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História da Igreja I: Aula 9: Império e Cristianismo Latino Teutônico (2/2)

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Curso desenvolvido para a ministração de aulas de História Eclesiástica I no Seminário Teológico Shalom. O curso envolve a exposição da história da igreja cristã, dos tempos de Jesus aos tempos atuais, passando pelo seu surgimento e desenvolvimento, domínio com a conversão de Constantino, ascensão papal, movimentos reformadores e avivalistas da era moderna, até os movimentos ecumenista e pentecostal do séc. XX. Esta aula apresenta a decadência do império carolíngio, feudalismo e desdobramentos eclesiásticos entre 800 e 1054, como a afirmação da transubstanciação e o Cisma da Igreja.

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  • 1. Imprio e Cristianismo latino-teutnico Declnio imperial e renascena eclesistica Histria Eclesistica I Pr. Andr dos Santos Falco Nascimento Blog: http://prfalcao.blogspot.com Email: [email protected] Seminrio Teolgico Shalom

2. Declnio do Imprio Carolngio Imediatamente aps a formao do Imprio por Carlos Magno, iniciou-se seu declnio. Por conta de diversos fatores, o Imprio no conseguiu se sustentar como a fora poltica universal que os papas desejavam: Fracos sucessores de Carlos Magno Princpio teutnico de herana Surgimento do feudalismo Novas invases brbaras (vikings, eslavos e magiares) 3. Declnio do Imprio Carolngio Princpio teutnico de herana: Havia um princpio entre os povos teutes de que as terras de um pai deveriam ser divididas entre seus filhos. Posto em prtica por Lus, o Pio (778-840), filho de Carlos Magno, para aplacar a turbulenta famlia, o princpio gerou uma diviso do reino entre seus filhos. Quando Lus faleceu, a briga pelo imprio se iniciou. Lus, o Germano, havia herdado a poro oriental do imprio, enquanto que Carlos II havia herdado a parte ocidental. Uma longa poro central de terra, entre o Mar do Norte e o Mar Adritico, ficara com Lotrio, juntamente com o ttulo de Imperador. Lotrio buscou conquistar todas as terras imperiais sob seu poder, porm Carlos e Lus se uniram contra Lotrio em Estrasburgo, em 842, gerando uma aliana contra a qual Lotrio no conseguiu lutar. Em 843, os trs irmos assinaram o tratado de Verdun. A atual Frana foi dada a Carlos, a atual Alemanha, a Lus, e uma estreita faixa de terra, de 160 quilmetros de largura, foi concedida a Lotrio, juntamente com o ttulo imperial. 4. A faixa de terra entre os dois reinos se tornaria motivo de rivalidade entre as duas naes at o sc. XX. Em 870, em Mersden, um novo tratado foi assinado, onde a regio central foi redividida entre os governantes dos reinos francos oriental e ocidental, confinando os descendentes de Lotrio regio da atual Itlia. 5. Feudalismo O feudalismo foi um sistema social agrrio que surgiu na Europa com a crise da vida urbana aps as invases brbaras. Com o enfraquecimento do poder imperial, as pessoas foram foradas a voltar para o campo em busca de sobrevivncia. O feudalismo era um sistema de organizao poltica baseado na posse da terra. O senhor local protegia a regio de sua propriedade, em troca do trabalho das pessoas que eram protegidas por eles. As pessoas comuns, chamadas de servos, deviam lealdade a seu senhor. Cada gleba de terra era autossuficiente, exceto por bens como sal, moinhos e barras de ferro para uso do ferreiro para forjar ferramentas. A gleba era a unidade territorial feudal e compreendia um pedao de terra suficiente para sustentar um cavaleiro. Alguns senhores feudais podiam ter vrias glebas. 6. Camponeses Servos Mercadores Fazendeiros Artesos Cavaleiros Vassalos Nobreza Rei Papa - IgrejaPIRMIDEFEUDAL 7. Camponeses Servos Mercadores Fazendeiros Artesos Cavaleiros Vassalos Nobreza Rei Papa - Igreja Alimentos Mercadorias e servios Proteo e servio militar Dinheiro e cavaleiros 8. Camponeses Servos Mercadores Fazendeiros Artesos Cavaleiros Vassalos Nobreza Rei Papa - Igreja Terra Terra Terra Terra 9. Influncias do feudalismo na Igreja Possua grandes pores de terra na Europa Oriental Terras doadas por santos ou penitentes em busca de justificao para uma vida de pecado ficaram nas mos da Igreja Romana. Como proprietria de terras, no foi influenciada pelo sistema feudal. Cesso de terras aos cavaleiros feudais em troca de proteo. Dupla obedincia: Papa ou senhor? 