Economia e Política no Turismo

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O turismo alcançou um lugar cimeiro na economia mundial e é uma das atividades com maior potencial de crescimento e da criação de emprego estimando-se em 18,6 mil o número de postos de trabalho que criará, diariamente, em todo o mundo, nos próximos 10 anos. À medida que foi (e vai) abrangendo uma mais vasta multiplicidade de atividades e influenciando muitas mais, transformou-se numa “economia turística” que se vai tornando cada vez mais complexa. A compreensão dos fenómenos que orientam e dirigem o seu desenvolvimento, o conhecimento dos efeitos que provoca não só a nível económico e social mas também ambiental e cultural e a aquisição de capacidades que permitam atuar eficazmente num mundo em permanente mudança são condições essenciais para garantir o seu desenvolvimento equilibrado e sustentável. São-no, porém, particularmente relevantes para Portugal onde a economia turística assume reconhecidamente o papel de dimensão estratégica de desenvolvimento.

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Índice Geral

Prefácio......................................................................................................................... XI

Prólogo à 1.ª Edição..................................................................................................... XIII

Prólogo à Versão de 2006............................................................................................. XVII

Sobre o Autor................................................................................................................XVIII

Lista de Siglas Utilizadas............................................................................................. XIX

Capítulo 1 – Introdução............................................................................................... 11.1. Turismo:.Problemas.de.Definição........................................................................ 1

1.1.1. Conceitos.de.Lazer,.Recreio.e.Turismo..................................................... 11.1.2. Definição.de.Turista.................................................................................. 10

1.2. Questões.Epistemológicas.................................................................................... 121.3. Âmbito.da.Economia.do.Turismo......................................................................... 18

Capítulo 2 – O Turismo no Mundo............................................................................. 212.1. Evolução.do.Turismo.e.Suas.Características........................................................ 21

2.1.1. Idade.Clássica.ou.Primitiva....................................................................... 222.1.2. Idade.Moderna........................................................................................... 262.1.3. Idade.Contemporânea................................................................................ 30

2.1.3.1. Características.da.Evolução.do.Turismo.na.Idade.. Contemporânea........................................................................... 38

2.2. Perspetivas.de.Evolução.do.Turismo.................................................................... 402.3. O.Turismo.na.Economia.Mundial........................................................................ 482.4. O.Turismo.em.Portugal......................................................................................... 58

2.4.1. Etapas.de.Desenvolvimento.do.Turismo.Português.................................. 592.4.1.1. Primeira.Etapa:.1900.a.1950..Infância........................................ 592.4.1.2. Segunda.Etapa:.1950.a.1963..Adolescência............................... 622.4.1.3. Terceira.Etapa:.1963.a.1973..Maioridade................................... 662.4.1.4. Quarta.Etapa:.1974.a.2000..Maturidade..................................... 68

2.4.2. Evolução.Recente...................................................................................... 782.4.3. Distribuição.Espacial.do.Turismo.Português............................................ 812.4.4. Posição.do.Turismo.Português.no.Turismo.Mundial................................ 84

Capítulo 3 – Motivações Turísticas............................................................................. 873.1. Conceito.de.Motivação......................................................................................... 873.2. Teorias.das.Motivações......................................................................................... 90

3.2.1. Teorias.do.Conteúdo.................................................................................. 90

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Economia e Política do TurismoEconomia e Política do Turismo

3.3. Importância.do.Estudo.das.Motivações................................................................ 933.4. Teorias.das.Motivações.Turísticas:.Métodos.de.Avaliação.................................. 96

3.4.1. Dicotomia.Evasão/Descoberta.................................................................. 963.4.2. Modelo.das.Necessidades.de.Viagens....................................................... 973.4.3. Modelo.dos.Fatores.push.e.pull.de.Crompton........................................... 1003.4.4. Abordagem.Funcional............................................................................... 1023.4.5. Aplicações.da.Teoria.de.Herzberg............................................................. 103

3.5. Perfis.Psicográficos............................................................................................... 1053.6. Consequências.do.Estudo.das.Motivações.para.os.Destinos..................................... . 110Anexo.I..Estudo.de.Caso:.As.Motivações.dos.Turistas.que.Visitam.Portugal.............. 114

Capítulo 4 – A Procura Turística................................................................................ 1234.1. Noção.e.Formação.da.Procura.Turística............................................................... 1234.2. Utilidade.Turística................................................................................................ 1324.3. Elasticidades.da.Procura.Turística........................................................................ 1364.4. Consumo.Turístico................................................................................................ 144

4.4.1. Classificação.do.Consumo.Turístico.em.Função.da.Origem.dos.. Visitantes................................................................................................... 1464.4.2. Função.do.Consumo.Turístico................................................................... 147

4.5. Determinantes.da.Procura.Global.(macrodeterminantes)....................................... . 1524.5.1. Determinantes.Estruturais......................................................................... 1524.5.2. Determinantes.Conjunturais...................................................................... 1674.5.3. Fatores.Psicossociológicos........................................................................ 171

Capítulo 5 – A Oferta Turística................................................................................... 1755.1. Noção,.Características.e.Classificação................................................................. 1755.2. Destinos.Turísticos............................................................................................... 1805.3. Produtos.Turísticos............................................................................................... 187

5.3.1. Principais.Produtos.Turísticos................................................................... 1925.3.1.1. Sol.e.Mar..................................................................................... 1935.3.1.2. Golfe........................................................................................... 1945.3.1.3. Turismo.de.Saúde.e.Bem-estar................................................... 1975.3.1.4. Turismo.de.Natureza:.Ecoturismo.............................................. 2055.3.1.5. Turismo.Desportivo.................................................................... 2105.3.1.6. Turismo.no.Espaço.Rural............................................................ 2125.3.1.7. Turismo.de.Negócios.................................................................. 2165.3.1.8. Turismo.Religioso....................................................................... 2195.3.1.9. Turismo.Cultural......................................................................... 2215.3.1.10.Turismo.Residencial................................................................... 226

Índice GeralÍndice Geral

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5.3.2. Estratégia.de.Desenvolvimento.Baseada.em.Produtos.Turísticos............. 2295.4. Função.da.Produção.Turística............................................................................... 2325.5. Elasticidade.da.Oferta.Turística............................................................................ 235

