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 CHS-2014 MATERIAL DA DISCIPLINA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL 1ª PARTE   DIRE ITO PENAL 1. PARTE GERAL 1.1. CONCEITO E OBJETO DO DIREITO PENAL Direito Penal é o conjunto de regras pelas quais o Estado proíbe determinadas condutas (crimes e contravenções), sob ameaça de sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para aplicação das penas e medidas de segurança. Seu objeto de proteção é o bem jurídico. O que se busca com o direito penal é evitar a conduta que implique em dano relevante aos bens jurídicos fundamentais, como a vida, a integridade física e mental, a honra, a liberdade, ao patrimônio, aos costumes, etc... 1.2 LEI PENAL  A norma penal decorre da norma jurídica (LEI PENAL) que traz conseqüências na esfera do direito penal. O direito penal se compõe de um compl exo de dispositivos (proibições e comandos), distribuídos na parte especial do CP e em leis especiais. Cada dispositiv o legal é uma nor ma penal que se compõe de um preceito e de uma sanção. O PRECEITO contém a prescrição ou ordem que o direito penal quer transmitir e pode ser de PROIBIÇÃO (não faça) ou de COMANDO/OBRIGAÇÃO (faça). O preceito é sempre implícito. A SANÇÃO é a PENA COMINADA (sempre uma privação de bem jurídico essencial do infrator, liberdade, por exemplo.). A pena vem cominada no mínimo e no máximo, e é sempre explícita. Resume-se da seguinte forma: Composição da norma penal => comando principal  (preceito primário) + sanção (preceito secundário) = proibição (norma). Ex: está implicitamente contida na norma do art. 121 do CP a proibição "é proibido matar". “Matar alguém” (preceito principal); “pena de reclusão de 6 a 12 anos” (preceito secundário).  A lei penal no Brasil é constituída além do Código Penal, pelas leis ditas especiais ou extragavantes, tais como: Lei das Contravenções Penais, pelo Código Penal Militar, pela Lei de Drogas.

CHS 2014 - Apostila de Direito Penal e Processual Penal

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Apostila do Curso de Habilitação de Sargentos da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo - PMES. 2014.

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  • CHS-2014

    MATERIAL DA DISCIPLINA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL

    1 PARTE DIREITO PENAL 1. PARTE GERAL 1.1. CONCEITO E OBJETO DO DIREITO PENAL

    Direito Penal o conjunto de regras pelas quais o Estado probe determinadas condutas (crimes e contravenes), sob ameaa de sano penal, estabelecendo ainda os princpios gerais e os pressupostos para aplicao das penas e medidas de segurana.

    Seu objeto de proteo o bem jurdico. O que se busca com o direito penal evitar a conduta que implique em dano relevante aos bens jurdicos fundamentais, como a vida, a integridade fsica e mental, a honra, a liberdade, ao patrimnio, aos costumes, etc...

    1.2 LEI PENAL

    A norma penal decorre da norma jurdica (LEI PENAL) que traz conseqncias na esfera do direito penal. O direito penal se compe de um complexo de dispositivos (proibies e comandos), distribudos na parte especial do CP e em leis especiais. Cada dispositivo legal uma norma penal que se compe de um preceito e de uma sano.

    O PRECEITO contm a prescrio ou ordem que o direito penal quer transmitir e pode ser de PROIBIO (no faa) ou de COMANDO/OBRIGAO (faa). O preceito sempre implcito. A SANO a PENA COMINADA (sempre uma privao de bem jurdico essencial do infrator, liberdade, por exemplo.). A pena vem cominada no mnimo e no mximo, e sempre explcita. Resume-se da seguinte forma:

    Composio da norma penal => comando principal (preceito primrio) + sano (preceito secundrio) = proibio (norma). Ex: est implicitamente contida na norma do art. 121 do CP a proibio " proibido matar". Matar algum (preceito principal); pena de recluso de 6 a 12 anos (preceito secundrio).

    A lei penal no Brasil constituda alm do Cdigo Penal, pelas leis ditas especiais ou extragavantes, tais como: Lei das Contravenes Penais, pelo Cdigo Penal Militar, pela Lei de Drogas.

  • 1.3 CRIME E CONTRAVENO PENAL

    O art. 1 do CP adota a expresso crime de forma genrica, sendo sinnimo de infrao penal. Esta o gnero dos quais so espcies:

    - Crime ou delito: uma infrao mais grave, tpica e antijurdica, proveniente de conduta humana ilcita que contrasta com os valores e interesses da sociedade, decorrente de uma ao ou omisso, definida em lei, necessria e suficiente para que, ocorrendo, faa nascer o direito de punir do Estado. Os infratores sujeitam-se s penas privativas de liberdade de deteno e recluso; e s penas restritivas de direitos e multa. A palavra crime no tem definio legal, apesar de a lei de introduo ao cdigo penal tenta caracterizar crime.

    - Contraveno: , por definio do legislador, uma infrao menos grave (crime ano), tambm tpica e antijurdica, sendo punida apenas com multa ou priso simples. Esto arroladas na Lei de Contravenes Penais. 1.4. PRINCPIO DA LEGALIDADE

    O Art. 1 do Cdigo Penal (CP), recepcionado pelo art. 5, XXXIX da CF/88, define: No h crime sem lei anterior que o defina. No h pena sem prvia cominao legal. De acordo com esse princpio bsico de Direito Penal, no h crime, nem pena sem lei anterior que o defina e estabelea respectiva pena.

    A lei deve definir exatamente e de modo bem delimitado a conduta proibida. proibido o uso da analogia para a imposio de penas. Permitida, porm, a analogia, para beneficiar o ru. Alm disso, por este princpio, reserva-se absolutamente apenas Lei elaborada pelo Congresso Nacional, na forma que a CF/88 determina, como norma que define o que ou no crime e qual a pena.

    Sujeitos do crime Sujeito ativo:

    Autor e co-autor: aqueles que realizam a conduta principal, o verbo do tipo, de forma direta.

    Partcipe: aquele que pratica a conduta principal, o verbo do tipo, de forma indireta.

    Sujeito passivo:

    Suj. passivo mediato: o ESTADO, pois a ele pertence o direito de exigir o cumprimento da lei;

    Suj. passivo imediato: o titular do bem jurdico protegido;

    o Morto pode ser vtima: a vtima so seus familiares, ex. calunia, difamao ou injuria;

    o Nos crimes contra fauna a coletividade a vtima;

  • 1.5. COMPOSIO DO CRIME I FATO TPICO

    Existem na natureza os fatos comuns e os fatos jurdicos. Os primeiros decorrem de aes humanas ou fatos da natureza que no interessam ao Direito (ex.: algum correndo na praia, chuva, vento, etc). J os segundos produzem consequncias jurdicas e podem se originar de atos naturais (morte natural, nascimento, decurso do tempo, etc.) ou de atos humanos de origem lcita (casamento, contrato) ou de origem ilcita (crime, infrao administrativa, etc.). O ilcito penal (crime ou contraveno), portanto, fato de origem ilcita decorrente de ato humano, sendo que quando a descrio do fato abstratamente proibido definida numa norma d-se o nome de tipo penal.

    A doutrina majoritria define o crime como sendo o fato tpico e antijurdico, sendo a culpabilidade apenas um pressuposto para aplicao da pena, tendo como exemplo o art. 23 do CP que diz no h crime.... quando se exclui a ilicitude, outrora o art. 26 e 28 diz isento de pena, portanto, fcil perceber a diferena tratada pelo prprio CP.

    O fato tpico todo comportamento humano (ao ou omisso) que provoca, em regra, um resultado, e previsto como infrao penal. Ex.: matar algum - artigo 121 CP. Tipicidade, assim, a correspondncia exata, a adequao perfeita entre o fato natural, concreto, e a descrio contida na lei.

    Fato tpico composto por:

    Conduta (dolo e culpa)

    o Excluem a conduta: caso fortuito, ato reflexo, coao fsica Irresistvel;

    Resultado:

    o naturalstico: aquele que modifica o mundo exterior (no est presente em todos os crimes);

    o jurdico: expe a perigo o bem jurdico protegido (presente em todos os crimes);

    Relao de causalidade (nexo causal): ligao entre conduta e resultado;

    Tipicidade: o juzo de subsuno entre a conduta praticada e o modelo descrito no tipo penal;

    II ANTIJURIDICO (OU ILCITO)

    Significa que o fato praticado por algum, para ser crime, alm de tpico, deve tambm ser ilcito, contrrio ao Direito.

    Em regra o fato tpico antijurdico, j pela sua prpria tipicidade. Mas se existir uma causa que justifique o fato, embora tpico, deixa ele de ser crime, por no ser antijurdico, como no caso de algum praticar um fato tpico em

  • estado de necessidade ou em legtima defesa, espcies de excludente de ilicitude.

    III CULPVEL

    A culpabilidade a reprovao que recai sobre o agente provocador do fato tpico e ilcito, assim a culpabilidade estaria no agente.

    Dessa forma, alguns autores adotam que o conceito de crime seria fato tpico e ilcito sendo a culpabilidade um pressuposto para aplicao da pena.

    Excluem a culpabilidade

    Menor idade (imputabilidade);

    Embriaguez acidenta e completa (imputabilidade);

    Doena mental (imputabilidade);

    Erro de proibio (potencial conscincia da ilicitude);

    o Falsa percepo do agente sobre o carter ilcito do fato; art. 21 do CP;

    Coao moral irresistvel (inexigibilidade de conduta diversa);

    Obedincia hierrquica (inexigibilidade de conduta diversa);

    1.6. DOLO E CULPA

    Art. 18 do CP - Diz-se do crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudncia, negligncia ou impercia. Pargrafo nico. Salvo os casos expressos em lei, ningum pode ser punido por fato previsto como crime, seno quando o pratica dolosamente.

    Quanto inteno do agente, um crime pode ser doloso ou culposo (os dois esto dentro da conduta elemento do fato tpico).

    O crime doloso quando o agente quer o resultado (dolo direto) ou assume o risco de produzi-lo (dolo indireto). O dolo composto d conscincia + vontade;

    Preterdolo: dolo na conduta antecedente e culpa na conduta consequente, ou seja, o agente pretendia produzir apenas um resultado, no entanto produz um resultado maior do que pretendido;

    Dolo eventual: a modalidade em que o agente no quer um resultado, mas assume o risco de produzi-lo;

    o Ex. crimes em direo de veculo automotor em que o condutor participa de racha em via pblica, devendo responder pelo crime doloso;

  • Dolo geral por erro sucessivo ou erro sobre o nexo causal: o engano no tocante ao meio de execuo e ao resultado pretendido pelo agente, ou seja, o agente produz uma ao e acreditando que j possuiu o resultado almejado ele produz outra ao, sendo que essa ultima ao que realmente provocar o resultado almejado. Ex. assassino ministra veneno para a vtima e aps o desmaio o agente acredita que a vtima morreu, assim o agente joga a vtima de uma ponte, sendo que a vtima morre em razo da queda, assim o autor responder pelo crime de homicdio considerando o meio inicialmente querido pelo agente.

