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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva
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jornaljornal
LINCEJornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton PaivaNº 57 | Dezembro de 2013
| PÁGINAS 10 A12
KITSCH, FORMA DE ARTE QUE MOVIMENTA UMA INDÚSTRIA MILIONÁRIA
TEM QUE SER ATLETA PARA ENFRENTAR UMA
CIDADE DEFICIENTEBELO HORIZONTE
| PÁGINAS 13 A 15
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2 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
Cor res pon dên Cia
NP4 - Rua Ca tumbi, 546
Bairro Cai çara - Belo Horizonte - MG
CEP 31230-600
Contato: (31) 3516.2734
sugestoeslince@hotmail.com
Este é um jor nal-la bo ra tó rio da
dis ci plina la bo ra tó rio de jorna lismo ii.
o jor nal não se res pon sa bi liza pela
emis são de con cei tos emi ti dos em ar ti-
gos as si na dos e per mite a re pro du ção
to tal ou par cial das ma té rias, desde
que ci ta das a fonte e o au tor.
SugEStõES DE pautaS?participE Do jornal lincE.
uma publicação feita pelos alunos do curso de jornalismo do centro universitário newton.
E-Mail: sugestoeslince@hotmail.com
presidente do Grupo spliCeAntônio Roberto Beldi
reitorJoão Paulo Beldi
ViCe-reitoraJuliana Salvador Ferreira de Mello
Coordenadora dos Cursos de CoMuniCaÇÃoJuliana Lopes Dias
Coordenador da Central de produÇÃo JornalistiCa - CpJPro fes sor Eus tá quio Trin dade Netto (DRT/MG 02146)
Conselho editorialProfessor Menoti Andreotti
pro Jeto Grá fiCo e direÇÃo de arteHelô Costa (Registro Profissional 127/MG)
MonitoresJoão Paulo Freitas, João Vitor Cirilo e Caíque Rocha
reportaGensAlu nos do Curso de Jornalismo do Centro Universitário New ton
diaGraMaÇÃo Laura SenraMárcio JúnioEstagiários do Curso de Jornalismo
ExpedienteOpiniãOjornal
LINCEJornal laboratório
do Curso de Jornalismo
do Centro universitário
newtonE CrItICar
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Pra EstraNgEIro vEr...
Caíque RoCha
2º período
S e m p r e q u e a l g u m
evento de grande porte é cogi-
tado para ser realizado no
Brasil, muitos questionam:
“Estamos preparados?”. Per-
guntas assim são um reflexo
da falta de organização regis-
trada em vários acontecimen-
tos do passado — alguns, não
muito distantes.
Desde 2006, quando o
nome do Brasil passou a ter um
grande destaque no mundo,
como candidato a país-sede da
Copa do Mundo de 2014, a
mídia de todos os lugares come-
çou a questionar a qualidade do
evento — caso fosse confir-
mada a escolha — e argumen-
tou negativamente contra o
mesmo. Além disso, a própria
população brasileira, que sofre
na pele diariamente com os
infinitos problemas do país,
também não enxergou com
bons olhos a realização da Copa
por aqui, oficializada em 2007.
Faltando quase seis meses
para o início do maior evento
futebolístico do mundo, há mui-
tas obras longe de serem conclu-
ídas. O estádio onde será reali-
zada a primeira partida – o Ita-
querão – é o mais atrasado e já
tem no currículo lamentáveis
mortes de operários, devido à
queda de parte da estrutura. Os
brasileiros não estão engolindo,
e, pelo jeito, somente a FIFA e a
CBF estão animadas com a
Copa. Infelizmente, o torneio
não deixará nenhum benefício
a quem realmente precisa.
Na Jornada Mundial da
Juventude, quando o Papa
Francisco visitou o Brasil, não
ocorreram grandes problemas.
E, se levarmos em conta que
milhões de pessoas, do mundo
inteiro, desembarcaram na
Cidade Maravilhosa com a
intenção de ver Sua Santidade
de perto, a proporção tomada
pela Jornada e por uma Copa do
Mundo, por exemplo, não é
assim tão diferente. Parece que
o problema está é nas entidades
que tomam conta do esporte
brasileiro e no governo, que
sempre aceitam a vinda desses
eventos, esquecendo-se de que
nada se faz da noite para o dia e
que o país não pode se dar ao
luxo de “parar” por isso.
Já em 2016, com os Jogos
Olímpicos, os olhos do mundo
novamente se voltarão para o
Brasil, mais precisamente
para o Rio de Janeiro. Se fizer-
mos uma observação rápida,
veremos que nenhuma das
obras e “melhorias” para os
Jogos Pan-Americanos de
2007 (também no Rio) servi-
rão para os jogos de 2016.
Falta de planejamento?
Ou falta de cuidados? Pelo
jei to, as duas coisas não
entram na cabeça das autori-
dades e organizadores dos
meios esportivos em nosso
país. Sem olhar a nossa reali-
dade, as autoridades que, não
se sabe o porquê, teimam em
ser chamadas de competen-
tes, cismam de fazer festa para
estrangeiro ver... e criticar.
“Pelo jeito, somente a FIFA e a CBF estão animadas com a Copa. Infelizmente, o torneio não deixará nenhum benefício a quem realmente precisa”
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 3
FRedeRiCo vieiRa
4º período
Aberto em 1950 pelo Prefeito Otacílio Negrão
de Lima, o Teatro Francisco Nunes ainda é o mais
emblemático da capital. O nome é uma grande
homenagem ao maestro Francisco Nunes (1875-
1934) que criou a Sociedade de Concertos Sinfô-
nicos de BH. Isso demonstra a ligação cultura/arte
que esse teatro posteriormente viria a oferecer.
A inauguração do “Grande Chico” possibilitou
BH ingressar no calendário cultural dos grandes
artistas e companhias teatrais do Brasil e até do
mundo. O teatro recebia orquestras, temporadas
líricas, diversos shows, festivais universitários,
danças e espetáculos teatrais. A grade de atrações
abria um leque de opções culturais e de lazer para
a sociedade. Nos anos de 1950, Belo Horizonte
estava carente de teatros. O Teatro Municipal havia
se transformado em Cine Metrópole, o Palácio das
Artes ainda estava em construção, e o Teatro Marí-
lia e a Imprensa Oficial nem sempre atendiam.
alTeRNaTivo
O teatro era altamente popular. Abria espaço
para novos projetos; tanto teatrais como musicais.
Dava oportunidade para as novidades. Bandas de
Rock, por exemplo, divulgavam seus trabalhos e o
mesmo acontecia com as peças teatrais que esta-
vam começando sua trajetória. Além disso, o teatro
era instalado no Parque Municipal. A boa localiza-
ção garantia a praticidade e a facilidade de acesso,
o que justificava o bom público durante todos os
eventos realizados. Sem falar que, ao lado, sob as
árvores, havia uma choperia das mais agradáveis.
“Já me apresentei lá em um festival de dança.
Sentimos falta de espaços de qualidade como ele
para desenvolver nossas habilidades”, conta Len-
nison Farah, estudante de teatro na UFMG.
mudaNÇas
Em 1980, o teatro passou por sua primeira
grande reforma. Reconstruído e modernizado,
manteve apenas a fachada. No que diz respeito à
funcionalidade, tudo continuou como antes. O
Francisco Nunes seguiu sendo palco de vários
espetáculos e eventos. Alguns de maior expressão,
como o Festival Internacional de Teatro Palco &
Rua e o Fórum Internacional de Dança. A imagem
que se tinha na época era que o teatro continuaria
a ser uma das grandes atrações da cidade.
“Era uma satisfação muito grande se apresen-
tar lá, o charme de ver o Parque Municipal aberto à
noite, com todas aquelas luzes, era algo inexplicá-
vel”, conta Carlos Nunes, ator mineiro.
De lá pra cá, assim como o cinema de rua e
outras atividades culturais de Beagá, o teatro per-
deu sua força. Dos anos de 1990 em diante,
mudou-se a configuração da sociedade no que diz
respeito ao lazer e cultura. A chegada dos grandes
centros comerciais mudou as características da
sociedade belo-horizontina, conta a atriz Helena
Barcalla, ressalvando que, “o que definitivamente
determinou o fim do Teatro Francisco Nunes foi o
descaso das políticas públicas para com o espaço”.
Em 2009, a Fundação Municipal de Cultura
anunciou o fechamento, alegando riscos estrutu-
rais no espaço. “O assunto repercutiu bastante,
pois o fato de o Francisco Nunes ser tombado pelo
patrimônio histórico dificultava a reabertura ime-
diata”, lembra Carlos Nunes, ressaltando que “isso
não justifica o fechamento durar tanto tempo”.
pATRiMÔniO
Teatro Francisco
Nunes tem data
para retorno das
atividades. Parque
Municipal volta a
ser um polo
cultural para a
cidade de
Belo Horizonte
rECoMEÇo CuLturaLnoVo rEcoMEÇoApós cinco anos, o Fran-
cisco Nunes será reaberto.
Uma parceria entre a Prefei-
tura e a Unimed possibilitou
que o projeto de restauração
e modernização saísse do
papel. O prazo de entrega é
janeiro de 2014. O teatro será
totalmente reformado e,
novamente, só manterá sua
fachada. O Chico receberá
novas cadeiras, sistema de
ar, novo tratamento acústico,
além de reformas em toda
sua estrutura.
“A reabertura do teatro
será o resgate histórico de
um dos maiores movimentos
artísticos de BH”, garante
Marcelo do Vale, professor de
Artes Cênicas da Oficina de
Atores de Belo Horizonte
Das concorridas tempo-
radas líricas dos anos de
1950 e 60, à emergência de
bandas como Paulo Bagunça
e a Tropa Maldita, em 1970,
passando por apresentações
de megastars da MPB e do
teatro, foi a verdadeira casa
de cultura da capital. Sem
falar que algumas das mais
importantes manifestações
culturais do Estado ali come-
çaram e floresceram.
Foto
: ra
Fael m
ar
tins
4 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
Camila Chagas e sueli azevedo
4º período
Não é nada fácil trabalhar no Serviço
de Atendimento de Urgência Móvel
(SAMU). A entidade tem o objetivo de
socorrer a população que venha a precisar
de um auxílio médico de emergência e, às
vezes, o pedido de socorro pode ocorrer a
qualquer dia, hora e lugar. Seja em que
circunstância for, os profissionais do
SAMU fazem o atendimento o mais rápido
possível, visando sempre a vida e o bem-
-estar do paciente.
