View
154
Download
14
Category
Preview:
Citation preview
Coordenaolvaro Mendona
Guiasanitriopara criadores de
pequenos ruminantes
Guiasanitriopara criadores de
pequenos ruminantes
Ttulo: Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes Editor: lvaro Mendona Edio: Instituto Politcnico de Bragana 2012
5300-253 Bragana Portugal Tel. (+351) 273 303 200 Fax (+351) 273 325 405 http://www.ipb.pt
Design: Servios de Imagem do Instituto Politcnico de Bragana Tiragem: 2600 exemplares Impresso: EscolaTipogrficaBragana Depsito legal: 350250/12 ISBN: 978-972-745-137-1 Verso digital: http://hdl.handle.net/10198/7264
Colaborao CientficaProf.DoutorlvaroPegadoMendonaESA/IPB
Prof.DoutoraAnaCludiaCoelhoUTADDra.AnaPaulaFigueirasDSVRN/DGAV
Dr.DuarteDizLopesESA/IPB-ClinicaVeterinriaSantiagoProfDoutorFilipeSilvaUTAD
Dr.HlderQuintasESA/IPB-ACRIGA,AssociaodeCriadoresdeGadoProf.DoutoraIsabelPiresUTADProf.DoutorLusCardosoUTAD
Dra.MadalenaMonteiroLNIV/INRBProf.DoutorMiguelSaraivaLimaFMV/UTLLisboa
Prof.DoutorNunoAlegriaUTADDr.RaimundoMaurcioESA/IPB
Prof.DoutorRamiroValentimESA/IPBProf.DoutoraYolandaVazFMV/UTLLisboa
Relatrio do ProjectoOTSA (POCTEP) 0108-OTSA-2-E. Observatrio Transfronteirio de Sanidade Animal
7Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
ndice
Introduo ................................................................................................... 11
O fim da gestao e primeiros dias de vida .............................................. 151Incapacidadepararespirar ....................................................................... 152Oquefazerdeseguida? ........................................................................... 163Ocolostro ................................................................................................. 164Doenasemrecm-nascidos ................................................................... 18Bibliografiarecomendada ............................................................................. 23
Maneio reprodutivo pr e ps-parto em pequenos ruminantes ............. 25
Utilidade das necrpsias para o diagnstico das doenas ...................... 37Introduo ................................................................................................... 37Recm-nascido ............................................................................................... 38Mortalidade perinatal .................................................................................... 39Patologias relacionadas com o parto ............................................................ 40Outraspatologias ........................................................................................... 47Bibliografia ..................................................................................................... 47
Deficincia em minerais em pequenos ruminantes ................................. 49ClcioeFsforo .............................................................................................. 50SdioeCloro .................................................................................................. 51Magnsio ........................................................................................................ 51Potssio .......................................................................................................... 51Enxofre ........................................................................................................... 52Ferro ............................................................................................................... 52Cobalto ........................................................................................................... 52Cobre .............................................................................................................. 53Selnio ............................................................................................................ 54Zinco ............................................................................................................... 55Iodo ................................................................................................................. 56Bibliografia ..................................................................................................... 57
Colibacilose ................................................................................................. 59Epidemiologia ................................................................................................. 59Patogenia ....................................................................................................... 59Caractersticasclnicasepatolgicas ............................................................ 60Diagnstico ..................................................................................................... 62Tratamento .................................................................................................... 62Prevenoecontrolo ..................................................................................... 63Bibliografia ..................................................................................................... 63
Brucelose nos pequenos ruminantes ........................................................ 65
8Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Doenas provocadas por clostrdios ......................................................... 691.Etiologia,Epidemiologia e Patogenia ........................................................ 692.CaractersticasclnicasePatolgicas ........................................................ 703.Diagnstico ................................................................................................. 784. Tratamento ................................................................................................. 785.PrevenoeControlo ................................................................................ 78Bibliografia ..................................................................................................... 80
Salmonelose em ovinos e caprinos ........................................................... 81Etiologia .......................................................................................................... 81Epidemiologia ................................................................................................. 81Sinais clnicos e Leses .................................................................................. 82Diagnstico ..................................................................................................... 82Profilaxiaecontrolo ....................................................................................... 83
Doenas pulmonares em pequenos ruminantes ...................................... 85Etiologia e epidemiologia .............................................................................. 85Patogeniaetransmisso................................................................................ 86CaractersticasclnicasePatolgicas ............................................................ 87Diagnstico ..................................................................................................... 92Tratamento e controlo ................................................................................... 92Bibliografia ..................................................................................................... 93
Aborto enzotico dos ovinos e caprinos................................................... 95Etiologia .......................................................................................................... 95Epidemiologia ................................................................................................. 95Sinais clnicos e Leses .................................................................................. 96Diagnstico ..................................................................................................... 96Profilaxiaecontrolo ....................................................................................... 97
As Mastites em pequenos ruminantes. Mamites, Curto ........................... 99Introduo ...................................................................................................... 99Definio ......................................................................................................... 99Causas ............................................................................................................. 99Epidemiologia.Comosefazainfeco ......................................................... 99Incidncia de Mastites Subclnicas ................................................................ 100Patogeniaouevoluodadoena ................................................................ 100Evoluodadoena ....................................................................................... 101Leses ............................................................................................................. 101Diagnstico ..................................................................................................... 101Fundamentosdodiagnsticopelacontagemdeclulassomticas ........... 104Nmerototaldeclulassomticaselimiardediagnstico ......................... 105Preveno ....................................................................................................... 106Consequnciasgeraisdasmastites ............................................................... 107
9Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Listeriose, doena dos crculos ................................................................... 109Causa............................................................................................................... 109Disseminao ................................................................................................. 109Sintomatologia ............................................................................................... 109Profilaxia ......................................................................................................... 110
Agalaxia contagiosa dos pequenos ruminantes ....................................... 111Introduo ...................................................................................................... 111Etiologia .......................................................................................................... 111Epidemiologia ................................................................................................. 111Diagnstico ..................................................................................................... 113ProfilaxiaeControlo ...................................................................................... 114Tratamento ..................................................................................................... 115
Tuberculose ................................................................................................. 117Epidemiologia ................................................................................................. 117Patogenia ....................................................................................................... 118Caractersticasclnicasepatolgicas ............................................................ 120Diagnstico ..................................................................................................... 121Tratamento ..................................................................................................... 122Prevenoecontrolo ..................................................................................... 122Bibliografia ..................................................................................................... 124
Linfadenite caseosa ou pseudotuberculose em pequenos ruminantes . 127Introduo ...................................................................................................... 127Etiologia .......................................................................................................... 127Epidemiologia ................................................................................................. 128Patogenia ....................................................................................................... 128Quadro clnico e lesional ................................................................................ 128Diagnstico ..................................................................................................... 130Controloepreveno .................................................................................... 131Tratamento ..................................................................................................... 131Implicaesemsadepblica ....................................................................... 131Referncias ..................................................................................................... 131
Paratuberculose em pequenos ruminantes .............................................. 135Introduo ...................................................................................................... 135Etiologia .......................................................................................................... 135Epidemiologia ................................................................................................. 135Patogenia ....................................................................................................... 136Quadro clnico e lesional ................................................................................ 136Diagnstico ..................................................................................................... 139Controloepreveno .................................................................................... 141Tratamento ..................................................................................................... 142Referncias ..................................................................................................... 142
10
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Parasitoses externas em pequenos ruminantes ...................................... 1451.Carraas ....................................................................................................... 1452. Sarnas .......................................................................................................... 1463. Mases ........................................................................................................ 1474. Pulgas ......................................................................................................... 1485.Concluso ................................................................................................... 149Bibliografia ..................................................................................................... 149
Protozorios nos pequenos ruminantes ................................................... 1511.Oquesoprotozorios? ............................................................................. 1512. Principais protozorios dos pequenos ruminantes .................................. 1513.Medidasdeprofilaxiageraisdasdoenascausadasporprotozorios ... 153
Vermes parasitas digestivos de ovinos e caprinos ................................... 155Etiologia .......................................................................................................... 155Patogenia e sintomatologia .......................................................................... 157Tratamento e controlo ................................................................................... 161Bibliografia ..................................................................................................... 164
Febre Q ........................................................................................................ 165Causa............................................................................................................... 165Origem ............................................................................................................ 165Sintomatologia/disseminao ....................................................................... 165Profilaxia ......................................................................................................... 165
Peeira dos ovinos e caprinos ..................................................................... 167Etiologia .......................................................................................................... 167Patogenia e Sintomatologia .......................................................................... 167Tratamento e controlo ................................................................................... 168Bibliografia ..................................................................................................... 170
Principal legislao aplicvel aos pequenos ruminantes ......................... 171BemEstarAnimal ........................................................................................... 171ProgramasdeErradicao ............................................................................. 171RegimedeExercciodaActividadePecuria ................................................ 172
Mortalidade perinatal em pequenos ruminantes em Trs-os-Montes ... 175
11
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Introduo
lvaro Pegado Mendona
Tecnologia e Segurana Alimentar. Departamento de Cincia Animal.CIMO, Centro de Investigao de Montanha.
Escola Superior Agrria do Instituto Politcnico de Bragana
OProjectoOTSA(POCTEP)0108_OTSA_2_E(ObservatrioTransfronteiriodeSanidadeAnimal)decorreuaoabrigodoprogramaPOCTEP,ProgramadeCoopera-oTransfronteiria EspanhaPortugal, 2007-2013. Surgiuda reuniode trspar-ceiros,asaberaJuntadeCastillayLyon,quefuncionoucomoChefedeFilaefezaCoordenaoInternacionaledosparceirosportuguesesDirecoGeraldeVeterinriaeEscolaSuperiorAgrriadeBragana.
Os seusobjectivos eramclaramente sanitrios e visavama reuniodedadosprovenientesdastrsorganizaes,assimcomooreforodeprogramassanitrios.Comoresultadofinal,surgiuumaPlataformaInformtica,repositriodedadossani-triosdosefectivosanimaisdaJCyLedoNortefronteiriodePortugal,nomeadamen-teosconcelhos raianos.Oscriadoresdegadoeoutrosprofissionaispodemagoraacederaosdadosepidemiolgicos,deorigemPortuguesaeEspanhola,carregadosnaplataforma,podendoconheceroestadosanitriodosefectivos,programassanit-riosemexecuo,estudosepidemiolgicoseoutrasinformaesdeumladoeoutrodafronteira.Contribuiu-seassimparaacoesoentreregies.
Opresente relatrio resultadeumestudoespecficodirigido compreensodascausasdemortalidadeperinatalemPequenosRuminantes,temasempreactualedegrandeimportncia,dadaarelevnciaeconmicadosectornaregio,eanomenoselevadaperdadecriasentreofimdagestaoeoprimeiromsdevida,quepode atingir os 16%.
DuranteumanodiversosMdicosVeterinriosrealizaramnecrpsiasaborre-gosecabritos,ecolheramamostras,queforamenviadasparaumlaboratrio,comoobjectivodeidentificarosagentespatognicosenvolvidos.Estestrabalhosforamgratuitos para os criadores.
Aolongodeumanoforamrealizadascercade180necrpsiasvalidadas.Onderebanhosintervencionadosfoide137,numtotalde16164animaisadultose5195crias,tendosidocontabilizados861casosfatais(16,57%).
Entreoscasosfataiscontabilizaram-se41%depatologiasdigestivas,19%depato-logiasrespiratrias,12%deabortosounadosmortos,7%decasosdeinanio,4%deacidentes e 18% de outras causas.
