1. Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9)
www.monergismo.com 1 A TEOLOGIA MODERNA E A CRTICA DA BBLIA C. S.
Lewis* A antiga ortodoxia tem sido solapada principalmente pela
obra deletria de telogos engajados na crtica do Novo Testamento. A
autoridade de especialistas naquela disciplina a autoridade em
deferncia qual somos solicitados a desistir de um imenso acmulo de
crenas compartilhadas em comum pela Igreja primitiva, pelos pais da
Igreja, pela Idade Mdia, pela Reforma Protestante, pelos pregadores
do sculo 19. Quero explicar aqui o que me deixa ctico quanto a essa
autoridade, ignorantemente ctico, conforme muitos diriam aps um
exame superficial da questo. Mas o ceticismo o pai da ignorncia.
difcil algum perseverar em um estudo detalhado quando tal estudioso
no pode confiar prima facie em seus mestres. Em primeiro lugar, o
que quer que esses homens possam ser como crticos da Bblia,
desconfio deles como crticos. A mim parece que so fracos quanto a
um bom juzo literrio, mostrando-se incapazes de perceber a prpria
qualidade dos textos que examinam. Pode parecer isso uma estranha
acusao contra indivduos que tm estudado esses livros a sua vida
inteira. Mas talvez precisamente a resida a dificuldade deles. Um
homem que passou toda a sua juventude e idade adulta fazendo
pesquisas minuciosas nos textos do Novo Testamento e nos estudos de
outros homens sobre estes textos, cuja experincia literria sobre
aqueles textos ressente-se de quaisquer padres de comparao que s
podem desenvolver-se aps uma ampla e profunda e genial experincia
com a literatura em geral, conforme penso, tende muito a perder de
vista as questes bvias envolvidas. Se tal homem chega e diz que
alguma coisa, em um dos evangelhos, lendria ou romntica, ento quero
saber quantas lendas e romances ele j leu, o quanto est
desenvolvido o seu gosto literrio para poder detectar lendas e
romances, e no quantos anos ele j passou estudando aquele
evangelho. Porm, provavelmente seria melhor eu citar exemplos. Em
um comentrio que atualmente j bastante antigo, li que o quarto
evangelho considerado por certa escola crtica como um romance
espiritual, como um poema, e no uma histria, que deve ser
aquilatado pelos mesmos cnones que a parbola de Nat, o livro de
Jonas, o Paraso Perdido, ou, mais exatamente ainda, o Peregrino de
John Bunyan. Depois que um crtico faz essa declarao, por qual
motivo daramos ateno a qualquer coisa que ele ainda possa dizer
sobre qualquer livro do mundo? Notemos que este autor considerou o
Peregrino, uma histria que professa ser um mero sonho e que exibe
sua natureza alegrica da maneira mais explcita, como o mais chegado
paralelo do evangelho de Joo! Notemos tambm que tal autor nem deu
ateno ao fato de que Milton no escondeu estar escrevendo uma poesia
pica. Mas mesmo que deixemos de lado esses absurdos mais grosseiros
e nos apeguemos ao livro de Jonas, ainda assim a insensibilidade
desse autor crassa pois disse ele que Jonas apenas um conto, sem
quaisquer pretenses de historicidade, um incidente grotesco e
certamente no destitudo de uma veia humorstica tipicamente judaica,
embora, sem dvida, distintivamente edificante. Voltemo- * Este
ensaio foi extrado de uma coletnea publicada das prelees e artigos
de Lewis, intitulada Christian Reflections, editada por Walter
Hooper. E foi publicado com a permisso do publicador, William B.
Eerdmans Publishing Company.
2. Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9)
www.monergismo.com 2 nos, em seguida, para o evangelho de Joo.
Leiamos os seus dilogos: aquele entre Jesus e a mulher samaritana,
beira do poo, ou ento aquele outro, aps a cura do cego de nascena.