O processo de atendimento do SAMU
é feito da seguinte forma: alguém liga para
o número 192 e o técnico que atende
identifica o grau de emergência e trans-
fere para o médico que orienta como se
deve proceder. A sigla SAMU, no entanto,
esconde o mais importante de tudo, que
são as pessoas que realizam os atendimen-
tos, os profissionais que, em quaisquer
condições, lutam pela vida alheia.
quem sÃo
As unidades móveis de atendimento
são divididas em dois tipos de ambulân-
cias: as Unidades de Suporte Básico
(USBs) e as Unidades de Suporte Avan-
çado (USAs). As primeiras contam com
equipamentos básicos, porém, primor-
diais para o resgate de ocorrências.
“Podem surgir casos em que, após o
Suporte Básico chegar ao local, se soli-
cite o suporte avançado — se a emergên-
cia for, por exemplo, uma parada cardior-
respiratória. Estão disponíveis substân-
cias como a adrenalina, que é um tipo de
droga que só pode ser aplicada por um
médico da USA e o monitor multiparâ-
metros”, explica o condutor Cristiano
Manuel Batista.
O suporte avançado trabalha com
dois técnicos de enfermagem que
devem possuir registro no Conselho
Regional de Enfermagem de Minas
Gerais (COREN), um médico com regis-
tro no Conselho Regional de Medicina
(CRM) e um condutor com carteira de
habilitação categoria D (ambulâncias,
viaturas, carros com sirene). O último
deve realizar o curso de Condução de
Veículos de Emergência (COVE),
quando são aplicados os conteúdos de
Legislação de Trânsito, Direção Defen-
siva, Noções de Primeiros Socorros,
Respeito ao Meio Ambiente e Convívio
Social e Relacionamento Interpessoal.
As unidades básicas trabalham com dois
técnicos de enfermagem e o condutor.
aTÉ Na seX shoP
A contratação do médico e técnico de
enfermagem é feita por meio de concurso
público. O condutor é contratado pela CLT
(Consolidação das Leis Trabalhistas). Uma
vez aprovado no curso COVE, o candidato
tem seu contrato renovado de cinco em
cinco anos, dentro da sua função. “O con-
dutor apenas dirige o veículo, não tem a
obrigação de ajudar no socorro. Somente
se o mesmo quiser fazer isto. Os conduto-
res têm carga horária de trabalho de 12
horas a cada 36 e os técnicos de enferma-
gem e médicos fazem 12 a cada 60”, conta
Cristiano Manoel Batista, motorista da
ambulância. Ele explicou ainda que 90%
das ocorrências acontecem durante o dia.
Normalmente, os socorristas atendem
12 chamados durante o dia e pelo menos
quatro na madrugada. Durante o dia, o
número de ocorrências é maior. “São aci-
dentes de trânsito, pessoas idosas que caem
nas calçadas ou acidentes de trabalho”,
enumera Manoel. “Por outro lado, os casos
que ocorrem de madrugada são poucos,
mas mais sérios, porque costumam envol-
ver armas brancas, convulsões e mal
súbito”, exemplifica Eliana de Paula, téc-
nica de enfermagem no SAMU há um ano e
meio. Manoel cita, por exemplo, casos inusi-
tados, em que o socorro foi solicitado em
motéis e — pasmem! — até em cabines de
uma sex shop! Pior que isso, só mesmo os
trotes, que também acontecem.
Em caso de acidentes em que a pessoa
fica presa nas ferragens, é acionado também
o Corpo de Bombeiros (193), responsável
por serrar as ferragens para que a equipe do
resgate possa retirar as vítimas. Charles
Silva é bacharel em enfermagem e trabalha
no SAMU há quatro anos, porém, está na
área da saúde há 12. “Sempre gostei de tra-
balhar nesta área, e já presenciei alguns
fatos chocantes como, por exemplo, aci-
dente de moto com amputação de braço,
esmagamento de pelve”, revela.
pROFiSSÕES
aNjoseles nem sempre são reconhecidos e também não recebem salários milionários, mas poucos fazem um trabalho tão necessário e importante
da guarda
Foto
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edo
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 5
Erros e acertosnos serviços de saúde pública exis-
tem falhas. a demora no atendimento é
uma das reclamações da população. o
repórter Júlio César santos, da tV
record Minas, trabalha exclusiva-
mente à noite, e conta que acompanhar
o trabalho do saMu é quase uma rotina.
por isto, já presenciou alguns casos de
negligência como, por exemplo, a difi-
culdade do mesmo em conseguir um
atendimento em uma unidade de
pronto atendimento (upa) para uma
idosa. “os socorristas levaram a
paciente para cinco upas e nenhuma
recebeu a mulher porque não tinha
macas para colocá-la. os socorristas
ficaram andando por quase 50 minu-
tos em busca de atendimento e a idosa
sofrendo por causa da precariedade
da saúde pública”, conta o jorna-
lista. Júlio César ressalva que, apesar
de seu trabalho, os jornalistas “não
são invasivos, e a equipe trabalha sem
interromper o resgate do saMu”.
— Quando não há problemas, con-
versamos com os socorristas e até
mesmo com a vítima; tudo com o con-
sentimento do chefe da equipe de
saúde. se a prioridade é levar rápido
para o hospital, pegamos a informação
depois de todo o trabalho de socorro.
Mas nem tudo é só problema no
saMu. há também as coisas boas e
suas recompensas. Maria da Conceição
silva é doméstica e relata que sofre de
hipertensão e que precisou do atendi-
mento do saMu em sua casa. “Comecei
a passar mal e minha filha ligou para o
saMu. Vieram bem rápido e fui socor-
rida em casa mesmo e, depois, levada
para uma upa. Quando fui atendida por
um médico, ele me disse que estava com
princípio de infarto e que se não fosse a
ação rápida dos médicos do saMu, tal-
vez eu não tivesse a mesma sorte. sou
muito agradecida a eles”.
as reclamações pela demora do
saMu também existem. e vão desde
o atendimento telefônico até a che-
gada da ambulância. o condutor Cris-
tiano Manuel Batista explica que o
atraso pode ocorrer pela questão do
trânsito que, às vezes, “fica muito
complicado, principalmente se o cha-
mado ocorrer em horário de pico”.
outra justificativa dado pelo condu-
tor é que, ao atender a ligação, o aten-
dente faz várias perguntas para que
ele possa ter o máximo de certeza de
que não se trata de um trote. “o aten-
dente tem que prestar muita atenção
em todas as informações que a pes-
soa está descrevendo do outro lado
sobre o paciente: essas informações
são os sintomas que a pessoa está
sentindo, a posição que o doente está,
o local onde se encontram”.
só depois de todas as informações
passadas ao atendente e repassadas
por ele para o médico, é que se envia a
ambulância que estiver mais perto do
local e disponível para atendimento.
A base do SAMU se situa dentro das
unidades do Corpo de Bombeiros.
No início do projeto, os profissionais
eram remunerados com um salário
mínimo, mas, hoje, os salários dos agen-
tes variam de acordo com a função de
cada um. O médico recebe o salário total
de R$ 2.272,00; o auxiliar ou técnico de
enfermagem, R$ 1.354,00; e o condutor
tem o salário total de R$ 1.610,00.
Quando aprovado no concurso do
SAMU, o candidato tem a possibilidade
de escolher a cidade em que quer atuar.
O condutor Cristiano Manuel
Batista possui GPS particular para
encontrar os lugares.
Curiosidades
Foto
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zev
edo
6 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
Pâmela maTos
4º período
Há 49 anos, o Brasil enfrentava a
Ditadura Militar, quando a liberdade de
expressão não existia e a opinião da
população era severamente punida com
o exílio. Hoje, onde tudo é permitido (ou
quase tudo), a polêmica está de volta e a
liberdade de expressão é colocada, mais
uma vez, à prova. Onde se inicia o direito
à liberdade de expressão e termina o
direito à intimidade e à privacidade?
A bola da vez são as biografias não auto-
rizadas. O questionamento é se as biografias
precisam ou não da autorização prévia do
biografado para serem publicadas. Tudo
começou em 2007, quando Roberto Carlos
conseguiu na justiça que a biografia
“Roberto Carlos Em Detalhes”, do escritor
Paulo César de Araújo, fosse recolhida das
livrarias, alegando invasão de privacidade.
Já em 2013, o assunto voltou à tona
com tamanha força que lados foram dividi-
dos e grupos foram criados para reforçar as
opiniões. Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Chico Buarque e Roberto Carlos encabe-
çam o “Procure Saber”, “um grupo de
autores, artistas e pessoas ligadas à música,
dedicado a estudar e informar os interessa-
dos e à população em geral sobre regras, leis
e funcionamento da indústria da música
no Brasil” (Fonte: Perfil Procure Saber no
Facebook). Porém, no auge da polêmica, o
grupo entrou em crise e o Rei decidiu aban-
donar seus amigos, afirmando que “algu-
mas atitudes radicais não estavam condi-
zendo com o que ele achava”.
o que diz a lei
A polêmica sobre a publicação de
biografias está no Supremo Tribunal
Federal. A Associação Nacional dos Edi-
tores de Livros (Anel) entrou, no ano
passado, com uma ação questionando
dois artigos do Código Civil. Um dos
artigos determina que é preciso autori-
zação para a publicação ou uso da ima-
gem de uma pessoa. E que “a divulgação
de escritos, a transmissão, publicação
ou exposição poderão ser proibidas se
atingirem a honra, a boa fama, a respei-
tabilidade ou se tiverem fins comer-
ciais” (Artigo 20 do Código Civil).
O outro artigo diz que “a vida pri-
vada é inviolável” (Artigo 21 do Código
Civil). A Associação dos Editores alega
que a necessidade de autorização pré-
via é uma forma de censura. E que isso
ataca a Constituição, que prevê a liber-
dade de expressão e o direito à informa-
ção. Os editores pedem que o Supremo
declare a inconstitucionalidade parcial
dos artigos, deixando claro que não
deve haver autorização prévia para a
publicação de biografias.
O Supremo Tribunal Federal reali-
zou no dia 21 de novembro uma audiên-
cia pública para debater a publicação
das biografias. Na audiência, a ministra
relatora Carmen Lúcia ouviu dezessete
palestras sobre o tema, expondo suas
opiniões, tanto a favor quanto contra as
publicações. Segundo a ministra, todas
as falas serão levadas em consideração e
a decisão será anunciada em dezembro.