Comestesresultadosforamrealizadosestudosespecializados,nomeadamenteestudosepidemiolgicosetrabalhoscientficos,apresentadosemreuniesespeciali-zadas.OltimocaptuloresumeumprimeirotrabalhoapresentadonoCongressoNa-cionaldaSociedadePortuguesadeCinciasVeterinrias,em2011.Neleseapresentamos principais agentes patognicos isolados e respectivas causas de morte.
12
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Opresenterelatrioresultadaintenode,partindodoconhecimentoconcretodascausasdemortalidade,forneceraoscriadoresinformaotcnica,ebasescient-ficas,paramelhorcompreenderasafecesmaisfrequenteseassimcontribuirmaisactivamenteparaaprofilaxia.ParaissofoipedidoadiversosespecialistasdasInsti-tuiesquedirectaouindirectamentecolaboraramnoprojecto,pararedigiremosdi-versoscaptulos,sobretemasdasuaespecialidadeouconhecimentoparticular,aquireunidosnumvolumededivulgao.Trata-sedeummanualdirigidoaoscriadores,dotadodeslidasbasescientficas,ondeestespoderoacompanharomaneioindica-dopelomdicoveterinrioassistentedasuaexplorao.Salvaguardamosarepetioparcialdeumououtrotema,quesedevesobretudoaoenfoquediferentedecadaautor.Estesassuntosnosoestanques.
Para alm das afeces mais directamente responsveis pela mortalidade direc-tadefetosecrias,incluram-seoutrasafecesquepodemocasionaronascimentode crias fracas emenos viveis, nomeadamente doenas incapacitantes da fmeaadulta,comoapeeira,dasuacapacidadeparaaleitar,comoasmastitesouaindadasuaresistnciageral,comooslentivrus.
Agradecemos sem reservas a colaborao indispensvel dos diversos partici-pantesdirectosdoProjecto:
OlgaMnguezGonzlez,AnnaGrauVila,SrgioMarqusPrendes,CrmenMar-tinezNistal,AlfredoSobral,AnaPaulaFigueiras,PaulaMatos.
Agradeoaindaograndeesforodoscolegasquenocamporealizaramasne-crpsias,oscolegasAnaMargaridaAfonso,GuilhermeFrana,HlderQuintas,IsabelLameira,JooReis,JorgeFaanha,MnicaMoura,ZitaCoelho.
Finalmente, aos colegas que, nas Universidades e Institutos, acompanharammaisoumenosdirectamenteostrabalhos,ficaumapalavradeagradecimentopeladisponibilidade,apoioesobretudoconhecimentos,osProfessoresDoutores:
AnaCludiaCoelho,CristinaVilela,FilipeSilva,IsabelPires,LusCardoso,Mada-lenaMonteiro,MiguelSaraivaLima,NunoAlegria,YolandaVaz.
Aoscolegasda InstituioESAB,commaisdirectamentetrabalhmos,omeusinceroobrigado:DuarteDizLopes,HlderQuintas,RaimundoMaurcio,RamiroVa-lentim.
Agradecemosainda,paraconcluir,aoDr.AtilanoSuarezpelotrabalhocriativoedeediodestaobraassimcomoEng.FtimaCortezpelotrabalhominuciosoderevisododocumentoedeharmonizaodosseusdiferentesaspectos.
Braganaaos20deAbrilde2012
15
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
O fim da gestao e primeiros dias de vida
Miguel Saraiva Lima
Clnica Mdica. Departamento de Clnica, Faculdade de Medicina Veterinria, Universidade Tcnica de Lisboa
Apsumagestaode150diaseumbemsucedidopartoojovemborregooucabritoentranomundoreale imediatamenteenfrentaumconjuntodeproblemasque devem ser antecipados e prevenidos pelo produtor de modo a permitir a sua sobrevivncia.Nadamaisdesapontanteparaumproprietrioqueverqueosrecm--nascidosnovoconseguirsobreviver.
importante que o produtor consulte periodicamente o seu veterinrio no sen-tidodedefinirasmelhoresestratgiasdeprevenoetratamentodasprincipaissi-tuaesclnicasquepossamocorrernasuaexplorao.Idealmente,estasconversasdeveroterlugarantesdapocadepartosenoemcimadoacontecimento.
Nestepequenoartigo iremosenumerarasprincipais causasqueconduzammortalidade dos animais durante o primeiro ms de vida.
1 Incapacidade para respirarUmrecm-nascidoprecisadearparasobreviver.poisimportanteaquandodo
seunascimentoqueumapessoaresponsvelsejacapazdereconhecerquaisosani-maisrecm-nascidosquenorespiram.Hvriassituaesquefazemcomqueumrecm-nascidotenhamaisdificuldadeemcomeararespirar,taiscomo:
a) Animais que nascem emposio posterior. Estes recm-nascidos podemingeriralgumaquantidadedelquidoamniticoparaospulmes,nomeada-mente se o parto for prolongado.
b) Recm-nascidoscomgrandesdimenses.Estesrecm-nascidospodemso-frer leses nas suas costelas durante a passagem pelo canal cervical
c) Recm-nascidosfracoseprematurosd) Partosmltiplos.Afmeapodefocar-seapenasnaprimeiraousegundacria
e negligenciar os outros.e) Jovensmes.Estasfmeaspodemnosaberoquefazeroqueas levaa
ignorar a cria.
1.1 Tcnicas de ressuscitaoa) Esfregaracriacomamodacabeaatcaudasobreascostelasdemodo
suave mas vigorosob) Balanar a cria. Deve-se colocar a cria de cabea para baixo segurando as
suaspernasebalana-locomoumpndulo.Acriapodeestarescorregadiae h o perigo de ela cair.
c) Usodeestimulantesrespiratrios.Estescompostospodemserfornecidospelo veterinrio
16
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
d) Estimulaodoespirro. Istoconseguidocolocandoumapequenapalhanonarizdacria.Aoespirrar,entraarnosseuspulmesoqueestimulaarespirao.
e) Respiraoassistida.Esteprocedimentopodeserfeitocomumasondaeso-fgicaqueintroduzidanaparteterminaldabocadacria.Aomesmotempoquesesopra,devem-setaparasnarinaseabocadacria.possvelver-seaexpansodacaixatorxicaseotuboforintroduzidocorrectamente.Pode--serepetirestaoperaovriasvezes.Aconselhoqueoprodutoraprendapreviamente esta tcnica com um veterinrio.
2 O que fazer de seguida?Umacriasaudveldevesercapazdeseprrapidamentedepeprocurarobe-
redameafimdemamar.Muitasexploraesintensivasseparamlogoquepossvelacriadameeadministramcolostro.Nasexploraesemqueestaseparaonofei-tadeve-seconfirmarqueacriaseconsegueprdepdemodoaingerircolostrologoquepossvel.Hsituaesemqueacrianoseconsegueprdep,porexemplo,devidoatraumatismosqueprovocamlesesnacolunaounosmembros.Nocasodacriamamarcolostrodirectamentedamedeve-seexaminaroberedestademodoapercebersehcolostrosuficienteparaasnecessidadesdacriaeseametemalgumamamite.Nestecaso,oseubereestarduro,dolorosoeoleiteterumaspectodife-rente.Noentantomamitesemovelhasecabrassomuitomenosfrequentesdoqueemvacas.importantequeamedluznumlocallimpoesecopoisissodiminuiroriscodeinfeco.Nacriarecm-nascida,umadasportasdeentradadosagentesinfecciososocordoumbilical.Assimimportantequeestesejadesinfectadologoquepossvel.Soluesbasedeiodosobastanteeficazesalmdeserembaratas.
3 O colostro
Umacriasconseguirsobreviverseconseguiringerirnasprimeirashorasdevidaumadeterminadaquantidadedecolostro.Ascriassaudveisingeremocolostroporsucodirectaapartirdoberematerno.Nocasodacrianoseconseguirprdep,seamenotemcolostrosuficienteouseamepariumaisdeduascriastmqueseusarmeiosartificiaisparaadministrarcolostroscrias.Existemdisponveisnomercadovrioscolostrosartificiaisquenoentantonosotoeficazescomooco-lostroobtidoapartirdasfmeasdaexplorao.Idealmentecolostrofrescodeveriaestarsempredisponvelparaestescasos.Nasexploraescomalgumadimensoistofcilvistoquehfmeasapariraomesmotempo.Nalgumasexploraesmisturamcolostrodevriasfmeasquedofrescooucongelamparaquandohouvernecessi-dade.Noentantoestaestratgiatemalgunsriscosrelacionadoscomopotencialparacertasdoenaspoderemsertransmitidasporestavia,nomeadamenteaencefaliteeartritecaprina,apneumoniaprogressivaovinaeaparatuberculose.
3.1 Qual a quantidade de colostro que deve ser dado a um recm-nascido?Aquantidadedecolostroqueumrecm-nascidodeveingerirentre50e75ml
/Kgemtrsrefeiesnasprimeiras24horasdevida,sendoqueaprimeirarefeio
17
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
deveocorreratsprimeirasseishorasdevida.Hfactoresquefazemcomqueestevaloraumente,nomeadamentequandoatemperaturaambientemaisbaixa.Nata-belaabaixopodemosverasquantidadesdecolostronecessriasemfunodopesodo animal.
Peso da cria (Kg)Quantidade de Colostro (ml) Quantidade de Colostro (ml)
1 refeio Primeiro dia
3 150 200 600
4 200 300 850
5 250 475 1100
3.2 Armazenamento de colostroOcolostropode ser congeladodevido ao factodos anticorpos semanterem
estveis durante pelo menos um ano. Tem que haver algum cuidado aquando da des-congelaodocolostro,devidoaofactodocalorexcessivodestruirosanticorpos.Nosedeveusaromicro-ondas.Omodomaiseficazdescongelarocolostroemgua tpida.
3.3 O colostro do vizinhoOcolostrodovizinhopodeserumaalternativadeemergncia,noentantotem
duas desvantagens. Em primeiro lugar este colostro adequado para proteger os recm-nascidoscontraasdoenasexistentesnaexploraodele,sendomenoseficaznoutras.Emsegundolugar,comojfoireferido,senaexploraodovizinhoexistirparatuberculose,issopodeserumproblema.
3.4 Alternativas ao colostro de ovelha ou cabraOcolostrodevaca,decabraoudeovelhapodeserdadoacabritosouborregos
recm-nascidossemqualquerproblema.Noser100%eficazmaspodeserumaboaalternativa de emergncia. H casos ocasionais de borregos e cabritos afectados por umagraveanemiaapsteremingeridocolostrodevaca.Htambmdisponveisnomercadoalgunscolostrosartificiaisemboraapenasdevamserusadosemsituaesde emergncia como foi dito atrs.
3.5 Alimentao de um recm-nascido fracoMuitasvezessomosconfrontadoscomrecm-nascidosquenosocapazesde
ingerircolostro.Nestescasososrecm-nascidostmqueserentubadosafimdein-geriremaquantidadedecolostronecessriasuasobrevivncia.Sugere-sequeosprodutoresvejamprimeirocomoseexecutaestamanobracomalgumexperiente.NaFigura1podever-seotuboeumaseringaondesedepositaocolostro/leiteparaadministraoporviaoralaosborregosecabritos.