    Culpa consciente: o agente no deseja o resultado, nem assume o risco de produzi-lo, acreditando que o resultado no ir acontecer, no entanto, caso ocorra ser por erro de calculo ou erro na execuo.

    o Deve ser analisado o que o agente imaginava para concluir que se trata de culpa consciente, j que o agente deve acreditar que aquele resultado jamais ocorreria;

    O crime culposo quando o infrator no tem inteno de praticar o crime, mas o resultado pode ocorrer devido a uma falta de cuidado objetivo, consistindo como a obrigao de todo cidado de realizar condutas de forma a no provocar danos a terceiros. A falta de cuidado pode se apresentar de trs modalidades:

    Imprudncia - o agente incorre numa AO descuidada, maior da que deveria ter realizado, sem observncia das cautelas necessrias. Prtica de ato perigoso. Ex: manejar arma carregada prximo a outras pessoas; um condutor impe velocidade excessiva a um automvel.

    Negligncia - o agente incorre em OMISSO descuidada, quando deveria ter agido, deixando de ter os cuidados necessrios. Falta de precauo. Ex. deixar substncia txica ao alcance de crianas; uma enfermeira adiciona arsnico na gua a ser administrada a um paciente pensando ser acar.

    Impercia - o agente incorre em uma AO maior da que deveria ter realizado ou numa OMISSO quando deveria ter agido, relacionado com PROFISSO, ARTE OU OFCIO de quem NO conhecia uma regra tcnica. Falta de aptido tcnica, terica ou prtica, pressupondo sempre a qualidade de habilitao legal para a arte ou profisso. Ex. no saber dirigir veculo. Um curandeiro que pratica interveno cirrgica imprudente e no imperito.

  • 1.7. EXCLUDENTES DE ILICITUDE Dentro da anlise da Teoria do Crime, observa-se que a ilicitude a contrariedade do fato ao ordenamento jurdico, sendo assim, a primeira etapa para a verificao desta incompatibilidade est dentro da tipicidade, verificando se um fato tpico e, se esto presentes os indcios de que a conduta antijurdica, o que somente se afastar se estiver presente uma das causas de excluso da antijuridicidade.

    Art. 23 do CP. No h crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II em legtima defesa; III em estrito cumprimento de dever legal ou no exerccio regular de direito. Pargrafo nico. O agente, em qualquer das hipteses deste artigo, responder pelo excesso doloso ou culposo.

    a) estado de necessidade:

    O estado de necessidade vem capitulado no art. 23, inciso I do Cdigo Penal brasileiro, e definido no art. 24 do mesmo instituto, considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar-se de perigo atual, que no provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito prprio ou alheio, cujo sacrifcio, nas circunstncias, no era razovel exigir-se.

    Art. 24 do CP. Considera-se em estado de necessidade quem

    pratica o fato para salvar de perigo atual ou IMINENTE (entendimento jurisprudencial), que no provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito prprio ou alheio, cujo sacrifcio, nas circunstncias, no era razovel exigir-se.

    1 No pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.(...)

    Utilizvel quando h uma coliso entre os bens jurdicos de pessoas diversas, a inteno deve ser a de afastar ameaa a direito prprio ou alheio, com uma conduta razovel, ou seja, o bem sacrificado, em princpio, deve ter valorao inferior ou igual ao bem preservado. O perigo deve ser atual e no um perigo eventual.

    Exemplo: Um cachorro bravio ataca Joo que, para salvar-se do perigo mata o animal. Se Jos instigar o mesmo co a atacar Joo e este vier a matar o animal age sob a excludente da legtima defesa, pois se defende de uma agresso injusta pratica por ser humano usando do animal como instrumento de ataque.

  • OBS.

    que no provocou por sua vontade: se o agente provoca de maneira culposa ele poder se valer do estado de necessidade.

    Quem deve enfrentar o perigo: aquele que tem o dever de enfrentar o perigo no poder se valer do estado de necessidade, ex. bombeiro que tem o dever de salvar a pessoa de um incndio no poder alegar estado de necessidade para quebrar a casa da pessoa e salva-la, deve o bombeiro usar o meio menos lesivo

    possvel o estado de necessidade reciproco? Sim, quando dois agente estiverem simultaneamente em estado de necessidade, ex. dois nufragos em que um pedao de madeira suporta o pesa apenas de um deles. Na legitima defesa no possvel porque a pessoa tem que repelir agresso injusta, ou seja, quando a legitima defesa passa a ser excessiva ela passa a ser injusta, possibilitando que a vtima tambm haja em legitima defesa.

    Estado de necessidade e erro na execuo: possvel, ex. uma pessoa visando afastar o ataque de um co efetua disparos de arma de fogo, oportunidade em que acerta um transeunte.

    b) legtima defesa:

    Prevista no artigo 23, inciso II, do Cdigo Penal brasileiro, e definido pelo art. 25 do mesmo instituto, sendo assim, entende-se em legtima defesa quem, usando, moderadamente, dos meios necessrios, repele injusta agresso, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

    Art. 25 do CP. Entende-se em legtima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessrios, repele injusta

    agresso, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

    O ataque tem que ser de humano; se for de animais ou coisas caracteriza-se estado de necessidade. A agresso deve ser injusta, no cabendo contra agresses legais, como por exemplo, a priso dentro dos requisitos da lei. Essa agresso deve ser atual ou iminente, em vias de acontecer, no cabendo contra agresso passada ou agresso futura.

    Todos os direitos so nelas preservados, no havendo distino entre bens pessoais ou patrimoniais, pertencentes ao defendente ou a terceiro. Entretanto a reao deve ser moderada, utilizando-se de meios realmente necessrios.

    Exemplo: Jos tenta esfaquear Joo, porm este consegue repelir a agresso desferindo um soco no rosto do agressor, fazendo a faca cair ao cho.

    Obs.

    Quando a leso for a animal estaremos diante de estado de necessidade, j que a legitima defesa usada para repelir agresses humanas.

    Pode legitima defesa em favor de pessoa jurdica, feto e pessoa morta (vilipendio de cadver, art. 211 e 212 do CP).

  • Legitima defesa sucessiva: possvel, desde que a legitima defesa inicial se exceda, oportunidade em que a outra pessoa poder agir.

    Legitima defesa contra pessoa jurdica: possvel, ex. pessoa que ouve no alto falante do mercado algum denegrindo sua honra, assim o ofendido poder quebrar a caixa de som que esta passando a mensagem.

    Legitima defesa e erro na execuo: possvel.

    Legitima defesa X legitima defesa: NO pode, exceto se a legitima defesa estiver sendo em excesso.

    Se o animal for utilizado como arma para ataque ordenado, estaremos diante de uma legitima defesa.

    Legitima defesa = ao ilcita origina de um homem e a reao contra ele.

    X

    Estado de necessidade = perigo originrio de animal, natureza ou humano, mas o agente sacrifica um bem jurdico para se defender.

    c) estrito cumprimento de dever legal

    Ocorre sempre que algum pratica um fato tpico no exerccio regular de direito, na hiptese de que tinha o dever de combater o perigo em favor da coletividade. A lei obriga que se realize uma conduta, sob pena de responder por um crime, por omisso. Portanto, quem cumpre regularmente um dever no pode, ao mesmo tempo, praticar ilcito penal, uma vez que a lei no contm contradies.

    Todo o dever limitado ou regulado em sua execuo; tudo o que for fora dos limites traados na lei o que se apresenta o excesso de poder punvel. Exemplo: O mdico cirurgio que corta a derme do paciente para fazer um dreno e impedir que ele morra em virtude de hemorragia, comete uma conduta tpica (ofensa integridade fsica), porm no antijurdica, pois pratica a conduta no exerccio regular de sua profisso, com o dever de tentar salvar a vida do ferido. Outros exemplos: policial que para evitar a fuga de um detendo, lesiona o detento. Obs. O policial que atira em um meliante que perpetrar contra a sua vida estar agindo em legitima defesa, pois o ordenamento jurdico no permite que o policial mate algum, exceto para se defender.

    d) exerccio regular de direito

    Qualquer pessoa pode exercitar um direito ou faculdade prevista na lei (penal ou extrapenal). disposio constitucional que ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei (art. 5, II, da CF).

    Exemplo: O mdico cirurgio que corta a epiderme do paciente para fazer correo esttica no comete uma conduta tpica (ofensa integridade fsica),

  • nem antijurdica, pois o faz praticando a conduta no exerccio regular de sua profisso. Outros exemplos: Lutador de boxe que desfere socos contra o seu adversrio, dentro das regras do esporte.

    e) outras causas de excludente de ilicitude

    art. 142 do CP

    art. 150, 3 do CP 1.8. EXCLUDENTE DE CULPABILIDADE

    A lei que prev a inexistncia de crime quando ocorre uma causa que exclui a antijuridicidade, exige tambm, para que haja punio (pena), que se verifique a culpabilidade, ou seja, se no existe os elementos da culpabilidade haver crime, entretanto no atribuda a pena.

    a) Coao irresistvel e obedincia hierrquica

    Art. 22 do CP. Se o fato cometido sob coao irresistvel ou em estrita obedincia a ordem, no manifestamente ilegal, de superior hierrquico, s punvel o autor da coao ou da ordem.

    O dispositivo refere-se mais a coao moral, pois na coao fsica no h ao por parte do coagido. A coao moral irresistvel a grave ameaa contra a qual o homem comum no consegue resistir.

    Na coao moral irresistvel, o crime no fica sem punio, sendo que o coator ir responder pela conduta do coagido, assim, apenas o coagido ter sua culpabilidade afastada.

    Se a coao moral for resistvel o coagido poder responder pelo crime, tendo direito a uma atenuante genrica, podendo responder tambm pelo concurso de pessoas.

    A coao fsica ser excludente de tipicidade, pois no h vontade.

    No que tange a obedincia hierrquica deve ser NO manifestamente ilegal, oriunda de superior hierrquico

    Sabe que a ordem ilegal = o superior e o subalterno respondero pelo crime;

    Ordem NO manifestamente ilegal = exclui culpabilidade;

    Ordem manifestamente ilegal, mas o subalterno acreditava que era legal = no exclui a culpabilidade, pois houve erro de proibio EVITAVEL, tendo a pena diminuda.

    A subordinao de ordem pblica, no abrangendo setor privado, familiar, etc. O agente atua em cumprimento de uma ordem especfica que deve ser de um superior para um subordinado, com vnculo de natureza pblica administrativa.

  • b) Inimputveis

    Art. 26 do CP. isento de pena o agente que, por doena mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era ao tempo da ao ou da omisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

    entendimento.

    A doena mental a perturbao mental de qualquer ordem (psicose, esquizofrenia, parania, psicopatia, etc.), pois o indivduo no tem nenhum desenvolvimento mental e a doena o acomete de tal forma que ela no consegue entender absolutamente nada do que est fazendo.

