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UC Número 1 1 Março 2006 DIRECTOR: JORGE CASTILHO DIRECTORES-ADJUNTOS: DINIS MANUEL ALVES E MÁRIO MARTINS FALTA DE VERBA PARA PATENTES NÃO IMPEDE PROJECTOS INOVADORES Construir motores que dispensam óleo lubrificante, criar revestimentos que tornam os aviões mais seguros, impedir que a prata perca o brilho, fabricar redes para as artérias que o organismo humano não rejeite – eis alguns dos projectos pioneiros a nível mundial que estão a ser desenvolvidos num Instituto da FCTUC, presidido por uma mulher. PAGINA 10 À TONA DA INVESTIGAÇÃO NO FUNDO DO MAR Combater a praga dos lagostins no Rio Nilo, zelar pela qualidade das águas costeiras e fluviais de países africanos, aproveitar as ondas para produzir energia, descobrir bactérias resistentes no fundo dos oceanos – são algumas das áreas em que estão empenhados mais de 300 investigadores de diversas Universidades portuguesas pertencentes ao Instituto do Mar (IMAR), a que preside João Carlos Marques, Vice-Reitor da Universidade de Coimbra. PAGINA 3 PAGINA 4 PAGINA 6 DESTAQUES Há 30 anos: a primeira presidente da AAC Catedrática ensina Gaiatos Antiga aluna da UC faz 107 anos RUC: há 20 anos sempre no ar 9 15 18 20 Jornal da Universidade M EM “SEMANA” DE 11 DIAS aré cheia de cultura espraia-se pela Região APÓS SÉCULOS DE SEGREGAÇÃO ulheres conquistam maioria na comunidade universitária

Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

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Versão integral da edição n.º 1 do mensário “Jornal da Universidade de Coimbra”, que se publicou em Coimbra. Director: Jorge Castilho. Foram publicados apenas quatro números. Março de 2006. Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt). Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747 Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

UUCC Número 11 Março 2006

DDIIRREECCTTOORR:: JORGE CASTILHO

DDIIRREECCTTOORREESS--AADDJJUUNNTTOOSS:: DINIS MANUEL ALVES E MÁRIO MARTINS

FFAALLTTAA DDEE VVEERRBBAA PPAARRAA PPAATTEENNTTEESSNNÃÃOO IIMMPPEEDDEE PPRROOJJEECCTTOOSS IINNOOVVAADDOORREESSConstruir motores que dispensam óleo lubrificante, criarrevestimentos que tornam os aviões mais seguros, impedirque a prata perca o brilho, fabricar redes para as artérias queo organismo humano não rejeite – eis alguns dos projectospioneiros a nível mundial que estão a ser desenvolvidos numInstituto da FCTUC, presidido por uma mulher.

PPAAGGIINNAA 1100

ÀÀ TTOONNAA DDAA IINNVVEESSTTIIGGAAÇÇÃÃOONNOO FFUUNNDDOO DDOO MMAARRCombater a praga dos lagostins no Rio Nilo, zelar pelaqualidade das águas costeiras e fluviais de países africanos,aproveitar as ondas para produzir energia, descobrir bactériasresistentes no fundo dos oceanos – são algumas das áreasem que estão empenhados mais de 300 investigadores dediversas Universidades portuguesas pertencentes ao Institutodo Mar (IMAR), a que preside João Carlos Marques, Vice-Reitorda Universidade de Coimbra. PPAAGGIINNAA 33

PPAAGGIINNAA 44

PPAAGGIINNAA 66

DDEESSTTAAQQUUEESSHá 30 anos: a primeirapresidente da AAC

Catedrática ensinaGaiatos

Antiga aluna da UCfaz 107 anos

RUC: há 20 anossempre no ar

99

1155

1188

2200JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee

MEEMM ““SSEEMMAANNAA”” DDEE 1111 DDIIAASS

aarréé cchheeiiaaddee ccuullttuurraaeesspprraaiiaa--sseeppeellaa RReeggiiããooAAPPÓÓSS SSÉÉCCUULLOOSS DDEE SSEEGGRREEGGAAÇÇÃÃOO

ulheresconquistam maioriana comunidadeuniversitária

Page 2: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

EDITORIAL

2 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

OO JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee deCoimbra é um projecto jornalísti-co essencialmente destinado àComunidade Universitária, total-mente independente em termoseditoriais, pautando-se por crité-rios exclusivamente profissio-nais.

OO JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee procu-rará pesquisar, tratar e divulgara informação considerada rele-vante para a Comunidade aquem se dirige, tentando con-tribuir para um melhor conheci-mento das suas realidades, dosseus projectos e da diversifica-da actividade que nela se de-senvolve.

OO JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee nãofará concessões ao sensaciona-lismo e à superficialidade, antesprocurará abordar todas as ma-térias com respeito pelos direi-tos das pessoas e instituições, ena incessante busca do rigor in-formativo.

OO JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee não sedeixará instrumentalizar porquem quer que seja e respeitaráescrupulosamente os princípioséticos e as normas deontológi-cas do jornalismo.

Por FERNANDO SEABRA SANTOS

Ao longo da sua História multissecular, comohoje, muitas vezes a Universidade de Coimbra tevea capacidade de se destacar pelo carácter inédito epela inovação das suas propostas e descobertas.

Não é esse o caso do jornal que agora vos chegaàs mãos. Várias Universidades em todo o Mundo,e até algumas em Portugal, optaram já por editaro seu próprio jornal, como forma de resolver umaquestão que hoje é considerada crucial para o bom

funcionamento e para o bom desempenho de qual-quer instituição: a informação do que faz e a comu-nicação entre quem faz. Desta vez, a Universidadede Coimbra não poderá ser pioneira. Mas podedestacar-se pela qualidade. Pode e quer fazer doJJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee de Coimbra mais um exem-plo de sucesso, mais uma iniciativa na qual tenha-mos gosto em nos rever e da qual nos possamosorgulhar.

Tomando o nome da nossa Universidade, estejornal adopta uma identidade, uma responsabilida-de e uma missão. Abordará a sua História, mas nãose conformará com o prestígio que ela lhe confere,antes se inspirará na sua longa tradição de fazercoisas novas como exemplo para os caminhos demodernidade que pretende trilhar.

Nas páginas que se seguem, e nas que a estasse sucederão, é toda a Universidade de Coimbraque vai estar representada. Todos aqueles que aconstituem e que diariamente a constroem, docen-tes, investigadores, estudantes e funcionários, Fa-culdades, Departamentos, Institutos, Unidades deInvestigação e Serviços, todos quantos tenham es-

tórias para contar, estão convocados para mostrarao país e ao mundo as ideias e os projectos queneste cadinho em permanência fervilham. Mascomo elemento de uma estratégia de Uni-ver[sc]idade, irmão mais novo da Rua Larga e delase diferenciando na forma, no conteúdo, na perio-dicidade e nos objectivos, o JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddeede Coimbra vai ser também capaz de manter diálo-gos com o tecido económico, social e cultural, pro-curando interpelar os seus agentes e estabelecercontactos entre o que se faz de um e de outro ladoda Porta Férrea.

Em ano de depressão orçamental particularmen-

te grave, a auto-sustentação económica do projec-

to é a única garantia da sua perenidade. A simples

existência deste Jornal é também a prova de que

só quem não quer ou não sabe é que se refugia na

falta de recursos para deixar de fazer o que é ne-

cessário.

Ao JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee de Coimbra que agora

dá o seu primeiro passo se deseja uma longa e pro-

fícua caminhada.

UUmm jjoorrnnaall.. UUmmaa iiddeeiiaa ddee UUnniivveerrssiiddaaddee..

ESTATUTOEDITORIAL

Por JORGE CASTILHO

Ao contrário do que alguns poderiam pensar,este novo jornal não é um órgão oficial ou oficiosoda Universidade de Coimbra.

Quando me dirigiu o convite para dirigir o JJoorrnnaallddaa UUnniivveerrssiiddaaddee de Coimbra, o Magnífico Reitordeu-me conta dos objectivos que pretendia atingircom esta publicação – e que vão expressos na notade sua autoria que nesta página se insere.

E desde logo me garantiu completa autonomiaeditorial, sem interferência da Reitoria, ou de outrosórgãos da Universidade, no conteúdo do Jornal.

Aliás, por questões de natureza ética e deonto-lógica, nunca eu aceitaria enfrentar este desafio setais garantias não existissem. Também só peranteesses pressupostos anuíram a partilhar comigo atarefa, na qualidade de Directores-Adjuntos, doisoutros jornalistas com larga experiência: Dinis

Manuel Alves e Mário Martins. E o mesmo sucedecom os restantes jornalistas que colaboram nestaedição e nas que se lhe seguirem.

O JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee é, pois, um projectoprofissional, que se norteia por critérios exclusiva-mente jornalísticos, com rigorosa observância dasnormas que regulamentam o exercício desta activi-dade (compromisso de honra plasmado noEEssttaattuuttoo EEddiittoorriiaall que nesta página se publica).

A principal preocupação do JJoorrnnaall ddaaUUnniivveerrssiiddaaddee de Coimbra é divulgar o que de maisrelevante existe e se vai fazendo no seio da tãovasta e tão heterogénea Comunidade Universitáriaa quem se dirige (actualmente cerca de 25 mil pes-soas, englobando alunos, docentes, investigadorese funcionários).

Para cumprir a sua função em plenitude, o JJoorrnnaallddaa UUnniivveerrssiiddaaddee espera que os elementos da refe-rida Comunidade não só o leiam, mas que igual-mente nele participem, enriquecendo-o com infor-mações, sugestões e críticas construtivas – quepodem ser dirigidas, por e-mail, para o seguinte en-dereço:

[email protected]

O MAR E A MULHEREsta primeira edição, que se publica no dia em

que a Universidade assinala uns pujantes 716 anosde existência, é predominantemente ocupada pordois temas: o MMaarr e a MMuullhheerr.

O MMaarr, porque hoje se inicia a Semana Culturalque o tem por mote.

A MMuullhheerr, porque no próximo dia 8 se comemo-

ra o seu Dia Internacional, o que é pretexto para se

focar o papel de relevo que ela actualmente desem-

penha na Comunidade Universitária e o difícil cami-

nho que teve de vencer para aqui chegar.

No que respeita à Semana Cultural, o respectivo

programa é tão vasto que a mera enumeração de

todas as actividades quase esgotaria as páginas

deste jornal. Optámos, por isso, por destacar al-

guns aspectos que nos pareceram mais relevantes,

remetendo os leitores para o programa completo

editado pela Universidade – que está a ser profu-

samente distribuído e que bem justifica consulta

atenta.Em contrapartida, o tema inspirou uma reporta-

gem em que se divulga o notável trabalho que estáa ser desenvolvido pelo Instituto do Mar, a que aUniversidade de Coimbra está intimamente ligada.

Quanto à Mulher, evocamos algumas que ousa-ram ser pioneiras. A Universidade de Coimbra vem--se tornando de cada vez mais feminina, com asmulheres a terem já uma posição maioritária, mui-tas delas ocupando funções de direcção e chefia.Na impossibilidade de as ouvirmos a todas, optá-mos por pedir um depoimento simbólico à queocupa, neste momento, o lugar de maior destaque– a Vice-Reitora Cristina Robalo Cordeiro.

Justificadas que estão as nossas opções edito-riais para este primeiro número do JJoorrnnaall ddaaUUnniivveerrssiiddaaddee, resta-nos manifestar a esperança deque ele não desiluda os leitores.

UUmmaa eexxpplliiccaaççããoo nneecceessssáárriiaa

FICHA TÉCNICA

Director:JORGE CASTILHO

Directores Adjuntos:DINIS MANUEL ALVESMÁRIO MARTINS

Concepção e edição gráfica:AUDIMPRENSA

E-mail:[email protected]

Telefone:239 854 150

Fax:239 854 154

ImpressãoCORAZE - OLIVEIRA DE AZEMEIS

Page 3: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

3JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

RE P O R T A G E M

NELSON MATEUS

Os campos hidrotermais “trazem uma

perspectiva completamente diferente do

que é a vida a grande profundidade”, re-

fere João Carlos Marques presidente do

Instituto do Mar (IMAR) e também Vice-

Reitor da Universidade de Coimbra. São

autênticos oásis no fundo do mar que

não param de surpreender os cientistas.

A realidade que os investigadores ob-

servam nos campos hidrotermais tem re-

velado grandes surpresas, levando

mesmo “à reformulação das teorias

sobre a origem da vida”. Isto porque nos

campos hidrotermais surgem seres vivos

“onde não há luz mas apenas energia

geoquímica”, explica o responsável do

IMAR. Poderá, pois, acontecer que a ori-

gem da vida “não terá sido à superfície

do mar”, como se pensava, “mas nos

campos hidrotermais”.

É em zonas de separação das placas

tectónicas que surgem estes campos que

são como uma ilha térmica e que resul-

tam do calor que escapa do interior da

Terra. Nos Açores existem vários campos

a grande profundidade, um dos quais a

cerca de 1700 metros.

Os campos funcionam em muitos

casos como autênticas ilhas, já que “por

vezes têm uma flora e uma fauna que só

pode ser encontrada ali” e que já não

existe noutros campos hidrotermais, re-

fere João Carlos Marques. São zonas com

uma biodiversidade e biomassa bem di-

ferente do que é normal no fundo mar.

Por exemplo, o número de indivíduos

por metro quadrado nos campos hidro-

termais aproxima-se do meio milhão, en-

quanto que em outras zonas a média é

apenas de cerca de 20 indivíduos.

RESISTÊNCIA A GRANDEPROFUNDIDADE

As características únicas destes cam-

pos são alvo da análise dos investigado-

res do IMAR, já que se trata de um âm-

bito que tem “trazido novidades interes-

santíssimas”, acrescenta João Carlos

Marques. É possível, por exemplo, en-

contrar bactérias vivas em zonas em que

a água atinge os 180 graus, enquanto

que as bactérias que se encontram à su-

perfície não resistem a temperaturas su-

periores aos 100 graus e por isso podem

ser eliminadas simplesmente fervendo

água.No mar profundo a situação é diferen-

te e “os organismos têm capacidade de

resistência em condições extremas”,acrescenta o responsável do IMAR. Estasdescobertas têm vindo a suscitar umóbvio interesse por parte da indústriafarmacêutica, que acompanha de pertoo trabalho dos investigadores. Isto por-que a descoberta dos princípios bioacti-vos que tornam as bactérias tão resis-tentes permitiria abrir um mundo depossibilidades no tratamento e preven-ção de doenças.

Investigadores do IMAR acompanhama evolução dos campos hidrotermais dosAçores não só com descidas às zonas emque existem estes campos, mas tambémcom a reprodução em laboratório dascondições das grandes profundidades. Éprecisamente através da recriação doque existe no fundo do mar que os in-vestigadores têm possibilidade de anali-sar o comportamento dos organismosque vivem nos campos hidrotermais.

REDE NACIONALDE INVESTIGADORES

Nasceu para criar uma rede de investi-gadores mas hoje é um importante póloaglutinador do trabalho científico que sefaz em Portugal ligado ao mar. OInstituto do Mar deu os primeiros passosno início da década de 90 mas rapida-mente se afirmou como um parceiro es-tratégico dos poderes públicos para asdecisões políticas ligadas ao mar, e àágua de um modo geral.

O instituto tem hoje a funcionar emrede sete unidades de investigação dis-persas entre Coimbra, Lisboa, Évora,Algarve e os Açores. Uma rede que inte-gra mais de 300 investigadores, sendoque destes cerca de 140 são doutorados.

Um trabalho contínuo feito pelos mem-bros do IMAR é o de apoio aos váriosgovernos na implementação da Directivaquadro da Água. A colaboração tem

vindo a ser desenvolvida sobretudo como Instituto da Água, um trabalho em que“nós somos o software”, sublinha o pre-sidente do IMAR.

É com agrado que João Carlos Mar-ques, biólogo marinho de formação,constata que “o mar em termos do quesão as agendas políticas passou a ter umlugar”, apesar disso não ter ainda osefeitos práticos desejados. “Nós temosuma vocação marítima que tem sido dei-xada adormecida”, lamenta o Vice-Reitor. A falta de estratégia tem impedi-do um bom aproveitamento do potenci-al do mar, uma situação que os váriosprojectos de investigação do IMAR ten-tam contrariar.

O trabalho do Instituto do Mar desen-volve-se em diferentes áreas, como a bi-ologia marinha, a aquacultura, a gestãode zonas costeiras, a análise de impac-tos ambientais ou o transporte de sedi-mentos. O instituto dedica-se também àanálise da poluição ou da toxicologia,bem como a realizar modelação ecológi-ca e hidrodinâmica.

ENERGIA DAS ONDAS

A mais recente das apostas doInstituto é no aproveitamento da ener-gia das ondas. Já foi apresentada umaproposta para desenvolver um estudosobre o assunto. João Carlos Marquesdiz estar “muito esperançado de que oprojecto será financiado”, isto tendo emconta que o Governo português já decla-rou total prioridade às questões ligadasàs energias renováveis.

O projecto do IMAR vai dividir-se emduas vertentes. Por um lado, a análisevai debruçar-se sobre a forma de produ-ção de energia, e por outro será avalia-do o impacto ambiental que poderá tera instalação dos equipamentos paraaproveitamento da força das ondas.