18
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Figura 1 Tubo para administrao de colostro/leite por via oral a borregos e cabritos
4 Doenas em recm-nascidos4.1 Hipotermia
Otermohipotermiasignificaumatemperaturacorporalabaixodosvaloresderefernciaqueparaborregosecabritossoentre39e40C.Esteproblemarespon-svel por cerca de 50% da mortalidade em crias de pequenos ruminantes. H 2 causas principaisparaestaocorrncia.Aprimeiraresultadeumagrandeperdadecalorporpartedacriaeocorrenasprimeiras5horasdevida.Asegundatemavercomumabai-xaproduodecalorporpartedacriaafimdemanteratemperaturacorporal,ocorrenas crias entre as 12 e as 72 horas de vida e est relacionada com a falta de alimento. Ascriasderuminantesnascemcommuitopoucasreservasdegordurademodoqueprecisamdesesperadamentedagordurado leitepara sobreviverem.Ahipotermiaporperdadecalorocorresobretudoemcriasnascidasnoexterior,especialmentecomtempofrioechuvoso,mastambmpodeocorreremcurrais,especialmenteemcriasdepartostriplosouquadrpulos.Ascriasafectadasporhipotermiatmoutroproblemaadicionalqueahipoglicmiaquetemquesercorrigidorapidamente.Ascriascomhipotermiaestodeprimidas,geralmentedeitadaseestasituaofacil-menteconfirmadapela introduodeumtermmetro lubrificadononusdacria.Nascriascommenosde5horasdevida,otratamentobaseia-senaadministraodecolostro,geralmenteporintubao,vistoqueoreflexodesuconestesanimaisest
19
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
ausente.Devem-sesecarascrias,nocasodestasestaremmolhadasecoloc-lasnumambientemaisaquecido.As lmpadasde infravermelhosomuitoeficazesnestassituaes. s crias com mais de 12 horas de vida e nos casos mais graves deve-se admi-nistrarglucoseporviaintraperitoneal.Estaoperaodeveserfeitasobaorientaodeumveterinriopoisasuaexecuotemalgunsriscos.Devem-setentarprevenirestassituaessemprequepossvel.Umaalimentaoadequadadaovelhaoucabraduranteagestaovaiassegurarqueascriastenhamleitesuficienteparasealimen-tarem. Se as temperaturas ambientais forem muito baixas deve providenciar-se um localabrigadoaosanimaisporalturadoparto.Deve-seprestarparticularatenoscriasdepartostriplosequdruplos.importantequeocriadorsejacapazdeusarumtuboparaalimentarascriassemreflexodesuco.
AssituaesdehipotermiasomaisfrequentesnoInverno,sobretudoquandoosdiasestofrios.Osprodutorestmdeterematenoa importnciadaquanti-dadedeleitedeadministrarssuascrias,nocasodaalimentaoserartificial.Estaconselhadaaadministraodeleitenumvolumenuncainferiora12%dopesodacria.Assimumacriade3Kgdepesovivodeveringerircercade360mldeleiteemduasou trs refeies. Este valor dever ser aumentado em dias muito frios. importante tambmconsiderar-seaqualidadedoleite.Leitesdesubstituiobasedeprotenaanimalsomuitomelhoresdoqueosbasedeprotenavegetal,sobretudonospri-meirosdiasdevida,emborasejammaisdispendiosos.Justifica-seconsultarumnutri-cionistaafimdedefinirqualotipodeleitepeloqualsedeveoptar.
4.2 Diarreia Diarreiasemborregosecabritossoumproblemacomumnaprimeirasemana
devida,especialmentenosanimaisaosquaisnofoiadministradocolostrodemanei-racorrecta.Ascausasdadiarreiapodemserinfecciosasealimentares.
Asdiarreiasalimentaresocorremesporadicamenteemcriasalimentadascomleitedesubstituio.Ascausaspodemteraver,porexemplo,comamudanadeleitedesubstituioparaleitematernoevice-versa,excessonoconsumodeleite.Umadeficientehigienedosbaldesououtroequipamentopodeserresponsvelpeloapa-recimentodediarreiasnascrias.Certosprodutoresreferemofactodaadministraode leite a temperaturas baixas ser o responsvel pelo aparecimento de diarreias nas crias.Noencontroqualquerexplicaocientficaquecorroboreestaopinio.Muitasvezestenhoadministradoleitefrioporentubaoacriasenotenhoobservadodiar-reiasnestesanimais.Noentantomaisagradvelparaumacriabeberleitemornodo que leite frio.
Humcertonmerodeagentesinfecciososquepodemserresponsveispelaocorrnciadediarreiasemborregosecabritos.OsprincipaissooE.coli,asSalmo-nellas spp e o Cryptosporidium.
AdiarreiaporE. colipodeocorrernascriascomdoisdiasdevida,muitoprofu-saeamortalidademuitoelevada.Hautoresquereferemqueousodeantibiticosefluidospodemsalvarosanimais.Naminhaexperinciatenhotidomuitopoucosu-cesso com o uso de drogas nestas situaes.
Diarreias causadas por Salmonella,especialmenteS. typhimurium e S. enteritidis somuitomaisrarasemcaprinoseborregosdoqueemvitelos.Osagentesreferidos
20
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
podem estar presentes em animais como pssaros e estes podem ser responsveis pelaintroduodestesagentesnaexplorao.Ainfecopodetambmserintrodu-zidanaexploraoporfezestransportadasnasbotasouemutensliossujosvindosdeoutrasexploraes.Osanimaisafectadosapresentamumadiarreiaprofusa,porvezescomsangueefibrina,dorabdominal,desidrataoemorte.Deve-sechamaraatenoparaofactodosorganismosdogneroSalmonella representarem um risco paraasadepblicahumana.
Oagente Cryptosporidium um parasita que ao multiplicar-se no intestino vai causarumadiarreiadevidoaumainsuficienteabsorodeguaenutrientes.Amaiorpartedoscasosocorreemcriascommaisdesetedias.Criasafectadasdeixamdein-gerirleiteeapresentam-semuitodeprimidas.Estainfecoapresentaumriscoparaasadehumanaparticularmenteascrianas.
Nocasodesesuspeitardeumproblema infeccioso,a intervenodoveteri-nriofundamentalnosentidodeidentificaroproblemaemcausa.Muitasvezesscom apoio laboratorial que se consegue resolver o problema.
Comofoiditoanteriormenteaeficciadotratamentodoscasosdediarreiaemcriasde ruminantesmuitobaixa.prefervelapostarnapreveno:correctaad-ministraodecolostro,boahigienedascamas,dosbaldeseoutrosutenslios.Emsituaesdesesperadaspodemosrecorreraosantibiticosmassemgrandesexpec-tativas.
4.3 Outros problemas neo-nataisa) Atresia ani Estasituaocongnitacaracteriza-sepelafaltadeaberturadonusoque
impedeasadadasfezes.Noscasosmenosgravesapenasumamembranafinabloqueiaonuseseestaforrompida,oproblemaestresolvido.Noscasosmaisgravesaporoterminaldointestinogrossoestausenteenes-tecasoaconselha-seaeutansiadacria.Emqualquerdoscasos,acriaquan-donasceencontra-sedeperfeitasade.Apsumdiaoudoisoabdmenaparecedilatadoeoanimalfazesforosinteisparaexpulsarasfezes.Umexame atencioso por parte do tratador consegue determinar a gravidade do problema; no caso de apenas uma membrana estar a bloquear o nus conseguem-severasfezesnaregioanal
b) Hipoxia cerebral Estasituaopodeacontecercomcriasqueexperimentarampartosprolon-
gadosoutraumticosoquefazcomqueocrebronorecebaaquantidadedeoxignionecessriodurantealgumtempo.Ocorremaisfrequentementequandoacriaseapresentaemposioposteriorouquandodegrandesdimenseseacabeaficaentaladanocanalcervical.Ascriasafectadasapa-rentamalgumadesorientaomasconseguemrecuperarrapidamente.Seosanimaisnoapresentaremmelhorasaofimde24horasdevemsereuta-nasiados.
c) Onfalites Estes problemas ocorrem mais frequentemente em crias em regime inten-
sivosobretudoquandoareadepartonoestbemlimpaouquandoh
21
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
uma sobrecarga de animais. Estas duas situaes levam a um aumento dos nveisdecontaminaodosparques.Umexamecuidadorevelaumumbigoduro,dolorosoequentepalpao.Comotratamentoaconselha-selavarazonadoumbigo,retiraralvoltadoumbigoeaadministraodeantibi-ticos,depoisdeconsultadooveterinrio.
d) Hrnias umbilicais Ocasionalmentetantoborregoscomocabritosquandonascemapresentam
umafragilidadeanveldoumbigo,ousejaumahrnia.Ashrniaspodemserfechadasouabertas.Nocasodumahrniafechada,umatumefaopodeservisualisadanazonadoumbigo.Quandoestashrniassodepequenasdimensesdesaparecemnaturalmenteaofimdealgumtemposemquesejustifiquequalquerinterveno.Nocasodenosdepararmoscomumahr-niaaberta,emqueoabomasoouosintestinossovisveisasituaomaiscomplicadaeimplicaumadecisorpidaporpartedoveterinrio,nosenti-dodeseprocederaumaintervenocirrgicaouprocedereutansiadacria.
e) Artrites spticas Asartritesspticasresultamdeumainfecoporbactriasquepodeafec-
tarmaisdoqueumaarticulao.Elascausamdor,inchaoeclaudicao.Asbactriaschegamsarticulaesporviaumbilical,porferidasresultantesporexemploapsacastraoouaamputaodacaudaouporviaintesti-nalquandoaadministraodecolostronofoiadequada.Emboraalgunsautoresafirmemqueatravsdaadministraodeantibiticosseconsegueresolveroproblema,naminhaexperinciaissonoacontece,sendoacon-selhado a eutansia destas crias.
f) Fracturas sseas Estas fracturas podem ocorrer durante o parto quando se usa excessiva for-
a. Tambmpodemocorreremqualqueralturaporacidentes, tais comopisadelas,membrosentalados,etc.Arecuperaodosanimaisdependedotipodefractura.Seafracturanoformuitocomplicadaenoforexpostaataxaderecuperaomuitoelevada,apsumacorrectaimobilizaodomembro com o uso de talas. Se a fractura for muito complicada e for expos-ta aconselha-se a eutansia do animal.
g) Ectima contagioso Trata-se uma doena de origem viral que pode afectar borregos e cabritos
comalgunsdiasdeidade.Pode-setransmitiraoshumanos.Adoenacarac-teriza-sepeloaparecimentodepstulassobretudonoslbiosdosanimais.Estaspstulaspodemserinvadidasporbactriasepodeminterferircomoactodesuco,resultandoemsub-nutriodascrias.Ainfecopodepas-sarparaoberedasmescomdor,fazendocomqueasmesnodeixemascriasingerirleite.Nohumtratamentoeficazparaestescasos.Ousodespraybasedeantibiticocontrolaainfecobacteriana.importantequeestesanimaissejamajudadosnaalimentaopoispodemmorrerdefome.Esteproblemadesapareceemmdiaaofimde2a3semanas.Comomedi-daspreventivas,aconselhadooisolamentodosanimaisafectadossempre
22
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
que possvel. Tambm se deve desinfectar o equipamento e os currais onde estiveramanimaisafectados.Ovrus,emcondiesdesecurapodesobrevi-verdurantemuitosanosnumaexplorao.Existemnomercadovacinas,noentantoadecisodesevacinaroefectivodeveserdiscutidacomoveteri-nrio assistente.
