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Universidade Presbiteriana Mackenzie Programa de Pós-Graduação em Direito Político e Econômico Sergio Paulo Gomes Gallindo MARCO CIVIL DA INTERNET E SERVIÇOS NA NUVEM. Hermenêutica jurídica e tributação como indutores de inovação tecnológica. Banca Examinadora da Dissertação de Mestrado: Prof. Dr. Eduardo Marcial Ferreira Jardim (orientador) Profa. Dra. Zélia Luiza Pierdoná Prof. Dr. Roberto Baungartner São Paulo, 8 de fevereiro de 2017

P 2017-02-08 - mack dissertação v30

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Programa de Pós-Graduação em Direito Político e Econômico

Sergio Paulo Gomes Gallindo

MARCO CIVIL DA INTERNET E SERVIÇOS NA NUVEM.

Hermenêutica jurídica e tributação como indutores de inovação tecnológica.

Banca Examinadora da Dissertação de Mestrado:

Prof. Dr. Eduardo Marcial Ferreira Jardim (orientador)Profa. Dra. Zélia Luiza PierdonáProf. Dr. Roberto Baungartner

São Paulo, 8 de fevereiro de 2017

p. 2 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Sumário

1. A Relevância da Internet

2. Tributação sobre Serviços na Nuvem▶ Natureza jurídica do hardware e do software▶ Princípios da legalidade e da tipicidade tributárias▶ Imposto sobre hardware ▶ Imposto sobre software e controvérsias▶ Tributação de serviços na nuvem

3. Neutralidade de Rede no Marco Civil da Internet▶ Marco Civil da Internet à luz do Direito Econômico e seus Arquiprincípios▶ Princípio x Regra: a grande questão. ▶ As diversas naturezas da Internet e as máximas da neutralidade de rede ▶ Priorização de tráfego e Subsídio comercial▶ Colisão e sopesamento de princípios

4. Tributação ótima sobre produtos de Tecnologia da Informação▶ Funcionamento teórico do mercado e o efeito da tributação▶ Ciclo de vida mercadológico de bens e serviços de TI e TIC▶ Análise comparativa de estratégias tributárias de viés extrafiscal

p. 3 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

A Relevância da Internet (no Brasil)Telefonia e Banda Larga, Fixa e Móvel

1

4 1533

5295

145 150 152

174

203

242

262

271

281 258 25315

2850

72

117

169 176 178

-270,0

-220,0

-170,0

-120,0

-70,0

-20,0

30,0

80,0

130,0

180,0

0

100

200

300

400

500

600

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 S1-2016

Banda Larga Fixa 4G/3G TV por assinatura

Linhas de Telecom

• 493 mil

4G/3G Linhas

▶ 152 milhões

▶ 74,4% a.a.▶ 85% da Banda Larga

Linhas de Voz

▶ 296 milhões

▶ 5,0% a.a.

Banda Larga

▶ 178 milhões

▶ 35,6% a.a.

p. 4 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

A Relevância da Internet (no Brasil e no Mundo)Desafio para massificar o acesso – Preço x Renda

1

5,2

38,6

55,3

15,2

114,4

0,3

8,5

41,7

39,1

89,6

5,5

47,1

97,0

54,3

204,0

95%

82%

57%

28%

56%

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

300,0

Classe A Classe B Classe C Classe D/E População

Usuários Não Usuários Total % Usuários

Classe

Social

População

(Milhões)

População

(%)

Rendimento Anual

Limite Superior

Classe A 5,5 3% Superior

Classe B 47,1 23% R$ 15.760

Classe C 97,0 48% R$ 7.880

Classe D/E 54,3 27% R$ 3.152

Internet World Stats 2017▶ 3,7 bilhões de usuários no mundo ▶ Penetração de 50,1%

p. 5 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

program pares;var

x, y: integer;begin

writeln('Digite os dois valores');readln(x, y);if (x mod 2) <> 0 thenx := x + 1;while x <= y dobegin

writeln(x, ' - ');x := x + 2;

end;writeln('Fim da Lista');

end.

Linguagem de Alto Nível

Tributação sobre Serviços na NuvemNatureza jurídica do hardware e do software

011001011100011110111001000011110101001001001111110010010010

2

MOV r, M1ADD M2PUSHCALL PROC1HLT

Linguagem de Máquina

Linguagem Assembly

Código Fonte Compilador

Listagens Código Fonte

Listagem Assembly (opcional)

Código

Executável

Direito Autoral

Licença de Uso

Hardware Bem Móvel

p. 6 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Natureza jurídica do hardware definida pela Código Civil – Bem Móvel Fungível▶ Art. 82 São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem

alteração da substância ou da destinação econômico-social.▶ Art. 85 São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade ....

Tributação sobre Serviços na NuvemNatureza jurídica do hardware e do software

Natureza jurídica do software definida pela Lei 9.609 de 1998 – Direito de Autor▶ Art. 1º Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções em

linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informação, ... baseados em técnica digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.

▶ Art. 2º O regime de proteção à propriedade intelectual de programa de computador é o conferido às obras literárias pela legislação de direitos autorais ... observado o disposto nesta Lei.

▶ Art. 9º O uso de programa de computador no País será objeto de contrato de licença.▶ Software é bem intangível, protegido por direito real de autor, passível de cessão, onerosa ou

gratuita, total (transferência de titularidade) ou parcial (direito de uso).> Conforme o Art. 3º, III, o registro da autoria se dá com base no domínio sobre o código fonte.> O licenciamento ou cessão de direito de uso, se dá por intermédio do código executável.

Natureza jurídica do software definida pela Lei 9.610 de 1998 e Código Civil – Bem Móvel Intangível▶ Lei 9.610 de 1998, Art. 3º Os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens móveis.▶ Código Civil, Art. 83 Consideram-se móveis para os efeitos legais: ...

