes e autoridades que cuidam da vida administrativa, social e política das nações. Ressalvando que essa obediência cívica não deve suplantar a obediência à cidadania cristã, ou à cidadania dos céus. Jesus m andou dar “a César o que é de César” e “a Deus o que é de D eus” (Mt 22.17- 21). O texto em apreço termina com a observação: “que lhes obedeçam e estejam preparados para toda boa obra” (Tt 3.1 b). O u seja: que deve­mos obedecer às autoridades, no que concerne à prática de “toda boa obra” , e não de qualquer obra.

2. 0 Relacionamento CristãoApós doutrinar sobre deveres sociais e cívicos, perante as autori­

dades, Paulo diz a T ito que ensine aos crentes a saberem comportar- -se no relacionamento hum ano: “[...] que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, m ostrando toda m ansidão para com todos os hom ens” (3.2). Vejamos abaixo alguns comportam entos exigidos dos cristãos.

1) Não infamem a ninguémInfâmia é “crime contra a honra” , capitulado no Código Penal do

Brasil e de países civilizados. E sinônim o de calúnia. N o original gre­go, eqüivale a “blasfêmia” . E pecado muito grave infamar alguém, na igreja ou fora dela. E passível de sanção judicial ou condenação na justiça humana. M uito mais, na Lei de Deus. Norm alm ente, a infâmia é ditada com intenção maligna de prejudicar alguém. O cristão deve

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cultivar o fruto do Espírito da “benignidade” , que é a qualidade de quem só faz o bem (G1 5.22).

2) Não sejam contenciososEscrevendo a Tim óteo, Paulo diz: “E ao servo do Senhor não con­

vém contender, mas, sim, ser m anso para com todos, apto para ensi­nar, sofredor” (2 Tm 2.24). Contendas, nas igrejas, geralmente têm resultados m uito prejudiciais. Isso não agrada a Deus.

4) Mostrem “mansidão para com todos os homens”Em um m undo em que os prepotentes, autoritários e violentos

são os que dom inam , é difícil ser m anso, sem sofrer conseqüências morais ou em ocionais. M as deve ser característica m arcante do servo de D eus ser “m anso e hum ilde de coração” , com o Jesus ensinou (Mt11.29). A lém de não ser interessante a contenda, no m eio cristão, o crente precisa ser “m anso para com todos, apto para ensinar, sofre­dor” (2 Tm 2.24b).

3. A Lavagem e a Renovação do Espírito Santo“Porque tam bém nós éram os, noutro tem po, insensatos, deso­

bedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros” (Tt 3.3). Neste parágrafo da carta, Paulo traz à lem brança o que “nós éram os” , não apenas ele, T ito e os dem ais cristãos. E enum era várias qualidades ou adjetivos, e situações que eram próprias da velha vida de pecado, longe de Deus; ou do “velho hom em ” , que foi crucificado com C risto (Rm 6.6); que era corrom pido “pelas concupiscências do engano” (E f 4-22; C l 3.9); esse “velho hom em ” , ou velha cria­tura, possuía qualificações dissonantes com o “novo hom em, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade” (E f 4.24). São seis características discrim inadas por Paulo que caracterizam o hom em no pecado:

1) insensatezRefere-se à velha vida, plena de loucura, imprudência, leviandade

e incoerência, que leva muitos à perdição eterna. Trata-se de condição

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de quem não é prudente para buscar a Deus, esperando a vinda de jesus. Ele tam bém falou sobre o hom em “insensato”, que edifica sua casa sobre a areia (Mt 7.26). E desastre espiritual inevitável.

2) DesobediênciaRefere-se à desobediência a Deus e à sua Palavra. O velho homem,

dom inado pelo pecado, vive em aberta rebelião ou insubordinação contra Deus. E a desobediência é o pecado mais comum, a “m ãe” de todos os pecados, cometidos pelo homem, em todos os tempos (Rm11.30), que são “filhos da desobediência” (E f 2.2; 5.6; C l 3.6ss).

3) ExtravioSem Deus, sem a salvação em Cristo, o homem é um extraviado,

como ovelha sem pastor (Mt 9.36). E uma situação difícil e por vezes desesperadora. M as é feliz quem faz como o “filho pródigo” , que to­m ou a decisão sábia de retornar hum ilhado à casa do pai, onde foi recebido com amor e misericórdia (Lc 15.18-24).

