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FACULDADE METODISTA GRANBERY – FMG CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA GABRIEL GUARABYRA APLICABILIDADE DOS MODELOS DE PERIODIZAÇÃO: TRADICIONAL, DE BLOCOS E NÃO-LINEAR JUIZ DE FORA

Aplicabilidade dos modelos de periodização tradicional, de blocos e não-linear

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Modelos de periodização

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Page 1: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

FACULDADE METODISTA GRANBERY – FMG

CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

GABRIEL GUARABYRA

APLICABILIDADE DOS MODELOS DE PERIODIZAÇÃO:

TRADICIONAL, DE BLOCOS E NÃO-LINEAR

JUIZ DE FORA

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2009

GABRIEL GUARABYRA

APLICABILIDADE DOS MODELOS DE PERIODIZAÇÃO:

TRADICIONAL, DE BLOCOS E NÃO-LINEAR

JUIZ DE FORA

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Projeto de Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado pelo discente Gabriel

Guarabyra à Faculdade Metodista

Granbery como requisito para obtenção

do título de bacharel em Educação Física.

Turma: 8EB1

Orientador de TCC: Prof..ROBERTO

CARLOS LACORDIA.

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2009

GABRIEL GUARABYRA

APLICABILIDADE DOS MODELOS DE PERIODIZAÇÃO:

TRADICIONAL, DE BLOCOS E NÃO-LINEAR

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito à obtenção do

título de bacharel em Educação Física da Faculdade Metodista Granbery

Juiz de Fora, 20 de novembro de 2009.

______________________________________________________ Professor orientador: Roberto Carlos Lacordia

_______________________________________________________ Professor examinador: Denise de Souza Destro

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__________________________________________________________________________ Professor examinador: Carlos Augusto Porto Gribel

RESUMO

A noção de treinamento desportivo já existia na antiguidade e passou por

grandes mudanças no decorrer da história, especialmente a partir da década

de 50 do século passado, com a teoria da periodização clássica de Matveev,

que propôs novas formas de organização da temporada. A partir daí, novos

modelos vem sendo adaptados e desenvolvidos a fim de alcançar a estrutura

ideal para obtenção de altos resultados no esporte. Na década de 70, surge o

modelo de blocos de Verkhoshanski e, mais recentemente, a periodização não-

linear aponta para novas metodologias de treinamento. Esse trabalho é uma

revisão bibliográfica que pretende analisar aspectos desses modelos de

periodização e suas aplicabilidades.

Palavras-chave: Treinamento desportivo; Modelos de periodização

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelos de Macrociclos...................................................................10

Figura 2 - Macrociclo Tradicional .....................................................................11

Figura 3 - Periodização simples....................................................................... 16

Figura 4 – Periodização em Blocos...................................................................18

Figura 5 – Periodização em Blocos para Lutas.................................................19

Figura 6 – Periodização Não-linear...................................................................21

Figura 7 – Periodização Não-linear para Treinamento de Força......................21

Figura 8 – Periodização Não-linear para Treinamento de Força 2...................22

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................6

2. ESTRUTURA DO TREINAMENTO........................................................8

2.1 Macrociclo.................................................................................................8

2.2 Mesociclo.................................................................................................11

2.3 Microciclo................................................................................................12

3. MODELO CLÁSSICO DE PERIODIZAÇÃO.....................................15

4. MODELO DE BLOCOS..........................................................................17

5. PERIODIZAÇÃO NÃO-LINEAR...........................................................20

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 23

7. REFERÊNCIAS........................................................................................ 25

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Page 7: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

1 INTRODUÇÃO

A busca pela maior capacidade de desempenho físico sempre

esteve presente na história da humanidade. A força e a velocidade por muitos

séculos foram decisivas na sobrevivência de nossa espécie e desde a

antiguidade vem sendo desenvolvidas, através das artes da guerra ou em

disputas por poder, fama e status social.

Na Grécia Antiga já existia a noção de periodização do

treinamento e embora fosse utilizada para fins militares, serviu também como

forma de preparação de atletas para competições esportivas (Bompa 2002).