10. Influncias do feudalismo na Igreja Alta nobreza envolvendo-se em eleies para conseguir abadias ou episcopados a parentes, que poderiam assim se tornar proprietrios de terras da igreja. Estes parentes no se interessavam pelos assuntos da igreja e eram mundanos. Controvrsia das investiduras: Quem investiria o clero, Igreja ou Estado? Diminuio da brutalidade das guerras feudais com a Paz de Deus e a Trgua de Deus. Paz de Deus: Pacto de abolir rixas pessoais, no atacar pessoas desarmadas, impedir roubo e violncia e no saquear locais sagrados. Trgua de Deus: No lutar entre a tarde de quarta e manh de segunda, e no guerrear nos dias de festa eclesistica (100 dias de lutas), igrejas, cemitrios, mosteiros e conventos so santurios de refgio, mulheres, camponeses e clrigos no podiam ser molestados. 11. Novas invases brbaras Ataques de povos do norte, das regies escandinavas (Sucia, Dinamarca e Noruega nos scs. VIII e IX: Vikings, Eslavos e Magiares. Mosteiros e cidades situados ao longo da costa ou s margens de rios eram alvos de tais grupos, especialistas em navegao. Muitos dos invasores fixaram-se na Inglaterra, fundindo-se com os anglo- saxes e destruindo a refinada cultura na Inglaterra e na Irlanda. Outros fixaram-se na Normandia, de onde sairiam para conquistar a Inglaterra sob Guilherme, o Conquistador, em 1066. Outros foram para a Europa oriental e colocaram o fundamento do Estado russo. Um grupo foi para a Siclia e sul da Itlia, representando ameaa ao poder temporal do papado. Eslavos e magiares fixaram-se no centro-sul da Europa, na regio da Morvia, Hungria e Bulgria. 12. Geografia ps sc. IX Estado Germnico torna-se sucessor do Estado franco imperial (sc. X), mas no se torna uma nao-estado centralizada. Enfrentaria o papado em busca de supremacia at sua derrota para Inocncio III. Geografia trabalhando contra unificao alem e gerando interesses diferentes em cada regio. Unio dos duques tribais da Germnia sob a coroa de Henrique, o Passarinheiro, em 919, para enfrentar as investidas do norte e dos hngaros eslavos ao sudeste. Sucessor Otto (912-973) torna os duques seus vassalos e passa a supervisionar os negcios da igreja, nomeando bispos e abades de sua confiana. Construiu uma monarquia centralizada, sendo coroado imperador do Sacro Imprio Romano em 962 ao ajudar o papa Joo XII a enfrentar um poderoso rei que havia surgido como um desafio ao seu poder. Isso gerou problemas de ingerncia dos imperadores nos negcios da igreja, chegando a eleger papas de seu interesse, como Otto III, que entrou em Roma em 996 e forou a eleio de seu primo Bruno como papa Gregrio V. O Sacro Imprio duraria at Napoleo declarar sua dissoluo em 1806. 13. A Igreja entre 800 e 1054 A partir do sc. IX, a Igreja Ocidental experimentou um reavivamento interior que lhe deu foras para competir com a interferncia imperial. Vrios foram os fatores que contriburam para o fortalecimento do poder eclesistico do papa: Doao de Constantino e Falsas Decretais Converso da Escandinvia Fortalecimento da doutrina da missa Reforma monstica Liderana de pessoas capazes 14. A Igreja entre 800 e 1054 Doao de Constantino e Falsas Decretais Base legal para propriedade de terras em nome do papa. Nicolau I (858-867) foi o primeiro a usar uma coleo dos decretos de vrios pontfices de Roma. Ficou conhecido como Falsas Decretais e continha a Doao, alm de decretos autnticos e forjados desde o tempo de Clemente de Roma. Estabeleciam a supremacia papal sobre todos os lderes eclesisticos. Concediam o direito a qualquer bispo de apelar diretamente ao papa, ultrapassando o chefe de seu arcebispado. Reivindicava o direito do papa ser livre do controle secular. No h certeza que algum papa tenha forjado a coleo, mas muitos a usaram para apoiar suas alegaes. Converso da Escandinvia Fortalecimento da doutrina da missa Reforma monstica Liderana de pessoas capazes 15. A Igreja entre 800 e 1054 Doao de Constantino e Falsas Decretais Converso da Escandinvia Aceitao do evangelho pelos povos escandinavos se deve a Ansgar (801-865), natural de Flandres. Respondeu ao chamado do rei dinamarqus Haroldo por um missionrio, em 826, dedicando os 36 anos restantes de sua vida obra missionria no norte da Europa. Dinamarca conquistada completamente no sc. XI, nos dias de