III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações

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p. 7 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Direitos reais segundo Karl Larenz (PENTEADO, Direito das Coisas, p.60)

▶ “O efeito da propriedade vê-lo ele não tanto no poder do proprietário de decidir o que quiser acerca da coisa (de dispor dela,...), mas na mera possibilidade de excluir os outros da mesma coisa.”

▶ “Direitos reais são aqueles que por força dos quais a vontade do titular é decisiva para uma coisa. Isto não se deve entender no sentido de que seja a coisa aquela a quem, o ordenamento jurídico, ao conceder um direito real, impõe a sujeição. Isto não teria sentido. Todos os direitos subsistem entre pessoa e pessoa, não entre coisa e coisa.”

Direitos reais de gozo, segundo Luciano Penteado (PENTEADO, Direito das Coisas, p.125-126)

▶ “A função de gozo... pertine ao fato de que se destinam à satisfação de necessidades, relacionando-se à utilidade que o bem proporciona ao seu titular. Gozar, em sentido mais estrito, é fruir, aproveitar-se de vantagens que o bem tem aptidão de gerar.”

▶ No caso de direitos reais de gozo sobre coisa alheia: “Reduz-se o plexo de faculdades da situação dominial, mas mantem-se a função de gozo, isto é, de conferir um meio aproveitamento...”.

▶ Neste sentido, direito real de uso que se estabelece com a licença de software implica também o gozo da utilidade que que dele advém. Tem, portanto, natureza similar a do usufruto.

Tributação sobre Serviços na NuvemNatureza jurídica do software e direitos reais

EUA, Europa e Japão também consideram software como Direito Autoral (Copyright)▶ US Constitution, Article 1, Section 8, Clause 8, ref. Copyright Clause: “To promote the Progress of

Science and useful Arts, by securing for limited Times to Authors and Inventors the exclusive Right to their respective Writings and Discoveries.”

▶ Directive 2009/24/EC of The European Parliament… of 23 april 2009, Article 1, Object of protection: 1. In accordance with the provisions of this Directive, Member States shall protect computer programs, by copyright, as literary works

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p. 8 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Aspectos que balizam as nuances e controvérsias tributáriasi. A natureza jurídica dos fatos tecnológicos e sua pertinente subsunção a hipóteses tributárias

estatuídas pelo Poder Público no âmbito das competências tributárias constitucionais.ii. A observância dos ditames constitucionais e legais para o exercício das competências.

Principio da Tipicidade Tributária▶ Eduardo Jardim elenca a tipicidade no rol de princípios constitucionais tributários inexpressos,

implicando tratar-se de princípio que se depreende da exegese do Sistema Tributário Constitucional▶ “... a estrita legalidade tributária, rende margem ao reconhecimento do princípio da tipicidade, o qual

significa adequação do fato à norma.” (JARDIM, 2013, p.119)

▶ Yonne Dolário de Oliveira: “O que põe em relevo o caráter do tipo cerrado é a sua limitação precisa”▶ Eduardo Jardim enumera traços da tipicidade com base em Alberto Xavier: (i) origem legal; (ii)

objeto; (iii) seleção; (iv) numerus clausus; (v) exclusividade; e (vi) determinação.▶ Entendemos mais adequado falar-se em tipicidade angusta ou estrita, (i) angusta no sentido de

que, em que pese ser estreita, não é, porém, fechada, e (ii) estrita, no sentido de não ser rígida, ou seja, ser suscetível a certo grau de plasticidade.

Tributação sobre Serviços na NuvemPrincípios da legalidade e da tipicidade tributárias

Princípio da Legalidade Tributária: Nullum tributum sine lege▶ Eduardo Jardim: “... o primado da legalidade ressoa no direito tributário com a mesma essência que

noutros segmentos ..., conquanto se apresente com um conteúdo mais restritivo e angusto.” (JARDIM, 2014, p.157)

▶ Luciano Amaro: “A legalidade implica ... não a simples preeminência da lei, mas a reserva absoluta da lei.” (AMARO, 2010, p.134)

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p. 9 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Incidência de ICMS na circulação decorrente de operações de compra e venda de hardware▶ CF/88, Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:

II - operações relativas à circulação de mercadorias ... ainda que as operações ... se iniciem no exterior.▶ Lei Compl. 87/1996, Art. 2° O imposto incide sobre: I - operações relativas à circulação de mercadorias.▶ Eduardo Jardim: “... o fato jurídico sujeito ao ICMS (é) a realização de operações relativas a circulação

de mercadorias... a palavra ‘operações’ abriga o significado de negócio jurídico lícito, no caso, a realização de venda e compra, enquanto o termo ‘circulação’ ... à transferência de titularidade.”

Tributação sobre Serviços na NuvemImposto sobre hardware

Polêmica em torno da Incidência de ISS x Não Incidência de Imposto sobre aluguel de bens móveis▶ Querela erigida ao Pretório Excelso por intermédio do Recurso Extraordinário 116.121/SP, cujo

Acordão redundou na edição da Súmula Vinculante nº 31: “É inconstitucional a incidência do imposto sobre serviços de qualquer natureza - ISS sobre operações de locação de bens móveis”

▶ Min. Marco Aurélio, Rel.: “... entendo que as noções são diversas: a relativa à prestação de serviços, em si, e a inerente à locação de bem móvel. ... o imposto (ISS) ... considerado o figurino constitucional, pressupõe a prestação de serviços e não o contrato de locação. ... não tenho como assentar a incidência do tributo, porque falta o núcleo dessa incidência, que são os serviços”.

