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Apostila do Curso de Habilitação de Sargentos da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo - PMES. 2014.
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GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO
POLCIA MILITAR
CURSO DE HABILITAO DE SARGENTOS
DIREITO PENAL MILITAR
Instrutores:
MAJ PM MARCOS TADEU PIMENTEL CAP PM DAVY LOCATEL SILVEIRA
CAP PM CLEIDE NASCIMENTO BORGO
Cariacica 2014
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1. INTRODUO
Em meio a vrios conflitos do cotidiano, como o desrespeito vida, honra, ao
patrimnio e incolumidade fsica das pessoas, situa-se o policial militar como um
cidado especial encarregado de promover o retorno da paz e da tranquilidade na
comunidade, visando preservao da ordem pblica. Por isso, se torna alvo de
todos os olhares e observaes por parte da sociedade que o chama para receber
sua proteo, crendo na seriedade e preparo exigidos pela sua profisso. O militar
passvel de defeitos como qualquer cidado, possui problemas de ordem
econmica, social e domstica como qualquer contribuinte, porm um servidor
especial, face s obrigaes e prerrogativas prprias de sua qualidade, tanto que
submetido ao respeito incondicional hierarquia e disciplina militares, pilares
mestres da Corporao que representa.
O Direito Militar um ramo do direito pouco explorado nas Universidades e
Faculdades de Direito do Brasil, pois se dirige, quase que exclusivamente, aos
militares. Assim, so poucos os autores que se arriscam a discorrer sobre o
assunto, concentrando-se os melhores livros nas mos de militares e membros do
Ministrio Pblico que laboram nas Justias Militares.
O Direito Militar se divide em Direito Penal Militar e Direito Processual Penal Militar,
estando codificado em dois Decretos Leis: Decreto Lei n 1001/1969 Cdigo
Penal Militar (CPM) e Decreto Lei n 1002/1969 Cdigo de Processo Penal Militar
(CPPM). Os mesmos foram editados em um perodo histrico, de ditadura militar,
no qual existiam funes agrupadas do Poder Executivo e Legislativo nas mos dos
militares. Houve, como se sabe, a decretao do recesso do Congresso Nacional.
O CPM e o CPPM, dadas as caractersticas dos seus surgimentos, possuem
extrema rigidez em vrios aspectos. Contudo, os dois Cdigos foram recepcionados
quase que totalmente pela atual Constituio Federal com fora de lei ordinria, em
observncia ao seu art. 22, inciso I:
Art. 22 da CF/88: Compete privativamente Unio legislar sobre:
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I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrrio, martimo, aeronutico,
espacial e do trabalho;
Assim, qualquer alterao no CPM ou CPPM s pode ser realizada atravs de lei
ordinria editada pelo Congresso Nacional.
Muitas regras de Direito Militar esto atualmente disciplinadas pela prpria
Constituio Federal. Veja que o tratamento dispensado pela Constituio Federal
aos militares em geral (membros das Foras Armadas, policiais militares e
bombeiros militares), em seu art. 5, inciso LXI, j diferenciado em relao aos
demais cidados. Dispe a Carta Magna:
Art. 5, LXI da CF/88: ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciria competente, salvo nos casos de transgresso militar
ou crime propriamente militar, definidos em lei;
Verifica-se que a perda da liberdade individual do civil ocorre em menos hipteses
do que a dos militares. No caso da PMES, vale lembrar que estamos sujeitos ao
RDME (Regulamento Disciplinar dos Militares Estaduais Decreto Estadual n 254-
R/2000). Outras restries so impostas aos militares pela Constituio (proibio
de sindicalizao, de greve e de acmulo de cargo ou emprego pblico;
transferncia compulsria para a inatividade no caso de ser eleito para cargo
poltico, sem possibilidade de retorno ao servio ativo etc).
A funo que o policial militar exerce (atuao na preservao da ordem pblica) e
as garantias que possui (porte federal de arma de fogo, por exemplo) o tornam bem
mais suscetvel de praticar crimes e transgresses. Os mecanismos de controle
devem ser rgidos, conforme autorizao constitucional. No caso de transgresso
disciplinar, a prpria Corporao apura o fato e aplica a sano respectiva. No caso
de crime militar surge o Poder Judicirio que visa, por um lado, controlar e conter a
fora para se evitar o arbtrio e a violncia e, por outro, propiciar ao policial militar a
certeza de que sua conduta, se praticada dentro dos limites legais, ter um respaldo
da Justia Militar, que conhece melhor a natureza de suas aes, sendo por isso
mais gil e apta, ao contrrio do que pensam alguns crticos desinformados que
querem intitul-la como uma Justia de privilegiados.
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1.1 Conceito de Direito Penal Militar
Direito Penal Militar a parte do direito penal que trata da definio dos crimes
militares, atribuindo-lhes penas e medidas de segurana. Tem como objetivo bsico
a proteo dos bens jurdicos fundamentais para existncia e perfeito
funcionamento das Instituies Militares.
Enquanto as normas de direito penal comum (Cdigo Penal, Estatuto do
Desarmamento, Lei de Txicos etc) so destinadas a todos os cidados, sem
distino, as de direito penal militar, por terem carter especial, aplicam-se, quase
que exclusivamente aos militares, pois tais servidores possuem especiais deveres
indispensveis existncia das Instituies que pertencem.
O Direito Militar um ramo do direito que desperta o interesse das pessoas em
razo de cuidar de uma categoria de servidores pblicos que so considerados
servidores especiais, com direitos e prerrogativas prprios, diferenciados dos
servidores civis. Se possuem direitos especiais, os militares tambm possuem
obrigaes especiais, como, por exemplo, o sacrifcio da prpria vida no exerccio
de sua profisso.
Em razo destas particularidades, o legislador constituinte assegurou aos militares,
caso cometam algum crime militar, o direito de serem processados e julgados
perante uma Justia Especializada, que a Justia Militar da Unio ou a Justia
Militar dos Estados e do Distrito Federal.
Os crimes militares so violaes que ferem diretamente interesses sociais
confiados administrao militar ou que acarretam dano ao servio. Isto porque,
em se tratando de direito castrense, o interesse privado ou social secundrio.
Jos da Silva Loureiro Neto esclarece, com muita propriedade, a relatividade dos
conceitos na vida comum e na caserna, quando afirma: O conceito de bem jurdico
varivel no tempo, pois est ligado s concepes tico-polticas dominantes.
Assim, o conceito de traio no possui a mesma valorao no mundo civil e no
militar. Enquanto a embriaguez no Cdigo Penal militar considerada crime em
determinadas situaes, ela irrelevante ao legislador penal comum em consider-
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la como crime. Quando se trata do ordenamento jurdico militar, a lei penal militar
visa exclusivamente os interesses do Estado e das Instituies Militares. Por isso,
inexiste a ao penal privada na legislao processual penal militar. Exemplificando,
se um civil cometer o crime de injria (art. 140 do CP), a ao penal ser proposta
atravs de queixa, ou seja, a iniciativa de movimentar a tutela jurisdicional do
particular. O mesmo no ocorre na legislao processual penal militar, onde a
iniciativa de propor a ao penal sempre do Estado, atravs de seu rgo
ministerial. Assim, se um militar injuriar seu colega de farda, em se tratando de
crime militar, torna-se irrelevante a vontade do ofendido em no pretender
processar esse colega. Dever ser instaurado inqurito policial militar a respeito do
fato e se o rgo ministerial entender cabvel a denncia, dever propor a ao
penal. que no caso, repita-se, o interesse prevalente do Estado.
O Direito Militar (penal e processual penal), desta forma, deve ser visto como um
direito especial, autnomo e com codificao prpria.
Comparando-se os ndices sistemticos do Cdigo Penal Militar e do Cdigo Penal
Comum, seremos forosamente levados a chegar concluso de que no Direito
Castrense, efetivamente o interesse prevalente o do Estado. Assim que o
primeiro dos ttulos do diploma penal militar se refere aos crimes contra a segurana
externa do pas, sendo seguido pelo que elenca os atentatrios autoridade ou
disciplina militar e, ainda, o que trata dos delitos contra o servio militar e o dever
militar. S aps, que privilegia os crimes contra a pessoa. Caminho
diametralmente oposto foi o adotado pelo Cdigo Penal Comum.
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2. CRIME MILITAR
Crime militar todo aquele que a lei assim o reconhece como tal. , assim como o
crime comum, um fato tpico e antijurdico, previsto em lei para a proteo dos bens
jurdicos fundamentais para existncia e perfeito funcionamento das Instituies
Militares.
O legislador penal brasileiro adotou o critrio legal para definir crime militar, isto ,
apenas enumerou taxativamente as diversas situaes que definem esse delito. Ou
seja, um fato s poder ser considerado crime militar se estiver previsto no Cdigo
Penal Militar (CPM). O Cdigo Penal Militar visa proteger os bens ou interesses
vinculados a destinao constitucional das instituies militares, as suas atribuies
legais, ao seu fundamento, sua prpria existncia, e no aspecto particular da
disciplina, hierarquia, da proteo autoridade militar e ao servio militar.
3. PESSOA DO MILITAR
Art. 22 do CPM: considerada militar, para efeito da aplicao deste Cdigo, qualquer
pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada s foras armadas, para
nelas servir em posto, graduao, ou sujeio disciplina militar.
Quando o CPM emprega o vocbulo militar se refere quele da ativa.
Os militares estaduais (policiais militares e bombeiros militares) foram equiparados
aos militares das Foras Armadas como servidores pblicos militares (art. 42 CF/88
e seu 1) e a aplicao do Cdigo Penal Militar foi estendida aos integrantes das
Corporaes militares estaduais tambm por fora da Constituio (art. 125, 4
CF/88).
Art. 42 da CF/88: Os membros das Polcias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,
instituies organizadas com base na hierarquia e disciplina, so militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territrios.
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1 Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios, alm do
que vier a ser fixado em lei, as disposies do art. 14, 8; do art. 40, 9; e do art. 142,
2 e 3, cabendo a lei estadual especfica dispor sobre as matrias do art. 142, 3, inciso
X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores.
(...)
Art. 125 da CF/88: Os Estados organizaro sua Justia, observados os princpios
estabelecidos nesta Constituio.
