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Prof. Eduardo Rocha

Tecnicas jornalismo literario

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Prof. Eduardo Rocha

1) Pauta

2) Captação

3) Redação

4) Edição

É o planejamento para cobertura de um fato

Tema - É a escolha de um fato a ser abordado

Qualquer tema pode ser motivo de pauta para o Jornalismo Literário: a vida no sertão, uma partida de futebol, uma fila de banco, os bastidores de um julgamento etc.

Angulação – é a escolha dos desdobramentos de um fato a serem abordados

O direcionamento da pauta também preza de extrema liberdade dentro do Jornalismo Literário. Uma pauta factual, por exemplo, pode muito bem ter uma angulação diferente dentro da proposta literária.

Cobertura da queda de um muro numa obra, que culmina com a morte de um trabalhador

Factual: vai se ater às perguntas do lead (o quê?, quem?, quando?, onde?, por quê?, como?)

Literário: a angulação é mais aprofundada:

- quem era o trabalhador? Tinha família, filhos? Quanto ganhava? Há quanto tempo trabalhava? Que tipo de trabalho desenvolvia? Quantos trabalhadores no país exercem esse mesmo tipo de atividade? Quais as condições de trabalho para esses trabalhadores? A atividade deles é segura? ...

A apuração no Jornalismo Literário não deve ficar restrita às fontes oficiais. No literário, o repórter pode e deve procurar fontes que revelem dados que fujam ao óbvio.

Cobertura da queda de um muro numa obra, que culmina com a morte de um trabalhador

Factual Fontes: polícia, colegas da obra, empreiteira

responsável, hospital

Literário: Fontes: colegas de trabalho, a polícia, a

empreiteira, o hospital, a família, um amigo mais íntimo.

No Jornalismo Literário, a relação tempo/espaço não é determinante para a produção da reportagem. As matérias não são condicionadas a ganchos ou ao cotidiano. Um acontecimento antigo pode muito bem ser resgatado e retratado com uma nova abordagem.

Exemplo: a biografia do delegado Fleury (Autópsia do Medo), escrita pelo jornalista Percival de Souza (2000)

É o momento de apuração jornalística. Envolve vários modos de procedimento: pesquisas bibliográficas, em vídeo, áudio, documentos, cruzamento de dados e principalmente o momento da entrevista

1) Entrevistas de compreensão

2) Entrevista confronto

3) Perfil-Humanizado

4) Histórias de Vida

5) Entrevista Biográfica

6) Observação Participante

7) Memória

8) Documentação

Têm por objetivo o aprofundamento e a compreensão de determinado assunto

- Você disse que todo bom romance é uma transposição poética da realidade. Poderia explicar esse conceito?

- Sim, acho que um romance é uma representação cifrada da realidade, uma espécie de advinhação do mundo. A realidade que se maneja num romance é diferente da realidade da vida, embora se apóie nela. Como acontece com os sonhos.

- O tratamento da realidade nos seus livros, principalmente em Cem anos de Solidão e em O Outono do patriarca, recebeu um nome de realismo mágico. Tenho a impressão de que seus leitores europeus costumam perceber a magia das coisas que você conta, mas não vêem a realidade que as inspira...

- Certamente porque o seu racionalismo os impede de ver que a realidade não termina no preço dos tomates ou dos ovos. A vida cotidiana na América Latina nos demonstra que a realidade está cheia de coisas extraordinárias. A esse respeito costumo citar o explorador norte-americano F.W. Up de Graff, que no final do século passado fez uma viagem incrível pelo mundo amazônico, onde viu, entre outras coisas, um arroio de água fervente e um lugar onde a voz humana provocava chuvas torrenciais (...)

(Entrevista do jornalista colombiano Plinio Apuleyo Mendoza com Gabriel Garcia Márquez)

Seu objetivo é, por meio das perguntas, revelar ao leitor as contradições do entrevistado

- Senhora Railda, eu tenho cá comigo uma dúvida. O que significa Ibama? –perguntei, evidentemente, sabendo a resposta.

- Como? Retrucou a superintendente.

