Exercicia de treino

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EXERCICIO DE TREINO PARA SEU MODELO DE JOGO JOÃO PAULO BARROS https://www.facebook.com/joaopaulo.barros.75436

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  • 1. Exerccio de Treino em FutebolRben Alexandre Ribeiro Fanzeres de S Pereira Porto, 2006

2. Exerccio de Treino em FutebolMonografia de Licenciatura realizada no mbito da disciplina de Seminrio, Opo de Futebol, ministrada no 5. Ano da Licenciatura em Desporto da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.Trabalho Realizado por: Rben Alexandre Ribeiro Fanzeres de S Pereira Trabalho Orientado por: Prof. Vtor Frade Porto, 2006 3. AgradecimentosA realizao desta dissertao monogrfica s foi possvel pela amabilidade e disponibilidade daqueles que nos abriram a possibilidade de observar e interrogar sobre os diversos aspectos por ns abordados. Por conseguinte, uma palavra de agradecimento s pessoas que dirigem as instituies e equipas que visitamos, que foram: - Sporting Clube de Braga, equipa tcnica liderada pelo Professor Jesualdo Ferreira e ao Professor Artur Monteiro. - Nacional da Madeira, equipa tcnica liderada pelo Sr. Joo Carlos Pereira. - Rio Ave Futebol Clube, equipa tcnica liderada pelo Sr. Carlos Brito e ao Sr. Manuel Barbosa.Os agradecimentos so estendidos ao Professor Vtor Frade, pela orientao, acompanhamento e apoio, e a todos que tornaram possvel a realizao desta dissertao.I 4. ndice GeralAgradecimentos ndice Geral ndice de Quadros e Tabelas ResumoI III IV VIntroduo11.Reviso Bibliogrfica51.1. 1.1.1 1.1.2 1.1.3 1.1.4 1.2 1.2.1 1.2.2 1.2.3 1.2.4A Teoria Geral do Exerccio de Treino Desportivo Pertinncia Definio de exerccio Caracterizao do exerccio Classificao dos exerccio Exerccio de treino segundo uma nova perspectiva O exerccio subjacente especificidade. Qual especificidade? Exerccios especficos conceptualizados pela periodizao tctica A lgica dos exerccios especficos na periodizao tctica A aquisio/adaptao atravs dos exerccios especficos (o lado visvel e lado invisvel)5 5 6 7 10 17 17 21 232.Objectivos e hipteses313.Material e mtodos334. 4.1 4.2 5.Apresentao dos resultados Anlise de contedo Anlise dos microciclos de treino Discusso dos resultados35 35 39 456Concluses55Bibliografia AnexosIII25 5. ndice de tabelas e quadrosQuadro 1Microciclo 1, Rio Ave40Quadro 2Microciclo 2, Rio Ave40Quadro 3Microciclo 1, Nacional da Madeira41Quadro 4Microciclo 2, Nacional da Madeira41Quadro 5Microciclo 1, Sporting de Braga42Quadro 6Microciclo 2, Sporting de Braga42Tabela 1Tempos e percentagens no conjunto dos 2 microciclos40Tabela 2Tempos e percentagens no conjunto dos 2 microciclos41Tabela 3Tempos e percentagens no conjunto dos 2 microciclos42Tabela 4Somatrio dos tempos e percentagens no conjunto das trs equipas43IV 6. ResumoO exerccio de treino um meio que surge como um dos mais importantes da actividade do treinador. Dada a inquestionvel importncia que o exerccio de treino tem no processo de aquisio de uma forma de jogar, a reflexo sobre este tema tem uma pertinncia profunda. A Teoria e Metodologia do Treino Desportivo tem-se debruado sobre este tema, tentando definir, caracterizar e categorizar o exerccio de treino. Apesar do exerccio de treino ter sido sujeito a alteraes significativas quer na concepo, no contedo, na estrutura e na organizao, existe um consenso entre os diversos autores, que d a ideia que no existe muito espao para discusso. Todavia, na metodologia de treino adoptada por Jos Mourinho a periodizao tctica existe uma ruptura profunda no que diz respeito ao entendimento e operacionalizao do exerccio de treino em Futebol. Por conseguinte, e pelos resultados que tm sido conseguidos por Jos Mourinho, parece-nos pertinente perceber em que se baseiam essas diferenas e se a periodizao tctica, devido ao sucesso que tem apresentado no panorama actual, est a ser adoptada pelo Futebol portugus. Para tal, foram realizadas entrevistas a treinadores da Primeira Liga Portuguesa de Futebol e a observao directa de como estes treinadores operacionalizam o treino/exerccio de treino. As principais concluses deste trabalho foram: - A periodizao tctica no a metodologia elegida no Futebol portugus, sendo que a norma do treinar (metodologias tradicionais) esto profundamente ligadas ao que se faz, ao nvel do treino e do exerccio. - Os exerccios utilizados so preferencialmente os exerccios no especficos em detrimento dos exerccios especficos conceptualizados na periodizao tctica. -O controlo do treino continua a ser realizado atravs do controlo da carga (denominao da norma do treinar), em que o reducionismo presente nos exerccios de treino observados, patenta uma preocupao com aspectos individualizados, como exemplos a dimenso fsica e a dimenso psicolgica.Palavras-chave: PERIODIZAO TCTICA, EXERCCIO DE TREINO, ESPECIFICIDADE, NORMA DO TREINAR, EXERCCIOS ESPECFICOS. V 7. Introduo O instrumento fundamental no processo de treino em Futebol o exerccio, dado que a partir deste que o treinador incute a sua forma de jogar no (s) atleta (s) e, consequentemente na equipa, pelas aquisies a todos os nveis (tcticos, tcnicos, fsicos e psico-cognitivos). Mas o exerccio no surge no treino como obra do acaso, mas sim como resultado de uma concepo que advm de uma reflexo/concepo metodolgica, a partir da qual o exerccio elaboradoe/ouseleccionado.Istosignificaqueperanteumguioconceptualizado pelo treinador (falamos do Modelo de Jogo), que tem por objectivo a forma de jogar mais eficaz e eficiente para se obter o rendimento mximo da equipa, necessrio recorrer ao meio primordial do processo de treino: o exerccio. No entanto, para a mesma forma de jogar podemos utilizar um leque variado de exerccios, com estruturas e formas diversas, que visam o mesmo objectivo do treinador, colocar a equipa a jogar de determinada forma. Agora, esta seleco ou elaborao dos exerccios est subordinada a uma linha metodolgica que corresponde a uma determinada lgica, com a qual o treinador pretende atingir os seus objectivos da forma mais vincada e no menor tempo possvel. A exercitao para uma forma de jogar ir, ento, depender da forma como o treinador pensa e suporta o processo de treino e, ento, estamos a falar dos pressupostos metodolgicos que este utiliza como os mais eficazes e eficientes para atingir os seus fins. Estes pressupostos metodolgicos iro influir na estrutura e forma dos exerccios bem como os contedos, objectivos e avaliao da sua adequao para o que se pretende. Portanto, o exerccio exprime ou dever exprimir uma concepo metodolgica de treino tendo por base uma forma de jogar elaborada pelo treinador. Como foi possvel observar na reviso da literatura, existem vrias concepes metodolgicas de treino que esto em vigor no Futebol actual. Todas elas correspondem a determinada lgica e tm um fio condutor com influncia preponderante no treino e obviamente materializadas nos exerccios de treino. Leva-nos a concluir que existe, seja qual for a concepo metodolgica 1 8. adoptada, uma coerncia entre a concepo metodolgica e a sua expresso no planeamento do treino e a sua consecuo atravs do exerccio. Umas concepes metodolgicas aplicadas correspondem s Teorias de Metodologia do Treino, designadas de clssicas, onde se desenvolvem as vrias dimenses do rendimento de uma forma separada perspectivando a sua juno, tendo como objectivo um somatrio das adaptaes que se reflictam na forma de jogar pretendida pelo treinador. Nesta forma de pensar e consumar o treino, define um planeamento tendo em conta determinados perodos de forma, de perda de forma e de transies, centrando-se sobretudo nos aspectos das capacidadescondicionaisdosatletas.Destaforma,nosexercciosseleccionados e/ou elaborados revelam na sua forma, estrutura e contedos o exacerbar, em separado, das dimenses do rendimento fsicas, tcnicas, tcticas e psico-cognitivas. Outra concepo metodolgica, designada de periodizao tctica, pretende desenvolver as dimenses de uma forma integrada, tendo como principal objectivo uma dimenso de rendimento superior, a tctica, que abarca e depende de todas as outras. Por conseguinte, os exerccios revelam, na sua escolha e/ou elaborao, todas as dimenses do rendimento num mesmo exerccio conforme as necessidades do momento da equipa. O treino planeado segundo uma hierarquia de princpios presentes no Modelo de Jogo, e a forma vista tendo como referncia a assimilao e o exteriorizar desses princpios de jogo no prprio jogo. Nesta concepo metodolgica, a forma, estrutura e contedos dos exerccios residem fundamentalmente em formas jogadas que visam a assimilao de processos individuais e colectivos de jogo que so orientados para uma qualidade de jogo definida e avaliada pelo treinador. Perante o que foi acima referido, a presente dissertao, pretende estabelecer pontos de ligao e pontos de afastamento entre as diferentes metodologias de treino/exerccio; aferir o que se pensa e como se operacionaliza no Futebol Portugus o treino/exerccio. Por conseguinte, o trabalho est dividido em vrios captulos, Bibliografia, Objectivos e Hipteses, Material e Mtodos, Apresentao dos Resultados e a Discusso dos Resultados. Na Reviso Bibliogrfica, pretendemos explanar como o exerccio entendido pela Teoria Geral do Treino e como entendido na metodologia periodizao tctica,2 9. permitindo-nos estabelecer pontos de ligao e pontos de afastamento entre as duas metodologias. No captulo Objectivos e Hipteses, esto explanados com profundidade os objectivos da dissertao e as hipteses que so pertinentes para a resoluo da problematizao. A forma como esses objectivos e confirmaodashiptesesforamrealizadas,estarodescritospormenorizadamente no captulo Material e Mtodos. Aps a recolha e tratamento de dados, a informao pertinente para a resoluo da problematizao ser exposta no captulo Apresentao dos Resultados para uma subsequente discusso, no confronto dos dados recolhidos com os dados que nos foi possvel extrair no estado de arte. O ltimo captulo, Concluses, ser o local por excelncia da confirmao das hipteses e da consecuo ou no dos objectivos propostos.3 10. 4 11. 