ATAQUEAOS LAGOSTINS DO NILO

Um dos projectos em que o IMAR está

envolvido é o de livrar o Rio Nilo de

uma praga de lagostins. A grande con-

centração desta espécie provoca estra-

gos avultados e o instituto teve já uma

experiência neste âmbito no Baixo

Mondego, onde há alguns anos se veri-

ficou um problema semelhante.

A praga de lagostins teve um enorme

impacto ambiental no Rio Mondego, já

que os agricultores, em muitos casos,

recorreram ao uso de pesticidas, o que

provocou outros efeitos indesejados. O

problema dos lagostins é que escavam

com grande facilidade e, no caso do

Baixo Mondego, isso representou uma

série ameaça à cultura do arroz. Mas o

IMAR conseguiu encontrar “uma solução

que permitiu controlar a situação”,

tendo a questão ficado resolvida, expli-

ca João Carlos Marques,

Agora, no Nilo, os buracos feitos pelos

lagostins são mais uma vez o problema,

já que estão a causar graves danos nos

sistemas de irrigação que existem ao

longo do rio.

O IMAR está, pois, a colaborar com os

técnicos egípcios que tentam resolver o

problema. A solução encontrada para o

Baixo Mondego vai, desse modo, ser

também aplicada no Egipto.

Esta colaboração surge na sequência

de vários programas de cooperação que,

ao longo dos últimos anos, o IMAR tem

desenvolvido com países do Norte de

África, em particular, Marrocos, Tunísia e

Egipto. Em trabalhos financiados pela

União Europeia, o Instituto fez já a ca-

racterização da qualidade ambiental das

águas costeiras dos três países. Um tra-

balho que incluiu igualmente o planea-

mento de um desenvolvimento susten-

tável para essas zonas costeiras, de

forma que os países possam aproveitar

esses recursos do modo mais equilibra-

do e eficaz.

Numa segunda fase, a colaboração

com os países do Norte de África passou

não só pelas zonas costeiras, mas es-

tendeu-se igualmente às bacias hidro-

gráficas, abrangendo assim também

zonas de água doce. Na linha do traba-

lho que já tinha sido feito, também

neste caso foi realizada uma análise dos

ecossistemas, para fornecer dados aos

decisores políticos quanto às melhores

opções a tomar.

VICE-REITOR DA UC PRESIDE A INSTITUTO COM MAIS DE 300 INVESTIGADORES DE VÁRIAS UNIVERSIDADES

DDeessccoobbrriirr aa vviiddaa nnoo ffuunnddoo ddoo mmaarr

João Carlos Marques

Page 4: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

4 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

SEMANA CULTURAL

Cerca de uma centena de realizaçõesmuito diversas, a decorrer em Coimbra eem vários outros pontos da RegiãoCentro, fazem da Semana Cultural daUniversidade de Coimbra, que hoje (dia1 de Março) se inicia, a maior e – justifi-cadamente se espera – a melhor de sem-pre.

Depois da Expo-98, esta é, seguramen-te, a realização mais importante e demaior vulto, relacionada com a água,que se leva a cabo em Portugal. E cons-titui também, sem margem para dúvidas,o mais vasto conjunto de iniciativas cul-turais a decorrer em Coimbra num tãocurto espaço de tempo.

À frente da pequeníssima equipa quetem vindo a organizar este raro e valio-so programa está o Pró-Reitor para aCultura, Prof. João Gouveia Monteiro,que destaca, ao “Jornal da Univer-sidade”, a originalidade do tema, mastambém o seu interesse e a sua abran-gência.

Abrangência em termos das entidadesparticipantes, mas também de destinatá-rios, uma vez que há realizações nasmais diversas áreas e para todos os gos-tos.

“É um tema de forte identidade nacio-nal, muito amplo do ponto de vista cien-tífico e excelente também no plano daspráticas de representação culturais. É,além disso, um tema muito oportuno,pois falar do mar, da água, dos recursoshídricos ou do meio ambiente, é discutirum dos problemas mais importantes danossa vida em sociedade e do futuro donosso Planeta”.

Daí que todas as Faculdades tenhamaderido com entusiasmo, tal como ou-tras estruturas e serviços da ComunidadeUniversitária e da Associação Académicade Coimbra, dando o seu contributo paraa extensão e a riqueza do programa. Masa iniciativa conta com a participação, di-recta e indirecta, de muitas outras enti-dades, desde autarquias até ao Governo(através do Ministério da Defesa e dosAssuntos do Mar), passando por outrasinstituições públicas e privadas.

“DE MAR A MAR”DE COIMBRA ATÉ À COSTA

De Mar a Mar. Uma designação muitofeliz para esta “Semana” (que até nissoé original, pois será uma semana deonze dias!...). O Pró-Reitor para a Culturarevelou-nos que, escolhido o tema, a de-

signação “De Mar a Mar” foi sugeridapor João André, Professor da Faculdadede Letras. Identificado o padrinho, volte-mos a ouvir o mentor desta oitava edi-ção da Semana Cultural, João GouveiaMonteiro:

“Consolidando e ampliando a evoluçãodo ano anterior, em que a SemanaCultural da U. C. se alargou visivelmenteao conjunto da cidade, esta edição nãose circunscreve a Coimbra, mas antes seestende até ao mar. Mais concretamente,à Figueira da Foz (Centro de Artes eEspectáculos, que será palco de um dospontos mais altos do programa), a Íhavo(Museu Marítimo), passando porCantanhede (Museu da Pedra), e indoaté uma série de outros pontos doLitoral Centro, como Óbidos e Peniche(que serão objecto de visitas guiadas)”.

E o Pró-Reitor sublinha:“É um evento para todos os tipos de

público, de todas as idades, cobrindoquase todas as áreas científicas e cultu-rais. Tal como sucedeu com a SemanaCultural do ano passado, é seguro queos seus efeitos se prolongarão para alémdo respectivo encerramento, por via dasexposições que continuarão patentes aopúblico, dos ciclos de conferências queprosseguem e dos espectáculos que semanterão em cena”.

“TANTO MAR”PLURICONTINENTAL

O programa da “Semana Cultural” re-veste-se de extraordinária diversidade:teatro, cinema, música, dança, canto, lei-tura, exposições científicas e de artesplásticas, conferências, visitas guiadas.

De todas estas manifestações, talveznão seja exagero afirmar que a mais em-polgante deverá ser o espectáculo inti-

tulado “Tanto Mar”, que decorre naFigueira da Foz.

“Arrebatador” – eis como João GouveiaMonteiro antevê esta festa de música epoesia pluricontinental.

Um aspecto que igualmente avultarána “Festa dos Sons, dos Saberes e dosSabores”, organizada pelas associaçõesdos estudantes da Comunidade dosPaíses de Língua Portuguesa (CPLP) naUniversidade de Coimbra, com a colabo-ração do Centro de Estudos Sociais daFaculdade de Economia e do Centro deDocumentação 25 de Abril. Para além damostra de gastronomia das ex-colóniasportuguesas, os estudantes oriundosdesses países (cerca de um milhar), vãofazer animação de rua, que certamentecontagiará a população com a sua habi-tual alegria espontânea.

DA ARTE DE LERAO SERÃO POPULAR

A VIII Semana Cultural começa hoje(quarta-feira, dia 1 de Março), pelas 9,30horas, no Arquivo da U. C., com o lança-mento da terceira edição do concurso deleitura paleográfica intitulado “A Arte deLer”. Segue-se, pelas 12 horas, na Capelade S. Miguel, a celebração de MissaSolene, com a participação dos Coro dosAntigos Orfeonistas.

Pelas 14,30 horas de hoje, noAuditório da Reitoria, decorre a SessãoSolene comemorativa dos 716 anos daU. C., que inclui a entrega do PrémioUniversidade de Coimbra à Prof.ª MariaHelena da Rocha Pereira (a primeiraMulher que se doutorou pela Univer-sidade de Coimbra, e que concedeu umaentrevista muito interessante ao “Jornalda Universidade”, que se publica mais àfrente, nesta edição). A encerrar este pri-meiro dia, pelas 21,30 horas, no Teatrode Gil Vicente, um concerto pelaOrquestra Sinfónica ARTAVE.

Onze dias depois (A 11 de Março), aencerrar a Semana Cultural, haverá umespectáculo pelo Orfeon Académico deCoimbra e, nessa mesma noite, umSerão Popular, promovido pela Casa dePessoal da U. C. no Teatro PauloQuintela.

Entre a abertura e o fecho, Coimbra eoutros pontos da Região Centro serãoinundados por uma espantosa maratonade eventos que certamente tornarão me-morável esta VIII edição da SemanaCultural da Universidade.

“DE MAR A MAR” – VIII SEMANA CULTURAL DA UC

MMaarréé cchheeiiaa ddee aaccttiivviiddaaddeessppaarraa ttooddooss ooss ggoossttooss

João Gouveia Monteiro

Page 5: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

5JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

SEMANA CULTURAL

DIA 1 MARÇO | QUARTA-FEIRA

09h30 - Arquivo da U.C. (Sala D. João III)Concurso (de âmbito nacional) de leitura pa-leográfica “A Arte de Ler”. Trata-se da 3.ªedição de um Prémio que visa estimular apaleografia de leitura e, consequentemente,o rigor e a originalidade no trabalho de in-vestigação científica.

14h30 - Auditório ReitoriaSessão Solene Comemorativa do 716ºAniversário da UC.

21h30 - TAGVConcerto de Aniversário da UC, pelaOrquestra Sinfónica ARTAVE.I Parte: “História Trágico-Marítima”, deFernando Lopes Graça (Solista: OliveiraLopes, Coro: UCEnsemble )II Parte: “Sinfonia do Novo Mundo”, deDvorâk Entrada gratuita

DIA 2 MARÇO | QUINTA-FEIRA

10h00, 11h30, 15h00 - Jardim Botânico“De mar a mar – há ir e provar” – pelaCamaleão, actividade lúdico pedagógica, re-alização de um “peddy-paper” seguido desessão culinária, no terraço do Jardim dasDescobertas do JBC, organizado segundo acronologia dos Descobrimentos, dar a co-nhecer as plantas e suas origens, as rotasmarítimas, etc.Sessões até dia 11 (sábados só às 15h

14h30 - Auditório ReitoriaSimpósio “MAR E SAÚDE- Sessão de Abertura - “Travessias Marítimas e Desenvolvimentoda Farmácia: Perspectivas Actuais eFuturas.” Moderador: Gabriela Jorge da Silva.- “A inovação de além-mar: a farmácia emPortugal e as drogas americanas. Algunscasos e protagonistas (Sécs. XVIII-XX).”,João Rui Pita.- “O mar e a descoberta de medicamentos.Uma ponte para o futuro.”, Luísa Sá Melo.- Produtos marinhos na saúde humana: pas-sado, presente e futuro.”, Maria TeresaBatista e Carlos Cavaleiro.- “O medicamento, a investigação farmaco-lógica e o mar.”, Margarida Caramona eIsabel Vitória.- “Mar, Beira -Mar e Saúde Pública:Factores Ambientais de Risco.”Moderador: João Canotilho.- “Protectores solares: prevenção: dos riscosna saúde da pele.”, M. Lurdes Rebelo eJoão José Sousa;- “Contaminação e resíduos tóxicos no mar:impacto ambiental/impacto na saúde huma-na.”, Isabel Rita Barbosa.- “Agentes biológicos”, João Poiares daSilva e Maria do Céu Sousa.- “Benefícios e riscos de produtos do mar.”,Irene Noronha Silveira e colaboradores.

14h30 - Sala de S. Pedro (BGUC) Até dia10“O mar é sempre tenebroso”Mostra sobre Monstros marinhos antigos emodernos nas colecções da BGUC.

15h00 - FLUC (Anf. IV- 5º piso)Ciclo de conferências: “MARE OCEANUS -Atlântico – espaço de diálogo”: - “A Solidariedade Atlântica”, por AdrianoMoreira.

17h00 - Colégio das Artes(x2) Paisagens Aquáticas – Waterfronts (x2)ExposiçãoAs paisagens aquáticas são hoje tema re-corrente e estimulante – no imaginário e nodesenho das novas paisagens – em todosos processos de requalificação ambiental, e

no reforço do conforto urbanístico ou da re-presentação e visibilidade urbanas, a umaescala alargada, ou mesmo mundial.Módulo 01. Mostra – cidades e frentes deáguaRevisita à Exposição organizada no Centrode Estudos da FAUP, em 1998, e comissari-ada pelo Prof. Arq.to Nuno Portas, que faráa sua introdução e apresentação;Módulo 02. Mostra de Painéis – Frentes deÁgua Projectos desenvolvidos por estudantes doDarq-FCTUC, sob regência do Prof. Arq.toGonçalo Byrne (Coordenador das disciplinasde Projecto do Darq-FCTUC), que fará asua introdução e apresentação. Trabalhosacadémicos para renovação de “Frentes deÁgua Urbanas de Aveiro” e também de“Frentes Portuárias e Marítimas da Figueirada Foz e da Nazaré” (com painéis de exer-cícios premiados pelo “Prémio Secil –Universidades”, ao longo dos últimos anoslectivos).

18h00 - Colégio das Artes (DARQ)CIDADE E MAR. Paisagens AquáticasCiclo de Debates (e conversa aberta com osautores):Apresentação de paisagens aquáticas re-centes, incluídas em projectos de transfor-mação de frentes de água, ribeirinhas oumarítimas, em território nacional e estrangei-ro.1ª Sessão – Parque Verde do Mondego –CoimbraConvidados:Mercês Vieira & Camilo Cortesão (MVCCArquitectos) com o Prof. João FerreiraNunes (Arquitecto Paisagista – ISA-UTL). A sessão de debate será conduzida peloProf. Arq.to Domingos Tavares (Presidenteda Comissão Científica da FAUP)

21h30 - TAGVInício do Ciclo de Cinema Mar Português- “Agosto” (Jorge Silva Melo, 1988), no dia 8haverá um debate “O cinema português e omar” organizado pela Fila K

DIA 3 MARÇO | SEXTA-FEIRA

09h30 - Faculdade de EconomiaColóquio: “A Economia Marítima (ainda)existe?”-Sessão de aberturaPainel 1 - “Economia e RecursosHaliêuticos, Direitos e Teorias Económicas”:-“Geopolítica dos recursos haliêuticos e coo-peração internacional”, conferência porMário Ruivo (Comité OceanográficoIntergovernamental da UNESCO);- Conferência com Guy de Beaupré, DirectorGeneral of International Affairs in Fisheriesand Aquaculture Management at Fisheriesand Oceans Canada.- “Direito do Mar e éticas de regulação”,José Manuel Pureza (FEUC)- “Teoria económica dos RecursosRenováveis marinhos”, Rui Junqueira Lopes(Universidade de Évora)Painel 2 – “Economias do Mar”:- “Quanto vale o mar na economia galega?”,Manuel Varela (Universidade de Vigo);- “Quanto Vale o mar na economia portu-guesa?”, Nuno Valério (ISEG);Painel 3 - “Um mar de oportunidades: em-presas e gestores”:-“O porto de Lisboa e o transporte marítimointernacional”, Luís Figueiredo(Administrador do Grupo ETE, operadoresportuários);- “A pesca longínqua portuguesa – presentee futuros”, Aníbal Paião (ADAPI,Administrador da Pascoal &Filhos Lda.);- “A indústria transformadora de bacalhau –um negócio global”, Joselito Lucas(Administrador da Lugrade e ex-aluno daFEUC);- “Cultivar o mar – a aquacultura emPortugal”, Alexandre Lobo Cunha (Inst.Ciências Biomédicas Abel Salazar)

DIA 4 MARÇO | SÁBADO

14h30 - Pequeno Auditório do Centro deArtes e Espectáculos (Fig. da Foz) Mesa-Redonda sobre “O Mar como factor estraté-gico do desenvolvimento de Portugal”Moderador: Duarte Silva (Presidente da C.M. F. Foz)Participantes: Tiago Pitta e Cunha (Com.Estratégica para os Oceanos), Manuel LoboAntunes (Sec. Estado da Defesa Nacional edos Assuntos do Mar), Carlos Sousa Reis(FCUL, Coord. Programa FINISTERRA),Luís Tadeu Almeida (IST) e Nuno VieiraMatias (ex Chefe Estado Maior da Armada).

21h30 - Centro de Artes e Espectáculos(Fig. da Foz)Espectáculo: “Tanto Mar”, selecção literáriade Paulo Filipe, direcção musical de LaurentFilipe, vídeo de Nuno Rebelo, com PauloFilipe e Sílvia Filipe. Uma viagem por dife-rentes continentes, separados e unidos pelomar, através da poesia de autores de váriospaíses de língua portuguesa. Espectáculode 1h20, produzido expressamente para aVIII Semana Cultural da UC. Alia a compo-nente literária com um forte elemento musi-cal (sobretudo jazístico) e ainda com projec-ções de imagens de mar em filmes de lín-gua portuguesa. Grande Auditório doCAE (F. Foz) Entrada gratuita

DIA 5 MARÇO | DOMINGO

21h30 - TAGVCiclo de Cinema “Mar Português”:- “À Flor do Mar” (João César Monteiro,1986)

DIA 6 MARÇO | SEGUNDA-FEIRA

10h30 - Anfiteatro da FPCEMares de Discussão [resultado dos ateliersde formação, Arquipélago Virtual, Dez.-Jan]–Lançamento oficial dos blogs editados porgrupos de alunos e professores da FPCE;atribuição de prémios aos cinco melhoresblogs.