- A senhora pode me dizer o que significa a palavra Ibama? Eu preciso colocar na matéria e não tenho a menor idéia.

- Que pergunta ridícula é essa? – interveio o assessor. Se você quer saber, Ibama significa...

- Não perguntei ao senhor e se o senhor disser eu vou ficar pensando que a superintendente do Ibama no Acre não sabe sequer o que significa o nome do órgão que dirige.

A discussão, realmente, soava oba. Mas a minha intenção era deixar totalmente claro que Railda Pereira –como já havia previsto Casara- tinha sido colocada no posto apenas para ser figurante. Ela ganharia o dinheirinho dela, cerca de 2 000 reais por mês – nada mal para uma semi-analfabeta, e deixaria a farra das madeireiras correr solta no Estado. O bate-boca prosseguiu e a superintendente não disse o que Ibama significava Instituto Brasileiro do Meio-Ambiente e dos Recusos Naturais Renováveis.

(Entrevista de Klester Cavalcanti no seu livro Direito da selva: as aventuras de um repórter na Amazônia)

Narrativa que busca retratar e compreender o comportamento de um personagem

Habitante deste indispensável universo de homens e mulheres capazes de sacrificar o conforto pessoal para dedicar uma vida inteira àquilo que a experiência humana define como “bem-estar do próximo” e dessa maneira conquistar um lugar na história de um povo inteiro, Zilda Arns Neumann morreu como viveu nos últimos 27 anos – desde que colocou de pé a Pastoral da Criança, entidade que mobiliza 260 mil voluntários em 80% dos municípios brasileiros para atender 95 mil gestantes e l,8 milhão de meninos e meninas que sobrevivem abaixo da linha da pobreza. Na quarta-feira passada, celebrando na Catedral da Sé uma missa em memória de Zilda Arns e demais vítimas do terremoto no Haiti, o padre Julio Lancelotti lembrou: “Onde a Igreja deve estar? No meio dos pobres, no meio do povo sofrido, onde ninguém vai fazer turismo”.Treze anos mais velho, o irmão Paulo Evaristo aparece no início e no fim desta história de final trágico, mas enredo inspirador. Com a autoridade de quem enfrentou os desafios do regime militar, em 1982 o cardeal recebeu um convite do Fundo das Nações Unidas para a Infancia (Unicef) para iniciar uma campanha nacional contra a mortalidade infantil, então uma vergonha mundial. Não faltariam recursos, lhe disse James Grant, o secretário executivo do Unicef. Mas era preciso um líder, esclareceu. Dom Paulo não tinha tempo nem agenda para a empreitada. Autorizado por James Grant, convidou a irmã, médica formada, pediatra e sanitarista, na época uma burocrata graduada na Secretaria da Saúde do Estado do Paraná, para assumir a tarefa. (...)

Viúva relativamente jovem, três meninos e duas meninas para criar, tão apegada aos cuidados da infância que amamentou cada um dos filhos até o segundo ano de idade, ao aceitar a incumbência oferecida pelo irmão, Zilda deu início a uma dessas aventuras em que o destino de uma pessoa se cruza com o futuro de um país. “Ela soube encontrar soluções simples para problemas graves”, diz o deputado Alceni Guerra (DEM-PR), também médico e pediatra. Em 1991, durante o governo Collor, no qual ocupou o Ministério da Saúde, Alceni assinou o primeiro convênio importante – meio milhão de dólares – com a Pastoral da Criança, que deu um impulso decisivo à mobilização de voluntárias pelos pontos mais remotos do país. “Ela salvou milhões de vidas e deu uma lição ao Brasil”, diz Alceni.

Ao longo dos anos, a atividade da Pastoral da Criança gerou números dignos de uma celebração. A mortalidade infantil nas comunidades alcançadas pelas voluntárias de Zilda Arns é de 11 óbitos no primeiro ano de vida para cada 1.000 nascidos vivos. Nos outros locais, esse índice chega a 22,5 para cada 1.000 nascidos vivos. Os dados são impressionantes, ainda que possam ser ponderados. Refletem o trabalho da Pastoral e também uma evolução global ocorrida nas últimas décadas, com a urbanização da vida social, as mudanças no serviço público e a própria causa de morte das pessoas.