Segundo Gomes (2002) nos últimos cinqüenta anos a

periodização do treinamento desportivo sofreu mudanças freqüentes com as

transformações ocorridas nos mais diversos desportos. Ele divide a história dos

modelos de periodização em três etapas, sendo a primeira até 1950, início da

sistematização do treinamento; a segunda de 1950 até 1970, quando o modelo

clássico começa a ser questionado e surgem novas propostas; e de 1970 até

hoje, onde a evolução do conhecimento é cada vez maior.

A periodização do processo de treinamento desportivo consiste,

antes de tudo, em criar um sistema de planos para distintos períodos que

perseguem um conjunto de objetivos mutuamente vinculados (Gomes;

Zakharov 2003).

Hoje em dia, é cada vez maior a necessidade de um

planejamento estruturado para toda temporada de competições das diversas

modalidades esportivas, e a expectativa por melhoras nos resultados e no

desempenho dos atletas exige um melhor desenvolvimento de todas as áreas

relacionadas à performance desportiva (Granell; Cervera 2001).

Segundo Dantas (2003), a Periodização é o planejamento geral e

detalhado do tempo disponível para treinamento, de acordo com os objetivos

estabelecidos e respeitando-se os princípios científicos do exercício desportivo.

Bompa (2002) afirma que a periodização é o processo de

estruturação do treinamento em fases, enquanto Tubino (1980) a classifica

como a divisão do treinamento desportivo de alto rendimento em etapas.

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O modelo tradicional de periodização foi proposto por Matveev na

década de 50 e dividi-se em períodos de preparação, competição e transição,

inicialmente com um peak por temporada.

Dantas (2003) define o peak como o ápice das formas física,

técnica, tática e psicológica, atingido por um atleta como resultado de um

programa de treinamento.

Mais tarde Verkhoshanski apresentou seu modelo em blocos que

visava propiciar uma melhor adequação ao calendário moderno de

competições, que exige Peaks múltiplos por temporada. Segundo Granell e

Cervera (2003), o propósito fundamental do modelo de blocos é impedir índices

de fadiga desnecessários.

Recentemente, Fleck e Kraemer vêm desenvolvendo o conceito

de periodização não-linear ou ondulatória, que provavelmente teve seu início

na década de 80 com a aplicação de períodos de duas semanas que utilizam

diversas zonas de treinamento que variavam de acordo com as necessidades

de cada atleta (Poliquin apud Kraemer e Fleck 2009).

Gomes (2002) afirma que o tipo de periodização escolhida deve

permitir que o atleta alcance a melhor forma desportiva nas principais

competições do ano o que, em grande parte, é determinado pela dinâmica do

ciclo anual.

Verkhoshanski (2001) reafirma a necessidade de entendimento

das aplicabilidades dos modelos de periodização quando diz que a base da

organização da periodização envolve a maneira de tomar decisões

relacionadas à definição da estratégia de preparação geral e à escolha das

principais alternativas referentes à formação do processo de treino em todos os

níveis e detalhes.

Em função desses referenciais que contemplam os modelos de

periodização, faz-se necessário buscar na literatura um melhor entendimento

desses modelos, para que os profissionais da área possam entender melhor

cada um e aplicá-los às suas realidades distintas.

Esse trabalho é uma revisão bibliográfica com o objetivo de

analisar aspectos desses três tipos de periodização, utilizados no treinamento

de atletas de alto nível, e suas aplicabilidades.

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2 ESTRUTURA DO TREINAMENTO

2.1 Macrociclo

Segundo Dantas (2003) o macrociclo de um treinamento de alto

nível terá três períodos: Preparação, Competição e Transição executados

dentro de uma temporada, com o objetivo de levar atletas ou equipes a sua

melhor performance nas competições escolhidas, dentro de um planejamento

previamente realizado.

Weineck (2003) divide o período preparatório em duas fases. Na

primeira há uma predominância de exercícios de condicionamento geral, e na

segunda fase ocorre uma redução do volume e aumento da intensidade do

treinamento.

O período preparatório deve assegurar o desenvolvimento das

possibilidades funcionais do organismo do desportista e pressupõe a solução

de tarefas de aperfeiçoamento de vários aspectos específicos do estado de

preparação. Em conexão com isto, podem-se destacar, no período

preparatório, as etapas de preparação geral e de preparação especial (Gomes;

Zakharov 2003).