Canuto. Noruega aceita o cristianismo no ano 1000 e feito a religio oficial da Sucia e da Islndia por essa poca. Fortalecimento da doutrina da missa Reforma monstica Liderana de pessoas capazes 16. A Igreja entre 800 e 1054 Doao de Constantino e Falsas Decretais Converso da Escandinvia Fortalecimento da doutrina da missa A natureza da presena de Cristo na ceia serviu para fortalecer o papado porque o papa dirigia a hierarquia dos clrigos, nicos que tinham o direito de ministrar o milagre da Missa. Em 831, Pascsio Radberto (c. 785-860), monge do mosteiro de Corbie, prximo a Amiens, comea a ensinar que, por milagre divino, a substncia do po e do vinho so imediatamente transformados em corpo e sangue de Cristo. No chamava de transubstanciao, mas essa era sua ideia. Defendeu sua ideia no livro De Corpore et Sanguine Domini, sendo adotada oficialmente em 1215 e defenida plenamente em 1545. Reforma monstica Liderana de pessoas capazes 17. A Igreja entre 800 e 1054 Doao de Constantino e Falsas Decretais Converso da Escandinvia Fortalecimento da doutrina da missa Reforma monstica No sc. X, os mosteiros haviam se tornado ricos e corruptos, precisando de urgentes reformas. O ideal original de servio foi substitudo pelo ideal de salvao pessoal combinado com vida confortvel em um mosteiro rico. O papado em si sofreu declnio entre Nicolau I e Leo IX. O mosteiro de Cluny foi fundado por Berno a mando do duque William de Aquitaine, para o bem de sua alma. Berno, que j havia sido abade em outro mosteiro, recebeu autorizao para fundar um mosteiro isento de controle secular ou episcopal e exerceria a autogesto sob a proteo do papa. Sua liderana e de seu sucessor, Odo, levou a vrios mosteiros beneditinos, incluindo o de Monte Cassino, se reorganizarem semelhana do de Cluny. Liderana de pessoas capazes 18. A Igreja entre 800 e 1054 Doao de Constantino e Falsas Decretais Converso da Escandinvia Fortalecimento da doutrina da missa Reforma monstica No velho sistema, cada mosteiro tinha seu prprio abade monrquico, independente de outros da mesma ordem. O de Cluny indicava que os abades de novos mosteiros deviam submisso ao de Cluny, gerando uma ordem centralizada sob um chefe, o abade de Cluny, trabalhando em harmonia com o papa. No final do sc. XII j havia mais de 1100 mosteiros sob a liderana do abade de Cluny. Os lderes cluniacenses condenavam a simonia (compra de cargos eclesisticos), e o nepotismo. Outra plataforma foi o celibato. Os monges tambm criam que a Igreja no deveria ser controlada pelo rei, Imperador ou duque, e nova nfase foi dada vida asctica. Boas escolas foram fundadas pelos cluniacenses e o movimento das Cruzadas deve muito a eles. A ordem foi extinta em 1790. Liderana de pessoas capazes 19. A Igreja entre 800 e 1054 Doao de Constantino e Falsas Decretais Converso da Escandinvia Fortalecimento da doutrina da missa Reforma monstica Liderana de pessoas capazes Nicolau I (858-867): Obrigou Lotrio II de Larraine a desistir da ideia de divorciar- se de sua esposa legal, Teutberga, com quem havia se casado por razes polticas, para se casar com Waldrada, mulher por quem se apaixonara. Manteve o direito de bispos apelarem diretamente ao papa, tentou colocar o imperador oriental e o patriarca sob sua autoridade, sem sucesso. 20. A Igreja entre 800 e 1054 Doao de Constantino e Falsas Decretais Converso da Escandinvia Fortalecimento da doutrina da missa Reforma monstica Liderana de pessoas capazes Entre Nicolau I e Leo IX, mais de 40 papas ocuparam a cadeira episcopal, sem grande apelo. Um caso emblemtico foi o de Bento IX, papa indigno, deposto em favor de Silvestre III e que vendeu seu trono para o homem que se tornou Gregrio IV, sem abdicar do trono. Trs papas alegavam ser legtimos. Um snodo convocado pelo imperador em Sutri, em 1046, com Bento e Silvestre depostos e Gregrio forado a renunciar em favor de Clemente II, que morreu logo, assim como seu sucessor. Eventualmente Henrique indicou seu primo Bruno pra se tornar o futuro papa Leo IX. 21. A Igreja entre 800 e 1054 Doao de Constantino e Falsas Decretais Converso da Escandinvia Fortalecimento da doutrina da missa Reforma monstica Liderana de pessoas capazes Leo IX mostrou-se digno da indicao, interessado em reformar a igreja nos termos do programa de Cluny. Com a eleio de Nicolau II ajudado por Humberto e pelo competente Hildebrando, futuramente Gregrio VII, a eleio do papa saiu das mos da turba romana e passou para o controle dos lderes eclesisticos no Colgio dos Cardeais, em 1059. 