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HISTÓRIA DOS JARDINS

Historia dos jardins

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HISTÓRIA DOS JARDINS

É fundamental estudar a história dos jardins, porque ele é o reflexo do relacionamento humano com a

natureza.. Portanto, É sobre essa tradição que se assentam nossas práticas e posturas em relação à

paisagem. Pode-se observar que antes mesmo das primeiras civilizações, existiu o "Jardim do Paraíso",

onde Deus colocou Adão e Eva. Em Gênesis I e II, é descrito como um "parque " (a própria palavra

jardim vem da junção do hebreu "gan" (proteger, defender) e "éden" (prazer, delícia) e expressa de certa

forma a imagem de um pequeno mundo ideal, perfeito e... privativo) que Deus plantou e onde se

cultivavam árvores de todas as espécies, agradáveis para se contemplar e alimentar". Assim, as árvores

foram veneradas pela fertilidade, vitalidade e o alimento que representavam. Os grandes jardins da

história são como um vocabulário do desenho idealizado da paisagem, como cada civilização desejava

que ela fosse.

Através dos fatos que a história da civilização registra pode-se constatar que o oriente próximo foi uma

das regiões de grande importância, pois foi o berço das civilizações. Estas civilizações antigas

contribuíram - e muito - para a evolução das ciências e das artes. E não distante disto, o paisagismo evolui

como expressão artística.

Jardim é um terreno onde se cultivam plantas ornamentais, úteis ou para o estudo, é também uma obra de

arte, com elementos vivos e inertes, no qual o homem procura, nos momentos de lazer, um contato com a

natureza. Estão presentes em todo percurso da história da humanidade e, certamente, em suas origens se

vinculam à da própria agricultura, com a domesticação das primeiras plantas úteis, ainda na pré-história.

Ao longo de toda história ocorre transformações que podem ser caracterizadas pelos estilos próprios de

cada época e cultura.

ANTIGÜIDADE

INTRODUÇÃO

MESOPOTÂMIA

Situada entre os rios Tigre e Eufrates, a história das civilizações relata que os assírios foram os mestres

das técnicas de irrigação e drenagem, criando vários pomares e hortas formados pelos canais que se

cruzavam. Mas este trabalho foi abandonado em razão da invasão árabe. Sendo assim, a forma e a

distribuição do jardim se identificavam com a prática da agricultura, onde a horta rodeada por um muro,

podia ser o protótipo.

Os textos mais antigos sobre jardins datam do terceiro milênio a.C., escritos pelos babilônicos,

descrevendo os "jardins sagrados", onde os bosques sagrados eram plantados sobre os ziggurats. É na

própria Babilônia que se encontra a obra mais marcante da jardinagem nesta época, sendo considerada

pela humanidade como uma de suas maravilhas: os Jardins Suspensos da Babilônia que se caracterizavam

pela supremacia dos elementos arquitetônicos sobre os naturais.

As espécies utilizadas eram a tamareira (com a finalidade de fornecer um microclima favorável a outras

espécies), o jasmim, as rosas, as malva-rosas, as tulipas e também álamos e pinos que não suportariam

viver num clima tão árido e quente,mas só foi possível devido ao complexo sistema de irrigação

desenvolvido. O sentimento religioso estava presente na arte dos jardins, onde acreditava-se que os

jardins dependiam da vontade dos deuses.

Jardins suspensos da Babilônia

Construído na Babilônia a mando do Rei Nabucodonosor no século VI A.C., tornou-se uma das principais

obras arquitetônicas da Mesopotâmia. Alguns documentos antigos dizem que os Jardins suspensos da

Babilônia davam acesso ao Palácio do Rei, que o construiu para agradar as vontades de sua esposa

preferida, Amitis.

Localizado perto do Rio Eufrates, possibilitou que um grande sistema de irrigação fluvial atingisse a

superfície, através de poços enormes em forma de arcos que chegavam a medir 23 metros de altura.

Construídos por tijolos revestidos de betume e chumbo para mantê-los seco e água irrigada, já que as

pedras eram raras no território da Babilônia. Sua preservação era mantida por escravos por sistemas de

roldanas e baldes para encher as piscinas e cascatas.