14h30-18h30 - Anfiteatro NobreDEQ/FCTUC (Pólo II)Simpósio – “A Engenharia Química e o Mar.Aproveitamento de recursos naturais”:- Apresentação e Introdução;- “A Cultura de microalgas em fotobioreacto-res”, por Jorge Rocha (DEQ-FCTUC);- “A produção de pigmentos e anti-oxidantescom microalgas marinhas”, por MartaHenriques (ESAC);- “A dessalinização de água do mar comtecnologia de osmose inversa”, por LícinioFerreira (DEQ-FCTUC);- “Aplicações de polissacarídeos de algas ede crustáceos”, por Mª Helena Gil (DEQ-FCTUC);- “O potencial da Biotecnologia Marinha – adescoberta de novos compostos com activi-dade terapêutica”, por René Wijffels, Univ.Wageningen (Holanda);- “Gestão e valorização de subprodutos dapesca”, por Ricardo Isaac Perez Martin(Conselho Superior de InvestigaçõesCientíficas, Galiza)- Projecção áudio visual de documentáriosalusivos ao tema.- Debate, Encerramento e conclusões fi-nais.

DIA 7 MARÇO | TERÇA-FEIRA

9h30-13h00 e 15h00-18h00 - Arquivo daU.C - Sala D João IIIColóquio “Mediterrâneo, Orientes eGlobalização”- 9h30: Abertura- 10h00: Mesa redonda sobre “Política eSociedade”, com Maria de Fátima Silva(FLUC, moderadora), Boaventura de SousaSantos (FEUC/CES), Maria Jesús Merinero(Univ. de Cáceres) e Djalal Sattari(Investigador).- 15h00: Mesa-redonda sobre “Cultura”, com

Embaixador João de Deus Ramos (Fund.Oriente, moderador), Cláudio Torres, LadaEftekhari, Luís Filipe Thomaz (Univ.Católica) e Pirouz Eftekhari (FLUC).15h30 – 18h30 - Largo D Dinis“Festa de Sons, Saberes e Sabores II” –Partilha festiva e interactiva de conhecimen-to, de tradições e de diferentes formas deser e de estar entre os promotores e o públi-co. Organização de estudantes e associa-ções representantes dos estudantes deAngola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor naUC, enquadradas pelo CES e pelo CD 25de Abril. Actividades: oficinas de dança, mú-sica, teatro e artes plásticas, encontro comescritores, artesanato, jogos e prova de be-bidas e petiscos.

18h00 - Arquivo da UC-Sala D.João IIIInauguração da Exposição de CaligrafiaPersa e Árabe (Editions Alternatives).Complementada com peças do CampoArqueológico de Mértola.

21h30 - TAGVEspectáculo de Música Iraniana comHushang Djavid, acompanhado pelo instru-mentista/percussionista Arsalan Kaveh.

DIA 8 MARÇO | QUARTA-FEIRA

10h00-12h00 - Complexo Olímpico dePiscinas - SolumBaptismo de mergulho e Introdução àsActividades de Exploração Subaquática.Iniciação ao mergulho e sensibilização paraa actividade de investigação aliada àArqueologia. Com o Mestre Luís Rama(FCDEF) e o Doutor Vasco Mantas (IA-FLUC). Para estudantes, docentes e funcio-nários da UC.

15h00 -18h00 - Complexo Olímpico dePiscinas - SolumJogos Aquáticos – Actividades de recreaçãoaquáticas, para a comunidade universitáriae as escolas secundárias do distrito deCoimbra. Equipas mistas, com 5 a 10 parti-cipantes (prémio: 75€). Com o Mestre LuísRama (FCDEF).

21h30 - TAGVCiclo de Cinema “Mar Português”- Exibição do filme “Zéfiro” (José ÁlvaroMorais, 1994), seguido de debate sobre otema “O mar no cinema português”, comLuís Sousa Martins (Antropólogo), PauloGranja (Historiador), Álvaro Garrido(Docente da FEUC)

DIA 9 MARÇO | QUINTA-FEIRA

10h00 - Anfiteatro IV da FLUCCongresso Internacional: “O Mar Greco-Romano”- “La mar. Un archivo bien protegido”, por J.M. Manuel Martin-Bueno (Univ. Saragoça),- “O Reino de cristal, líquido e manso: deri-vas de utopia na épica de Camões”, por J.A. Cardoso Bernardes (UC)12h00: - “O mar greco-romano antes deGregos e Romanos”, por Ana MargaridaArruda (Univ. Lisboa) e Raquel Vilaça (UC),- “Les Phéniciens, entre terres et mer”, porPierre Rouillard (CNRS-Paris)14h30: - “O mar na comédia plautina”, porAires do Couto (Univ. Católica Portuguesa),- “I socii navales e l’affermarsi di Romacome potenza marítima”, por Alfredo Valvo(Univ. Católica Sacro Cuore, Milão),- “Hispania y el mediterrâneo en los siglos IIy I A. E.”. por Francisco Beltrán Lloris (Univ.Saragoça)16h30 : - “La bataille navale d’Aegitna.Première intervention des Romais en Gaule”por Pascal Thiercy – D. Mathieu-Pavard(Univ. Brest), - “Monedas Viajeras”, por Francisca ChavesTristán (Univ. evilla)

15h00 - Observatório Astronómico da UCPalestra sobre Instrumentos de navegação

astronómica, desde os Árabes até ao finaldo Séc. XIX. Exibição do anel náutico inven-tado por Pedro Nunes (fabricado no Ob.Astr., segundo a descrição do cientista) e dealguns instrumentos e documentos relevan-tes. Exercícios de medição.- Exposição de instrumentos, cartas e livrossobre navegação pertencentes à colecçãoAstronómica.

21h30 - TAGVConclusão do Ciclo de Cinema “MarPortuguês”- “Água e Sal” (Teresa Villaverde, 2001)

DIA 10 MARÇO | SEXTA-FEIRA

10h00 às 13h00: - Casa Municipal daCulturaFórum da “Água e da Saúde”- Sessão de abertura, por João GouveiaMonteiro (Pró-Reitor para a Cultura UC),João Páscoa Pinheiro (FMUC) - A água e a saúde. Ciência e cultura, PedroCantista/HGSA),- Princípios de Hidroterapia, a água comoagente físico, João Páscoa Pinheiro(FMUC),- A água como agente químico, Tice Macedo(FMUC)- Recursos naturais e crenoterapia,Frederico Teixeira (FMUC),- Actividades aquáticas no contexto de pro-cura e oferta de programas de actividadesfísicas e desportivos, Manuel João (FCDEF-UC),- Discussão- Conclusão, João Gouveia Monteiro (Pró-Reitor para a Cultura UC), João PáscoaPinheiro (FMUC)

Todo o dia - Auditório da FDUCColóquio “O MAR APROXIMANDO OSPOVOS: A UNIVERSALIZAÇÃO DO DIRE-ITO” (com a participação de docentes daFDUC e de outras universidades portugue-sas, e também de alguns convidados es-trangeiros – a indicar)- Sessão de AberturaPainel 1- A Europa e a Universalização doDireito:- Civilização de Direito e Universalização,- O Relevo do Direito Comparado no âmbitodo Direito Comunitário, Painel 2 – A Universalização dos Direitos doHomem- Direito Penal Internacional, - A CEDH e outros Instrumentos NormativosInternacionais de Protecção dos Direitos doHomem, Painel 3 – Os Movimentos de CodificaçãoInternacional- Um Código Civil para a Europa,- Instrumentos Internacionais deUniformização e Harmonização das regrasde Direito Internacional Privado.

DIA 11 MARÇO | SÁBADO

21h30 - TAGV“OS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESESE O MAR”Espectáculo que pretende ilustrar musical-mente o caminho percorrido pelo povo por-tuguês. I Parte – “Música Portuguesa do Períododos Descobrimento”: Ay Mi Dios e ReginaCoeli de D. Pedro de Cristo e ClamabatAutem Mulier de Pedro Escobar;II Parte – “As Descobertas”: No Mar deEmílio Porto, Olhos Negros de Ana PaulaAndrade, Morte que Mataste Lira de AdelinoMartins, Minas com Bahia de Chico Amaral,Azulão de Jaime Ovalle, Leãozinho deCaetano Veloso e Kolele Mai de SimãoBarreto. Sendo o Brasil e África marcos derelevo nesta temática serão convidados um

DDeesstt qquueessaa AA sseegguuiirr ssee rreeffeerreemm aallgguummaass ddaass aaccttiivviiddaaddeess mmaaiiss ssiiggnniiffiiccaattiivvaassddoo vvaassttííssssiimmoo pprrooggrraammaa ddaa VVIIIIII SSeemmaannaa CCuullttuurraall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee ddee CCooiimmbbrraa

Page 6: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

6 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

MULHER

A primeira mulher a exercer o cargo de

juiz em Portugal foi Ruth Garcez.

Nascida em Moçambique em 1934,

licenciou-se em Direito na Universidade

de Coimbra em 1956. Entrou na

magistratura judicial em 1977, foi juiz

de Direito até 1993 e juiz desem-

bargadora até 2005, altura em que se

jubilou.

Também a primeira mulher a ingressar

no Supremo Tribunal de Justiça se

licenciou em Direito na Universidade de

Coimbra (com a particularidade de o ter

feito como aluna voluntária, sem assistir

a qualquer aula). Trata-se de Laura de

Carvalho Santana Maia Tomás Leonardo,

que tomou posse como Juiz Conselheira

do STJ a 27 de Maio de 2004.

"Pobres mulheres! Elas são-nos bem inferiores [...] pelaanatomia dos ossos e dos mús-culos e pela constituição do cé-rebro. Elas têm a cabeça maispequena, como as raças inferio-res, têm os movimentos centrí-petos, abotoam os vestidospara a direita, não sabem com-por óperas, e nunca chegam aentender a matemática".

Assim escrevia Ramalho Orti-gão, convictamente, sem pre-tender ser irónico, no últimoquartel do séc. XIX!...

Mas estas “farpas” machistasnão eram monopólio deRamalho.

Também Oliveira Martins re-clamava, pela mesma altura:

"Em vez de se fazerem dou-toras, neste nosso modo de verfóssil e bárbaro, era melhor fa-zerem-se caixeiras, fazerem-secompositoras, fazerem-se boti-cárias, fazerem-se tudo, menos

essa ridícula contrafac-ção de homens"

A verdade é que seespanta a rudeza destasafirmações, igualmentesurpreende o que MariaAmália Vaz de Carvalhosustentava, já quase nofinal desse século:

"A mulher, graças àsua inferioridade social,graças à tradição que atem posto fora da esfe-ra em que se trabalha ese versam os altos pro-blemas da ciência, gra-ças à sua dependênciada casa familiar, tem-seconservado longe datortura, cada vez maisrequintada, que a ins-

trução moderna impõe ao indi-víduo do sexo masculino".

Perante tudo isto, não é es-tranho que nessa época (maisconcretamente em 1891) tenhasido encarada como quase es-candalosa ousadia a matrículada primeira mulher naUniversidade de Coimbra. A pi-oneira chamava-se DomitíliaHormezinda de Carvalho, queviria a notabilizar-se não sópelos três cursos que frequen-tou na Universidade deCoimbra, mas também pelo seutrabalho em prol da educaçãodas mulheres, na defesa da cri-ação do primeiro Liceu femini-no, e ainda pela actividade po-lítica, tendo pertencido aogrupo das três primeiras depu-tadas do Estado Novo. Depoisdas licenciaturas em Mate-mática (1894) e Filosofia (1895),concorre ao lugar de astrónoma

no Observatório D. Luís I. Olugar não lhe é atribuído porser mulher, apesar de ter ficadoem primeiro lugar. Decideentão seguir Medicina (1904)aproveitando as cadeiras co-muns dos primeiros anos dosoutros cursos.

O exemplo de Domitília deCarvalho é tanto mais meritórioquanto é certo que a própria le-gislação então vigente condicio-nava os direitos das mulheres.O Código Civil Português (de1867), atribuía ao marido a obri-gação de protecção e defesa,cabendo à mulher o dever deobediência, e retirando-lhe todaa autonomia na administraçãodos bens familiares. Muito curi-oso, e elucidativo, é o artigo1.187 do referido Código, segun-do o qual "A mulher autora nãopode publicar os seus escritossem o consentimento de mari-do, mas pode recorrer à autori-dade judicial em caso de injus-ta recusa dele"…

A seguir a Domitília deCarvalho, outras mulheres deci-diram matricular-se naUniversidade. Entre elas MariaVirgínia Pestana, felizmenteainda viva e a residir emCoimbra, e que quase a com-pletar a belíssima idade de 107anos mantém contagiante jo-vialidade e invejável memória –como pode verificar-se no textoque a ela dedicamos nesta edi-ção.

Outra Mulher marcante na UCfoi, e é, Maria Helena da RochaPereira, que igualmente conce-deu uma entrevista com muitointeresse ao “Jornal da Univer-

sidade” – e que pode ler-se naspáginas centrais.

Mas este tema da evoluçãoda Mulher na Universidade, ena sociedade em geral, tãovasto quanto aliciante, temsido objecto de valiosos traba-lhos de investigação. Entre elesos da Prof.ª Irene Vaquinhas,

da Faculdade de Letras, quenos facultou muito materialsobre a matéria, a maior partedo qual ficou por referir. Assim,e na sequência desta primeiraabordagem (algo superficial porlimitações de espaço), voltare-mos ao assunto em próximasedições.

DDee ““ppoobbrreess mmuullhheerreess iinnffeerriioorreess””aa mmaaiioorriittáárriiaass nnaa UUnniivveerrssiiddaaddee

Magistradas pioneiras saíram da UC

Laura Leonardo Ruth Garcez

Reprodução de parte de artigo publicado em 29 de Janeiro de 1912 pela revista AIlustração Portuguesa

Domitília Carvalho, a primeira alunada Universidade de Coimbra

Page 7: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

A primeira mulher que frequentou aUniversidade de Coimbra foi PúbliaHortênsia, no séc. XVI, mas disfarçada dehomem!... (ver caixa).

A primeira que ousou assumir-se comoestudante do sexo feminino foi DomitíliaCarvalho, em 1891. E desde esse ano até1896 a Universidade de Coimbra foi fre-quentada por uma única mulher.

Depois, a progressão feminina na UCevoluiu da seguinte forma:

De 1896 a 1898: 3 mulheres.No ano lectivo 1898/1899: 2 mulheres.No ano lectivo 1899/1900: 6 mulheres.No ano lectivo 1900/1901: 7 mulheresNo ano lectivo 1901/1902: 8 mulheresNo ano lectivo 1902/1903: 5 mulheresNo ano lectivo 1903/1904: 4 mulheresNo ano lectivo 1904/1905: 3 mulheres

HHáá 110000 aannooss (ano lectivo 1905/1906)frequentaram a Universidade de Coimbraapenas 3 mulheres: uma matriculada emMatemática e Filosofia e duas na Facul-dade de Medicina.

EEmm 11991100//11991111 (implantação da Re-pública): 8 mulheres.

Neste mesmo ano lectivo a Universi-dade era frequentada por 1.355 alunos.

No seu corpo de funcionários não

existia ainda qualquer mulher.Em 19 de Dezembro de 1911 assume

funções, na Faculdade de Letras, a pri-meira mulher professora da Universidadede Coimbra: Carolina Michaelis.

No ano lectivo de 1925/26 (há 80anos) é pela primeira ultrapassada a cen-tena: 105 mulheres estudantes.

HHáá 5500 aannooss (ano lectivo 1955/56) aUniversidade era frequentada por 4.278 alu-nos, sendo 2.781 homens e 1.497 mulheres.

HHáá 3355 aannooss (no ano lectivo de1970/71), as mulheres ultrapassam oshomens, pela primeira vez: dos 9.361

alunos inscritos, 4.544 são homens e4.817 mulheres.

No ano lectivo 1974/75 (revolução do25 de Abril e fim da guerra colonial), oshomens voltam a ser mais numerosos:dos 8.582 alunos inscritos, 5.071 eramhomens e 3.511 mulheres.

No ano lectivo de 1982/83 as mu-lheres tornam a ultrapassar os ho-mens: dos 12.394 alunos inscritos,6.103 eram homens e 6.291 mulheres.De então para cá o número de mulhe-res foi sempre superior ao dos ho-mens, em percentagem crescente.

HHáá 2200 aannooss (ano lectivo 1985/86) a di-ferença já era significativa. Dos 13.150alunos, 6.103 eram do sexo masculino e7.047 do sexo feminino.

A realidade actual é a que espelham osgráficos que nesta página se publicam,com dados relativos às diversas Facul-dades (referentes ao ano de 2005).

No que respeita ao corpo docente, emMaio de 1987 a UC tinha 1.175 professo-res, dos quais 823 homens e 352 mulhe-res. Nessa mesma data, dos 278 mem-bros dos Conselhos Científicos das diver-sa Faculdades, 221 eram homens e 57mulheres.

Relativamente aos funcionários, a pri-meira mulher foi contratada no ano lec-tivo de 1911/12.

Mas há 19 anos (em Maio de 1987) asmulheres já suplantavam os homens.Dos 1.808 funcionários, 850 eram ho-mens e 958 mulheres.

A situação que actualmente se verifica,quanto a docentes e não docentes, vaireflectida nos gráficos.

