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FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO) DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA 1º SEMESTRE – 2004
A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA DO ENSINO FUNDAMENTAL – 2º SEGMENTO
VALÉRIA ALMEIDA DOS SANTOS
Trabalho referente ao final do curso de Pós-graduação Em Língua Portuguesa, apresentado ao Professor Antônio Sérgio
SÃO GONÇALO
JULHO / 2004
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SUMÁRIO
FOLHA DE ROSTO DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS EPÍGRAFE SUMÁRIO RESUMO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 – A IMPORTÂNCIA DE UMA COMUNICAÇÃO EFICAZ E A LINGUAGEM
1.1 – REFLEXÕES SOBRE O DIZER E O PENSAR 1.1.1 – FALAR E DIZER
1.2 – A LINGUAGEM E OS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS 1.3 – VYGOTSKY – A IMPORTÂNCIA DA FALA MATERNA COMO
ESTÍMULO AO PENSAMENTO E O SEU SÓCIO-INTERACIONISMO
1.3.1 – O SÓCIO-INTERACIONISMO DE VYGOTSKY 1.4-A LINGUAGEM DOS PAIS E O DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL 1.5 – O “MOTOR” DA LINGUAGEM: A IMPORTÂNCIA DA FALA INTERIOR 1.6 – A LINGUAGEM, O PENSAMENTO E AS INTELIGÊNCIAS 1.7 – A CONQUISTA E O TREINO DA LINGUAGEM CAPÍTULO 2 – A ESCRITA 2.1- CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA 2.2- ESCRITA E LÍNGUA NACIONAL 2.3- A LÍNGUA ESCRITA EM FUNCIONAMENTO 2.4- A ESCRITA COMO BEM CULTURAL CAPÍTULO 3 –A LÍNGUA ORAL E A LÍNGUA ESCRITA 3.1 – AS DIFERENÇAS ENTRE A FALA E A ESCRITA 3.2 – DA FALA PARA A ESCRITA 3.3 – TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DA EXPOSIÇÃO ORAL E DA EXPOSIÇÃO ESCRITA 3.3.1 – PRESENÇA DA ORALIDADE E DA ESCRITA NA SOCIEDADE 3.3.2 – AS RELAÇÕES DE PODER NA SALA DE AULA – INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA NO COTIDIANO ESCOLAR 3.3.3 – A REDAÇÃO 3.4 – A CORREÇÃO DA LINGUAGEM CAPÍTULO 4 – ENSINO-APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA ANEXOS
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RESUMO
Este trabalho tem por objetivo enfocar o estudo da oralidade na tentativa de acabar
com o preconceito que a atinge, descrevendo o quanto a língua oral é rica, mostrando como
o povo conhece sua língua e a usa de forma adequada; muitas estruturas usadas pela
linguagem oral são consideradas erradas, mas são consideradas normais e aceitas em várias
línguas com tradição na escrita, entre elas a chinesa.
Sendo assim, o professor da Língua Portuguesa ao tomar conhecimento das
estruturas orais, irá refletir sobre a estrutura produzida pelo aluno e junto com este, chegar
às normas gramaticais, estabelecendo sempre um parâmetro e dando a opção da escolha,
mas nunca desprezando o texto produzido pelo aluno ou só valorizando a parte gramatical.
Logo, o educando terá na língua oral um bem cultural a ser valorizado, aprendido e
aperfeiçoado,já que uma boa comunicação não é feita só por não ter erros gramaticais , mas
sim por conter palavras apropriadas para passar o que se é pretendido.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho tem o objetivo de refletir sobre a influência da oralidade na escrita dos
alunos do ensino fundamental do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos
educandos em suas ações.
Pode-se partir do princípio geral de que a língua é uma atividade sociointerativa,
histórica e cognitiva, e não um sistema de regras ou simples instrumento de informação.
Com isto, a análise das relações existentes entre oralidade e escrita é fundamental, já que
falar ou escrever bem não é ser capaz de utilizar com perfeição as regras da língua, mas é
usar adequadamente a língua para produzir um efeito de sentido pretendido numa dada
situação. Daí, convém citar as diferentes funções de linguagem, onde cada uma tem a sua
finalidade própria e, se bem usada, é a chave para um trabalho bem feito e com sucesso.
Observa-se, também, que a oralidade e a escrita são duas modalidades de uso da
mesma língua. Apesar de ambas serem sistemáticas, regradas, valiosas e capazes de
expressar tudo o que o ser humano pensa, sente, faz ... enfim, suas ações, elas têm
diferentes modos de utilização e até, mesmo, usos bem particulares. Isto não quer dizer que
uma modalidade tem supremacia sobre a outra, desfazendo desta forma o preconceito sobre
a língua falada, tida com o lugar do caos e da falta de planejamento, o que não é verdade,
pois a língua falada tem suas próprias regras de utilização e sofre influências das diferentes
classes sociais que a utiliza.
A reflexão destes dois tipos de modalidades – a fala e a escrita – da Língua
Portuguesa é de fundamental importância para a erradicação dos preconceitos a respeito da
fala, tão comuns em épocas passadas.
Este estudo da oralidade é uma necessidade atual , visto que até os Parâmetros
Curriculares Nacionais, propostos pelo MEC, para o ensino do Português nos níveis
Fundamental e Médio, abordam este problema e sugerem uma especial atenção à oralidade.
Portanto este trabalho busca na teoria os conhecimentos que fundamentam a
influência da linguagem oral e escrita no cotidiano escolar do ensino fundamental.
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Encontrar caminhos significativos no trabalho com o ensino fundamental, levantar
hipóteses da atuação do educador nessa área e de como a linguagem está inserida nas
relações de poder que ultrapassam o ambiente escolar é um dos objetivos desta monografia.
O uso que o educando faz da linguagem fornece indícios quanto ao processo de
diferenciação entre o “eu” e o “outro”. Um exemplo disto é quando uma criança pequena
usa o seu próprio nome em substituição ao pronome “eu” para referir-se a si mesma,
conjugando o verbo na 3ª pessoa: “Fulano quer isso.” É um modo particular e único das
crianças se expressarem. Logo, a própria linguagem favorece o processo de diferenciação,
ao possibilitar formas mais objetivas de compreender o real. Além de enriquecer as
possibilidades de comunicação e expressão com o outro, a linguagem representa um
poderoso veículo de socialização.
É pela linguagem que qualquer ser humano é inserido em uma sociedade, atribuindo
significados e sendo compreendido pelo outro. Cada língua / fala carrega, em sua
organização marcas históricas e culturais de ver e compreender o mundo, já que a este se
relacionam as características de culturas e grupos sociais singulares. Ao aprender a língua
materna, a criança se apropria desses conhecimentos, construindo um sentido de inserção a
um determinado grupo social.
É por meio da linguagem que o ser humano pode ter acesso a outras realidades sem
passar, necessariamente, pela experiência concreta. Pode-se ter acesso a realidades
diferentes através da fala, dos escritos e, até mesmo, das linguagens não-verbais, o desenho,
os sons, os gestos ... Porém, neste caso, a fala e a escrita – linguagem verbal- têm
supremacia sobre a outra não-verbal, pois os relatos orais ou escritos são de mais fácil
acesso e entendimento. Com os recursos da fala e da escrita, o ser humano tem acesso a
mundos distantes e imaginários. As histórias de cada povo são inesgotáveis fontes de
informações culturais, porque demonstram a vivência concreta de cada um deles.
Por isso, há várias razões para se crer que a interação mediada pela fala e escrita tem
papel importante, não apenas na construção do conhecimento escolar, mas também no
desenvolvimento completo do ser humano.
Aprender uma língua não é somente aprender as palavras, mas também os seus
significados culturais, e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio
sociocultural entendem, interpretam e representam a realidade.
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Ser letrado é muito mais que saber ler ou reconhecer as letras, é entender o
significado das palavras e poder através delas, mudar a si mesmo, o outro e o mundo.
A abordagem da fala, da escrita, o modo como as pessoas utilizam cada uma delas,
as regras próprias de cada uma, enfim tudo que a este tema se relacione será mencionado e
esclarecido no decorrer deste trabalho.
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CAPÍTULO 1
A IMPORTÂNCIA DE UMA COMUNICAÇÃO EFICAZ E A
LINGUAGEM
No mundo moderno, a palavra comunicação tornou-se lugar-comum e transformou-
se em força de vitalidade na observação das relações humanas e no comportamento
individual.
A necessidade de comunicar-se é intrínseca ao homem, que vive em permanente
interação com a realidade que o cerca e com os outros seres humanos, Sendo assim, a
comunicação é um processo social e, sem ela, a sociedade não existiria. Mas, o que é
comunicação? É a troca de mensagens ou informações; a transmissão de sentimentos e
idéias, buscando o entendimento, a compreensão, ou seja, o contato.
Para comunicar-se com os outros seres humanos, o homem utiliza sistemas
organizados de sinais, chamados de linguagem.
Essa forma de comunicar-se, isto é, a linguagem, pode ser de várias formas: com a
utilização de palavras escritas ou faladas (linguagem verbal); com gestos, expressões
fisionômicas, desenhos, cores, sinais visuais (linguagem não- verbal).
Porém, apesar de seu desejo de comunicação, nem sempre o ser humano consegue
fazer com que sua mensagem atinja outro ser humano. Logo, para que haja comunicação
eficaz, são necessários alguns elementos: o emissor (que envia a mensagem), o receptor
(que recebe a mensagem), a mensagem (que é a informação que o emissor deseja enviar ao
receptor), o código (que é um conjunto de sinais organizados e escolhidos pelo emissor
para transmitir a mensagem), o canal (que é o contato entre o emissor e o receptor, ou seja,
o elemento através do qual a mensagem propaga-se) e o referente ( que é aquilo de que o
emissor está falando). Com isso, nota-se que para a eficácia da comunicação é necessário
que o emissor e o receptor tenham o mesmo código, caso contrário não ocorrerá
comunicação. Além disso, caso haja uma interrupção no canal (um ruído, um borrão na
mensagem escrita, por exemplo) a mensagem não chegará a seu destinatário ou chegará
com interferência que poderá, até mesmo, distorcer o referente e a mensagem.
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Portanto, a boa comunicação pode ser desenvolvida e ampliada através da busca por
um maior conhecimento do código e de suas propriedades (linguagem regional, gírias,
linguagem coloquial e formal, jargão, etc.) e também através de experiências reais de
comunicação.
1.1- Reflexões sobre o pensar e o dizer
A linguagem, em conceito amplo, é o modo pelo qual se faz uma comunicação. Pode
ser verbal (fala e escrita) e não-verbal (desenhos, gestos, sons, figuras, mímicas,etc.).
Apesar de ambas serem importantes e transmitirem uma comunicação, a primeira – a verbal
– é de fundamental importância para o homem, já que pode com facilidade, substituir as
outras não – verbais.
Apenas o homem é capaz de expressar-se através da linguagem verbal- a fala e a
escrita. Talvez seja esta a principal diferença entre o ser humano e os outros seres – o uso
da palavra.
Ao observar um cachorro faminto, ao lado de um homem se alimentando, verá que
ele, a seu modo, sabe solicitar o que deseja; portanto “pensa”; sendo assim, concluirá que o
homem não é o único ser inteligente no universo. O que difere ou falta ao cão é a palavra,
ferramenta essencial para exprimir sua vontade de comer. Ele pensa, mas não diz, isto é,
não usa a palavra para se expressar.
A palavra é muito mais do que um instrumento a serviço do pensar, instrumento que
à sua falta impede ao cão pensamento similar ao do ser humano. Em todos os seres
humanos a linguagem é um importante recurso de comunicação mas, muito mais do que
isso, é também veículo de uma linguagem interior, que faz do ser humano dono dessas
reflexões, dessa consciência que mesmo que venha a ter palavras, um cão jamais será capaz
de imaginar. O cão e os outros animais, com imensas diferenças de escala, pensam, mas seu
pensar é estruturalmente diferente do nosso porque eles não podem jamais refletir suas
emoções e o estado de sua consciência. Um homem sem palavras, por força de algum tipo
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de lesão cerebral adquirida, ainda pode falar consigo mesmo e, por meio de mímica e de
outros sinais, expressar o que sente e pensa; um animal, nunca.
Na origem da humanidade, será que o homem primitivo ao balbuciar sons que depois
viriam a ser palavras, seria capaz de pensar o que o homem pensa agora? Será que o
pensamento humano atual não se apóia no extraordinário aprimoramento do circuito
biológico inerente ao ser humano, que o faz dizer, fazendo-o progredir coletivamente,
assim desenvolvendo sua linguagem?
A resposta mais provável à primeira questão é não. A evolução biológica da
humanidade permitiu ao cérebro humano desenvolver-se de tal forma que atualmente ele
integra algo muito maior e muito mais complexo do que aquele que o ancestral da caverna
possuía. Os fósseis revelam que os primeiros Homo Sapiens apareceram em 100 e 200 mil
anos, mas a linguagem simbólica que hoje é utilizada demorou muito a ser conquistada,
entrando em uso corrente contínuo, há não mais que 50 mil anos.
Por isso, a segunda resposta é sim. Ao evoluir, o homem aperfeiçoou a linguagem e a
linguagem acelerou seu processo de evolução, ao dar novos formatos a seus pensamentos.
Entretanto, muito pouco mudou no corpo humano desde as cavernas, mas as mudanças
essenciais ocorridas na mente, graças à linguagem, fez com que o homem desenvolvesse
esquemas mais sofisticados de pensar e graças ao pensar passou a fazer muito mais. Para
confirmar a declaração anterior, basta observar a linha das conquistas da humanidade e
constatar que ela foi lenta nos primeiros 150 mil anos, mas acelerou-se rapidamente quando
a linguagem passou a ser atributo de toda uma comunidade.
Assim, é possível afirmar que uma criança, ainda que independa de outros para falar,
somente se socializa por volta dos dois anos, quando seu cérebro já a amadurece para dizer
palavras. Antes disso, é um “bichinho” dependente, quase igual a um cachorrinho. A partir
dessa idade seus pensamentos disparam. A criança precisa da fala e da interação com outros
seres humanos para a sua socialização e desenvolvimento, pois é por meio da linguagem
que a criança é iniciada na esfera simbólica que envolve os conceitos de passado e futuro,
de lugares que jamais se viu, de relações que nunca se exercitou, de eventos hipotéticos, de
sonhos imaginativos. Sem a linguagem, a criança jamais alcançará o pensamento mais
amplo e, com ele, o fascínio irresistível de seus “amigos secretos”; jamais esperará em
sonhos pelo Papai Noel ou transformará em evento a brincadeira com bonecos. A
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linguagem é que nos permite lidar com coisas distantes e sobre elas agir sem manuseá- las
fisicamente.
Com a aquisição de nomes, com o aperfeiçoamento da gramática universal que dá
nomes aos objetos, ocorre uma mudança crucial na relação da criança com o mundo. Dessa
forma, os nomes das coisas alteram suas relações com as coisas anteriormente sem nomes.
Para um cão, outro cão é apenas um rival ou um amigo; para uma criança, a foto de um cão
retrata um cão específico, mas a palavra “cão” se expande para todos os tipos de cães,
transformando a singularidade específica na pluralidade criativa.
Para um planeta de pelo menos 4,5 bilhões de anos, o Homo Sapiens é recente.
Surgiu há menos de 200 mil anos, mas mudou tudo, pois criou ferramentas, inventou
vários objetos, subjugou o mundo animal, descobriu a tinta, esculpiu e entalhou sua
caverna, transformando-a em casa / abrigo, encantou-se pela vida e conquistou a
consciência do passado e o medo do futuro, criando superstições e religiões. Entretanto,
toda essa revolução não teria sido possível sem a linguagem e sem a criação da fala e da
gramática social, que representaram um aperfeiçoamento da gramática universal. Ao ser
capaz de dizer para o outro ou para si mesmo suas necessidades, o homem do passado
forçou-se a pensar em uma solução , a tomar uma decisão imaginando que se a tornasse
prática não mais estaria com aquela necessidade. Como uma palavra leva a outra, a mente
humana inventou o passado e o futuro e desprendeu-se do “agora”. A fala permitiu que o
homem elaborasse o pensamento simbólico.