Dantas (2003) afirma que a fase básica do período de preparação

deve possibilitar uma preparação geral e a fase específica uma preparação

específica, ou seja, durante a fase básica a principal necessidade do

treinamento é a criação de uma boa base física e técnica, sendo trabalhadas

as qualidades físicas ligadas ao esporte, a formação geral e o lastro fisiológico

do atleta. Na fase específica, ainda de acordo com Dantas, é que,

aproveitando-se das adaptações da fase básica, o atleta alcançará a forma

atlética almejada.

Oleshko (2008) conclui que a capacidade de treinamento do

atleta dividi-se em geral e especializada, onde a capacidade geral é o processo

de ajuste do organismo a exercícios de força inespecíficos, de caráter geral,

orientados para o fortalecimento da saúde, aumento das capacidades

funcionais e desenvolvimento das qualidades físicas, enquanto a capacidade

de treinamento especializada é o processo de aperfeiçoamento do tipo de

atividade muscular própria da modalidade praticada.

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O período de competição é a etapa onde o atleta deve atingir o

peak do treinamento e a obtenção dos resultados planejados desde a fase

preparatória.

Para Dantas (2003) é neste período que os atletas, atingindo o

peak, realizarão na competição alvo a sua performance máxima. A ênfase

deverá ser a formação específica, apenas complementada por exercícios de

características gerais.

Gomes; Zakharov (2002) afirmam que o período competitivo

pressupõe a estrutura direta da forma desportiva, sua realização em resultados

desportivos altos nas competições principais, assim como a manutenção do

nível de preparação atingido.

Segundo Weineck (2003) o período competitivo possibilita o

desenvolvimento do desempenho individual e sua estabilização. Ele afirma

ainda que a qualidade e a quantidade de estímulos na competição dependem

da capacidade individual do atleta.

Na fase de transição, o atleta deverá recuperar-se de todo stress

produzido até então e obter condições de retornar ao treinamento em

condições satisfatórias para a próxima temporada.

O período de transição destina-se a proporcionar ao atleta uma

recuperação física e mental após os extremos esforços a que se submeteu nas

competições que ocorreram no período anterior (Dantas 2003).

Para Gomes e Zakharov (2002), o período transitório deve

restabelecer completamente o potencial adaptativo do organismo do atleta e

servir de elo de ligação entre os macrociclos de preparação.

Gomes (2002) identifica diferentes pontos de vista quanto à

estrutura do período transitório de descanso passivo ou as formas ativas de

recuperação. No caso do descanso passivo, permite-se a recuperação

completa do estado psíquico do desportista, no entanto seu condicionamento

apresenta uma redução bastante significativa, o que exige um grande esforço

no início da temporada seguinte e uma maior demanda de tempo de trabalho.

Já nas formas ativas de recuperação procura-se assegurar um descanso

suficiente, porém com uma manutenção da condição física geral do atleta,

levando-se em conta o seu estado individual.

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Weineck (2003) observa que há perda inevitável do estado de

desempenho, com redução do volume e intensidade do treinamento, e

recomenda que a recuperação ativa seja feita através de esportes que

promovam o equilíbrio, o que evita uma queda muita intensa da performance,

por exemplo, com a inclusão de jogos e treinamento cruzado.

Para Oleshko (2008), é sabido que o atleta não é capaz de

manter a forma desportiva por longos períodos de tempo e deve haver uma

perda de forma no período transitório afim de que esta possa ser prontamente

recuperada assim que recomeçam as atividades normais de preparação.

Os macrociclos podem apresentar-se das seguintes formas:

Fonte: Dantas (2003)

Dantas (2003) propõe um macrociclo adaptado ao de Matveev, o

macrociclo de meeting, que permite a manutenção de níveis de

condicionamento durante toda a temporada, porém com peaks de acentuação

discreta, ou seja, menos expressivos que na periodização tradicional. A

vantagem desse tipo de macrociclo é a de permitir que o atleta mantenha uma

boa média de desempenho em diversas competições, o que pode ser

interessante do ponto de vista das premiações ao longo da temporada.