(Alguns dos elementos utilizados para esta cro-nologia foram recolhidos da obra intitulada “AMulher na Universidade de Coimbra”, do Prof.Joaquim Ferreira Gomes, editada pela Almedina em1987)

FARMÁCIA ECONOMIA PSICOLOGIA DESPORTO

DIREITO

FUNCIONÁRIOSDOCENTES

LETRAS MEDICINA CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

7JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

MULHER

CCrroonnoollooggiiaa ee ddaaddooss eessttaattííssttiiccooss

NO SÉCULO XVI

Mulher frequentou a Universidademas disfarçada de homem

PPúúbblliiaa HHoorrttêênnssiiaa ddee CCaassttrroo ffooii aa pprriimmeeiirraa mmuullhheerr aa ffrreeqquueennttaarr aa UUnniivveerrssiiddaaddeeddee CCooiimmbbrraa,, aaiinnddaa nnoo ssééccuulloo XXVVII.. SSóó qquuee,, ppaarraa ttaall,, ddeevvee ddee ooccuullttaarr aa ssuuaaccoonnddiiççããoo ffeemmiinniinnaa ee ddiissffaarrççaarr--ssee ddee hhoommeemm..

NNaasscciiddaa eemm VViillaa VViiççoossaa,, vveeiioo ppaarraa CCooiimmbbrraa jjuunnttaammeennttee ccoomm sseeuu iirrmmããoo JJeerróónniimmooddee CCaassttrroo,, ee cceerrttaammeennttee ccoomm aa ccuummpplliicciiddaaddee ddeessttee ffrreeqquueennttoouu aass aauullaasseennvveerrggaannddoo oo ttrraajjoo mmaassccuulliinnoo.. NNaa UUnniivveerrssiiddaaddee ddee CCooiimmbbrraa eessttuuddoouuHHuummaanniiddaaddeess ee FFiilloossooffiiaa,, ddee qquuee ddeeffeennddeeuu ccoonncclluussõõeess ppúúbblliiccaass eemm ÉÉvvoorraa,,qquuaannddoo ttiinnhhaa aappeennaass 1177 aannooss,, oo qquuee ccaauussoouu eennoorrmmee eessppaannttoo ((ee,, ppoorr cceerrttoo,,eessccaannddaalliizzoouu mmuuiittaa ggeennttee)).. EEssttuuddoouu ttaammbbéémm TTeeoollooggiiaa ee,, ppaarraa aalléémm ddee eerruuddiittaa,,vviirriiaa aa ttoorrnnaarr--ssee ggrraannddee oorraaddoorraa,, tteennddoo ddeeffeennddiiddoo,, ppeerraannttee FFiilliippee IIII ddee EEssppaannhhaa,,iiddeeiiaass tteeoollóóggiiccaass qquuee iimmpprreessssiioonnaarraamm oo mmoonnaarrccaa ddee ttaall ffoorrmmaa qquuee eessttee llhheeccoonncceeddeeuu tteennççaa ddee 2200..000000 rreeiiss ((aapprreecciiáávveell qquuaannttiiaa ppaarraa aa ééppooccaa)).. VViirriiaa aa ffaazzeerrppaarrttee ddaa ccoorrttee qquuee rrooddeeaavvaa aa IInnffaannttaa DD.. MMaarriiaa,, tteennddoo ffaalleecciiddoo eemm 11559955.. DDeeiixxoouuooss sseegguuiinntteess mmaannuussccrriittooss:: ““PPssaallmmooss””,, ““PPooeessiiaass vváárriiaass llaattiinnaass ee ppoorrttuugguueessaass””,,““CCaarrttaass llaattiinnaass ee ppoorrttuugguueessaass”” ee aaiinnddaa uumm ooppúússccuulloo iinnttiittuullaaddoo ““FFlloossccuulluusstthheeoollooggaalliiss””..

Page 8: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

8 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

OPIN IÃO

Por CRISTINA ROBALO CORDEIRO

Há alguns meses, o reitor da

Universidade de Harvard suscitava uma

espécie de escândalo pondo em dúvida

as capacidades científicas do espírito fe-

minino. A revista Time acaba de publicar

um inquérito “Women in Germany” onde

se lê que há apenas 6% de docentes mu-

lheres, na área das ciências, naquele

país. Por contraste, a Universidade de

Coimbra pode orgulhar-se de ser maiori-

tariamente feminina: as estudantes são

em maior número e, entre os docentes

doutorados, o universo de mulheres

cresce de forma exponencial. Que pode-

mos pensar desta evolução? Tratar-se-á

de um fenómeno novo na história da

Universidade? Poder-se-á arriscar um pa-

ralelo entre esta mutação e o desapare-

cimento do clero que, durante séculos,

havia constituído a quase totalidade do

corpo docente? Se os laicos tomaram o

lugar dos clérigos, no decurso do século

XVIII e sobretudo no século XIX, caberia

hoje às mulheres ocupar, por sua vez, as

cátedras.

Haverá aqui uma ruptura epistemológi-

ca? Uma revolução axiológica? Um sismo

político? Deixando de lado a abissal

questão de uma natureza ou de uma es-

sência feminina (e talvez Lacan não esti-

vesse enganado, por razões aliás subtis,

quando afirmava que “la femme n’existe

pas”), interroguemo-nos sobre o com-

portamento das mulheres perante três

realidades simbólicas: o Saber, o Dever

e o Poder.

No que toca à aptidão para o conheci-

mento, a demonstração está feita. Da es-

cola primária aos estudos pós-doutorais,

as mulheres, desde que essa possibilida-

de lhes foi concedida, forneceram, defi-

nitivamente, a prova da sua total igual-

dade. Acresce ainda que, segundo as es-

tatísticas, o insucesso escolar é um mal

mais masculino do que feminino. Nesta

matéria, a prova da puberdade é muito

mais mortífera para os rapazes: basta

olharmos para a Faculdade de Medicina,

conhecida pela sua extrema selectivida-

de, e que acolhe todos os anos um nú-

mero sensivelmente maior de raparigas

do que de rapazes. É aos psicólogos e

aos sociólogos que cabe determinar os

factores deste estado de coisas. E é ver-

dade que vemos as nossas alunas ultra-

passarem os obstáculos semeados no

caminho da aprendizagem intelectual

com uma regularidade e uma segurança

que os seus colegas muitas vezes mani-

festam em menor grau. Se alguns cursos

(em particular as engenharias) permane-

cem o apanágio dos homens, é com cer-

teza por razões que se prendem com as

representações sociais ligadas às profis-

sões e não em virtude da sua dificulda-

de científica intrínseca. No terreno da in-

vestigação, os sucessos femininos multi-

plicam-se a olhos vistos: entre os inves-

tigadores premiados, as mulheres mar-

cam presença com brio! É inútil insistir:

quaisquer que sejam as diferenças que

possam existir entre o cérebro feminino

e o cérebro masculino, é notório, peran-

te as estatísticas universitárias (as úni-

cas que aqui nos interessam) e no plano

da aquisição e da produção do saber,

que o primeiro nada fica a dever ao se-

gundo!

E quanto à segunda esfera: a do

Dever? Devemos entender este conceito

como o conjunto das injunções e das re-

gras que decorrem da nossa função so-

cial. Assim, não é a consciência profissi-

onal, por exemplo, tão partilhada pelos

dois sexos quanto o “bom senso” se-

gundo Descartes? A medida quantitativa

do escrúpulo, do zelo e da dedicação

não nos permite entrar no segredo das

almas. Estará a mulher mais apta do que

o homem a obedecer ao imperativo cate-

górico? Esta questão seria absurda aos

olhos de Kant para quem o sujeito ético

não tem sexo. Se o absentismo parece

afectar mais as mulheres, é sem dúvida

porque, no corpo docente e administra-

tivo da Universidade, existem numerosas

mães de família e porque os hábitos (as

inércias?) sociais ainda determinam que

devem ser elas a sacrificar as suas car-

reiras aos filhos: quando muito, pode-

mos falar de um conflito de deveres. Ao

invés, por parte dos estudantes, o ab-

sentismo é claramente masculino. Mais

escrupulosas, menos dadas à transgres-

são, as nossas alunas revelam uma auto-

disciplina e uma prudência maiores, em

parte condição de um sucesso escolar

superior. Concluamos estas demasiado

rápidas considerações sobre a seriedade

profissional na universidade (falta-nos

ainda uma sólida pesquisa científica e fi-

losófica), afirmando que as mulheres

não são dotadas de um menor sentido

moral mas que, na sociedade actual,

possuem certamente mais deveres a

cumprir do que os seus parceiros.

Resta-nos o Poder. Todos estamos de

acordo em reconhecer o défice feminino

em órgãos de decisão e de direcção. O

peso “político” das mulheres não é pro-

porcional ao lugar que ocupam e ao ser-

viço que prestam na instituição universi-

tária, como aliás nos outros sectores da

actividade social e na vida política pro-

priamente dita, onde as mulheres pare-

cem recuar perante o exercício do poder

que cada vez menos a elas se recusa. E

o “machismo” não é já uma explicação

suficiente para dar conta deste desequi-

líbrio. Se as mulheres parecem dispostas

a assegurar pesadas e importantes res-

ponsabilidades (e não tem a nossa

Universidade uma Administradora, uma

Directora do Arquivo, e tantas outras

mulheres presidentes de conselhos, di-

rectoras de departamentos e institutos,

de laboratórios e de centros de investi-

gação, chefes de serviço?), a sua “libido

dominandi” não as leva a uma exposição

de corpo inteiro aos perigos que a acção

pública comporta. Aqui reside uma espé-

cie de enigma de origem talvez ontológi-

ca. A menos que, muito simplesmente,

as filhas de Eva temam, mais do que

tudo e todos, a caricatura!...

AAss ffiillhhaass ddee EEvvaa nnaa UUnniivveerrssiiddaaddee

Da escola primária aosestudos pós-doutorais,as mulheres, desde queessa possibilidade lhesfoi concedida,forneceram,definitivamente, a provada sua total igualdade

O peso “político” dasmulheres não éproporcional ao lugarque ocupam e aoserviço que prestam nainstituição universitária,como aliás nos outrossectores da actividadesocial e na vida políticapropriamente ditaQuaisquer que sejam as

diferenças que possamexistir entre o cérebrofeminino e o cérebromasculino, é notório,perante as estatísticasuniversitárias (as únicasque aqui nosinteressam) e no planoda aquisição e daprodução do saber, queo primeiro nada fica adever ao segundo!

““

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9JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

AAC

A primeira mulher a assumir a presi-dência da Associação Académica deCoimbra foi Clara Crabbé Rocha, eleitaem 1976, quando encabeçou uma listacomposta, maioritariamente, por estu-dantes afectos ao Partido Socialista(alguns dos quais viriam a ter uma car-reira política destacada, como maisabaixo se refere).

A eleição de Clara Rocha revestiu-sede grande significado não apenas porse tratar da primeira mulher a presidirà mais antiga e prestigiada associaçãoestudantil do País, mas também por-que foi a primeira vez que o PS conse-guiu chegar à Direcção da AAC, que atéaí, e ao longo de sucessivas gerações,fora dominada por estudantes comu-nistas ou pró-comunistas (com um in-terregno forçado, em 1969, quando aDirecção eleita foi desmantelada pelogoverno de então – cujo Ministro daEducação era o historiador JoséHermano Saraiva – e em seu lugar no-meada uma Comissão Administrativaconstituída por estudantes de direita,presidida por José Miguel Júdice – queaté há pouco foi Bastonário da Ordemdos Advogados).

A originalidade da eleição de umamulher para a AAC, a par com a circun-stância, também inédita, de uma vitó-ria do PS no rescaldo do chamado“Verão Quente” de 1975, provocougrande eco no País, com toda a comu-nicação social a dedicar-lhe invulgaratenção.

Refira-se, por exemplo, que o “JornalNovo” (diário que na altura tinha gran-de implantação em todo o territórionacional) inseriu na primeira páginauma caricatura que representava oconfronto entre Mário Soares e ÁlvaroCunhal, ambos vestidos de capa e ba-tina, e tendo por fundo a torre daUniversidade de Coimbra.

Muitos jornais aludiam não só à vitó-ria socialista e da primeira mulher, masainda a alguns aspectos inovadores doprograma da lista vencedora, como aproposta de eleição do Reitor (queviria a ser adoptada a nível nacional).Clara Rocha viu-se solicitada para en-trevistas por parte de diversos órgãosde comunicação social. Entre as queentão lhe foram feitas, refira-se a deMaria Antónia Palla para a revista“Flama”, acentuando aquela tão sim-bólica conquista por parte de uma mu-lher.

QUANDO PEDIR PARA FALARERA MOTIVO PARA PRISÃO

Como acima se refere, até à vitóriade Clara Rocha a AAC fora sendo diri-gida por estudantes maioritariamentecomunistas. Mas alguns dos Pre-sidentes da AAC acabaram por aderir,mais tarde, ao PS. Foi o caso deSalgado Zenha, que viria a ser um dosmais destacados dirigentes deste par-tido, a par com Mário Soares, mas queantes, em 1944, fora eleito Presidenteda AAC à frente de uma lista impulsio-nada pelas Juventudes Comunistas,que contava também com a participa-ção de estudantes católicos. Zenha foidirector do jornal “Via Latina” e dina-mizou a vida associativa de forma mar-cante. Viria a ser demitido peloGoverno de Salazar, por razões políti-cas, em Maio de 1945.

Destino semelhante sofreu, um quar-to de século mais tarde, AlbertoMartins (actual deputado pelo PartidoSocialista). Presidente da AAC em1969, foi preso e demitido por ter soli-citado o uso da palavra ao entãoPresidente da República, AméricoTomás, na inauguração doDepartamento de Matemática, a 17 deAbril desse ano. Para além de AlbertoMartins, foram detidos muitos outrosdirigentes estudantis, o que provocouum extraordinário movimento de revol-ta e solidariedade, desencadeando aque ficou conhecida como “CriseAcadémica de 69”, com espantosa di-mensão não só local, mas em termosnacionais e mesmo internacionais.Para além do luto académico (que sus-

pendeu a Queima das Fitas e outraspraxes, que só muitos anos mais tardeseriam retomadas), tal crise viria a terinfluência, directa e indirecta, no cres-cimento da contestação ao regime di-tatorial de Salazar e Marcelo Caetano,que culminou com a vitoriosaRevolução de 25 de Abril de 1974.

No período pós-revolucionário a AACcontinuou a ser controlada por estu-dantes afectos ao Partido Comunista ea organizações de extrema-esquerda.

Daí que a vitória de uma lista do PSem 1976, ainda por cima com a primei-ra mulher a presidir à AAC, tenha tidorelevância a nível nacional.

UM MANDATO ATRIBULADOQUE NÃO CHEGOU AO FIM

Na altura em que foi eleita, ClaraRocha era aluna do 4.º ano deFilologia Românica e também exerciafunções de monitora da Faculdade deLetras para as disciplinas deIntrodução aos Estudos Literários e deLiteratura Portuguesa Moderna eContemporânea. Estas duas disciplinastinham sido introduzidas na licenciatu-ra em Românicas pelas reformas curri-culares levadas a cabo na Faculdadede Letras após o 25 de Abril de 74.Enquanto aluna, Clara Rocha estevemuito envolvida nessa reformas, que,como ela própria agora referiu ao“Jornal da Universidade”, trouxeramaos cursos novos conteúdos, novosmétodos e renovadas perspectivas, epossibilitaram, entre outras coisas, oestudo da Literatura PortuguesaContemporânea, não se estudava habi-tualmente nos cursos antes do 25 deAbril.

Apesar das suas responsabilidadesenquanto aluna e monitora, empe-nhou-se com entusiasmo nas funçõesde Presidente da AAC, enfrentando umambiente que lhe era muito adverso.

Segundo nos afirmou, “foram tem-pos de grande efervescência ideológi-ca e de violenta confrontação partidá-ria, com episódios de grande tensão –desde ameaças telefónicas a outrasforma de intimidação”. E acrescentou:

“As Assembleias Magnas não reflec-tiam a nossa massa de votantes, os lu-gares do Teatro de Gil Vicente, ondeelas decorriam, eram sistematicamenteocupados por militantes comunistas eanarquistas, o que fazia com que aDirecção-Geral fosse confrontada comtomadas de posição política e vota-ções com as quais não podia concor-dar. Por essa razão, entendi que deviademitir-me antes do termo do meumandato”.

Recorde-se que da lista encabeçadapor Clara Rocha faziam parte, entre ou-tros, Fausto Correia (actual eurodepu-tado pelo PS), Luís Patrão (que é actu-al chefe de gabinete do Primeiro-Ministro José Sócrates), ManuelMachado (dirigente socialista que du-rante vários anos foi Presidente daCâmara Municipal de Coimbra),Henrique Fernandes (actual Gover-nador Civil do Distrito de Coimbra),Nuno Filipe (que foi Presidente daSegurança Social na Região Centro) eFrancisco Rodeiro (advogado, que foivereador da Câmara Municipal deCoimbra no anterior mandato, eleitona lista do PSD).

Quanto a Clara Rocha, depois de sedoutorar na Universidade de Coimbraem 1985, rumou a Lisboa, onde temdesenvolvido uma carreira universitá-ria brilhante, sendo há vários anosProfessora Catedrática da Universi-dade Nova de Lisboa e tendo con-quistado diversos prémios de grandeprestígio por trabalhos que tem vindoa publicar.