1. Reviso Bibliogrfica 1.1. A Teoria Geral do Exerccio de Treino Desportivo 1.1.1. Pertinncia A problemtica da evoluo da Teoria e Metodologia do Treino Desportivo resulta, de forma inquestionvel, da qualidade do conhecimento terico-prtico que deriva da interaco (no confundir com o conhecimento individualizado de cada uma delas) de trs problemas (lgicas) nucleares. Com efeito, o treinador desportivo dever constantemente equacionar na sua actividade pedaggicoprofissional os seguintes trs problemas: (1) a lgica interna e a evoluo da modalidade desportiva em anlise; (2) a lgica de como os praticantes aprendem, evoluem e se aperfeioam; (3) a lgica do exerccio de treino definida como uma construo hipottica potencialmente capaz de organizar e orientar a actividade dos praticantes, em direco a um objectivo vlido e idntico relativamente modalidade desportiva (Castelo, 2002, pp: 8). Segundo Castelo (2002), o exerccio de treino um meio que surge como um dos mais importantes da actividade do treinador desportivo e, por isso, deve-se ter por ele um respeito, reflexo e um estudo de acordo com a sua importncia no s no mbito da actividade profissional do treinador mas tambm no mbito no processo de formao/desenvolvimento dos praticantes ou das equipas. Esta importncia reside no facto de que, segundo Mesquita (2000) a partir do exerccio que o treinador materializa as suas intenes e atravs da sua prtica que os atletas aprendem o contedo do treino. Por isso, o treino desportivo ao implicar a concepo e realizao de exerccios, os quais se assumem como um dos sistemas mais complexos de aco e vivenciao (Oliveira, 1991), so um factor que permitem e podem provocar adaptaes (Oliveira, 1991 e Mota, 1998) das vrias dimenses, psico-cognitiva, tctico-tcnico, tctico-individual e fisiolgica (Oliveira, 1991) e, por conseguinte, as adaptaes ou ajustamentos dos atletas do-se em conformidade com o modo como se treina (Bompa, 1999, cit. por Martins, 2003).5 12. Dada a importncia que o exerccio possui no processo de treino no de estranhar as preocupaes reveladas por Queiroz (1986), como seleccionar e como organizar um exerccio que responde de uma forma adequada, s exigncias de uma determinada situao. Citando Bompa (1983) o mesmo autor enfatiza o grande nmero de exerccios, em que uns tm efeitos muito limitados e outros efeitos muito complexos, por isto, cabe ao treinador seleccionar de uma forma cuidada aqueles que melhor atinjam os objectivos definidos e que assegurem o mais alto nvel de desenvolvimento. Devido a estas preocupaes que ao longo dos anos e preponderantemente na actualidade, o exerccio tem sido sujeito a alteraes significativas quer no mbito da concepo, no contedo, na estrutura e na sua organizao (Castelo, 2002). 1.1.2. Definio O primeiro passo definir o significado de exerccio e esta uma tarefa complicada porque, segundo Castelo (2002; pp: 74), existem tantas definies de exerccio de treino como autores que se debruam sobre esta temtica. Segundo este autor, d a noo de ser fcil definir o exerccio se o considerarmos como uma unidade lgica de programao (prescrio) operacional do treino desportivo. Mas, como refere, quando reflectimos a amplitude dos contornos que esta noo implica, a sua definio torna-se mais complexa quando procuramos abranger o maior nmero de aspectos nucleares. Para Teodorescu (1987 cit. Castelo, 2002) o exerccio pode ser considerado um acto motor sistematicamente repetido cuja essncia assenta na realizao de movimentos de diferentes segmentos do corpo, executados simultnea ou sucessivamente, coordenados e organizados segundo um determinado objectivo. Ainda segundo este autor (1983 cit. Queiroz 1986) cada movimento e o exerccio no seu conjunto, devem ter, entre outras especificidades, direco, amplitude, velocidade, durao, ritmo e tempo de execuo. Para Parlebas (1981 cit. Castelo, 2002), a tarefa motora um conjunto organizado de condies materiais e de obrigaes que definem um objectivo cuja realizao 6 13. necessita de emprego de condutas motoras de um ou vrios praticantes. As condies objectivas que presidem ao cumprimento de tarefas so impostas por conselhos ou regulamentos. Para ser definida a noo de exerccio necessrio ampliar os vrios aspectos que o envolvem e segundo Castelo (2002;pp: 100), a partir da podemos definir o exerccio como uma unidade lgica de programao e estruturao do treino desportivo, sendo um meio pedaggico, potencialmente capaz de melhorar a capacidade de prestao desportiva do praticante na resposta ao quadro especfico das situaes competitivas, organizando a actividade deste em direco a um determinado objectivo, orientado por princpios devidamente fundamentados nos conhecimentos cientficos. Portanto, o exerccio de treino pode ser considerado, no seu sentido lato, como um processo de confrontao do praticante ou da equipa com exigncias fsicas, psquicas e intelectuais com a finalidade de aumentar os seus limites de adaptao, de atingir com o mximo de rendimento, sob um regime de economia de esforo e de resistncia fadiga, um resultado pr-estabelecido de acordo com uma previso anterior. Para Queiroz (1986 pp: 22), a actividade sistemtica a desenvolver pelos praticantes atravs dos exerccios, deve responder aos objectivos de todo um processo de causas e efeitos precisos, cujo objectivo o desenvolvimento multifactorial e harmonioso das capacidades que concorrem e ou condicionam o rendimento de um praticante ou de uma equipa. Podemos ento concluir que, o exerccio uma vivenciao por excelncia de situaes que tm como ambio adaptar as capacidades humanas, exigidas pelo desporto em causa, tendo como pano de fundo os objectivos delineados para o manifestar do rendimento desportivo, quer ao nvel individual quer ao nvel colectivo. 1.1.3. Caracterizao do exerccio Depois de nos termos familiarizado com a pertinncia do exerccio de treino para o elevar do rendimento desportivo e termos estabelecido algumas pontes de consenso quanto definio de exerccio, parece-nos importante analisar as suas caractersticas. No que diz respeito s caractersticas do exerccio, 7 14. Queiroz (1986) e Castelo (1996 e 2002), apresentam a identidade e a especificidade como as caractersticas fundamentais do exerccio. Segundo Castelo (1996) o exerccio de treino dever caracterizar-se sob estas duas vertentes para que o exerccio substancie claramente a elevao do rendimento. Neste sentido, Castelo (2002) indica que para que os efeitos da aplicao de uma forma regular, racional e metdica de exerccios de treino resultem em adaptaes funcionais constantes, permanentes e duradouras e que se manifestem na elevao do rendimento desportivo dos praticantes ou das equipas, estes devero ser caracterizados pela sua especificidade. Segundo o mesmo autor (1996 pp: 458), o exerccio de treino especfico quando consubstancia uma estrutura (objectivo, contedo e forma) que no seu conjunto provoca as adaptaes de base que esto na origem na elevao do rendimento dos jogadores. Isto vem de acordo com o que Manno (1982 cit. Queiroz, 1986) referiu ao dizer que os fenmenos de adaptao que esto na base da elevao do rendimento esto ligados especificidade do estmulo que no treino constitudo principalmente pelo exerccio. Sendo a realizao de exerccios quotidiana ento, natural que as caractersticas evidenciadas pelo estado de treino do praticante, devem ser o resultado das adaptaes determinadas exclusivamente pelas condies e pelos contextos situacionais especficos traduzidos pelos exerccios de treino utilizados. A realizao de exerccios especficos como sugerido por Edington (cit. Castelo, 1996) provoca uma resposta especfica em cada indivduo e num momento especfico temporal e ao examinarmos os efeitos da actividade sobre o corpo humano, constatamos que as exigncias fsicas so especficas. Para alm destas adaptaes Bompa (1983 cit. Queiroz, 1986) refere que so provocadas adaptaes precisas nos factores tcnicos, tcticos e psicolgicos em que a especificidade, o elemento principal requerido para a obteno do sucesso, atribuindo-lhe o estatuto de princpio de treino. Castelo (2002, pp: 109) salienta as orientaes metodolgicas para a conceptualizao de exerccios de treino de carcter especfico. Numa primeira etapa surge uma anlise mental lgica: (1) de abstraco na qual se considera 8 15. em separado aquilo que na realidade o no est, assim destaca-se os elementos considerados mais importantes do todo e, (2) de generalizao atravs do qual se une os elementos especficos que se aplicam a um grande nmero de situaes, isto , representa o que h de uno entre muitos. Aplicando, numa primeira anlise, os conceitos de abstraco/generalizao seguido de processos de racionalizao/objectivao, a dinmica consequente da optimizao do processo de treino e naturalmente dos exerccios que lhes esto na base, exprime-se de uma forma genrica sob duas vertentes metodolgicas operacionais: (1) a reduo do nmero de exerccios: em que esta constactao deriva do facto de se aplicar processos de modelao do exerccio de treino atravs dos quais se procura correlacionar o exerccio de treino com as exigncias especficas da competio, com base em ndices mensurveis das componentes de rendimento. Este autor acrescenta que, segundo este raciocnio, quanto maior for o grau de correspondncia entre os modelos utilizados (exerccios de treino) e a competio de uma modalidade, melhores e mais eficazes sero os seus efeitos, fundamentando-se assim a optimizao do processo de treino; (2) o aumento significativo do nmero de repeties do mesmo exerccio de treino ou variantes deste: esta constatao resulta da importncia de se aplicarem exerccios conceptualizados a partir de uma estrutura e organizao que determinam uma eficcia mxima, e por essa razo devero ser frequentemente repetidos por forma a: pressionar os mecanismos de adaptao funcional do praticante, a manipular diferentes nveis de adaptao funcional relativamente aos diferentes estados de preparao do praticante e a aprofundar eficientemente essa adaptao funcional especfica. Neste contexto, segundo o mesmo autor, a concepo do exerccio de treino dever estabelecer uma prtica varivel das condies contextuais, atravs da manipulao de diferentes parmetros de resposta, em funo de um problema especfico colocado por cada exerccio de treino. Segundo Castelo (2002), cada modalidade desportiva comporta em si mesma, uma identidade prpria e individualizada e intransmissvel, por conseguinte, cada exerccio de treino ter um grau de identidade que se fundamenta nos diferentes nveis de relao existente entre estes e as condies objectivas em que se desenrola a competio nessa actividade desportiva. Isto est de 9 16. acordo com o que referiu Queiroz (1986) quando diz que importante ter o conhecimento das condies, segundo critrios lgicos que determinam a concordncia entre o jogo e o exerccio de treino. Isto significa que a estrutura do exerccio (objectivo, contedo e forma) estabelece uma plataforma de relao ou grau de significao (concordncia) com a lgica da competio em causa (Castelo, 1996). Neste sentido, Mesquita (2000) refere que se preconiza a utilizao de exerccios em que devem ter em considerao a estrutura e a funcionalidade da modalidade em causa. 1.1.4. Classificao dos exerccios de treino Depois de caracterizarmos o exerccio de treino como contendo uma identidade e especificidade iremos agora classificar, percorrendo alguns autores, os exerccios de treino. Segundo Bragada (2000), vrios autores das Teoria Geral do Treino Desportivo tm tentado classificar os exerccios. Para Manno (1990, pp: 85) a classificao dos exerccios no desporto podem ser classificados segundo vrios critrios, como a finalidade (desenvolvimento da resistncia, da fora, etc.), pela globalidade ou pelas zonas musculares implicados, ou ento, como sucede neste texto e com o acordo da maioria dos autores, com base na afinidade que existe entre o rendimento desportivo e o exerccio escolhido. Bragada (2000) resume o anteriormente referido ao afirmar que necessrio uma classificao racional e funcional, na qual os exerccios se associam aos fins e objectivos do treino, no contexto que realmente os justifica o da respectiva modalidade. Bragada (2000) para a classificao dos exerccios tem por base trs critrio de referncia (a) o exerccio especfico da competio (modalidade); (b) forma interna: caractersticas particulares do sistema neuromuscular e metablica e (c) a forma externa: sequncia dos movimentos, classificando os exerccios em: 1- Competitivos prtica das competies em condies reais ou simuladas. 