(Perfil escrito por Paulo Moreira Leite, para a revista Época, na ocasião da morte da Zilda Arns)

Forma clássica de captação jornalística, em que são reproduzidos os diálogos entre entrevistador e entrevistado

- Sou o tenente Antonio Montoya, às suas ordens anunciou. Soube que havia um gringo neste hotel e vim para matá-lo.

- Sente-se disse-lhe, com toda a cortesia.Notei que estava muito embriagado. Tirou o chapéu, inclinou-se

cerimoniosamente e puxou uma cadeira. Então sacou outra pistola que trazia debaixo do casaco e pôs ambas sobre as mesas. As duas estavam carregadas.

- O senhor quer um cigarro?Ofereci-lhe um pacote. Tomou um cigarro, agradecendo-me e acendeu-o

no candeeiro. Em seguida recolheu as pistolas e apontou-me com elas. Seus dedos apertavam lentamente os gatilhos, mas os afrouxavam novamente. Eu estava tão fora de mim que a única coisa que poderia fazer era esperar.

- A única dificuldade que tenho – disse-me – é a de resolver qual revolver devo usar.

- Desculpe-me – disse-lhe, trêmulo -, mas na minha opinião, ambos parecem um pouco antiquados. Esse Colt 45 é certamente um modelo de 1895 e quanto ao Smith e Wesson, aqui entre nós, não passa de um brinquedo.

- É verdade – contestou, olhando-os com um pouco de tristeza. Se tivesse pensado antes, teria trazido minha automática nova. Mil desculpas senhor.

Suspirou e apontou de novo os canos de suas armas para o meu peito, com uma expressão de tranqüilidade satisfeita, acrescentando:

- Apesar disso, faremos o melhor que pudermos.Eu estava a ponte de saltar, agachar-me ou gritar. De repente,

fixou a vista sobre a mesa, onde estava meu relógio-pulseira, de uns dois dólares.

- Que é isso? – perguntou-me- Um relógio!Mostrei-lhe rapidamente como colocá-lo. Inconscientemente, foi

baixando pouco a pouco as pistolas. (...)

(trecho de México Rebelde, de John Reed)

Recurso interessante quando utilizado resgatando a oralidade do entrevistado, justamente para realçar alguma idiossincrasia do entrevistado

- Takumã falou pro senhor?

- Falou pra mim, né? Aí eu falei: “Olha, eu acha é bom, porque lá no terra meu, lá na minha aldeia, não tem pajé mais. Como ocê que tá continuando pajé aqui, então ocê tem que dar força pra mim”, eu pediu pra ele. “Tá tudo bem”

(Trecho de Xingu: uma flecha no coração, de Washigton Novaes)

Recurso amplamente utilizado pelos membros do New Journalism. É um testemunho pessoal do autor, que vive a história relatada.

Aqui estava uma safra de jornalistas que tinha a cara-de-pau de se meter em qualquer recinto, até nas sociedades fechadas, e agarrar-se como desesperados à vida. Um maravilhoso maníaco chamado John Sack convenceu o exército a deixá-lo integrar uma companhia de infantaria em Fort Dix, a companhia M, da 1ª Brigada de Treinamento de Infantaria Avançada – não como recruta, mas como repórter – e passar todo o treinamento com eles e depois ir para o Vietnã, e para a batalha. O resultado foi um livro chamado M (que apareceu primeiro em Esquire), um Catch 22 de não ficção, e, no meu entender, o melhor de qualquer gênero publicado sobre a guerra. George Plimpton foi treinar com um time de futebol (americano) profissional, o Detroit Lions, no papel de um repórter que jogava na posição de quarto-zagueiro, morava com os jogadores, treinava com eles e finalmente disputou de fato uma partida para eles – tudo para escrever Paper Lion. Assim como o livro de Capote

(Tom Wolfe, em O New Journalism)

É o resgate de riquezas psicológicas e sociais.