    O desenvolvimento mental incompleto o desenvolvimento que ainda no se concluiu, ou seja, o indivduo tem algum desenvolvimento mental, porm ainda no formado, e acomete a pessoa em razo da idade, como no caso do menor de 18 anos (legislao especial ECA) ou do ancio com idade avanada, do ndio totalmente inadaptado sociedade (Decreto-Lei 6001/73 - Funai), do surdo-mudo que no sabe expressar a sua vontade e no consegue entender o que faz.

    O desenvolvimento mental retardado o indivduo que tem desenvolvimento mental, porm deficitrio, ou seja, tem reduzidssima capacidade mental. So exemplos: os oligofrnicos classificados como: idiota - idade mental de 0 a 3 ou 0 a 5; imbecil - no tem noo do abstrato, idade mental 3 a 5 ou 3 a 7; dbil mental idade mental entre 5 a 12 ou 7 a 12).

    Alm dessas caractersticas, o agente deve estar sob uma dessas condies no tempo da ao ou da omisso, no cabendo o benefcio em quem as adquiriu posterior ao fato ou no estava sob sua influencia no momento do fato.

    Surdo-mudo inimputvel? No, presume-se que ele imputvel, ou seja, uma pessoa normal. c) Menores de dezoito anos

    Art. 27 do CP. Os menores de 18 (dezoito) anos so penalmente inimputveis, ficando sujeitos s normas estabelecidas na legislao especial.

    Os menores de dezoito anos esto sujeitos s medidas de segurana do Estatuto da Criana e do Adolescente. Considera-se que o indivduo completa dezoito anos de idade no instante em que se inicia o dia do seu aniversrio.

    Menores de 18 anos e maiores de 12 anos que praticam ato infracional esto sujeitos a medida socioeducativa. J os menores de 12 anos que praticarem ato infracional sero encaminhados ao conselho tutelar.

    Se o menor for emancipado? Pratica ato infracional.

  • d) embriaguez

    Art. 28 do CP (...) II - (...) 1 isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou fora maior, era, ao tempo da ao ou da omisso, inteiramente incapaz de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com o esse entendimento.

    A embriaguez pode ser voluntria, que a buscada intencionalmente; culposa, resultante de imoderao imprudente no uso de bebida alcolica ou substncia de efeito anlogo; e fortuita ou de fora maior, resultante de causas alheias vontade do sujeito, como na hiptese de quem drogado a fora ou por meio ardil.

    A embriaguez patolgica pode ser tratada como doena, aplicando-se o art. 26 do CP. 1.9. CONCURSO DE PESSOAS

    Art. 29 do CP. Quem de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

    Requisitos: PRIL =

    Pluralidade de agente

    Relevncia da conduta

    Identidade de infrao

    Liame subjetivo.

    H concurso de pessoas quando dois ou mais indivduos concorrem para a prtica de um mesmo crime.

    O autor quem pratica a conduta principal descrita no tipo penal (autor executor material: aquele que comete os atos de execuo o verbo do tipo). Para a teoria objetivo formal, o autor intelectual ser participe do crime, pois para essa teoria autor apenas aquele que pratica o verbo do tipo penal.

    No entanto, para a teoria do domnio final do fato, autor intelectual aquele que concorre para o crime sem realizar atos executrios, mas que tem o comando/domnio do fato, tambm sendo autor.

    O mandante, embora no tenha cometido os atos de execuo, foi ele o criador intelectual da situao, tornando-se responsvel pelo crime na medida que tinha o domnio final do fato, ou seja, podia evitar o crime se quisesse.

    Co-autoria uma relao de ligao entre vrios autores, tambm chamado co-autores, vrios praticantes da conduta principal ou h unio de autores de um crime em colaborao recproca, visando o mesmo fim (ex. A segura B para que C possa esfaquear).

  • O partcipe, ao contrrio, exerce funo acessria, que pode ser moral (induzimento ou instigao) ou material (auxlio ou fornecimento do aparato material).

    Autoria mediata: o autor uso pessoa sem culpabilidade para a pratica do tipo penal.

    Autoria mediata e crimes culposos: no se admite, j que nos crimes culposos o resultado involuntrio.

    Cabe coautoria em crime culposo? Sim, quando os agente praticam ato com imprudncia, ex. dois pedreiros que jogam um grande pedao de ao no meio da rua, causando a morte de uma pessoa.

    Cabe participao em crime culposo? No, pois faltar o liame subjetivo, ex. quando A, sabendo que C vai passar pela rua, convence que B acelere o carro para matar C, nesse caso A responde por homicdio doloso e B responde por homicdio culposo na direo de veculo, j que no havia liame subjetivo entre A e B.

    1.10. PENAS

    Art. 32 do CP. As penas so: I privativas de liberdade; II restritivas de direitos; III de multa.

    A pena a consequncia imposta pelo Estado para reprimir e ressocializar todas as pessoas que no cumprem com o preceito estabelecido pela norma, ou seja, a todo agente que pratica crime.

    O doente mental pratica crime, mas no recebe pena. Neste caso o legislador previu hiptese de aplicao de medida de segurana que pode ser uma internao obrigatria ou em tratamento ambulatorial.

  • (Masson, Cleber Rogerio; Direito Penal Esquematizado - Parte Geral - 2 edio editora Metodo).

    Princpios:

    Proporcionalidade: a resposta penal deve ser justa o suficiente para cumprir o papel de reprovao do ilcito por parte dos Estado, bem como prevenir novas infraes.

    Intranscndecia: a pena no pode passar da pessoa do condenado. Vale ressaltar que, apesar de no ser pena, caber ao indenizatria em detrimento dos bens do condenado, caso existam bens deixados pelo condenado.

    1.10.1. PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE

    As penas privativas de liberdade so a recluso e a deteno. A recluso destina-se a crimes dolosos. A deteno, tanto a dolosos como culposos.

    A recluso cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A deteno cumprida s nos regimes semi-aberto ou aberto (salvo posterior transferncia para regime fechado, por incidente da execuo).

    A recluso tem como efeito da condenao a incapacidade para o exerccio do poder familiar nos crime cometidos contra filho, tutelado e curatelado.

    A priso simples a aplicvel para as contravenes penais (Lei das Contravenes Penais), deixando tais pessoas em local separado dos presos condenados a pena de recluso ou deteno.

  • Obs. Em caso de medida de segurana, cujo crime seja apenado com recluso, ser imposta a medida de internao e no tratamento ambulatorial.

    1.10.2. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS (art. 43 do CP)

    As penas restritivas de direitos consistem: a) prestao pecuniria em favor da vtima; b) prestao de outra natureza; c) perda de bens e valores; d) prestao de servios comunidade; e) interdio temporria de direitos, com proibio de exerccio, de cargo, funo ou mandato eletivo; com a proibio do exerccio de profisso ou atividade; com proibio de freqentar determinados lugares; ou com a suspenso de habilitao para dirigir veculo; f) limitao de fim de semana, com a obrigao de permanecer o condenado aos sbados e domingos, por cinco horas dirias, em casa de albergado;

    Requisitos para aplicao da pena restritiva de direitos consta no art. 44 do CP.

    Durao da pena restritiva de direito: possui a mesma durao da pena restritiva de liberdade a ser substituda, no entanto, a pena de prestao de servio a comunidade ou entidade publica que seja superior pode ser feita em menor tempo, mas nunca inferior a metade da pena privativa de liberdade.

    No se admite a substituio dessa pena nos crime militar

    Consoante a lei 11340/06, art. 17, no permitida a substituio da pena restritiva de liberdade pela pena restritiva de direitos.

    Na pena de multa a quantia vai para o Estado (fundo penitencirio nacional), j na pena de prestao pecuniria a quantia destinada a famlia da vtima e caso o condenado a pena de prestao pecuniria no pague a quantia, est ser convertida em pena privativa de liberdade.

    1.10.3. PENA DE MULTA

    A multa penal pode ser cominada como pena nica, como pena cumulativa (e multa), como pena alternativa (ou multa), e tambm em carter substitutivo.

    Na pena de multa a quantia arrecadada destinada ao Estado (Fundo Penitencirio Nacional), sendo que o no pagamento da quantia no permite que seja convertida a pena em priso, devendo usar os meios judiciais para ter a quantia.

    A lei 11343/06, estabelece a possibilidade de pena de multa, inclusive quanto ao crime previsto no art. 28.

    1.10.4 EFEITOS DA CONDENAO

    Art. 91 do CP. So efeitos da condenao: I tornar certa a obrigao de indenizar o dano causado pelo crime; II a perda em favor da Unio, ressalvando o direito do lesado ou de terceiro de boa-f: a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienao, uso, porte ou deteno constitua fato ilcito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prtica do fato criminoso.

  • Art. 92 do CP. So tambm efeitos da condenao I a perda de cargo, funo pblica ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a 1 (um) ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violao de dever para com a Administrao Pblica; b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. II a incapacidade para o exerccio do ptrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos a pena de recluso, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; III a inabilitao para dirigir veculo, quando utilizado como meio para a prtica de crime doloso. Pargrafo nico. Os efeitos de que trata esse artigo no so automticos, devendo ser motivadamente declarados na sentena.

    A condenao leva obrigao de indenizar o dano e ao confisco dos instrumentos, do produto e dos proveitos do crime. Pode levar tambm perda de funo pblica, incapacidade para o exerccio do ptrio poder, tutela ou curatela, e inabilitao para dirigir veculo, quando utilizado como meio para a prtica de crime doloso.

    De qualquer forma, porm, os efeitos da condenao, s vigoram aps o trnsito em julgado da sentena, pois ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria (art. 5, LVII da CF).

    1.11. CRIMES MILITARES

    Alguns juristas atribuem a existncia do crime militar conforme qualidade de militar do autor (em razo da pessoa); outros de acordo com a qualidade de militar do fato (em razo da matria); e, um terceiro grupo, pela qualidade de militar do local onde foi cometido o delito (em razo do local). O Legislador, ao contrrio, ao elaborar o Cdigo Penal Militar - CPM adotou o critrio em razo da lei, segundo o qual crime militar o que a lei define como tal. Desta forma, no h uma definio ou conceituao precisa do que seja crime militar, mas simplesmente uma enumerao de algumas situaes que caracterizam o delito como militar.

    Dessa forma pode-se considerar o crime militar como sendo o fato tpico e antijurdico, sancionado em lei para a proteo da disciplina das Foras Armadas, Polcias Militares e Corpos de Bombeiros Militares dos Estados e do Distrito Federal, praticados por militar ou civil, em consonncia com uma ou vrias condies objetivas de punibilidade (previstas nos artigos 9 e 10 do CPM).