▶ Min. Celso de Mello: “... a qualificação da “locação de bens móveis”, como serviço, para efeito de tributação municipal ..., nada mais significa do que inadmissível e arbitrária manipulação ... da repartição constitucional de competências impositivas, eis que o ISS somente pode incidir sobre obrigações e fazer, cuja matriz conceitual não se ajusta a figura contratual da locação de bens móveis.”

▶ Ementa: “Em Direito, os institutos, as expressões e os vocábulos têm sentido próprio, descabendo confundir a locação de serviços com a de móveis, práticas diversas regidas pelo Código Civil, cujas definições são de observância inafastável - artigo 110 do Código Tributário Nacional.”

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p. 10 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Lei Complementar nº 116/2003 - ISSQN▶ Art. 1º O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito

Federal, tem como fato gerador a prestação de serviços constantes da lista anexa, ainda que esses não se constituam como atividade preponderante do prestador.

▶ § 2º Ressalvadas as exceções expressas na lista anexa, os serviços nela mencionados não ficam sujeitos ao ... ICMS, ainda que sua prestação envolva fornecimento de mercadorias.

Lista de serviços anexa à Lei Complementar nº 116 ▶ 1 – Serviços de informática e congêneres.▶ 1.01 – Análise e desenvolvimento de sistemas. (Obrigação de fazer, Lei de Software, Art. 4º )

▶ 1.02 – Programação. (Obrigação de fazer, Lei de Software, Art. 4º )

▶ 1.04 – Elaboração de programas de computadores, inclusive de jogos eletrônicos. (Obrigação de fazer, Lei de Software, Art. 4º )

▶ 1.05 – Licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação. (Obrigação de dar, Lei de Software, Art. 9º ) ISS não se coaduna com a natureza da transação

▶ 1.06 – Assessoria e consultoria em informática. (Obrigação de fazer)

▶ 1.07 – Suporte técnico em informática, inclusive instalação, configuração e manutenção de programas de computação e bancos de dados. (Obrigação de fazer)

▶ 1.08 – Planejamento, confecção, manutenção e atualização de páginas eletrônicas. (Obrigação de fazer, Lei de Software, Art. 4º )

Tributação sobre Serviços na NuvemImposto sobre software, em Lei Complementar

Ante a controvérsia doutrinária entendo que, em obséquio à tipicidade angusta e a segurança jurídica dos contribuintes a lista de serviços é taxativa no tocante à gêneros tributários (Aliomar Baleeiro,2010,p.501), deixando ao legislador municipal a latitude para detalhar as espécies sob os gêneros.

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p. 11 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação sobre Serviços na NuvemImposto sobre software, Lei Complementar (cont.)

Lei Complementar nº 116/2003 – ISSQN (cont.)▶ Os itens 1.01, 1.02, 1.04, 1.07 e 1.08 comungam hipóteses de incidência tributária relacionadas

atividades de desenvolvimento (ou criação), configuração ou manutenção de programas de computador realizadas por um prestador de serviço para terceiro. Consequentemente, pressupõem que o prestador de serviços não retém a titularidade do software com base no direito de autor

> Situação que ocorre na relação entre empregados e empregadores ou entre contratados e contratantes, com base no disposto na Lei nº 9.609/1998, Art. 4º.

▶ O 1.05 – Licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação pressupõe que o licenciante ou cedente tem a titularidade do software e o licenciado ou cessionário tem o direito de uso e gozo.

> Para fins de caracterização do direito de autor, é irrelevante se o licenciante ou cedente desenvolveu o ou subcontratou o desenvolvimento, no todo ou em parte, o software. É tão somente bastante que tenha retido a titularidade do mesmo.

▶ Incidências do ISSQN> A incidência do ISS sobre as hipóteses dos itens 1.01, 1.02, 1.04, 1.07 e 1.08 é congruente com a

essência jurídica do fatos geradores observados no mundo fenomênico.> A imposição do ISS como consequente da regra-matriz do licenciamento ou cessão de

direito de uso, não se coaduna com a natureza jurídica da transação subjacente, lastreada que é no direito do autor.

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p. 12 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação sobre Serviços na NuvemImposto sobre software, Lei Complementar (cont.)

Lei Complementar nº 87/1996 – ICMS▶ Art. 1º Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir o imposto sobre operações relativas à

circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior.

▶ Art. 2° O imposto incide sobre:> I - operações relativas à circulação de mercadorias, ...;> II - prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, ...;> III - prestações onerosas de serviços de comunicação, ...;> IV - fornecimento de mercadorias com prestação de serviços não compreendidos na

competência tributária dos Municípios;> V - fornecimento de mercadorias com prestação de serviços.. quando aplicáveis o ICMS e o

ISS▶ Não há na Lei Compl. nº 87 nenhuma referência a incidência tributária sobre desenvolvimento,

licenciamento ou cessão de uso de programas de computador.

▶ Sob a perspectiva da legalidade, não há hipótese de incidência de ICMS sobre software.> No bojo da ADI 1.945, a PGR apresentou parecer favorável à incidência do ISS tanto no

desenvolvimento quanto na cessão ou licenciamento do uso de software, arrazoando não ser a predominância, na operação, da prestação do serviço ou do fornecimento da mercadoria que determina a incidência do ICMS ou do ISS, o fato de o serviço estar ou não incluído na lista anexa à LC 116/2003.

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p. 13 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Imposto sobre software - Controvérsias

Ano Diploma Dispositivo

1988 Constituição Federal Sistema Tributário Nacional

1989 Lei nº 6.374, de 01/03/1989 do Estado de São Paulo Dispõe sobre a instituição do ICMS

1992

Lei nº 8.198, de 15/12/1992 do Estado de São Paulo Institui, no Art. 3º, II, a incidência de ICMS sobre software

Decreto nº 35.674, de 15/09/1992 do Estado de São PauloAltera o RICMS - base de cálculo em operação com programa para computador (“software”), personalizado ou não, como o dobro do valor de mercado do seu suporte informático.