Examinemos em seguida os seus quadros mentais: Jesus (se me
permitido usar o termo) a escrever na areia com Seus prprios dedos;
a inesquecvel observao hvn dev nux (Joo 13.30), E era noite. Sim,
tenho lido poemas, romances, literatura acerca de vises, lendas e
mitos a vida toda. Sei com o que esse tipo de literatura se parece.
Sei que em todo esse tipo de literatura no h nada que chegue altura
do quarto evangelho. Acerca do texto do quarto evangelho s so
cabveis dois pontos de vista. Ou trata-se de uma reportagem que se
aproxima extraordinariamente dos fatos ocorridos, conforme disse
Boswell. Ou ento, algum escritor desconhecido, no sculo 2 d. C.,
sem quaisquer antecessores ou sucessores conhecidos, de sbito
antecipou a tcnica inteira da narrativa moderna, novelesca,
realista. Se o evangelho de Joo veraz, ento deve ser alguma
narrativa dessa categoria. O leitor que no puder perceber isso,
simplesmente ainda no aprendeu a ler. Na obra de Bultmann, Theology
of the New Testament (pg. 30), encontramos um outro exemplo do que
estamos ressaltando. Disse ele: Observemos de que maneira no-
assimilada a predio sobre a parousia (ver Marcos 8.38) segue-se
predio sobre a paixo (Marcos 8.31). O que Bultmann pode ter querido
dizer? No-assimilada? Bultmann acreditava que as predies acerca da
parousia eram mais antigas que as predies a respeito da paixo. Por
conseguinte, ele queria acreditar e sem dvida assim acreditava que
quando ocorriam as duas menes em uma mesma passagem, que alguma
discrepncia ou no-assimilao seria perceptvel entre elas. Mas por
certo ele impingiu isso sobre o texto sagrado com uma chocante
falta de percepo. Pedro acabara de confessar que Jesus era o
Ungido. O relmpago de glria nem se apagara ainda quando comeou
aquela tenebrosa predio o Filho do homem haveria de sofrer e
morrer. E, ento, o tremendo contraste foi reiterado. Pedro, embora
tendo-se elevado por um momento, atravs de sua confisso do messiado
de Jesus, chegou a tropear: e Jesus o repreendeu com aquelas
terrveis palavras, Arreda! Satans. E ento, em meio momentnea runa
em que Pedro se transformou (o que sucedeu com certa freqncia), a
voz do Mestre, voltando-se para a multido, generalizou a lio moral.
Todos os seguidores de Jesus precisam carregar a sua prpria cruz.
Esse receio diante do sofrimento, essa autopreservao, no
corresponde s realidades da vida. Em seguida, de maneira melhor
definida ainda, soou a convocao ao martrio. Ningum pode desviar-se
do reto caminho. Se algum negar a Cristo aqui e agora, Cristo haver
de neg-lo na outra vida. Lgica, emocional e imaginativamente, a
seqncia mostra-se perfeita. Somente um Bultmann poderia pensar de
outra forma, com sua Crtica de Forma. Finalmente, meditemos no que
saiu da pena desse mesmo Bultmann: A personalidade de Jesus no
tinha qualquer importncia para a pregao de Paulo ou de Joo... De
fato, a tradio da igreja primitiva nem ao menos preservou
inconsistentemente um quadro descrito de Sua personalidade. Toda
tentativa para reconstruir esse quadro tem permanecido como um jogo
de imaginao subjetiva. Portanto, na opinio da crtica destrutiva o
Novo Testamento no nos apresenta qualquer personalidade de nosso
Senhor. Atravs de qual estranho processo aquele erudito alemo
entrou, a fim de tornar-se cego para aquilo que todos os homens
vem, menos ele? Qual
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www.monergismo.com 3 evidncia existe de que ele reconheceria uma
personalidade, se tivesse de defrontar-se com ela? Pois o caso de
um Bultmann contra mundum. Se existe alguma coisa que os crentes
sentem em comum, e at mesmo muitos incrdulos, essa coisa que, nos
evangelhos, deparamo-nos com uma extraordinria personalidade.