  • 1.11.1. CRIMES MILITARES EM TEMPO DE PAZ

    Art.9 do Cdigo Penal Militar (CPM). Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - Os crimes de que trata este cdigo, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela no previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposio especial; II - Os crimes previstos neste cdigo, embora tambm o sejam com igual definio na lei penal comum, quando praticados: a) por militar em situao de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situao ou assemelhado; b) por militar em situao de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito administrao militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado ou civil; c) por militar em servio ou atuando em razo da funo, em comisso de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito administrao militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; d) por militar durante o perodo de manobras ou exerccio, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado ou civil; e) por militar em situao de atividade, ou assemelhado , contra o patrimnio sob a administrao militar, ou a ordem administrativa militar. Pargrafo nico - Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, sero de competncia da justia comum. III - Os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou civil, contra as instituies militares, considerando-se como tais no s os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimnio sob a administrao militar ou contra a ordem administrativa militar; b) em lugar sujeito administrao militar contra militar em situao de atividade ou assemelhado, ou contra funcionrio de Ministrio Militar ou da Justia Militar, no exerccio de funo inerente ao cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o perodo de prontido, vigilncia, observao, explorao, exerccio, acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito administrao militar, contra militar em funo de natureza militar, ou no desempenho de servio de vigilncia, garantia e preservao da ordem pblica, administrativa ou judiciria, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obedincia a determinao legal superior..

    Da anlise do dispositivo legal, verifica-se (nos incisos II e III) que para existir o crime militar nem sempre bastar que o autor seja militar praticando fato previsto como crime no CPM. Ser necessrio, alm da previso de um delito tipificado no CPM, algumas condies ou situaes objetivas quanto s circunstncias da pessoa, do lugar e do tempo, sem as quais poder existir at um crime de natureza, mas nunca um crime militar.

    A Constituio Federal determina que ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria

  • competente, salvo nos casos de transgresso militar ou crime propriamente militar, definidos em lei (CF/88, art.5, LXI). E dispe o Cdigo Penal comum que para efeito de reincidncia... no se consideram os crimes militares prprios e polticos(art. 64, II). Para uma melhor compreenso, classificam-se os delitos militares em duas categorias:

    a) crimes propriamente militares ou crimes militares prprios, ou puros - So os crimes definidos com exclusividade na lei penal militar sem correspondentes na lei penal comum, ou seja, so os que somente esto previstos no CPM (art. 9, I). Exemplos: embriaguez em servio (art.202); dormir em servio (art.203); desero (art.187); desacato a superior (art.298); desacato a militar (art.299); violncia contra sentinela (art.158); dano culposo (art.266); etc.

    b) crimes impropriamente militares, ou acidentais - So os crimes militares, comuns em sua natureza (previstos com a mesma definio na lei penal comum), mas que, quando praticados por militar da ativa em certas condies especiais, a lei os configura como militares (art. 9, II). Exemplos: Leso Corporal - Um soldado do 7 BPM, de folga, agride com socos e pontaps um soldado do 4 BPM, da ativa, de folga, causando-lhe leses, durante uma ocorrncia policial; Homicdio Culposo - Um Subtenente, de folga, no interior do 6 BPM, ao manusear indevidamente sua pistola particular calibre .380, efetua disparo acidental que atinge um civil estagirio que trabalhava como telefonista, e ao receber o disparo no trax, veio a falecer.

    Resumo Esquemtico:

    PROPRIAMENTE MILITAR por militar da ativa, conforme os tipos somente previstos no CPM.

    IMPROPRIAMENTE MILITAR

    previstos no CPM com igual definio

    na lei penal comum

    por militar da ativa 1) contra militar da ativa

    2) em local militar

    3) em servio

    4) em manobras ou exerccio

    5) contra patrimnio e ordem administrativa

    militar

    PROPRIAMENTE MILITAR ou

    IMPROPRIAMENTE MILITAR

    contra s instituies militares

    por militar da reserva,

    reformado ou civil

    1) contra patrimnio e ordem administrativa

    militar

    2)em local militar,contra militar da ativa

    funcionrio da Justia militar e do

    Ministrio militar

    3) contra militar em manobras ou exerccio

    4) contra militar em funo de natureza

    militar

  • 1.12. PRINCIPAIS SMULAS DE DIREITO PENAL E DIREITO PENAL MILITAR PARA A ATIVIDADE JUDICIRIA MILITAR 1.12.1. SMULAS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

    55) Militar da reserva est sujeito pena disciplinar.

    56) Militar reformado no est sujeito pena disciplinar.

    297) Oficiais e praas das milcias dos Estados, no exerccio da funo policial civil, no so considerados militares para efeitos penais, sendo competente a Justia comum para julgar os crimes cometidos por ou contra eles.

    555) competente o Tribunal de Justia para julgar conflito de jurisdio entre juiz de direito do Estado e a Justia Militar local.

    1.12.3. SMULAS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA (STJ)

    06) Compete Justia Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de trnsito envolvendo viatura de Polcia Militar, salvo se autor e vtima forem policiais militares em situao de atividade.

    53) Compete Justia Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prtica de crime contra as instituies militares estaduais.

    75) Compete Justia Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover ou facilitar a fuga de preso de estabelecimento penal.

    78) Compete Justia Militar processar e julgar policial de corporao estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa.

    90) Compete Justia Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prtica de crime militar, e Comum pela prtica de crime simultneo quele.

    172) Compete Justia Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em servio.

    192) Compete ao Juzo das Execues Penais do estado as execues das penas impostas a sentenciados pela Justia Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos administrao estadual.

  • 2. PARTE ESPECIAL

    No tocante Parte Especial do CP, relacionaremos abaixo os crimes atendidos com maior freqncia pela Polcia Militar. Juntamente com os citados delitos, esto enumeradas as leis de fundamental importncia para o estudo a que nos propusemos. A seguir, passaremos a estud-los individualmente. 2.1. HOMICDIO ART. 121 DO CDIGO PENAL

    Homicdio simples Art. 121 - Matar algum: Pena - recluso, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Caso de diminuio de pena 1 - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domnio de violenta emoo, logo em seguida a injusta provocao da vtima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um tero. Homicdio qualificado 2 - Se o homicdio cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo ftil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - traio, de emboscada, ou mediante dissimulao ou outro recurso que dificulte ou torne impossvel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execuo, a ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - recluso, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. Homicdio culposo 3 - Se o homicdio culposo: Pena - deteno, de 1 (um) a 3 (trs) anos. Aumento de pena 4o No homicdio culposo, a pena aumentada de 1/3 (um tero), se o crime resulta de inobservncia de regra tcnica de profisso, arte ou ofcio, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro vtima, no procura diminuir as conseqncias do seu ato, ou foge para evitar priso em flagrante. Sendo doloso o homicdio, a pena aumentada de 1/3 (um tero) se o crime praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redao da Lei n 10.741/1.10.2003) 5 - Na hiptese de homicdio culposo, o juiz poder deixar de aplicar a pena, se as conseqncias da infrao atingirem o prprio agente de forma to grave que a sano penal se torne desnecessria.

    2.1.1. HOMICDIO SIMPLES

  • Homicdio a destruio da vida de uma pessoa praticada por outra. Tutela-se com o dispositivo o mais importante bem jurdico, a vida humana, cuja proteo um imperativo jurdico de ordem constitucional. O ser humano, s ou associado a outros, empregando ou no armas, o sujeito ativo (autor) do crime. Pode ser cometido por intermdio de uma ao, como desfechar tiros na vtima ou feri-la a facadas, ou atravs de uma omisso, como no caso de deixar de alimentar uma criana para mat-la.

    Aqueles que atentam contra a prpria vida no cometem crime, uma vez que nem a tentativa de suicdio fato punvel. Da mesma forma a destruio do embrio ou feto no tero materno tambm no homicdio, contemplando-a a lei sob o nome jurdico de aborto.

    Ressalta-se que os crimes dolosos contra a vida so de competncia do tribunal do jri, sendo os seguintes crimes: homicdio; induzimento, instigao ou auxilio ao suicdio; infanticdio e aborto.

    Consumao: o crime se consuma com o fim da atividade enceflica.

    O crime em comento admite tentativa, podendo ser cruenta ou vermelha quando a vtima atingida ou incruenta ou branca quando a vtima no atingida.

    O que crime hediondo? Crime hediondo aquele elencado na lei 8072/90, escolhidos pelo legislador em um rol taxativo (tentados ou consumados), sendo aqueles que despertam uma maior repugnncia a coletividade. Assim, tendo em vista que crime hediondo so taxativos na lei, no h que se pensar em cada caso particular para saber se ou no hediondo, basta ver se esta no rol da citada lei.

    Pode o homicdio ser simples e hediondo? Sim, quando praticado em atividade tpica de grupo de extermnio.

    2.1.2. CASO DE DIMINUIO DE PENA - ART. 121, 1., DO CDIGO PENAL

    Causa de diminuio de pena (reduo de 1/6 a 1/3, em todas as hipteses). Apesar de o pargrafo trazer a expresso pode, trata-se de uma obrigatoriedade a ser reconhecida em favor do ru.

    As hipteses so de natureza subjetiva porque esto ligadas aos motivos do crime: motivo de relevante valor moral (interesse particular) ou social (interesse pblico), domnio de violenta emoo, logo em seguida injusta provocao da vtima.

    2.1.3 HOMICDIO QUALIFICADO

    Em seu 2, o art. 121 do CP contm as formas qualificadoras do homicdio, cominando para elas penas de recluso de doze a trinta anos. So casos em que os motivos determinantes, os meios empregados ou os recursos utilizados demonstram maior periculosidade do agente e menor possibilidade de defesa

  • da vtima, tornando o fato mais grave que o homicdio simples. Cumpre-nos destacar que tal delito sempre ser hediondo.

    2 - Se o homicdio cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo ftil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - traio, de emboscada, ou mediante dissimulao ou outro recurso que dificulte ou torne impossvel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execuo, a ocultao, a impunidade ou vantagem de outro crime:

    Se houver concurso de pessoas as qualificadoras previstas nos incisos I,II e V no se comunicam aos demais autores, pois pertencem a pessoa do agente e no ao fato. J as qualificadoras previstas nos incisos III e IV so comunicveis aos agentes, j que so pertinentes ao fato.

    Para que o crime seja qualificado a pessoa tem que agir com dolo, no existindo homicdio qualificado culposo.