(*) Caetano Veloso
MOMEnTO
Em tempos onde impera a liberdade de expressão, quando resquícios de proibição aparecem, já se instala a polêmica. Afinal de contas, é ou não é proibido proibir?
“E Eu dIgo Não ao Não, E Eu dIgo: É! ProIbIdo ProIbIr!”(*)
Fotos: reprodução
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 7
Nos Estados Unidos o mercado
de publicações não autorizadas está
s e expand indo cada vez ma i s ,
segundo o biógrafo Lawrence Ber-
green. Assustado com a abordagem
da discussão, ele revela que nos EUA
“as biografias não autorizadas têm
mais credibilidade do que as autori-
zadas, em que o biografado só deixa
sair aquilo que lhe interessa”.
“The Man Behind the Baby Blues”,
biografia não autorizada do ator Paul
Newman, escrita por Darwin Porter, faz
revelações polêmicas sobre a vida do astro
norte-americano, insinuando relações
homossexuais com diversos outros ato-
res. Apesar do escândalo, a família de
Newman não proibiu a venda do livro,
limitando-se a publicar uma nota com
desmentidos. Darwin Porter é especia-
lista nesse tipo de biografia: Howard
Hughes, Marlon Brando e Katharine
Hepburn são alguns de seus biografados.
No Brasil, a história é outra:
“Aprendi, em conversas com amigos
compositores, que, no cabo de guerra
entre a liberdade de expressão e o direito
à privacidade, muito cuidado é pouco”.
Chico Buarque, cantor e compositor.
“Talvez eu seja contra, porque o
autor pode contar a história do jeito que
ele bem entender”. Paola Oliveira, atriz.
“Acho que biografia deve ser auto-
rizada, acordada entre biografado,
autor e editor. O combinado não sai
caro. Eu me sentiria invadido, saca-
neado, mal compreendido, currado e
violentado se escrevessem a minha
história sem minha autorização”. Ale-
xandre Frota, ator e agora também
escritor, que recentemente publicou
sua biografia “Identidade Frota”.
“Eu acho que o Brasil tem mudado
demais e esse processo de mudança não
nos permite conviver com as censuras
das biografias. Eu tenho uma posição
contrária com relação a isso. Se isso acon-
tecer (proibição de biografias não autori-
zadas) significará um retrocesso dificí-
limo de ser administrado”. Renan Calhei-
ros, presidente do Senado.
“O ideal seria liberdade total de
publicação, com cada um assumindo
novos riscos. Quem causar dano deve
responder f inanceiramente. Eu
defendo, neste caso, indenização
pesada”. Joaquim Barbosa, presi-
dente do Supremo Tribunal Federal.
“As pessoas estão entendendo mal
a questão biográfica, como veículo de
fofocas, vidas privadas. Na verdade, o
que se trata, é do Brasil contar sua his-
tória. É um absurdo uma lei menor que
contraria o princípio básico da Consti-
tuição, que é a liberdade de expressão.
O Brasil tem uma situação que é única
no mundo, que é o único país que cen-
sura ,que faz censura prévia a biogra-
fias”. Cristóvão Tezza, autor do livro “O
Filho Eterno”.
“Eu acho essa história absurda,
sem pé nem cabeça. Isso tudo não é
contra a biografia não autorizada, é
contra a produção de ficção em geral.
As pessoas têm que entender que a
História do Brasil é do Brasil”. Fer-
nando Morais, autor das biografias
“Olga” e “Chatô: O Rei do Brasil”.
“A questão das biografias na legislação
brasileira atual não é homogênea, uma vez
que a Constituição Federal e o Código Civil
de 2002 divergem sobre o tema”, afirma a
advogada Camila Costa. Segundo ela, “a
Constituição Federal garante o direito a
liberdade de expressão e a vedação a qual-
quer tipo de censura”.
— A liberdade de expressão é uma
forma de exercício da democracia. E caso as
partes envolvidas sintam que seus direitos
foram violados devem recorrer ao judiciário,
a fim de ser indenizadas, se for o caso. Con-
tudo deve haver limites e os biógrafos devem
assumir a responsabilidade por todas as
suas obras. Caso infrinjam qualquer direito
ou causem qualquer dano às partes envolvi-
das, devem responder por seus atos e, se for
o caso, indenizar as partes. Nenhum direito
é absoluto: nem a liberdade de expressão
nem o direito a privacidade: deve haver um
equilíbrio entre ambos.
ReTRoCesso, CeNsuRa ou iNuTilidade?
O professor, mestre e doutor Julio
Buere é favorável à publicação das biogra-
fias, independente da autorização do bio-
grafado ou da família. Para ele, “além de
configurar um retrocesso do ponto de vista
da censura, constitui uma ameaça para a
construção da história”.
— O que alguns artistas estão propondo
pode gerar um processo de censura prévia a
documentos e registros orais e escritos de
todo e qualquer individuo. Este processo,
certamente cerceará o trabalho de cientis-
tas sociais, jornalistas e escritores no resgate
da memória histórica.
Mas ressalta a intervenção da Justiça
caso a liberdade de expressão vire uma, caó-
tica, invasão de privacidade. “Por outro lado,
a liberdade de expressão deve encontrar seu
limite, na calunia e difamação. No entanto,
ao agredido, caluniado, difamado e ofen-
dido cabe o direito de processar o autor da
biografia e exigir reparos nos termos da lei”.
— De qualquer forma, é necessário que
o debate extrapole a esfera das manchetes
sensacionalistas, que têm como objeto os
ditos “famosos” e ganhe imediatamente
uma esfera mais ampla que contribua para o
fazer da história e da constituição da demo-
cracia e da liberdade no país.
Já Leonardo Sarmento, do blog “Brasil
247”, julga as biografias desnecessárias para
o crescimento intelectual da sociedade.
“Sem querer desmerecer os penosos traba-
lhos biográficos, não os enxergo como infor-
mações de imprescindível interesse público
que não possa ficar a sociedade sem acesso”.
Não gostou? Recorra!
De Alexandre Frota a Renan Calheiros
8 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
Voar, voar... Se você não tem medo, a felicidade pode estar à sua espera numa
fantástica e divertida viagem de balão, tornando realidade
seu sonho de Ícaro...
TAMBÉM QUERO VIAJAR NESSE
BALÃO
maNuel CaRvalho
4º período
A primeira prática de balonismo
aconteceu em uma demonstração do
padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão
para o Rei Dom João V de Portugal. Em
1709, o pequeno balão de papel, aque-
cido por uma chama, incendiou-se
antes de alçar voo. Dois dias mais tarde,
numa nova tentativa, o balão subiu
cerca de quatro metros, e tornou a se
incendiar. Três dias depois, na terceira
experiência, sucesso absoluto. O balão
ergueu-se lentamente até cair em um
terreiro, após ter a sua chama esgotada.
Mas, consta que o verdadeiro nasci-
mento do balonismo veio em 1783,
quando os irmãos franceses Joseph e
Étienme Montgolfier realizaram um
teste com um balão, atingindo mais de
dois mil metros de altura. A tentativa foi
um sucesso e a partir daí novos voos
foram programados. O sonho de Ícaro
começava a se tornar realidade...
FuNCioNameNTo
Antes, nada melhor do que ficar
por dentro sobre como funciona um
balão. O balão de ar quente tem três
partes principais: o maçarico (queima-
dor), o envelope (balão propriamente
dito), o cesto para proteger e transpor-
tar os passageiros, juntamente com os
cilindros de gás propano –— C3H8, um
derivado do petróleo —, e equipamen-
tos de navegação. As laterais do cesto
são de vime trançado, sendo o material
mais adequado para absorver os impac-
tos no pouso além de ser um ótimo iso-
lante elétrico. O envelope é confeccio-
nado com náilon e sua função básica é
suportar a cesta com seus ocupantes e
equipamentos, além de reter o ar
quente responsável pela sustentação
do balão. Na base (saia), é utilizado um
material especial à prova de fogo, deno-
minado nomex, para evitar que o balão
se inflame.
PRiNCíPio FísiCo
Os balões de ar quente são baseados em
um princípio físico: o ar mais quente sobe
mais que o ar frio. Portanto, para manter o
balão subindo é preciso reaquecer o ar. O
piloto aciona o queimador, aquecendo o ar
que está dentro do balão. Como a densidade
do ar fica menor que a do ambiente, isto gera
uma força para cima, sustentando o balão.
Quanto mais quente o ar, mais o balão
sobe; à medida que o ar vai esfriando, ele vai
descendo. Cabe ao piloto controlar a alti-
tude do voo, colocando-o dentro de uma
camada de ar quente que esteja deslocando
na direção desejada. Para facilitar isso,
pequenos balões cheios de gás hélio são sol-
tos na atmosfera, informando a direção do
vento nas diversas camadas de ar, permi-
tindo ao piloto prever a direção de voo.
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 9
seguRaNÇa
O balão é uma aeronave, onde o piloto
deverá estar devidamente habilitado pela
ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Por incrível que pareça, o balonismo é o
transporte aéreo mais seguro do mundo,
segundo estatísticas da FAI (Federação
Aeronáutica Internacional). Em voos turís-
ticos, os balões alcançam uma altura média
de 100 a 300 metros, para que os passagei-
ros possam interagir com a natureza e obter
um belo visual panorâmico da região. Voar
de balão proporciona uma sensação de estar
mais próximo do céu. A direção do vento
define o destino da viagem.
A evolução das técnicas de voo faz
com que a utilização do balão seja segura.
Quem quiser se aventurar, pode ter a cer-
teza que não haverá riscos. Mas, claro,
medidas de segurança sempre terão que
ser adotadas para que não haja nenhum
problema. “Respeitamos a natureza e as
condições climáticas. Quaisquer adversi-
dades, como rajadas de vento ou chuvas
fortes, implicam cancelamento do voo”,
adverte Glauco Azevedo.
ao amaNheCeR
Além disso, antes de iniciar o voo é
feito um briefing para explicar curiosida-
des do balonismo e questões de segurança.
“Também é importante voar sobre regiões
planas e abertas, livres de linhas de ener-
gia, e com fáceis acessos para a chegada da
equipe de apoio, além da comunicação via
rádio/GPS”, complementa Glauco. Os voos
de balão de ar quente são realizados
somente ao amanhecer, com decolagens
previstas por volta das 6h30. No caso de
voos ao entardecer, as decolagens são por
volta das 16h30.