O complexo todo dos Jardins suspensos da Babilônia eram composto de seis terraços construídos como

andares, dando ideia de serem levadiços. Os andares tinham 120 metros quadrados, apoiados por grandes

colunas que chegavam a medir 100 metros. Cada superfície era decorada com Jardins Botânicos que

continham Árvores Frutíferas, Esculturas de Deuses, Cascatas que fluíam na superfície retangular. O que

se sabe, está registrado em anotações de historiadores da Grécia Antiga, mesmo assim em pobres

citações, com informações bastante vagas.

Embora possamos imaginar a rara beleza, muito pouco se sabe como eram mantidos, qual a sua finalidade

e posteriormente sua total destruição. Nenhum documento encontrado na Babilônia nesse período cita o

registro da existência dos Jardins suspensos da Babilônia.

Egito

As características dos jardins egípcios seguiram os mesmos princípios utilizados na arquitetura deste

povo. Eles só surgiram quando as condições de prosperidade no antigo império permitiram às artes

(arquitetura e escultura) um notável desenvolvimento.

De um modo geral, o jardim egípcio desenvolvido de acordo com a topografia do Rio Nilo era constituído

de grandes planos horizontais, sem acidentes naturais ou artificiais. As características dos monumentos

egípcios - com a rigidez retilínea e a geometria - fizeram com que os jardins tivessem uma simetrização

rigorosa. Tudo de acordo com os 4 pontos cardeais. As plantas utilizadas eram: palmeiras, sicômoros,

figueiras, videiras e plantas aquáticas.

O jardim regular era símbolo da fertilidade, sintetizava as forças da natureza e era a imagem de um

sistema racional e arquitetural baseado no monoteísmo. Osíris para os egípcios era o deus da vegetação.

Grécia

As raízes fundamentais da cultura ocidental se encontram, não há dúvida alguma, na civilização

desenvolvida na Grécia Antiga. O cuidado com as plantas provavelmente foi fruto do amor à vida em

pleno ar livre, obrigando a uma constante aproximação com a natureza. Os jardins gregos, apesar de

fortemente influenciados pelos jardins egípcios , apresentaram diferenças notáveis em razão da topografia

acidentada da região e o tipo de clima.

Os jardins possuíam características próximas das naturais, fugindo da simetria dos egípcios.

Desenvolviam-se em recintos fechados, onde eram cultivadas plantas úteis, principalmente maçãs, pêras,

figos, romãs, azeitonas, uva e até horta.

A introdução de colunas e pórticos fazia uma transição harmoniosa entre o exterior e interior e o jardim

era um prolongamento das partes da casa, às quais ele se ligava. A sua principal característica era a

simplicidade. Os jardins também ficaram marcados por possuir esculturas humanas e de animais mais

próximas da realidade.

Roma

O império romano se estendia da Espanha (oeste) até a Mesopotâmia (leste) e do Egito (sul) até a

Inglaterra (norte). Compreendia variedade de paisagens, climas e raças. Os romanos não podiam ser

incluídos no grupo dos povos que tiveram a arte como forma de expressão. Eles se encaminharam para a

história, o Estado e o Direito.

A casa romana repetiu basicamente o modelo grego, sendo construída no nível da rua, com as habitações

voltadas para dentro, comunicando-se por uma coluna, e abertas a uma praça anterior. Os jardins foram

objetos de atenção, mas apesar disso, são falhos quanto à originalidade. Como características de tais

jardins pode-se ressaltar a grandiosidade e a magnificência da composição, as perspectivas vastas, que

empregaram como prioridade, a decoração pomposa, a valorização para fins exclusivamente recreativos.

Os jardins eram principalmente santuários sociais, onde se desfrutava de proteção frente às moléstias do

sol, vento, poeira e ruído das ruas. A sombra projetada pelas galerias com arcos reduzia necessidade de

arvoredo. As plantas, quando existiam, eram colocadas em maciços elevados e os pátios se ornamentavam

com tanques de pedra para água, mesas de mármore e estátuas.