2- Especficos formas externas muito similares sequncia de movimentoscompetitivos,masqueapresentamdesviosnas 10 17. caractersticas da carga e/ou apenas abordam alguns elementos ou combinaes complexas da competio. podem privilegiar aspectos condicionais, coordenativos ou tcticos. 3- Dirigidossolicitamosgruposmuscularesresponsveispelorendimento competitivo, e/ou as capacidades coordenativas que lhe esto na base. 4- Gerais todos os restantes no compreendidos nas situaes. No entanto, a maioria dos autores analisados (Matveiv, 1981; Queiroz, 1986; Weineck, 1986; Manno, 1990; Castelo 1996 e 2002) convergem para a classificao dos exerccios tendo como parmetro as caractersticas do exerccio, avaliado sob o ponto de vista da identidade e especificidade: 1- Exerccios gerais. 2- Exerccios especficos. 3- Exerccios de competio. Segundo Matveiv (1981), os exerccios gerais ou de preparao geral constituem o meio utilizado na preparao geral do atleta. Podem aplicar-se com esse fim ao mais diversos exerccios, tanto que se assemelham aos exerccios de preparao especial pelas particularidades da sua influncia, como os que so muito diferentes (incluindo os de orientao oposta). Manno (1990, pp: 87) refere que os exerccios gerais so os que no so to semelhantes com o rendimento desportivo. No entanto, a escolha de exerccios gerais dentro da especializao desportiva deve fazer-se com base na anlise da disciplina para evitar uma transferncia negativa dos efeitos da prtica de um exerccio tendo em conta os nveis de rendimento. De acordo com este autor,Castelo(2002)afirmaqueestesexercciosnoapresentamsemelhanas com os contextos situacionais que derivam da competio de uma dada modalidade desportiva. Este autor, citando Bompa (1993), refere que os exerccios de preparao geral contribuem para um nvel de preparao dos praticantes atravs de uma aco indirecta. A utilizao destes exerccios segundo Matveiv (1981, pp: 31) tem em linha de conta a importncia das seguintes exigncias: em primeiro lugar, a preparao 11 18. geral do atleta deve compreender meios que permitam cumprir com eficcia as tarefas da educao fsica integral. So necessrios, em particular, os exerccios que influem preferentemente no desenvolvimento de todas as qualidades fsicas fundamentais (fora, velocidade, resistncia flexibilidade e agilidade) e que aumentam o conjunto de hbitos e qualidades do atleta e em segundo lugar, a preparao geral do atleta deve reflectir ao mesmo tempo as particularidades da especializao desportiva. Weineck (1986) acrescenta que para alm dos exerccios influenciarem o desenvolvimento geral so particularmente importantes para o treino iniciados e treino de base, so caracterizados geralmente, tanto pelo que concerne aos contedos e mtodos de treino, quer pelos grupos musculares implicados. As adaptaes provocadas pela utilizao destes exerccios no tem somente como objectivo a criao de uma base para o desenvolvimento de performances futuras dado que so tambm um pressuposto essencial para poder obter um bom nvel de transferncia dos exerccios de preparao para as condies da competio (Weineck, 1986 e Manno, 1990). Castelo (2002) depois de analisar vrios autores da Teoria e Metodologia do Treino Desportivo salienta que estes defendem a impossibilidade dos exerccios de preparao especfica se desenvolverem de forma plena e eficaz, se o organismo no tiver sido previamente submetido a exerccios de preparao geral. De acordo com isto, Bompa (1983 cit. Queiroz, 1986) considera que este tipo de exerccios contribuem para o nvel de preparao dos praticantes atravs de uma aco indirecta, visto que o valor e benefcios destes exerccios reflectem sobre o rendimento futuro. Castelo (2002, pp:129) apresenta como objectivos fundamentais dos exerccios gerais: 1- Isolar um ou vrios factores condicionantes: Os factores condicionais de treino como a fora, a velocidade, a resistncia e a flexibilidade podero ser melhoradas e potenciadas individualmente e esperar que os seus efeitos tenham um nvel de transferibilidade positiva para suportarem ou potenciarem,posteriormente,umouvriosprogramasmotoresespecficos de resposta s situaes reais de competio. 12 19. 2- Fomentar processos de preparao do praticante para a prtica da sesso de treino. Os exerccios de treino de carcter geral podero ter como objectivo fundamental o aumento da actividade dos diferentes sistemas funcionais de mbito cognitivo, orgnico, neuromuscular e psicolgico por forma a preparar o organismo para a parte seguinte do treino, isto , para a parte principal da sesso de treino. 3- Activar processos de recuperao: Atravs de exerccios com volumes e intensidades reduzidas de modo a colmatar situaes como o aparecimento de estados de sobretreino, conduzir o atleta a um nvel mnimo de preparao de base depois de estar algum tempo inactivo e assegurar uma reduo do ritmo de trabalho para preparar o organismo a entrar no processo de recuperao. 4- Concretizar uma base orgnica funcional mnima: Os exerccios de preparao geral criam condies para se constituir uma adaptao orgnica e funcional de base por forma a apoiar a aplicao dos exerccios de preparao geral do praticante. 5- Criar condies positivas na comutao entre exerccios de treino: Durante a pausa entre a realizao de dois exerccios de carcter especfico em que til utilizar-se exerccios gerais. Para tentar colmatar esta escassez de especificidade que os exerccios de preparao geral contemplam, Castelo (2002) faz referncia a uma nova classe de exerccios de preparao geral que denomina de exerccios especficos de preparao geral. Segundo este autor, encaixam-se nesta classe todos os exerccios realizados em contextos rudimentares relativamente s condies objectivas em que se realiza a competio desportiva de uma dada modalidade. Estes exerccios tm como objectivo desenvolver o contedo especfico da modalidade desportiva atravs de uma relao primordial do praticante com a bola juntamente com um reduzido nmero de companheiros e adversrios. Resumindo, os exerccios especficos de preparao geral estabelecem a relao do praticante com a bola mas no envolvem a concretizao do objectivo fundamental do jogo (Castelo, 2002).13 20. Os exerccios de treino de competio, segundo Matveiv (1981) so equivalentes, em certo sentido, ao conceito tipo ou classe de desporto e, portanto tm uma orientao estreitamente limitada no que se refere composio motora das aces em tudo semelhantes essncia e natureza da competio. Este tipo de exerccios pr-competitivos caracterizam-se pela manifestao integral das qualidades fsicas fundamentais em condies em que se do alteraes constantes e imprevistas das situaes e formas de movimento. Pelo carcter das qualidades fsicas do atleta, estes exerccios podem dividir-se em exerccios de velocidade e fora, exerccios que requerem preferencialmente resistncia. Estes ltimos, por sua vez, subdividem-se de acordo com o carcter especfico da resistncia, em exerccios de potncia sub-mxima, grande e moderada. Alm disso, existem exerccios competitivos, cada um dos quais subordinado a um determinado tipo de condies, que constituem uma srie dinmica e verstil de diferentes aces motoras agrupadas de forma convencional: tratase de jogos desportivos e da luta desportiva corpo a corpo (luta, boxe, esgrima) (Matveiv, 1981, pp: 28). Isto vem de acordo com o que referem Queiroz (1986) e Castelo (2002) que definem estes exerccios como exerccios em tudo semelhantes essncia e natureza da competio e, visam estabelecer a harmonia entre as vrias componentes do treino, ajustando os factores tcnicos, tcticos e fsicos de preparao s situaes especficas do jogo e aumentando, naturalmente, o nvel de adaptao do organismo dos praticantes s especificidades do jogo/competio. Em sntese, os exerccios de competio so aqueles que provocam uma adaptao mais complexa e contribuem, com especial eficcia, para o desenvolvimento contnuo das relaes harmoniosas entre as diferentes componentes do estado de treino (Harre, 1981 cit. Queiroz, 1986) e, portanto tm maior eficcia na forma desportiva (Manno, 1990). Neste caso so inseridos os denominados jogos de treino entre os elementos de uma mesma equipa ou por convite de uma outra equipa. No entanto, estes exerccios podem ser organizados de forma que as exigncias especficas sejam maiores ou menores que as do jogo, alterando algumas condicionantes, como por exemplo, o nvel da estrutura das equipas, do espao de jogo ou ainda limitando as tarefas nos jogadores (Queiroz, 1986, 14 21. pp: 38). No mesmo sentido, no que concerne organizao destes exerccios, Matveiv (1986, cit. Castelo, 2002) estabelece dois tipos de exerccios de treino de competio: 1- Os exerccios de treino propriamente ditos: so em tudo idnticos s executadas nas condies reais de competio e de acordo com as regras das mesmas. Com efeito, estas sesses coincidem no contedo da aco, nos fundamentos estruturais e na orientao geral. Diferem da competio visto que so realizadas durante o treino e orientam-se para a resoluo das tarefas do treino. 2- Os exerccios de treino de competio adaptados: so exerccios cuja estrutura de base so concordantes com a competio, mas so executados em condies com uma exigncia diferente, com o objectivo de reforamento e aperfeioamento das aces competitivas correctas. Estes exerccios de treino so utilizadas essencialmente na modalidades ou especialidades em que impossvel reproduzir durante o treino, todas as particularidades dos comportamentos, pois, estes tm de ser executados em consequncia de situaes muito variveis (por exemplo: jogo de treino entre duas equipas num campo de dimenses reduzidas, lanamento do dardo com um engenho ligeiramente mais pesado). Quanto aos exerccios especiais, Manno (1990) considera-os como intermdios localizados entre os gerais e os tpicos da competio; so as formas de preparao que tm semelhanas parciais com o exerccio de competio mas que, ao mesmo tempo, potenciam um aspecto do mesmo. Os exerccios de preparao especial no so equivalentes ao desporto em causa, pois, a ser no teria sentido utiliz-los, no entanto, seleco dos exerccios de preparao especial determinada, por conseguinte, pelo carcter especfico do desporto pois tm que possuir algo em comum com os exerccios competitivos escolhidos (Matveiv, 1981 e Weineck, 1986). Estes exerccios segundo Harre (1981 cit. Queiroz, 1986) e Castelo (2002) tm como objectivos fundamentais o aperfeioamento da tcnica, da tctica e das capacidades condicionais. Por isso so concebidos, segundo Castelo (1996 e 2002), para: (1) assegurar uma aco mais selectiva e mais significativa para determinados parmetros dos 15 22. exerccios de treino; (2) assegurar uma modelao de novas variantes das aces competitivas, isto , na atempada criao de pr-requisitos do domnio de formas aperfeioadas da tcnica que correspondem a um novo nvel de resultados.16 23. 1.2. Exerccio de treino segundo uma nova perspectiva Pelo que abordamos anteriormente, a sensao com que ficamos que a questo do exerccio de treino um tema sem grande espao para discusses que abalasse os seus alicerces, pela forma como existe uma grande concordncia entre os vrios autores. No entanto, aps o estudo do livro Mourinho. Porqu tantas vitrias?, apercebemo-nos de que existe uma nova viso no que diz respeito a este tema. E por conseguinte, surgiram novas inquietaes que nos incitou a reflectir sobre o exerccio de treino. 