“A sensação é de liberdade e paz. É
um passeio bem tranquilo, não tem
nada de adrenalina como algumas pes-
soas devem imaginar”, conta Rafael
Glauss, que já fez o passeio várias vezes.
“O medo só ocorre mesmo no início da
subida do balão. Depois, você está tão
alto e voando lentamente que não dá pra
sentir muito medo”.
Apesar da serenidade do voo de balão,
algumas medidas são necessárias. Gestan-
tes, idosos com mais de 70 anos, portado-
res de qualquer deficiência física e porta-
dores de distúrbios cardíacos, neurológi-
cos, psiquiátricos e/ou psicológicos, deve-
rão submeter-se a um exame médico e
obter uma autorização para voar. É aconse-
lhável, também, usar roupas confortáveis,
botas ou tênis, um boné para facilitar a
visão contra a luz do sol, não fumar durante
o voo e manter no pulso a alça de filmado-
ras e máquinas fotográficas.
A byBrazil Balonismo oferece uma presta-
ção de serviços considerando a segurança dos
passageiros — lanche durante o briefing, sessão
de fotos no interior do balão, voo com duração
média de 40 minutos, brinde de champanhe no
pouso e café da manhã especial à beira do maior
lago artificial para pesca esportiva da América
Latina, no Resort Águas do Treme, Roteiros de
Charmes (www.aguasdotreme.com.br). O valor
disso é R$ 420 por pessoa. A partir de duas pes-
soas, o valor cai para R$ 360 cada. Passeios
podem ser realizados mediante reserva através
do e-mail contato@bybrazil.com.br ou contato
telefônico (31) 8727-9972.
CUSTOS
A melhor época do ano para voo é o período de abril a outubro, porque o balão terá maior sustentação. As temperaturas
externas poderão ser menores que as internas. Ventos moderados e sem precipitação de chuvas são considerados a melhor
condição climática para um voo.
— O balão voa ao sabor do vento e o piloto, variando a altura, identificará diferentes direções e velocidades das cor-
rentes de ventos, demonstrando suas habilidades (controle indireto de pilotagem). É por isso que o voo de balão é mágico,
porque cada voo tem suas particularidades, acrescenta Glauco Azevedo, piloto da byBrazil Balonismo.
CLIMA
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10 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 201310 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
RaYza KamKe e FeliPe FReiTas
4º período
No Brasil não há uma cultura per-
feitamente homogênea, e s im um
mosaico cultural, resultado da influên-
cia de vários povos e etnias. Embora o
país tenha colonização portuguesa, os
povos indígenas, africanos, italianos,
holandeses, japoneses e alemães deixa-
ram marcas profundas na cultura nacio-
nal. A liberdade cultural, movida muitas
vezes por movimentos vanguardistas,
popularizou a arte e traçou novos rumos
nas tradições nacionais. Fora do padrão
ou não, o Kitsch é a mistura do tocante e
do exagero que eclodiu culturalmente
pelo Brasil e no mundo.
pinguins de geladeira, flores artificiais, frutas
d e plástico, cores extravagantes, peles de animais, sapatos
de plataforma, anões de jardim e limusine
cor-de-rosa:conheça o Kitsch
ESTiLO
É sEr brEga...jÁ QuE o CHIQuE
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 11
a oRigem
Mas o que quer dizer Kitsch?
Segundo o filósofo alemão Ludwig Giesz,
o termo Kitsch surgiu na segunda metade
do século XIX, quando turistas norte-
-americanos, na Europa, pediam a pinto-
res que realizassem esboços (sketch) de
quadros, o que seria mais barato. Assim,
a cópia é a origem. É um produto da
industrialização e da cultura de massa,
considerado típico da classe média com
pretensões de “subir na vida”. Mas não se
engane: o Kitsch é uma forma de arte, um
segmento cultural, e movimenta uma
indústria milionária.
Para o professor de Comunicação e
Cultura, Luiz Henrique Miranda, o Kitsch
é, antes de tudo, uma grande interferên-
cia da população nas formas de produção
artística, que antes eram restritas a clas-
ses dominantes. “Talvez o Kitsch seja o
berço da cultura contemporânea, ou a
forma mais real da expressão dessa cul-
tura, porque a população se apropria des-
ses produtos, e dá a eles o valor que reco-
nhece, muitas vezes sem fundamento.
Esses produtos passam a ter o valor
comercial, decorativo, das expressões
mais naturais próprias da psique humana.
Não há no Kitsch um padrão; existe, sim,
uma miscelânea que acompanha a livre
expressão”, explicou.
Alguns críticos entendem que o Kitsch
é um fenômeno recorrente na história da
arte, mas a maior parte dos estudos
concorda que se trata de uma manifestação
cultural recente, e que deriva dos avanços
da industrialização e da tecnologia. Sua
definição não é fácil: baseando-se em juí-
zos de valor, geralmente é tido como sinô-
nimo de algo banal, barato e de mau gosto.
Ao contrário da arte contemporânea, o
objetivo não é criar novas expectativas nem
desafiar o status quo, e sim agradar ao
maior número de pessoas.
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 11
Não se tem um paradoxo do que é ou não de bom gosto,
mas existem algumas leis, normas e conceitos que norteiam o
“bom produto”. Independente de ser um estilo contestador e
cheio de críticas, o Kitsch se espalhou tanto pelo mundo que
fica difícil distinguir: podemos ser usuários de vários frutos da
cultura. Capas de celulares com bichinhos, Pen Drive de dese-
nho animado, roupas estampadas, terços no retrovisor do carro
e até mesmo papel higiênico perfumado podem ser considera-
dos Kitsch... E você nem sabia!
Existe o execrável e o de bom humor. O professor Luiz
Henrique explica que “o bom produto são elementos estéticos
e funcionais, que fazem com que o item seja realmente útil, e
que não seja apenas rico pelos elementos perceptivos implíci-
tos que ele apresenta”. O Kitsch não existe na natureza; é uma
invenção do homem. Um pavão em seu habitat natural é lindo,
mas na cabeça da Elke Maravilha, passa a ser Kitsch.
Uma moda que vem enchendo a sala de cabeleireiros,
sapatarias e até mesmo consultórios estéticos é a de poltronas
em forma de sapatos de salto. A novidade pode ser encontrada
de vários tamanhos, cores e estampas de animais. “A maior
parte da mulherada adora; os homens costumam achar mais
exagerado”, disse o vendedor Jackson Maciel, que trabalha em
uma loja de produtos de cabeleireiro no centro de BH. A
maquiadora Virginia Januário não vê a hora de comprar uma
para seu salão, porque é “puro luxo”. Já a cabeleireira Berna-
dete Soares pensa o contrário: “É brega e de mau gosto; no meu
salão não entra”. O preço da iguaria pode ir de R$ 179 a R$ 199.
voCÊ É KItsCH?
Foto
s: r
aYza K
am
Ke
12 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
O problema básico que o Kitsch
levanta para a crítica é o relativismo do que
se considera bom ou ruim. O influente
crítico de arte Clement Greenberg afirmou
que, “enquanto a arte de vanguarda, sendo
como é — abstrata, introspectiva e refle-
xiva, dedicada às explorações metalinguís-
ticas, tende a imitar os processos da arte
—, o Kitsch imita os efeitos da arte”. Já para
o filósofo Umberto Eco, o Kitsch é uma
quase nulidade, não passa de “uma citação
incapaz de produzir um contexto novo”.
Para outros, o Kitsch não passa de uma
bela mentira.
Na maioria das vezes, é passível de
críticas por emergir do povo, mas, ainda
assim, o Kitsch é sinônimo de bom humor.
Luiz Henrique acredita na autenticidade
da cultura.
— Ser brega e bizarro é sensacional.
Nós, quando acompanhamos um estilo de
muitas formas, vamos ter certo empobre-
cimento da livre expressão emocional em
detrimento de uma estética pré-conce-
bida. Se ele é banalizado e sofre precon-
ceito, é ótimo, porque assim ele também se
transforma e se fortalece.
Um importante jornalista e crítico de
arte brasileiro, Oswaldo Olney Krüse,
definiu o Kitsch como a gota de bom
humor que faltava na arte séria. “O Kitsch
não tem maldade”. O filósofo americano
Karsten Harries, por sua vez, observou
que o “anseio pelo Kitsch surge quando a
emoção genuína se torna rara, quando o
desejo adormece e precisa de estímulo
artificial; o Kitsch é uma resposta ao
tédio”. No final das contas, mostra a
diversidade cultural que existe na popu-
lação de forma comum e natural. É a livre
expressão, sendo a forma mais legitima da
liberdade de um povo.
12 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
A alma brasileira sempre copiou estilos externos e pode ser considerada meio
Kitsch. As influências internacionais são recebidas e misturadas com aquilo que é do
gosto do brasileiro. Personalidades não faltam: Chacrinha, Falcão, Hebe Camargo e
Elke Maravilha... Mas nenhum consegue tirar de Carmem Miranda o título de ícone
máximo do Kitsch. Já no exterior, Marilyn Monroe, Elvis Presley e James Dean são os
campeões. Eva Perón, Madonna, Hilary Clinton, Lady Gaga e Katy Perry também
fazem parte deste seleto grupo de personagens.
Mas o Kitsch não é exclusividade da mídia. Paula Lyon Guimarães – Pauli-
nha Docinho, como gosta de ser chamada, adora tudo que tem brilho e é cha-
mativo. A personalidade de Paula é figurinha carimbada para aqueles que a
conhecem. Brilho e estrelas, unhas decoradas, o carro enfeitado com strass,
ursinhos e adesivos são sua marca registrada. “Tudo que tem brilho me chama
atenção: não suporto rotina e igualdade”, detona. Conhecida por seus vídeos
no Youtube, onde reinterpreta músicas de seus artistas favoritos, Paula diz não
se importar com a opinião dos que a consideram “brega”.
A professora de educação física ainda contou ao jornal Lince que em sua casa há
espaços reservados para cada tipo de coleção: ícones do México, do Cruzeiro, bichi-
nhos de pelúcia, enfeites de cachorro e para seus ídolos. Até tatuagem para os artistas
ela tem! No total de 13, três são em tributo a apresentadora Eliana, à cantora Kelly Key
e a dupla sertaneja Thaeme e Thiago. “Muitos me rotulam e me julgam, acham que
sou infantil e quero atenção, mas quem me conhece de verdade sabe que eu sou assim
naturalmente”, completou.
