Aulas Multimídias Santa Cecília · 2019-08-30 · 2ª fase (1930 –1945) Poesia ... A poesia da...

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Aulas Multimídias – Santa Cecília

Professor André Araújo

Disciplina: Literatura

Série: 2º ano EM

Modernismo

2ª fase

(1930 – 1945)

Poesia

• Nas décadas de 1930 e 40, a poesia brasileira vivia um

de seus melhores momentos. Tratava-se de um período

de maturidade e alargamento das conquistas

modernistas da primeira geração.

• Maturidade porque já não havia necessidade de

escandalizar os meios culturais acadêmicos. Sem

radicalismos e excessos, os poetas sentem-se à

vontade tanto para escrever um poema com versos

quanto para fazer um soneto, sem que isso significasse

voltar ao Parnasianismo.

A poesia da segunda geração modernista foi,

essencialmente, uma poesia de questionamento: da

existência humana, do sentimento de “estar-no-

mundo”, das inquietações social, religiosa,

filosófica, amorosa.

Principais poetas

Murilo Mendes

• Olhar irreverente dos primeiros

modernistas;

• Recuperação de textos do Quinhentismo;

• Tendência religiosa como consolo para a

existência humana;

• Influências surrealistas.

Texto I

Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia

onde cantam gaturamos de Veneza.

Os poetas da minha terra

são pretos que vivem em torres de ametista,

os sargentos do exército são monistas, cubistas,

os filósofos são polacos vendendo a prestações.

A gente não pode dormir

com os oradores e os pernilongos.

Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.

Eu morro sufocado

em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Texto II

Pré-história

Mamãe vestida de rendas

Tocava piano no caos.

Uma noite abriu as asas

Cansada de tanto som,

Equilibrou-se no azul,

De tonta não mais olhou

Para mim, para ninguém:

Cai no álbum de retratos.

Jorge de Lima

Multiplicidade de temas (o negro, a

sociedade, Deus, a infância,...),

semelhante a Murilo Mendes;

Tom coloquial e afetividade.

Texto III

Mulher proletária

Mulher proletária - única fábrica

que o operário tem, (fabrica filhos)

tu

na tua superprodução de máquina humana

forneces anjos para o Senhor Jesus,

forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,

0 operário, teu proprietário

há de ver, há de ver:

a tua produção, a tua superprodução,

ao contrário das máquinas burguesas

salvar o teu proprietário.

Vinícius de Moraes

Poeta social, sensual, transcendente;

Tematizou o amor e a mulher;

Influências simbolistas;

Uso do soneto, da rima e da metrificação;

Religiosidade e angústia associada à oscilação entre

matéria e espírito;

Poesia do cotidiano e dos relacionamentos amorosos;

Texto IV

Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez o drama.

De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Moraes

Escritora intuitiva;

Inclinação neo-simbolista;

Espiritualidade e musicalidade;

Poesia reflexiva e filosófica, tematizando a transitoriedade

da vida e a fugacidade do tempo e das coisas;

Reflexões sobre questões de natureza política e social;

Imagens da natureza e do infinito;

Revisitação da Inconfidência Mineira.

Texto X

Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida esta completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

- mais nada.

Cecília Meireles

Texto XIRomance XXIV ou da Bandeira da Inconfidência

(...)

Atrás de portas fechadas,

à luz de velas acesas,

brilham fardas e casacas,

junto com batinas pretas.

E há finas mãos pensativas,

entre galões, sedas, rendas,

e há grossas mãos vigorosas,

de unhas fortes, duras veias,

e há mãos de púlpito e altares,

de Evangelhos, cruzes, bênçãos.

(...)

Atrás de portas fechadas,

à luz de velas acesas,

uns sugerem, uns recusam,

uns ouvem, uns aconselham.

Se a derrama for lançada,

há levante, com certeza.

(...)

Coisas da Maçonaria,

do Paganismo ou da Igreja?

A Santíssima Trindade?

Um gênio a quebrar algemas?

Atrás de portas fechadas,

à luz de velas acesas,

entre sigilo e espionagem,

acontece a Inconfidência.

(...)

LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,

ouve-se em redor da mesa.

E a bandeira já está viva,

e sobe, na noite imensa.

E os seus tristes inventores

já são réus — pois se atreveram

a falar em Liberdade

(que ninguém sabe o que seja).

Liberdade, essa palavra

Que o sonho humano alimenta

Que não há ninguém que explique

E ninguém que não entenda.

Texto XII

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração que nem se mostra.

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