Os romanos quando saquearam Grécia carregaram consigo também seus monumentos e estátuas, e como

não sabiam o que fazer com a grande quantidade de estátuas distribuíram-nas pelos seus jardins. De tal

forma, que a ornamentação se generalizou nos jardins romanos da época. Em conseqüência, tais jardins

são metódicos e ordenados, integrando-se às moradias. como exemplo temos as cidades de Pompéia e

Herculano. As plantas utilizadas eram: coníferas, plátanos, frutíferas como amendoeira, pessegueiro,

macieira, videira e outras. Ciprestes, buxos e louros-anão recebiam "topiárias", que se caracterizavam por

moldar arbustos em formas de figuras de variados formatos e nomes.

A maioria dos jardins romanos também possuíam uma pequena horta. Talvez por isso, a irrigação era

planejada. A interpenetração casa-jardim podia ser visualizadas nas vilas romanas localizadas nas

proximidades de Roma. Dentre elas, destacou-se a "Vila Laurentina", situada a 30 Km de Roma,

construída por Plínio, o Jovem, onde plantou-se predominantemente figueiras e amoreiras, havia também

uma horta e terraço com flores perfumadas, próximo das águas para assim se conseguir temperaturas mais

agradáveis.

Outra de semelhante importância foi a "Vila Adriana", construída em Tívoli para o Imperador Adriano,

que perdurou até antes da guerra de 1939. Estas vilas darão um impulso definitivo para o grande estilo

italiano.

A Villa Adriana era a residência de veraneio do

Imperador Adriano (76-138 d.C.) e situa-se a aproximadamente 30 km da cidade de Roma. Ela era composta por vários edifícios

(termas, teatro, prédios administrativos, residências, biblioteca, etc.), lagos e fontes, tudo emoldurado por muito verde. Quando o Imperador decidiu construir a Villa Adriana, sua intenção era que cada construção recordasse algum grande monumento ou

localidade que mais tinham lhe impressionado durante suas viagens para conhecer as províncias conquistadas pelo Império

Romano.Um dos ambientes mais famosos da Villa é o Canopo, uma piscina que recorda um dos afluentes do rio Nilo com seu estuário, que alcançava a cidade egípcia de Canopo. A cidade era famosa pelo tempo dedicado à deusa Serapis. Adriano construiu

essa piscina em memória do jovem Antinoo, sua grande paixão e que morreu afogado no rio Nilo.

Idade Média

Considera-se como Idade Média o período entre os séculos XV e o XVI, período entre a Antiguidade

Clássica e o Renascimento. Um retorno à economia rural e a simplicidade de hábitos concretizou-se neste

período. O luxo e o requinte foram abandonados e criou-se uma nova hierarquia de valores.

As construções feitas neste período eram rudes e pesadas. As igrejas pareciam fortalezas. O verde foi

praticamente banido na vida urbana. As igrejas e mosteiros constituíram-se em centros de toda a atividade

social, qualquer espaço útil recebia seu uso funcional, como a obtenção de alimentos ou ervas. Em zonas

amplas dos mosteiros plantavam-se árvores frutíferas, hortaliças e se cultivavam flores para a

ornamentação dos altares.

O estilo de jardim desenvolvido nesta época constitui da mistura desordenada e fragmentária dos estilos

anteriores. O que era bem característico era a estrutura crucial da composição. A interseção ortogonal das

alamedas e caminhos, nos jardins construídos nos pátios internos das grandes construções medievais,

lembravam a cada momento o símbolo da religião dominante. O estilo gótico retratava bem os jardins

medievais. Os dois estilos básicos de jardim foram os monacais e mouriscos.

Monacais Representava uma reação ao luxo da tradição romana. Era dividido em 4 partes: o pomar, a horta, o

jardim de plantas medicinais e o jardim de flores.Existiam áreas gramadas cercadas e arbustos, viveiros

de peixes e pássaros, além de local para banho

Mouriscos No século V os árabes invadiram a Pérsia, onde tentaram implantar o islamismo. No século VI, na

Espanha, os árabes criaram os chamados "jardins da sensibilidade" que se caracterizavam pela água, cor e

perfume, com os objetivos de sedução e encantamento. O emprego de canais, fontes e pequenos regatos

formavam um aspecto hidráulico para a irrigação e para amenizar o calor, além do aspecto de

ornamentação destes jardins. A cerâmica e o azulejo eram bastante utilizados.