4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente
decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas.
O licenciamento, a excluso, a demisso ou exonerao do servio militar no retira
a competncia da Justia Militar, desde que o fato tenha sido praticado ao tempo
em que o agente era militar (art. 5 do CPM). A lei penal militar poder, nesse caso,
alcanar ex-policiais militares.
Art. 5 do CPM: Considera-se praticado o crime no momento da ao ou omisso, ainda
que outro seja o do resultado.
Como exemplo podemos citar o caso de um ex-policial militar que foi licenciado a
bem da disciplina mediante a instaurao de um Processo Administrativo Disciplinar
de Rito Ordinrio (PAD-RO). Em virtude da transgresso da disciplina que culminou
com seu licenciamento se revestir de conduta tambm qualificada como crime
militar, o mesmo, no pertencendo mais Corporao, ser processado e julgado
na Auditoria da Justia Militar Estadual. O infrator, no momento da prtica do crime
era, no caso, militar.
3.1 Equiparao a militar da ativa:
Art. 12 do CPM: O militar da reserva ou reformado, empregado na administrao militar,
equipara-se ao militar em situao de atividade, para o efeito da aplicao da lei penal
militar.
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Hoje em dia temos diversos militares estaduais da reserva remunerada que esto
sendo empregados em servio ativo, em virtude da Lei Complementar Estadual n
617/2012, que alterou alguns dispositivos do Estatuto da PMES.
4. CLASSIFICAO DOS CRIMES MILITARES
4.1 Crimes militares prprios
Os delitos propriamente militares nunca possuem correspondncia na lei penal
comum. Assim, o crime propriamente militar o que s possui previso no Cdigo
Penal Militar. So exemplos de crimes propriamente militares: embriaguez em
servio (art. 202 do CPM); dormir em servio (art. 203 do CPM); desero (art. 187
do CPM); desacato a superior (art. 298 do CPM); violncia contra sentinela (art. 158
do CPM); motim (art. 149 do CPM); revolta (art. 149, pargrafo nico do CPM),
insubmisso (art. 183 do CPM) etc.
No h previso de tais crimes no Cdigo Penal comum ou em qualquer outra lei de
carter penal, da dizer que so crimes propriamente militares.
4.2 Crimes militares imprprios
O crime impropriamente militar , por sua vez, aquele que, pela condio de militar
do culpado, ou pela espcie militar do fato, ou pela natureza militar do lugar, ou,
finalmente, pela anormalidade do tempo em que praticado, acarreta dano
segurana ou economia, ao servio ou disciplina das instituies militares. O
crime impropriamente militar , em linhas gerais, aquele crime comum cujas
circunstncias alheias ao elemento constitutivo do fato delituoso o transformam em
crime militar transportando-o para o CPM.
Desta forma, podemos dizer que o fato definido como crime impropriamente militar
tambm est previsto na lei penal comum. So exemplos de crimes impropriamente
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militares: homicdio (art. 205 do CPM); resistncia (art. 177 do CPM); leso corporal
(art. 209 do CPM); estupro (art. 232 do CPM); roubo (art. 242 do CPM); extorso
mediante seqestro (art. 244 do CPM); trfico, uso ou posse de entorpecentes (art.
290 do CPM); peculato (art. 303 do CPM); concusso (art. 305 do CPM), corrupo
passiva (art. 309 do CPM) etc.
4.3 O art. 9 do Cdigo Penal Militar
Este artigo de fundamental importncia para a perfeita compreenso de quando
um fato tpico e antijurdico pode ser qualificado como crime militar, devendo ser
julgado pela Justia Especializada. So as condies objetivas de punibilidade.
Exemplo: Um 2 Sargento PM em seu horrio de folga, em sua residncia, com o
uso de sua arma particular, constrange uma mulher a ter com ele conjuno carnal
(crime de estupro n 1). Este mesmo Sargento, estando de servio e no interior de
uma Companhia da PMES, constrange uma mulher a ter com ele conjuno carnal
(crime de estupro n 2). No primeiro caso o crime de estupro comum, de
responsabilidade da Justia Comum. No segundo caso, o crime de estupro militar,
por estar presente a condio objetiva de punibilidade prevista no art. 9, inciso II,
b do CPM. O crime ser, ento, de competncia da Justia Militar Estadual.
Art. 9 do CPM: Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata este Cdigo, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela no previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposio especial;
II - os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o sejam com igual definio na lei
penal comum, quando praticados:
a) por militar em situao de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situao
ou assemelhado;
b) por militar em situao de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito administrao
militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
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c) por militar em servio ou atuando em razo da funo, em comisso de natureza militar,
ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito administrao militar contra militar da
reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o perodo de manobras ou exerccio, contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situao de atividade, ou assemelhado, contra o patrimnio sob a
administrao militar, ou a ordem administrativa militar;
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituies militares, considerando-se como tais no s os compreendidos no inciso I,
como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimnio sob a administrao militar, ou contra a ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito administrao militar contra militar em situao de atividade ou
assemelhado, ou contra funcionrio de Ministrio militar ou da Justia Militar, no exerccio
de funo inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o perodo de prontido, vigilncia, observao,
explorao, exerccio, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito administrao militar, contra militar em funo de
natureza militar, ou no desempenho de servio de vigilncia, garantia e preservao da
ordem pblica, administrativa ou judiciria, quando legalmente requisitado para aquele fim,
ou em obedincia a determinao legal superior.
Pargrafo nico. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e
cometidos contra civil, sero da competncia da justia comum.
Exemplos para compreenso do art. 9 do CPM:
1) Art. 9, I do CPM: embriaguez em servio (art. 202 do CPM); desero (art.
187 do CPM); insubmisso (art. 183 do CPM); motim (art. 149 do CPM),
revolta (art. 149, pargrafo nico do CPM).
2) Art. 9, II, a do CPM: um Cabo da ativa do 11 Batalho da PMES, de folga,
no interior de um bar, agride com socos e pontaps um Cabo do 4 Batalho
da PMES, tambm da ativa e de folga, causando-lhe leses corporais.
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3) Art. 9, II, b do CPM: um Subtenente do 1 Batalho da PMES, da ativa e
de folga, no interior do 4 Batalho da PMES, ao manusear indevidamente
sua pistola, efetua um disparo acidental que atinge um estagirio civil que
trabalhava como telefonista, deixando-o paraplgico.
4) Art. 9, II, c do CPM: uma guarnio do 6 Batalho da PMES, composta
por um 3 Sargento e um Cabo, ao se deparar com um roubo a uma padaria
no bairro Laranjeiras, consegue surpreender e prender dois meliantes. Os
militares efetuaram disparos e causaram leses corporais em um dos
meliantes.
5) Art. 9, II, d do CPM: durante exerccios de maneabilidade na Barra do
Jucu, um aluno do Curso de Habilitao de Sargentos da PMES efetua um
disparo de fuzil que atinge um civil nas pernas, que pescava no rio,
ocasionando-lhe leses corporais.
6) Art. 9, II, e do CPM: um Soldado do Centro de Formao e
Aperfeioamento da PMES, que trabalha no almoxarifado, se apropria de
diversos computadores que estavam l estocados.
7) Art. 9, III, a do CPM: um civil entra sorrateiramente na reserva de armas do
38 Batalho de Infantaria do Exrcito e furta uma pistola 9mm pertencente
ao Exrcito Brasileiro.
8) Art. 9, III, b do CPM: um 2 Sargento reformado da PMES comparece na
Diretoria de Pessoal da PMES para solicitar nova identidade funcional e
desacata um Cabo da PMES que ali trabalha como atendente.
9) Art. 9, III, c do CPM: uma Companhia de recrutas do 38 Batalho de
Infantaria do Exrcito monta acampamento de barracas em Maricar,
Cariacica-ES, visando uma manobra. Dois civis, ex-policiais militares
excludos a bem da disciplina da PMES jogam, em uma das barracas,
granadas de gs, que explodem sobre o peito de um Cabo e de um 2
Tenente do Exrcito, que participavam da manobra.
10) Art. 9, III, d do CPM: uma guarnio do Exrcito Brasileiro agredida por
trs civis no aeroporto de Vitria-ES, quando vigiava o local espera de um
Oficial General daquela Corporao.
11) Art. 9, pargrafo nico: um Capito da PMES, durante uma reunio com um
membro da comunidade de So Pedro, Vitria-ES, saca sua arma e
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dolosamente ceifa a vida daquele representante local, ao saber do mesmo
que j foi usurio de entorpecentes.
5. CONCEITO DE SUPERIOR
Inicialmente, h a concepo que se infere de uma organizao militar, onde vinga
o conceito hierrquico (o Coronel superior ao Tenente Coronel, que superior ao
Major e assim por diante).
Todavia, para evitar distores na compreenso do escopo trazido pelo CPM, a
prpria lei traz um outro conceito de superior, seno vejamos:
Art. 24 do CPM: O militar que, em virtude da funo, exerce autoridade sobre outro de
igual posto ou graduao, considera-se superior, para efeito da aplicao da lei penal
militar.
Conforme o art. 24 do CPM, superior, para efeito de aplicao da lei penal militar,
no s aquele que tem posto ou graduao maior que o outro que est envolvido
na questo, mas tambm aquele que, em virtude da funo, exerce autoridade
sobre outro de igual posto ou graduao. Ex.: O Subcomandante Geral da PMES
em relao aos demais Coronis da PMES, salvo o Comandante Geral, conforme
dispe a Lei Complementar n 533, de 29/12/2009.
Art. 3 da LC n 533/2009: O Comandante Geral nomeado pelo Governador do
Estado e escolhido dentre os oficiais da ativa da corporao, do ltimo posto do Quadro de
Oficiais Combatentes.
1 O Comandante Geral ter precedncia hierrquica e funcional sobre os demais oficiais
do mesmo posto.
2 O Subcomandante Geral escolhido pelo Comandante Geral dentre os oficiais da ativa
da corporao e do ltimo posto do Quadro de Oficiais Combatentes.
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3 O Subcomandante Geral tem precedncia hierrquica e funcional sobre os demais
coronis da corporao, excetuando-se o Comandante Geral.
