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GEADA: UM PROBLEMA PARA A CANA-DE-AÇÚCAR Dib Nunes Jr. Ricardo S. A. Pinto As geadas são comuns em muitas regiões produtivas de cana, como a Louisiana (EUA), Índia, Austrália e Argentina, e ocasionais na Flórida, México, Irã e na região sudeste do Brasil. Segundo estatísticas, ocorrem em média 4 a 5 geadas a cada 20 anos nos canaviais. Este fenômeno ocorreu nos Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais em 1975, 1979, 1981, em 1988 em algumas poucas regiões, e em 1994, quase sempre entre os meses de maio e julho, principalmente neste último. Os danos na cana são causados pela ruptura das células dos tecidos das partes afetadas com resultado do congelamento do suco celular. Os problemas dependem basicamente da intensidade da geada, das condições ambientais após a geada e do comportamento das variedades cultivadas. A intensidade da geada depende do tempo que a temperatura permanecer abaixo de zero. A partir daí, podemos ter injúrias que vão desde uma simples queima de folha à morte da gema apical e das gemas laterais superiores e até mesmo à morte de todas as gemas laterais. As partes afetadas adquirem, de início, uma aparência aquosa e em pouco tempo tornam-se focos de infecções por fungos e bactérias. Quando morre somente a gema apical, as gemas que não foram danificadas brotam e ocasionam uma cana com pontas múltiplas ou "envassouradas". Após a geada (ao redor de 10 dias), deve-se realizar um levantamento dos danos e mapeamento do problema. O produtor deve proceder da seguinte maneira: 1) estabelecer um critério para levantamento, de modo a quantificar a intensidade da geada. Um sistema prático e rápido que pode ser adotado é o critério de notas, que separa as áreas sem geada, com geada leve e geada forte (conforme anexo 1 deste artigo);

Artigo sobre procedimentos pós-geada escrito faz mais de 5 anos

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Artigo escrito pelo meu ex-sócio Dib Nunes, no qual fui coautor, que descreve os procedimentos junto aos canaviais pós-geada, incluisndo como classificá-los.

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GEADA: UM PROBLEMA PARA A CANA-DE-AÇÚCAR

Dib Nunes Jr.Ricardo S. A. Pinto

As geadas são comuns em muitas regiões produtivas de cana, como a Louisiana (EUA), Índia, Austrália e Argentina, e ocasionais na Flórida, México, Irã e na região sudeste do Brasil. Segundo estatísticas, ocorrem em média 4 a 5 geadas a cada 20 anos nos canaviais.

Este fenômeno ocorreu nos Estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais em 1975, 1979, 1981, em 1988 em algumas poucas regiões, e em 1994, quase sempre entre os meses de maio e julho, principalmente neste último.

Os danos na cana são causados pela ruptura das células dos tecidos das partes afetadas com resultado do congelamento do suco celular. Os problemas dependem basicamente da intensidade da geada, das condições ambientais após a geada e do comportamento das variedades cultivadas.

A intensidade da geada depende do tempo que a temperatura permanecer abaixo de zero. A partir daí, podemos ter injúrias que vão desde uma simples queima de folha à morte da gema apical e das gemas laterais superiores e até mesmo à morte de todas as gemas laterais. As partes afetadas adquirem, de início, uma aparência aquosa e em pouco tempo tornam-se focos de infecções por fungos e bactérias. Quando morre somente a gema apical, as gemas que não foram danificadas brotam e ocasionam uma cana com pontas múltiplas ou "envassouradas". Após a geada (ao redor de 10 dias), deve-se realizar um levantamento dos danos e mapeamento do problema.

O produtor deve proceder da seguinte maneira: 1) estabelecer um critério para levantamento, de modo a quantificar a

intensidade da geada. Um sistema prático e rápido que pode ser adotado é o critério de notas, que separa as áreas sem geada, com geada leve e geada forte (conforme anexo 1 deste artigo);

2) quantificar a quantidade de canaviais atingidos e suas respectivas tonelagens;

3) monitorar, através das análises tecnológicas (Pol, Brix, Açúcares Redutores e Acidez Titulável), as áreas atingidas para iniciar a administração da cana geada. 

Nas áreas com danos leves, dependendo das condições climáticas, a perda de qualidade tecnológica demora mais a ocorrer, podendo manter teores de sacarose por 45 a 50 dias. Entretanto, nos locais onde os danos são severos, a deterioração dos colmos pode começar a ocorrer em menos de 10 dias. Não ocorrendo a morte das gemas laterais, a redução da qualidade ficará restrita aos primeiros entrenós do ponteiro. A altura correta do desponte no momento do corte pode minimizar este problema. Não se deve tomar decisão de queima de canaviais sem um preciso levantamento da situação. As maiores preocupações estão com a cana de ano e com a cana que foi cortada na safra anterior de setembro em diante. Esses canaviais, além de

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interromperem o processo de desenvolvimento, reduzindo a produção, encontram-se com menor teor de sacarose por não terem ainda atingido a idade mínima para corte de 12 meses.

O procedimento de colheita deve ser de acordo com o volume de cana mais afetado. Temos dois caminhos: ou corta-se tudo de uma só vez ou libera-se a colheita gradativamente, de acordo com as análises.

Mas, se o volume de cana é alto, deve-se administrar a matéria-prima priorizando a cana geada mais madura e mais injuriada.