    Inciso I:

    o O pagamento da recompensa no necessrio para a qualificao do crime;

    o A vantagem no precisa ser econmica;

    o No caso de paga ou promessa de recompensa, a qualificadora ser aplicada ao possvel mandante do crime? No, j que se trata de uma qualificadora de carter subjetiva, ou seja, intrnseca ao agente. Ressalta-se que o mandante pode responder por homicdio privilegiado e o executor por homicdio qualificado, ex. quando o pai manda um pistoleiro matar o estuprador de sua filha.

    o Motivo torpe: moralmente reprovvel;

    o Vingana: nem sempre ser tratada como motivo torpe;

    Pai que tem a filha estuprada e por vingana mata o estuprador (NO ser qualificado por motivo torpe);

    Traficante que mata outro traficante para ficar com o ponto de droga (SER torpe);

    Inciso II

    o Ftil: motivo insignificante, de pouca importncia, desproporcional ao crime praticado;

    o A ausncia de motivo no ser ftil;

    o Cime no tratado como motivo ftil;

  • o Embriaguez incompatvel com motivo ftil, tendo em vista que a pessoa no tem conscincia de seus atos;

    Inciso III

    o asfixia por constrio do pescoo

    enforcamento a modalidade de asfixia mecnica determinada pela constrio do pescoo por um lao cuja extremidade se acha fixa a um ponto dado, agindo o prprio peso do indivduo como fora viva; o sulco descontnuo de direo oblqua ascendente bilateral anteroposterior.

    estrangulamento a modalidade de asfixia mecnica por constrio do pescoo por lao tracionado pela fora da mo criminosa ou por qualquer fora que no seja o prprio peso da vtima; o sulco, nico, duplo ou mltiplo contnuo e de profundidade uniforme e tipicamente horizontalizado.

    esganadura a modalidade de asfixia mecnica por constrio anterolateral do pescoo, impeditiva da passagem do ar atmosfrico pelas vias areas, promovidas diretamente pela mo do agente;

    o Qualificadora tortura X crime tipificado na lei de tortura: no primeiro o agente utiliza a tortura para provocar a morte da vtima, j no crime de tortura com resultado morte o agente queria praticar a tortura e causa tambem a morte da vtima, ou seja, o ultimo um crime preterdoloso.

    Inciso IV

    o Traio: a traio de confiana ir qualificar o crime apenas quando a vtima realmente tinha confiana no autor do crime, tendo o autor utilizado dessa confiana para facilitar a pratica da conduta delituosa;

    Inciso V

    o No precisa que o crime seja realmente assegurado, basta a intenso de assegurar o crime;

    Quando houver mais de uma qualificadora o magistrado dever usar uma delas para qualificar o crime e a outra ser usada como agravante genrica. 2.1.4. HOMICDIO CULPOSO

    A todos, no convvio social, determinada a obrigao de realizar condutas de forma a no causar a morte de terceiros. A conduta torna-se tpica no momento em que o sujeito pratica uma conduta causadora do resultado morte sem o cuidado que uma pessoa normal deveria ter. Ex.: um indivduo, efetuando brincadeiras com revlver, permite que este caia ao cho, provocando um

  • disparo acidental que mata um amigo seu. Ora, no houve a inteno de matar o amigo, mas a lei pune no somente aquele que teve vontade de praticar a conduta como tambm aquele que foi imprudente e no observou o dever de cuidado necessrio.

    Percebe-se que o 3 do art. 121 do CP refere-se ao homicdio culposo, que pode ser cometido por imprudncia, negligncia ou impercia, aspectos esses j mencionados quando da anlise do art. 18 na Parte Geral do CP, a qual remetemos o leitor.

    Ressalta-se que os crimes culposos no admitem tentativa.

    2.1.5. HOMICDIO CULPOSO E DOLOSO COM AUMENTO DE PENA

    A primeira parte do 4 do art. 121 do CP traz quatro hipteses de aumento de pena no homicdio culposo: no observar regra tcnica de profisso, arte ou ofcio; omitir socorro imediato; no procurar diminuir as conseqncias do ato; e fugir para evitar priso em flagrante.

    Inobservncia de regra tcnica no se confunde com impercia, pois nesta o sujeito no tem os conhecimentos para aquilo que esta fazendo (ex. medico ortopedista que faz cirurgia de corao), j naquela o agente tem os conhecimentos mas no so observados (ex. cardiologista que no segue as regras bsicas numa cirurgia de corao).

    Se h morte instantnea no caber o aumento de pena, assim como nas situaes em que h pessoas mais gabaritadas para ajudar e no precise da ajuda do agente.

    No caso de homicdio doloso a pena ser aumentada se o crime for contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos.

    2.1.6. PERDO JUDICIAL - ART. 121, 5., DO CDIGO PENAL

    O Juiz poder conceder o perdo judicial, deixando de aplicar a pena, quando as conseqncias do crime atingirem o prprio agente de forma to grave que a imposio da mesma se torne desnecessria. S na sentena que poder ser concedido o perdo judicial.

    2.1.7. HOMICDIO CULPOSO NO CDIGO DE TRNSITO BRASILEIRO

    No se deve confundir o homicdio culposo geral com o homicdio culposo especial previsto no Cdigo de Trnsito Brasileiro CTB que tipifica, em seu art. 302, a prtica de homicdio culposo na direo de veculo automotor (pena: deteno de 2 a 4 anos e e suspenso ou proibio de se obter a permisso ou a habilitao para dirigir veculo automotor). O detalhamento sobre tal crime ser explorado na disciplina policiamento de trnsito.

    2.2. LESO CORPORAL

  • O delito de leso corporal pode ser conceituado como a ofensa integridade corporal ou sade de outrem, ou seja, um dano causado normalidade funcional do corpo humano, que pode ser fsico como fisiolgico ou mental. A ofensa pode causar um dano anatmico interno ou externo (ferimentos, hematomas, fraturas, luxaes, mutilaes). Se houver agresso, mas no ficar caracterizada a leso corporal, a infrao ser desclassificada para a contraveno penal de vias de fato (agredir sem deixar leses), prevista no art. 21 da Lei de Contravenes Penais.

    Art. 129 do CP- Ofender a integridade corporal ou a sade de outrem: Pena - deteno, de 3(trs) meses a 1(um) ano. Leso Corporal de natureza grave 1 - Se resulta: I - incapacidade para as ocupaes habituais, por mais de 30 (trinta) dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou funo; IV - acelerao de parto: Pena - recluso, de 1 (um) a 5 (cinco) anos. Leso Corporal gravssima 2 - Se resulta: I - incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurvel; III - perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - recluso, de 2 (dois) a 8 (oito) anos. Leso corporal seguida de morte 3 - Se resulta morte e as circunstncias evidenciam que o agente no quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - recluso, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Leso corporal culposa 6 - Se a leso culposa: Pena - deteno, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano. 7 - Aumenta-se a pena de um tero, se ocorrer qualquer das hipteses do art. 121, 4. 8 - Aplica-se leso culposa o disposto no 5 do art. 121. Aumento de pena 7 - Aumenta-se a pena de um tero, se ocorrer qualquer das hipteses do art. 121, 4. (Redao dada pela Lei n 8.069, de 1990) 8 - Aplica-se leso culposa o disposto no 5 do art. 121.(Redao dada pela Lei n 8.069, de 1990) Violncia Domstica (Includo pela Lei n 10.886, de 2004) 9

    o Se a leso for praticada contra ascendente, descendente, irmo,

    cnjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relaes domsticas, de coabitao ou de hospitalidade: (Redao dada pela Lei n 11.340, de 2006) Pena - deteno, de 3 (trs) meses a 3 (trs) anos. (Redao dada pela Lei n 11.340, de 2006) 10. Nos casos previstos nos 1

    o a 3

    o deste artigo, se as circunstncias

    so as indicadas no 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um tero).

    (Includo pela Lei n 10.886, de 2004) 11. Na hiptese do 9

    o deste artigo, a pena ser aumentada de um tero

    se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficincia. (Includo pela Lei n 11.340, de 2006)

    2.2.1. LESO CORPORAL LEVE

  • O conceito de leso leve dado por excluso. Prevendo o art. 129, no 1 a leso grave, no 2 a leso gravssima e no 3 a leso corporal seguida de morte, configura-se a leso corporal leve quando o resultado no esteja enquadrado nos vrios pargrafos do art. 129 do CP. Assim, se a leso causada no grave ou gravssima, tendo a vtima sobrevivido, somente poder ser leso leve, com pena de deteno de 3 (trs) meses a 1 (um) ano.

    Destaca-se que a leso corporal se diferencia da vias de fato, pois naquela o agente deseja lesionar a integridade fsica da vtima, nesta o agente no deseja a leso fsica (ex. empurro).

    O consentimento do ofendido vlido apenas nos casos de leso leve, tendo em vista a indisponibilidade do bem jurdico protegido pelo direito penal, no caso, a integridade fsica.

    Importante ressaltar que nesse tipo de leso a ao penal ser condicionada a representao da vtima.

    2.2.2 LESO CORPORAL GRAVE

    A primeira conseqncia que torna grave a leso corporal a de ter resultado "incapacidade para as ocupaes habituais por mais de trinta dias" (art. 129, 1, inc. I do CP). Por ocupaes habituais no se deve entender apenas as de natureza econmica. A lei protege tambm a atividade funcional habitual do indivduo, pouco importando seja produtiva ou no. De outro modo, no haveria leso corporal grave contra uma criana, ou contra um aposentado, pois ambos, via de regra, no exercem atividades econmicas. Cumpre frisar, ainda, que a ocupao habitual tem de ser lcita. A incapacidade dever ser comprovada atravs de exame de leses corporais.

    O inciso II do 1 do artigo 129 do CP refere-se ocorrncia de "perigo de vida". Toda leso corporal apresenta, a rigor, a possibilidade de complicaes que podem ameaar a vida do paciente, mas a lei refere-se aqui ao perigo comprovado em exame pericial, como as hemorragias graves, estado de coma, perfurao do estmago, estado de choque, projtil que penetrou no trax e se alojou na espinha, etc.

    No inciso III do 1 do artigo 129 do CP, a lei considera grave a leso que causa "debilidade permanente de membro, sentido ou funo". Membros superiores so o brao, o antebrao e a mo; inferiores, a coxa, a perna e o p. Os sentidos so cinco: viso, audio, olfato, paladar e tato. Funo a atividade desempenhada por cada rgo (respiratria, circulatria, digestiva, reprodutora, etc.). Exige o Cdigo debilidade permanente para caracterizar a leso corporal grave. Debilidade a diminuio da capacidade funcional por tempo duradouro, no sendo necessrio a perpetuidade. Ex: perda de um dos rins.

    Quando a leso causar a perda de rgo duplo, deve o autor responder pela leso grave em razo da debilidade permanente causada.

    Ademais, a recuperao do membro por meio mdico no acarretar a excluso da qualificadora.

  • No ltimo inciso menciona-se na lei a "acelerao do parto". grave a leso quando em decorrncia dela o feto expulso antes do final da gravidez, conseguindo sobreviver.

    2.2.3. LESO CORPORAL GRAVSSIMA

    Embora com a mesma denominao legal de leso corporal grave, no artigo 129, 2 do CP, esto relacionados os resultados que agravam ainda mais as penas, punveis com recluso de 2 (dois) a 8 (oito)anos. Por essa razo, fala-se, na doutrina, em leso corporal gravssima.

    A primeira qualificadora de natureza gravssima a "incapacidade permanente para o trabalho" (inciso I do 2 do artigo 129 do CP). Aqui a lei no se refere s ocupaes habituais (inciso I do 1 do artigo 129 do CP), mas trata especificamente da atividade profissional remunerada. Permanncia no significa perpetuidade, e sim uma incapacidade duradoura, longa e dilatada. pacfico na doutrina que a lei se refere a qualquer trabalho e no atividade especfica da vtima. Assim, se um policial sofre uma leso corporal e fica impossibilitado para o servio policial militar, porm, ainda em condies de exercer outra atividade profissional, o autor da leso no responder por leso corporal gravssima, e sim por leso grave, pois a vtima com certeza ficar impossibilitada para as atividades habituais por mais de trinta dias.