6. JUSTIA MILITAR
A Justia Militar um dos rgos do Poder Judicirio, com previso no art. 92,
inciso VI da Constituio.
Art. 92 da CF/88: So rgos do Poder Judicirio:
(...)
VI - os Tribunais e Juzes Militares;
A Justia Militar possui tambm uma Lei de Organizao Judiciria (Lei n 8.457, de
04/09/1992), de mbito federal, que trata da sua competncia, funcionamento e
composio, em atendimento ao disposto no art. 124 da Constituio. Esta Lei
aplicada na Auditoria da Justia Militar do Esprito Santo, subsidiando seu
funcionamento.
Art. 124 da CF/88: Justia Militar compete processar e julgar os crimes militares
definidos em lei.
Pargrafo nico. A lei dispor sobre a organizao, o funcionamento e a competncia da
Justia Militar.
No Brasil, com o advento da nova Constituio Federal, no existe nenhum Juzo
ou Tribunal de Exceo. Os Juzes e Tribunais Militares esto previstos
expressamente na Constituio Federal e na Lei 8.457/1992.
A Justia Castrense divide-se em Justia Militar da Unio e Justia Militar Estadual,
em atendimento ao pacto federativo. Os servidores militares tambm se dividem em
duas categorias por fora do art. 42 e art. 142, 3 da CF/88: militares estaduais
(policiais militares e bombeiros militares) e militares federais (membros das Foras
Armadas).
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A Justia Militar da Unio tem competncia para processar e julgar os militares
integrantes das Foras Armadas (Marinha do Brasil, Exrcito Brasileiro e Fora
Area Brasileira), alm dos civis e assemelhados (estes, desde o advento do
Cdigo Penal Militar de 1969 no mais existem junto s Foras Armadas ou Foras
Auxiliares. Atualmente, os civis que trabalham junto s Foras Armadas ou Foras
Auxiliares so apenas civis, regidos por Estatuto (Estatuto dos Servidores Civis).
A Constituio e as leis militares (Cdigo Penal Militar, Cdigo de Processo Penal
Militar etc) definem as situaes nas quais um civil poder ser processado e julgado
por um Juiz ou Tribunal Militar. Se um civil praticar um crime de furto em local
sujeito administrao militar, como por exemplo, um quartel das Foras Armadas,
poder responder a uma ao penal militar perante a Justia Militar da Unio.
A Justia Militar Estadual tem sua competncia estabelecida de forma ampla no art.
125 da Constituio Federal, que assim dispe:
Art. 125 da CF/88: Os Estados organizaro sua Justia, observados os princpios
estabelecidos nesta Constituio.
(...)
3 A lei estadual poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia, a Justia Militar
estadual, constituda, em primeiro grau, pelos juzes de direito e pelos Conselhos de Justia
e, em segundo grau, pelo prprio Tribunal de Justia, ou por Tribunal de Justia Militar nos
Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.
4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente
decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas.
5 Compete aos juzes de direito do juzo militar processar e julgar, singularmente, os
crimes militares cometidos contra civis e as aes judiciais contra atos disciplinares
militares, cabendo ao Conselho de Justia, sob a presidncia de juiz de direito, processar e
julgar os demais crimes militares.
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Desta forma, a Justia Militar Estadual s possui competncia para processar e
julgar os policiais militares e os bombeiros militares nos crimes militares definidos
em lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares (Exemplos: Mandado
de Segurana em face do Comandante Geral da PMES impetrado por um ex-
policial militar, excludo a bem da disciplina das fileiras da Corporao; Ao
Ordinria em que um 3 Sargento da PMES pleiteia a anulao de um Processo
Administrativo Disciplinar que culminou com uma sano de repreenso). Deve-se
observar que, por fora de disposio constitucional, a Justia Militar Estadual no
possui competncia para julgar civis.
Assim, se um civil praticar, por exemplo, um crime de furto em um quartel da PMES,
este ser processado e julgado perante a Justia Comum, com fundamento no
Cdigo Penal Comum (art. 155 do CP).
A Justia Militar da Unio e a Justia Militar Estadual possuem organizao
judiciria semelhante. A 1 instncia da Justia Militar denomina-se Conselho de
Justia, que tem como sede uma Auditoria Militar. O Conselho de Justia divide-se
em: Conselho Permanente de Justia e Conselho Especial de Justia. O primeiro
destina-se ao julgamento das praas, enquanto que o segundo destina-se ao
julgamento dos oficiais.
Os Conselhos de Justia so constitudos por cinco julgadores, sendo quatro
pertencentes carreira militar, oficiais, e um juiz civil, denominado de Juiz-Auditor,
ou Juiz-Auditor Militar, que foi provido ao cargo por meio de um concurso de provas
e ttulos. A presidncia do Conselho de Justia, no mbito federal, exercida pelo
oficial de mais alta patente, enquanto que no mbito estadual, pelo Juiz-Auditor,
tendo em vista o disposto no art. 125, 5 da CF/88.
Deve-se observar ainda que em mbito estadual, existe a possibilidade de haver
julgamento feito singularmente pelo Juiz-Auditor, ou seja, sem a participao dos
oficias militares, nos termos do art. 125, 5 da CF/88. So os casos de crimes
militares cometidos contra civis e as aes judiciais contra atos disciplinares
militares.
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A 2 instncia da Justia Militar da Unio constituda pelo Superior Tribunal Militar
(STM), com sede na cidade de Braslia e jurisdio em todo o territrio nacional. O
STM possui competncia originria (Exemplo: julgar os oficiais generais das Foras
Armadas nos crimes militares definidos em lei) e tambm derivada, para processar
e julgar os recursos provenientes das Auditorias Militares distribudas pelo territrio
brasileiro. Na atual organizao judiciria nacional, no existem os Tribunais
Regionais Militares, semelhana do que ocorre com os Tribunais Regionais
Federais e os Tribunais Regionais do Trabalho.
Nos Estados, a 2 instncia da Justia Militar Estadual exercida pelo prprio
Tribunal de Justia, conforme art. 125, 3 da CF/88. Nos Estados de Minas
Gerais, So Paulo e Rio Grande do Sul, a 2 instncia exercida pelo Tribunal de
Justia Militar, pois estes Estados possuem efetivo policial militar superior a 20.000
(vinte mil) integrantes e houve lei estadual criando o Tribunal de Justia Militar.
O conhecimento da competncia desta Justia Especializada permite o seu estudo,
afastando as afirmaes que tm como fundamento apenas o empirismo, e
segundo as quais a Justia Castrense seria um Tribunal de Exceo, que tem por
objetivo favorecer os acusados, geralmente militares. Nas democracias modernas, a
Justia Militar se faz presente e presta um servio de qualidade ao Estado,
permitindo um controle efetivo das atividades de segurana pblica e nacional, que
so exercidas pelos integrantes das Foras Auxiliares e Foras Armadas.
7. INQURITO POLICIAL MILITAR
7.1 Introduo
A polcia judiciria militar tem por atribuio apurar as infraes penais militares e
sua autoria, colhendo e transmitindo as provas autoridade competente para dar
impulso ou no ao processo.
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Constitucionalmente, a polcia judiciria militar est prevista de forma implcita no
art. 144, 4 da CF/88, in verbis:
Art. 144, 4 da CF/88: s polcias civis, dirigidas por delegados de polcia de carreira,
incumbem, ressalvada a competncia da Unio, as funes de polcia judiciria e a
apurao das infraes penais, exceto as militares.
No Cdigo de Processo Penal Militar (CPPM) encontramos o regramento da polcia
judiciria militar, do art. 7 ao art. 28.
No art. 8 esto mencionadas suas atribuies:
Art. 8 do CPPM: Compete Polcia judiciria militar:
a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, esto sujeitos jurisdio
militar, e sua autoria;
b) prestar aos rgos e juzes da Justia Militar e aos membros do Ministrio Pblico as
informaes necessrias instruo e julgamento dos processos, bem como realizar as
diligncias que por eles lhe forem requisitadas;
c) cumprir os mandados de priso expedidos pela Justia Militar;
d) representar a autoridades judicirias militares acerca da priso preventiva e da
insanidade mental do indiciado;
e) cumprir as determinaes da Justia Militar relativas aos presos sob sua guarda e
responsabilidade, bem como as demais prescries deste Cdigo, nesse sentido;
f) solicitar das autoridades civis as informaes e medidas que julgar teis elucidao das
infraes penais, que esteja a seu cargo;
g) requisitar da polcia civil e das reparties tcnicas civis as pesquisas e exames
necessrios ao complemento e subsdio de inqurito policial militar;
h) atender, com observncia dos regulamentos militares, a pedido de apresentao de
militar ou funcionrio de repartio militar autoridade civil competente, desde que legal e
fundamentado o pedido.
18
Autoridade judiciria militar a autoridade policial militar investida ou designada
para apurar infraes penais militares quando o suspeito da infrao for um militar,
policial militar ou bombeiro militar.
As autoridades judicirias militares podem delegar o exerccio da polcia judiciria
militar Oficial da ativa, para fins especificados e por tempo limitado. A delegao
de seu exerccio feita atravs de Portaria da autoridade. Dispe o CPPM:
Art. 7 do CPPM: A polcia judiciria militar exercida nos termos do art. 8, pelas
seguintes autoridades, conforme as respectivas jurisdies:
a) pelos ministros da Marinha, do Exrcito e da Aeronutica, em todo o territrio nacional e
fora dele, em relao s foras e rgos que constituem seus Ministrios, bem como a
militares que, neste carter, desempenhem misso oficial, permanente ou transitria, em
pas estrangeiro;
b) pelo chefe do Estado-Maior das Foras Armadas, em relao a entidades que, por
disposio legal, estejam sob sua jurisdio;
c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretrio-geral da Marinha, nos rgos, foras e
unidades que lhes so subordinados;
d) pelos comandantes de Exrcito e pelo comandante-chefe da Esquadra, nos rgos,
foras e unidades compreendidos no mbito da respectiva ao de comando;
e) pelos comandantes de Regio Militar, Distrito Naval ou Zona Area, nos rgos e
unidades dos respectivos territrios;
f) pelo secretrio do Ministrio do Exrcito e pelo chefe de Gabinete do Ministrio da
Aeronutica, nos rgos e servios que lhes so subordinados;
g) pelos diretores e chefes de rgos, reparties, estabelecimentos ou servios previstos
nas leis de organizao bsica da Marinha, do Exrcito e da Aeronutica;
h) pelos comandantes de foras, unidades ou navios;
Delegao do exerccio
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1 Obedecidas as normas regulamentares de jurisdio, hierarquia e comando, as
atribuies enumeradas neste artigo podero ser delegadas a oficiais da ativa, para fins
especificados e por tempo limitado.