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Fonte: Dantas 2003

2.2 Mesociclo

Dantas (2003), afirma que mesociclo é o elemento da estrutura

da periodização que possibilita a homogeneização do trabalho proposto. Para

ele, mesociclos bem estruturados facilitarão o alcance de objetivos parciais e

favorecerão uma oscilação de cargas mais conveniente.

O mesociclo pode variar de 3 a 6 semanas e, para Gomes (2002)

ele representa o elemento da estrutura de preparação do atleta orientado para

a solução das tarefas de determinado período de tempo. Quanto aos indícios

que permitem classificar os mesociclos, ele destaca:

- a principal tarefa a ser resolvida pelo mesociclo no sistema de

preparação;

- o momento do referido mesociclo na estruturas do macrociclo de

preparação;

- a composição dos meios e métodos de treino aplicados no

mesociclo;

- os tipos de microciclos que compõem o conteúdo predominante

do mesociclo estabelecido; e

- a grandeza das cargas e sua dinâmica no mesociclo.

O organismo apresenta um grau de reação estruturado de forma

que possibilite uma reação ativa em aproximadamente 10 dias, seguida de uma

estabilização até cerca de 20 dias e uma reação residual entre 20 e 30 dias

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(Dantas 2003). Por isso o autor afirma que o mesociclo deve ter de 21 a 35

dias em média, para possibilitar a melhora do nível do treinamento ao longo do

tempo, pela aplicação correta da carga em todos os graus da reação do

organismo do atleta.

Segundo Zakharov e Gomes (1992), citados por Dantas (2003),

existem sete tipos de mesociclos:

- Incorporação: Assegura a passagem do organismo do atleta do

estado reduzido da atividade de treino para níveis competitivos, sendo usado

no início do período de preparação.

- Básico: Propicia a adaptação fisiológica do organismo à carga

aplicada. Dependendo do tempo disponível, devem ser usados quantos

mesociclos básicos forem possíveis.

- Estabilizador: Deve consolidar as adaptações orgânicas

alcançadas nas fases anteriores.

- Controle: Geralmente é o mesociclo que termina o período

preparatório. Deve favorecer a transferência do condicionamento físico obtido

para as exigências dos mesociclos competitivos.

- Pré-competitivo: Aumenta a performance do atleta através da

aplicação de cargas de grande intensidade e assegura a preparação imediata

para a competição.

- Competitivo: Dantas (2003) afirma que esse mesociclo não possui

estrutura pré-estabelecida, pois está subordinado às exigências de

performance. Gomes (2002) observa que o seu conteúdo deve ser determinado

pela especificidade da modalidade desportiva, particularidades do calendário e

qualificação do atleta, e lembra que é conveniente destacar o mesociclo de

competições principais e de preparação.

- Recuperativo: Utilizado no período de transição deve propiciar a

recuperação metabólica e psicológica do atleta, após um período prolongado

de cargas máximas de treinamento e de competição.

2.3 Microciclo

Dantas (2003) define microciclo como a menor fração do

processo de treinamento. Em um mesmo microciclo devem estar presentes

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fases de estímulo e recuperação, afim de que o processo de

supercompensação possa ser conduzido de forma apropriada, melhorando o

condicionamento do atleta.

O microciclo deve ser constituído de forma que cada sessão de

treinamento contenha exercícios específicos para o desenvolvimento de

velocidade, da força rápida, técnica e coordenação, visando o desempenho

ideal (Harre 1976 apud Weineck 2003).

Para Gomes e Zakharov (2003) o microciclo pode ter de 3 a 14

dias, no entanto o microciclo mais utilizado é o de sete dias, para facilitar a

coordenação com a vida normal do indivíduo.

O microciclo é uma fração indivisível do plano de treinamento,

portanto não se deve mudar as qualidades físicas que estão sendo

trabalhadas, nem a ênfase sobre o volume e a intensidade de treinamento

Dantas (2003).

Matveev classificou originalmente os microciclos em

desenvolvimento, preparação, competição e regenerativo. No microciclo de

desenvolvimento há uma ênfase no desenvolvimento global ou específico; no

de preparação, deve-se transferir as aptidões desenvolvidas para o

desempenho específico; no de competição, o objetivo é programar atividades

para os dias antes e após uma competição; e o microciclo regenerativo deve

recuperar a condição ótima do organismo do indivíduo.