Existem personagens que sabemos terem sido figuras histricas, mas
acerca das quais sentimos que no possumos qualquer conhecimento
pessoal conhecimento por meio da familiaridade. Poderamos citar
entre esses vultos pessoas como Alexandre, tila ou Guilherme de
Orange. Existem outros vultos que no reivindicam qualquer realidade
histrica, a despeito do que ns os conhecemos como conhecemos
pessoas reais, como Papai Noel, Tio Sam ou Super- Homem. Mas
existem apenas trs personagens que, dotadas da primeira sorte de
realidade, tambm possuidoras da segunda espcie de realidade. E
certamente todos sabem de quem se trata: o Scrates de Plato, o
Jesus dos evangelhos e o Johnson de Boswell. Nossa familiaridade
com eles exibe-se de diferentes maneiras. Assim, quando nos pomos a
ler os evangelhos apcrifos, surpreendemo-nos constantemente a dizer
acerca desta ou daquela declarao ou logion: No. Temos aqui uma boa
declarao. Mas no pertence a Jesus. No era assim que Ele costumava
falar. To poderosa a fragrncia da personalidade que mesmo quando
Jesus dizia coisas que no fora o fato de Ele ser a prpria encarnao
da Deidade pareciam espantosamente arrogantes, contudo, ns e muitos
incrdulos, por igual modo aceitamos a Ele segundo a Sua prpria
avaliao. Para exemplificar, quando Ele declarou: ... sou manso e
humilde de corao... At mesmo aquelas passagens do Novo Testamento
que, superficialmente, e em inteno, dizem respeito natureza divina,
obscurecendo a natureza humana, levam-nos a enfrentar a
personalidade de Jesus. No tenho a certeza se essas passagens fazem
isso mais do que outras. ... o que temos visto com os nossos
prprios olhos, o que contemplamos e as nossas mos apalparam... a
nossa comunho com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo... (1Joo
1.1-3). Qual a vantagem que algum poderia obter por tentar evitar
ou dissipar esse avassalador senso de contato pessoal com Jesus,
quando esse algum refere-se quela significao que a igreja primitiva
encontrava e que se sentia impelida a atribuir ao Mestre? Declaraes
assim esbofeteiam-me o rosto. No devemos pensar no que aqueles
cristos sentiram-se impelidos a fazer, mas podemos comparar tais
impresses com as impresses impessoais de um artigo escrito por
algum autor da escola da Alta Crtica, ou de um obiturio, ou de
alguma obra como Life and Letters of Yeshua Bar-Yosef, em trs
volumes, acompanhada por fotografias antigas. Esse, pois, o meu
primeiro balido. Esses homens pedem-me que eu acredite que eles
podem ler entre as linhas dos textos antigos; mas todas as
evidncias levam-me a notar a bvia incapacidade deles de lerem (em
qualquer sentido digno de discusso) as prprias linhas. Eles afirmam
poder ver coisinhas minsculas, mas no podem ver um elefante a dez
metros de distncia, em plena luz do dia. Agora, o meu segundo
balido. Toda teologia da categoria liberal envolve, em algum ponto
e, por muitas vezes, do comeo ao fim , a reivindicao que o real
comportamento e o propsito dos ensinamentos de Cristo quase
imediatamente vieram a ser mal compreendidos e distorcidos por Seus
seguidores, e que somente os eruditos modernos puderam exum-los ou
recuper-los. Ora, muito antes que me interessasse pelas
questes
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www.monergismo.com 4 teolgicas, eu j havia encontrado esse tipo de
teoria em outros lugares. A tradio de Jowett ainda dominava os
estudos sobre a filosofia antiga quando comecei a ler as obras de
Greats. Ento, os leitores eram convidados a acreditar que o sentido
real dos escritos de Plato havia sido mal entendido por Aristteles,
e loucamente travestido pelos filsofos neoplatnicos, e que tal
sentido s foi redescoberto pelos pensadores modernos. E uma vez
refeito esse significado, descobriu-se (mui afortunadamente) que