Capítulo 6 – O Mercado Turístico.............................................................................. 2416.1. Conceito.e.Caracterização.do.Mercado.Turístico................................................. 2416.2. Elementos.Básicos.do.Mercado.Turístico............................................................ 2456.3. Desequilíbrios.do.Mercado................................................................................... 248

6.3.1. Fatores.Estruturais.de.Desequilíbrio......................................................... 2496.3.2. Fatores.Conjunturais.de.Desequilíbrio...................................................... 264

6.4. A.Questão.dos.Preços.em.Turismo....................................................................... 2656.4.1. Determinação.dos.Preços.......................................................................... 273

6.5. Efeitos.do.Lançamento.de.um.Imposto................................................................ 276

Capítulo 7 – Teorias Justificativas e Competitividade do Turismo Internacional.... 2797.1. Introdução............................................................................................................. 2797.2. Vantagens.Comparativas....................................................................................... 2807.3. Teoria.das.Dotações.Fatoriais............................................................................... 2837.4. Teoria.das.Vantagens.Competitivas...................................................................... 287

7.4.1. Aplicação.ao.Turismo................................................................................ 2907.5. Procura.Interna..................................................................................................... 2927.6. Utilidade.das.Diferentes.Teorias........................................................................... 2937.7. Competitividade.dos.Destinos.Turísticos............................................................. 294

Capítulo 8 – Efeitos Económicos do Turismo............................................................ 3018.1. Delimitação.do.Turismo.como.Fenómeno.Económico........................................ 301

8.1.1. Identificação.das.Atividades.Turísticas..................................................... 3018.1.2. Enquadramento.do.Turismo.na.Atividade.Económica.............................. 306

8.2. Integração.do.Turismo.na.Política.Económica.Global......................................... 3098.3. Classificação.e.Identificação.dos.Efeitos.Económicos.do.Turismo...................... 3148.4. Efeitos.Sobre.a.Estratégia.do.Desenvolvimento................................................... 3218.5. Efeitos.Sobre.a.Produção...................................................................................... 327

8.5.1. Multiplicador.Turístico.............................................................................. 3348.5.2. Quadro.das.Relações.Intersetoriais:.A.Análise.Input-Output................... 3418.5.3. Análise.Estrutural...................................................................................... 3498.5.4. Análise.do.Custo-Benefício...................................................................... 352

8.6. Efeitos.Resultantes.dos.Investimentos.Turísticos................................................. 3538.7. Efeitos.Sobre.o.Emprego...................................................................................... 3558.8. Efeitos.Sobre.a.Balança.de.Pagamentos............................................................... 3638.9. Efeitos.Sobre.os.Preços........................................................................................ 375

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Economia e Política do TurismoEconomia e Política do Turismo

8.10. Efeitos.Sobre.as.Receitas.Fiscais.......................................................................... 3788.11. Efeitos.Sobre.o.Desenvolvimento.Regional......................................................... 3798.12. .Efeitos.Sobre.o.Consumo.e.Sobre.os.Comportamentos.Sociais........................... 3858.13. Efeitos.Sobre.a.Pobreza........................................................................................ 3868.14. Efeitos.Económicos.Externos............................................................................... 392Anexo.1.......................................................................................................................... 395Anexo.2.......................................................................................................................... 397

Capítulo 9 – Turismo Sustentável: Avaliação Económica dos Recursos Turísticos.. 3999.1. Turismo.Sustentável............................................................................................. 3999.2. Necessidade.de.Avaliação.dos.Recursos.Turísticos.............................................. 4049.3. Técnicas.de.Avaliação.Económica........................................................................ 407

9.3.1. Método.do.Custo.do.Trajeto...................................................................... 4089.3.2. Método.dos.Preços.Hedonísticos.............................................................. 4129.3.3. Método.da.Avaliação.Contingente............................................................ 414

9.4. Análise.das.Preferências.dos.Utilizadores............................................................ 416

Capítulo 10 – Conta Satélite do Turismo................................................................... 42110.1. Antecedentes......................................................................................................... 42110.2. Objetivos.e.Princípios.Básicos............................................................................. 42310.3. Procedimentos.para.a.Obtenção.da.CST.............................................................. 425

10.3.1.Abordagem.da.Procura.............................................................................. 42610.3.2.Abordagem.da.Oferta................................................................................ 42910.3.3.Principais.Agregados................................................................................. 430

10.4. Utilização.da.CST................................................................................................. 43210.5. Conta.Satélite.do.Turismo.do.Mundo................................................................... 434

Referências Bibliográficas........................................................................................... 437

Cronologia das Grandes Migrações, Viagens e Realizações com Influência no Turismo......................................................................................................................... 451

Índice Remissivo.......................................................................................................... 457