4.4 Principais problemas clnicos nas fmeas grvidas em final de gestao (ove-lhas e cabras)
Asadedacabragestantenofinaldegestaofundamentalparaaviabilidadedosfetos.Oprincipalproblemadasfmeasgestantesemfinaldegestaodelongeatoxmiadegestao.Adicionalmentepodemocorrerproblemascomohipocalc-mias,mastiteseprolapsosdavagina.
a) Toxmia de gestao Atoxmiadegestaoumadoenadaproduoqueocorrenasfme-
asgrvidasnasltimas4semanasdegestaoemaisprevalentenasf-meascomgestaesmltiplasemborapossaocorrertambmemfmeasgrvidas apenas de um feto. Esta doena consequncia de um balano alimentar(ouenergtico)negativo,ousejaasnecessidadesdecorrentesdocrescimentodosfetosnosoacompanhadasporumnveladequadodeingestodealimento.Naminhaexperinciaestadoenaocorremaisemovelhasmagrasquenoestoaseralimentadascorrectamente.Emcapri-nos explorados em regime intensivo este problema mais comum em ca-brasmuitogordas.Osinalclinicomaisprecoceo isolamentodoanimaleofactodenovircomer.Estesanimaismostram-sedeprimidos,comasorelhascadas,podemapresentarsinaisnervososcomotremoreseacabampornoseconseguiremlevantar.Ascabraspodem-seapresentarcomaspatas inchadas. H pessoas que conseguem detectar nestes animais um cheiroaacetonanoarexpirado.Geralmenteotratamentonomuitoefi-cazquandoos sinais clnicosaparecem.A taxademortalidadealta.Naminhaexperinciaaconselhofazerumacesarianaafimdesalvarascriasouemcasosmenosgravesprovocaroparto.Aestratgiateraputicaaseguirdeve ser discutida com o veterinrio pois geralmente esta doena ocorre emmaisqueumanimaldorebanho.Aprevenodatoxmiadegestaomuitomaiseficazqueateraputicaedeve-sebasearnaimplementaodeumplanodenutrioadequadoquefaacomqueestesanimaisnoentremem balano energtico negativo.
b) Hipocalcmia A hipocalcmia umadoena caracterizada por valores baixos de clcio
nosanguequeocorrenas fmeasgestantesporalturadoparto,particu-larmentenafasefinaldagestaoquandoocrescimentodosfetosdentrodoteromximoequandocomeaahavermobilizaodesangueparaobereafimdeseiniciaraproduodeleite.Estadoenaparticularmentecomumemvacasleiteirasdealtaproduo,sendomuitomenosfrequentetantoemovelhascomoemcabrasgestantes.Asfmeasafectadaspodemapresentartremoresmusculares,hiper-excitabilidadeenumafaseseguinte
23
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
caem.Senoforemtratadasacabampormorrer.Idealmenteotratamentoconsistenaadministraodeumasoluodeborogluconatodeclcio(50ml/40Kgdepesovivo)porviaendovenosa.Nocasodenoserpossvelestaviadeadministraopode-seusaraviasub-cutnea(debaixodapele,sobreascostelas).Hveterinriosquesugeremaadministraodeclcioatodasascabras/ovelhasporalturadopartoquenoseconsigammanterdep(exceptuandocausasbviascomfracturasdemembros).
Bibliografia recomendadaEalesA,Small JeMacaldowie.PracticalLambingandLambCare, (2004)Blackwell
Publishing.HarwoodD.GoatHealthandWellfare,aVeterinaryGuide,(2006)TheCrowoodPress.
25
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Maneio reprodutivo pr e ps-parto em pequenos ruminantes
Ramiro Corujeira Valentim
Reproduo Animal. Departamento de Cincia Animal.Escola Superior Agrria, Instituto Politcnico de Bragana
Acorrectapreparaoparaopartoeops-partosoessenciaismelhoriadosresultadosreprodutivos,nomeadamentedastaxasdefertilidade,deprolificidadeedefecundidadee,consequentemente,aoaumentodoslucrosdaexplorao.Ataxadesobrevivnciadascriaspodeseraumentadaatravsdeumamelhororganizao,preparaoegestodeinstalaesedeprocedimentostcnicos.
Apreparaodopartocomeamuitoantesdesteefectivamenteocorrer.Algu-masdecisessotomadastocedoquantoaresoluodecriaraprpriaexplora-oespcieanimal,produtofinal,sistemadeexplorao,instalaes,entreoutras.Outrassotomadasquandodacobrioeleiodapocareprodutiva,seleodosprogenitores,avaliaodosreprodutores,utilizaodetcnicasde induo/sincro-nizaodaactividadeovrica,promoodesuperovulaes,alimentao,sanidade,entreoutras(Figura1).Outrasreportamaoperodoperinatal.
Figura 1 Borregos da raa Ile-de-France nascidos aps controlo da actividade ovrica.
26
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Noltimoterodagestao,asfmeascombaixacondiocorporal(
27
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
obsttricos,comoatorsodotero.Pelosmesmosmotivos,aaplicaodetcnicasdemaneioqueimpliquemaconcentraodefmeaspassagemporpedilvios,va-cinaes,desparasitaes,determinaoperidicadacondiocorporal(paraajus-tamentodadieta),entreoutrosdeveserfeitaemespaosapropriados(mangademaneio e/ou parques que evitem que as fmeas se amontoem). Evitar ao mximo acontenoprolongadadas fmeasemespaosexguos,comacessosestreitosepisosescorregadios.Tersemprepresentequeasfmeasjovenssoparticularmentevulnerveis ao stress.
Todasasexploraesdevemterumplanosanitrioinstitudo,quedeveserrigo-rosamentecumprido.Estedevecontemplarapreparaoparaopartoeops-parto.Asfmeasparturientesdevempossuirelevadosnveiscirculantesdeanticorpos(re-sultantesdoplanodevacinaoimplementado),queasprotejamdasdoenasequepossamserpassadosscrias.
Aprevisodomomentodopartomaisexactanasexploraesdotadasdeumaboaorganizaoedeumagesto integradadassuasmltiplasactividades (Figura3).fundamentalaexistnciadeumsistemadeidentificaoanimaleficazedeumabasededadosbemconstruda,ondeconstetodaainformaoindividualgentica,produtiva,sanitria,comportamental,entreoutrasconsideradaspertinentes,deto-dasasfmeas,fcildeactualizar,deinterpretaredeusar,emcadamomento,nato-madadedeciso.Mesmoquandoasfmeassojovenseprimparas,oconhecimentoprviodoseuhistricofamiliareindividualpodesercrucial.
Figura 3 Um dos mtodos mais eficazes de diagnstico de gestao em pequenos ruminantes a ecografia.
28
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Nofinaldagestao,asdeslocaesempastoreiodevemsermaiscurtaseme-nosdemoradas(Figura4).Preferencialmente,asfmeasdevemsermantidasemins-talaesqueasprotejamdecondiesclimatricasadversas.Asinstalaesdevemproporcionar um ambiente calmo. Osmachos, caso ainda permaneam junto dasovelhas,devemserseparados.Oalojamentodosanimaispode,noentanto,facilitaratransmissodedoenasinfecciosasscrias.fundamentalaexistnciadeumbomsistemadeventilao.Estenopodecriarcorrentes-de-aranveldosolo.
Figura 4 Ovelhas Churras Bragananas em pastoreio nas proximidades do ovil.
Nodecursodopr-parto,s fmeasdevemserproporcionadascondiesdealojamentoquelhespossibilitemsatisfazerasuatendncianaturalparaparir,isolada-mente,semainterfernciadasdemaisfmeasdorebanho(Figura5).Estascondiessoparticularmenteimportantesquandoospartosocorremdeformaconcentradanaturalmente (previstosatravsdacorrecta identificaoe registodomomentode ocorrncia da monta natural fertilizadora) ou resultantes de programas de con-trolodaactividadereprodutiva,quandoorebanhoconstitudoporumnmerosignificativodefmeasjovenseinexperientesouquandoasfmeassotransferidastardiamenteparainstalaesdesconhecidas.Adisponibilizaodepequenoscom-partimentosdepariopodefacilitaroestabelecimentodarelaome-cria(s)epos-sibilitarummelhorcontrolosanitriodospartos(Figura6).Entreocupaes,cadacompartimentodeveserlimpo,desinfectadoereceberumanovacamadepalha.A
29
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
colocaodeumapequenaquantidadedecalviva,porbaixodacamadepalha,ajudaapreveniratransmissodeinfeces.
Figura 5 Momentos ps-parto de uma ovelha que se isolou para parir.
Dentrodasinstalaes,oscompartimentosdepariodevemsituar-seemzo-nasde temperaturaamenaesemcorrentes-de-ar (anveldocho),possuirpisoeparedesfceisdelimparedesinfectarecorrenteelctricailuminaoeligaodeequipamentoselctricosoudelmpadasdeaquecimento.Porprecauo,deveserpossvelacederfacilmentealuvasdescartveis,baldesdegua,sabo(lavarelubri-ficararegiovulvareasluvas),cordas/laosobsttricos,seringadeplstico(aspirarassecreesdabocaedasnarinas),linhaforteoufiodental(atarocordoumbilical),tesouradepontasrombas(cortarocordoumbilical),soluo iodada(desinfectarocordoumbilical),toalhaslimpas(secarascrias)enmerodetelefonedomdicoveterinrio (em caso de necessidade...).
30
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Figura 6 Compartimentos de pario temporrios.
Duranteoparto,aintervenohumanadevereduzir-seaomnimoindispens-vel.Amaiorpartedasfmeasparesemdificuldadeeportantosemqualquernecessi-dadedeassistncia.Contudo,hqueteremcontafactorescomo:araa,oindivduo,aidade,onmerodepariesanteriores,otipodeparto(simplesougemelar),entreoutros.Dequalquerforma,ospartosdevemservigiados,preferencialmenteporpes-soasexperientesecomformaotcnica.Ointervaloentrerondasdevigilncianodeve exceder os 60 minutos.
Assituaesdepartoprolongadodevemcomearporserinvestigadas.Aajuda
31
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
deveserabsolutamenteproporcionalnecessidade.Porvezes,afmeaapenasne-cessitademaisalgumtempo,porexemplo,paraqueocorraacompletadilaodoca-naldoparto.Outrasvezes,adilaodocrvixsconseguidaatravsdaintroduodeumoudoisdedosemassagemdocanalcervical.Outrasvezes,quesejacorrigidaaposioda(s)cria(s).Outrasaindapodemimplicararealizaodeumacesariana(Figura7).Dequalquerforma,repostaanormalidade,opartodevecontinuarsemdemais intervenes humanas.
Figura 7 Ovelha sujeita a cesariana depois de fracassarem todos os demais procedi-mentos de assistncia ao parto.
Nasprimeirasduashorasps-parto,arelaoselectivame-criabaseia-seape-nasnosentidodoolfacto.Rapidamente,passaaintegraroutrosrgosdesentidos.Asfmeasinexperientes,primparas,desenvolvemestacompetncia,deestabelecerumaboarelaocomasuacria,nasprimeirasseishorasps-parto.Depoisdedesen-volvida,ela, tal comoasexperinciasmaternaisadquiridas,perduraropor todaavida.Tudodeveserfeitoparaevitaraperturbaodesteprocesso.