2 Em se tratando de delegao para instaurao de inqurito policial militar, dever
aquela recair em oficial de posto superior ao do indiciado, seja este oficial da ativa, da
reserva, remunerada ou no, ou reformado.
Usualmente, na Polcia Militar do ES, todas as delegaes do exerccio de polcia
judiciria militar so feitas atravs de portarias do Coronel Corregedor. Assim, to
logo o Comando de uma Unidade tome cincia de um fato delituoso ou de um
indcio de crime militar, dever encaminhar a respectiva documentao para o
Coronel Corregedor que, aps anlise, abrir Portaria delegando o exerccio de
polcia judiciria a um Oficial, o qual ser o encarregado do IPM.
O Processo o instrumento legal utilizado pelo Estado para o exerccio da
jurisdio. Atravs do processo so solucionados os conflitos de interesses que
possuem relevncia na sociedade, com a aplicao da lei ao caso concreto.
Ocorrendo o delito militar, surge para o Estado o interesse e o direito de punir e
para o acusado o direito ao contraditrio e ampla defesa. Estes direitos
encontram-se materializados no processo, que surge com o recebimento da
denncia feita pelo Promotor de Justia.
A partir do recebimento da denncia pelo Juiz-Auditor que surge, ento, o
processo. O suposto autor de crime militar passa a ser intitulado de acusado,
deixando de ser apenas indiciado ou autuado, termos utilizados na fase de Inqurito
Policial Militar e de autuao em flagrante delito, respectivamente.
O Inqurito Policial Militar (IPM) e o auto de priso em flagrante delito (APFD) so
as peas que integram a fase inquisitria do Processo Penal Militar, anteriores ao
oferecimento da denncia pelo Promotor de Justia.
20
Em relao ao flagrante delito, o procedimento semelhante ao previsto no Cdigo
Penal para os crimes comuns. Dispe o Cdigo de Processo Penal Militar (Decreto
Lei n 1002/1969):
Art. 243 do CPPM: Qualquer pessoa poder e os militares devero prender quem for
insubmisso ou desertor, ou seja encontrado em flagrante delito.
Sujeio a flagrante delito
Art. 244 do CPPM: Considera-se em flagrante delito aquele que:
a) est cometendo o crime;
b) acaba de comet-lo;
c) perseguido logo aps o fato delituoso em situao que faa acreditar ser ele o seu
autor;
d) encontrado, logo depois, com instrumentos, objetos, material ou papis que faam
presumir a sua participao no fato delituoso.
Infrao permanente
Pargrafo nico. Nas infraes permanentes, considera-se o agente em flagrante delito
enquanto no cessar a permanncia.
Lavratura do auto
Art. 245 do CPPM: Apresentado o preso ao comandante ou ao oficial de dia, de servio ou
de quarto, ou autoridade correspondente, ou autoridade judiciria, ser, por qualquer
deles, ouvido o condutor e as testemunhas que o acompanharem, bem como inquirido o
indiciado sobre a imputao que lhe feita, e especialmente sobre o lugar e hora em que o
fato aconteceu, lavrando-se de tudo auto, que ser por todos assinado.
O APFD presidido por um Oficial. Na PMES, a autuao em flagrante delito por
crime militar ocorre na Corregedoria da PMES em relao aos crimes cometidos na
Grande Vitria. No interior do Estado o responsvel pelo APFD o Oficial de dia da
Unidade ou Oficial de servio.
21
Contendo o APFD elementos suficientes para a denncia, desnecessria se faz a
figura do IPM. O Promotor de Justia no est vinculado existncia de um IPM
para denunciar. Dispe o Cdigo de Processo Penal Militar:
Art. 27 do CPPM: Se, por si s, for suficiente para a elucidao do fato e sua autoria, o
auto de flagrante delito constituir o inqurito, dispensando outras diligncias, salvo o
exame de corpo de delito no crime que deixe vestgios, a identificao da coisa e a sua
avaliao, quando o seu valor influir na aplicao da pena. A remessa dos autos, com
breve relatrio da autoridade policial militar, far-se- sem demora ao juiz competente, nos
termos do art. 20.
7.2 Conceito e finalidade
Art. 9 do CPPM: O inqurito policial militar a apurao sumria de fato, que, nos
termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o carter de instruo
provisria, cuja finalidade precpua a de ministrar elementos necessrios propositura da
ao penal.
Aps a prtica da infrao penal militar, desenvolve-se intensa atividade, colhendo-
se informaes sobre o fato tpico e quem tenha sido o autor. Assim se forma o
Inqurito Policial Militar, que tem por finalidade fornecer ao titular da ao penal
Ministrio Pblico Militar elementos para o oferecimento da denncia.
O IPM visa auxiliar o Poder Judicirio no sentido de apontar a materialidade de um
crime militar e os indcios de sua autoria. So fornecidos ao Promotor de Justia,
com o IPM, os elementos de convico necessrios para o oferecimento da
denncia.
O Ministrio Pblico no depender de um IPM para oferecer a denncia se tiver
outros subsdios suficientes. Como visto, o APFD pode instruir a ao penal e
outros elementos de convico tambm servem, nos termos do CPPM:
Art. 28 do CPPM: O inqurito poder ser dispensado, sem prejuzo de diligncia
requisitada pelo Ministrio Pblico:
22
a) quando o fato e sua autoria j estiverem esclarecidos por documentos ou outras
provas materiais;
b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou publicao, cujo autor
esteja identificado;
c) nos crimes previstos nos arts. 341 e 349 do Cdigo Penal Militar.
Desta forma, nos termos do CPPM, dispensvel se torna o IPM: quando o fato e
sua autoria j estiverem esclarecidos por documentos ou provas materiais (Ex.: uma
fita de vdeo que comprova com riqueza de detalhes uma subtrao de bem mvel
praticada por uma guarnio da PMES em via pblica); nos crimes contra a honra
decorrentes de escrito ou publicao (Ex.: um militar da ativa calunia outro atravs
de um artigo de jornal); nos crimes de desacato autoridade judiciria militar e
desobedincia judicial (Ex.: um policial militar, quando ouvido na Auditoria da
Justia Militar Estadual como testemunha, desacata o Juiz-Auditor durante seu
depoimento).
O Encarregado do IPM um Oficial. Conforme a realidade da Unidade Operacional
e na medida do possvel, o Encarregado ser Oficial de igual ou superior posto ao
de Capito, mas sempre Oficial. Ele atua como um delegado de polcia e, na
verdade, o delegado de polcia da polcia judiciria militar.
Art. 15 do CPPM: Ser encarregado do inqurito, sempre que possvel, oficial de posto
no inferior ao de capito ou capito-tenente; e, em se tratando de infrao penal contra a
segurana nacional, s-lo-, sempre que possvel, oficial superior, atendida, em cada caso,
a sua hierarquia, se oficial o indiciado.
Em todo IPM existe a pessoa do escrivo, conforme art. 11 do CPPM:
Art. 11 do CPPM: A designao de escrivo para o inqurito caber ao respectivo
encarregado, se no tiver sido feita pela autoridade que lhe deu delegao para aquele
fim, recaindo em segundo ou primeiro-tenente, se o indiciado for oficial, e em sargento,
subtenente ou suboficial, nos demais casos.
Pargrafo nico. O escrivo prestar compromisso de manter o sigilo do inqurito e de
cumprir fielmente as determinaes deste Cdigo, no exerccio da funo.
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7.3 Caractersticas
7.3.1 Inquisitivo
O IPM procedimento de carter discricionrio, sem necessidade de seguir um rito
pr-estabelecido (Ex.: o Oficial Encarregado pode ouvir 15 testemunhas ou apenas
3, dependendo da situao concreta). No se aplica o contraditrio e a ampla
defesa, pois no existe a figura do acusado, mas mero indiciado.
No h oferecimento de contraprovas ou alegaes de defesa em contraposio
aos indcios de autoria apontados no IPM que recaem sobre o indiciado, pois o IPM
no processo.
7.3.2 Informativo
Por ter carter administrativo, mera pea informativa. No exclusiva para servir
de base para a acusao. Tem carter provisrio, sendo possvel a reproduo de
provas em juzo. No existe nulidade no IPM, pois os vcios e irregularidades que
porventura surgirem durante sua elaborao no afetam a ao penal, sendo
reparveis em juzo (Ex.: depoimento de uma testemunha na Auditoria da Justia
Militar que foi obrigada a assinar uma declarao pronta em fase de IPM).
7.3.3 Sigiloso
Art. 16 do CPPM: O inqurito sigiloso, mas seu encarregado pode permitir que dele
tome conhecimento o advogado do indiciado.
O xito e a seriedade das investigaes exigem a no divulgao das providncias
adotadas pelo Oficial Encarregado. O sigilo do IPM trata da necessidade de manter
em segredo o empreendimento das investigaes, mas o advogado tem direito de
acesso s provas existente nos autos. O Estatuto da OAB Lei n 8.960/1994,
confere o seguinte direito aos advogados: examinar em qualquer repartio policial,
24
mesmo sem procurao, autos da priso em flagrante e do inqurito, findos ou em
andamento, ainda que conclusos autoridade, podendo copiar e tomar
apontamentos.
7.3.4 Escrito
Art. 21 do CPPM: Todas as peas do inqurito sero, por ordem cronolgica, reunidas
num s processado e datilografadas, em espao dois, com as folhas numeradas e
rubricadas, pelo escrivo.
O IPM feito em apenas uma via, em ordem seqencial das diligncias
desenvolvidas. Todas as suas folhas so numeradas e rubricadas pelo Escrivo, de
forma a manter uma cronologia de juntada de informaes e evitar uma supresso
de documentos.