As espécies vegetais mais cultivadas foram os jasmins, os cravos, os jacintos, as alfazemas, as rosas, as

primaveras e as anêmonas. Os jardins espanhóis representam bem a influência árabe. As principais

características destes jardins: eram de pequenas dimensões, sem ostentação e com destino à vida familiar.

Renascimento

Introdução

O início do Renascimento data de meados do século XV e tal época ficou assim conhecida devido ao

ressurgimento da cultura de um modo em geral. Houve uma renovação do pensamento no que diz respeito

às artes, às ciências, à literatura e a filosofia. Conseqüentemente, houve o renascimento também dos

jardins e os países que mais expressaram esta renovação foram Itália, França e Inglaterra.

Itália

Os jardins italianos desta época se inspiraram nos jardins da Roma Antiga que possuíam muitas estátuas e

fontes monumentais. Na Itália, os sítios se encontravam nas colinas e nas encostas, em razão das vistas

panorâmicas e também do clima. Sendo assim, foi proposto que para o aproveitamento das

irregularidades do terreno, se fizesse uso de escadarias e terraços acompanhados de corredeiras de água.

Tais jardins deveriam unir-se à casa por meio de galerias externas e outras prolongações arquitetônicas.

Os jardins eram tidos como centros de retiro intelectual onde sábios e artistas podiam trabalhar e discutir

no campo, longe do calor e das moléstias do verão da cidade. A vegetação era considerada secundária e se

caracterizava por receber cortes adquirindo formas determinadas, conhecidas anteriormente nos jardins

romanos por topiárias.Em seguida esta mesma vegetação era distribuída pelos terraços e, no plano mais

elevado do jardim, dominando a composição, se encontrava o palácio.

Os vegetais mais utilizados foram: o louro, o cipreste, o azinheiro e o pinheiro entre outros vegetais

característicos dos jardins-italianos do Renascimento. O buxo era muito utilizado para as formas

recortadas. Nestes jardins a paisagem era desenhada com régua e compasso, caracterizando a simetria de

linhas geométricas. Havia também muito contraste entre as formas naturais e as criadas pelo homem.

Villa d'Este em Tivoli é considerada a

obra-prima de os italianosdo Renascimento Gardens e da Unesco, o inclua na lista do património mundial a reconhecer a importância desta jardins na história. Um passeio de Villa d'Este, com guia especializado privada dá a oportunidade de aprender

sobre a história, o património ea influência que os jardins tinham um sobre o desenvolvimento do projeto do jardim em toda a

Europa. Villa d'Este foi encomendado pelo cardeal Ippolito II d 'Este e com a sua impressionante concentração de fontes, nympheums, grutas, jogos de água, que constitui um precioso exemplo de um jardim italiano do século 16. Os jardins da Villa d'Este

era um modelo muito copiado para jardins europeus nos estilos maneiristas e barrocas.

França

Os países da Europa seguiram a França no século XVII, período no qual teve sua maior riqueza e poder,

no que dizia respeito a estética. A princípio, o estilo francês se baseou nos jardins medievais, que

utilizavam canteiros com flores e ervas medicinais, sendo que havia também a horta que lhes concedia o

abastecimento. Mas, com o passar do tempo, novas idéias foram sendo introduzidas por arquitetos

italianos que trabalhavam na corte francesa. Com isso, pode-se dizer que os jardins franceses tiveram

características semelhantes aos jardins italianos.

Como características deste estilo, podemos citar a rígida distribuição axial, a simetria, a perspectiva, o uso

de topiárias e a sensação de grandiosidade. As formas geométricas podiam ser percebidas tanto nos

caminhos e passeios quanto na vegetação, admitindo-se poucos desníveis.

Os principais jardins foram construídos pelo famoso arquiteto/paisagista de Luiz XIV, André Le Notrê.

Sua obra mais marcante foi o jardim do Palácio de Versalhes.

ANDRÉ LE NÔTRE

O jardim clássico francês é um produto direto do mundo culto e pessoal do paisagista André Le Nôtre,

diferente do que se banalizou como o “estilo francês” difundido através do catálogo de formas de

Dézallier, desprovido da profundidade dos questionamentos de Le Nôtre, como se verá ao longo deste

escrito. E se a imagem do mais hábil paisagista francês é mais popular fora da França, como observa

Bernard Jeannel, é provavelmente porque para vários franceses sua obra ainda está muito associada a um

passado fortemente criticado, ligado à monarquia francesa.