    Refere-se o inciso II do 2 do artigo 129 do CP "enfermidade incurvel". Enfermidade a doena (fsica ou mental) cuja cura no alcanada pela medicina, em seus recursos e conhecimentos atuais, no sendo obrigada a vtima ase submeter a tratamento cirrgico.

    A seguir, o CP trata, no inciso III do 2 do artigo 129, da qualificadora da "perda ou inutilizao de membro sentido ou funo". Os membros, sentidos e funes j foram definidos no item anterior. Perda a mutilao (causada por violncia) ou a amputao (por cirurgia), e a inutilizao a inaptido do rgo sua funo especfica. Existe diferena entre debilidade (art. 129, 1, III), perda e inutilizao. Assim, se o ofendido, em conseqncia da leso corporal, sofre paralisia de um brao em decorrncia da leso corporal, trata-se de inutilizao de membro, leso gravssima, com pena de recluso de 2 (dois) a 8 (oito)anos. Se, em face da leso corporal, perde a mo, cuida-se tambm de inutilizao de membro. Entretanto, vindo a perder um dedo da mo, a hiptese de debilidade permanente, constituindo leso grave, punvel com pena de recluso de 1 (um) a 5 (cinco) anos. Por ltimo, se a vtima vem a perder todo o brao, o fato constitui perda de membro.

    importante citar que prteses no substituem o rgo perdido, ou seja, caso haja prtese o autor do fato continua a responder pelo crime por ter causado a perda do membro.

    gravssima, ainda, a leso, quando resultar "deformidade permanente", inciso IV do 2 do artigo 129 do CP, que , segundo a doutrina, o dano esttico de certa monta, permanente e visvel, capaz de causar impresso vexatria. Pouco importa o local da leso, desde que seja perceptvel, visvel num sentido amplo, ser leso gravssima. Veja que se a vtima se submeter a uma cirurgia

  • plstica e corrigir a deformidade, no haver mais leso gravssima e sim grave.

    A ltima qualificadora da leso corporal gravssima a "produo do aborto", inciso V do 2 do artigo 129 do CP. Nessa hiptese, o agente quer apenas causar leses corporais, sendo que o aborto ocorre por culpa, pois agredir uma gestante caracteriza uma imprudncia. Caso o agente pratique a conduta com o fim de cometer o aborto, responder pelo delito descrito no art. 125 do CP (crime de aborto sem o consentimento da gestante), somado ao crime de leses corporais. Por outro lado, cabe dizer que no haver a qualificadora se o agente desconhece a gravidez, respondendo, nessa hiptese responder to somente pela leso corporal.

    Ao final, importante ressaltar a diferena de:

    Debilidade de membro: diminuio ou enfraquecimento do rgo

    Perda de membro: destruio completa do membro;

    Deformidade permanente: alterar a forma de Algo;

    2.2.4. LESO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE

    No vamos tratar aqui do homicdio, mas sim da leso corporal seguida de morte, crime preterdoloso. A diferena reside na vontade, na inteno, do agente. Se algum lesiona outrem para ocasionar-lhe a morte (vontade de matar), ou assumindo o risco de produzir esse resultado, responder por homicdio e se o crime no se consumar, responder por tentativa de homicdio. Mas, se o agente no quis o resultado, nem assumiu o seu risco, desejando apenas provocar leses corporais (vontade de lesionar), responder, ocorrendo o evento letal, pela leso corporal seguida de morte (art. 129, 3 do CP).

    2.2.5. LESO CORPORAL CULPOSA

    Se da imprudncia, negligncia ou impercia do agente, aspectos esses vistos na Parte Geral, derivou no a morte, mas leso corporal na vtima, o agente punido com pena de deteno de dois meses a um ano. Aplicam-se, na leso culposa, todas as regras do homicdio culposo, a nica diferena o resultado, naquele a morte, nesta apenas a leso.

    No caso de leso corporal culposa no ter graduao grave e gravssima, ou seja, se houver culpa o agente responder simplesmente por leso corporal culposa.

    Nos termos do art. 129, 8, do CP, na hiptese de leso corporal culposa, o juiz poder deixar de aplicar a pena se as conseqncias da infrao atingirem o prprio agente de forma to grave que a sano se torne desnecessria (perdo judicial, citado nos comentrios ao 5 do art. 121 do CP). Ex.: O pai negligente deixa a arma em local de fcil acesso e seu filho menor acaba dando um tiro no prprio p. Ora, se o pai j foi punido em decorrncia do

  • sofrimento de seu filho, torna-se desnecessria qualquer outra pena. Lembre-se que isso no quer dizer que o agente no deva ser preso e conduzido, eis que tal perdo nica e exclusivamente da competncia judicial.

    2.2.6. LESO CORPORAL NO CDIGO DE TRNSITO BRASILEIRO

    No se deve confundir a leso culposa geral (CP) com a leso corporal culposa especial prevista no Cdigo de Trnsito Brasileiro CTB que tipifica, em seu art. 303, a prtica de leso corporal culposa na direo de veculo automotor (pena: deteno, de seis meses a dois anos e suspenso ou proibio de se obter a permisso ou a habilitao para dirigir veculo automotor.). O detalhamento sobre tal crime tambm ser explorado na disciplina policiamento de trnsito.

    2.2.7. LESAO CORPORAL E VIOLENCIA DOMSTICA

    Leses corporais praticadas em mbito domstico ou familiar, ressaltando que no h necessidade dos envolvidos serem parentes, bastando existir uma relao domstica.

    Quando a vtima nesse tipo de crime for mulher, deve o agente responder de acordo com o procedimento previsto na lei 11343/06, no se aplicando a lei 9099/95.

  • Direito Penal e Processual Penal

    1. PRISO EM FLAGRANTE DELITO

    1.1. INTRODUO

    CF/88 Art. 5, LXI - Ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciria competente, salvo nos caso de transgresso militar ou crime propriamente militar definidos em lei.

    A Constituio Federal de 1988, em seu art. 5, incisos LXI, deu nfase aos direitos individuais a serem resguardados quando da ocorrncia da priso em flagrante delito ou da priso por mandado judicial.

    Em sentido jurdico, priso a privao da liberdade de locomoo, ou seja, do direito de ir e vir, por motivo ilcito ou por ordem legal (Jlio Fabbrini MIRABETE). No caso de priso por ocorrncia do ilcito penal, tem-se o flagrante cuja palavra provm do latim flagrans que significa ardente, que est em chamas, que arde, da a expresso flagrante delito indicar o crime no instante em que est sendo cometido. Em termos genricos, a priso em flagrante delito consiste na priso daquele que surpreendido no instante da consumao da infrao penal (Fernando da Costa TOURINHO FILHO).

    Ressalta-se que a priso em flagrante uma das modalidades de priso provisria, ou seja, priso que ocorre antes da sentena condenatria.

    Atualmente existem trs tipos de priso provisria sendo a priso em flagrante, priso preventiva e a temporria.

    A priso em flagrante, inicialmente possui natureza administrativa, no necessitando de autorizao judicial para sua efetivao.

    A priso em flagrante pode ocorrer tanto nos casos de crime, como nos casos de contraveno, no entanto quando a pena mxima NO for superior a dois anos e a pessoa se comprometa a comparecer ao juizado especial criminal ser lavrado um termo circunstanciado e no um auto de priso em flagrante. Importante salientar que a captura do individuo dever ser feita e apresentada a autoridade policial.

    A priso em flagrante dividida em quatro momentos, sendo o momento da captura, conduo coercitiva, lavratura do Auto de Prisao em Flagrante e recolhimento a priso.

    1.2. ESPCIES DE FLAGRANTE

    CPP - Art. 301. Qualquer do povo poder e as autoridades policiais e seus agentes devero prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.

    fundamental para o policial conhecer as circunstncias previstas no Cdigo de Processo Penal que caracterizam o flagrante delito, pois ocorrendo, ter ele o dever legal de dar voz de priso e conduzir o autor do crime Delegacia de Polcia para a lavratura do respectivo Auto de Priso em Flagrante Delito (APFD) por parte do Delegado. Por isso que denominado flagrante obrigatrio aquele em que o policial deve prender, sempre que possvel, aquele que encontrado em flagrante delito; e flagrante facultativo aquele em que qualquer cidado do povo (que no seja policial) pode prender aquele que encontrado praticando crime. Sendo um dever (estrito cumprimento do dever legal), o policial que se omite injustificavelmente, deixando de prender o autor que est em flagrante, responde criminalmente por sua omisso, podendo responder pelo crime de prevaricao, se comprovado o sentimento/interesse pessoal ou pode responder pelo crime praticado

  • pelo agente que est em situao flagrancial. Por outro lado, sendo mera faculdade para o cidado comum, se este deixa de prender algum que est em flagrante delito, no comete crime algum (exerccio regular de um direito ou faculdade legal).

    CPP - Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: I - est cometendo a infrao penal; II - acaba de comet-la; III - perseguido, logo aps, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situao que faa presumir ser autor da infrao; IV - encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papis que faam presumir ser ele autor da infrao.

    Sem que ocorra pelo menos uma das 04 (quatro) circunstncias caracterizadoras citadas acima no haver flagrante delito.

    As circunstncias dos incisos I e II do art. 302 so classificadas como espcies de flagrante prprio, tambm denominado flagrante propriamente dito ou real. A espcie do inciso III classificada como flagrante imprprio ou quase-flagrante, e, por fim, a do inciso IV, chamada de flagrante presumido ou ficto.

    Histrico do BOP n 0001: ...A guarnio foi acionada pelo COPOM para atender chamado dando conta que um homem armado estava apontando uma arma para um rapaz na praa do bairro. Chegando ao local, vimos fulano de tal efetuando vrios disparos de pistola calibre 380 contra a vtima que tombou ao cho e veio a bito no local...

    1.2.1. Quem est cometendo a infrao penal:

    Considera-se em flagrante quem est cometendo a infrao penal, ou seja, visto e surpreendido no ato de execuo do crime, por exemplo, desfechando golpes na vtima, destruindo ou subtraindo coisa alheia, falsificando documentos, mantendo relao sexual forada com algum, etc. Neste caso, ocorre a chamada certeza visual do delito, pois, por exemplo, se algum surpreende Jos esfaqueando Maria h verdadeira flagrncia delituosa.

    Histrico do BOP n 0002: ...A guarnio foi acionada pelo COPOM para atender chamado dando conta que um homem armado estava apontando uma arma para um rapaz na praa do bairro. Chegando nas proximidades ouvimos vrios disparos de arma de fogo sendo disparados e, quando chegamos no local exato, encontramos a vtima alvejada e cada ao cho e, ao seu lado, fulano de tal com uma pistola calibre 380 nas mos apontando ainda a arma para a vtima...