Apsumpartodifcileprolongado,acriadeveserrapidamenteapresentadaprogenitora.Deveserelaatratardacria.Casoameestejademasiadodebilitada,hqueprocederaocortee/oudesinfecodocordoumbilicaleverificaracompletadesobstruodasvias respiratrias. Senoestiverdemasiado frio, a criadeve sercolocada juntodo focinhodame,paraque comecem logoa interagir. Seestiver
32
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
muitofrio,acriadeveserlimpaantesdeserdeixadajuntodofocinhodame.Avigi-lnciadevemanter-seenquantonoestiverdefinitivamentecriadoovnculome-criaeenquantonoseverificarqueacriaefectivamentemamou(Figura8).Tetosmalimplantadosoudemasiadograndespodemimpedirascriasdemamar.Criasdemasia-dofracaspodemterdificuldadeemextrairosprimeirosjactosdeleite.Eoreflexodemamar pode entretanto desaparecer!
Figura 8 Nas primeiras horas ps-parto, a amamentao desempenha um importante papel na criao do vnculo me-cria.
O leiteproduzidonosprimeirosdiasps-partodesignadodecolostro.Estecomeaaserproduzidocercadeduassemanasantesdoparto.Asuaingestovitalnasprimeiras6horasdevida.Aonascimento,osistemaimunitriodacriaaltamen-tedeficitrioeportantoincapazdeaprotegerdasdoenas.Nospequenosruminan-tes,ocolostroumaviaeficazdetransmissodaimunidadedameparaacria.ricoemanticorpos,particularmentenasprimeiras24horasps-parto.Adicionalmente,muitoricoemenergia(especialmentegordura)elaxante.Oelevadoteoremgor-duradocolostrofundamentaltermorregulaoeestimulaaingestodealimento.Porseuturno,oefeitolaxativoimportanteparapromoveraactividadegastrointes-tinaleaexpulsodosmecnios(Figura9).Noprocessodeligaome-cria,omamardo colostro desempenha um papel importante.
33
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Figura 9 O colostro possui um importante efeito laxativo.
Seametiverpoucocolostroouestefordebaixaqualidade,scriasdeveserfacultadoocolostrodeoutrafmea,deprefernciadamesmaespcieedomesmorebanho.Ocolostrodevacatambmpodeserusado,emboracomportealgunsriscos(como,porexemplo,deanemiahemoltica).Devesercriadoumbancodecolostrodo rebanho (Figura 10).Asamostrasa congelardevemserpequenas (50ml);quepossamser ingeridas,numa s toma,porumacria recm-nascida.Amostrasgran-desresultamfrequentementeemdesperdcio.Quandonecessria,vriasamostraspequenaspodemproduzirumaamostragrande.Ocolostrodeveserdescongeladogradualmente,deprefernciaembanho-maria(nousarummicro-ondas).Duranteadescongelao,atemperaturadaguadevesersemelhantedosanguedaespcieemcausa.Hqueevitarosobreaquecimentoeconsequentementeadestruiodasprotenas,especialmentedosanticorpos.
34
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Figura 10 Exemplo de um recipiente que pode ser utilizado no banco de colostro na explorao. De notar a importncia de rotular o recipiente incluindo a data uma vez que o colostro no deve em condies normais ser armazenado durante mais de 6
meses (Fotografia Hlder Quintas)
Ascriaspodemperderrapidamentecalorcorporal.Aonascimento,assuasre-servas corporais de energia so reduzidas. Particularmente, quandoo tempoestfrio,hmidoeventoso,ascriaspodemfacilmenteentraremhipotermia.Tornam-seletrgicas,amontoam-se,noseguemprontamenteameepodemmanifestarsinaisdedesconforto.Senadaforfeito,asuacondiodeteriora-serapidamenteemor-
35
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
rem.Asprimeirasfasesdahipotermiasodifceisdeidentificarsemoauxliodeumtermmetro.Atoscasosdehipotermiamoderada(37-39C)podemserrevertidos.Ahipotermiasevera(30ppmdeFe),surgindoentoaanemiafer-ropriva.
Ossinais clnicosdedeficinciaincluem:mucosasplidas,dispneia,reduzidoga-nhodepeso(especialmenteemcordeirosmachos),perdadeapetiteemortesbita.
Aanemiaferroprivapodeterumaorigemdiferentedadeficinciaprimriadeferro,nomeadamenteapresenadeendoparasitas(Haemonchus contortus.; Trichos-trongylus sp;Fasciolaoupiolhossugadores).Tambmaingestodeplantasdogne-ro Allium ricasemn-propil-disulfitospodemlevardestruiodahemciaeconse-quente anemia.
O diagnstico passapelaavaliaodo hemograma onde se depara numa ane-miahipocromicamicrociticaounormociticaepelosvaloresdeFesanguneos.Ahe-moglobinaestinferiora90g/l,ohematcritoinferiora35eoFeinferiora31mol/l.
Odiagnstico diferencialcompreende:parasitas,deficinciadecobreoucobal-to.
Otratamento passapelaadministraodeferrodextranoporviaparenteral.Comopreveno:leitesubstituiocommaisde30ppmdeFeealimentoscom
30 a 40 ppm de ferro.
CobaltoOcobalto(Co)umcomponenteessencialdaVitaminaB12produzidanormen
pelafloramicrobiana.AVitaminaB12vitalparavriospassosdometabolismoener-gtico,nomeadamenteaconversodocidopropinicoemcidosucciniconoCiclodeKrebsenometabolismodametionina.Adeficinciaocorrequandoocobaltonadietaforinferiora0,1ppmdematriaseca.
OssinaisassociadosdeficinciadeCooudevitaminaB12so:doenacrnicacomperdadeapetiteouapetitealienadocom ingestodeervaseca,arbustosoumesmoterra;diminuiodocrescimentoouperdadepesoemucosasplidas(ane-mia),apatiaeastenia,perdaproduodeleite,mqualidadedal,maiorsuscepti-bilidade a infestaes por strongylus sp; anemia normocrmica e normocitica, ciosirregulares,infertilidade,abortos,nado-mortosemortesbita.
Noexameanatomopatolgicoobserva-seadoenadofgadobrancodosovi-
53
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
nos,lipodistrofiahepticadoscaprinos,emaciaoehemosideroseesplnica.Diagnstico: Suspeita-se pelos sinais clnicos e pela resposta teraputica. O
diagnsticodefinitivofeitopelodoseamentodeCoeVitaminaB12nosangueenofgado.
Diagnstico diferencial:deficinciadecobre,desnutriocalrico-proteica,pa-ratuberculose e parasitismo intestinal.
Tratamento:administraooraldeCoe/ouparentraldeVitB12em intervalossemanais.AlimentosricosemConomeadamente leguminosasousuplementosmi-nerais.
Profilaxia:0,1ppmnadieta;pedrasminerais.TambmpossvelaadubaocomCodaspastagens.
CobreOcobre (Cu) necessrio para a formaoda citocromooxidase, da cerulo-
plasmina,damelanina,paraumnormalmetabolismosseoeparaamielinizaodosnervos.Asmanisfestaes clnicas somltiplas sendoamais importanteaataxiaenzootica.
Etiologia:Adeficinciaemcobrepodeserprimriaquandosedevea insufici-ncianaalimentao.Adeficinciaprimriaocorrequandoosalimentosapresentammenosde3ppmemmatriaseca;osnveisentre3a5ppmsoconsideradosmar-ginaisevaloresentre7a 12ppmsoconsideradoscomoadequados.Adeficinciasecundriaocorrequandoaltasconcentraesdeantagonistasimpedemaabsorodocobre.Estesantagonistaspodemseromolibdnio,ocdmio,oenxofre,oclcioe o zinco.
Asmanisfestaesclnicassoaanemiahipocrmicaemicroctica,diminuiodaproduodeleite,descoloraodopelooul,velodemqualidade,insuficinciacardaca,infertilidade,maiorsusceptibilidadeadoenas,diminuiodocrescimento,tumefaodasarticulaes,claudicao,lcerasgstricasediarreiadevidofaltadaaodaenzimaceruloplasmina).
NosanimaismuitojovensnascidosdefmeasdeficitriasdecobrepodeocorreraataxiaEnzooticacaraterizadaporincoordenaomuscularcomparalisiaprogressi-vaascendente,perdadecapacidadedemamaremorte.Aataxiaenzoticamaisob-servada em neonatos mas pode ocorrer at animais de 3 meses. Muitos dos animais morrem3a4diasapsosprimeirossinaisclnicos.
Diagnostico:nanecropsiaobserva-seumadegeneraodamielinadamedulaespinhalecavidadesnamatriabrancadocrebro.Osnveisdecobredofgadosobaixos(inferioresa80ppmdepesoseco).OsvaloresplasmticossdoinformaoquandosobaixospoisemsituaodestresshelevaodeCuplasmtico.
Como diagnstico diferencial podemos considerar:parasitismoemalnutrio,osteodistrofiarelacionadacomCa,PouVitD,meningite,hipotermia,border disease e hipoplasia cerebelar.
Emcasodesuspeitadeinsuficinciaemcobre,deveserfeitooseudoseamentonosalimentosassimcomoosnveisdemolibdnio,enxofreeferro.
Ocobrecontudopodeserextremamentetxico,especialmenteparaovelhase
54
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
paracaprinosjovens,commanifestaodecriseshemolticasapartirde25-50mgdecobre/kganimalnoscordeirosouapartirde130mg/kgadultosouquandoosalimen-tos apresentam mais do que 12 ppm de cobre em matria seca.
SelnioOselnio(Se)umoligoelementeinicialmentetemidopelasuatoxicidade.De
factoasuajanelateraputicamuitoestreita.Adoenamaisconhecidaesimultanea-mentecomprejuzosmaiselevadosadistrofiamuscularnutricionalconhecidacomodoenadomsculobranco(Figura2).
Oselnioessencialnaformaodeselenoproteinasquecontrolamimportan-tespassosmetablicosnomeadamentecomoantioxidantes,conversodatiroxina(T4)emtriiodotironina(T3),foldingproteicoeregulaoredoxintraeextracelular.
Ossinais clnicosdadeficinciaemselniosonumerosos:infertilidade,abor-to,nadosmortos,debilidadeneonatal,retenoplacentria,crescimentodeficiente,diarreia,predisposioparadoenasinfeciosaseadistrofiamuscular,tantoesquel-ticacomocardaca.Afraquezamuscularassociadadoenadomsculobrancovul-garmenteconhecidacomotonteiraentreoscriadores,naregiodeTrs-os-Mon-tes.Osborregosecabritosmorremfrequentementede inaniopor incapacidadederealizaromovimentodemamar.Aidademaiscomumdosurgimentodadistrofiamuscular nutricional entre o nascimento e as 8 semanas de vida.
Odoseamentodoselnionosoloounosalimentosdispendiosopeloqueseprefereodoseamentodeumaselenoproteinadosanimais: aglutatioperoxidase(GSH-px).NumestudorealizadoemTrs-os-Montesforamidentificadosumelevadonmerodeefetivoscomnveis inadequadosdeGSH-pxconfirmandoasuspeitadadeficinciaemselniopelossinaisclnicosobservados(Figura1).