André Le Nôtre, que viveu entre 1613 e 1700, era filho de

jardineiros e seu círculo familiar, profissional e social foi em parte ligado a este meio. Sua família vivia

no entorno do Jardim des Tuileries, seguindo uma tradição “tão antiga quanto lógica de alojar os

jardineiros nas proximidades dos jardins que cuidavam”. Desde muito jovem Le Nôtre pode assistir as

transformações do jardim des Tuileries, acompanhando o trabalho de seu pai e dos melhores jardineiros

da época. Certamente também contribuíram em sua formação a leitura dos escritos de autoria de Claude

Mollet, primeiro jardineiro do rei e colega de seu pai Pierre Le Nôtre.

Paralelamente à jardinagem, Le Nôtre freqüentou durante seis anos o ateliê de Simon Vouet convivendo

com importantes artistas contemporâneos a ele. O pintor Simon Vouet, que foi também professor de

Charles Le Brun e Eustache Le Sueur, tinha vivido na Itália entre 1615 e 1627 onde tomou contato com

as correntes representativas da pintura italiana da época. Na sua volta à Paris dirigiu um importante ateliê

de pintura adaptando o estilo italiano ao gosto das grandes decorações pedidas pela corte, aproximando-se

do classicismo de Nicholas Poussin.

Nesse ateliê Le Nôtre fez amizade com Charles Le Brun pintor e decorador, de Vaux-le-Vicompte e

Versalhes, com quem compartilha do gosto e a curiosidade pelos mitos da antiguidade nos quais Le Brun

se inspirava com frequência. Também se iniciou em escultura com Lerambert.

Além das amizades ligadas ao mundo das artes e da jardinagem, outro aspecto a destacar na sua formação

foi a familiaridade que adquiriu relativa aos problemas teóricos e práticos da perspectiva. Segundo,

Bernard Jeannel na sua época “era possível estudar as Leçons de perspective positive du

Cerceau, e segundo este mesmo autor, Le Nôtre também “estuda com atenção os quarenta e três livros

de La perspective curieuse ou magie artificielle do padre Nicéron”. Neste tratado, diferentemente da

perspectiva teórica (ou ótica), a perspectiva “positiva” trata essencialmente dos efeitos práticos da

deformação da perspectiva. Como se verá na seqüência do artigo, Le Nôtre aplicará com maestria os

conhecimentos técnicos relativos à perspectiva e outros ligados à arte dos jardins.

Em 1635, aos 22 anos de idade, André Le Nôtre foi nomeado primeiro jardineiro de Gaston d’Orleans,

irmão do rei Luis XIII e trabalha acompanhando seu pai no Jardin des Tuileries, onde permanecerá

durante mais de 20 anos.

Seus contatos, a tradição oral, o estudo de pintura e escritos ligados às técnicas de jardinagem, aliados a

sua curiosidade, vão pouco a pouco ampliando sua visão e sua capacidade de expressão plástica. Esta

bagagem de conhecimentos e vivências o permitirá realizar, a partir dos seus quarenta anos, um conjunto

de obras marcantes das quais destacamos os jardins de Vaux-le-Vicompte e Versailles.

Vaux-le-Vicompte, situado em Maincy, 55 Km a sudeste de Paris, é considerado uma de suas obras

primas. O jardim e o palácio foram concebidos para o ministro das Finanças Nicholas Fouquet.

Paradoxalmente – após a festa de inauguração deste jardim em 1661, feita em homenagem a Luis XIV –

Nicholas Fouquet foi encarcerado e mantido em prisão até sua morte, entre outros motivos, por possuir

uma propriedade mais aparatosa que a do Rei.

VAUX-LE-VICOMPTE

No jardim de Vaux-le-Vicompte Le Nôtre usa com maestria os recursos da perspectiva na composição

paisagística. Este é um jardim para ser visto a partir do Palácio e tem autonomia em relação à sua

arquitetura. Para compensar a distribuição axial em pendente do terreno e sua longa extensão em

detrimento de sua largura, Le Nôtre oculta partes do jardim e anula os efeitos da perspectiva em fuga.