4) Servindo a “várias concupiscências e deleites”O utra tradução fala de “paixões e prazeres” , que dom inam a vida

do hom em sem Deus. O s deleites da carne im pedem que o hom em se converta a D eus de verdade, sufocado pelos “espinhos” da vida (Lc 8.14). As concupiscências da vida, ou os desejos exacerbados da car­ne, são im pedim ento para um a vida de santidade e fidelidade a Jesus (1 Pe 4.3; Jd 16). D e m odo geral, esse tipo de prática está relacionado aos pecados sexuais.

5) “Vivendo em malícia e inveja”M alícia é sinônim o de maldade, perversidade, malignidade. U m

cristão, nascido de novo, não pode andar com esse tipo de sentimento ou de prática em sua vinda íntima nem no relacionamento com os outros. A malícia não deve fazer parte da vida cristã (E f 4.31; C l 3.8). A inveja é outro sentimento indigno para um cristão sincero; é senti­mento carnal, ou de influência diabólica, que faz com que um a pessoa sinta-se mal com o sucesso do outro. E sentimento destruidor não só da paz interior, mas que é devastador para a saúde física. E “a podridão dos ossos” (Pv 14.30).

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6) Odiosos, odiando “uns aos outros”C om pletando o quadro m em orativo do que era o “velho hom em ” ,

Paulo lem bra a T ito que, no trato passado, “n ós” éram os “od iosos” e odiávam os “uns aos outros” . Ó dio é sinônim o de rancor, de raiva, interiorizado no coração ou na mente da pessoa. Q uem odeia faz m uito mais mal a si m esm o do que à pessoa ou ao objeto odiado. O ódio ou o rancor, internalizado e guardado no coração é devastador tam bém da saúde m ental e física. A lém disso, perante D eus, aquele que odeia ou aborrece seu irm ão não entra no céu, e é considerado crim inoso (1 Jo 3.15).

Toda essa lista negra de qualidades ruins foi m udada, na vida do salvo, quando teve o encontro com Cristo e experimentou a “lavagem da regeneração do Espírito Santo” (Tt 3.4-7).

III - AS BOAS OBRAS E O TRATO COM OS HEREGES

1. A Prática das Boas Obras“Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes, para que os

que creem em Deus procurem aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos hom ens” (Tt 3.8). Mais um a vez, Paulo ressalta o valor das boas obras na vida do crente em Jesus. O cristão deve cul­tivar e dem onstrar o fruto do Espírito em sua vida. As boas obras são sinal evidente de um a vida frutífera e produtiva na presença de Deus. “N ão me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos no­meei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em meu nom e pedirdes ao Pai ele vos conceda” (Jo 15.16). Esse “fruto” é concretizado por meio do testemunho eloqüente de um a nova vida em Cristo. Materializa-se na prática de boas obras, na demonstração de atitudes e práticas que concorrem para a glória de Deus: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de D eus” (1 C o 10.31).

2. Como Tratar com os HeregesO s hereges ou os falsos mestres tinham oportunidade, tanto em

Efeso com o em Creta e em outros lugares onde o cristianismo chegava com sua mensagem salvadora. Satanás logo procurava induzir pessoas

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que se convertiam ao erro, por intermédio de hom ens de m á índole, que procuravam perturbar a estabilidade das igrejas que iam sendo abertas em todos os lugares. Assim, da mesma forma que advertira quanto aos falsos ensinos na igreja de Efeso (2 Tm 2.23), Paulo cha­m ou a atenção de Tito para o mesmo tipo de discussão estéril e preju­dicial à fé genuína dos cretenses: “Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs” (Tt 3.9).

Em uma exortação de apenas duas linhas de sua carta a Tito, Paulo resumiu a maneira como se deve tratar o herege, ou seja, aquele que, rejeitando a verdadeira fé, julga-se mais sábio e conhecedor do que os demais cristãos. Esses são arrogantes, presunçosos, e se acham “donos da verdade” . O apóstolo demonstra que é perda de tempo ficar dis­cutindo ou argumentando com quem apóstata da fé e se afasta da sã doutrina de Cristo. Ele é incisivo e direto quanto ao trato com o here­ge: “A o hom em herege, depois de um a e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado” (Tt 3.10,11).