Figura 1 Percentagem de cada rebanho com nveis adequados de selnio
55
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Figura 2 Doena do msculo branco
Osnveisdeselnionaalimentaoentre0.1a0,3ppmsoconsideradosade-quados,sendoaprenheznoltimotrimestremaisexigente.Aadministraodepe-dras minerais com concentraes entre 25 a 90 ppm em selnio mineral est acon-selhadaemzonasdeficitrias.Nosltimosanosestoaserpromovidospreparadosbasedeselnioorgnico(seleniometionina)cujabiodisponibilidadesuperioreatoxicidademuitoinferior.Emsituaesdedeficinciaagudaadministram-secombi-naes de selnio e vitamina E por via parenteral.
ZincoOzinco(Zn)necessrioparaaproduodediversasmetalo-enzimas.Asne-
cessidadesrondamos20a50ppmdealimentoseco.Aabsorodozincopodeserprejudicadapelapresenadeoxalatos,fitatos,clcio,cdmio,ferro,molibdnioeor-tofosfato.
56
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Os sinais clnicos compreendem dermatite, paraqueratose, reduo leiteira,apetiteecrescimentoreduzido,maiorpredisposioparaapeeira,alopeciaecrostasnaregiodochanfroolhoelbios,articulaestumefactas,baixalbidoediminuiodo desenvolvimento testicular.
Odiagnstico pode ser efetuado pelo doseamento de zinco sanguneo ou hep-tico ou pela resposta ao tratamento.
Oprincipaldiagnstico diferencial a sarna.Otratamentoeprevenopassampelaadministraodepedrasmineraiscom
0.5 a 2% de zinco.
IodoOiodo(I)necessrioparaaproduodetiroxina.Adeficinciapodeserprim-
ria(refletindoafaltadeiodonossolos)ousersecundriapresenadeantagonistasdasuaabsorotaiscomonitratos,arsnio,clcioepotssio.Tambmaingestodeplantas do gnero Brassica sp pode interferir no metabolismo do iodo.
Ossinaisclnicoscompreendem:bcio,crescimentolento,pelofraco,mixede-ma,reduoleiteira,toxemiadegestao,abortos,nado-mortosouneonatospoucoviveis,retenoplacentria,ciosirregulareseinfertilidade.Oscordeirosoucabritospodemapresentarbcionascena(Figura3).
Diagnstico: doseamento da tiroxina plasmtica.
Figura 3 Deficincia em iodo, de notar tumefao na regio cervical ventral.
Necropsia: mixidema.
Tratamento e preveno:oiodoprontamenteabsorvido,assimasfontesdeiodonaspedrasmineraisfuncionambem.Asnecessidadesdeiodosode0.8ppmparafmeaslactantese0.2ppmparaosrestantes.Aoscabritosecordeirosafetadospodem ser aplicadas 3 a 6 gotas de tintura de iodo per os,enquantoaaplicaodetintura de iodo na pele de fmeas prenhes uma vez por semana funciona bem para prevenironascimentodeanimaisdeficitrio.
57
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Bibliografia Behrens,H,GanterM,HiepeT.Lehrbuch der Schafkrankheiten.4.,vollst.neubearb.A.
PareyBeiMvs;2001.Pugh,D.P..Sheep and Goat Medicine. 1st ed. Saunders; 2001.Radostits,O.M.Veterinary Medicine: A textbook of the diseases of cattle, horses, sheep,
pigs and goats, 10e. 10th ed. Saunders Ltd. 2007.Silva,FilipeCosta,Estudo da deficincia de selnio em pequenos ruminantes na regio
de Trs-os-Montes.UTAD,VilaReal,Portugal.2008..Smith,M.C,Sherman,D.M.Goat Medicine, 2nd Edition.2nded.Wiley-Blackwell;2009.
59
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Colibacilose
Filipe Silva 1, Isabel Pires 1 e Hlder Quintas 2
1) Patologia. Departamento de Cincias Veterinrias, Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro
2) Sanidade Animal, Clnica de Grandes Animais. Departamento de Cincia Animal, Escola Superior Agrria do Instituto Politcnico de Bragana.
ACRIGA Associao de Criadores de Gado.
Acolibaciloseumadoena causadaporestirpespatognicasdeEscherichia coli.umadoenacomgravesprejuzoseconmicoseocorreao longodetodooano,compicosnaspocasdepartos.Osanimaisjovenssoosmaisafetados,sendoa colibacilose considerada uma das principais causas de morte em efetivos de recria comleiteartificial.
Aocorrnciadecolibaciloseclnicadependedotipoedapatogenicidadedaes-tirpe infetante de E. coli,dasusceptibilidadedohospedeiroedapresenaouausn-ciadefatorespredisponentes.Dependendodaestirpeenvolvida,distinguem-seduasformas clnicas principais: a forma entrica e a forma septicmica (colisepticemia).
EpidemiologiaAcolibacilosemaiscomumemsistemasdeproduo intensiva.Aalterao
dossistemasdegestodasexploraesdeproduoextensivaparaintensivapodecontribuir para um aumento da incidncia da doena.
Asmaioresfontesdedisseminaosoasfezesdeanimaisinfetados,constituin-doosanimaiscominfeosubclnica,reservatriosdadoena.
Aspessoasquetrabalhamcomosanimaistambmpodemcontribuirparaadis-seminaodadoena,norebanho,emesmoentrerebanhos.
Osfatoresrelacionadoscomomaneiotaiscomoexposioaofrio,chuvaeven-to,asobrelotaoecondiesdehigienedeficitriaspodempredispordoena.
Aviadeinfeonaformaentricaadigestiva,normalmentefeco-oral.Nafor-masepticmica,a infeoocorreporviaumbilical,oralounasaleestassociadaaproblemasdemaneio,nomeadamenteainadequadaadministraodecolostroaosrecm-nascidos.
PatogeniaA formaentricadadoena causadaporE. coli enterotoxignica. Estes mi-
crorganismospossuemacapacidadedesefixarecolonizarasvilosidadesintestinais,pelassuasfimbrias(emcordeirososantigniosdasfimbriasmaiscomunssoK99eF41).Poroutrolado,produzementerotoxinasqueinterferemcomanormalfisiologia
60
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
intestinal,provocandomabsoroecausandodiarreia.Adesidrataodosanimaisrpidaegrave.Outrasestirpesforamisoladasemdiarreiasdepequenosruminan-tes,nomeadamenteaenteropatognicaeaenterohemorrgica.
Acolisepticemia causadaporestirpes invasivasdeE. coli.A invasodos te-cidospodeocorrerporviadigestiva,atravsdo lmen intestinal,porviaumbilical,pelamucosadanasofaringeepelasamgdalas.SomicrorganismosquetmelevadacapacidadedefixaosclulaseresistnciaaosistemaimunitriodoanimalDepoisdesefixaremsclulas,produzemendotoxinasqueentramemcirculaocausandoleses emdiferentesrgos.Os cordeiros e cabritos comhipogammaglobilinemiasoparticularmentesusceptveisinfeo.
Caractersticas clnicas e patolgicasA colibacilose na forma entrica ocorre em cordeiros e cabritos com menos de
10dias,sendomaiscomumataos4diasdeidade.consideradaumaimportantecausa de diarreia em pequenos ruminantes jovens, considerada pormuitos comoumasdasprincipaiscausasdediarreianeonatal,nestesanimais.Astaxasdemortali-dadepoderoatingir50a75%.
Caracteriza-sepordebilidade,diarreiacomfezesamarelas(Figura1),pastosasoumucoides,febreligeira,caquexiaedesidratao.Outrosagentes,comorotavirus,Salmonellae and Campylobacter spppodemestarenvolvidos,complicandooquadroclnicoeodiagnstico.
Aperdadebicarbonatodesdioassociadadiarreiaeaconsequenteacidoseedesidrataopodemlevarmortedosanimais12horasapsoinciodasintomato-logia.Contudo,muitosanimaismorremantesdeapresentardiarreia,comapatiaesalivaoexcessiva.
Noexamepsmorte,osanimaisapresentamdilataodointestinodelgadoereatividadedoslinfonodosmesentricos(Figura2).abertura,ointestinoencontra--serepletodegsecontedoamarelolquido,pastosoouespumoso(Figura3)oucomgrandequantidadedemuco(Figura4),porvezescomhemorragiasdaparedeintestinal.Osvasoslinfticosmesentricospoderoapresentar-sedilatados.Noabo-maso,observam-se,porvezes,hemorragiasdaparedeeleitenodigerido(Figura5).
A forma septicmica (colisepticemia) comumemcordeirosecabritos.Osgru-posmaissuscetveissoosanimaiscom1-2diasdeidadee2-6semanasoumesmoats8semanas,segundoalgunsautores.
Adoenacaracterizadapelaposturargidaouapatia,depresso,febre,hipe-restesiaeconvulses.Aslesesobservadassosemelhantessdasepticemiacausa-daporoutrosagenteseconsistememhemorragiaspetequiaisnasserosas(Figura6),gastrite,enterite,poliartritefibrinosa(Figura7),pleurisiaeperitonitefibrinosa,me-ningitefibrino-purulentaenefriteintersticialpurulenta(abcessoscorticais).Noscor-deiros podem observar-se leses de sinusite mucopurulenta a hemorrgica. Quando ainfeoocorreporviaumbilicalassocia-seaonfaloflebite.
Quandoocorredeformahiperaguda,associa-seamortesbita,muitasvezesnosendoacompanhadadesintomasouleses.
61
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Figura 1 Caprino, evidncias externas de diarreia com fezes de cor amarela.
Figura 2 Ovino, exame ps morte. De notar o contedo intestinal amarelo lqui-do e os linfonodos mesentricos aumen-
tados e exsudativos.
Figura 3 Caprino, exame ps morte do intestino; de notar o contedo amarelo
pastoso.
Figura 4 Ovino, contedo mucoso e congesto da parede intestinal.
Figura 5 Ovino, hemorragias da parede abomasal.
Figura 6 Ovino, hemorragias nas sero-sas e linfadenomeglia dos linfonodos
mesentricos.
62
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Figura 7 Caprino, artrite fibrinosa.
DiagnsticoAcolibaciloseentricatemcomodiagnsticosdiferenciaisadiarreiadiettica,
acoccidioseeacampilobateriose.Odiagnsticodiferencialdacolisepticemiaincluienterotoxemia e salmonelose.
Umdiagnsticopresuntivodecolibacilosepodeserestabelecidocombasenosaspetosepidemiolgicos,sinaisclnicos,caractersticaspatolgicaserespostaaotra-tamento. Pelo facto de existirem estirpes de E. colinopatognicas,constituintesdanormalfloradointestino,porsis,a identificaodeE. coli por culturas normal-menteinsignificante.Soisolamento(culturaeserotipagem)daestirpedoagentepoderestabelecerodiagnsticodefinitivo.
Aevidnciahistolgicadacolonizaodo intestinodelgadopoderauxiliarodiagnstico,peloque,colheitadeintestinoparahistolgicopoderteralguminte-resse(fixaoemformola10%).
Tratamento Otratamentodesuporteconsisteemfluidoterapiaper oseparentral.Autiliza-
odeagentesantimicrobianosoraiscontroversa.Emboraosantibiticospossamcombateroagente,interferemcomafloraintestinalnormal.Seaadministraodeguaeelectrlitosforadequada,adiarreiageralmenteregridesemtratamentoanti-bitico.Poroutrolado,dadaadiversidadedasestirpesdeE. colienvolvidas,impor-tanteoestudodesensibilidadeaosantibiticos(antibiograma),antesdeinstituirotratamento.