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Prefácio

O.turismo.é,.em.Portugal,.e.em.vários.outros.países,.um.dos.mais.relevantes.setores.da.atividade.económica..A.sua.contribuição.para.a.criação.de.riqueza.e.melhoria.do.bem-estar.dos.cidadãos. faz-se.sentir.de.múltiplas. formas..Pela.produção.e.emprego.que.cria,.pelo.investimento.e.inovação.que.promove,.pelo.desenvolvimento.de.infraestruturas.coletivas.que.estimula,.pela.preservação.do.ambiente.e.recuperação.do.património.histórico.e.cul-tural.que.favorece,.pelas.oportunidades.de.desenvolvimento.regional.que.representa,.pelas.necessidades.dos.indivíduos.que.satisfaz..Poucos.outros.setores.de.atividade.penetram.e.interagem.em.domínios.tão.diversos.da.sociedade.Em.Portugal,.o.setor.conheceu.um.forte.crescimento.nas.duas.últimas.décadas.e.a.produção.a.ele.associada.coloca-o.entre.os.mais.importantes.da.economia.nacional.No.entanto,.o.turismo.surge.ainda.como.uma.atividade.subalterna,.mal.conhecida.e.mal.interpretada.e.objeto.de.pouca.atenção.política..Para.uns,.o.setor.parece.resumir-se.às.recei-tas.e.despesas.turísticas.da.balança.de.pagamentos.ou.ao.número.de.dormidas.na.hotelaria..Para.outros,.o.setor.é.associado,.acima.de.tudo,.a.desordenamento.urbanístico,.a.agressões.ao.meio.ambiente,.a.sobrelotação.de.algumas.estradas.no.verão.ou.a.má.qualidade.do.sa-neamento.básico.em.certas.localidades..A.verdadeira.importância.do.turismo.na.produção.nacional.e.o.seu.contributo.para.o.nível.e.qualidade.de.vida.das.populações.parece.merecer.pouca.atenção.Por.outro.lado,.o. turismo.não.tem.suscitado.muito.interesse.da.parte.dos.investigadores.das. ciências. sociais,. predominando. as. análises. superficiais. e.meramente.descritivas..As.medidas.de.política.surgem.pouco.fundamentadas.e.muitas.são.incoerentes.entre.si.e.desin-seridas.de.uma.estratégia.global.de.desenvolvimento.Os.ensinamentos.da.teoria.económica.são.geralmente.ignorados,.quer.por.analistas.quer.por.decisores.políticos.Daí.o.interesse.e.a.oportunidade.deste.livro.sobre.Economia.e.Política.do.Turismo..O.seu.autor.tem.não.só.uma.experiência.única.no.setor,.em.particular.na.área.das.políticas,.tendo.desempenhado.o.cargo.de.Secretário.de.Estado.do.Turismo.durante.vários.anos,.como.é.também.um.estudioso.profundo.das.questões.económicas.do.turismo..Movido.pela.preocu-pação.de.rigor.analítico,.tem.desenvolvido.um.esforço.meritório.para.fundamentar.as.suas.conclusões,.recorrendo.aos.ensinamentos.da.teoria.económica.Empenhado.em.criar.uma.consciência.coletiva.favorável.ao.turismo,.o.Dr..Licínio.Cunha.chama. a. atenção. para. a. necessidade. de. encará-lo. como. uma. atividade. económica. com.identidade.própria.e.não.apenas.como.uma.dimensão.de.outros.setores.que.produzem.bens.e.serviços.que.podem.ser.qualificados.de.turísticos.O. livro.cobre.as.questões.essenciais.da.economia.e.política.do. turismo.e.é.um.auxiliar.precioso.para.o.leitor.interessado.na.matéria.precisar.conceitos.e.indicadores,.conhecer.o.

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Economia e Política do TurismoEconomia e Política do Turismo

desenvolvimento.do.turismo.português,.debruçar-se.sobre.a.procura.e.a.oferta.turística.e.os.seus.determinantes,.estudar.o.funcionamento.do.mercado.turístico,.abordar.a.questão.dos.efeitos.económicos.do.turismo.e,.ainda,.familiarizar-se.com.algumas.técnicas.de.avaliação.dos.recursos.turísticos.e.obter.uma.perspetiva.internacional.de.política.de.turismo.A.publicação.de.um.livro.como.este,.que.oferece.uma.base.séria.para.o.estudo.das.questões.relevantes,.é.mais.um.contributo.do.Dr..Licínio.Cunha.para.o.desenvolvimento.do.turismo.nacional..Com.o.seu.estudo.serão.menores.os.riscos.de.se.cometerem.erros.graves.na.abor-dagem.dos.problemas.que.o.turismo.português.enfrenta,.como.a.sazonalidade,.a.queda.da.receita.por.turista,.os.desvios.da.procura,.ou.a.inadequação.da.oferta,.e.serão.maiores.as.possibilidades.de.se.pensar.corretamente.o.futuro.do.setor.

Aníbal Cavaco Silva

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Prólogo à 1.ª Edição

«Pouco.importa.conhecer.o.grau.de.erro.das.nossas.atuais.teorias.se.formos.honestos.e.cuidadosos.nas.nossas.observações.»

Lord.Beveridge(citado.por.Lipsey.em Introdução à Economia Positiva)

Apesar.de.o.turismo.se.ter.transformado,.neste.final.de.século,.numa.das.atividades.eco-nómicas.mais. pujantes. da. nossa. época. e. se. ter. estendido. a. todos. os. cantos. do.mundo,.continua.a.ser.encarado.com.grande.displicência.por.parte.de.largos.setores.de.opinião.e.a.não.merecer.dos.poderes.políticos.a.atenção.e.os.cuidados.que.a.sua.importância.e.a.sua.dimensão.exigem.Não.só.é.raro.encontrar.nas.políticas.económicas.referências.explícitas.ao.turismo,.mesmo.quando.se.justificaria.que.por.elas.fosse.eleito.como.fator.estratégico.de.desenvolvimento,.como.também.são.escassas.as.manifestações.de.real.interesse.nos.debates.ou.nas.tomadas.de.posição.política,.mesmo.quando.a.atividade.atravessa.períodos.de.maior.dificuldade.Não.é.de.estranhar,.por. isso,.que.uma.das.grandes.preocupações.daqueles.que.dedicam.maior.atenção.às.questões.que.lhe.respeitam,.por.razões.profissionais.ou.por.simples.in-teresse. intelectual. ou. afetivo,. seja. a. de. lutar. pelo. reconhecimento. político. do. setor. por.considerarem.que,.nesta.questão,.reside.uma.das.suas.maiores.fraquezas,.constituindo,.ao.mesmo.tempo,.um.forte.constrangimento.ao.seu.desenvolvimento.Ainda. não. há.muitos. anos,. o. secretário-geral. da.Organização.Mundial. de.Turismo,. de-frontado.com.as.dificuldades.resultantes.desta.falta.de.reconhecimento,.lançava.a.patética.interrogação:.«que.outra.atividade,. em.vias.de. se. tornar.a. indústria.mais. importante.do.mundo,.é.tomada.menos.a.sério.a.nível.político.e.privado,.nacional.e.internacional,.como.é.o.turismo?»,.o.que.traduz.a.perplexidade.geralmente.sentida.perante.a.quase.indiferença.do. poder. político..Mais. recentemente,. o. Parlamento.Europeu. e. o.Comité.Económico. e.Social.das.Comunidades.Europeias. têm.vindo.a.reclamar,. insistente.e.sistematicamente,.o.expresso.reconhecimento.político.do.setor.como.condição.para.o.seu.desenvolvimento.equilibrado.e.consonante.com.as.respostas.que.tem.de.dar.aos.anseios.do.homem,.mas.sem.resultados.satisfatórios.A.importância.atribuída.ao.turismo,.em.muitos.casos,.é.mera.consequência.da.abordagem.horizontal.que.parte.do.princípio.que,.dadas.as.inter-relações.e.interdependências.que.es-tabelece.com.uma.vasta.gama.de.setores.da.atividade,.é.em.relação.a.eles.que.se.justificam.ações.concretas.para.garantir.o.desenvolvimento.do.turismo..Segundo.esta.abordagem,.o.sucesso.do.turismo.garante-se.através.da.atribuição.de.uma.dimensão.turística.aos.transpor-tes,.ao.desenvolvimento.regional,.às.infraestruturas,.ao.ambiente.ou.à.cultura.

