Penas de Multa Adrielmo

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Segundo Carrara, “se chama pena pecuniária a diminuição de nossas riquezas, aplicada por lei como castigo de um delito”.

Origens: Já temos notícias desta espécie de pena observando-se a Bíblia Sagrada (Êxodo e Levítico), onde nas denominadas Leis Judiciais aparecem alguns preceitos e normas, que remontam a uma pena pecuniária. Em Roma este presente no Direito Público e no Direito Privado, com caráter indenizatório típico da vingança privada. Também na alta Idade Média foi amplamente utilizada, substituindo aos poucos as severas penas corporais, e de morte, entretanto, por volta do século XVII, perdeu espaço para às penas privativas de liberdade.

Sistema dias-multa (origens): Os penalistas internacionais em sua maioria atribuem o surgimento deste sistema ao Sueco Joan Thyren, uma vez que a Finlândia (1921), Suécia (1931) e Dinamarca em (1239), adotaram, desenvolveram, e aperfeiçoaram o sistema, motivo pelo qual ficou conhecido como Sistema Nórdico.

Entretanto, há sérias divergências a esse respeito, uma vez que um século antes dos países escandinavos adotarem o sistema, o nosso Código Criminal do Império (1830), criou o instituto, mesmo que de forma defeituosa, sendo o sistema dias-multa mantido pelo Código Criminal da República (1890), e o único diploma penal brasileiro a não adotar o mesmo foi o Código Penal de 1940. O fato do Brasil não ter sistematizado ou aperfeiçoado o sistema, como fizeram os países escandinavos, não invalida sua iniciativa pioneira com relação ao sistema até então não visto em outras legislações.

Só com a reforma penal de 1984 (Lei 7.209/84) é que o legislador pátrio retoma o antigo caminho ao adotar novamente o sistema dias-multa, tornando-o mais flexível e individualizável, ajustando seu valor não só a gravidade do delito, mas à situação sócio-econômica do apenado. Nos dias atuais, várias legislações adotaram o sistema, tais como Costa Rica, Áustria, Alemanha, Portugal.

Como o legislador tratou o sistema dias-multa com a reforma de 1984 ?

Em vez de repetir em cada tipo penal a espécie ou cabimento de pena restritiva a quantidade da pena de multa, inseriu um capítulo específico para as penas restritivas e cancelou as referências a valores de multa, substituindo a expressão “multa de...” por “multa”, em todos os tipos da parte especial que cominam pena pecuniária.

A multa é uma das três modalidades de penas previstas pelo Código Penal. É Pena Pecuniária porque incorre no pagamento em dinheiro;

Consiste no pagamento ao Fundo Penitenciário Nacional de quantia em dinheiro fixada na sentença condenatória, calculada em dias-multa;

O Juiz não fixa determinado valor para que o condenado pague. Fixa a condenação através do critério de DIAS-MULTA, cada dia-multa fixado entre 1/30(um trigésimo) do salário mínimo e 5(cinco) vezes esse salário (Art. 49, § 1º CP).

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A dosimetria, levará em conta a gravidade do delito mais as características do artigo 59 CP e a situação econômica do réu e será dividida em 3 fases;

1° - encontrar o número de dias-multa, que será estabelecido a quantidade de dias multas podendo variar entre 10 a 360 dias multa;

2° - encontrar o valor de cada dia-multa, que poderá ser

de (1/30 do salário) R$ 510/30 = R$17, no mínimo e (5x o salário) ou seja, R$ 2.550,00 no máximo;

3° - multiplicar o número de dias multa pelo valor de cada um deles.

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1ª Etapa: o juiz deve, considerando a espécie de crime praticado e as circunstâncias judiciais (art.59 do CP), fixar a pena entre os limites de 10 e 360 dias-multa, e em seguida, considerar os aumentos e diminuições referentes às agravantes, atenuantes, causas de aumento ou diminuição de pena, tudo como determina o art.68 do CP. Fixa assim o número de dias-multa segundo o grau do injusto e a culpabilidade, assim como as exigências de reprovação e

prevenção do crime.

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2° Etapa: o juiz estipula em quanto importa o dia-multa, entre os limites legais (de um trigésimo a cinco vezes o salário mínimo), atendendo agora à situação econômica do condenado, como a justa retribuição diante das condições pessoais do autor do crime.

“Caso assim não ocorresse, e a fixação da pena de multa fosse realizada em apenas uma etapa, na conversão, anteriormente possível, haveria uma desigualdade entre os condenados, pois o mais abonado, cuja pena importaria um número de dias multa mais elevado, deveria cumprir um número maior de dias de detenção”. (L. R. Prado)

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Bitencourt afirma que se torna difícil em alguns casos distinguir a pena de multa de outras sanções pecuniárias como as civis, administrativas, fiscais, etc. Entretanto, havia duas características fundamentais a multa penal que a distinguia das demais sanções não penais: a) A possibilidade de sua conversão em prisão; b) Seu caráter personalíssimo, com a impossibilidade de transferência para os herdeiros ou sucessores do apenado.