Com a modernidade, novas linguagens surgem e a preocupação é que o
desenvolvimento humano não seja ameaçado. Com as novas tecnologias e meios de
comunicação será que os jovens que argumentam pouco, pensam muito? Será que o bem
pensar não depende do bom uso que se possa fazer da linguagem?
Estas e outras questões precisam ser refletidas e as respostas só o futuro poderá
“dizer”.
1.1.1 – Falar e Dizer
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Falar e dizer podem, em algumas situações, ser sinônimos; em outras, não. Em
alguns dicionários “falar”significa dizer, porém o vocábulo “dizer” não significa
falar. Com esta diferença constatada , buscou-se na mesma fonte a origem dos dois
verbos e o que se descobriu foram diferenças essenciais, pois a palavra “falar” vem
do latim “fabulare” e a palavra “dizer” vem do verbo latino “dicere”. Com isto foi
possível chegar à diferença essencial que “dizer” é o mesmo que exprimir, expor,
recitar, proferir, declamar, afirmar, murmurar etc.; mas “falar” é bem mais que
dizer, pois significa isso tudo e ainda abrange a fábula e, dessa forma, o pensamento
diverso, o romantismo infinito de, pelo caminho das palavras, propiciar o mundo
inimaginável e indizível dos sonhos. Dizer é passar uma informação, transmitir um
recado, expressar o banal e falar é dar forma ao recado, desafiar o conteúdo,
interrogar e investigar. Falar exige pensamento, sonhos, metáforas, magia ... e dizer
é só preciso a palavra, é um discurso vazio, uma oratória inútil que não leva a nada.
Os professores e os pais deviam ensinar à criança a falar, pois assim, irá
construir idéias, pensamentos e mudar o mundo.
É essencial que a exploração da oralidade não surja como desafio ao aluno,
como tarefa eventual, mas que incorpore aos objetivos do planejamento pedagógico
e que cresça na seqüência com que deve crescer toda aprendizagem. No início, por
meio de uma discussão grupal, elaboram-se as perguntas da entrevista, tempos
depois, os alunos aprenderão a desenvolvê- las espontaneamente, sempre refletindo e
debatendo sobre tudo o que foi possível colher. Mostrar aos alunos a diferença entre
“dizer” e “falar” não é passo, é jornada. Por isso, mais tarde eles irão perceber os
diferentes modos de falar e, com certeza, saberão transformar o dizer em falar.
1.2 - A Linguagem e os Hemisférios Cerebrais
No passado, falar besteira ou contar uma piada em hora imprópria não eram
considerados decorrentes de alguma disfunção da parte direita do cérebro, porque
não havia instrumentos capazes de projetar a imagem viva de um cérebro em ação,
como hoje. Sem falar que havia um consenso neurobiológico de que era do
hemisfério esquerdo do córtex humano as funções lingüísticas; o tempo evoluiu e as
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percepções também. Agora são atribuídas importantes funções da linguagem ao
lado direito do cérebro.
Pessoas com lesões no hemisfério direito, vítimas de AVC ( o popular
derrame), podem falar com fluência e buscar memórias antigas, mas costumam
apresentar dificuldades para narrativas longas, criar associações por meio de
metáforas, perceber sentido nas piadas, descobrir a esperteza dos trocadilhos,
identificar a moral de uma história e outros aspectos sutis da linguagem. Antes o
hemisfério direito era exaltado por sua capacidade musical, sua sensibilidade
estética, sua criatividade e a sua ação moral conveniente; atualmente a essas funções
acrescentam-se ainda outras específicas do dizer e do ensinar.
Essas descobertas não devem ficar longe das salas de aulas e nem da
educação dos pais aos filhos, treinando-os para o bem dizer. Quando um professor
ou um pai coloca a criança sentada para proferir verdadeiras “conferências” ou
“conselhos”, conseguirão, se captarem a atenção do ouvinte, fazer trabalhar seu
hemisfério cerebral esquerdo; mas o que fazer para ativar e estimular o lado direito?
Considerando que o hemisfério direito focaliza aspectos da linguagem dando-
lhe coerência e plausabilidade, é essencial que toda aula e que toda conversa
familiar sejam enriquecidos de desafios, propostas, enigmas, e sobretudo que sejam
estimuladas a busca da lógica em uma história e a associação entre outras
aparentemente distintas. Existe uma enorme diferença entre o professor que narra
um fato, o que fala uma piada para associá- la a esse fato e um terceiro que narra,
conta a piada e propõe o desafio de levar o aluno à busca de associações, pelos
caminhos da informação e da plausabilidade. O primeiro estimulou o lado esquerdo,
o segundo, conseguiu envolver o lado direito, mas foi o terceiro, com o desafio,
quem melhor trabalhou e mais facilmente encaminhou a informação à memória. O
que se propõe ao professor, cabe perfeitamente aos pais
É evidente que narrar é bem mais fácil do que inventar metáforas, pesquisar
piadas, garimpar contextualizações, mas também é sempre mais fácil oferecer o
peixe que ensinar a pescar. Todavia, o “mais fácil”, no caso da linguagem, não é de
forma alguma “o melhor”.
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1.3 – Vygotsky - A Importância da Fala Materna como Estímulo ao
Pensamento e o seu Sócio - Interacionismo
Vygotsky destaca em sua obra que o desenvolvimento da fala e das
capacidades mentais de uma criança não é aprendido de forma convencional e nem
amadurece ao longo do desenvolvimento embrionário (epigênese), possuindo, em
vez disso, uma natureza social, que ocorre com a interação da criança com os
adultos que a cercam. Os pais não ensinam uma criança a falar com a ensinam a
usar a escova de dentes ou o talher.
Com a convivência a criança internaliza os instrumentos culturais da língua
para organizar sua maneira de pensar. A capacidade de pensar de forma cada vez
mais abstrata não é algo que ocorra espontaneamente, de maneira automática como,
por exemplo, o aparecimento de dentição; trata-se de um processo que jamais pode
dispensar a mediação concretizada por representantes da cultura que cercam essa
criança. Para Vygotsky, a diferença entre um adulto reflexivo e um outro alienado,
que reproduz apenas o pensamento do outro como sendo seu, não constitui
fenômeno biológico, mas sim resultado da forte presença cultural de adultos –
principalmente da mãe – mediando o crescimento da criança. Quando adultos, nossa
maneira de pensar é bem menos como a biologia nos fez e muito mais como, em
nossa infância, atuaram com sua fala estimuladora os adultos que nos cercaram.
Assim sendo, a criança nasce com seus sentidos e, portanto, pode aprimorá-
los sozinha – ainda que a ajuda externa traga benefícios indiscutíveis -, mas não
pode, sozinha, adquirir uma língua, pois sua epigênese assim determina, ou seja, ela
necessita da ajuda de uma outra pessoa que domine a capacidade e a competência
lingüística para atingir essa capacidade. Quanto mais competência essa pessoa tiver,
melhor uso fará dela, e, evidentemente, melhor ajuda prestará à criança. Isto pode
ser observado na fala e na escrita das crianças de diferentes classes sociais.
É importante ressaltar que “falar” com a criança é bem menos importante que
“conversar” com ela, pois é a sua participação que permite que ocorra o
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desenvolvimento – o jogo - em seu sentido etimológico. Quem joga, joga com
alguém e não há jogo se um apenas ouve o que o outro tem a dizer.
É importante que os adultos conversem com a criança passo a passo, a níveis
de linguagem progressivamente mais elevados, ajudando-a a construir a imagem do
mundo que a língua personifica, vinculada à cultura à qual essa criança pertence. Os
adultos precisam se colocar um passo adiante do nível de linguagem em que a
criança se encontra, portanto em sua zona de desenvolvimento proximal, isto é,
posicionarem-se no nível ao qual a criança pode chegar e não repetir apenas a
situação na qual ela se encontra. Por esse motivo é condenável querer falar com a
criança como que a imitando.
Conversar ajuda muito ,mas se a conversa tiver respaldo no que a criança vê e
percebe, na sua experiência de mundo,independentemente da que lhe é dada por
seus sentidos, a ajuda ainda é maior. Além disso, nesse intercâmbio intelectual entre
adulto e criança é imprescindível uma troca emocional, pois tão forte como a
relação entre linguagem e pensamento é a relação entre linguagem, pensamento e
afeto. Se essa conversa não puder ser fortemente marcada pelo afeto, não é muito
importante que seja concretizada.
Em suma, se a comunicação que a criança recebe em seus primeiros
momentos de vida, incluindo o pré-natal, for imprópria, tanto no plano intelectual
quanto afetivo, haverá indiscutíveis conseqüências para o crescimento intelectual e
emocional da criança.
O adulto, e principalmente a mãe, tem um imenso poder em suas mãos na
comunicação que vierem a ter com as crianças e, precisam, por isso, ter uma
conversa enriquecida e enternecida de “porquês”, de “como”, com o objetivo de
estimular a mente e fortalecer o pensamento com perguntas e desafios, propostas e
curiosidades, valendo-se do entorno da criança e do que ela vê, percebe e descobre.
O sentido da palavra “jogo” aqui empregada está próxima da significação
etimológica dessa palavra, onde jogo é desafio, é estímulo e não competição com
vitoriosos e derrotados. O jogo é visto como um instrumento de cooperação e de
relação interpessoal entre duas ou mais pessoas, estruturado por regras claramente
estabelecidas.
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Logo, se a criança viver num mundo desafiador e estimulador a sua
curiosidade e saber para ela será bem melhor; cabe ao adulto fornecer isto a ela.
1.3.1 - O Sócio-Interacionismo deVygotsky
Uma das primeiras referências da existência humana na Terra aparece nas
imagens desenhadas nas cavernas, hoje denominadas de “arte rupestre”. Pode-se,
então, dizer que a comunicação, através da linguagem (desenhos) está presente no
mundo desde que o homem é homem.
Para Vygotsky, a importância da linguagem na existência humana é o grande
papel da interação social no desenvolvimento dos processos psicológicos superiores.
Ele aponta para a importância da linguagem como pensamento, afirmando
que a função planejadora da fala introduz mudanças qualitativas na forma de
cognição da criança, reestruturando várias funções psicológicas, como a memória, a
atenção voluntária, a formação de conceitos, etc. Como diz Freitas (1994,p.24):
“O pensamento não é simplesmente expresso em palavras, é por meio delas
que ele passa a existir.”
Para ele, a linguagem age decisivamente na estrutura do pensamento, e é
ferramenta básica para a construção de conhecimentos. A linguagem em seu sentido
amplo é considerada como um instrumento por este autor, pois ela atuaria para
modificar o desenvolvimento e a estrutura das funções psicológicas superiores,
tanto quanto os instrumentos criados pelos homens modificam as formas humanas
de vida.
Embora o pensamento e a linguagem tenham origens diferentes, acabam por
sintetizar-se dialeticamente no desenvolvimento. Nas crianças pequenas, o
pensamento evolui sem linguagem. E, com o tempo, começam a perceber a função
social da linguagem, que evolui do balbucio para as primeiras palavras. Neste
ponto, a fala passa a servir ao intelecto e o pensamento a ser verbalizado.
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Ele afirma que num 1º momento, o conhecimento se constrói de forma inter-
subjetiva (entre pessoas) e num 2º momento, de forma intra-subjetiva (no interior do
sujeito).
Ao cuidar de uma criança, o adulto não só lhe proporcionam cuidados físicos,
mas também oferece a ela representações sociais (imagens, idéias e expectativas)
que a introduz no mundo da cultura.
O bebê nasce num mundo simbólico, onde significados vão sendo usados
pelos indivíduos para controlar seu ambiente e a si próprios. É na interação que
estabelece os outros membros de sua cultura (mãe, pai, irmãos, colegas,
professores) e, é com os meios de comunicação, em geral, que as crianças vão
construindo seu próprio sistema de significados.
Embora dependa de sua constituição orgânica e ao mesmo tempo, das
possibilidades de ação e interação que lhe é oferecida pelo ambiente, a criança pode
optar entre diferentes modos de comportamento, construindo novos modos de ação.
As diferentes interações a que é submetida é fundamental para que isto ocorra.
Lentamente, a criança constrói significados, conhecimentos, valores,
dialogando com si mesma,com o outro e com o mundo; levantando hipóteses,
opiniões, concepções e perspectivas sobre algum assunto.
A linguagem, então, vem especificar o movimento de internalização. Quando
fala evolui para o plano interior, entra em ação o significado. Este é o fenômeno do
pensamento que ganha corpo por meio da fala ,e só é fenômeno da fala caso a
palavra esteja ligada ao pensamento; é um fenômeno do pensamento verbal e da fala
significativa.
A palavra ganha sentido e este se modifica de acordo com a situação e a
mente que a utiliza. Logo, o contexto social tem forte influência sobre o sentido das
palavras.
Portanto a linguagem para ele é uma função social e comunicativa, com papel
primordial na interação social e na constituição de subjetividade, pois a criança ao
entrar em contato social com o outro, ela entre em contato consigo mesma.
Nas salas de aulas do ensino fundamental, o uso das palavras, sua combinação
em frases e seus significados, muitas vezes revelam o poder dos professores. É
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necessário que os professores saibam dar “voz e vez” aos educandos, pois é desta
relação (democrática e hierarquizada), deste diálogo interessado de ambas as partes,
que nascem conhecimentos e valores significativos e por isso ,duradouros e úteis.
Ainda hoje, discutem-se as idéias elaboradas por Vygotsky sobre a
constituição do pensamento e a construção do conhecimento, incorporando-se o
papel do outro, discute-se como ele vê, ouve, assume significados e que operação
mental utiliza para a compreensão de palavras ditas e das não ditas (gestos,
expressões, imagens, silêncios).
A transição entre pensamento e palavra passa pelo significado. A palavra
possui um significado dicionarizado e ligado a um sentido específico. Este sentido é
construído de acordo com o momento vivido e as operações feitas a todo instante.
Há troca entre os significados emitidos e os sentidos de cada um, intermediando
afetos, desejos,memórias e emoções.
A ênfase na importância da linguagem não equivale, no entanto, a valorização
da transmissão de conteúdos de forma verbal, numa volta ao ensino tradicional,
onde o professor ensina e o aluno aprende. Este método didático já mostrou a sua
ineficácia e o engano de seu uso.
Em síntese, para Vygotsky, a linguagem é o sistema simbólico de todos os
grupos humanos, sendo a principal mediadora entre o sujeito e o objeto do
conhecimento. Em cada situação de interação, o sujeito está em um momento de sua
trajetória, levando consigo determinadas possibilidades de interpretação do material
obtido no mundo externo.
1.4 – A Linguagem dos Pais e o Desenvolvimento Pré-Natal
A maior parte dos neurocientistas que estudam o desenvolvimento cerebral
diz que o período mais sensível às influências é o que ocorre da concepção à
gestação, com ênfase especial nos últimos três meses de gravidez.
Nessa fase, a base do cérebro e do sistema nervoso cresce rapidamente e
pode sofrer danos irreversíveis não só pelas coisas que a gestante come, bebe,
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cheira, traga ou que involuntariamente leva em suas roupas ou cabelos, decorrentes
dos ambientes que freqüenta, como pelos intensos estados emocionais que
atravessa. Por outro lado, estímulos positivos são fornecidos pela mãe ao falar com
o feto, acariciar o ventre e propor músicas suaves.
Desde a 24ª semana de gravidez o aparelho auditivo do futuro bebê já se
apresenta formado, o que lhe permite ouvir os sons desse mundo aquático que o
envolve. As batidas do coração da mãe, os ruídos provocados pela digestão e todos
os barulhos que envolvem o bebê e seu entorno são, ainda que de forma atenuada,
captados pela futura criança.
Ao nascer a criança perde a maior parte dessas referências. Essa perda é
proporcional ao ouvir a voz da mãe, do pai, as músicas ouvidas antes do parto ... e
isto pode reter nos mecanismos de sua memória em pleno desenvolvimento. O
contraste entre os sons ouvidos no ventre e o silêncio do quarto do bebê é imenso e
isto pode provocar uma sensação de perda e insegurança, que pode ser minimizado
com a fala dos pais, ativando a memória dessa fala ainda no ventre.