“O Kitsch é uma coisa feita pra gente sonhar, como se não houvesse problema no
mundo. É a busca desesperada pela felicidade”, fuzila Oswaldo Olney Krüse. A visa-
gista Danuza Miranda concorda com isso. Tanto que todas as almofadas de sua casa
têm a cara do Ronaldinho Gaúcho, em dezenas de fotos diferentes.
— Jogadores bonitinhos, como o Kaká, por exemplo, não fazem o meu gênero,
mas o Cristiano Ronaldo — pra mim, o mais brega de todos —, o Neymar e Ronaldinho
Gaúcho são o máximo.
Não por acaso, Neymar e Cristiano Ronaldo, emoldurados por estampas imitando
peles de onça, de zebra e penas de galinha de angola vão reforçar a decoração da casa
de Danuza antes do Natal. “É um sonho”, delira. E talvez seja isso mesmo. No final,
tudo é tão brega, mas tão brega, que fica legal.
De Carmem Miranda a Lady Gaga
sEM uNaNIMIdadE
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 13
ESpECiAL
Soluções paternalistas, descaso e desrespeito: é assim que o portador de deficiência física é tratado em Belo Horizonte
RaFael maRTiNs
4º período
É muito fácil identificar problemas
para os portadores de qualquer tipo de defi-
ciência ao andar pelas ruas de Belo Hori-
zonte. Das calçadas aos estabelecimentos
prestadores de serviços — hotéis, comér-
cios, repartições públicas — passando pelo
transporte coletivo (houve um aumento
recentemente na frota de táxis acessíveis;
antes, era um só; agora, 60). No mais, fal-
tam respeito e educação. Mas, se tem algo
que os portadores de deficiência têm de
sobra é capacidade de superação para viver.
Essa é sua arma contra o preconceito.
“Ser deficiente não é fácil”, constata o
jornalista Rafael Bonfim, portador de defici-
ência física.
— Sofremos preconceito, temos com-
plicações médicas, o imaginário popular em
relação a nós é confuso e eu não sei o porquê
de, diabos, adorarem adotar o diminutivo
quando falam conosco: Você quer uma
aguinha? Vai tomar um solzinho?
Rafael, que já ouviu até mesmo um
incrível “ele é cadeirante, mas é tão boni-
tinho”, faz aqui um claro desabafo contra
o cotidiano que os portadores de deficiên-
cia enfrentam em Belo Horizonte. Razões
não lhe faltam. O dia a dia é mesmo bem
complicado, a começar dos acessos às
calçadas e rampas; muitas não estão den-
tro da norma da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT). Ronaldo
Bhur, advogado, 45 anos, sendo 30 deles
cadeirante, sugere que cadeirantes pos-
sam ajudar na construção e na definição
das normas para o bem-estar de todos.
— Com a participação de um cadei-
rante, as calçadas estariam realmente de
acordo com a segurança e uso correto
daqueles que as utilizam.
Um dos exemplos apontados por
Ronaldo é o tipo de calçamento utilizado,
com as chamadas pedras portuguesas,
que se soltam com facilidade e os buracos
logo aparecem. Calçamentos à base de
ardósia, muito escorregadias, são igual-
mente repudiados por Marisa Pontes de
Almeida, 44, que anda de bengala e disse
que já tomou dois tombos. “Num deles,
quebrei o pulso”, emenda.
PadRÃo FiFa?
A maioria dos locais públicos não possui
banheiros adaptados, não bastando apenas o
símbolo da cadeira de rodas e sim sua efetivi-
dade para uso. Somente alguns shoppings
têm banheiros adaptados e mesmo assim,
em alguns casos, com ressalvas. Nos cine-
mas, em sua maioria, o cadeirante tem que
ficar na primeira fileira, praticamente
debaixo da tela e sem a presença de seu
acompanhante, pois deixam a fileira livre,
sem uma cadeira do lado de forma alternada.
Nos estádios de futebol, mesmo após
o controvertido padrão FIFA, descumpri-
ram as normas e demonstraram retro-
cesso no quesito acessibilidade. A denún-
cia é do vereador e deficiente Leonardo
Mattos. Ele esteve no Mineirão e não
conseguiu ver o jogo.
— Os lances perigosos e de mais
emoção, eu não conseguia ver, pois o
público se levantava.
Ele também revela que no Estádio
Independência, mesmo com a atuação do
Ministério Publico, não se encontrou ainda
um lugar adequado, seguro e com boa visibi-
lidade, observando, no entanto, que os dois
estádios têm boa acessibilidade. Os proble-
mas continuam em muitos restaurantes e
lanchonetes, onde as pessoas deficientes
têm enorme dificuldade, pois os balcões
ficam acima da altura de suas cadeiras de
rodas e muitos não são adaptados para defi-
cientes visuais.
Os bancos, hotéis e os meios de
transporte seguem um mesmo caminho
de ter lugares reservados, máquinas
com acessos, mas a maioria é só pra dis-
farçar, conforme a reportagem do Lince
pôde verificar. “Em lojas de roupas, o
espaço de circulação é ruim, pois os
colocam produtos em prateleiras altas
inacessíveis para cadeirantes e a maio-
ria dessas lojas não tem provador para
esse público”, afirma a cadeirante
Telma de Oliveira.
Segundo Ronaldo Bhur, é um incô-
modo ter que precisar de outras pessoas.
— Qualquer pessoa, para sua satisfa-
ção plena, não gostaria de depender de
outra; no caso das pessoas com deficiência,
a dependência está atrelada, na maioria das
vezes, a um sentimento de impotência,
principalmente pelo fato de que a depen-
dência não vem seguida de uma gentileza,
respeito ou educação, mas de coisas que são
feitas como uma obrigação.
“ELE É, CADEiRAnTE
MAS É TÃO BONITINHO...”
14 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
AÇÕES GOVERNAMENTAIS
Muitas leis já foram sancionadas
na Câmara Municipal de Belo Hori-
zonte, mas pouco se vê sua aplicação.
(Confira na página 15).
Segundo o vereador Leonardo Mat-
tos, as leis, ou não são fiscalizadas por
falta de fiscais ou por falta de recursos.
“As leis requerem recursos. Muitas vezes,
o governante fica na dúvida se gasta com
a saúde e educação ou com a acessibili-
dade. Fica realmente difícil definir qual a
prioridade”.
Triste com a situação, Ronaldo
Buhr fez um desabafo sobre as ações do
governo. “Falta vontade, respeito para
com a pessoa, desrespeito com as leis
que asseguram os direitos da pessoa
com deficiência, seja pelo poder público
ou público-privado. Os governantes
pouco fazem e aqui cabe uma crítica a
muitos que utilizam da deficiência
adquirida ou congênita em eleições e
que ocupam funções de deputados,
vereadores e administradores públicos e
não lutam pela efetividade dos direitos
da pessoa com deficiência”.
Para ele, o setor privado acredita
ser um favor dest inar vagas de
emprego cumprindo uma cota exigida
por lei. “A produtividade das pessoas
com deficiência é igual ou superior
àquelas que não possuem nenhuma
limitação. O Ministério Público finge
que fiscaliza e é omisso no cumpri-
mento das leis. Vivemos num mundo
capitalista e o dinheiro está acima de
tudo”, completa.
Leonardo Mattos também acredita
que faltam manifestações concretas de
interesse de melhoria da situação. Para
ele, todos os governantes têm o dis-
curso incisivo, solidário, mas a prática
não acompanha esse intuito.
mais PRoBlemas
A palavra dificuldade é uma das
mais vistas no dicionário dos deficien-
tes. Nas viagens e compras de carro, ela
também está inserida. Gilberto Porta
conta que o desconforto é muito
g rande em v iagens de ôn ibus ,
incluindo problemas como a dificul-
dade para entrar e sair, falta de mobili-
dade e autonomia, já que a cadeira de
rodas fica no porta-malas e falta
banheiro acessível.
Nas viagens de avião, os mesmos
problemas que no ônibus. No embar-
que, desde o check-in, os portadores de
deficiência ficam à mercê dos funcio-
nários da companhia aérea, sem
nenhuma autonomia. O acesso ao
avião e o desembarque dependem dos
recursos do aeroporto e da companhia
aérea (não são todos que têm). Os
melhores são os fingers e os ambulifts
— tipos de aparelhos que auxiliam na
locomoção —, mas ainda há ocasiões
em que são carregados pelas escadas.
A compra de um veículo com
isenção de impostos é muito burocrá-
tica devido às exigências da Receita
Federal. O melhor é optar pelos servi-
ços de um despachante especializado
no assunto. Eles têm o direito às isen-
ções de IPI, ICMS, IOF (na compra do
primeiro veículo financiado) e IPVA.
Para ter direito às isenções, o
valor de mercado do veículo deve ser,
no máximo, de R$ 70.000,00 (setenta
mil reais) e somente para carros
zero km, o qual já é faturado com as
isenções.
Existem vários modelos que
podem ser adaptados para motoris-
tas com deficiência. “No nosso caso,
o carro deve ter câmbio automático e
p o r t a - m a l a s e s p a ç o s o p a r a
cadeira de rodas. É possível também
consegu i r a s i s enções mesmo
quando a pessoa não é habilitada e o
seu carro será conduzido por outra
pessoa”, afirma Gilberto Porta. Para
ter direito à nova isenção, a pessoa
deve ficar, no mínimo, dois anos com
o veículo. Se a pessoa quiser comprar
um carro usado, nada impede, mas
não terá as isenções. Se o preço do
veículo for acima de 70 mil reais, só
terá direito à isenção do IPI.
Foto
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tHu
r v
ieira
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 15
O site www.bhlegal.net foi criado
pelo casal Gilberto Porta e Telma de Oli-
veira, um metalúrgico aposentado e
uma funcionária pública. O casal tem
deficiência de locomoção e iniciou o
projeto com o objetivo de esclarecer e
informar a população que enfrenta difi-
culdades na busca por serviços especia-
lizados para portadores de deficiência.
O primeiro passo foi a criação do site.
“O segmento de bares e restauran-
tes e hotelaria parece ser o mais atento
às necessidades dos portadores de defi-
ciência física”, explica Gilberto, lem-
brando que a maioria procura dar aces-
sibilidade aos portadores de deficiência
em diversas instâncias.