Atualmente, encontramos a seguinte classificação, validada por

Dantas (2003) e Zakharov; Gomes (1992):

- Incorporação: Permite a passagem gradual do atleta do período

de transição para uma carga maior de treinamento.

- Ordinário: Melhora o condicionamento do atleta através de

adaptações orgânicas.

- Choque: É caracterizado pela maior aplicação de cargas do

mesociclo.

- Recuperação: Propicia a restauração ampliada da homeostase do

atleta, apresentando estímulos reduzidos e maior período de descanso.

- Pré-competitivo: Procura deixar o atleta em plenas condições de

competir, transferindo as adaptações do treino para a realidade da competição.

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- Competitivo: Assim como o mesociclo, não possui estrutura pré-

determinada e depende das características da competição.

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3 MODELO CLÁSSICO DE PERIODIZAÇÃO

Na década de 50, Matveev propôs o modelo clássico de

periodização em que dividiu as fases de preparação do atleta em períodos

específicos de tempo e estruturou o macrociclo na forma de ciclos anuais, que

por sua vez são formados por mesociclos, com duração de 4 a 6 semanas e

microciclos, geralmente de 7 dias, adaptados ao calendário civil.

Como se vê em Gomes (2002) o planejamento de Matveev

afirmava que:

- As condições climáticas são fatores determinantes na

periodização do treinamento desportivo;

- O calendário de competições influi na organização do processo

de treinamento;

- As leis biológicas devem servir como base para a periodização

do treinamento;

- A unidade de formação especial e geral do desportista deve ser

respeitada;

- O caráter contínuo do processo de treinamento deve combinar

sistematicamente carga e recuperação;

- Deve haver um aumento progressivo e máximo dos esforços do

treinamento;

- É necessária uma variação ondulante das cargas de treinamento.

O modelo tradicional de Matveev foi criticado por diversos autores

que identificaram em seu trabalho alguns aspectos negativos. Gomes (2002)

cita os seguintes fatores:

- Excessivo trabalho de preparação geral;

- Desenvolvimento simultâneo de diferentes capacidades em um

mesmo período de tempo;

- Cargas repetitivas durante períodos de tempo prolongado;

- Pouca importância destinada aos trabalhos específicos.

Apesar das críticas sofridas e de outras propostas adaptadas ao

seu modelo, o principal referencial da época é o sistema de Matveev.

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Exemplo de periodização simples com um período de competição

anual:

Fonte: Gomes (2002)

A periodização Linear é uma metodologia que se refere à prática de

aumentar continuamente o nível de exigência sobre o atleta à medida que ele

se torna capaz de produzir mais força ou tenha mais resistência seja através do

aumento do volume ou da intensidade (Rhea et a, 2003).

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Page 18: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

4 MODELO DE BLOCOS

Em 1979, o russo Yuri Verkhoshanski criou o chamado modelo

de blocos, que permite a obtenção de vários peaks por temporada, exigência

da evolução dos desportos e aumento do número de competições no

calendário anual.

O esporte nos dias atuais possui novas características com

grande influência na preparação dos desportistas, determinando para o

treinador novas tarefas mais complexas e exigindo formas diferentes das

tradicionais na organização do processo de treino (Verkhoshanski 2001).

Para Verkhoshanski, a preparação deve basear-se no princípio

de programa e objetivo, que assegura o cumprimento de determinadas tarefas

em certo período de tempo, em geral de 3 a 5 meses, assegurando sua

realização. Os microciclos então não são a forma principal de formação do

treino, como na periodização clássica, e a preparação especial tem sua

importância elevada.

Segundo Verkhoshanski (2001), a periodização pode ser

estruturada da seguinte maneira:

- aumento do potencial locomotor (objetivo da preparação física

especial);

- aperfeiçoamento da habilidade de seu uso efetivo no exercício

competitivo (objetivo da preparação técnico-tática);

- nível elevado e segurança do nível desportivo (objetivos da

preparação competitiva e psicológica).