Um dia o período de gravidez será compreendido não apenas como o de
cuidados alimentares, emocionais, de precaução ao uso de remédios, de estados de
estresse reduzidos, de históricos genéticos específicos em cada família, das medidas
preventivas perante eles e de programas de estimulação cerebral, mas também o de
um cuidado total com o bebê que irá nascer, o que provavelmente se dará com o
nascimento de bebês menos viciados, hiperativos, agressivos ou com problemas de
atenção, deficiências sensoriais, motoras ou cognitivas. O saber ainda é limitado,
mas um programa que envolva carícia, embalo, afago, sempre seguidos de palavras
doces, dirigidas diretamente ao ventre ou acompanhadas de músicas suaves – que se
repetirão após o nascimento -, não apenas estimula positivamente o feto como
aproxima o casal, na medida que o envolve em um importante projeto.
A estimulação fetal produz mudanças na consciência e na capacidade de
percepção do bebê, resultando em uma criança mais calma e atenta e, sobretudo
muito mais segura da ternura de seus pais e da felicidade que aguarda sua acolhida.
É importante realçar que essa linha de estímulos jamais exclui a fala e não necessita
ser de longa duração ou com maior intensidade, apenas alguns minutos por dia (5 a
19
19
10) pela manhã e pela tarde, podem ocasionar extraordinárias diferenças entre
crianças que foram estimuladas na vida pré-natal e as que não o foram.
1.5- O “Motor” da Linguagem: A Importância da Fala Interior
A palavra humana é um fenômeno provocado pela vibração do ar ao se usar
com harmonia a contração de músculos que fazem parte de nossas vias respiratórias
superiores. Essa vibração produz sons diferentes que nossos pensamentos tornam
voluntários e, depois, os automatiza graças a um condicionamento auditivo e
sonoro. A ação desses músculos entra em atividade por impulsos encaminhados
pelos nervos motores especiais situados em duas áreas, não maiores que uma moeda
de dez centavos, situadas no córtex cerebral.
A produção e a compreensão da linguagem mão se acomodam em
alojamentos claramente distintos de uma geografia cerebral. Estudos recentes
obtidos por meio de Imagens de Ressonância Magnética, Ressonância Magnética
Funcional, Magneto-encefalografia e Tomografia por Emissão de Pósitrons,
associados a testes clínicos altamente específicos, mostram que a capacidade
necessária de movimentar a língua para produzir sons da fala e a capacidade de
ouvir e decodificar os mesmos sons não são sistemas independentes e nem tão
restritos, existindo até mesmo centros específicos para verbos regulares ou
irregulares, para nomes dados a cores vivas ou pedras preciosas. Sabe-se que a
neurobiologia encontra-se relativamente distante de identificar seções ou centros de
fonologia na mente humana, ainda que se saiba que é o hemisfério esquerdo que,
atingido por uma lesão, mais afeta o processamento da fala. Em termos puramente
lingüísticos, o hemisfério esquerdo, de maneira geral, parece controlar a linguagem
de praticamente todos os destros (97%), mas o hemisfério direito controla a
linguagem em cerca de 19% dos canhotos. O restante possui os centros de
linguagem no hemisfério esquerdo ou em ambos.
A linguagem articulada é uma função cerebral de localização não claramente
definida. Além disso, por se tratar de um comando motor, submete-se à dependência
dos estados dos músculos e de todos os influxos de outras origens que desembocam
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nos neurônios motores. Assim, falar não representa uso de órgão específico, mas
ação que ativa pontos diferentes desde o córtex pré-frontal até as estruturas baixas e
primitivas do cerebelo, o que significa, assim, que a capacidade humana de
construir a gramática é resultado de lenta evolução, embutida na genética e não no
desenvolvimento de ponto único e específico, algo como um “grão de feijão”,
localizado no hemisfério esquerdo.
O motor da fala depende de outras áreas cerebrais. Assim, a articulação da
palavra depende do centro de linguagem e das inúmeras relações deste com outras
redes neuronais e destas com núcleos diversos do sentido auditivo. Portanto, a
palavra adquire, no cérebro, uma personalidade específica, processo representado
por um amplo quadro de manobras neurônicas que envolve toda a região central do
hemisfério, entre as zonas parietal, frontal e temporal.
Um dos pontos essenciais e diferenciados deste motor é a zona da linguagem
interior, onde nascem as palavras do pensamento não expresso, imprescindível para
o desenvolvimento mais amplo das idéias. Para Vygotsky (1977), “enquanto na fala
externa o pensamento corporifica-se em palavras, na fala interior as palavras
morrem quando dão à luz o pensamento”. É como se fosse um pensamento puro,
razão pela qual necessita ser estimulada sempre.
A prática do monólogo interior é essencial, pois é por meio da fala interior
que a criança constrói sua própria identidade e a identidade de seu mundo. Nunca
interrompa ou ironize uma criança ao vê- la falando consigo mesmo, fazendo seus
bonecos conversarem , já que é aí que está acontecendo o seu processo de formação.
A mediação dos adultos na fala infantil é necessária tanto na fala externa
quanto na interior.A criança que é interrogada com doçura e curiosidade e levada a
expor o seu pensar por meio da fala interior, não pensa menos, mas de forma
diferente. A criança que, encaminhada pelo adulto, constrói seus amigos secretos,
percorre o admirável mundo do faz-de-conta. Ao interrogar uma criança de 3 ou 4
anos, solicite- lhe que pense e imagine-se em um cavalo que voa e por onde voa e,
assim, faça-a mergulhar em sua fala interior, depois, sugira que conte-lhe, com
cores e detalhes, sobre esse cavalo e sua viagem e você estará estimulando-a a
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expressar-se, com a fala externa, os dois níveis de pensamento que encantaram
Vygotsky.
1.6 – A Linguagem, O Pensamento e as Inteligências
De acordo com os livros, a inteligência é um potencial biopsicológico, uma
capacidade cerebral que o homem usa para resolver problemas e para criar produtos
que a sociedade considera valiosos ou que precisa. Pode ser também a capacidade
de compreender, adaptar-se aos desafios e estabelecer hierarquias entre os valores
que fazem uma pessoa viver e se relacionar. Inteligência é portanto a capacidade de
atingir objetivos diante de obstáculos por meio de decisões baseadas em regras
racionais. Desse ponto de vista, consiste em especificar objetivos, avaliar as
situações e colocar em prática diferentes operações para alcançá- los. Uma vez que a
linguagem é um instrumento do pensar, é também importante instrumento da
inteligência; quem mais a desenvolve, até mesmo conversando consigo mesmo,
mais claramente assume a consciência de suas inteligências.
Assim, a capacidade de pensar de maneira congruente se manifesta de forma
diferenciada, havendo “diversas inteligências” e não apenas uma inteligência geral,
como um dia se pensou. Ser inteligente é dar respostas a problemas que requerem
habilidades lingüísticas e lógicas, mas pode também apresentar respostas
inteligentes sem o uso das palavras ou da lógica. Uma pessoa que apresente lesões
cerebrais que a impedem de falar ou raciocinar por meio de símbolos numéricos,
pode exibir suas outras inteligências na forma como ama, pinta, encanta-se com a
natureza, como percebe o espaça que ocupa seu entorno. Com essas revelações, os
estudos sobre a mente humana desmontaram uma visão singular da inteligência
humana, exaltando uma percepção pluralista e reconhecendo, em nossas ações,
redes neurais diferentes e forças cognitivas diferenciadas.
Considerando que os seres humanos possuem competências diferentes para
resolver diferentes problemas, Howard Gardner, desde 1979, vem empreendendo
estudos e pesquisas para reiterar que o homem não é dono de uma única inteligência
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geral, mas de múltiplas inteligências, que variam desde sua capacidade para compor
e compreender a música até as relativas ao entendimento de si mesmo. Seus
estudos culminaram em 1983 com a publicação da obra “Estruturas da Mente”, que
consolidava a teoria de que mente humana abriga, atuando de forma integrada, sete
tipos de inteligência, número posteriormente elevado para oito, e que atualmente, de
acordo com novas pesquisas, chega a nove. Desde que essa teoria desenvolveu
corpo e popularidade, ganhou força a questão: uma inteligência é mais importante
que outra?
Se a resposta é positiva, qual delas seria a mais importante?
As inteligências podem ser divididas em:
1- Lingüística ou Verbal – Está relacionada às palavras e à linguagem –
escrita e falada – domina a maior parte do universo educacional ocidental.
Responsável pela produção da linguagem e de todas as complexas
possibilidades que a seguem, incluindo poesia, humor, o contar histerias,
gramática, metáforas, similaridades, raciocínio abstrato, pensamento
simbólico, padronização conceitual, leitura e escrita.Pode ser encontrada
nos poetas, teatrólogos, escritores, novelistas, oradores e comediantes.
2- Lógico-Matemática – Está associada ao raciocínio científico ou indutivo.
Envolve a capacidade de reconhecer padrões, de trabalhar com símbolos
abstratos (números e formas geométricas), bem como discernir
relacionamentos e/ou ver conexões entre peças separadas ou distintas.
Presente nos cientistas, programadores de computadores, contadores,
advogados, banqueiros e matemáticos.
3- Visual-Espacial – Está associada ao senso de visão e na capacidade de
visualização espacial de um objeto, inclui a habilidade de criar imagens
mentais. Lida com atividades como as artes visuais (pintura, desenho e
escultura), navegação, criação de mapas e arquitetura ( que envolve o uso
do espaço e conhecimento de como se locomover), e jogos como xadrez (
que requer a habilidade de visualizar objetos a partir de diferentes
perspectivas). É o sentido de visão mas também a habilidade de formar
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imagens mentais. Presente nos arquitetos, artistas gráficos, cartógrafos,
desenhistas de produtos industriais e artistas pintores e escultores.
4- Musical – Rítmica – Baseia-se no reconhecimento de padrões tonais
(incluindo sons ambientais) e numa sensibilidade para ritmos e batidas.
Inclui capacidades para o manuseio avançado de instrumentos musicais.
Pode ser encontrada nos compositores musicais , nos músicos
profissionais e professores de dança.
5- Corporal – Relaciona-se com o movimento físico e com a sabedoria do
corpo, incluindo o córtex cerebral que controla o movimento corporal. É a
habilidade de usar o corpo para expressar uma emoção (dança e
linguagem corporal), jogar um jogo (esporte) e criar um novo produto
(invenções). O corpo é que sabe andar de bicicleta, estacionar o carro,
datilografar e dançar. Encontra-se nos atores, atletas, mímicos,
dançarinos, cirurgiões e inventores.
6- Pessoais : Interpessoais e Intrapessoais – A 1ª envolve a habilidade de
trabalhar em conjunto, de se expressar verbal e não- verbalmente. Possui a
capacidade de perceber, no outro, alterações de humor, temperamento,
motivações e intenções, ler desejos , entre outras coisas. É desenvolvida
por aconselhadores, professores, terapeutas, políticos e líderes religiosos.
A 2ª envolve o relacionamento consigo mesmo, a auto-reflexão, a
metacognição e sensibilidade frente às realidades espirituais. É o
conhecimento dos aspectos internos do ser. É encontrada nos filósofos,
psiquiatras, pesquisadores de padrões de cognição e aconselhadores
espirituais.
7- Naturalista – É a habilidade para reconhecer a flora e fauna, para fazer
distinção no mundo natural e sensibilidade em relação a ele. É encontrada
em naturalistas, botânicos, geógrafos, paisagistas e biólogos.
Após a análise destas inteligências é complicado dizer se uma é realmente mais
importante que a outra, pois todas são usadas no dia-a-dia e o que é importante para um,
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não é para o outro. Para Gardner, todas as inteligências têm igual valor e direito à
prioridade e, assim, confirma que tanto o escultor, o escritor, o músico e o matemático
possuem genialidade . Porém, pode-se dizer que a Lingüística pode servir as outras, já que
o homem depende da palavra para se expressar, independente do que seja ou faça; um
mundo sem palavras seria um mundo desprovido de informações, empobrecido de
manifestações de outras inteligências, e ,se isto não serve para hierarquizar a inteligência
lingüística sobre as demais, ele comprova que é por meio dela que se chega as outras.
O homem é a sua palavra agora e na Antigüidade e esta é a forma de expressão maior
de todas as suas inteligências. A linguagem é a própria expressão de uma de nossas
inteligências e ferramenta essencial a todas as demais. A teoria de inteligências múltiplas
ressalta que a palavra, colocando-se a serviço do pensamento, coloca-se a serviço de todas
as demais inteligências, uma vez que permite o desenvolvimento de idéias matemáticas,
espaciais, sonoras, corporais, naturalistas e intra e interpessoais.
1.7 – A Conquista e o Treino da Linguagem
Os progressos nos primeiros anos de vida de uma criança, principalmente no
primeiro, que é o mais importante de todos, dependem de dois fatores: de um lado, do
dinamismo do próprio corpo e de seus instintos, aperfeiçoados pela evolução que promove
a maturação, e, de outro, da influência do meio e da intensidade com que este puder propor
estímulos e desafios. As diferenças hereditárias também contam, mas em escala bem
menor, e influenciam apenas mudanças menores.
Se, de um lado, a educação nada pode fazer para acelerar o ritmo biológico que leva
o cérebro à maturação, as aquisições conquistadas na 1ª infância e a maneira como o
pensamento e a fala são aperfeiçoados e exercitados constituem forma irreversível no
delineamento das reflexões que mais tarde poderão ou não ser feitas. O estímulo pré-natal é
importante, mas é pelo emocional que se desenvolve.
As etapas para os estímulos da linguagem obedecem ou seguem a ordem de sua faixa
etária. O quadro abaixo apresenta uma generalização sobre as características da fala social.
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QUADRO – A FALA SOCIAL DA CRIANÇA
A forma e a função da fala apresentam-se muito ligadas. À medida que dominam as
palavras, as sentenças e a gramática, passam a se comunicar melhor. A fala social
diferencia-se da fala interior e destina-se a ser entendida pelo interlocutor. Leva em conta
as necessidades do outro e é usada para estabelecer e manter a comunicação. Pode ser
expressivamente estimulada por meio de questões intrigantes, envolvendo análises,
descrições, comparações, sínteses e críticas.
É possível ensinar e treinar a criança a dizer e a falar, através de jogos, exercícios e
atividades onde a linguagem verbal, principalmente a falada, seja pedida à criança. Cabe
aos adultos esta missão.
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CAPÍTULO 2
A ESCRITA
Como já foi falado, a comunicação e a expressão entre os seres humanos na
pré-história principiaram por um parco sistema de sinais. É interessante lembrar
que os animais também trocam certos sinais / códigos entre si. Uma forma peculiar
de comunicação por assim dizer. Pelo gesto, o homem expressava-se, mas a
comunicação era de fato ineficaz. Carecia do que chamamos de linguagem.
Outras centenas de anos sucederam-se e o homem percebeu o poder que tinha
sobre a natureza e o seu potencial de transformá-la em benefício da sua
sobrevivência. O homem percebeu que havia uma desvantagem muito grande entre
ele e a natureza, pois só possuía as mãos e as habilidades que lhe eram inerentes.
Assim sendo, segundo Ernest Fischer “foi a mão que libertou a razão humana e
produziu a consciência própria do homem”, o homem criou a ferramenta e foi
diversificando sua forma para alcançar outros usos. Daí, deparou com um problema:
identificá- las e diferenciá- las no momento de sua escolha. Surgiu, então, a
comunicação oral. O homem foi “nomeando” seus instrumentos de acordo com o
som que eles produziam quando em funcionamento. Um sistema de gestos e sons
foi a base da comunicação oral.