— Os shoppings se adequaram e a
maioria está dentro das normas, com
pessoal bem preparado para nos atender,
afirma o casal, ressalvando que, dentro
das lojas, isso costuma ser diferente. A
parte de cinemas, teatros e casas de espe-
táculos está se adequando aos poucos,
sendo que os mais novos seguem as nor-
mas, os mais antigos nem sempre. O
m e s m o s e d á c o m o s m u s e u s .
“O pior em acessibilidade é o comércio
em geral, que parece ainda não ter se
dado conta de que somos uma parcela
considerável de consumidores. As lojas
costumeiramente não são acessíveis, a
começar pelas entradas, sempre com
degraus muito altos”, reclama Telma.
Ela afirma também que a maioria tem
corredores de circulação muito estrei-
tos, dificultando o trânsito para cadeira
de rodas. Os balcões e o caixa são sem-
pre altos demais para cadeirantes e pes-
soas de baixa estatura.
Nas lojas de roupas, segundo o
casal, os problemas são ainda maiores.
— Não existe provador adaptado e a
pessoa é obrigada a comprar sem provar
e depois passar pelo transtorno da troca
de roupas. Os vendedores são mal pre-
parados para nos atender, não enten-
dem nossas necessidades mais básicas:
somos um segmento de consumidores
que vem sendo praticamente ignorado.
“A pior entre as piores”, em nossa
opinião, “é o estado das calçadas”,
afirma Gilberto.
— BH já dispõe de ônibus adaptados
(embora os usuários façam reservas
quanto à qualidade desse serviço) e tam-
bém de táxis acessíveis. O difícil é transi-
tar pelas calçadas até chegar ao ponto de
ônibus ou, usando o táxi, descer dele e ir
pela calçada até o seu destino. A manu-
tenção dos passeios é péssima. A topogra-
fia da cidade faz com que haja desníveis
absurdos até para quem anda sem dificul-
dade. O equipamento urbano - telefones,
caixas de correio, lixeiras - muitas vezes é
mal colocado atrapalhando o pedestre.
Apenas parte dos órgãos públicos tem
seus prédios acessíveis, mas alguns ainda
não se adaptaram. Bares, restaurantes e
hotelaria, também em parte; os de grande
porte, portanto mais caros, são os que
seguem mais as normas.
— A área de saúde é vergonhosa.
Onde mais se esperaria cuidados, é
onde menos se encontra: clínicas e hos-
pitais inacessíveis desde a entrada,
banheiros mal adaptados, falta de cadei-
ras de rodas para os pacientes, falta de
elevadores e rampas em aclive irregular.
Até nas áreas de internação costuma
faltar banheiro adaptado.
“De outro lado, se o equipamento
urbano nem sempre é adequado, encon-
tramos muita boa vontade e gentileza por
parte da população”, afirma Gilberto.
— Sempre que estamos sozinhos e
em dificuldade aparece uma ou várias
pessoas oferecendo ajuda: seja para
guardar a cadeira de rodas no porta-
-malas do carro ou para nos ajudar a
subir uma rampa ou atravessar a rua.
Nesse aspecto, de gentileza urbana, a
cidade é nota 10!
BH Legal mostra pontos positivos e negativos na cidade
lei 10.214/11 - leonardo Mattos e luzia Ferreiraa norma institui o Censo inclusão, com objetivo de identificar e cadastrar os perfis
socioeconômicos e as condições de habitação e de mobilidade urbana das pessoas
com deficiência que residem no município.
lei 10.418 - leonardo Mattosprevê o incentivo ao desenvolvimento de pesquisas e projetos multidisciplinares com
foco no autismo e na melhoria da qualidade de vida dos afetados.
lei 10.490 - Sérgio Fernando pinho tavarespermite às pessoas idosas ou com deficiência o agendamento de consultas por telefone
nas unidades públicas de saúde onde sejam cadastradas.
lei 10.190 - Divino pereiraGarante assistência especial à parturiente cujo filho recém-nascido seja pessoa com
deficiência.
lei 10.530 - cabo júlioCondiciona a concessão e renovação do alvará de funcionamento das agencias
bancarias à instalação de bebedouros e banheiros com dependências próprias para
pessoas com deficiência
lei 10.066 - arnaldo godoyprevê a adaptação de táxis no município. a norma deu origem ao decreto 14.843/12,
em que o executivo incluiu 60 veículos adaptados entre as novas permissões de placas.
lei 10.142 - leonardo Mattosestipula que jardins, parques, clubes, áreas de lazer e áreas abertas ao público geral,
contenham, além de condições de acessibilidade, brinquedos adaptados.
lei 10.440 - Sergio Fernando pinho tavaresdetermina desde março de 2012 a instalação de banheiros químicos adaptados em
todos os eventos realizados no município.
lei 10.442 - léo burguês de castroautoriza o executivo a implantar semáforos sonoros nas vias mais movimentadas do
município, proporcionando maior segurança na travessia.
lei 10.439 e 10.113 - alberto rodrigues e luís tibéassegura o recebimento de correspondências do poder público municipal em braile;
determina que lan houses e cybercafés ofereçam computadores adaptados para
pessoas com deficiência visual.
lEiS para oS portaDorES DE DEFiciÊncia
16 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
CoMo sE baILa DiVERSiDADE
RaPhael gouvÊa e Thiago CaldeiRa
2º per íodo / 6º período
Em Belo Horizonte, pelo menos por
quem anda pelo centro, um dos assun-
tos mais comentados ainda é a presença
de índios brasileiros e até mesmo
estrangeiros que ocupam o centro da
cidade. Há os que tocam instrumentos
musicais — estes quase sempre bolivia-
nos e equatorianos — e também os
índios brasileiros, que deixam suas
famílias nas tribos e vêm à capital para
vender artesanato.
Por que a presença dos índios é uma
questão muito discutida nas ruas? Muita
gente contesta a presença deles, princi-
palmente na Praça 7, pelo fato de estarem
ocupando um local onde é grande o movi-
mento de pessoas durante todo o dia, e, às
vezes, atrapalhando a passagem dos
pedestres. É que os índios ocupam boa
parte da praça com a exposição de seu
artesanato.
BaTeR Na BoCa
Em uma conversa com o Lince, o
índio Chawã, 27, que pertence a tribo
Pataxó, falou de suas dificuldades. Além
de ter que ficar longe da família, ainda tem
que conviver com o preconceito de uma
boa parte desses pedestres.
— Normalmente, ficamos por aqui
durante um mês, até vender o artesanato...
Ficamos preocupados, porque temos famí-
lia e sentimos muitas saudades. Nem vie-
mos para Belo Horizonte, pois viajamos
para outros estados também.
Uma imagem do preconce i to
demonstrado pelas pessoas, segundo
Chawã — por “inocência ou, às vezes,
chacota” — é bater na boca para imitar
sons onomatopaicos geralmente atribuí-
dos aos índios. São sons ritualísticos usa-
dos em cerimônias tribais, comuns a
quase todas as comunidades indígenas do
Brasil, mas que nem sempre representam
uma realidade cotidiana. É um estereó-
tipo, segundo os índios.
— Eles nem sabem o que isso signi-
fica. Por isso que, para nós, indígenas, isso
é uma forma de agressão, como se estives-
sem chamando o índio para a briga. Isso
não pode ser feito de maneira nenhuma,
pode acabar gerando um conflito. Por isso
que procuramos ignorar quando passa
alguém aqui batendo na boca e olhando
para nós.
As viagens às capitais são parte de um
processo quase ininterrupto de sobrevi-
vência. Ao falar como funcionam essas
idas e vindas para a Beagá e outras capi-
tais, Chawã explica que é uma espécie de
rodízio, pois há outros serviços que os
pataxós vêm para desenvolver aqui.
Engana-se quem pensa que eles só vêm
para vender artesanato.
— O trabalho é voluntário, pois para
nós que somos criados na natureza, o
importante nem sempre é o lado finan-
ceiro. Queremos ajudar na formação de
pessoas, e mostrar um pouco da cultura
indígena para eles. Sempre trabalhamos
em grupos. No mês de abril, fazemos tra-
balhos em escolas para divulgação da
nossa cultura com palestras e danças.
Vamos com um grupo de cinco a sete pes-
soas para mostrarmos nossos rituais.
Na trIbo...Mas, ao contrário do “eterno domingo”, em que todo mundo vivia pelado e pintado de verde, em seu cotidiano os índios enfrentam
desconfiança e preconceito até na luta pela sobrevivência
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 17
Os comerciantes da região
discutem muito sobre a pre-
sença dos indígenas na praça,
sempre com visões diferentes. O
comerciante Gilmar Fernando,
47 anos, dono de uma lancho-
nete no local, não tem do que
reclamar.
— Acho esses índios bem
batalhadores; afinal, eles saem
de outros estados para vir ven-
der seus artesanatos aqui em
Belo Horizonte. Não é qualquer
pessoa que teria coragem de
largar sua casa para vir passar
uma temporada morando de
aluguel em uma cidade total-
mente diferente do lugar em
que você nasceu e foi criado.
Mas, se o olhar de cumplici-
dade recai com frequência sobre
os índios brasileiros, com os
estrangeiros a coisa é bem dife-
rente. Quando perguntado se é
contra ou a favor da presença
dos índios bolivianos, o comer-
ciante não tem meios termos.
“Aqui na praça sete existem dois
tipos de índios. Os cantores e os
não cantores”, afirma Gilmar.
— Os que vendem artesa-
nato não atrapalham em nada,
afinal, montam uma espécie de
lona improvisada no chão e
ficam ali o dia todo sem fazer
barulho ou qualquer outra coisa
que possa atrapalhar; os músi-
cos, não.
Para com os índios arte-
sãos, Gilmar, além de compre-
ensivo, é também, solidário.
— Quando os mesmos
querem comer alguma coisa,
vendo mais barato. Não são
todos que compram na minha
lanchonete, mas os que com-
pram já são clientes fixos e isso
facilita na identificação para
que eu possa conceder os des-
contos a eles.