1.2.1 O exerccio subjacente especificidade. Qual especificidade? Enquanto que na abordagem da Teoria Geral do Exerccio as caractersticas da identidade e da especificidade se referem ao padro delimitado pelas pela estrutura da competio como pelas exigncias nelas contidas, na periodizao tctica adoptada como metodologia de treino de Jos Mourinho (Oliveira et. al., 2006) existe uma supraprincpio da especificidade (adoptaremos este conceito como forma de distinguir os dois conceitos) que em nada tem a ver com o anterior. Este supraprincpio da especificidade tem a ver com a necessidade da melhoria de todos os princpios de jogo e isso s se consegue quando o processo acontece tendo como preocupaes as melhorias singulares relativas a cada princpio de jogo (Oliveira et. al., 2006). Entre a especificidade e o supraprincpio da especificidade existem vrios pontos que lhes confere um antagonismo profundo. A especificidade que, como referem Oliveira et al. (2006) na norma do treinar (forma de treinar que no se inclui na perspectiva da periodizao tctica), tem um significado e uma operacionalizao completamente diferente. Segundo Carvalhal (2001) a especificidade entendida por muitos como resultante de uma anlise s exigncias que o jogo acarreta nos jogadores e treinar esses aspectos de uma forma especfica, mas isolada. Para outros, segundo o mesmo autor, quantificar as aces tcnicas, como o remate, passe e drible e, depois, treinlas de uma forma isolada. A especificidade tambm entendida por muitos como descendente da especificidade situacional, originria das caractersticas da modalidade, neste caso do Futebol como Jogo Desportivo Colectivo (Rocha, 17 24. 2003). Estas noes de especificidade so muito redutoras para os Jogos Desportivos Colectivos e, por conseguinte, para o Futebol em particular (Carvalhal, 2000). Ao invs, o supraprincpio da especificidade assenta noutras bases. Para Mourinho (2001) s existe especificidade quando existir uma constante relao entre as componentes tctico-tcnicas individuais e colectivas, psicocognitivas, fsicas e coordenativas, em correlao permanente com o Modelo de Jogo Adoptado pelo treinador e respectivos princpios que lhe do corpo. Isto vem de acordo com o que referiu Oliveira (1991) ao afirmar que a especificidade quando prevalecem os exerccios especficos do Modelo de Jogo adoptado e dispensem os exerccios situacionais, que apenas visam responder s ditas necessidades da modalidade colectiva. A preocupao do treinar em especificidade tem como base uma determinada forma de jogar e a especificidade que se procura no aquela que resulta de mudanas funcionais ou morfolgicas dos rgos e ao nvel das estruturas celulares, nem aquela que deriva da caracterizao das exigncias fisiolgica ou fsicas da modalidade e nem sequer aquela que busca a situacionalidade das aces de cada modalidade (Rocha, 2003). A verdadeira especificidade resulta do ajustamento das situaes de treino ao Modelo de Jogo, devendo-se fazer no treino o que se conjectura como competio, com exerccios que se mantenham sobrecondicionados a uma articulao com sentido (Frade, 2003). Isto est presente na metodologia de treino de Mourinho (periodizao tctica), dado que ele defende a globalizao do trabalho e no a separao das dimenses fsicas, tcnicas, tcticas e psicolgicas (Mourinho, 2006). Segundo Oliveira et. al. (2006), Mourinho no atribui percentagens s diferentes dimenses, dado que no as concebe de uma forma isolada e, portanto, descontextualizada. Segundo os mesmos autores, para Mourinho o jogar (Modelo de Jogo) que pretende para a sua equipa (todo) requisita, de modo singular, cada uma dessas dimenses (tctica, tcnica, fsica e psicolgica). Por isso, qualquer aco tcnica ou fsica tem que estar subjacente a uma inteno tctica.18 25. A especificidade defendida pela periodizao tctica, no incorpora uma aquisio isolada das dimenses do rendimento e afasta-se, em toda a medida, da norma do treinar por no encabear nas suas preocupaes a condio fsica em todos os momentos da poca. Em contrapartida, a preocupao assenta num jogar, contido num Modelo de Jogo Adoptado (conceptualizado) cujos princpios, subprincpios e subprincpios dos subprincpios que lhe do corpo que dem organizao equipa (Mourinho, 2006). Mourinho (2006) referindo-se, por exemplo, ao perodo designado pr-competitivo, afirma que enfatiza de forma sistemtica, na organizao tctica, sempre com o objectivo de estruturar e elevar o desempenho colectivo. As preocupaes tcnicas, fsicas e psicolgicas, surgem por arrastamento e como consequncia da especificidade do modelo de operacionalizao por ele adoptado. Com isto, podemos ento perceber que ao trabalharmos a vertente tctica, em condies prximas das que desejamos para a competio, isto , prximas daquilo que pretendemos para o nosso jogo, estamos a desenvolver a vertente fsica na especificidade que ela realmente tem (Mourinho, 2006, pp. 94). Com isto, podemos perceber que as preocupaes ao nvel, do que comummente se designa, fsico tambm existem, porm, sob um ponto de vista diferente tendo como preocupao principal aquilo que se pretende jogar. Por isso, Mourinho (2006) refere que as sua preocupaes dirias esto dirigidas para a operacionalizao do seu Modelo de Jogo, mas que na estruturao da sesso de treino no est apenas relacionado com os objectivos tcticos, mas tambm com os aspectos relacionados com as exigncias fisiolgicas, em que tem em conta os aspectos da recuperao, nomeadamente, no que diz respeito proximidade do jogo anterior e do prximo. Isto demonstra a preocupao que Mourinho tem em manter uma regularidade semanal relativamente alternncia dos diferentes padres de desempenho-recuperao (Oliveira et. al. 2006). Com isto, Oliveira et. al. (2006), revelam que Mourinho alternando o padro da contraco muscular dominante, e consequentemente, alternando entre treinos mais descontnuos e treinos menos descontnuos, mas sempre em especificidade mais ou menos complexa, dado, que toda a lgica processual est subordinada ao supraprincpio da especificidade. No entanto, estes autores acrescentam que se importante alternar as densidades significativasdosdiferentespadresdecontracomuscular, 19 26. importantssimo nunca perder a articulao de sentido com o Modelo de Jogo, porque falamos de um processo de treino todo ele condicionado aquisio de uma forma de jogar especfica. Por conseguinte, este princpio metodolgico fundamental na concretizao dinmica da metodologia de Mourinho (periodizao tctica) pode ser designada por princpio da alternncia horizontal em especificidade. A operacionalizao desta forma de treinar certamente requer outro tipo de exerccios que a norma do treinar contem. Pelo que podemos aferir, os exerccios caracterizados como gerais no tm espao nesta forma de treinar preconizada pela metodologia da periodizao tctica. A separao das dimenses do rendimento para serem desenvolvidas em separado no respeitam a integrao que a periodizao tctica sustenta. A obsesso pelo fsico, como base onde assenta toda uma programao do treino, tambm no cabe nos parmetros da periodizao tctica, dado como o nome indica a programao realizada a partir de um Modelo de Jogo, onde as preocupaes so de natureza tctica. No da tctica como todos a conhecemos, mas como referido por Oliveira et. al. (2006) a supradimenso tctica que se relaciona com o tctico de uma forma de jogar. A especificidade defendida pela periodizao tctica, bem como os exerccios especficos emanados por essa especificidade, no se encerra apenas nestes aspectos. Por conseguinte, esta chamada de ateno est presente nas palavras de Oliveira (2004), quando refere que preciso perceber que a especificidade no s, ou para que a especificidade seja realmente adquirida no s atravs dos exerccios serem especficos em termos de estrutura, necessrio que o treinador tenha uma interveno que potencie essa especificidade. Na continuidade, este autor, refere que necessrio que o treinador explique aos jogadores de uma forma precisa o que se pretende do exerccio, tanto ao nvel dos comportamentos que se pretende ver expressos, quais os objectivos desse exerccio e em que medida ir melhorar em jogo com esse exerccio. Portanto, segundo este autor, os jogadores esto a fazer o exerccio em funo das indicaes que lhe deram, em funo das melhorias que o treinador pretende e, quando acontece algo que o treinador no pretende 20 27. que surja, o treinador dever intervir no sentido de direccionar os comportamentos de modo que os efeitos do exerccio sejam alcanados. Esta necessidade de o treinador intervir aquando da realizao do exerccio especfico, revela a imperativa necessidade do treinador gerir o instante, o aqui e o agora (Oliveira et. al., 2006). Portanto, a operacionalizao de uma forma de jogar, atravs do exerccio especfico, baseada na metodologia da periodizao tctica, ainda que assente num conjunto de princpios metodolgicos imutveis, tem sempre uma singularidade de interveno de quem gere o processo. Faria (2002) tambm reala esta importncia de interveno no exerccio quando refere que o treinador s consegue estabelecer linhas de pensamento comum se colocar numa dada situao de jogo (exerccio especfico) onde salienta regras, princpios e esses pontos de ligao, para que o jogador naquele momento esteja a interiorizar aquilo que so essas ideias, essas regras e repetir constantemente para que depois elas surjam em jogo. Por isso, segundo o mesmo autor, no podemos apenas esperar que as coisas aconteam pelo simples facto de se realizar um exerccio, mas tambm da forma como orientamos os atletas para aquilo que pretendemos ver acontecer no exerccio e, posteriormente, em jogo. Esta interveno nos exerccios, influencia o processo e este o lado que, Oliveira et. al (2006) denomina de fenomenolgico em que a assimilao de uma forma de jogar atravs de exerccios especficos e com uma interveno no aqui e no agora que revela a fenomenotcnica. Ento a especificidade dos exerccios de treino, requerida pela periodizao tctica uma outra diferente da requerida pela norma do treinar. uma especificidade onde os exerccios de treino devero corresponder s exigncias de um jogar prprio e nico. Estes exerccios de treino devero ser ento especficos mas dentro de um comprimento de onda diferente dos requisitados pela norma do treinar. 