1996 Lei Complementar nº 87, de 13/09/1996 Dispõe sobre o ICMS dos Estados e do Distrito Federal

1998

RE 176.626/SP, Estado de São Paulo x MunpsAcordão em 10/11/1998

Recurso não conhecido. Relator, porém, opina que cabe plausivelmente cogitar a incidência de ICMS sobre software comercializado no varejo com corpus mechanicum.

Lei 7.098, de 30/12/1998 Estado do Mato Grosso do SulConsolida normas do ICMS do MS e dispõe, no Art. 2º, VI, a incidência de ICMS sobre software,

1999RE 199.464/SP, Estado de São Paulo x BrasoftAcordão em 02/03/1999

Recurso provido. Há incidência de ICMS sobre software comercializado no varejo com corpus mechanicum.

2000Decreto nº 27.307, de 20/10/2000Estado do Rio de Janeiro

Art. 1º Reduz a base de cálculo do ICMS nas operações com programa de computador (software) não personalizado, em meio magnético ou óptico (disquete ou CD-ROM)

2002Decreto nº 43.080, de 13/12/2002Estado de Minas Gerais

RICMS, Art. 43, XV – institui ICMS na saída ou no fornecimento deprograma para computador e dispõe bases de cálculo para encomendantee comercialização.

2003Lei Complementar nº 116,de 31 de julho de 2003

Dispõe sobre ISSQN de competência dos Municípios.Lista de serviços anexa, Item 1– Serviços de informática e congêneres.

2007 Decreto nº 51.619, de 27/02/2007 do Estado de São Paulo Reitera base de cálculo do Decreto nº 35.674, excluindo videogames.

2015

Decreto nº 61.522, de 29/09/2015 do Estado de São Paulo Revoga decreto anterior, pressupostamente aumentando alíquota

Convênio ICMS nº 181, de 28/12/2015, do ConfazAutoriza redução da base de cálculo do ICMS sobre software para que a carga tributária seja de 5%

2016 Decreto nº 61.791, de 11/01/2016 do Estado de São PauloReduz a base de cálculo do ICMS sobre software para que a carga tributária seja de 5%

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p. 14 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Controvérsias sobre a tributação de softwareLei e Decretos Paulistas e Convênio nº 181 do Confaz

Lei 8.198/1992, Est. SP, pressupõe que Software é mercadoria, subsumindo-se à Lei 6.374/1989 , Est. SP ▶ Artigo 3.º - Fica dispensado o pagamento do ... ICMS em relação à operações ocorridas até a data da

publicação desta lei, com: [...]II - programa para computador ("software"), personalizado ou não.

Decreto 51.619, de 27 de fevereiro de 2007▶ Art. 1º Na operação realizada com programa para computador ("software"), personalizado ou não, o

ICMS será calculado sobre uma base de cálculo que corresponderá ao dobro do valor de mercado do seu suporte informático.

▶ Já afrontava o Art. 1º, §2º e a Lista de serviços anexa, Item 1, da Lei Complementar 116/2003, pela presunção da incidência de ICMS sobre software sem amparo na CF/88 e na Lei Complementar 87/1996.

Decreto 61.522, de 29 de setembro de 2015▶ Artigo 1° - Fica revogado o Decreto 51.619, de 27 de fevereiro de 2007, que introduz cálculo específico

da base de tributação do ... ICMS em operações com programas de computador.▶ A revogação faz com que a alíquota do ICMS pressupostamente incidente sobre software passe a ser de

18%, em função do disposto no RICMS, Art. 52, I.Decreto nº 61.791, de 11 de janeiro de 2016▶ Anexo II, Reduções de Base de Cálculo, Artigo 73 (SOFTWARES) - Fica reduzida a base de cálculo do

imposto incidente nas operações com softwares, programas, aplicativos e arquivos eletrônicos, padronizados, ainda que sejam ou possam ser adaptados, disponibilizados por qualquer meio, de forma que a carga tributária resulte no percentual de 5% (cinco por cento) (Convênio ICMS-181/15)

▶ O novo decreto restringe a redução da base de cálculo aos softwares padronizados, deixando um vácuo quanto a pressuposição de incidência do ICMS sobre softwares não padronizados.

▶ Afrontava o Art. 1º, §2º e a Lista de serviços anexa, Item 1, da Lei Complementar 116/2003, pela presunção da incidência de ICMS sobre software sem amparo na CF/88 e na Lei Complementar 87/1996.

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p. 15 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Imposto sobre software - ControvérsiasRecursos Extraordinários relevantes e conflitantes

RE nº 176.626/SP, Estado de São Paulo x Munps, Acordão em 10/11/1998▶ [...]“licenciamento ou cessão do direito de uso de programas de computador”..., efetivamente não podem os

Estados instituir ICMS: dessa impossibilidade, entretanto, não resulta que, de logo, se esteja também a subtrair do campo constitucional de incidência do ICMS a circulação de cópias ou exemplares dos programas de computador produzidos em série e comercializados no varejo — como a do chamado “software de prateleira” (off the shelf) — os quais, materializando o corpus mechanicum da criação intelectual do programa, constituem mercadorias postas no comércio.

RE nº 199.464/SP, Estado de São Paulo x Brasoft, Acordão em 02/03/1999▶ [...] distinção, para efeitos tributários, entre um exemplar standard de programa de computador, também chamado

"de prateleira", e o licenciamento ou cessão do direito de uso de software. A produção em massa para comercialização e a revenda de exemplares do corpus mechanicum da obra intelectual que nele se materializa não caracterizam licenciamento ou cessão de direitos de uso da obra, mas genuínas operações de circulação de mercadorias, sujeitas ao ICMS.