Já a vendedora de fotos 3 x 4
Maria Guilhermina, 48, não
tem a mesma visão que o dono
da lanchonete. Para ela, a forma
com que eles colocam o artesa-
nato no chão, num local em que
o movimento de pessoas é muito
grande, atrapalha tanto para os
pedestres quanto os que são
como ela, vendedores de fotos:
Segundo Maria Guilher-
mina, “eles espalham os produ-
tos deles aqui no chão e, às
vezes, pegam um espaço
grande, que poderia ser usado
por mim, para eu tentar vender
mais fotos”, grita a ambulante,
sem se importar de ser rotulada
de egoísta. Guilhermina tem
uma visão bem curiosa sobre a
permanência dos indígenas na
praça. Ao mesmo tempo em que
confessa que não sentiria a
menor falta deles, caso fossem
remanejados de lá, faz uma res-
salva e diz “que é a favor,
olhando pelo lado deles, que só
estão querendo ganhar um
dinheirinho”. Mas, como nin-
guém é perfeito, ela também diz
que “vendo que eles estão me
atrapalhando no trabalho, então
eu sou contra”.
Da mesma forma que o
taxista Wanderley José, que faz
ponto diariamente na praça e já
chegou a discutir com os índios
bolivianos.
— Os brasileiros são bon-
zinhos, ficam na deles, mas os
bolivianos, não. Tocam música
altíssima, incomodam todo
mundo.
Emiliano e Yander, dois
índios bolivianos que costumam
trabalhar na praça, se defen-
dem. Dizem que, mesmo
quando falam outro idioma e
vêm de um país distante, não
estão tão longe dos índios brasi-
leiros. “Nós e eles enfrentamos
os mesmos preconceitos. Não
faz a menor diferença eu ser
boliviano e o Chawã ser baiano.
Eles olham pra gente como se a
gente fosse um bicho do mato”.
BATALHADORES
Fotos: raFael martins
18 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
EDUCAÇãO
EsCrEvEu, Não LEu,
a dificuldade para redigir bons textos gera dúvidas sobre o futuro de nosso sistema educacional
o Pau CoMEuJoÃo Paulo FReiTas
4º período
o que fazer quando precisamos vencer algo que tanto nos
amedronta? esta pergunta é feita por diversos estudantes
que lutam por bolsas de estudo em grandes universidades e
centros universitários, por meio do exame nacional do
ensino Médio (eneM), ou também em diversos concursos. o
motivo principal para tanta preocupação seria a tão temida
prova de redação.
a procura por aulas específicas aumenta diariamente.
páginas na internet são distribuídas aos montes para
instruir os alunos que buscam técnicas e segredos para
produzir um texto de alta qualidade. Mas, em tempos de
globalização com informações em tempo real sobre tudo, a
que poderia ser atribuído todo esse “pavor”?
Ao tentar explicar um pouco do que
ocorre atualmente, a professora de Língua
Portuguesa, Literatura e Redação Nágila
Santos de Araújo, 34, esclarece que a
redação hoje é de extrema importância
para o sucesso estudantil.
— Se pararmos para pensar, vive-
mos em uma sociedade competitiva,
que exige cada vez mais conhecimento
para que o indivíduo consiga ingressar
no mercado de trabalho. Adquirir tais
conhecimentos e ter uma carreira bem
sucedida significa, no mínimo, fazer
um curso superior, o que pressupõe
obter uma boa nota na prova do ENEM
ou ser aprovado em um concurso ou
vestibular.
A professora, que também é pós-gra-
duada em psicopedagogia, cita que muitas
vezes são os próprios alunos que criam
medos e expectativas exageradas. Mas
não descarta que a falta de leitura diária
agrava a situação.
— A redação para muitos alunos
parece um “bicho
de sete cabeças”. Em
frente ao computador,
os jovens criam frases e
constroem parágrafos para se
comunicar com os amigos. No
momento da redação, escrever, muitas
vezes, se torna um suplício. Nossos estu-
dantes leem e escrevem pouco. Como
consequência não se tornam pessoas crí-
ticas, com plena capacidade de se posicio-
nar diante de assuntos da atualidade.
PARAR PRA PENSAR
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 19
o Pau CoMEu
ar
tHu
r v
ieira
Já há alguns anos, a internet se
tornou fonte essencial para a busca
constante de informação e comunica-
ção. no caso da redação não foi dife-
rente. porém, uma nova linguagem
vem sendo difundida pelas redes
sociais mundo afora, fazendo com que
aconteça uma confusão extrema de
ideias. É o que diz Bethânia Cunha
lomato, 42, diretora do Cellp (Curso
de estudos literários e língua portu-
guesa), no qual ministra o curso de
redação voltado para
c o n c u r s o s
públicos,
vesti-
bulares e enem. a especialista tam-
bém é dona de uma página no facebook
intitulada “redação”, que possui mais
de 28 mil seguidores.
— o que poderia ser uma grande
ajuda para o aprendizado, tem se tor-
nado um inimigo em potencial, pelo
menos no que diz respeito à escrita e
a postura omissa de algumas escolas
em relação a isso. os alunos, por
dedicarem boa parte do tempo às
redes sociais (chats, envio de mensa-
gens através de e-mails e torpedos),
criam o péssimo hábito de abrevia-
rem as palavras, quando não criam
outras, específicas desses ambien-
tes. Com isso, ao redigirem textos,
não respeitam as regras gramaticais
básicas como acentuação, pontuação
e ortografia.
para Bethânia, criou-se um mito
em relação à redação do eneM, como
se fosse um gênero textual novo. “o
texto dissertativo-argumentativo
cobrado nessa prova, nada mais é do
que a dissertação-argumentativa de
outrora, só que com a exigência de
apresentação de proposta. esse
aspecto é o que a difere de outros ves-
tibulares. entretanto, muitos alunos
desconhecem isso, o que acaba
gerando muitas dúvidas”, alerta.
INTERNET E ENEM
Sim, são eles os personagens princi-
pais de toda esta história. São eles que
buscam dia após dia um aprimoramento
cultural. Pelo menos é o que supõe Fran-
cielli Aparecida de Sousa, 18, estudante.
Segundo ela, o maior medo é iniciar o
texto de forma que seus argumentos pos-
sam convencer de forma positiva quem
for fazer a correção. Medos à parte, tam-
bém diz ainda que a redação contribui e
muito no desenvolvimento de ideias e na
própria comunicação diária. “Considero
fundamental esforçar ao máximo em
meu texto, não somente com o pensa-
mento voltado para altas notas, mas para
o desenvolvimento intelectual”, explica.
Eduardo Humberto Machado, 20,
cabeleireiro e estudante de arquitetura,
corrobora o que disse Francielli. Para ele,
quem não escreve bem, também não sabe
argumentar em situações difíceis do coti-
diano. “À medida que vou estudando e
desenvolvendo temas, minha habilidade
para resolver problemas considerados
simples passa a aumentar. Isto ajudará
muito na minha futura profissão”, expõe.
Porém, Renato Reis, 23, estudante
de administração, acredita ser um exa-
gero a valorização excessiva da redação
nas notas finais. Segundo ele, outras
matérias são tão importantes quanto, e
ajudam no desempenho de cada um,
dependendo do que se for cursar.
— No meu caso, preferiria mil
vezes que focassem na matemática, por
exemplo.
Não existe uma receita pronta ou
mesmo segredos para redigir um texto de
qualidade. “Na verdade, o que existe é um
conjunto de ações”, explica a professora
Bethânia Cunha Lomato, lembrando
que, “primeiramente, o aluno deve dedi-
car boa parte do tempo à leitura, para
familiarizar-se com os temas atuais, que
possivelmente cairão nas provas; além
disso, deve ter conhecimento das caracte-
rísticas do gênero textual exigido pela
banca corretora”.
— Por fim, deve dedicar-se à prática
de redigir textos, diariamente, assistido
por um professor, para que possa fazer
uma verificação do conteúdo assimilado.
Aí começam os problemas para
Hélvio Lage, 22, estudante. Cursando
o último período de arquitetura numa
faculdade do interior, Lage mal se
lembra do título do último livro que
leu e ainda assume que, de 2012 para
cá, não leu nenhum, nem mesmo os
indicados para seu curso. Reprovado
em três concursos e com poucas pers-
pectivas de conseguir emprego em
curto prazo, faz bicos trabalhando
como garçom em um bar da capital,
todo fim de semana. E está profunda-
mente arrependido, pois, na semana
passada, dois colegas seus ganharam
bolsas de estudo na prestigiada Sor-
bonne, em Paris. Hélvio foi reprovado
na prova de redação.
OS ALUNOS
20 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva -
daNiela aRBeX
ed: Geração
PedRo heNRique
PeiXoTo
ed: bb
LiVRO
William PeTeR BlaTTY
ed: aGir
o eXoRCisTaEm comemoração ao aniversá-
rio de 40 anos da franquia de
terror de maior sucesso de
todos os tempos, o relança-
mento de O Exorcista só prova
mais uma vez que a história se
mantém densa e atual mesmo
depois de tanto tempo. Os mais
medrosos podem ficar tranqui-
los, pois a complexidade dos
personagens e os núcleos tão
bem entrelaçados se sobres-
saem ao terror presente da pri-
meira a última página.
✰✰✰✰✰
RogeR leoN
2º período
De clássicos como “Dom Cas-
murro”, de Machado de Assis, a
febres adolescentes como “Melan-
cia”, de Marian Keys, os livros de
bolso estão cada vez mais presentes
no mercado editorial. Além do preço
relativamente baixo, o tamanho que
não vai além de 13,0 cm x 19,8 cm
agrada o leitor que lê em lugares
como pontos de ônibus, consultó-
rios médicos e pode guardá-lo na
bolsa. Porém, os livros de bolso tam-
bém passam pela reprovação de
autores que acham que a versão
diminuída desvaloriza a obra.
Os ‘Pocket Books’ surgiram na
Alemanha no início da década de
30, pois as editoras não conseguiam
suprir a demanda da população.
Naquela época, os livros eram cos-
turados um a um, e os livros de bolso
tinham uma confecção mais ama-
dora sendo prensados por uma cola.
Logo depois, os EUA copiaram o
modelo com sucesso, e a editora
Globo foi a pioneira com os ‘Pockets’
no Brasil. Hoje, a maioria das gran-
des editoras tem a sua filial que
lança seus sucessos em versões de
bolso, como é o caso da Objetiva com
a Ponto de Leitura, e a LPM, que
vêm se consolidando com as versões
menores.
