View
100
Download
1
Category
Preview:
DESCRIPTION
RIPARDO, R. B. . A trigononometria como ferramenta para o conhecimento das florestas em pé na Transamazônica. In: Semana de Integração das Ciências Agrárias - SICA, 2007, Altamira. Anais da 7ª Semana de Integração das Ciências Agrárias - SICA. Altamira : UFPA, 2007. v. 02. p. 257-262.
Citation preview
A TRIGONOMETRIA COMO FERRAMENTA PARA O
CONHECIMENTO DAS FLORESTAS EM PÉ NA TRANSAMAZÔNICA
Ronaldo Barros Ripardo1
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido nas aulas de matemática da Escola Rui Barbosa – Medicilândia / Pará, no segundo semestre de 2006. Sua realização se deu a partir da necessidade de conhecer mais acerca de espécies florestais existentes no município, uma vez que a cada ano que se passa aumenta a lista de madeiras de lei ameaçadas de extinção. PALAVRAS – CHAVE: espécies de lei, densidade, propriedades agrícolas, Matemática. ABSTRACT: This work was developed in the lessons of mathematics of the School Rui Barbosa – Medicilândia / Pará, in as the semester of 2006. Its accomplishment if gave from the necessity to know more concerning existing forest species in the city, a time that to each year that if passes increases the threatened wood list of extinguishing law. KEY – WORDS: species of law, density, agricultural properties, Mathematical. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o mundo tem ficado alerta aos efeitos que a devastação ambiental
sem precedentes tem causado ao planeta. As variações climáticas em nível mundial têm sido o
fator que provocou esse estado de desconfiança. Com o El Niño, atividades como o
desmatamento, as queimadas, o aumento dos gases de efeito estufa, a emissão de poluentes no
ar etc. intensificaram as mudanças do clima e o aquecimento global. Na Amazônia as
conseqüências têm se revelado trágicas e imagináveis como rios inteiros deixando seus leitos
expostos ao sol e menor incidência ou quase ausência de chuvas.
A derrubada das florestas pode ser citada como uma das ações humanas que mais
tem agredido ao meio ambiente. Com o desmatamento o solo, os rios, a fauna, a flora e o
clima são afetados diretamente. O principal motivo que contribui para que a floresta
amazônica seja derrubada de forma desmedida é a ação de grandes madeireiros, que tem sido
apoiada por grande parte da população local, uma vez que estas praticamente desconhecem
outros valores que a floresta em pé possa ter, principalmente o econômico. Assim, cabem as
instituições sociais promoverem ações que possam disseminar o conhecimento de novas
formas de aproveitamento da floresta, dos seus serviços ecológicos.
1 Professor de Matemática e Língua Portuguesa da EMEF Rui Barbosa, município de Medicilândia / Pará (Km 70 faixa / Agrovila Jorge Bueno). Licenciado pleno em Matemática (UEPA) e Letras (UFPa). Aluno do curso de pós-graduação latu sensu em Matemática do Ensino Básico. (Endereço eletrônico: ripardo22@yahoo.com.br).
Na Transamazônica a escola tem o papel de propiciar aos alunos um conhecimento
menos superficial sobre as florestas, já que a região convive com as duas realidades: o
desmatamento e as florestas em pé. À escola também cabe a responsabilidade de fazer com
que o conhecimento por ela ensinado tenha de fato importância para os alunos. Com o intuito
de promover a socialização do conhecimento escolar, associando o conhecimento científico
com o empírico por meio da pesquisa, e buscando conhecer mais sobre as espécies de lei que
compõem a nossa floresta, é que foi feito com alunos de 8ª série um inventário florestal. Os
objetivos deste foram elencar as características de quinze espécies de madeira de lei como:
calendário, densidade, altura e volume de madeira das árvores, além dos nomes popular e
científico.
MATERIAL E MÉTODOS
Para calcular a altura das árvores utilizou-se como ferramenta conhecimentos de
trigonometria como seno, cosseno e tangente. A trigonometria é o ramo da matemática que
estuda as relações métricas no triangulo retângulo. Sua aplicação no cálculo de alturas
necessita do uso de um instrumento auxiliar: o teodolito2. Na pesquisa foi utilizado um
confeccionado com material alternativo, como canudinho de refrigerante, transferidor e
alfinete, como mostra a ilustração ao lado.