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Economia e Política do TurismoEconomia e Política do Turismo

Não.é.dada.ênfase.particular.ao.turismo.mas.sim.às.atividades.que.lhe.servem.de.suporte.em.virtude.de.não.ser.considerado.como.um.setor.de.atividade:.deste.ponto.de.vista,.o.tu-rismo.não.existe.como.atividade.económica.autónoma;.o.que.existem.são.atividades.que.produzem.bens.e.serviços.consumidos.pelos.turistas.O.excessivo.recurso.à.abordagem horizontal.no.tratamento.das.questões.do.turismo.e.a.ênfase.que.lhe.é.atribuída.nas.políticas.que.visam.o.desenvolvimento.turístico,.originam.a.sua.subalternização.e.aumentam.a.dificuldade.em.consagrar.uma.perspetiva.do.turismo.como.atividade.com.identidade.própria.que.não.se.limita.à.produção.de.bens.e.serviços.mas,.antes,.a.dar.resposta.às.necessidades.do.homem.na.sua.total.integralidade..A.aborda-gem.horizontal.permite.reforçar.a.dimensão.turística.das.atividades.com.que.o.turismo.se.relaciona.mas. limita.o.reconhecimento.das.suas.verdadeiras.dimensões,.quer.elas.sejam.económicas,.sociais,.políticas.ou.culturais.As.razões.explicativas.do.tratamento.político.que.tem.sido.dado.ao.turismo.radicam,.prin-cipalmente,.na.juventude.do.seu.desenvolvimento.e.no.desconhecimento.dos.seus.efeitos.económicos.e.sociais..Para.muitos,.o.turismo.ainda.tem.o.significado.que.a.indústria.tinha.para.os.fisiocratas.do.século.xviii,.provavelmente.por.razões.idênticas.De.facto,.o.turismo,.como.atividade.económica.estruturada,.é.posterior.à.Segunda.Guerra.Mundial.e.só.alcançou.dimensão.universal.a.partir.da.década.de.60.e,.ainda.assim,.na.pers-petiva.apenas.do.turismo.internacional.em.virtude.das.expetativas.que.criou.como.gerador.de.divisas..O.efeito. a.que. se. atribuiu.maior. importância. foi. o.da. sua. contribuição.para.atenuar.os.défices.da.balança.comercial.dos.países.com.dificuldades.na.respetiva.balança.de.pagamentos.e,.ainda.hoje,.o.indicador.mais.utilizado.para.avaliar.a.sua.importância.eco-nómica.resulta.da.comparação.entre.as.receitas.externas.que.gera.e.o.produto.interno.bruto.A.sua.juventude.é. também.razão.do.seu.desconhecimento,.não.só.no.que.respeita.à.sua.importância,.mas.também.no.que.respeita.aos.seus.múltiplos.e.variados.efeitos..Na.maior.parte.dos.países.desconhece-se.a.sua.participação.na.formação.do.produto.interno,.não.se.sabe.quantas.pessoas.emprega.e.não.se.determinam.os.investimentos.que.nele.são.realiza-dos..Mesmo.a.nível.comunitário,.as.instituições.da.União.Europeia.afirmam,.há.dez.anos.consecutivos,.que.o.turismo.representa.5,5%.do.respetivo.PIB,.quando.o.número.de.países-.-membros.se.alterou,.entretanto,.e.como.se.fosse.possível.que.uma.atividade.mantivesse,.sem.alteração,.o.mesmo.peso.económico.durante.dez.anos!As.avaliações.no.domínio.do.turismo.não.são.fáceis.nem.pacíficas.em.virtude,.por.um.lado,.da.inexistência.de.uma.metodologia.própria.e,.por.outro,.de.não.ser.possível.delimitar.o.turismo.como.um.setor.produtivo.da.atividade.económica.já.que.é.o.ato.de.consumo.que.define.uma.produção.como.turística..Também.a.determinação.dos.seus.efeitos.se.defronta.com. inúmeras. dificuldades. por. se. estenderem. a. domínios.muito. vastos. e. obrigarem. ao.recurso.a.uma.multiplicidade.de.disciplinas:.história,.sociologia,.economia,.antropologia,.etnografia,.psicologia.e.geografia,.entre.outras.