Entretanto, a palavra pronunciada era facilmente esquecida. Anos se passaram
para a chegada da palavra escrita. O aprimoramento da comunicação entre os povos
deu- lhes e ainda dá maior garantia de sobrevivência
Aos 3100 a.C., na Mesopotâmia, onde é hoje o Iraque, a humanidade
conhecia seu mais antigo sistema de escrita, o cuneiforme. Primeiramente, somente
o escriba, uma espécie de escrivão oficial, dominava a técnica de escrever. Com a
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evolução da história, passaram a técnica aos rapazes, como num preparo para
alcançar o posto. A mulher experimentava aí um preconceito, pois os homens
entendiam ser uma tarefa unicamente masculina.
Os rituais religiosos do antigo Egito também atribuíam importância à escrita.
Por volta de 3000 a.C., o Livro dos mortos, considerado o 1º livro da humanidade,
era composto de cânticos, preces e poemas em uma espécie de homenagem a seus
mortos, já que um exemplar era depositado na tumba para orientá- lo “do outro
lado”.
Aos 1000 a.C., os chineses usavam fragmentos de galhos como instrumentos
de escrita e, no ano 100 d.C., esse povo inventou o papel e a tinta.Pelos idos de 700
d.C., as penas das aves foram usadas para escrever. Somente em 1450, Johann
Gutenberg idealizou um rudimentar e inovador equipamento que permitia a
reprodução de textos escritos, a tipografia. Seu trabalho mais importante foi a
impressão de Bíblia em latim. Sua invenção foi o marco inicial da escrita no avanço
da humanidade.
Do galho ao Word da Microsoft, escrever sempre foi, e é, uma grande
realização humana e um meio de circulação de nossos conhecimentos e de nossas
idéias. Pode-se representar por meio da palavra escrita ou falada qualquer coisa,
animada ou inanimada. Não importando o idioma, mas respeitando as diferenças
semânticas, gramaticais ou fonéticas, as palavras são o código e a linguagem que
permite ao homem seguir em sua existência. Porém, há na palavra escrita uma
peculiaridade.
Quando se fala é possível utilizar recursos que ajudam a esclarecer nossa
mensagem, como gestos, expressões faciais, o olhar, a ênfase em determinadas
palavras, o tom da voz etc. Até mesmo o Rei Roberto Carlos coloca em sua música
“tem tanto para falar, mas com palavras não sei dizer”. Na comunicação escrita, por
sua vez, os recursos acima somem e não resta outra coisa a não ser escrever bem. E
escrever bem não quer dizer tão somente fugir das incorreções gramaticais, mas na
eficiência da comunicação.
O que se escreve torna-se sua imagem e semelhança. A leitura está ligada à
escrita e, até mesmo, ao dormir está se lendo em sonhos. Ler é um ato reflexivo que
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nos é inerente e, não há como fugir disto, já que na rua, no trabalho, no carro, na
condução, em casa,etc., depara-se com cartazes, “outdoors”, avisos,entre outros. É
impossível não lê- los, pois 1º, lê, depois vê se era bom ou não. E tudo que se lê, é
porque alguém ali escreveu. Daí, a importância da palavra escrita. Ela carrega
consigo a faculdade de circular o mundo. Como diz o provérbio latino “As palavras
voam, os escritos ficam.” Por isso Salman Rushdie, escritor iraniano e escritor de
“Versos Satânicos”, foi condenado à morte e despertou a fúria do Aiatolá Khomeini
e vive em fuga até hoje. Se as palavras tivessem sido ditas, talvez tivessem sido
esquecidas.
Logo, pode-se notar que o texto não é apenas o produto de uma simples
técnica de registro, um meio através do qual é preservada a memória da
humanidade. Vai muito além disso. Ele é um poderoso instrumento no processo
construtivo da própria história da humanidade. Portanto, qualquer indivíduo que
deseje colaborar de forma marcante com sua geração e com as seguintes deve,
inevitavelmente, extrair o máximo dos recursos que a escrita oferece.
2.1 – Características da Escrita
A evolução da escrita sempre busca simplificação, economia e agilidade na
representação. É sempre marcado por necessidades determinadas pela história. A
possibilidade de divisão das palavras em sílabas componentes significa avanço na
compreensão de um idioma. A influência externa leva aos povos esta aprendizagem.
A escrita constitui-se num sistema de intercomunicação humana por meio de
signos convencionais visíveis, visuais. Os antigos não tinham essa visão.
A evolução da escrita é movida pela História. A escrita passa pela logografia,
silabografia e alfabetografia – sempre nesta ordem. Morton (1989) suger que o
processo de alfabetização ocorre na seguinte ordem:
Leitura Logográfia: as crianças tratam as palavras como se fossem desenhos e
usam pistas contextuais em vez de decodificação alfabética;
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Escrita Logográfica: as crianças adquirem um vocabulário visual de palavras.
Incluindo seus próprios nomes, mas não são influenciadas pela ordem em que as
letras aparecem nas palavras, exceto pela letra inicial;
Escrita Alfabética: as crianças tornam-se capazes de fazer acesso à
apresentação fonológica das palavras, bem como de isolar fonemas individuais e de
mapeá- los nas letras correspondentes. Contudo, de modo a poder fazê- lo, elas
precisam conhecer as correspondências entre os grafemas e os fonemas;
Leitura Alfabética sem compreensão: as crianças tornam-se capazes de
converter uma seqüência de letras em fonemas: contudo elas ainda são capazes de
perceber o significado que subjaz à forma fonológica que resulta da decodificação;
Leitura Alfabética com compreensão: as crianças tornam-se capazes de
decodificar tanto a fonologia quanto o significado da palavra. Elas fazem acesso ao
significado ouvindo a retroalimentação ( i.e., feedback) acústica que resulta do
processo de decodificação fonológica;
Leitura Ortográfica: as crianças tornam-se capazes de ler por reconhecimento
das unidades morfêmicas, ou seja, passando a fazer acesso direto ao sistema
semântico;
Escrita Ortográfica: as crianças tornam-se capazes de escrever usando um
sistema léxico-grafêmico que dá conta da estrutura morfológica de cada palavra.
Portanto, há três diferentes estratégias para a leitura e a escrita: as estratégias
logográfica, fonológica e lexical que se desenvolvem nos estágios logográfico,
alfabético e ortográfico, respectivamente. Quando uma nova estratégia se
desenvolve, a anterior não desaparece, mas sua aplicação e importância relativas
diminuem. Assim, as estratégias não são mutuamente excludentes e podem coexistir
simultaneamente no leitor e no escritor competentes. Neste caso, a estratégia a ser
usada em qualquer dado momento depende do tipo de item a ser lido ou escrito. A
estratégia logográfica continua útil para ler sinais de trânsito, marcas e logotipos; a
fonológica, para ler pseudopalavras e palavras novas, como as de bulas de
medicamentos; e a lexical, para ler palavras grafo-fonemicamente irregulares, mas
de alta freqüência na língua.
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Além disso a escrita é mais conservadora que a língua falada e tem um poder
restrito sobre o desenvolvimento natural de um idioma. A forma como o idioma é
utilizado na escrita é mais antiga, rígida e convencional do que a forma utilizada na
fala cotidiana. Emprega-se na escrita uma forma distinta da fala. A escrita resiste a
toda mudança lingüística, que é considerada freqüentemente uma “corrupção” da
língua.
Para dimensionar as restrições impostas pela escrita, basta analisar o
desenvolvimento fonético e morfológico de qualquer idioma. Tanto que sociedades
mais simples, porém contemporâneas, e que vivem um estágio anterior à escrita
modificam sua língua com extrema rapidez. As constantes mudanças lingüísticas
têm por conseqüência a fragmentação da língua em novos dialetos e novos idiomas,
trazendo dificuldade de comunicação entre os falantes daquele idioma.
2.2 – Escrita e Língua Nacional
O domínio da escrita está associado ao desenvolvimento político-cultural e
econômico de um povo. Logo, nos países mais desenvolvidos o número de
analfabetos é ínfimo. A população tem acesso à escrita e aos bens que a sociedade
produz. Em contrapartida, nos países subdesenvolvidos, o número de analfabetos é
grande, principalmente, entre a população mais carente.
A língua e a escrita constituem símbolos externos de uma nação e esta é a
razão pela qual os tesouros escritos são o principal alvo de destruição dos
conquistadores.
2.3 – A Língua Escrita em Funcionamento
Pode-se analisar a escrita, procurando entender o funcionamento do sistema
alfabético e tendo em vista descobrir o princípio fundamental que rege esse
sistema: diferenças gráficas que indicam diferenças sonoras.
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Nesse sentido, a tentativa humana nos seus primórdios foi reproduzir um
sistema gráfico que espelhasse a fala. Com base nesse aspecto específico dos
sistemas alfabéticos, originaram-se todas as metodologias de alfabetização em uso
até os dias atuais, já que a escrita é utilizada pela maioria da população, usufruindo
essa característica desses sistemas.
O alfabetizado é aquele que foi ensinado e convencido pelo processo escolar
de alfabetização que.para ler, basta seguir com os olhos, linha por linha, o texto
escrito, tentando transformar cada letra, sílaba e palavra numa oralidade que, muitas
vezes, lhe soa estranho.
Com este precário dispositivo que lhe foi ensinado, quando o alfabetizado
passa em frente a uma grande banca ou livraria, ele deve se perguntar como? Por
quê? Para quê? Com o século XX, a explosão de informação redimensionou o papel
da escrita.
Imobilizada pela concepção de leitura propagada pelas metodologias
tradicionais, a escola não se deu conta da importância da leitura na vida cotidiana do
trabalho e do lazer, da variedade de situações de uso da escrita instituída pelo
mundo moderno, do que fazemos quando lemos e do papel da intencionalidade do
leitor nos usos que faz do impresso.
Assim sendo, é diferente entender com funciona o sistema alfabético na
dinâmica do seu uso (a leitura). Um traço distinto, visto como pertinente na análise
da língua escrita enquanto sistema elaborado de acordo com certo princípio, pode
não ser o traço distintivo utilizado por leitores competentes no ato de ler. Embora o
leitor use os sinais gráficos como ideogramas no ato da escrita, isto não é uma
estratégia eficaz para a leitura eficiente.
2.4 – A Escrita como um Bem Cultural
O ambiente cultural do aluno influi de forma significativa em seu modo de
encarar a escrita. É no ambiente familiar que o aluno tem as suas primeiras
influências quanto ao uso da língua falada e da escrita e a importância atribuída a
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cada uma delas por parte de seus familiares. Num ambiente onde circule jornais,
revistas e outros informes escritos e onde os adultos usem a escrita e a leitura como
uma prática cotidiana em suas vidas, a criança irá ter um ambiente propício a
utilizar as mesmas, sem contar com o apoio fundamental dos pais para isto. Pois não
só o dever, mas também o lazer vai estar relacionado a isto, já que o acesso à revista
em quadrinhos, palavras cruzadas, livros de literatura , filmes e desenhos é livre e
garantido. Mas num ambiente onde há falta disso tudo, a prática da leitura é
comprometida, já que além de não ter recurso para ter esses bens dentro de casa
,muitas vezes o hábito não é incentivado, pois nem os pais fazem uso dele por não
saber ler e escrever. A realidade é totalmente diferente. Logo as criança,cujos pais
têm uma qualificação maior, tendem também a ter uma escrita que reproduza o seu
meio e com isto uma escrita quase sem erros e capaz de passar uma informação sem
maiores problemas e a linguagem utilizada pelo ambiente escolar será bastante
próxima de sua realidade. Isto não acontece com as crianças menos abastadas, pois
a escola não acata o seu linguajar e a linguagem utilizada por ela não lhe faz
nenhum sentido, tornando-a distante e por assim não dizer excludente.
O letramento, enquanto prática social ligada ao uso da escrita, tem uma
história rica e multi- facetada. Numa sociedade como a nossa, a escrita, enquanto
manifestação formal dos diversão tipos de letramento, é mais do que uma
tecnologia. Ela se tornou um bem social indispensável para enfrentar o dia-a-dia,
seja nos centros urbanos ou na zona rural, já que há em todos os lugares acesso à
modernidade e aos meios de comunicação pelo advento da luz. Neste sentido, pode
ser considerada como essencial à própria sobrevivência no mundo moderno, em
virtude de como ela se impôs e a sua penetração nas sociedades modernas, ou seja,
na cultura destas. A sua prática simboliza educação, desenvolvimento e poder.
Entretanto, muitos não percebem que a fala não é primária e nem a escrita é
secundária, pois a escrita não pode ser tida como uma representação da fala, já que
não consegue reproduzir muitos fenômenos da oralidade, tais como a prosódia, a
gestualidade, os movimentos do corpo e dos olhos... e, por outro lado, a escrita
apresenta elementos significativos próprios, ausentes na fala, como o tamanho e tipo
de letras, cores e formatos, elementos pictóricos que substituem aos gestos, mímica
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e prosódia quando representados graficamente. Portanto oralidade e escrita são
práticas e usos da língua com características próprias. Ambas permitem a
construção de textos coesos e coerentes, a elaboração de raciocínios abstratos e
exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais, dialetais e assim por
diante.
No entanto, o uso da escrita quando arraigado numa sociedade, ele impõe-se
de maneira violenta e adquire um valor social superior ao da oralidade. Daí a sua
importância em ser bem realizada.
Um outro fator contribui para o prestígio da língua escrita, é o modo como ele
é adquirida - ensinada em contextos formais: na escola; enquanto que a fala é
aprendida de modo natural e insere e socializa culturalmente uma pessoa em uma
sociedade. Por ser ensinada em um ambiente formal, a escrita é considerada como
um bem cultural mais desejável
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CAPÍTULO 3
A LÍNGUA ORAL E A LÍNGUA ESCRITA
A oralidade e a escrita são práticas sociais, portanto a língua reflete, pela fala ou pela
escrita, a organização da sociedade, pois se relaciona com as representações e formações
sociais. A língua integra a cultura por ser uma criação humana.
Embora a língua seja um elemento importante para a cultura, o conhecimento de
uma não equivale ao conhecimento da outra.
A importância atribuída à escrita e à oralidade, como práticas sociais, está ligada ao
papel que exercem nas civilizações modernas.
As formas de comunicação e de expressão do pensamento se transformam, pois a
oralidade ganha um novo perfil com as mudanças sociais, cognitivas e comunicativas e isto
influencia na escrita, basta observar a linguagem usada na era do computador, via Internet.
A linguagem é um fenômeno oral, mas não único, pois há comunicações não-orais,
tais como os gestos. Porém, a linguagem duplamente articulada é de importância
fundamental na vida humana, pois apesar de ricas as outras formas de linguagens podem
substituir a linguagem falada.
A escrita é de extrema importância e está sempre associada à oralidade, que lhe é o
sistema primário e do qual é dependente. A língua oral pode existir sem a língua escrita,
porém esta não existe sem aquela. Todos os textos escritos se relacionam com a oralidade,
de forma direta ou não.
Apesar disso, os estudos sobre a linguagem até bem pouco tempo não aceitavam a
oralidade e tratavam somente das produções escritas. Atualmente, isto está mudando, pois
vários estudos feitos em relação à oralidade estão em voga e são de grande importância
para o entendimento do homem moderno que precisa da palavra escrita, porém não está à
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vontade para utilizá- la, seja por meio da fala ou da escrita, sendo esta última a pior maneira
de se expressar. E a situação se agrava quando o assunto não é de seu conhecimento e nem
faz parte do seu dia-a-dia.
Observa-se que a prática escolar prioriza a escrita e a tem como elemento
fundamental para a produção de textos, fora de contextos e abstratos para os educandos. A
escola considera a língua escrita e a língua oral como formas diferentes de comunicação,
como se fossem línguas distintas. Valoriza uma em detrimento da outra, conseguindo criar
nos alunos um preconceito em relação às produções orais e uma negação às produções
escritas.
A oralidade e a escrita não são encaradas como duas variedades discursivas da
mesma língua, cada uma tendo a sua importância e a sua formação dentro da sociedade.
Não são vistas como saberes tradicionalmente fixados numa determinada comunidade; caso
isso acontecesse, a visão tradicional do certo e do errado deixaria de existir, pois na língua
há normas, mas não necessariamente normas cultas ou incultas.