Plato o tempo todo havia pensado como um Hegel ingls, ou melhor,
como T. H. Green. E, em meus estudos profissionais, encontrei essa
idia pela terceira vez. A cada nova semana algum esperto
quartanista, a cada quinze dias algum embotado perito
norte-americano, vem descobrir, pela primeira vez na histria do
mundo qual o sentido real de alguma pea de Shakespeare. Nessa
terceira instncia, entretanto, j sou uma pessoa privilegiada. A
revoluo que tem havido na maneira de pensar e sentir, ocorrida
durante o curto perodo de minha vida, to grande que, mentalmente
falando, perteno mais ao mundo de Shakespeare do que ao mundo
desses intrpretes recentes. Percebo-o, sinto-o nos meus prprios
ossos, estou convicto, acima de qualquer argumento, de que a
maioria das interpretaes desses modernos pensadores praticamente
impossvel. Tais interpretaes envolvem uma maneira de considerar as
coisas que era desconhecida em 1914, e, mais ainda, no perodo
jacobeano. Isso confirma diariamente a minha suspeita quanto
abordagem dos crticos no tocante aos escritos de Plato ou do Novo
Testamento. Essa noo de que qualquer homem ou escritor deveria ser
opaco e imcompreensvel para aqueles que viviam na mesma poca, na
mesma cultura, que falavam o mesmo idioma, que compartilhavam das
mesmas habituais imagens mentais e pressupostos inconscientes, e
que, no entanto, torna-se perfeitamente claro e transparente para
aqueles que no dispem de nenhuma dessas bvias vantagens, em minha
opinio, no passa de um imenso absurdo. Nessa noo h uma
improbabilidade a priori que no pode ser contrabalanada por quase
qualquer argumento e evidncia. Em terceiro lugar, descubro nesses
telogos o constante emprego do princpio que diz que os milagres
nunca ocorrem. Isso quer dizer que qualquer declarao posta nos
lbios de nosso Senhor, pelos textos antigos, se que Ele a fez
realmente, constituiria uma predio sobre o futuro, mas s foi
registrada aps a ocorrncia daquilo que ela parecia predizer. Essa
opinio pode parecer sensata para aqueles que julgam saber que
jamais ocorrem predies inspiradas. Por semelhante modo, a rejeio de
todas as passagens bblicas que narram milagres como trechos
no-histricos, pode parecer uma rejeio sensata para aqueles que
pensam saber que os milagres, em geral, jamais ocorrem. Ora, no meu
propsito discutir aqui se os milagres so possveis ou no. To-somente
quero ressaltar aqui que essa uma questo puramente filosfica. Os
eruditos, enquanto eruditos, no falam a esse respeito com maior
autoridade do que qualquer outra pessoa. O cnon que estipula, se
miraculoso, no histrico, uma regra que os crticos impem aos seus
estudos dos textos sagrados, e no um princpio que deduziram desses
textos. E j que estamos falando em autoridade, a autoridade
conjunta de todos os crticos bblicos do mundo aqui considerada como
zero. Quanto a isso, os crticos falam apenas como homens; homens
obviamente influenciados pelo esprito da poca em que cresceram,
esprito esse talvez insuficientemente crtico quanto s suas prprias
concluses. Mas o meu quarto balido que tambm o mais longo e mais
vocfero ainda vem por a.
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www.monergismo.com 5 Todo esse tipo de crtica tenta reconstruir a
gnese dos textos estudados. Essa reconstituio busca quais
documentos desaparecidos cada autor usou; quando e onde ele
escreveu; com quais propsitos; sob quais influncias a Sitz im
Lebenz (situao vivencial) inteira dos textos. E isso efetuado com
imensa erudio e com grande engenho e arte. primeira vista, esses
esforos so muito convincentes. Chego a pensar que eu mesmo poderia
ser convencido por tais argumentos, no fora um certo encantamento
mgico que sempre trago comigo uma certa erva fabulosa, de
propriedades mgicas e que uso com sucesso contra tais engodos.