22. O Cisma da Igreja Em 1054, as Igrejas do Oriente e do Ocidente finalmente chegaram a um impasse, gerando a primeira grande diviso da Igreja Crist. Vrias foram as razes para esta separao: Diviso do Imprio em Ocidente e Oriente, com duas lideranas estabelecidas por Teodsio, em 395. Diferena de jurisdio: Oriente sob o Imperador, Ocidente sob o papa. Ocidente trabalhava assuntos prticos, Oriente trabalhava assuntos de natureza filosfica. A maioria das controvrsias entre 325 e 451 surgiu no Oriente. Celibato: Casamento de clrigos abaixo de bispo permitido no Oriente, enquanto que no Ocidente era proibido. Uso de barba: Manuteno obrigatria no Oriente, ao contrrio do Ocidente. Ocidente trabalhava o idioma latino, Oriente usava o grego. Clusula filioque: Incluso de clusula no credo Niceno que indicava que o Esprito Santo provinha do Pai e do Filho, algo no aceito no Oriente, gerou acusao do patriarca Fcio de heresia por parte de Nicolau I e do Ocidente. 23. O Cisma da Igreja Em 1054, as Igrejas do Oriente e do Ocidente finalmente chegaram a um impasse, gerando a primeira grande diviso da Igreja Crist. Vrias foram as razes para esta separao: Divergncia de data em que se deve celebrar a Pscoa. Controvrsia iconoclasta causada por deciso do imperador Leo III em 726 de proibir genuflexo a esculturas e imagens e, em 739, que tudo exceto a Bblia fosse removido das igrejas e destrudo, limitando o poder dos monges e refutando as acusaes de idolatria dos muulmanos. A oposio do papa e do imperador Carlos Magno nos assuntos do Oriente gerou rusgas entre as duas faces. O Ocidente continuou a usar as esculturas, enquanto que o Oriente conservou apenas os cones, geralmente gravuras de Cristo que deveriam ser reverenciadas, mas no cultuadas. Ressentimento com tentativa do papa Nicolau I de interferir na nomeao do patriarca da Igreja no Oriente. 24. O Cisma da Igreja Em 1054, todas as diferenas vieram tona quando um problema menor surgiu. Miguel Cerulrio, patriarca de Constantinopla de 1043 a 1059, condenou a Igreja do Ocidente pelo uso de po no-levedado na Eucaristia. Esta era uma prtica que se disseminara no Ocidente a partir do sc. IX. Leo IX enviou dois legados e o cardeal Humberto ao Oriente para por fim polmica. Ao final das discusses, as diferenas de opinio eram ainda maiores. Em 16/07/1054, os legados romanos colocaram no altar superior da catedral de Santa Sofia um decreto de excomunho do patriarca e seus seguidores. Tal ato foi respondido por uma anatematizao do papa de Roma e seus seguidores. As duas igrejas passaram a no se reconhecerem mutuamente, entendendo-se ser a verdadeira Igreja de Cristo. A excomunho mtua s foi suspensa em 07/12/1965, durante o Conclio Vaticano II, pelo papa Paulo VI e pelo patriarca Atengoras. 25. Consequncias do cisma Movimentos ecumnicos tornaram-se muito difceis aps tal diviso. O movimento ecumnico atual, que visa a reunio das igrejas da Cristandade, no tem o apoio da Igreja Catlica Romana e apenas um pequeno apoio da Igreja Ortodoxa Grega, sendo fundamentalmente protestante. Ambas querem uma Igreja Ecumnica sob seus termos, apesar do Oriente ter se aberto a dilogos com igrejas protestantes. Excluso do Oriente das influncias revitalizantes de fortalecimento do Ocidente, como o surgimento das cidades, naes e da classe mdia, sem contar os movimentos culturais da Renascena e a Reforma. Esforo missionrio Oriental leva a f ortodoxa Bulgria, com a converso de Bris em 864, Rssia em 955 com a converso da princesa Olga e em 988 com a converso de seu neto Vladimir, e ao povo magiar. Estagnao da Igreja, com pouca mudana ritual, de administrao ou teolgica, devido ao choque do isl e a perda de gente e terras aos muulmanos. 26. Fontes Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo atravs dos sculos: uma histria da igreja crist. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar Kroker. So Paulo: Vida Nova, 2008. Textos auxiliares: DREHER, Martin N. Coleo Histria da Igreja, 4 vols. 4 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1996. GONZALEZ, Justo L. Histria ilustrada do cristianismo. 10 vols. So Paulo: Vida Nova, 1983