7.4 Instaurao
Normalmente o IPM tem incio quando a notcia do crime levada ao conhecimento
de um Comandante militar. A instaurao do IPM, face aos indcios de ocorrncia
de crime militar, um dever legal e no uma faculdade da autoridade militar, sendo
que sua omisso importar na consumao do delito de prevaricao (art. 319 do
CPM). No caso da autoridade deixar de atender, por exemplo, a requisio do Juiz-
Auditor, determinando que seja instaurado o IPM, cometer o crime de
desobedincia judicial (art. 349 do CPM). Dispe o CPPM:
Art. 10 do CPPM: O inqurito iniciado mediante portaria:
a) de ofcio, pela autoridade militar em cujo mbito de jurisdio ou comando haja
ocorrido a infrao penal, atendida a hierarquia do infrator;
b) por determinao ou delegao da autoridade militar superior, que, em caso de
urgncia, poder ser feita por via telegrfica ou radiotelefnica e confirmada,
posteriormente, por ofcio;
c) em virtude de requisio do Ministrio Pblico;
25
d) por deciso do Superior Tribunal Militar, nos trmos do art. 25;
e) a requerimento da parte ofendida ou de quem legalmente a represente, ou em virtude
de representao devidamente autorizada de quem tenha conhecimento de infrao penal,
cuja represso caiba Justia Militar;
f) quando, de sindicncia feita em mbito de jurisdio militar, resulte indcio da
existncia de infrao penal militar.
A Portaria o documento que inicia o IPM, contendo a assinatura da autoridade
delegante e a designao do Oficial Encarregado do IPM (autoridade delegada).
Normalmente as Unidades Operacionais e a Corregedoria possuem uma
numerao anual das Portarias de instaurao de IPM, para arquivo e controle.
7.5 Relatrio e Soluo
Art. 22 do CPPM: O inqurito ser encerrado com minucioso relatrio, em que o seu
encarregado mencionar as diligncias feitas, as pessoas ouvidas e os resultados obtidos,
com indicao do dia, hora e lugar onde ocorreu o fato delituoso. Em concluso, dir se h
infrao disciplinar a punir ou indcio de crime, pronunciando-se, neste ltimo caso,
justificadamente, sobre a convenincia da priso preventiva do indiciado, nos termos legais.
Soluo
1 No caso de ter sido delegada a atribuio para a abertura do inqurito, o seu
encarregado envi-lo- autoridade de que recebeu a delegao, para que lhe homologue
ou no a soluo, aplique penalidade, no caso de ter sido apurada infrao disciplinar, ou
determine novas diligncias, se as julgar necessrias.
Avocao
2 Discordando da soluo dada ao inqurito, a autoridade que o delegou poder
avoc-lo e dar soluo diferente.
O Relatrio do IPM uma minuciosa exposio do que foi apurado. Nele o Oficial
responsvel, procedendo com seriedade e iseno constar sobre as diligncias
realizadas e, com base nas provas produzidas, afirmar se h ou no indcios de
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transgresso da disciplina e/ou de crime militar ou comum. O IPM , em seguida,
normalmente encaminhado autoridade delegante para Soluo.
Discordando da concluso do Encarregado do IPM, a autoridade delegante poder
avoc-lo dando motivadamente soluo diferente do relatrio. Em qualquer
circunstncia, mesmo que tenha sido concludo pela inexistncia de crime militar, a
autoridade no poder mandar arquivar os autos do IPM, visto que tal procedimento
s cabe Justia Militar.
Art. 23 do CPPM: Os autos do inqurito sero remetidos ao auditor da Circunscrio
Judiciria Militar onde ocorreu a infrao penal, acompanhados dos instrumentos desta,
bem como dos objetos que interessem sua prova.
Art. 24 do CPPM: A autoridade militar no poder mandar arquivar autos de inqurito,
embora conclusivo da inexistncia de crime ou de inimputabilidade do indiciado.
7.6 Prazo
Art 20 do CPPM: O inqurito dever terminar dentro em vinte dias, se o indiciado
estiver preso, contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de priso; ou
no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, contados a partir da data em
que se instaurar o inqurito.
1 Este ltimo prazo poder ser prorrogado por mais vinte dias pela autoridade militar
superior, desde que no estejam concludos exames ou percias j iniciados, ou haja
necessidade de diligncia, indispensveis elucidao do fato.
O IPM deve terminar dentro do prazo de 40 dias, a contar de sua instaurao, se o
indiciado estiver solto. Pode ser prorrogado por mais 20 dias pela autoridade
delegante, se no estiverem sido concludos os exames e percias j iniciados, ou
caso haja necessidade de maiores investigaes indispensveis ao esclarecimento
do fato. Se o indiciado estiver preso o Encarregado ter o prazo de 20 dias para
terminar o IPM, contados da data da priso. Neste caso no se admite a
prorrogao do prazo.
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7.7 Apresentao do IPM
Visando a uniformizao e melhoria da qualidade dos trabalhos do IPM, impe-se
ao Encarregado e Escrivo a obedincia a normas de padronizao nas formas dos
diversos documentos lavrados.
CAPA: para proteo dos autos que compem o trabalho de investigao, o IPM
deve conter uma capa, modelo padro da PMES.
UTILIZAO DE SMBOLOS DA PMES: o Braso da Polcia Militar ou da Unidade
da Corporao onde se realiza o IPM podero ser impressos, coloridos ou em
preto e branco, na parte superior, lado esquerdo (cabealho) dos documentos.
No dever ser usado qualquer smbolo em forma de marca dgua na feitura dos
documentos.
MARGENS:: Com relao s margens deve ser obedecida a seguinte regra:
cabealho e rodap: 2,5 cm; margem esquerda: 3 cm (para permitir a perfurao e
montagem dos autos, sem dificultar a leitura do texto) e margem direita: 2 cm.
ESPAAMENTO: Para permitir uma melhor visualizao e leitura rpida dos textos,
os termos e as demais peas do IPM devem ser datilografados ou digitados em
espao 1.
FONTES: em caso de utilizao de microcomputador, dever ser usado o tipo de
letra (fonte) ARIAL ou TIMES NEW ROMAN, em tamanho 14, na cor automtica
(PRETA). Deve-se evitar fontes extravagantes e mistura de fontes diferentes, pois
elas no oferecem boa produo textual.
RUBRICA E NUMERAO: O escrivo deve ficar atento s seguintes prescries:
todas as folhas dos autos sero numeradas e rubricadas pelo Escrivo, exceto a
primeira folha (CAPA) que embora seja contada, no trar a numerao expressa.
A numerao e rubrica dever ser feita na parte superior direita da folha.
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TERMOS TCNICO-JURDICOS:
ACAREAO: confronto de duas pessoas em cujas declaraes existem
divergncias a serem esclarecidas.
AOS COSTUMES: expresso usada na assentada de inquirio de testemunhas na
qual se revela o grau de parentesco, afinidade ou interesse no caso, entre o
depoente e o indiciado ou vtima.
AUTUAO: termo lavrado pelo escrivo para reunio da Portaria e demais peas
que a acompanham e que deram origem ao inqurito (capa de IPM).
CERTIDO: ato atravs do qual o escrivo d cincia ao Encarregado do Inqurito
do cumprimento ou no das determinaes contidas no seu despacho. Serve
tambm para assinalar a ocorrncia de algum fato relevante, de interesse futuro dos
autos.
CONCLUSO: ato do qual o escrivo, aps trmino dos trabalhos oriundos do
despacho, faz a entrega dos autos ao Encarregado do Inqurito.
DESPACHO: ato atravs do qual o Encarregado do Inqurito determina
providncias a serem tomadas pelo escrivo.
DILIGNCIA: ao levada a efeito para apurao de fato delituoso que motivou o
inqurito; so os atos praticados levando elucidao das circunstncias, autoria e
materializao da infrao cometida.
ENCARREGADO: nome que se atribui ao Oficial a quem se destinou a Portaria
para instaurao do IPM.
ESCRIVO: militar designado para executar os trabalhos de datilografia e demais
providncias determinadas pelo Encarregado de IPM, previstas no CPPM. o
responsvel pela esttica, formalizao e guarda dos autos. Ao Escrivo tambm
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pode ser dada a misso de levantar subsdio, realizar diligncias complementares,
esclarecedoras, do que lavrar um respectivo termo, relatando os trabalhos.
INDICIADO: pessoa sobre a qual pairam as acusaes da prtica ou mesmo
indcios do cometimento de fato delituoso. Nos IPM destinados JME somente
policiais militares podem ser indiciados, visto que esta no tem competncia para
julgar civis.
INTIMAO: ato de compelir algum a comparecer perante o Encarregado do
Inqurito.
JUNTADA: ato atravs do qual o escrivo faz a anexao ao processo de
documentos vindo s mos do Encarregado do Inqurito e que interessam ao IPM.
NOTA DE CULPA: instrumento pelo qual se d ao preso cincia dos motivos de
sua priso, bem como de seu condutor e testemunhas.
QUALIFICAO: dados que individualizam uma pessoa, utilizado no incio de cada
tomada de declaraes. Deve conter: nome completo, nacionalidade, naturalidade,
idade, filiao, estado civil, profisso, residncia, posto ou graduao e unidade em
que serve, se militar.
RECEBIMENTO: ato praticado pelo escrivo todas as vezes que receber do
Encarregado os autos para providncias.
RECONHECIMENTO: termo atravs do qual procede a confirmao ou no da
identificao de uma pessoa ou coisa.
RELATRIO: documento final do IPM ou APFD, no qual seu Encarregado descreve
minuciosamente o fato apurado e faz a sua concluso final, que poder ser ou no
homologada pelo Comandante da OPM/Corregedor.
REMESSA: ato de entrega do inqurito, aps o seu trmino, autoridade
delegante.
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SOLUO: concluso final a que se chega, onde se manifesta sobre a existncia
ou no de crime, contraveno ou transgresso disciplinar e as providncias a
serem adotadas.
8. PENAS
Restrio imposta pelo Poder Judicirio a um direito do condenado, cuja finalidade
retribuir a ofensa contra um bem jurdico protegido pela lei penal militar, como
tambm prevenir que novas condutas tpicas sejam praticadas. No Cdigo Penal
comum e nas leis penais comuns s existem trs tipos de penas: privativas de
liberdade (recluso, deteno e priso simples), restritivas de direitos (prestao de
servios comunidade, limitao de fim de semana, prestao pecuniria, perda de
bens e valores etc) e multa.