Prólogo à 1.ª EdiçãoPrólogo à 1.ª Edição

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Às.dificuldades.de.análise.inerentes.ao.turismo.junta-se,.também,.a.inexistência.de.investi-gação.sistemática,.salvo.louváveis.e,.felizmente,.muito.significativas.exceções,.que.come-çam.a.dar.os.seus.frutos.e.de.cujos.resultados.nos.socorremos.como.se.dá.conta.ao.longo.deste.livro..A.preocupação.de.análise.aprofundada.do.turismo.só.existe.em.poucos.países.e.são.raras.as.instituições.que.lhe.dedicam.uma.atenção.permanente..As.próprias.escolas,.que.constituem.a.fonte.de.irradiação.do.conhecimento,.limitam-se,.na.generalidade.dos.casos,.à.mera.divulgação.de.conceitos.sem.procederem.à.investigação.Neste.contexto,.a.publicação.deste.livro.visa.contribuir.para.uma.maior.divulgação.da.im-portância.do.turismo.e.dos.instrumentos.de.análise.mais.apropriados.ao.seu.conhecimento..É.o.produto.de.uma. longa.vivência.com.os.problemas.e.da.pesquisa.efetuada.por.puro.prazer.A.vivência. com.os. problemas. do. turismo. e. o. exercício. de. responsabilidades. em.várias.áreas.que.lhe.respeitam,.principalmente.a.política,.deixaram-me.a.convicção.de.que.sem.a.criação.de.uma.consciência.coletiva,.assente.no.conhecimento.aprofundado.e.com.bases.científicas,.favorável.ao.turismo,.este.terá.sempre.sérias.dificuldades.em.se.impor.como.atividade.de.corpo.inteiro.O.turismo.é,.quase.sempre,.olhado.como.uma.atividade.de.mero.prazer,.de.festa,.de.diver-timento.onde.não.há.lugar.para.o.suor,.para.o.sacrifício.e.para.o.trabalho.e.esta.perspetiva.faz.relegá-lo.para.plano.secundário,.quando.não,.desprezível.Foi.a.preocupação.em.contribuir.para.a.criação.dessa.consciência.coletiva.que.me.instigou.a.escrever.este.livro.Os. temas. tratados. refletem. a. preocupação. em. evidenciar. alguns. dos. aspetos.menos. di-vulgados,.mas.necessários.ao.cabal.conhecimento.do.turismo,.ou.em.relação.aos.quais.se.continuam.a.fazer.interpretações.erróneas.e.segundo.uma.perspetiva.que.acaba.por.lhe.ser.nefasta.São.exemplos.deste.caso.o.próprio.conceito.de.«turismo».e.a.evidência.dada.à.qualidade.que,.insistentemente,.continua.a.ser.encarada.na.ótica.da.participação.nas.viagens.das.clas-ses.mais.abastadas,.em.contraponto.ao.turismo.de.massas,.esquecendo-se.que.uma.coisa.é.a.massificação.da.oferta.e.outra,.bem.diferente,.o.turismo.de.massas.que.resulta.da.(desejá-vel).democratização.das.viagens.Incluem-se,.no.primeiro.caso,.temas.como.os.efeitos.económicos.do.turismo.e.a.avaliação.económica.dos.recursos.turísticos.que,.contudo,.não.se.aprofundam.Tratando-se.de.um.livro.que.se.pretende.que.possa.servir.de.base.de.estudo,.mas.também.de.divulgação,.o.aprofundamento.destas.questões.torná-lo-ia.de.difícil.leitura,.sobretudo,.para.aqueles.que.não.dominam.as.questões.económicas.Muitos.esperariam.que.fizesse.uma.análise.crítica.do.turismo.português.e.dos.problemas.com.que.se.defronta.mas.tal.escaparia.ao.âmbito.deste.trabalho..Espero.poder.fazê-lo.nou-tra.oportunidade.

XVIXVI

Economia e Política do TurismoEconomia e Política do Turismo

Tenho.consciência.das.limitações.e.insuficiências.do.texto.e.hesitei.muito.em.publicá-lo,.mas.optei.por.aproveitar.uma.oportunidade.que.não.sei.se.voltaria.a.repetir-se..Faço-o.em.nome.do.muito.que.devo.ao.turismo,.que.me.proporcionou.uma.forma.rica.de.realização.pessoal,.e.em.nome.do.muito.que.gostaria.de.contribuir.para.o.seu.desenvolvimento.em.plenitude.

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Prólogo à Versão de 2006

Após.a.redação.da.primeira.versão.deste.livro,.há.dez.anos,.não.só.o.turismo.sofreu.grandes.transformações.como.também.o.seu.conhecimento.se.aprofundou.e.alargou.significativa-mente.Nos.últimos.dez.anos.alteraram-se.as.conceções.de.desenvolvimento.turístico.que.passa-ram.a.ter.como.referência.e.valores.fundamentais.a.sustentabilidade,.a.qualidade,.a.diferen-ciação.e.a.diversificação;.assistiu-se.a.uma.vasta.emergência.de.novos.destinos.em.todas.as.regiões.do.planeta.que.introduzem.novas.condições.de.concorrência;.criaram-se.novas.modalidades.de.oferta.com.base.em.recursos.artificiais;.assistiu-se.a.um.amplo.movimento.de.reorganização.empresarial.dando.origem.a.grandes.grupos.empresariais.com.interven-ção. simultânea.na.produção.e.na.organização.dos.mercados;. surgiram.novas. formas.de.exploração.do.transporte.aéreo.(baixo.custo).que.deram.origem.a.novas.clientelas.e.a.no-vos.destinos;.os.consumidores.turísticos.passaram.a.dispor.de.mais.e.melhor.informação,.tornando-se.mais.experientes.e.mais.exigentes.(Cunha,.2003).Todo.este.vasto.conjunto.de.fatores.de.mudança.deu.origem.a.novas.relações.económicas.e.empresariais,.expandiram.o.turismo.e.alargaram.a.sua.base.económica:.as.fronteiras.da.economia.turística.passaram.a.abranger.novos.territórios,.novas.atividades,.novas.profis-sões.e.novos.atores.Por.sua.vez,.o.aumento.da.investigação,.a.introdução.generalizada.do.ensino.turístico.nas.universidades,.o.tratamento.científico.do.turismo.no.âmbito.mais.vasto.de.outras.áreas.do.saber.e.as.preocupações.das.organizações.internacionais.e.dos.governos.relativos.à.recolha.e.tratamento.de.dados.mais.rigorosos,.proporcionam.e.garantem.um.melhor.estudo.e.co-nhecimento.do.turismo..O.«estado.da.arte».do.turismo.é.hoje.muito.mais.amplo.e.aprofun-dado.do.que.há.dez.anos.e.sê-lo-á.mais.ainda.nos.próximos.anos..O.turismo.transformou-se.numa.preocupação.do.saber.em.todo.o.mundo.e.emergem.centros.de. investigação,.com.grande.e.valiosa.produção.científica,.em.países.que.só.recentemente.passaram.a.ser.desti-nos.turísticos.relevantes.Por.todas.estas.razões,.o.texto.publicado.há.dez.anos.perdeu.a.atualidade.e.já.não.está.adap-tado.às.novas.realidades.nem.aos.novos.conhecimentos.e.daí.que.tenha.optado.por.uma.revisão.mais.vasta.em.vez.de.apenas.uma.segunda.edição.Com. efeito,. a. atual. versão. altera. significativamente. o. texto. anterior. e. introduz. novas.matérias.à.luz.da.evolução.dos.conhecimentos,.entretanto.ocorrida..Embora.o.texto.não.contemple.particularmente.o.turismo.português.mas.pretenda,.pelo.contrário,.aplicar-se.ao.turismo.em.geral,.independentemente.das.coordenadas.geográficas,.é.natural.que.in-cida.em.muitos.aspetos.sobre.o.caso.português,.sobretudo,.quando.é.necessário.recorrer.a.certos.exemplos.