Refira-se, como curiosidade, queClara Rocha é filha de Andrée CrabbéRocha (que foi Professora da Facul-dade de Letras e Vice-Reitora daUniversidade de Coimbra) e do escritorMiguel Torga, tendo recentementedoado à cidade de Coimbra o preciosorecheio artístico e documental da mo-radia de seus Pais, adquirida pelaCâmara Municipal para ali instalar aCasa-Museu Miguel Torga.

HÁ 30 ANOS, EM INÉDITA VITÓRIA SOCIALISTA

CCllaarraa RRoocchhaa ffooii aa pprriimmeeiirraa PPrreessiiddeenntteeddaa AAssssoocciiaaççããoo AAccaaddéémmiiccaa ddee CCooiimmbbrraa

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10 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

REPORTAGEM

NELSON MATEUS

No princípio tudo era pó natural e o póse modificou… Há muitos pós para alémdo pó. E é em revestimento de pós queo Instituto de Ciência e Engenharia deMateriais e Superfícies (ICEMS) desen-volve um trabalho único a nível mundial.Os “pós revestidos são mais reactivosque o próprio pó” e, por isso, “permitemprocessamentos mais eficientes”, explicaTeresa Vieira, Presidente do ICEMS.

A modificação das superfícies dos ma-teriais é o ponto central de todos os pro-jectos, sendo que o trabalho se desen-volve com nanomateriais, ou seja, mate-riais de dimensões muito reduzidas, cujaespessura máxima poderá ser equiva-lente à décima parte de um cabelo.

O pó de que aqui se fala é aquele deque podem ser feitos os materiais, e oInstituto, ao fazer revestimento de pós,torna-os mais reactivos, o que permite,por exemplo, diminuir a temperaturanecessária para obter um determinadomaterial, e também muitas vezes criaruma nova matéria-prima. Na prática,trata-se de um trabalho que possibilitabaixar o consumo de energia para a fab-ricação de um produto e encarar com op-timismo o uso de novas fontes de ener-gia nos processo de fabrico, como podeser o caso do laser.

Esta investigação escapa à actividadehabitual do Instituto, já que normal-mente os projectos passam por modi-ficar a superfície dos materiais para ostornar mais aptos para a utilização quese pretende. Neste caso, porém, o reves-timento torna-se parte integrante do ma-terial.

O carácter inovador da técnica utiliza-da pelo ICEMS faz com que o Institutoesteja a trabalhar para obter “umapatente que queremos que seja mundi-al”, refere Teresa Vieira. É, no entanto,

necessário encontrar “quem compre apatente quando a registarmos”, acres-centa, revelando a falta de dinheiro doInstituto para suportar os custos do reg-isto dos trabalhos que desenvolve.

“Temos receitas mas não as podemosusar para patentes”, comenta a profes-sora catedrática, uma vez que “o esforçode reequipamento é feito a partir dosprojectos”. Uma necessidade que aPresidente do ICEMS lamenta, recordan-do que dos “330 milhões de euros doPrograma Praxis” para equipamentocientífico, “as propostas lideradas pelasEngenharias de Coimbra conseguiramapenas 700 mil euros”.

Sem todos os equipamentosnecessários é preciso recorrer a outras u-niversidades para realizar partes do tra-balho. “Passo o tempo fora a fazer en-saios”, explica Teresa Vieira, que salien-ta que o “trabalho em materiais é muitocaro”. As dificuldades não impedem,porém, que o Instituto seja classificadocomo um centro de excelência.

O ICEMS, da Faculdade de Ciência eTecnologia da Universidade de Coimbra,

nasceu em 1991 e actualmente tem a tra-balhar 35 doutorados. Além da investi-gação em superfícies, desenvolve aindaactividade em outros âmbitos, em partic-ular na mecânica, electroquímica, física eelectrotecnia. A Presidente do ICEMS ad-mite que o Instituto possa diversificarainda mais o trabalho que já realiza.

DEVOLVER O BRILHOÀS PRATAS

O que pode parecer uma actividadedemasiado técnica e muito centrada noestudo em laboratório tem, afinal, in-úmeras aplicações práticas. Um dos de-safios lançados ao ICEMS foi o de con-tribuir para dar um novo impulso à ex-portação portuguesa de produtos deprata.

Como se sabe, a prata escurece e “o e-feito de escurecimento aumenta com ograu de poluição atmosférica”, explicaTeresa Vieira. Daí que se tenha verifica-do uma quebra acentuada na exportaçãode pratas para os países industrializa-dos.

Em alguns locais, para resolver aquestão foi escolhida uma soluçãoquímica. O problema é que, ao evitar oescurecimento, o método adoptadoprovoca também a alteração do brilhoda prata. O ICEMS foi por outro caminhoe encontrou a chave para resolver aquestão. As peças de prata são pulveri-zadas “com prata com a estrutura atómi-ca modificada mas com o mesmo brilhoe que não escurece”, explica aPresidente do Instituto.

O ICEMS tem já vários contactos coma indústria para a utilização do método.“Estamos a insinuar-nos perante osmuseus”, acrescenta Teresa Vieira, jáque também nesses casos o escureci-mento das pratas é um problema quecausa sérias dificuldades. 4

INSTITUTO DA FCTUC FAZ IMPORTANTES DECOBERTAS SACUDINDO DIFICULDADES

PPiioonneeiirrooss nnoo rreevveessttiimmeennttoo ddee ppóóss

Os materiais auto-lubrificantes têm sidoum campo de estudo há muito privilegia-do pelo ICEMS. O trabalho no Institutocomeçou por se desenvolver com os ma-teriais para ferramentas de corte, mas de-pois foi-se alargando a outros âmbitos,um dos quais o dos materiais auto-lubri-ficantes.

Entre as aplicações práticas do estudoneste campo, uma que está num adianta-do grau de desenvolvimento é a que po-derá vir a permitir que deixe de ser ne-cessária a utilização de óleo nos motoresdos automóveis. Isto porque o óleo servepara lubrificar as várias peças de forma areduzir o atrito entre elas e, dessa forma,

evitar o aumento da temperatura quepode levar a danos irreversíveis nos ma-teriais.

No ICEMS o que está a ser desenvolvi-do é um revestimento para os segmen-tos do motor que reduza o atrito e, por-tanto, permita dispensar a utilização deóleo. Uma solução que torne “as super-fícies simpáticas uma para a outra”, refe-re Teresa Vieira. De acordo com aPresidente do Instituto, o projecto temum “objectivo altamente ambiental”,tendo em conta os conhecidos proble-mas de poluição provocados pelosóleos.

O projecto começou há seis meses e

está a ser desenvolvido por uma vastaequipa que engloba cerca de 30 parcei-ros europeus. A solução encontrada temvindo a suscitar um amplo interesse e2010 é já apontado como o ano de inícioda utilização desta tecnologia na indús-tria automóvel. De acordo com TeresaVieira, os primeiros clientes deverão seras marcas de automóveis de gama alta.

A par do trabalho para os motores, amesma ideia está também a ser encaradapara uma aplicação na indústria aeronáu-tica. Tendo sempre por base a ideia deredução do atrito, o conceito vai ser apli-cado nas asas dos aviões, de forma a evi-tar a formação de camadas de gelo.

Procurade “mentiras” saudáveis

Já em fase de testes está um outro

projecto do ICEMS em que se procu-

ra “aumentar o potencial de mentira

dos materiais”, revela Teresa Vieira.

Neste caso trata-se de uma boa men-

tira, já que o objectivo é ajudar doen-

tes com problemas cardíacos a quem

tenha sido implantado um stente.

Os stentes são pequenas redes de

metal que se colocam nas artérias de

forma a permitir a circulação sanguí-

nea sem problemas. A dificuldade

que ainda se verifica é que em certos

casos “o organismo entende que o

stente é um corpo estranho” e tem

reacções de rejeição, explica a Pre-

sidente do ICEMS. Essa reacção pode

dar origem a novas oclusões do vaso

sanguíneo, o que obriga a outra in-

tervenção cirúrgica para a substitui-

ção do stente.

Há praticamente um ano o Instituto

está a desenvolver uma investigação

para “criar o melhor material que per-

mita evitar coágulos”. Segundo Te-

resa Vieira é, no fundo, um trabalho

de maquilhagem, já que o objectivo é

revestir a superfície do stente de

forma que o organismo não se aper-

ceba que é introduzido no corpo hu-

mano um objecto estranho. Trata-se,

pois, de “optimizar a biocompatibili-

dade” do stente, sintetiza a professo-

ra catedrática.

O ICEMS já tinha realizado várias in-

vestigações em áreas ligadas à bio-

médica, mas a ideia de aprofundar

um estudo sobre este problema con-

creto dos stentes “surgiu em conver-

sas com médicos”, recorda Teresa

Vieira. Ao longo do último ano, o pro-

jecto vem sendo desenvolvido em es-

treita colaboração com a equipa de

cardiologia do Professor Manuel

Antunes, nos Hospitais da Univer-

sidade de Coimbra.

A solução encontrada pelo ICEMS

vai agora passar pela fase de testes

tanto “in vitro” como em animais, de

forma a verificar a compatibilidade

do revestimento dos stentes com o

organismo. O trabalho é acompanha-

do de perto pela indústria da saúde,

que pode encontrar neste estudo a

solução para um problema que há

muito se arrasta.

Motores sem óleo

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11JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

PUBL IC IDADE

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12 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

ENTREV ISTA

JOÃO PAULO HENRIQUES

Maria Helena Rocha Pereira perdeu aconta aos “milhares de alunos” que en-sinou durante os 44 anos em que este-ve ao serviço da Universidade deCoimbra (UC). A professora jubilada em1995 faz parte da história da instituição.Ainda assim, não quer ser vista como “aprimeira mulher do que quer que seja”.

A antiga docente recebe, aos 80 anos,o Prémio UC 2006, tornando-se no pri-meiro premiado com ligação à institui-ção. Uma distinção que homenageiahoje, na celebração do 716.º aniversário,a especialista em História e CulturaClássica, que muito deu à UC, que elaadoptou como a sua “segunda casa”.

Quando começa a falar, Maria HelenaRocha Pereira cria uma atmosfera de en-canto em seu redor. As pessoas sentem-sebem e deixam-se embalar pela voz docee afável da primeira mulher doutoradanuma universidade portuguesa. O anode 1956 nunca mais foi esquecido.

A ligação de Maria Helena RochaPereira à UC começou em 1942, ano emque entrou na Faculdade de Letras.“Ainda se estava em guerra”, comenta,com ar sorridente, como que a deixarperceber que quase já nem se lembra. Alicenciatura foi concluída cinco anosmais tarde, em 1947.

A vida foi dedicada ao estudo da cul-tura clássica e da literatura grega, in-vestigando a sua influência em autoresde diferentes gerações. Uma investiga-

ção que não se fica por aqui. O latimmedieval e a arte grega, com particularincidência para a pintura de vasos, tam-bém integram o lote de assuntos trata-dos ao pormenor.

“Pelo vasto conjunto da sua obra cien-tífica e cultural, pela influência abrangen-

te do seu magistério universitário e pelopersistente exemplo de amor ao saber ede dedicação infatigável à investigação eà difusão das línguas e literaturas clássi-cas, Maria Helena Rocha Pereira emergecomo uma figura notabilíssima da cultu-ra portuguesa e europeia”.

Um comentário resumido com o qual oReitor Fernando Seabra Santos justificoua entrega do Prémio UC 2006 a uma mu-lher que foi considerada, inúmerasvezes, como a maior autoridade portu-guesa em estudos clássicos e que con-tribuiu, de forma decisiva, para a divul-gação da literatura clássica em Portugal.

Quando começou em 1951 como assis-tente, Maria Helena Rocha Pereira preten-dia prosseguir a carreira universitária, masos tempos eram outros e as limitaçõestambém. Não desistiu e apostou no dou-toramento em Letras. No resto do país,lembra, “havia muito poucas, mesmomuito poucas mulheres doutoradas”.

O interesse, assegura, “não era fazeralguma coisa que nenhuma ainda não

tinha feito”. Apesar de se orgulhar deter sido a primeira mulher a prestar pro-vas de doutoramento em Coimbra, nãoesquece: “A primeira mulher a ter o títu-lo de doutora em Coimbra, ainda queHonoris Causa, foi Carolina Michaelis emuito justamente. Foi um dos grandesnomes da Universidade”.

O doutoramento foi preparado comcuidado e a disponibilidade não foi pro-blema. “Estive quatro anos fora deCoimbra, já que não fui logo convidadapara assistente. Não queriam senhoras,excepto o professor que me chamou de-pois. Regressei ao Porto, a casa dosmeus pais, e comecei a trabalhar na tesede doutoramento, contra tudo e contratodos”, relembra.

Destes quatro anos, o último foi pas-sado a estudar em Oxford, emInglaterra, onde acabou por voltarmais vezes. Em 1956, o doutoramentoera “muito mais difícil”, justificando-secom o facto de “naquela altura eramquatro provas – a tese precedida de

Estudante dava piores notas...Professora catedrática à data do 25 de Abril de 1974, Maria Helena Rocha

Pereira lembra um período de “certa desorientação, que se compreende com amudança profunda”. Uma época fértil em histórias que marcaram a docente, quenão esquece uma delas. Nesse ano, muitos alunos resolveram, primeiro, não iraos exames, mas, depois, aconteceu o contrário, uma vez que não queriam per-der o ano. Combinaram, então, entre eles, que um aluno faria parte do júri. “Umpedido que aceitei desde que já tivesse feito a cadeira”. Na altura, as provasorais eram obrigatórias nos cursos de Letras. No final, o júri reunia para atribu-ir as notas e aconteceram algumas surpresas. “Dava a nota o assistente, o alunoe eu concluía. Posso dizer que, por diversas vezes, o estudante dava notas maisbaixas que eu. Levavam o papel muito a sério”.

MARIA HELENA ROCHA PEREIRA RECEBE HOJE O PRÉMIO UC 2006

UUmmaa MMuullhheerr ppiioonneeiirraa

Maria Helena Rocha Pereira mostrando a fotografia do momento em que recebeu as insígnias doutorais

Page 13: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

três provas – e agora é só a tese”.Elevada a doutora pelo Reitor

Maximino Correia, Maria HelenaRocha Pereira voltou a entrar naHistória da UC. A antiga professora

da Faculdade de Letras tornou-se aprimeira mulher, em Portugal, aassumir um cargo na Reitoria.“Estávamos em 1970/1971 e fuiVice-Reitora durante o reitoradode José Gouveia Monteiro”.

Foram “tempos difíceis” do pontode vista político. Os estudantes es-tavam “muito politizados”, afirmaMaria Helena Rocha Pereira, que su-blinha que “o objectivo era melhorarquanto possível a Universidade, oque tentámos com algum êxito, mas,a certa altura, verificámos que nãohavia condições”.

Este foi um dos momentos mar-cantes que viveu na UC, mas teveoutros. Maria Helena Rocha Pereiramantém uma notável capacidade decomunicação e lembra-se de tudo oque viveu ao serviço da instituição.As palavras foram e continuam a serparte integrante, para não dizer de-terminante, da sua vida.

A professora jubilada, que sempregostou mais de “fazer exames doque os fazer aos alunos”, continua ater uma enorme paixão pelas letras.

“É um trabalho que me entusiasmatodos os dias, incluindo sábados edomingos”. Não se pense, no en-tanto, que não gostava das ciên-cias. Bem pelo contrário. “Gosteisempre muito de matemática e deoutras ciências”.

Maria Helena Rocha Pereira é apai-xonada por arte. Especializada emarte grega, cadeira que regeu duran-te vários anos, a professora apreciatodas as formas de arte. Tocarpiano, algo que não faz há muitosanos, era uma das maneiras preferi-das de passar o tempo, que conti-nua a ser ocupado com a leitura.

A sua extensa obra, de mais detrezentos trabalhos, foi disponibili-zada em livros, artigos em enciclo-pédias, traduções do grego e dolatim e artigos em revistas da espe-cialidade. Maria Helena RochaPereira não esconde que “o ensinosempre foi uma paixão e gostavamuito de dar aulas”, guardando “ex-celentes recordações” do tempo emque leccionava.

13JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

ENTREV ISTA

Maria Helena RochaPereira nasceu em 1925,no Porto. Licenciou-seem Filologia Clássica naFaculdade de Letras daUniversidade de Coim-bra (UC), em 1947, edoutorou-se em Letrasna mesma Universidade,em 1956. Especializou-se em Estudos Clássicosna Universidade deOxford, onde foi bolsei-ra do Instituto de AltaCultura. Tem outros di-plomas, entre os quais

o do Curso Extraordinário de Língua Hebraica daFaculdade de Letras da UC.

Iniciou a sua actividade profissional no Centrode Estudos Humanísticos da Universidade doPorto, onde foi professora de Latim e depoistambém de Grego (de 1948 a 1957), mas fez acarreira universitária na Faculdade de Letras daUC, onde ingressou em 1951 como segundo as-sistente de Filologia Clássica, foi professora ca-tedrática titular da cadeira de Literatura Gregadesde 1964, vice-reitora em 1970/1971, presiden-te do Conselho Científico desde 1977 e directo-ra do Seminário de Grego.

Foi ainda directora do Instituto deArqueologia da Faculdade de Letras da UC (de1965 a 1966), directora da Biblioteca Central damesma Faculdade (de 1965 a 1970), directora doInstituto de Estudos Clássicos (desde 1991) epresidente da Comissão Científica do Grupo deEstudos Clássicos (desde 1991). Membro da co-missão redactora (desde 1951) e directora(desde 1993) da revista Humanitas, directora darevista Biblos (desde 1973), jubilou em 1995.