Aqui, o leitor precisa desculpar-me se estou falando de mim mesmo
por alguns instantes. Pois o valor daquilo que digo depende de ser
ou no evidncias colhidas em primeira mo. O que me protege
definitivamente de todas essas reconstituies feitas pelos crticos o
fato de que tenho visto todas as tentativas deles do outro lado do
prisma. Tenho observado os revisores reconstiturem a gnese de meus
prprios livros, exatamente dessa forma. Enquanto um escritos no
acompanha o processo, no caso de seus prprios livros, ele
dificilmente acredita que to pouco de reviso ordinria usada pelos
crticos. Eles no avaliam, nem elogiam, nem censuram o livro que
esto criticando. Quase tudo quanto fazem utilizarem-se de histrias
imaginrias acerca do processo mediante o qual o escritos em pauta
teria atuado. Os prprios vocbulos que esses revisores usam, ao
elogiar ou censurar a obra, com freqncia do a entender o que eles
fazem. Eles elogiam uma passagem espontnea e censuram outra
passagem como elaborada. Em outras palavras, pensam ser capazes de
saber que o escritor escreveu uma dessas passagens currente calamo
(ao correr da pena), ao passo que a segunda, invita Minerva (contra
a vontade de Minerva), ou seja, sem destreza tcnica e sem
sabedoria. Qual o pequeno ou nenhum valor dessas reconstituies,
feitas pelos crticos, aprendi desde cedo em minha carreira. Eu
havia publicado um livro de ensaios. Aquele foi um livro para o
qual me preparei de todo o corao, que tanto mexeu comigo e que
escrevi com o mais agudo entusiasmo, acerca da personalidade de
William Morris. No entanto, logo na primeira crtica que li a
respeito, o revisor afirmava que era bvio que eu tinha escrito
sobre essa personagem sem ter demonstrado o mnimo interesse por
ela. Que o leitor no me compreenda mal. Acredito agora que o tal
crtico tinha razo ao pensar que o ensaio sobre William Morris foi
muito ruim; pelo menos todos concordaram com ele. Mas aonde ele
estava totalmente equivocado foi ao imaginar as causas que teriam
produzido to embotado ensaio. Bem, o fato que isso me deixou com a
pulga atrs da orelha. Desde ento, tenho vigiado, com alguma
preocupao, histrias imaginrias similares, tanto acerca de meus
prprios livros como acerca de livros de meus amigos, cuja histria
real eu saiba. Os revisores, tanto os amigveis quanto os hostis,
pespegam sobre os autores essas invencionices, fazendo-o com grande
desenvoltura e confiana prpria; dizem quais eventos pblicos teriam
tido influncia direta sobre a mente dos autores, quanto a isso ou
quanto a aquilo, quais outros autores t-los-iam influenciado, quais
teriam sido suas intenes globais, qual tipo de audincia os autores
estariam visando, e por que e quando os autores fizeram tudo quanto
fizeram.
6. Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9)
www.monergismo.com 6 Ora, antes de tudo preciso deixar registradas
as minha impresses; e s ento, em distino a isso, poderei asseverar
o que sou capaz de dizer com certeza. Minhas impresses so que, na
totalidade de minha experincia, nenhuma dessas tentativas de
adivinhao dos crticos tem estado ao lado da razo, e que tal mtodo
exibe um recorde de cem por cento de fracasso. Algum poderia
esperar que, devido mera chance, os crticos acertassem to
freqentemente quanto erram o alvo. Mas a minha ntida impresso de
que eles nunca acertam. No consigo lembrar de um nico acerto deles.
Porm, visto que no tenho feito anotaes cuidadosas a respeito,
minhas meras impresses podem estar equivocadas. O que penso que
posso afirmar com toda a certeza que, usualmente, eles se
equivocam... Ora, sem dvida esses fatos deveriam fazer-nos parar
para refletir. A reconstituio da histria de um texto qualquer,
quando esse texto antigo, pode parecer deveras convincente. Em tal
caso, entretanto, quem queira provar o contrrio estar malhando em
ferro frio, pois os resultados obtidos no podero ser cotejados com
os fatos. A fim de averiguarmos quo fidedigno esse mtodo, que mais
poderamos pedir seno que se examine uma instncia, onde o mesmo
mtodo foi usado em obras que podemos examinar, por serem recentes?