XVIIIXVIII

Economia e Política do TurismoEconomia e Política do Turismo

De.qualquer.modo.tive.sempre.presente.a.evolução.do.turismo.em.Portugal,.em.especial,.nos.aspetos.da.qualidade,.sustentabilidade.e.competitividade.para.que.não.se.repita.que.«na.região.do.Algarve,.em.Portugal,.o.desenvolvimento.contido.do.turismo.foi.por.água.abaixo.quando.todas.as.aldeias.ao.longo.dessa.deliciosa.costa.reivindicaram.a.chegada.de.tratores.para.soterrar.sobre.a.areia.as.casas.existentes.e.substituí-las.por.cidades.feitas.de.betão».(Swinglehurst,.Turismo Global,.2001).que,.aliás,.constitui.uma.apreciação.benigna.É.um.caso.que.deveria.servir.de.exemplo.a.outros.destinos.portugueses,.ou.não.

Sobre o Autor

Licínio.Cunha.é.Economista.e.Professor.Catedrático.Convidado.da.Universidade.Lusófo-na,.onde.dirige.o.Departamento.de.Turismo,.que.criou..Apesar.de.ter.desenvolvido.a.maior.parte.da.sua.atividade.profissional.no.setor.bancário,.tendo.sido.administrador.de.dois.dos.maiores.bancos.portugueses.da.época,.há.muito.que.se.interessou.pelo.turismo,.atividade.a.que.dedicou.uma.parte.importante.da.sua.vida.desde.o.início.da.década.de.60.do.século.xx,.altura.em.que.ingressou.nos.quadros.da.então.Direção.de.Serviços.de.Turismo.(depois.Direção-Geral.do.Turismo)..Assim,.desempenhou.vários.cargos.na.área.do.turismo,.tendo.sido,.a.nível.político,.Secretário.de.Estado.do.Turismo.nos.IV,.V,.X.e.XI.Governos.Cons-titucionais..A. nível. internacional,. foi. Presidente. da.Comissão.Económica. da. Federação.Internacional.de.Termalismo.e.Climatismo.e.membro.do.Comité.Económico.e.Social.das.Comunidades.Europeias.e,.a.nível.empresarial,.foi.administrador.de.várias.empresas.turís-ticas:.ENATUR.(de.que.foi.fundador),.Lusotur,.Marinoteis,.principalmente.

Outras obras do autor

Introdução ao Turismo.–.5ª.edição..Lidel.(no.prelo)O Turismo em Portugal: Sucessos e Insucessos..Edições.Universitárias.Lusófonas,.2012.Perspectivas e Tendências do Turismo..Edições.Universitárias.Lusófonas,.2003O Turismo na Economia Contemporânea,.in.Portugal Contemporâneo..INA,.1990Dicionário Comercial e Bancário..Banco.Pinto.&.Sotto.Mayor,.1973O Banco ao Alcance de Todos..Editorial.O.Século,.1972.

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Entre as condições humanas é comum a de gostar-se de movimentos e de mudança. Viajar parece-me útil porque o espírito terá nisso um contínuo exer-

cício ao encontrar coisas novas e desconhecidas.Montaigne.(Journal)

1.1 Turismo: Problemas de Definição

1.1.1 Conceitos de Lazer, Recreio e Turismo

Quando.falamos.de.turismo.é.preciso.saber.do.que.falamos,.a.que.realidade.nos.referimos,.o.que.e.quem.queremos.identificar..Apesar.da.extraordinária.dimensão.que.alcançou.e.de.fazer.parte.integrante.do.modo.de.vida.das.sociedades.contemporâneas,.e.apesar.de.toda.a.gente.usar.a.expressão.correntemente,.nem.sempre.as.pessoas.a.utilizam.com.o.mesmo.significado.e.nem.todas.as.que.a.ouvem.a.percebem.da.mesma.maneira..Para.uns.o.turismo.é.uma.coisa.muito.séria.porque.lhes.proporciona.emprego.e.rendimento.e.dele.dependem.as.suas.vidas;.para.outros,.é.sinónimo.de.diversão.para.ricos.e.ociosos..Para.quem.viaja.é.uma.forma.de.alcançar.satisfação.e.realização.pessoal,.mas.para.quem.tem.responsabilidades.políticas.é.um.meio.para.alcançar.bem-estar.social..Para.alguns.é.um.meio.de.invasão.das.suas.vidas.e.de.destruição.de.valores.que.fazem.parte.da.sua.identidade.mas,.para.muitos,.é.uma.forma.de.libertação.Umas.vezes,.abrangem-se.na.designação.de.turismo.só.aquelas.situações.e.atividades.que.proporcionam.prazer.e.diversão.a.quem.vem.de.fora.mas,.outras.vezes,. incluem-se.nela.uma.vastidão.de.situações.muito.diversificadas.mas.ligadas.entre.si.por.elementos.comuns..Por. vezes,. em. função. das. perspetivas. de. cada. um,. adotam-se. designações. na. tentativa,.quantas.vezes.falha.de.rigor,.de.«marcar.terreno».ou.«marcar.posição».mas.vazias.de.senti-do.(por.exemplo,.«turismo.residencial»),.e.até,.repugnantes.(«turismo.sexual»),.que.contri-buem.mais.para.o.descrédito.do.que.para.o.engrandecimento.de.uma.atividade.que.nasceu.estreitamente.ligada.ao.enriquecimento.e.valorização.da.pessoa.humana.