Organizou e participou em diversos congres-sos, colóquios, encontros científicos e seminá-rios, em Portugal e no estrangeiro. Liderou ogrupo de investigadores que efectuou a investi-gação relativa à parte portuguesa da obra emseis volumes, Soziale Typenbegriffe im altenGriechenland (1982), com o título “SozialeTypenbegriffe von Homer bis Aristoteles und ihrFortleben im Portugiesischen”.

A sua extensa obra, de mais de trezentos tra-balhos, reparte-se entre livros, artigos em enci-clopédias, recensões críticas, traduções dogrego e do latim e artigos em revistas da espe-cialidade como Revista da Universidade deAveiro/Letras, Bracara Augusta, Portucale,Humanitas, Das Altertum, Memórias daAcademia das Ciências de Lisboa/Classe deLetras, Studium Generale, Biblos, O Instituto,entre outras.

Falta atravessaro Pacífico

Apesar de ter dedicado a vidaao ensino e à cultura, MariaHelena Rocha Pereira gostava egosta de viajar. “Para dar a voltaao Mundo, só me falta atravessaro Pacífico”. Viagens – “todas deserviço” – onde aproveitava para“ver as obras de arte”. AFundação Europeia da Ciência,onde representou Portugal duran-te 10 anos, reunia-se duas vezespor ano. “Uma das reuniões erasempre em Estrasburgo, onde es-tava a sede, mas a outra saltavapor vários países do Mundo”.

PE

RF

IL

Maria Helena Rocha Pereira acompanhada por Paulo Quintela

Estive quatro anosfora de Coimbra, jáque não fui logoconvidada para as-sistente. Não que-riam senhoras, ex-cepto o professorque me chamoudepois. Regresseiao Porto, a casados meus pais, ecomecei a trabalharna tese de douto-ramento, contratudo e contratodos

Page 14: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

Tomam posse, amanhã, 2 de Março,pelas 17 horas, na Sala do Senado, osnovos corpos directivos do Instituto deInvestigação Interdisciplinar.

Rui Fausto Lourenço (Centro de Quí-mica) preside à direcção, que integraRita Maria da Silva Marnoto (CentroInter-Universitário de Estudos Camonia-nos), António Francisco Rosa GomesAmbrósio (IBILI – Instituto Biomédico deInvestigação da Luz e Imagem), LuísGuilherme Arnaut Moreira (Centro deQuímica) e Paulo Fernando Pereira deCarvalho (Centro de Informática eSistemas).

A Mesa do Conselho de Investigação écomposta por João Filipe Cortez Ro-drigues Queiró (Centro de Matemática),Catarina Resende Oliveira (Centro deNeurociências e Biologia Celular) e MariaTeresa Freire Vieira (Instituto de Ciênciase Engenharia de Materiais e Superfícies).

O Instituto de Investigação Interdisci-plinar (III) é uma unidade orgânica daUniversidade de Coimbra, que tem por fi-nalidade promover e divulgar a investi-gação científica, nomeadamente interdis-ciplinar, criando condições que propici-em a interacção das unidades de inves-tigação da Universidade. Tratando-se de

instituição jovem, tem vindo a afirmar-seprogressivamente na Universidade en-quanto elemento de grande importânciapara a dinamização da investigação cien-tífica que nela se pratica e como factorde coesão entre as unidades de investi-gação que lhe estão associadas.

A equipa que amanhã toma posseavançava, no seu manifesto de candida-tura, com três compromissos fundamen-tais: prosseguir o esforço de afirmação

do III na Universidade e fora dela en-quanto pólo de desenvolvimento da in-vestigação científica em geral e enquan-to elemento dinamizador do cruzamentoentre diferentes saberes, estimulando acooperação entre as diferentes unidadesde investigação e entre estas e a socie-dade em geral; apostar no reforço doapoio aos jovens investigadores; consi-derar como prioridade estratégica oapoio aos esforços das unidades de in-

vestigação para se afirmarem internacio-nalmente enquanto centros de excelên-cia e aumentarem o impacto internacio-nal das suas realizações.

14 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

ACTUAL IDADE

NNoovvooss ddiirriiggeenntteess ddoo II.. II.. II..O Instituto de Investigação Inter-

disciplinar da Universidade deCoimbra, foi criado por deliberaçãodo Senado em 4 de Abril de 2001.Constituído em Unidade Orgânica em2004, os seus principais objectivoscentram-se no desenvolvimento dodiálogo interdisciplinar, consolidan-do e incrementando através dele aprodução do conhecimento no âmbi-to dos Centros de Investigação sedi-ados nesta Universidade.

Actualmente, o I.I.I. é compostopor 40 Unidades de Investigação daUniversidade de Coimbra avaliadaspela Fundação para a Ciência e aTecnologia e que representam cercade 1600 investigadores. O trabalhode investigação produzido situa-sena área das Ciências e da Tecno-logia, das Ciências Sociais e dasHumanidades.

Mais informações sobre a activida-de do I.I.I em http://www.uc.pt/iii/

Rui Fausto Lourenço, o novo Presidente da Direcção do I.I.I.

Carlos Reis vai ser o novo Reitorda Universidade Aberta

Carlos Reis, Professor Catedráticoda Faculdade de Letras da Univer-sidade de Coimbra, deverá ser o fu-turo Reitor da Universidade Aberta(universidade pública de ensino àdistância, que tem sede emLisboa).

A actual Reitora, Maria José FerroTavares, termina agora o seu man-dato, estando as eleições agenda-das para o início do próximo mêsde Abril.

Carlos Reis (que também já foiDirector da Biblioteca Nacional)apresentou oficialmente a sua can-didatura ao cargo na terça-feira dapassada semana, em Lisboa.Estava anunciada para dois diasdepois a apresentação de outrocandidato, Mário Avelar, mas esteentretanto desistiu, não havendomais nenhuma candidatura emperspectiva.

Deste modo, Carlos Reis terá aeleição assegurada, regressandoassim a uma Universidade onde jáfoi Pró-Reitor, e cuja Delegação emCoimbra criou e dirigiu durante vá-rios anos. Carlos Reis

Page 15: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

POR PAULA GONÇALVES

“Já chegou a stora Teresa”. A notíciacircula rapidamente entre os jovens dolar de estudantes da Casa do Gaiato, emCoimbra. E assim que Teresa Pedroso deLima saiu do carro já um grupo de rapa-zes a rodeava. Uns para desabafar porter corrido “mal” o teste feito no iníciodessa semana, outros, pelo contrário,para partilharem com ela as boas notí-cias por terem conseguido um trabalho.

Desde o ano lectivo de 1999/2000 quea professora catedrática da Faculdade deEconomia se desloca, todas as quartas-feiras, a partir das 18.30 horas, ao lar deestudantes da Casa do Gaiato para apo-iar os jovens nos estudos, sobretudo naárea da matemática.

A ideia surgiu na sequência de umapelo feito pelo padre João numa missaem Quiaios, no sentido de sensibilizar aspessoas para darem o seu contributo.“Como sou professora de matemática”,disciplina que normalmente suscita mui-tas dúvidas aos estudantes, “propusdeslocar-me ao lar uma vez por semana,para os ajudar durante duas horas”.

No início diz ter ficado “muito apreen-siva” por não saber exactamente “o tipode miúdos que ia encontrar”, mas logonos primeiros contactos afirma ter ficado“bastante impressionada com a boaeducação e delicadeza” daqueles estu-dantes.

As primeiras explicações que deu des-tinaram-se a um número reduzido dealunos. Só mais tarde percebeu a razãode não participarem todos os 21 rapazesque se encontram na instituição. Aliás,eles próprios lhe explicaram a causadessa atitude: “Pensavam que era maisuma que vinha e de repente ia embora”.Depois de constatarem o contrário, pas-

saram a ser assíduos e além das dúvidasde matemática começaram a colocarquestões também ao nível de outras dis-ciplinas. Como eram já muitos os alunoscom dúvidas, Teresa Pedroso de Limapassou a ter de contar com a ajuda dasua filha, Joana Cabral de Oliveira, licen-ciada em Biologia, para dar apoio sobre-tudo na área das ciências e do inglês.

Segundo Teresa Pedroso de Lima, osjovens que ali residem, a maior partedos quais “tiveram experiências de ins-tabilidade, valorizam muito a continuida-de e sabem que podem contar comigotodas as quartas-feiras. Foi um compro-misso que assumi”. Aliás, não será poracaso que Teresa Pedroso de Lima é ma-drinha de crisma de um dos rapazes, en-quanto a sua filha é madrinha de baptis-mo e também de crisma de outro.

“O que fazemos é muito pouco”, refe-re a professora, “tiramos dúvidas, es-sencialmente de matemática e conversa-mos”. Para a catedrática da Faculdadede Economia, esta é uma actividade quediz fazer “com naturalidade” e que, emtermos pessoais, é “muito gratificanteporque eles são uma delícia”.

UM CHOCOLATEPOR CADA POSITIVA

Comparando esta experiência com asua actividade na Faculdade deEconomia, refere que no lar de estudan-tes da Casa do Gaiato “há um feed-backmuito mais instantâneo”, enquanto naUniversidade o ensino “é menos pesso-al”.

Ali cada nota positiva a matemática“vale um chocolate”, enquanto um “sa-tisfaz muito bem” dá direito a uma idaao cinema. Para já só foram feitas duas

reservas. Uma é para o João Pedro, quena quarta-feira da semana passada esta-va particularmente satisfeito com a vitó-ria do seu clube, o Benfica, tendo-seapresentado na explicação trajado arigor. “Aqui somos todos do Benfica,menos a stora”.

Na passada semana estavam seis alu-nos para a explicação, que foram distri-buídos por duas salas, ficando três comJoana Cabral de Oliveira e os restantescom Teresa Pedroso de Lima. “A partirdo segundo período é quando começama surgir mais dúvidas”, afirma a catedrá-tica.

Mas nem sempre osalunos “aproveitambem” as explicações,na opinião do jovemresponsável pelo lar,Adriano Azevedo, de19 anos, “ainda porcima numa disciplinaonde há tanto proble-ma como é a matemá-tica”, consideradamesmo “o quebra-ca-beças de toda agente”. Por exemplo,acrescenta, “hoje nãoestá muita gente nasexplicações porqueeles só se lembramde vir nas vésperasdos testes”. Estejovem frequenta o 11ºano, na área da eco-nomia, acrescentan-do, em tom de brinca-deira, que “a storaTeresa ainda há-deser minha professorana Faculdade deEconomia”.

Para além de Teresa Pedroso de Limae de Joana Cabral de Oliveira, a Casa doGaiato conta com a colaboração, igual-mente em regime de voluntariado, demais três professoras. Segundo o res-ponsável da instituição, padre JoãoRosa, esta é uma ajuda preciosa para osjovens. “Além da grande qualidade pro-fissional das pessoas, há também aparte humana que é muito importantepara estes rapazes”. Considera, aliás,que no caso daqueles jovens a suaaprendizagem está muito condicionada“pela parte humana e afectiva”.

A instituição conta ainda com a cola-boração de duas pessoas, um estudanteuniversitário e um engenheiro, para es-clarecimento de dúvidas relativas “à for-mação humana em geral”.

O lar de estudantes, em Coimbra, estádependente da Casa do Gaiato, que temsede em Miranda do Corvo, e destina-se,segundo João Rosa, a acolher os jovensque durante o primeiro ciclo “revelampossibilidades de fazer um currículo es-colar normal”. Dependendo da situação,uns podem ser encaminhados para a for-mação profissional, enquanto outrosprosseguem os estudos. Actualmente,residem no lar 21 rapazes, com idadescompreendidas entre os 13 e os 21 anos,que estudam em diversas escolas da ci-dade.

15JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

REPORTAGEM

CCaatteeddrrááttiiccaa ddaa UUCCddáá eexxpplliiccaaççõõeess nnaa CCaassaa ddoo GGaaiiaattooHá quase seis anos que TeresaPedroso de Lima, professora ca-tedrática da Faculdade deEconomia da Universidade deCoimbra (UC), se desloca, umavez por semana, ao lar de estu-dantes da Casa do Gaiato, emCoimbra, para os apoiar nos es-tudos. Sobretudo ao nível damatemática, disciplina em quecada nota positiva vale um cho-colate e um “satisfaz muitobem” um bilhete de cinema.

Teresa Pedrosode Lima é licen-ciada em Matemá-tica (ramo científi-co) pela FCTUC.Fez o estágio pe-dagógico do ensi-no liceal no LiceuJosé Falcão. Pros-seguiu, entretan-

to, os estudos com o Mestrado em ÁlgebraLinear e Aplicações da Faculdade de Ciências eTecnologia da Universidade de Coimbra.Doutorou-se e fez agregação em Economia, naespecialidade de Economia Matemática-ModelosEconométricos, na Faculdade de Economia daUniversidade de Coimbra.

Iniciou a actividade docente em 1973, naentão Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra,tendo sido professora do ensino secundário até1979, altura em que foi contratada como assis-tente pela Faculdade de Economia da Univer-sidade de Coimbra, onde actualmente é profes-sora catedrática.

O seu trabalho científico tem sido desenvolvi-do na área da Álgebra Linear Aplicada e TeoriaMatemática dos Sistemas, com interesse partic-ular pelas aplicações em Economia.

PE

RF

IL

Page 16: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

16 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

ENTREV ISTA

JOÃO PAULO HENRIQUES

É, nesta altura, a única mulher à fren-te dos destinos de uma Faculdade daUniversidade de Coimbra (UC). AnaTeixeira é a Presidente do ConselhoDirectivo da Faculdade de Ciências doDesporto e Educação Física (FCDEF)desde 2002, cumprindo, actualmente, osegundo mandato de dois anos. Umasituação de que se orgulha, mas que,segundo a própria, não a torna “melhornem pior”.

Ao longo dos três anos e meio queestá à frente da FCEDF, Ana Teixeiranão sentiu problemas por ser uma mu-lher a mandar. “Tenho tido a colabora-ção necessária dos meus colegas.Estive grávida e de licença de parto du-rante parte do mandato - devo ter sidoa primeira mulher grávida na UC à fren-te de uma Faculdade -, mas tinha umaexcelente equipa e correu tudo bem”.

As exigências da presidência doConselho Directivo da FCEDF são gran-des. As solicitações tornam o papelainda mais preenchido. Por isso, acabapor restar pouco tempo para a família.“Sem um bom apoio familiar é impossí-vel e é preciso ter um marido muitocompreensivo. São muitas horas de tra-

balho, sem horário, com muita disponi-bilidade, representações e se algumacriança adoece é muito complicado”.

Mãe de duas meninas de cinco e doisanos, Ana Teixeira pretende deixar ocargo no final do mandato, asseguran-do que “existe um grupo suficientepara poder ocupar a presidência e hápessoas bem habilitadas para o fazer”.Apesar de não pretender continuar apresidir o Conselho Directivo, a docen-te sabe que “numa Faculdade pequenacomo esta calha sempre algum cargo aalguém e vai ser inevitável”.

O balanço dos dois mandatos é“positivo”, se bem que reconheçatratar-se de “um cargo ingrato”.Para justificar o adjectivo, acrescen-ta que “esta Faculdade é relativa-mente pequena, mas tem as mesmasobrigações de uma grande e nãotem os mesmos meios e condições,

o que torna as coisas mais difíceis”.O desporto era, até há uns anos

atrás, prática quase exclusiva do sexomasculino. Ana Teixeira já não sentiu oproblema, mas, em termos das prepara-ções, “ainda se vê muito que é ummundo dominado pelos homens”.Ainda assim, a docente prevê que ascoisas possam mudar, uma vez que, re-conhece, “temos algumas mulheresmuito boas na área do desporto”.

Nos próximos anos, Ana Teixeira querdedicar-se “mais à investigação e à do-cência”, porque, garante, “com estecargo, não temos tempo para investi-gar”. A área ligada à promoção dasaúde e os aspectos mais particularesem relação ao atleta, como os riscos oua prevenção de alguns riscos em ter-mos de susceptibilidade às doençasquando o treino é muito intenso e pro-longado, agradam-lhe “bastante”.

A investigação sempre foi a priorida-de da carreira da Presidente doConselho Directivo, que assume uma“mudança positiva” no apoio aos in-vestigadores. O Instituto do Desportode Portugal financia algum do trabalhofeito nas universidades e a FCEDF foiconsiderada, em 2003/2004, uma uni-dade de investigação pela Fundaçãopara a Ciência e a Tecnologia.

MULHER E MÃE PRESIDE A FACULDADE COM DESPORTIVISMO

““SSeemm aappooiioo ffaammiilliiaarr éé iimmppoossssíívveell””- salienta Ana Teixeira

Duas licenciaturas

e seis mestrados

A necessidade de dotar a

Universidade de Coimbra (UC) de

uma área de estudos do domínio da

cultura física e do desporto levou a

que o Senado aprovasse, por una-

nimidade, a criação da Faculdade de

Ciências do Desporto e Educação

Física (FCE DF). Contudo, apesar de

reconhecer que a UC tinha infra-

estruturas suficientes, o Ministério da

Educação não autorizou a instituição

imediata da Faculdade.

Os cursos de Ciências do Desporto

e de Educação Física foram criados

por deliberação do Senado da UC de

19 de Fevereiro de 1992 e ficaram a

funcionar no âmbito da Reitoria, mas

dotados de uma estrutura própria.