Basta admoestar um a ou duas vezes, e, depois, apenas orar para que Deus se apiede de sua arrogância doutrinária.

CONCLUSÃOA graça de Deus, manifestada por meio de Cristo, é a mais alta

expressão do seu amor, misericórdia e bondade para com o homem pecador. Depois da Queda, rompeu-se a ligação direta entre o homem e Deus. Mas, por intermédio de Cristo, foi reconstituída essa ligação, tornando-se Ele o m ediador entre o ser criado e o seu Criador. Essa graça que é salvadora, santificadora e redentora está à disposição de to­dos os homens, pois “D o Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam ” (SI 24.1). Todos os seres hum anos perten­cem a Deus por direito de criação. M as para serem salvos, precisam tornar-se filhos de Deus, crendo nEle como seu Salvador (Jo 1.12).

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As O rd en a n ça s d e

'O

a r t a s P a s t o r a is

Pa u l o , o g r a n d e e v a n g e l ist a , pa st o r e h u m il d e se r v o d e D e u s ,

ERA “APÓSTOLO DE J eSUS C r ISTO (1 Tm 1.1), E CONSIDERAVA-SE, MUITO

a p r o p r ia d a m en t e , “a p ó st o l o d o s g e n t io s” (Rm 11.13). N a c o n d iç ã o

ELEVADA DE PASTOR, SENTIU DE PERTO A NECESSIDADE DE CUIDAR DAS IGREJAS

LOCAIS, POR ELE FUNDADAS EM SUAS HISTÓRICAS VIAGENS MISSIONÁRIAS.

O APÓSTOLO PREOCUPOU-SE NAO SÓ EM ABRIR IGREJAS E GANHAR ALMAS

para C risto . S en tiu su a g ran d e respo nsabilidade d e en sin a r e d o u trina r

o s c r e n t e s , e sp e c ia l m e n t e o s n o v o s c o n v e r t id o s , d ia n t e d o a ssé d io

DAS FALSAS DOUTRINAS, DAS HERESIAS E, MAIS AINDA, DOS “ FALSOS IRMÃOS”

(2 Co 11.26). D epo is de r e le m br a r o s so fr im e n t o s q u e e xperim enta ra

EM DIVERSAS OCASIÕES, PAULO DIZ: “AlÉM DAS COISAS EXTERIORES, ME OPRIME

CADA DIA O CUIDADO DE TODAS AS IGREJAS” (2 Co 11.28).

AO TRATAR DE ASSUNTOS TÃO DIVERSOS COMO A ORAÇÃO, COMPORTAMENTO

NO CULTO, FUNÇÃO DOS BISPOS E DIÁCONOS, APOSTASIA, MORTE E ORGANIZA­

ÇÃO DA IGREJA LOCAL, AS CARTAS PASTORAIS ULTRAPASSAM SEU PROPÓSITO A

PRIOR1 DE SEREM DESTINADAS APENAS A DOIS JOVENS OBREIROS. FORAM, NA

VERDADE, CARTAS QUE SE TORNARAM AUTÊNTICOS MANUAIS ECLESIÁSTICOS POR

ASSIM DIZER, PARA AS IGREJAS CRISTÃS EM SEUS PRIMÓRDIOS, BEM COMO, SEM

QUALQUER IMPROPRIEDADE, PARA AS IGREJAS DOS TEMPOS ATUAIS.

E l in a l d o R e n o v a t o d e L im a E M in ist r o d o

E v a n g e l h o , c o m e n t a r is t a d e L i ç õ e s B íb l ic a s ,

PROFESSOR UNIVERSITÁRIO E BACHAREL EM ClÊNCIAS

E c o n ô m ic a s . É tam bém a u t o r d o s l i v r o s É tica

C r is tã , C o lò ssen ses , A pren d en d o D iariam en te com

C r is to , A F am ília C r is tã n os D ias A tu a is e C êlulas-

T r o n c o e D o n s E sp iritu a is & M in iste r ia is , t o d o s

e d i t a d o s p e la C P A D .

ISBN AS 2b3D703- ?