Os passos para calcular a altura de um
determinado objeto com o auxílio do teodolito são:
¨ Com o teodolito a pessoa posiciona-se a certa
distância do objeto;
¨ Olhando por dentro do canudinho do
refrigerante, gira-o até localizar o ponto mais alto do
objeto (no caso da pesquisa, a copa da árvore);
¨ A marca graduada no transferidor sobre o qual
o canudinho ficar sobreposto é a medida do ângulo
formado entre os segmentos de reta (imaginários) que vão da pessoa à base e ao cume do
objeto, formando um triângulo retângulo;
¨ Medindo-se a distância da pessoa à base do objeto e encontrando na tábua
trigonométrica o valor correspondente à tangente do ângulo formado, basta usar esses dados
no cálculo feito para encontrar a tangente de um ângulo.
2 Tal aparelho serve para medir ângulos e seu preço no mercado gira em torno dos 5 mil reais.
Figura 1: Teodolito confeccionado com material alternativo
Fonte: GIOVANNI, José R. [et al]. A Conquista da Matemática: a + Nova. 8 série. São Paulo: FTD, 2004.
Para obter-se uma medida mais precisa nestes cálculos é razoável fazer o
procedimento mais de uma vez, tirando-se medidas de lugares diferentes. Depois é só fazer a
média aritmética com os valores encontrados.
As noções de trigonometria, do
cálculo do volume de madeira, a confecção do
teodolito foram trabalhadas em sala de aula.
Cada aluno, então, foi a campo coletar parte
dos dados, como medida do rodo das árvores3
e o número de árvores existentes em uma
determinada área. Dados acerca do calendário
das espécies foram obtidos por meio de
entrevistas com os pais dos alunos e demais
colonos da região. Vale ressaltar que a
participação dos pais foi essencial: eles foram com os filhos até à mata para coletar os dados
necessários. Outras informações como nome científico das espécies foram obtidas por meio
de pesquisa bibliográfica feita pelos alunos. De volta à sala de aula os dados foram
devidamente sistematizados e analisados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As informações obtidas sobre cada espécie estão sintetizadas no quadro abaixo:
Quadro 1: Demonstrativo das características das espécies pesquisadas
-: informações desconhecidas.
3 Comprimento da circunferência da tora da árvore.
Nome Altura média
(m)
Densidade (hectare)
Volume (m³)
Calendário
Popular Científico Flor Fruto ou Semente
Acapú Vouacapoua américa 27,7 05 1,2 Out Jan, Fev Angelim - 6,7 1 0,4 - - Sapucaia - 39 1 7,6 Set, Out Nov, Dez Ipê Tabebuia impetiginosa 57,4 1 1,38 Set Out Piquiá - 22.5 1 2,4 Ago e Set Fev e Mar Ipê-amarelo Peroba – de - campo 35,5 1 3,9 Jul, Ago Nov , Dez Mata-matá Eschweilena 24 1 0,86 Ago a Out Out , Nov Castanheira Bertholletia excelsa 35 1 45,3 Nov , Dez Jan Andiroba Carapa guianesis 8 1 1,1 Ago a Out Jan a Abr Tatajuba Hymenala courbaril 62 1 3,8 Fev Mai Jarana Holopyxidium jarana 8,5 1 0,3 Set , Out Nov , Dez Cumaru Dipteryxodorata 22,9 1 5,7 Fev Nov Mogno Swetenia macrophylla 7,9 1 0,17 Fev - Amarelão - 8,8 4 1,92 Set , Out Jan
Figura 2: Cálculo da altura de uma árvore.
Fonte: ilustração criada por Camila Belz Krüger.
Analisando o conjunto de informações obtidas uma observação imediata que pode
ser feita é sobre a baixa densidade das árvores. De acordo com SHANLEY & MEDINA
(2005) espécies como a andiroba pode atingir o número de até 8 árvores por hectare e o piquiá
tem densidade variando entre 2 a 7 árvores por hectare. Na região pesquisada as espécies
encontradas com maior densidade são o acapú e o amarelão, com 5 e 4 árvores por hectare,
respectivamente, enquanto que a andiroba e o piquiá tem densidade de apenas 1 árvore por
hectare. Tais informações vão ao encontro de relatos feitos por pais, colonos e alunos:
algumas espécies de madeira de lei raramente são encontradas nas propriedades agrícolas da
região. Uma das respostas dadas por eles para a ausência quase que total de algumas das
espécies é a extração da madeira para venda. Com a derrubada das árvores muitas espécies
estão desaparecendo, principalmente aquelas de alto valor no comércio, como o mogno e a
castanheira.