O Cdigo Penal Militar tem por escopo a proteo das Instituies Militares em
primeiro plano. Por isso no existe a previso, no mesmo, de penas restritivas de
direito e de multa, como nas leis penais comuns. As penas previstas no CPM so
destinadas para aqueles que, atravs de suas condutas, atingem, de alguma forma,
uma Instituio Militar, praticando um crime militar.
8.1 Espcies de Penas
Art. 55 do CPM: As penas principais so:
a) morte;
b) recluso;
c) deteno;
d) priso;
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e) impedimento;
f) suspenso do exerccio do posto, graduao, cargo ou funo;
g) reforma.
Pena de morte
Art. 56 do CPM: A pena de morte executada por fuzilamento.
O artigo 55 do CPM apresenta as principais penas a serem aplicadas em caso de
crimes militares. A pena de morte est prevista na parte especial do CPM e s
cabvel em caso de guerra declarada, nos termos do art. 5, XLVII da CF/88. A pena
de morte deve ser executada por fuzilamento.
A pena de recluso, prevista na parte especial do CPM, aplicada aos crimes mais
graves, importando em um tratamento penal mais severo. A pena de deteno,
tambm prevista na parte especial do CPM, aplicada a crimes mais leves. A pena
de priso no prevista na parte especial do CPM, sendo aplicada convertendo-se
as penas de recluso e de deteno de at dois anos, nos termos do art. 59 do
CPM.
A pena de impedimento somente aplicada ao crime de insubmisso, nos termos
do art. 183 c/c art. 63 do CPM. A restrio da liberdade ocorre no mbito da
Unidade militar. Ela no impe o encarceramento do condenado em priso,
revelando um carter mais disciplinar, no entanto no lhe tira o carter de privao
da liberdade, pois deve permanecer nos limites administrativos do aquartelamento.
A pena de suspenso do exerccio do posto, graduao, cargo ou funo tambm
prevista na parte especial do CPM para alguns crimes especficos. Nos termos do
art. 64 do CPM, consiste na agregao, no afastamento, no licenciamento ou na
disponibilidade do condenado, pelo tempo fixado na sentena, sem prejuzo ao seu
regular comparecimento a sede do servio. No ser computado como tempo de
servio, para qualquer efeito, o do cumprimento da pena.
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A pena de reforma, tambm prevista na parte especial do CPM, sujeita o
condenado situao de inatividade, no podendo receber mais de 1/25 avos do
soldo, por ano de servio, nem receber importncia superior ao soldo, conforme art.
65 do CPM.
9. EFEITOS DA CONDENAO
Para fins didticos, adotaremos o termo efeito da condenao para todos os casos
em que um militar perde o seu posto ou graduao, deixando de pertencer a uma
Instituio Militar em virtude de uma condenao criminal, seja em virtude de crime
militar ou comum.
A Constituio Federal, em relao aos policiais militares e bombeiros militares,
expressa ao afirmar que estes s perdero seus postos e graduaes, por crimes
militares, se houver manifestao a respeito do Tribunal competente. O Tribunal
competente, no mbito da Justia Militar Estadual do Esprito Santo o prprio
Tribunal de Justia do ES, pois no temos no nosso Estado o Tribunal Militar.
Art. 125, 4 da CF/88: Compete Justia Militar estadual processar e julgar os
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as aes judiciais contra atos
disciplinares militares, ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo
ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduao das praas.
Para atendimento deste dispositivo constitucional, ou seja, manifestao do TJES,
necessrio que o militar estadual (oficial ou praa) tenha sido condenado a uma
pena privativa de liberdade, na Auditoria da Justia Militar Estadual, por tempo
superior a 02 (dois) anos, nos termos do CPM:
Art. 99 do CPM: A perda de posto e patente resulta da condenao a pena privativa
de liberdade por tempo superior a dois anos, e importa a perda das condecoraes.
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Art. 102 do CPM: A condenao da praa a pena privativa de liberdade, por tempo
superior a dois anos, importa sua excluso das foras armadas.
As previses do art. 99 e 102 do CPM se referem a penas acessrias, que podiam,
antes da CF/88, ser aplicadas pelos prprios Conselhos de Justia aos militares
estaduais. Hoje em dia no mais possvel a aplicao em primeira instncia.
Assim, um oficial ou praa da PMES ou CBMES s perder a condio de militar
estadual quando condenado por crime militar a uma pena superior a dois anos e
assim declarar o TJES.
Em relao aos crimes comuns, existe diferena, imposta pela CF/88, aos oficiais e
praas. Dispe a Constituio:
Art. 142, 3, VI da CF/88: o oficial s perder o posto e a patente se for julgado
indigno do oficialato ou com ele incompatvel, por deciso de tribunal militar de carter
permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra;
Art. 142, 3, VII da CF/88: o oficial condenado na justia comum ou militar a pena
privativa de liberdade superior a dois anos, por sentena transitada em julgado, ser
submetido ao julgamento previsto no inciso anterior;
O oficial da PMES e do CBMES, tambm se for condenado a uma pena privativa de
liberdade superior a dois anos no juzo comum, s perder seu posto se assim
decidir o Tribunal de Justia do ES. O juiz de primeiro grau no poder decretar a
perda do posto de um Oficial.
Em relao s praas, no existe previso de julgamento pelo Tribunal competente
em caso de crime comum. Desta forma o prprio juiz de primeiro grau declara na
sentena condenatria, motivadamente, a perda da graduao da praa em virtude
de condenao criminal. Algumas leis especiais no fazem meno ao quantum de
pena imposta na condenao para que haja a perda do cargo (Ex.: crimes de tortura
e de preconceito de raa e cor praticado por servidor pblico), bastando assim, uma
simples condenao criminal.
No Cdigo Penal comum, a matria tratada da seguinte forma:
34
Art. 92 do CP: So tambm efeitos da condenao:
I - a perda de cargo, funo pblica ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano,
nos crimes praticados com abuso de poder ou violao de dever para com a Administrao
Pblica;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro)
anos nos demais casos.
Nos crimes em que h abuso de poder ou violao de dever para com a
Administrao Pblica (art. 92, I, a do CP), basta uma condenao a uma pena
privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano para que o Juiz declare
a perda do cargo, funo pblica ou mandato eletivo. Tratam-se dos crimes
funcionais, previstos nos artigos 312 ao 326 do Cdigo Penal (peculato, concusso,
corrupo passiva, prevaricao etc). Difcil vislumbrar algum militar estadual da
ativa ser condenado no juzo comum por estes crimes, que tambm esto previstos
no CPM como crimes militares. Em regra, quando um policial militar pratica um
crime com abuso de poder ou violao de dever para com a Administrao Pblica,
estar praticando crime militar (Ex.: um Cabo da PMES que em uma fiscalizao de
trnsito solicita do motorista uma quantia em dinheiro para no mult-lo, comete o
crime militar de corrupo passiva. Ser julgado na AJMES).
Nos demais crimes comuns, necessrio se faz uma condenao por pena privativa
de liberdade por tempo superior a quatro anos. Ou seja, nos crimes em que no
houve abuso de poder ou violao de dever para com a Administrao Pblica, a
condenao deve ultrapassar quatro anos para que o juiz de primeiro grau declare a
perda do cargo, funo pblica ou mandato eletivo. Os exemplos mais comuns e
que foram objeto de declarao de perda da graduao de vrias praas da PMES
envolvem: homicdios, roubos, extorses, extorses mediante seqestro,
receptaes e trfico de entorpecentes.
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10. CRIMES MILITARES EM ESPCIE
A ao penal nos crimes militares sempre pblica, vez que o bem jurdico
tutelado no recai sobre a esfera pessoal, mas sim sobre os pilares das
instituies militares que so a ordem hierrquica, disciplina e autoridade.
TTULO II
DOS CRIMES CONTRA A AUTORIDADE
OU DISCIPLINA MILITAR
Motim
Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados:
I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a
cumpri-la;
II - recusando obedincia a superior, quando estejam agindo sem
ordem ou praticando violncia;
III - assentindo em recusa conjunta de obedincia, ou em resistncia
ou violncia, em comum, contra superior;
IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fbrica ou estabelecimento
militar, ou dependncia de qualquer deles, hangar, aerdromo ou
aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer
daqueles locais ou meios de transporte, para ao militar, ou prtica
de violncia, em desobedincia a ordem superior ou em detrimento
da ordem ou da disciplina militar:
Pena - recluso, de quatro a oito anos, com aumento de um tero
para os cabeas.
Revolta
Pargrafo nico. Se os agentes estavam armados:
Pena - recluso, de oito a vinte anos, com aumento de um tero para
os cabeas.
COMENTRIOS AO ARTIGO 149 DO CPM:
Para configurao desse tipo penal preciso no mnimo dois militares (reunirem-se).
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O inciso I pode configurar o crime com uma ao comissiva (agir de forma contrria a
ordem do superior ou omissiva (negar a cumprir a ordem).
O inciso II trata da situao do superior que tenta normalizar uma situao e
ignorado.
O inciso III se refere aos militares que concordam com a desordem que est ocorrendo,
sendo assim, automaticamente tambm estaro enquadrados no presente tipo penal.
O inciso IV enquadra diversas situaes de aquartelamento que ocorreram em diversos
Estados da Federao.
A revolta o motim armado, sendo a existncia de armas o nico e essencial ponto de
distino. No necessria a efetiva utilizao do armamento para configurar a revolta.
Os que no estavam armados e no sabiam que havia militares armados, respondem
apenas por motim.
Cabeas so os que dirigem, provocam, instigam ou excitam ou excitam a ao. Se o
crime cometido por oficias e praas, os oficiais automaticamente sero considerados
cabeas, por serem responsveis pela manuteno da disciplina e hierarquia.
Aliciao para motim ou revolta
Art. 154. Aliciar militar ou assemelhado para a prtica de qualquer dos crimes previstos no captulo anterior:
Pena - recluso, de dois a quatro anos.