Osantibiticosqueapresentameficciateraputicasoneomicina(10a12mgBID/kg)outrimetoprimsulfa(30mg/kgPO)per oseampicilina(10a20mg/kg,IMBID)ouamoxicilina(10a20mg/kgIMTID).OsAINEs,nomeadamenteoflunixinmeglumine(1a2mg/kgIM)soindicadosparadiminuirainflamaodointestinoefornecer alguma analgesia.
63
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Preveno e controloUmdosmeiosmaisefetivosdecontrolodadiarreiaaseparaodosanimais,
aoprimeirosinaldadoena.Areduodocontatocomabactriadevetambmserpromovida.Sepossvel,osanimaisdevemnasceremambientedecargamicrobianareduzida,sejaempradosouemboxeslimpasesecas.Osanimaisdevemseralojadosem pequenos grupos de idade semelhante.
Devegarantir-sequeingeremcolostrotocedoquantopossvel.Avacinaodasmesumassuntoquenoreneoconsensodacomunidade
cientfica,massugerida,emalgunspases,avacinaodasfmeasgestantes4a6semanas antes do parto com vacinas bovinas contra E. coli enterotoxignica.
BibliografiaBrown,C.C.,Baker,D.C.,Barker,I.K.(2007).AlimentarySystem.In Jubb,Kennedyand
PalmersPathologyofDomesticAnimals.Ed.Grant,M.M,5th Edition. Saunders Elsevier. Pp. 128-133.
Cornick,N.A.,Booher,S.L.,Casey,T.A.,Moon,H.W.(2000).PersistentcolonizationofsheepbyEscherichia coliO157:H7andotherE. colipathotypes.Appl.Environ.Microbiol. 66:4926-4934.
De,L.,Garcia,S.,Orden,J.A.,Ruiz-Santa-Quiteria,J.A.,Diez,R.,Cid,D.(2002).Prev-alenceandcharacteristicsofattachingandeffacingstrainsofEscherichia coli isolatedfromdiarrheicandhealthysheepandgoats.AmJVetRes.63(2):262-6.
Gelberg,H.B.(2007).AlimentarySystem. In PathologicBasisofVeterinaryDisease,Eds.Macgavin,M.D.,Zachary,J.F.,4thEdition.MosbyElsevier.Pp.361-363.
Kuijper,E.J.,Timen,A.,Franz,E.,Wessels,E.,vanDissel,J.T.(2011).OutbreakofShigatoxin-producing Escherichia coliandhaemolyticuraemicsyndrome.NedTijdschrGeneeskd.155(35):A3743.
Navarre,C.B.,Bair,A.N.,Pugh,D.G.(2012)DiseasesoftheGastrointestinalSystem.In SheepandGoatMedicine.Ed.Pugh,D.G.&Bair,A.N.,2ndedition.Elsevier.Pp.85,86.
Scott,P.(2007).SheepMedicine.MansonPublishing.Pp.89-133.Smith,M.C.&Sherman,D.M.(2009).DigestiveSystem.InGoatMedicine,2ndedition.
Wiley-Blackwell.Pp.472,478.Winter,A.C.&Hindson,J.C.(2002).ManualofSheepdiseases,2ndedition.Blackwell
Publishing,Pp.90-101.
65
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Brucelose nos pequenos ruminantes
Yolanda Vaz
Sade Pblica Veterinria, Dpto. de Produo Animal e Segurana Alimentar, Faculdade de Medicina Veterinria, Universidade Tcnica de Lisboa
Abruceloseprovocaabortoemovelhasecabrasouonascimentodecordeirosecabritosfracos.aindaumadoenaquesetransmiteaoHomem,sendoumagravezoonose.AbactriaresponsvelachamadaBrucella melitensis. H vrias espcies de brucela mas esta realmente a mais importante em Portugal.
Umdosprincipaissinaisdadoena,quandoelaafectapelaprimeiravezumre-banho,oabortojdefetosbemformados.Porvezes,aosegundoparto,asfmeasjnoabortamoufazem-nocommenosfrequncia,masascriaspodemnascerfracaseas fmeaspodemterdificuldadeemexpulsaraplacenta.Nosmachosabrucelaprovoca inflamaonos testculos (orquite,epididimite)oque reduza capacidadedeprocriar.Ainflamaonasarticulaesumsinalquetambmsepodeobservar,masmaisraramente.Muitasvezesestadoenanofacilmentereconhecidaapenaspelos sinais que apresenta.
Comoseinfectamosanimais?Asbactriasquesemultiplicamnoterogrvido,infectamascriasantesdonascimento.Asquesaememgrandesquantidadescomasmembranas e lquidos do parto ou aborto e depois nos corrimentos vaginais podem permanecernopasto(emespecialquandoastemperaturassobaixas),contaminarosbebedouroseosestbulos.O leitedasfmeas infectadastambmpodeconterbrucelas,talcomoosmendomachoinfectado.Estessoosprincipaisprodutosquevopermitirainfecodirectadeoutrosanimais(edoHomem)ouindirecta,atravsdacontaminaodepastagensedosestbulos,ondeasbrucelaspodemviveralgu-massemanas,eposteriortransmisso.Assimaentradadebrucelasnoorganismo,paraalmdatransmissome-filho,faz-seatravsdamucosadaboca(quandoosanimaisselambem,bebemleiteoucomemalimentosondeexistemestasbacteriasvivas),atravsdamucosadonarizeolhos,quandoosanimaisvivememlocaisondese formampequenasgotastransportandobrucelasvivas,eatravsdamontacomcarneirosouovelhasinfectados.Umavezdentrodocorpo,abactriavaisertrans-portadaataoslinfonodos.Aquimultiplica-seedepoispassapelosangueaoutrosrgos.Osrgospreferidosso,nafmea,obereeoteroenosmachos,ostest-culos.Asbrucelastambmsealojamnasarticulaeseemoutraspartes.Nasfmeas,aprenhezaceleraamultiplicaodasbactriasqueestonotero,oqueacabaporalteraraplacentaeprovocaroaborto,muitoemespecialnas fmeasdeprimeirabarriga.Ossinaisdadoenaestoassimrelacionadoscomostioondeasbrucelassevoestabeleceremultiplicar.
Ograndeproblemadabrucelose,aliadosperdasdeproduoquecausanorebanho,queabactriacausatambmdoenanosHumanos.Asviasdeentradamaisfrequentessooconsumodeleitecomestasbactriasquenofoifervido,ou
66
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
queijosfrescosfeitosapartirdoleitecru.Abrucelosetambmseapanhaatravsdocontactocomasfmeasinfectadaseosrecm-nascidos,ocontactocomasplacen-tas,membranaselquidos,poisnosabactriaentraporpequenasferidasnapelecomopelosolhosenariz,porcausadepequenasgotasqueseformamquandolida-moscomessesmateriaisouquandosetosquiamosanimais.Alimpezadosestrumesde estbulos de rebanhos onde existe a doena tambm deve ser feita com o material deproteco.AbrucelosenosHumanosprovocaumafebrequeporvezesvemeou-trasdesaparece,ummalestargrande,doresnosmsculosenasarticulaes,entreoutros sintomas. uma doena que tem tratamento prolongado. importante que odiagnsticosejafeitorapidamenteeaspessoasquelidamcomovinosecaprinos,devemalertaromdicodestefactoquandoapresentamestessinaisdedoena,paraqueodespistesejafeito,eparaseteracertezadequenobrucelose.
Paraalmdosjreferidosproblemasdeperdasprodutivasedeperigoparaasadepblica,junta-seofactodabrucelosejnoexistirnamaiorpartedospasesdaUnioEuropeia,ouporqueaerradicaramouporquenuncaativeram,eassimquemtemadoena,nopodevenderanimais.Dadaaimportnciadabrucelose,alutacon-traestacomeouhmuitotempo,em1953,comavacinaodecabrasemcertaszonasdopas.Desde1991quetemosumplanodeerradicao,isto,aComissoEu-ropeiaeoEstadoPortugus,pagammilhesdeeurosanualmenteparaseconseguireliminar completamente esta bactria.
Comotodososproprietriosdeovinosecaprinossabem,paraalmdaexplo-raoterqueestarlegalizada,todososanimaisdevemestaridentificados,eteremdiaorastreiodabrucelose.Recolhendoosangue,separa-seosoroe,nolaboratrio,vai-severificarapresenadeanticorpos,quesosubstnciasqueocorpodosanimaise do Homem produzem quando encontram bactrias que provocam doena. Quando o soro positivo quer dizer que houve contacto com a bactria e assim o animal mui-toprovavelmentetemainfecomesmoqueaparentementepossaestarsaudvel.Comonohmaneiradeeliminarcomcertezaainfeco,anicapossibilidadeaba-teroanimal.Muitasvezesestesanimaisestoembomestadocorporalmastendojproblemasdeinfertilidade,sofmeasquenoficamprenhaseporissonogastamenergianamanutenodeumagestao,nemnaamamentaodecrias.Aexistn-ciadeumprograma,queconduzidopelosserviosveterinriosoficiaiseimplemen-tadopelasOrganizaesdeProdutoresPecurios,permitequeosanimaisabatidossejampagosaosprodutores,mesmosendoqueumanimaldoentenotenhavalor-oEstadocontribuidestaformaparadiminuiroprejuzodoprodutor.Osrastreiosnumrebanhoinfectadodevemserrepetidos,mesmodepoisdetodososanimaisseremnegativos,porqueaformadediagnsticodabrucelose,pelapesquisadosanticorpos,fazcomqueadoenanopossaseridentificadaassimqueoanimalseinfectadevepassar algum tempo desde a entrada da bactria at o animal reagir e produzir uma quantidadedeanticorpossuficienteparaseconseguirdetectarnaprova.
UmaoutraformadelutamuitoeficazcontraestadoenaavacinaocomavacinaRev1,porviaintraconjuntivalumasimplesgotaprotectoracolocadajuntodoolho em fmeas e machos a partir dos 3 meses e at ao mximo de 5 meses (ideal-mente3-4).Avacinavaiprotegerosanimaisdaentradadabactria,emesmonosca-sosqueistonoacontece,oanimalnovailibertartantasbactriasparaoambiente
67
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
quando tem um aborto ou um parto infectado. Este facto vai diminuir a possibilidade deinfecodeoutrosanimaisedoHomem.Assimavacinadassoluesmaisbara-tasemaisteisquandoumaregiotembruceloseedifcileliminarocontactofre-quenteentrerebanhos.Nobastavacinarorebanhoquetemadoena,todaaregiodeveservacinadaeporalgunsanos(mesmoatnohavernenhumfoco),todasasborregaseborregosqueficamparareproduodevemserprotegidos.Temosassimagarantiadeandarfrentedadoenaenoacorreratrsdela!
Osserviosveterinriosoficiaisedasassociaesfazemasuaparte,masamaioremaisimportantetarefacabeaoprodutor,quetambmoprincipalinteressadonaerradicaoprotegeoseurebanho,asuafamliaeaqualidadedosseuproduto,oseunegcioeoconsumidor!Equalessatarefa?
Se o rebanho estiver infectado cumprir rigorosamente o sequestro e todas asacesnecessriasparaerradicaradoena, termuitocuidadocomospartoseaeliminaodosprodutos,limparedesinfectarosestbulos,serrigorosoapediravacinaodosanimaisetercuidadocomaprpriaproteco.