Cria assim um jardim de uma cena só, aparentemente menos longa e não imediatamente evidente como

em Versalhes. Para isso, ao longo de um eixo central ordena uma seqüência de parterres, espelhos d’água

que culminam com uma estátua de Hércules fechando a perspectiva e relacionando o fundo do jardim

com um quadro de Nicholas Poussin dos 7 sacramentos.

O Castelo de Vaux-le-Vicomte é um palácio setecentista francês,

construído em estilo Barroco entre 1658 e 1661. Fica situado a 50 km a Sudeste de Paris. Este castelo foi construído pelo superintendente das Finanças de Luís XIV, Nicolas Fouquet. Este último fez apelo aos melhores artistas da época para construir o

seu palácio : o arquitecto Louis Le Vau, o pintor Charles Le Brun e o paisagista André Le Nôtre. O talento desta equipe serviria a

Luís XIV para a construção do seu Château de Versailles depois da prisão de Fouquet. O palácio é, atualmente, a maior propriedade privada com o título de Monument historique (Monumento Histórico) na França, obra-prima da arte francesa do século XVII. É uma

obra que deslumbra por sua elegância, seu requinte, suas dimensões acima de tudo. O jardim à francesa ordena-se em torno de uma

perspectiva de mais de 3 km em um espaço de 40 hectares. O lugar é um cenário extraordinário. Onde quer que se esteja, o visitante tem a impressão de dominar toda a paisagem. O castelo está situado sobre uma plataforma retangular cercada de água, na qual se

podem ver carpas centenárias. Em seu interior, além do aposento do Rei Sol e dos Salões de Aparato ricamente decorados, pode-se

visitar a cozinha onde o maître d’hôtel François Vatel inventou para Luís XIV uma sobremesa que viria a ser o creme chantilly. Foi em Vaux le Vicomte que aconteceu uma das mais belas festas do século XVII, com 3.000 convidados.

No mesmo ano da prisão de Fouquet, Luis XIV iniciou a ampliação do antigo pavilhão de caça de Luis

XIII que seria transformado no palácio de Versalhes e residência real a partir de 1682. As obras do

palácio foram desenvolvidas num longo período de tempo e dela participaram os arquitetos, Louis Le Vau

(1612–1670), Jules Hardouin-Mansart (1646–1708), Jacques Ange Gabriel (1698–1782) e o pintor e

interiorista Charles Le Brun (1619–1690).

Com relação ao lugar escolhido para instalar Versalhes, sua topografia plana e sem atrativos e a falta de

água para abastecer a corte o indicam como um dos mais inadequados para estabelecer o jardim e a

residência da corte. No entanto, para Luis XIV, Versalhes foi concebido para dar “a medida exata da

gigantesca dimensão do governo humano sobre a natureza” e entendimento desta iniciativa deve ser

vinculado a um contexto de domínio simbólico e físico do território.

Numa escala macro o jardim se estrutura através de grandes eixos retilíneos onde se distribuem parterres,

espelhos d’água, elementos arquitetônicos. O eixo central atinge cerca de 14 km de comprimento e

permite uma visão ampla do território. Esta experiência do olhar que alcança o horizonte longínquo está

na base do eixo visual, o mecanismo fundamental de ordenação do conjunto de Versalhes e de muitos

outros da arquitetura barroca. Ela se incorporará como um dos mecanismos de ordenação compositiva

mais fundamentais da Ecole de Beaux Arts cujas origens remontam precisamente ao reinado de Luis XIV.

Numa escala micro, o jardim apresenta uma cenografia arquitetônica e vegetal obcecada pelo detalhe e

voltada ao deleite e à provisão de acontecimentos para os convidados do rei (cenas de teatro, terraços,

fontes, conjuntos de estátuas, labirinto, espelhos d’água).

Embora Vaux-le-Vicompte e Versalhes em

si já representem muito bem o auge da produção de Le Nôtre, paralelamente a estes o paisagista também

participa do desenho de vários outros jardins nos arredores de Paris e nas províncias, entre eles Tuileries,

Champs-Élysées, Chantily, Saint Germain, Saint Cloud, Sceaux, Fontainebleau, Meaudon. Permanece em

todos eles a idéia de ordem, simetria que concorrem para sua inteligibilidade.