Pois bem, precisamente isso que tenho feito. E, quando assim
fazemos, ento descobrimos que os resultados so sempre ou quase
sempre errados. Os firmes resultados da erudio moderna, na sua
tentativa de descobrir por quais motivos algum livro antigo foi
escrito, segundo podemos facilmente concluir, s so firmes porque as
pessoas que sabiam dos fatos j faleceram, e no podem desdizer o que
os crticos asseguram com tanta autoconfiana. Os gigantescos ensaios
em meu prprio campo, que procuraram reconstruir a histria do livro
Piers Plowman, ou o livro The Faerie Queene, provavelmente no
passam das mais puras tapeaes. Aventuro-me a comparar qualquer
pretensioso que escreve uma crtica literria em uma revista semanal
com os grandes eruditos que consagraram suas vidas inteiras ao
estudo pormenorizado do Novo Testamento? Se aqueles primeiros
sempre se equivocam, segue-se da que estes ltimos no podem sair-se
melhor em seu trabalho? H duas respostas para essa indagao. Em
primeiro lugar, apesar de respeitar a erudio dos grandes crticos
das Escrituras Sagradas, ainda no estou persuadido que o juzo deles
deva ser igualmente respeitado. Em segundo lugar, consideremos com
quantas avassaladoras vantagens iniciam os meros revisores. Eles
procuram reconstituir a histria de um livro escrito por algum cuja
lngua ptria a mesma que a deles; por algum que um contemporneo,
educado como eles o foram, que vivem mais ou menos na mesma
atmosfera mental e espiritual. Contam com tudo quanto pode
ajud-los. A superioridade no terreno do julgamento e da diligncia
que se poderia atribuir aos crticos da Bblia ter de ser
sobre-humana, se tiver de contrabalanar o fato de que por toda
parte precisam enfrentar costumes, linguagens, caractersticas
tnicas, pano de fundo religioso, hbitos de composio e pressupostos
bsicos que nenhuma erudio jamais poderia capacitar qualquer pessoa
viva a saber com tanta certeza, intimidade e instinto, como os
meros revisores de obras contemporneos so capazes de atuar. E pelas
mesmas razes, lembremo-nos de que os crticos da Bblia, sem importar
quais reconstituies imaginaram, jamais podero estar comprovadamente
equivocados. Marcos j morreu. E quando encontrarem Pedro, haver
questes mais urgentes a serem debatidas.
7. Monergismo.com Ao Senhor pertence a salvao (Jonas 2:9)
www.monergismo.com 7 Naturalmente, o leitor poder dizer que esses
revisores de obras contemporneas so tolos, por tentarem adivinhar
como algum livro, que eles no escreveram, foi escrito por outrem.
Eles supem que algum escreve uma histria, tal como eles mesmos
tentariam escrever uma histria; e o fato de tentarem realizar essa
faanha, explica por que eles nunca produziram qualquer histria e a
publicaram. Mas, e os crticos da Bblia apareceram sob melhor luz
quando confrontados com aqueles outros? O Dr. Bultmann nunca
escreveu um evangelho. As experincias de sua erudita, especializada
e sem dvida meritria vida realmente deram-lhe a capacidade de ler
as mentes de homens que morreram faz muitos sculos, arrebatados
como eles foram por aquilo que temos de considerar como a
experincia religiosa mais central e atordoadora de toda a histria
humana? No uma incivilidade dizer conforme admitiria o prprio
Bultmann que em todos os sentidos ele deve estar separado dos
evangelistas por barreiras muito mais formidveis tanto espirituais
quanto intelectuais como nunca poderiam ser interpostas entre meus
revisores e mim.