Novembro apenas começava. Sem sentir, Juana Otiz despediu Irineo naquela manhã de outono de 1983. Chamavam a Irineo Marin de El Chaguo, porque era natural de Chahuites, Oaxaca, onde foi bóia-fria até que alguém lhe disse que „pegar peixe‟ era uma forma simples de sair da miséria. Mudou-se para Puerto Madero, em Chiapas, onde conheceu Juana e onde certamente saiu da miséria...

Naquela manhã soprava o „sul‟, fresco e talvez demasiadamente cedo, quando os barcos dos pescadores de tubarão já saíam do porto, rápidos, abrindo estrias com ondas de espuma. El Chaguo havia tido dois dias excelentes de trabalho, 800 e 950 quilos de tubarão, e com isso poderia ajuntar para a entrada numa geladeira, que tanto queria Juana Ortiz de Marin. Pilotava a Conti I, a todo vapor. Dizem que Juana compreendeu tudo desde o momento que percebeu o cheiro de gás. Estava em casa, uma choça de varas e folhas de palmeiras, de quatro por cinco metros, aquela mesma tarde, preparando merenda: peixe frito, feijão, moendo café; quando o cheiro de gás disparou-lhe um suspiro de terror: o vento havia apagado a chama do fogareiro, um pé de vento que a

golpeou e fugiu, como estendendo um músculo; e Juana já estava, de pronto, caminhando para a barra do novo porto. Escurecia, as rajadas açoitavam com grãos de areia, a tormenta desatara-se. Em pouco tempo agruparam-se as mulheres, mães e esposas de um punhado de homens que em alto-mar enfrentavam a súbita tempestade. Olhavam-se com a pobre luz do crepúsculo, depois olhavam para o horizonte plúmbeo; porque tudo o que podiam fazer nesta quinta-feira, 3 de novembro, no que restava do dia, era olhar; olhar a bofetada do vento que se intrometia nas anáguas da própria noite.. Chus Pinón Rodas e seu pai Florentino consolavam as mulheres, davam-lhes ânimo; não tinham podido sair do porto, aquela manhã, uma avaria no motor. “Não vão se afundar todos”, dizem que Florentino Pinóndisse, com seus anos de experiência, e tinha razão. Antes do amanhecer voltou o primeiro barco, com três tripulantes: um deles devia ser náufrago. E logo outros dois, e outro, e outros três... homens mudos que pisavam o solo, com veneração inaudita.

Saiu o sol, haviam regressado muitas das 76 lanchas. Juana Ortiz dois meses de casada tinha quando, sem mais, inaugurou sua viuvez com uma lágrima.

(Os mares do México, escrito por Davi Martin Del Campo)

Técnicas de Redação:

- Narração

- Descrição

- Exposição

- Diálogo

Narração - É o relato de um fato, verídico ou não. Ato de narrar, de contar uma história.

Tem como principal característica a ação, a progressão temporal para o desenrolar dos fatos.

Exemplo:

“Numa tarde de primavera, a moça caminhava a passos largos em direção ao convento. Lá estariam a sua espera o irmão e a tia Dalva, a quem muito estimava. O problema era seu atraso e o medo de não mais ser esperada...”

Quem? Personagens

O quê? O acontecimento

Onde? Espaço

Quando? Tempo

Como? A maneira como aconteceram os fatos

Por quê? A causa dos fatos

Criação da Expectativa

Quebra da expectativa

Tentativa de resolução de conflito

Avaliação (conclusão, lição, moral)

NARRADOR:

- onisciente (em terceira pessoa, sabe tudo sobre os personagens e sobre a história)

- onipresente presente (em primeira pessoa; ao mesmo tempo em que narra a história participa dela; ele não pode prever o que elas falarão)

PERSONAGEM: podem ser pessoas, animais, objetos etc). O conflito é o ponto maior dentro da narração. Ao personagem principal atribui-se o nome de protagonista e ao conflitante, o nome de antagonista

ESPAÇO: é o lugar em que ocorre a narração

TEMPO: pode ser cronológico (sequência linear dos fatos) ou psicológico (flashback)

ENREDO: é a sequência dos acontecimentos que compõe a narração

Discurso direto, indireto e indireto livre

Quando são descritas literalmente as palavras da personagem. É um recurso interessante, pois dá ao texto o efeito de credibilidade, veracidade.