Por outro lado, “numa época na qual a linguagem mitológica é o modo de expressão comum na Europa

Artística, os jardins de Le Nôtre exprimem uma mensagem de triunfo que se evidencia ou oculta segundo

o "caso". Essa dupla polaridade dos seus jardins que tem como apoteose Versalhes, onde, de um lado

temos o rigor de uma organização geométrica do espaço e do outro temos o ressurgimento de uma

mitologia lúdica e oracular – vem a cristalizar a herança do humanismo francês, como bem observa

Bernard Jeannel. Em síntese, sua obra é um registro excepcional da política, ciência e sensibilidade do seu

tempo.

Inglaterra

No reinado de Luiz XV, o estilo francês entrou em decadência devido à busca exagerada da forma e

simetria. De um estilo formal, os jardins passaram a ter uma maior aproximação com a natureza.

Inspiravam-se basicamente nas idéias orientais do velho império chinês que possuía os jardins dos

acidentes naturais. Tais jardins ficaram conhecidos como "jardins paisagísticos" e tinham como

características básicas a irregularidade e a falta de simetria nos caminhos, que foram planejados com

maior liberdade. Além disso, não eram encontradas esculturas vegetais, arcos e monumentos.

Esses jardins procuravam imitar a natureza em seu traçado livre e sinuoso e a água presente se encontrava

disposta em lagos ou riachos. Tais inovações iam de encontro às idéias do romantismo da época. A

Inglaterra também teve seus mestres paisagistas como William Kent e William Chambers, este último foi

quem introduziu a idéia chinesa nos jardins de seu país.

Um dos objetivos deste estilo descrito era que as pessoas percebessem como jardim, toda a natureza que

estava ao seu redor. As primeiras características do jardim inglês são as seguintes:

· Linhas graciosas;

· Amplas extensões verdes (gramados);

· Ruas amplas; cômodas, em pequeno número;

· Terreno acidentado e possibilitando a visão de belas perspectivas;

· Pequenos bosques, compostos de plantas da mesma ou de espécies diferentes, com ou sem divergência

nas colorações;

· Grupos de árvores não muito numerosas;

· Plantas isoladas;

· Plantação de árvores mortas;

· Construção de ruínas;

Este estilo foi utilizado na Inglaterra e em alguns locais da Europa, por quase dois séculos e depois entrou

em decadência, dando lugar ao estilo misto. Os ingleses acabaram dando origem aos parques e jardins

públicos que tiveram por finalidade refrescar as áreas urbanas.

Holanda

Os holandeses, no início, também não fugiram das influências francesas e italianas. Porém, devido à sua

topografia plana, o hábito de cultivo das plantas bulbosas (especialmente a tulipa) e o seu gosto pelas

cores, criaram jardins mais compactos e graciosos. São divididos em múltiplos recintos e apresentam

túneis sombreados por trepadeiras. As partes centrais são formadas por intrincados grupos florais; fontes

douradas baixas que jorram suas águas em pequenos tanques rodeados de ercas vivas de bordadura baixa.

Os ciprestes recebiam podas, formando círculos sobrepostos. Portões de ferro fundido fechavam os

jardins.

China e Japão

DESVENDANDO OS JARDINS CHINESES

A jardinagem da China teve sua origem em torno de 200 anos a.C. Os imperadores criaram jardins

cercados, propícios à contemplação, cujos elementos básicos eram as pedras, riachos e lagos, onde se

limitavam a ordenar as plantas nativas. Naquela época acreditava-se que ao norte da China havia um lugar

para os imortais, uma espécie de lago-ilha. A imitação deste local imaginário efetivou o estilo chinês, com

palácios vermelhos em meio às rochas, lagos cobertos de lótus e rodeados de chorões.

No período da dinastia Zhou, a mais de 3 mil anos atrás, os imperadores tinham como dito popular que

“a natureza e os jardins alimentam a alma” por isso, eles recorriam aos jardins para reconciliar as

emoções e descansar o espírito. Hoje o povo cultua este dito, e apreciam passar horas contemplando a

natureza e relaxando nos parques.