Incitamento
Art. 155. Incitar desobedincia, indisciplina ou prtica de crime
militar:
Pena - recluso, de dois a quatro anos.
Pargrafo nico. Na mesma pena incorre quem introduz, afixa ou
distribui, em lugar sujeito administrao militar, impressos,
manuscritos ou material mimeografado, fotocopiado ou gravado, em
que se contenha incitamento prtica dos atos previstos no artigo.
COMENTRIOS AOS ARTIGOS 155 DO CPM:
Incitamento o ato preliminar da aliciao. O agente seduz (incita) para depois atrair
(aliciar) o companheiro de crime.
A consumao desses crimes ocorre sem a necessidade de que os incitados ou
aliciados venham a cometer os crimes.
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Com o avano da informtica, torna-se razovel acrescentar as situaes narradas no
pargrafo nico, consumao do crime via internet.
Aliciar seduzir para a causa, criar a ideia de cometimento de crimes ( motim ou
revolta ). Incitar reforar uma ideia j existente para o cometimento dos crimes em
questo.
Apologia de fato criminoso ou do seu autor
Art. 156. Fazer apologia de fato que a lei militar considera crime, ou
do autor do mesmo, em lugar sujeito administrao militar:
Pena - deteno, de seis meses a um ano.
COMENTRIOS AO ARTIGO 156 DO CPM:
A conduta deve ser praticada em lugar sujeito a administrao militar e pode ser
praticado por qualquer pessoa.
A apologia tem que ser pblica, pois, o que se pune louvar, elogiar, enaltecer o ato
criminoso.
Violncia contra superior
Art. 157. Praticar violncia contra superior:
Pena - deteno, de trs meses a dois anos
Formas qualificadas
1 Se o superior comandante da unidade a que pertence o
agente, ou oficial general:
Pena - recluso, de trs a nove anos.
2 Se a violncia praticada com arma, a pena aumentada de um
tero.
3 Se da violncia resulta leso corporal, aplica-se, alm da pena
da violncia, a do crime contra a pessoa.
4 Se da violncia resulta morte:
Pena - recluso, de doze a trinta anos.
5 A pena aumentada da sexta parte, se o crime ocorre em
servio.
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COMENTRIOS AO ARTIGO 157 DO CPM:
O crime s pode ser cometido por militar.
Para configurao desse tipo penal h a necessidade de contatos fsicos diretos ou
atravs de instrumentos, tambm fsicos.
Quanto mais deve ser respeitado o ofendido, maior o crime e, portanto, mais grave a
pena cominada, pois, esse tipo penal est intimamente ligado manuteno do
respeito autoridade militar.
Desrespeito a superior
Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:
Pena - deteno, de trs meses a um ano, se o fato no constitui
crime mais grave.
Desrespeito a comandante, oficial general ou oficial de servio
Pargrafo nico. Se o fato praticado contra o comandante da
unidade a que pertence o agente, oficial-general, oficial de dia, de
servio ou de quarto, a pena aumentada da metade.
COMENTRIOS AO ARTIGO 160 DO CPM:
O desrespeito consiste na falta de considerao, de respeito de acatamento, praticada
pelo subordinado na relao com seu superior hierrquico,na presena de outro militar
e desde que no constitua crime mais grave.
S pode ser praticado por militar.
essencial para configurao do crime que o autor saiba da condio de superior da
pessoa que ele desrespeitou.
No necessrio que o desrespeito ocorra em local sob administrao militar.
Quanto mais deve ser respeitado o ofendido, maior o crime e, portanto, mais grave a
pena cominada.
Desrespeito a smbolo nacional
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Art. 161. Praticar o militar diante da tropa, ou em lugar sujeito
administrao militar, ato que se traduza em ultraje a smbolo
nacional:
Pena - deteno, de um a dois anos.
COMENTRIOS AO ARTIGO 161 DO CPM:
So smbolos nacionais a Bandeira, o Hino, as armas e o selo nacional.
S pode ser cometido por militar.
Desrespeitar nesse tipo penal significa ofender, menosprezar, faltar com respeito seja
por gesto, palavras ou escritos.
Tem que ocorrer diante de tropa (no mnimo dois militares comandados por mais um).
Tem que ocorrer em local sujeito a administrao militar, o que muito estranho, pois,
do militar deveria ser cobrado o respeito aos smbolos em qualquer lugar.
Recusa de obedincia
Art. 163. Recusar obedecer a ordem do superior sobre assunto ou
matria de servio, ou relativamente a dever imposto em lei,
regulamento ou instruo:
Pena - deteno, de um a dois anos, se o fato no constitui crime
mais grave.
COMENTRIOS AO ARTIGO 163 DO CPM:
Esse tipo penal ficar restrito ao cometimento por apenas um militar, pois, a partir de
dois j se configura o crime de Motim.
A ordem deve ser imperativa (uma exigncia, determinao), pessoal (direcionado o
cumprimento a determinado militar) e concreta (pura e simples, sem deixar dvidas
para interpretao do subordinado).
A ordem deve ser legal.
Reunio ilcita
Art. 165. Promover a reunio de militares, ou nela tomar parte, para
discusso de ato de superior ou assunto atinente disciplina militar:
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Pena - deteno, de seis meses a um ano a quem promove a
reunio; de dois a seis meses a quem dela participa, se o fato no
constitui crime mais grave.
COMENTRIOS AO ARTIGO 165 DO CPM:
S pode ser praticado por militar.
Para configurar o crime a reunio tem que tratar de ato de superior ou assunto atinente
a disciplina militar.
Publicao ou crtica indevida
Art. 166. Publicar o militar ou assemelhado, sem licena, ato ou
documento oficial, ou criticar publicamente ato de seu superior ou
assunto atinente disciplina militar, ou a qualquer resoluo do
Governo:
Pena - deteno, de dois meses a um ano, se o fato no constitui
crime mais grave.
COMENTRIOS AO ARTIGO 166 DO CPM:
S pode ser praticado por militar.
O tipo penal tipifica duas condutas distintas, uma delas publicar, sem licena - H
que se considerar os reflexos danosos que podero advir de uma publicao no
autorizada de ato ou documento oficial. A segunda conduta criticar, revela um juzo
de valor, que interfere diretamente na disciplina e hierarquia.
Uso indevido por militar de uniforme, distintivo ou insgnia
Art. 171. Usar o militar ou assemelhado, indevidamente, uniforme,
distintivo ou insgnia de posto ou graduao superior:
Pena - deteno, de seis meses a um ano, se o fato no constitui
crime mais grave.
COMENTRIOS AO ARTIGO 171 DO CPM:
S pode ser cometido por militar.
Uniforme = farda, distintivo = emblemas de cursos, comandos, insgnia = estrelas,
divisas (postos e graduaes).
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Tem que ser de superior.
Tem que usar em pblico.
Uso indevido de uniforme, distintivo ou insgnia militar por
qualquer pessoa
Art. 172. Usar, indevidamente, uniforme, distintivo ou insgnia militar a
que no tenha direito:
Pena - deteno, at seis meses.
COMENTRIOS AO ARTIGO 172 DO CPM:
Qualquer pessoa pode cometer esse crime.
Se for um civil, no mbito estadual responder apenas por uma contraveno (justia
militar estadual no julga civil).
Violncia contra inferior
Art. 175. Praticar violncia contra inferior:
Pena - deteno, de trs meses a um ano.
Resultado mais grave
Pargrafo nico. Se da violncia resulta leso corporal ou morte tambm aplicada a pena do crime contra a pessoa, atendendo-se, quando fr o caso, ao disposto no art. 159.
COMENTRIOS AO ARTIGO 175 DO CPM:
O crime s pode ser cometido por militar.
O Crime s pode ser cometido por superior.
Para configurao desse tipo penal h a necessidade de contatos fsicos diretos ou
atravs de instrumentos, tambm fsicos.
Fuga de preso ou internado
Art. 178. Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou
submetida a medida de segurana detentiva:
Pena - deteno, de seis meses a dois anos.
Formas qualificadas
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1 Se o crime praticado a mo armada ou por mais de uma
pessoa, ou mediante arrombamento:
Pena - recluso, de dois a seis anos.
2 Se h emprego de violncia contra pessoa, aplica-se tambm a
pena correspondente violncia.
3 Se o crime praticado por pessoa sob cuja guarda, custdia ou
conduo est o preso ou internado:
Pena - recluso, at quatro anos.
Modalidade culposa
Art. 179. Deixar, por culpa, fugir pessoa legalmente presa, confiada
sua guarda ou conduo:
Pena - deteno, de trs meses a um ano.
COMENTRIOS AOS ARTIGOS 178 E 179 DO CPM:
Considerando-se que o tipo penal encontra-se no titulo Dos crimes Contra a
Autoridade ou Disciplina Militar, razovel entender-se que a priso considerada a
priso militar.
Quando em Cadeia Pblica devemos destacar a Sumula 75/STJ que estabelece que
compete a justia comum estadual processar ou julgar o policial Militar por crime de
promover ou facilitar a fuga do preso.
TTULO III
DOS CRIMES CONTRA O SERVIO
MILITAR E O DEVER MILITAR
Desero
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licena, da unidade em que
serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias:
Pena - deteno, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena
agravada.
COMENTRIOS AO ARTIGO 187 DO CPM:
At o oitavo dia considerado apenas transgresso da disciplina (Prazo de graa).
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Estabelece o artigo 451, pargrafo primeiro do CPPM: A contagem dos dias de
ausncia, para efeito da lavratura, iniciar-se- zero hora do dia seguinte quele em
que foi verificada a falta injustificada do militar.
crime permanente, cuja consumao se prolonga no tempo.
Casos assimilados
Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:
I - no se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o
prazo de trnsito ou frias;
II - deixa de se apresentar a autoridade competente, dentro do prazo
de oito dias, contados daquele em que termina ou cassada a
licena ou agregao ou em que declarado o estado de stio ou de
guerra;
III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo
de oito dias;
IV - consegue excluso do servio ativo ou situao de inatividade,
criando ou simulando incapacidade.
COMENTRIOS AO ARTIGO 188 DO CPM:
No caso do inciso IV no se conta o prazo de mais de 8 dias, considerado desertor assim que
descoberta a fraude.