1.2.2. Exerccios especficos conceptualizados pela periodizao tctica A periodizao tctica requer um treinar em especificidade diferente. Treinar em especificidade , segundo Oliveira (1991) criar ou trazer para o treino, 21 28. situaes tctico-tcnicos e tctico-individual que o nosso jogo requisita, implicando nos jogadores todas as capacidades, atravs do Modelo de Jogo e respectivosprincpiosadoptados.Estaespecificidadepressupeumaadaptao oriunda de exerccios especficos de determinado Modelo de Jogo e dos seus princpios (Rocha, 2003). O supraprincpio da especificidade tem a ver com a necessidade da melhoria de todos os princpios de jogo e isso s se consegue quando o processo acontece tendo como preocupaes as melhorias singulares relativas a cada princpio de jogo. O treino sobre os princpios de jogo, respectivamente desintegrados (integrados) daquilo (naquilo) que o jogar que se pretende, que o cumprir operacional da especificidade. A especificidade a incidncia repetida no treinar de todos os princpios que o jogar contm. Ento, o exerccio de treino especfico, segundo Castelo (2000), quando a sua estrutura (objectivo, contedo e forma) apresenta no seu conjunto adaptaes de base que provocam a elevao de rendimentos por parte dos jogadores e das respectivas equipas. Esta aproximao surge, como refere Carvalhal (2000) quando os exerccios so elaborados de acordo com o Modelo de Jogo Adoptado, assim todas as componentes esto dependentes da componente tctica, surgindo como consequncia e arrastamento desta. Ento, segundo o mesmo autor, devemos retirar do nosso jogo partes do mesmo (reduzir sem empobrecer) decompondo-o e articulando aces tambm elas complexas, no no sentido de o partir, mas sim privilegiar as relaes e os hbitos. Neste seguimento e na perspectiva da periodizao tctica, o exerccio especfico de treino uma determinada configurao geomtrica e simblica que condiciona/fomenta um determinado acontecer relacionado com o todo (jogar) que se deseja (Oliveira et. al., 2006 pp.: 142). Portanto, o exerccio especfico de treino deve corresponder s exigncias do treinar sobre os princpios de jogo, respectivamente desintegrados (integrados) daquilo (naquilo) que o jogar que se pretende, que o cumprir operacional da especificidade (Oliveira et. al., 2006). Assim sendo, o exerccio especfico de treino na periodizao tctica nada tem a ver com os exerccios especiais comensurados na norma do treinar, dado 22 29. que estes no tm a ver com a modalidade em causa, servem apenas para potenciar uma aspecto da mesma. No tem a ver com os exerccios de competio, em que se fala em maior especificidade porque contm tudo o que o jogo exige (Oliveira et al. 2006) porque treinar em especificidade na periodizao tctica, parafraseando Mourinho (2006, pp.: 139) criar exerccios que me permitam exacerbar os meus princpios de jogo. E os treinos de conjunto pouco ou nada tm de especfico. So treinos generalistas. O exerccio especfico tem a ver com o vivenciao aquisitiva dos diversos princpios, subprincpios, subprincpios dos subprincpios do jogar, o que espelha o respeito pelo supraprincpio da especificidade, atingido atravs do pragmatizar a fraccionao (Oliveira et al., 2006). 1.2.3. A lgica dos exerccios especficos na periodizao tctica Na periodizao tctica a base do treinar assenta no promover de uma forma de jogar de determinados jogadores de uma determinada equipa. Isto implica um processo de aprendizagem e para tal, segundo Oliveira et al. (2006), necessrio que se criem exerccios que promovam o direccionar da adaptabilidade, isto , o processo de adaptao, para a aquisio hierarquizada de determinados princpios de jogo. Aqui, entra um novo conceito quedavivenciaohierarquizadadosprincpios,subprincpiosesubprincpios dos subprincpios de um jogar. a repetio desta vivenciao hierarquizada que, segundo Oliveira et al. (2006) aproxima o acontecer no exerccio configurao do acontecer do jogo que se pretende, ou uma parte desse acontecer, e treinar incidir repetitivamente sobre cada um dos princpios, subprincpios e subprincpios dos subprincpios e atravs da repetio sistemtica dessa diversidade, que d corpo ao jogar que se pretende e a consolidao do mesmo. Portanto, o exerccio na sua especificidade relacionada com uma forma de jogar concretiza a modelao que , segundo os mesmos autores, a operacionalizao expressa da vivenciao aquisitiva hierarquizada. Ainda acrescentam que, essa seleco a priori, submetida repetio sistemtica o suporte da efectiva aquisio dos princpios de jogo -, que direcciona o processo de adaptabilidade da equipa. 23 30. A repetio sistemtica de uma vivenciao hierarquizada que nos permite introduzir outro princpio metodolgico que o princpio metodolgico das propenses, o que diz respeito ao imperativo metodolgico de garantir uma significativa densidade de aparecimento do contexto fundamental relativo ao princpio de jogo que se pretende exacerbar (Oliveira et al., 2006). Ou seja, no uma repetio por repetir mas, como afirma Bordieu (1998, cit. Carvalhal, 2001), toda a aprendizagem que est subjacente aos exerccios especficos implica no s uma repetio mas que essas repeties sejam intencionais. Esta repetio torna-se activa, pois apresenta como produto a aquisio de um saber novo (Freitas, 2004). Este saber novo, pela utilizao de exerccios especficos, que ns pretendemos no apenas um saber fazer mas tem a ver com uma relao entre mente e o hbito que se espelha num saber fazer sobre um saber fazer (Carvalhal, 2001 & Oliveira et al., 2006). Atravs dos exerccios especficos procuramos ento uma aprendizagem, ou seja, a assimilao e apropriao de determinados princpios de um Modelo de Jogo (Resende, 2002), atravs da experincia, nas coisas que esses exerccios pretendem densificar, isto , possibilitar a propenso para que isso acontea. Isto revela uma aprendizagem atravs da repetio sistemtica dos princpios de jogo de um jogar e exterioriza uma relao estreita entre o hbito que se adquire na repetio sistemtica e na mente como consequncia dessa repetio (um saber fazer sobre um saber fazer). Neste seguimento, Faria (2004) refere que para se conseguir instalar uma linguagem comum com regras, princpios, uma cultura de jogo, um modelo de jogo fundamental que isso seja feito atravs do jogo, porque no h nada melhor que a repetio sistemtica das situaes (no exerccio especfico) para poder haver um entendimento colectivo. O mesmo autor acrescenta que fundamental criar no treino um conjunto de situaes (exerccios especficos) que permitam que a equipa se identifique com aquilo que se pretende para a competio. Para isso, afirma que, no de uma forma analtica que isso se consegue, mas sim, atravs do contexto de jogo (reproduzido pelo exerccio especfico) ao exacerbar as regras (princpios de jogo) para que surjam naturalmente. Nestas24 31. circunstncias, Faria (2004) focaliza o hbito que se adquire na aco, isto , aprende-se a fazer qualquer coisa a partir da aco que se est a realizar. 1.2.4. As aquisies/adaptaes atravs do exerccio especfico (o lado visvel e o lado invisvel) O exerccio especfico da periodizao tctica no se prende com o fsico e muito menos com a norma do treinar, porque o exerccio no visto como meio de salvaguardar a aquisio de capacidades abstractas como a fora, a resistncia ou a velocidade (Oliveira et al, 2006). Esta obsesso pelo fsico da norma do treinar leva a utilizao de exerccios sem bola, ou nos ditos espaos reduzidos, a utilizao das matas, sesses bidirias, os treinos intervalados, os treinos em circuito ou por estaes, etc (Carvalhal, 2001 & Oliveira et al., 2006). So exerccios subjacentes a um entender da forma desportiva completamente diferente da entendida na periodizao tctica. Por exemplo, nos perodos pr-competitivos, a inteno criar uma base fsica para que se sustenha o trabalho tcnico e tctico em sesses posteriores (Carvalhal, 2001 & Oliveira et al., 2006). Na norma do treinar as cargas so orientadas atravs da manipulao do volume e intensidade, ao longo da poca desportiva consoante as preocupaes fsicas. Este tipo de aquisies/adaptaes nada tm a ver com as pretendidas pela periodizao tctica. Seno vejamos, a forma desportiva na periodizao tctica no tem nada a ver com o estar bem ou mal fisicamente, segundo Mourinho (2006, pp.: 97) a forma no fsica. A forma muito mais do que isso. O fsico o menos importante na abrangncia da forma desportiva. Sem organizao e talento na explorao de um Modelo de Jogo, as deficincias esto explcitas. O mesmo autor continua, eu no consigo falar em forma desportiva sem falar na equipa e naquilo que eu quero para ela. Para mim estar em forma, a equipa jogar como eu pretendo. () Por isso que eu digo que a base de sustentao da boa ou m forma de um jogador a organizao da sua equipa. Neste sentido, a fora, velocidade e a resistncia so vistas, por este autor, de uma forma diferente do que se encontra nos livros de Metodologia de Treino. Considera-as gerais e ficam muito aqum do que ele pensa que devem ser. Para Mourinho, a fora, a resistncia e a velocidade no so perspectivadas sob um ponto de vista 25 32. quantitativo mas, contextualizadas quilo que a sua forma de jogar. Segundo Oliveira et al. (2006), Mourinho nunca perde a ideia do todo que jogar e, por isso, no concebe a separao de factores e, nessa medida, resistncia aerbia, fora, resistente, etc., no so factores que meream ateno da sua parte. Por outro lado, sabe que semelhante existe no seu jogar, mas como consequncia do acontecer do mesmo. E ao subordinar o seu processo de treino supradimenso tctica, levando vivenciao/aquisio hierarquizada do seu jogar, lhe permite mobilizar a subdimenso fsica que o seu joga requisita. Na periodizao tctica existe o conceito da supradimenso tctica em que o tctico no fsico, no tcnico, no psicolgico, no estratgico mas sem estes no existe (Frade, 2003). Por isso, que Mourinho (2006 pp.: 94) refere que ao trabalharmos a vertente tctica em condies prximas das que desejamos para a competio, isto , prximas daquilo que pretendemos para o nosso jogo, estamos a desenvolver a vertente fsica na especificidade que realmente tem. Agora, segundo o mesmo autor, o que difcil, e o que a periodizao tctica demanda, conseguir criar exerccios onde se consigam englobar as vertentes, sem nunca nos esquecermos da nossa primeira preocupao: potenciar um dado princpio de jogo. Com isto, o volume e a intensidade que o exerccio contm, na periodizao tctica, diferente daquele volume e intensidade que a norma do treinar defende. Na norma do treinar a intensidade, segundo Raposo (2000), caracterizada pelo valor de cada estmulo e pelo trabalho realizado por unidade de tempo. Normalmente est associada, segundo Faria (2006), ao desgaste energtico, provocado pela intensidade do movimento e que pode ser descrita pela velocidade de deslocao, pela frequncia cardaca e/ou pelo valor do lactato sanguneo (Raposo, 2000 pp.:126). O grau da intensidade, segundo Raposo (2000) influencia a direco do desenvolvimento da condio fsica. De acordo com isto, Castelo (2000) refere que a intensidade um aspecto qualitativo do treino e dever ser referenciada como a quantidade de prtica realizada pelo praticante, num perodo mais ou menos alargado no tempo e, daqui resulta que a intensidade como componente estrutural do exerccio de treino, dever ser definida pela frequncia de execuo motora em 26 33. resposta s situaes de treino na unidade de tempo. Por outro lado, o volume entendido na norma do treinar pela totalidade do trabalho (=carga) correspondente a uma poca ou a um macrociclo, ou ao mesociclo, ao microciclo assim como sesso de treino ou a uma tarefa desta (entenda-se exerccio) (Raposo, 2000). Portanto, corresponde ao somatrio de trabalho realizado, tal como refere Castelo (2000, pp. : 259) como componente estrutural do exerccio de treino o volume representa, em termos gerais, o aspecto quantitativo da actividade do praticante ou da equipa. Neste sentido, o volume de exerccio de treino exprime-se invariavelmente para a maioria das modalidades desportivas, por unidades de medida que so em funo de um tempo, de uma distncia, de um nmero de repeties, etc.. Estas duas componentes