O modelo de blocos é formado por uma concentração de cargas

de treinamento direcionadas à melhora da força em dois ou mais blocos de

treinamento a cada intervalo de dois meses e meio, mas apesar da exigência

desse objetivo principal, as cargas de treinamento se direcionam também para

o desenvolvimento de outros objetivos complementares para estimular os

efeitos de treinamento necessários ( Granell; Cervera 2001). Segundo esses

autores, cada bloco não forma uma estrutura isolada, de maneira que parte do

conteúdo de um bloco sobrepõe-se ao seguinte e assim sucessivamente, de

acordo com o princípio de aproveitamento dos efeitos do treinamento.

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Page 19: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

Para Gomes (2002) no modelo de blocos sempre existe uma

concentração de cargas e sua distribuição ao longo do ciclo anual de

treinamentos. No bloco A, verifica-se um grande volume, o maior da

temporada, que deve desestabilizar os níveis de performance adquiridos

anteriormente, provocando um decréscimo físico, técnico e tático decorrente da

fadiga e criando condições para posteriores adaptações. Sua duração é de

aproximadamente12 semanas. O bloco B dura por volta de dois e meio a três

meses e nele ocorre a diminuição do volume até níveis que permitam o

aperfeiçoamento das capacidades competitivas do desportista, preparando-o

para o bloco C, onde se encontram as principais competições.

Exemplo de gráfico de periodização em blocos:

Adaptado de Commeti (1991) Disponível em: http://correblog.wordpress.com/tag/treinamento/

Na periodização em blocos, cada microciclo tem a duração de

aproximadamente quatro semanas, embora essa estrutura não seja

inteiramente rígida e possa ser modificada de acordo com as exigências

características de cada planejamento e suas relações com as especificidades

do esporte (Gomes 2002).

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Page 20: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

Modelo de periodização para lutas desportivas em blocos:

Fonte: Gomes 2002

A periodização por blocos não precisa necessariamente conter os

três blocos de treinamento, mas o bloco C (competitivo) estará sempre

presente (Gomes 2002).

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Page 21: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

5 PERIODIZAÇÃO NÃO-LINEAR

A origem exata da periodização não-linear é desconhecida, mas

Poliquin apud Kraemer e Fleck (2009) especula que tenha sido criada no final

da década de 80, com utilização de períodos de duas semanas com diferentes

zonas de treinamento.

A periodização não linear ou ondulatória é caracterizada pelo

trabalho misto que engloba exercícios para o desenvolvimento simultâneo da

hipertrofia, resistência muscular e força máxima (Kraemer;Fleck 2009).

Na periodização não-linear, volume e intensidade variam dentro

de um microciclo e há diversas formas de se organizar o treinamento. Kraemer

e Fleck (2009) explicam que na periodização não-linear não são empregados

períodos longos de treino usando a mesma intensidade e volume. Uma vez que

as zonas de treinamento são escolhidas podem facilmente ser modificadas. Na

hipótese de uma de três sessões semanais ser perdida, a primeira sessão da

semana seguinte deverá usar a zona que não foi empregada na semana

anterior, dando início a um novo ciclo.

Em caso de sinais de fadiga do atleta, a qualquer momento a

sessão pode ser modificada de acordo com o seu estado de prontidão para

treinar, ou seja, se uma sessão forte de treinamento de potência estiver

planejada para aquele dia, mas o atleta estiver cansado física ou

psicologicamente, é possível inverter a ordem das sessões naquela semana

(Kraemer;Fleck 2009).

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Page 22: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

A periodização não-linear é mais flexível em relação à obtenção

de peaks e permite exposição mais freqüente a diversos estímulos de carga,

não progredindo da forma tradicional aumento da intensidade com diminuição

gradativa do volume como na periodização clássica, mas sim com a variação

programada de volume e intensidade resultando em ganhos de

condicionamento decorrente de períodos de treinamento. Já os períodos de

recuperação geralmente são programados para cada 12 semanas de

treinamentos (Kraemer; Fleck 2009).

Periodização não-linear de uma equipe de basquete feminino. O

volume foi reduzido no início das competições, por volta da 73ª sessão:

Fonte: Kraemer e Fleck 2009

No treinamento de força, os programas-padrão não-lineares

podem ser direcionados a qualidade física que se deseja priorizar em

determinada fase da periodização. Kraemer e Fleck (2009) sugerem um plano

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Page 23: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

de ação com um elemento prioritário que dominará o número de sessões de

treinamento.