1Introdução

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Economia e Política do TurismoEconomia e Política do Turismo

Originalmente,.a.realização.das.viagens.de.que.nasceu.a.palavra.«turismo».ocorria.por.puro.prazer,.por.distração,.para.aprender.e.aumentar.os.conhecimentos.ou.por.mera.curiosidade,.recusando-se.a.inclusão.no.turismo.de.viagens.com.outros.fins:.as.viagens.turísticas.eram.aquelas.que.se.enquadravam.nas.noções.de.tempo.livre.e.de.ociosidade.com.recusa.de.ou-tras..«O.turismo.rigorosamente.consiste.nas.viagens.por.mero.prazer,.que.se.fazem.com.fim.exclusivo.de.gozar.os.encantos.dos.países.que.se.visitam»,.dizia-se.(Ataíde,.1934/1936).O.turismo.deriva.da.noção.de.tempo.livre.que.«é.o.tempo.não.consagrado.ao.trabalho.e.que.é.um.fenómeno.socioeconómico.historicamente.diferenciado.tendo.uma.relação.direta.com.os.lazeres».(ONU,.1988).Coloca-se,.contudo,.a.necessidade.de.formular.um.conceito.de.lazer.já.que.este,.embora.tenha.relação.direta.com.o.tempo.livre,.não.tem.a.mesma.amplitude.Chic.(1998).identifica.três.maneiras.de.conceptualização.do.lazer:.uma,.segundo.a.qual,.o.lazer.é.encarado.como.tempo.livre.ou.não.obrigatório;.na.segunda,.o.lazer.como.atividade.à.parte.das.obrigações.tais.como.o.trabalho.ou.a.família,.e,.a.terceira,.segundo.a.qual.o.lazer.é.considerado.com.um.uso.subjetivo,.um.estado.mental.ou.uma.condição.definida.pelos.indivíduos.como.lazer.As.diferenças.entre.estas.conceções,.mais.do.que.esclarecer,.dificultam.a.compreensão.do.âmbito.do.lazer.e.impossibilitam.o.seu.uso.para.fins.úteis.tal.como.encontrar.formas.para.responder.às.necessidades.pessoais.derivadas.do.lazer.Por.isso,.parece.mais.adequada.a.definição.de.Dumazedier.(1988).para.quem.o.lazer.«é.a.atividade.à.qual.as.pessoas.se.entregam.livremente,.fora.das.suas.necessidades.e.obrigações.profissionais,.familiares.e.sociais,.para.se.descontrair,.divertir,.aumentar.os.seus.conheci-mentos.e.a.sua.espontânea.participação.social,.livre.exercício.e.capacidade.criativa».Segundo.esta.definição,.o. lazer.comporta. três.dimensões:.a.descontração.(descanso),.ou.seja,. a. procura.de. repouso,. libertação.das.preocupações. e. constrangimentos;. a. diversão.com.o.fim.de.esquecer,.por.momentos,.a.vida.quotidiana,.entregar-se.a.atividades.que.im-pliquem.uma.rotura.com.o.quadro.de.vida.habitual;.desenvolvimento.(aumentar.os.conhe-cimentos),.consistindo.no.exercício.de.atividades.que.permitam.ao.indivíduo.afirmar-se,.expressar.talentos.ou.exprimir-se:.pintar,.desportos,.jardinagem,.visitar.monumentos,.ouvir.música.(Amirou,.2007).Deste.modo,.o.lazer.é.o.tempo.de.que.cada.pessoa.dispõe.após.o.seu.trabalho.e.estudo,.dormir.e.a.realização.de.outras.necessidades.básicas.como.a.alimentação,.as.compras,.os.cuidados.com.os.membros.da.família,.a.higiene.e.a.realização.dos.trabalhos.caseiros,.que.constituem.as.suas.obrigações.profissionais,.familiares.e.sociais..Todas.as.atividades.que.impliquem.uma.obrigação.ou.resultem.de.uma.razão.de.caráter.compulsivo,.qualquer.que.seja.a.sua.natureza,.não.fazem.parte.do.lazer.O.tempo.de. lazer.não.significa. inação.e,.em.regra,.é.um.tempo.de.ocupação.com.ativi-dades. de. livre. escolha. dos. indivíduos,. «tendo. por. objetivo. restaurar. o. bem-estar. físico.e.psicológico,.favorecer.o.desenvolvimento.pessoal.e.enriquecer.o.potencial.intelectual».