estruturais do treino e do exerccio, so relacionadas, de uma forma geral, sob uma regra que implica um grau de volume elevado e baixa intensidade no incio da poca e inverte-se esta lgica com o aproximar dos jogos (Carvalhal, 2001). Ainda neste perodo pr-competitivo, segundo Carvalhal (2001), na norma do treinar trabalha-se sobre um contexto de fadiga acumulada; um grande desequilbrio no binmio carga/recuperao, com muito pouco tempo de regenerao; uma hipervalorizao do volume em relao intensidade. Ora na periodizao tctica como metodologia adoptada por Mourinho, o entendimento da intensidade, do volume e da relao entre elas e da relao entre carga recuperao so em tudo divergentes. Segundo Faria (2006, pp.: 104), quando falamos em intensidade temos de falar em intensidade de concentrao. Quando falamos em volume temos de falar do volume de intensidade de concentrao. Por isso, a noo destes conceitos foge quilo que a noo tradicional. E falamos em intensidade de concentrao porque estar no jogo , fundamentalmente, estar a pensar e a tomar decises, o que exige que se esteja concentrado em funo do que fundamental no nosso jogo. Ora, conseguir estar concentrado o mximo de tempo possvel no jogo implica treino e aprendizagem, isto , exige um determinado volume de intensidade de concentrao. E preciso perceber que h exerccios pouco intensos sob o ponto de vista mais fsico que, pela concentrao que exigem, so extremamente intensos. Por exemplo, a marcao de uma grande penalidade no final do Campeonato do Mundo tem uma intensidade elevadssima, que resulta da concentrao decisional 27 34. excepcional do momento. De acordo com isto, Mourinho (2006, pp.: 104) diz por norma quando se fala em intensidade fala-se em desgaste energtico. Eu no penso assim. Fundamentalmente, o que faz com que o treino seja mais ou menos intenso a concentrao exigida. Por exemplo, correr por correr tem um desgaste energtico natural, mas a complexidade desse exerccio nula. Como tal, o desgaste em termos emocionais tende a ser nulo tambm, ao contrrio das situaes complexas, onde se exige aos jogadores requisitos tcticos, tcnicos, psicolgicos e fsicos. isto que representa a complexidade do exerccio e que conduz a uma concentrao maior. Portanto, a intensidade do exerccio especfico no uma intensidade avaliada pelo desgaste energtico de determinadas aces num determinado espao de tempo, mas vista como consequncia de uma exigncia de concentrao decisional implicada na aco do desempenho, pela exigncia em termos de desgaste mental-emocional que esse desempenho representa (Oliveira et al., 2006). Ou seja, a intensidade no se refere a uma intensidade abstracta, mas a uma intensidade como refere Oliveira et al. (2006) decisional associada concentrao, calibrada pelo instante singular de cada exerccio porque os jogadores tm, permanentemente, que equacionar a gesto do aqui e do agora. Devemos ento, segundo o mesmo autor, falar de uma concentrao tctica, porque ela necessria para que o jogar desejado se manifeste. Da que Mourinho assente o seu treinar num padro de intensidades mximas relativas logo a partir da segunda semana de treinos do perodo preparatrio. Quanto ao volume, podemos falar de um volume de intensidades mximas relativas (Faria, 2006), que representa a vivenciao hierarquizada dos princpios de jogo (Oliveira et al., 2006). Concluindo, a periodizao tctica preconiza dois pressupostos metodolgicos que resulta, segundo Oliveira et al. (2006), num padro de treinabilidade identificado pelas intensidades mximas relativas e um volume de princpios de jogo que o resultado da densidade dessas mesmas intensidades. Quanto aos aspectos da recuperao, segundo Oliveira et al. (2006), de um modo geral atribui-se muita importncia fadiga fsica, no entanto, a nossa preocupao (na periodizao tctica), deve incidir sobre a fadiga mentalemocional, resultante da necessria concentrao tctica decisional implicada 28 35. no treinar e no jogar. Da, que segundo este autor, possamos designar por fadiga tctica, na medida em que tem a ver com a incapacidade dos jogadores se concentrarem por estarem cansados de o fazer. Isto evidenciado nas palavras de Mourinho (2006) o que faz com que o treino seja mais intenso a concentrao decisional exigida e, nas situaes (exerccios) complexas, nas quais se alicera o crescimento da organizao de jogo, exigem aos jogadores requisitos tcticos, tcnicos, psicolgicos e fsicos. isso que representa a complexidade do exerccio e conduz a uma concentrao maior. Esta fadiga tctica, segundo Faria (2006) advm da intensidade de concentrao e, no por isso de estranhar que aparea antes da fadiga fsica. Estas preocupaes da recuperao na periodizao tctica esto presentes no padro semanal de treinos de Mourinho. Segundo Oliveira et al. (2006), a recuperao ao longo da semana padro e ao longo de cada unidade de treino crucial para se conseguiremcondiesindispensveisparaassimilarcomportamentosrelativamente ao jogar que se pretende. Pelo que j foi abordado, o exerccio de treino na periodizao tctica (s concebe o exerccio especfico) concebido e operacionalizado, pela sua estrutura, natureza, caractersticas e contedo, como uma representao (reduzida fraccionada) daquilo que um determinado jogar, ou seja, surge no sentido de propor a vivenciao hierarquizada de princpios, subprincpios e subprincpios dos subprincpios, repetindo sistematicamente o aparecimento do que se pretende que surja, de modo que exista uma aquisio/assimilao de um Modelo de Jogo (uma identidade de jogo). Esta vivenciao no realizada a partir da repetio at exausto de combinaes tcticas (jogadas estudadas), que encaminha o processo para uma automatizao que, segundo Oliveira et al. (2006), so automatismos no sentido negativo do termo: mecanismos mecnicos, mas sim, repetio sistemtica de vivenciar dinmicas (Oliveira et al., 2006), em que o treinador refere o que pretende que se faa mas sem dar solues, e fazendo uso do seu lado tcnico (fenomenotcnica), vai gerindo o aqui e o agora para que certas coisas surjam com regularidade. Isto criar automatismos no sentido positivo do termo: mecanismos no mecnicos, automatismos libertadores (Oliveira et al., 2006). Em consequncia disto, as aquisies e adaptaes fisiolgicas e psicolgicas surgem como um 29 36. suporte intrnseco do vivenciar dinmicas e como adaptaes e aquisies prprios da realidade (jogar) que se pretende, baseado numa determinada intensidade de concentrao tctica, num determinado volume de princpios, subprincpios e subprincpios dos subprincpios, sob uma determinada tenso muscular e com uma relao desempenho/recuperao para que aconteam dentro do padro de intensidades mximas relativas.30 37. 2. Objectivos e hipteses Na reviso da literatura deparmo-nos com duas perspectivas diferentes de entendimento do exerccio de treino em Futebol, emanadas da filosofia metodolgica da forma como se aborda a questo do treino em Futebol. Dado que a periodizao tctica tem sido operacionalizada com sucesso, como possvel denotar no livro Jos Mourinho. Porqu tantas vitrias, parece-nos importante perceber o que distingue a periodizao tctica das outras concepes metodolgicas e em que pontos se tocam. Alm do mais, devido a essesucessointeressa-nosperceberseexisteumamudananaoperacionalizao do treino no futebol portugus de encontro com a periodizao tctica. Esta pretenso centra-se em duas esferas fundamentais: teoria e a prtica. Na teoria, pretendemos perceber qual o entendimento sobre o exerccio de treino no Futebol portugus, enquadrado na forma como o treino entendido e em que bases se sustenta esse entendimento. Na prtica, pretendemos inferir sobre a concordncia com aquilo que realmente se faz com o que se pensa sobre o treino e mais concretamente com o exerccio de treino. As hipteses que colocamos para este trabalho so: - A periodizao tctica a concepo metodolgica utilizada no Futebol Portugus. - O tempo dispendido no treino utilizado com exerccios que objectivam a operacionalizao do Modelo de Jogo da equipa (e por isso designados na periodizao tctica por exerccios especficos). - O controlo do treino/exerccio realizado na base de uma quantificao qualitativa.31 38. 32 39. 3. Material e Mtodos Para podermos testar as hipteses formuladas e satisfazermos os objectivos desta dissertao, optamos por seleccionar trs equipas que competem na I Liga Portuguesa de Futebol, na poca 2004/2005. As trs equipas e respectivos treinadores principais escolhidos foram: - Professor Jesualdo Ferreira do Sporting Clube de Braga; - Joo Carlos Pereira do Clube Nacional da Madeira; - Carlos Brito do Rio Ave Futebol Clube. A anlise foi realizada em dois sentidos: entrevista ao treinador principal de cada equipa e aobservao de dois microciclos semanais de treinos. Aentrevista foi realizada de modo a aferir qual a perspectiva metodolgica de treino entendida pelo treinador principal e perceber como perspectivam o exerccio de treino em Futebol. A entrevista categorizada na classe de entrevistas semi-abertas, sendo alvo de registo adio num mini-gravador Sony e, posteriormente, as entrevistas foram transcritas para documento informtico: Microsoft Office-Word 2003, com o intuito de posterior anlise de contedo. As observaes de carcter directo, das diferentes sesses de treino de dois microciclos em cada equipa, foram registadas numa ficha de observao que contm a descrio, objectivos dos exerccios e o tempo dispendido em cada um deles. Os exerccios foram agrupados em duas categorias: Exerccios especficos compreendidos dentro dos pressupostos metodolgicos da periodizao tctica; Exerccios no especficos no compreendidos nos pressupostos metodolgicos da periodizao tctica. No foram includos na anlise os exerccios referentes activao geral (mobilizao articular) nem os exerccios de alongamentos.33 40. 34 41. 4. Apresentao dos resultados Para cumprirmos um dos objectivos a que nos propusemos nesta dissertao monogrfica, que era perceber como os treinadores em Portugal pensam e operacionalizam o treino/exerccio em Futebol, iremos apresentar os resultados que advm da anlise de contedo das entrevistas realizadas aos treinadores das equipas seleccionadas para amostra. Na entrevista, os entrevistados tiveram a oportunidade de opinar sobre vrias esferas em que o treino/exerccio so o ponto central de discusso. 