RE nº 116.121/SP, Ideal Transp. e Guindastes Ltda x Pref. Municipal de Santos, Acordão em 11/10/2000▶ Tributo - Figurino constitucional.... Imposto sobre serviços - Contrato de locação. A terminologia constitucional do

Imposto sobre Serviços revela o objeto da tributação. Conflita com a Lei Maior dispositivo que imponha o tributo considerado contrato de locação de bem móvel. Em Direito, os institutos, as expressões e os vocábulos têm sentido próprio, descabendo confundir a locação de serviços com a de móveis, práticas diversas regidas pelo Código Civil, cujas definições são de observância inafastável - artigo 110 do Código Tributário Nacional.

Súmula Vinculante nº 31: É inconstitucional a incidência do imposto sobre serviços de qualquer natureza - ISS sobre operações de locação de bens móveis.

Lei nº 9.610, de 1998, LDA, Art. 3º Os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens móveis.

Código Civil/2002, Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:

III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

De acordo com o CTN, Art. 110, licenciamento de uso (e gozo) de software é aluguel bem móvel.

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p. 16 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Imposto sobre software - ControvérsiasSoftware de Prateleira, Corpus Mechanicum e Palavra-chave

▶ Corpus Mechanicum (Disquete, CD-ROM ou DVD): Contém o código-executável, a ser instalado no hardware do adquirente, dando acesso ao direito de uso (e gozo)

▶ Palavra-chave associada ao contrato de licenciamento, outorga a execução do código-executável

As operações de comercialização de software “de prateleira” têm natureza de operação comercial

com títulos de crédito impróprios, de legitimação e ao portador. O título, consubstanciado pela

palavra-chave – verdadeiro sinal de sua cartularidade – e tendo como pressuposto o

correspondente contrato de licenciamento, dá direito ao seu portador a concretizar, no futuro e sob

sua vontade, o direito de uso (e gozo) do software a partir da instalação do código-executável.

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p. 17 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Imposto sobre software - ControvérsiasNovas modalidades de comercialização não-mercantilda cessão de uso (e gozo) de software

Lojas virtuais

Google Play, Apple App Store, e Microsoft Store

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• As partes estão identificadas, o cessionário através de login.

• O sinalagma é estabelecido entre o cedente, titular do direito

autoral do software e o cessionário do direito de uso (e gozo).

• As lojas virtuais são cartórios eletrônicos, curadoras do registro de

das operações comerciais de licenciamento de software.

• A palavra-chave, titulo de crédito, é prescindível.

• A entrega do código-executável é realizada por download.

Portais de Comércio Eletrônico

Alibaba e Submarino.com

• O cessionário não está identificado pelo cedente.

• O sinalagma é estabelecido entre o cedente, titular do direito

autoral sobre o software e um cessionário inominado.

• A palavra-chave, titulo de crédito, é imprescindível.

• A entrega do código-executável é realizada por download.

p. 18 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Imposto sobre software - ControvérsiasComercialização de licenças de software por tempo definidorealça a natureza de aluguel de bem móvel intangível, sem imposto

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p. 19 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação sobre Serviços na Nuvem Computação na Nuvem – Tecnologia e Características

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Virtualização de hardware por software é a

tecnologia base da computação na nuvem.

Definição de Computação na Nuvem pelo NIST,

National Institute of Standards and Technology

Características Essenciais

• Sob demanda com autosserviço

• Amplo acesso por intermédio de rede

• Compartilhamento de recursos

• Elasticidade

• Mensurabilidade

Amazon AWS EC2 (exemplo)

p. 20 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação sobre Serviços na Nuvem Modelos - Computação na Nuvem e Software na Nuvem

2

Definição de Computação na Nuvem pelo NIST,

National Institute of Standards and Technology

Modelos de Implementação

• Private Cloud• Community Cloud• Public Cloud• Hybrid Cloud

Modelos de Serviço

• IaaS – Infrastructure as a Service• PaaS – Platform as a Service• SaaS – Software as a Service

p. 21 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação sobre Serviços na NuvemIncidência de impostos conforme a Constituição

2

Infraestrutura computacional - Hardware▶ Aluguel de bens móveis, Súmula Vinculante nº 31Plataformas e Aplicação - Software▶ Aluguel de bens móveis, sem incidência de impostoOperação da solução – Serviços Técnicos▶ Obrigado de fazer, incidência de ISSFonte: Frost & Sullivan, relatório para MCTI e Brasscom

p. 22 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação sobre Serviços na NuvemEfeitos das controvérsias tributáriasComputação na Nuvem com Procedência do Exterior

2

Tributo (Lastro legal, jurisprudencial ou infralegal) AlíquotaStatus Quo

(Prest. de Serviços)

Conforme a Constituição

(Três operações)

PIS-Importação: Serviços

Lei nº 10.865/2004, Art. 3º,II, Art. 7º,II, e Art. 8º,II1,65% Valor Total Para cada operação

Cofins-Importação: Serviços

Lei nº 10.865/2004, Art. 3º,II, Art. 7º,II, e Art. 8º,II7,60% Valor Total Para cada operação

CIDE-Royalties: Serviços Técnicos

Lei nº 10.168/2000, Art. 2º,§2º e §3º10,0% Valor Total Serviços Técnicos

IRRF: Serviços Técnicos

Decreto nº 3.000/1999, Art. 708 e Lei nº 10.168/2000, Art. 2º-A15,0% Valor Total Serviços Técnicos

IRRF: Remuneração de Direitos

Decreto nº 3.000/1999, Art. 70915,0% Não Aplicável

Aluguel de Hardware

Licenciamento de Software

ICMS-SP: Licenciamento de Software

Decreto nº 61.791/2016 do Estado de São Paulo, Artigo 1º5,0% Não Aplicável Não Aplicável