A oralidade e a escrita têm suas características particulares, pois apresentam
particularidades de ordens diversas: lexical, morfológica, sintática e de registro, em especial
(coloquialismo e formalismo), mas ambas pertencem a um sistema de possibilidades
discursivas único, além de apresentarem elementos comuns.
As diferenças e semelhanças entre oralidade e escrita passam pela sua multiplicidade
de usos no dia-a-dia.
A mudança de perspectiva no estudo da relação oralidade / escrita representa o
estabelecimento de um novo objeto de estudo acerca da nova concepção de linguagem e
produção textual.
Muitos já consideram a oralidade e a escrita duas práticas discursivas que interagem
e se completam no contexto das práticas sócio-culturais.
Por isso, a fala continua sendo o elemento caracterizador do ser humano, não só
porque continua a ser utilizada, mas porque ela subsiste sem a escrita. A escrita também
não consegue representar a fala em sua plenitude, já que várias características da fala lhe
são exclusivas, portanto, a escrita não poderia substiuí- la.
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A escrita completa a fala e é usada em situações específicas do cotidiano. Oralidade e
escrita ocorrem juntas nas práticas discursivas do homem em seu dia-a-dia, mas apresentam
objetivos diferentes em cada contexto, além de objetos variados de uso.
A influência da linguagem oral sobre a prática da escrita apresenta diferentes níveis,
pois a fala pode ter total influência na escrita de um aprendiz ou de um falante analfabeto
como representação simples da língua oral, como
constata-se na questão de referência, repetição, marcadores discursivos, justaposição de
enunciados, discurso citado, segmentação gráfica, grafia correspondente à palavra ou
seqüência de palavras e autocorreção.
A língua escrita também influencia a prática da oralidade, pois a escrita
convencionada (lhe é imposta), socializada, e difere da utilizada até então. A partir daí, a
escrita influencia a fala, que procura reproduzir a escrita nas pessoas pós-alfabetizadas.
As características do texto escrito, como o uso dos conectivos subordinativos e
coordenativos na elaboração de frases mais complexas, limitados por estruturas do
pensamento lógico, estruturas com verbo na voz passiva, nominalizações e elipse do
sujeito.
Quando a fala procura simular a escrita, o grau de instrução do seu usuário é mais
alto, dificultando o encontro da influência da escrita sobre a oralidade ou vice-versa, ou se
não fruto de influências mútuas que se processam inconscientemente no indivíduo letrado.
Com isso, pode-se citar a topicalização sendo uma característica comum às duas
modalidades discursivas, já que pode ser observada tanto na produção oral quanto na
escrita.
Logo, o fenômeno de influências se dá nas duas direções e é um processo contínuo: a
evolução de uma se relaciona com a prática efetiva da outra, pois ambas são desenvolvidas
em sociedades modernas e que a cada estágio do uso da língua, a linguagem oral e a escrita
influenciam uma à outra.
Mesmo com todo este estudo, um dos problemas encontrados na aprendizagem da
escrita é a influência da língua oral. Os alunos tendem a transpor as estruturas orais
diretamente para a língua escrita. Só que a língua escrita é mais conservadora do que a oral
e as inovações presentes na oralidade não são aceitas nas redações. O professor tende a
considerar erro tudo o que é novo, por haver tão poucos estudos de português oral, por isso
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a importância da descrição das estruturas da língua oral para o conhecimento dos mestres,
que não compreendem as dificuldades dos alunos na aprendizagem da escrita.
É preciso saber o porquê do uso de uma determinada estrutura, o que se faz por
observação e descrição da mesma. Partindo daí, pode-se começar a constratar a língua oral
com a escrita, a fim de ajudar o professor a programar uma maneira para ensinar redação.
Este estudo da estrutura oral e a sua difusão não irão levar a achar que tal aluno não
domina os padrões corretos de pensamento e vai ajudar a solucionar o mesmo, já que todos
(professores e alunos) ficam confusos, pois “o que se ouve, não se pode escrever”.
Exemplos dados por Eunice Pontes exemplificam situações reais, espontâneas da
fala:
1- “Essa casa bate muito sol”.
2- “A Belina cabe muita gente”.
3- “Essa janela não venta muito”.
As estruturas exemplificadas acima são típicas de tópico-comentário, são mais
subjetivas, chamam a atenção para um “ser” em especial e aparecem no início da oração e
despreposicionados, mas para as pessoas cultas estas estruturas dariam lugar as
gramaticalmente corretas, então, mais aceitas, porém mais neutras. Exemplo:
1- Nessa casa bate muito sol.
2- Na Belina cabe muita gente.
3- Nessa janela não venta muito.
Com a ajuda da gramática tradicional, pode-se constatar que, os verbos “caber” e
“bater” não admitem sujeitos como “casa” e “carro”, respectivamente e “ventar” é verbo
impessoal, não tendo sujeito, daí não serem aceitas estas estruturas, mas, no entanto, Eunice
Pontes cita outras que são aceitas, tais como: “João é difícil de entender”, quando o certo
seria “É difícil entender João”.
É importante para o professor entender estas e outras estruturas semelhantes para que
possa ajudar o aluno a dominar as estruturas da língua escrita.
A importância dada à oralidade e a abordagem que está sendo feita é fundamental
para o entendimento do que se passa na escrita do alunado; só com este conhecimento é que
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se terá possibilidade de ajudar o educando a diferenciar a língua escrita e a língua oral – as
estruturas predominantes em cada uma delas e como não as confundir, formulando,
produzindo um texto, não longe da oralidade, mas dentro dos padrões aceitos pelos
gramáticos. Pode-se dar dicas das estruturas, quem vem na frente, o que completa tal termo,
a noção que este termo tem e, assim distinguir o que se fala do que se escreve. A estrutura
predicado e sujeito está fixada na nossa língua e não se possibilita considerar outras que
não sejam essas.
Há na língua portuguesa um desrespeito quanto à essa estrutura por alguns literatas
famosos, mas os professores seguem as normas das gramáticos e evitam a refletir sobre o
uso destas estruturas por autores consagrados, simplesmente com a desculpa que estes
sabem usar a língua e o aluno, não. Esquecem, aí, que os bons escritores tiveram a língua
oral como base para os seus escritos.
Ao aluno cabe apenas uma opção para o seu escrito: a estrutura sujeito / predicado,
ou a tópico-comentário e a preocupação com o contexto, com a seqüência, com o sentido
não são tão importantes quanto não haver nada errado gramaticalmente. Pode até mesmo
ser um texto vazio de conteúdo, mas certo em termos gramaticais.
Isto é um erro, pois faz o aluno a ter aversão a este tipo de tarefa que é a produção de
texto escrito, já que o que ele fala, pensa, quando passado para o papel fica sem o menor
sentido, importância se contiver apenas um erro gramatical. Isto afasta o aluno da sua
língua e de querer aprofundar o seu conhecimento, já que todo o seu conhecimento oral da
língua é descartado. Pois a fala ainda é vista, por muitos profissionais e estudiosos, como a
lugar do “caos” por conter pausas, hesitações, alongamentos de vogais e consoantes,
repetições, ênfases, truncamentos, entre outros.
Deste modo, se ele não sabe escrever dentro das normas gramaticais da língua, ele
vai se acanhar e não mais escreverá, pois achará que não domina a língua o suficiente para
escrevê- la, fazendo com que a vontade de estudar passe ou seja descartada diante do
preconceito e decepção consigo mesmo.
Observa-se, então, que se continua a menosprezar os conhecimentos dos alunos
oriundos das classes mais baixas e a considerar somente uns poucos privilegiados que
continuam tendo a chance de estudar, já que cada um reproduz a fala de seu meio social que
influencia a escrita.
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Pode-se dizer que um evento comunicativo constitui-se dos seguintes aspectos
significativos:
a) situação discursiva: formal, informal;
b) evento da fala: casual, espontâneo, profissional, institucional;
c) tema do evento: casual, prévio;
d) objetivo do evento: nenhum, prévio;
e) participantes; idade, sexo, posição social, formação, profissão, crenças
etc.;
f) grau de preparo necessário para efetivação do evento: nenhum, pouco,
muito;
g) relação entre os participantes: amigos, conhecidos, inimigos,
desconhecidos, parentes;
h) canal utilizado para a realização do evento: face a face, telefone, rádio,
Internet.
A seleção de um ou outro item dentre os elencados interfere nas condições de
produção do texto falado, determinando a especificidade do evento discursivo.
O desenvolvimento do texto falado está diretamente ligado ao modo como a
atividade interacional se organiza entre os participantes. Essa organização resulta de
decisões interpretativas, inferidas a partir de pressupostos cognitivos e culturais, tomadas
durante o curso da conversação.
Outros exemplos da influência da oralidade na produção de textos são: questões
tópico-comentário, grafia correspondente à palavra, falta de pontuação, discurso falado, a
falta de marcação da fala dos personagens, na segmentação gráfica, na repetição ou falta de
conectivos, entre outros. Exemplos estes que podem ser vistos na produção de texto de
alunos do ensino fundamental do 2º segmento da rede pública estadual de Niterói:
Estrutura Tópico-Comentário: “Meu pai, alto, moreno, ele tem cabelo grande ...”
“Minha mãe o nome dela é Nilza.”
Falta de pontuação e de marcadores de fala: “O que você está fazendo aqui”
“...assustou e correu gritando pai socorro.”
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Falta de concordância: “Os olhos dele são castanho.”
Grafia correspondente à palavra: “...mais a filha do jardineiro...”
“...a família chorou e pediu demição...”
“ ...foi um lobizomem...”
“ ...se abriu derrepente...”
Repetição ou falta de conectivos: “Ai eu fui para cozinha acendi a luz e cosigui ver ele,
peguei a faca enfiei o peito dele ai ele cai e foi
virando um homem ai vi aquilo que eu matei
foi um lobizomem.”
Tema-rema ( divide o enunciado em duas partes e se dá especialmente na fala, porém
a sua presença na escrita é encontrada): “Por falar em Bianca, cadê a Bianca?”
“ a comida da escola eu gostei muito.”
Os exemplos acima só ilustram o quanto a oralidade está presente na escrita dos
alunos, principalmente, os de origem mais humilde e serve de base para uma reflexão séria
da prática didática oferecida a eles nas escolas, pois se nada for feito, em breve estes alunos
estarão no mercado de trabalho, ocupando vagas de subemprego, já que a escola não foi
capaz de ensinar- lhes de forma competente os diferentes usos da língua e a importância de
usá- la corretamente em algumas situações.
Logo, a escrita é vista como de estrutura complexa, formal e abstrata, enquanto a
fala, de estrutura simples ou desestruturada, informal, concreta e dependente do contexto.
Historicamente a escrita, sobretudo a literária, sempre foi considerada a verdadeira
forma, e a fala, instável, não podendo constituir objeto de estudo. Postura essa mudada por
Grimm na Alemanha e com Sweet e Jones na Inglaterra.
Os estudos não as compararam, mas colocou a fala sendo primária e a escrita,
derivada dela. Veja os depoimentos de alguns autores:
“A escrita é o simbolismo visual da fala.” (Sapir,1921:19)
“A escrita não é a linguagem, mas uma forma de gravar a linguagem por marcas
visíveis.” (Bloomfield, 1933:21)
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“A comunicação escrita é derivada da norma conversacional face a face.” (Fillmore,
1981:153)
“A escrita decorre da fala e é secundária em referência a esta.” (Mattoso Câmara,
1969:11)
Todos tratam as relações entre fala e escrita tendo como modelo a escrita. Fato esse
que tem gerado uma postura preconceituosa. Segundo Marcuschi (1993:63), “ os
gramáticos imaginam a fala como o lugar do erro, incorrendo no equívoco de confundir a
língua com a gramática codificada.”
Há um consenso de se creditar à fala a importância merecida por esta, já que o aluno
chega à escola sabendo falar, portanto domina a gramática da língua. A fala, também,
influencia a escrita nos primeiros anos escolares, na representação gráfica dos sons.
Como diz Biber (1988:08):
“Certamente em termos de desenvolvimento humano, a fala é o status primário.
Culturalmente, os homens aprendem a falar antes de escrever e, individualmente, as
crianças aprendem a falar antes de ler e escrever. Todas as crianças aprendem a falar
(excluindo-se as patologias); muitas crianças não aprendem a ler e a escrever. Todas as
culturas fazem uso da comunicação oral; muitas línguas são ágrafas. De uma perspectiva
histórica e da teoria do desenvolvimento, a fala é claramente primária.”
A língua falada para Marcuschi:
“representa uma dupla proposta de trabalho: por um lado trata-se de uma missão para
a ciência lingüística que deveria dedicar-se à descrição da fala e, por outro lado, é um
convite a que a escola amplie seu leque de atenção.”
Numa citação de Bechara (1985), tem-se o papel da escola quanto à fala:
“Quanto à escola, não se trata obviamente de “ensinar a fala”, mas de mostrar aos
alunos a grande variedade de usos da fala, dando-lhes a consciência de que a língua não é
homogênea, monolítica, trabalhando com eles os diferentes níveis (do mais coloquial ao
mais formal) das duas modalidades – escrita e fala -, isto é, procurando torná- los
“poliglotas dentro de sua própria língua”.
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E reafirmando a citação de Bechara, tem-se com Castilho (1998:13):
“(...) não se acredita mais que a função da escola deve concentrar-se apenas no ensino de
língua escrita, a pretexto de que o aluno já aprendeu a língua falada em casa. Ora, se essa
disciplina se concentrasse mais na reflexão sobre a língua que falamos, deixando de lado a
reprodução de esquemas classificatórios, logo se descobriria a importância da língua falada,
mesmo para a aquisição da língua escrita.”
Percebe-se que no momento vem-se criando a consciência de que a oralidade tem um
papel no ensino da língua e, nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais afirmam
que:
“A questão não é falar certo ou errado e sim saber que forma de fala utilizar,
considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o
registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que
falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa.”
Marcuschi coloca a oralidade como um problema de adequação às diferentes
situações comunicativas.
Assim sendo, o ensino da oralidade não deve ser visto de forma isolada e sem a
relação com a escrita, pois ambas têm entre si uma cumplicidade.
A elaboração do texto escrito, como do oral, envolve um objetivo ou intenção do
escritor. Porém, para o entendimento deste tipo de texto não basta só o seu valor semântico,
mas também as marcas de seu processo de produção, que irão orientar o leitor para a busca
do efeito de sentido pretendido pelo produtor. Um texto escrito tem no parágrafo uma de
suas unidades de construção e este pode conter um ou mais períodos reunidos em torno de
idéias co-relacionadas.
Para cada idéia, um parágrafo. Não há normas rígidas de paragrafação; ele só marca a
intencionalidade do produtor e é bom que não seja muito longo. Ele é marcado por um
recurso visual que é o seu recuo, ou espaço inicial. A diversidade do texto implica a
diversidade de construção de parágrafos. Podem ser narrativos, descritivos ou dissertativos,
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bastando o núcleo ser um incidente (episódio curto ou parte deste), um quadro (parte de
uma paisagem, ambiente, um instante...) ou de uma idéia (idéia principal), respectivamente.
É necessário que o texto escrito tenha unidade, coerência, concisão, clareza e fuja da
repetição para não se tornar cansativo.
Enquanto isso, os problemas o texto oral são a hesitação, a paráfrase, a repetição e a
correção. Estes problemas, que na verdade são atividades de formulação, desempenham
papel importante entre os processos de construção do texto falado, já que o locutor recorre a
essas atividades para formular etapas do desenvolvimento de sua própria construção de sue
interlocutor.
Atividades estas ocorridas na construção do texto falado e do escrito, porém se
efetiva de forma diferente em cada uma delas. Para o texto escrito é preciso uma edição
final do trabalho, apagando ou substituindo as incorreções; elas, aí, não são vistas.
Por isso a língua falada e a escrita possuem diferenças nos seus modos de aquisição;
nas suas condições de produção, transmissão e recepção; nos meios através dos quais os
elementos estruturais são organizados.