O público divide a opinião. A
estudante Renata Lopes, 19, sem-
pre prefere os livros de bolso. “Com
120 reais, consigo comprar sete ou
mais livros em versão pocket,
enquanto se eu fosse comprar a
versão original, não levava nem
três”. Já a aposentada Maria de
Fátima não tem nenhum livro de
bolso em sua coleção. “Pra mim
que sou colecionadora, o livro de
bolso é um estraga prateleira. Se
não tem a versão original, eu pre-
firo aguardar”.
Já com os vendedores (que na
maioria das vezes ganham comis-
são), os Pocket Books podem ser um
lucro a menos. Um vendedor, que
preferiu não se identificar, foi cate-
górico. “Dificilmente eu mostro a
um cliente um livro de bolso, só se
ele realmente insistir, porque deixar
de vender um livro de 60 reais para
vender um livro de 20 deixa o vende-
dor no prejuízo”. Mas para o vende-
dor Ricardo Alves, o livro de bolso
tem uma função diferenciada.
“Antes de tudo, o livro tem uma fun-
ção social. O cliente que não pode
gastar tanto tem que ter o direito de
adquirir a obra nem que seja na ver-
são mais barata e todos têm que ter o
direito de escolher”.
Para o representante editorial
Jardel Freitas, da editora Martin
Claret, os livros de bolso estão em
ascensão. “Nos últimos 20 anos, a
venda dos Pocket Books subiu consi-
deravelmente e principalmente no
âmbito escolar”, observa Jardel, que
acha que os livros mais recentes
ainda têm preferência em sua ver-
são maior. “O forte ainda são os
livros antigos e mais clássicos, que
também são os preferidos da edi-
tora. A tradução e os direitos auto-
rais saem mais em conta”.
Vale ressaltar que a maioria dos
títulos ainda não são encontrados
em versão de bolso, mas que, pela
demanda atual, em breve as editoras
farão como os EUA, que trabalham
quase que exclusivamente com seus
Pocket Books.
ideNTidade FRoTa, a esTRela e a esCuRidÃo.
A biografia de uma das per-
sonalidades mais polêmicas
da mídia, Identidade Frota,
mostra um personagem sen-
sível e distante do que conhe-
cemos. Declarações polêmi-
cas envolvendo terceiros
chamam mais atenção que a
história do protagonista, que
afirma: “Não quero servir de
exemplo”. Ainda bem.
✰✰✰✰✰
holoCausTo BRasileiRo
DICAS
Um exímio trabalho da jorna-
l i s ta Danie la Arbex , que
retrata uma triste página da
história do nosso país, um ver-
dadeiro genocídio em um sana-
tório em Barbacena que perdu-
rou por décadas. Com relatos
de pessoas que passaram por lá
em diferentes situações, o
denso livro mostra porque é a
obra de não ficção mais ven-
dido do ano.
dE taMaNHo a PrEÇo:
tudo CabE No boLso
✰✰✰
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 21
ESpORTEPErguNtas a sErEM rEsPoNdIdasCOPA DO MUNDO:
Foto
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22 Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013
O povo dá sua opinião sobre o Mundial e os investimentos em torno dele.
Será que estamos no caminho correto?
JoÃo viToR CiRilo (4º PeRíodo)
Quando o assunto é Copa, todo mundo fala um pouco; seja no futebol ou na reestruturação do nosso país por meio
das grandes obras trazidas pelo evento. Resolvemos deixar o povo falar, dar seu pitaco sobre questões como
segurança, transporte, serviços, investimento e, claro, futebol.
- Com a má imagem do país após mais uma briga em está-
dio, turistas virão com a mesma tranquilidade?
“Depende dos próximos seis meses, apesar de 2013 ter
tido vários confrontos nos estádios”. Raphael Abner, 20,
músico. – Rio de Janeiro (RJ).
“Acredito que possa afetar, mas a hospitalidade do brasi-
leiro é maior do que esses episódios de violência e vão
amenizar o temor”. Fernanda Castro, 41, professora. –
Belo Horizonte (MG).
- Com as novas arenas, os preços foram substancialmente
elevados. A Copa poderá ajudar a reduzir a presença de
marginais nos estádios?
“Acredito que não. Vejo que esses delinquentes estão pre-
sentes em todas as classes sociais”. Victor França, 22,
estudante de jornalismo. – Aracaju (SE).
“Um pouco. Tenho visto uma mudança de perfil. Sem
dúvida há mais crianças, mulheres e idosos. Vou ao Minei-
rão desde a década de 1990 e percebo elitização e menos
arrastões, brigas, roubos”. Paulo Armondes, 31, professor.
– Belo Horizonte (MG).
- O que acha das obras do governo no que diz respeito a
transporte público? Acredita que teremos problemas
durante o evento?
“Poderão sim ajudar a população no requisito ‘tempo de
viagem’, mas, ainda não acredito que os meios de transporte
(como o BRT) irão comportar a população”. Lucas Silva, 19,
instrutor de informática. – Belo Horizonte (MG).
“Hoje, temos um transtorno muito grande, mas, no futuro, as
próximas gerações poderão tirar proveito disso. Creio que (as
obras) não vão ficar prontas e vamos ser motivo de chacota na
Europa”. Vera Niza, 60, aposentada. – Belo Horizonte (MG).
- Iniciativas do governo realmente melhorarão a vida da
população após o evento?
“Sim. Toda a infraestrutura vai continuar no Brasil depois
da Copa”. Leonardo Alvarenga, 21, engenheiro mecânico.
Belo Horizonte (MG).
“Acho improvável. Apenas os estádios mesmo”. Paulo
Armondes, 31, professor. – Belo Horizonte (MG).
- E quanto às manifestações? O que acha delas?
“Se todos quisessem recursos médicos ao invés de espor-
tivos, por que reclamar depois que a obra já foi feita?”.
Lucas Silva, 19, instrutor de informática. – Belo Hori-
zonte (MG).
“Válidas e democráticas. A violência é condenável, mas as
manifestações tendem a ser radicais. Não vejo outra
forma. Só assim pra chocar e chamar atenção. Só Gandhi,
Mandela e Luther King fizeram diferente, e por isso são
tão especiais”. Paulo Armondes, 31, professor. – Belo
Horizonte (MG).
- As cidades estão/estarão devidamente preparadas no que se
refere a serviços, como aeroportos, hotéis e restaurantes?
“Alguns deslizes podem acontecer, mas acredito que a
maioria das obras vai sair a contento”. Fernanda Castro,
41, professora. Belo Horizonte (MG).
“A mídia noticia sempre atrasos em obras de infraestru-
tura, especialmente em relação a aeroportos e mobili-
dade. O número de leitos não deve ser problema. O pro-
blema pode aparecer após o Mundial, já que vários empre-
endimentos são em função do torneio e há o risco de
ficarem ociosos”. Matheus de Oliveira, 20, estudante de
jornalismo – Belo Horizonte (MG).
Jornal laboratório do Curso de Jornalismo do Centro universitário newton paiva - Dezembro de 2013 23
- Muito se fala sobre uma possível “limpeza” da cidade, com os
moradores de rua retirados dos locais onde geralmente ficam
para causar boa impressão aos turistas. O que acha disso?
“Tirá-los momentaneamente da situação adversa não traz
qualquer benefício a eles e à sociedade. Camuflar a reali-
dade das cidades é hipocrisia, e uma forma de esconder a
ausência de políticas públicas eficientes”. Matheus de Oli-
veira, 20, estudante de jornalismo – Belo Horizonte (MG).
“Vergonhoso, uma vez que antes de serem ‘mendigos’, são seres
humanos. O governo deveria pensar em um meio de reintegrar
essa minoria ao resto da população, e não os esconder”. Gus-
tavo Melo, 19, estudante de Direito. – Belo Horizonte (MG).
- O que acha da construção de grandes estádios em locali-
dades onde não há clubes que possam mantê-lo?
“Importante, porém, desnecessário. Acredito que a ideia
é apenas mostrar o valor que as cidades têm. Afinal, os
clubes são bem pequenos e ainda não têm o valor sufi-
ciente para poder administrar”. João Victor, 17, blogueiro.
– Maceió (AL).
“É mostrar para o mundo o quanto somos atrasados e
imbecis no quesito política! Gastam-se rios de dinheiro
pra construir estádios de futebol de 1º mundo, onde na
verdade deveriam ter hospitais, escolas e ensino de 1º
mundo”. Felipe Araújo, 26, estudante de Publicidade e
Propaganda. – Belo Horizonte (MG).
- Resumidamente, acredita que o mar de dinheiro desti-
nado a este evento está sendo bem investido?
“Muito fácil um engenheiro fazer um projeto, falar que
está tudo errado, desviar mais dinheiro, pegar mais
grana do governo... e é um dinheiro nosso, que estamos
desperdiçando”. Vera Niza, 60, aposentada. – Belo Hori-
zonte (MG).
“Devíamos nos preocupar com outras coisas e não com
futebol. Ainda não estamos preparados para recepcionar
um evento tão grande desse porte”. Gustavo Passos, 23,
estudante de Direito. – Belo Horizonte (MG).
- Em sua visão, a Copa é feita pra quem?
“Pra gringo ver!”. Felipe Araújo, 26, estudante de Publici-
dade e Propaganda. – Belo Horizonte (MG).
“A Copa é para ‘poucos’. Apesar da FIFA vender ingressos (bara-
tos) com meia-entrada, nem todos usufruem deste benefício.
Tive a oportunidade de ir a um jogo na Copa das Confedera-
ções, e os preços de alimentos e produtos no estádio eram
absurdos. Não condiziam com a realidade brasileira”. Victor
França, 22, estudante de jornalismo. – Aracaju (SE).
“Pelos altos valores, dá para ter uma dimensão daqueles
que terão condições.” Guilherme Bruno, 21, operador de
caixa. – Belo Horizonte (MG).
- Quem é o favorito ao título? Torcedor poderá fazer diferença a favor do Brasil?
“Brasil e Espanha, apesar dos espanhóis já estarem meio manjados como a Itália, que ganhou em 2006 e fracassou em 2010. Acho
que a torcida do Brasil fará grande diferença, principalmente contra seleções rivais como Argentina (risos)”. Raphael Abner, 20,
músico. – Rio de Janeiro (RJ).
“Creio que a Alemanha poderá dar show, Argentina, Inglaterra e talvez Holanda. Entre todos, o Brasil é o maior favorito. Está em casa, ao
lado da torcida que faz diferença sim”. Adailton Ascenço, 20, Oficial de Operações Ferroviárias. – Belo Horizonte (MG).
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