O recurso gráfico para demarcar a fala são as aspas ou o travessão.

Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.

Quando a fala da personagem é filtrada pelo narrador (o leitor, no caso)

O pai gritou-lhe que andasse, chamando-o de condenado do diabo.

Nesta modalidade, o leitor deve estar atento, pois a fala da personagem não vem acompanha de aspas. Não é utilizado verbo dicendi.

Seu Tomé da bolandeira falava bem, estragava os olhos em cima de jornais e livros, mas não sabia mandar: pedia. Esquisitice de um homem remediado ser cortês. Até o povo censurava aquelas maneiras. Mas todos obedeciam a ele. Ah! Quem disse que não obedeciam?”

Olga brincava de esconde-esconde com Anita sob lençóis da cama quando a

carcereira abriu a porta da cela, acompanhada de três guardas armados. A polícia não fez rodeios:

– Vista a garota com um agasalho grosso e entregue as roupas dela aos policiais.

Viemos buscá-la.

De um salto, Olga atirou-se sobre a filha, prende-a com as mãos sobre o próprio peito e buscou com os olhos, em vão, um lugar onde pudesse proteger-se. Correu para um canto da cela. Comprimindo a criança contra a parede. Assustada, Anita começou a chorar alto. Tomada de desespero, Olga gritava:

– Jamais! Vocês não podem fazer isso! O que vocês querem fazer é um crime

inominável! Saiam já daqui! Só se me matarem levarão minha filha! (MORAIS, 1994, p. 204).

É a descrição de um cenário, pessoas, situações. É muito raro o texto descritivo sozinho. Geralmente ele acompanha alguma narração.

Seu rosto era claro e estava iluminado pelos belos olhos azuis e contentes. Aquele sorriso aberto recepcionava com simpatia a qualquer saudação, ainda que as bochechas corassem ao menor elogio. Assim era aquele rostinho de menina-moça da adorável Dorinha.

Verbos de ligação (ser, estar, ficar, parecer, permanecer, continuar, andar etc)

Exprimem um estado ou transformação

Frases e predicados nominais

Se os verbos são nominais, os predicados também são nominais, já que descreverão uma característica do sujeito

verbos predominantemente no presente e no pretérito imperfeito do indicativo

Ronaldo está gordo

Ronaldo estava gordo

A descrição é estática, não trabalha com a temporalidade (como a narração, p.ex.)

Servem para qualificar e aprofundar o caráter descritivo

Passos para se fazer uma descrição:

1) Observação

2) Seleção

3) Redação

Adjetivação: apresentação de qualidades

Comparações e metáforas: comparação das qualidades

Retrato – tipo de descrição específica do texto literário. Nela combinam-se frequentemente a prosopografia (descrição da aparência) e a etopeia (descrição da personalidade, dos sentimentos)

“Nesse tempo meu pai e minha mãe estavam caracterizados: um homem sério, de testa larga, uma das mais belas testas que já vi, dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza, sempre a mexer-se, bossas na cabeça mas protegida por um cabelinho ralo, boca má, olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura. Esses dois entes difíceis ajustavam-se.”

(Trecho do livro “Infância”, de Graciliano Ramos)

A casa é térrea, ampla, toda branca, rodeada de plantas. Um estilo comum ao Meio Oeste americano, mas que não ficava deslocado ali, na paisagem cubana. Uma escada para atingir a porta principal. Para a direita, os aposentos de Mary, sua última mulher. Uma grande sala ao centro, com a poltrona, onde se sentava para beber. Ao lado da poltrona, a geleira, os copos térmicos e garrafas de água e refrigerantes. Tudo como ele deixou. E deve ser mesmo: algumas garrafas são da marca Scwepes, que desde a Revolução desapareceu do país.