Exemplo de mesociclo na periodização não-linear com ênfase na força:

Nesse caso, o mesociclo apresenta 18 sessões com intensidade

alta a muito alta e apenas 3 sessões de intensidade moderada.

Exemplo de mesociclo com ênfase na resistência e preparação

geral:

Para resistência, encontramos 19 sessões com cargas leve ou

muito leve.

Na periodização não-linear, encontramos grande variação de

volume e intensidade entre sessões de treinamento.

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Page 24: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

6 Considerações finais

Segundo Gomes (2002) a estrutura de preparação do atleta ou

equipe em um ciclo de treinamento é uma tarefa difícil de ser resolvida e o

problema relacionado à sua estruturação ocupa lugar de destaque na teoria de

preparação do atleta desde a década de 50. Para o autor, “ o principal objetivo

das novas buscas metodológicas visa assegurar a prontidão do atleta para

obtenção de resultados altos no maior número possível de competições

durante o ciclo anual” (Gomes 2002,p.133).

Granell e Cervera (2001) observam que os novos conhecimentos

a respeito do efeito das cargas e suas adaptações orgânicas, novas formas de

treino e complexidade do desporto contemporâneo fizeram com que surgissem

novas formas de organização e programação do processo de treinamento.

Gomes e Zakharov (2003) destacam os seguintes fatores na

escolha da variante anual de treinamento:

- o objetivo da preparação no macrociclo condicionado pelo

calendário.

- a quantidade de componentes de preparação que exige

aperfeiçoamento especial durante o ano.

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Page 25: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

- o ritmo de aperfeiçoamento dos aspectos dominantes da

preparação.

- o lugar do macrociclo na preparação de muitos anos.

- as particularidades individuais do desenvolvimento da forma

desportiva.

- as condições climáticas, técnicas e materiais de preparação.

Para Dantas (2003) o macrociclo tradicional deve ser usado em

ano de olimpíadas, campeonatos mundiais e tentativas de quebra de recordes,

por permitir a obtenção de um peak mais acentuado, porém por menos tempo.

Esse modelo segue um padrão geral de decréscimo do volume e aumento da

intensidade na medida em que o ciclo se desenvolve.

Segundo Gomes (2002) a estrutura da periodização com um

peak anual seria mais eficiente para esportes de temporada, com períodos

competitivos não muito extensos, variando de dois a cinco meses.

O modelo de blocos de Verkhoshanski possibilita vários peaks

por temporada e a elevação dos níveis de performance, sendo que o conteúdo

dos exercícios apresenta uma característica similar ao competitivo

(Gomes2002).

Para Verkhoshanski (2001) a preparação deve basear-se nas

novas exigências específicas de cada modalidade e etapa do treinamento,

considerando-se o calendário e a capacidade de adaptação do organismo em

trabalho muscular de alta intensidade.

Por suas características fundamentais, o modelo de blocos

possivelmente será mais eficiente se utilizado principalmente em esportes em

que o desempenho esteja vinculado à maiores exigências físicas do atleta, em

modalidades individuais de força explosiva ou máxima e também de

resistência, já que a proposta desse modelo é justamente propiciar o

incremento da forma desportiva em atletas de alto nível, já muito bem

condicionados.

A periodização não-linear, como se vê em Kraemer e Fleck

(2009) é mais flexível no que se refere a como e quando o peak será

desenvolvido. Segundo os autores, o método não-linear aumenta a capacidade

dos atletas de se desenvolverem fisicamente, mesmo durante um período de

competições, quando ocorre a redução do treinamento, devido ao sistema de

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Page 26: Aplicabilidade dos modelos de periodização   tradicional, de blocos e não-linear

variação de cargas e suas ações sobre a recuperação do organismo. Esse tipo

de periodização tende a se mostrar útil nas modalidades com longos períodos

competitivos, onde um alto desempenho deve ser sustentado pelo maior tempo

possível.

Seja qual for a forma de periodização escolhida deve-se sempre

levar em consideração os princípios do treinamento desportivo, as exigências

biológicas dos atletas e as particularidades do esporte, bem como os

constantes avanços nas áreas técnica e científica.

7 Referências

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