O PAPEL E A INTERVENÇÃO DA ESCOLA EM SITUAÇÕES DE CONFLITO PARENTAL

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Apresentação do Dr. António Fialho, Juiz de Direito, no Colóquio "Os Conflitos Parentais e a Escola", no dia 19 de Março, no Instituto Superior de Gestão, em Lisboa, organizado pela Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Direito dos Filhos

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O PAPEL E A INTERVENÇÃO DA ESCOLA EM SITUAÇÕES

DE CONFLITO PARENTAL

CONTEÚDO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

Compete aos pais, no interesse dos filhos, dirigir a sua educação e, de acordo com as suas possibilidades, promover o seu desenvolvimento físico, intelectual e moral daqueles, proporcionando-lhes, em especial aos diminuídos física e mentalmente, adequada instrução geral e profissional, correspondente, na medida do possível, às aptidões e inclinações de cada um (artigos 1878.º, n.º 1 e 1885.º, ambos do Código Civil).

DEVERES DOS PAISIncumbe aos pais uma especial responsabilidade, inerente ao seu poder dever de dirigirem a educação dos filhos e educandos, no interesse destes, e de promoverem activamente o desenvolvimento físico, intelectual e moral dos mesmos (artigo 6.º, n.º 1 do Estatuto do Aluno)

A FIGURA DO ENCARREGADO DE

EDUCAÇÃO O encarregado de educação é a mãe, o pai ou qualquer pessoa que acompanha o aluno e é responsável pelo aproveitamento de uma criança ou adolescente menor de idade (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea)

DEFINIÇÃO LEGAL DE ENCARREGADO DE EDUCAÇÃO

O encarregado de educação é aquele que tenha menores à sua guarda pelo exercício das responsabilidades parentais, por decisão judicial, pelo exercício de funções executivas na direcção de instituições que tenham menores, por qualquer título, à sua responsabilidade ou por delegação, devidamente comprovada, por parte de qualquer das entidades referidas (n.º 1.2 do Despacho n.º 14026/2007, rectificado pela Declaração n.º 1258/2007 e alterado pelo Despacho n.º 13170/2009).

O DESACORDO DOS PAIS E A

INTERVENÇÃO JUDICIAL Da indicação de encarregado de educação perante a escola resulta apenas que o progenitor indicado é, por acordo expresso ou presumido entre ambos, o interlocutor privilegiado entre a escola e a família, seja por dispor de maior disponibilidade para o efeito, por ter maior sensibilidade para o acompanhamento da vida escolar do filho, presumindo-se, até qualquer indicação ou suspeita do contrário que, qualquer acto que pratica relativamente ao percurso escolar do filho, é realizado por decisão conjunta com o outro progenitor.

O DESACORDO DOS PAIS E A

INTERVENÇÃO JUDICIAL Se a escola vier, por qualquer meio, a saber ou suspeitar seriamente que deixou de existir esse acordo entre ambos quanto às decisões que afectam a vida do filho e essa falta de acordo se traduzir uma situação de perigo para o equilíbrio ou situação emocional da criança ou do jovem (que a escola não consiga ultrapassar junto dos pais), deverá abster-se de intervir, comunicando a situação à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo.

Isso não invalida que, não se tratando de acto ou questão de particular importância, não deva proceder de acordo com a indicação dada pelo progenitor que foi indicado como encarregado de educação (se for este o progenitor residente).

ACTOS OU QUESTÕES DE PARTICULAR IMPORTÂNCIA NA VIDA

ESCOLAR- Decisão sobre a orientação profissional da criança ou jovem ou sobre a questão de saber se este deve ou não prosseguir os estudos ou arranjar um emprego antes de atingir a maioridade;- Decisão sobre a mudança de escola privada para escola pública e vice-versa ou qualquer outra mudança escolar que tenha consequências relevantes na educação do filho menor;- Decisões envolvendo problemas sérios de disciplina relativos ao menor.

ACTOS OU QUESTÕES DE PARTICULAR IMPORTÂNCIA NA VIDA

ESCOLARExiste uma “zona cinzenta” ….

- A decisão sobre a participação numa visita de estudo por uma criança ou jovem de saúde débil;- A decisão sobre a participação numa viagem ao estrangeiro promovida pelo estabelecimento de ensino;- A decisão sobre a participação em actividades formativas que, por razões fundamentadas, um dos pais considere ter impacto negativo na vida do filho …

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

EM CASO DE DIVÓRCIO OU

SEPARAÇÃO Com a Lei n.º 61/2008, de 31 de Outubro, as responsabilidades parentais relativas às questões de particular importância passaram a ser exercidas em conjunto por ambos os progenitores em caso de divórcio ou de separação e seja qual for a relação que se tenha estabelecido entre os pais (relação conjugal, relação marital ou mesmo pais que nunca tenham vivido juntos).

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

EM CASO DE DIVÓRCIO OU

SEPARAÇÃO Só assim não será se o exercício conjunto das responsabilidades parentais for julgado contrário aos interesses do filho e por decisão judicial fundamentada (artigo 1906.º, n.º 2 do Código Civil).

Neste caso, o exercício das responsabilidades parentais é apenas exercido por um dos progenitores.

Contudo, o progenitor que não exerça as responsabilidades parentais tem o direito de ser informado sobre o modo de exercício destas, designadamente sobre a educação e o modo de vida do filho.