O pensamento de Akinnaso (1982:113), não difere ao afirmar que:
“A escrita é essencialmente um processo mecânico, sendo necessárias a manipulação
de um instrumento físico e a coordenação consciente de habilidades específicas motoras e
cognitivas. Assim, a escrita é completa e irremediavelmente artificial, enquanto a fala é um
processo natural, fazendo uso dos meios assim chamados órgãos da fala.”
Verifica-se que a língua falada não possui uma gramática própria; suas regras de
efetivação é que são distintas em relação à escrita. O que existe é maior liberdade de
iniciativa por parte dos falantes.
Além disso, segundo Marcuschi (1993:4-5), “as diferenças entre fala e a escrita não
se esgotam nem têm seu aspecto mais relevante no problema da representação física (grafia
x som), já que entre a fala e a escrita medeiam processos de construção de versos”.
3.1 – As Diferenças entre a Fala e a Escrita
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Na escrita usam-se palavras mais longas (polissilábicas), mais adjetivos atributivos,
um vocabulário mais variado e um texto mais curto.
Na fala usam-se poucas palavras, palavras de poucas sílabas, frases curtas, mais
palavras de referência, palavras de uso pessoal e os traços de oralidade, que são uso de
formas populares, citações de fala, emprego de termos estrangeiros, frases de efeito etc..
Para o estabelecimento das relações entre fala e escrita, sem que haja distorção do
que de fato ocorre, é preciso considerar, portanto, as condições de produção. Estas
possibilitam a efetivação de um evento comunicativo e são distintas em cada modalidade,
como se pode constatar no esquema abaixo:
FALA
ESCRITA
Interação faca a face
Interação à distância (espaço-temporal)
Planejamento simultâneo ou quase à produção
Planejamento anterior à produção
Criação coletiva: administrada passo a passo
Criação individual
Impossibilidade de apagamento
Possibilidade de revisão
Sem condições de consulta a outros textos
Livre consulta
A reformulação pode ser promovida tanto pelo
falante como pelo interlocutor
A reformulação é promovida apenas pelo
escritor
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Acesso imediato às reações do interlocutor Sem possibilidade de acesso imediato
O falante pode processar o texto,
redirecionando-o a partir das reações do
interlocutor
O escritor pode processar o texto a partir
das possíveis reações do leitor
O texto mostra todo o seu processo de criação
O texto tende a esconder o seu processo
de criação, mostrando apenas o resultado
contextualizada
descontextualizada
implícita
explícita
redundante
condensada
Não-planejada
planejada
Predominância pragmática
Predominância sintática
fragmentada
Não-fragmentada
incompleta
completa
Pouco elaborada
elaborada
Pouca densidade informacional
Densidade informacional
Frases curtas, simples ou coordenadas
Frases complexas, subordinadas
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Pequena freqüência de passivas
Emprego freqüente de passivas
Poucas nominalizações
Muitas nominalizações
Menor densidade lexical
Maior densidade lexical
Nem todas essas características são exclusivas de uma ou outra das duas
modalidades.
Logo, a informalidade consiste em apenas um das possibilidades de realização não
só da fala, como também da escrita, já que ambas podem ir do nível mais informal ao mais
formal, passando por graus intermediários. Há textos escritos que se situam mais próximos
à fala – bilhetes, cartas familiares, textos de humor e textos falados que se aproximam da
língua escrita – conferências, entrevistas profissionais para cargos administrativos e outros
intermediários.
Quanto ao planejamento textual, pode-se apontar 4 tipos:
- Falado não planejado – conversa informal
- Falado planejado – conferência
- Escrito não planejado – bilhete
- Escrito planejado – obras literárias
Com isto, pode-se dizer que há na língua falada uma tendência para o não planejado e
para um planejamento local. Usa-se pronome de 1ª pessoa, estratégias de monitoração
(pausas, entonação), partículas enfáticas (realmente, certamente), do discurso direto e
outras. O envolvimento é o mais próximo.
3.2- Da Fala para a Escrita
Como diz Paulo Freire:
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“ Toda leitura da palavra escrita é sempre precedida por uma certa leitura do mundo.
Se antes você lia o mundo e agora , ao ler a palavra escrita, volta a ler o mundo, a volta é
uma releitura e possivelmente a releitura abre caminhos que antes não estavam sendo
vistos.”
Para Freire, a alfabetização e a conscientização são processos inseparáveis, pois ao
tomar a história nas mãos o homem toma também a palavra.
Logo, a educação é uma afirmação da liberdade humana. Desta forma concebida, a
educação forma a consciência crítica e criativa do educando.
Como a língua é um instrumento de compreensão e de domínio da realidade, seja ela
histórica, geográfica, política ou cultural, é preciso que o educando domine a língua para
utilizá- la como seu instrumento de conhecimento, interpretação e compreensão do mundo.
É necessário que as turmas sejam heterogêneas para possibilitar a troca e a interação
entre os educandos, favorecendo a todos.
É preciso para que se tenha um domínio maior da produção escrita, que o problema
da oralidade se evidencie entre os jovens.
A clareza é a qualidade central de quem fala ou escreve.Sua importância está
relacionada a sua função que é possibilitar o pensamento e permitir a comunicação ampla
de pensamento assim elaborado.
É preciso que se apliquem e trabalhem atividades de observação que envolvam a
organização de textos falados e escritos, permitindo que os alunos percebam como ambos
se realizam, se constroem e se formulam. Normalmente as operações de produção do texto
escrito a partir do texto falado leva a estas operações:
1- eliminação de marcas estritamente interacionais e inclusão da pontuação;
2- apagamento de repetições, redundâncias, autocorreções e introdução de
substituições;
3- substituição do turno por parágrafos;
4- diferenciação no encadeamento sintático dos tópicos;
5- tratamento estilístico com seleção do léxico e da estrutura sintática, num percurso
do menos para o mais formal.
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3.3 – Traços Característicos da Exposição Oral e da Exposição
Escrita
A língua oral se comunica pelo ouvido, a escrita pela visão, ou seja, os sons da
linguagem humana passam a ser evocados mentalmente por meio de símbolos
gráficos.
A civilização dá muita importância à escrita, porém é preciso lembrar que a
expressão oral é mais antiga e básica. Por isso é importante distinguir os traços da
exposição oral e os da escrita.
O grande número de traços característicos da exposição oral, ausentes na
escrita, cria o dever de bem usá- los, para que a linguagem seja boa: quem fala em
público tem de atentar para o timbre de voz, a altura da emissão vocal, para a
entoação das palavras e para a expressão corporal que está presente quando se fala
como os gestos , as mãos, os braços, a fisionomia, a simpatia conquistada no contato
direto com as pessoas, a maestria em lidar com os ouvintes etc.. Estes quando bem
empregados fazem o sucesso da comunicação.
Embora, num primeiro momento, a exposição escrita possa parecer mais
simples pela falta dos elementos acima citados, isto não é verdadeiro, pois os
elementos que a caracterizam exigem estudo e experiência para lidar com eles. O
grande número de regras e orientações gramaticais decorre das exigências da língua
escrita para a comunicação ser eficiente na ausência forçada de muitos recursos, que
complementam a oral. Escrever bem é resultado de uma técnica elaborada e
cuidadosamente adquirida, através de muito treino. O estilo do autor tem uma
importância maior na escrita do que na exposição oral. O lingüista francês Vendryes
cita “Ninguém escreve como fala”,mas “Cada um escreve, ou pelo menos procura
escrever; como os outros escrevem” ( Le Language, 1921, p. 389).
Vale ressaltar: - a apresentação visual agrava certos defeitos de formulação, e
muitas incorreções, que seriam nulas no correr da fala, mas que ganham relevo e
saltam aos olhos no papel;
- a frase, sem a ajuda do ambiente, da entonação e da mímica,
precisa ser melhor construída e concatenada;
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- as palavras devem ser escolhidas com maior cuidado;
- A pontuação que difere das interpretações gráficas das pausas;
- a repetição e a redundância de palavras é uma afronta no
processo de leitura, estragando o texto;
- termos e expressões familiares, porém de pouco uso literário,
não são tolerados na escrita.
- a preocupação com a ortografia ( problema marginal da língua
escrita), acatada pelo consenso social, revela a cultura de quem escreve.
3.3.1 – Presença da Oralidade e da Escrita na Sociedade
Mesmo tendo sida criada pela mente humana bem depois da fala, a escrita
permeia hoje quase todas as práticas sociais dos povos em que penetrou. Até os
analfabetos, em sociedades com escrita, estão sob a influência do texto escrito. O
letramento não equivale à aquisição da escrita, já que existem os letramentos
denominados “sociais” que surgem e desenvolvem à margem da escola, não
precisando por isso serem depreciados.
A escrita é usada em contextos sociais básicos da vida cotidiana, em paralelo
direto com a oralidade. Estes contextos são, entre outros: o trabalho, a escola, o dia-a-
dia, a família, a vida burocrática, a atividade intelectual.
Em cada um desses contextos, as ênfases e os objetivos do uso da escrita são
variados e diversos. Inevitáveis relações entre escrita e contexto devem existir,
fazendo surgir gêneros textuais e formas comunicativas, bem como terminologias e
expressões típicas. Seria fundamental a escola saber mais sobre isso, para fazer sua
tarefa com um preparo e maleabilidade maior.
O letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da
escrita em contextos informais e para usos utilitários, por isso é um conjunto de
práticas, ou seja, letramentos. Seu domínio pode ser alto ou baixo. Já a alfabetização
pode acontecer fora da instituição escolar, mas sempre é um aprendizado mediante
ensino, e compreende o domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever.
A escolarização é uma prática formal e institucional de ensino que visa a uma
formação integral do indivíduo, sendo que a alfabetização é apenas umas das
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atribuições e ou atividades da escola. A escola conta com projetos educacionais
amplos e a alfabetização é uma habilidade restrita.
Homens e mulheres têm diferentes formas de usar a escrita. E esta tem uma
perspectiva no ambiente escolar e outra fora dele. O acesso à escrita também é
diferenciado. A escrita e a oralidade são imprescindíveis na nossa sociedade e não se
deve confundir seus papéis e seus contextos de usos e nem discriminar seus usuários.
A alfabetização (domínio ativo da escrita e da leitura) está vinculada ao
progresso de tal forma que já se pode dizer como sendo um valor intrínseco
desejável ao indivíduo. Eis a força da escrita.
3.3.2 – As Relações de Poder na Sala de Aula – Influência na Linguagem
Oral e Escrita no Cotidiano Escolar
A concepção de “bom aluno” é apresentada como sendo um aluno bem
comportado, obediente, cumpridor de seus deveres, ... características como crítico e
reflexivo raramente aparecem.
Tais posicionamentos levam à reflexões e à procura de mais compreensão
sobre a questão das relações de poder na escola ( sala de aula e disciplina).
Foucault conceitua a disciplina como uma forma de dominação e de exercício
de poder nos espaços sociais menores, cuja organização não é garantida, no seu
cotidiano, pelas leis maiores.
O poder está presente em todo âmbito social. É uma forma ingênua de pensar
que o poder coloca em lados diferentes os que têm poder e os que não têm. O poder é
algo político e ideológico que se encontra presente em todos os lugares ao mesmo
tempo.
“ ... o poder está presente nos mais finos mecanismos do intercâmbio social:
não somente no Estado, nas classes, nos grupos, ... mais ainda nas modas, nas
opiniões, nas informações familiares e privadas e, até mesmo, nos impulsos
libertadores que tentem contestá-lo.” ( Barthes, 1980, p. 11)
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Portanto fica evidente que a questão do poder não é limitada, no entanto, torna-
se necessário delimitar os aspectos que serão tratados aqui.
O instrumento ideal para dar a onipresença ao poder é a linguagem. Logo que
proferida entra a serviço de algum poder. Não apenas fonemas, palavras, articulações
sintáticas ... que serão proferidas. Na verdade, não se tem nem a liberdade de usar a
língua de qualquer maneira. Barthes reforça que todo discurso está preso a regras, a
opressão, ao constrangimento da gramática pois discurso e língua são indivíduos e
estão presos a um único eixo de poder.
Verifica-se, então, o contexto onde a língua, a fala e o poder se refletem: a sala
de aula. Esta consegue reunir o poder da língua, o poder do professor (autoridade) e o
poder da fala, o discurso que faz do professor a autoridade, com o poder da fala,
detentora do saber ( língua culta).
O poder dentro da escola é exercido pelos profissionais de educação (
professores e especialistas), cujo papéis são diferentes; já que estes exercem poder
sobre aqueles e, através do currículo e práticas pedagógicas, sobre os alunos. Por sua
vez, os professores exercem o poder através de sua atuação em sala de aula sobre os
alunos. De maneira consciente ou não, acabam por reproduzir o sistema de normas e
controle onde estão inseridos.
A escola, como instituição social, determina aos seus próprios integrantes o
comportamento que deles se espera. Neste caso, especificamente, ao professor é
delegada uma determinada autoridade, um certo poder que é social e histórico. O
poder de sua atuação se reflete na relação com seu aluno, ou seja, esta pode passar
por processos como a internalização de valores e aceitar a influência do professor, ou
se deixar conformar com a tentativa devido a expectativa de ser punido pelo
professor; ou se identificar com o professor, ou se deixar influenciar através de
recompensas; e ainda, perceber que o professor detém um conhecimento específico e
especializado.
Parece, então, que a postura do professor influencia na construção do
conhecimento e, no caso de crianças pequenas, na constituição da subjetividade e de
sua identidade como aluno.
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Sendo assim, há três posturas pedagógicas onde a relação educador – educando
vai variar de acordo com a postura adotada pelo educador.
A primeira é a do professor-autoridade, isto é, aquele que detém o
conhecimento e deve passar ao aluno que nada sabe. O aluno deve incorporar o
conhecimento sem refletir sobre o mesmo. Disciplina é silêncio e ordem. A relação
professor / aluno é vertical e autoritária. A participação do aluno na construção do
conhecimento é excluída, pois o aluno recebe o conhecimento pronto. Esta postura
leva o aluno a adquirir uma postura de obediência, de conformismo e de passividade.
Não se deve sair do autoritarismo e cair num liberalismo radical, pois este pode
levar ao desrespeito e a confusão entre os conceitos de autoridade e autoritarismo
Com relação à autoridade José Carlos Libâneo afirma que: “ Ao professor cabe a
função de conselheiro e não utilizando qualquer forma de poder ou autoridade.”
Sem excessos, é possível chegar a um ponto comum onde o aluno é levado a
refletir e a construir o seu conhecimento, respeitando a figura do professor e as
normas do colégio, porém com uma atitude ativa perante os acontecimentos. Com o
equilíbrio entre autoridade e liberdade, todos ganham e a sociedade, no futuro,
receberá cidadãos prontos para nela atuarem.
“ Precisamos, meus caros educadores, compreender que, muito mais do que
ensinar conteúdos através de métodos adequados, a atividade educacional visa formar
o cidadão para o exercício da cidadania. A escola tem que ser um exemplo vivo
disso. O processo educacional determina a formação do caráter do indivíduo.”
(Rodrigues, 1984, p. 88 – 89)
A citação acima confirma o parágrafo anterior e sugere que a prática de
liberdade, mantendo o respeito a função do aluno e a do professor, e com diálogo é
possível fazer com que o conhecimento se dê por meio de troca e da interação entre o
meio, o sujeito e os outros; o professor será apenas o mediador.
Assim, compreender a ação do professor articulada ao poder da fala levará a
perceber como essa articulação se reflete no aluno.
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A autoridade deve ser usada para dirigir a classe, pois, quanto mais confiança
os alunos tiverem no professor, mais confiança terão nas intervenções do mesmo;
este deve utilizar a autoridade dentro dos limites da democracia. A citação de
Rodrigues reforça tal idéia:
“ A escola não pode copiar o espírito de competitividade individualista e
egoísta da sociedade capitalista. Uma nova metodologia de trabalho deve ser seguida
se quisermos transformar a educação no Brasil.” ( Rodrigues, 1984, p. 84)
Portanto, a afetividade é um aspecto essencial para a aprendizagem; e, assim
sendo, o professor deve ter um bom relacionamento com os seus alunos, o que irá lhe
facilitar o trabalho. Não esquecendo que o professor é o exemplo do aluno, não só
pela sua postura, mas também pela sua fala e escrita.