Art. 189. Nos crimes dos arts. 187 e 188, ns. I, II e III:
Atenuante especial
I - se o agente se apresenta voluntariamente dentro em oito dias aps
a consumao do crime, a pena diminuda de metade; e de um
tero, se de mais de oito dias e at sessenta;
Agravante especial
II - se a desero ocorre em unidade estacionada em fronteira ou
pas estrangeiro, a pena agravada de um tero.
Desero especial
COMENTRIOS AO ARTIGO 189 DO CPM:
Quanto antes o desertor se apresentar maior a possibilidade de obter atenuantes.
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Visando a segurana nacional foi agravada a pena se a desero ocorrer em fronteira
ou pas estrangeiro.
Art. 190. Deixar o militar de apresentar-se no momento da partida do
navio ou aeronave, de que tripulante, ou do deslocamento da
unidade ou fora em que serve:
Pena - deteno, at trs meses, se aps a partida ou deslocamento
se apresentar, dentro de vinte e quatro horas, autoridade militar do
lugar, ou, na falta desta, autoridade policial, para ser comunicada a
apresentao ao comando militar competente.
1 Se a apresentao se der dentro de prazo superior a vinte e
quatro horas e no excedente a cinco dias:
Pena - deteno, de dois a oito meses.
2 Se superior a cinco dias e no excedente a oito dias:
Pena - deteno, de trs meses a um ano.
2-A. Se superior a oito dias:
Pena - deteno, de seis meses a dois anos.
Aumento de pena
3 A pena aumentada de um tero, se se tratar de sargento,
subtenente ou suboficial, e de metade, se oficial.
COMENTRIOS AO ARTIGO 190 DO CPM:
No possui prazo de graa, a desero se consuma no momento da partida sem a
apresentao do militar.
Concerto para desero
Art. 191. Concertarem-se militares para a prtica da desero:
I - se a desero no chega a consumar-se:
Pena - deteno, de trs meses a um ano.
Modalidade complexa
II - se consumada a desero:
Pena - recluso, de dois a quatro anos.
Desero por evaso ou fuga
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COMENTRIOS AO ARTIGO 191 DO CPM:
Nesse caso militares (no mnimo dois da ativa) combinam uma desero coletiva.
Se os militares que combinaram forem capturados ou se entregarem no prazo de graa
respondem pelo inciso I.
O crime se consuma no momento em que combinaram, se a desero chegar a ser
consumada o crime agravado.
Art. 192. Evadir-se o militar do poder da escolta, ou de recinto de
deteno ou de priso, ou fugir em seguida prtica de crime para
evitar priso, permanecendo ausente por mais de oito dias:
Pena - deteno, de seis meses a dois anos.
COMENTRIOS AO ARTIGO 192 DO CPM:
O militar pode estar detido por priso penal ou disciplinar.
Favorecimento a desertor
Art. 193. Dar asilo a desertor, ou tom-lo a seu servio, ou
proporcionar-lhe ou facilitar-lhe transporte ou meio de ocultao,
sabendo ou tendo razo para saber que cometeu qualquer dos
crimes previstos neste captulo:
Pena - deteno, de quatro meses a um ano.
Iseno de pena
Pargrafo nico. Se o favorecedor ascendente, descendente,
cnjuge ou irmo do criminoso, fica isento de pena.
COMENTRIOS AO ARTIGO 193 DO CPM:
Qualquer pessoa pode praticar esse crime.
O crime pode ser doloso, se sabe da desero ou culposo, se deveria saber da
desero.
Omisso de oficial
Art. 194. Deixar o oficial de proceder contra desertor, sabendo, ou
devendo saber encontrar-se entre os seus comandados:
Pena - deteno, de seis meses a um ano.
OBS: A PORTARIA N 507-R, de 24/06/2010, dispe sobre os
procedimentos a serem adotados em casos de Crime de
Desero cometidos por Militares da PMES.
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Art 451, 1 do CPM estabelece que a contagem dos dias de ausncia, para
efeito da lavratura do termo de desero, iniciar-se- zero hora do dia
seguinte quele em que for verificada a falta injustificada do militar.
O termo de desero tem carter de instruo provisria e destina-se a
fornecer os elementos necessrios propositura da ao penal, sujeitando,
desde logo, o desertor priso (art 452 do CPPM)
O desertor que no for julgado dentro de sessenta dias, a contar do dia de sua
apresentao voluntria ou captura, ser posto em liberdade, salvo se tiver
dado causa ao retardamento do processo.
O Oficial desertor ser agregado, permanecendo nessa situao ao
apresentar-se ou ser capturado, at deciso transitada em julgado.
Recebido termo de desero, o juiz auditor mandar autu-los e dar vista do
processo, por cinco dias, ao membro do Ministrio pblico autuando junto
auditoria, que poder requerer o arquivamento, ou o que for de direito, ou
oferecer denncia. Recebida a denncia, o juiz auditor determinar que seja
aguardada a captura ou apresentao voluntria do desertor, vez que a captura
ou apresentao, retornar o desertor condio de includo aos quadros da
organizao militar, sendo esta a condio de procedibilidade, ou sejam, o
processo somente poder prosseguir se o desertor for revertido aos quadros da
organizao Militar (se Oficial ou praa com estabilidade) ou reincludo aos
quadros (se praa sem estabilidade ou Aspirante a Oficial).
Apresentando-se ou sendo capturado o desertor, a autoridade militar far a
comunicao ao juiz auditor, com a informao sobre a data e o lugar onde o
desertor se apresentou ou foi capturado, alm de quaisquer outras
circunstncias atinentes ao fato. Aps, proceder o juiz auditor o sorteio e
convocao do Conselho Especial de Justia (se oficial o desertor) ou do
Conselho Permanente (se praa o desertor), expedindo o mandado de citao
do acusado, onde ser descrita a denncia.
A captura ou apresentao do desertor e a sua reverso aos quadros ou
incluso a militar da ativa condio de procedibilidade, assim, enquanto o
desertor no se apresenta ou capturado, o processo fica aguardando a
47
captura ou apresentao voluntria, ocorrendo a suspenso do processo, pois
a status de militar da ativa condio de procedibilidade para o processo.
Cabe ressaltar que por ocasio da consumao da desero de praa especial
ou praa sem estabilidade, ser ela imediatamente excluda do servio ativo.
Se praa estvel ou oficial ser o militar agregado, deixando, nessas
condies, de ser militar da ativa. Tal questo foi enfrentada e sumulada pelo
STM, SMULA N 12 : A praa sem estabilidade no pode ser denunciada por desero
sem ter readquirido o status de militar, condio de procedibilidade para a persecutio criminis,
atravs da reincluso. Para a praa estvel, a condio de procedibilidade a reverso ao
servio ativo.
Vejamos ainda a smula n 08 do STM: O desertor sem estabilidade e o insubmisso
que, por apresentao voluntria ou em razo de captura, forem julgado em inspeo de
sade, para fins de reincluso ou incorporao, incapazes para o Servio Militar, podem ser
isentos do processo, aps o pronunciamento do representante do Ministrio Pblico.
PRESCRIO NO CRIME DE DESERO
Como j foi dito, o crime de desero crime permanente, cuja consumao se
prolonga no tempo, ou seja, crime continuado, cujos elementos formadores e
consumativos continuam sucessiva e ininterruptamente a existir, enquanto
persistir a ausncia.
O art 125, I a VII do CPM, expressa a regra da prescrio, aplicvel a qualquer
crime previsto no COM, seno vejamos:
Art. 125. A prescrio da ao penal, salvo o disposto no 1 deste artigo, regula-se pelo mximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
I - em trinta anos, se a pena de morte;
II - em vinte anos, se o mximo da pena superior a doze;
III - em dezesseis anos, se o mximo da pena superior a oito e no excede a doze;
IV - em doze anos, se o mximo da pena superior a quatro e no excede a oito;
V - em oito anos, se o mximo da pena superior a dois e no excede a quatro;
VI - em quatro anos, se o mximo da pena igual a um ano ou, sendo superior, no excede a dois;
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VII - em dois anos, se o mximo da pena inferior a um ano.
Considerando ser o crime de desero um crime permanente, a contagem do
prazo prescricional passa a contar do dia em que cessar a permanncia, que
no caso se d com a captura ou apresentao espontnea do desertor com
sua retomada do status de militar da ativa. O crime de desero, por possuir
previso abstrata de uma pena mxima de dois anos de deteno, tem como
regra geral de prescrio o art 125, inc. VI, do CPM, o que impe um lapso
temporal de quatro anos. Uma vez denunciado e recebido a denncia, o prazo
prescricional interrompe-se e recomea a correr a partir de ento, vez no
existir amparo legal para o prazo prescricional da regra geral retroagido data
da consumao do delito, vez que o prazo da prescrio no crime de desero,
na regra do art 125, passa a contar do dia em que cessar a permanncia do
delito.
Contudo, em relao ao crime de desero, coexiste regra do art 125 a do art
132, que especializao da regra da prescrio. Vejamos o que prescreve o
art 132 do CPM: no crime de desero, embora decorrido o prazo de
prescrio, esta s extingue a punibilidade quando o desertor atinge a idade de
quarenta e cinco anos, e , se oficial, a de sessenta.
Vale esclarecer que a regra do art 132 abrange aquele desertor que est
foragido (trnsfuga). Dessa forma, como ele ainda no foi capturado, o prazo
de prescrio previsto do art 125, VI do CPM no passou a correr. A razo do
art 132 impedir a imprescritibilidade dos crimes de desero, evitando
verdadeiro nus para as Foras Armadas.
CRIME DE DESERO NORMAS E PROCEDIMENTOS
A PORTARIA n 507-R, de 24.06.2010 do Comando Geral estabelece normas
e procedimentos a serem adotados em casos de Crime de Desero
cometidos por militares da Polcia Militar do Estado do Esprito Santo, de
acordo com o previsto na Lei n 8.236, de 20.09.1991, (que alterou o Cdigo de
Processo Penal Militar) e d outras providncias:
28.12.2009, em consonncia com a Lei n 8.236, de 20.09.1991,
R E S O L V E:
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Art. 1 Contadas 24 (vinte quatro) horas depois de iniciada a ausncia do militar, o seu Cmt
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