    1.2.2. Quem acaba de cometer a infrao penal:

    Tambm se considera em flagrante quem acaba de cometer a infrao, ou seja, j se esgotaram os atos da execuo criminosa, causadora do resultado jurdico, de dano ou de perigo, morte, leses, dano material, encontrando-se o autor ainda no local do fato ou nas suas proximidades em situao indicativa de que cometeu o ilcito, por exemplo, portando a arma, com as vestes manchadas de sangue, etc. Neste caso no ocorre certeza visual do delito, mas h uma quase absoluta relao de imediatidade, pois o autor encontrado imediatamente aps a prtica da infrao. Por exemplo, se Joo, ao chegar porta do bar, encontrar Maria no cho, com brao ferido, e, ali de p, com a faca empunhada, Jos, no h dvida de que houve um verdadeiro flagrante, uma vez que o surpreendimento do autor do fato ocorreu quando o crime ainda estava em chamas.

    Histrico do BOP n 0003: ...A guarnio foi acionada pelo COPOM para atender chamado dando conta que um homem armado estava apontando uma arma para outro na praa do bairro. Chegando ao local, vimos a vtima j morta cada ao cho, com diversas perfuraes aparentemente causadas por Projtil de Arma de Fogo (PAF). Segundo a testemunha, o autor dos disparos acabara de fugir do local a bordo de uma moto Honda CG 125, cor vermelha, placa TTT 0001, trajando cala jeans, jaqueta marrom e capacete vermelho, com destino ao bairro vizinho. Iniciada a perseguio, ao

  • efetuarmos buscas nas redondezas, localizamos e abordamos o suspeito a 2 km do local do crime, portando a pistola calibre 380 n 0000 com carregador contendo 3 munies intactas, sendo que o cano da arma ainda estava quente e com forte cheiro de plvora queimada ...

    1.2.3. quem perseguido em situao que faa presumir ser o autor da infrao penal:

    A lei considera tambm em flagrante delito quem perseguido, logo aps, pela polcia, pelo ofendido ou por outra pessoa, em situao que faa presumir ser autor da infrao. H uma presuno da autoria da infrao que a lei equipara certeza advinda da priso durante o cometimento do crime. O sujeito fugiu do local, mas foi perseguido.

    A expresso "logo aps" indica uma limitao temporal possibilidade de priso em flagrante e ser melhor explicada num item especfico mais adiante. Por ora, basta entender que a lei no fixou prazo fixo, mnimo ou mximo, para efetuar a priso em flagrante do autor que perseguido logo aps a prtica do delito.

    Histrico do BOP n 0004: ...A guarnio foi acionada pelo COPOM para atender um chamado dando conta que um homem fora baleado na praa do bairro. Chegando ao local, vimos a vtima j morta cada ao cho, com diversas perfuraes aparentemente causadas por projtil de arma de fogo (PAF). Moradores e transeuntes informaram que viram a vtima ser rendida por um homem desconhecido, cor branca, compleio mdia, aparentando ter entre 25 e 30 anos, entre 70 e 75 kg, trajando cala jeans, jaqueta marrom, a bordo de uma Moto Honda CG 125, cor vermelha, o qual levou uma carteira de cor preta da vtima. Duas horas depois, o COPOM informou que uma pessoa com o mesmo nome da vtima de homicdio havia dado entrada no PS do Hospital local gravemente lesionada aps um acidente de trnsito na cidade envolvendo um coliso com uma moto com as mesmas caractersticas indicadas pelas testemunhas do crime. Chegando ao hospital, verificamos dentro de uma carteira preta que a foto da identidade correspondia da vtima de homicdio, e no da pessoa que estava hospitalizada, a qual possua as mesmas caractersticas do suspeito descrito pelas testemunhas, levando a crer ser este o indivduo envolvido na autoria do referido homicdio...

    1.2.4. quem encontrado logo depois com instrumentos, armas, objetos ou papis que faam presumir ser ele o autor:

    No necessrio no caso que haja perseguio, mas sim que a pessoa seja encontrada logo depois da prtica do ilcito com coisas que traduzam um forte indcio da autoria ou participao no crime. A pessoa no perseguida, mas encontrada, pouco importando se por puro acaso ou se foi procurado aps investigaes. Nada mais se exige do que estar o presumvel criminoso na posse de coisas que o apontem como autor de um delito que acabou de cometer.

    1.3. LIMITAES POSSIBILIDADE DE PRISO EM FLAGRANTE

    1.3.1. Limitaes Pessoais:

    de vital importncia ao policial tambm conhecer as limitaes referentes s pessoas que podem prender (sujeitos ativos) e s pessoas que podem ser presas (sujeitos passivos) em flagrante delito. o que a doutrina denomina de Sujeitos do flagrante.

    a) Sujeito Ativo: Diz respeito a quem prende o autor do delito.

    No j citado flagrante obrigatrio, tambm denominado flagrante necessrio ou compulsrio, so sujeitos ativos os integrantes das instituies policiais previstas no art. 144 da Constituio Federal (Polcia Militar, Polcia Civil, Polcia Federal, Polcia Rodoviria Federal), pois, como j mencionado, eles tm o dever de efetuar a priso de quem se encontra em estado flagrancial, respondendo

  • administrativamente e criminalmente pela omisso, pois age em estrito cumprimento de um dever legal.

    No flagrante facultativo, o sujeito ativo poder ser qualquer pessoa maior de 18 anos (pessoa que no seja policial) que ter a faculdade de capturar algum em flagrante delito, nada respondendo criminalmente se acaso no o fizer, pois age no exerccio regular de um direito que lhe facultado.

    b) Sujeito Passivo: Diz respeito a quem preso em flagrante delito. Podem ser presos em flagrante qualquer pessoa maior de 18 anos, salvo as seguintes excees:

    1.3.1.1. Em nenhuma hiptese podem ser presos em flagrante delito:

    - Estrangeiros detentores de imunidade diplomtica: O inciso I do art. 1 do Cdigo de Processo Penal - CPP permite que, em virtude de tratado ou conveno internacional, os representantes diplomticos (embaixador, secretrios, pessoal tcnico, Chefes de Estado estrangeiro) gozem de privilgios de no serem presos em flagrante delito, nem serem processados e julgados pela prtica do crime. A imunidade diplomtica confere ao seu detentor a chamada imunidade de jurisdio, pois ocorre a renncia da competncia jurisdicional (de processar e julgar) do pas em que foi cometido o crime, ficando o diplomata infrator sujeito s leis do pas de origem. O Brasil aderiu Conveno das Relaes Diplomticas de Viena assinada em 18/4/1961, aprovada no pas pelo Decreto Legislativo n 103, de 1964 e ratificada pelo Decreto 56.435/65 de 23/2/1965. A imunidade alcana os familiares e o pessoal tcnico e administrativo da embaixada, desde que no sejam naturais e no tenham residncia permanente no Brasil.

    - Presidente da Repblica: O art. 86, 3, da Constituio Federal dita que o Chefe do Poder Executivo Federal no poder ser preso por prtica de crime comum enquanto no for condenado por sentena penal condenatria transitada em julgado. Significa dizer que o detentor de tal cargo no pode ser autuado em flagrante delito (seja crime afianvel ou inafianvel), nem ser preso por fora de mandado judicial. No se deve confundir essa limitao pessoal quanto priso do Presidente com imunidade parlamentar. O Presidente da Repblica no goza de imunidade parlamentar, detm apenas prerrogativas de funo referentes priso (CF/88, art. 86, 3) e possibilidade de ser processado criminalmente pelo Supremo Tribunal Federal - STF, se houver licena da Cmara Federal pelo voto de dois teros (CF/88, art. 102, inciso I, letra b).

    1 OBSERVAO IMPORTANTE: Os Governadores de Estado, assim como o Presidente da Repblica, no gozam de imunidade absoluta. Detm apenas prerrogativas de funo para serem processados criminalmente perante o Superior Tribunal de Justia STJ, se houver licena da Assemblia Legislativa do Estado respectivo pelo voto de dois teros dos Deputados Estaduais (art. 105, I, a da CF/88 e art. 93 da Constituio Estadual). Quanto priso, embora a Constituio Estadual do Esprito Santo, em seu art. 94, 2, tenha previsto de forma idntica ao que previu a Constituio Federal no tocante vedao de priso do Presidente da Repblica, entende-se que, como as regras concernentes priso so matria de direito processual penal, de competncia legislativa da Unio Federal, conclui-se que no h qualquer vedao legal priso do Governador do Estado.

    2 OBSERVAO IMPORTANTE: Os Prefeitos no so detentores de imunidade relativa ou absoluta em relao priso ou ao processo criminal, ou seja, podem ser presos por crime afianvel ou inafianvel. Os prefeitos gozam apenas de prerrogativa de funo para

  • serem processados no Tribunal de Justia (CF/88 - art. 29, X; e art. 109, I, a da Constituio Estadual).

    1.3.1.2. No podem ser presos em flagrante, salvo em caso de crimes inafianveis:

    Em linhas gerais, so eles: os Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais, os Magistrados, os Membros do Ministrio Pblico; e os advogados, se o crime for praticado no desempenho de suas atividades profissionais.

    a) Parlamentares: Como detentores da chamada imunidade parlamentar absoluta, os Deputados Federais, Senadores, Deputados Estaduais no podem ser presos, nem tampouco processados no campo penal, civil ou disciplinar em relao aos delitos de opinio ou de palavra (crimes contra a honra, incitao ao crime, apologia ao crime, Lei de Imprensa, Lei de Segurana Nacional), pois so inviolveis por suas opinies, palavras e votos (arts. 53, caput e 27, 1, todos da CF/88).

    Em relao aos crimes comuns (que no sejam crimes de opinio), como detentores da chamada imunidade parlamentar relativa, os parlamentares podem ser presos apenas em caso de flagrante delito de crime inafianvel, cujo processo e julgamento ser de competncia do Supremo Tribunal Federal STF, no caso de Deputados Federais ou Senadores (art. 53, 1 CF/88), e do Tribunal de Justia do Estado, se forem rus Deputados Estaduais (art. 109, I, a, da Constituio Estadual).

    3 OBSERVAO IMPORTANTE: Os Vereadores tm tambm imunidade absoluta no tocante a delitos de palavra ou de opinio por fora do art. 29, VIII da CF/88. Todavia, a imunidade absoluta abrange somente s manifestaes ligadas ao exerccio do mandato (discursos, pareceres, relatrios), no abarcando declaraes dadas como cidado, de interesse pessoal, nem aos delitos de opinio praticados fora dos limites do municpio. Quanto priso, os vereadores no tm imunidade relativa, ou seja, podem ser presos por prtica de crime (afianveis ou inafianveis) e podem ser processados criminalmente, independente de licena da Cmara, em qualquer comarca criminal.

    b) Magistrados: Os Juzes, Desembargadores e Ministros de Tribunais Superiores de Justia, segundo o art. 33, inciso II da Lei Complementar n 35/79 - Lei Orgnica da Magistratura, no podem ser presos seno por ordem escrita do Tribunal ou do rgo Especial para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafianvel, caso em que a autoridade policial far a imediata comunicao e apresentao do magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado. Repetindo os critrios legais, o Tribunal de Justia do Esprito Santo baixou a RESOLUO n 05/2005 publicada no Dirio de Justia no dia 10/02/2005.

    c) Representantes do Ministrio Pblico: Os Promotores de Justia, os Procuradores de Justia Estadual e Federal, segundo o art. 18, II, d da Lei Complementar n 75/93 Estatuto do Ministrio Pblico da Unio e art. 40, inciso III, da Lei 8.625/93 - Lei Orgnica Nacional do Ministrio Pblico tambm tm a prerrogativa de somente serem presos por ordem judicial escrita, salvo em flagrante delito por crime inafianvel, caso em que a autoridade far, no prazo mximo de 24 horas, a comunicao e a apresentao do membro do Ministrio Pblico ao Procurador-Geral de Justia, no mbito estadual, ou ao Procurador-Geral da Repblica, em mbito federal.