3.3.3 – A Redação
Há uma arte de escrever que á a redação. É uma atividade social indispensável
nos dias atuais, porém a falta de uma preparação adequada para ela, a dificulta.
A arte de falar, necessária à exposição oral é mais fácil, pois se beneficia da
prática da fala cotidiana.
A semelhança entre as duas é a necessidade de uma boa comunicação.
Para a redação, é preciso ter um objetivo definido, pois ninguém é capaz de
escrever bem, se não sabe o que vai escrever. A redação dentro das atividades
sociais e profissionais diferem muito das redações escolares. A convicção do que se
vai dizer, a importância em dizê- lo, o domínio do assunto, tudo isto nem faz lembrar
o exercício formal da escola.
Todos que conhecem algum assunto são capazes de escrever sobre o mesmo.
Mesmo que esta pessoa não tenha o hábito de escrever, o esforço e a prática
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conseguem vencer o medo e faz da pessoa não um escritor renomado, mas uma
pessoa fluente na escrita.
Uma redação completa surge da revisão, muitas vezes feita, no rascunho.
Feitas as correções necessárias: problemas de gramática, de escolha vocabular, de
harmonia , de estética etc. o texto final surge, sem as nuances anteriores reveladas.
Para fazer uma redação é necessário o uso de palavras, pois são elas que dão
significado à existência humana e o que nela está inserido. A palavra não é um dom
e sim uma habilidade que pode ser aperfeiçoada. Diante do desafio de produzir um
texto, as palavras podem “fugir” e “faltar inspiração”, mas isto pode ser encarado
como uma carência de argumentos ou de conhecimentos do sujeito para se expressar
sobre determinado assunto; fato este que pode ser corrigido a qualquer momento.
Por isso o hábito da leitura é muito importante, pois pode sanar o despreparo e o
vocabulário necessário para a produção de um texto. É com a leitura que a pessoa
interage com tudo e todos e, é através dela que se aumenta o vocabulário, o
conhecimento geral, a capacidade de expressão, pode ajudar a desenvolver o senso
crítico e a capacidade de pensar e julgar, amplia a alma e a compreensão do mundo.
Fora isso, é preciso querer e o empenho de cada um vai ser fator decisivo para como
esta pessoa vai intervir na realidade, expor uma consciência crítica diante dos fatos,
construir e transformar o mundo pela palavra.
Logo a redação é um texto produzido por um sujeito pensante e criador, que
tem um mensagem e comunicar. Esta mensagem é produto do pensar humano que
se materializa na folha de papel. Escrito, este pensar é um texto, que produz sentidos
e significados, pois dialoga com o leitor. Por isso, o conteúdo é mais importante que
a forma – embora este deve ser observada, pois é conveniente que esteja adequada
ao que se propõe.
O objetivo de redação, em muitos casos, é o de avaliar as habilidades do
candidato, como: o domínio da escrita, a maturidade do pensamento, a capacidade
de desenvolver com clareza e objetividade um determinado assunto, crítico a visão
dos fatos, dentro da língua-padrão.
O critério de avaliação na maioria das vezes levam em conta a estrutura e o
estilo do tipo de composição escrita.
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Os cuidados necessários neste caso são: não fugir ao tema proposto (
conteúdo com relação direta com o tema), organizar os argumentos que
fundamentarão as conclusões do texto ( com seqüência e coerência), usar a língua
escrita corretamente ( não é preciso rebuscá-la, nem torná-la difícil), utilizar de
modo certo os recursos da língua ( ortografia, acentuação, pontuação,
concordância,...)
Talvez seja um obstáculo intransponível para os que não têm o exercício da
escrita como prática habitual, mas pensar bem e fazer com que as gerações novas se
habituem a pensar não podem ser medidas por questões de múltipla escolha
Como diz Bonald: “ O homem não pode pensar o seu pensamento sem pensar
sua palavra.” Por isso, é preciso atentar à qual linguagem usar para cada texto. Há a
linguagem formal ( obediência à norma culta), a linguagem coloquial ( linguagem
do dia-a-dia, sem a preocupação com a norma culta) e a linguagem
poética (linguagem subjetiva, não-convencional, figurada). Quanto aos textos, há
basicamente três formas: descrição, narração e dissertação (cada qual com a sua
característica própria).
É preciso que se evite, nos textos escritos, e principalmente nas dissertações :
- vocabulário inadequado;
- uso de gerúndios;
- repetições;
- escrever muito sem necessidade;
- gírias, estrangeirismos, palavrões;
- falácias;
- generalização;
- simplificação exagerada;
- círculo vicioso;
- sofismas;
- palavras de ordem;
- provérbios e frases feitas;
- confusão causa/efeito;
- textos religiosos;
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- histórias pessoais;
- mudança de ponto de vista.
3.4 – A Correção da Linguagem
A finalidade da linguagem é a comunicação ampla e eficiente entre os
homens. Como cada língua é um sistema de comunicação e em todas há uma
uniformidade presente para a melhor compreensão de todos, é preciso que todos
usem essa linguagem normal para a comunicação se efetivar.
A correção é a obediência a esse padrão lingüístico. A unidade e a
estabilidade é um ideal, exigido por todos, porém nada é regido por leis radicais e
em nenhuma sociedade humana se realiza espontaneamente.
Há três fatores que podem comprometer esse padrão normal da língua:
O padrão individual – onde cada um faz um trabalho mental espontâneo no
material lingüístico, depositado na memória e dele tira conclusões, às vezes,
aberrantes.
O fator coletivo – onde há uma diferença no uso, de acordo com as camadas
sociais que a usam. Temos, aí, uma língua popular, própria das massas e das pessoas
iletradas e a língua culta, usada de modo espontâneo pelas pessoas instruídas e
utilizada nas obras literárias.
O fator geográfico – onde é apresentado diferenças regionais na utilização da
língua; fato este que também gera preconceito.
A correção da linguagem de acordo com a norma culta tem que lidar com três
problemas: - mudanças executadas espontanemante por um trabalho mental do
indivíduo;
- a intromissão da língua popular;
- as diferenças regionais.
Com os fatores acima, três tipos de erros fundamentais são criados:
- erros individuais;
- vulgarismos;
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- regionalismos.
Há certos erros individuais que são apresentados por várias pessoas,
vulgarismos que se firmam na língua culta e certos regionalismos que se propagam
amplamente.
A correção fica difícil, porém é preciso seguir a norma padrão, mesmo que
obsoleta e assumir uma atitude liberal e compreensiva diante do novo. É de
fundamental importância que se ache um meio termo nesta questão, para que não
sejam feitos absurdos, mas que também não se excluam possíveis usos da língua.
Portanto é necessário não cometer erros que pertubem a compreensão, os que
revelem insuficiência do domínio da língua culta e do seu ideal normativo e nem ser
original na maneira de falar e escrever. Pois uma coisa é falar com eficácia
comunicativa; a outra é falar de acordo com as normas da escrita. Nada impede que
alguém fale sem a observância estrita das regras gramaticais propostas para a escrita
e que seja entendido, bem como é possível que alguém fale de acordo com as regras
gramaticais da escrita e não seja entendido pela inadequação situacional e social.
Logo os critérios são dados pelo contexto da interação.
Com isto, o papel do professor, em relação ao ensino da língua na escola,
seria outro, como descreve Miriam Lemle:
“ A sua missão não é a de fazer com que os educandos abandonem o uso de
sua gramática “errada” para a substituírem pela gramática “certa”, e sim a de
auxiliá- los a adquirirem, como se fora uma segunda língua, competência no uso das
formas lingüísticas da norma socialmente prestigiada , à guisa de um acréscimo aos
usos lingüísticos regionais e coloquiais que já dominam. A noção essencial aí é a
adequação: existem usos adequados a um dado ato de comunicação verbal, e usos
que são socialmente estigmatizados quando usados fora do contexto apropriado. A
comparação com as regras de uso de vestimenta é esclarecedora: assim como difere
o tipo de roupa a ser usada segundo o tipo de ocasião social, também diferem
segundo a ocasião social as características da linguagem apropriada. Ficam
socialmente estigmatizados os falantes inadimplentes às regras tácitas do jogo, tal
como as pessoas que não cumprem as convenções sociais do bem-vestir”.
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O pensamento acima fecha muito bem esta parte do trabalho de como deveria
ser o ensino da língua em nossas escolas: que a escola deveria levar o aluno a
conhecer essa maneira de falar e de escrever para saber produzi- la e consumi- la e
não apenas levar a reconhecer que existe uma maneira de falar e de escrever
considerada “legítima” ( diferente da que dominam).
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CAPÍTULO 4
ENSINO – APRENDIZAGEM EM LÍNGUA
PORTUGUESA
Houve um aumento das exigências sociais quanto a participação ativa do
indivíduo na sociedade comunicando-se, informando-se e posicionando-se com
clareza, com criticidade e de maneira construtiva mas mais variadas situações do
cotidiano.
Eis, aí, o maior desafio dos professores de Ensino Fundamental : levar a
criança a desenvolver a capacidade de compreender, interpretar e produzir textos
orais e escritos. Esse é o ponto de partida para a apropriação dos instrumentos que a
ajudará a exercer plenamente seus deveres e a usufruir de seus direitos como cidadã.
As práticas pedagógicas que visam o debate e a pesquisa levam o aluno à
reflexão e estimulam a sua capacidade criadora. Observa-se, aí, que a imaginação
criadora antecede a razão e predomina em toda ação infantil.
Os primeiros pontos de apoio que a criança encontra para sua futura criação
advém do que ela vê e ouve, acumulando materiais que usará para construir sua
fantasia.
A vida e a individualidade se constroem a partir de determinadas relações
sociais vivenciadas por cada um.
A criança terá o poder presente em toda a sua vida, pois em qualquer lugar há
relações de poder , já que este provém de todos os lugares.
Com condições favoráveis de interação, a criança terá uma aprendizagem
mais satisfatória e esta se dará tanto na escola,como na vida. Para isso, basta ela ser
instigada a aprender com o outro; se a criança vê sentido no que faz, nele se
concentra, busca informações, experimenta, tenta outra vez, compara suas hipóteses
com as demais ... enfim, consegue construir seu aprendizado por meios reais e
duradouros.
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Um dos objetivos da escola é fazer com que os alunos utilizem, de forma
adequada, as diferentes linguagens que a sociedade exige e oferece. Nesse contexto,
o trabalho com a Língua Portuguesa é essencial, pois por meio dele o educando:
- reconstrói sua linguagem oral, diferenciando os registros e aprendendo
gêneros e estruturas mais complexas do discurso, passando a utilizá- los
adequadamente no dia-a-dia;
- constrói conhecimentos sobre a linguagem escrita, o que lhe abre as portas
do complexo mundo das práticas letradas;
- começa a entender a língua como sistema que oferece os instrumentos para
essas práticas: orais e escritas.
Portanto, deve-se buscar o desenvolvimento da linguagem oral e escrita, ou
seja, da capacidade de comunicar, produzir, receber, interpretar e dar novo
significado a informações e emoções num mundo onde elas transitam rapidamente.
Utilizar a linguagem oral ou escrita em diferentes práticas sociais supões a
construção e o domínio de gêneros de discurso diversificados. Alguns mais simples,
inserem-se em situações concretas de troca social, em esferas familiares (conversa,
relato de experiência vivida); outros, complexos, historicamente posteriores e mais
ligados ao surgimento da escrita, encontram-se em esferas públicas e institucionais
de interação ( debate, editorial, romance, exposição científica ).
Em todos os casos, para utilizar-se da linguagem nas trocas sociais, o
interlocutor terá de recorrer à língua e suas formas de funcionamento. Como a
língua é o resultado de uma produção social, nela estão presentes e refletidas
diferenças e desigualdades da sociedade. Daí a existência de variedades lingüísticas
que, com maior ou menor prestígio social, transitam em diversos gêneros do
discurso. Cabe à escola ajudar a criança a apropriar-se de língua padrão, que circula
em textos escritos e em seus registros da fala. Mas, para que isso aconteça, é
necessário que não se despreze e nem se desvalorize o vocabulário que a criança
utiliza, além de não obrigá-la a expressar-se, de imediato e sempre, na variedade da
língua padrão.
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Quando chega à escola, ela conhece e usa diversas linguagens, presentes em
seu dia-a-dia. Já construiu, de maneira ampla ou não, certos gêneros de discurso
oral, além de, no âmbito da leitura, reconhecer rótulos e logomarcas.
Esse conhecimento deve ser ampliado e ao educando ser mostrado os
diferentes usos que a linguagem oral e a escrita podem ter.
A concretização da linguagem propiciada pela escrita leva a criança a refletir
sobre a língua e seus mecanismos, tornando-a consciente de seu uso e, da maneira
como antes, inconsciente ou não, a utilizava.
A gramática torna-se a grande aliada, pois contribui para o controle e para a
autonomia dos discursos.
É fundamental que o educando faça a sua leitura, como também ouça as
leituras dos colegas e do professor. Ao escutar, terá oportunidade de observar como
é variada a gama de tipos de textos à disposição dele e como varia a sua leitura, já
que cada tipo de texto requer uma específica. Com esta tarefa, o professor trabalhará
atitudes importantes, tais como: saber ouvir o outro, respeitar a variedade de
registros lingüísticos e dialetos presentes em nossa cultura e observar a sua própria
desenvoltura em trabalhos orais.
O interesse do aluno é despertado, antes propriamente da atividade, através de
perguntas que propiciem externar o que o texto comunica, relacionar o conteúdo do
texto com o mundo ... ver o significado do título e provocar uma reflexão sobre o
texto antes mesmo de lê- lo.
Com o interesse despertado, o aluno poderá fazer uma leitura mais realista do
conteúdo do texto, fazendo uma checagem deste com o trabalho anteriormente feito,
notará com mais facilidade a intencionalidade do autor, a relação dos conteúdos
propostos pelo texto com o universo cognitivo do leitor ,enfim, construirá uma
imagem sobre o texto ( o autor, suas intenções, a meta da leitura, os prováveis
conteúdos).
A capacidade de antecipar ou predizer o texto não é utilizada somente no
início da leitura, a partir do título. Quando lemos ou escutamos uma notícia de
jornal, antecipamos seu desfecho e o discurso do autor. Isso é compreensão ativa
envolvida na leitura, o que a torna inclusive, mais fluente e rápida. Portanto, as
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atividades de predição, antecipação e checagem devem ser constantemente
retomadas ao longo da leitura, levando o aluno a prever novos significados e a
checar suas previsões. Chamamos isto de predição medial, composta da predição
global de conteúdo, feita a partir de ilustração ou título.
Há outras estratégias de leitura que devem ser trabalhadas pelo professor, pois
estão em processo de construção pela criança: a capacidade de inferir “não-ditos”
ou implícitos necessários à compreensão do texto,capacidade relacionada à de
antecipação / checagem e baseada no conhecimento de mundo do leitor (inferência
lexical), a capacidade relacionada ( inferência local ou global); as habilidades de
localizar e selecionar a informação central do texto, de apropriá- la, reestruturando-a,
para uma reconstrução; de sintetizá- la num texto-resumo (síntese); de assumir um
posicionamento crítico sobre os conteúdos e as intenções do autor.
Ao final da leitura, deve-se discutir por que algumas antecipações e
inferências tiveram ampla margem de acertos, enquanto que outras não; e quais são
as pistas do texto que levam a essas conclusões. Embora seja uma prática oral, é ao
mesmo tempo leitora, uma vez que é vivenciada internamente o tempo todo.
À medida que a criança for construindo o código escrito, deverá ser
incentivada à leitura silenciosa, porque é um momento de autonomia, onde ela
mesma irá confrontar, comparar conhecimentos, emoções, leituras anteriores
(intertextualidade) e estabelecer um diálogo com o texto, elaborando seu próprio
texto interno.