Em 1997, um despacho, publicado no

Diário da República a 2 de Junho,

autorizou a criação da Faculdade,

sob a designação de FCDEF, que

concentrou as suas actividades no

Estádio Universitário de Coimbra.

A mais nova Faculdade da UC tem

as licenciaturas em Ciências do

Desporto e em Educação Física. Ao

nível da pós-graduação, ministra seis

cursos de mestrado: Biocinética do

Desenvolvimento; Desenvolvimento e

Adaptação Motora; Ensino da

Actividade Física – Educação de

Infância e 1.º CEB; Treino Desportivo

para Crianças e Jovens; Lazer e

Desenvolvimento Local; Exercício e

Saúde em Populações Especiais.

Ana Teixeira

Faculdadetem 538 alunos

Neste momento, a Faculdade deCiências do Desporto e EducaçãoFísica (FECEDF) conta com 370 alu-nos de licenciatura, 158 de mestradoe 10 de doutoramento, possuindoprogramas de intercâmbio de alunose docentes no âmbito do programaErasmus e de protocolos assinadoscom universidades brasileiras, norte-americanas e chinesas.

O ano passado recebeu 54 estu-dantes e 49 docentes estrangeirosno âmbito destes programas, sendoque 55 alunos e 11 docentes estuda-ram e leccionaram, respectivamente,numa universidade estrangeira. Aoabrigo do programa europeuLeonardo da Vinci, oferece ainda apossibilidade de recém-licenciadosrealizarem estágios profissionais forade Portugal em instituições que te-nham protocolos com as Faculdadesparceiras da FCDEF.

Page 17: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

17JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

Ana Maria MirandaBotelho Teixeira nasceuhá 40 anos, em Coim-bra. Casada, com duasfilhas de cinco e doisanos, é licenciada emBioquímica pela Facul-dade de Ciências eTecnologia da Univer-sidade de Coimbra(FCTUC), onde concluiuo curso em 1988.

O mestrado em Imu-nologia pelo ICBAS, naUniversidade do Porto,foi concluído em 1992,

enquanto o doutoramento em Hematologia foiatribuído pela London Medical School, Univer-sity College of London, em 1996.

Quando acabou a licenciatura, esteve comoinvestigadora no Centro de Imunologia naFaculdade de Medicina da UC. A seguir ao dou-toramento, trabalhou dois anos no Instituto deOncologia do Porto.

É docente da Faculdade de Ciências doDesporto e Educação Física (FCDEF) da UCdesde Agosto de 1998, onde lecciona as cadei-ras de Fundamentos de Educação para a Saúdee Bioquímica do Exercício.

Presidente do Conselho Directivo da FCDEFdesde 2002, coordena a disciplina de Seminárioe tem a seu cargo a investigação de áreas comoa imunologia e bioquímica do desporto e a pro-moção da saúde através do exercício físico.

PE

RF

IL

Dois problemas por resolverO quadro de pessoal e as instalações assumem-se como os dois grandes problemas da Faculdade de Ciências

do Desporto e Educação Física (FCDEF). “O quadro de pessoal não docente ainda não saiu e tenho dificuldade

em ter funcionários que possam estar de forma permanente. Tenho alguns que vão e voltam ou têm vínculos um

pouco precários e outros emprestados por outras Faculdades”, confidencia Ana Teixeira.

Outro dos problemas que se arrasta há vários anos é o das instalações, que já ultrapassaram há muito a

capacidade em termos de espaço. “Há um problema muito grande na componente pedagógica do que será uma

universidade, já que não temos salas de aulas, laboratórios, gabinetes para os docentes e salas para a instalação

dos serviços suficientes”, confidencia a Presidente do Conselho Directivo.

“Temos um mestrado colocado em Alcobaça, porque aqui não há espaço”, exemplifica Ana Teixeira, que lembra

que a FCEDF ganhou um concurso de reequipamento científico e daqui a pouco não vai ter sítio para o colocar.

As dificuldades de crescimento da Faculdade assumem-se como um problema de prioritária resolução, mas a falta

de verbas tem travado o projecto das novas instalações.

“Só falta o dinheiro para avançar. O projecto de arquitectura, que está pronto e na fase de licenciamento,

precisa de ser aprovado pelo Ministério da Educação e Ensino Superior, mas o PIDDAC deste ano cortou a verba

para o início das obras”, lamenta a docente, que acredita no arranque das obras no próximo ano. “Estar a adiar

muito mais é impossível em termos psicológicos e é difícil lidar com a situação no aspecto logístico”.

“Só começámos agora a receber o di-nheiro. Tem ajudado bastante e permi-tido fazer algumas coisas, mas aindaestamos muito no princípio e ainda nãonos capacitámos que temos algum di-nheiro para fazer as coisas”, explicaAna Teixeira, antes de reconhecer que“em termos de Orçamento de Estado, éimpossível fazer investigação e tem deser com o dinheiro que vem de apoiosde outras instituições”.

O basquetebol foi a modalidade des-portiva que cativou a atenção de AnaTeixeira na juventude. “Pratiquei, du-rante um ano ou dois, como federadano Olivais, mas depois deixei porqueentrei muito tarde”, explica a docenteque, entretanto, fez “coisas normaiscomo aeróbica e hidroginástica” e querreactivar, “o mais rápido possível”, aprática desportiva, com o recurso àsala de musculação do EstádioUniversitário.

Apesar do tempo escassear, AnaTeixeira adora viajar e tem “pena denão o poder fazer mais vezes”.Aproveita as horas livres para estarcom a família, passeando com as filhase o marido. Uma vida preenchida, masque, assegura, a obriga a estar “empermanente actividade”. Com o fim domandato à porta, a Presidente doConselho Directivo tem um desejo:“Espero que as obras da FCDEF final-mente comecem”.

Trabalho de TeresaAlmeida Santosem prestigiadarevista científica

No seio da Universidade de Coimbradesenvolvem-se trabalhos de investigação degrande importância e qualidade que, a maiorparte das vezes, são mais conhecidos e melhorapreciados além-fronteiras do que entre nós.

Tal reconhecimento é feito, por exemplo,através da divulgação desses trabalhos emalgumas das mais prestigiadas revistas cien-tíficas do Mundo.

Como exemplo, escolhemos para esta primeiraedição do “Jornal da Universidade”, sobretudodedicado à Mulher, o trabalho de uma docente einvestigadora da Faculdade de Medicina, TeresaAlmeida Santos, que acaba de ser publicado naedição deste mês de Março da revista “Fertilityand Sterility” – que é o órgão oficial daSociedade Americana de Medicina daReprodução, e uma das mais conceituadaspublicações nesta área, a nível mundial.

Trata-se de parte do trabalho de investigaçãoque conduziu à tese de doutoramento de TeresaAlmeida Santos pela Faculdade de Medicina daUniversidade de Coimbra, e que “pretendeencontrar marcadores de qualidade dos gâmetasfemininos e explicações ao nível celular emolecular para o insucesso reprodutivo”. É umtrabalho de colaboração com um dos maioresespecialistas europeus em Genética daReprodução e Mitocondrial, Justin St. John, daEscola Médica da Universidade de Birmingham,no Reino Unido – colaboração essa que ainda semantém.

É justo realçar que se trata de um artigo queprestigia não só a sua autora, mas também aUniversidade de Coimbra, e demonstra que aquié possível fazer investigação a nível europeu ecom equipas multidisciplinares.

Refira-se que Teresa Almeida Santos (quepertence ao Serviço de Genética Médica doDepartamento de Medicina Materno-fetal,Genética e Reprodução Humana dos Hospitaisda Universidade de Coimbra e Faculdade deMedicina), vira já publicado pela mesma revista,em Dezembro de 2004, um outro artigo degrande importância, fruto de um trabalhodesenvolvido em colaboração com João RamalhoSantos, Alexandra Amaral e Mariana Freitas(todos do Centro de Neurociências daUniversidade de Coimbra) e Raquel Brito (docitado Serviço de Genética Médica).

Page 18: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

18 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

REPORTAGEM

É a mais antiga aluna ainda viva da

Universidade de Coimbra e uma das

mais idosas cidadãs portuguesas.

Completa 107 anos de idade no próxi-

mo dia 3 de Abril. Mas mantém uma

jovialidade invulgar, de fazer inveja a

muitos bem mais novos, como de-

monstrou na homenagem que há pou-

cos dias lhe foi prestada em Coimbra,

cidade onde vive há muitas décadas.

Nessa tocante sessão que decorreu

no Instituto Superior de Engenharia,

Maria Virgínia não se limitou a ouvir o

Coro dos Antigos Orfeonistas, que ali

cantaram em sua homenagem. Entoou

com eles algumas célebres composi-

ções e, melhor do que isso, surpreen-

deu todos no final, cantando a solo,

com voz ainda enérgica e afinada, a

“Coimbra do Mondego e dos amores

que eu lá tive…”. E foram, e são, mui-

tos amores, de vária natureza, como a

seguir se verá – desde uma família nu-

merosa, até à afeição pela cidade de

adopção recíproca, passando pelo ca-

rinho que dedica às tradições acadé-

micas.

Maria Virgínia de Abreu Ferreira de

Almeida nasceu no Porto, em 1899,

por coincidência na casa onde antes

vivera Carolina Michaelis, a primeira

mulher a leccionar numa Universidade

em Portugal. O pai formou-se em

Medicina e fixou residência em S.

Pedro do Sul, para ali exercer clínica.

A Mãe de Maria Virgínia morreu quan-

do esta tinha apenas 5 anos, pelo que

tentam atenuar-lhe a orfandade com o

carinho da família e das senhoras da

sociedade local, que a enchem de

mimos. Convive com “a fina flor da no-

breza beirã”, joga ténis (de vestido

comprido, como se impunha na

época), anda a cavalo e nada no rio

Vouga recatadamente, aprende música

e francês e vai-se instruindo. Concluído

o curso liceal em Viseu, quer demandar

outras paragens, e pede ao pai que a

deixe ir prosseguir estudos em

Londres, onde tem uma tia. Mas o dr.

João Ferreira de Almeida acha que a ca-

pital britânica é exagero, e aponta-lhe a

Universidade de Coimbra como alterna-

tiva. Ela concorda e manifesta vontade

de cursar Medicina, o que o pai consi-

dera pouco próprio para uma mulher,

pelo que a jovem se resigna e escolhe

Físico-Químicas.

Chega à Universidade de Coimbra

em 1917 (ano das Aparições de Fátima

e do começo da Revolução Russa),

sendo uma das 70 mulheres ali inscri-

tas entre os cerca de 1.200 alunos.

AS CHAPELADASDE SALAZAR

Com uma colega de Viseu, foi

viver para a Casa das Cruzes, de

onde tinha uma deslumbrante vista

do Mondego. Quando estava à ja-

nela, era frequente por ali passar

um jovem assistente que nesse ano

começara a dar aulas na

Universidade, que habitava ali

perto, na Rua dos Grilos, e que a

saudava com exuberantes chapela-

das. Chamava-se António de

Oliveira Salazar e algum tempo de-

pois, quando foi chamado a Lisboa

para funções governativas, até lhe

pediu que lhe guardasse a mobília

de jantar – ao que ela acedeu.

Recorda que na Universidade as mu-

lheres eram tratadas por “Vossa

Excelência”, era-lhes consentido usar

pasta com fitas, mas não podiam en-

vergar capa e batina nem participar

nas actividades estudantis – nem se-

quer lhes era permitido entrar na

Associação Académica.

Reagindo contra esta “segregação”,

Maria Virgínia funda a primeira “repú-

blica” feminina, a Casa Independente

de Raparigas de Coimbra – juntamen-

te com Dionísia Camões, Maria Teresa

Basto e Elisa Vilares – participando

ainda, pouco tempo depois, na criação

do Círculo Académico Feminino Ca-

tólico.

O curso prolongou-se por sete anos

(cinco de Físico-Químicas e dois da

Escola Normal Superior) e foi concluí-

do com um brilhante 16. Logo a seguir

vai dar aulas para Lisboa, no Liceu

Maria Amália Vaz de Carvalho, ali es-

tando um ano, para regressar a

Coimbra, sendo colocada no Liceu

Infanta D. Maria, onde leccionou até

se reformar, aos 75 anos.

Maria Virgínia

COMPLETA 107 ANOS DENTRO DE UM MÊS

NNoottáávveell eexxeemmpplloo ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee

Page 19: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

19JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

REPORTAGEM

Entretanto, aos 32 anos casou com

o capitão Ernesto Pestana, que com-

batera em França, na I Grande Guerra,

e então comandava o Quartel de

Santa Clara. O militar apaixonara-se

por ela quando a viu e ouviu cantar

na Igreja de Santa Cruz e na Sé Velha.

Ernesto Pestana viria a ser nomeado,

anos depois, Governador Civil de

Coimbra, e numa das festas oficiais

em que Maria Virgínia o acompanhou,

na recepção ao Presidente brasileiro

Café Filho, Salazar logo a reconheceu

e veio cumprimentá-la de forma muito

amistosa.

QUANDO SÓCRATESERA UM GATO

Dos tempos da sua “república” fe-

minina, Maria Virgínia recorda que

uma das obrigações das pioneiras era

escreverem um diário, alternadamen-

te. São cinco preciosos volumes que

ainda hoje conserva, cujo conteúdo o

tempo foi esmaecendo, mas que ela

consegue decifrar, mais com a memó-

ria do que com os olhos (apesar de

ainda ver satisfatoriamente).

Nesses obrigatórios relatos diários,

as jovens nem sempre tinham coisas

importantes para registar. Por isso,

muitas vezes divagavam sobre futili-

dades do dia-a-dia, como a compra de

um sabonete “por dois mil reis, para

tornar a tez mais encantadora”. Um

dinheirão para a época, já que a sua

mesada era de vinte mil reis (20 escu-

dos, o que equivale a 10 cêntimos na

actual moeda), e de alojamento paga-

va 18 mil reis. Com a extravagância do

sabonete, lá se foi a mesada de Maria

Virgínia!

As saídas eram todas registadas.

Assim, por exemplo, no dia 9 de

Novembro de 1920, Maria Virgínia es-

creveu que as jovens foram ao “cine-

matógrafo, onde nos levou a mãe da

Dionísia, o que, segundo as suas pró-

prias palavras, a encheu por mais um

ano. Eu não digo outro tanto, mas por

mais um mês talvez”.

Noutra página do diário uma bem

humorada alusão às deambulações do

gato do vizinho, “um bichano burguês

chamado Sócrates”.

UMA VIDA CHEIA E FELIZ

Na homenagem que lhe foi prestada

há escassos dias, Maria Virgínia viu-se

rodeada de muitos amigos e admira-

dores e ouviu palavras justamente

elogiosas. Entre elas as do Presidente

da Junta de Freguesia dos Olivais,

Francisco Andrade, que fez uma evo-

cação biográfica da mais idosa habi-

tante; as do Presidente da Câmara

Municipal, Carlos Encarnação, que a

classificou como “um testemunho de

vida, quer pela sua carreira universitá-

ria, quer pela sua liberdade de actua-

ção enquanto Mulher”; e as do Reitor

da Universidade, Seabra Santos, que

sublinhou ter ela assistido ao

Regicídio, à Implantação da Repúbli-

ca, à I e à II Guerras Mundiais, ao

Estado Novo, a mais de 30 anos de

Democracia, e continuando hoje aqui

“jovem e sã como um pêro”.

Maria Virgínia é, realmente, um

exemplo, pelo seu pioneirismo, pela

sua luta pela dignificação da Mulher,

pela sua carreira docente e, sobretu-

do, pela forma invulgar como soube

enfrentar os anos, sem deixar que eles

lhe envelhecessem o espírito e lhe de-

bilitassem o corpo.

Teve 6 filhos, que lhe deram 13 ne-

tos e 12 bisnetos. O corolário de uma

existência feliz, que tem sido sempre

vivida intensamente, e que se espera

e deseja assim se mantenha por mui-

tos mais anos.

ddee uummaa ddaass pprriimmeeiirraass aalluunnaassddee CCooiimmbbrraa

Page 20: Jornal da Universidade de Coimbra – Março 2006

20 JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

EFEMÉR IDE

Cavaco Silva já tinha feito a rodagemao carro, já tinha anunciado que o BlocoCentral já era, ligado à máquina até aoday after da assinatura do Tratado deAdesão à Comunidade Europeia.

Corria 1985, ano e meio depois de, comJaime Ramos (PSD), termos apresentadona Assembleia da República o primeiroprojecto-lei de licenciamento das rádioslocais. Dos dirigentes bloquistas de então(os do meu partido – PS –, e os do PSD),não tínhamos novas sobre o sucesso doprojecto.

A verdade manda-me dizer que as mai-ores resistências moravam no PartidoSocialista.

Em jeito de despedida, só para fazertremer um bocado as forças de bloqueio,eu e o Jaime decidimos anunciar projecto-lei para liberalização da televisão.

Já passaram 21 anos, já podemos con-fessar que nem uma linha tínhamos ra-biscado sobre o dito projecto. Não caiu oCarmo, já tão em ruínas; a Trindade con-tinuou a servir cerveja, mas o espavento

dos nossos propósitos na co-municação social foi grande.Que nos desculpe a Teresade Sousa, o Siqueiros, oCapinha – foi por uma boacausa, não levem muito amal.