Outros canaviais atingidos são: a cana de ano e meio e as socas cortadas antes da geada. Nestes casos temos duas situações a considerar:

a) canaviais com poucos perfilhos com entrenós ou sem entrenós formados: não rebaixar;

b) canaviais com maioria de perfilhos apresentando entrenós formados: rebaixar. 

No próximo ano poderão faltar mudas bem desenvolvidas na época do plantio de verão.

As maiores diferenças entre variedades estão nas suas capacidades de manter a qualidade da matéria-prima por mais tempo.

Por mais que se faça, os canaviais geados representam riscos de perdas consideráveis, que podem ser administradas para minimizar os prejuízos. Porém, na maioria das vezes, não se consegue evitar tais prejuízos completamente. Vale citar que as variedades RB72454 e SP80-1842 estão entre as mais sensíveis à geada. Os principais reflexos da geada para o ano em que ela ocorre

1/6 da matéria-prima pode sofrer perdas na qualidade. Perda de produtividade na cana de final de safra. Falta de mudas de boa qualidade para plantio da cana de ano. Maiores cuidados no controle de ervas daninhas, principalmente nas soqueiras

recém brotadas e na cana de ano e meio que, com a geada, perderam sua massa verde.

Desequilíbrio no manejo de corte, com reflexos futuros. Necessidade de rebaixamento de algumas áreas afetadas por geada (canaviais

com perfilhos novos, já com entrenós). Necessidade de adubação suplementar com N nas áreas já cultivadas e na cana

de ano e meio que perderam a massa verde. 

Os principais reflexos da geada para o ano seguinte à sua ocorrência

Mudas pouco desenvolvidas. Matéria-prima imatura nos primeiros meses de safra (abril, maio, junho). Redução na produção dos canaviais novos (cana planta) e nas soqueiras

afetadas pela geada, caso sejam colhidos nos meses iniciais da próxima safra.

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ANEXO 1

Critérios para apuração de danos por geada na cana-de-açúcar

Esperar 10 dias após a geada para manifestação completa dos sintomas. Fazer mapeamento, utilizando a simbologia das cores. Realizar corte longitudinal dos colmos e corte transversal das gemas laterais, se

estiverem afetadas. Dar notas de 1 a 5 aos canaviais, da seguinte forma:

o NOTA 1: morte da gema apical, ao redor de 50% ou mais de gemas laterais mortas (tecido enegrecido), tecido interno dos colmos de coloração amarronzada, aparência aquosa e forte odor característico de cana queimada e velha (cor preta no mapa);

o NOTA 2: morte da gema apical, entre 26% e 50% de gemas laterais mortas, tecido interno com apenas alguns locais com coloração amarronzada e aparência aquosa. Colmos parcialmente afetados (cor vermelha no mapa);

o NOTA 3: morte da gema apical, até 25% de gemas laterais mortas (principalmente as do ponteiro) e apenas um ou dois entrenós da ponta com coloração alterada e aquosa (cor amarela no mapa);

o NOTA 4: somente morte da gema apical (cor verde no mapa);o NOTA 5: sem danos graves – gema apical normal (cor azul no mapa).

Chamamos a atenção para os seguintes pontos: as gemas laterais podem estar levemente escurecidas, mas não mortas. Se

for cana muda, recomendamos a realização de um teste de germinação em uma estufa ou similar antes de utilizá-la;

não é necessário realizar análises imediatas de acidez titulável nos canaviais pouco afetados (somente na gema apical). Este procedimento é importante somente após a temperatura ambiente e a umidade do solo se elevarem;

Muitos talhões têm intensidade de danos variável. Neste caso, recomenda-se muito bom senso no seu mapeamento e no seu manejo;

para avaliação dos danos nos canaviais, deve-se tomar 3 amostras de 10 colmos do interior dos talhões afetados, os quais devem ser abertos longitudinalmente para melhor visualização dos danos. As gemas laterais devem ser cortadas transversalmente, sendo que as mortas apresentarão um fundo enegrecido;

os melhores indicadores de deterioração são:o um novo levantamento a cada 12 ou 15 dias,o análises tecnológicas completas com Pol%Cana, Brix%Cana,

Açúcares Redutores e Acidez Titulável.

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ANEXO 2 PRIMEIRO MÉTODO PARA ACIDEZ NO CALDO

o Material: pipeta volumétrica de 20 ml, bureta de 25 ml, copo Becker de 150 ml, agitador magnético, pHmetro. 

o Reagentes: hidróxido de sódio 0,1 padronizado.

o Técnica1. pipetar 20 ml de caldo e adicionar 50ml de água destilada em um Becker de

150 ml.2. emergir o eletrodo no Becker com a amostra, colocando-o sobre o agitador

magnético, e ligar o pHmetro, juntamente com o agitador.3. titular com a solução de hidróxido de sódio 0,1 N até o pH 7,0 e anotar o

volume de soda gasto.4. quando o consumo de NaOH na titulação ficar entre 2,5 e 4,5 ml, a matéria

prima está em processo de deterioração.

SEGUNDO MÉTODO PARA ACIDEZ NO CALDO

Esta metodologia é mais simples e rápida.1. Em 25 ml de caldo são adicionados 5 ml de uma solução de NaOH 0,1 N.2. Em seguida, mede-se o pH.

a) Se o pH for maior que 7,7, a cana está em ótimas condições;b) Se o pH for menor que 5,25, a matéria prima está em estágio

avançado de deterioração;c) quando o pH da solução estiver entre 5,25 e 7,7, significa que a cana

está em processo de deterioração e precisa ser monitorada.