O tempo gasto na leitura é individual e deve ser respeitado. A impossibilidade
de efetuar uma leitura silenciosa adequada pode ter conseqüências prejudiciais para
a formação do bom leitor, segundo Cagliari. Esse seria um dos motivos que levam,
por exemplo, adultos a lerem de forma silabada.
A leitura silenciosa precede a leitura oral, para que a criança possa imprimir-
lhe ritmo e entonação mais adequados e tornar o texto mais seu, num processo de
co-autoria.
É reconhecido o papel essencial da leitura - o afastamento da criança do
contexto imediato e particular.
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Assim sendo, a interpretação de texto deverá privilegiar questões que
desenvolvam a competência da criança no lugar de torná- la repetidora de trechos
extraídos do texto. Devem ser considerados temas referentes ao contexto de
produção do texto, suas funções sociais, sua estrutura e sua forma de gênero. Tais
questões devem levar a refletir sobre o texto lido e possibilitar o inter-
relacionamento com outros, que já fazem parte do repertório lingüístico-cultural da
criança.
É preciso distinguir o assunto do texto e como ele fala sobre este assunto, pois
optando por esses dois modos, a interpretação será melhor. É preciso ler nas
entrelinhas.
Segundo Geraldeli, “na leitura, o diálogo do aluno é com o texto. O professor,
mera testemunha desse diálogo, é também leitor, e a sua leitura é uma das leituras
possíveis.” Como dito anteriormente, estratégias como antecipação / checagem,
inferência e reconstrução do significado do texto são altamente dependentes e
relacionadas ao conhecimento de mundo do leitor. A leitura da criança é ,portanto,
determinada não só pelo texto, mas também por seu conhecimento prévio dos temas
abordados. O professor mediador deve respeitar e ampliar, na medida do possível,
esse conhecimento.
Por isso, a busca da capacidade de articulação de textos, de intertextos, deve
ser uma preocupação constante no trabalho com Língua Portuguesa. A interpretação
se efetiva na relação entre o texto novo e outros já conhecidos do leitor, entre suas
experiências e vivências. Não se dá sobre o próprio texto.
Ler um texto é inscrevê- lo nos conhecimentos do leitor, e a atividade do leitor
é relacionar diversos conhecimentos, gerando um novo conhecimento.
Atividades que fazem pensar são ótimas para o desenvolvimento cognitivo do
aluno, como, por exemplo:
- Resumir um texto;
- Reconstruí- lo quando está desordenado;
- Imaginar o que virá a seguir;
- Deduzir o que aconteceu antes;
- Deduzir o significado de uma palavra;
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- Escrever um texto completo;
- Buscar um dado.
As atividades citadas a seguir não têm nenhum sentido significativo para o
aluno e, portanto, são mal aproveitadas pelo mesmo, já que são atividades de puro
reflexo e não de reflexão:
- Lembrar dados irrelevantes;
- Escrever “a” palavra que falta na frase;
- Escrever “a” letra que falta;
- Escrever frases repetitivas;
- Rodear com um círculo a palavra correta;
- Copiar um texto alheio.
As duas modalidades de linguagem devem ser trabalhadas na escola: a oral e
a escrita. A seqüência a ser trabalhada e as atividades a serem feitas ficam a cargo
do professor e na observação feita da turma, bem como as necessidades a serem
sanadas. Organizando um conteúdo com uma seqüência lógica e um grau de
dificuldade crescente, tanto nas atividades orais, quanto nas atividades escritas, os
alunos irão, aos poucos, construindo o conhecimento sobre a língua que, de forma
inconsciente, utilizam no dia-a-dia.
Estas práticas devem ser iniciadas o mais cedo possível. Na escola, as
atividades escritas e a leitura devem ser logo apresentadas às crianças, pois estas já
chegam à escola com a capacidade de produzir textos, mesmo que sejam rabiscos e
histórias orais, que para eles fazem todo sentido. Todas as pessoas têm um modelo
mental – que se denomina competência básica para relatar as ações humanas – mas
o modelo não fornece todos os recursos para encarar a riqueza e a diversidade que a
narração pode vir a adquirir em suas formas escritas. É com a escolaridade que o
aluno vai desenvolver o seu conhecimento da língua, compondo textos mais
complexos e de melhor qualidade, e que se aproximem mais do padrão pedido e
aceito pela sociedade em si, fazendo com que o ato narrativo se transforme no
gênero narrativo. O fato de colocar aí a narração não quer dizer que isto não
aconteça com outros gêneros do discurso.
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Escrever o texto ditado pelo aluno, sem alterar nada e, depois sugerir algumas
correções ,mas respeitando o texto original sem descaracterizá- lo pode ser uma
atividade de construção do conhecimento, com a interação do maior interessado: o
aluno.
As atividades de reescrita são, na verdade, parte do processo corrente de
produção de texto. Todos fazem uma revisão em seu texto escrito (seja que tipo
for), antes de mandá- lo a seu destino final. Portanto, as atividades de reescrita nada
mais são do que oportunidades de aprendizagem da atividade comum de revisão dos
textos produzidos. Porém, para estas não desestimularem os alunos, elas devem ser
feitas de forma regular no trabalho de textos, sem o peso da desvalorização do texto-
base do aluno.
Todos os aspectos do texto podem ser discutidos: sua clareza, coesão e
coerência; sua eficácia, seu conteúdo, suas formas textuais e frasais; seu
vocabulário, sua grafia e ortografia; etc..
Com o domínio do código escrito, as questões que levam à reflexão sobre o
seu trabalho escrito entram nas atividades do aluno, sem que os “erros” sejam
frisados, mas mostrando opções mais aceitas e para os erros observados pelo
professor atividades devem ser criadas para que o aluno possa oportunizar melhor o
uso de tal palavra ou a ortografia da mesma, levando-o a uma autocorreção. O texto
não deve ser usado para atividades ortográficas ou gramaticais.
O objetivo da produção de texto é formar escritores competentes, ou seja,
indivíduos capazes de elaborar textos coerentes, coesos e eficazes. Um objetivo com
esta amplitude não é alcançado rapidamente. É preciso trabalho e empenho do
professor e do aluno.
Como diz Cagliari:
“A produção de um texto escrito envolve problemas específicos de
estruturação do discurso, de coesão, de argumentação, de organização de idéias e
escolha de palavras, do objetivo e do destinatário do texto etc.. Por exemplo,
escrever um bilhete é diferente de escrever uma carta, uma notícia, uma propaganda,
o relato de uma viagem, uma confissão de amor, uma declaração perante um
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tribunal, uma piada. Cada texto tem sua função, e todas estas formas precisam ser
trabalhadas na escola.”
Logo, é importante que o aluno tenha contato com todos os tipos de textos
escritos e perceba as condições de produção e os usos dos diversos gêneros
presentes, e consiga através da observação e análise, construir cada um deles,
segundo a sua própria característica, imprimindo, aí, o seu estilo. Ao interagir com
textos diversificados, o aluno constrói seu conhecimento sobre os mecanismos da
língua escrita, além dos conhecimentos gramaticais que irão sendo analisados,
articulados e relacionados.
Ser capaz de ler e escrever significa ser capaz de usar socialmente textos, em
práticas de leitura e produção. Mas também significa para fazê- lo, adequar-se aos
mecanismos da língua (gramática) e da grafia-padrão (ortografia), para que os textos
produzidos possam ser eficazes socialmente. Por isso, o ensino da gramática
(inclusive ortografia) deve ocorrer em situações que envolvam a reflexão
compartilhada sobre textos reais.
Nas situações de produção real escrevem-se textos contextualizados, isto é,
para interlocutores com os quais temos tipos de relação (mais ou menos íntimas),
em condições concretas, com intenções e metas concretas, sobre determinados
temas. Cada gênero difere em suas condições de produção: escrever uma carta de
amor é diferente de escrever uma acusação para ser apresentada a um tribunal, pois
a relação estabelecida com o destinatário é difere de uma para outra. O autor tem
que levar em conta estas condições.
O uso da Língua Portuguesa vai melhorando de acordo com o interesse do
aluno e de sua percepção do quanto esta é importante em sua vida. O sentido
atribuído ao seu uso e as várias maneiras de utilização da língua oral e a escrita e as
atividades pedidas e oferecidas pela escola são fundamentais para a evolução desse
conhecimento.
A avaliação do conhecimento do aluno deveria ser individual e ter como
ponto de referência o seu saber anterior, ou seja, a avaliação seria feita em cima da
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evolução que cada aluno teve naquele período no uso da língua. A observação diária
dessa evolução deve ser em um ambiente sem pressão e tensão, para ajudar a aluno
a reformular suas hipóteses e seus saberes lingüísticos.
Como há diferentes tipos de textos para serem produzidos, lidos e
trabalhados, vale a pena citar os diferentes tipos de leitura que podem ser feitas: a
leitura de informação (jornal, normas, revistas), a leitura de consulta (jornais,
revistas, livros), a leitura para a ação (placas de sinalização, avisos, instruções), a
leitura de reflexão (teses, obras filosóficas e literárias), a leitura de distração (gibis,
livros considerados “Best-seller”) e a leitura da linguagem poética (poemas,
músicas).A leitura é sempre uma elaboração da informação, variando somente a
intenção que o leitor deposita numa situação e noutra. É em função do que o leitor
deseja fazer que ele seleciona as informações mais adequadas para a concretização
do seu projeto. Por isso, a leitura é, por natureza, flexível, múltipla, diversa, sem
uma hierarquia preestabelecida que defina uma leitura melhor do que as outras.
Aprender a ler é aprender a explorar um texto, lenta ou rapidamente, dependendo da
intenção do leitor.
Ler e escrever servem, então, para:
- lembrar, identificar, localizar, registrar, armazenar, averiguar, etc. dados;
- comunicar ou nos inteirar-se do que aconteceu, de como é um país, do que
existe, etc.;
- desfrutar, compartilhar sentimentos e emoções, desenvolver a sensibilidade
artística, participar de fantasias e de sonhos;
- estudar, aprender, conhecer, aprofundar conhecimentos;
- aprender como se fazem as coisas, etc.
Portanto, o ensino de escrita deveria ser com texto, mas para fazer algo útil,
tal como os adultos o fazem.
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CONCLUSÃO
Ao término deste trabalho, chega-se a conclusão de que uma boa linguagem
não se resume ma mera correção gramatical, e que esta está inserida em um
contexto relativo dentro da amplitude que é a comunicação lingüística. Com a
observação das diferenças existentes entre a língua falada e a língua escrita, pode-se
afirmar que a escrita não é uma representação da fala e nem a fala é o lugar do caos.
Ambas as modalidades têm o mesmo processo de compreensão, variando de
implementação em virtude das condições de produção, de acordo com o objetivo
que se quer alcançar.
É fato que a oralidade está presente na fala e na escrita dos educandos do
ensino fundamental, variando a sua intensidade, de acordo com a influência do
ambiente social do educando e o fator atribuído por este ao uso da fala e da escrita
de forma adequada.
Os pais e os professores têm influência direta no desenvolvimento oral e
escrito do aluno, já que este depende das inferências feitas por parte dos adultos que
têm o objetivo de ensinar- lhes a cultura e o modo de manifestá- la.
O incentivo em usar a língua oral e/ou a escrita, de maneira adequada ao
ambiente no qual se está, tem sido fator primordial no desenvolvimento do “ser
humano”, pois não só o educando utiliza a língua e suas modalidades; ela é utilizada
por todos independentemente da idade e a todo momento, desde que seja
necessário.Logo, se faz necessário o saber em usá-la adequadamente.
Em um ambiente, onde adultos usem a língua no seu dia-a-dia para os seus
afazeres domésticos, profissionais e de lazer, enfim, com um instrumento essencial
para as suas funções sociais, a criança ,aí, inserida incorporará este modelo e tentará
segui- lo para a sua vida, pois a importância na utilização da língua está implícita nas
ações cotidianas.
Por isso, o papel do profissional da educação, enquanto profissional,
responsável por uma clientela posta a seu serviço e influência, é de mediador entre o
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mundo e a aluno, inserido no espaço escolar e, conseqüentemente, no mundo. Essa
mediação, dentro da escola, faz-se pela veiculação dos conteúdos, tendo, aí, o
princípio da educação.
Princípio este alicerçado no conteúdo veiculado pelas escolas através do
estudo da língua materna e outras disciplinas dependentes da primeira, pois sem a
utilização da língua materna não é possível passar nenhum outro ensinamento para a
criança, na medida em que a apreensão desse saber propicia ao aluno condições de
superar certas limitações e concepções irreais do mundo e, inserido nele,
compreendê- lo, conhecê- lo e, através desse conhecimento adquirido e incorporado
ao seu meio sociocultural, vencer as contradições com as quais se defronta e vive
em constante interação.
A escola pode optar por dois tipos de metodologia no ensino da língua
materna:
A opressiva – que o professor é um mero transmissor do conhecimento e o
aluno é um mero receptor. Esta postura educacional é antiga e rígida, e já provou o
seu fracasso.
A transformadora – onde o estudante é ativo e responsável pela produção do
seu conhecimento, tendo o professor, não mais como “o todo poderoso”, mas como
um facilitador da aprendizagem.
A última opção tende a transformar o aluno em um sujeito de maior
autonomia, liberdade e senso crítico. Enquanto que a primeira fará do aluno um
mero reprodutor de pensamentos e atitudes,sem nenhum pensamento próprio e
iniciativa diante da vida, ou seja, um ser passivo.
É na interação com os alunos, que o professor poderá observar, que o seu
saber é limitado, diante dos saberes marcantes que os alunos trazem em sua
experiência de vida para a escola.
É com a troca desses saberes - aluno e professor – que o aluno irá entender
que o saber é a via que lhe proporcionará os conhecimentos para usá- la
adequadamente na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
Atividades estimuladoras das estruturas mentais, cognitivas e afetivas e que
permitem a construção de conceitos técnicos, científicos e éticos, devem nortear o
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trabalho de qualquer professor e, mais ainda o dos professores de Língua
Portuguesa, pois o aprendizado de todas as outras matérias e todos os outros
conhecimentos depende do uso irrestrito da língua. O crescimento do aluno
depende disto.
De posse desses conceitos e de sua plena internalização, o aluno terá a
possibilidade de compreender a realidade social maior em que vive, participando da
transformação dessa realidade de maneira consciente, criativa e responsável.
Assim, partindo dos conhecimentos já acumulados pela vivência do aluno,
tornando-o agente de seu próprio conhecimento, entrelaçando a realidade com o
cotidiano escolar, busca-se a interação das diferentes áreas do conhecimento
Com o professor assumindo o papel de orientador do processo pedagógico,
com atividades estimuladoras e fazendo da escola um espaço aberto para a vida e
não desvinculado dela, é possível que o êxito seja alcançado.
Com isto, o aluno irá perceber que é de fundamental importância para a sua
vida que ele adquira os conhecimentos necessários para a utilização adequada da
língua materna, em seus variados graus de dificuldade e de modalidade escrita e
falada, pois independente do que venha a ser, a língua sempre se fará presente e
dela, ele sempre precisará para se comunicar, em todos os ambientes sociais que lhe
seja possível estar.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi identificar aspectos dos textos orais e
escritos, mas em particular, esclarecer que a língua não é um simples sistema de
regras, mas uma atividade sociointerativa que apresenta o próprio código como tal.
O seu uso, por isso, assume um lugar de destaque e deve ser o principal objeto de
observação dos estudiosos e interessados nesta área, com a finalidade de não
transformá-la em um mero instrumento de transmissão de informação; já que a
língua é um fenômeno sociocultural determinada pela relação decisiva para a
criação de novos mundos e pensares.
Ela , a linguagem escrita ou falada, deve ser vista pela sua importância como
parte integrante da pessoa humana e saber respeitar as modalidades deve ser meta
número um para todos e como diz o pensamento presente na página 220 de o
“Ensaios de Emerson” :
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“ O homem é apenas metade de si; a outra metade é a sua expressão”
Com este pensamento final, espera-se que todos venham a mudar a concepção
sobre o uso e a importância dessas duas modalidades da língua e que a oralidade
ganhe a importância que merece e o respeito de seus variados usos.
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ANEXOS
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