A derrubada das florestas é uma triste realidade existente na
Transamazônica, e, certamente, contribui de forma preponderante para
que algumas espécies florestais entre no rol das espécies ameaçadas de
extinção. Todas as propriedades pesquisadas são de 100 hectares e em
nenhuma delas a área de floresta ultrapassa os cinqüenta por cento da
propriedade, como mostra o croqui (Figura 3) de um dos lotes
envolvidos na pesquisa, onde a área de floresta se resume a parte
colorida com verde escuro. Mesmo não sendo um dos objetivos da
pesquisa evidenciar as causas que estão levando madeiras de lei ao
desaparecimento é nítido que a derrubada das matas nas propriedades
tem reduzido consideravelmente a quantidade de árvores existentes na
região. Muitas das vezes o desmatamento é feito para usar a terra para a
agricultura ou para a pecuária sem haver a menor preocupação em
aproveitar a madeira das árvores derrubadas.
Chama a atenção nos dados a altura que árvores de grande
porte, como a sapucaia, o ipê-roxo, a castanheira e o jatobá alcançam,
ambas acima dos 35 metros. Possivelmente as árvores de maior altura,
além de ser uma característica da espécie, se devem ao fato da árvore
ser muito antiga. Uma castanheira encontrada, por exemplo, tinha 5,5
metros de rodo.
Quanto ao calendário é mais freqüente a floração acontecer no
Figura 3: Croqui de uma das propriedades
Fonte: ilustração criada por Aline de Jesus.
verão, a maioria num período variando entre os meses de agosto, setembro e outubro. Já o
período das árvores lançarem frutos e/ou sementes acontece entre os meses de novembro e
março. Conhecer o calendário de cada espécie é de extrema importância, pois o colono pode
fazer um controle mais sistemático da caça em sua propriedade, além de saber quando coletar
frutos e sementes caso queira preparar mudas para o plantio.
CONCLUSÕES
A Amazônia é mundialmente conhecida devido à riqueza de sua biodiversidade,
principalmente pela floresta. As pessoas que aqui residem, muitas delas trabalhando
diretamente nas propriedades agrícolas, conhecem pouco sobre a nossa floresta e os múltiplos
usos que se pode fazer dela. A principal conseqüência desse desconhecimento implica na
desvalorização desse patrimônio natural por grande parte da nossa sociedade. Como afirmam
CLEMENT & HIGUSHI (2006) as pessoas precisam reconhecer a importância que as florestas
possuem, pois são elas condição essencial para o equilíbrio do planeta. Portanto, as
instituições formadoras de opinião têm o papel de trabalhar para que cada vez mais pessoas
possam estar conscientes de que as florestas nos são úteis se estiverem de pé. Desse modo,
pode-se dizer que a escola deu um passo nessa direção. A pesquisa foi feita a partir da
disciplina de matemática e contou com o apoio e a parceria da disciplina de língua
portuguesa, utilizando-se recursos simples, como o teodolito e trena, além de conhecimentos
trabalhados normalmente em sala de aula, como os de trigonometria. Mesmo assim, com os
dados obtidos sobre cada espécie pode-se usá-los como banco de dados para outros estudos,
como por exemplo, o valor econômico entre a comercialização da madeira versus
extrativismo.
Portanto, outras pesquisas devem ser feitas, pois o estudo não teve a pretensão de
esgotar a infinidade de conhecimentos existentes em cada uma das espécies elencadas, mas
concretizar uma ação que amenize o distanciamento ente discurso e realidade, entre escola,
sociedade e meio ambiente.
LITERATURA CITADA
CLEMENT, Charles & HIGUSHI, Niro. A floresta amazônica e o futuro do Brasil. In
Ciência & Cultura: Temas e Tendências. Revista da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência. Ano 58. Nº 3. Jul / Ago / Set de 2006.
SHANLEY, Patrícia & MEDINA, Gabriel. Frutíferas e plantas úteis na vida amazônica.
Belém: CIFOR, 2005.
Recommended