Para os chineses, os parques são uma combinação de paisagem, espiritualidade e arte. O jardim faz parte

do lar de cada um e, ao mesmo tempo, é um lugar de recreio, um lugar “mágico”, um cosmos em

miniatura no que se tenta recriar a imagem de uma natureza ideal. A idealização dos jardins chineses é

fornecer a espiritual utopia que consiga conectar o homem com natureza.

A arte na jardinagem japonesa consiste em concentrar a atenção sobre o essencial, seja das formas

precisas ou a sutileza das matizes; todas as plantas são extremamente valorizadas. São usadas comumente

plantas perenes, criando um quadro estável seja qual for a estação do ano.

Confira imagens dos mais famosos jardins chineses:

Yu Gardens - Localizado em Shangai. Este jardim tem aproximadamente 400 anos e deriva da dinastia

Ming, foi construído durante o reinado de Jia Jin, e restaurado na década de 1960.

Jardins de Suzhou - (Jardim do Quiosque Canglang, o Jardim do Bosque de Leões e o Jardim da

Administração Humilde e Liuyuan): foram tombados na Lista dos Patrimônios Mundiais em 1997 por

cristalizarem as características da arquitetura de jardins chineses criadas durante mais de dois mil anos.

Jardim YuanMingYuan (Antigo Palácio de Verão) - Localizado em Beijing. É conhecido por ser o mais

famoso jardim imperial da China. Tem uma superfície de 347 hectares. Concentram em si os jardins de

diferentes estilos de todo o país e combina as características arquitetônicas do Ocidente com as

tradicionais. Em 1860, foi queimado pela aliança das forças armadas inglesas e francesas e restam hoje

em dias as ruínas do jardim.

ARTE EM JARDINS

Este cenário foi encontrado pelos japoneses em 607 d.C. e, em poucos anos, o Japão tinha o seu primeiro

jardim "lago-ilha". Em 1894, para comemorar os 1100 anos da capital Kioto, construiu-se um desses

jardins, ficando conhecido como Santuário Heian. Trata-se de uns dos jardins mais alegres e de melhor

traçado do mundo, com hortos de cerejeira, maciços imensos de azaléias e lírios, rochas cobertas por

flores e pinus, traduzindo o amor dos japoneses pela natureza.

A arte na jardinagem japonesa consiste em concentrar a atenção sobre o essencial, seja das formas

precisas ou a sutileza das matizes; todas as plantas são extremamente valorizadas. São usadas comumente

plantas perenes, criando um quadro estável seja qual for a estação do ano.

Pérsia

Os persas não criaram no mundo das artes monumentos originais. A sua arquitetura foi, nas suas grandes

manifestações, obra de gregos. Os jardins dos antigos persas estavam, como as demais produções

artísticas, condicionados à influências estranhas e revelavam, nos caracteres essenciais da composição,

elementos retirados dos jardins gregos e egípcios, uma espécie de estilo "misto". Nos jardins eles

introduziam árvores e arbustos de flores perfumadas.

Os jardins persas procuravam recriar uma imagem do universo, constituindo-se de bosques povoados por

animais em liberdade, canteiros, canais e elementos monumentais, formando os "jardins-paraísos" que se

encontravam próximos aos palácios do rei.

A introdução de espécies floríferas no jardim criou um novo conceito na arte de construí-los, passando a

vegetação a ser estimada pelo valor decorativo das flores, sempre perfumadas, do que pelo aspecto de

utilidade que possuíam anteriormente. A associação dos reinos animal e vegetal completava a idéia do

paraíso.

O jardim era dividido em quatro zonas por dois canais principais em formato de cruz e na intersecção

deste se elevava uma construção que podia ser o pavilhão ou uma fonte, representando as 4 moradas do

universo. O jardim persa cercado de altos muros feitos de tijolos, estritamente formal, era um lugar de

retiro privado, destinado ao prazer, ao amor, à saúde e ao luxo. As plantas utilizadas eram: plátanos,

ciprestes, palmeiras, pinus, rosas, tulipas, narcisos, jacintos, jasmins, açucenas, etc.