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

EM CASO DE DIVÓRCIO OU

SEPARAÇÃO O exercício das responsabilidades parentais relativas aos actos da vida corrente do filho cabe ao progenitor com quem ele reside habitualmente ou ao progenitor com quem o filho se encontra temporariamente; porém, este último, não deve contrariar as orientações educativas mais relevantes, tal como elas são definidas pelo progenitor com quem o filho resida habitualmente.

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

EM CASO DE DIVÓRCIO OU

SEPARAÇÃO A definição das orientações educativas mais relevantes pelo progenitor com quem o menor reside (e que habitualmente será o encarregado de educação) também pode ser factor de conflito envolvendo a escola.

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

EM CASO DE DIVÓRCIO OU SEPARAÇÃO

É o progenitor com quem o menor reside habitualmente que transmite a este os valores, os princípios e as regras que lhe permitem estruturar a personalidade e modelar comportamentos, normalmente relacionadas com a sua vida escolar e extracurricular.

Assim, o outro progenitor não deve alterar de forma substancial ou relevante os hábitos, os comportamentos, as actividades escolares, a disciplina que é incutida ao filho menor ou dizendo de outra maneira, é importante que a criança sinta que os progenitores actuam e educam em conjunto e que um não desautoriza o outro nas áreas da instrução e da formação humana cívica, ética e de desenvolvimento da personalidade.

DEVER DE INFORMAÇÃO DO ENCARREGADO DE EDUCAÇÃO VS

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

É difícil compatibilizar o dever de informação do encarregado de educação (normalmente uma única pessoa ou interlocutor com a escola) e o dever de informação que assiste ao progenitor com quem o menor não reside ou a quem não foi confiado o exercício das responsabilidades parentais.

DEVER DE INFORMAÇÃO DO ENCARREGADO DE EDUCAÇÃO VS

EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS

Existindo um dever legal de informação do progenitor com quem o aluno menor não resida ou a quem não tenha sido confiado e não sendo esse que, normalmente, exerce as funções de encarregado de educação, não podem as escolas adoptar qualquer procedimento que impossibilite aquele de obter informações sobre o rendimento escolar dos filhos, mesmo em situações de conflito parental grave.

ALGUMAS CONCLUSÕES1.º - No acto da matrícula ou em momento posterior, se existirem suspeitas de que pode existir um conflito parental entre os progenitores que envolva a obtenção de informações escolares ou a entrega a terceiros da criança ou do jovem, será conveniente apurar como se encontra regulado o exercício das responsabilidades parentais, designadamente para avaliar situações de entregas ou restrições que tenham sido impostas por um dos progenitores e que tenham (ou não) expressão na decisão judicial.

ALGUMAS CONCLUSÕES

2.º - O progenitor com quem a criança ou jovem não reside ou a quem não tenha sido confiado não pode tomar decisões relevantes sobre a vida escolar do filho que não se insiram no conceito de questões de particular importância nem pode contrariar as orientações educativas mais relevantes onde, normalmente, se insere a grande maioria dos actos (da vida corrente) que integram a vida escolar do filho – o que implica que a escola não pode servir de bloqueio às decisões que sejam tomadas pelo progenitor residente (ainda que este não seja o encarregado de educação).

ALGUMAS CONCLUSÕES

3.º - As informações sobre a frequência e assiduidade da criança ou do jovem aluno devem continuar a ser prestadas ao progenitor que seja indicado no acto da matrícula como encarregado de educação (normalmente o progenitor com quem aquele reside ou que tem o exercício exclusivo das responsabilidades parentais).

ALGUMAS CONCLUSÕES

4.º - Caso seja solicitada informação sobre a assiduidade, comportamento e o aproveitamento escolar da criança ou jovem pelo progenitor que não foi indicado como encarregado de educação (e que pode não ser o progenitor convivente ou residente), deve essa informação ser igualmente prestada.

ALGUMAS CONCLUSÕES

5.º - Apesar de não ser obrigatória a convocatória do progenitor não residente pelo estabelecimento de ensino às reuniões de pais, não existe qualquer objecção a que este possa estar presente nessas reuniões onde sejam prestadas as informações sobre a vida escolar do filho, satisfazendo-se assim o dever legal de informação que lhe é conferido.

ALGUMAS CONCLUSÕES

6.º - Caso sejam verificadas pelo estabelecimento de ensino situações de discussão entre os progenitores, entre estes e os filhos, no recinto escolar ou nas suas imediações, por questões relacionadas com o exercício das responsabilidades parentais, que o estabelecimento de ensino não consiga ou não possa resolver, deve a direcção deste comunicar a situação à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo territorialmente competente pois pode estar em causa a existência de perigo para o equilíbrio emocional ou saúde da criança ou jovem (artigo 4.º da Lei de Promoção e Protecção).

ALGUMAS CONCLUSÕES

7.º - Não havendo acordo ou decisão de regulação do exercício das responsabilidades parentais que possa estabelecer regras especiais, este conjunto de orientações aplica-se a todas as situações de separação dos progenitores da criança ou jovem, independentemente da relação que se tenha estabelecido entre aqueles antes da separação (relação conjugal, relação marital ou a inexistência de qualquer relação de convivência).

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