ISS-SP: Licenciamento de Software

Lei nº 13.701/2003 da Cidade de São Paulo, Art. 1º, 1.05, e Art. 16,II2,0% Não Aplicável Não Aplicável

ISS-SP: Suporte Técnico e Manutenção

Lei nº 13.701/2003 da Cidade de São Paulo, Art. 1º, 1.07, e Art. 195,0% Valor Total Serviços Técnicos

Não incide ISS em aluguel de bens móveis

Súmula Vinculante nº 310% Não Aplicável

Aluguel de Hardware

Licenciamento de Software

Incidência Tributária sobre Conputação e Software na Nuvem com Procedência do Exterior

p. 23 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação sobre Serviços na NuvemEfeitos das controvérsias tributáriasComputação na Nuvem com Procedência do Exterior

2

Computaçãona Nuvem

63,1%

Computaçãona Nuvem

38,7%

Softwarena Nuvem

60,8%

Softwarena Nuvem

38,4%

Nuvem do Exterior(Status Quo)

Nuvem do Exterior(Conforme a Constituição)

p. 24 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação sobre Serviços na NuvemEfeitos das controvérsias tributáriasComputação na Nuvem com Procedência Local

2

Tributo (Lastro legal, jurisprudencial ou infralegal) AlíquotaStatus Quo

(Bitributação)

Conforme a Constituição

(Três operações)

PIS

Lei nº 9.718/1998, Art. 4º,IV0,65% Aplicável Para cada operação

Cofins

Lei nº 9.718/1998, Art. 4º,IV3,0% Aplicável Para cada operação

ICMS-MG: Licenciamento de Software

Decreto nº 46.877/2015 do Estado de Minas Gerais18,0% Bitributação Não Aplicável

ISS-BH: Serviços de informática e congeneres

Lei nº 8.725/2003 da Cidade de Belo Horizinte, Art. 14, IV5,0% Bitributação Não Aplicável

ICMS-SP: Licenciamento de Software

Decreto nº 61.791/2016 do Estado de São Paulo, Artigo 1º5,0% Bitributação Não Aplicável

ISS-SP: Licenciamento de Software

Lei nº 13.701/2003 da Cidade de São Paulo, Art. 1º, 1.05, e Art. 16,II2,0% Bitributação Não Aplicável

ISS-SP: Suporte Técnico e Manutenção

Lei nº 13.701/2003 da Cidade de São Paulo, Art. 1º, 1.07, e Art. 16

Instrução Normativa nº 8 de 2011, Prefeitura de São Paulo, Art. 1º

3,0% Aplicável Serviços Técnicos

Não incide ISS em aluguel de bens móveis

Súmula Vinculante nº 310%

ISS por receio de

insegurança jurid.

Aluguel de Hardware

Licenciamento de Software

Incidência Tributária sobre Conputação e Software na Nuvem com Procedência Local

p. 25 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação sobre Serviços na NuvemEfeitos das controvérsias tributáriasComputação na Nuvem com Procedência Local

2

p. 26 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetMarco Civil da Internet à luz do Direito Econômico

À luz do Direito Econômico, Marco Civil da Internet é ...▶ É ato de império materializado por uma norma impositiva, denotando forma de

intervenção direta (Fabio Konder Comparato)

▶ É instrumento de atuação sobre a economia. Não propugna, absorção ou participação direta na econômica da Internet. (Eros Grau e Alessandro Octaviani)

▶ É ferramenta legal de atuação por direção.▶ É forma de atuação sobre a economia por indução a partir da conjugação e

aplicação harmoniosa dos seus princípios.

Word Cloud do Marco Civil da Internet▶ Provedor(es) – 16 ocorrências▶ Usuário(s) – 10 ocorrências▶ Direito – 17 ocorrências▶ Tecnologia – 8 ocorrências

3

p. 27 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetArquiprincípios do Marco Civil da Internet

Princípios da Economia de Mercado na Internet: ▶ Art.2º,V – livre iniciativa, livre concorrência e defesa do consumidor▶ Art. 3º,VIII – liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet

Princípios da Economia da Inovação na Internet▶ Art. 4º, III – ... inovação e do fomento à difusão de novas tecnologias▶ Art. 3º, VIII – liberdade dos novos modelos de negócios ... na internet

Princípios Sociais da Internet▶ Art. 2º, IV – finalidade social da rede▶ Art. 4º, I – direito de acesso à todos▶ Art. 4º, II – acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida

cultural e na condução dos assuntos públicos▶ Art. 4º, III – da inovação e ... ampla difusão de novas tecnologias e modelos de

uso e acesso

3

p. 28 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Princípio da Neutralidade de Rede: ▶ Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios: ▶ [...]▶ IV - preservação e garantia da neutralidade de rede;

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetPrincípio x Regra: a grande questão!

Característica dos primórdios da Internet▶ Envio de pacotes em best efforts

3

Regra da Neutralidade de Rede: ▶ Art. 9º O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever

de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação.

p. 29 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetInternet é um ecossistema de atores sociais.

Provedores de

Aplicações

Provedores de

Conteúdo

Provedores de

Serviços

Provedores de

Mercadorias

Usuários e seus

Dispositivos

Provedores de Internet

(Acesso e/ou Telecom)

3

p. 30 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetA Internet é um espaço público.

Provedores de

Aplicações

Provedores de

Conteúdo

Provedores de

Serviços

Provedores de

Mercadorias

Usuários e seus

Dispositivos

Usuários e Provedores de

Aplicações, de Conteúdo, de

Serviços e de Mercadorias

estabelecem relações jurídicas com

Provedores de Internet

para exercer os seus direitos.