  • d) Advogados: Quanto priso, o art. 7, 3 da Lei 8.906/94 Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil - dispe que o advogado somente poder ser preso em flagrante, por motivo de exerccio da profisso, em caso de crime inafianvel. O auto de priso ser lavrado pela autoridade policial e acompanhado por representante da OAB (art.7, inciso IV).

    1.3.1.3. - Regras especiais:

    a) Ao condutor de veculo, nos casos de acidentes de trnsito de que resulte vtima, no se impor a priso em flagrante, nem se exigir fiana, se prestar pronto e integral socorro quela (Lei 9.503/97 - Cdigo de Trnsito Brasileiro, art. 301).

    b) No caso das infraes de menor potencial ofensivo (crimes com pena mxima prevista no superior a dois anos e as contravenes penais), a Lei 9.099/95, em seu art. 69, pargrafo nico, informa que no se impor priso em flagrante, mas sim apenas a lavratura de termo circunstanciado, quando o autor for imediatamente encaminhado ao Juizado Especial Criminal ou assumir o compromisso de a ele comparecer logo que possvel.

    c) Ao usurio e dependente de drogas que for flagrado praticando as condutas criminosas de adquirir, guardar, ter em depsito, transportar ou trazer consigo, para consumo pessoal, drogas ilcitas, no se impor priso em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juzo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisies dos exames e percias necessrios (art. 48, 2, da Lei 11.343/06 Lei de Drogas).

    d) O autor do crime que se apresenta espontaneamente, logo aps o crime, autoridade tambm no pode ser preso em flagrante, segundo orientao jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, quem, logo aps o delito, se apresenta espontaneamente autoridade policial. Esta apenas tomar o depoimento do autor do fato e lavrar Termo de Apresentao Espontnea, liberando-o a seguir. porque a conduta de apresentar-se logo aps a prtica do crime no est prevista em nenhuma das hipteses caracterizadoras da priso em flagrante previstas no art. 302 do CPP. Segundo o art. 317 do CPP, a impossibilidade da priso por apresentao no impede, porm, que presentes os requisitos prprios, seja decretada a priso preventiva do autor da infrao (art. 312 do CPP).

    e) Poder ocorrer priso em flagrante delito durante o perodo eleitoral, pois o art. 236 da Lei 4.737/65 Cdigo Eleitoral probe apenas a priso da pessoa por fora de mandado judicial, desde 5 (cinco) dias antes e at 48 (quarenta e oito) horas depois do encerramento da eleio. *

    f) Os menores de 18 anos (crianas e adolescentes) no so presos por prtica de crime, sendo-lhes aplicado o regime especial previsto na Lei 8.069/90 - Estatuto da Criana e do Adolescente/ECA. O ato infracional cometido por criana (at 12 anos incompletos) gera as medidas especficas de proteo (Art. 105, ECA). J os adolescentes (entre 12 e 18 anos incompletos) que praticam ato infracional podem se sujeitar, alm das medidas especficas de proteo, s medidas scio-educativas que vo desde a advertncia at a internao (art. 112, ECA). Quando o policial flagra o menor de 18 anos na prtica de ato infracional, ele o apreende em

  • flagrante e o encaminha Delegacia competente para, ser for o caso, ser procedida lavratura do Auto de Apreenso de Flagrante de Ato Infracional (arts. 172 e 173 do ECA). No encaminhamento do menor Delegacia, o policial deve respeitar tambm o que prev o art. 178 do ECA, que exige que o adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional no seja conduzido ou transportado em compartimento fechado de veculo policial, em condies atentatrias sua dignidade, ou que impliquem risco sua integridade fsica ou mental, sob pena de responsabilidade.

    g) legal a priso em flagrante dos alienados mentais, embora inimputveis, j que a eles pode ser aplicada medida de segurana, cabendo no caso a instaurao do incidente de insanidade mental (CPP, arts. 149 a 154).

    1.3.2. Limitaes Materiais:

    H questes substancialmente ligadas ao fato praticado que podem impedir a priso em flagrante delito de seu autor. Observe os exemplos seguintes:

    a) Flagrante preparado ou provocado: Ocorre quando algum arma uma cilada e provoca outrem prtica de um crime e, simultaneamente, toma as providncias necessrias para surpreend-lo na flagrncia da execuo, que fica, assim, impossibilitada ou frustrada. Pode ocorrer, portanto, quando o policial ou terceiro age induzindo ou instigando a pessoa prtica de um crime para depois prend-la. uma hiptese de crime putativo ou imaginrio, por isso tambm j foi denominado por Nelson HUNGRIA de crime de ensaio ou crime de experincia, pois a provocao e vigilncia da Polcia ou da pseudovtima torna impraticvel a real consumao do crime, no possibilitando a priso em flagrante. Nesta hiptese aplica-se a Smula 145 STF: no h crime quando a preparao do flagrante pela polcia torna impossvel a sua consumao.

    Exemplo:

    Histrico do BOP n 0005: ...A guarnio foi acionada pelo COPOM para atender um chamado dando conta que o empregador, suspeitando que os furtos em sua loja vinham sendo realizados por um certo empregado, deixou-o vontade, numa determinada seo, como se nele depositasse inteira confiana e, ao mesmo tempo, montou um esquema de segurana, com policiais civis disfarados e estrategicamente dispostos, e, no exato momento em que o empregado surrupiou o objeto, foi surpreendido e preso...

    Histrico do BOP n 0006: ...A guarnio foi acionada pelo COPOM para atender um chamado a fim de dar apoio a um policial do servio de inteligncia do Batalho que se disfarou de usurio de drogas e instigou um suspeito de trfico a vender-lhe uma bucha de maconha, sendo dada a voz de priso no exato momento em que o suspeito trouxe a pequena quantidade da droga ao policial disfarado. Feita uma minuciosa busca pessoal no individuo e busca domiciliar na casa do suspeito nenhuma droga foi encontrada guardada em suas vestes ou em sua residncia, nem nenhuma outra bucha, alm da entregue por ele ao policial disfarado. Contra o suspeito no havia nenhum mandado de priso expedido. Ele foi conduzido Delegacia Especializada de Txicos e Entorpecentes e liberado em seguida pelo Delegado que alegou que a situao ocorrida no configurou flagrante delito.

    Tal situao no se confunde com o Flagrante esperado, que no se trata de crime putativo, pois a iniciativa dolosa do agente no foi artificialmente provocada, mas previamente conhecida, o que d ao policial a possibilidade de agir, tomadas as devidas precaues, pois a interveno policial no provoca nem induz o autor do fato criminoso a comet-lo - ela resulta do recebimento de informaes a respeito do provvel cometimento do crime ou da vigilncia que exercia sobre o delinqente, sendo, por isso, regular e vlida a priso em flagrante realizada nessa situao.

  • b) Flagrante retardado: Tambm denominado flagrante prorrogado, pois o policial tem a discricionariedade para deixar de efetuar a priso em flagrante no momento da ao criminosa, tendo em vista um momento mais importante para a investigao criminal no caso de crimes praticados por organizaes criminosas (somente nesses crimes). A Lei 12850/13, art. 3, inciso III, autoriza polcia retardar a priso em flagrante de crimes praticados por organizaes criminosas, desde que a atividade dos criminosos seja mantida sob observao e acompanhamento, com o objetivo de que a priso se concretize no momento mais eficaz do ponto de vista da formao de prova e fornecimento de informaes. Trata-se de uma hiptese legal que no pune por crime de prevaricao os policiais que retardam a priso de uma quadrilha criminosa organizada, pois limita a possibilidade de priso em flagrante no momento em que est sendo praticado para outro mais oportuno e que permita prender mais integrantes da quadrilha e seus lderes, com mais provas.

    Exemplo.

    Histrico do BOP n 0007: ...A guarnio foi acionada pelo COPOM para atender um chamado dando conta que havia um galpo que servia de depsito de mquinas caa-nqueis no endereo citado. Antes de chegarmos no local, na esquina prxima ao galpo, fomos abordados por uma equipe do servio de inteligncia da PMES que nos alertou para que no prossegussemos referido depsito, nem prendssemos ningum relacionado ao fato, pois havia uma operao de inteligncia em andamento que estava prestes a identificar e prender os principais lderes de uma organizao criminosa responsvel pela importao de mquinas caa-nqueis e pela distribuio a vrias outras quadrilhas regionais do estado e da regio sudeste, envolvidas inclusive com lavagem de dinheiro e trfico de drogas...

    c) Flagrante forjado: o flagrante maquinado ou fabricado. Policiais ou terceiros criam provas de um crime inexistente para prender algum em flagrante. Exemplo: o policial, ao revistar o carro, afirma ter encontrado drogas, quando na verdade foi ele quem colocou a droga dentro do carro, visando incriminao da pessoa. Apesar da dificuldade de sua prova, quando ela se d considerado crime inexistente por parte da pessoa contra quem se forjou o flagrante. Sendo o responsvel pela farsa um policial, este pode responder por crime de abuso de autoridade.

    Relatrio de Servio do Oficial CPU: ...A guarnio foi encaminhada Corregedoria da Polcia Militar para prestar esclarecimentos sobre situao captada por cmera de vdeo instalada na frente de uma discoteca com imagens mostrando que, no momento em que os policiais abordavam um suspeito de furtar um veculo nas proximidades do estabelecimento, inseriram em seu bolso esquerdo diversas buchas de maconha para em seguida darem-lhe voz de priso por trfico de drogas e conduzirem-no DP onde foi autuado ilegalmente. Os policiais confessaram o fato e disseram ainda que faziam segurana particular nos dias de folga no Shopping que fica ao lado da discoteca e tinham informaes que indicavam o conduzido como principal suspeito de furtos de veculos no local e, como no conseguiam prende-lo em flagrante, resolveram forjar a situao. Os citados policiais foram autuados em flagrante pelo Oficial de Planto da Corregedoria e, posteriormente, encaminhados ao presdio militar.

    d) Flagrante em crime de ao penal privada ou em ao penal pblica condicionada: a priso em flagrante, em regra, possvel em todas infraes penais, at mesmo nas de ao penal privada e