IntroduçãoIntrodução

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(ONU,.1988)..No.entanto,.Rojek.(2005).distingue.duas.formas.distintas.de.lazer:.uma,.o.lazer.sério,.que.envolve.benefícios.duradouros.tais.como.autoenriquecimento,.melhoria.da.autoimagem.e.intensificação.da.solidariedade.e,.outra,.o.lazer.superficial,.focalizando-se.no.hedonismo,.no.estímulo.sensorial.como.fontes.intrínsecas.de.satisfação.(«matar.o.tempo»,.olhar.as.montras,.beber,.jogos.de.sorte)..O.tempo.de.lazer.é,.geralmente,.um.tempo.ocu-pado.como.forma.de.distração,.evasão,.divertimento.ou.do.desenvolvimento.e.realização.pessoal.e,.nessa.medida,.é.um.tempo.de.recreio.O.recreio.é.tomado,.então,.no.sentido.da.variedade.de.atividades.realizadas.durante.o.tem-po.de.lazer.e.define-se.como.sendo.o.conjunto.de.ações.e.atividades.que.as.pessoas.desen-volvem.livremente.de.forma.positiva.e.agradável.durante.o.lazer,.incluindo.as.participações.ativas.e.passivas.em.desporto,.cultura,.educação.informal,.entretenimento,.diversões,.visi-tas.e.viagens..Neste.sentido,.o.recreio.cobre.quaisquer.ocupações.durante.o.lazer.que.não.envolvam.um.compromisso.e.nele.se.incluem.as.viagens.turísticas.Nestes.termos.o.turismo.é.uma.forma.de.lazer,.mais.concretamente.de.recreio,.mas.difere.dele.em.múltiplos.aspetos.Em.primeiro.lugar,.o.recreio.pode.ser.baseado.na.residência.ou.nas.suas.proximidades.en-quanto.o.turismo.pressupõe.sempre.uma.deslocação.para.fora.da.residência:.no.turismo.há.sempre.uma.deslocação,.o.que.as.restantes.formas.de.recreio.não.exigem.Em.segundo.lugar,.muitas.das.viagens.que.integram.o.turismo.implicam.responsabilidadese.envolvem.obrigações.que.estão.ausentes.do.conceito.de.lazer:.obrigações.sociais,.polí-ticas,.profissionais.e.familiares..No.diagrama.do.«lazer,.recreio.e. turismo».(Figura.1.1),.sugerido.por.Boniface.et al..(1982),.as.viagens.de.negócios.surgem.separadas.do.tempo.de.lazer.mas,.além.destas,.há.outras.que.também.o.devem.ser,.tais.como:.estudantes.que.participam.em.programas.comunitários,.participação.em.obrigações.familiares.e.sociais,.tratamentos.ou.recuperação.física.(v. g.,.termalismo)..É.por.esta.razão.que.faz.sentido.falar.em.«turismo.de.lazer».como.atividade.à.qual.as.pessoas.se.entregam.livremente.à.parte.as.suas.obrigações,.ou.seja,.livres.de.compromissos.Em.terceiro.lugar,.as.viagens.turísticas.implicam.uma.permanência.em.locais.fora.da.resi-dência.habitual.por.períodos.de.tempos.variáveis.mas.que.podem.ultrapassar.semanas.ou.mesmo.meses,.o.que.dá.lugar.a.tempos.livres.que.são.ocupados.por.atividades.de.recreio:.as.deslocações.e.permanências.turísticas.geram.recreio.para.satisfação.do.qual.desenvolvem.atividades.produtivas.idênticas.àquelas.que.são.criadas.para.satisfação.do.recreio.na.área.da.residência..O.turismo.é.uma.forma.de.recreio.que,.por.sua.vez,.gera.recreio.Por.último,.todos.os.equipamentos.necessários.ao.recreio.servem.o.turismo.mas.este.exige.equipamentos.e.profissões.adicionais.(meios.de.alojamento,.equipamentos.necessários.ao.turismo.de.negócios,.operadores.turísticos).

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Economia e Política do TurismoEconomia e Política do Turismo

Tempo disponível para um indivíduo depois que o trabalho,o sono e outras necessidades básicas tenham sido atendidas.

«Ocupação»: atividades desenvolvidas durante o tempo de lazer.

Recreio

Fluxo contínuo da atividade de recreio

Limites geográficos

Viagens denegócios

Casa

Recreio residencial:leitura, jardinagem,televisão,convivência social.

Lazer quotidiano:teatro, cinema,restaurantes,desportos.

Viagens de umdia: visitas aatrações, etc.

Turismo:movimentotemporáriopara fora da residênciahabitual.

Local Regional Nacional Internacional

Tempode trabalho

Tempo de lazer

Figura 1.1 – Lazer, recreio e turismo

Fonte: Boniface et al., 1982.

Nestes.termos,.o.turismo.é,.em.parte,.tempo.de.lazer.(recreio).e.tempo.ocupado.no.exercí-cio.de.responsabilidades.e.obrigações.tal.como.se.mostra.na.Figura.1.2.

RecreioTempolivre Turismo

Figura 1.2 – Relação entre o tempo livre e o turismo

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Cronologia das Grandes Migrações, Viagens e Realizações com Influência no Turismo

Há 350 000 anos O primeiro homo sapiens aparece na África, Europa e Ásia.

Há 50 000--30 000 anos

O moderno homo sapiens expande-se na Austrália, vindo do sul da Ásia.

Há 15 000 anos No Paleolítico o homem desloca-se para o continente americano a partir da Ásia.

4000 a. C. Os sumérios inventam a moeda, a escrita cuneiforme e a roda.

2800 a. C.Começa a construção das pirâmides do Egito que hoje são uma das grandes atrações turísticas do mundo.

2250 a. C. Os esquis surgem na Suécia.

2000 a. C.Primeira carta geográfica na China. Estabelecem-se os caravanserai no PróximoOriente.

2000-332 a. C.Os fenícios viajam por todo o Mediterrâneo, possivelmente para as ilhas britânicas,costa oeste de África, Açores e Portugal continental.

1680 a. C. Os hicsos introduzem o carro puxado a cavalos.

1500-1481 a. C. A rainha Hatshepsut realiza uma viagem no Egito.

777 a. C. Início dos Jogos Olímpicos na Grécia.

753 a. C. Fundação de Roma.

500 a. C. Viagens de Heródoto.

450 a. C. Apogeu da civilização grega.

447 a. C. Construção do Partenon.

430 a. C. Construção da Acrópole.

336-323 a. C.Alexandre, o Grande, conduz o seu exército para a Ásia, atravessando as montanhas de Indo Kush.

65 a. C. Horácio escreve os seus poemas sobre viagens e canta os lazeres (otium).

25 a. C. Primeiras termas.

79 Em Roma, o Coliseu recebe os seus primeiros visitantes.

100 Apogeu do Império Romano.

Século ii Pausânias escreve a Descrição da Grécia (guia para uso de estrangeiros).

Século iv Primeiras casas de refúgio para os visitantes e asilos.

333 Um autor desconhecido escreve O Itinerário de Bordéus a Jerusalém.

349-407 João Crisóstomo defende a causa da hospitalidade.

500 Os polinésios viajam das ilhas da Sociedade para o Hawai.

Século vii Início do islamismo.

500-1450Surgem os harbinger, que se encarregam de descobrir os melhores caminhos, aloja-mento e alimentação, para depois servirem como guias.

800-1110 Os vikings exploram a Islândia, Gronelândia e a costa norte da América.

1020 Construção do Domus hospitalis em Jerusalém.

1075 Construção da Catedral de Santiago de Compostela, centro de peregrinação.

1095 Primeira cruzada a Jerusalém.

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