Livros e revistas por todos os cantos. Sua cama está cheia de Life, Times, Newsweek. Dizem que para dormir ele empurrava tudo para um lado e se deitava. Ao lado da cama, uma cesta contendo correspondência. Dezenas de envelopes e pacotes fechados. Junto à parede, uma estante branca, com um metro de altura, aproximadamente. Sobre ela, a máquina de escrever. Hemingway costumava escrever de pé, todas as manhãs. A porta do quarto era mantida no lugar por um grosso dicionário, encapado de azul, pareceu-me em pano. (Ignácio de Loyola Brandão. Cuba de Fidel, 1978)

Onisciente - (em terceira pessoa, sabe tudo sobre os personagens e sobre a história)

Exemplo:“Sara respirava ruidosamente, em parte por causa do esforço físico, mas também por causa da irritação que estava sentindo. De repente o telefone toca. Quando ela alcançou o telefone, suas pernas tremiam e seu corpo suava. Ao pegar o aparelho deixou caí-lo no cão. Quem quer que estivesse do outro lado da linha imaginaria que ela tinha atirado o telefone contra a parede.”

Onipresente - onipresente presente (em primeira pessoa; ao mesmo tempo em que narra a história participa dela; ele não pode prever o que elas falarão)

Exemplo:

“ Já tinha a intenção de estabelecer-me aqui; queria dar um último adeus”.

O deslocamento do ponto de vista de quem narra:

“- Posso pedir que levantem as mãos aqueles de vocês que estão confiantes que voltarão ao espaço sideral?

Gus e os outros olharam-se e então todos começaram a levantar as mãos. Fazia vocÊ sentir-se realemente idiota levantar a mão daquele jeito (...)

(Nova York, Bantam, 1981, p. 99)

Flashback – retorno ao passado

Flashforward – antecipação de fatos futuros

CENA 1

“Oi, doçura!” Joe Louis chamou a esposa, localizando-a esperando por

ele, no aeroporto de Los Angeles.

Ela sorriu, caminhou em sua direção e estava para espichar-se sobre os pés para beijá-lo – mas parou, de repente.

“Joe”, disse ela, “Cadê sua gravata?”

“Ah, docinho”, disse ele, dando de ombros, “passei a noite toda fora em Nova York e não tive tempo...”

A noite toda!”, interrompeu ela. “Quando você está aqui, tudo o que faz é dormir, dormir, dormir”.

“Docinho”, disse Joe Louis com um sorriso cansado, “sou um véio”.

“Sim”, concordou ela, “mas quando você vai para Nova York tenta ser

jovem de novo”.

CENA 2 Rose parecia entusiasmada em ver Joe no auge da forma e toda vez

que um murro de Louis golpeava Conn, ela fazia “Pann!” (soco). “Pann”

(soco). “Pann!” (soco).

Billy Conn impressionava bem, na luta, mas, quando a tela anunciou o

assalto 13, alguém disse:

“É aqui que Conn vai cometer seu erro, vai querer sair na força bruta pra

cima do Joe Louis”. O marido de Rose ficou quieto, saboreando seu

scotch.

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Quando os golpes combinados de Joe começaram a encaixar, Rose

começou, “Pann! Paann!”, e então o corpo pálido de Conn começou a cair

no tablado.

Billy Conn começou lentamente a se levantar. O juiz contava. Suspendeu

uma perna, depois as duas, depois já estava de pé – mas o juiz o forçou de

volta. Era tarde demais.

E então, pela primeira vez, do fundo da sala, subindo, como em ondas

crescentes, desde as felpudas almofadas do sofá, surge a voz do atual

marido – esta droga de Joe Louis outra vez.

“Acho que o Conn levantou a tempo”, disse, “mas o juiz não o deixou

continuar”.

Rose Morgan não disse nada – apenas tomou o resto de sua bebida. (apud.

LIMA, 2009, p.202)

Conceito criado para descrever as tentativas de representação dos estados mentais e dos pensamentos das personagens.

Era ir pensando na rotina do dia: banho. Ginástica. O certo seria fazer a ginástica antes mas devia estar com pressão baixa, precisava de água quente para o estímulo inicial. Embora passageiro. „Ai meu Pai‟. Almoço com a mãe, como estaria ela? Péssima naturalmente.

LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas. São Paulo, Manole, 2004