3

p. 31 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da Internet A Internet é uma rede de comunicação.

Provedores de

Aplicações

Provedores de

Conteúdo

Provedores de

Serviços

Provedores de

Mercadorias

Usuários e seus

Dispositivos

Provedores de Internet

transportando pacotes de dados

3

p. 32 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da Internet A Internet é um mercado.

Provedores de

Aplicações

Provedores de

Conteúdo

Provedores de

Serviços

Provedores de

Mercadorias

Usuários e seus

Dispositivos

Atores Sociais estabelecendo

relações jurídicas

3

p. 33 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetNeutralidade de Rede como PrincípioMáximas ou Critérios da Neutralidade de Redei. Transparência dos termos e condições do serviço de Internet, que devem ser

claros e explicitados em linguagem acessível a todos, de tal sorte que contratação se dê de maneira informada e consciente;

ii. Isonomia nos termos e condições ofertados, implicando que todo e qualquer contratante que se enquadre nos pré-requisitos dispostos na oferta, faz jus as mesmas características técnicas e comerciais de qualquer outro contratante;

iii. Liberdade de escolha do contratante em face as opções de planos de serviço oferecidos pelos provedores de Internet, tanto do ponto de vista comercial, quanto das características técnicas ofertadas, bem como do usuário em relação as aplicações que deseja usar, aos conteúdos que deseja acessar e aos usuários com quem deseja se comunicar;

iv. Não interferência do provedor de serviço de Internet na efetiva prestação do serviço, que deve ser feita em consonância com as escolhas do contratante;

v. Não prejudicialidade em relação às características do serviço de qualquer contratante em decorrência das escolhas de outro contratante;

vi. Inviolabilidade das comunicações circulantes na Internet, por parte dos provedores.

3

p. 34 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetPriorização de tráfego e Neutralidade Básica da Rede

Desenvolvimento técnico da Internet1. No início, envio de pacotes em best efforts. 2. Protocolos de priorização de tráfego: DiffServ e MPLS3. Qualidade de serviço para aplicações de tempo-real, ex., áudio e videoconferências

Priorização de tráfego é vedada pelo Art. 9º do Marco Civil da Internet▶ Art. 9º O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de

tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação.

Aplicações inovadoras funcionariam melhor com priorização de tráfego

Solução Hermenêutica com a técnica de Sopesamento de Princípios▶ Princípios Econômicos da Internet 𝒙 Princípio da Neutralidade de Rede

(Economia de Mercado e da Inovação) (considerando o Art. 9º)▶ Aplicando a Asserção 3, o Art. 9º é a regra da Neutralidade Básica de Rede

3

Em agosto de 2016, o Body of Europaen Regulators for Electronic Communications – BEREC publicou o documento “BEREC Guidelines on the Implementation ... of Net Neutrality Rules” no qual a priorização de tráfego é admitida, quando voltada as características de QoS das aplicações.

p. 35 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetSubsídio Comercial e Princípios Sociais da Internet

Polêmica em torno de tráfego subsidiado, referido como zero rating▶ Subsídio comercial concedido ao tráfego de dados atrelado a certa aplicação (ex. WhatsApp)

Histórico de subsídios no serviço celular – artigo na Telesíntese de 2008▶ Roberto Lima, Presidente da Vivo: “O setor móvel... transferência de renda, de mais de R$ 15 bilhões,

para os usuários dos planos pré-pago”▶ Luiz Eduardo Falco, Presidente da Oi: “Subsídios à aparelhos celulares para assinantes de baixo poder

aquisitivo, adquirentes de planos pré-pagos, iniciou-se em 2001”▶ Portal Teleco: Entre 2003 e 2008 foram vendidos 199 milhões de aparelhos celulares▶ Anatel: O serviço celular chegou a 174 milhões de assinantes em 2009, sendo 143,6 milhões na

modalidade de serviço pré-pago

Experiência da CRTC, Regulador Canadense▶ Condenação das operadoras de serviço móvel Bell Mobility e Vidéotron, de conceder condições

mais favoráveis aos seus próprios serviços de televisão móvel, que promovam vantagens competitivas ilegítimas de mercado. São práticas que atentam contra a isonomia na prestação do serviço de Internet aos demais provedores de aplicação, e que não se resumem ao subsídio ao tráfego.

Sopesamento para Serviços Subsidiados: Pr. Sociais 𝒙 Pr. Neutralidade de Rede, usando Asserção 1▶ Ofertas de serviços subsidiados não violam o Princípio da Neutralidade de Rede.▶ Assimetrias de mercado podem ser resolvidas por fundos compensatórios.

3

Neutralidade de Rede é principio de defesa do direito concorrencial e dos direitos do consumidor.

p. 36 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetColisão de Princípios

Ronald Dworkin (1978)▶ Rules are applicable in all-or-nothing fashion. If the facts a rule stipulates are

given, then either the rule is valid, in which case the answer it supplies must be accepted, or it is not, in which case it contributes nothing to the decision.

▶ Principles have a dimension that rules do not – the dimension of weight or importance. When principles intersect (the policy of protecting automobile consumers intersecting with principles of freedom of contract, for example), one who must resolve the conflict has to take into account the relative weightof each.

Robert Alexy (1986)▶ Princípios são ... mandamentos de otimização, que são caracterizados por

poderem ser satisfeitos em graus variados.▶ Regras são normas que são sempre ou satisfeitas ou não satisfeitas.▶ Toda norma é ou uma regra ou um princípio.▶ Conflitos entre regras ocorrem na dimensão da validade, enquanto as colisões

entre princípios ... ocorrem, para além dessa dimensão, na dimensão do peso

3

p. 37 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetColisão de Princípios (cont.)