4.1. Anlise de contedo O treino dividido em duas vertentes, segundo Pereira. A primeira vertente relaciona-se com a manuteno fsica, anmica, tctica entre outros, a outra vertente, para a qual atribui maior importncia a busca do aperfeioamento do Modelo de Jogo por ele conceptualizado. Ferreira entende o treino como uma actividade, do ponto de vista das consequncias, da definio de vrias temticas que pretendem a melhoria dos jogadores. Alm disso, diz que uma tarefa complexa que implica um conhecimento do jogo e da escolha dos exerccios, tendo em conta o contedo e a sua especificidade, que permitem numa primeira fase optimizar a equipa e depois optimizar as capacidades dos jogadores. Para Brito, o treino o que se tem por objectivo jogar, induzindo aos jogadores um conjunto de factores tcnico-tcticos, depois o fsico. Para o mesmo autor, ao trabalhar as trs vertentes, que para ele so as mais fundamentais - o fsico, o tcnico e o tctico - chega quilo que uma equipa, extraindo de cada jogador o seu melhor em prol da equipa. Questionados sobre o entendimento que tm sobre o Modelo de Jogo, Pereira entende-o como algo mais do que esquemas e sistemas tcticos. Inclui tambm os aspectos psicolgicos e os aspectos de organizao que juntos resultam no rendimento e, por conseguinte em vitrias. Os seus jogadores tm tarefas, sobretudo do ponto de vista posicional (exemplo dado: posicionamento para finalizao com cruzamento numa situao de 1x1 junto linha), no entanto, perante a aleatoriedade necessrio criar e responder a essa 35 42. desorganizao aparente. Ento os jogadores sabem o que fazer quando recuperam ou perdem a bola em determinadas zonas para manter a equipa equilibrada nos vrios momentos do jogo. Para Ferreira, o Modelo de Jogo resulta de uma anlise profunda do Futebol das suas tendncias ao longo do tempo e do seu desenvolvimento futuro. Portanto, para este autor, necessrio conhecer bem o jogo, conhecer muito bem os princpios que esto por trs daquilo que a cultura, a experincia, o conhecimento, as tarefas de que cada jogador e aquilo que o treino adequado para a determinadas situaes. O treinador quando treina tem de saber aquilo que se quer atingir e a partir da escolher os meios fundamentais. Brito, entende o Modelo de Jogo como a identidade de uma equipa e preciso que a equipa entenda que h factores que so importantes para idealizar o Modelo de Jogo. Os jogadores tm comportamentos definidos como preferncias, no entanto, em jogo so libertados para tomarem a deciso segundo a situao apresentada. Todos os treinadores afirmaram comear a treinar o Modelo de Jogo logo no primeiro dia da poca, o que para Brito a partir do primeiro dia que se comea a criar a identidade das suas equipas. Segundo Pereira, no final da primeira semana, a equipa j tem de dominar determinados aspectos do ponto de vista tcnico-tctico para, a partir da, irem sendo inseridos elementos novos at chegarem ao ponto em que est satisfeito. De seguida, comea o campeonato e ento as sesses de treino so planeadas tendo em vista as falhas no ltimo jogo e a perspectiva do prximo jogo. Ferreira indica que os seus jogadores vo para o relvado logo no primeiro dia, onde comea a apresentar situaes que obriguem os jogadores a pensarem da forma como pretende para poder chegar ao pensamento colectivo. Comeam-se logo a estabelecer-se determinados conceitos que vo sendo alvo de maior interveno ao nvel da informao adequada, objectiva e produtiva de modo que se vo adquirindo esses conhecimentos. Quanto questo: faz sentido dividir-se a poca em trs perodos: pr-poca, poca e perodo de transio? Joo Carlos Pereira baseia a sua resposta negativa no facto de que a principal preocupao o prximo jogo que condicionado pelo anterior e, segundo o mesmo autor, o que tradicionalmente 36 43. se fazia nos perodos de paragem, isto , o incremento das cargas j no o faz, preferindo trabalhar com intensidades debaixo de um contexto tcnico-tctico coordenando o trabalho fsico e fisiolgico, at chegar a um rendimento aceitvel e a, estabiliza-se o microciclo de treino. O professor Jesualdo Ferreira argumenta que no faz sentido utilizar-se essa diviso porque a matriz competitiva diferente, sendo o tempo de preparao mais reduzido e, portanto, ser necessrio em curto espao de tempo obter condio de para jogar. Ainda o mesmo autor, coloca o acento tnico na mudana da matriz de competio que coloca novas exigncias s equipas. Carlos Brito afirma que no faz sentido este tipo de diviso da poca desportiva mas, porm, quando o treino vocacionado para o fsico orientado exclusivamente para este mesmo j durante o calendrio competitivo. No que diz respeito seleco da dimenso do rendimento que cada um dos treinadores elegem como mais importante, Pereira afirmou que esto todas integradas sendo o modelo de jogo a preocupao e que coordena tudo. Ferreira afirma que a expresso final de um jogo de cariz tctico e mental. Segundo o mesmo autor, na observao do jogo possvel ver se a equipa est forte, se est auto-confiante, avaliar a capacidade tctica de por em campo tudo aquilo que so as dimenses tcnicas, tcticas, fsicas, a criatividade etc. Brito, afirma que ao ter de escolher uma elege o fsico, no um fsico individual mas sim um fsico colectivo. Isto explicado suportado pelo aumento da velocidade do jogo e da capacidade das equipas fazerem pressing. Se uma equipa tiver fisicamente bem e se for boa tecnicamente ter mais facilidade. Abordando a dimenso psicolgica, os treinadores foram questionados quanto forma como a introduzem no treino. Pereira diz que as capacidades psicolgicas so includas no prprio exerccio pela concentrao mxima que exigida em cada um deles. Tem um conhecimento profundo do perfil psicolgico de cada jogador e que a abordagem na vitria ou na derrota aps um jogo diferente, doseando a interveno consoante as situaes (p.e. numa srie de vitrias ou derrotas). Ferreira inclui-as em todos os exerccios, pela maior ou menor complexidade, aumentando esta quando os exerccios 37 44. so repetitivos. Existe um comprometimento emocional dos jogadores com o que so os objectivos do exerccio, dos exerccios da semana e quando chegam ao jogo perseguem esses objectivos. Depende tambm da forma como o treinador se envolve e faz criar uma estrutura emocional volta desses objectivos. Para Brito, os aspectos psicolgicos dependem do momento, e que nem sempre est relacionado com aspectos negativos, mas tambm quando a equipa vem vencendo e comea a surgir o excesso de confiana. O mesmo autor, inclui-os quando interrompe um exerccio e a intervm sob o ponto de vista tctico, tcnico e psicolgico. Quanto s caractersticas que os exerccios devem conter, Pereira diz que os exerccios devem estar contextualizados aquilo que o seu modelo de jogo. Para Ferreira, a especificidade eleita a caracterstica mais importante do exerccio de treino. Alm do mais, refere que o exerccio contm quatro factores fundamentais na sua estrutura: espao, tempo, nmero de jogadores e complexidade. Na manipulao destes factores vamos ter, segundo Ferreira, o desenvolvimento e a consistncia da carga e assim definida a direco dessa mesma carga. Quanto mais esses factores forem conjugados para aquilo que se pretende mais se torna o exerccio adequado, tendo um grupo de jogadores que treinam com objectivos fsicos, tcnico-tcticos e com um grau de concentrao adequado com a complexidade do exerccio. Brito afirma que os exerccios de treino devem ser aqueles que mais se aproximam do Modelo de Jogo. Os trs treinadores tambm opinaram sobre o entendimento que tm sobre a especificidade. Pereira entende-a como a contextualizao dos exerccios em relao quilo que o Modelo de Jogo e quilo que o prprio jogo. O jogo serve como ponto de referncia para o processo de treino e o processo de treino serve para capacitar a equipa para o jogo. Ferreira defende que em especificidade no faz sentido utilizar unidades de treino tendo como objectivos aquilo que nada tem a ver com aquilo que ele pretende que a equipa faa. O que pretende a melhoria da concentrao naquilo que ele pretende para equipa durante a durabilidade do jogo. Aponta a especificidade como directora de todo o treino. Brito sustenta que o treino sem bola, apenas fsico, como por 38 45. exemplo trabalho de resistncia pode ser utilizado em detrimento de desenvolver esses aspectos fsicos com bola. Questionados quanto ao entendimento que possuem sobre a qualidade de treino, Pereira afirma que para alm da especificidade, tem a ver com a percepo, intuio, capacidade de anlise do treinador em definir os contedos para determinados objectivos para determinados exerccios e que para aquele contexto e para aquele jogo so os melhores. na auto-crtica, de anlise e percepo do treinador dos meios para chegar ao fim pretendido e, a vitria o resultado de um processo que o Modelo de jogo, alimentado por exerccios uns mais ricos do que outros. Ferreira concorda com o facto de que a qualidade do treino est associada aos exerccios que o treinador cria e selecciona e a capacidade do treinador em gerir esses mesmos exerccios. O treino, para o mesmo autor, causa efeitos, provoca impacto e isso tem consequncias e, essas consequncias traduzidas no jogo revelam se o treino est a ser bem conduzido ou no. Para Carlos Brito a qualidade dos exerccios assenta naquilo que ele pretende para o prximo jogo e para aquilo que o Modelo de Jogo. 4.2. Anlise dos microciclos semanais Depois de apresentarmos o que os treinadores entrevistados entendem o treino/exerccio, passaremos anlise dos microciclos de treino de modo a aferirmos como operacionalizado o treino, que tipo de exerccios esto presentes, e qual o peso a nvel de tempo total de utilizao e a percentagem de utilizao. Foram observados dois microciclos por cada equipa orientada, respectivamente, pelos treinadores entrevistados. Depois dos dados terem sido recolhidos, foram tratados de modo a podermos apresentar os resultados para uma posterior discusso. No quadro 1 e 2 esto representados, de uma forma geral, os dois microciclos do Rio Ave. No primeiro microciclo foi possvel observar trs sesses de treino, compreendidos entre Tera-feira e Quinta-Feira. No segundo microciclo, foram observados cinco sesses de treino entre Segunda-Feira e Sexta-Feira. 39 46. DiaSegundaTeraQuartaQuintaXXXQuartaQuintaSextaSbado DomingoSextaSbado DomingoManha TardeQuadro 1 - Microciclo 1, Rio AveDia ManhaSegundaTeraXTardeX XXXQuadro 2 - Microciclo 2, Rio AveNa tabela 1, esto presentes os valores, em minutos e percentagem, totais do tempo utilizado em cada categoria de exerccios. Minutos total Exerccios especficos (periodizao tctica) Exerccios no especficosPercentagem13325%40575%Tabela 1 - Tempos e percentagens no conjunto dos 2 microciclosComo possvel observar na tabela 1, a utilizao de exerccios especficos reduzida com apenas 20% do tempo total utilizado nos dois microciclos. Por outro lado, os exerccios no especficos absorvem a maioria do tempo utilizado, isto , cerca de 405 minutos em detrimento dos exerccios especficos que tiveram 133 minutos de utilizao. Assim sendo, podemos aferir que, neste caso, a tendncia para a utilizao de exerccios no especficos durante as sesses de treino. No quadro 2 e 3, temos a representao geral dos dois microciclos semanais do Nacional da Madeira. No primeiro microciclo, foi-nos possvel observar sete sesses de treino entre a Segunda-Feira e o Sbado, sendo que na TeraFeira houve uma sesso bi-diria. No segundo microciclo, entre os mesmos dias observamos seis sesses de treino, com uma sesso bi-diria na QuartaFeira.40 47. Dia ManhaSegundaTeraQuartaQuintaSextaXXXXXQuartaQuintaSextaXXXTardeSbado Domingo XXQuadro 3 - Microciclo 1, Nacional da MadeiraDia ManhaSegundaTeraXTardeSbado Domingo XXQuadro 4 - Microciclo 2, Nacional da MadeiraNa tabela 2, podemos constatar os tempos totais e as percentagens totais utilizados, nas duas diferentes categorias de exerccios. Minutos total Exerccios especficos (periodizao tctica) Exerccios no especficosPercentagem36050%35950%Tabela 2 - Tempos e percentagens no conjunto dos 2 microciclosPodemos observar, atravs da anlise desta tabela, que existe um equilbrio quanto ao tempo de utilizao de exerccios especficos e exerccios no especficos. Portanto, a escolha dos exerccios de treino