Entretanto, com a Lei 9.268/96, foi retirada sua coercibilidade, impedindo sua conversão em prisão por falta de pagamento.

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Quando aplicada de forma alternativa, é mais uma espécie de pena que evita o encarceramento de pessoas condenadas pela prática de crimes menos graves, ou mesmo, para evitar o cumprimento de penas privativas de liberdade de pequena duração.

A pena de multa pode ser prevista no tipo penal, de forma cumulativa ou alternativa com a pena privativa de liberdade, ou a única prevista no tipo, como nas contravenções penais.

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A pena de multa também pode ser uma pena substitutiva da pena privativa de liberdade quando esta não for superior a 1 (um) ano – Art. 44 § 2º, do CP, desde que o réu não seja reincidente em crime doloso e as circunstâncias judiciais assim indicarem.

A lei de combate ao tráfico de entorpecente (Lei 11.343/06), nos artigos 33 ao 39 previu a possibilidade de número de multa muito superior ao previsto na Parte Geral do CP.

Obs.: O art. 33 dessa lei prevê de 500 a 1500 dias-multa.

O artigo 60 do CP estabelece que a pena de multa haverá de ser fixada segundo as condições econômicas do condenado, podendo ser aumentada em até o triplo, se mesmo no máximo for tida como insignificante para o condenado, dada a sua condição econômica.

Preconiza-se a idéia de que a pena de multa haverá de ser fixada com a utilização dos mesmos critérios empregados para fixação das outras espécies de pena.

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Transitada em julgado a sentença condenatória, o condenado poderá adimplir ou pedir o parcelamento (art. 50 da LEP), podendo ser paga através de desconto no salário, valor esse que deve ficar entre 1/10 a ¼ do salário do condenado (artigo 168 da LEP), quando aplicada isoladamente ou cumulativamente com pena restritiva de direitos;

Poderá haver uma revogação desse pagamento parcelado, no caso de impontualidade no mesmo ou então se houve melhora econômica na situação do acusado (art. 169 §2º da LEP).

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Prazo para pagamento e Execução da pena: Segundo regra do art. 50,§ 1°, alínea “a” do CP, a multa deverá ser paga em dez dias do trânsito em julgado de sentença condenatória, entretanto a LEP (art. 164) determina que o MP, de posse de certidão da sentença penal condenatória, deverá requerer a citação do condenado para, no prazo de 10 dias, pagar o valor da multa ou nomear bens à penhora. Como os dois diplomas tratam da matéria, quando de fato se inicia o prazo

para o pagamento da multa ?

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Bitencourt afirma “que se pode até argumentar que o prazo do CP é para a multa ser paga e o prazo da LEP é para a multa ser cobrada, ou em outros termos: a previsão do CP é para o pagamento voluntário e a previsão da LEP é para o pagamento compulsório. Então, se passados os 10 dias do trânsito em julgado e só depois o réu comparecesse para pagamento, este não poderia ser recebido, porque é espontâneo ? Qual a diferença, afinal, de o acusado pagar dentro dos 10 dias ou depois deles, sempre voluntariamente? Nenhuma! Então aquele prazo do art. 50 do CP não tem sentido nem finalidade alguma”.

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No processo de Execução da pena de multa, a finalidade da citação não é para pagar sob pena de prisão, já que a conversão é impossível. A citação tem na verdade três finalidades alternativas:

a) pagar a multa imposta; b) nomear bens à penhora; c) depositar a importância correspondente.

Assim, deixar de pagar não acarreta a conversão, mas tão-somente a cobrança judicial.

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O pagamento deverá ser realizado em 10 dias, caso esse não se realize essa pena haverá de ser executada, tendo sido criada uma discussão a quem competia propor essa execução, se o Ministério Público ou a Procuradoria do Estado.

A discussão adveio da nova redação do artigo 51 do CP que considerou a multa como uma dívida de valor, aplicando-lhe as normas referentes à dívida ativa da Fazenda Pública.

A partir da lei 9268/96, que revogou o artigo 51 e seus parágrafos, do CP, não há mais conversão da pena de multa em pena privativa de liberdade, resolvendo-se a questão dos miseráveis inadimplentes da multa cumprirem a pena de prisão.

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A multa não se transmite aos herdeiros.

Com o pagamento do valor da multa tem-se a pena cumprida.

É de ser observada a possibilidade desse tipo de pena vir a ser cumprida por terceira pessoa, como nas hipóteses do réu sem condições financeiras que se vale dos favores de parentes ou amigos, deixando de ser observado o princípio da pessoalidade da sanção penal.

Os tipos penais prevêem a multa como pena cumulativa ou alternativa. Algumas contravenções prevêem como pena única.

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Suspensão da execução da multa: É suspensa a execução da pena de multa, se sobrevém ao condenado doença mental (art. 52 do CP e art. 167 da LEP).

Prescrição durante a execução: A prescrição da pena de multa isoladamente aplicada ocorre em dois anos, que começa a contar a partir do trânsito em julgado para a acusação. Nos demais casos, absurdamente as medidas processuais para a cobrança da multa não interrompe nem suspende a prescrição.

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