Nuno Rocha, director de “OTempo”, não suspeitava damarotice e enviou-nos tele-grama esfusiante, elogiandoa coragem e pedindo boleia: “Já agora,senhores deputados, avancem tambémcom a privatização dos jornais doEstado”.

Almeida Santos não sabia e foi à reuni-ão do Grupo Parlamentar do PS. Eu nãosabia ao que Almeida Santos ia, não tivetempo para aquecer o lugar, a saudosaÁurea chamou-me ao telefone. Era urgen-te, um ministro do outro lado da linha.

Era Coimbra Martins, Ministro daCultura. Acompanhara a euforia e o pro-cesso de legalização das rádios livres emFrança, antes do regresso a Portugal. Já

em tempos havia dado mos-tras de ser amigo da RUC.Aceitou o risco de visitar osestúdios da nossa rádio, dei-xando-se entrevistar tam-bém. Tratava-se de umarádio pirata, uma rádio queos “radioeléctricos” dos CTTdeveriam zelosamente encer-rar, por maus tratos à lei dopaís. Não se importou. O

mesmo fizera Mário Soares, ao tempoPrimeiro Ministro.

Coimbra Martins telefonara para me“admoestar”: “Então Dinis Alves, vamosembora daqui a dias e você não pedenada para a rádio da sua Académica?!”

Lá pedi, pois claro. Já não me lembrodo montante, o João Morgado talvez senão lembre também, mas que deu um jei-tão lá isso deu. Seguindo o conselho doministro, teríamos que pedir para livros,pinturas de paredes, tudo menos paraalgo que lembrasse pirataria.

Não ouvi uma pequena parte do telefo-

nema de Coimbra Martins, tal o fragordas palmas na outra sala.

Soube depois que os meus camaradasde bancada haviam frenesinado as mãosquando Almeida Santos bateu com umadas dele no peito, no lado do coração, ju-rando: “Privatização da televisão??? Sópor cima do meu cadáver!!!”.

Hoje temos a RUC emitindo legalmente,mais umas centenas de rádios também.Temos a SIC, a TVI, os canais de cabo.

Rádio e televisão abriram-se à iniciati-va privada sem ser preciso passar pelocadáver de Almeida Santos. Fico feliz,pela admiração que por ele tenho.

Em nome dos “maluquinhos” doCentro Experimental de Rádio, em nomedos “lunáticos” da RUC, deixo aqui umOBRIGADO ao Ministro Coimbra Martins.Não pelo subsídio, sim pelo gesto.

Dinis Manuel [email protected]

Para saber mais sobre Coimbra Martins visitehttp://forja.free.fr/quem/arquivo/coimbra.html

Está a ser ultimada uma edição come-morativa dos 20 anos da RádioUniversidade de Coimbra. Com lança-mento previsto para 1 de Maio de 2006,“RUC – 20 anos sempre no ar!” incluiráum livro com testemunhos pessoais deactuais e ex-colaboradores desta estaçãoemissora, obra acompanhada por doiscds audio (um deles inteiramente preen-chido por spots produzidos ao longo dosúltimos anos) e um DVD.

O DVD incluirá uma curta metragem in-titulada “A Verdadeira história daRUQUE”, filme concebido, realizado eprotagonizado pelo colectivo de actoresde Coimbra “Esticalimóseiça”; gravaçãode uma irónica e divertida peça de tea-tro sobre a RUC, concebida e interpreta-da também pelo “Esticalimóseiça”; umacurta metragem “CURta atRUC” sobre asinstalações da Rádio Universidade deCoimbra, com realização a cargo de SAL,e uma galeria de fotografias da rádiouniversitária.

No contexto das celebrações do 20.ºaniversário desta rádio estudantil sãovárias as actividades que se estenderãoao longo do ano e que incluem teatro,exposições, debates e concertos.

O início das comemorações é marcadopela emissão de 1 de Março, onde se po-

derão ouvir vários especiais e programasclássicos dos 107.9 FM especialmente

gravados para o efeito.A Rádio Universidade lançou ainda um

desafio ao sueco Ernesto para vir atéCoimbra e durante uma semana traba-lhar com um músico português para jun-tos apresentarem um espectáculo únicoonde recriam temas do sueco de “A NewBlues”, trabalham em inéditos concebi-dos nesse tempo e reciclam clássicoscom novas roupagens. O desafio foiprontamente aceite, “Ernesto Vs PedroRenato” “passa” dia 3 de Março, pelas21h30, no Teatro Académico de GilVicente.

Mais informações em www.ruc.pt

COMO TUDO COMEÇOU

1 de Março de 1986 é a data simbólicaque marca os aniversários da RádioUniversidade de Coimbra, naquele que étambém o dia da Universidade. No en-tanto, as origens desta secção culturalda Associação Académica de Coimbramergulham na década de 40.

A RUC herdou do passado uma formamuito especial de fazer rádio, e é hojeum órgão de comunicação social únicopelo seu papel formador e inovador.

Na década de 40, o Centro Expe-rimental de Rádio, que era então umadas secções da Associação Académica

Obrigado Coimbra MartinsPPoorr ddeeffeerrêênncciiaa ddaa ddiirreeccççããoo ddaa RRUUCC,, oo JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee ddiivvuullggaa uumm ddooss tteexxttooss qquuee iinntteeggrraarrããoo aa ccoommppiillaaççããoo aa llaannççaarr nnoo pprróóxxiimmoo mmêêss ddee MMaaiioo

Eduardo Brito

RÁDIO UNIVERSIDADE DE COIMBRA

HHáá 2200 aannooss sseemmpprree

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21JJoorrnnaall ddaa UUnniivveerrssiiddaaddee1 Março 2006

EFEMÉR IDE

de Coimbra, começou a formar técnicose locutores. Foi por essa altura que, comas condições possíveis, se iniciaramemissões regulares. A difusão era feitaem circuito interno e destinava-se àscantinas universitárias, sendo tambémouvida na cidade.

Nasceu assim o sonho de criar umarádio estudantil, até porque uma experi-ência anterior, à qual tinham chamadoRádio Universidade, já tinha dado osseus frutos.

Durante vários anos, a RDP Emissora

Nacional concedeu algum do seu tempo

de antena aos estudantes. Estes prepa-

ravam, realizavam e gravavam os pro-

gramas nos seus próprios estúdios, em

fita magnética, para posterior divulgação

no centro regional da RDP em Coimbra.

A principal preocupação foi sempre a

formação contínua aos estudantes da

Universidade, em três áreas específicas -

programação, informação e técnica ra-

diofónica. Nesta Escola de Rádio passa-

ram nomes que se tornaram conhecidos:

Sansão Coelho, Braga da Cruz, Rui

Avelar, João Moreira Pires, João Elvas,

João Cunha, José Portugal, José Carlos

Pinho, Edgar Canelas, Rui Portulez, entre

outros.A vida da cidade foi sempre acompa-

nhada de perto, mesmo nos seus mo-mentos mais quentes, como as crises

académicas de 58, 62 e 69, e o 25 deAbril de 1974.

A CONCRETIZAÇÃODE UM SONHO

Os primeiros passos para a criação daRádio Universidade de Coimbra quetemos hoje foram dados em 1982, com

a obtenção de meios técnicos capazesde garantir emissões regulares, nos 100MHz. Deu-se também início ao processode legalização, formalizado com umPedido de Licenciamento de umaEstação Emissora, em 14 de Novembrode 1983.

No dia 1 de Março de 1986 foi criadaa Rádio Universidade de Coimbra.

A partir de 10 de Dezembro de 1986,começaram a ir para o ar os primeirosserviços noticiosos com carácter regular,que eram ouvidos após os sinais horá-rios, entre as 21h e as 2h.

O alvará chegou finalmente emSetembro de 1988, data a partir da quala RUC começou a emitir na frequênciados 107.9 FM durante 24 horas por dia.Se já era uma das poucas Escolas deRádio do país, a Rádio Universidade deCoimbra tornou-se também o primeiroórgão de comunicação social inteiramen-te composto e gerido por estudantesuniversitários.

Desde então, a RUC tem cimentado assuas actividades em quatro frentes: for-mativa, informativa, académica e cultu-ral.

INTERNETA RUC procurou desde cedo afirmar a

sua presença na internet, tendo ocupa-do o domínio ruc-online.com e maistarde o ruc.aac.uc.pt. Hoje tem casanova, mora em www.ruc.pt, página lan-çada a 31 de Março de 2003. O novo es-paço surgiu com um visual renovado,mais conteúdos de programação e notí-cias actualizadas em tempo real.

Se quiser viajar no tempo, encontraduas versões antigas da RUC no ciberes-paço.

Endereços:http://www.ruc.pt/~ruc/www.ruc-online.comhttp://www.ruc.pt/%7Eruc/www.ruc.aac.uc.pt

Eduardo Brito

Eduardo Brito

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PÁGINA L IVRE

Desde há muitos meses, desde há al-guns anos até, entrecortados por períodosde relativa hibernação, que a comunidadeuniversitária se debate com uma necessá-ria reestruturação, correntemente designa-da por Reforma de Bolonha.

À semelhança de muitas outras reformasjá ocorridas no contexto educativo, de quea última em que me vi mais ou menos en-volvida, como mãe, foi a dos agrupamen-tos escolares (que envolveu jardins de in-fância, 1º, 2º e 3º ciclos), o sistema, entreamedrontado e preguiçoso, procura iludira crise, transformando-a em urgência, atra-vés de um adiar do tempo de reflexão edecisão até um limiar em que só ajusta-mentos e adaptações são imagináveis epossíveis.

Sendo esta uma conversa que poderiater tido, partilhá-la, agora, é uma forma demetacomunicar e, como tal, de clarificar,perante mim própria, aquilo que penso ouestou disponível para fazer.

UUMM OOUUTTRROO:: Não estás cansada deBolonha?

EEUU:: Sim e não…OO MMEESSMMOO OOUUTTRROO:: Como sim e não?

Não te parece que vamos perdermuito em qualidade? E que, finalmen-te, vai ficar tudo na mesma, oumesmo pior?

EEUU:: Talvez sim, talvez não…OO MMEESSMMOO OOUUTTRROO:: Estás encantado-

ra! Completamente transparente, entreum sim e um não e um talvez!

EEUU:: Deixa-me contar-te uma histó-ria; talvez percebas depois melhor oque quero dizer.

Era uma vez um sábio que, na pre-sença dos seus discípulos, administra-va justiça entre dois queixosos. Umdeles queixava-se de que lhe tinhamroubado uma vaca e considerava queo ladrão, presente na sala, devia sercastigado. Depois de reflectir longa-mente sobre o assunto o juiz decidiuque, se era assim como ele contava,ele tinha razão. Falou então o supos-to ladrão e explicou que realmentetinha roubado a vaca porque os filhosestavam a morrer de fome e ele nãoencontrava trabalho, apesar de todosos esforços que tinha feito para o en-contrar. Como o seu vizinho era rico,achava que ele podia esperar até quepudesse pagar-lhe. Depois de pensaraturadamente, o juiz deu-lhe razão.Aos discípulos que se admiraram de omestre ter dado razão a duas razõescontraditórias dos mesmos factos ojuiz, depois de muito meditar, respon-

deu que também eles tinham razão1.

OO MMEESSMMOO OOUUTTRROO:: Estou cada vezmais confuso! Será que, afinal, o quepensas de Bolonha é NIM?

EEUU:: De forma alguma.Bolonha seduz-me porqueme empurra para novasformas de estar na docên-cia, para formas mais co-construídas, em que acomplementaridade podetornar-se mais oscilante eem que o conteúdo de umdiscurso que pontua o su-jeito como competente eautónomo pode encontrarprocessos pedagógicosmais consonantes. E,nesse sentido, é com con-vicção que desejoBolonha.

OOUUTTRROO OOUUTTRROO:: O quequeres dizer com isso decomplementaridade osci-lante?

EEUU:: A relação professor-aluno é uma interacçãomarcada por diferenças que se encai-xam e em que o professor, na sua po-sição one-up, dirige e detém a respon-sabilidade dessa mesma interacçãoenquanto o aluno, numa posição one-down, ajusta o seu comportamento aodo professor e responde à sua inicia-tiva. O crescimento afectivo e cogniti-vo de ambos, contudo, exige uma al-ternância destas posições não só paraque o aluno desenvolva as competên-cias de direcção e responsabilidadena interacção mas também para que odocente crie novos textos e não se ar-risque a manter a mesma narrativanos seus trinta e tantos anos de pro-fissão.

OO PPRRIIMMEEIIRROO OOUUTTRROO:: Falavas de pro-cessos mais concordantes com conte-údos…

EEUU:: Sim, questiono-me muitas vezessobre como respeito a ideia de o quesujeito é um sistema auto-organizado,capaz de promover mudanças, no seuinterior, que lhe permitam um aumen-to da sua complexidade funcional eorganizacional. Sobre como lhe possotransmitir informação pertinente que ofaça aumentar o seu (desejo e domí-nio de) conhecimento, de tal formaque ele não se cole à informação vei-culada mas se aproprie dela e a inte-gre de forma a transformar-se e atransformá-la em novas reflexões e in-tervenções.

Os modelos expositivos, mesmoquando partilhados por professores ealunos, facilitam pouco a co-constru-ção deste processo de ensino-apren-dizagem. É nisso que espero queBolonha possa constituir uma pertur-bação suficiente para encontramosnovas formas de criar e desenvolverconhecimento.

OO PPRRIIMMEEIIRROO OOUUTTRROO:: Estás a falar danova pontuação? Das horas de contac-to, de estudo e das horas tutoriais?…

EEUU:: Sem dúvida. E também numaorganização da formação superior queestá longe de ter no nível de mestra-do a sua pontuação fundamental.

OO SSEEGGUUNNDDOO OOUUTTRROO:: Estás a pensarem cursos de doutoramento…

EEUU:: Também mas não só. Parece-meque é frequente, no nosso País, a for-mação ter um carácter mais ou menosepisódico, alcançando, por vezes, ní-veis excelentes mas que não se po-tenciam no tempo, dificultando,assim, a organização de um processocontínuo de aprendizagem bem comoa criação de redes inter-pares muitoúteis no apoio e crescimento das pes-soas e dos profissionais.

OO PPRRIIMMEEIIRROO OOUUTTRROO:: E achas queisso compete às Universidades?

EEUU:: Acho que é muito útil ao seupróprio desenvolvimento pois permiteuma recursividade entre investigação-aplicação-reflexão-docência-investiga-ção… que, doutra forma, me pareceficar muito dificultada ou mesmo im-possibilitada.

Desde há anos que sinto que, en-quanto docente universitária, tenhobastante para dar a profissionais daminha área, e de áreas afins, queestão no terreno, mas também sinto,com igual intensidade, que eles mepermitem pensar problemas e solu-ções que, de outra forma, dificilmenteequacionaria.

OO PPRRIIMMEEIIRROO OOUUTTRROO:: Não entendo…EEUU:: Não sei se concordas comigo,

mas eu sinto que o ensino universitá-rio precisa de se transformar de formaa tornar as pessoas genericamentemais capazes de se desafiarem a sipróprias e de produzirem trabalho de

maior qualidade. Bolonha,obrigando-nos a uma nova es-truturação do processo de en-sino-aprendizagem podiaconstituir a perturbação ne-cessária à transformação qua-litativa do próprio sistema.Perguntas-me se com Bolonhavamos ficar melhor. Não sei oque poderá acontecer se nospermitirmos perder o equilí-brio que temos tido e nos per-mitirmos transformar os pa-drões de relação inter-pares eentre docentes e discentes.Sei é que dificilmente continu-aremos na mesma, a menosque convertamos esta oportu-nidade de mudança num qua-dro de simples adaptação. Eparece-me que é isso que cor-remos o risco de fazer, pro-pondo mudanças mínimas

com a desculpa de que não há tempopara pensar doutra forma ou de quenão podemos perder o poder que aafirmação da nossa autonomia docen-te nos confere, o que eventualmenteaconteceria se nos abríssemos mais àco-construção de novos projectos cur-riculares.

OO SSEEGGUUNNDDOO OOUUTTRROO:: Não sei por-quê, mas o que acabaste de dizer fez-me pensar na afirmação de Tuiavii,chefe da tribo de Tiavéa, nos maresdo sul: … A palmeira deixa cair as fo-lhas e os frutos quando estes amadu-recem. O Papalagui vive como umapalmeira que retivesse folhas e frutos,dizendo: “São meus! Não tendes o di-reito de os apanhar ou de os comer!”Como faria ela, então, quando vies-sem novos frutos? A palmeira é bem

mais sensata do que o Papalagui…2

EEUU:: Não é fácil ser palmeira mas édessa forma que crescemos e somosreconhecidos.

OO PPRRIIMMEEIIRROO OOUUTTRROO:: Afinal, porquedisseste que também estavas cansadade Bolonha?

EEUU:: Porque temo cada vez mais queela deixe de ser uma oportunidade demudança nacional. Embora, pelaminha parte (e nisso tenho a certezade que estarei acompanhada por vá-rios Outros), procure deixar que elame perturbe suficientemente a pontode criar um novo patamar na minhavida docente.

Madalena Alarcão

11 In Alarcão, M. (2002). /dês)Equilíbrios familiares:Uma visão sistémica. Coimbra: Quarteto Editora22 Tuiavii de Tiavéa (2003). O papalagui: Discursosde Tuiavii, chefe de tribo de Tiavéa nos mares dosul. Lisboa: Edições Antígona.

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PUBL IC IDADE

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