no tm uma tendncia clara, dado que as duas categorias de exerccios dividem a percentagem de tempo de utilizao em 50%, ou seja, com os exerccios especficos foram dispendidos 360 minutos e com os exerccios no especficos foram dispendidos 359 minutos. Nos seguintes Quadros 5 e 6, est presente o esquema geral dos dois Microciclos do Sporting de Braga. No primeiro microciclo observamos cinco sesses de treino, entre Segunda-Feira e Sexta-Feira. No segundo microciclo,41 48. entre Segunda-Feira e Quinta-Feira a observao foi realizada em quatro treinos. DiaSegundaTeraQuartaQuintaSextaXXXXXSextaManhaSbado DomingoTarde Quadro 5 - Microciclo 1, Sporting de BragaDiaSegundaTeraQuartaQuintaXXXManha TardeSbado DomingoXQuadro 6 - Microciclo 2, Sporting de BragaNa tabela 3, podemos verificar a distribuio do tempo nas duas categorias de exerccios. Minutos total Exerccios especficos (periodizao tctica) Exerccios no especficosPercentagem38563%22437%Tabela 3 - Tempos e percentagens no conjunto dos 2 microciclosNeste caso, a utilizao de exerccios especficos supera a utilizao de exerccios no especficos. Parece existir uma predileco mais acentuada no que diz respeito exercitao em especificidade, isto porque o tempo em treino de exerccios especficos de 385 minutos, correspondendo a 63% do tempo total dos dois microciclos, enquanto que os exerccios no especficos tiveram uma utilizao de 224 minutos, correspondendo a 37% do tempo total dos dois microciclos analisados.42 49. Para analisarmos a tendncia de utilizao de exerccios especficos e exerccios no especficos, realizamos o somatrio dos tempos de utilizao dessas categorias das trs equipas em causa (tabela 4).Minutos total Exerccios especficos (periodizao tctica) Exerccios no especficosPercentagem87847%98853%Tabela 4 Somatrio dos tempos e percentagens no conjunto das trs equipasPela a anlise conjunta dos seis microciclos de treino, podemos constatar que, existe um equilbrio em termos de utilizao temporal de exerccios especficos e no especficos. Alm disso, podemos tambm observar que os exerccios no especficos tm uma taxa de utilizao ligeiramente superior taxa de utilizao de exerccios no especficos, 53% e 47% respectivamente. Em termos de diferena em minutos de utilizao, os exerccios no especficos superam os exerccios especficos em 110 minutos.43 50. 44 51. 5. Discusso dos resultadosO exerccio de treino um meio importante para atingir o que o treinador pretende, ou seja, por intermdio deles que o treinador materializa as suas intenes e atravs da sua prtica os atletas aprendem o contedo do treino (Mesquita, 1997). No seguimento desta dissertao, temos vindo a colocar fronteiras entre: como entendido o treino e o exerccio de treino na periodizao tctica e; como entendido o treino e o exerccio de treino na norma do treinar. Como ramificao e como problemtica central desta dissertao, na discusso dos resultados, iremos confrontar a forma como o exerccio de treino/treino pensado e operacionalizado no Futebol portugus, tendo como referncia a amostra analisada. O conceito treinar para os treinadores entrevistados, tem como objectivo a forma de jogar da equipa. Pereira, afirma que treinar assenta em duas vertentes: 1) relacionada com a manuteno fsica, anmica, tctica, entre outros; 2) relacionada com a busca do aperfeioamento do Modelo de Jogo a qual atribui maior importncia. Ferreira, entende que o treino uma actividade que do ponto de vista das consequncias, da definio de vrias temticas que pretendem a melhoria dos jogadores. Sendo que treinar uma tarefa complexa que implica o conhecimento do jogo e a seleco de exerccios, tendo em conta o contedo e a sua especificidade, perspectivando a melhoria, numa primeira fase, da equipa e, numa segunda fase, a melhoria das capacidades dos jogadores. Brito aponta que a abordagem das trs vertentes, que para ele so fundamentais, o fsico, o tcnico e o tctico para concretizar pelo que entende que uma equipa, extraindo de cada jogador o seu melhor em prol da equipa. Pelo acima referido, existe pontos de convergncia entre os entrevistados, dado que tm um entendimento do treino como meio de atingir aquilo que pretendem para o seu jogar e daquilo que requerido para o seu jogar, isto , as dimenses tctica, fsica, psicolgica e tcnica, estando de acordo com Cajuda (2002) e Soares (2000). As dimenses referidas so consideradas por Portugal (2003), como estruturantes do rendimento.45 52. Dado que todos os treinadores assentam a sua ideia do treinar para chegar ao seu jogar, entendem que os exerccios de treino mais adequados so aqueles que mais esto de acordo com o Modelo de Jogo. Ferreira, vais mais alm e aponta como caracterstica mais importante do exerccio de treino a especificidade, na qual, com a conjugao, do que considera ser os factores fundamentais da estrutura do exerccio: espao, tempo, nmero de jogadores e complexidade, para aquilo que se pretende (entenda-se: forma de jogar) mais se torna o exerccio adequado, tendo um grupo de jogadores que treinam com objectivos fsicos, tcnico-tcticos e com um grau de concentrao adequado com a complexidade do exerccio. Este conceito de especificidade entendido por Pereira com dois vectores, um tendo a ver com o Modelo de Jogo, ou seja, tudo o que inclui na exercitao est relacionado com a aquisio da sua forma de jogar, outro relaciona-se com a especificidade do jogo em si. Portanto, segundo o prisma da periodizao tctica, estas duas especificidades tm sentidos diferentes e, por conseguinte, preocupaes e operacionalizaes diferentes. Na periodizao tctica o supraprincpio da especificidade s satisfeito quando, segundo Mourinho (2001), as dimenses do rendimento tctico-tcnicasindividuaisecolectivas,psicocognitivas,fsicasecoordenativas, em correlao permanente com o Modelo de Jogo Adoptado pelo treinador e respectivos princpios que lhe do corpo. De acordo com isto, Ferreira entende que a especificidade norteadora de todo o treino e, por isso, no fazer sentido planear sesses de treino em que se estabelecem objectivos que nada tm a ver com o jogar. Em contrapartida, a especificidade que a norma do treinar engloba uma especificidade que se preocupa apenas com o que especfico da modalidade em si, tendo como preocupaes a caracterizao das exigncias fisiolgicas da modalidade e que buscam a situacionalidade das aces de cada modalidade (Rocha, 2003). Esta especificidade j nos reporta para o campo de que, como refere Brito, o treino sem bola, como apenas fsico se possa fazer em detrimento dos exerccios com bola. Nesta perspectiva de especificidade, faz sentido falar-se no desenvolvimento da dimenso fsica em separado, suportado num estudo das exigncias fisiolgicas do jogo/modalidade. O supraprincpio da especificidade da periodizao tctica, distingue-se desta metodologia como da metodologia 46 53. de treino designada de treino integrado, tal como refere Mourinho (2006; pp. 174) em vez de fazer cem metros sem bola, faz cem metros dois a dois com uma bola ou dez minutos 5x5. O mesmo autor acrescenta que, as consequncias do integrado so as mesmas das do tradicional (entenda-se: norma do treinar)e, o dito treino integrado e a minha metodologia (entenda-se: periodizao tctica) de treino no tm a mnima relao, a no ser a presena da bola. Isto est de acordo com o que referiu Carvalhal (2003), que o treino integrado treina com bola, pode treinar a resistncia com bola, o treino de velocidade com bola mas no est subordinado a uma ideia, a no ser a da dimenso fsica. Amieiro (2005; pp.: 53) corrobora com esta ideia ao considerar que treino integrado, procura-se trabalhar os factores da dimenso fsica em exerccios onde a bola est presente os jogos reduzidos. O mesmo autor considera que os jogos reduzidos no so um meio de aquisio hierarquizada de princpios nem assentes noutra lgica processual. Este entendimento do supraprincpio da especificidade parece relacionar-se com o entendimento de especificidade dos treinadores entrevistados, dado que todos referem que treinar em especificidade treinar tendo em considerao o Modelo de Jogo ou aquilo que se pretende do seu jogar. Para alm disso, a qualidade do treino, para os treinadores entrevistados, definida na escolha de exerccios que tenham como objectivo a aquisio de uma forma de jogar, assente no Modelo de Jogo e para aquilo que ir ser o prximo jogo. Esta importncia em relao ao operacionalizar o Modelo de Jogo, para os trs treinadores, reflecte-se na sua preocupao em abord-lo logo no primeiro dia da poca. Brito afirma que logo no primeiro dia que se comea a criar a identidade da equipa, de acordo est Ferreira ao referir que os seus jogadores vo para o relvado logo no primeiro dia, onde comea a apresentar situaes que obriguem os jogadores a pensar da forma como ele pretende para poder chegar ao pensamento colectivo. Para Pereira no final da primeira semana j devem estar adquiridos alguns aspectos tcnico-tcticos para, a partir da, serem inseridos novos elementos. No entanto, podemos afirmar que o entendimento da especificidade de Brito e Pereira esto em desacordo em relao forma como entendida na periodizao tctica. Isto porque, Pereira, no seu conceito do treinar, inclui as preocupaes com a manuteno fsica, 47 54. anmica, tctica entre outros, revelando assim uma preocupao em separado das dimenses do rendimento. Na mesma linha de pensamento, Brito no seu discurso apresenta referncias ao treino da dimenso fsica em separado como por exemplo o trabalho de resistncia. Ora isto indica a fraccionao do que no fraccionvel, caracterstica da norma do treinar, ao invs da periodizao tctica que entende as dimenses do rendimento na esfera do que a interdimensionalidade e a intradimensionalidade. Por isso, Mourinho no concebe o estilhaado em quaisquer factores, resistncia, fora, etc (Oliveira e tal., 2006), mas sim um desenvolvimento das mesmas de uma forma integrada e como consequncia do acontecer do seu jogar. Como resultado deste rudo, na anlise dos microciclos das equipas deparamo-nos com outra realidade que no assenta no que preconizado na periodizao tctica, pois esta apenas adopta o treinar em especificidade atravs dos exerccios especficos. Isto , se treinar em especificidade vivenciar dinmicas, atravs de exerccios especficos que induzam as equipas a realizarem comportamentos consonantes com o Modelo de Jogo, essa pretenso no foi verificada no tempo utilizado com esse tipo de exerccios. Na anlise ao somatrio dos seis microciclos, observamos uma ligeira diferena a favor dos exerccios no especficos em detrimento dos exerccios especficos. Isto significa que, mesmo havendo a preocupao em criar/seleccionar exerccios que vo de encontro quilo que se pretende que a equipa faa, tendo em conta o Modelo de Jogo e os seus princpios, h um afastamento em relao ao supraprincpio da especificidade. Este afastamento traduz-se num corte com a especificidade da periodizao tctica dado que esta defende que treinar em especificidade , segundo Oliveira et. al. (2006), quando prevalecem os exerccios especficos do Modelo de Jogo adoptado e dispensem os exerccios situacionais. Isto est de acordo com o que Frade (2003) entende sobre a especificidade, considerando que esta resulta do ajustamento das situaes de treino ao Modelo de Jogo, devendo-se fazer no treino o que se con