Seorebanhoestiverlivre,atarefadoprodutoraprotecoaqualquercustodaentradadadoenanorebanho.Manterosanimaisidentificadosevacinados,tercuidadocomoscontactos,devizinhana,nobebedouro,noscaminhosenopasto,teramximaexigncianosanimaiscomprados,comgarantiasquesetratadeani-maisderebanhos indemnes(semdoena),pediraomdicoveterinrioatempada-menteparavacinarcabritoseborregos,machosefmeaseenfimnofacilitarnada!
Abruceloseumadoenagrave,queprovocaabortoemortalidadenosborre-gos,queafectaaproduoeasadepblicaelimin-ladopasumatarefaconjun-ta; cada um deve estar preparado para fazer a sua parte.
69
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
Doenas provocadas por clostrdios
Hlder Quintas
Sanidade Animal, Clnica de Grandes Animais. Departamento de Cincia Animal, Escola Superior Agrria do Instituto Politcnico de Bragana.
ACRIGA Associao de Criadores de Gado.
Asclostrdiosespelasuaincidnciaegravidadeconstituemogrupodedoenasmaisimportanteempequenosruminantes.Nestasespcies,sovriososclostrdiosenvolvidos em doenas que cursam com mortes sbitasepodem,senoforempre-venidas,provocaravultadosprejuzoseconmicosnasexploraes.Emboracausemmais frequentemente a chamada enterotoxmia, tambm esto envolvidos emquadrostoxmicosdosistemamuscular,nervosoedoenashepticas.
1. Etiologia, Epidemiologia e PatogeniaAsclostrdiosessoumgrupodetoxinfeesagudas,nocontagiosas,causa-
dasporbactriasanaerbiasdogneroClostridium.Osclostrdiossobacilos,grampositivos que possuem a capacidade de produzir formas de resistncia denominados esporosquepossuemmorfologiaespecficaelhespermitemresistirnomeioambi-enteporlongosperiodosdetempo(desdemesesadcadas),mesmosobcondiesqueassuasformasvegetativasnosuportariam(i.e.ausnciadehumidade,temper-aturasextremas,radiao,egamasextremasdepH).
Osclostrideos somicroorganismosobiquitriosque sepodemencontrarnosolo,pastagens,equipamentos,instalaesenointestinodosanimais.Assimnomeioambientesoseresdevidapreferencialmentesaprfitaquefazempartedamicro-floradaputrefao,decompondomateriaorgnicanosoloenaguaemcondiessem oxignio. Entram no aparelho digestivo dos seus hospedeiros resistindo ao ph gstricosobaformadeesporosefazempartedamicrofloraintestinalparticipandoactivamente nas funes digestivas.
Paraocorrerdoenaestarelaodesimbiosetemserquebrada.Issoocorregra-asafatoresdesencadeantes(especficosemcadadoena)queinduzemumarpidae excessivamultiplicaodestesmicroorganismos.Durante este processoos clos-trdios libertampoderosasexotoxinasquedanificamedestroemorgosvitaisdosorganismos.Estasdoenasgraassparticularidadesdafisiologiadigestivadosrumi-nantesadquiremespecialimportncianestegrupodeanimais,sobretudonosovinos.
Sovriasasespciesdeclostrideosquepodemprovocardoenanospequenosruminantesestandoidentificadaspelomenos10espciesenvolvidasemdoenasdeovinos.
Cadaespciedeclostrdeopodeproduzirvriastoxinasecausardoenaemumoumaissistemasorgnicos.Assimestonaorigemdedoenasnosistemadigestivo(en-terotoxmias),emorgosparenquimatosos(porex.rim,fgado),notecidomuscular(provocandonecroseetoxemia)epodemtambmprovocardisturbiosneurolgicos.
70
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
2. Caractersticas clnicas e PatolgicasCadadoenaprovocadaporclostrideostemcaractersticasespecficascomdife-
rentesagentesetiolgicosefatoresdesencadeantes(Tabela1).
2.1. EnterotoxmiasOtermoenterotoxmiasnosruminantesrefere-seaoconjuntodedoenaspro-
vocadaspelaproduodetoxinasnointestinoporvriostiposdeClostridium perfrin-gens, pelo Clostridium sordellii e menos frequentemente pelo Clostridium septicum.
Existem 5 tipos de Clostridium perfringens e cada um produz diferentes toxinas que provocam diferentes patologias (Tabela 1).
Aclostrdiosemaiscomumnospequenosruminantesadoena do rim pul-poso provocada pelo Clostridium perfringens tipo D e caracteriza-se por provocar sintomatologiagastrointestinal,nervosaemortessbitas(Figura1).Estassociadaa alteraes bruscas na dieta e ao fornecimento de altos teores de concentrados e poucaquantidadedefibra.Podeafetaranimaisdequalqueridade,emboraosjovens(4-10semanas)sejamosmaisafetadosparticularmenteosqueseencontramemme-lhorcondiocorporal.
Figura 1 As enterotoxmias podem ocorrer como casos isolados ou em dramticos
surtos (A) com morte rpida antecedida de sintomatologia nervosa (i.e. pedalagem e opisttono). necropsia frequente encontrarem-se, entre outros achados, marcada
congesto intestinal (B) e o caracterstico rim pulposo (C).
71
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
DO
ENA
AG
ENTE
ESP
CIE/
IDA
DE
Fato
r(ES
) D
ESEN
CAD
EAN
TE(S
)SI
NTO
MA
SN
ECRO
PSIA
Obs
erva
es
ENTE
ROTO
XM
IAS
Doen
a d
o co
r-de
iro a
mar
elo
C. p
erfr
inge
ns
tipo
ARe
cm
-nas
cido
s (O
e C
)In
adeq
uado
forn
eci-
men
to d
e co
lost
ro.
Anem
ia, i
cter
-ci
a e
hem
oglo
-bi
nria
. Mor
te
rpi
da.
Icte
rcia
gen
e-ra
lizad
a.Ra
ra e
m c
apri-
nos.
Ente
rite
he-
mor
rgi
ca o
u di
sent
eria
C. p
erfr
inge
ns
tipo
B R
ecm
-nas
cido
s <
3 se
man
as (O
e
C)
Inad
equa
do fo
rnec
i-m
ento
de
colo
stro
.M
orte
sbi
ta
nos m
ais g
or-
dos.
Let
argi
a,
anor
exia
e
tene
smo.
Ente
rite
e ex
-te
nsa
hem
or-
ragi
a.
Mai
s fre
quen
te
em o
vino
s que
em
cap
rinos
.
Str
uck
C. p
erfr
inge
ns
tipo
CAd
ulto
s (O
e C
)M
orte
sbi
taU
lcer
ao
no
inte
stin
o de
l-ga
do e
re
as
de n
ecro
se.
Mui
tos
flud
os
nas c
avid
ades
co
rpor
ais.
Rara
em
cap
ri-no
s.
Ente
rite
necr
o-tic
aC.
per
frin
gens
tip
o C
Rec
m-n
asci
dos
e re
cria
(O
e C
)
Inad
equa
do fo
rnec
i-m
ento
de
colo
stro
.M
orte
sbi
ta.
Ente
rite
e ex
-te
nsa
hem
or-
ragi
a.
Pouc
o fr
eque
n-te
em
cap
rinos
.
Doen
a ri
m
polp
oso
C. p
erfr
inge
ns
tipo
DRe
cria
e a
dulto
s (O
e C
)Al
tera
es
bru
scas
na
diet
aDi
etas
rica
s em
car
bo-
hidr
atos
e p
obre
s em
fib
ra
Ped
alag
em,
op
sist
ton
o,
cegu
eira
. Mor
-te
sbi
ta
Edem
a pu
l-m
onar
, rim
pu
lpos
o, h
i-pe
rglic
emia
e
glic
osr
ia.
Caus
a m
ais
com
um d
e cl
ostr
dio
ses
em o
vino
s e
capr
inos
.Ta
bela
1
Clos
trid
iose
s em
ovi
nos
(O)
e Ca
prin
os (
C).
72
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
DO
ENA
AG
ENTE
ESP
CIE/
IDA
DE
Fato
r(ES
) D
ESEN
CAD
EAN
TE(S
)SI
NTO
MA
SN
ECRO
PSIA
Obs
erva
es
Diar
reia
he-
mor
rgi
ca
C. p
erfr
inge
ns
tipo
ERe
cm
-nas
cido
s (0
)In
adeq
uado
forn
eci-
men
to d
e co
lost
ro.
Mor
te r
pida
. Di
arre
ia h
emor
-ra
gica
Hem
orra
gia
e ed
ema
na m
u-co
sa in
test
inal
Bra
xy
C. se
ptic
umR
ecri
a (O
)In
gest
o d
e pa
stag
ens
cong
elad
as.
Mor
te r
pida
.Le
ses
na
pare
-de
abo
mas
al.
Rpi
da d
ecom
-po
si
oo d
o ca
dve
r.
Abom
asite
Snd
rom
e to
xm
ico
C. so
rdel
liiRe
cria
(O
)A
dult
os (
O)
Alte
ra
es b
rusc
as
na d
ieta
. Die
tas r
icas
em
car
bohi
drat
os e
po
bres
em
fibr
a
Mor
te s
bita
.Le
ses
na
pare
-de
abo
mas
al
MIO
NECR
OSE
S E
TOX
MIA
Carb
ncu
lo
sint
omt
ico
(Gan
gren
a p
s--p
arto
Necr
ose
car-
dac
a, D
oen
a um
bilic
al)
C. c
hauv
oei
Recr
iaAd
ulto
s (O
e C
)
Ferid
as d
e to
squi
as,
cast
ra
es, p
arto
, co
rdo
um
bilic
al, i
n-te
rven
es
com
falta
de
ass
epsi
a.(C
limas
que
ntes
)
Edem
a e
crep
ita
es
subc
utn
eas.
De
pres
so,
ina-
pet
ncia
, feb
re
e cl
audi
ca
o.M
orte
(<
48 h
)
Edem
a, h
emor
-ra
gia
e ne
cros
e m
iofib
rila
r.
Odo
r ran
oso
. R
pido
met
e-or
ism
o e
de-
com
posi
o
da
carc
aa.
Segu
nda
clos
-tr
dio
se m
ais
freq
uent
e em
ov
inos
. Mui
to
rara
em
cap
ri-no
s.
Tabe
la 1
Cl
ostr
idio
ses
em o
vino
s (O
) e
Capr
inos
(C)
c
onti
nua
o.
73
Guia sanitrio para criadores de pequenos ruminantes
DO
ENA
AG
ENTE
ESP
CIE/
IDA
DE
Fato
r(ES
) D
ESEN
CAD
EAN
TE(S
)SI
NTO
MA
SN
ECRO
PSIA
Obs
erva
es
Cab
ea
inch
a-da
C.
nov
yi ti
po B
Adul
tos
(O e
C)
Trau
ma
por l
utas
nos
m
acho
s.Ed
ema,
cre
pita
-
es n
a ca
bea
e
pesc
oo.
M
orte
.
Edem
a cr
epi-
tant
e no
s ms
-cu
los e
teci
do
subc
utn
eo
Edem
a m
a-lig
noC.
cha
uvoe
iC.
nov
yi ti
po B
C. p
erfr
inge
ns
tipo
A C.
sept
icum
C.
sord
ellii
Recr
iaAd
ulto
s (O
e C
)
Ferid
as d
e to
squi
as,
cast
ra
es, p
arto
, co
rdo
um
bilic
al, i
n-te
rven
es
com
falta
de
ass
epsi
a.
Febr
e, a
nore
xia
e de
pres
so.
Ed
emas
e c
repi
-ta
es
.M
ort
Recommended