Alexy diz que quando um princípio prevalece sobre o outro é porque o seu peso é maior que o peso do outro à luz do condicionante fático em questão.

Considerando:> P1 e P2 são princípios jurídicos distintos;> x é conectivo que denota colisão entre princípios;> · é conectivo que denota operação lógica e;> → é conectivo que denota implicação lógica; > CA é um condicionante fático descrito abstrata e hipoteticamente;> Peso(Pn) denota o peso de um certo princípio jurídico;> Existe(N1) denota o exsurgimento de uma norma jurídica, ou seja, sua existência; > N1 é uma norma jurídica decorrente do princípio P1;> ≡ é conectivo que denota subsunção;> FA é um fato jurídico que se subsume a CA; e> Aplique(N1) denota a validade de N1 in casu e sua consequente aplicação;

a colisão de princípios se traduz por duas asserções.

Asserção 1: 𝐶𝐴 → 𝑃1𝒙 𝑃2 · 𝑷𝒆𝒔𝒐 𝑃1 > 𝑷𝒆𝒔𝒐 𝑃2 → 𝑬𝒙𝒊𝒔𝒕𝒆(𝑁1)

Asserção 2: [𝐹𝐴≡ 𝐶𝐴] → 𝑨𝒑𝒍𝒊𝒒𝒖𝒆 𝑁1

3

p. 38 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Neutralidade de Rede no Marco Civil da InternetColisão de Princípios (cont.)

Como sopesar quando estamos de diante de mais de dois princípios colidentes?▶ A agregação de princípios, que apresentam um baixo grau de colisão entre si, em um arquiprincípio

possibilita a exegese com base na lei de colisão a partir de um grau de abstração mais elevado. A guisa de exemplo, pode se aglutinar os princípios da livre iniciativa e da livre concorrência em um arquiprincípio de liberdade econômica.

É possível conceber uma consequência jurídica adequada quanto o peso de dois princípios colidentes for igual ou muito semelhantes?

Considerando:> CZ é um condicionante fático descrito abstrata e hipoteticamente;> ≈ é conectivo que indica igualdade ou alto grau de semelhança; > N1,2 representa norma jurídica que combina prescritivos deônticos decorrentes dos princípios

P1 e P2 em mútua-limitação ou mútua-mitigação; e> FZ é um fato jurídico que se subsume à condicionante fática abstrata CZ;

a colisão de princípios se traduz por duas asserções.

Asserção 3: 𝐶𝑍] → [ 𝑃1 𝒙 𝑃2 · (𝑷𝒆𝒔𝒐 𝑃1 ≈ 𝑷𝒆𝒔𝒐 𝑃2 ) ∙ → 𝑬𝒙𝒊𝒔𝒕𝒆(𝑁1,2)

Asserção 4: [𝐹𝑍 ≡ 𝐶𝑍] → 𝑨𝒑𝒍𝒊𝒒𝒖𝒆 𝑁1,2

2

p. 39 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação ótima sobre produtos de TIFuncionamento teórico do mercadoEquilíbrio Oferta-Demanda em mercados estáveis

4

p. 40 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação ótima sobre produtos de TIFuncionamento teórico do mercadoO efeito da tributação no equilíbrio Oferta-Demanda

4

p. 41 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação ótima sobre produtos de TIFuncionamento teórico do mercadoO equilíbrio Oferta-Demanda em face a tributação

4

p. 42 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação ótima sobre produtos de TICiclo de vida mercadológico de bens e serviços de TI e TIC

4

p. 43 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

Tributação ótima sobre produtos de TIComparação de estratégias tributárias de viés extrafiscal

4

Perfis de TributaçãoQtde

(mil)

Var Qtde

(%)

Receita

(milhões)

Var Rec.

(%)

Arrecadação

(milhões)

Var Arrec.

(%)

Carga

Trib (%)

Agregado

Econômico

(milhões)

Sem Tributação 22.073 12.448R$ -R$ 12.448R$

Alíquota Fixa 21.491 0,00% 12.081R$ 0,00% 1.208R$ 0,00% 10,0% 13.290R$

Alíquota Variável 21.550 0,27% 12.140R$ 0,49% 1.253R$ 3,72% 10,3% 13.394R$

Alíquota Crescente 21.496 0,02% 12.147R$ 0,55% 1.187R$ -1,76% 9,8% 13.334R$

Decomposição da Demanda de TI em f(p) e u(t)

p. 44 Sergio Paulo Gomes Gallindo – Mestrado em Direito – Universidade Presbiteriana Mackenzie

In Fine - Hermenêutica no Direito Político e Econômico

O ordenamento é como um grafo matemático em três dimensões, onde cada nó é um diploma jurídico,

cada qual com seu peso, e as conexões são interdependências e canais de comunicação.

Tércio: “a hermenêutica é ... um poder de violência simbólica que faz a lei falar”.

Dogmática

Tércio: “... preocupa-se

em possibilitar uma

decisão. A ideia do

cálculo em termos de

relação custo/benefício

está presente no saber

jurídico-dogmático da

atualidade”.

Zetética

Tercio: “... desintegra,

dissolve as opiniões,

pondo-as em dúvida.

Questões zetéticas têm

uma função especulativa

explícita e são infinitas.

Por isso, o enfoque

zetético visa saber o que

é uma coisa.”

Se o ordenamento é um grafo comunicativo, a hermenêutica faz as leis dialogarem.

O protagonista para o hermeneuta deve ser o sujeito de Direito.

A ratio legis deve ser aquela que melhor atenda as demandas dos atores sociais, pessoas, empresas ou

organizações. Ao hermeneuta cabe calibrar o filtro com o qual perscruta o ordenamento para que a vontade

da Lei que emirja de sua labuta vá de encontro aos desafios dos que estão sujeitos à ela.